Ruminantes29

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Ano 8 - Nº 29 - 5,00€ abril | maio | junho 2018 (trimestral) Diretor: Nuno Marques

A REVISTA DA AGROPECUÁRIA

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GENÉTICA JERSEY Ilha S. Miguel

CALIFÓRNIA Vacarias com crossbreeding

PRODUÇÃO DE VITELA em explorações de leite


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Vacas secas em boas condições

Com Prelacto Pro obtenha um melhor arranque da lactação

O conceito Prelacto Pro, para alimentação de vacas leiteiras no período seco, através da administração de uma dieta única até ao dia do parto, procura minimizar o stress nutricional das vacas neste período facilitando o maneio do produtor. Principais características de Prelacto Pro: Seleção rigorosa de matérias-primas Elevada palatibilidade Elevado nível de proteína bruta e de SDVE (proteína digestível) Elevada suplementação vitamínica e mineral Sais Aniónicos  DCAB negativo  metabolismo do cálcio

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EDITORIAL

Edição nº29 ABRIL | MAIO | JUNHO 2018 DIRETOR

Nuno Marques | nm@revista-ruminantes.com

Caro leitor, No passado mês de fevereiro, a convite duma empresa de genética, fomos até à Califórnia, em visita a explorações de vacas leiteiras. Acompanhados por vários jornalistas, técnicos e produtores de vários países do mundo, estivemos também na feira World Ag Expo de Tulare, uma das maiores do mundo, e entrevistámos um dos homens pioneiros do crossbreeding em vacas leiteiras nos EUA. Num país onde quase tudo tem tamanho XXL, as explorações não fogem à regra, a maioria tem mais de 1000 vacas. Na gestão das empresas encontrámos gente de nacionalidades diferentes, americanos, holandeses, mexicanos e até portugueses dos Açores. Todos diferentes na forma de estar, mas com traços em comum, em particular na forma racional e pragmática de encarar o negócio. Provavelmente como resultado das exigências que os bancos fazem no momento de avaliar os pedidos de financiamento e no respetivo acompanhamento do plano de negócio estabelecido aquando do empréstimo à exploração. Talvez a necessidade absoluta de ter bons resultados todos os anos, mas também de apresentar bons indicadores de produção para o futuro próximo, os torne disponíveis e abertos à análise de ideias que possam ter impacto nos resultados financeiros da sua exploração. Os rácios reprodutivos são muito importantes para os financiadores destes negócios, e percebe-se que os produtores os têm bem presentes quando se conversa com eles. Mas nem tudo nos pareceu perfeito, sobretudo quando os assuntos são a biossegurança e a sustentabilidade. Para dar um exemplo, o simples uso de botas de plástico para entrar nas explorações não fazia parte dos hábitos, ou a gestão da água para consumo dos animais que não era feita de forma otimizada. De qualquer forma, a maioria dos produtores que visitámos estão bastante focados tanto nos interesses dos consumidores de leite (não utilizam bST) como no bem-estar animal. É sempre proveitoso ver outras realidades onde os negócios têm outra dimensão, que mais não seja para concluir que os melhores produtores americanos estão tecnicamente equiparados aos melhores produtores portugueses. E que não se encontram muitas coisas que não se façam já por cá ou que, tendo já sido equacionadas não se aplicam por questões que têm que ver com a dimensão ou o tipo de mercado. Estivemos também nos Açores, onde conversámos com um produtor de leite pouco comum em Portugal, trabalha com vacas da raça Jersey, está muito satisfeito e não pensa trocar. Maximino Galvão diz ter encontrado nesta raça o equilíbrio entre a utilização de fatores de produção e um leite de excelente qualidade que vai ao encontro das exigências do seu comprador: “São animais que não produzem grandes volumes mas conseguem ter leite de elevada qualidade em termos de sólidos”. Conheça melhor as razões que levaram este produtor a preferir as Jersey às Holstein. A partir desta edição, George Stilwell, autor da rubrica “Ruminantes saudáveis”, falará sobre a interpretação de sinais externos e comportamentos dos animais. Nuno Marques

Colaboraram nesta edição Ana Gomes; André Lopes; André Preto; António Cannas; António Moitinho; Bárbara Torres; Bill Hoekstra; Carlos Vouzela; Fernando Miranda; Filinto Osório; Francisco Castanheira; George Stilwell; Isabel Ramos; Isabel Santos; Ivo Carregosa; Javier Lopez; Joana Silva; João Paisana; John Prins; José Alves; José Caiado; Kurt Hoekstra; Luís Raposo; Margarida Carvalho; Mário Quaresma; Maximino Galvão; Mike Osmond Nuno Milharadas; Paulo Sousa; Pedro Castelo; Ricardo Bexiga; Sara Garcia; Teresa Cabrita; Teresa Moreira; Willie Blysma. Agradecimentos Irmãos Ferreira Gomes - Soc. Agrícola, Lda.

PUBLICIDADE E ASSINATURAS Nuno Marques | comercial@revista-ruminantes.com

REDAÇÃO

Francisca Gusmão; Inês Ajuda; Joana Silva; Margarida Carvalho.

DESIGN E PRÉ-IMPRESSÃO Sílvia Patrão | prepress@revista-ruminantes.com

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PROPRIEDADE / EDITOR Aghorizons, Lda / Nuno Marques Contribuinte nº 510 759 955 Sede: Rua Alexandre Herculano, nº 21, 5º Dto 2780-051 Oeiras Tiragem: 5.000 exemplares Periodicidade: Trimestral Registo nº: 126038 Depósito legal nº: 325298/11 O editor não assume a responsabilidade por conceitos emitidos em artigos assinados, anúncios e imagens, sendo os mesmos da total responsabilidade dos seus autores e das empresas que autorizam a sua publicação. Reprodução proibida sem autorização da Aghorizons, Lda. Alguns autores nesta edição ainda não adotaram o novo acordo ortográfico. O “Estatuto Editorial” pode ser consultado no nosso site em: www.revista-ruminantes.com/quem-somos Envie-nos as suas crítícas e sugestões para: nm@revista-ruminantes.com WWW.REVISTA-RUMINANTES.COM WWW.FACEBOOK.COM/REVISTARUMINANTES RUMINANTES ABRIL . MAIO . JUNHO 2018 3



ÍNDICE

10 PROCROSS PIONEER TOUR E OPEN HOUSE 2018 Atravessámos o Atlântico até aos Estados Unidos, mais concretamente até Tulare, na Califórnia. Fizemos parte de um grupo de produtores e técnicos, europeus e americanos, convidados a assistir ao ProCROSS Pioneer Tour e Open House, um evento que acontece todos os anos onde a empresa ProCROSS apresenta os mais recentes resultados do seu programa de crossbreeding. Veja nesta edição a reportagem.

ALIMENTAÇÃO

22 GENÉTICA JERSEY EM SÃO MIGUEL Vai para dez anos que Maximino Galvão gere uma exploração com mais de cem animais da raça Jersey. Um negócio que começou com o seu pai e que ainda faz sentido à luz das condições do mercado atual. Conheça as razões que o levam continuar a apostar nesta raça.

26 PRODUÇÃO DE VITELA EM EXPLORAÇÕES DE LEITE Para os produtores de leite, a carne aparece como um negócio secundário na exploração, usualmente sem estratégias bem definidas. Este artigo analisa as diferenças existentes na produção de carne de vitela da raça Holstein-Frísia em 23 explorações de leite do concelho de Vila do Conde. Conheça práticas de maneio em produção intensiva de vitelos que permitem aumentar a sustentabilidade económica das explorações de leite.

16 Nutrição: aminoácidos 30 A lactação começa na fase seca e não no parto 32 A importância da nutrição em vacas aleitantes 38 Alimentação e gestão de um efetivo leiteiro para 45kg de leite/dia 50 Toxemias de gestação em caprinos e ovinos 54 Bio-Mos® no leite ou leite de substituição 58 Efeitos do YANG na morbilidade dos vitelos ao desmame e consequências no crescimento 60 Do vermelho ao castanho, a influência da Vitamina E na cor da carne de bovino

ATUALIDADES 08 Leite: Alimento nobre ou o bicho papão da década? 48 Inoculantes de nova geração vão permitir mais rápida estabilidade dos silos

ECONOMIA 42 Observatório de matérias primas 44 Observatório do leite 46 Índice VL e Índice VL erva

PRODUTO 52 www.calvesandcolostrum.com Um portal para a gestão rigorosa da recria 78 Nova sala de ordenha e sistema flushing, um investimento certeiro 82 Pastoreio e ordenha robotizada Lely, uma dupla de sucesso

SAÚDE E BEM-ESTAR ANIMAL 62 O que as fezes nos podem dizer 66 MSD lança a campanha “Tempo de Proteger” 68 Biossegurança na exploração 70 Consequências das coxeiras em vacas leiteiras 74 Língua Azul, saiba mais sobre esta doença com um forte impacto económico

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ATUALIDADES

A SELEÇÃO GENÉTICA PARA GERAR “VACAS VERDES” Três investigadores, um dos quais da VikingGenetics, receberam um prémio na Dinamarca, pelo seu trabalho de desenvolvimento de uma forma de usar a seleção genética para reduzir as emissões de gás metano pelos bovinos. Segundo a VikingGenetics a descoberta de que existe um componente genético nas emissões de metano aponta para que esta característica seja hereditária. Assim “é possível selecionar animais com emissões de metano reduzidas” afirmou Jan Lassen, gestor de projetos da VikingGenetics que, juntamente com os investigadores Peter Løvendahl e Henrik Bjørn Nielsen, recebeu o prémio “Innovation Fund Grand Solution” na Dinamarca. Como parte de um estudo de quatro anos que incluiu 2.500 vacas, os investigadores mediram as emissões de metano e dióxido de carbono das vacas durante a ordenha. Foi possível selecionar vacas que reduzem as emissões de metano em 5% o que é capaz de garantir, apenas na Dinamarca, o equivalente a uma redução de 90.000 toneladas de emissões de dióxido de carbono anuais. Simultaneamente, conseguiram reduzir o consumo nutricional em 1%. A investigação centrou-se principalmente na população Holstein. Ao selecionar animais com reduzidas emissões de metano, os investigadores e a VikingGenetics pretendem “ser parte da solução na hora de combater o aquecimento global” afirmou Rex A. Clausager, CEO da VikingGenetics. “Estas descobertas confirmam que a empresa leva muito a sério os objetivos da seleção genética sustentável. Ao centrarmo-nos em “vacas verdes” e produtivas, que possuam nos seus genes defesas naturais contra doenças, permitindo-nos que o leite seja produzido com uma utilização mínima de antibióticos. E agora também com a vantagem destas vacas poderem reduzir as emissões de metano” afirmou o CEO. O próximo passo é ter os valores de seleção genética para as emissões de metano em touros da VikingGenetics, algo em que a empresa está a trabalhar atualmente.

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EXPLORAÇÃO ESCOCESA PRODUZ QUEIJO “ÉTICO” Uma exploração leiteira do sudoeste da Escócia pretende destacar-se no sector com a produção de queijo “ético”, assim denominado pelos seus produtores, David e Wilma Finlay. E porquê esta nomenclatura? Porque o leite é produzido por vacas que continuam a amamentar os seus vitelos, os quais permanecem com as mães. Esta é uma variação do sistema tradicional, em que os vitelos são afastados das progenitoras logo após o parto. Nas palavras do senhor Finlay, o objetivo é a manutenção de uma exploração “resiliente, ecologicamente sustentável e menos stressante para os animais e para os trabalhadores”, indo também ao encontro das exigências de muitos consumidores, que não veem com bons olhos a grande intensificação do sector. O rendimento leiteiro é menor nestes animais – dada a ingestão de leite pelo vitelo – mas isso não será necessariamente sinónimo de menos lucro. A mudança trouxe benefícios em termos de saúde animal, com vacas mais saudáveis e de maior longevidade, em paralelo com uma diminuição da necessidade de uso de antibióticos. Os vitelos são também bastante robustos, com rápidas taxas de crescimento e redução dos seus custos de alimentação. Mas desengane-se quem pensa que esta foi uma mudança fácil. A sua implementação acarretou custos significativos, envolvendo a construção de novas instalações que pudessem alojar vacas e vitelos mas, ao fim de dezoito meses, o futuro parece promissor. Esta poderá ser uma tendência futura, e existem outras explorações leiteiras no Reino Unido a enveredar por este caminho. Estaremos perante o início de mais uma revolução na indústria leiteira?

INICIATIVAS SUSTENTÁVEIS - CRIAR ENERGIA SOLAR NAS EXPLORAÇÕES LEITEIRAS Em agosto de 2017 o ministro da economia holandês, Henk Kamp, garantiu um subsídio de aproximadamente 200 milhões de euros para a instalação de painéis solares nos telhados em 310 explorações leiteiras da gigante FrieslandCampina. Recentemente, a empresa duplicou o número de explorações participantes para 654. Isto equivale a mais de 800.000 painéis solares, uma superfície de aproximadamente 200 campos de futebol. Estes painéis terão capacidade para gerar mais de 200 GWh de energia elétrica. A instalação dos painéis ficará a cargo da empresa GroenLeven Heerenveen. Uma das possibilidades alcançadas pelo “programa solar” da FrieslandCampina é o aluguer dos telhados. Esta solução aplica-se a explorações leiteiras com uma área de telhados superior a 1.000 m2 em que o produtor recebe um prémio de 3 a 4 euros por painel e pode usar a energia solar. Todo o processo de

instalação e manutenção fica a cargo da GroenLeven Heerenveen sem que existam quaisquer custos para o produtor. Anualmente é dada a oportunidade ao produtor de adquirir o equipamento e receber o subsídio subjacente. Adicionalmente o produtor recebe também 10€ por cada tonelada a menos de CO2 emitida. Parte da energia produzida pelos painéis é direcionada para a as fábricas e escritórios da FrieslandCampina. A empresa pretende com esta iniciativa produzir energia limpa em quantidade suficiente para cobrir o uso de energia dentro da cadeia e reduzir o impacto ambiental.


e diversificado de raças que estão profundamente ligadas à identidade de cada região, a cada paisagem, às car geográficas e climáticas locais, e também às suas tradições e respetivos produtos típicos. Em Portugal, estão reconhecidas pela Direção Geral de Alimentação e Veterinária 47 Raças Autóctones de espécies 15 raças de Bovinos, 15 de Ovinos, 6 de Caprinos, 4 de Equídeos, 4 de Galináceos e 3 de Suínos. Estas raças a características morfológicas e distribuições geográficas próprias, algumas das quais com distribuição restrita a um número de Concelhos. ATUALIDADES Com a modernização do setor agropecuário, algumas destas raças foram sendo substituídas por outras, originárias de partes do mundo, na perspetiva de aumentar a rentabilidade das produções. Por esta razão, várias raças autóctones e momento em risco de extinção, com poucas dezenas de exemplares representativos e um número muito reduzido d Urge salvaguardar esse património identitário. São aqui ilustradas seis raças autóctones, representantes de diferentes espécies e regiões.

RAÇAS AUTÓCTONES PORTUGUESAS CHEGAM AOS CTT Ainda é daquelas pessoas que escrevem cartas? Se não é, damoslhe aqui um bom argumento para que passe a fazê-lo. Os CTT, em parceria com a Ruralbit e com o biólogo e ilustrador açoriano Carlos Medeiros, apresentaram uma nova coleção de selos ilustrados com raças autóctones portuguesas, cujo design foi assumido por Francisco Galamba. Os ruminantes estão muito bem representados: temos o touro da raça Mertolenga, a vaca Barrosã, as ovelhas Galega Mirandesa e Merina Preta e as cabras Algarvia e Serrana. O objetivo é divulgar, através da ilustração científica, o rico património nacional em termos de raças autóctones, bem como as suas principais características. Cada raça foi assim desenhada com base num conjunto de imagens representativas

e descrições dos seus padrões, com o apoio de associações e técnicos da área. Quanto às ilustrações em si, foram feitas recorrendo a um tablet com caneta digitalizadora, sendo o resultado final análogo ao desenho feito em papel e lápis. A emissão é composta por seis selos – cujos preços nominais são 0,50€, 0,65€ e 0,85€ – e uma tiragem conjunta de 330 mil exemplares. Também está disponível uma folha miniatura com os seis selos, cuja tiragem chega aos 40 mil exemplares. Os selos estão à venda e disponíveis para circulação desde o dia 8 de fevereiro deste ano, pelo que pode pousar a revista e ir já comprá-los antes que esgotem. Antes de o fazer, no entanto, deixe-nos só dizer que poderá adquiri-los em qualquer posto CTT ou online através do site.

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ALIMENTO DO TRIMESTRE

Leite: Alimento nobre ou o bicho papão da década? A nutrição humana é atualmente uma área extremamente dinâmica. Se antes as prioridades estavam em proporcionar os nutrientes essenciais às populações, hoje em dia – nas economias mais desenvolvidas – as preocupações são outras. POR JOANA SILVA, MÉDICA VETERINÁRIA

Hoje fala-se em ser “fit”, na proteína whey (que mais não é do que proteína do soro do leite) e nas dietas detox, da lua, do paleolítico, apenas para citar algumas. E fala-se de leite. Ainda há quem exulte os seus benefícios, mas muitos são aqueles que condenam o seu uso na nossa alimentação, que o ostracizam e fazem deste alimento um bicho papão. Quem terá razão? Ou, mais concretamente, será que alguém tem razão? É o que iremos tentar descobrir neste artigo. Em primeiro lugar será pertinente salientar que, por “leite” se entende o leite de vaca produzido por animais saudáveis e com exceção do colostro produzido na altura do periparto. O consumo de leite tem acompanhado a civilização humana desde os primórdios da agricultura, tendo os bovinos sido domesticados há cerca de nove mil anos no Sahara oriental. As primeiras evidências do uso do leite na alimentação humana vêm do Período Neolítico, cerca de sete mil anos antes de Cristo. Atualmente, o consumo de leite é variável entre regiões do globo, tendo vindo a diminuir nas últimas décadas nas sociedades ocidentais,

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especialmente devido ao forte criticismo do qual este alimento tem sido alvo. Criticismo este que se baseia na percentagem de ácidos gordos saturados presentes na gordura do leite, os quais são associados a problemas cardíacos e obesidade. No entanto, investigações recentes mostram que a gordura do leite pode, contrariamente ao que alguns estudos demonstraram previamente, ter efeitos benéficos sobre doenças bastante prevalentes nas populações ocidentais como a aterosclerose, Alzheimer, diabetes e outras doenças metabólicas. Os efeitos positivos também se parecem estender à saúde gastrointestinal e ao desenvolvimento mental e cognitivo. De facto, os ácidos gordos presentes no leite não

Consumo de leite TEM ACOMPANHADO A CIVILIZAÇÃO HUMANA DESDE OS PRIMÓRDIOS DA AGRICULTURA.

são todos saturados. A gordura do leite contém uns impressionantes 400 tipos de ácidos gordos, sendo a gordura natural mais complexa que se conhece. Os leites também não são todos iguais, e o seu perfil de ácidos gordos está dependente de dois fatoreschave: da alimentação dos animais e dos microrganismos presentes a nível ruminal. A muitos dos ácidos gordos presentes no leite estão associadas propriedades antibacterianas, antifúngicas, antivirais, anti-inflamatórias e mesmo anticancerígenas. Entre estes encontramos o ácido butírico, o ácido capróico, o ácido linolénico e o ácido linoleico conjugado (CLA).

Em 2017 foi publicada uma meta-análise – uma técnica estatística que combina dados de vários estudos acerca de um tópico em particular – que reuniu vinte e nove estudos e um total de 938 465 indivíduos, nos quais não foi encontrada nenhuma relação entre o consumo de gordura láctea e a incidência de doenças cardiovasculares, ou entre o seu consumo e a taxa de mortalidade geral. Para além da gordura, existem outros componentes no leite. Como já referimos, a composição deste alimento não é estática, e está dependente de fatores como a raça, regime alimentar, maneio e fase de lactação. No entanto, a composição média pode ser descrita como: 87% de


ALIMENTO DO TRIMESTRE

o desenvolvimento destes sintomas é através da exclusão do leite e produtos lácteos da dieta. A composição e propriedades nutritivas do leite parecem ser inquestionáveis, e a história deste alimento tem evoluído em paralelo com a nossa. Hoje em dia, e apesar dos seus benefícios solidamente estabelecidos, o leite tem vindo a ser julgado em praça pública, e muitas vezes substituído por alternativas que ficam muito aquém em termos nutricionais, não só por quem disso tem necessidade – como os indivíduos alérgicos água, 4,6% de lactose, 4,2% de gordura, 3,4% de proteína, 0,8% de minerais e 0,1% de vitaminas. Entre os minerais encontramos o cálcio, potássio, fósforo e magnésio. Já no que toca a vitaminas são de salientar as vitaminas D, A, B2, B6 e B12.

Esta riqueza nutricional do leite está na base dos benefícios que lhe são atribuídos, e entre os quais se encontram: CONTRIBUIÇÃO PARA A SAÚDE ÓSSEA devido ao cálcio e à vitamina D, ajudando a prevenir a osteoporose. CONTRIBUIÇÃO PARA UM SISTEMA NERVOSO SAUDÁVEL. Os indivíduos adultos que incluem leite e derivados na sua dieta têm valores superiores de glutationa – um poderoso antioxidante – a nível cerebral. PRODUÇÃO DE MASSA MUSCULAR E PERDA DE PESO. Sendo uma fonte nobre de proteína, o leite ajuda à criação e preservação de massa muscular magra, a qual contribui para o bom funcionamento do metabolismo e facilita a perda de peso e manutenção de um peso saudável. REDUÇÃO DE ESTADOS DEPRESSIVOS a deficiência em vitamina D tem sido associada a depressão em adultos. Níveis

– mas também por pessoas sem qualquer impedimento ao seu consumo. O apelo é mais uma vez à adoção de uma alimentação e estilo de vida saudáveis, de acordo com as necessidades de cada um. Há lugar para o leite e seus derivados na famosa Roda dos Alimentos. Será que também não existirá lugar para eles à nossa mesa?

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Não foram incluídas por uma questão de espaço editorial, mas a autora disponibiliza bastando enviar um email para geral@revista-ruminantes.com.

adequados desta vitamina estimulam a produção de serotonina, uma hormona que influencia o apetite, sono e humor. Além disso, a vitamina D facilita a absorção de cálcio a nível intestinal. A inclusão de leite na nossa dieta parece então ter inúmeros benefícios. Mas será que todos podemos aproveitá-los? É aqui que entram dois conceitos distintos, acerca dos quais há por vezes alguma confusão. Falamos da alergia e da intolerância. A intolerância à lactose acontece quando um indivíduo não possui níveis suficientes da enzima lactase, a qual degrada este açúcar em moléculas menores, passíveis de ser absorvidas pelo trato gastrointestinal. Os níveis de intolerância são bastante variáveis entre indivíduos, com sintomas como inchaço abdominal, flatulência e diarreia. Hoje em dia são já encontrados no mercado leites sem lactose. A alergia ao leite é uma reação mediada pelo sistema imunitário do indivíduo, o qual produz anticorpos contra as proteínas do leite, como a caseína. Os sintomas podem ser mais graves do que no caso da intolerância, e incluem: distúrbios gastrointestinais, com vómito e diarreia; asma; eczema e mesmo reações anafiláticas. A única forma de prevenir

E as bebidas vegetais? Os chamados “leites” vegetais são hoje em dia uma verdadeira moda, com aumentos de vendas de 20% ao ano na Europa. De aveia, soja, amêndoa ou arroz, têm conquistado muitos consumidores devido à ausência de lactose, proteína animal e colesterol. No entanto, têm de ser enriquecidos artificialmente com substâncias como o cálcio e a vitamina D para que atinjam valores semelhantes aos encontrados naturalmente no leite, e contêm geralmente menos proteína, a qual tem valor biológico inferior à proteína animal. Alguns são ainda especialmente ricos em açúcar, e podem conter o mesmo teor de gordura do leite de vaca. Além disso, as alergias aos frutos secos e à soja são também comuns nas populações que mais consomem estas bebidas vegetais, pelo que estas não serão 100% inócuas para certos indivíduos. Adicionalmente, parecem ainda existir algumas deficiências em termos do processo tecnológico de fabrico destas bebidas, as quais podem condicionar a sua estabilidade física durante o tempo de prateleira. Ao contrário do que acontece com o leite disponível no mercado, existe muita heterogeneidade no que toca às diferentes alternativas vegetais, especialmente na sua composição e adição de aditivos, pelo que os especialistas aconselham os consumidores a prestarem especial atenção aos seus rótulos aquando do ato de compra.

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ProCROSS Pioneer Tour e Open House 2018 Quando dois continentes se juntam para falar de crossbreeding POR RUMINANTES

Fevereiro de 2018. Atravessámos o Atlântico até aos Estados Unidos. Mais concretamente até Tulare, na Califórnia, o estado mais populoso do país. Hoje não viemos visitar as suas belas praias, até porque ainda está fresquinho. Viemos à World Ag Expo a qual, com 2,6 milhões de metros quadrados, é a maior exposição agrícola a nível mundial. Todos os anos, mais de mil e quinhentos participantes apresentam as maiores novidades em termos de equipamentos e tecnologias agrícolas. Os visitantes podem ainda assistir de forma gratuita a

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palestras acerca dos temas mais “quentes” para os produtores leiteiros e outros profissionais do sector. E foi isso mesmo que nos trouxe cá. Fizemos parte de um leque de produtores e técnicos convidados provenientes de Portugal, Suécia, Inglaterra, Espanha e México, e integrámos o público do ProCROSS Pioneer Tour e Open House, evento anual no qual a empresa ProCROSS - filha da Coopex Montbéliarde e da VikingGenetics - apresenta os mais recentes resultados do seu programa de crossbreeding. A empresa afirmou-se como

tal na temporada 2013/2014, mas o seu trabalho de investigação remonta ao início do milénio, quando a superioridade das linhas puras começou a ser colocada em causa devido ao declínio da saúde animal e dos índices reprodutivos das explorações, que comprometiam a sua rentabilidade. Que o diga a família Prins, a qual pôde comprovar em primeira mão as vantagens deste programa. Fundaram a exploração em 1971 com menos de 200 vacas. No final da década de noventa começaram a sentir que os pobres índices de saúde e fertilidade dos seus animais

“As vacas ProCROSS conseguiram devolver-nos o entusiasmo pela produção, com um maneio diário bastante facilitado em todos os aspetos.” JOHN PRINS


REPORTAGEM

IMAGEM 1 Foto de grupo da ProCROSS Pioneer Tour.

lhes estavam a roubar o amor pelo negócio, juntamente com os rendimentos. Esses dias negros ficaram para trás quando implementaram o programa ProCROSS. Hoje, com 600 vacas em ordenha e com o negócio a ir de vento em popa, não poderiam estar mais felizes. Nas suas palavras, “as vacas ProCROSS conseguiram devolver-nos o entusiasmo pela produção, com um maneio diário bastante facilitado em todos os aspetos”. É com uma breve história do programa reprodutivo que Stephane Fitamant, diretor da empresa ProCROSS, abre o

programa de palestras e nos aguça o apetite para o que aí vem. Acompanhando os slides da sua apresentação, mostra-nos como a empresa cresceu ao longo dos anos, contando atualmente com parceiros nos quatro cantos do mundo. Todos eles contribuem para os estudos genéticos realizados na raça Holstein e que mostram que a percentagem de consanguinidade nos efetivos puros é alarmante, já que não permite uma seleção eficaz em termos de saúde, reprodução e longevidade. A necessidade, afirma, é de novos genes.

A Hoekstra Dairy, com 1331 vacas em produção, é gerida por Bill Hoekstra e pelos seus filhos Jack e Kurt, sendo mais um exemplo de sucesso. A parceria começou em 1984, treze anos depois da fundação da exploração, com implementação do programa de crossbreeding no final da década de noventa. O efetivo inicial era composto por vacas Holstein e Jersey, as quais ficavam aquém dos objetivos da família. Estão hoje bastante satisfeitos com a introdução de novos genes na exploração, o que lhes trouxe bons animais em termos produtivos e de saúde, e com os quais querem continuar a trabalhar, não só em termos leiteiros. As características dos vitelos cruzados também lhes permitiram entrar com sucesso no mercado cárneo e obter uma fonte extra de lucro. E o que é para eles o programa ProCROSS? Acima de tudo, “é uma forma de sobreviver na indústria leiteira. Dá-nos as vacas mais lucrativas de entre todas as raças e cruzamentos”, asseguram.

IMAGEM 2 Exemplar de vaca ProCROSS.

IMAGEM 3 Exemplar de vaca ProCROSS.

“É uma forma de sobreviver na indústria leiteira. Dá-nos as vacas mais lucrativas de entre todas as raças e cruzamentos.” BILL HOEKSTRA

E é a essa necessidade de sobreviver à luz da conjuntura atual que a ProCROSS tem vindo a responder, aliando o vigor híbrido ao progresso genético. E como? Através do já nosso conhecido cruzamento triplo entre Holstein, Montbéliarde e Vermelha Sueca. Aliando as boas produções e características do úbere das Holstein, à robustez e fertilidade da Montbéliarde e à facilidade de partos e boa saúde podal da Vermelha Sueca, este cruzamento promete criar vacas de alta produção sem sacrificar parâmetros reprodutivos ou de saúde geral. Resumindo: vacas boas produtoras, férteis e de longa vida, com

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IMAGEM 4 Panorama geral de um rebanho ProCROSS.

“São vacas dóceis, fáceis de trabalhar e lucrativas.” WILLIE BLYSMA (W&J DAIRY #2)

resultados garantidos numa geração. Corria o ano de 1969 quando Jolene e o marido fundaram a sua exploração leiteira com raça Holstein pura. Em 1999, tomaram a decisão de melhorar o seu efetivo através da introdução do programa. O balanço destes dezanove anos não podia ser mais positivo, e é com convicção que asseguram que esta foi uma das melhores decisões que tomaram. Hoje com 2100 vacas em ordenha, exultam

a facilidade de maneio dos animais e os bons resultados que obtêm. “São vacas dóceis, fáceis de trabalhar e lucrativas”, salientam. As vacas ProCROSS são únicas, isso já ficou claro. Mas será que precisam de um regime alimentar igualmente especial? Foi o que perguntámos a Michel Etchebarne, nutricionista da maioria das vacarias desta região da Califórnia. A nutrição, diz, tem evoluído paralelamente com a genética, sendo que os animais também são selecionados para uma maior eficiência de conversão. Isso assume especial importância na viabilidade do negócio, já que a maior fatia dos custos de maneio de uma exploração se prende com a alimentação dos animais. Esta deve ser feita “de forma ponderada,

IMAGEM 5 Exemplar de vaca ProCROSS.

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sabendo que as necessidades dos animais são diferentes em cada fase de crescimento e produção”. Colocando especial ênfase na proteína, Michel salienta a importância de não sacrificar a sua qualidade em detrimento de um preço mais baixo. Comparando as vacas cruzadas com as Holstein puras, a inclusão de proteína nas suas dietas rondará os 16% e os 18%, respetivamente. Também nas ProCROSS, à semelhança do que acontece com as puras, os regimes alimentares pré e pós-parto são distintos. A relação entre a fertilidade das fêmeas e a nutrição também não foi esquecida. No que toca à alimentação das novilhas, Michel aconselha que estas devem ser acompanhadas de perto, com constante monitorização da sua condição corporal. “Tentamos manter as novilhas com valores de condição corporal na ordem dos 3,5 numa escala de 1 a 5. Olhamos para elas como atletas, e alimentamo-las apenas com o que elas precisam.” O objetivo, explica, é otimizar a idade ao primeiro parto para os 22-24 meses, estando as novilhas prontas para a reprodução quando atingem pesos entre os 320340 kg. E por falar em novilhas, ainda se lembra da família Hoekstra? Satisfeitos com o negócio, Bill e os seus

filhos, Jack e Kurt decidiram em 2013 investir em mais uma exploração leiteira, a Crossview Dairy, também em parceria com a ProCROSS. As vacas em produção são todas cruzadas, e chegam às mil e trezentas. A exploração tira o maior partido do pasto, onde mantêm muitas das novilhas de substituição, as quais se adaptam muito bem ao sistema de pastoreio. Olhando em volta, Kurt confessa nutrir um carinho especial pelo local e pela sua paisagem campestre. Apesar do ar primaveril, ainda conseguimos ver neve ao longe. Também aqui se anseia pela chuva, necessária às colheitas e aos animais. Para Kurt, a vaca ProCROSS “tem um aspeto saudável e forte, satisfaz as nossas necessidades enquanto empresários do setor e é bastante agradável de contemplar”. Depois desta volta pelo território americano, voltemos ao nosso ciclo de palestras,

“Têm um aspeto saudável e forte, satisfazem as nossas necessidades enquanto empresários do sector e são bastante agradáveis de contemplar.” KURT HOEKSTRA


REPORTAGEM

onde Brad Heins, investigador na área de genética da Universidade do Minnesota, faz uma apresentação acerca do programa ProCROSS e tenta responder às questões “de onde viemos” e “onde nos levará o futuro” com este programa. À semelhança de Stephane Fitamant, também ele aborda o assunto da consanguinidade em efetivos Holstein. E os números que apresenta falam por si: se em 1998 a percentagem de consanguinidade era de 4,3%, esse valor foi estimado em 7,2% para o ano de 2017. A paisagem também é agora diferente em termos de raças. Em 1997 as Holstein reinavam, constituindo 93% do efetivo nacional. Em 2017 a sua supremacia foi ligeiramente atenuada, com 82%. Em paralelo, as vacas cruzadas constituem agora cerca de 11% do efetivo nacional, tendo registado uma subida de nove pontos percentuais desde 1997. Brad apresenta-nos agora os principais resultados da aplicação do ProCROSS num conjunto de vacarias no Minnesota. Em síntese: menos cinco pontos percentuais de mortalidade neonatal; melhores teores de gordura e proteína; taxas de conceção ao primeiro serviço de 46%; menos dez dias em aberto, com uma média nacional de 147 dias para animais em primeira lactação. As melhorias também são notórias em termos de saúde, com bons úberes e aprumos. E tudo isto com vacas que comem menos e ainda assim mantêm uma boa condição corporal. Está para breve a apresentação detalhada de todos os custos associados à produção leiteira com Holstein pura versus vacas ProCROSS, assegura o investigador. Brad está ainda a desenvolver um novo programa de crossbreeding, tendo como base as raças Jersey,

Vermelha Sueca e Normande. Este será um cruzamento destinado a sistemas menos intensivos, com pastoreio, existindo já produtores interessados em experimentá-lo. Há ainda muito por dizer acerca do programa ProCROSS e de outros cruzamentos. Brad promete novidades ainda este ano. E já sabe, a Ruminantes estará lá para lhas trazer do outro lado do Atlântico, sempre em primeira mão. IMAGEM 6 Exemplares de vacas ProCROSS.

Entrevista a Mike Osmond Aquando da nossa passagem pela World Ag Expo na Califórnia, nos dias 14 e 15 de fevereiro, tivemos oportunidade de falar com Mike Osmond, CEO da empresa Creative Genetics, a qual representa hoje em dia o ProCROSS nos Estados Unidos. Ficámos a saber um pouco mais acerca da origem do programa, das suas vantagens e dos desafios enfrentados hoje em dia pelos produtores de leite americanos.

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REPORTAGEM

“O programa ProCROSS dar-lhe-á a vaca perfeita, da forma mais fácil.” Quando e porquê começou a trabalhar com genética leiteira? Comecei a trabalhar em genética aos trinta e quatro anos e tenho agora sessenta e cinco, por isso já ando nestas andanças há algum tempo. Este projeto começou em 1995, fruto dos maus resultados que os produtores leiteiros estavam a ter em termos de fertilidade e longevidade, o que fazia com que estivessem fortemente dependentes da existência de animais de substituição. Como foi feita a escolha das raças que dariam origem ao programa ProCROSS? Começámos por recolher dados acerca das raças que poderiam ir ao encontro dos objetivos dos nossos produtores e, ao mesmo tempo, ajudar a reduzir os problemas que enfrentavam. A nossa lista inicial tinha vinte e duas raças, e acabou por ser reduzida a quatro: Jersey, Vermelha Sueca, Montbéliarde e Holstein. Mais tarde percebemos a supremacia da Vermelha Sueca sobre a Jersey, e optámos por excluir esta última do programa. Como é o panorama atual do crossbreeding nos Estados Unidos? Há quinze anos ainda existia bastante preconceito contra o crossbreeding por parte de alguns produtores. Hoje em dia temos mais de 500 efetivos a utilizar o programa, com dimensões que vão das 50 vacas às 30 000, em todo o país. Atualmente, mais de 10% das vacas leiteiras são cruzadas, correspondendo a perto de 1 milhão de animais. Há 20 anos, menos de 2% eram cruzadas. Como é o perfil dos vossos clientes? Há alguns anos, desloquei-me à grande maioria das explorações às quais prestamos assistência e, após conversar com os produtores e perceber em que ponto estavam, classifiquei-os numa escala de zero a dez, sendo dez a nota mais alta. Posso dizer que, em mais de 400 explorações, apenas dez não obtiveram uma das três classificações

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mais altas. Acho que isso diz muito acerca do seu empenho. Qual a influência de ter vacas cruzadas nos custos da saúde do rebanho na exploração? O custo médio mensal em efetivos ProCROSS é de pouco mais de um dólar por vaca. Já em efetivos Holstein, este valor ultrapassa os catorze dólares. Em termos de retorno financeiro, as vacas ProCROSS trazem em média mais 251 dólares por vaca do que as Holstein, o que corresponderá a mais 18-25% de retorno total. E quanto à taxa de refugo? Quando começámos a trabalhar com vacarias Holstein, a taxa de refugo rondaria os 35-45%, e era devida em grande parte a problemas reprodutivos. Três anos depois de termos introduzido o programa de crossbreeding este valor tinha diminuído para valores entre 10 e 22%. Passámos então de uma situação em que não tínhamos animais de substituição suficientes para ter excesso destes mesmos animais em algumas vacarias ProCROSS. Essa situação tem sido um desafio? Sim. O facto de existirem muitos animais de substituição para venda, já que os produtores não precisam deles, faz com que possa ser difícil encontrar mercado para os vender. A outra solução passa por ampliar as instalações e colocar esses animais em produção. A longevidade destas vacas será então bastante satisfatória, não? Sim, bastante. Já temos animais de décima geração, e gosto sempre de

mencionar uma das nossas vacas, a qual chegou aos dezanove anos e pariu vinte vitelos saudáveis. Em média, no ano passado, os animais das explorações a que damos assistência chegavam às 4,2 lactações, sendo a média na Califórnia de 1,98 lactações. Estas vacas são mais adequadas a sistemas intensivos? Não exclusivamente, também temos explorações nas quais é praticado o pastoreio. São animais flexíveis, que se adaptam a ambos os tipos de produção, bem como a climas mais ou menos frios. Existem diferenças entre vitelos puros e cruzados? Atualmente, na Califórnia, os vitelos Holstein valem 50 dólares. Já os ProCROSS são vendidos por cerca de 200 dólares. E como é o ganho médio diário? O ganho médio diário dos nossos novilhos ProCROSS é de 1,4 kg/ dia, com valores de 1,0 kg/dia em novilhas. Como vê a evolução do ProCROSS nos EUA durante a próxima década? A consanguinidade irá ter tendência para continuar a aumentar nos efetivos Holstein, o que criará mais “convertidos” para o nosso lado, pois os produtores irão perceber que o programa ProCROSS é uma forma de contornar isso e obter bons resultados. Qual é, em suma, o maior benefício que um produtor poderá obter com este programa? O programa ProCROSS dar-lhe-á a vaca perfeita, da forma mais fácil.


PROCROSS

O Único programa de crossbreeding no mundo já provado

A Montbeliarde Transmite

• Condição corporal • Força e Robustez

• Longevidade • Sólidos do Leite • Cascos sólidos • Alta mobilidade dos animais

Alguns dos actuais melhores touros que estão disponiveis • Elastar

• Crasat

• Camel

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• Triomphe

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ALIMENTAÇÃO

Nutrição: aminoácidos São os aminoácidos, e não as proteínas, os nutrientes essenciais. Os aminoácidos absorvidos, utilizados principalmente como elementos de construção na síntese de proteínas, são vitais para a manutenção, crescimento, reprodução e lactação dos bovinos de leite.

PROTEÍNAS Ao longo das últimas décadas a nutrição dos ruminantes evoluiu no que diz respeito à componente proteica. Começou com a necessidade de determinação do teor de proteína bruta nos anos 70. Nesta altura a investigação estava focada na quantidade de proteína necessária para o rúmen e na quantidade necessária para a manutenção geral e da produção leiteira. Ao longo do tempo, um melhor conhecimento acerca do metabolismo proteico permitiu-nos calcular os requisitos específicos de

JAVIER LOPEZ TECHNICAL SALES MANAGER RUMINANTES KEMIN EM ESPANHA E PORTUGAL

16 ABRIL . MAIO . JUNHO 2018 RUMINANTES

proteína na dieta (N) que podem ser classificados em duas amplas categorias: Proteína degradável no rúmen (RDP) É a porção de proteína na dieta degradada pela flora ruminal, na presença de uma fonte de energia, e de onde provém a maioria do azoto que é necessário para a síntese da proteína bruta microbiana. Proteína não degradável no rúmen (RUP) Esta é a parte da proteína da dieta que escapa à degradação sofrida no rúmen e é digerida pelas enzimas do animal no intestino delgado. A flora microbiana do rúmen passa continuamente do rúmen para o abomaso e intestino delgado onde não sobrevive e é digerida pelas enzimas do intestino delgado para fornecer aminoácidos individuais (AA). Os aminoácidos também derivam da digestão da proteína não degradável (RUP). Os ruminantes têm também a capacidade de absorver aminoácidos individuais (AA). Quando estas duas fontes de aminoácidos são digeridas e absorvidas no intestino delgado elas são referidas coletivamente como proteína metabolizável (MP). Assim, os ruminantes utilizam a proteína bruta da dieta como fonte de aminoácidos individuais AA como ilustrado na figura 1.

AMINOÁCIDOS Os 20 principais aminoácidos individuais em nutrição animal podem ser divididos em dois grupos: aminoácidos essenciais e aminoácidos não essenciais (tabela 1). Os aminoácidos essenciais não podem ser sintetizados pelo animal em quantidade suficiente ou à velocidade necessária para cobrir os requisitos para a síntese proteica, os aminoácidos não essenciais podem ser sintetizados pelo animal em quantidade suficiente.

O papel dos aminoácidos Há muito que se sabe que os bovinos precisam de aminácidos para a síntese de tecido corporal e de proteínas reguladoras, protetoras e secretoras. Diariamente, milhares de diferentes proteínas precisam de ser sintetizadas. Está também documentado que a composição em aminoácidos de cada proteína é diferente, mas a composição de aminoácidos de uma proteína é a mesma todas as vezes que esta for sintetizada. Isto deve-se ao facto de a síntese proteica ser um evento geneticamente determinado.


ALIMENTAÇÃO

TABELA 1 Aminoácidos AMINOÁCIDOS ESSENCIAIS

AMINOÁCIDOS NÃO ESSENCIAIS

Arginina

Alanina

Histidina

Asparagina

Isoleucina

Aspartato

Leucina

Cisteína

Lisina

Glutamato

Metionina

Glutamina

Fenilalanina

Glicina

Treonina

Prolina

Triptofano

Serina

Valina

Tirosina

Consequentemente, a composição de aminoácidos das proteínas sintetizadas não é afetada pela quantidade ou o perfil de aminoácidos dos aminoácidos absorvidos. São os aminoácidos e não a proteína em si, os nutrientes necessários aos ruminantes. Os aminoácidos absorvidos, utilizados principalmente como “tijolos” na síntese de proteínas, são vitais para a manutenção, crescimento, reprodução e lactação dos bovinos de leite (NRC, 2001). Embora numa menor extensão, os aminoácidos são também necessários como percursores para a produção de outros metabolitos. Estes compostos servem também também como percursores para a neoglucogénese e podem ser convertidos em ácidos gordos ou servir como fontes imediatas de energia metabolizável quando oxidados para CO2.

O balanço de aminoácidos Enquanto o perfil de aminoácidos absorvidos não afeta a utilização de aminoácidos no metabolismo e produção, o perfil de aminoácidos essenciais absorvidos afeta a quantidade de proteína que pode ser sintetizada. Isto está amplamente documentado em suínos (NRC, 1998) e aves (NRC, 1994). Está descrito que quando os aminoácidos essenciais são absorvidos de acordo

com o perfil necessário ao animal, a eficiência do seu uso para a síntese proteica é maximizada e a necessidade de aminoácidos totais absorvidos é reduzida ao mínimo. Assim, o catabolismo do excedente de aminoácidos é mínimo e a excreção urinária de azoto é reduzida. Em contraste, a eficiência do uso de aminoácidos para o metabolismo proteico e produção é menos eficiente quando o perfil de aminácidos essenciais absorvidos é menor que o ideal. Nesse caso, é a quantidade dos primeiros aminoácidos essenciais limitantes que determina a extensão da síntese proteica e não o total de aminoácidos.

Noftsger e St-Pierre, 2003; Noftsger et al., 2005; Ordway et al., 2009; Socha et al., 2005; St-Pierre e Sylvester, 2005). A metionina é tipicamente o primeiro limitante quando a maioria da proteína não degradável no rúmen é proveniente da soja, produtos de origem animal ou uma combinação dos dois (NRC, 2005). Estas fontes proteicas têm uma baixa concentração em metionina quando comparadas com o leite ou proteína microbiana. Como se pode verificar na tabela 2, a metionina no leite e bactérias corresponde a 2,6-2,7% da proteína bruta enquanto que nas farinhas de soja, sangue, penas, carne, a metionina é apenas 0,8-1,4% da proteína bruta. A lisina é o primeiro limitante quando milho ou alimentos derivados do milho são a fonte da maioria da proteína não degradável no rúmen. A lisina no leite e bactérias corresponde a 7,6 e 7,9% da proteína bruta respetivamente, enquanto que na silagem de milho, no milho, produtos destilados do milho e glúten de milho a lisina é apenas 1,72,8% da proteína bruta.

A histidina só foi identificada como primeiro aminoácido limitante quando silagem de erva ou dietas de cevada e aveia são dadas, com ou sem farinhas de penas, como única ou fonte primária de suplemento de proteína não digerível no rúmen (Kim et al., 1999, 2000, 2001a, 2001b; Huhtanen et al., 2002; Korhonen et al., 2000). Nenhuma destas dietas contém milho ou derivados do milho. Segundo o NRC (2001) as concentrações previstas, na proteína metabolizável, de lisina, metionina e histidina nas dietas administradas nestes estudos, em paralelo com avaliações semelhantes de dietas onde os bovinos tinham ou não respondido a níveis aumentados de lisina e metionina em PM, McLaughlin, (2002) sugere que histidina pode tornarse o terceiro aminoácido limitante em algumas dietas. Isto pode ser particularmente importante quando nenhuma farinha de sangue está a ser administrada e quando os produtos de trigo e cevada substituem quantidades significativas do milho na dieta.

Aminoácidos limitantes Aminoácidos limitantes são aqueles que estão em pequenas quantidades na dieta relativamente às necessidades. A lisina, metionina e histidina (tabela 2) têm sido globalmente reconhecidos como os primeiros aminoácidos limitantes na nutrição de bovinos de leite. A lisina e metionina são frequentemente identificados como os dois aminoácidos mais limitantes para a lactação. Diversos estudos de investigação continuam a dar suporte a estas primeiras observações (e.g. Appuhamy et al., 2011; Chen et al., 2011; Doepel e Lapierre, 2010, 2011;

TABELA 2 Comparação da composição em aminoácidos essenciais do tecido magro corporal, leite e flora ruminal com alguns alimentos comuns.

Tecido magro

MET (%PC)

LYS (%PC)

2

6,4

Leite

2,7

7,6

Bactérias

2,6

7,9

Silagem de Luzerna

1,4

4,4

Silagem de Milho

1,5

2,5

Silagem de Erva

1,2

3,3

Cevada

1,7

3,6

Milho

2,1

2,8

Aveia

2,9

4,2

Trigo

1,6

2,8

Bagaço de cereais

1,7

4,1

Farinha de colza

1,9

5,6

DDG milho

1,8

2,2

Corn gluten meal

2,4

1,7

Farinha de algodão

1,6

4,1

Farinha de girassol

2,3

3,6

RUMINANTES ABRIL . MAIO . JUNHO 2018 17


ALIMENTAÇÃO

ESTIMATIVA DE AMINOÁCIDOS ESSENCIAIS EM PROTEÍNA METABOLIZÁVEL As estimativas iniciais das concentrações ideais de aminoácidos essenciais na proteína metabolizável foram estabelecidas por Rulquin et al. (1993), o NRC (2001) e Doepel et al. (2004). As diferentes abordagens resultaram em recomendações surpreendentemente semelhantes para o nível ótimo de lisina e metionina na proteína metabolizável. Recentemente, Schwab et al. (2009) repetiu os gráficos dose-resposta da lisina e metionina usando a versão final do modelo de NRC (2001), em vez da versão beta que foi usada previamente. Os mesmos estudos foram usados e todos os passos como descrito no NRC (2001)

FIGURA 1 Proteína metabolizável/AA.

foram repetidos. Da mesma forma, Whitehouse et al. (2009) repetiu os mesmos passos, usando os mesmos estudos que foram usados para NRC (2001), para gerar os gráficos doseresposta da lisina e metionina para o software de formulação de ração de bovinos COM-dairy e AMTS. Isto foi realizado para modelos baseados em CNCPS (Cornell Net Carbohydrate and Protein System) devido ao seu uso alargado na indústria do leite, com a preocupação de que os utilizadores destes modelos podem estar a usar incorretamente as recomendações geradas pelo modelo NRC (tabela 3).

PROTEÍNA

DIETA

ENERGIA

Proteína degradada Bactérias

RÚMEN Proteína não degradada

Proteína bacteriana

INTESTINO DELGADO

Proteína metabolizável/AA TABELA 3 Concentração ideal de lisina e metionina na PM (% proteína metabolizável) em diferentes modelos. SISTEMA

ANO

UNIDADE

OBJETIVOS NUTRICIONAIS

Lys(% PM)

Met (%PM)

RÁCIO LISINA:METIONINA

Dinamarquês: AAT-PVB; NorFor

2006

Lys, %AAT; Met, % AAT

6,8

2,65

2,7:1

Holandes: DVE/OEB

2007

DVLys, %DVE; DVMet, %DVE

6

2,4

2,5:1

Francês: INRA AADI (Rulquin)

2007

LysDi, %PDIE; MetDi, %PDIE

6,8

2,2

3,1:1

EUA: NRC

2001

dig.Lys%PM y dig.Met%PM

7,24

2,42

3:1

CNCPS 6,55

2015

dig.Lys%PM y dig.Met%PM

7

2,6

2,7

ESTRATÉGIAS DE EQUILÍBRIO DE AMINOÁCIDOS PARA ALIMENTO PROTEICO • Maximizar a síntese de proteína microbiana (evitando administrar proteína degradável no rúmen em excesso). Como descrito na tabela 2, a proteína microbiana contém altas percentagens de lisina e metionina. Aumentar a quantidade de proteína microbiana reduz o diferencial entre os aminoácidos essenciais necessários e os administrados. • Não dar proteína não digerível no rúmen em excesso pois tem várias desvantagens na nutrição de bovinos de aptidão leiteira. O excesso de RUP geralmente substitui os hidratos de carbono fermentáveis na dieta como substratos principais para a síntese dos componentes do

18 ABRIL . MAIO . JUNHO 2018 RUMINANTES

leite, reduz o conteúdo de RDP abaixo do nível recomendado, baixa concentração de lisina e de metionina na proteína metabolizável e torna a dieta mais cara. • Administrar uma fonte de RUP equilibrada em lisina e metionina. Uma vez que o perfil de aminoácidos esteja fixo a outra porção de proteína metabolizável é RUP. No entanto, a RUP dos alimentos é geralmente baixa em lisina, metionina ou ambos. Os aminoácidos protegidos da ação do rúmen são uma solução eficiente para otimizar o rácio e nível de lisina e metionina na proteína metabolizável. • Manter o rácio de lisina e metionina. Para uma utilização

máxima dos aminoácidos absorvidos para produção e funções metabólicas, o rácio lisina:metionina deve ser mantido de acordo com o sistema proteico (tabela 3). • Manter a concentração de lisina e metionina na proteína metabolizável. A percentagem recomendada de lisina e metionina na proteína metabolizável, para as vacas leiteiras, tem sido estimada em diversos estudos, como discutido anteriormente, para a máxima produção leiteira e rendimento proteico do leite.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Não foram incluídas por uma questão de espaço editorial, mas o autor disponibiliza bastando enviar um email para geral@revista-ruminantes.com.

BENEFÍCIOS DO EQUILÍBRIO DE AMINOÁCIDOS Equilibrar a lisina e metionina na proteína metabolizável (PM), usando os passos descritos, tem levado a diversos benefícios importantes tanto ao nível da investigação como na implementação em explorações: 1. Aumenta a produção de leite e seus componentes. 2. Aumenta a eficiência da utilização de azoto da alimentação. 3. Aumenta a performance reprodutiva e a saúde em geral. 4. Reduz a excreção de azoto por unidade de leite ou proteína produzidos. 5. Aumenta o rendimento da exploração leiteira.


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ATUALIDADES

FEBRUDAIRY VS VEGANUARY

AGRICULTURA 4.0: A REVOLUÇÃO TECNOLÓGICA ESTÁ A CHEGAR À AGRICULTURA O desenvolvimento de novas tecnologias promete revolucionar a forma como se tem feito agricultura nos últimos anos. A tecnologia invadiu o nosso dia-adia e a agricultura não é exceção, a utilização de software e gadgets altamente tecnológicos já não é exclusiva de atividades citadinas. Drones que sobrevoam a exploração recolhendo informações sobre animais e colheitas? Há uns anos diríamos que se tratava de um filme futurista, mas a previsão é de que esta imagem faça parte da realidade de muitos agricultores nos próximos anos. A informação recolhida por estes e outros equipamentos e armazenada em bases de dados é depois analisada por modernos softwares de gestão com autonomia para tomar “decisões” com base nos dados recolhidos. Será possível, por exemplo, que com base nos dados recolhidos e analisados o software faça diretamente a encomenda das matérias primas necessárias para a exploração ao fornecedor. É expectável que estes equipamentos e software alertem também o agricultor para a existência de doenças garantindo uma ação rápida. Avanços tecnológicos como estes permitem ao agricultor otimizar a produção: produzir mais, a um menor custo, de forma mais sustentável, com maior qualidade e mais segura. Todas estas tecnologias usadas de forma integrada vão dar ao agricultor uma visão geral da sua exploração e serão a garantia de decisões informadas. As novas tecnologias estarão também ao serviço do consumidor final por facilitar o contacto entre este e o produtor sem ter a distribuição como intermediário. Além da vantagem económica para ambos, esta realidade assegurará uma maior transparência dando a conhecer ao consumidor a origem dos alimentos.

O consultor de sustentabilidade na produção animal, Jude Copper, lançou no twitter o movimento #februdairy desafiando os produtores e defensores do leite a usar este hashtag para promover nas redes sociais o consumo de leite. Este movimento surge como resposta ao movimento vegan #veganuary que, através das redes sociais, desafiou o consumidor a experimentar a dieta vegan durante o mês de janeiro. Ao longo dos últimos anos muita informação tem sido veiculada contra a produção de leite e produtos lácteos. Vegans publicam imagens negativas da produção leiteira e do leite como alimento influenciando as escolhas do consumidor. Em paralelo, assistimos a uma presença crescente de substitutos destes alimentos nos supermercados que são habitualmente promovidos como alternativas “mais saudáveis” sem que necessariamente o sejam. Além disso crescem os casos de agressão de vegans a produtores sob o pretexto de que maltratam os animais. Perante isto, os produtores e defensores do leite responderam ao desafio de Jude Cooper e utilizaram o hashtag #februdairy publicando nas redes sociais, ao longo do mês de fevereiro, informação positiva e factual sobre a produção e consumo de leite. Pretendeu-se levar a debate, de forma construtiva, informação sobre os benefícios nutricionais do leite e lacticínios como parte de uma dieta equilibrada e ainda desmistificar alguma da informação veiculada por grupos vegans sobre maus tratos aos animais na produção de leite ou deficientes condições de higiene e segurança alimentar na produção.

COMBINAÇÕES IMPROVÁVEIS: UMA EXPLORAÇÃO LEITEIRA FLUTUANTE EM AMBIENTE CITADINO Com uma arquitetura moderna, uma estrutura envidraçada e mais de 1000 metros quadrados, a primeira exploração flutuante foi projetada para o porto de Roterdão. Atualmente, a vida citadina e o distanciamento do campo fazem com que muitas pessoas só tenham contacto com os alimentos no ponto de venda desconhecendo a forma como são produzidos. Seguindo a tendência da agricultura urbana, esta exploração pretende aproximar o consumidor da produção e com isso diminuir o tempo alocado à logística. A exploração, além

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de espaço de produção e transformação de produtos lácteos, será também um centro de aprendizagem. O espaço foi projetado na água como resposta ao crescimento dos centros urbanos e à escassez de terra fértil. Nesta exploração, as 40 vacas da raça Montbéliarde irão produzir mais de 800 litros diários de leite que será também utilizado para o fabrico de outros produtos lácteos. A exploração está projetada de forma a ser sustentável e a respeitar o bem-estar animal. Os animais terão pastagem no próprio edifício e em terra e a ordenha será feita por robots. As fezes e urina dos

animais serão reutilizados na produção de energia e fertilizantes. Albert Boersen e Myrthe Brabander foram as pessoas escolhidas para estar à frente da produção. Este projeto nasce de parceria entre a empresa de construção especialista em estruturas flutuantes, Beladon, a especialista de agricultura urbana, Uit Je Eigen Stad, e o instituto de inovação do sector da agricultura e produção leiteira, Courage. A parceria conta já com inúmeros parceiros como a Cargill e a Philips. SAIBA MAIS EM www.floatingfarm.nl


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GENÉTICA

Genética Jersey em São Miguel “À luz do mercado atual, a Jersey dá-me as melhores condições de produção.” Entrevista a Maximino Galvão. POR RUMINANTES

Quando pensamos na bucólica paisagem da ilha de São Miguel, nos Açores, imaginamo-la pautada pelo branco e preto das Holstein enquanto pastam. Mas em Santa Bárbara, na Ribeira Grande, podemos encontrar vacas mais pequenas, acastanhadas, que se enquadram igualmente bem na paisagem. Falamos de vacas Jersey e da exploração gerida há dez anos por Maximino Galvão, que tem dado continuidade ao trabalho do seu pai. A paixão pelo negócio, garante, foi-lhe incutida geneticamente, e é com gosto que se dedica a todas as tarefas da exploração, à qual chega diariamente

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por volta das seis e meia da manhã. Com pouco mais de uma centena de animais, Maximino encontrou nas Jersey o equilíbrio entre a utilização de fatores de produção e a produção de um leite de excelente qualidade e que vai ao encontro das exigências do seu comprador, a Insulac. Foi disso – e de muito mais – que falou à Ruminantes aquando da nossa passagem pela ilha de São Miguel. Sempre trabalhou com raça Jersey? Porque a escolheu? Inicialmente, no tempo do meu pai, trabalhávamos com genética Holstein,

mas começámos a cruzar desde muito cedo com Jersey. Sempre concordei com esta decisão, e optei por manter a raça na exploração porque, vendendo o leite a uma indústria queijeira e de manteiga, o perfil do nosso leite é muito valorizado. À luz do mercado atual, a Jersey dá-me as melhores condições de produção. Quais as principais características das Jersey? São animais que, não produzindo grandes volumes de leite, conseguem ter leite de elevada qualidade em termos de sólidos, o qual é vendido a um preço mais atrativo para nós produtores.


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GENÉTICA

Dados gerais da exploração Área da exploração: 35 hectares, cultivados com erva e milho Nº de empregados: 3 (Maximino, o seu pai e mais um funcionário) Efetivo total: 115 animais Vacas em lactação: 50 Vacas secas: 16 Produção leiteira: 21,5 litros/vaca/dia GB (%): 5,1 PB (%): 3,6 CCS: 260.000

Paralelamente, o seu pequeno tamanho faz com que sejam mais “económicas” em comparação com as Holstein. Falamos de pesos médios que rondam os 350 kg, sendo que uma Holstein pode chegar aos 600 kg ou mais. Também são animais muito confiáveis em termos de fertilidade. Em termos de saúde animal, como classifica esta raça? São animais com alguma tendência para a hipocalcémia, principalmente a partir da terceira gestação. No entanto, há um ano que não tenho vacas caídas. Aposto essencialmente na prevenção, a qual consiste no reforço do sistema imunitário da vaca no pré-parto, bem como na suplementação com cálcio por via oral aquando do parto. Essa suplementação

é feita em duas administrações com 48 horas de intervalo. Também reforço os níveis de energia na alimentação desta fase. O que é que procura quando compra genética? Os produtores de Holstein procuram geralmente a facilidade de partos. Eu procuro otimizar os animais como um todo, mas preciso essencialmente de vacas com boas patas e úberes, e com grande longevidade. Os volumes de produção não são uma prioridade, iriam traduzir-se numa diminuição dos sólidos totais, os quais me são bastante úteis e rentáveis. Optou recentemente por retirar o seu efetivo do pastoreio. O que o levou a tomar esta decisão? Estando nós numa ilha, o espaço disponível para produzir é sempre limitado. As minhas maiores parcelas de terra são dentro da freguesia, o que complica a colocação das vacas em pastoreio. Isso levou-me à construção de um estábulo, no qual estamos ainda a trabalhar. No entanto, as Jersey adaptam-se bem ao pastoreio, e o ideal para elas é um regime de semiestabulação, o qual quererei implantar no futuro.

IMAGEM 2 Maximino Galvão.

Esta mudança trouxe diferenças em termos produtivos? Sim, a produção está muito mais estabilizada e regular. O nosso inverno consegue ser bastante agressivo, o que causava muitas oscilações em termos produtivos quando os animais andavam a campo. O maneio alimentar também foi otimizado, ficou mais assertivo. Claro que foi necessário um período de adaptação, esta foi uma mudança radical. Fizemos a mudança em novembro e tivemos alguns problemas respiratórios que afetaram negativamente a produção, mas essa situação já foi revertida. Que encabeçamento tem? Consigo ter um encabeçamento superior a dois animais por hectare. Espero vir a ter 100 vacas em lactação com esta mesma área, um encabeçamento praticamente impossível de obter com Holstein. Com as minhas 60 Jersey atuais conseguiria ter só 40 Holstein, e produzo o mesmo com os mesmos quilos de alimento, com a diferença que vendo o leite a um preço superior. Como é feita a ordenha? Fazemos duas ordenhas diárias, recorrendo a um equipamento móvel. Qual o regime alimentar dos animais? A base do arraçoamento é a utilização de fenosilagem de azevém e de silagem de milho, misturadas no Unifeed. A silagem de milho é a matéria-prima predominante, utilizo uma tonelada diária para os animais que tenho agora em produção. Forneço ainda um premix de vitaminas e minerais (100 g/vaca/ dia) e meio quilo de melaço por vaca, também misturados no Unifeed. Os animais comem ad libitum. Na ordenha são-lhes fornecidos cerca de 6 kg de concentrado por animal. Qual é o índice de conversão dos seus animais? O consumo de matéria seca por animal ronda os 16 kg. Tendo em conta a produção média de 22 litros diários, o índice será de cerca de 1,4.

“A JERSEY É MAIS INTERESSANTE PORQUE CONSEGUE TRAZER BONS LUCROS, QUER PELO LEITE QUER PELOS ANIMAIS VENDIDOS.”

24 ABRIL . MAIO . JUNHO 2018 RUMINANTES


IMAGEM 3 Novilha Jersey.

Construiu recentemente este novo estábulo. Quais os próximos investimentos? Tenho muitos em mente, para além da melhoria do estábulo atual. O próximo será a aquisição de uma nova parcela de terreno para que os animais possam fazer pastoreio aqui ao pé. Também quero apostar numa nova sala de ordenha, a máquina já tem muitos anos. Quero construir uma sala automatizada, com uma ordenha rápida e facilmente controlável por um só indivíduo. Porque não há mais produtores com Jersey aqui nos Açores? Não consigo especificar o porquê. Os produtores da região parecem formatados para o modelo americano, querem é vacas grandes e com grandes volumes. Na sua opinião, como é que os produtores conseguem assegurar um negócio mais rentável e com futuro? Tentar reduzir os custos ao máximo.

Apostar na prevenção é mais viável do que tratar, os animais não ficam com sequelas e há menos perdas. Não nos podemos dar ao luxo de perder animais por falta de cuidados. Apostar na prevenção é mesmo a chave. Se os animais tiverem um bom sistema imunitário conseguem resistir e curar-se mais facilmente. Qual seria o principal argumento que utilizaria para convencer um produtor a adotar a genética Jersey?

O argumento determinante é: com o mesmo número de vacas, na mesma área de terra, consigo ser autossuficiente em termos de produção de alimento e ainda vender excedente. Em paralelo, consigo vender o leite mais caro. Numa zona em que a terra vale muito dinheiro, a Jersey é mais interessante porque consegue trazer bons lucros, quer pelo leite quer pelos animais vendidos. Gastam-se menos adubos, menos ração, e otimiza-se a área que se tem.

RUMINANTES ABRIL . MAIO . JUNHO 2018 25


PRODUÇÃO

ISABEL RAMOS 1

Produção de vitela em explorações de leite de Vila do Conde REFLEXÃO SOBRE A PRODUÇÃO DE CARNE DE BOVINO

ISABEL SANTOS 2

ANDRÉ LOPES 1

ANA GOMES 3 1 TÉCNICOS SUPERIORES DE NUTRIÇÃO ANIMAL DA COOPERATIVA AGRÍCOLA DE VILA DO CONDE, CRL (CAVC 2

MÉDICA VETERINÁRIA DA CAVC 3

DIRETORA TÉCNICA DA SECÇÃO DE NUTRIÇÃO ANIMAL DA CAVC).

26 ABRIL . MAIO . JUNHO 2018 RUMINANTES

Nos últimos anos o setor da produção de leite atravessou desafios e dificuldades que aumentaram a volatilidade do preço do leite e, indiretamente, contribuíram para que a produção de bovinos para engorda fosse cada vez mais uma opção para os produtores de leite aumentarem a rentabilidade do seu negócio. Como o principal objetivo do empresário deste setor é a produção de leite, a produção de carne surge como um negócio secundário dentro da exploração, sem estratégias bem definidas e que fazem com que os sistemas de produção sejam complexos. Contudo, um estudo realizado em 2015, por Marquer et al., verifica que de uma perspetiva económica a produção animal engloba o lucro gerado pelos animais, que representa 57,5% do lucro total da exploração (valor gerado pelos animais utilizados para reposição de efetivo, por animais abatidos diretamente e por animais de engorda) e o lucro gerado pelos produtos produzidos por eles, que representa 42,5% do lucro total (valor gerado pelo leite produzido). Depreendendo-se assim que nas explorações de leite nascem um grande número de vitelos, que podem ser vendidos precocemente ou podem ser criados para engorda e, assim, representarem um complemento económico à produção de leite. Em 2001, Ribeiro et al. constatou

que cerca de 70% dos machos provenientes de explorações de leite nos Estados Unidos eram utilizados para a produção de carne e que em Inglaterra, cerca de 40% da carne de bovino produzida era proveniente de vitelos de explorações de leite da raça Holstein Frisian (HF) ou de vitelos cruzados (vitelos resultantes do cruzamento da raça HF com raças de carne). Segundo o estudo da EFSA, em 2012, cerca de dois terços da carne de bovino que chegou ao consumidor europeu eram provenientes de explorações de leite. Mais, a importância económica da produção de carne de bovino na EU-28 é tão relevante que em 2015 representou 43,1% do total dos lucros da agricultura europeia (Marquer, Radabe & Forti, 2015). Assim, ao longo dos anos, os gestores das explorações de leite têm apostado mais na produção de carne de bovino e, consequentemente, os vitelos das explorações de leite tornaram-se um bem

cada vez mais valioso e rentável (McCullough, 1976), do qual Portugal não é exceção. Segundo o INE, em 2016, a produção de carne de bovino aumentou 2% em relação a 2015 (91000 toneladas e 89000 toneladas, respetivamente). O mesmo estudo estima que a produção de carne de vitelo em 2016 aumentou 6%, comparativamente com 2015. Este acréscimo está diretamente relacionado com a exportação de animais vivos, novilhos com mais de 300 kg de peso vivo, para países terceiros, o que proporcionou um aumento de abate de animais jovens para o mercado interno. Segundo o estudo de Marquer et al. (2015) há uma grande variabilidade nos animais abatidos para consumo, que está amplamente relacionada com a seleção da raça e a aptidão produtiva (leite, carne e mista), com a preferência da idade ao abate e com a escolha do sistema de alimentação. Na tabela 1 é possível consultar as diferentes designações que a carne de

TABELA 1 Designações de rotulagem da carne de bovino de acordo com a idade ao abate definidas pelo Regulamento (CE) Nº 1234/2007 do Conselho, de 22 de outubro e pelo Gabinete de Planeamento, Políticas e Administração Geral [GPP], 2015. DESIGNAÇÃO

IDADE AO ABATE

Carne de vitela

Até aos 8 meses

Carne de vitelão

Entre os 8 e 12 meses

Carne de novilho

Entre os 12 e 18 meses

Carne de bovino adulto (“carne de vaca”)

Superior a 18 meses


PRODUÇÃO

bovino recebe de acordo com a idade ao abate. Os bovinos são a espécie pecuária com menor eficiência alimentar e, consequentemente, com um ciclo de produção mais longo que acarreta um maior custo individual por animal criado (Marquer et al., 2015). Por este motivo, a nível comercial, o preço da carne de bovino é em geral mais cara do que as restantes espécies, o que tem um efeito negativo na sua comercialização e faz com que o consumidor privilegie o consumo de espécies mais baratas, em detrimento da carne de bovino. Para além disso, a tenrura é a característica sensorial da carne de bovino com maior influência no momento da compra. A cor e a textura também são aspetos qualitativos que exercem um papel decisivo na escolha do consumidor (Monteiro et al., 2013; Koohmaraie & Geesink, 2006). Mais, a preferência do consumidor pela compra de carne de bovino é ainda, fortemente, influenciada por preocupações como questões de saúde e bem-estar animal relacionados com o sistema de produção, o impacto ambiental da produção de carne de bovino (pegada de carbono), o valor nutricional, a segurança alimentar e a origem do produto. Por tudo isto, no período compreendido entre o ano de 2010 e 2016 assistiu-se a uma diminuição do consumo de carne de novilho e vaca na UE-28. Em contrapartida, verificou-se em igual período, um aumento no consumo de carne de vitela e de vitelão (INE, Relatórios de Estatísticas Agrícolas). Aliado à preferência do consumidor é ainda sabido que a escolha do sistema de produção influencia em larga escala a produtividade dos animais e o preço final do produto acabado. Já a genética dos animais tem maior influência na escolha dos sistemas de engorda ao ar livre ou em confinamento (EFSA, 2012). Desta forma, o conhecimento das características de produção

ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS de carne de animais HF ganha relevância e deve ser tido em conta para melhorar o seu aproveitamento e tirar partido das qualidades do produto. Com base nos factos acima mencionados, é importante que a decisão do empresário em optar por um sistema de produção

misto, de leite e de carne, se baseie na compreensão dos recursos disponíveis, com um objetivo claro de atender aos requisitos do mercado de forma inovadora e aumentar ainda mais o lucro das explorações, distinguindo diferentes produtos dentro da mesma gama (carne de bovino).

OBJETIVO E DESCRIÇÃO DO ESTUDO O objetivo do presente trabalho foi analisar as diferenças existentes na produção de carne de vitela da raça HolsteinFrísia do concelho de Vila do Conde. No âmbito do estudo foram analisados 1023 animais, com idade média ao abate de 7 meses (210 dias), maioritariamente machos, provenientes de 23 explorações de leite do concelho de Vila do Conde criados em sistema de engorda intensivo e em confinamento. Após o nascimento todos os animais foram encolostrados nas primeiras horas de vida (sem avaliação da qualidade do colostro). Posteriormente, manteve-se uma alimentação à base de leite de vaca não destinado ao consumo humano ou de leite de substituição de diferentes composições. A distribuição do leite para 715 animais foi segundo o método convencional, biberão ou balde com tetina, em duas tomas diárias, em quantidades superiores a 6 litros. Para os restantes 308 animais a distribuição foi realizada ao longo do dia através de alimentador automático (método automático), com uma curva de administração de leite semelhante à desenhada

para as fêmeas utilizadas para recria e com um limite máximo na ingestão da quantidade de leite – entre 6 e 8 litros. A partir dos 8 a 10 dias de vida foi introduzido o alimento forrageiro, palha ou feno, e o alimento composto, ambos, à descrição. Dos 1023 animais em estudo, a 433 animais foi administrado um alimento composto de iniciação (vulgo “starter”) até ao desmame, enquanto os restantes 590 animais foram alimentados com um alimento composto formulado para administração a vitelos até ao abate. Em todas as explorações os vitelos são desmamados entre os 2,5 e os 3 meses de idade, altura a partir da qual todos os animais se mantêm com o mesmo sistema de alimentação (alimento composto e alimento forrageiro à descrição, por vezes complementado com leite de vaca). Nos primeiros dias de vida, o alojamento, na totalidade das explorações em estudo, é feito em boxes individuais, com cama de palha ou cama de estrado. Posteriormente os animais são agrupados, de acordo com o seu tamanho, em boxes com cama em palha (n= 314 animais) ou em vigas (n=709 animais).

Nos três anos em análise, a idade média ao abate dos animais englobados no estudo foi de 7 meses (210 dias) e a média obtida para o peso de carcaça fria foi de 149,51 kg. Na análise dos dados, foi utilizado um modelo estatístico misto de ANOVA, no programa SPSS, considerando as explorações como efeito aleatório. O gráfico 1 mostra a evolução da variável dependente ganho médio diário (kg) dos vitelos, nos diferentes anos do estudo. Observa-se uma tendência crescente no ganho médio diário, dos vitelos abatidos em cada ano, que resulta numa diferença estatisticamente significativa (p<0,01) entre os três anos em análise. Estes dados sugerem uma melhoria no maneio destes animais de engorda, possivelmente por uma maior atenção dos produtores de leite a este setor da sua exploração. A maioria das explorações em estudo desde 2016 foram sujeitas a uma restrição na produção de leite de acordo com o contrato assinado com a entidade compradora de leite. Este facto poderá ter contribuído para uma maior

GRÁFICO 1 Distribuição dos ganhos médios diários de vitelos, com idade média ao abate de 7 meses (210 dias), por ano. Ganho médio diário 0.74

c p<0,01

0,737

0.73 b

0.72

0,717 0.71 0.70 0.69

a 0,696

0.68 0.67

2015

2016

2017

RUMINANTES ABRIL . MAIO . JUNHO 2018 27


PRODUÇÃO

GRÁFICO 2 Distribuição dos ganhos médios diários de vitelos, com idade média ao abate de 7 meses (210 dias), por trimestre. Foi calculada a média ponderada ao longo dos três anos em cada trimestre. Ganho médio diário 0.74

b 0,738

p<0,05

0.73 0.72 0.71

a a 0,706

0.70

0,711 a 0,702

0.69 0.68

4º 1º 2º 3º Trimestre Trimestre Trimestre Trimestre

administração de leite de vaca aos vitelos de engorda, contribuindo positivamente para um aumento do ganho de peso diário. É ainda importante realçar que, os valores de ganho médio diário apurados neste grupo de explorações da CAVC, em vitelos HF, são bastante favoráveis quando comparados com a bibliografia consultada a este respeito, nomeadamente o estudo realizado em 2017 por Bragança, I., em explorações da região de Lisboa e Vale do Tejo, com animais Holstein Frisia e com maneio de engorda semelhante, em que os vitelos foram abatidos, em média, com 229 dias, e apresentaram um ganho médio diário de 0,660 kg. No que se refere ao trimestre de abate dos animais em estudo podemos verificar, no gráfico 2, que os animais abatidos no quarto trimestre do ano, outubro a dezembro, registaram um ganho médio diário significativamente superior aos restantes (p<0,05). Quanto aos três primeiros trimestres do ano, não se verificaram diferenças estatisticamente significativas (p>0,05). Esta diferença nos animais abatidos no quarto trimestre verificou-se em todos os anos em estudo, quando analisada a interação ano* trimestre. Os animais abatidos no quarto

28 ABRIL . MAIO . JUNHO 2018 RUMINANTES

trimestre, terão nascido entre março e maio, meses do ano que proporcionam condições climatéricas mais favoráveis ao desenvolvimento dos vitelos e que podem ter contribuído positivamente para o ganho de peso diário. No que concerne às diferenças no maneio testadas neste estudo observamos os seguintes resultados (gráfico 3): Os animais em que a administração do leite foi realizada pelo método convencional, registaram um ganho médio diário (0,722 kg) superior aos animais alimentados com recurso ao alimentador automático (0,707 kg), embora a diferença não tenha sido estatisticamente significativa (p>0,05). Os estudos de Passillé et al. (2004) e von Keyserlingk et al. (2006), também verificaram que os ganhos de peso ao desmame em sistemas de alimentação convencional e automático foram semelhantes. De facto, no método convencional, apesar de o leite ser administrado apenas 2 vezes por dia, é fornecido em maiores quantidades e o vitelo pode ingerir a quantidade que desejar durante o período de distribuição. Mais, em épocas de produção de leite acima do contratado, os produtores optam por administrar leite por um maior período de tempo. Já no sistema de alimentação automático, a quantidade de leite administrada ao longo do dia, é pré-definida pelo produtor de acordo com uma curva de ingestão adaptada à idade. Neste último caso, a curva nas explorações analisadas, não difere nos machos e fêmeas da exploração, não potenciando a ingestão de leite dos animais de engorda o que pode condicionar, negativamente, os índices de crescimento dos vitelos. Para além disso, verificou-se que o sistema de alimentação automático de vitelos apenas permite a administração de um tipo de leite. Neste estudo

embora sem significado estatístico. Já no que se refere às condições de alojamento dos animais em boxes conjuntas com cama de palha, verificou-se um ganho médio diário superior (0,744 kg), e estatisticamente significativo (p<0,05), quando comparado com o ganho médio diário de animais alojados em vigas de cimento (0,707 kg). Comprovase, assim, o impacto positivo que o bem-estar animal tem no crescimento dos vitelos.

os produtores optaram pela administração de leite em pó, que representa na exploração um custo quantificável (uma vez que não valorizam a administração de leite de vaca) e acaba por ter um efeito negativo na quantidade de leite administrada aos animais. Quanto à introdução de um alimento composto de iniciação – “starter”, após a primeira semana de vida até ao desmame, verificou-se um ganho médio diário superior nestes animais (0,729 kg),

GRÁFICO 3 Efeito do método de distribuição de leite (convencional versus automático), da administração de um alimento composto de iniciação – “starter” até ao desmame e do tipo de alojamento (boxes conjuntas com palha ou boxes conjuntas em piso em vigas de cimento) no ganho de peso diário de vitelos com idade média ao abate de 7 meses (210 dias). p>0,05

p>0,05

p<0,05 0,744 Sim

0,729

Não

0,722 0,712 0,707

Alimentador automático

0,707

STARTER

Palha até 7 meses

CONCLUSÃO A produção intensiva de vitelos da raça HF para carne de vitela permite aumentar a sustentabilidade económica das explorações de leite desde que o produtor opte por práticas de maneio cuidadas e adequadas. A aposta numa alimentação adequada, que promova a ingestão de leite em quantidades superiores a 6 litros/dia durante o máximo período de tempo, e a administração de feno ou palha e de um alimento composto de iniciação – “starter”, à descrição, a partir da primeira semana de vida, conciliados com uma cama confortável (em palha) são medidas que têm impacto positivo na eficiência de produção destes animais, promovendo maiores ganhos de peso. O método de administração de leite, convencional ou automático, não interferiu no ganho de peso dos vitelos. Contudo, é importante realizar novas pesquisas com curvas de ingestão de leite, nos alimentadores automáticos, adaptadas às necessidades dos animais de engorda e que potenciem o seu crescimento. O próximo desafio consiste em analisar o retorno económico deste negócio, mas para tal, é importante a colaboração dos produtores no registo de informação que permita obter dados relativos aos custos e receitas deste processo produtivo.



ALIMENTAÇÃO

A lactação começa na fase seca e não no parto O período seco não deve ser encarado como o final de uma lactação, mas sim como o início da lactação seguinte. A nutrição e maneio da vaca seca são grandes desafios que se colocam à produção de leite atual. A correta alimentação e o maneio adequado durante esta fase são fatores fundamentais para promover a diminuição dos problemas ao parto e a incidência de distúrbios metabólicos do início da lactação. Hipocalcémia, retenção placentária, metrite, cetose, fígado gordo, deslocamento de abomaso e falhas reprodutivas são problemas frequentes em muitas explorações e têm um fortíssimo impacto negativo na economia da exploração. O período seco tem como principais objetivos permitir a recuperação do rúmen, das reservas metabólicas e do tecido mamário, do desgaste sofrido na lactação anterior e preparar a vaca para a lactação seguinte.

JOSÉ ALVES ASSISTENTE TÉCNICO DE RUMINANTES jaalves@deheus.com

30 ABRIL . MAIO . JUNHO 2018 RUMINANTES

Maneio da vaca seca Aspetos importantes a considerar • O período seco deve estar compreendido entre as 6 e as 8 semanas pré-parto. Um período seco inferior a 45 dias e superior a 60 dias origina uma menor produção na lactação seguinte. Períodos mais curtos não permitem a recuperação do tecido mamário, e períodos mais longos tendem a resultar em vacas com excesso de condição corporal; • Após a secagem as vacas secas devem ser separadas do efetivo em lactação (mas sem perder contacto com estas) e mantidas num espaço próprio; • As vacas devem ser secas com uma condição corporal compreendida entre os 3 e os 3,5 e devem ser mantidas neste estado durante todo o período de secagem. Vacas que engordem demasiado durante este período são mais suscetíveis a deslocamentos de abomaso, edema mamário, cetose, partos distócitos e outros problemas gerais de saúde. Também mostram uma redução do apetite nas duas primeiras semanas de lactação, o que pode agravar o défice energético com os consequentes problemas de saúde e produtivos. Por outro lado, a investigação também refere que alimentar vacas para perderem peso durante o período seco predispõem a ocorrência de fígado gordo, cetose e outros distúrbios metabólicos, devido à sobrecarga hepática originada pela mobilização das reservas corporais; • É muito importante que o alojamento das vacas secas tenha o espaço suficiente, e seja confortável e

mantido em boas condições de higiene. O exercício estimula a ingestão de matéria seca e o uso dos músculos ajuda na remoção dos corpos cetónicos; • Monitorizar com regularidade e tratar quaisquer problemas de locomoção e cascos; • Evitar situações de stress. A recolocação dos animais, a perda de contacto com o restante efetivo e as mudanças bruscas na alimentação são dos principais fatores causadores de stress;

FATORES DETERMINANTES PARA UM BOM ARRANQUE DE LACTAÇÃO

INSTALAÇÕES

DIETA

SAÚDE CLIMA

INGESTÃO DE MÁTERIA SECA


Nutrição e alimentação da vaca seca A nutrição da vaca seca tem sido, nas últimas décadas, uma área muito ativa de investigação. Um programa nutricional inadequado irá comprometer o sucesso da lactação seguinte. As nossas recomendações assentam em dietas de baixa densidade energética e níveis adequados de proteína digestível com componentes iguais àqueles da dieta do lote de produção.

Recomendações gerais • Oferecer uma dieta equilibrada em energia e proteína digestível que previna o aumento excessivo da condição corporal ao parto, mas que permita cobrir as necessidades da vaca e o crescimento do vitelo; • Vacas com condição corporal de 3 a 3,5 devem ter uma ingestão de matéria seca de 11 a 12 kg. A otimização da ingestão de matéria seca é um ponto crítico para o sucesso de todo o período de transição; • Utilizar concentrados específicos para vacas secas de pendor aniónico que permitam o aporte dos nutrientes necessários, nomeadamente os minerais e as vitaminas, e assegurar o balanço anião-catião adequado. Os estudos demonstram que a utilização de dietas aniónicas permite baixar o pH da urina e do sangue, aumentar a mobilização e a absorção de cálcio, aumentar o nível de cálcio no sangue e diminuir a incidência de hipocalcemias;

• Utilizar forragens de excelente qualidade, palatáveis e sem vestígios de contaminação fúngica. A silagem de milho e palha são forragens com baixos níveis de potássio o que ajuda na manutenção de um adequado balanço anião-catião; • Evitar a seleção do “bolo TMR” – Feed sorting; • Assegurar o acesso livre, contínuo e sem competição à manjedoura; • Monitorizar cuidadosamente a ingestão de matéria seca e ter atenção aos detalhes;

Alimentação única durante todo o período de vaca seca A nossa investigação mais recente evidencia as vantagens da utilização de uma dieta única em todo o período de vaca seca ao invés da habitual divisão em duas fases (vacas secas e pré-parto). Vantagens deste programa: • Redução do trabalho do produtor e facilitação da tarefa de alimentação; • Maior consistência na dieta oferecida às vacas; • Eliminação do stress provocado pelas deslocações dos animais e mudanças de lote; • Melhoria no controlo da condição corporal; • Aumento do nível de ingestão; • Diminuição dos distúrbios metabólicos no pós-parto e melhor arranque da lactação.

CONCLUSÃO O sucesso económico de uma exploração leiteira passa, inevitavelmente, pelo sucesso do período seco. O cumprimento rigoroso das boas práticas de maneio, bem como a utilização de uma dieta única, equilibrada nutricionalmente e aniónica permite a recuperação do tecido secretor, a redução dos distúrbios metabólicos pós-parto e a diminuição da incidência de partos distócitos potenciando a produção de leite na lactação seguinte.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Bach, Alex. 2009. Optimización de la nutrición durante la transición. Congresso da Asociación nacional de especialistas en medicina bovina. Drackley, James K. 2008. Steady as she goes: rethinking dry cow nutrition. Mid-South ruminant nutrition conference. Drackley, James K. e Dann, Heather M. 2005. New concepts in nutritional management of dry cows. Advances in dairy technology. Volume 17, pg 11-22 Gentesse, Nathalie. 2007. Vaches taries en transition. La Source au centre de la nutrition. (3) Overton, Thomas R. 2004. Optimizing the transition dry cow management system in comercial dairy farms. Florida ruminant nutrition symposium Shaver R. D. e Kurz, Magdalena. Nutritional management of dairy cows during the transition period. Varga, Gabriella A. 2003. Do we need two close up dry cow groups? Advances in dairy technology. Volume 15, pg 331-342

RUMINANTES ABRIL . MAIO . JUNHO 2018 31


ALIMENTAÇÃO

A importância da nutrição em vacas aleitantes

PEDRO CASTELO DIRETOR TÉCNICO ZOOPAN pedro.castelo@zoopan.com

Com o crescimento da população mundial surge obrigatoriamente o aumento da procura de bens alimentares, conduzindo à necessidade de aumentar as produções mundiais. Segundo dados da FAO, em 2014 a produção mundial de carne de bovino rondou os 68 milhões de toneladas, mais 0,5% do que em 2013, representando cerca de 22% da produção total de carne no mundo. O efetivo bovino no mundo tem crescido anualmente, aproximadamente 1%, reflexo do aumento significativo de bovinos na

SARA GARCIA ENGª ZOOTÉCNICA, DEPARTAMENTO TÉCNICOCOMERCIAL s.garcia@zoopan.com

Ásia e África (gráfico 1). Relativamente à Europa, o efetivo bovino está fortemente distribuído, como podemos observar no gráfico 2. A França é o maior produtor de bovinos, com perto de 20 milhões de cabeças, seguido da Alemanha

GRÁFICO 1 Efetivo de bovinos no mundo.

1,500 M

Cabeças

1,000 M

500 M

0M

2003 Africa Cattle Stocks

2004 Asia Cattle Stocks

2005

América Central Cattle Stocks

2006 Europa Cattle Stocks

2007 América do Norte Cattle Stocks

2008 Ocêania Cattle Stocks

2009

2010

América do Sul Cattle Stocks

2011

2012

2013

Mundo Cattle Stocks

20 M

Cabeças

15 M

10 M

5M

0M

2003

32 ABRIL . MAIO . JUNHO 2018 RUMINANTES

2004

2005

2006

2007

2008

Adaptado de: FAOSTAT

2009


ALIMENTAÇÃO

As explorações de bovinos aleitantes em sistema extensivo contribuem de forma muito positiva do ponto de vista socioeconómico em zonas economicamente frágeis. Estas originam uma melhor conservação do meio ambiente e criam meios de subsistência sustentáveis que levam ao desenvolvimento rural. No entanto, com a melhoria dos fatores de produção será imprescindível que estes sistemas sejam o mais produtivo possível. Para isso deve promover-se a manutenção da fêmea (mãe) a um custo de produção baixo (quando há necessidade de suplementar) e competitivo, sem que a sua produtividade (intervalo entre partos, peso do vitelo ao desmame, entre outras) seja afetada.

Como sabemos, em condições mediterrâneas de sequeiro a curva de produção de pastagem é bastante irregular, sendo escassa ou nula no outono, inverno e verão enquanto que na primavera é elevada (gráfico 3). Esta irregularidade no crescimento da pastagem torna este sistema de produção animal dependente da produção de forragens para períodos de escassez. Assim, nas nossas condições de pastagem de sequeiro, temos períodos críticos de produção como o outono (como assistimos nos últimos meses em que as primeiras chuvas vieram tarde), o inverno e o verão. A produção de forragens é fundamental para assegurar a quantidade necessária de alimento para os períodos nos quais a pastagem é escassa ou mesmo nula. Estas forragens geralmente obtidas na primavera quando a taxa de crescimento é elevada, permitem obter elevadas produções unitárias (ton Matéria Seca/ha) com grande digestibilidade e valor nutritivo e, ainda, uma elevada eficiência na utilização dos fatores de produção (água e fertilizantes).

GRÁFICO 3 Curva de crescimento anual de pastagem de sequeiro. 100

Crescimento Diário (kg MS/ha/dia)

com cerca de 12,5 milhões de cabeças. O Reino Unido apesar de ter decrescido na última década tem quase 10 milhões de cabeças. Depois dos maiores produtores surgem países como a Irlanda, Itália, Polónia e Espanha, em que os efetivos superam os 5 milhões. Finalmente, Portugal é o 12º pais com mais cabeças de gado na U.E., com 1,4 milhões de bovinos.

75

50

25

0 Outono

Inverno

Primavera

Verão

FIGURA 1 Formulação personalizada de vacas aleitantes.

Animal (raça, peso, sexo) Fase (gestação/lactação) Alimento disponível (qualidade e preço) Maquinaria disponível

GRÁFICO 4 Relação entre a condição corporal e a necessidade de assistência no parto

% de partos com assistência

25 20

15 10 5 0 2

2,5

3

3,5

4

4,5

Condição corporal no parto GRÁFICO 2 Efetivo de bovinos na UE.

2010

2011

2012

Austria Cattle Stocks

França Cattle Stocks

Polónia Cattle Stocks

Portugal Cattle Stocks

Alemanha Cattle Stocks Romênia Cattle Stocks

Irlanda Cattle Stocks Espanha Cattle Stocks

Itália Cattle Stocks Suécia Cattle Stocks

Holanda Cattle Stocks Reino Unido Cattle Stocks

2013 Adaptado de: FAOSTAT RUMINANTES ABRIL . MAIO . JUNHO 2018 33


ALIMENTAÇÃO

Além dos fatores descritos anteriormente, também existe uma relação direta entre a dificuldade de parto e a mortalidade dos vitelos, podendo a mortalidade ser 5 vezes superior na presença de partos difíceis (gráfico 6). Outro fator de grande relevância é a influência que a qualidade do colostro produzido pelas vacas tem sobre a viabilidade do vitelo. Através do colostro há transferência de imoglobina para o vitelo, podendo ser medida pela quantidade de imoglobina (IgG) presente no sangue. Como verificamos pela gráfico 7, quanto melhor for a qualidade do colostro e, consequentemente, maior concentração de IgG no sangue do vitelo, menor será a mortalidade nesta fase.

GRÁFICO 5 Relação entre a dificuldade do parto e o Intervalo entre partos (IPP).

30

445 435

% mortalidade antes do desmame

436 + 10 dias

IPP em dias

425 415

405

405 395

401 395

385 375 365

Partos dificeis: mortalidade x 5

25

24

23

20 15 10 6

5

5 0

2

1

4

3

1

2

Índice de dificuldade do parto Fácil

3

4

Índice de dificuldade do parto Muito Difícil

Fácil

Muito Difícil

GRÁFICO 7 Relação entre a qualidade do colostro e a mortalidade nos vitelos. Relação entre o teor de IgG sanguineas do vitelo e a mortalidade 120

100

80

100

98

95

70

60

40

35 35

30

25

20 5

0

10 a 20

20 a 30

5

0

2

0

0

0 < 10

20 a 30

> 40

Concentração Sanguinea de IgG (g/l) no vitelo

5 arraçoamentos possíveis De seguida iremos apresentar cinco arraçoamentos possíveis (A – Feno; B – Fenosilagem + Palha; C – Tacos + Feno; D – Fenosilagem + Farinha Milho + B. Girassol; E – Silagem Milho + B. Girassol) adequados para vacas aleitantes com 570 kg de peso vivo, com uma condição corporal média (3).

34 ABRIL . MAIO . JUNHO 2018 RUMINANTES

GRÁFICO 6 Relação entre a dificuldade do parto e a mortalidade dos vitelos.

+ 41 dias

Mortalidade nos vitelos (%)

Quando falamos em nutrição de vacas aleitantes, haverá sempre a necessidade de adaptar o programa alimentar de acordo com o animal e a fase em que se encontra. É ainda essencial conhecer exatamente o valor nutritivo e o preço das forragens disponíveis e ainda a maquinaria disponível em cada exploração, para que seja possível a distribuição (figura 1). A alimentação das vacas deverá ser feita de forma a garantir uma boa condição corporal aos animais de forma a prevenir problemas de parto e permitir um bom arranque de lactação. Como podemos verificar através da observação da gráfico 4, vacas excessivamente magras ou demasiado gordas na altura do parto requerem mais assistência no parto e, consequentemente o intervalo entre partos aumenta (gráficos 4 e 5).

No que diz respeito às forragens considerámos valores que facilmente encontramos em Portugal. Em relação aos preços das matérias-primas, considerámos preços atuais de mercado. De acordo com o nosso caderno de encargos para o objetivo definido fizemos cinco arraçoamentos (tabela 1). Numa primeira fase podemos afirmar que é possível obter o mesmo nível nutricional a um menor custo com silagem de milho e B. de girassol (1,66 €/vaca/dia).


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ALIMENTAÇÃO

INTERVALO IDEAL DE PROTEÍNA BRUTA (%) SOBRE O ARRAÇOAMENTO

TABELA 1 Arraçoamentos para vacas aleitantes

A - FENO CUSTO POR ANIMAL/DIA= 1,69 €

(137,94 €/TON MB) PREÇO (€/TON)

MATÉRIA-PRIMA

Feno 8% PB

130,00

Núcleo

798,00 Total

QUANTIDADE DISTRIBUIDA Kg

CARACTERÍSTICAS NUTRICIONAIS (/KG MS) MS

UFL

10,89

90,00

0,69

0,15

0,14

98,91

0,13

12,25

11,03

90,11

0,68

MB

MS

12,10

Proteína Bruta

(153,08 €/TON MS)

PDIN

PDIE

PDIA

Ca

g

g

g

g

P g

65,31

75,92

28,26

3,50

2,20

195,33

63,58

64,46

74,93

27,90

6,00

3,00

B - FENOSILAGEM + PALHA CUSTO POR ANIMAL/DIA= 2,09 €

(84,31 €/TON MB) PREÇO (€/TON)

MATÉRIA-PRIMA

QUANTIDADE DISTRIBUIDA Kg MB

MS

Proteína Bruta

(199,05 €/TON MS) CARACTERÍSTICAS NUTRICIONAIS (/KG MS) MS

UFL

PDIN

PDIE

PDIA

Ca

g

g

g

g

P g

Fenosilgem 40% MS 12% PB

80,00

23,64

9,46

40,00

0,81

68,73

76,22

23,15

4,60

2,30

Palha

100,00

1,03

0,92

90,00

0,42

22,00

44,00

11,00

5,45

1,02

0,12

0,12

99,05

0,40

250,39

646,16 706,74

169,21

30,29

24,79

10,50

42,36

0,77

66,67

79,83

6,54

2,50

Núcleo

800,00 Total

29,82

C - TACOS + FENO CUSTO POR ANIMAL/DIA= 2,00 €

(170,92 €/TON MB) PREÇO (€/TON)

MATÉRIA-PRIMA

Tacos 0,85UFV 18%PB

250,00

Feno 8% PB

130,00 Total

QUANTIDADE DISTRIBUIDA Kg

(190,95 €/TON MS) CARACTERÍSTICAS NUTRICIONAIS (/KG MS) MS

UFL

3,54

88,56

0,98

7,73

6,96

90,00

0,69

11,73

10,50

89,51

0,79

MB

MS

4,00

Proteína Bruta

PDIN

PDIE

PDIA

Ca

g

g

g

g

P g

138,91

116,40

61,75

11,29

5,85

65,31

75,92

28,26

3,50

2,20

90,14

89,58

39,56

6,13

3,43

D - FENOSILAGEM + MILHO + B. GIRASSOL CUSTO POR ANIMAL/DIA= 1,72 €

(123,77 €/TON MB) PREÇO (€/TON)

MATÉRIA-PRIMA

QUANTIDADE DISTRIBUIDA Kg MB

MS

(163,73 €/TON MS)

Proteína Bruta

CARACTERÍSTICAS NUTRICIONAIS (/KG MS) MS

UFL

PDIN

PDIE

PDIA

Ca

g

g

g

g

P g

Fenosilgem 40% MS 12% PB

80,00

4,00

1,60

40,00

0,81

68,73

76,22

23,15

4,60

2,30

Farinha Milho

210,00

0,24

0,20

86,00

1,26

76,16

130,81

56,98

0,29

2,91

B. Girassol

180,00

0,28

0,25

89,00

0,71

212,46

113,00

76,86

3,60

10,11

Feno 8% PB

130,00

9,25

8,33

90,00

0,69

65,31

75,92

28,26

3,50

2,20

Núcleo

800,00

0,12

0,12

99,05

0,40

250,39

646,16 706,74

169,21

30,29

13,89

10,50

75,59

0,71

71,65

84,37

5,48

2,74

Total

36,88

E - SILAGEM MILHO + B. GIRASSOL CUSTO POR ANIMAL/DIA= 1,66 €

(103,08 €/TON MB) PREÇO (€/TON)

MATÉRIA-PRIMA

QUANTIDADE DISTRIBUIDA Kg MB

MS

(157,68 €/TON MS)

Proteína Bruta

CARACTERÍSTICAS NUTRICIONAIS (/KG MS) PDIN

PDIE

PDIA

Ca

g

g

g

g

g

0,91

42,00

67,00

15,00

2,00

1,80

MS

UFL

30,00

P

Silagem Milho 32% MS 30% Amido

50,00

6,60

1,98

B. Girassol

180,00

0,72

0,64

89,00

0,71

212,46

113,00

76,86

3,60

10,11

Feno 8% PB

130,00

8,63

7,76

90,00

0,69

65,31

75,92

28,26

3,50

2,20

Núcleo

800,00

0,12

0,12

99,05

0,40

250,39

646,16 706,74

169,21

30,29

16,06

10,50

65,37

0,73

71,95

85,95

5,10

2,92

Total

36 ABRIL . MAIO . JUNHO 2018 RUMINANTES

32,39


ALIMENTAÇÃO

Avaliação da composição nutricional - Arraçoamento A UFL (UFL / kg MS) PDIN (g / ks MS) PDIE (g / kg MS) Ca (g / kg MS) P (g / kg MS)

Avaliação da composição nutricional - Arraçoamento B UFL (UFL / kg MS) PDIN (g / ks MS) PDIE (g / kg MS) Ca (g / kg MS) P (g / kg MS)

Avaliação da composição nutricional - Arraçoamento C UFL (UFL / kg MS) PDIN (g / ks MS) PDIE (g / kg MS) Ca (g / kg MS) P (g / kg MS)

Avaliação da composição nutricional - Arraçoamento D

Todos os arraçoamentos apresentados possuiem vantagens e desvantagens. Relativamente ao arraçoamento A (Feno) temos como vantagem o custo alimentar mais reduzido de todos e a sua fácil distribuição. No entanto, o arraçoamento apresenta um défice proteico e energético para vacas aleitantes em fase de lactação e, consequentemente, menor produção de leite (impacto negativo no crescimento dos vitelos até ao desmame) e redução da fertilidade. O exemplo com Fenosilagem + Palha, tem um nível energético e proteico adequado mas um custo por animal/dia elevado e a necessidade de maquinaria disponível para distribuição. No que diz respeito ao arraçoamento com Tacos + Feno, temos como vantagens a distribuição e os níveis nutricionais mas um custo alimentar elevado. O arraçoamento com Fenosilagem + Milho + B. Girassol, apresenta um nível em energia e proteína adequados e um custo alimentar relativamente reduzido quando comparado com os outros. A desvantagem deste é a distribuição pois é necessário um unifeed para a mistura e distribuição. O último exemplo contêm Silagem de Milho + B. Girassol, é o exemplo com um custo mais reduzido para um nível energético e proteico adequados. O aspeto menos positivo é a necessidade de existência de unifeed.

Resumindo, apresentamos a figura 2 com a análise técnico-económica dos arraçoamentos descritos anteriormente, onde verificamos que os arraçoamentos tecnicamente mais adequados com um custo inferior exigem a presença de maquinaria disponível para distribuição. Importante realçar que apresentámos apenas exemplos, pois existem arraçoamentos com fenosilagem com custo alimentares mais interessantes, daí a importância de saber exatamente o nível nutricional de cada forragem e o seu preço por kg de matéria seca.

CONCLUSÃO Como conclusão, pensamos ser indiscutível que é importante produzir forragem de qualidade ao menor preço possível, para fornecer aos animais em épocas em que a disponibilidade de pastagem é escassa ou nula. Além disso, é imprescindível conhecer exatamente os valores nutricionais das mesmas de forma a poder ser realizado um programa alimentar de acordo com o animal, a fase (gestação/lactação), maquinaria disponível, entre outros. Assim, é possível obter resultados técnicos e económicos mais interessantes nas explorações de bovinos em sistema extensivo.

UFL (UFL / kg MS) PDIN (g / ks MS) PDIE (g / kg MS) Ca (g / kg MS)

FIGURA 2 Análise técnico-económica dos arraçoamentos.

P (g / kg MS)

Sistema Alimentar

Análise Técnica Energia

Avaliação da composição nutricional - Arraçoamento E

Proteína

Análise Económica € / Vaca / Dia

€ / Ton MS

Feno

1,69

153,08

Fenosilagem + Palha

2,09

199,05

Tacos + Feno

2,00

190,95

Fenosilagem + Milho + B. Girassol

1,72

163,73

Silagem de Milho + B. Girassol

1,66

157,68

UFL (UFL / kg MS) PDIN (g / ks MS) PDIE (g / kg MS) Ca (g / kg MS) P (g / kg MS)

RUMINANTES ABRIL . MAIO . JUNHO 2018 37


ALIMENTAÇÃO

FILINTO GIRÃO OSÓRIO ENGENHEIRO ZOOTÉCNICO NA SUGARPLUS filinto.girao@edfman.pt

Alimentação e gestão de um efetivo leiteiro para 45kg de leite/dia – pensando fora do paradigma normal Temos vindo a seguir ao longo das nossas publicações uma linha condutora, um conjunto de alterações ao nível específico do arraçoamento para atingir melhores produções e mais eficientes. Neste artigo iremos abordar uma visão mais macro da gestão do efetivo leiteiro. Se desejamos que o nosso efetivo leiteiro produza 45 quilos de leite por dia, então devemos considerar que os objetivos dependem também da demografia do efetivo. A percentagem do efetivo correspondente a vacas adultas é um fator importante. As vacas adultas (três ou mais lactações) são o motor do efetivo, puxando o resto com elas. As vacas adultas são capazes de produzir mais de 45kg por dia e compensarão a produção inferior dos animais em primeiras e segundas lactações (gráfico 1). Consideremos o seguinte grupo de vacas; assumiremos 100 vacas leiteiras em que 35% delas são vacas de 1ª lactação. As vacas adultas representam 40% do grupo. As vacas de segunda lactação representam 25% do grupo. Dada esta demografia, podemos calcular metas de produção para atingir os 45kg de leite. A produção média de leite das vacas adultas precisa de ser 52kg de leite. A sua contribuição para a produção diária de leite é (52 x 0,40) = 20,8kg. A produção média de leite das vacas de

38 ABRIL . MAIO . JUNHO 2018 RUMINANTES

segunda lactação precisa ser de 46kg. A sua contribuição para a produção diária de leite seria (46 x 0,25) = 11,7 kg. Finalmente, as vacas de primeira lactação (novilhas) precisam de contribuir 12,5 kg para a produção média diária. Uma vez que compõem 35% do efetivo então deverão produzir (12.5/0.35) = 36kg. O objetivo deste exercício é ilustrar que cada rebanho possui a sua demografia única. Se o efetivo contém 40% de vacas de primeira lactação, então as vacas mais velhas no rebanho terão de dar mais leite, se quisermos atingir os 45kg. Para definirmos metas de produção para o efetivo precisamos de repetir este exercício, calculando a contribuição de cada grupo. Devemos começar com uma projeção realista da produção de leite da vaca de primeira lactação. Como já sabemos que percentagem do rebanho são vacas de primeira lactação já podemos estimar a sua contribuição para a média diária. Quando conhecemos a contribuição das vacas de primeira lactação podemos definir metas para

as restantes vacas mais velhas. Uma vez que as vacas de primeira lactação irão alocar aproximadamente 20% de seu consumo de nutrientes para o crescimento, elas produzirão apenas cerca de 75% da produção de leite da vaca adulta. Se desejamos atingir 45kg de leite por vaca, precisamos de nos concentrar em obter altas produções das vacas mais velhas. Para otimizar a produção de leite das vacas mais velhas, necessitamos de trabalhar a partir do momento em que estas são secas. Fazer com que as vacas adultas

consumam mais de 14kg de matéria seca durante este período, ajudará a que estas sejam capazes de consumir mais matéria seca após o parto. Isso reduzirá a perda de condição corporal durante os primeiros 30 dias de lactação. A perda excessiva de condição corporal durante as primeiras duas semanas de lactação pode levar à acumulação de gordura no fígado que reduzirá a produção de glicose pelo mesmo. Quando este processo acontece as vacas exibem falta de apetite e um deterimento da qualidade do leite.

OTIMIZAR A INGESTÃO DE MATÉRIA SECA EM VACAS PRÉ-PARTO Ensaios de campo em explorações de leite demostraram que a alimentação de uma dieta baixa em amido, com alto teor de açúcar e fibra solúvel em vacas no período préparto levou a um aumento da ingestão de matéria seca. Num ensaio da Dordt College, a ingestão

de matéria seca aumentou 770g por dia quando as vacas receberam esta dieta. Após o parto, este aumento continuou, levando a que a ingestão de matéria seca nos primeiros 30 dias em leite fosse aumentada em 1,18kg nas vacas adultas e 2kg nas vacas de primeira lactação. A exploração Paramount no


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ALIMENTAÇÃO

GRÁFICO 1 Kg de litros/vaca - agosto vs. novembro

40

37,78 33,88

35

Kg de litros/vaca

30,8

30,02

30 25,5

25

25,4

20 15 10 5 0

Novilhas (primeira lactação)

Vacas de 2ª lactação

Vacas de 3ª lactação

30 de agosto 1 de novembro

< VACAS DE 2ª LACTAÇÃO

PRODUZIRAM MAIS DE 3,85 KG

aumentar a ingestão de matéria seca e o rendimento do leite nas vacas de transição.

< VACAS ADULTAS

Michigan já tinha bons níveis de ingestão de matéria seca nas suas vacas pré-parto. Quando as vacas pré-parto foram colocadas numa dieta baixa em amido, alto teor de açúcar e fibra solúvel durante o período de tratamento, a ingestão de matéria seca aumentou para 15,9kg com 5kg de palha picada na dieta. Estes dois testes de campo demonstram que a utilização de alimentos líquidos entre 1,2 a 1,4kg estimula a ingestão de matéria seca em vacas pré-parto. Estes ensaios não tiveram um grupo de controlo, mas houve um grupo de controlo no ensaio efetuado em SwissLane. Na exploração Swisslane, após o parto havia três tratamentos: controlo (sem alimento líquido), tratamento um - com alto teor de açúcares e fibra solúvel e tratamento dois - com alto teor de açúcar e fibra solúvel, além de NutriTek. Ambos os suplementos com base em melaço e o produto à base de fermento Diamond V NutriTek demonstraram

40 ABRIL . MAIO . JUNHO 2018 RUMINANTES

Protocolo Experimental em Swisslane

Resultados: Swisslane Dairy Efetivo de Robot

A exploração Swisslane, localizada em Alto, Michigan, com um efetivo de 2450 vacas, tem ordenhas convencionais e robóticas. Um total de 480 vacas é ordenhado nas oito estações de robots Lely. O ensaio foi conduzido entre julho e janeiro. Um alimento líquido foi formulado para fornecer 19 g de Diamond V NutriTek utilizando 1,8kg de alimento tal qual (matéria fresca). Este alimento líquido continha

Em comparação com o controlo, a alimentação QLF durante o início da lactação aumentou a produção de leite em 5,3kg, e a alimentação suplementada com QLF + NutriTek aumentou a produção de leite em 7,15kg. O leite corrigido para energia aumentou 3,8kg com QLF e 5,58kg com QLF + Nutritek. O tempo de ruminação, um indicador de saúde do rúmen e da vaca, aumentou 25 minutos por dia com QLF e 33 minutos por dia com QLF + NutriTek. O que poderá ter contribuído para o aumento do leite foi o aumento da ingestão de matéria seca nas vacas em pré-parto (gráfico 2). Quando as vacas de pré-parto receberam uma alimentação com baixo teor de amido e com baixo teor de açúcar, consumiram 13,2kg de matéria seca. Quando receberam uma alimentação com baixo teor de amido, alto teor de açúcar e fibra altamente solúvel, as

GRÁFICO 2 Média de consumo de matéria seca no rebanho. 40 35

Kg de litros/vaca

(3ª LACTAÇÃO OU MAIS) PRODUZIRAM MAIS DE 6,98 KG

6% de proteína bruta e 27% de açúcar total em matéria fresca. Todas as vacas adultas de pré-parto foram alimentadas, em base de matéria seca, com uma dieta de baixo teor de amido (16%), alto teor em açúcar (8,6%) e fibra altamente solúvel (6,5%). Esta dieta foi administrada nos 21 dias pré-parto. Após o parto, as vacas adultas, no início da lactação no efetivo ordenhado por robot, foram aleatoriamente distribuídas pelos grupos de controlo, QLF ou QLFNT (empresas concorrentes). Foram adicionados 1,8kg de alimento líquido, em matéria fresca sobre o granulado administrado às vacas. Estes tratamentos foram aplicados até aos 100 dias de lactação.

30 25 20 15 10

Antes do ensaio

Depois do ensaio

vacas consumiram 16,3kg de matéria seca. O número total de casos de doença em vacas frescas foi semelhante nos 3 grupos.

Análise Económica Será uma boa opção alimentar os animais com os alimentos líquidos SUGAR PLUS durante o período de transição? Usando a resposta de produção de leite observada no estudo na Swisslane Dairy Robot Herd, a alimentação do QLF + NutriTek gerou um retorno líquido de 0,74€/dia num preço de compra de leite ao produtor de 0,31€ por llitro. No teste de campo da Faculdade de Dordt, o retorno líquido, mesmo depois de contabilizar a matéria seca adicional nas vacas pré-parto e nas vacas frescas, foi de 1,07€ vaca/dia no mesmo preço do leite praticado em Swisslane. Na perspetiva da saúde melhorada da vaca fresca, os dados da Paramount Dairy mostraram que o QLF + NutriTek gerou um retorno de investimento (ROI) de 3,85, representando uma poupança de €21.950 por cada 1000 vacas. A dieta de baixo teor de amido, alto teor de açúcar e fibra solúvel administrada a vacas pré-parto, que foi sucedida por uma dieta moderada em amido (24 26%), alto teor de açúcares (7-8%), fibra altamente solúvel (6 a 8%) utilizando QLF e QLF + NutriTek, gerou um retorno consideravelmente positivo sobre o investimento para os produtores de leite. Mais importante ainda, estes impactos positivos no início da lactação prosseguem a gerar benefício ao longo de toda a lactação, gerando retornos muito positivos.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Não foram incluídas por uma questão de espaço editorial, mas o autor disponibiliza bastando enviar um email para geral@revista-ruminantes.com.


ALIMENTAÇÃO

CONCLUSÃO Se queremos atingir 45kg de média no nosso efetivo leiteiro temos de maximizar a ingestão de matéria seca iniciando no período de pré-parto, continuando no periodo pós-parto e prosseguindo até aos 150 de lactação. Esta estratégia de alimentação foi responsável pela obtenção de picos de leite mais altos e inícios de lactação mais fortes. O que faz desta estratégia funcional é alimentar menos amido e mais açúcar e fibra solúvel. Isto cria um ambiente saudável no rúmen que melhora a digestão das fibras. Ao melhorar a digestão das fibras, o enchimento do rúmen é reduzido e as vacas são capazes de consumir mais matéria seca. É indispensável abordar a seleção de alimentos pelas

vacas (“sorting”) da TMR. Ao eliminar o “sorting” utilizando alimentos líquidos à base de melaço, a vaca irá consumir mais fibra efetiva. Isto resultará necessariamente num ambiente ruminal mais saudável e com menos risco de SARA e melhor digestão da fibra, que poderá refletir-se diretamente nos componentes do leite. Para atingir este objetivo é necessário colocar forragens digestíveis de alta qualidade e remover os estrangulamentos na ingestão de matéria seca, sendo que os alimentos líquidos SUGAR PLUS são a forma economicamente mais favorável e sustentável de o fazer.

Revisão de alguns dos pontos-chave 1. Cada kg adicional de pico de leite produzirá cerca de 109 kg de leite ao longo de uma lactação de 305 dias.

2. Animais de primeira lactação irão provavelmente produzir apenas 75% da produção esperada de uma vaca adulta.

3. Animais de segunda lactação irão provavelmente produzir apenas 90% da produção esperada de uma vaca adulta.

4. O rebanho deve ser composto de forma a que animais de primeira lactação não ultrapassem os 35% do efetivo leiteiro.

5. Animais de terceira lactação e seguintes têm de produzir em média cerca de 52 kg de leite, caso representem 45% do efetivo da exploração.

6. Animais de segunda lactação têm de produzir em média 46,8 kg leite.

7. Animais de primeira lactação têm de produzir em média 36 kg de leite.

8. A ingestão de matéria seca (IMS) no período pré-parto NOTA O autor escreveu este artigo segundo o Antigo Acordo Ortográfico.

afetará a IMS pós-parto. Desta forma, maximizar a IMS pré-parto maximizará a IMS nos primeiros 28 dias em leite.

12 BOAS RAZÕES PARA ESCOLHER

FACILIDADE DE PARTOS

ELEVADA RUSTICIDADE

RÁPIDO CRESCIMENTO

PARCEIRO IDEAL EM CRUZAMENTOS CARCAÇAS SEM RIVAL

GRANDE DOCILIDADE

ELEVADO RENDIMENTO DE CARNE NOBRE

MEIOS MODERNOS NO TRATAMENTO DE DADOS PECUÁRIOS FERTILIDADE

PRECOCIDADE SEXUAL

QUALIDADES MATERNAIS E LEITEIRAS

TRANSMISSÃO DE GENÉTICA MELHORADORA

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RUMINANTES ABRIL . MAIO . JUNHO 2018 41


ECONOMIA

Observatório das matérias primas POR PAULO COSTA E SOUSA

“O movimento é claramente de subida” Ao contrário do que é comum dizer, que depois da tempestade vem a bonança, o período que agora começa será a tempestade depois de uma bonança de meses. Iniciado com a situação da soja na Argentina, o movimento do preço das matérias primas é claramente de subida. A soja, que deu o tiro de partida na subida de preços, há algumas semanas atrás, depois de cortes sucessivos nas previsões de produção, baixando em pouco tempo de mais de 50 milhões de toneladas para pouco mais de 40, trouxe o combustível necessário para uma subida abrupta nos preços das proteínas, que provavelmente se irão manter nesta ordem de valores até à próxima colheita nos Estados Unidos, no próximo outono. O efeito fez-se notar particularmente no bagaço de soja e não no grão de soja, onde a colheita brasileira virá equilibrar a situação. No caso do bagaço, que tem como referência as exportações argentinas, é o que mais sofre

42 ABRIL . MAIO . JUNHO 2018 RUMINANTES

com este corte de produção, arrastando com ele todos os restantes bagaços. Recomenda-se particular atenção para qualquer abaixamento importante no preço, uma vez que este pode constituir uma boa oportunidade de compra. Felizmente a maioria dos compradores fez a sua cobertura há algum tempo atrás e passará ao lado desta subida de preço, o que pode constituir uma diferença importante na hora de vender, quer a ração quer o produto final (carne, leite ou ovos) podendo obter uma margem adicional fruto das boas compras de matérias primas. Assim, dificilmente haverá uma recuperação da situação Argentina e não será de prever uma quebra nos preços para os valores que se registavam há umas semanas atrás. No caso dos cereais as notícias não são, de momento, muito melhores, mas com uma diferença substancial, a história ainda não está toda contada, faltando ainda um longo caminho a percorrer até à próxima colheita, especialmente no caso do milho, que nem no Brasil, nem muito menos no hemisfério norte, começou ainda a ser semeado. De momento, a forte pressão de compra do mercado chinês sobre o mercado ucraniano, os elevados números da

exportação dos Estados Unidos da América, que levaram a um stock interno final mais modesto, a incerteza sobre a sementeira da Safrinha brasileira, e o corte na produção Argentina, devido à seca que afeta não só a soja mas também o milho, foram os motores desta subida de preços. O momento deve ser visto numa determinada perspetiva, uma vez que vivíamos a situação perfeita, uma volatilidade muito reduzida com os preços de mercado historicamente baixos. Isto, normalmente, conduz a uma subida violenta dos preços à mais pequena perturbação. Provavelmente, a curto prazo, não vamos ver um regresso aos preços de algumas semanas atrás, mas a médio prazo estamos ainda longe de uma situação de desespero, uma vez que a história está a começar. Um ponto positivo para a indústria é o desaparecimento do direito nivelador, esse mecanismo anacrónico que deturpa completamente o mercado, um dinossauro das medidas protecionistas que se mantém. Assim sendo, no caso dos cereais há que observar ainda

muitos dados, como seja o que acontecerá com o clima, com ênfase na pluviosidade para os meses que aí vêm, bem como durante a colheita de trigo, determinando a quantidade e qualidade do mesmo, e ainda não menos importante todos os dados em relação ao milho nos principais produtores, começando pelo Brasil e terminando no hemisfério norte, com particular ênfase para os Estados Unidos da América, a Ucrânia e a União Europeia. Caso não haja nenhum motivo para a superfície ser largamente reduzida e não houver grandes desastres climatéricos, os preços podem regressar pacificamente a valores baixos e ao cabo de alguns meses aos valores onde estiveram, nomeadamente para a segunda metade do ano. Há que estar atento à evolução da situação, devendo no curto prazo não haver no entanto nenhuma razão para um abrandamento da mesma.

NOTA O autor escreveu este artigo segundo o Antigo Acordo Ortográfico.


EVOLUÇÃO DO PREÇO DE MATÉRIAS PRIMAS PREÇOS MÉDIOS SEMANAIS NO PORTO DE LISBOA DE 2016 A 2018 2016

SOJA

MILHO

2017 2018

€/ton 450

€/ton 200

400

195 190 185

350

180 175

300

170 165

250

160 155 150

7 a 11 nov

5 a 9 dez

19 a 23 dez

5 a 9 dez

19 a 23 dez

24 a 28 out

21 a 25 nov

10 a 14 out

24 a 28 out

10 a 14 out

7 a 11 nov

26 a 30 set 26 a 30 set

21 a 25 nov

29 a 2 set

12 a 16 set

29 a 2 set

12 a 16 set

1 a 5 ago

15 a 19 ago

1 a 5 ago

15 a 19 ago

4 a 8 jul

18 a 22 jul

4 a 8 jul

18 a 22 jul

6 a 10 jun

20 a 24 jun

6 a 10 jun

20 a 24 jun

9 a 13 maio

25 a 29 abr

23 a 27 maio

11 a 15 abr

25 a 29 abr

11 a 15 abr

9 a 13 maio

28 a 1 abr 28 a 1 abr

23 a 27 maio

12 a 16 mar 12 a 16 mar

13 a 17 fev

27 a 2 mar

30 a 3 fev

2 a 6 jan

BAGAÇO COLZA

16 a 20 jan

5 a 9 dez

19 a 23 dez

7 a 11 nov

21 a 25 nov

10 a 14 out

24 a 28 out

26 a 30 set

29 a 2 set

12 a 16 set

1 a 5 ago

15 a 19 ago

4 a 8 jul

18 a 22 jul

6 a 10 jun

20 a 24 jun

9 a 13 maio

23 a 27 maio

11 a 15 abr

25 a 29 abr

28 a 1 abr

12 a 16 mar

13 a 17 fev

27 a 2 mar

30 a 3 fev

2 a 6 jan

16 a 20 jan

200

CEVADA

€/ton

€/ton

350

185

330 310

180

290

175

270

170

250

165

210

27 a 2 mar

13 a 17 fev

2 a 6 jan

5 a 9 dez

19 a 23 dez

7 a 11 nov

21 a 25 nov

24 a 28 out

10 a 14 out

26 a 30 set

29 a 2 set

12 a 16 set

1 a 5 ago

15 a 19 ago

4 a 8 jul

18 a 22 jul

6 a 10 jun

20 a 24 jun

9 a 13 maio

23 a 27 maio

25 a 29 abr

11 a 15 abr

28 a 1 abr

12 a 16 mar

27 a 2 mar

13 a 17 fev

150 30 a 3 fev

150 2 a 6 jan

155

16 a 20 jan

170

30 a 3 fev

190

16 a 20 jan

160

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RUMINANTES ABRIL . MAIO . JUNHO 2018 43


ECONOMIA

Observatório do Leite POR JOANA SILVA Fontes: AHDB, DAIRY FOODS, FRIESLANDCAMPINA, US DAIRY EXPORT COUNCIL, RABOBANK

À medida que avançamos em 2018, são vários os desafios que o sector leiteiro irá ter de enfrentar a nível global. Nos próximos meses, três fatoreschave prometem agitar as balanças da indústria: a seca que se vive atualmente na Nova Zelândia, os volumes de produção europeus – com um aumento previsto de 2% no primeiro semestre do ano – e a procura mundial. Prevê-se que o cenário de seca que assola a Nova Zelândia cause uma diminuição da produção leiteira na ordem dos 3%. Segundo Thomas Bailey, analista sénior do Rabobank, uma quebra desta magnitude teria sido preocupante há cinco anos atrás. No entanto, os volumes de leite que agora chegam do mercado europeu conseguirão facilmente cobrir estes valores. O analista acrescenta ainda que a oferta de leite da Nova Zelândia terá de sofrer uma diminuição de cerca de 10% para que o mercado leiteiro global comece a estabilizar em termos de oferta. A conclusão a que se chega é: há demasiado leite no mercado, e é à Europa que se aponta o dedo. O excedente de leite em pó desnatado, com ainda 380.000 toneladas, continua a assombrar o setor, com ajustamentos de preço à medida que os stocks armazenados vão sendo injetados no mercado. Quanto à nova

44 ABRIL . MAIO . JUNHO 2018 RUMINANTES

produção, prevê-se um aumento de 1% durante o resto do ano, com a UE a estabelecer-se como rainha – ainda que com uma margem baixa – em termos de oferta deste bem. Este mercado de leite em pó com duas faces, a de produto velho e a de novo, promete ter impacto em outros derivados do leite, como o queijo e a proteína whey. Nos Estados Unidos, a indústria está preocupada com a incerteza que pauta o Tratado Norte-Americano de Livre Comércio – celebrado entre os Estados Unidos, Canadá e México. Uma eventual saída dos Estados Unidos promete ser bastante deletéria para o setor nacional, e será talvez prudente que os olhos da indústria atravessem o oceano e se detenham em outros mercados, como o Japão e o Sudeste Asiático, com capacidade e desejo de absorver a oferta deste gigante leiteiro, cujo aumento de produção para 2018 não deverá ultrapassar 1%. Os chineses vão beber mais leite. Para isso apontam as previsões de aumento de 2,5% do consumo de leite em natureza durante este ano, atingindose as 38 milhões de toneladas. O consumo per capita é atualmente de 34,1 kg, menos de um terço da média mundial. Apesar do consumo de queijo e manteiga ser bastante baixo,

as importações destes bens estão a aumentar. Uma das razões subjacentes poderá ser o seu baixo teor em lactose, tendo em conta que a incidência de intolerância a esta substância é bastante grande na população chinesa. Ainda no mercado asiático, a holandesa FrieslandCampina terá solidificado a sua posição no mercado chinês ao comprar os restantes cinquenta por cento das ações da Friesland Huishan Dairy (FHD), uma parceria desenvolvida em 2015 entre os dois países com o objetivo de produzir e fornecer localmente fórmulas lácteas para recém-nascidos. Com o fim da parceria – o qual terá chegado devido aos problemas financeiros do lado chinês – a FHD é agora uma subsidiária participada a 100% pela FrieslandCampina. Apesar de o cenário não ser o ideal, há quem fale num futuro otimista. O holandês Rabobank está confiante no aumento global da procura de leite e seus derivados, impulsionada pela expansão do mercado e pelo regresso de compradores que se retraíram perante a crise atravessada pelo sector no passado recente. No entanto, o restabelecimento do equilíbrio do mercado terá de ser ajudado pela redução do ritmo de produção leiteira. Será que o sector conseguirá fechar a torneira? A ver vamos.


ECONOMIA

PREÇO DO LEITE STANDARDIZADO (1) PAÍSES

LEITE À PRODUÇÃO PREÇOS MÉDIOS MENSAIS EM 2017/2018 MESES

EUR/KG

TEOR MÉDIO DE MATÉRIA GORDA (%)

TEOR PROTEICO (%)

COMPANHIA

PREÇO DO LEITE (€/100 KG) JANEIRO 2018

MÉDIA DOS ULTIMOS 12 MESES (5)

ALEMANHA

Alois Müller

34,59

35,49

Contin.

Açores

Contin.

Açores

Contin.

Açores

DINAMARCA

Arla Foods

35,12

35,14

JANEIRO

0,288

0,272

3,90

3,78

3,26

3,23

Danone

35,67

34,72

FEVEREIRO

0,288

0,272

3,85

3,71

3,23

3,23

Lactalis (Pays de la Loire)

33,77

33,49

MARÇO

0,293

0,275

3,76

3,67

3,21

3,25

Sodiaal

35,11

34,28

ABRIL

0,292

0,273

3,60

3,69

3,23

3,22

Dairy Crest (Davidstow)

34,63

32,60

MAIO

0,292

0,276

3,63

3,66

3,18

3,18

Glanbia

36,02

34,26

JUNHO

0,289

0,274

3,65

3,65

3,19

3,13

Kerry

35,86

34,36

JULHO

0,309

0,275

3,69

3,68

3,23

3,12

Granarolo (North)

40,71

39,86

AGOSTO

0,316

0,289

3,77

3,71

3,28

3,15

?

?

SETEMBRO

0,323

0,294

3,87

3,78

3,33

3,21

36,48

37,17

FRANÇA INGLATERRA IRLANDA ITÁLIA HOLANDA

DOC Cheese Friesland Campina

PREÇO MÉDIO LEITE N. ZELÂNDIA EUA

(4)

2017

(2)

Fonterra (3) EUA

31,21

31,72

29,26

35,34

Fonte: LTO (1) Preços sem IVA pagos ao produtor; Preço do leite de diferentes empresas leiteiras para 4,2% de MG, 3,4% de teor proteico e CCS de 249.999/ml . (2) Média aritmética . (3) Baseado na previsão mais recente . (4) Reportado pela USDA . (5) Inclui o pagamento suplementar mais recente

2018

OUTUBRO

0,289

0,274

3,65

3,65

3,19

3,13

NOVEMBRO

0,330

0,298

3,91

3,85

3,35

3,27

DEZEMBRO

0,330

0,307

3,95

3,77

3,35

3,22

JANEIRO

0,317

0,298

3,86

3,73

3,30

3,20

Fonte: SIMA Gabinete de Planeamento e Políticas

RUMINANTES ABRIL . MAIO . JUNHO 2018 45


ECONOMIA

Índice VL e Índice VL-ERVA “TENDÊNDIA PARA PIORAR A SITUAÇÃO DOS PRODUTORES DE LEITE” POR ANTÓNIO MOITINHO RODRIGUES, DOCENTE/INVESTIGADOR, ESCOLA SUPERIOR AGRÁRIA DO INSTITUTO POLITÉCNICO DE CASTELO BRANCO CARLOS VOUZELA, DOCENTE/INVESTIGADOR, DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS DA UNIVERSIDADE DOS AÇORES/IITAA NUNO MARQUES, REVISTA RUMINANTES

Analisamos neste número da Ruminantes os Índices VL e VL - ERVA para o período de novembro de 2017 a janeiro de 2018. De acordo com os dados do SIMA-GPP (2018), durante o trimestre em análise, o preço médio do leite pago aos produtores individuais do continente variou entre 0,330 €/kg em novembro e 0,318 €/ kg em janeiro enquanto que na Região Autónoma dos Açores o preço médio do leite pago aos produtores individuais foi o mesmo (0,298 €/kg) em novembro e janeiro. De acordo com dados do MMO (2018), o preço médio do leite pago ao produtor no período de novembro de 2017 e janeiro de 2018 foi mais uma vez muito inferior em Portugal (0,3180 €/ kg) quando comparado com a média da UE28 (0,3696 €/kg), uma diferença de 5,16 cêntimos/ kg determinante para o sucesso económico da exploração. No mês de janeiro de 2018, Portugal foi dos 4 países da UE onde o kg de leite foi pago ao preço mais baixo (Portugal e Eslovénia 0,3110 €/kg, Lituânia 0,3076 e Letónia

0,3072 €/kg). Relativamente ao trimestre anterior e com exceção do milho, o preço médio de outras matérias-primas que entraram na formulação dos alimentos compostos utilizados neste trabalho sofreram um aumento. Destacam-se o bagaço de girassol (29,3%, o bagaço de colza (26,4%), o bagaço de soja (6,0%) e a cevada (4,6%). O preço crescente das matérias primas e o aumento de 39% no preço de mercado da palha relativamente ao trimestre anterior provocou um aumento de 1,4% no custo da alimentação da vaca leiteira. Na Região Autónoma dos Açores o preço do alimento composto aumentou 3,5% e como o regime alimentar da vaca tipo inclui menor consumo de pastagem a partir de setembro e maior consumo de alimento composto e de alimentos conservados, verificou-se o aumento de 15% no custo total do regime alimentar em comparação com o trimestre anterior. A evolução do preço do leite e dos custos da alimentação refletiu-se no Índice VL e

EVOLUÇÃO DO ÍNDICE VL e ÍNDICE VL-ERVA DE JANEIRO DE 2017 A JANEIRO DE 2018 Os valores são influenciados pela variação mensal do preço do leite pago ao produtor individual do continente (Índice VL) e da Região Autónoma dos Açores (Índice VL - ERVA) e pelas variações mensais dos preços de 5 matérias-primas utilizadas na formulação do concentrado e pelo preço dos outros alimentos que integram o regime alimentar da vaca leiteira tipo.

Últimos 13 Meses

2017

Índice VL

Índice VL ERVA

JANEIRO

1,546

1,663

FEVEREIRO

1,542

1,658

MARÇO

1,606

1,706

ABRIL

1,643

2,003

MAIO

1,660

2,024

JUNHO

1,664

2,053

JULHO

1,635

2,034

AGOSTO

1,791

2,073

SETEMBRO

1,836

2,185

OUTUBRO

1,817

1,814

NOVEMBRO

1,825

1,829

DEZEMBRO

1,785

1,859

JANEIRO

1,765

1,828

EVOLUÇÃO DO ÍNDICE VL

O Índice VL é influenciado pela variação mensal do preço do leite pago ao produtor no continente e pelas variações mensais dos preços dos alimentos que constituem o regime alimentar da vaca leiteira tipo (concentrado 9,5 kg/ dia; silagem de milho 33 kg/dia; palha de cevada 2 kg/dia).

2,0

Valores do Índice VL

DE JULHO DE 2012 A JANEIRO DE 2018

1,5

1,0 julho 2012

Valor do Índice VL Negócio saudável

46 ABRIL . MAIO . JUNHO 2018 RUMINANTES

janeiro 2018

Limiar de rentabilidade Forte ameaça para a rentabilidade da exploração


ECONOMIA

EVOLUÇÃO DO ÍNDICE VL-ERVA

O Índice VL – ERVA é influenciado pela variação mensal do preço do leite pago ao produtor na Região Autónoma dos Açores e pelas variações mensais dos preços dos alimentos que constituem o regime alimentar da vaca leiteira tipo (primavera/verão 60 kg/dia de pastagem verde, 10 kg/dia de silagem de erva e de milho, 5,6 kg/dia de concentrado; outono/inverno 47 kg/dia de pastagem verde, 13,3 kg/dia de silagem de erva e de milho, 6,7 kg/dia de concentrado). no Índice VL - ERVA que em janeiro de 2018 foi, respetivamente, de 1,765 e de 1,828. De referir que em janeiro de 2017 o Índice VL havia sido de 1,546 e o Índice VL - ERVA de 1,663. Um índice inferior a 1,5 (valor muito baixo) indica forte ameaça para a rentabilidade da exploração leiteira; um índice entre 1,5 e 2,0 (valor moderado) indica que a produção de leite é um negócio economicamente viável; um índice maior do que 2,0 (valor elevado) indica que estamos perante uma situação muito favorável para o sucesso económico da exploração (Schröer-Merker et al., 2012). Durante o trimestre em análise, o Índice VL atingiu o valor mínimo de 1,765 e o Índice VLErva o valor mínimo 1,828, em

3,0

Valores do Índice VL Erva

DE JULHO DE 2013 A JANEIRO DE 2018

2,0

1,5

1,0 julho 2013

janeiro 2018

Valor do Índice VL - erva Negócio saudável

Limiar de rentabilidade

Forte ameaça para a rentabilidade da exploração

ambos os casos durante o mês NOTAS: Comparando com o mês de janeiro de 2017, o preço do leite pago aos produtores do de janeiro de 2018. Pode-se continente em janeiro de 2018 foi superior em 3 cêntimos/kg e o valor pago aos produtores concluir que os produtores de dos Açores foi superior em 2,6 cêntimos/kg; leite do continente e dos Açores Durante o trimestre em análise houve um aumento do preço das principais matériasprimas que entram na formulação dos alimentos compostos. Esta evolução contribuiu para se encontram agora numa situação mais favorável do que aumentar os preços, não só do alimento composto como também do regime alimentar formulado para o cálculo do Índice VL. O aumento do preço das matérias-primas poderá aquela em que se encontravam influenciar negativamente a economia das explorações mais dependentes de alimentos em janeiro de 2017. De realçar compostos. Nos Açores o preço do alimento composto também aumentou tendo o que o Índice VL-ERVA reflete preço do regime alimentar formulado para calcular o Índice VL – ERVA aumentado, entre novembro e janeiro, devido ao aumento do consumo de alimentos forrageiros conservados a realidade da produção de em consequência do menor consumo de pastagem fresca que ocorre a partir de setembro; leite muito mais favorável da No trimestre em análise, a palha, um dos alimentos forrageiros utilizados na formulação ilha de S. Miguel que produz do regime alimentar, apresentou um aumento representativo de preço relativamente ao trimestre anterior; cerca de 60% do total de As três considerações anteriores refletem-se no Índice VL e no Índice VL - ERVA que em leite dos Açores. Mesmo janeiro de 2018 foram, respetivamente, de 1,765 e 1,828. assim, algumas das fábricas de transformação do leite ao REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: baixarem o preço ao produtor MMO (2018). European milk market observatory – EU historical prices. http://ec.europa.eu/ na ordem de 0,01€ por litro de agriculture/milk-market-observatory/index_en.htm acesso em 18-03-2018. leite, estão a contribuir para a Schröer-Merker, E; Wesseling, K; Nasrollahzadeh, M (2012). Monitoring milk:feed price ratio 1996-2011. In: Chapter 2 – Global monitoring dairy economic indicators 1996-2011, IFCN Dairy diminuição dos rendimentos Report 2012, Torsten Hemme editor, p 52-53. Published by IFCN Dairy Research Center, destes. Este aspeto está a ter Schauenburgerstrate, Germany. maior relevância na Ilha Terceira SIMA-GPP (2018). Leite à produção - Preços Médios Mensais. Sistema de Informação de por só existir uma fábrica de Mercados Agrícolas, Gabinete de Planeamento e Políticas. http://www.gpp.pt/index.php/ sima/precos-de-produtos-agricolas acesso em 18-03-2018. transformação de leite.

RUMINANTES ABRIL . MAIO . JUNHO 2018 47


ATUALIDADES

NOTÍCIA LALLEMAND

Inoculantes de nova geração vão permitir mais rápida estabilidade dos silos Na sua mais recente investigação sobre inoculantes, a Lallemand falou sobre um novo conceito de produtos, a introduzir brevemente no mercado, que permitirão uma maior e mais rápida estabilização das silagens.

No passado mês de fevereiro, a Lallemand convidou jornalistas, investigadores e clientes de Itália, Grécia, Holanda, Portugal e Espanha, para uma conferência na Blanca Pireneus, uma vacaria de investigação localizada perto de Andorra com que a Lallemand trabalha de forma muito próxima em projetos específicos, sendo um dos seus centros de investigação satélite, juntamente com o Miner Institute, em Nova Iorque. O objetivo foi apresentar os seus últimos estudos e investigações sobre inoculantes centrados na identificação de microrganismos que, sozinhos ou em combinação com outros podem melhorar de forma rápida, efetiva e consistente a estabilidade aeróbica das silagens. “Os resultados da investigação da Lallemand são bastante consistentes e estamos muito confiantes no futuro da tecnologia”, referiu Luís Queirós, Global Category Manager, Forage Additives da lallemand Animal Nutrition.

48 ABRIL . MAIO . JUNHO 2018 RUMINANTES

“Produzir leite a partir de forragem, preservar a qualidade da silagem através duma estabilidade aeróbica melhorada”, foi o tema da apresentação de Limin Kung, Jr, investigador de renome da Universidade de Delaware, que se dedica há mais de 20 anos ao tema da estabilidade aeróbica orientada atualmente para a identificação de microrganismos que, sozinhos ou em combinação com outros podem melhorar de forma rápida, efetiva e consistente a estabilidade aeróbia de silagens. Kung destacou na sua intervenção os fatores que afetam a qualidade da silagem depois da colheita, o tipo de fermentação e a estabilidade aeróbica. Referiu-se também à forma de melhorar a estabilidade aeróbica das silagens com aditivos, através de aditivos químicos e de inoculantes microbianos, com especial atenção à seleção especializada de bactérias que produzem compostos antifúngicos. Em conclusão referiu que,

para manter a estabilidade da forragem, as silagens devem ser bem fermentadas e estabilizadas aerobicamente; que as leveduras que metabolizam o ácido láctico sob condições aeróbicas são os iniciadores primários da deterioração; e que devem ser seguidas as recomendações para uma boa gestão do silo para minimizar a deterioração aeróbica de silagens. Nesta conferência foram também apresentadas as comunicações de Eric Chevaux, Global Applied R&D Manager da Lallemand Animal Nutrition, e de Julien Sindou, New technologies & Innovation Manager, resultantes dos estudos que a empresa tem vindo a desenvolver sobre este tema, que se pretende venham a resultar em breve em novos produtos disponíveis para os agricultores com resultados claros na qualidade da silagem utilizada na alimentação nas explorações.


Levadura específica do rúmen€

O stress afecta negativamente os resultados zootécnicos das vacas Sabia que o stress por calor pode custar-lhe mais de 400¤/vaca/ano?1 As consequências do stress por calor representam perdas importantes na produção de leite (que podem alcançar até 35%) e também problemas relacionados com desequilíbrios no rúmen e na reprodução. O impacto do stress por calor nas vacas leiteiras é determinado pela conjugação de temperatura e humidade. Novas investigações demonstraram que acima de 20ºC e 50% de humidade relativa diminui o conforto das vacas e a produção de leite.2 1 Saint Pierre et al., 2003 - 2 Burgos & Collier, 2011.

Mesmo em condições de stress por calor, LEVUCELL® SC aumenta o potencial da sua ração e os rendimentos sobre os Custos de Alimentação (IOFC) • Produção de leite: +1,1 a 2,4 litros/vaca/dia • Aumenta a Eficácia Alimentar: mais de 7%*, 120 g de leite/ kg MS ingerida • Optimiza o pH do rúmen (menos acidoses). LEVUCELL® SC levedura viva específica para ruminantes, Saccharomyces cerevisiae I-1077, seleccionada no INRA (França). *Marsola et al, ADSA 2010.

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e Autorizado na União Europeia em bovinos de leite e carne, ovelhas e cabras de leite, cordeiros e cavalos (E1711/4a1711/4b1711).

A Temperatura aumenta…

…LEVUCELL® SC aumenta a produção de leite mesmo no período de stress por calor.


ALIMENTAÇÃO

LUÍS RAPOSO ENGENHEIRO ZOOTÉCNICO, DEPARTAMENTO RUMINANTES NA REAGRO l.raposo@reagro.pt

Toxemias de gestação em caprinos e ovinos A toxemia de gestação é uma desordem metabólica que ocorre mais frequentemente na fase final da gestação, sendo causada por uma baixa concentração de glicose no sangue e uma degradação excessiva da gordura corporal mobilizada de forma compensatória. As “cetonas” são o subproduto tóxico produzido durante este processo e é possível detetar a sua presença na urina do animal.

CAUSAS O principal fator causador de uma toxemia de gestação é por norma uma nutrição inadequada durante o último terço da gestação. Ainda que com pouco rigor, quase poder-se-ia afirmar que quando uma cabra ou ovelha em fase final de gestação fica doente o prognóstico mais provável é o de uma toxemia de gestação. Considerando que o maior desenvolvimento fetal ocorre nas últimas semanas de gestação e que, por esse mesmo motivo, a fêmea reduz drasticamente a sua capacidade de ingestão, é expectável que esta não consiga ingerir alimento (energia) suficiente para suprimir as suas necessidades nutricionais. Como resultado desse desenvolvimento rápido do feto, verifica-se nesta fase um súbito aumento das necessidades nutricionais. Desta forma o défice de energia explica o aparecimento da doença. A toxemia de gestação pode ocorrer quer em fêmeas jovens quer em fêmeas mais velhas, tenham estas uma maior ou menor pontuação da condição corporal. Contudo, vários estudos demonstram que a suscetibilidade à toxemia de gestação é maior em animais mais gordos, mais velhos e gestantes de mais do que um feto.

50 ABRIL . MAIO . JUNHO 2018 RUMINANTES

Por um lado, quando a condição corporal é excessiva (igual ou superior a 4) ovelhas e cabras são mais suscetíveis de toxemia de gestação porque a sua gordura abdominal reduz a capacidade de ingestão e aumenta a mobilização e utilização de reservas corporais. Por outro lado, quando a condição corporal é igual ou inferior a 2, ovelhas e cabras ficam também suscetíveis devido ao facto de haver claramente uma carência nutritiva, insuficiente para cobrir as suas necessidades e muito menos levar a cabo uma gestação saudável e sem incidentes. As gestações múltiplas também elevam o risco de toxemia de gestação porque aumentam

muito as necessidades da fêmea gestante bem como também reduzem a capacidade de ingestão. Uma gestação dupla exige quase o dobro das necessidades em relação a uma gestação simples e se a gestação é de simultaneamente 3 fetos ou mais então os requisitos de energia aumentam ainda mais. Na verdade, além das enormes variações nas necessidades de cada animal, qualquer motivo que afete a capacidade da ovelha ou da cabra ingerir alimento suficiente durante o final da gestação pode contribuir e levar a uma toxemia de gestação: fetos múltiplos, animais obesos, animais demasiado magros, comportamento perante

animais dominantes, doenças dentárias, parasitismos, etc… Em casos de défice energético, durante a gestação, cabras e ovelhas poderão recorrer a várias fontes de energia para a produção de glicose e satisfação das suas necessidades metabólicas. Se essa necessidade não for suprimida nutricionalmente haverá mobilização de gordura como fonte de energia. Este mecanismo de degradação das gorduras armazenadas, por conseguinte, submergirá a capacidade do fígado e resultará em lipidose hepática ou fígado gordo e, em última instância, prejudicará a função hepática. Quanto maior o grau de mobilização de reservas maior a produção de subprodutos


ALIMENTAÇÃO tóxicos ou corpos cetónicos que são libertados na circulação sanguínea, causando um aumento na acumulação de gordura hepática.

SINTOMAS Os primeiros sinais de toxemia de gestação são: • • • •

Depressão Apatia, inércia ou lentidão Pouco ou nenhum apetite Desequilíbrio muscular ou má coordenação, conhecida como ataxia • Ranger dos dentes • Cegueira • Patas inchadas Tal como se verifica noutras doenças, um diagnóstico precoce é fundamental e os cuidados adequados aumentam o sucesso no tratamento. Um bom diagnóstico clínico consiste numa correta avaliação do animal ou do rebanho, na identificação e reconhecimento dos sinais clínicos e na deteção de níveis elevados de corpos cetónicos na urina. Os corpos cetónicos podem ser facilmente detetados utilizando testes comerciais. A confirmação da doença será dada também por níveis de acidose, desidratação e possível verificação de insuficiência hepática e renal. A dificuldade com que cabras ou ovelhas se levantam da posição de decúbito pode também ser um indício da doença. Para além da importância do monitoramento constante

das fêmeas gestantes e de uma deteção precoce da doença, o tratamento será bem-sucedido se existir uma atuação que satisfaça rapidamente as necessidades de energia (glicose) do animal ou do rebanho afetado. Uma possível estratégia passa por forçar a ingestão de alimento e reforçar a suplementação com vitaminas do complexo B, de forma a estimular o apetite. Quando por outro lado o estado da fêmea é muito grave, o tratamento torna-se muito mais dispendioso e o prognóstico muito mais reservado. À semelhança de outras doenças, também no caso da toxemia de gestação é preferível apostar na prevenção do que tratá-la. É neste sentido que o papel da nutrição e as boas práticas de alimentação são essenciais: • No último terço de gestação, especialmente nas últimas 4 a 6 semanas de gestação, a energia da dieta deverá ser equilibrada e adequada às necessidades. O fornecimento de um alimento concentrado e um feno de boa qualidade são excelentes fontes de energia. • É importante que o produtor tenha presente que os níveis de energia da dieta poderão sofrer grandes variações em função da qualidade e da disponibilidade da forragem. Da mesma forma, é importante compreender a necessidade de complementar a componente forrageira, pois a utilização de feno por si só geralmente

não garante energia suficiente, principalmente em fêmeas com gestações múltiplas. • Cabras ou ovelhas com gestações múltiplas devem ser alimentadas com níveis de energia mais elevados. O peso e o nível de condição corporal das fêmeas gestantes bem como o número de fetos que a cabra ou ovelha carrega são detalhes de extrema importância. • É importante que o nível de proteína da dieta esteja disponível para a função microbiana do rúmen, sendo que esse nível poderá ser facilmente equilibrado através do alimento concentrado. É a população microbiana do rúmen que se encarrega de digerir os componentes e principais fontes de energia encontrados nas forragens (moléculas de carboidratos, celulose, hemiceluloses e pectina). As bactérias e os protozoários do rúmen degradarão celulose e hemicelulose fornecendo energia. Além dos anteriores pontos descritos, devem ser evitadas alterações bruscas da alimentação do rebanho, bem como quaisquer outros fatores de stress (como transporte ou outras operações de maneio que possam ser consideradas stressantes). Deve haver espaço suficiente e condições adequadas para que todo o efetivo se possa distribuir em torno dos alimentadores e possa obter tranquilamente feno e alimento concentrado.

De igual forma, a prevenção da toxemia de gestação passa também por evitar a sobrealimentação dos animais ao longo da curva de lactação através de uma monitorização sistemática da condição corporal das cabras ao longo do ciclo produtivo. Os produtores devem esforçar-se para ter um rebanho com uma condição corporal moderada (condição de 3+) antes do parto. Há que tentar impedir que as fêmeas se tornem obesas desde o início da gestação e procurar que todas as que manifestem carências possam receber alimentos extras até atingir a condição corporal desejada.

CONCLUSÃO Na sequência de tudo o que foi abordado, poderíamos dizer que, idealmente, é vantajoso separar lotes de animais conforme o estágio gestacional e tendo conhecimento de quantos fetos estão presentes em cada gestação. Desta forma, o regime alimentar poderá ser fornecido de uma forma mais adequada e de acordo com as exigências nutricionais. No entanto, as dificuldades de maneio e o impacto económico sobre a exploração (disponibilidade de instalações e mão-deobra) dificultam essa tarefa. Assim, parece-me importante repetir que é neste sentido que o papel da nutrição e as boas práticas de alimentação são essenciais e é imperativo apostar na prevenção!

RUMINANTES ABRIL . MAIO . JUNHO 2018 51


PRODUTO

www.calvesandcolostrum.com Um portal para a gestão rigorosa da recria Todos sabemos que a recria é fundamental para a viabilidade futura das explorações leiteiras, mas, por vezes, estes animais são um pouco menos cuidados do que as vacas em produção.

O portal está organizado para três grandes grupos de informação independentes:

optem por fazer a atualização periódica dos dados, ou que os exportem doutro software de gestão. Em qualquer das opções, a colheita de dados rigorosos é crucial para que os resultados obtidos tenham utilidade

As consequências duma distração, nesta área, só são visíveis passados cerca de dois anos, quando forem necessárias vitelas para reposição das vacas de refugo e elas não existirem ou parirem demasiado tarde.

O portal www.calvesandcolostrum.com pretende ajudar as explorações de leite a fazerem uma gestão muito rigorosa da sua recria.

1. Indicadores de mortalidade e idade ao primeiro parto Introduzindo apenas os dados básicos, como a identificação do vitelo, sexo, data de nascimento e data de morte/ parto, obtém-se informação crucial para a gestão da recria, como a Taxa de Nados Mortos; Taxas de Mortalidade até aos 60 dias; entre os 61 e 120 dias, entre os 121 e 180 dias que, de acordo com a Dairy Calf & Heifer Association devem situar-se abaixo dos

para a tomada de decisões corretivas adequadas. Para isto, deve fazer-se o download da Folha de Registo de Dados, que poderá ser afixada em local de fácil acesso a todos os envolvidos nas atividades da exploração.

Depois de se fazer o registo, grátis e para o qual só será necessário um endereço de e-mail, pode-se introduzir os dados dos vitelos de duas formas: vitelo a vitelo, à medida que os nascimentos vão acontecendo ou através do “upload” dos dados previamente introduzidos num ficheiro Excel, disponível para download no portal. Esta opção é ideal para explorações que

Naturalmente, quantos mais dados se fornecerem, mais informação se obtém.

2. Colostro

GRÁFICO 1 Qualidade do colostro avaliada no colostrómetro com a pontuação BRIX em diferentes amostras. 100%

0-20 20, 1-22 22, 1-24 >24

80%

Pontuação BRIX (%)

60% 11 - 2017 22, 1-24:1 (33,33%)

40%

20%

JOÃO PAISANA MÉDICO VETERINÁRIO, AGRO-PECUÁRIA AFONSO PAISANA, SERBUVET paisana.j@serbuvet.com

9% 6 01

-2 01

52 ABRIL . MAIO . JUNHO 2018 RUMINANTES

16

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Amostras de colostro

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01

5%, 2% e 1% respetivamente. Calcula-se, ainda, a Taxa de Mortalidade Global, ou seja, a % de vitelas nascidas vivas que não chegam a parir na exploração. Este indicador é muito importante, pois inclui todas as causas e idades de morte, desde o nascimento até ao parto e pode, por vezes, trazer surpresas. A Idade ao Primeiro Parto é também um indicador indispensável que é calculado pelo software, e que servirá para a projeção de partos de todas as vitelas existentes.

Se os valores de mortalidade não estiverem de acordo com o desejável, muito provavelmente há erros no maneio do colostro: esta é a principal causa de mortalidade em vitelas jovens. São muitas as considerações que se podem fazer acerca da qualidade do colostro: quantos mais partos a vaca tiver, maior será a qualidade do colostro, contudo, é errado rejeitar o colostro das novilhas que é, frequentemente, adequado. O stress térmico, afeta negativamente o colostro; a quantidade de colostro produzida não deve


PRODUTO

GRÁFICO 2 Quantidade de proteina total no sangue de vitelos (24 a 72 horas de vida) avaliada no refratómetro com escala BRIX, em diferentes amostras de sangue. 100%

0-4,9 5-5,4

05 - 2017 0-4,9: 2 (50%)

>5,5

Pontuação BRIX (%)

80%

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Amostras de sangue - vitelos

ser usada como critério para a sua avaliação. Se e a vaca parir com uma mastite, esse colostro deve ser rejeitado; a duração do período seco, entre os 28 e 56 dias não afeta a qualidade do colostro. A rapidez com que se faz a primeira ordenha também afeta muito a qualidade do colostro, devendo ser o mais imediata possível, bem como o estado vacinal da vaca, entre outros fatores. Com tantos fatores a influenciarem, deve começar-se por medir a qualidade do colostro com um colostrómetro ou com um refratómetro ótico ou eletrónico. O colostrómetro não é fiável quando indica que um colostro é adequado, mas, quando indica que um colostro não tem qualidade, então este não deve mesmo utilizar-se como primeira refeição. O colostro inadequando deve ser substituído por outro disponível (congelado ou refrigerado). O refratómetro BRIX é muito mais fiável e o investimento não é elevado, no caso do refratómetro ótico. A versão eletrónica é um pouco mais cara, mas é mais fiável e mais fácil de utilizar. Há vários trabalhos que indicam diferentes valores BRIX para que o colostro seja adequado

como primeira refeição (entre 18% e 23%), mas a nossa experiência diz-nos que os 18% BRIX já serão suficientes (gráfico 1). Assim, podem lançar-se os dados de qualidade do colostro, hora de nascimento e hora de administração do colostro. O portal vai calcular a % de vitelos que tomou colostro até à 1ª hora de vida, entre a 1ª e 2ª horas, disponibilidade mensal de colostro, etc, etc.

O portal indicará a distribuição mensal de vitelos com boa, suficiente e insuficiente absorção passiva (gráfico 2). Assim, pode fazer-se uma rigorosa análise do maneio do encolostramento, para o qual são determinantes o teor do colostro em imunoglobulinas, qualidade microbiológica do colostro, rapidez da administração, quantidade administrada, modo de administração entre outross fatores. Um bom encolostramento é determinante para a redução da morbilidade e mortalidade, mas há estudos que demonstram outros efeitos, como sejam o aumento do ganho médio diário e eficiência alimentar, redução da idade

3. Proteína Total A medição da Proteína Total no sangue dos vitelos é a melhor forma de se avaliar o encolostramento, pois tem uma alta correlação com a absorção passiva de imunoglobulinas: valores de 5,5 g/dl de Proteína Total (alguns autores consideram apenas o valor 5,2 g/dl de Proteina Total) ou 8,4% BRIX, indicam que houve boa absorção de imunoglobulinas. Valores abaixo de 5,0 g/dl indicam que houve falha de absorção passiva. Este indicador tem pouco interesse do ponto de vista individual, ou seja, um vitelo com falha de absorção passiva e outro com boa absorção passiva têm probabilidades semelhantes de adoecer. A análise destes dados deve ser feita ao nível do grupo:

explorações em que 80% dos vitelos têm boa absorção passiva, deverão ter baixa taxa de mortalidade. A colheita de sangue do vitelo, fácil de executar com pouco treino, deve fazer-se, idealmente, entre as 24 e as 72 horas de vida, mas pode ir até aos 7 dias. A medição pode ser feita com um refratómetro ótico (escala Proteína Total ou BRIX) mas há, no mercado, refratómetros digitais com as escalas BRIX (para medir a qualidade do colostro) e Proteína Total, num único equipamento. É indispensável usar-se uma centrífuga para se obter o soro de forma rápida e fácil, e assim fazer-se a medição em tempo útil.

ao primeiro parto, aumento da produção na primeira e segunda lactações, e redução do risco de refugo na primeira lactação. Sabemos que a implementação de novas rotinas nas explorações é, por vezes, difícil, mas a nossa experiência em várias explorações diz-nos que é largamente compensadora: no imediato, com a redução de morbilidade, gastos em medicamentos e mortalidade; mais tarde, com a disponibilidade de mais e melhores novilhas. Com o portal www. calvesandcolostrum.com, pretende-se disponibilizar uma ferramenta de gestão de dados determinantes para uma boa recria, ou para a melhorar. O portal tem associado um blog, onde se partilhará informação técnica sobre recria e colostro. Bom trabalho!

GRÁFICO 4 Taxa Nados Mortos (%) na exploração de 2016 ao presente. 8

6

4

2

0

2016

2017

2018

GRÁFICO 5 Número de nados mortos e mortalidade global no total de nascimentos da exploração de 2016 ao presente. 50.0

GRÁFICO 3 Distribuição da mortalidade de vitelos por idade (0-30 dias, 30-180 dias e mais de 180 dias) de 2016 ao presente.

37.5

25.0

100% 12.5

80%

60%

0

40%

2016 Nados Mortos

2017 Mortas

2018 Vivas

20% 0%

2016 > 180

2017 30 a 180

2018 Até 30

NOTA Os gráficos são meramente demonstrativos e foram gerados de forma aleatória.

RUMINANTES ABRIL . MAIO . JUNHO 2018 53


ALIMENTAÇÃO

TEXTO ADAPTADO

FRANCISCO CASTANHEIRA ALLTECH

Bio-Mos® no leite ou leite de substituição Uma meta-análise SUPLEMENTO NUTRICIONAL O Bio-Mos®, manano-oligossacarídeo da Alltech, é um suplemento nutricional derivado da parede celular da S. cerevisiae. Os Manono-Oligossacarídeos são prébióticos derivados da parede celular da levedura (Saccharomyces cerevisiae), que

demonstram capacidade de melhorar a saúde intestinal e a saúde em geral dos animais de produção. A investigação tem vindo a demonstrar que este tipo de prébiótico leva a resultados consistentes em todas as espécies de produção no que diz respeito a uma melhoria de performance em termos de aumento da capacidade de ingestão, da eficiência alimentar e do ritmo de crescimento.

META-ANÁLISE O Bio-Mos® tem sido amplamente estudado ao longo dos últimos anos o que gerou uma quantidade grande de trabalhos científicos publicados sobre o mesmo. A metaanálise é um método comumente utilizado quando existe uma grande quantidade de estudos sobre um determinado assunto. Este método de investigação consiste numa análise a todas as publicações científicas que existem relativas a um determinado assunto num determinado período de tempo. Foi isso que os autores fizeram para analisar o efeito da inclusão de Bio-Mos® sobre o crescimento médio diário estimado dos vitelos no período de pré-desmame, quando introduzido no leite ou leite de substituição. Esta meta-análise teve por base 23 estudos realizados em 11 países diferentes - EUA, Inglaterra, Brasil, Chile, República Checa, Índia, Japão, Peru, Polónia, Espanha e Turquia - entre o período de 1993 e 2012, incluindo 454 vitelos suplementados com Bio-Mos ®, com a inclusão média de 4 g/animal / dia e 446 vitelos em grupos controlo (imagem 1).

IMAGEM 1 Vitelos a serem alimentados.

54 ABRIL . MAIO . JUNHO 2018 RUMINANTES

TEXTO ORIGINAL ANNA CATHARINA BERGE; BERGE VETERINARY CONSULTING BVBA, OULSTBERGESTRAAT 24,1570 VOLLEZELE, BELGIUM


E se pudesse estabilizar a saúde intestinal do seu animal?

PROGRAMA SAÚDE INTESTINAL BIO-MOS® e ACTIGEN™ são soluções naturais para problemas de saúde intestinal. Melhoram a eficiência alimentar e contribuem para o desenvolvimento da imunidade, melhorando assim o desempenho e a rentabilidade do seu animal.

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ALIMENTAÇÃO

O estado de saúde dos vitelos é um dos fatores mais importantes para o seu crescimento e performance. A diarreia em vitelos durante o periodo pré-desmame é muitas vezes a principal causa de mortalidade e morbilidade, sendo por isso um dos maiores desafios na manutenção de animais saudáveis neste periodo, para ambos os sectores do leite e da carne. Mortalidade e morbilidade são normalmente a ponta do icebergue da saúde intestinal dos vitelos. Quando uma percentagem de vitelos demonstra sinais de diarreia, outros vitelos que não estejam clinicamente afetados, podem experenciar outras condições como disbiose e má digestão, que levam a uma fraca eficiência alimentar e a um mau índice

A meta-análise demonstrou que o BioMos® levou a que os vitelos obtivessem um ganho médio diário de 64g /dia acima do grupo controlo. Este aumento no peso verificado no grupo dos animais suplementados com Bio-Mos® representou um aumento de peso de 3,8 kg/vitelo desmamado comparado com o grupo controlo (os vitelos foram desmamados aos 2 meses de idade). Também foi demonstrado que este impacto positivo no crescimento do vitelo no período de pré-desmame, está diretamente relacionado com o potencial produtivo na vida futura do animal. Por cada 100 gramas adicionais de aumento de peso no período de pré-desmame existe um acréscimo de produção de 155 kg de leite na primeira lactação.

de crescimento. Por esta razão é importante considerar o uso de prébióticos como o Bio-Mos®. O impacto que o Bio-Mos ® teve na diminuição da prevalência das diarreias deve-se à sua capacidade de modificar a microflora intestinal, aumentar a camada de muco intestinal, melhorar a consistência das fezes e saúde respiratória. Muitos destes efeitos estão diretamente ligados a um aumento da eficiênica da imunidade intestinal através da melhoria da capacidade de ligação dos elementos do sistema imunitário à manose de várias potenciais espécies de bactérias patogénicas, como é o caso da Escherichia coli e a Salmonella enterítica, por pontes de lecitina.

TABELA 1 Desenho dos ensaios e diferença média dos ganhos médios diários (ADG) entre os vitelos suplementados com Bio-Mos® e os vitelos controlo em 23 estudos.

CONCLUSÃO

Vitelos suplementados com Bio-Mos Estudo

Alimento

g/d

Vitelos

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Média GMD

Desvio padrão GMD

Vitelos do grupo de controlo Vitelos

Média GMD

Desvio padrão GMD

Diferença entre médias

Erro padrão

Referências

A meta-análise é uma ferramenta poderosa que sintetiza resultados a partir de uma série de estudos, tornando-a um trabalho mais credível e mais preciso sobre o efeito de uma intervenção. A metaanálise analisada neste artigo demonstrou uma clara melhoria no desenvolvimento dos vitelos na fase pré-desmame quando suplementados com Bio-Mos® no leite e/ou leite de substituição e que esta melhoria teve um impacto positivo na produção futura do animal. Esta melhoria da performance está relacionada com o efeito do Bio-Mos® na saúde intestinal, na imunidade intestinal e na função digestiva, tornando este pré-biótico um parceiro essencial ao bom desenvolvimento dos vitelos, bem como a um futuro da exploração bem sucedido.


ATUALIDADES

A INVIVONSA PORTUGAL LANÇOU A SUA NOVA MARCA - WISIUM Chegou a Portugal a Wisium, nova marca comercial de pré-misturas (premix) do grupo francês Neovia, comercializada pela Invivonsa Portugal SA. O grupo, que conta já com mais de 60 anos de experiência, lançou no dia 6 de março a sua nova marca em Portugal. Embora com uma escala global, estando já no mercado em países como o Brasil, Itália, China, África do Sul e México, a Wisium pretende criar uma relação intima com o mercado local adicionando-lhe um elevado de nível conhecimento internacional. A empresa propõe um trabalho conjunto com os seus clientes de forma a alcançar os melhores resultados produtivos. A Wisium põe ao dispor dos seus parceiros (empresas do sector da produção de alimentos para animais), uma equipa apaixonada e dinâmica capaz de: • OTIMIZAR a produtividade e aumentar a performance técnica e económica; • ASSEGURAR os produtos e os processos e consolidar o negócio; • CONSTRUIR novas ofertas e encontrar novas soluções contribuindo assim para a inovação e diferenciação dos parceiros; A nova marca promete colaborar com os seus parceiros, encontrado soluções à medida das suas necessidades, em qualquer fase do negócio. O lançamento em Portugal ocorreu sob o slogan

Wisium, Juntos vamos mais longe!

PRESIDENTE DA ALLTECH MORRE AOS 63 ANOS É com pesar que anunciamos a morte do presidente e fundador da Alltech, o Dr. Pearse Lyons, falecido no passado dia 8 de março no decorrer de complicações que se seguiram a uma cirurgia cardíaca. Durante os seus setenta e três anos de vida, o Dr. Lyons foi uma fonte de inspiração para os que o rodeavam, e a sua visão e empreendedorismo transformaram a indústria alimentar. O desenvolvimento e aplicação da tecnologia de fermentação na alimentação animal foi um dos seus legados, que se estenderam muito além da agricultura. Exemplo disso foi a construção de laboratórios de ciência e investigação, bem como o apoio constante às artes. A grandeza da sua visão, bem como o entusiasmo com que a manifestava, continuará presente nos mais de cinco mil funcionários internacionais da Alltech, e a empresa promete continuar a servir a indústria de forma inovadora.

RUMINANTES ABRIL . MAIO . JUNHO 2018 57


PUBLIREPORTAGEM

Efeitos do YANG

na morbidade dos vitelos ao desmame e consequências no crescimento Exploração comercial, Espanha 2014

MATERIAL E MÉTODO Local: Exploração comercial em

explorações dedicadas à cria de vitelos. Os dois primeiros meses de vida são críticos para a futura vida produtiva dos jovens ruminantes.

CONTEXTO

Durante os primeiros meses de vida, o trato digestivo de um ruminante jovem passa por grandes mudanças à medida que evolui da sua função inicial como monogástrico. A transição de alimento liquido para sólido necessita ser gerida suavemente para evitar situações de morbidade (diarreias e doenças respiratórias) que são uma grande preocupação em

OBJETIVO

• 1/ Controlo

Duração: 6 semanas (Outubro

• 2/ YANG (em concentrado): 5g/animal/dia durante as primeiras 2 semanas de vida e 3 g/animal/dia até ao fim do estudo.

- Novembro 2014), do desmame aos 35d do estudo.

Espécie: 80 vitelos Holstein machos (53.0 + 4.3 kg PV, e 27.3 + 4.4 dias de idade)

Medições: Peso corporal aos d0, d14, d28 e d42.

Dieta: • Leite de substituição desnatado em pó: 0-15d: 2x2L/d (22% PB e 18% gordura) Soro de leite: d16desmame: 1x2L/d (19% PB e 15% gordura) Concentrado Starter ad libitum

Avaliar o efeito da suplementação com YANG na dieta de vitelos em situações de stress e suas consequências na performance e morbidade.

Chegada dos vitelos com 27 d, PV 53.9 kg

d0 do ensaio =6 dias depois da chegadal

Tratamento:

Lleida, Catalunha, Espanha

NUTRIENTES (%MS)

RAÇÃO STARTER

Proteína Bruta

5.4

FND

12.6

Amidos

42.8

Açucar

12.6

Desmame, 1 semana antes do fim do ensaio (>2 m de idade)

YANG 5 g/animal/d

YANG 3 g/animal/d d14 do ensaio

d42 do ensaio

Duração do ensaio: 6 semanas

RESULTADOS ANIMAIS ALIMENTADOS COM YANG MOSTRARAM NÍVEIS DE MORBIDADE REDUZIDOS No grupo YANG, uma percentagem de animais medicados pelo menos uma vez com antibióticos é reduzido em 39%, e os animais medicados pelo menos uma vez para a diarreia em 70%.

CONTROLO

YANG

% animais tratados pelo menos uma vez com antibióticos

53.5

32.6

Tempo c/ pH<5.8 (h/d)

23.3

6.9* * p<0.05

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PUBLIREPORTAGEM

YANG TEM IMPACTO POSITIVO NO GANHO DE PESO CORPORAL Os animais alimentados com YANG mostraram um ganho de peso corporal total de +1.2kg após o desmame, com melhor homogeneidade no PV (Desvio Standard de PV=7.3 vs 9.6 kg no grupo Controlo; p<0.05 grupo). O YANG apoia um melhor crescimento em +50g/d em situações de desafio (adaptação e desmame).

54.4

PV Final (Kg)

87.9

89.9

PV Inicial (Kg)

53.6

54.4

Ganho PV (Kg)

34.3

+1.2 kg pós desmame

600

(kg/d)

500

1.52

650

Adaptação (0-14d)

Número de tratamentos

CONTROLO

YANG

237

135

REDUÇÃO DE CUSTOS COM TRATAMENTOS DURANTE O PERÍODO DO ENSAIO (€/100 ANIMAIS)*

138 €

GMD (kg/d)

0.850

Taxa de sobrevivência(%)

Desmame (28-42d)

CONCLUSÃO

YANG CONTRIBUI PARA UM AUMENTO DA RENTABILIDADE DA EXPLORAÇÃO PARA 100 ANIMAIS DURANTE 42 DIAS DE SUPLEMENTAÇÃO

YANG

53.6

700

controlo

PV Inicial (Kg)

900

YANG

YANG

1120 1070

1100

controlo

CONTROLO

1300

0.810 95.4

95.4

Rendimento (€/100 animais)

10,419 €

10,719 €

Receita após custo alimentação (IOFC )(€/100 animais)**

5,647 €

5,734 €

AUMENTO DO IOFC (€/100 ANIMAIS)

+87 €

LUCRO LIQUIDO (€/100 ANIMAIS)

+225 €

YANG ajuda a manter vitelos sãos através de um efeito positivo na condição intestinal. O YANG melhora a performance geral com bom rendimento para o produtor. Alimentar com YANG foi também associado à redução da medicação e peso corporal final mais elevado. Nem todos os produtos estão disponíveis em todos os mercados nem todos os argumentos associados estão autorizados em todas as regiões.

* Inclui antibioticos e custos extras, mão de obra ** Inclui custo de alimentação (dieta e leite de substituição) e suplementação com YANG a 0.04 €/animal/ dia

RUMEN SCHOOL COMO OTIMIZAR O RENDIMENTO DE UMA EXPLORAÇÃO ATRAVÉS DO MANEIO DO RÚMEN? Como otimizar o rendimento de uma exploração através do maneio do rúmen foi o tema de um dia de campo organizado dia 13 de março pela Tecadi e a Lallemand na exploração leiteira Barão e Barão, em Benavente. A Rumen School pretende através de determinados critérios aplicar uma metodologia para prever a eficiência ruminal e através de práticas de maneio do rúmen poder otimizar a eficiência alimentar e o rendimento da exploração. Participaram neste programa, além dos técnicos da Tecadi e da Lallemand, o proprietário da exploração, técnicos e produtores, que tiveram oportunidade de pôr em prática a metodologia aconselhada, fazendo uma auditoria na própria exploração.

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ALIMENTAÇÃO

Do vermelho ao castanho A influência da Vitamina E na cor da carne de bovino

JOANA SILVA MÉDICA VETERINÁRIA

NUNO MILHARADAS MÉDICO VETERINÁRIO

MÁRIO QUARESMA PROFESSOR ASSISTENTE DA FACULDADE DE MEDICINA VETERINÁRIA, UNIVERSIDADE DE LISBOA

A cor da carne é condicionada pelas suas características físicas e pelo estado químico dos pigmentos musculares, resultando principalmente da interação do oxigénio com a mioglobina muscular. A desoximioglobina é um pigmento com uma cor vermelho-púrpura, encontrada nos músculos profundos e na carne embalada a vácuo. Quando exposta ao oxigénio, a mioglobina conjuga-se com este e dá origem à oximioglobina, a qual confere à carne a cor vermelha e brilhante associada à carne fresca. A exposição contínua da oximioglobina ao oxigénio condiciona a sua oxidação e consequente formação de metamioglobina, resultando numa coloração acastanhada, pouco apelativa para os consumidores (figura 1). Diversos fatores podem influenciar a cor da carne, existindo fatores intrínsecos ao animal – raça, sexo, idade, tipo de fibra muscular, entre outros – ou extrínsecos. Estes últimos incluem fatores como a temperatura, concentração de oxigénio, exposição da carne à luz e condições de embalamento.

Importância da cor da carne para o consumidor A perceção da qualidade da carne por parte dos consumidores é um dos fatores chave da procura deste bem alimentar. No entanto, esta perceção

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é complexa, dinâmica e, consequentemente, difícil de avaliar. A própria definição de “qualidade” é tudo menos simples. Segundo a Organização Internacional de Normalização (ISO), a qualidade poderá ser entendida como o somatório das características de um bem ou serviço e sua capacidade para satisfazer as necessidades dos consumidores. No que toca à qualidade da carne, esta inclui características nutricionais e sensoriais, mas também características relacionadas com o modo de produção e com a garantia de bem-estar animal. Entre os atributos sensoriais mais apreciados pelos consumidores encontramse a aparência, a textura e o flavour. A cor da carne é apontada como sendo o atributo de qualidade com maior peso no ato de compra, em paralelo com a sua estabilidade.

Os consumidores portugueses privilegiam uma cor vermelho-vivo e brilhante, a qual associam a boa qualidade, frescura e longo tempo de vida. O flavour traduz-se pelas sensações produzidas simultaneamente pelo paladar e olfato aquando da mastigação. Por outro lado, a tenrura está associada com a facilidade de quebra da carne em fragmentos e está dependente do tipo de fibra muscular e do tecido conjuntivo.

A cor da carne e o tempo de prateleira A oxidação dos lípidos e pigmentos musculares desempenha um papel fundamental na deterioração da qualidade da carne, levando a alterações de cor e ao desenvolvimento de odores e sabores desagradáveis, tornando-a pouco apelativa para

FIGURA 1 Diferentes tipos de Mioglobina.

Oximioglobina

Desoximioglobina

Metamioglobina


ALIMENTAÇÃO

seja, teve uma menor taxa de decréscimo. A vitamina E, ao retardar diretamente a oxidação lipídica da carne, atua indiretamente na preservação da oximioglobina, retardando também a sua oxidação e permitindo assim a manutenção da cor vermelha brilhante durante mais tempo.

RESULTADOS E DISCUSSÃO Teores de vitamina E A suplementação da dieta com vitamina E influenciou de forma muito significativa a sua concentração a nível muscular, apresentando a carne dos animais suplementados com 2 g de vitamina E por kg de concentrado praticamente o dobro do teor desta vitamina em comparação com o grupo controlo, não suplementado (5,0 versus 2,6 µg/g de carne). Esta concentração vai ao encontro dos valores mínimos recomendados para retardar a oxidação lipídica na carne de bovino (≥3,5 µg/g de carne).

Tempo de prateleira

A suplementação com vitamina E também influenciou fortemente o tempo de prateleira. A carne dos animais suplementados revelou uma maior estabilidade oxidativa, com um decréscimo no teor de vitamina E ao longo dos dias em prateleira inferior ao da carne dos animais do grupo controlo: 24,9% para o grupo controlo versus 3,7% para o grupo suplementado entre os dias 0 e 6 após o abate e 37,5% versus 13,5% entre os dias 6 e 12 após o abate (gráfico 1).

A velocidade de depleção da vitamina E – para um músculo concreto de uma determinada espécie – está essencialmente dependente da sua concentração inicial. O potente efeito retardador da oxidação conferido por teores elevados desta vitamina resulta numa carne com maior estabilidade oxidativa e cromática e, consequentemente, num maior tempo de prateleira.

Cor A suplementação dos animais com vitamina E teve igualmente grande influência sobre a intensidade da cor vermelha, independentemente do tempo de prateleira. Este valor de intensidade do vermelho da carne suplementada também se manteve acima do grupo controlo ao longo do tempo de prateleira ou

CONCLUSÃO A suplementação da dieta de acabamento dos bovinos com vitamina E parece - de acordo com o estudo apresentado ser benéfica em termos comerciais, já que confere à carne um maior teor de vitamina E, melhorando a sua estabilidade oxidativa. Esta estabilidade faz com que a carne se mantenha com uma cor apelativa e desejável para os consumidores, otimizandose o tempo de prateleira. Tendo em conta os efeitos benéficos da suplementação com vitamina E, será agora pertinente estudar o impacto económico da sua inclusão na dieta de acabamento dos bovinos, bem como as suas implicações na indústria cárnea.

GRÁFICO 1 Decréscimo do teor de vitamina E (%) na carne ao longo do tempo de prateleira. 37,5

40 35

Teor de vitamina E (%)

os consumidores. É também responsável pelo encurtamento do tempo de prateleira da carne. No tecido muscular, tal como nos restantes tecidos biológicos, a vitamina E (de natureza lipossolúvel) está presente nas membranas celulares, protegendo-as dos fenómenos de oxidação, nomeadamente dos radicais livres e espécies reativas do oxigénio. A sua função antioxidante persiste após o abate do animal e após o processo de conversão do músculo em carne, o que não se verifica com as enzimas antioxidantes, cuja atividade se esgota rapidamente após o abate. O facto de a função antioxidante da vitamina E persistir após o abate do animal permite a manutenção da cor, sabor e atributos nutricionais desejáveis. O teor e perfil da vitamina E presente na carne depende da quantidade fornecida pela dieta - uma vez que a síntese de vitamina E está vedada às aves e mamíferos - o que permite aumentar os seus valores a nível muscular e aumentar a proteção antioxidante da carne. Dada a importância da vitamina E enquanto fator protetor da qualidade da carne, foi realizado um estudo no qual se pretendia avaliar o efeito da suplementação da dieta com esta vitamina na estabilidade da carne de bovino.

30

24,9

25 20 13,5

15 10 5

3,7

Grupo Controlo Grupo Suplementado com Vitamina E

0

Dias 0 a 6 após abate

Dias 6 a 12 após abate

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SAÚDE E BEM-ESTAR ANIMAL

GEORGE STILWELL MÉDICO-VETERINÁRIO, FACULDADE DE MEDICINA VETERINÁRIA – UNIVERSIDADE DE LISBOA stilwell@fmv.ulisboa.pt

RUMINANTES SAUDÁVEIS

O que as fezes nos podem dizer Num número anterior da revista Ruminantes iniciou-se uma secção que se poderá tornar habitual ao longo das próximas edições. O que estes artigos terão em comum será a apresentação de sinais que podemos ler no corpo ou no comportamento dos nossos animais e a discussão do seu significado. No artigo anterior falámos sobre sinais oriundos da pele e do pêlo e neste discutiremos o que o aspecto das fezes nos pode revelar. Temos tendência a desprezar as indicações que as fezes nos podem dar por achar que estas são apenas os desperdícios do organismo. Aliás, até preferiríamos que houvesse muito menos fezes, já que são um subproduto malcheiroso que só traz dores de cabeça – como e onde armazenar? No entanto, as fezes, mesmo depois de deixarem o animal, podem transmitir informações essenciais e que permitem identificar problemas de forma fácil e precoce. Afinal são mais de 45 quilos por dia (vaca adulta), libertados a cada 1,5 a 2 horas, que nos dizem como é que uma importantíssima parte do animal está a funcionar. É só preciso olhar para o chão e uma grande panóplia de situações podem ficar expostas: erros de maneio, desequilíbrios na dieta, toxinas escondidas, bactérias ou parasitas nefastos, perturbações individuais ou problemas de manada. Ou seja, as fezes de um animal podem ser o pré-aviso para um surto infecioso ou o alerta para um descuido, qualquer um deles com um potencial devastador.

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Uma das primeiras regras a seguir na apreciação das fezes é que o aspecto não é “normal” só porque se está habituado a vê-las naquela forma. Alguns erros e doenças perpetuam-se no tempo e podemos estar a conviver com situações prejudiciais e mesmo perigosas, sem que os sinais ou quebras de produção sejam muito evidentes. Por vezes o aspecto das fezes é o único ou o melhor sinal do que está realmente a acontecer nos bastidores. Também é importante relembrar que as fezes normais e saudáveis podem ter aspectos muito diferentes e que por isso devemos perceber quais as fezes expectáveis para cada situação e para cada momento. Por exemplo, fezes mais líquidas poderão ser aceitáveis em março e abril em vacas de pastagem, mas já não o serão em vacas alimentadas com dieta completa ou na pastagem em agosto.

Então o que devemos observar nas fezes? Um

bom exame das fezes, não necessariamente demorado, deve incluir sempre os quatro C: A COR pode variar bastante e, normalmente, está relacionada com o alimento base a ser ingerido no momento. Quando as dietas são à base de milho (silagem e farinha) as fezes serão mais amareladas; à base de erva adquirem tons mais esverdeados; e se forem compostas primordialmente por fenos e palhas são acastanhadas. Alguns subprodutos alimentares (por exemplo, polpa de citrinos ou resíduo de tomate industrial) podem proporcionar cores muito características, e por isso deveremos saber bem a composição da dieta quando nos propomos a analisar as fezes. A CONSISTÊNCIA varia essencialmente com a quantidade de água, mas pode também depender do conteúdo e tamanho da fibra ou da concentração de proteína no alimento. Excesso

de proteína a chegar aos intestinos pode dar origem a fezes pastosas, espumosas e mesmo mucosas. Animais desidratados com pouco acesso a água terão, obviamente, fezes secas e firmes. O CONTEÚDO pode variar com a composição da dieta, com a capacidade dos microrganismos ruminais digerirem as diversas matérias ou com presença de produtos de doenças inflamatórias entéricas. Por exemplo, fibra ainda intacta, grãos de cereais inteiros ou vestígios de farinhas podem surgir nos mais variados casos. Uma forma de avaliar em pormenor as proporções dos vários componentes das fezes, é encher um escoador de cozinha com fezes e depois lavá-las com água corrente. Assim conseguiremos verificar a dimensão do material retido. Idealmente não deveremos ter muitas partículas maiores do que 1,2 centímetros. Alguns componentes (por exemplo, sangue, muco, falsas membranas e muco), mais ou menos vestigiais, devem ser procurados com cuidado nas fezes intactas.


SAÚDE E BEM-ESTAR ANIMAL

O CHEIRO varia também com a composição da dieta, mas nunca deve ser demasiado intenso nem agressivo (malcheiroso). Sangue oculto, excesso de proteínas, certas doenças e medicamentos (propilenoglicol) podem alterar bastante o cheiro. Baseado nestas quatro propriedades observáveis

nas fezes, podemos criar uma tabela que servirá para objetivar a classificação, permitir uma melhor comparação ao longo do tempo e um registo mais fácil. No esquema ao lado, apresentamos uma classificação simples que costumamos usar no caso de exame físico de um bovino.

Classificação de fezes bovinas Classificação simples mas útil de fezes em vacas leiteiras. GRAU 1 Quase líquidas. Quando caiem no solo salpicam por grandes distâncias. Podem cair bastante distante do animal. Sujam cauda e períneo. Quase sempre sinal de doença – diarreia.

Alterações mais frequentes De seguida iremos descrever algumas das alterações mais frequentes e recordar algumas das causas que lhes dão origem. Porque se trata de um assunto complexo e extenso iremos dividir a nossa exposição. Primeiro por idades, sendo que nesta edição iremos abordar o aspecto das fezes de ruminantes adultos e na próxima revista trataremos dos jovens. Depois, dentro de cada escalão etário, faremos uma divisão consoante a causa: alimentar; infeciosa/parasitária; tóxica; outras.

Causas alimentares São as causas mais comuns e mais importantes de alterações do aspecto das fezes. Há, quase sempre, uma correlação e uma lógica entre o aspecto das fezes e o funcionamento do trato gastrointestinal. Ou seja, o aspecto das fezes pode dizer muitíssimo sobre a qualidade das matériasprimas, sobre o equilíbrio dos componentes da dieta e, principalmente, sobre a saúde da população microbiana no rúmen. As fezes pastosas ou fluidas, que salpicam facilmente quando caiem no chão, e amareladas, resultam quase sempre de excesso de carbohidratos facilmente fermentescíveis (amido). É a muito conhecida acidose ruminal subclínica. O assunto é demasiado complexo para resumir aqui, mas

importa reter que a fluidez das fezes resulta, essencialmente, de uma transferência de água para o rúmen e intestino devido à acumulação de substâncias com grande poder osmótico (por exemplo, ácido láctico). Muitas vezes estas fezes surgem com pedaços de cereais por digerir, devido ao trânsito mais rápido do alimento e à incapacidade dos microrganismos promoverem a digestão total dos componentes da dieta. Dietas pobres em fibra longa também reduzem a necessidade de ruminação, proporcionando menor aporte de saliva e favorecendo um trânsito mais rápido. Fezes secas e com fragmentos de cereais ou fibra por digerir, podem ser consequência de carência de proteína na dieta. Dos baixos níveis de aminoácidos resultam menos bactérias a

GRAU 2

GRAU 3

Conteúdo em água é elevado. Aspecto homogéneo. Não se distingue matéria vegetal. Não fica qualquer marca no teste da bota. Sinal de acidose ruminal subclínica ou alimentação com muita erva jovem.

Fezes moldadas. Não salpicam e formam montes de 3-4 cm com depressão no cimo. Aspecto homogéneo. Marca da bota pouco evidente e fezes colam à sola. Habituais em vacas de leite em lactação.

GRAU 4

GRAU 5

Fezes bem moldadas e delimitadas. Pode notar-se algum material grosseiro com dimensão superior a 1,5 cm. Sola da bota fica bem marcada e poucas fezes vêm presas na sola. Marca da bota. Normal em vacas secas ou de carne, mas demasiado secas para vacas de leite em lactação.

Fezes secas com material vegetal mais ou menos óbvio. Marca da sola bem evidente e nada fica aderente à sola. No extremo podem surgir como “bolas” semelhantes a fezes de cavalo. Desidratação, íleo paralítico ou alimento muito grosseiro.

RUMINANTES ABRIL . MAIO . JUNHO 2018 63


SAÚDE E BEM-ESTAR ANIMAL

multiplicarem-se no rúmen e por isso menor capacidade para digerir eficientemente e a tempo os componentes da dieta. Grãos de milho inteiros nas fezes também pode ser sinal de silagens feitas tardiamente quando a planta já está em estado avançado de maturação. Por outro lado, dietas demasiado ricas em proteína, especialmente se associadas a trânsito demasiado rápido, favorecem uma digestão a nível intestinal ao invés de ruminal. Deste facto resultam fermentações com produção de muito gás a nível do intestino grosso, o que conduz à produção de fezes leves e espumosas. Finalmente umas palavras sobre falsas diarreias que ocorrem quando os bovinos pastam grandes quantidades de erva jovem. A ideia de que isso resulta da grande percentagem de água na erva do início da primavera é falsa. A verdadeira causa tem a ver com elevados níveis de potássio e outros minerais que exercem uma pressão osmótica no sentido de transferência de água para o interior do trato gastrointestinal.

Causas infeciosas e parasitárias O termo diarreia deve ser usado apenas para casos de fezes líquidas como consequência de infeções. Ou seja, diarreia é sinal de doença. Não existem muitas causas bacterianas de diarreia em ruminantes adultos. As mais comuns são as que ocorrem na paratuberculose e na salmonelose. No primeiro caso o animal mantém o apetite e a diarreia é crónica (permanente) com fezes esverdeadas completamente líquidas. No caso da salmonelose, há sinais sistémicos de doença e fezes com sangue, muco e mau cheiro. Também algumas viroses

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podem alterar as fezes dos ruminantes adultos. É o caso da Disenteria de Inverno que causa uma diarreia extensa com muito sangue e o BVD que, nos animais não vacinados, apenas causa uma ligeira diarreia. Ambas são auto-limitantes, não necessitando de tratamento. Finalmente temos as causas parasitárias que podem ser de vários tipos e graus de gravidade – com sangue, no caso da coccidiose, ou líquidas, esverdeadas e prolongadas, no caso de vermes gastrointestinais (Ostergia ostertagi é o principal parasita causador de gastroenterite em bovinos). Normalmente estes animais estão em pastagem e apresentam mau pêlo, atraso de crescimento e outros sinais clínicos. De referir que todas as diarreias que referimos neste grupo devem ser motivo de preocupação e alvo da atenção de um clínico médicoveterinário para instituição de tratamento e de medidas profilácticas.

Causas tóxicas Neste grupo englobam-se muitas causas diferentes e é talvez aquele que inclui as mudanças cuja origem é mais difícil estabelecer. A alteração das fezes pode surgir de forma fulminante e acompanhada de outros sinais (perda de apetite, fraqueza, prostração, sinais neurológicos, etc…) ou ter um carácter mais insidioso e crónico, podendo até dar a ideia das fezes serem normais devido à habituação. Os primeiros casos costumam associar-se à ingestão acidental de plantas tóxicas, metais pesados e outras substâncias químicas tóxicas (por exemplo, cobre, arsénio, crómio), e portanto conhecer o historial dos animais afetados é extremamente importante. No grupo das modificações menos drásticas encontramse contaminantes dos alimentos como fungos e

FIGURA 1 Fezes que salpicam a grande distância num caso de acidose ruminal sub-aguda.

as suas toxinas, que podem dar origem a fezes mais moles e escuras. Apesar destas alterações poderem ser mínimas devem ser identificadas e interpretadas já que as consequências podem ser graves – baixa produção, infertilidade e contaminação do leite com aflotoxinas.

Outras causas Por vezes o aspecto das fezes podem indicar alterações físicas e mentais nos animais e que interessa diferenciar nem que seja para poder descartar as causas mais sérias que acima se referiram. É o caso de stress. Animais submetidos a fatores que causem medo e ansiedade poderão sofrer um aumento significativo do peristaltismo intestinal, não havendo tempo para a reabsorção adequada e suficiente da água no intestino grosso. Por outro lado, uma série de doenças não infeciosas podem causar alterações das fezes que até ajudam no diagnóstico precoce da doença. É, por exemplo, o

caso do deslocamento do abomaso em que as fezes são mais escassas e podem ser mais fluidas ou da amiloidose, em que a diarreia se parece com a da paratuberculose. É ainda o caso da presença de sangue digerido, proveniente, por exemplo, de úlceras do abomaso, em que as fezes são muito escuras, quase pretas, e com mau cheiro. As fezes podem, nestes casos, alertar precocemente o tratador para que procure imediatamente assistência competente. As hipóteses de sucesso terapêutico são, obviamente, muito maiores. Neste pequeno espaço não foi possível descrever em maior pormenor as alterações e os mecanismos de detrás dessas modificações. No entanto, se este texto servir para mostrar como olhar as fezes não é tempo perdido e que muito se depreende de um bom exame das fezes, então não foi tempo perdido para o leitor Em suma, todos lucramos quando percebemos o que as fezes nos estão a dizer.

NOTA O autor escreveu este artigo segundo o Antigo Acordo Ortográfico.


TEMPO DE PROTEGER O PODER DA PREVENÇÃO

PT/BOV/0817/0003

Se é um produtor de ruminantes, não lhe é estranho o desafio de combinar a saúde animal com a produção sustentável de leite ou de carne de qualidade. Atualmente os produtores enfrentam preocupações crescentes com a qualidade dos alimentos e com os métodos de produção, por parte dos consumidores, da distribuição e das empresas processadoras de alimentos. Isso tem naturalmente um impacto no funcionamento de uma exploração moderna. “Tempo de Proteger” é uma iniciativa destinada a apoiar os produtores modernos com informação e partilha de experiências sobre como a vacinação preventiva pode melhorar a produtividade e a saúde animal.

Para mais informação sobre Tempo de Proteger, visite www.timetovaccinate.com


MSD lança a campanha “Tempo de Proteger” Entrevista a Teresa Cabrita, Marketing Services e André Preto, Technical Services da MSD ANIMAL HEALTH. POR RUMINANTES

Como empresa farmacêutica, a MSD Animal Health está consciente da importância da biossegurança nas explorações animais. Por outro lado, a empresa sabe que existe uma exigência crescente por parte dos consumidores em relação à carne e ao leite que compram nomeadamente no que se refere às questões dos antibióticos e do bem estar animal. Foi por isso que decidiu pôr em marcha uma campanha a que chamou “Tempo de Proteger”. Lançada em janeiro passado junto de uma vasta assembleia de médicos veterinários ligada à produção pecuária, esta campanha tem por objetivo sensibilizar veterinários e produtores a adotarem novas práticas e comportamentos na produção de ruminantes.

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O que levou a MSD Animal Health a realizar esta campanha e este evento, bastante diferente daquilo a que estamos habituados a assistir em Portugal? A estratégia da MSD Animal Health ao longo dos anos em Portugal tem sido muito mais do que apenas procurar a promoção dos seus produtos. Acreditamos que é muito importante dar ferramentas ao Médico Veterinário (MV) para que este possa ajudar os seus produtores. Isto não passa apenas por dar formação técnica, mas também identificar as várias realidades existentes no mercado, de modo a que todos prestem os seus serviços da melhor maneira e consigam apoiar eficazmente os produtores. Para além das ferramentas técnicas que disponibilizamos, queremos apoiar o MV e promover a mudança dos comportamentos de todos os agentes do mercado.

Que feedback de campo obtiveram da parte dos produtores? Não obtivemos feedback dos produtores pela simples razão de que este evento apenas se destinou a MV. Fizémos um questionário e as respostas foram muito favoráveis: o evento excedeu as expetativas para mais de 50% dos MV, todas as comunicações tiveram uma avaliação superior a 7 (numa escala de 0 a 10) e no geral os presentes consideram o tema extremamente relevante. Tivemos também muitas sugestões, para próximos temas: biossegurança, imunologia, diagnóstico e monitorização, prevenção focada nas nas diferentes áreas (recria, peri-parto, ..) e segmentos de produção (leite, extensivo e engorda), estratégias para redução da utilização de antibióticos, entre outras. O pequeno workshop dirigido para a parte comportamental “foi a componente


SAÚDE E BEM-ESTAR ANIMAL mais valorizada. Os MV podem fazer as recomendações certas mas, por algum motivo, as pessoas não mudam os seus comportamentos. “Por que é que eu faço recomendações ano após ano e parece que e cai em saco roto?” “O que é que eu posso fazer de forma diferente para obter uma atenção de qualidade dos produtores e os levar a adotar uma postura diferente?” As reflexões e o treino em volta deste tema foram bastante apreciados. Que áreas concretas é que as pessoas têm de melhorar para ter programas vacinais mais efetivos? Uma área é, não pensar que o facto de estar a vacinar os animais vai resultar numa eficácia de 100% ou seja, a vacinação deve ser integrada num plano de controlo que deve ser elaborado em conjunto com o MV. Outra, é abdicar da vacinação com o argumento de que o rebanho está serologicamente negativo e portanto sem correr grande risco, logo, não necessitando de continuar a ser vacinado para manter o seu grau de proteção, ou seja, deve sempre ter-se em conta o contexto em que se está inserido e a biossegurança de cada exploração antes desta tomada de decisão. Que ações concretas estão a desenvolver para divulgar junto do produtor pecuário as mensagens contidas na campanha “Tempo de Proteger”? A reunião de lançamento realizada foi apenas o pontapé de saída desta campanha, serviu para contextualizar a campanha a desenvolver: estamos na eminência de ficar sem o recurso a boa parte dos antibióticos atualmente disponíveis, há novidades no campo da imunologia e há que modificar comportamentos nos MV e seus produtores. Neste momento já temos um conjunto de ações com os MV de extensivo e leite os seus produtores. Um dos princípios inerentes a este projeto é que queremos levar este conceito aos produtores sempre através dos seus MV. Por isso será através de eventos realizados pelo país fora com os MV que acham este é o caminho para eles e para os produtores a quem prestam serviço. O que vamos fazer nestas ações é falar de biossegurança adaptada a cada segmento de produção e contexto e depois, mais especificamente, de “Tempo de Proteger” para aquilo que são as necessidades mais emergentes dos nossos clientes. O pilar da biossegurança é fundamental para que as nossas vacinas tenham os resultados que são esperados. Por exemplo, para os produtores que estão preocupados com a exportação de animais, vamos falar de IBR e BVD.

Por vezes, quando se procede a uma vacinação, parece que não se encontram reunidas todas as condições para que os animais tenham uma resposta imunitária adequada. Uma delas refere-se à nutrição. Tencionam sensibilizar para a importância deste fator na resposta imunitária às vacinações? Abordamos sempre essa questão em função de circunstâncias concretas. Por exemplo, no caso do préacondicionamento de bezerros de carne e no caso dos planos de vacinação para as diarreias neonatais, em que não podemos esperar uma boa produção de colostro, rico em anticorpos vacinais, se as progenitoras se encontrarem em má condição corporal e a sua alimentação for energeticamente pobre. Sabemos que a função imunitária é altamente consumidora de energia. Lembro-me até de uma história curiosa, há anos atrás vi uma receita em que um MV prescrevia uma vacina e anotava em maiúsculas “DAR RAÇÃO”… Referiram o pré-acondicionamento de bezerros de carne. Acham que esta campanha poderá ajudar a lançar no mercado português o conceito do préacondicionamento dos bezerros saídos das vacadas de extensivo? Estamos a estabelecer contactos para ligar as pessoas nos diferentes elos da cadeia: a vacada, os engordadores e os agrupadores de animais para a exportação. Para sensibilizar que quem está a jusante também vai beneficiar se for feito um trabalho de preparação e vacinação dos bezerros na sua origem, na vacada. É importante fazer compreender que todos os elos da cadeia vão ganhar com o retorno desse investimento. Como é que o “Tempo de Proteger” pode contribuir para a diminuição da utilização de antibióticos em produção animal? Animais protegidos são animais que adoecem menos e que vão precisar de ser muito menos tratados com antibióticos. Animais em que os antibióticos básicos, aqueles que não serão excluídos, potencialmente funcionarão com muito maior facilidade na cura de doenças. Tem vindo a aumentar a exigência dos consumidores no que respeita à produção de carne de bovino e leite livres de antibióticos e produzidos segundo as regras de bem estar animal. A questão ética hoje em dia ainda parece um luxo, mas vai ser um “factor higiénico” para quem quiser estar nesta indústria. Por isso, do ponto de vista ético, a coisa certa a fazer é evitar o sofrimento dos animais através da alimentação, instalações e transporte adequados e também

pela prevenção das doenças que hoje já conseguimos prevenir. Os consumidores esperam isto. Quem começar agora estará mais à frente. As pessoas não se querem sentir culpadas por consumirem carne ou beberem leite. Como é que “Tempo de Proteger” pode ajudar à exportação nacional de novilhos de carne? A exportação afeta um volume muito elevado de novilhos produzidos em Portugal. Em 2017 exportámos cerca de 120 mil animais. As barreiras sanitárias são também barreiras comerciais. Por exemplo, Marrocos é muito exigente quanto aos Certificados Sanitários de exportação. Já a vizinha Espanha, o nosso tradicional mercado de exportação, até agora não tinha exigências para além das doenças de controlo oficial (tuberculose, brucelose, língua azul). Contudo, a partir do próximo dia 1 de janeiro de 2019, vai ser implementado em Espanha um programa nacional de erradicação e controlo do IBR baseado em análises ao sangue e em que se tornará necessário diferenciar os animais infetados dos animais vacinados. Isso vai proibir o uso de vacinas não marcadas para o IBR, em bovinos. Os bezerros nascidos a partir de julho próximo, de mães vacinadas em algum momento da sua vida com vacinas não marcadas para IBR, correm o risco de lhes ser barrada a entrada em Espanha, situação idêntica ao que já se passa com Marrocos. A campanha “Tempo de Proteger” vai ajudar os Médicos Veterinários a sensibilizar os seus produtores em relação às exigências sanitárias e de vacinação para os vários mercados de exportação, nomeadamente para Espanha.

Biossegurança Como empresa farmacêutica sentimos a responsabilidade de promover o conceito da biossegurança. Temos produtos muito bons mas há algo que não podem fazer - milagres. As vacinas não são uma solução única e devem estar integradas num plano de controlo. O papel da biossegurança é fundamental nas explorações. A vacinação, dentro dos programas profilácticos, é uma ferramenta incluída dentro da biossegurança. É apenas um degrau na escada.

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SAÚDE E BEM-ESTAR ANIMAL

Biossegurança na exploração POR MARGARIDA CARVALHO, MÉDICA VETERINÁRIA

Pessoas, vestuário, equipamento e transportes podem pôr em risco a exploração Quando falamos em biossegurança nem sempre nos lembramos que podemos ser nós, o nosso vestuário, calçado e meio de transporte a contribuir para a disseminação de doenças que afetam os animais.

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A biossegurança é a primeira linha de defesa de uma exploração. Consiste num conjunto de medidas que visa reduzir o risco de introdução de doenças na exploração. Se pensarmos que no dia-a-dia uma exploração pode receber visitas de várias pessoas e que essas mesmas pessoas, os seus equipamentos e veículos visitam outras explorações e estão em contacto com outros animais, percebemos a importância de adotar medidas de biossegurança no que diz respeito a estas visitas. Pensemos nas visitas de médicos veterinários, técnicos de inseminação, distribuidores de rações, comerciais, técnicos de manutenção de equipamentos e edifícios, veículos de transporte de animais, veículos de transporte de cadáveres, entre outros. A maioria destes intervenientes circula entre várias explorações e deve por isso cumprir regras de biossegurança durante as visitas.

COMO PODEMOS ENTÃO REDUZIR O RISCO? A primeira medida de biossegurança a adotar será reduzir as visitas à exploração ao mínimo indispensável. Todas as visitas essenciais à exploração devem ser controladas e devidamente registadas. Para esse efeito a exploração deve ter um número mínimo de pontos de entrada para que os mesmos sejam devidamente controlados. Além disso, nem todas as visitas precisam de ter acesso a todas as áreas da exploração, podendo restringir-se o acesso às áreas onde estão os animais. Relativamente aos veículos, o percurso


SAÚDE E BEM-ESTAR ANIMAL

que devem percorrer bem como a zona de estacionamento devem estar estabelecidos e ser tão longe da zona onde estão os animais quanto possível. Idealmente, os trajetos a percorrer por estes veículos não devem cruzar-se com os trajetos a percorrer pelos veículos da exploração. Os veículos devem apresentar-se limpos e sempre que possível deve procederse à limpeza das rodas. A zona onde é feita esta limpeza deve ter um sistema de escoamento de água. A zona de carga de animais vivos deverá estar definida bem como a zona de carga de cadáveres. Todos os visitantes devem ser encorajados a utilizar equipamento de proteção limpo ou descartável. Os visitantes devem ter acesso a zonas onde possam vestir estes equipamentos e higienizar as botas, antes de terem contacto com a zona onde estão os animais, e depois de saírem. Assim, não só estarão a proteger a exploração em causa bem como as explorações que irão visitar depois. A existência de pedilúvios por si só não é uma garantia de biossegurança, os mesmos devem estar sempre limpos, ter os produtos de limpeza e desinfeção necessários e o utilizador deve usar uma escova para retirar os detritos dos sapatos. Com alguma frequência existe equipamento partilhado entre explorações, como por exemplo o equipamento trazido pelo médico veterinário, este deverá ser sempre corretamente higienizado. Também o próprio produtor e pessoas que trabalhem

diariamente na exploração devem cumprir regras de biossegurança. O vestuário e calçado de trabalho deverá ser limpo e não deverá ser usado fora da exploração, principalmente em locais onde existam outros animais. O produtor deverá ainda ter em conta que animais doentes e animais em quarentena precisam de uma atenção redobrada, tendo o cuidado de utilizar um vestuário diferente e higienizar corretamente o calçado antes e depois do contacto com estes animais. O equipamento que contacta com estes animais deve também ser corretamente desinfetado após utilização. Uma forma de reforçar as medidas de biossegurança implementadas é recorrer a sinalética, informação visual, que reforce as regras que foram determinadas para a exploração. Relembramos que estas medidas, devem ser implementadas de forma consistente sem exceções.

Como produtor tem o direito e o dever de proteger a sua exploração, aconselhe-se com o médico veterinário responsável sobre a melhor forma de o fazer!

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Não foram incluídas por uma questão de espaço editorial, mas a autora disponibiliza bastando enviar um email para geral@revista-ruminantes.com.

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Consequências das coxeiras em vacas leiteiras Passar vacas de pastagens, para pavimentos de cimento, ou fazer as vacas andar grandes distâncias sobre superfícies irregulares, são formas certas de termos vacas coxas. O PROBLEMA DAS CLAUDICAÇÕES Para uma produção leiteira sustentável, é essencial implementar medidas preventivas para minimizar as claudicações, monitorizar frequentemente o aparecimento de novos casos e tratar vacas coxas precocemente. É fácil de perceber porquê. Em primeiro lugar porque as claudicações são uma importante razão para o refugo de vacas: 4,4% das vacas refugadas num estudo americano10, 5,9% das vacas refugadas num estudo sueco1 e 11% das vacas refugadas num estudo português3. Em segundo lugar, porque as claudicações são uma doença muito cara. Os custos médios de um episódio de claudicação foram

RICARDO BEXIGA FACULDADE DE MEDICINA VETERINÁRIA, UNIVERSIDADE DE LISBOA SERBUVET

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recentemente calculados nos EUA como sendo de 154€ em novilhas e 277€ em vacas multíparas14. Estes custos incluem o decréscimo na produção leiteira, o custo da mão-de-obra extra do produtor e do veterinário, o aumento do refugo, mas também custos que não são tão óbvios tais como o custo da perda de fertilidade. A fertilidade é afetada por diminuição da expressão dos comportamentos de cio23, diminuição das dimensões dos folículos ováricos e das concentrações da hormona estradiol17, e em conjunto com outras doenças inflamatórias de origem não uterina, pela diminuição da viabilidade do embrião inicial20. As claudicações são também muito frequentes. A prevalência reportada na literatura científica inclui 36% dos animais em efetivos Austríacos21, 36,8% em efetivos da Inglaterra e País de Gales2, 37,3% em efetivos norte-americanos4 e 8,3% na Nova Zelândia8. Estes são números impressionantes: provavelmente não é exagerado dizer que em qualquer altura, um terço do efetivo mundial de vacas leiteiras se encontra coxo. Isto significa que as claudicações têm

um enorme impacto económico globalmente, através do decréscimo da fertilidade, decréscimo da produção leiteira e custos de tratamento. Também significa que provavelmente um terço da população mundial de vacas leiteiras está sujeita a dor crónica, que

causa locomoção alterada e redução do bem-estar animal. Isto representa uma falha para a produção global de gado e tem fornecido argumentos contra o consumo de leite a intervenientes em redes sociais, jornalistas, consumidores e decisores com foco no bem-estar animal.

CAUSAS E FATORES DE RISCO Existem vários fatores de risco para as claudicações descritos na literatura. As claudicações podem ocorrer devido a causas infeciosas levando à dermatite digital, dermatite interdigital e necrobacilose interdigital, ou devido a causas traumáticas, levando a úlceras da sola, lesões da linha branca e necrose do dígito. A dermatite digital ocorre mais frequentemente em vacas alojadas em cubículos do que em vacas alojadas em cama livre. No caso de animais alojados em cubículos, tende a ser mais frequente com cubículos mais curtos e estreitos. Instalações com pior higiene ou com pavimentos húmidos também têm sido associadas a uma maior prevalência de dermatite digital. A biossegurança desempenha um papel importante na

prevenção desta doença. A compra externa em vez da recria do efetivo de substituição e a contratação de técnicos exteriores para aparar cascos estão associados a um risco mais elevado de ocorrência de dermatites digitais19. As causas não infeciosas de claudicações foram associadas a um aumento do tempo que as vacas passam de pé e as superfícies abrasivas no pavimento onde estas se encontram7. A redução do tempo que as vacas estão deitadas resulta normalmente de cubículos de dimensões incorretas, sobrepopulação, superfícies rijas para os animais se deitarem ou superfícies das camas com insuficiente manutenção. É possível avaliar o conforto dos cubículos fornecidos aos bovinos, entre outras formas, pela avaliação da


SAÚDE E BEM-ESTAR ANIMAL

proporção de animais que em horário de repouso (por exemplo 2 horas antes da ordenha) estão deitadas nos cubículos, a dividir pelo número de animais que estão a tocar na superfície dos cubículos. Este é o chamado índice de conforto das vacas, e deve ser superior a 85%6. A superfície onde os animais estão de pé também afeta a prevalência de lesões de natureza traumática nas úngulas. A utilização de tapetes de borracha em vez de cimento em áreas onde os animais caminham ou estão de pé, reduz o risco de novos casos de claudicação devido à redução no traumatismo e desgaste, melhorando também a locomoção das vacas coxas devido à diminuição no impacto e melhoria na tração7. Para os animais que estão alojados em pavilhões, o acesso a uma zona exterior de exercício ou um período do ano passado na pastagem podem reduzir a prevalência de lesões podais22. Existem alterações hormonais na altura do parto que parecem facilitar o aparecimento de coxeiras através do afundamento de um osso no interior do casco, a terceira falange, que leva a um aumento da pressão sobre o córion

FIGURA 2 Nas fotos 1 e 2 é possível ver imagens dos ossos existentes no interior do casco de animais normais, enquanto que na 3 e 4 é visível o desenvolvimento de osso novo, em consequência de episódios de claudicação (foto de Newsome e colegas, 2016)

subjacente, a estrutura que produz o estojo córneo da unha, levando por consequência a úlceras da sola11. Estas mudanças na elasticidade do tecido que compõe os ligamentos parecem ser inevitáveis, uma vez que fazem parte da normal preparação da vaca para o parto. Fatores dietéticos também foram reportados como sendo protetores ou causadores de coxeiras. A acidose ruminal já foi apontada como um fator de risco para a ocorrência de laminites, levando a coxeiras, mas existe falta de consenso acerca deste assunto. Está bem estabelecido que a acidose ruminal aguda provoca laminite, mas a acidose ruminal subaguda não tem sido significativamente associada a um aumento de claudicações5.

3ª falange

Córion (tecido produtor da parte córnea do casco)

Almofada digital

Foi demonstrado que suplementações com biotina, cobre, cobalto e zinco melhoram a saúde dos cascos18. Uma das áreas que mais atenção tem gerado em investigadores é o papel da almofada digital na claudicação (figura 1). Esta estrutura é composta maioritariamente por tecido adiposo e está situada debaixo da terceira falange, funcionando como um amortecedor para o córion adjacente. Vacas com úlceras da sola e defeitos na linha branca estão mais frequentemente associadas a almofadas digitais mais finas. Condições corporais baixas e perda de condição corporal foram identificados como fatores de risco para as coxeiras e para o aparecimento de lesões nas úngulas de causas não infeciosas16. O risco de lesões nas úngulas de causas não infeciosas aumenta com o número de lactações em vários estudos. O desenvolvimento de novo osso (figura 2) parece explicar, pelo menos em parte, este aumento das coxeiras com a idade, já que vacas mais velhas têm terceiras falanges mais espessas. As coxeiras também

FIGURA 1 Corte de casco de vaca mostrando a localização da almofada digital, que funciona como amortecedor e cuja espessura varia consoante a condição corporal do animal (foto Universidade de Nottingham, Dairy Herd Health Group).

levam a um aumento na espessura da terceira falange, o que traduz bem a necessidade de um tratamento rápido assim que a coxeira é detetada15.

BARREIRAS À PREVENÇÃO E CURA A prevalência das claudicações permanece elevada apesar de muitos dos fatores de risco para a ocorrência destas terem sido identificados de forma bem sucedida. Isto provavelmente acontece devido a barreiras tanto à prevenção como à cura de vacas coxas. Uma das principais barreiras à gestão das claudicações é a perceção que as pessoas que lidam com os animais têm sobre as coxeiras. Em estudos realizados em diversas partes do mundo, a deteção das coxeiras realizada pelas pessoas que lidam com os animais tende a ser significativamente inferior à deteção das coxeiras realizada por investigadores, de acordo com a pontuação da locomoção dos animais. Um investigador na Nova Zelândia, reportou que numa amostra de produtores daquele país, apenas 27,3% dos casos de claudicações estavam a ser identificadas de forma bem sucedida8. Outro estudo, realizado no Reino Unido, mostrou que os produtores indicaram uma prevalência média de claudicações de 6,9% das vacas, enquanto os

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SAÚDE E BEM-ESTAR ANIMAL

investigadores mediram uma prevalência de 36,1%12. Este subdiagnóstico das claudicações pode acontecer devido a uma habituação às vacas coxas, que faz com que ao fim de algum tempo estas deixem de ser percebidas como coxas. Outras barreiras a uma eficaz gestão das coxeiras incluem uma falta de equipamento apropriado para lidar com vacas coxas. É necessário investir num tronco, bom material para aparar cascos, já para não falar em formação, para realizar a aparagem de cascos de forma correta, livre de risco para vaca e operador, e regular. Em muitas explorações não existe este tipo de equipamento, e profissionais externos são contratados para vir aparar cascos às explorações a

intervalos regulares. Estes profissionais realizam geralmente aparagem curativa num pequeno número de vacas e aparagem preventiva na maioria das vacas, o que é bom do ponto de vista da prevenção, mas que no caso das aparagens curativas, significa que os casos são muitas vezes tratados várias semanas após os sinais iniciais de coxeira. Tal como noutras doenças em bovinos, existem evidências de que o tratamento precoce das claudicações resulta em taxas de cura mais elevadas, do que quando as vacas são tratadas quando já estão cronicamente coxas9. Um projeto realizado no Reino Unido13 sobre a deteção de claudicações pelos produtores, aumentou a consciência que estes tinham sobre as

consequências das coxeiras em vacas e reduziu a sua tolerância às claudicações. Entre o início e o fim do projeto, observou-se uma redução da prevalência de coxeiras em vacas de 35% para 22%. Apesar da sua importância, uma menor importância dada às claudicações estende-se também a outras áreas, incluindo a área da investigação. Uma pesquisa bibliográfica realizada em 2012 com as palavras “mamite bovina” contabilizou 6510 artigos científicos publicados sobre o assunto, enquanto que a utilização dos termos “claudicação bovina” contabilizou 831 artigos5.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Não foram incluídas por uma questão de espaço editorial, mas a autora disponibiliza bastando enviar um email para geral@revista-ruminantes.com.

CONCLUSÃO As claudicações são muito prevalentes e podem ter consequências dramáticas em termos de bem-estar animal, saúde, produtividade e longevidade. Muitos fatores de risco têm sido identificados e enquanto alguns não são fáceis de ultrapassar, a maioria pode ser resolvida com bom maneio. O reconhecimento que as pessoas que lidam com os animais têm dos casos de coxeiras nem sempre é o melhor, com o subdiagnóstico e a tolerância às coxeiras a levar a tratamentos mais tardios, com taxas de cura mais baixas. É possível, no entanto, alterar a atitude quanto às coxeiras, levando a respostas positivas e diminuição da prevalência das claudicações.

GENOTIPAGEM RUMINAL PODERÁ VIR A SER FATOR DE DECISÃO REPRODUTIVA

BENEFÍCIOS DO LEITE DE PASTAGEM EXULTADOS EM NOVO ESTUDO

Um grupo de investigadores da Universidade de Edimburgo e do Colégio Rural da Escócia conseguiu recentemente mapear geneticamente um número recorde de agentes microbianos do rúmen, abrindo a porta a novas linhas de investigação. Estudos prévios levados a cabo por uma multinacional resultaram numa base de dados pública na qual era apresentada a informação genética de 410 microrganismos, tendo esse número subido agora para 913. A informação recolhida a partir destes agentes poderá, no futuro, vir a ser utilizada na tomada de decisões a nível reprodutivo, nutricional e mesmo na tecnologia dos biocombustíveis. Foram analisadas as microbiotas ruminais de quarenta e três bovinos de carne das raças Limousine, Aberdeen Angus e Charolesa, nas quais os investigadores detetaram a presença de novas enzimas que permitem aos ruminantes maximizar a extração de energia e outros nutrientes a partir de matériasprimas forrageiras. A existência destas substâncias poderá estar relacionada com a seleção reprodutiva que tem vindo a ser feita pelos produtores em busca de melhores performances, a qual poderá também estar a selecionar populações de microrganismos ruminais mais eficientes. O conhecimento detalhado dos microrganismos ruminais e sua influência na produção e performance é algo ambicionado por muitas empresas dedicadas à reprodução, e a escolha de animais destinados com base no genótipo da sua microbiota poderá vir a contribuir para a manutenção da saúde animal e para uma produção mais eficiente.

Um projeto de investigação que reuniu especialistas dos Estados Unidos, Reino Unido, Dinamarca e Austrália sugere que o leite proveniente de animais de pastagem tem 62% mais Ómega-3, um ácido gordo essencial, quando em comparação com o leite proveniente de sistemas mais intensivos. Adicionalmente, o leite de pastagem será mais rico em CLA (Ácido Linoleico Conjugado), ao qual também são atribuídas propriedades benéficas para a saúde humana. A utilização maioritária de forragem na dieta dos animais permitiu enriquecer o perfil de ácidos gordos do leite nestes dois componentes, aos quais estão associados benefícios metabólicos e de saúde cardiovascular, com propriedades benéficas adicionais para as mulheres grávidas e a amamentar, bebés e crianças. Apesar destes benefícios comprovados, estudos prévios mostram que grande parte da população apresenta um consumo deficitário destes ácidos gordos. Apesar de o estudo ter sido bem recebido, há quem o encare com mais cautela. É o caso da NFU Dairy, uma associação de produtores britânicos, a qual defende que não se podem realizar alegações de saúde desta magnitude com base em apenas um estudo, especialmente à luz das exigentes políticas da UE no que toca a este tipo de alegação. A associação relembra ainda estudos realizados nos últimos anos que demonstrariam que o leite de pastagem seria mais pobre em iodo do que o leite produzido noutros sistemas. Apesar desta receção mista aos aparentes benefícios do leite de pastagem, todos parecem concordar numa coisa: independentemente do seu modo de produção, o leite continua a ser um dos alimentos mais ricos do ponto de vista nutricional.

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ATUALIDADES

OS VITELOS TÊM PERSONALIDADE, ANUNCIA ESTUDO

EFETIVOS OVINOS ATINGEM OS NÍVEIS MAIS ALTOS DESDE O INÍCIO DO MILÉNIO A produção ovina britânica está em alta, tendo os efetivos atingido o valor mais alto desde o ano 2000, segundo o Departamento do Meio Ambiente, Alimentação e Assuntos Rurais (DEFRA). Este aumento terá sido impulsionado pelos bons preços da carne de borrego praticados na temporada verão-outono de 2017, tendo a taxa de desmame batido todos os recordes no ano passado. Dados de dezembro do último ano apontavam para 11,3 milhões de cabeças, com um aumento do número de fêmeas reprodutoras e borregos. As reprodutoras chegavam às 6,7 cabeças, com um aumento de dois pontos percentuais (132 000 animais) face ao mesmo período de 2016. Já nos borregos e outros ovinos o aumento foi de 72 000 cabeças, contabilizando 4,5 milhões em finais de 2017. Já os dados em termos de efetivos bovinos parecem ser menos animadores. Em dezembro do ano passado existiam 5,35 milhões de cabeças, um declínio de 0,2% face ao ano anterior, o qual “esconde” quebras mais impressionantes, como a diminuição do efetivo leiteiro com menos de dois anos de idade em 6,4%. Esta quebra terá sido provocada pelos baixos preços do leite em 2015 e práticas de inseminação de fêmeas leiteiras com sémen de touros de aptidão cárnea. De facto, o aumento de fêmeas leiteiras destinadas à produção de animais de carne no país registou um aumento de 3,8% face a 2016, contando com 458 000 cabeças. Este aumento dos animais de carne está de acordo com as previsões governamentais para o ano de 2018.

Parece que os vitelos leiteiros podem ter um de dois tipos de personalidade: ou são otimistas e audazes ou pessimistas e temerosos. Sem meios-termos. Foi o que concluíram investigadores da Universidade da Colúmbia Britânica, uma das dez províncias do Canadá, utilizando para tal uma amostra de vinte e dois vitelos Holstein. Esta é a primeira vez que a ideia de que os vitelos podem ter personalidades distintas é substanciada por dados científicos, e poderá estar aqui uma nova linha de investigação. É isso mesmo que defende Maria von Keyserlingk, que lidera a equipa científica. A tendência geral é a de tratar o efetivo como uma unidade coletiva mas, ao encarar cada animal como um indivíduo único, que lida com o stress de uma forma particular, estar-se-ão a minimizar situações de sofrimento e consequentes quebras de produção. No estudo, os animais foram colocados numa divisão com cinco orifícios na parede. Num dos extremos era fornecida uma garrafa de leite através do orifício, enquanto no outro os vitelos eram “presenteados” com uma lufada de ar. Rapidamente percebendo onde estava a recompensa, os animais concentraramse junto ao orifício onde lhes era fornecido leite. No entanto, após colocação do leite cada vez mais próximo do orifício que os atingia com uma lufada de ar, apenas os vitelos considerados otimistas e ousados continuavam a aproximar-se e a beber o leite fornecido. A associação dos dois traços de personalidade – sociabilidade e medo – foi constante ao longo do estudo, tendo já sido sugerida uma associação semelhante na espécie humana. O próximo passo passará agora pelo estudo de como é que as condições de recria podem ser ajustadas de modo a satisfazer as necessidades dos animais de diferentes personalidades. Poderá ver um pequeno vídeo do estudo no link abaixo: https://www.youtube.com/watch?v=Mn9wxIY5pLU

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Língua Azul Saiba mais sobre esta doença com um forte impacto económico A língua azul ou febre catarral ovina é uma doença viral, não contagiosa, que afeta principalmente ovinos, mas também outros ruminantes domésticos e selvagens. POR MARGARIDA CARVALHO, MÉDICA VETERINÁRIA

Esta doença é transmitida por algumas espécies de mosquitos do género Culicoides. A língua azul está presente em vários países, contudo, está limitada à presença deste mosquito e à sua capacidade de sobrevivência durante os meses frios de Inverno. Os mosquitos infetam-se ao ingerirem sangue de um animal doente, transmitindo depois a doença a outros animais. Este vírus pode também ser transmitido durante a gravidez ou de machos para fêmeas através do sémen, mas estas vias de transmissão são mais raras. É uma doença com um grande impacto económico uma vez que os países

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onde está presente sofrem fortes restrições comerciais e suportam custos com a vacinação e vigilância epidemiológica. A língua azul faz parte da lista de doenças de declaração obrigatória da OIE (Organização Mundial de Saúde Animal). No entanto, não é uma doença que apresente risco para a saúde pública, uma vez que não é possível contrair o vírus através do consumo de leite ou do contacto com animais e a sua lã. A capacidade para causar doença e a gravidade da mesma variam com o serotipo do vírus e com a espécie afetada, sendo geralmente mais grave nos ovinos. Nesta espécie, em animais muito

suscetíveis, a doença pode afetar a totalidade do efetivo. A mortalidade atinge geralmente valores médios entre 2 e 30% mas pode chegar a atingir valores de 70%. Da lista de sinais clínicos que os ovinos podem apresentar fazem parte febre, hemorragias e ulcerações da mucosa oral e nasal, edema dos lábios, língua e mandíbula, salivação excessiva, língua “azul” como resultado da falta de oxigenação dos tecidos, descargas nasais, claudicação, depressão, perda de peso, diarreia, vómito e pneumonia, aborto e alterações no crescimento da lã. Geralmente, os ovinos das regiões onde o vírus é frequente são resistentes à

doença. Todavia, o mesmo não acontece com os animais provenientes de outras regiões que são introduzidos nestas zonas, podendo ficar doentes. Pode também haver introdução do vírus em novas regiões por ação do vento sobre mosquitos infetados. Os bovinos funcionam frequentemente como reservatório do vírus uma vez que embora doentes durante várias semanas, podem não apresentar sinais e contribuir para a infeção dos mosquitos. Alguns serotipos podem, porém, causar sinais clínicos evidentes nesta espécie. Após suspeita de língua azul, o diagnóstico é feito por exames laboratoriais. Infelizmente, não existe um tratamento


SAÚDE E BEM-ESTAR ANIMAL

especifico para a doença. O controlo e a prevenção da língua azul devem ser feitos através da identificação e vigilância de animais suscetíveis e potencialmente infetados, quarentena e restrição de movimentos durante o período de maior atividade do mosquito vetor, identificação de zonas onde ocorre a doença e vacinação dos efetivos. Importante também é o controlo do vetor, feito pela aplicação de inseticidas e repelentes* nos animais e ambiente. Uma vez que o período diário de maior atividade dos mosquitos é ao amanhecer e ao final do dia, durante esses períodos os animais devem ser alojados em locais protegidos com redes mosquiteiras e com inseticidas. Possíveis habitats do vetor como águas paradas, devem ser destruídos sempre que possível. AF_Imprensa_210x148_Calform.pdf

A vacinação pretende quebrar o ciclo entre o animal infetado e o mosquito culicóide. Para que seja eficaz na proteção dos animais, é essencial usar uma vacina adequada ao/s serotipo/s do vírus que circulam na região.

EM PORTUGAL ENCONTRA-SE ATUALMENTE EM CIRCULAÇÃO EXCLUSIVAMENTE O SEROTIPO 1 DA LÍNGUA AZUL NA TOTALIDADE DO TERRITÓRIO CONTINENTAL. PARA OVINOS É OBRIGATÓRIA A VACINAÇÃO (PRIMOVACINAÇÃO OU VACINAÇÃO 1

21/06/17

ANUAL) CONTRA ESTE SEROTIPO DE TODOS OS ANIMAIS DO EFETIVO REPRODUTOR ADULTO BEM COMO JOVENS DESTINADOS À REPRODUÇÃO A PARTIR DOS 6 MESES DE IDADE, NOS CONCELHOS E FREGUESIAS REFERIDOS NO EDITAL EM VIGOR (ATUALMENTE EDITAL Nº46*). A vacinação de bovinos e ovinos não abrangidos pelas condições anteriores é facultativa e deve ser registada. A vacinação contra outros serotipos necessita de autorização e deve também ser registada.

As vacinas permitidas estão disponíveis no website da DGAV e a sua administração e aconselhamento deverá estar a cargo do médico veterinário. Existem também restrições ao movimento de animais, embriões, sémen e óvulos provenientes da região afetada que deverão ser consultados no Edital em vigor. Em Novembro de 2017 Portugal declarouse livre do serotipo 4 com o levantamento da respetiva zona de restrição e condicionantes relativas ao movimento de animais bem como a obrigatoriedade de vacinação para este serotipo. As regiões autónomas dos Açores e da Madeira são regiões livres de língua azul.

* informação disponível no site da Direcção Geral de Alimentação e Veterinária (DGAV) www.dgv.min-agricultura.pt

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ATUALIDADES

50º ANIVERSÁRIO DA NANTA

Meio século de compromisso com a evolução da nutrição animal e a sustentabilidade da agricultura ibérica A Nanta, empresa líder no fabrico e comercialização de alimentos compostos para animais na Península Ibérica, completa, em 2018, 50 anos de compromisso com uma nutrição de alta qualidade para um amplo leque de espécies de produção e animais de companhia. Desde 1968, quando iniciou a sua actividade, a empresa fez sempre um esforço contínuo pelo desenvolvimento tecnológico, criando programas de I+D+i e de qualidade, que se tornaram um verdadeiro motor de avanço no sector industrial de alimentos compostos para animais. Pedro Cordero, director geral da Nanta, sente-se orgulhoso porque a Nanta se posicionou, durante todos estes anos, como “um pilar” nos resultados da empresa holandesa de alimentação animal Nutreco, da qual faz parte. “Isto deve-se a vários factores – afirma – mas um fundamental é a nossa aposta em produtos inovadores, que permitem, hoje em dia, uma produção animal eficiente, rentável e sustentável. Sem esquecer – explica - a experiência da empresa em modelos preditivos únicos, que permitem tomar decisões chave, evitando o custoso ensaio de hipótese-erro, para a gestão eficiente das

explorações agro-pecuárias”. Nutrição, inovação, segurança alimentar e serviço (incluída aqui a assistência técnica, graças a uma equipa profissional do mais alto nível), são eixos fundamentais do programa “Nanta Trust” que têm sido a chave do sucesso da Nanta para “alimentar crescimento” durante todos estes anos; o crescimento dos animais, mas sobretudo, o crescimento, a profissionalização e a sustentabilidade das explorações agro pecuárias às quais presta serviços. Inserida na multinacional Nutreco, juntamente com a Skretting (alimentação para aquacultura), Trouw Nutrition (especialidades para rações, pré-misturas e serviços nutricionais para a indústria de nutrição animal), Inga Food (produção suína) e o Grupo Sada (processamento avícola), a Nanta conta actualmente com 19 centros de produção dotados de tecnologia de ponta e certificados na norma ISO 14001 - meio ambiente - e

na OHSAS18000 - prevenção de riscos no trabalho, entre outras. A destacar a certificação ISO 22000 de Segurança Alimentar, garantia de segurança e de qualidade dos produtos da empresa. No seu portfólio de mais de 200 produtos encontram-se alimentos para cerca de 30 espécies produtivas, desde suínos - branco e ibérico, bovinos de carne e de leite, ovinos e caprinos, coelhos, vários tipos de aves e alimentação para cães, gatos, cavalos e outros animais domésticos. A empresa espera celebrar estes cinquenta anos de história ao longo de 2018 com funcionários, clientes e o sector em geral, tendo ocorrido a primeira celebração oficial no passado dia 9 de Março em Madrid, numa convenção que contou com cerca de 1200 pessoas entre distribuidores e pessoal interno de toda a Península Ibérica.

A ESCASSEZ DE VITAMINA A e E PODE LEVAR AO AUMENTO DE PREÇOS DOS ALIMENTOS PARA ANIMAIS A indústria que produz alimentos para animais enfrenta graves problemas perante a escassez das vitaminas A e E na sequência de uma explosão numa fábrica de uma das empresas lideres na produção de vitaminas para a alimentação, a BASF, e do encerramento de uma fábrica na China. A fábrica alemã da BASF, em Ludwigshafen, onde decorreu o incidente em outubro do ano passado produzia um componente chamado Citral, essencial

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na produção na produção das vitaminas A e E. A BASF é responsável por mais de 40% da produção mundial destas duas vitaminas. Como consequência das duas situações, o preço destas vitaminas no mercado disparou e a indústria dos alimentos para animais foi mesmo aconselhada a diminuir a concentração destes nutrientes na sua formulação. Para o produtor esta crise poderá ter como consequência um aumento do

preço de alimento para os animais ou ainda a utilização de formulações mais pobres do ponto de vista nutricional. Uma dieta que não cumpra os requisitos necessários destes nutrientes pode por em causa o normal desenvolvimento e a saúde dos animais. A BASF disponibilizou um website onde publica informação atualizada sobre as previsões para o recomeço da produção de Citral e vitaminas. https://nutrition.basf.com/en/Citral-plant.html



PRODUTO

Nova sala de ordenha e sistema de flushing

Um investimento certeiro

IMAGEM 1 Sala de ordenha de inspiração americana modelo global 90 multiline da GEA.

POR RUMINANTES

Fomos conhecer a exploração de Manuel Miranda e da sua família. Em 2015 fizeram um grande investimento na exploração: adquiriram uma sala de ordenha de inspiração americana modelo global 90 multiline da GEA (imagem 1) e instalaram um sistema de flushing na sala de espera e de tratamento. Enquanto esperamos por Fernando Miranda que está a ajudar a carregar um transporte de animais, observamos a exploração e abrigamo-nos da chuva. “Vem em boa hora”, desabafa Manuel Miranda ao passar por nós. Foi precisamente Manuel Miranda quem iniciou esta exploração há aproximadamente 54 anos. Na altura adquiriu num mercado uma novilha gestante que teve logo no primeiro parto uma vitela. Após a primeira vitela veio mais uma novilha ou duas e foi evoluindo. Em 1985 já tinha cerca de 65 vacas em ordenha e foi nessa altura que adquiriu este terreno com aproximadamente 9 hectares. Atualmente a exploração tem 500 vacas em ordenha e cerca de 1100 cabeças no total. As vitelas e novilhas estão em Aljustrel noutra exploração da família. É lá que fazem a recria e são inseminadas para voltarem a esta exploração por volta dos 7 meses de gestação. Conta-nos finalmente Fernando Miranda de uma forma descontraída e simpática nos recebe no seu escritório. Atrás dele observamos vários prémios conseguidos em concursos. A exploração está atualmente a seu cargo

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e do seu irmão Manuel António Miranda e nela trabalham também os seus pais e mais nove trabalhadores. Tem vários tipos de estabulação: em cama de areia, tapete e cama livre. “Produzimos em média 34 litros/vaca/dia com 3 ordenhas por dia” acrescenta. A quem vendem o leite? Vendemos uma parte à Lacticoop outra parte à JMlacticínios e a dois queijeiros que levam entre 3000 e 6000 litros por semana nesta altura mas no verão levam o dobro. Em termos de doenças o que o preocupa aqui na exploração? Preocupa-me não termos as condições de bem-estar ideais para o atual número de animais da exploração. Isto manifesta-se no número de células somáticas e no número de mamites. Estas últimas são um problema que dá prejuízos enormes enquanto eu não conseguir reduzir o efetivo ou construir um novo pavilhão para que possa ter os animais em melhores condições de bem-estar. Tenho a perfeita noção que hoje poderia ter mais 3 ou 4 litros por vaca dia se as condições fossem melhores. Mesmo com menos animais acabava por ganhar mais dinheiro. O Programa GEA da nova sala de ordenha dá-nos uma previsão do número de animais que teremos em ordenha daqui a 6/7 meses. E nós tínhamos

esses números, mas não consegui vender as novilhas que tinha previsto e acabámos por ter mais animais à ordenha do que esperávamos. E são todas novilhas nossas, não entra nada de fora. Já nos falou nos diferentes tipos de cama que tem na exploração, tem notado diferenças entre eles no que diz respeito a estes problemas? Sim, eu não tenho dúvidas que até agora a cama de areia é a que tem tido melhores resultados. Investiu numa sala de ordenha há cerca de 3 anos (2015) e também no flushing de limpeza do parque de espera e sala de tratamentos, o que o levou a fazer esse investimento? Já fazia 3 ordenhas antes deste investimento? Não, fazia duas ordenhas. O que nos levou a fazer este investimento foi decidirmos se queríamos continuar no negócio ou não. Nós tínhamos uma sala de 9x2 em espinha de peixe com cerca de 360 animais em ordenha e demorávamos 24h com duas ordenhas. Um sistema completamente obsoleto que não recolhia qualquer tipo de informação. A única informação que trabalhávamos era o contraste leiteiro. Para terem uma ideia, estávamos com bem perto dos 500 dias de intervalo entre partos. Só conseguíamos ir aos 28 litros por vaca/


PRODUTO

dia, mesmo nas alturas com maior numero de partos. Isto não tinha futuro. A sala de ordenha era algo que ou investíamos ou ficávamos pelo caminho. E em boa hora fizemos, porque o que eu tenho reparado é que foi um investimento belíssimo. Se antes tínhamos cerca de 30% das vacas gestantes hoje tenho ligeiramente menos de 50%, porque estou numa fase em que tem havido muitos partos. Mas já cheguei a ter 5557% de animais gestantes no efetivo. E estes resultados só se devem a esse investimento, porque é uma sala de ordenha que nos dá a informação toda. Qual foi o critério que utilizou quando escolheu a sala? Pensou em litros/hora? No serviço de assistência ou no espaço que tinha disponível? O que o levou a decidir pela GEA e por este modelo? Há outras opções no mercado que até podem ter qualidade, mas a nível de assistência não funcionam tão bem. Nós aqui fizemos muitas visitas, nomeadamente a vacarias de holandeses, e a maioria tem GEA. [O critério] acabou por ser a assistência e o produto. Logicamente fizemos todos os cálculos e tivemos em conta as dimensões do espaço que tínhamos, porque o pavilhão já existia. Esta sala tinha exatamente as dimensões que o espaço permitia. Foi por isso que não investiu numa sala de ordenha rotativa? Sim, eu gosto muito das rotativas. A informação que eu tenho é que, nos EUA por exemplo, estão a fazer uma transformação para carrosséis. Ordenha muito mais vacas por hora, com o mesmo número de pessoas. Com menos pessoas? Com menos pessoas não acredito.

IMAGENS 2 A 4 Flushing - sistema de limpeza que consiste num fluxo de água forte que limpa o parque de espera e também a sala de tratamentos.

Acha que causa menos stress aos animais? Eu penso que sim. É tudo muito mais suave. Também depende das pessoas, o que é um problema enorme hoje em dia. Pessoas para trabalhar no sector não se arranja e as que se arranjam... Temos que perceber que são atividades que são todos os dias, com horários complicados, e mesmo a pagar um ordenado acima da media não é fácil arranjar, principalmente para a ordenha. Que indicadores, litros ordenhados por ponto e por hora, por exemplo, utiliza para medir a eficiência da sala de ordenha? Muito sinceramente ainda não estou nessa fase. Eu percebo quantos litros/hora conseguimos fazer (andamos sempre na ordem dos 6000 litros uma ordenha de 4,5h – cerca de 1333 l/h). Eu não ligo muito a esses números, bem como ao número de funcionários que também está relacionado com o leite que produzimos. Que informação é que lhe dá esta sala? Dá-me os litros de leite totais, o tempo de ordenha, a hora da ordenha, a atividade e também a condutividade do leite. Qual e a primeira coisa que faz quando chega a exploração? É ir aos medidores dos tanques ver o leite que existe. É uma rotina. É uma coisa que me habituei sempre a fazer porque é uma forma de tentar perceber. Eu aqui o que tento produzir são litros de leite, eu não tento produzir leite com teores de proteína ou teores de gordura elevadíssimos. Eu tento produzir o mais próximo do padrão com saúde animal. Neste momento as condições não são as ideais. Relativamente ao flushing (imagens 2 a 4), por que é que decidiu instalar este sistema de limpeza que consiste num fluxo de água forte que lhe limpa o parque de espera e também a sala de tratamentos? Fi-lo porque permite poupança de água e tempo de lavagem. Quanto lhe custou o investimento? Foi adquirido em conjunto com a sala de

ordenha. Não consigo fazer a separação. Mas é um investimento que se paga facilmente porque permite alguma poupança de água. Quantas vezes reutiliza a água? Que poupança de água faz? O sistema funciona da seguinte forma: temos um reservatório de 4x4x4 metros com um sistema de sondas que faz com que quando o nível da água chega à sonda de cima (figura 5), a água que está a mais seja bombeada para as lagoas. Há sempre água a mais porque toda a água que usamos para a lavagem da sala de ordenha também é conduzida para esse deposito. Não sei dizer ao certo a quantidade de água poupada.. É uma questão de contabilizarmos uma pessoa a lavar um parque uma hora de agulheta na mão... Que é exactamente o que deixei de ter com este novo sistema. Poupei em mão de obra e em água. A água é totalmente reutilizada. Estamos a falar de 32 000 litros que estamos sempre a reutilizar. Por exemplo agora que estamos a cortar azevém, essa água é usada para irrigação dos campos. Quais as razões que o levaram a optar por uma sala de ordenha de inspiração americana? É tudo uma questão de longevidade e resistência. Este modelo americano tem uma construção fortíssima! Quando comparamos o investimento numa sala tipo americano ou tipo europeu a única diferença está na estrutura, mais especificamente na resistência das tubagens. O que tenho visto é que estruturas mais ligeiras do tipo europeu também duram anos e anos ( talvez entre 8 a 10 anos), mas por vezes já têm tubos danificados ao fim de dois ou três anos. Este tipo de estrutura americana pode durar 15 a 20 anos. Hoje em dia, vale a pena fazer um investimento destes, de cerca de 300.000 euros, em que a diferença de uma estrutura para a outra anda entre os 15 a 18 mil euros, justifica-se. Nós

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PRODUTO

“SE ESTIVESSE HOJE A FAZER UMA EXPLORAÇÃO DE RAIZ IMPLEMENTAVA O SISTEMA DE FLUSHING NA EXPLORAÇÃO TODA INDEPENDENTEMENTE DO NÚMERO DE VACAS.” FERNANDO MIRANDA

pensámos dessa forma. Pensámos em ter uma sala que tivesse longevidade. E a questão da indexação individual (Figura 6) e possibilidade de ajuste na sala de ordenha, porquê? Pelos tamanhos dos animais em si. Assim ficam mais ajustados o que facilita a ordenha. Numa exploração não é fácil ter animais todos do mesmo tamanho. As novilhas em termos de estrutura são bastante mais pequenas, por exemplo. E o coletor individual, a ordenha teto por teto e o leite só ser junto na mangueira? Tira benefícios disso? Não tenho tirado pela questão das mamites. Mas esse sistema é importante. Assim como um sistema novo que têm agora que faz o pós-dipping. É um belíssimo sistema que nos garante que o pós-dipping foi feito independentemente dos funcionários. E tem uma balança após a ordenha e antes da porta de separação que permite separar os animais por peso. Utiliza? Utilizo. Tenho uma listagem feita que me dá os diferenciais de peso. Normalmente

IMAGEM 5 Reservatório de 4x4x4 metros com um sistema de sondas.

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uma vaca antes de começar a baixar a produção, perde peso porque orienta tudo para o leite. É mais fácil detetar os problemas que temos através do peso antes que afetem a produção de leite.

dimensões dos animais. Para finalizar Fernando Miranda liga o sistema de flushing para que possamos observar como funciona. Imediatamente a sala de espera fica coberta por um fluxo de água.

Explique-nos como é realizada a lavagem da sala de ordenha. É tudo feito de forma automática. Em primeiro lugar numa fase de arraste com água morna. Segue-se uma segunda fase quente e alcalina. Em terceiro lugar uma fase com água morna e ácido. Por último utiliza-se cloro.

Recomenda este sistema a outros produtores? Que tipo de produtores? A quem recomenda? Se estivesse hoje a fazer uma exploração de raiz implementava o sistema de flushing na exploração toda independentemente do número de vacas. Com um sistema de logetes com areia. Utilizaria um sistema de separação da areia da parte liquida, um sistema de corredores em que a areia vai sedimentado e a água segue e é reutilizável. Penso que é o melhor sistema em termos de higiene.

Prosseguimos numa visita à exploração. Ao longe observamos o Manuel Miranda, pai de Fernando, a alimentar os animais “Aos 80 anos a vida dele é isto” afirma o filho com orgulho. Durante a visita vainos explicando os principais problemas da exploração. Fala-nos também da alimentação dos animais. Têm cerca de 20 hectares para produção de forragem, 13 deles junto à exploração. Compram principalmente forragem de milho, cerca de 5 milhões de quilogramas por ano. Paramos na sala de ordenha onde temos a oportunidade de apreciar a robustez de que Fernando nos falara minutos antes no seu escritório. Vemos como funciona o sistema de indexação automática que permite que a sala se ajuste às diferentes

Após dois anos destes investimentos, que balanço faz? Bastante positivo. É muito fácil se contabilizarmos 5 milhões de litros (este ano produzimos mais) de diferença a cada ano. Se não tivesse feito este investimento já tínhamos a porta fechada.

IMAGEM 6 Indexação individual na sala de ordenha.


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PRODUTO

Pastoreio e ordenha robotizada Lely Uma dupla de sucesso POR IVO CARREGOSA

A experiência tem provado que a ordenha robotizada e o pastoreio são uma combinação bem sucedida. No entanto, requer uma abordagem de gestão diferente e uma focagem correta, considerando que o comportamento de visita da vaca ao robot desempenha um papel fundamental. Neste artigo iremos discutir sobre os fatores que influenciam o sucesso desta dupla, assim como várias dicas e truques, bem como a experiência de um produtor de leite.

A ordenha automática com o robot Lely Astronaut A4 baseiase no tráfego livre das vacas. A introdução do pastoreio não altera este conceito, mas a motivação para os animais visitarem o robot voluntariamente sim. Estudos anteriores já comprovaram que as vacas facilmente se adaptam ao pastoreio com robot e que existe uma influência positiva nos diversos KPI’s (Indicadores de desempenho).

Princípios básicos para garantir o sucesso de uma ordenha automática em pastoreio • Garantir cuidados preventivos para os cascos, uma vez que vacas

mancas causam muitas vezes problemas, diminuindo o número de visitas ao robot. Uma boa saúde podal assegura que a vaca está mais ativa. • Evitar tocar as vacas, mas caso seja necessário, nunca à mesma hora todos os dias. Pode criar habituação nos animais, por isso evite-o tanto quanto possível e use outras ferramentas de gestão (por exemplo reduzindo o tamanho da parcela em pastoreio) para atraí-las para dentro. Isto reduz a fila de vacas para o robot. • Não quebre o ritmo da vaca, introduza estratégias de longo prazo para evitar quebrar a rotina diária. Fazendo uma boa gestão das parcelas em pastoreio e do crescimento da erva, pode fazer um bom planeamento e evitar ter terrenos muito danificados e/ou falta de pasto. • Mantenha as vacas perto do robot durante a noite e deixe-as fazer distâncias maiores durante o dia. As vacas estão mais dispostas a fazer trajetos nas horas diurnas.

Planeamento

Assegurar que tanto o produtor como as suas vacas estão preparados para o pastoreio, antes mesmo da erva realmente começar a crescer, e que se utilizam tipos de erva com crescimento lento na Primavera. A preparação pode e deve ser planeada antes de cada época de pastoreio, conforme as várias dicas enumeradas ao longo deste artigo.

Água

As vacas necessitam de água para produzir leite, por isso não as faça ficar com sede e garanta água à disposição para todos os animais. Deixe a água fazer o trabalho. Crie bebedouros nas saídas para o pasto para encorajar a locomoção. Se estes forem colocados na extremidade oposta do campo é menos provável que o animal se desloque.

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A inovação ao Seu serviço

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innovators in agriculture


PRODUTO

Composição dos caminhos / corredores

Aquando da criação de um caminho / corredor, é importante começar com uma superfície que seja estável e duradoura. É aconselhável retirar a camada superior do solo e preenchê-la com material seguro (que confira firmeza e seja drenante (tipo tuvenant ou cascalho mole), para criar uma superfície resistente e confortável aos animais sem ser lesivo para o casco), para que a superfície se torne e permaneça firme. No artigo sobre a composição dos corredores, falaremos mais aprofundadamente acerca das várias possibilidades.

Alimentação / encontrar o equilíbrio

Muito se poderia escrever sobre este tema, no entanto e para este artigo apenas uma ideia chave: encontrar o equilíbrio certo na alimentação significa ajustá-la nas alturas chave do ciclo produtivo. Alterar o tipo de concentrados antes da época de pastoreio, começando com um enriquecimento em proteína e depois passando para um tipo de concentrado mais energético, já ajuda a preparar o sistema digestivo da vaca para o pastoreio. Tais correções previnem teores demasiado elevados de proteína na ração base e permitem poupar custos. Em segundo lugar, possibilita aos produtores equilibrar os níveis de proteína/amido dentro da ração fornecida na manjedoura. Quando necessário, os níveis de proteína/ energia/fibra da alimentação podem ser corrigidos na manjedoura.

SUMÁRIO O fator chave na concretização de um pastoreio de sucesso, é assegurar que as vacas se deslocam ao sistema de ordenha robotizada Lely Astronaut durante todo o dia e evitar que demasiados animais façam fila à entrada do robot. Além do mais, é essencial estarmos preparados para o início da época. Quais as experiências do passado? O que está disponível na exploração? Se for necessário comprar fibra quando a ruminação decresce, esta é difícil de corrigir instantaneamente. Discutir com os técnicos e com os consultores que apoiam a vacaria (nutricionista, veterinário e consultor FMS) sobre qual a melhor abordagem a ter na época de pastoreio.

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O robot adapta-se perfeitamente ao pastoreio Na exploração de Jeremy Hurel (EARL Haut Charil) em Brielles, o robot foi colocado no final do edifício, facilitando o acesso aos terrenos para o pastoreio. Jérémy Hurel, produtor de leite em Brielles, optou por um robot de ordenha há mais de dois anos. Ele adaptou o sistema a uma condição principal: manter o rebanho em pastoreio.

Leite Sozinho na sua vacaria, este produtor gere o seu rebanho de 55 vacas leiteiras (Prim’Holstein e Red’Holstein) com 9.233 kg / VL. “Para melhorar as condições de trabalho, a ordenha era feita num pavilhão anexo, depois pensei num novo sistema de ordenha. Peguei no custo de investimento de uma sala de ordenha convencional mais a obra do pavilhão para a mesma, fiz as contas, e vi que era equivalente ao custo do robot de ordenha, por isso optei por um robot”, disse o gerente da EARL Haut Charil. “Para além disso, como a fossa está localizada de um lado do edifício, se fizesse a sala da ordenha do outro lado inviabilizaria o crescimento da vacaria no futuro »

91 € / 1 000 l em custo de alimentação A área de terreno à volta da vacaria é de 15 hectares, de um total de 45 disponíveis. Esta área envolvente é destinada a pastar dia e noite, de março a novembro ou dezembro, dependendo do clima. Uma prática que o produtor queria manter apesar da mudança no sistema de ordenha.

Caminhos de qualidade As vacas estão dentro do edifício das 5h às 8h e das 17h às 22h. “Eu raramente vou procurá-las”. Para isso, o criador não hesitou em investir nos caminhos, “uma das chaves do robot e do pastoreio bem sucedido para facilitar a livre circulação de animais”, lembra Anthony Basle, consultor de robots da Eilyps. A frequência de ordenha média é de 2,6 /vaca/dia, podendo diminuir para 2,3 durante o crescimento maior da erva. “Mas aceito uma possível quebra

na produção de leite. O que importa é a margem sobre o custo alimentar”, insiste o criador. Uma margem que ele calcula num custo de € 91/1000 l no primeiro ano de transição e que ele planeia melhorar nos próximos anos (€ 93 / 1.000 l de média para o ¼ superior do grupo com robot em Ille e Vilaine Eilyps).

Ganho de 900 kg/VL Sem outras alterações na vacaria, a produção aumentou em 900 kg em média por vaca por ano. Para permitir o acesso ao pasto, o robot foi colocado na saída do edifício, servindo como zona de passagem. Os animais quando voltam do pasto entram na mesma zona, cruzando-se.

Uma gestão de parques rigorosa Para otimizar o pastoreio e ordenha robotizada, “deve ser implementada uma estratégia de gestão dos parques no início da temporada de pastagem”, diz Anthony Baslé, um consultor de robots da Eilyps. Em EARL Hauts Charil, os parques passaram de 2 hectares para 1 hectare com a introdução do robot. O avanço dos animais no parque é gerido a cada dois dias com um fio/cerca frontal. Se os animais tiverem acesso ao pasto das 8:30 às 17:00, os últimos a sair do robot chegarão ao meio-dia. O tempo de pastagem e a quantidade de erva deve ser adaptado para o que pode ser ingerido. “Em tempos de forte crescimento da erva, vou avançar o fio duas vezes por dia”, diz Jérémy Hurel.



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nanta@nutreco.com


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