A REVISTA DA AGROPECUÁRIA Ano 4 - Nº 13 - 5,00€ abril | maio | junho 2014 (trimestral) Diretor: Nuno Marques www.revista-ruminantes.com
Entrevista a antónio samora reprodutores de linha pura
de olhos nos mercados emergentes A opinião da asoprovac Cabra d’ ouro exemplo de ordenha ininterrupta
EDITORIAL
edição nº13 abril | maio | junho 2014
Se conseguirmos medir, conseguiremos gerir Produzir na Europa é difícil e caro. Não restam dúvidas de que todas as obrigações e restrições atualmente impostas à produção pecuária, como as regras ambientais, a proibição de utilização de matérias primas provenientes de OGM, as leis laborais, ou o preço da energia tornam esta zona do mundo pouco competitiva. Se queremos continuar a produzir aqui, temos que conseguir uma produtividade superior à das outras regiões do mundo. Por outro lado, o volume de investimento no negócio e a volatilidade do preço dos alimentos e da carne obrigam à utilização cada vez mais eficiente dos recursos: da mão de obra, da terra, dos animais e do ambiente. Uma exploração pecuária é sempre um sistema complexo que exige a gestão integrada de múltiplas áreas por forma a garantir a rentabilidade. Poucas explorações poderão ser lucrativas se não conseguirem equilibrar corretamente a produção de carne ou de leite, a alimentação, a saúde animal, a reprodução e a genética. É crucial uma gestão eficaz, como também é importante a capacidade de ver o negócio sob vários ângulos e de questionar os padrões estabelecidos. O que se fez ontem pode deixar de ser suficiente para proteger o negócio para o futuro. Cada vez mais, as explorações precisam de ser geridas de forma profissional com recurso a ferramentas essenciais. O aumento da produtividade provoca uma redução do custo operacional unitário. Para medi-la, utilizamos índices zootécnicos que nos permitem aferir o nível produtivo e reprodutivo do rebanho. Os índices são ferramentas perfeitas para medir a capacidade produtiva e cada agricultor deve usar aqueles que mais se adaptam ao seu tipo de negócio, recorrendo também ao benchmarking com outras explorações. Atualmente, a rentabilidade do negócio pode estar no detalhe. As margens vêm sendo cada vez mais curtas e isso faz com que os investimentos tenham que ser mais criteriosos. Por isso, é essencial que os gestores consigam recolher e analisar o máximo de informações que lhe permitam tomar decisões bem fundamentadas. Como dizia Peter Drucker, o pai da moderna gestão de empresas, “não se consegue gerir aquilo que não se consegue medir”.
Nuno Marques
Diretor
Nuno Marques | nm@revista-ruminantes.com Colaboraram nesta edição António Cannas; Abílio Carvalho; Ana Rita Diniz; Ana Vieira; António Moitinho; António Samora; Carlos Flecha; Carlos Vouzela; Cátia Rodrigues; Celestino Almeida; David Catita; Fernando Fonseca; Francisco Marques; George Stilwell; Gonçalo Aguiar; Helder Duarte; IACA; Inês Ajuda; Javier Lopez; João P. Carneiro; José Caiado; Lopes Jorge; Luís Marques; Marianne Beerten; Nuno Simões; Osvaldo Carreira; Patrick Charlton; Paulo Costa e Sousa; Pedro Castelo; Rui Silva; Sebastião Marques; Sérgio Carreira; Sofia de Menezes; Tereza Moreira.
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Índice Alimentação 14 Utilização da batata na alimentação de ruminantes 18 Sistema MAXtm a ligar nutrientes 26 Minerais orgânicos 39 Alimentação líquida de açúcares
ATUALIDADES 40 Sustentabilidade em bovinos de carne 62 Feira de Agricultura de Paris
CONHEÇA A LEI 68 Danos causados por animais. Quem os deve suportar?
ENTREVISTA
50 reprodutores de linha pura Entrevista a António Samora, gerente da exploração Casa Agrícola Sabino Samora
20 ESACB - para além da formação 24 Sistema Kempen - quando é difícil fazer forragem 30 Produzir leite para fabricar queijo
ECONOMIA 34 Observatório de matérias primas 36 Observatório do leite 38 Índice VL
EQUIPAMENTO 64 Atualidades
FERTILIZANTES 42 Fertilização azotada otimizada e mais eficaz
GENÉTICA 46 Consanguinidade, anjo ou demónio?
PASTAGEM
08
10
Entrevista
Cabra d’ouro
Francisco Javier Lopéz, diretor da ASOPROVAC, alertou para a importância crescente dos mercados emergentes
Cabras ordenhadas ininterruptamente, entre dois e três anos
44 Como melhorar a disponibilidade e durabilidade da pastagem
SAÚDE E BEM-ESTAR ANIMAL 55 Edema mamário do peri-parto 56 O parto 58 Doença respiratória em ruminantes jovens
boletim de assinatura 1 ano, 4 exemplares
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Portugal: 20,00 €
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atualidades
abs/ Nutrigenetik Na produção de leite A NutriGenetik nasceu em 2007 da vontade de fazer mais e melhor na prestação de serviços para a agricultura. Direcionada para a produção de leite, a NutriGenetik tem várias representações no país, destacandose nos setores da genética bovina (ABS) alargada recentemente para Portugal continental, da nutrição animal (INATEGA) e da higiene animal (CUHIGEN e ERKIENE). Recentemente, apresenta também soluções na área da bio-higienização de instalações, com a gama dos inovadores produtos SOP. Conta também com marcas conceituadas de equipamentos rurais e de sementes. A NutriGenetik disponibiliza aos seus clientes uma equipa técnica multidisciplinar que aposta no melhor serviço para obter os melhores resultados.
SenrasDairy estreia-se na produção de gelado Com uma história de mais de 30 anos a fabricar queijo, o Queijo Senras, a empresa SenrasDairy estreia-se agora na produção de gelado. Na SenrasDairy, o leite está na base do sucesso dos seus produtos. Produzido numa exploração agrícola familiar, deve a sua qualidade ao cuidado posto na alimentação dos animais (à base de
silagem de milho, concentrado, silagem de erva e luzerna, e palha), no seu bem-estar e na genética. “Dizem que, o segredo é a alma do negócio e nós partilhamos o nosso segredo: o nosso queijo é preparado com leite de vaca, de excelente qualidade.” Foi com base neste conceito que a SenrasDairy decidiu apostar no fabrico de gelados.
Taninos de quebracho na dieta de ovelhas podem melhorar a qualidade do leite Uma investigação levada a cabo pelo Instituto de Ganadería de Montaña (IGM), visa provar que a introdução de taninos de quebracho, árvore originária da américa do sul, na alimentação dos ruminantes, modifica o perfil dos ácidos gordos do leite e derivados, o que se reflete em benefícios para a saúde do consumidor. O estudo, publicado no Journal of dairy science, consistiu na seleção de 36 ovelhas leiteiras de raça
Assaf que foram divididas em seis lotes. A três grupos foi fornecida a dieta habitual e, aos restantes três, acrescentou-se à dieta, suplemento de extrato de quebracho. De acordo com um dos investigador responsáveis, Gonzalo Hervás, observou-se que a adição do extrato de quebracho modificou favoravelmente determinados ácidos gordos, alterando o processo de bioidrogenação, ou seja, o conjunto de metabolizações
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que os ácidos gordos insaturados podem sofrer no rúmen. Posto isto, nesta linha de investigação, a comunidade científica propõe-se ir mais longe e analisar o efeito de outros tipos de taninos de origem vitivinícola. O objetivo é testar a possibilidade de se modificar o processo de bioidrogenação no rúmen, conseguindo, desta forma, leite e derivados mais saudáveis para o consumidor.
O quebracho ou “quebra machado” Árvore de copa arredondada e densa, originária das florestas do Sul da América, pode ter 22 metros de altura, e é conhecida pela sua madeira forte, resistente e praticamente impustrescível. A etimologia do nome “quebracho”, deriva do espanhol “quebra acha” o que significa em português “quebra machado”, traduzindo a dureza da sua madeira capaz de quebrar um machado. A casca do tronco é rica em tanino, utilizado na indústria de curtimento de couros, com o objetivo de os isolar das bactérias e fungos, principais responsáveis pela degradação das peles..
Para mais informações www.dicyt.com
atualidades
REUNIÃO TÉCNICA VETALMEX-APSA / SUOMEN REHU
Realizou-se, em fevereiro, na Cooperativa Agrícola de Vila do Conde, uma reunião técnica para apresentação do Progut Rumen®, uma nova geração de leveduras para ruminantes que potencia a actividade do rúmen. Participaram neste
evento diversos produtores da região, técnicos assistentes das explorações e representantes de empresas ligadas à atividade no setor. A apresentação técnica esteve a cargo dos Engºs representantes da empresa fabricante do Progut Rumen® e das distribuidoras para Espanha e Portugal. O Modo de Acção das Leveduras em Ruminantes foi o tema abordado por Ana Maria Gaspar, gerente de vendas Vetalmex, que destacou a hidrolisação da levedura, tecnologia patenteada pela Suomen Rehu, como o ponto forte da conceção . Este processo usado para quebrar as paredes das células das leveduras, torna o Progut Rumen® verdadeiramente único. Os benefícios e rentabilidade da utilização do Progut Rúmen® foram apresentados por Luís Granado, gestor de produto da APSA Specialities. Granado mostrou os resultados práticos obtidos em vacarias de
Navarra e Zamora, onde foi possivel medir os aumentos da produção leiteira durante a utilização do Progut Rúmen. Finalmente, Derek Gaffney, da Suomen Rehu reforçou as vantagens da utilização desta levedura hidrolizada, com os mais recentes estudos cientificamente comprovados. A concluir a sessão de trabalhos, Marianne e Paul Beerten, proprietários de uma exploração de caprinos de leite em Portugal (com mais de 1000 cabras em ordenha e queijaria integrada), e utilizadores de Progut Rumen® desde a sua entrada no mercado, referiram, da sua experiência com este produto, um notório aumento da produção de leite além de, por exemplo, um aumento na gordura, tão essencial para a definição do sabor e da maciez característica dos seus queijos. O Progut Rumen® é distribuído em Portugal pela Vetalmex.
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entrevista
De olho nos mercados emergentes Em entrevista à Ruminantes, o diretor da ASOPROVAC, Francisco Javier Lopéz, alertou para a importância crescente dos mercados emergentes enquanto futuros consumidores de carne bovina, e para a necessidade de melhorar a produtividade das vacas aleitantes e de otimizar todos os elos da cadeia de produção, até à comercialização. por Maria Luísa Ferrão
Francisco Javier Lopéz, diretor da ASOPROVAC Francisco Javier Lopéz, engenheiro agrónomo, é atualmente o diretor da ASOPROVAC, Associação Espanhola de Produtores de Bovinos de Carne, a organização com maior representatividade no setor produtivo de carne de bovino em Espanha. A ASOPROVAC conta com cerca de 3.000 associados e é responsável por 85% da produção de carne do país.
Ruminantes – Quais foram os principais aspetos que caraterizaram o mercado de carne bovina em Espanha nos últimos cinco anos? Francisco Javier Lopéz - Destaco o efeito provocado pelo aumento do preço das matérias-primas e a forte seca que aconteceu em 2012. Ambos contribuíram para o aparecimento de graves problemas de rentabilidade, verificados em todos os setores implicados na produção. Temos de ter em conta que, quando existe um problema de rentabilidade num determinado setor, este vai afetar toda a cadeia, com exceção da distribuição, que
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normalmente consegue manter as suas margens. Destaco ainda outro aspeto que diz respeito ao aumento das exportações de animais vivos e para abate para países terceiros, mais concretamente para países situados no Norte de África. Posso adiantar que, em 2012, a exportação de animais para o Magrebe foi cinco vezes superior ao número verificado em 2011. Este aumento significativo fez com que o produtor tivesse que reajustar a sua estrutura de custos de produção para poder responder à procura do mercado, sendo a consequência deste reajuste a subida do preço da carne.
Qual o impacto que o mercado português de carne tem na economia espanhola? O mercado português é importante, especialmente se tivermos em linha de conta que Portugal é o principal cliente de carne de bovino produzida em Espanha, nas versões fresca e congelada. Verificamos ainda que o tradicional fluxo de animais vivos que saem de Portugal para Espanha tem aumentado nos últimos anos. Num cenário europeu, qual a posição do setor agropecuário ibérico? A Península Ibérica é a quarta maior
entrevista
produtora de carne da União Europeia, atrás dos grandes produtores europeus, como a França, a Alemanha e o Reino Unido, alternando a posição com a Itália e a Polónia. Quais são as forças e as debilidades do setor de produção de carne em Espanha, e quais as oportunidades que identifica, tendo em conta uma economia global? As problemáticas atuais do setor de produção de carne bovina são muitas e variadas. Podemo-nos referir à enorme volatilidade de preço das matérias-primas e à política europeia suicida, no que respeita a restrições na utilização de alimentos geneticamente modificados. A aplicação da nova PAC vai exigir adaptações céleres por parte dos gestores das explorações pecuárias, e a recente abertura da União Europeia a mercados de países terceiros, que jogam com outras regras, fragiliza o mercado comunitário. Parece-nos fundamental refletir sobre aquele que consideramos ser o principal problema, que está diretamente relacionado com as debilidades mencionadas. Numa altura em que se acaba de assinar um acordo de livre comércio com o Canadá, em que se caminha na direção de fecharmos o acordo com a Mercosul e, posteriormente, com os EUA, a competitividade do modelo europeu de produção está posta em causa. Realmente, falar de competitividade europeia é uma anedota de mau gosto, se tivermos em conta a enorme quantidade de autolimitações e custos acrescidos que nos impusemos, não havendo consumidor europeu ou de outra zona do planeta que os valorize. Por outro lado, temos a obrigação de ver o futuro com um certo otimismo, fruto da crescente procura deste tipo de produto a nível mundial. Sobretudo por parte dos países emergentes, que já são, e vão continuar a ser, os motores do consumo de carne de bovino. Há que referir uma oportunidade que se abre ao setor de produção de carne bovina em Espanha e em Portugal. A nossa posição geográfica permite aceder com facilidade aos mercados do Norte de África, um dos motores mundiais de consumo. Por outro lado, a nível interno temos que trabalhar para estancar a queda do consumo de carne bovina, procurando ir ao encontro daquilo que o consumidor quer. Inovar na apresentação dos alimentos e apostar em produtos pré-confecionados podem ser boas alternativas.
“Temos uma posição estratégica face aos mercados do Norte de África, um dos motores mundiais de consumo de carne bovina”
Considera a produção de novilhos uma oportunidade de mercado? A produção de novilhos parece-me uma oportunidade de negócio muito clara, especialmente se analisarmos a evolução dos censos de vacas na Europa. O novilho é, e será, um bem cada vez mais escasso e, por isso, cada vez mais procurado. Este facto, associado à crescente procura de carne de bovino a nível global, augura um futuro risonho para o nosso setor. No entanto, para que esta perspetiva otimista se consolide, devemos ter presente a importância de chegarmos aos mercados situados em países que se encontram em processo de desenvolvimento económico, uma vez que é aqui que o consumo de carne tende a aumentar. Qual é o papel das organizações de produtores em Espanha? Somos um setor demasiado individualista com pouca tendência para confiar no parceiro. Ainda assim, acreditamos que as organizações de produtores devem desenvolver-se rapidamente nos próximos anos, porque o acesso aos mercados cada vez mais globais depende do tamanho da resposta da oferta. Acredito que, para conseguirmos responder a curto prazo à procura do mercado, temos que trabalhar de forma unida e em projetos comuns. Relativamente à comercialização de carne em Espanha, que aspetos há a melhorar? Na área da comercialização, como em todos os aspetos do negócio, é preciso melhorar permanentemente. Talvez durante demasiado tempo, o setor industrial tenha estado focado no mercado interno e, dentro deste, a sua própria distribuição não tenha evoluído. Neste momento, em que o mercado
é global e mais exigente, parecenos claro que uma parte importante da comercialização deverá focar-se no desenvolvimento de estratégias inovadoras na apresentação dos produtos. Por um lado, desenvolvendo produtos pré-confecionados, de utilização rápida e fácil para o consumidor e, por outro lado, dando a conhecer todas as etapas inerentes à produção tradicional de carne, transformando o processo produtivo numa “montra” para o consumidor. Considera que a Europa pode ser competitiva numa economia global de exportação de carne bovina? A Europa pode ser competitiva mas, evidentemente, deve realizar uma reflexão profunda acerca do seu modelo de produção. Parece contraproducente que os produtores europeus tenham uma série de limitações em todo o processo produtivo, limitações estas que não existem em outras zonas do mundo onde são utilizadas hormonas promotoras do crescimento, como a ractopamina, determinados tipos de antibióticos, determinadas farinhas de carne, milho e soja geneticamente modificados. Com esta falta de igualdade de critérios, no que respeita à regulamentação do setor produtivo global, a Europa perde competitividade. Não existem praticamente entraves à entrada de carne na União Europeia produzida em países terceiros, e, se nada se fizer, assistiremos a um claro enfraquecimento do setor. Quais são os principais desafios que um produtor de gado ibérico enfrentará nos próximos seis anos? Temos que melhorar a produtividade das nossas vacas aleitantes, dado que estamos a perder um potencial enorme. Na comercialização, as organizações de produtores podem desenvolver-se a nível primário e o sector industrial deve trabalhar, cada vez mais, com os olhos postos nos países terceiros, uma vez que é nestes que o consumo tende a aumentar de forma ímpar. A indústria e a distribuição devem tentar recuperar o consumo, inovando na apresentação dos produtos, adaptando a oferta às necessidades do consumidor.
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entrevista
Cabras ordenhadas
ininterruptamente, entre dois e três anos Foi numa quinta chamada Quinta da Bica, na localidade do Rebocho, concelho de Coruche, que há 24 anos se instalaram duas famílias holandesas, com o objetivo de montar um negócio de produção de leite e queijo de cabra - Cabra d’Ouro. Agropecuária Lda. por ruminantes
O negócio está inserido numa propriedade com cerca de 10 ha, tem mais de 1000 cabras em produção e cerca de 400 animais jovens, da raça Saanen. A Ruminantes falou com Paul Hulshof e Marianne Beerten, responsáveis pelo setor de produção de leite de cabra, para perceber que fatores diferenciam a gestão na sua exploração.
Que indicadores utiliza para a gestão do negócio? Principalmente dois, a quantidade de leite diária no tanque e o estado de saúde dos animais. Se chegamos ao pavilhão dos animais e vemos que temos alguns animais com diarreia, ou que deixaram muito alimento nas manjedouras, percebemos que algo está mal.
Ruminantes – Com que objetivo nasceu esta exploração? Marianne Beerten - A exploração nasceu para produzir leite de cabra, transformar em queijo e comercializar esse queijo. Só mais tarde, quando a procura de leite de cabra subiu no mercado, decidimos aumentar a produção de leite para vender para fora. Neste momento, estamos a vender mais leite do que a transformar em queijo.
Estabelece objetivos anuais para a exploração? Todos os anos avaliamos o ano anterior e decidimos o que temos que melhorar. O nosso objetivo atual é produzir mais leite com a mesma estrutura (instalações), ou seja, otimizar os recursos existentes. Como a exploração está à venda, não pretendemos fazer grandes investimentos em instalações.
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Tem introduzido novas tecnologias na exploração? A mais recente que introduzimos foi um chip nas cabras. Ainda que a lei só obrigue a fazê-lo gradualmente, nós decidimos pôr de imediato em todos os animais e tirar proveito disso. O contraste (medição de leite por animal) tornou-se mais fácil de fazer, antes tínhamos que procurar e escrever o número do brinco de cada cabra à mão, agora fazêmo-lo com um leitor electrónico e temos apenas que escrever a produção de cada cabra. Fazemos este controlo a cada 15 dias, alternadamente, de manhã e à tarde. É muito trabalhoso, mas permite-nos ter uma ideia da produção por animal e deslocar os animais para o parque de produção correspondente, conseguindo otimizar a sua alimentação.
entrevista
Com tantos anos de experiência de produção de leite de cabra e visitas a outras explorações, pode dizer-nos o que faz de diferente da maioria das outras explorações? Ordenhamos ininterruptamente as cabras entre 2 e 3 anos. Isto é possível em animais desta raça, com uma alimentação equilibrada e iluminação suficiente. Também fazemos a indução do cio com a luz, não utilizamos implantes, nem esponjas. Enquanto a cabra estiver a produzir 3 litros de leite/dia não existe motivo para a deixar engravidar outra vez. Se a cabra parir menos vezes ao longo da sua vida, é poupada. A mortalidade e os problemas de saúde diminuíram muito com a aplicação deste sistema que, por outro lado, poupa trabalho já que se fazem menos partos. Consideramos que os cabritos não têm um valor económico assim tão elevado e, relativamente às fêmeas, que podiam valer mais como reprodutoras, nem sempre existe procura. Portanto, perdemos cabritos mas beneficiamos de outras vantagens. Atualmente temos uma vida produtiva média por cabra de 4 a 4,5 anos. Penso que esta seja a principal diferença, mas outra coisa muito importante é medir a produção de leite por animal e fazer grupos de produção, para permitir fazer uma alimentação adequada a cada grupo do ponto de vista nutricional e, desta forma, economizar.
“Ordenhamos ininterruptamente as cabras entre 2 e 3 anos” forma fácil a interferência de outras variáveis que sempre existem numa exploração. O último produto que experimentámos foi o Progut, porque lemos numa revista os bons resultados conseguidos em vacas de leite. Porém, estes resultados não são fáceis de comprovar: depois de utilizarmos o produto durante um mês, deixámos de incorporá-lo e a produção baixou. Nessa altura, decidimos voltar a incorporar e a
produção subiu, mas era Primavera! Em 2013, os valores de gordura aumentaram de 3,7 para 3,9 %, e a produção aumentou. Foi o Progut? Talvez sim, mas a genética também pode ter ajudado, pois nós estamos sempre a introduzir sémen de bodes com característica de aumentar a gordura do leite. De facto notámos uma maior estabilidade do rebanho e menos incidência de diarréias e agora estamos a usar Progut o ano inteiro em todos os animais, incorporado na ração. A relação custo/beneficio da utilização deste produto é interessante? Penso que sim. Embora um dos benefícios seja o aumento da gordura do leite, este não
Quantos parques de produção utiliza? Temos 4 parques: alta; média; baixa; e outro de prenhas e recém-paridas. Cada parque tem a sua alimentação específica. Que sistema alimentar utiliza? Como é estabelecido? A base da alimentação é feno de luzerna desidratada, com complemento de ração da Provimi, formulada especificamente para o feno de luzerna que temos. Utilizamos luzerna desidratada porque nos permite garantir um bom perfil nutricional e constante ao longo do ano. A alimentação é igual todo o ano, apenas variam as quantidades de cada ingrediente em função do parque de produção. A exceção são as cabras em periparto, que têm uma ração especifica. Durante o Verão, quando está muito calor, optamos por distribuir o alimento à noite para as cabras descansarem durante o dia. Costuma testar novos produtos na exploração? Por norma não testamos produtos e não gostamos de usar produtos “aditivos” na ração, porque não conseguimos medir de
Distribuido em Portugal por: Campo Grande, 30 4º A/B 1700 - 093 Lisboa Tel: +351 217 815 620 Fax: +351 217 815 629 Email: vetalmex@vetalmex.com
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entrevista
dados gerais da exploração Nome: Cabra d’Ouro, Agropecuária Lda. Localização: Rebocho, concelho de Coruche Área da exploração: 10 hectares Efetivo: 1000 cabras em produção e cerca de 400 animais jovens, da raça Saanen Produção em 2013: >1.000.000 litros Produção média de leite/cabra/dia (365 dias): 3 litros Perfil nutricional do leite em 2013: 3,4 % PB e 3,9% GB
“Sincronizamos os partos pelo número de horas e intensidade da luz”. se traduziu em dinheiro este ano, porque o contrato de venda do leite estabelecido não contempla um preço superior para mais gordura. Mas posso afirmar que conseguimos fazer mais queijo, e que o curado fica mais macio e saboroso com o leite que estamos a produzir actualmente. O custo deste produto é cerca de 1 cêntimo/cabra/dia, o que não é significativo comparado com os bons resultados de produção que temos tido ao longo de todo o ano. Utiliza inseminação artificial (IA)? Utilizamos IA todos os anos em 24 cabras. Os filhos machos que nascem desta inseminação ficam como reprodutores. Adotamos este procedimento porque não queremos comprar animais fora, pelo risco de doenças. Atualmente, temos 17 reprodutores. Quais os meses preferidos para os partos? Aqui, temos os partos orientados para três períodos do ano, fevereiro, junho e outubro, porque os queijeiros querem leite todo o ano e esta é a forma de termos uma produção mais constante. Sincronizamos os partos pelo número de horas e intensidade da luz. Que investimentos tem feito na exploração? Em Novembro do ano passado
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aumentámos o pavilhão para dar mais espaço e conforto às cabras, e aumentar ligeiramente o efetivo. Que conselhos dá a quem está a iniciar o negócio? O que posso recomendar é que comecem com animais de qualidade, com um rebanho novo (cabritas novas) e nunca com animais de refugo, pode parecer mais barato mas no final sai mais caro. Todos os investimentos necessários devem ser feitos de princípio, não se deve arrancar sem boas instalações. Enfim, começar a sério. A caprinicultura é um bom negócio? A caprinicultura neste momento dá dinheiro, mas para isso é necessário trabalhar a sério, ser dedicado, encarar este negócio como uma profissão. Ter bons funcionários é o segredo para se conseguir conciliar a rentabilidade do negócio, com o trabalho e com o lazer. Marianne Beerten
Responsável pelo setor de produção de leite de cabra. PROTOCOLO DE LUZ Numero de horas e intensidade. PLANO DE LUZ PARA PROVOCAÇÃO DE CIO
1 Novembro até 1 Março
02:30 - 19:00 | Luz acesa e luz natural. 19:00 - 02:30 | Escuridão total.
1 Janeiro até 30 Janeiro
Bodes junto com um lote de cabras selecionadas para cobrição.
1 Março até 30 Abril
24 horas por dia com luz artificial e natural.
30 Abril até 1 Junho
Reduzir a luz o mais que possível. Entre as ordenhas não há luz acesa. Bodes largados para cobrir as cabras.
1 Junho até 15 Setembro
Luz acesa apartir das 02:30 e luz natural das 09:00 até ao pôr do sol.
15 Setembro até 1 Novembro
Reduzir a luz o mais que possível. Bodes junto com as cabras selecionadas.
Alimentação
pedro castelo Engº agrónomo, reagro sa. pedro.castelo@reagro.pt
Utilização da Batata na Alimentação de Ruminantes
A volatilidade dos preços das matérias-primas leva a uma procura constante de alternativas, devido às consequências diretas sobre os custos alimentares.
Rúmen Amido Total
Fezes Amido lento
AÇÚCAR
Glucidos Rapidos
açúcar amido solúvel
Amido By Pass
Glucose AGV
AGV
FIGURA 1 Processo de digestão do amido.
tabela 1 Composição Quimica da Batata (valores médios indicativos exprimidos em kg de Matéria seca (MS)).
MS %
Batata
20
digestão: amido solúvel (imediatamente degradado no rúmen), amido lento (degradado progressivamente no rúmen) e amido bypass (não é degradado no rúmen e digerido ao nível do intestino). Outro critério a ter em consideração são os glúcidos rápidos (amido solúvel + açúcar) pois, permite avaliar a parte de energia rapidamente fermentescível no rúmen, necessária à população microbiana. Estes critérios, quando abaixo do recomendável, conduzem a uma reduzida eficácia leiteira e, em termos zootécnicos, apresentam influência sobre o teor proteico e matéria gorda do leite.
Intestino Delgado Intestino Grosso
GLUCOSE
A batata poderá ser uma opção viável, porque pode ser utilizada em ruminantes e apresenta valores nutritivos interessantes (tabela 1), tais como, um aporte de energia importante, forte teor em amido, amido by-pass (20-25% do total), além de permitir diversificar as fontes de energia e de ter elevada palatibilidade. O amido não é mais do que cadeias de moléculas de glucose, que podem ser utilizadas como reservas energéticas. O amido total (figura 1) está dividido em três frações, segundo a velocidade de degradação e o sítio da sua
Proteina Bruta Gordura Bruta %/kg MS %/kg MS
10,8
1
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Utilização Antes de incorporar um produto na alimentação dos animais, o produtor e a pessoa responsável pela nutrição devem definir o motivo da sua utilização: Uma solução de ajuda pontual (por exemplo, para reduzir os consumos de farinha de milho quando o preço desta é elevado, que não é o caso
atual), uma reação devido a uma boa oportunidade (preço atrativo) ou uma utilização regular. Neste artigo referese apenas o interesse da utilização da batata inteira na alimentação dos ruminantes, apesar de haver vários tipos de subprodutos na indústria da batata disponíveis e utilizáveis em alimentação animal. O excedente deste produto ocorre devido ao aparecimento, na recolha, de tubérculos deformados ou fora de calibre. Após análise criteriosa sobre o motivo da sua utilização, é necessário saber as recomendações de utilização deste tipo de produto. Como podemos verificar através da observação da tabela 2, em vacas leiteiras pode-se utilizar até 15 kg brutos por animal e por dia, no entanto sugere-se não se ultrapassar os 2 kg de matéria seca, ou seja, 10 kg brutos. Além dos limites de incorporação, é necessário ter em consideração uma transição lenta e gradual da alimentação a fim de evitar problemas digestivos, assegurar um nível de fibrosidade da ração
Fibra Bruta %/kg MS
NDF g/kg MS
ADF g/kg MS
Amido %/kg MS
PDIN g/kg MS
PDIE g/kg MS
PDIA g/kg MS
UFL / kg MS
UFV / kg MS
2,6
73
44
63
63
103
25
1,20
1,22
Alimentação
suficiente que assegure um bom funcionamento e eficácia do rúmen, não distribuir outras matérias-primas ricas em potássio, e utilizar este produto em TMR (Total Mixed Ration) para não ser fornecido com a pança dos animais vazia. Os preços são normalmente atrativos e os volumes são importantes, no entanto é fundamental saber exatamente os custos de logística, assim como a disponibilidade de produto. Tendo em conta as suas características nutricionais e os preços das matérias-primas atuais, após análise pode-se garantir que o preço de interesse se situa entre os 45 e 50 €/ ton bruta. Atualmente o preço de venda aos produtores situa-se entre 20 e 25 €/ton, sem transporte incluído.
As batatas devem ser armazenadas num silo sem contacto com o solo e consumidas o mais rapidamente possível para que a sua distribuição seja feita em boas condições de higiene.
tabela 2 Limites de incorporação da Batata em Ruminantes. Espécie
dois arraçoamentos possíveis A – com batata | B – sem batata De seguida, apresentam-se dois arraçoamentos possíveis, adequados para vacas em início e meio de lactação com uma produção média de 39 litros. No que diz respeito às forragens, consideram-se valores que facilmente se encontram em Portugal.
Quantidade diária em matéria fresca (kg)
Preços Em relação aos preços das matérias-primas, consideraram-se preços atuais de mercado (tabela 3). De acordo com o nosso caderno de encargos para o objetivo de produção definido, fizeram-se dois arraçoamentos (tabela 3). Numa primeira fase, pode-se afirmar que é possível obter
Recomendada
Máxima
Vacas leiteiras
5 a 10
15
Bovinos engorda
5 a 10
20
Cabras
1a2
2
Ovelhas
1a2
2
tabela 3 Dois arraçoamentos com as mesmas características nutricionais.
A Custo por Animal/Dia= 5,36 €
(94 €/ton MB)
(230 €/ton MS)
Quantidade Distribuida Preço (€/ton)
Matéria-Prima
Kg
Caracteristicas Nutricionais (/Kg MS) MS
UFL
8.49
28.30
0.89
MB
MS
30.00
PDIN
PDIE
PDIA
Ca
g
g
g
g
P g
41.18
63.85
14.58
2.00
1.80
Silagem de Milho PB7 AMD31
50
Feno Azevém PB8
90
3.50
3.15
90.00
0.62
55.00
70.00
24.00
3.90
2.20
Massa Cerveja
38
8.00
2.00
25.00
0.92
208.43
188.20
135.39
3.15
5.84
Milho
190
3.48
3.03
87.00
1.26
76.16
115.70
56.98
0.29
2.91
B. Soja 44
440
2.93
2.58
88.00
1.20
371.59
256.82
196.59
3.41
6.82
B. Colza
290
1.40
1.24
88.50
0.94
248.59
162.71
109.60
10.06
11.30
Sêmea de Arroz
160
0.88
0.79
89.00
0.96
108.99
101.12
75.84
1.01
16.85
Batata Nucleo VL 40 Litros Total
30
6.00
1.20
20.00
1.20
63.00
103.00
25.00
0.50
2.00
700
0.80
0.80
99.42
0.64
204.33
197.95
216.51
160.45
0.00
-
56.99
23.28
40.83
0.95
118.64
116.64
66.50
8.02
3.87
P
B Custo por Animal/Dia= 5,41 €
(103 €/ton MB)
(232 €/ton MS)
Quantidade Distribuida Preço (€/ton)
Matéria-Prima
Kg
Caracteristicas Nutricionais (/Kg MS) MS
UFL
8.49
28.30
0.89
MB
MS
30.00
PDIN
PDIE
PDIA
Ca
g
g
g
g
g
41.18
63.85
14.58
2.00
1.80
Silagem de Milho PB8 AMD30
50
Feno Azevém PB8
90
3.50
3.15
90.00
0.62
55.00
70.00
24.00
3.90
2.20
Massa Cerveja
38
8.00
2.00
25.00
0.92
208.43
188.20
135.39
3.15
5.84
Milho
180
4.68
4.07
87.00
1.26
76.16
115.70
56.98
0.29
2.91
B. Soja 44
440
2.84
2.50
88.00
1.20
371.59
256.82
196.59
3.41
6.82
B. Colza
255
1.40
1.24
88.50
0.94
248.59
162.71
109.60
10.06
11.30
Sêmea de Arroz
160
1.15
1.02
89.00
0.96
108.99
101.12
75.84
1.01
16.85
Nucleo VL 40 Litros
700
0.80
0.80
99.42
0.64
204.33
197.95
216.51
160.45
0.00
Nucleo VL 40 Litros
700
0.80
0.80
99.42
0.64
204.33
197.95
216.51
160.45
0.00
-
52.37
23.50
44.43
0.95
118.68
116.68
67.89
8.01
4.04
Total
ruminantes abril . maio . junho 2014 15
Alimentação
o mesmo nível nutricional a um menor custo com batata (5,36 €/vaca/dia) do que sem esta (5,41 €/vaca/dia). Apenas se deve referir que esta diferença é diretamente proporcional ao preço da farinha de milho, ou seja, se este aumenta, a diferença de custo alimentar por vaca e por dia também aumenta.
tabela 5 Balanço energético dos arraçoamentos. Balanço Energético Unidade
A
B
Litros
39.5
39.5
UFL/Kg MS
0.95
0.95
PL por UFL UFL
Arraçoamento
Proteína
Amido + Açucar
% MS
29.81
29.83
Relativamente à proteína, ambos os arraçoamentos têm o mesmo nível e permitem produzir a mesma quantidade de leite por vaca e por dia (tabela 4). No entanto, em termos de proteína digestível por dia [quantidade total aportada por dia de proteína degradável ao nível do rúmen = MAT(%) + DT(%) + MSI(kg)] o arraçoamento A – com batata – está mais adequado para a fase de produção em causa. Para otimizar o funcionamento do rúmen e a produção de proteínas microbianas, os microrganismos ruminais têm necessidades de energia fermentescível e de proteína degradável.
Glucidos Rápidos
% MS
16.11
15.89
GTD
% MS
50.72
50.17
Matéria Gorda Bruta
% MS
3.79
4.09
tabela 4 Balanço Azotado dos arraçoamentos. Balanço Azotado
Arraçoamento
Unidade
A
Litros
51.07
51.09
PL por PDIE
Litros
50.05
50.07
PDIN
g/Kg MS
118.68
118.68
PDIE
g/Kg MS
116.64
116.68
PDIA
g/Kg MS
66.5
67.89
% MS
16.17
16.02
%
60.39
59.55
LYSDI/PDIE
% PDIE
6.62
6.57
METDI/PDIE
% PDIE
1.8
1.81
Proteina Digestível por Dia
Kg/dia
2.27
2.22
DT
Finalmente, uma análise económica torna-se imprescindível para comparar a importância da utilização deste subproduto na alimentação de vacas leiteiras. Através da observação da tabela 6, pode-se concluir que o arraçoamento com batata permite obter um resultado económico vantajoso de 1,3 €/1000 litros. Este benefício, tal como foi referido anteriormente, é maior quando o preço da farinha de milho aumenta. tabela 6 Análise Económica.
B
PL por PDIN
Proteina Bruta
Análise económica
Energia No que concerne à energia, ambos os arraçoamentos têm o mesmo nível energético e permitem produzir a mesma quantidade de leite, por vaca e por dia (tabela 5). De referir que os valores de glúcidos rápidos e de glúcidos totais disponíveis (representantes da totalidade dos glúcidos degradáveis no rúmen – açúcar, amido, pectina e NDF degradável), estão mais adaptados para vacas em arranque de lactação, no caso do arraçoamento com batata.
16 abril . maio . junho 2014 Ruminantes
Análise económica
Arraçoamento
Unidade
A
B
Custo Total
€/animal
5.36
5.41
Custo Total/1000 L
€/1000 L
135.77
136.62
Custo Concentrado
€/animal
3.36
3.59
Custo Concentrado/1000 L €/1000 L
85.22
90.78
Margem bruta/dia
€/animal
9.64
9.60
Margem Bruta/1000 L
€/1000 L
244,30
243.00
Conclusão Como conclusão, as principais vantagens da utilização da batata são: 1) aporte de energia elevado; 2) forte teor em amido e com velocidades diferentes de degradação no rúmen; 3) diversificação de fontes de energia; 4) produto de elevada palatibilidade. Além das vantagens descritas anteriormente, existem outras que beneficiam a sua utilização: 1) redução de utilização de cereais (milho e cevada) quando estes apresentam preços elevados; 2) muito bom complemento de rações à base silagem de erva; 3) efeito positivo sobre o teor proteico (TP) do leite; 4) boa utilização possível de rações misturadas no unifeed (TMR).
Se faz desporto, beba leite… com chocolate Estudos científicos recentes têm apontado o leite com chocolate como uma excelente opção para o período pós-treino. Assim refere um artigo publicado no International Journal of Sports Nutrition, que conclui que o leite achocolatado não só reidrata melhor do que bebidas desportivas, como também permite uma recuperação mais rápida para o exercício seguinte. Outro estudo, publicado pelo American Journal of Clinical Nutrition, afirma que para quem pretenda ganhos de massa muscular e redução de massa gorda, o leite achocolatado mostra-se tão eficiente como os conhecidos suplementos proteicos, com a vantagem de ter um preço muito mais baixo. A verdade é que, com quantidades compreendidas entre os 500ml e os 750ml, é possível alcançar os 20 grama de proteína, valor considerado por vários nutricionistas, como a capacidade máxima de síntese proteica “por digestão”. Como última vantagem, este estudo aponta a dose diária recomendada de cálcio.
ruminantes abril . maio . junho 2014 17
Alimentação
carlos flecha Provimi Iberia - departamento de ruminantes cflecha@pt.provimi.com
sistema MAXTM a ligar nutrientes! PARTE 2 2. A capacidade para entender e interpretar a variação do nutriente em conteúdo em função da origem/fornecedor. O sistema OVS dbTM (Optimum Value Supplier database) é uma ferramenta simples e dinâmica que captura, identifica e avalia, essas alterações de composição, em tempo útil, e permite tomar as decisões baseadas nos dados realmente obtidos que quantificam essas variações. Adequar necessidades com disponibilidades e procura com oferta, são grandes desafios para qualquer gestor. Nas dietas animais o sucesso passa pela maior capacidade de ligar as necessidades dos animais com a disponibilidade dos alimentos: “ligar nutrientes”. Antes de formularmos uma dieta necessitamos de perceber: quais os nutrientes fornecidos a partir dos ingredientes oferecidos e quais as necessidades em nutrientes dos animais com que estamos a trabalhar. Tudo começa com um melhor conhecimento e compreensão dos nutrientes disponibilizados aos animais, nos ingredientes usados na dieta.
Sistema MAXTM O sistema MAXTM permite integrar três processos chave para a gestão de risco
do nutriente na dieta e a consistência do nutriente disponibilizado: 1. A avaliação da forragem e do respectivo conteúdo em nutrientes, assegurada pelo Cargill RevealTM. A “pedra no sapato” de qualquer programa nutricional é afinar com precisão os resultados laboratoriais dos teores dos nutrientes aportados nos ingredientes da ração. Esta questão, é particularmente critica nas forragens, que podem representar de 40 a 60% da matéria seca de uma ração de vacas em lactação. Os níveis de nutrientes na ração de vaca podem sofrer amplas variações dependentes do grau de maturidade, das condições ambientais, da colheita, da conservação e do armazenamento.
18 abril . maio . junho 2014 Ruminantes
3. A possibilidade de alargarmos a nossa compreensão do nutriente para além daquela que as medidas laboratoriais nos facultam. Com o sistema Cargill AutoCalc®, podemos ajustar mais de 100 nutrientes a partir de uma análise laboratorial que nos informa dos nutrientes base do ingrediente. O AutoCalc assenta sobre dois vectores: a análise laboratorial, onde, por exemplo, a partir da vulgar determinação da proteína o sistema actualiza a
Variação no teor de fibra neutro detergente em DDG’s de Milho 40 38 36 34 32
x
+ x
30
-
28 26
- Q1 x Min. + Med. x Max. - Q3
x
+-
+-
x
+x
-
24
x
x
2
3
x
x x
+
x
22
+--
x
x
x
x
+--
+ -
x
+-x
x
20
1
4
5 6 Fornecedores
7
8
9
O teor de nutrientes de um mesmo ingrediente, com diferentes fornecedores/origens, pode ser altamente variável. O gráfico mostra o teor de NDF (fibra neutro detergente) do ingrediente destilados de milho (DDG Milho), proveniente de 9 fornecedores diferentes. O sinal + vermelho, indica a média para cada fornecedor. Nas caixas, situamos o intervalo que contém 50% dos resultados das amostras e as extremidades das linhas indicam o extremo superior e inferior do teor de NDF medido para cada fornecedor/ origem. É nos três primeiros, que encontramos as maiores variações, por comparação com os resultados dos restantes.
alimentação Medição e avaliação das características fìsicas dos ingredientes numa exploração. Esta, associada à composição química obtida a partir de análise laboratorial, permite-nos obter o valor do nutriente (AutoCalc). Composição Química (análise LABORATORIAL) + Características Físicas = Valor do Nutriente (AutoCalc)
informação do respectivo conteúdo em aminoácidos; e a análise física – análise tamanho da partícula “Cargill Particle Score” – permite avaliar e medir os diferentes graús de moenda. No caso do milho, por exemplo, o impacto na variação da digestibilidade é assinalável, e o AutoCalc usa essa informação para actualizar a digestibilidade do amido e o correspondente cálculo do seu valor energético efectivo. Só após entendermos a dimensão das variações reais do teor dos nutrientes nos diversos ingredientes que iremos utilizar na formulação da dieta, poderemos, de uma forma mais profissional, começar a olhar para as exigências do animal em nutrientes – necessidades nutricionais.
NEL*, Mcal/100 lbs
Efeito do “Particle Score” na estimativa do valor energético de cereais
100
90
80
70
20
40 60 80 Cargill particle score
Cevada Milho *NEL - Energia limpa de lactação
No gráfico, podemos visualizar como o tamanho da particula, determinado através do “Particle Score”, afecta o valor energético calculado para o milho e para a cevada. Verificamos que a variação ocorrida no milho é muito significativa e importante; em contrapartida, na cevada, é praticamente nula.
ruminantes abril . maio . junho 2014 19
entrevista
ESACB
Para além da Formação Entrevistado pela revista Ruminantes, o diretor da Escola Superior Agrária Castelo Branco (ESACB), Celestino Almeida, realçou a importância da Escola, não apenas do ponto de vista do ensino, como também no apoio aos produtores da região, e no intercâmbio de experiências com os seus principais agentes de desenvolvimento. por ruminantes
A ESACB comemorou, no ano passado, o 30º aniversário do início da sua atividade. Implantada nos 160 hectares da Quinta Sr.ª de Mércules, em Castelo Branco, conta com instalações agrícolas, pecuárias, laboratórios e também instalações desportivas e de lazer. Ruminantes – Quais as mais valias que esta escola tem face a outras com cursos semelhantes? Celestino Almeida - Pensamos que a caraterística comum de todas as Escolas Superiores Agrárias, e que constitui a sua principal mais-valia, é a respetiva implantação territorial em regiões com caraterísticas agrárias bastante específicas. Depois, em termos de infra-
20 abril . maio . junho 2014 Ruminantes
estruturas, equipamentos e pessoas poderá verificar-se alguma diferenciação. Acreditamos que a formação de forte caráter prático e aplicado proporcionado pelas excelentes instalações e equipamento laboratorial, pelo Centro de Investigação de Zoonoses, instalações agropecuárias, parcerias com instituições da região, organizações de produtores e empresas,…, aliada à excelente preparação e motivação dos corpos docente e técnico, constituem o elemento diferenciador da ESACB. No fundo, trata-se de uma cultura e de um ambiente organizacional muito próprios que têm dado excelentes frutos, como é frequentemente reconhecido pelos mais diversos agentes de desenvolvimento da
região. O facto de a Escola se localizar em Castelo Branco, uma cidade caraterizada pela facilidade de acesso, boa qualidade de vida, segurança e bom ambiente académico, constituem também fatores de atratividade. Qual a ligação da escola ao negócio agropecuário da região? A ligação ao negócio agropecuário é feita através de várias componentes, designadamente pelo apoio às organizações de produtores e empresas, realização de jornadas técnicas e de divulgação, e prestação direta de serviços às explorações (seja através de técnicas de maneio alimentar, reprodutivo ou sanitário, seja na
Existem outras formas de fixar micotoxinas
T5X
Muito mais que um adsorvente de micotoxinas T5X possui quatro ações principais: - Os componentes adsorventes do T5X foram selecionados num sofisticado modelo “invivo”. As micotoxinas não passam pela parede intestinal. - T5X estimula a produção de enzimas naturais especificas de neutralização/desintoxicação que catalisam a eliminação das micotoxinas. - Os poderosos antioxidantes presentes no T5X inibem os radicais livres e previnem a degradação da membrana celular. - T5X estimula o sistema imunitário não especifico, fortalecendo os animais.
Distribuído por INVIVONSA Portugal, SA. Zona Industrial de Murtede 3060-372 Murtede Cantanhede Tel: 231 209 900 – Fax: 231 209 909 geral@invivo-nsa.pt www.invivo-nsa.pt
entrevista
“O facto de dispormos de um efetivo bovino leiteiro de elevada performance (raça Holstein Friesian), dois rebanhos de ovelhas raças autóctones (Churro do Campo e Merino Branco da Beira Baixa), um núcleo de suínos da raça Bísara, e de sermos criadores oficiais de equinos da raça Lusitano, permite-nos um contacto estreito com os produtores associados a estas raças.”
elaboração de ensaios laboratoriais, ou no apoio a projetos de desenvolvimento, na contabilidade, entre outras). O facto de dispormos de um efetivo bovino leiteiro de elevada performance (raça Holstein Friesian), dois rebanhos de ovelhas raças autóctones (Churro do Campo e Merino Branco da Beira Baixa), um núcleo de suínos da raça Bísara, e de sermos criadores oficiais de equinos da raça Lusitano, permite-nos um contacto estreito com os produtores associados a estas raças, onde tentamos sempre dar um contributo segundo duas componentes: a produtiva, no sentido da maximização da eficiência e promoção dos produtos valorizados, e a da preservação e conservação das raças autóctones e do ambiente. Nos últimos dois anos, temos participado ativamente numa parceria com a Câmara Municipal de Idanha-a-Nova e com a DRAPC, no projeto da Incubadora de Empresas de Base Rural. Este projeto permitiu a criação/fixação de mais de 40 novos empresários na região, nove dos quais diplomados pelo IPCB. Que tipos de serviços presta a escola a produtores e empresas? Na área da gestão, realizamos estudos, apoiamos a elaboração e implementação de projetos e realizamos a contabilidade das explorações.
22 abril . maio . junho 2014 Ruminantes
Em termos de apoio laboratorial, realizamos ensaios em alimentos (para animais e humanos), solos, águas, plantas, resíduos orgânicos, sanidade animal e vegetal. No apoio técnico ao processo produtivo das empresas, destacamos o desenvolvimento de processos e procedimentos com vista ao desenvolvimento tecnológico e inovação. No caso da produção de ruminantes, temos vindo a apoiar as empresas no maneio reprodutivo, nomeadamente na testagem de machos e na produção de embriões, atividade desenvolvida em parceria com associações de criadores. A formação aplicada de curta duração é também uma vertente de apoio que temos disponibilizado aos produtores, nomeadamente com cursos de maneio reprodutivo, maneio alimentar, aplicação de fitofármacos, entre outros. Qual a importância da escola para a economia da região? Fundamentalmente, no produto do trabalho que os nossos diplomados têm vindo a desenvolver na região (o qual é francamente notório e reconhecido), nos serviços diretos que prestamos aos criadores e empresas, na manutenção e desenvolvimento das mais de duas centenas de parcerias que temos estabelecidas com instituições, empresas, organizações de produtores e de desenvolvimento, câmaras municipais, outras instituições de ensino, etc. O facto de os empresários poderem contar com um parceiro disponível, para com eles aceitar o desafio do desenvolvimento de novos produtos e de novas técnicas e práticas, é, no nosso entender, um elemento encorajador da ação e potenciador dos resultados. Por outro lado, há todo um conjunto de valores socioeconómicos que decorrem da presença/vivência dos nossos alunos na Cidade de Castelo Branco, dado que uma boa parte deles é oriunda de localidades distribuídas por todo o país, fazendo dela uma cidade diferente com as decorrentes vantagens económicas.
“A formação aplicada de curta duração é também uma vertente de apoio que temos disponibilizado aos produtores.”
Que percentagem dos alunos aqui formados conseguem emprego e se mantêm na região? Na verdade, não dispomos de números precisos que possam responder a esta pergunta. Porém, com o conhecimento decorrente da vivência e participação em diversos eventos (culturais, técnicos, comerciais, exibições entre outros) temos a perceção clara que existem licenciados da ESACB em praticamente todas as instituições municipais da região, no ministério da agricultura, nas organizações de produtores e, principalmente, nas empresas tanto de produção como de transformação e inovação. A empresa agroalimentar de maior relevo da região, multinacional de renome, integra numa boa parte dos seus quadros, desde o nível operacional até à gestão de topo, licenciados e mestres formados na nossa Escola. É importante realçar que alguns destes técnicos são diplomados na ESACB mas oriundos de fora da região que após o período de formação optaram por seguir um percurso profissional em Castelo Branco, onde se encontram atualmente radicados. Que mestrados tem a escola? Qual o perfil das pessoas que os frequenta? Desde a implementação do processo de adequação ao sistema de Bolonha, a ESACB tem-se preocupado em disponibilizar cursos de 2º ciclo que possam satisfazer as necessidades de especialização dos seus diplomados. Atualmente estamos a ministrar os cursos de mestrado em Inovação e Qualidade na Produção Alimentar, em Engenharia Agronómica, em Engenharia Zootécnica, em Gestão dos Recursos Hídricos e em Sistemas de Informação Geográfica, além das colaborações em cursos de mestrado com o Instituto Politécnico de Tomar e com a Universidade da Beira Interior. Estes cursos são frequentados em grande parte por alunos (sob o estatuto de trabalhador estudante) licenciados pela ESACB, que estando a desenvolver uma atividade profissional sentiram necessidade ou reconheceram a oportunidade em aprofundar e especializar os seus conhecimentos. Há também uma boa parte de alunos que, sendo recémlicenciados e encontrando dificuldade na inserção no mercado de trabalho, optam por reforçar a sua qualificação, com o intuito de melhorar o seu posicionamento relativamente à procura de emprego.
Entrevista
figura 1 Recria de novilhas nos parques semi-extensivos.
Sistema Kempen
quando é difícil fazer forragem Em entrevista à Ruminantes, os irmãos Sérgio e Osvaldo Carreira, gerentes da exploração de vacas leiteiras Sociedade Agro-pecuária J. Carreira falam acerca da sua experiência com o sistema de alimentação Kempen. por ruminantes
Em 2004, a Exploração, situada no distrito de Viseu, decidiu substituir o sistema tradicional de produção de leite, utilizado na região, pelo sistema Kempen. Neste sistema de alimentação, criado e desenvolvido para a Nanta pelo centro de investigação de ruminantes da Nutreco, na Holanda, as vacas leiteiras têm a forragem e o concentrado à livre disposição. As forragens devem ser de alta qualidade e o concentrado deverá estar disponível num comedouro com caraterísticas específicas. O perfil dos concentrados baseia-se nas mais recentes investigações e provas experimentais elaboradas no centro de investigação da Nanta. As suas caraterísticas têm em consideração o tipo de hidratos de carbono, de proteínas, assim como a sua velocidade de degradação e utilização destes pelos microrganismos do rúmen.
24 abril . maio . junho 2014 Ruminantes
Ruminantes - Quantas vacas se encontram em produção? Irmãos Carreira - Atualmente temos 40 vacas em lactação, sendo 43% primíparas. Que forragens utilizam? Temos feno e feno-silagem de uma consociação Aveia x Azevém, sendo sempre as mesmas ao longo do ano e com um perfil nutricional muito estável. Uma parte é produzida por nós e outra comprada. Qual é o consumo diário de forragem, e de concentrado, por animal? De forragem, comem em média 5 kg de feno e 2 kg de feno-silagem. O concentrado está disponível nos comedouros “Kempen” e no Robot de Ordenha, e a quantidade média diária por animal ronda os 20 kg. No robot, o intervalo mínimo e máximo de concentrado que comem é de 1 a 4 kg, respectivamente.
figura 2 Comedouro Kempen.
Entrevista
como é o caso da silagem de milho. Precisávamos de realizar um grande investimento em terrenos adequados, maquinaria, para além da mão de obra que seria mais dispendiosa. Com este sistema tudo se torna mais fácil e os resultados superaram as nossas expetativas.
figura 3 Osvaldo Carreira, Luís Marques, Fernando Fonseca e Sérgio Carreira.
Qual a produção média por vaca/dia? Neste momento estamos com uma produção média de 41.3 litro, com 3.5 ordenhas por dia em média. Temos uma genética muito apurada, resultado do investimento que fizemos em sémen de topo, ao longo dos últimos anos. Temos vacas adultas que atingem os 77 litro por dia e novilhas com
50 litro, sendo toda a recria feita na exploração, em regime semi extensivo, ou seja, estão no prado e são suplementadas com concentrado. Porque escolheram o sistema Kempen? Esta exploração localiza-se numa zona que não permite produzir forragens muito exigentes em água e solos,
O que nos pode dizer em relação à longevidade dos animais com este sistema? E em relação à fertilidade? Nunca sentimos diferença na longevidade dos animais, tenho vacas com 7 lactações, assim
como as tinha no sistema tradicional. Na fertilidade, estamos com uma média de 1.78 inseminações por vaca gestante, semelhante à que tínhamos. Os custos de produzir leite com este sistema são elevados? As contas são fáceis de fazer, sabendo que o concentrado custa 0,320€/kg, o feno 0,10€ kg, a feno-silagem 0,10€/kg. E ainda que as vacas estão com uma produção média de 41,3litros de leite/dia, e que os consumos são os atrás referidos. (ver Tabela 1)
Tabela 1 Custo alimentar por litro de leite produzido (€): 7.1 €/ 41.3 litro = 0.17 € Alimentos
Preço alimentos/kg (€) Consumo vaca/dia (kg)
Custo vaca/dia (€)
Feno
0.10
5
0.50
Feno-silagem
0.10
2
0.20
Concentrado
0.32
20
6.40
-
-
7.1
Total (€)
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ruminantes abril . maio . junho 2014 25
alimentação
Minerais orgânicos grande impacto na nutrição, baixo impacto no meio ambiente A transição para os minerais orgânicos satisfaz os requisitos nutricionais, com menos poluição por minerais não absorvidos. POR Patrick Charlton, Responsável Global dos Bioplexes da Alltech e Vice-Presidente da Europa.
26 abril . maio . junho 2014 Ruminantes
populares, utilizadas na produção de alimentos para animais. Esta tecnologia de quelação apenas é possível com os metais de transição (ferro, cobre, manganês, cobalto e zinco). Já o estado químico do iodo e selénio, importantes oligoelementos minerais da dieta da vaca leiteira, impossibilita a produção de uma versão “quelatada” destes minerais. Contudo, desde o início da década de 90 que as fontes de selénio orgânico estão disponíveis para a indústria de alimentos para animais,
60
40
34,3
+ 38 %
80
56,8
+ 139 %
100
79,3
+ 171 %
GRÁFICO 1 Efeito de várias fontes de cobre na concentração hepática de cobre em novilhas.
24,8 23,7 29,3
Entre as décadas de 50 e 90, grande parte da suplementação da dieta com oligoelementos minerais era feita à base de fontes inorgânicas, tendo contribuído em grande medida para a erradicação de doenças associadas a carências minerais nos animais de exploração. No entanto, a partir da década de 60, a produção de produtos de origem animal intensificou-se, tendo o potencial genético para o crescimento e para produção também melhorado. As maiores necessidades verificadas em todos os aspetos da nutrição, conduziram à utilização de novos ingredientes mais capazes de satisfazer as crescentes necessidades dos animais. No caso dos minerais, estes surgiram sob a forma de minerais orgânicos. “Minerais orgânicos” é um termo lato, que descreve fontes minerais de alguma forma ligadas a um ligando orgânico. A tecnologia dos minerais quelatados permitiu a aplicação comercial destes produtos com o objetivo de melhorar o status mineral das explorações leiteiras com amplos benefícios. A melhor definição de quelatos atualmente existente é, provavelmente, a da Association of American Feed Control Officials (AAFCO), que divide os quelatos em cinco grupos diferentes: complexo metalaminoácido, complexo metálico (aminoácido específico), quelato metal-aminoácido, complexo metalpolissacarídeo e proteinato metálico. Os grupos anteriores são definidos pela fonte e ligação do ligando, em que os minerais ligados a aminoácidos e péptidos à base de soja constituem as origens comercialmente mais
Fígado, Cobre, ppm
Para satisfazer os crescentes requisitos da nutrição animal ao longo dos anos, novos ingredientes têm vindo a ser utilizados. No caso dos minerais, isto significou a transição para formas orgânicas, um termo utilizado para descrever fontes de minerais ligadas de alguma forma a um ligando orgânico.
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Inicial Óxido
Sulfato
28 Dias Bioplex®
Esta figura mostra o efeito das fontes de cobre na concentração hepática de cobre em novilhas alimentadas com adição de enxofre (.15%) e molibdénio (5 ppm). Fonte: Hemken, University of Kentucky.
alimentação
GRÁFICO 2 Um melhor controlo do pH graças à degradação lenta, no rúmen, do amido da ração total.
Ingestão de Micronutrientes
com a introdução de um produto de levedura selenizada. A tecnologia utilizada na produção desta fonte de mineral é diferente da utilizada para outros minerais orgânicos pelos motivos acima indicados. Os cientistas inspiraram-se na “Mãe Natureza” para compreender a forma como as plantas acumulam selénio nos seus tecidos. O selénio é absorvido e armazenado no tecido da planta pela substituição do enxofre nos aminoácidos sulfurados, tais como a metionina ou a cistina. Da mesma forma, a levedura enriquecida com selénio é produzida pela disponibilização do selénio num meio com carência de enxofre utilizado na propagação da levedura. A verdadeira tecnologia deste processo gira em torno da seleção de uma estirpe de levedura que acumule um nível suficientemente elevado desta fonte de selénio biodisponível, de forma a que a suplementação da dieta da vaca leiteira seja economicamente rentável. A escolha da fonte de selénio orgânico é muito mais facilitada para o comprador do que a escolha de quelatos, pois são poucos os produtos de levedura selenizada disponíveis e apenas um deles terá sido submetido a processos de aprovação da União Europeia e FDA (Food and Drug Administration). Conscientes da reduzida disponibilidade das formas inorgânicas, os nutricionistas utilizam normalmente elevadas quantidades de oligoelementos na tentativa de garantir que é absorvida a quantidade necessária. Contudo, nos últimos anos, estudos como o realizado pela Universidade de Kentucky (Gráfico 1) mostram que esta prática não assegura a absorção necessária à manutenção de níveis adequados de minerais. Estudos ainda mais recentes indicam que o nível de minerais necessários à otimização da função imunitária ou da fertilidade é muito mais elevado do que o definido como necessário pelo NRC (Gráfico 2). Por último, uma crescente consciencialização da poluição ambiental causada pelos oligoelementos não utilizados, tem acarretado grande inquietação e até, mesmo, nova legislação em algumas regiões do mundo para controlo dos níveis de oligoelementos na dieta e nos dejetos.
Imunidade Crescimento/ Fertilidade Sinais Clínicos
Subclínica
Clínica Tempo
Um estudo recente demonstrou que o nível de oligoelementos necessários à otimização da função imunitária ou da fertilidade é muito mais elevado do que o definido como necessário pelo NRC (National Research Council). Fonte: Wiske, 1992, Texas A&M University (USA), Veterinary Beef Cattle Short Course
Retorno económico Há mais de 30 anos que os minerais quelatados têm vindo a ser usados eficazmente pelos nutricionistas para resolver a carência de oligoelementos. O custo é, geralmente, significativo quando comparado com o da suplementação inorgânica. Contudo, o retorno económico para o produtor de leite justiça o investimento. Tradicionalmente, a investigação e aplicação de minerais orgânicos na produção de leite tem-se focado nas três principais patologias da vaca leiteira: laminite, infertilidade e mamite. Provavelmente, o melhor exemplo do contributo positivo dos minerais orgânicos diz respeito à mamite. O custo médio de cada caso de mamite rondará os 261 euros (Esslemont et al., 2002), oscilando entre os 219 euros, nos casos mais ligeiros, e os 2.518 euros, nos casos fatais. Estes custos incluem os custos diretos e indiretos, embora não considerem a eventual deterioração da fertilidade. Além disso, Esslemont demonstrou que as vacas que apresentam um caso de mamite têm uma probabilidade 1,6 vezes superior de terem outro caso, ascendendo o custo médio total por vaca a 296 euros. O zinco é um oligoelemento essencial, componente integrante de mais de 300 enzimas (Dibley, 2001), estando também envolvido em diversos
processos de restabelecimento da vaca. Nos ruminantes, a absorção de zinco diminui com o aumento do número de partos, embora os mecanismos que afetam a absorção não tenham sido, ainda, claramente definidos. O canal do teto é revestido por queratina, uma proteína dependente do zinco, que atua como uma barreira física que impede as bactérias de entrarem na glândula mamária. Em cada ordenha, aproximadamente 40% do revestimento de queratina é removido (Kellogg 2004), sendo necessária a sua constante regeneração. Bitman e colaboradores, em 1991, mostraram que, antes da ordenha, a queratina no canal do teto de vacas Holstein era 1,6 vezes superior à existente depois da ordenha. O zinco também desempenha um papel importante na função imunitária, estando envolvido na superóxido dismutase (SOD) de Cu/Zn (cobre/zinco), responsável pela prevenção da peroxidação dos lípidos. Foi demonstrado que a inclusão de zinco suplementar na dieta, bem como a respetiva forma, ajuda a reduzir a incidência de infeções mamárias e a diminuir a contagem de células somáticas (CCS). Um estudo realizado por Spain et al. (1993) mostrou que vacas, no meio da lactação, suplementadas com proteinato de zinco são mais resistentes a infeções bacterianas do que vacas suplementadas com óxido de zinco. A baixa suscetibilidade à invasão bacteriana da glândula mamária pode explicar a reduzida taxa de novas infeções em vacas tratadas vs controlo. Mais, estudo realizado por Kinal et al. (2005) refere que a ¬substituição de 30% de cobre, zinco e manganês inorgânicos por fontes orgânicas, durante seis semanas pré-parto até 305 dias de lactação, resultou num aumento de 6,5% da produção de leite e numa redução de 34% na contagem de células somáticas (CCS). Este impacto positivo do zinco na produção de queratina tem levado à utilização generalizada de zinco orgânico para a melhoria da saúde do casco e para Prevenção/recuperação de laminite. Em 1998, Stern e colaboradores investigaram o efeito da forma de suplementação do zinco na avaliação clínica macroscópica, na avaliação microscópica da qualidade coronária do corno e na
ruminantes abril . maio . junho 2014 27
alimentação
tabela 1 Resposta reprodutiva a uma combinação de cobre, zinco e selénio orgânicos. controlo
combinação
Dias até ao 1º folículo dominante
9,3
7,8
% com ovulação do 1º e o 2º FD
70
90
% com ovulação do 3º FD
20
10
% com ovulação do 4º FD
10
-
Dias pós-parto até ovulação
25,3 +/- 3,1
20,4 +/- 1,4
Dias até ao primeiro serviço
75,4 +/- 6,1
68,8 +/- 3,8
57,7
65,2
% de conceção ao primeiro serviço
resistência à tração de vacas. Os animais que receberam proteinato de zinco tenderam (P <0,1) a apresentar melhores resultados clínicos relativamente à qualidade microscópica do corno e à resistência à tração. A fonte de zinco orgânico melhorou ainda os resultados da avaliação clínica macroscópica. O aumento consistente da produção de leite ao longo dos últimos 50 anos teve um impacto negativo na fertilidade. Embora existam várias causas, a carência em oligoelementos terá, também, contribuído. Com efeito, algumas carências em oligoelementos manifestam-se através de problemas de fertilidade, incluindo anestro (cobre e manganês) e retenção placentária (selénio). Um estudo realizado por O’Donoghue e Boland, na University College, em Dublin, na Irlanda, evidenciou uma resposta significativa da suplementação com uma combinação de cobre, zinco e selénio orgânicos dos 14 dias antes do parto até 12 semanas após o parto, em vários parâmetros reprodutivos (Tabela 1). Respostas comerciais semelhantes conduziram à utilização generalizada de minerais orgânicos nos alimentos concentrados e suplementos minerais comerciais como um substituto parcial de fontes de minerais inorgânicos, a nível mundial. Historicamente, tem sido considerado que a substituição total de oligoelementos inorgânicos por fontes orgânicas não só é dispendiosa, como também injustificável do ponto de vista nutricional. A lógica subjacente¬ a este facto assenta no pressuposto de que as fontes minerais orgânicas
28 abril . maio . junho 2014 Ruminantes
Estudos demonstraram uma resposta significativa em vários parâmetros reprodutivos em vacas alimentadas com uma combinação de cobre, zinco e selénio orgânicos, dos 14 dias antes do parto até às 12 semanas após o parto.
protegidas, em teoria, não estão disponíveis para as bactérias ruminais, potencialmente limitando a função bacteriana ruminal. Na realidade, as fontes de minerais orgânicos estão disponíveis para a microflora intestinal, o que não deverá constituir surpresa se considerarmos que antes da utilização de suplementos inorgânicos, os minerais orgânicos encontrados em grãos, etc., eram as únicas fontes disponíveis para o animal. Investigação original com selénio orgânico demonstrou claramente que 100% por cento do selénio suplementar pode provir de fontes orgânicas, resultando em melhorias significativas em parâmetros reflexos do status do animal como, por exemplo, em sangue, tecido, leite e pêlo. Esta constatação resultou na recomendação de utilização de 100% de fontes de selénio orgânicas nas principais espécies de animais de exploração. Investigação mais recente tem-se concentrado nos oligoelementos quelatados para determinar a possibilidade de se seguir uma estratégia semelhante. Num trabalho realizado¬ na Harper Adams University College, no Reino Unido, foi registada uma resposta de produção de 2,4 litros de leite por vaca, quando o proteinato de zinco orgânico substituiu uma forma inorgânica. Este trabalho suporta resultados noutras espécies animais, apoiando a substituição total do fornecimento de oligoelementos por fontes orgânicas como uma estratégia viável e rentável.
…a crescente consciencialização da poluição ambiental causada pelos oligoelementos não utilizados, tem acarretado grande inquietação e até, mesmo, nova legislação em algumas regiões do mundo...
Impacto significativo Melhoramento genético, no sentido de um melhor desempenho animal, continuará a ser necessário para a rentabilidade económica do setor leiteiro. Consequentemente, é necessária uma melhor nutrição ao longo do ciclo de vida dos animais. Os oligoelementos podem constituir, apenas, uma pequena parte da dieta, mas têm um impacto significativo na saúde e no desempenho das vacas. O desenvolvimento da tecnologia dos oligoelementos orgânicos deu origem à sua utilização generalizada nas explorações animais. A futura utilização de oligoelementos orgânicos como única fonte de fornecimento permitirá uma utilização mais eficiente dos nutri¬entes chave destinados a otimizar a produção e o desempenho, bem como a uma nutrição ambientalmente responsável [FM].
entrevista
Produzir leite
para fabricar queijo Entrevista a Hélder Duarte sócio gerente da Agroleite de Canha. por ruminantes
Na empresa Agroleite de Canha, situada na localidade com o mesmo nome, no concelho do Montijo, há atualmente 445 vacas leiteiras em produção. Aqui, praticamente todo o leite produzido é entregue e transformado, na Montiqueijo, uma empresa que pertence ao mesmo Grupo, em queijo fresco, seco e requeijão. Hélder Duarte, sócio gerente da empresa, contou à Ruminantes como fez para melhorar a produtividade da sua exploração e diminuir os problemas sanitários do seu efetivo. Ruminantes - O que procura quando pensa na genética da sua exploração? Hélder Duarte – Essencialmente, vacas duradouras, com poucos problemas e que me permitam fazer mais queijo, ou
30 abril . maio . junho 2014 Ruminantes
seja, que produzam leite rico em proteína, nomeadamente na K-caseína BB. Qual é a base genética do seu efetivo? No início, começámos com animais importados de França, da raça Holstein, mas a pouco e pouco tenho vindo a cruzá-los com animais da raça Vermelha Sueca e Montebeliard, de acordo com o programa Procross. Estava com problemas de consanguinidade nas Holstein, e, ao visitar explorações com este sistema, vi vacas com mais vida, mais saudáveis e com pouca diferença na produção de leite. Por outro lado, consegui aumentar o rendimento do queijo. Como faz o seu melhoramento? Utilizo genética de topo, e preocupo-me
com os índices proteicos, a K-caseína BB em particular, e também com os úberes. A utilização do Vigor Híbrido nas suas vacas teve importância económica? Sem dúvida que sim, porque se refletiu na melhoria global da produção em quantidade e qualidade, e também na longevidade e saúde dos animais. O maneio é fácil, sem problemas de maior, os custos de produção reduziram. Está de acordo quando se diz que a reprodução é o fator económico nº1 numa exploração leiteira? Claro que sim, sem uma boa reprodução não se consegue a frequência desejada de parição das vacas (cada 365 dias), e os problemas de reprodução refletem-se
entrevista
diretamente nas vacas de alta produção quando estas estão mais “frescas” (recém paridas). Por vezes, uma má reprodução obriga a refugar uma vaca com boas produções diárias, mas com baixa fertilidade.
dados gerais da exploração Nº de vacas em lactação: 445 Litros de leite ano: projecção para 2014 de 5.840.000 litro Produção média leite vaca/dia: 36,5 litro Base da alimentação forrageira: Silagem de milho e azevém Forragens compradas: Silagem de milho Tipo de sala de ordenha: 20x2 paralela Nº de ordenhas por dia: 2 ordenhas (3 ordenhas nas altas produtoras) Área produção de forragem: 300 ha Nº de trabalhadores: 12
Qual a percentagem atual de vacas cruzadas existentes no seu rebanho? Nas vacas em produção, são cerca de 15%, mas todo o efetivo está já neste programa de cruzamentos. Qual o seu objetivo futuro na utilização do programa rotacional de cruzamentos Procross? Estou satisfeito, e por isso pretendo continuar a implementar o programa corretamente, como recomendado pelos técnicos. Qual é a vida produtiva média das suas vacas? Atualmente está nas 4,5 lactações/vaca, mas vinha de valores mais baixos. Os animais cruzados resultantes deste programa rotativo a três raças são mais eficientes em termos alimentares? Talvez, mas não posso confirmar. O que posso dizer é que comem menos e, em média, são mais pequenos que as Holstein.
Lote das vacas de alta produção.
Exploração Agroleite de canha Montijo.
Quais são os problemas que tem tido com maior incidência na sua exploração? Sobretudo as mastites, mas estas têm vindo a diminuir significativamente. Por um lado, alterei o maneio, passei as camas de palha para areia. Por outro, estas vacas cruzadas, que cada vez são em maior numero no efetivo, são menos atreitas a mastites. Deste há 3 anos para cá que temos vindo a reduzir os custos com o tratamento dos animais.. O que tem feito nos últimos 5 anos para diminuir os custos de produção? A grande percentagem dos custos de produzir leite vem da alimentação. O que fiz, foi começar a produzir quase toda a forragem que preciso. Mesmo a forragem que compro fora é cortada por mim, quando necessário. Isto permitiu baixar os preços da forragem e, principalmente, a qualidade nutritiva da mesma.
Média geral do Rebanho no último semestre 2013 Média Taxa de IA Ciclo de Cio: 50% Média 1ª IA: 80 Dias Média Dias em Aberto: 142 dias Média Intervalo Partos: 428 dias Média Taxa Prenhez: 8% Média nº doses/vaca Grávida: 2,8 Média dias no Leite: 198 dias Média de Produção Diária da exploração: 35,5l % Gordura: 3,94 % Proteína: 3,37 CCS: 653 000
Media Geral do Grupo das Vacas Adultas Procross em Produção 67 Animais 15% efectivo Médias Dias 1ª IA: 70 dias Média Dias em Aberto: 116 dias Intervalo Partos: 396 dias Média dias no Leite: 150 dias Média nº doses/ vaca grávida: 2,5 Média produção diária actual: 34,5 % Gordura: 4,46 % Proteína: 3,45 CCS: 476 000
Hélder Duarte Sócio gerente da Agroleite de Canha.
Que indicador utiliza diariamente para saber se tudo está a correr bem na exploração? Baseio-me principalmente na observação dos os animais e do seu comportamento, e vejo os mapas de “alertas” do sistema ALPRO, que são imprimidos diariamente. Para além disso, comparo a produção de leite desse dia com a do dia anterior. Quais os fatores que gostava de ver melhorados nos próximos cinco anos? Aquilo que temos em mente é certificar o leite que produzimos, porque a nossa fábrica é certificada.
ruminantes abril . maio . junho 2014 31
Atualidades
Coopex Montbeliarde Cooperativa Francesa de Exportação da area Genética da Raça Montbeliarde
Nova parceria investe na marca ProCross
www.coopex.com
VikingGenetics Internacional Cooperativa Escandinava (Dinamarca,Suécia e Finlandia) da area da Genética de Raças Bovinas. www.vikinggenetics.com
Ugenes Unipessoal,Lda Distribuidor oficial e exclusivo para Portugal de todos os produtos Genéticos da Coopex Montbeliarde e VikingGenetics Internacional.
A partir de 1 de Abril de 2014, a VikingGenetics e a Coopex Montbeliarde, duas cooperativas da area da genética, iniciam uma parceria na nova empresa denominada ProCross, uma subsidiária detida em partes iguais por ambas as empresas. O objectivo principal é desenvolver a marca ProCross e o seu conceito dos cruzamentos a uma escala global. Com base na cooperação através do conceito de cruzamentos ProCross
desenvolvido nos USA e na Europa na ultima década, a VikingGenetics & Coopex Montbeliarde decidiram fortalecer ainda mais os seus laços através da força do trabalho, conhecimento e experiência com os seus distribuidores no mais inovador conceito na industria da inseminação artificial: ProCross. “O conceito ProCross já está a ser utilizado em muitos países por produtores de leite muito progressistas essencialmente focados para o lucro do seu negócio. Na procura da melhor
eficiência, esses produtores não deixam nenhum detalhe ao acaso”, diz Claus Fertin, Vice Presidente da Empresa ProCross. A combinação de três raças leiteiras bastante competitivas e não relacionadas -VikingRed, Montbeliarde e Holstein - já provou que são o cruzamento mais rentável e homogéneo da atual indústria da produção de leite. “O ProCross é o primeiro programa de cruzamento deste tipo que permite a combinação de alta produção, eficiência reprodutiva e saúde, garantindo um grande retorno financeiro por vaca”, observa Tristan Gaiffe, Presidente do Conselho na ProCross. Em Portugal, a UgenesUnipessoal,Lda tem sido desde há vários anos um distribuidor de ambas as empresas, VikingGenetics e Coopex Montbeliarde e naturalmente continua como distruidor da ProCross para todo o território nacional.
Inovpec disponibiliza nova gama de serviços
HIPRA PORTUGAL
A Inovpec passa a disponibilizar uma nova gama de serviços relacionados com a ordenha, nomeadamente avaliação estática, avaliação dinâmica, diagnóstico da lavagem, otimização da rotina de ordenha e otimização das definições da máquina de ordenha. Estes serviços são enquadrados no objetivo de fornecer soluções inovadoras, quer por produtos quer por serviços prestados. Com uma abordagem única e multidisciplinar, a Inovpec promove o encontro entre a eletrónica e mecânica dos equipamentos com o fator animal e humano, gerando o maior conforto para animais e ordenhadores, assim como a utilização mais eficiente dos recursos disponíveis. A Inovpec disponibiliza os seus serviços em todo o território nacional.
Carla Azevedo será a nova responsável pelo desenvolvimento da estratégia de marketing em Portugal e pela promoção do crescimento do portfólio de ruminantes na Hipra Portugal (Hiprabovis 4 e Startvac). Junta-se á equipa da Hipra Portugal como Technical and Marketing Manager – Ruminantes.
Para mais informações www.inovpec.pt
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Testemulhos de produtores nacionais com experiência de vacas Procross
João Luis Reis Sócio Gerente da Soc. Agro Leiteira J.Dias Reis & Filhos,Lda Encarnação - Mafra
“Com a nossa experiência das vacas PROCROSS desde 2008, temos notado que os diversos problemas existentes nas vacas puras Holstein diminuíram substancialmente e as produções são idênticas. É de realçar principalmente a qualidade do leite, aumento da Gordura e Proteína a saúde do rebanho em geral e as mais valias económicas na venda dos animais cruzados seja das vacas ou dos vitelos.”
António Castanheira Gestor da Exploração Propriedade de Alexandre A.Cunha Casal de Quintanelas- Sabugo
“Já temos 80% das vacas cruzadas, e o que podemos facilmente constatar é que o vigor híbrido funciona a vários níveis desde a reprodução (o intervalo de partos já baixou de 450 para 389), na longevidade ou na taxa de refugo que já baixou para valores da ordem dos 22% (vindo de 35%) na rusticidade e saúde em geral com gastos significativamente menores de medicamentos. Na produção fazem picos menores mas são mais persistentes. Dentro de dois anos com o número de fêmeas já nascidas teremos mais 40% de vacas em ordenha!”
José Caiado
José Pádua
DVM Dairy Consulting
Eng. Agrónomo, Director de Explorações de Ruminantes da Saprogal
“Acredito na imprescindibilidade do Vigor Híbrido para a rentabilidade produtiva a longo prazo. Nesse sentido o cross-breeding conseguido via ProCross parece-me uma estratégia de sucesso. O acompanhamento de explorações que optaram pelo seu uso vai-me demonstrando esta tese.”
“Na experiência profissional na área das explorações leiteiras, tenho constatado que os clientes que já aderiram parcial ou totalmente ao programa rotacional PROCROSS têm animais mais saudáveis, mais produtivos e com refugo anual mais baixo. Confirmo assim, que na produção de leite, a mais valia da utilização do Vigor Híbrido é de fundamental importância no aumento da eficiência das explorações.”
George Stilwell DVM, PhD, Diplom ECBHM Professor Auxiliar, Faculdade de Medicina Veterinária, Universidade Técnica de Lisboa
“Confesso que olhei com algum cepticismo para as primeiras tentativas de cruzamento sistemático de raças leiteiras, de que resulta a vaca ProCross. Actualmente, depois de trabalhar com elas durante mais de 5 anos posso afirmar que me surpreenderam positivamente pela sua capacidade de adaptação aos diversos momentos do ciclo reprodutivo, nomeadamente, no início da lactação, em que não parece haver perda significativa de condição corporal, na maior resistência a doenças e na maior fertilidade. Estou agora convicto que, apostando em touros de alto mérito genético, se consegue uma vaca mais sustentável e igualmente produtiva. Alguns problemas que advém desta estratégia reprodutiva parecem-me ser superados pelas vantagens.”
economia
um cenário ainda confuso
observatório
Se algum tempo atrás tínhamos a ideia de estar na terra da confusão, a situação está longe de estar mais clara, mas tentaremos dar uma ideia do que poderá vir a ser o comportamento dos preços dos cereais para esta e para a próxima colheita. por paulo costa e sousa
Até ao verão, não se vislumbra qualquer situação que possamos apelidar de baixista, se bem que tampouco a possamos classificar de drasticamente altista. Apesar de toda a situação política agitada no fornecedor de milho habitual de Portugal, a Ucrânia continuou a exportar, de forma ininterrupta, cerca de 3 milhões de toneladas por mês, pelo que a quantidade exportável deverá chegar sensivelmente até ao princípio do verão, colocando-se a questão da origem do milho a seguir ao términos das exportações da Ucrânia. No entanto, a situação de instabilidade fez, obviamente, com que os preços subissem nesta origem, pelo que, nos últimos 2 meses, temos assistido a uma escalada contínua. Com o terminar desta origem, e com uma alternativa pouco clara para o verão, a situação não apresenta contornos particularmente baixistas. Desconhecendo-se a saída da nova colheita, o enlaçar das duas pode arriscar um perfil difícil em termos de preço. No caso do trigo, este cereal tem subido ultimamente, arrastado também pelo milho, de modo a que, de momento, não
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constitui uma alternativa muito clara. Sobre a nova colheita, pouco há ainda disponível além das intenções de sementeira nos EUA que apontam para uma maior área de soja em detrimento do milho, devido ao preço mais atrativo da primeira. No caso da Ucrânia, ainda se está longe de poder medir o impacto da situação política sobre a economia do agricultor, mas a pesada desvalorização da moeda ucraniana tornará as importações mais caras, nomeadamente no que se refere aos inputs agrícolas, como sejam as sementes, os pesticidas ou os combustíveis. É difícil antecipar o impacto na área semeada que, neste contexto, dificilmente poderá crescer significativamente, devendo, muito provavelmente, acontecer o contrário. Além disso, convém lembrar que a colheita 2013/2014 teve rendimentos anormalmente altos pelo que, meramente por estatística, dificilmente se repetirão dois anos record de seguida, ou seja, mesmo que não haja redução na área semeada, a produtividade poderá baixar um pouco. Assim sendo, e de momento, não parece ser provável que
o cenário de outubro passado se volte a repetir, mas recordamos que muito, ou melhor, quase tudo está por acontecer com o milho. No caso do trigo, nada aponta para que haja algum problema com a colheita, e teremos alguns stocks importantes de trigo e de cevada a rolar de uma colheita para a outra em Espanha, que poderão ter algum efeito sobre os cereais praganosos em Portugal. No caso das proteínas, mais uma vez concluímos que as proteínas baratas são um mito, o inverso sucessivo que leva a que a disponibilidade seja apertada tem impedido uma baixa. O mercado vive na esperança de que os preços, no verão possam ser diferentes, mas o que é facto é que estes tardam em chegar, se é que algum dia isto venha a acontecer. A falta de liquidez do mercado parece aconselhar a que, quando se vê as proteínas a preços historicamente convidativos, devemos assegurar o abastecimento e, de facto, nos últimos largos meses quem seguiu esta política foi largamente recompensado.
economia
Evolução do preço de matérias primas (em Euros/tonelada) Preços semanais de 14 de março 2011 a 14 de março 2014 milho
cevada €/ton
€/ton
310
300
290
280
270
260
250
240
230
220
210
200
190
180
170
160
valor da semana de 10 a 14 de março
valor da semana de 10 a 14 de março
trigo
bagaço de soja €/ton
€/ton
600
310
550
290
500
270 250
450
230
400
210
350
190
300
170
250
valor da semana de 10 a 14 de março
valor da semana de 10 a 14 de março
bagaço de colza
bagaço de girassol €/ton
€/ton
360
440 400
330
360
270
320
240
280
210
240
180
200
150
160
120
valor da semana de 10 a 14 de março
valor da semana de 10 a 14 de março
Fonte: www.revista-ruminantes.com
Evolução do preço médio de alimentos compostos para animais (em Euros/tonelada) vacas leiteiras em produção
novilhos de engorda
2010 2011 2012 2013
€/ton
€/ton
2014
500 550
450
500
400
450
350 300
400
250
350
200
300
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 meses
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 meses
Fonte: IACA
ruminantes abril . maio . junho 2014 35
economia
USDA, LTO, INE,
observatório Fontes: USDA, Agência Estado, EDA, Euromilk, Anil, GPP, Agroinformacion
Perspetivas para 2014 A crescente procura de produtos láteos verificada na Ásia, especialmente na China, será a principal responsável pelo aumento dos preços do leite à produção estimado para 2014. Prevê-se que os EUA aumentem ligeiramente a sua produção de leite e que a Nova Zelândia consiga responder à crescente procura da China, com preços altamente favoráveis para o produtor. Quanto à União Europeia, as previsões apontam para um aumento na produção, sobretudo se o Reino Unido e a França produzirem de acordo com a quota que lhes foi atribuída.
EUA A previsão aponta para um aumento da produção de leite de vaca na ordem de 1%, devido a um ligeiro crescimento das vacadas de leite nos EUA, cerca de 0,3%, e a uma maior produção de leite por animal, estimada em 1,9%. O valor calculado de produção de leite situa-se em 5,4 mil milhões de euros, o que traduz um aumento na ordem dos mil milhões de euros. De referir, que o produtor contará com preços de
36 abril . maio . junho 2014 Ruminantes
venda mais favoráveis e com custos de alimentação inferiores aos verificados no passado recente. De notar que a procura internacional continuará a ser determinante para o mercado americano. Em 2013, as exportações norte-americanas atingiram um novo record. Nos últimos anos, o mercado mundial de laticinios cresceu, sobretudo devido à procura verificada na China, permitindo aos EUA continuar a ocupar um lugar relevante no xadrez mundial das exportações. No primeiro semestre de 2014, estima-se que os EUA irão assistir a uma forte procura internacional, o que se traduzirá num aumento dos preços dos produtos exportados. Prevê-se que a União Europeia e a Austrália consigam aumentar a produção de leite, face a 2013, ano em que a produção ficou comprometida devido às desfavoráveis condições climatéricas. Este facto contribuirá para um decréscimo das exportações norte-americanas na segunda metade de 2014. No entanto, o crescimento verificado no setor produtivo norte-americano vai ser canalizado para o mercado interno, onde se prevê uma procura crescente devido
também à redução de preços dos produtos láteos.
Nova Zelândia A balança comercial da Nova Zelândia registou, no passado mês de janeiro, o seu terceiro superávit, graças à venda de produtos láteos para a China. Devido à crescente procura de leite e derivados, estima-se que o produtor receba mais por cada quilo de leite, facto que terá um impacto positivo no mercado interno neozelandês, onde se verificará um aumento do poder de compra. A indústria de laticínios, um pilar importante na economia do país, representa cerca de um quarto da receita das exportações. A maior companhia de laticínios do país, a Fonterra, responsável por um terço das exportações mundiais de produtos láteos, anunciou, aos seus 10.500 associados, que irá pagar 5,3€ por quilo de leite, valor muito acima dos 3,5€/kg, pagos no ano comercial anterior. Estima-se que a China continuará a ser o principal importador de laticínios da Nova Zelândia durante o ano de 2014 e, se assim se verificar, o preço do leite ao produtor atingirá valores record..
economia
União Europeia No primeiro semestre de 2013, assistimos a um decréscimo da produção de leite, sobretudo devido às desfavoráveis condições climatéricas. No entanto, no segundo semestre, a Europa assistiu a uma boa recuperação da produção do leite, que registou aumentos de 0,7%, face ao mesmo período de 2012. Em 2014/2015, ano em que termina o sistema de quotas, os Estados Membros ainda produzirão de acordo com os níveis de quota estipulados em 2013/2014, sendo esperado um aumento significativo da produção. Para isso se verificar, o preço do leite terá que continuar alto e o preço dos alimentos dever-se-á manter estável, variável que depende dos resultados conseguidos ao nível das colheitas. Estima-se que sete Estados Membros, com peso no mercado do processamento de leite, excederão a quota de produção, sinal óbvio de um bom ano para o setor do leite. Espera-se que, em França e no Reino Unido, a produção possa crescer substancialmente. Se assim se verificar, estes dois países deixarão de subutilizar as quotas que lhes
preço do leite standardizado (1) países
companhia
bélgica alemanha
França
média dos ultimos 12 meses (4)
Milcobel
41,08
38,24
Alois Müller
40,87
37,92
39,05
37,49
40,06
39,42
Hameenlinnan Osuusmeijeri
43,24
45,64
leite à produção
Bongrain CLE (Basse Normandie)
42,16
36,76
Preços médios mensais em 2014
Danone
39,61
36,49
Lactalis (Pays de la Loire)
41,34
36,07
Sodiaal
36,88
35,73
janeiro
Dairy Crest (Davidstow)
39,73
36,81
First Milk Irlanda
Holanda
38,09 38,94
37,78
Kerry
38,85
37,18
Granarolo (North) DOC Kaas Friesland Campina
42,16 41,54
41,96
42,01
41,19 38,26
Emmi A.G.
52,74
50,14
Nova Zelândia
Fonterra
40,40
37,44
EUA
EUA (3)
Fonte: LTO (1) Preços sem IVA, pagos ao produtor; Preço do leite de diferentes empresas leiteiras para 4,2% de MG e 3,4 de teor proteico • (2) Média aritmética (3) Ajustado para 4,2% gordura, 3,4% proteina e contagem de células somáticas 249,999/ml • (4) Inclui o pagamento suplementar mais recente
2013
39,11
40,35
38,06
meses
34,37
Glanbia
Preço médio leite (2) Suiça
Segundo fonte do GPP, em janeiro o produtor de leite recebeu, em média, 0,37€ por quilo de leite. Já em Espanha, o valor médio pago no mesmo período foi de 0,39€ por quilo. Com o fim das quotas leiteiras, previsto para o dia 30 de março de 2015, o mercado necessitará de outros mecanismos de regulação que permitam antecipar e resolver situações de crise que ocorram no setor. No entanto, os produtores de leite terão que estar de olhos postos em mercados extracomunitários e pensarem em alternativas, tentando acrescentar valor às exportações leiteiras, através, por exemplo, da transformação do leite cru em queijo ou iogurtes, dois produtos em que Portugal não é auto-suficiente. De referir que o país começou a exportar leite para a China em Maio de 2013, negociação que se arrastava desde 2004.
Nordmilch
Inglaterra
Itália
Portugal e Espanha
Arla Foods
Dinamarca Finlândia
preço do leite (€/100kg) JANEIRO 2014
foram atribuídas, sendo a consequência um crescimento da produção estimado em 1,8%. Segundo a diretora de economia da EDA (European Dairy Association), Bénédicte Masure, aguarda-se um aumento na procura fora do mercado europeu e um incremento do leite processado, em produtos de alta qualidade, como os queijos, e em produtos onde a proteína é incorporada conferindo-lhes um maior valor nutricional. Estima-se que o número de vacas leiteiras estabilize em 2014, com tendência a decrescer a partir de 2015, embora a uma velocidade menor daquela que tem vindo a ser verificada nos últimos vinte anos.
33,51
2014
eur/kg
teor médio de matéria gorda (%)
teor proteico (%)
Contin.
Açores
Contin.
Açores
Contin.
Açores
0,320
0,319
3,86
3,88
3,32
3,13
fevereiro
0,321
0,318
3,86
3,78
3,31
3,14
março
0,322
0,316
3,79
3,84
3,32
3,17
abril
0,337
0,312
3,75
3,73
3,27
3,21
Maio
0,319
0,309
3,72
3,64
3,26
3,20
Junho
0,330
0,313
3,69
3,70
3,22
3,15
Julho
0,325
0,326
3,60
3,76
3,16
3,11
Agosto
0,327
0,327
3,64
3,79
3,19
3,10
Setembro
0,358
0,342
3,71
3,87
3,25
3,14
outubro
0,360
0,343
3,78
3,92
3,28
3,24
NOVEMBRO
0,375
0,340
3,92
3,83
3,29
3,17
DEZEMBRO
0,377
0,354
3,98
3,82
3,36
3,19
JANEIRO
0,372
0,349
3,89
3,75
3,31
3,28
Fonte: SIMA Gabinete de Planeamento e Políticas
ruminantes abril . maio . junho 2014 37
economia
ÍNDICE VL
Continua o bom momento para a produção de leite POR: António Moitinho Rodrigues, docente/investigador, Escola Superior Agrária do Instituto Politécnico de Castelo Branco Carlos Vouzela, docente/investigador, Departamento de Ciências Agrárias da Universidade dos Açores Nuno Marques, revista Ruminantes
No número 11 da revista Ruminantes, editado em outubro de 2013 (Ruminantes, Ano 3 – N.º 11), foi publicado um artigo com o título “Índice VL, uma ferramenta útil para a bovinicultura leiteira”. Pela primeira vez foi apresentado em Portugal o Índice VL, indicador que reflete a rentabilidade da produção de leite que está muito dependente dos custos com a alimentação da vaca leiteira. O Índice VL resulta do cociente entre a receita obtida com a venda do leite produzido por vaca da exploração e os custos associados à alimentação da mesma vaca (Rodrigues et al., 2013). Analisamos neste número da Ruminantes o período de novembro de 2013 a janeiro de 2014, período em que a evolução dos preços do leite e dos alimentos foi favorável ao produtor. O preço do leite tem apresentado uma tendência crescente, embora tenha diminuído ligeiramente em janeiro de 2014 relativamente a dezembro de 2013 (SIMA, 2014), e os custos com a alimentação da vaca têm vindo a diminuir. Isto reflete-se no Índice VL que em janeiro de 2014 estava em 1,923, quando um ano antes era de 1,605. Se considerarmos que o valor 1,5 é um valor moderado representando um negócio saudável e 2 é um valor elevado muito favorável para o sucesso económico da exploração (Schröer-Merker et al., 2012), concluímos que os
produtores de leite vivem, um momento favorável. Em alguns casos, os produtores estão a aproveitar esta situação para sanear financeiramente as contas das explorações, depois do dificílimo ano de 2012. Recorde-se que em julho de 2012 o Índice VL atingiu 1,283 um valor muito baixo e absolutamente insustentável para manter a rentabilidade da exploração. Em outros casos o bom momento que vive a produção de leite está a ser aproveitado para aumentar o efetivo e para melhorar a eficiência produtiva da exploração, preparando-a para o fim do regime de quotas leiteiras. A crise na Ucrânia, país com importante produção cerealífera, poderá fazer-se ressentir no aumento dos preços das matérias-primas nos mercados internacionais. Se esta situação se verificar, o preço dos alimentos compostos tenderá a subir. Se o principal objetivo dos produtores for o LUCRO, a produção de leite terá que depender cada vez menos da utilização de alimentos compostos cujos preços estão muito dependentes dos preços das matérias-primas no mercado global. Isto só será possível se na própria exploração forem produzidas forragens de muito boa qualidade nutricional (Ex. silagem de milho, feno silagem de gramíneas/leguminosas,…).
notas: O preço do leite pago ao produtor do continente aumentou acentuadamente durante o ano 2013. No entanto, em janeiro de 2014 (0,372€/kg) teve uma ligeira queda relativamente ao mês anterior (0,377€/kg); O preço médio das 3 principais matérias-primas que entram na formulação do alimento composto diminuiu entre novembro de 2013 (0,308€/kg) e janeiro de 2014 (0,291€/ kg). Esta variação traduziu-se numa tendência decrescente do preço do alimento composto; Desde setembro/outubro de 2013 que os preços da silagem de milho e da palha de cevada estão mais baixos do que na mesma altura do ano 2012; Os 3 aspetos anteriores refletem-se no Índice VL que em janeiro de 2014 foi de 1,923. De acordo com Schröer-Merker et al. (2012), o Índice VL próximo de 2 é elevado sendo indicador de condições favoráveis para o sucesso económico da exploração de leite. Referências Bibliográfia: Não foram incluídas por uma questão de espaço editorial, mas os autores disponíbilizam bastando enviar um email para geral@revista-ruminantes.com.
Evolução do Índice VL Índice VL
janeiro
1,605
fevereiro
1,613
2013
2014
março
1,615
abril
1,700
Maio
1,585
Junho
1,643
Julho
1,651
Agosto
1,603
Setembro
1,853
outubro
1,833
novembro
1,905
dezembro
1,904
janeiro
1,923 Valor do Índice VL
38 abril . maio . junho 2014 Ruminantes
DE JULHO DE 2012 a janeiro de 2014 O valor é influenciado pela variação mensal do preço do leite pago ao produtor português e pelas variações mensais dos preços dos alimentos que constituem o regime alimentar da vaca leiteira tipo (concentrado 9,5 kg/ dia; silagem de milho 33 kg/dia; palha de cevada 2 kg/dia). 2,0
Valores do Índice VL
últimos 13 Meses
1,5
1,0 julho 2012
Limiar de rentabilidade
janeiro 2014
Negócio saudável
Forte ameaça para a rentabilidade da exploração
alimentação
Alimentação Líquida de Açúcares POR Hugo Sousa, ED&F Man Portugal hugo.sousa@edfman.com
Grupo ED&F Man O Grupo ED&F Man, com mais de 230 anos de existência, opera globalmente em cerca de 60 países na produção, comercialização e distribuição de produtos agrícolas, principalmente açúcar, café e melaços para alimentação humana e animal. Líder mundial no fornecimento de melaços e de produtos líquidos para a alimentação animal, com uma forte presença na Europa e nos Estados Unidos da América, a ED&F Man tem vindo a desenvolver novos produtos líquidos para ruminantes, com resultados extremamente positivos em países como o Reino Unido, Itália, Irlanda e Alemanha. Com especial enfoque nos Bovinos de Leite, e com o objectivo de entregar valor acrescentado às explorações pecuárias altamente especializadas, oferece uma linha de Alimentos Líquidos completa, um conceito desenvolvido quer pelo I&D da maior empresa de alimentos líquidos dos EUA - a WestWay Feed é detida a 100% pela ED&F Man -, quer pelos pólos de desenvolvimento de produto da ED&F Man no Reino Unido e em Itália, onde o conceito da Alimentação Líquida de Açúcares é hoje aceite como uma peça base na produção de leite em explorações de topo.
Em Portugal Em Portugal, a ED&F Man está presente na importação, comercialização e distribuição de melaços e líquidos alimentares desde há 40 anos, fornecendo as indústrias de fermentação e de alimentação animal, operando presentemente com instalações especializadas a partir dos portos de Setúbal e de Leixões, o que lhe permite fazer uma cobertura total do país. A cultura da ED&F Man é estar onde estão os seus clientes e servi-los de forma eficiente, respondendo às suas necessidades e solicitações. Contando com um profundo conhecimento na área da alimentação animal, a empresa têm vindo a adicionar novos produtos com um valor acrescentado para os seus clientes e o mercado em geral.
PORQUE DEVO alimentar as vacas com Açúcares? O objectivo é aumentar a produtividade e o bem estar animal. É importante fornecer dietas equilibradas que respondam às necessidades da vaca e da microflora ruminal. Os hidratos de carbono são a principal fonte de energia na alimentação, e a sua fermentação no rúmen produz Ácidos Gordos Voláteis (AGV), precursores da glucose, a molécula primária de onde a vaca recebe a energia necessária para executar os principais processos biológicos. A proporção correcta de açúcares e amido na dieta promove a optimização da produção de AGV. Com a finalidade de atender às necessidades da vaca em lactação, a dieta tem que conter uma percentagem mínima de Açúcares Simples. A principal fonte de Açúcares Simples na alimentação da vaca é representada pelas forragens, principalmente nos fenos de alta qualidade. Em todo o caso, as forragens não fornecem os açúcares suficientes. Vários estudos evidenciam que a adição de alimento líquido rico em Açúcares Simples, à dieta que alimenta as vacas leiteiras, faculta uma fonte de energia rapidamente disponível para as bactérias do rúmen. Os açúcares são essenciais para uma eficiente degradação da fibra da forragem, para melhorar a quantidade de alimento ingerida voluntariamente e para garantir uma maior produção de leite (Broderick et al . 2008).
Alimentação Líquida Inovadora SUGARPLUS é uma marca da ED&F Man. As formulações líquidas SUGARPLUS são únicas no panorama da alimentação animal. Os Açúcares contidos nos alimentos líquidos SUGARPLUS são rapidamente metabolizáveis no rúmen. Produtos SUGARPLUS: • SUPERMEL • ENERFEED
ruminantes abril . maio . junho 2014 39
Atualidades
6ª edição das Jornadas do HVME Sustentabilidade em bovinos de carne
Figura 1 6ª edição das Jornadas do Hospital Veterinário Muralha de Évora.
O Hospital Veterinário Muralha de Évora (HVME) organizou em fevereiro a 6ª edição das Jornadas, desta vez, subordinada aos temas “Ruminantes e Equinos – sustentabilidade da produção pecuária no século XXI” e “Novas tendências na gestão desportiva e produção de equinos”. O encontro, composto por um conjunto de seminários e workshops, ao qual aderiram cerca de 400 pessoas, proporcionou a troca de experiências entre pares e contou com cerca de 22 patrocinadores. As jornadas começaram com a apresentação de um exemplo prático de gestão de uma exploração de bovinos em regime semi-intensivo, da qual destacamos, a importância do conceito de sustentabilidade. Para que este seja um conceito aplicável a uma exploração pecuária, há que pensar em produção. E de seguida, surge a pergunta. Como aumentar
a capacidade produtiva de uma exploração? Segundo, o médico veterinário João Carvalho, importa escolher um cruzamento adequado às condições disponíveis, cumprir um plano profilático adequado, por forma a prevenir primeiro e a tratar depois, investir no controlo reprodutivo, recorrendo a ecografias e a exames andrológicos, e, por fim, estar muito atento a uma boa nutrição, dado que esta é a chave para o sucesso reprodutivo. A questão do controlo reprodutivo e a sua importância no século XXI foi outro tema do dia. Segundo a médica veterinária, Sónia Germano, pecuária e economia andam de mãos dadas. Por ano, em Portugal, foram consumidas 198.000 toneladas de carne, das quais cerca de 100.000 foram importadas. O que significa que estamos longe de conseguir produzir a quantidade de carne que
40 abril . maio . junho 2014 Ruminantes
é consumida no mercado interno. Face a esta realidade, torna-se necessário criar estratégias para aumentar os índices de conceção nos efetivos pecuários. O processo de inseminação de uma vaca, com a garantia de que ela fica gestante, tem um custo médio de cerca de 70€ por animal, valor que se pode transformar num investimento, tendo em conta o preço de compra de um bom touro e os gastos associados à manutenção do reprodutor ao longo da sua vida útil na exploração. Segundo um programa de controlo reprodutivo de inseminação artificial, apresentado pela veterinária, concluiu-se que reunir a inseminação artificial com a cobrição natural resulta em taxas de fertilidade na ordem dos 97%. De notar que, optando pela cobrição natural, o estudo revela uma taxa de 76%, enquanto que, recorrendo à inseminação artificial, ronda os 88%. Assim, a utilização da técnica de inseminação artificial parece ser sinónimo de maior produtividade, ao aproveitar o máximo dos cios das fêmeas, especialmente se for combinada com a cobrição natural. Segundo Sónia Germano, a técnica permite ainda um ganho genético na vacada, que se reflete num aumento do peso do bezerro ao desmame, reduzindo o número de reprodutores e tornando possível a antecipação da época de partos seguinte. “A perspectiva futura do mercado mundial da carne” chegou-nos, do outro lado do Atlântico, pelo brasileiro Osler Desouzart, consultor do World Agricultural Forum e responsável pelo
desenvolvimento das exportações brasileiras de carne. “ O mundo mudou de lugar e a Ásia vai estar no centro do planisfério” afirma Osler. O consultor estima que em 2022, 45% do consumo mundial de carne bovina aconteça na Ásia. No entanto, aponta a falta de recursos naturais nesta região para se conseguir produzir toda a carne consumida, nomeadamente a disponibilidade e quantidade de água necessária para produzir uma vaca. “Para fazer um quilo de carne bovina precisamos de 16.000 litros de água”. Assim, a China importará água virtual ao comprar carne bovina aos EUA, ao Brasil e à União Europeia, dado que o fluxo de transferência de recursos naturais não é possível mudar. Prevê-se que, em 2022, os principais produtores de carne bovina, sejam os EUA, o Brasil, a União Europeia e a China, sendo os principais importadores os EUA, o Japão e a Rússia. Os países que irão ocupar o pódio das exportações, à luz das previsões, serão o Brasil, a Índia, a Austrália e os EUA. Assim, aos produtores europeus, e mais especificamente aos portugueses, Osler Desouzart comenta a importância da adoção da agricultura de precisão num futuro próximo capaz de gerar os 4 “F” (food/ feed/fuel/fiber, que significa em português alimento/ ração/combustível/fibra), a aposta na sanidade das explorações e na qualidade das matérias-primas, utilizadas na alimentação das vacadas. “Não se faz pecuária de primeira com produtos de segunda”, afirma o consultor.
Fertilizantes
Gonçalo Aguiar gestor de produto fertilizantes Timac Agro gaguiar@vitas.pt
optimizada e mais eficaz
fertilização azotada Quando falamos em pastagens, queremos que a velocidade de crescimento seja máxima e que o valor nutricional da erva seja o melhor possível. Quanto maior for o encabeçamento por área de pastagem, maior quantidade de erva por metro quadrado teremos de produzir. O azoto O azoto é dos elementos mais importantes no crescimento vegetal e dos que mais é aplicado nas adubações. No entanto, para uma aplicação correta e optimizada deste nutriente, convém perceber não só o comportamento deste elemento no solo, mas também a dinâmica da sua absorção e da sua transformação no interior da planta.
Comportamento do azoto no solo
Fixação no complexo argilo-húmico
PLANTA
NH4+
NO2-
N3, NO
Desnitrificação anaeróbica
Urease Ureia
Nitrobactérias NH3
Hidrólise Reorganização
tex cor
Os adubos azotados são formulados, principalmente, com base em três formas de azoto: ureica, amoniacal (NH4+) e nítrica (NO3-). Após aplicação de azoto nas formas ureica e amoniacal, estas transformar-se-ão em azoto na forma nítrica, respeitando o ciclo do azoto (ver figura 1). As plantas conseguem absorver o azoto que está na
FIGURA 1 Comportamento do azoto no solo.
VOLATIZAÇÃO
e rm ide ep
NO3-
Nitrificação aeróbica Reorganização
Mineralização Matéria orgânica do solo
42 abril . maio . junho 2014 Ruminantes
Lixiviação
e erm od d en
ima qu a ên par xilem do
ma xile
CP
CP: Barreira fisiológica
figura 2 Transporte de azoto através da raíz.
forma amoniacal e na forma nítrica, sendo que a forma nítrica é a que está sujeita a mais perdas. Se somarmos todas as perdas que podem ocorrer no azoto mineral, quer por volatilização, desnitrificação, lixiviação e/ ou imobilização, poderemos chegar a perdas que vão desde 45 a 75 % restando, nesse caso, apenas entre 25 a 55% para aproveitamento real por parte da planta. Importa, portanto, aplicar formas de azoto que sejam as mais adequadas, quer à fase de crescimento da cultura, quer aos factores climáticos com que nos deparamos, para que consigamos diminuir perdas e ter um maior
coeficiente real de utilização das unidades azotadas aplicadas. Conhecendo o comportamento do azoto fora da planta, quisemos aprofundar e inovar. Investigámos a dinâmica de absorção e de transformação do azoto por parte da planta e desenvolvemos o Sulfammo N-PRO, que potencia não só o azoto que é aplicado na fertilização, mas também o que está presente no solo.
Absorção do Azoto por parte da planta Na primeira fase, a absorção de água e do azoto faz-se de forma fácil e natural, do meio
Fertilizantes
FIGURA 3 Activação do transporte radicular de azoto pelo sinal Indol.
Concentração em Azoto total no fluxo de selva +19%
Sinal Indol
R
Bomba de Azoto
R: Receptor
externo para a raiz. O azoto passa, ou através de células semipermeáveis ou através dos espaços intercelulares, até chegar a uma barreira fisiológica situada na parte mais interior da raiz (ver figura 2). Na segunda fase, a absorção do azoto para o canal de seiva bruta (xilema) é interrompido na zona mais interna da raiz por uma barreira fisiológica. Sabemos que a sua concentração em elementos minerais (na seiva bruta) é superior à concentração destes elementos no solo e no resto da raiz. Por isso, para assegurar o transporte do azoto é necessário haver um mecanismo de transporte ativo entre as duas zonas separadas pela barreira fisiológica (ver figura 3). Este mecanismo de transporte é constituído por células que estão equipadas com uma “bomba” de transporte. Estas “bombas” são ativadas por intermédio de substâncias indólicas presentes na raiz. Graças a este sistema, o azoto entra nos canais de condução da seiva bruta, para depois ser transformado pelo aparelho vegetativo. A associação de uma fertilização azotada com
substâncias indólicas tem como objetivo, melhorar a ativação das “bombas”, mesmo perante condições ambientais menos favoráveis. Este melhoramento abrange não só o azoto que é aplicado na fertilização, mas também o que está presente no solo.
FIGURA 4 Transformação de nitrato dentro da planta.
Indol
Potenciação da transformação de azoto Quando o azoto está na raiz ou nas folhas, a forma nítrica não é utilizada diretamente pela planta. É necessário que haja uma transformação dessa forma para uma outra, a amoniacal, que será usada pela planta para a produção de aminoácidos que são precursores das proteínas. A transformação do azoto nítrico em azoto amoniacal é feita pela Nitrato Reductase (NR) e a sua atividade pode ser reduzida em caso de condições desfavoráveis (tempo encoberto, temperaturas frias,…). Em caso de aplicações excessivas de azoto na forma nítrica, a totalidade do azoto absorvido não é transformado, pelo que não é utilizado para produção de matéria seca. Ficará assim armazenado nos vacúolos,
azoto que irá assegurar o crescimento das novas partes aéreas, potenciando assim o rendimento de cada corte (ver figura 4 e 5). A conjugação do conhecimento do comportamento do azoto no solo, a sua absorção e a sua transformação por parte da planta está na base de atuação do Sulfammo N PRO. Com o Sulfammo N PRO, temos um produto que, por não ter a forma nítrica na sua formulação, reduz as perdas de azoto e estimula quer a absorção quer a transformação do azoto por parte da planta, através de moléculas indol que estão presentes na sua formulação.
aumentando o teor de nitratos nas folhas e fazendo com que a planta absorva mais água, mas não aumentando a quantidade de matéria seca necessária para a alimentação animal. A estimulação da Nitrato Reductase faz com que haja um aumento do teor de proteínas na planta. Este aspeto é particularmente relevante nas pastagens por duas razões: a sua importância para a alimentação animal e, a nível interno da planta pelo facto de serem estas proteínas que, depois de um corte, serão hidrolisadas tornando-se a fonte de
NO3-
NH4+
Aminoácidos
FIGURA 5 Efeito do Indol sobre a síntese de Nitrto Reductase. testemunha 1 0,8
x4
Indol 1 0,8
0,6
0,6
0,4 0,2
0,4 0,2
+30%
Condições limitantes
Condições óptimas
3mMN Equ. 85 N/ha
7mMN Equ. 200 N/ha
10mM nitrato
Indol
Proteínas
Com a aplicação de Sulfammo N-PRO conseguimos: • aumentar o coeficiente real de utilização de unidades de azoto; • diminuir o teor de nitratos nas folhas; • aumentar a quantidade de produção de erva; • aumentar o teor de matéria seca da erva; • aumentar o teor em proteína.
Testemunha
Fonte: INRA de versailes 1999
ruminantes abril . maio . junho 2014 43
pastagem
João P. Carneiro Engº Agrónomo EMP/INIAV joao.carneiro@iniav.pt
Nuno Simões Engº Zootécnico EMP/INIAV nuno.simoes@iniav.pt
Como melhorar
FIGURA 1 Pastagem semeada e fertilizada em solos de arenitos podzolizados (Coruche).
a disponibilidade e durabilidade da pastagem - Avaliação Prévia PARTE 1 Estima-se que em Portugal a área que pode e deve ser explorada com pastagem, por si só ou sob coberto de árvores, ultrapassa os três milhões de hectares: mais de 30% da superfície do país. Por outro lado o pastoreio é a forma menos dispendiosa de alimentar animais. Considerando que importamos muitos produtos pecuários, a pastorícia é uma atividade que entre nós deve merecer todo o cuidado desde os investigadores, passando pelos investidores e até aos beneficiados pela paisagem.
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melhorar a capacidade produtiva em pastagens Sempre que alguém queira melhorar a capacidade produtiva em pastagens, espontâneas ou semeadas, tem de estar disponível para fazer algum investimento e procurar conhecer: 1 - Durabilidade, isto é, qual o tipo de pastagem que se pretende explorar: temporária ou permanente. 2 - As zonas homogéneas do terreno que dispõe e conhecer para cada zona: a) Situação climática – A grande irregularidade climática que caracteriza o
clima mediterrânico não permite prever com alguma certeza a precipitação que irá ocorrer, nem a sua distribuição ao longo do ano; no entanto algum conhecimento do clima para cada zona facilita a decisão de quais as espécies pratenses a optar quando se pretende instalar uma pastagem. A grande diversidade que existe em termos de ciclos, nas espécies e variedades comerciais, permite e aconselha a escolha em função do valor médio da quantidade de precipitação anual e sua distribuição ao longo do
pastagem
ano. Considera-se ciclo como o período, quase sempre medido em número de dias, que ocorre entre o nascimento e o aparecimento das principais fases de vida da planta como, floração, formação dos frutos ou maturação. b) Água - disponibilidade e custo de água para abeberamento dos efetivos pecuários e rega (em caso de regadio). c) Orografia do terreno - isto é, particularidades do relevo, visto que em terrenos inclinados poderá ser interessante a introdução de espécies arbustivas, com valor forrageiro ou para pastoreio e até pelo seu efeito na defesa do solo contra a erosão. d) Natureza e situação de fertilidade do solo –na natureza do solo procura-se saber qual a rocha-mãe. A título de exemplo é muito diferente quando se trata de rochas calcárias ou de
F IGURA 2 Pastagem semeada e fertilizada em solos derivados de granitos (Covilhã).
areias graníticas. Nas primeiras poderemos ter solos alcalinos ou neutros enquanto a outra situação conduz a solos ácidos. As plantas adaptadas a uma situação são diferentes das de outra. A textura e estrutura, a profundidade ou espessura efetiva são características marcantes na fertilidade natural do solo. Estes fatores físicos são aqueles que mais condicionam a capacidade de armazenamento de água utilizável e a drenagem do solo; da fertilidade é fundamental saber o pH, a percentagem e distribuição da matéria orgânica, a necessidade de calcário, a riqueza em macronutrientes (principalmente o fósforo e o potássio) e a possível carência ou intoxicação de micronutrientes. Na verdade, tendo por base o tipo de solo, a escolha das espécies/variedades a semear deverá ser criteriosa.
FIGURA 3 Pastagem espontânea em solos derivados de granitos (Covilhã).
Pastagem natural
Pastagem semeada e fertilizada
Mesmo Campo
FIGURA 4 Zona de transição entre pastagem espontânea e pastagem semeada e fertilizada em solos de arenitos podzolizados (Coruche).
3 - A capacidade económica de investimento, o interesse de investimento (espera retorno em prazo longo ou curto?) – este conhecimento prende-se com a decisão de manter o estrato herbáceo, de integrar espécies semeando ou ainda se se quer introduzir árvores ou arbustos. 4 - Fazer um levantamento de quais os principais géneros botânicos ou espécies já existentes no estrato herbáceo do terreno em causa, é um conhecimento que pode ser fundamental na escolha de fertilizar ou semear pastagem. Será de introduzir novas espécies vegetais, por sementeira, quando a ocorrência e expressão de plantas desejáveis for inferior a metade da totalidade de massa vegetal verde na pastagem. Se o quantitativo e a natureza das plantas espontâneas for o desejável será aconselhável “agarrar o que está estabelecido, dar-lhe alimento e tirar dele rentabilidade, assegurando a persistência no terreno”. Nesta última situação a apreciação quantitativa da disponibilidade de nutrientes como fósforo, potássio, boro e molibdénio é muito importante. Para isso dever se á fazer análises de terras, fertilizar em consequência dos resultados e prover o solo, na profundidade de 0,1 m, com os fertilizantes para dispor no mínimo de 50 mg. Kg-1 de terra de cada um dos nutrientes, P2O5 e K2O, ou seja fósforo e potássio. Este enriquecimento será positivo para obter melhor produtividade das plantas autóctones do solo ou para ter melhor eficácia na instalação e produção de pastagem com espécies introduzidas por sementeira.
Mesmo Campo
Pastagem semeada e fertilizada
Pastagem natural
FIGURA 5 Comparação entre pastagem semeada e fertilizada e pastagem espontânea.
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genética
Consanguinidade Anjo ou Demónio? Abílio Carvalho Engenheiro Zootécnico. Sócio Gerente da empresa Genética21, L.da. abilio@genetica21.pt
FIGURA 1 LAWaebera Acme Sublime.
O que É a consanguinidade? Podemos, de uma forma simples, dizer que a consanguinidade (homozigose) é o (ou resulta do) cruzamento de indivíduos aparentados, ou seja, o cruzamento de indivíduos mais próximos entre si do que a média da população. De uma forma mais técnica, diremos que, a consanguinidade mede a proporção de genes semelhantes que um indivíduo herda dos seus progenitores, ou melhor, o coeficiente de consanguinidade mede a probabilidade que ambos os alelos, num mesmo locus, num indivíduo sejam idênticos. Em populações de animais domésticos (as vacas leiteiras, por exemplo) a consanguinidade aparece como resultado (ou como um “subproduto”) de um programa de seleção bem sucedido. Isto é, se um criador, ou um grupo de criadores, pretende possuir um efetivo com animais superiores, com características próprias e que passam essas caraterísticas de forma uniforme para a descendência, é necessário um certo grau de consanguinidade. Porquê? A razão para tal é que essa uniformidade não pode ser conseguida através de outros meios. A seleção não pode
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fazer isso. Pela seleção cruzamos progenitores geneticamente superiores e obteremos apenas alguns descendentes também geneticamente superiores. Porém, será necessário fixar (ou estabilizar) essas características nas gerações seguintes de modo a aumentar a proporção de indivíduos geneticamente superiores em cada geração. Ora, essa estabilização só será possível se realizarmos cruzamentos com um certo grau de consanguinidade. A seleção é, portanto, valiosa para identificar indivíduos geneticamente superiores para as características que desejamos. A consanguinidade é valiosa para estabilizar os resultados da seleção – isto é, para fixar na população as características que desejamos e atingir o objetivo último da seleção genética, que é aumentar a frequência dos genes mais desejáveis e rentáveis na população (ou efetivo) em causa. Todavia, ao fixarmos na população as caraterísticas desejáveis poderemos também estar, de forma não intencional, a fixar caraterísticas que não desejamos. Deste aspeto falaremos mais adiante. Todos nós nos lembramos daquela vaca (algumas vezes, até nada de especial), ou daquele touro, dos quais dizemos que todas as filhas foram boas. Isso que dizer que esse animal é prepotente para essas caraterísticas que apreciamos, transmitindo-as com consistência à sua descendência ”independentemente” do outro indivíduo com que é cruzado. Ora, isso só acontece porque esse indivíduo tornou-se homozigótico (consanguíneo) para um determinado número de genes que controlam essas caraterísticas de que tanto gostamos. Aqui, é onde um indivíduo com elevada consanguinidade se superioriza a um heterozigótico (sem consanguinidade) mesmo que este último seja, por vezes, fenotipicamente superior. Quando falamos de consanguinidade teremos sempre que pensar em três situações diferentes: o grau de consanguinidade da população (p.ex. todos os animais da raça Frísia, ou simplesmente os animais presentes na minha exploração); o grau consanguinidade do indivíduo, ou indivíduos, que quero cruzar e, finalmente, o nível de consanguinidade da descendência resultante do cruzamento, em particular de determinados indivíduos entre si. Já foi mencionado que o recurso sistemático a cruzamentos consanguíneos pode trazer problemas à população em geral, ou, simplesmente, ao nosso efetivo de vacas. É certo que como também foi referido, ao aumentarmos a
genética
homozigose para as caraterísticas desejáveis e rentáveis podemos também, estar a aumentar a homozigose para outras menos desejáveis. No caso da raça Frísia (ao contrário do que acontece noutras raças leiteiras) isso está muito bem estudado e pode encontrar-se extensa bibliografia sobre o assunto. Sabe-se que à medida que aumenta a consanguinidade há uma diminuição na produção de leite, uma diminuição dos dias de vida produtiva, uma diminuição na resistência às doenças, um pior desempenho reprodutivo, etc. Há inúmeros artigos sobre o tema.
Como resolver os problemas resultantes da consanguinidade Então como resolvemos os problemas resultantes da consanguinidade, que para alguns é a fonte de todos os males? Com o “crossbreeding” dirão
esses, talvez inspirados pelos evidentes benefícios da hibridização nas plantas (milho, p. ex.) ou nas estirpes híbridas de animais destinados ao abate. Porém, não nos devemos esquecer que tanto no caso do milho híbrido como no caso dos híbridos para abate, não são conservados indivíduos para dar origem à geração seguinte, compramos indivíduos (sementes) novos. Ora, isso não se verifica no caso das vacas leiteiras, pois nós queremos que elas se reproduzam e queremos conservar os produtos da sua reprodução como geradores da geração seguinte. E que, para além disso, sejam geneticamente superiores aos indivíduos que lhes deram origem, e que passem para a geração seguinte as boas caraterísticas que herdaram dos seus progenitores. Muito mais complicado!
“Crossbreeding” Mas afinal o que é o “crossbreeding” e o que se pretende com ele? O “crossbreeding” não é mais do que cruzar indivíduos de raças diferentes dando
origem a descendentes híbridos, isto é, que não pertencem a qualquer uma das raças dos progenitores – este processo é, tecnicamente, chamado de hibridização. O que se pretende com isso é tirar partido da heteroze (termo científico para vigor híbrido). Contudo, e ao contrário do que acontece com indivíduos resultantes de cruzamentos com um certo grau de consanguinidade, o vigor híbrido não passa de geração para geração. Para continuarmos a tirar partido do vigor híbrido só temos duas alternativas: não conservamos indivíduos para progenitores da geração seguinte substituindo-os por outros no final do seu ciclo produtivo (o que não é possível no caso das vacas leiteiras), ou continuamos a fazer híbridos de híbridos geração após geração. Será isso uma solução? Se é certo que com o aumento da homozigose podem surgir caraterísticas menos desejáveis, também o “crosbreeding” possui as suas debilidades. Uma já vimos: o vigor híbrido não é transmissível aos descendentes. Os resultados do “crossbreeding” não são
CARATERÍSTICAS QUE INFLUENCIAM A EFICIÊNCIA Produção
Tipo
Funcionalidade
Leite
Composto do Úbere
Vida Produtiva
Gordura
Composto pernas e Pés
Taxa de Prenhez das Filhas
Proteína
*Composto Corporal
*Células Somáticas
*Estatura
*Facilidade Parto das Filhas
*Caracter Leiteiro
*Nados Mortos das Filhas
*Indica caraterísticas que entram com peso negativo
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genética
previsíveis – descendência inconsistente -, pode levar anos a eliminar as caraterísticas indesejáveis e há perda de tipo, pode levar anos o obter descendentes consistentes e que apresentem uniformidade e há diminuição acentuada do progresso genético – porque o vigor híbrido não é transmissível de geração em geração.
solução e equilibrio Como poderemos afinal encontrar uma solução e um equilíbrio no meio disto tudo? Quanto a mim a solução está dentro da raça (Frísia, para os propósitos deste artigo). O “crossbreeding” não é o único modo de melhorar geneticamente a saúde, a fertilidade e a longevidade das vacas leiteiras. No caso da raça Frísia (Holstein) que possui uma enorme população espalhada por todo o mundo (milhões de indivíduos), é grande a probabilidade de encontrarmos dentro da raça indivíduos que são excelentes para
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essas caraterísticas que nos interessam e que são pouco aparentados com os animais da nossa exploração. Para fazer melhoramento genético sem recorrer ao “crossbreeding” basta escolher dentro da raça aqueles touros que são superiores para as caraterísticas de saúde, fertilidade, longevidade e produção de leite. Por todo o mundo os centros de inseminação fazem seleção com elevada intensidade para caraterísticas como a produção de leite, vida produtiva, células somáticas, fertilidade das filhas, entre outras. Por isso, e do ponto de vista da população, não devemos estar demasiadamente preocupados com a consanguinidade. No que diz respeito à exploração leiteira de cada um, o recurso a um programa de emparelhamentos permite manter a consanguinidade em níveis que não diminuem a rentabilidade da exploração e que, ao mesmo tempo, não comprometem o progresso genético – objetivo último de qualquer criador. Um estudo da Universidade de Wisconsin-Madison (Estados Unidos da América) concluiu que os programas de emparelhamento são eficazes a
reduzir a consanguinidade da geração seguinte e que, os benefícios económicos obtidos com a utilização de um programa de emparelhamento para controlar a consanguinidade são substanciais. Porém, os programas de emparelhamento só são eficazes para controlar a consanguinidade se os criadores mantiverem registos rigorosos da genealogia dos seus animais. Fica ao critério de cada um, depois de ter lido as linhas anteriores, decidir o que é mais rentável para a sua exploração e encontrar a resposta á pergunta geradora deste artigo.
Referências Bibliográficas Roy Robinson – Genetic for dog breeders, 2nd edition, 1990 Sarah Hartwell – Pros and cons of inbreeding, 1996 Bennet G. Cassel – Effect of Inbreeding on cow performance & mate selection in dairy cows, 1999 Bennet G. Cassel – Inbreeding, 2000 Daniel Z. Caraviello – Inbreeding in dairy cattle, 2004 Bennet G. Cassel – Where does the industry stand on inbreeding? 2010 Lynsay Beavers and Brian Van Doormaal – Crossbreeding: breed help or hindrance? 2013
atualidade
alltech lança programa de gestão da exploração leiteira O aumento da eficiência de produção e a consequente rentabilidade, por forma a garantir a sustentabilidade a longo prazo, são desafios enfrentados pela maioria dos produtores de leite. A pensar em soluções para estes desafios, a Alltech lançou o programa Eficiência = Rentabilidade + Sustentabilidade (“E=R+S”), que se encontra já implementado em várias explorações leiteiras com resultados positivos testados pelos produtores. Como parte deste programa, a Alltech em parceria com a E-CO2, desenvolveram uma ferramenta de gestão denominada “E se?” (If Tool), que permitirá aos produtores testarem o impacto da mudança de metas produtivas, não só no seu ambiente de produção mas também no seu lucro final. Esta ferramenta está já disponível on-line, é gratuita e de fácil utilização, e permite descobrir, de uma forma rápida
A colza e o efeito de estufa
e direta, se o seu foco de gestão deve ser o de proporcionar uma melhoria no desempenho dos animais. A ferramenta “E se?” da Alltech permite aos produtores a alteração de uma ampla gama de critérios de desempenho, como a produtividade dos animais, o índice de partos, e a utilização de alimentação, para que estes possam comprovar por si próprios e de um modo imediato, as melhorias gerais e a sua pegada de carbono. A ferramenta também pode ser utilizada pelos produtores para estabelecer metas futuras em conjunto com os consultores, nutricionistas ou veterinários, que estarão, desse modo, em condições de poderem aconselhar em como estas metas poderão ser alcançadas.
A utilização de bagaço de colza no fabrico de rações para animais reduz até 13% as emissões de metano e dióxido de carbono, segundo os primeiros resultados da investigação realizada pela Neiker – Tecnalia, ao abrigo do projecto Life-Seed Capital, financiado pela UE. A introdução desta planta oleaginosa na alimentação animal reduz entre 6 e 13% as emissões de metano e entre 6,8 e 13,6% as de dióxido de carbono, apresentando também uma melhoria na eficiência do uso da matéria orgânica digestível entre 4,4 e 10,1%. Reduz também a fermentação da dieta entre 6,2 e 11,8%, sem reduzir a sua digestibilidade. O bagaço de colza é um subproduto que se obtém depois de prensar a planta para extrair o seu óleo. “As vantagens da utilização deste vegetal começam desde a sua própria utilização como cultura de rotação, porque é capaz de aumentar a produtividade do cereal e melhorar a estrutura do solo”.
Para mais informações infoportugal@alltech.com
Para mais informações www.lifeseedcapital.eu
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entrevista
Nome da empresa INTERLIM, Genética Animal, Lda. (Casa Agrícola Sabino Samora)
Localização Herdade das Fontainhas e Daroeiras, freguesia de S. Teotónio, Concelho de Odemira
Área da exploração 180 ha (120 próprios e 60 arrendados) Nesta área, 80 ha são regados pelo perímetro de rega do Mira.
reprodutores
de linha pura A Interlim, Genética Animal, Lda. está dedicada, desde 1995, à criação para venda de reprodutores da raça Limousine em linha pura. por ruminantes
Efetivo 220 animais Limousine, dos quais 100 são vacas reprodutoras.
Nº empregados 2 permanentes, recorrendo a serviço externo para trabalhos especializados.
Contactos: E-mail: interlim@sapo.pt Telm: 913 490 000
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Comercialmente conhecida por Casa Agrícola Sabino Samora, a Herdade das Fontainhas e Daroeiras situa-se na freguesia de S. Teotónio, Concelho de Odemira. A Ruminantes falou com António Samora, gerente da exploração, acerca do maneio e da sua experiência com esta raça. Ruminantes - Qual o objetivo desta exploração? A. Samora – Estamos exclusivamente direcionados para a venda de reprodutores da raça Limousine em linha
pura. A venda de carne é marginal, cerca de 5% do volume de negócios, e incide basicamente nos animais com problemas ou de refugo. Como é feito o maneio geral da exploração? Os animais estão em pleno ar livre todo o ano. Dividimos as vacas em dois grupos, para permitir o controlo mais fácil dos progenitores, e para ter sempre filhos de vários touros que estão todo o ano com as vacas. Os animais são controlados e avaliados pela associação de criadores de três em três
meses, sendo esta a altura em que normalmente se desmamam os vitelos. Estes passam, seguidamente, por um período de confinamento onde são avaliados. Por volta de um ano de idade, são separados e agrupados conforme as performances, voltando ao campo, para parques com prados permanentes de regadio. Como se caraterizam os seus reprodutores? Essencialmente, por aquilo que entendo serem as necessidades do mercado. Mais de 95% dos meus
entrevista
clientes são criadores de outras raças e utilizam o Limousine para o cruzamento terminal. Logo, os meus animais, dentro da raça, são do tipo “misto carne”, tendo touros que privilegiam o crescimento até ao desmame e a conformação a idades precoces. Isto, porque o mercado atual não quer carcaças muito pesadas, e esta é uma das grandes armas do Limousine, juntamente com a fineza de osso e o rendimento de carcaça. Como é feita a seleção? Comecei a comprar lotes de novilhas prenhas em França, ao longo de 7 anos, e fui selecionando, dentro do histórico dos animais de inseminação artificial, aqueles que tiveram mais êxito. Na linha macho adquiri, em França, um filho direto “DAUPHIN FR1988004715 RRE IA” e
no ano 2000 comprei um “LASCAR FR 5695066696 RR VS”, do qual mantenho um filho já nascido na minha exploração, o “VAN DAMME RE” que soma um vasto palmarés nos concursos em Portugal. Esta linha, que eu considero do tipo “misto elevage”, tem como principal caraterística a facilidade de parto, os bons ganhos médios diários até ao desmame e após desmame, a fineza de osso e a produção de animais muito equilibrados. Na linha das fêmeas, adquiri também animais de uma linha de inseminação artificial reconhecida pela capacidade de produção de leite “HIGHLANDER FR1692111209 RRE IA”. No meu núcleo de seleção mantenho os melhores descendentes destas linhas. Já há mais de 6 anos que não compro animais em França, pois considero ter em casa
“o mercado atual não quer carcaças muito pesadas, e esta é uma das grandes armas do Limousine, juntamente com a fineza de osso e o rendimento de carcaça.”
um efetivo que já me permite progredir com a ajuda da inseminação artificial que tenho feito nos últimos anos. Que critérios utiliza para refugar? O refugo dos animais é feito a partir do desmame e durante toda a vida útil do animal. Os dados recolhidos pelos técnicos da associação funcionam como um primeiro crivo em relação à seleção dos animais. Com o tempo, tenho alterado a exigência em relação à minha seleção, que é diferente nos machos e nas fêmeas. Em relação aos machos, tento ficar com o melhor filho de cada um dos touros que tenho, como reserva, (tendo também em atenção as mães), como prevenção em relação a algum azar que possa acontecer com os pais. Em relação às fêmeas, com o passar do tempo e com
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entrevista
cada vez mais informação das mães, tenho tornado a seleção cada vez mais exigente. Faço uma primeira escolha ao desmame, e depois aos 2 anos quando são colocadas à cobrição. Seguidamente, analiso o comportamento no parto, o instinto maternal e a capacidade leiteira, fazendo uma seleção ao desmame do primeiro vitelo. Posteriormente, ao longo da vida, é seguido com atenção o intervalo entre partos: se este for superior a 400 dias, após o segundo parto esta vaca será potencialmente refugável.
na hierarquia e, com os cornos, defendem-se melhor e conseguem alimentar-se melhor.
Como testa os parâmetros que certificam os seus animais? Eu respeito o programa de seleção aprovado pela associação de Limousine, que é basicamente igual ao programa francês (berço da raça). Observo também alguns procedimentos de pesagens, sobretudo nos machos depois do desmame, muitas vezes para tentar ajustar o programa alimentar.
Utiliza tecnologia para medir e registar dados da exploração? Todos os registos são informatizados, desde os livros oficiais de registos de nascimentos. São utilizadas as ferramentas fornecidas pela ACL, nomeadamente o GENPRO, e todas as análises das minhas ideias e dos meus critérios são feitos por mim em EXCEL.
Descorna todos os animais? Não descorno os animais para venda, pois em geral os clientes não gostam. Na minha vacada, os animais são descornados. As novilhas são descornadas no inverno, mas só depois de terem desmamado o primeiro vitelo. Como são metidas na vacada, são as mais baixas
Que registos faz de cada animal e com que frequência? O registo começa no peso ao nascimento que é obrigatório para o programa de seleção; depois são pesados de três em três meses, até ao desmame. Os machos com melhor classificação (prováveis futuros Ouro) são pesados e avaliados por volta dos 16 meses.
Quantos animais vende por ano? Vendo cerca de 40 animais machos para reprodutores, maioritariamente com idades entre os 16 e os 20 meses. Em relação as fêmeas, vendo 25 a 30 animais também para reprodução, entre os 9 e os
António samora Gerente da exploração Casa Agrícola Sabino Samora.
12 meses. Vendo para abate as vacas de refugo, e alguns animais que se magoem ou que sejam reprovados para reprodução. Quais os próximos investimentos? Atualmente tenho a minha exploração equilibrada, e a incerteza do novo quadro comunitário, bem como as dificuldades dos últimos anos, não me motivam para grandes investimentos. Vamos esperar por setembro para conhecermos as verdadeiras regras do próximo quadro comunitário, e pensar em fazer investimentos em 2015. Porquê, e quando, se deve comprar um Limousine para uma exploração em extensivo? Porque a Limousine é uma das raças de carne mais divulgadas a nível mundial, com caraterísticas que agradam a toda a fileira da carne, vejamos: - para o criador, tem como
Raça limousine Vaca reprodutora.
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pontos fortes a facilidade de partos e a precocidade, tanto até ao desmame como nas engordas, além da docilidade, um critério que tem sido melhorado muito nos últimos 20 anos e que hoje já faz parte da avaliação feita pela associação. - para o talho, é a raça com melhor rendimento de carcaça, osso fino e carcaças bem conformadas com pesos baixos de carcaça (280-320 kg). O consumo tem baixado, e desde a crise da BSE que os consumidores procuram os talhos tradicionais, pois gostam do contacto com o cortador, com quem normalmente estabelecem uma relação de confiança. Os talhantes destes pontos de venda preferem ter semanalmente uma carcaça mais pequena que lhe permite receber todas as semanas carne fresca. Em relação à qualidade da carne, é uma carne com uma baixa percentagem de gordura, o que permite ao talho, com mais facilidade, valorizar as peças de 2ª e de 3ª categoria C). - para o consumidor, nomeadamente os europeus continentais, existe a preferência por carnes magras com baixa gordura saturada, ao contrário
entrevista
dos povos dos países anglosaxónicos que preferem carne com mais gordura. É difícil obter uma classificação das caraterísticas organolépticas da carne por parte do consumidor. No entanto, muito se tem feito com comparação da carne de diferentes raças com painéis de consumidores onde, dentro das raças continentais, a carne de Limousine se tem destacado. Em relação ao momento da compra da Limousine, na minha opinião deve-se utilizar sempre as raças autóctones como raça mãe. O Limousine tem mostrado uma capacidade de adaptação extraordinária em todo o mundo, nomeadamente em climas mediterrânicos. Quanto à idade, eu penso que os animais devem ser comprados na idade de cobrição e recriados na exploração onde nasceram. Existe uma linha de ganadeiros que preferem comprar animais mais novos, por volta de 12 meses, e fazerem eles próprios a recria, alegando que os animais se adaptam melhor às suas condições. Eu não concordo, pois tenho visto mais maus exemplos do que bons. Na maioria das explorações extensivas, o pessoal não está desperto para o maneio exigente que é fazer um reprodutor, e quando corre mal, quem paga é a qualidade dos animais da exploração de origem. Que indicadores de gestão negócio utiliza, para saber se está no bom caminho? Não é muito complicado, no final do ano verificamos se as contas estão no azul ou no vermelho. Em relação aos indicadores de rebanho, a Associação fornece anualmente um relatório que classifica o nosso rebanho e compara-o com a média nacional e, agora, até com o efetivo de outros países reunidos numa organização europeia de associações de Limousine. Noto, porém, que em relação aos resultados nos últimos anos, cada vez é mais difícil tirar rentabilidade de uma
exploração em linha pura, pois aumentar o efetivo é geralmente sinónimo de redução de qualidade. Ao contrário dos efetivos cruzados, ou até de bovinos de leite, onde se vê que só as grandes explorações têm possibilidade de serem rentáveis. Nesta região os terrenos são de “areia”. Como prepara os animais para os potenciais problemas de patas, quando os vende para zonas de terrenos duros? Para mim, esse assunto não passa de um argumento comercial, os animais precisam de andar, aqui ou em qualquer ponto do país ou do mundo. As areias desta zona estão ocupadas com hortícolas, a maiorias dos terrenos desta zona têm pedra e são mal drenados. Na realidade, esta zona tem, sem dúvida, a nível nacional, os melhores criadores e os melhores animais. Se formos a ver dentro dos criadores de Puro, uma grande parte faz a sua reposição com animais desta zona. Por isso, mais uma vez afirmo que estamos perante um argumento comercial. Quando faz análises de sémen (espermograma)? Todos os animais que vendo, com idade igual ou superior a 16 meses, levam o exame andrológico feito na semana que antecede a saída da exploração. Que garantias pode dar que um animal é fértil? Faz testes de líbido e fertilidade? O teste de líbido só é feito para animais que sejam vendidos para fora do País, para os Açores ou para o Norte. Resumidamente, é uma forma de prevenir despesas futuras caso exista alguma suspeita de problema. Também faço, a pedido de clientes, no entanto, em termos de maneio não é fácil pois nem sempre temos fêmeas disponíveis para o fazer.
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atualidades
Contaminação por micotoxinas em colheitas de 2013
Vaca, o novo porco da China? A carne de porco continua a ser a preferida dos chineses que, atualmente, consomem mais de metade da produção mundial. De facto, o consumo de carne suína tem continuado a crescer na China, suportado não só pelo crescimento do rendimento dos consumidores, como também pelo surto de gripe aviária H7N9 que fez cair a popularidade do frango. Contudo, o consumo de carne bovina naquele país parece ter tendência para crescer a um ritmo ainda mais rápido, embora parta de uma base muito menor, impulsionado por algumas preocupações de segurança alimentar com a carne de porco, após a descoberta de mais de 10 mil suínos mortos despejados no rio Huangpu, em Xangai, no ano passado. Assim, o consumo chinês de carne bovina poderá bater o recorde de 6.26 milhões de tonelada este ano, um crescimento de 5,1%, que corresponde a 65 mil tonelada a mais do que o esperado. Embora ainda baixos, comparativamente com a procura de carne de porco, estes valores de consumo são suficientes para colocar a China como o terceiro maior consumidor do ranking mundial, atrás dos EUA e do Brasil. Se esta tendência de consumo se mantiver, originará um grande impacto sobre o comércio mundial de carne bovina motivado pela procura da China no exterior. O preço médio da carne importada tem vindo a aumentar a um ritmo de 30% ao ano, de acordo com o departamento norte americano de Agricultura em Beijing. De acordo com este organismo, em 2014 as previsões de importações de carne bovina aumentarão para 550 mil tonelada, um aumento de 19 vezes em três anos, que passa o país para quarto lugar (com Hong Kong) entre os compradores. As exportações de carne bovina do Canadá para a China cresceram seis vezes, para 24.373 tonelada, peso de carcaça, em 2013, embora a Austrália seja o principal fornecedor, com uma triplicação de 154.834 tonelada peso de abate, de acordo com o Rabobank. Contudo, a procura de carne bovina da China também deverá ter um impacto crescente nos mercados de alimentos para animais, causada pelo crescimento da indústria doméstica.
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A empresa Alltech levou a cabo um levantamento exaustivo das colheitas de verão quanto aos desafios de micotoxinas com que se deparam este ano os produtores e os fabricantes de rações por toda a Europa e América do Norte. O estudo avaliou as colheitas de trigo e milho em 14 países europeus e em alguns estados dos EUA e Canadá. A empresa analisou 83 amostras de trigo e 24 amostras de milho das colheitas deste ano, em termos de 38 micotoxinas, usando a tecnologia UPLC-MS/MS (Programa 37+ da Alltech) que lhe permite avaliar com maior rigor a contaminação por micotoxinas dos ingredientes ou das rações. A análise revelou um risco continuado de micotoxinas no milho e trigo, originando uma menor qualidade alimentar e uma redução do desempenho generalizadas. Embora, em algumas áreas, os resultados tenham sido semelhantes aos detetados no ano anterior, a situação agravou-se em outras regiões e o levantamento ilustra a necessidade contínua de os produtores e fabricantes de rações continuarem em alerta total. “Uma mensagem essencial a reter deste levantamento é que 99% das amostras de grãos de cereais continham micotoxinas e que 83% destas amostras continham diversas micotoxinas,” afirmou Nick Adams, Diretor de Vendas Globais da Equipa de Gestão de micotoxinas da Alltech. Numa análise por regiões, na Europa do Norte, todas as amostras, à exceção de uma, continham diversas micotoxinas e os Tricotecenos do Tipo B atingiam níveis de risco elevado em um terço das amostras. As associações com outras micotoxinas, em níveis mais baixos, aumentavam os desafios, e o levantamento permitiu verificar que a quantidade de risco equivalente (REQ) era criada em “risco elevado” no caso dos suínos e “precaução” no caso dos ruminantes. Era também aconselhada “precaução” para todas as aves. Na Europa de Leste, também foi detetado um nível elevado de
diversas micotoxinas, apresentando as aflatoxinas um risco para a maioria das espécies. Entretanto, no sudoeste da Europa, foram detetados níveis particularmente elevados de Tricotecenos do Tipo B e de fumonisinas, contendo uma amostra fumonisinas numa concentração 18 vezes superior à média da UE. Aqui, a REQ era criada em “elevado risco” para os suínos, ruminantes e todas as aves. O Diretor de Vendas Globais da Alltech alertou para possível impacto do potencial desafio das micotoxinas na saúde e desempenho dos animais, e para os sintomas decorrentes mais comuns que poderão ser identificados nos animais, nomeadamente: • a redução do consumo de alimentos, levando a um aumento de peso corporal mais lento, o que poderá aumentar o número de dias até à comercialização; • problemas gastrointestinais, incluindo digestão de fibras ou diarreia (ficando desta forma mais suscetíveis a doenças), apresentando também uma menor resposta a tratamentos de saúde devido ao enfraquecimento dos seus sistemas imunitários. O cenário delineado pelos resultados do levantamento às últimas colheitas, aponta para este tipo de sintomas mais subtis, como sejam quebras da ingestão de alimentos e na eficiência, ou a redução da imunidade, e não para as respostas agudas que se notam frequentemente quando os animais consomem níveis elevados de micotoxinas. “Estes sintomas de exposição crónica poderão não ser facilmente observados, em contraste com as respostas agudas que se verificam quando os animais consomem níveis elevados de micotoxinas, pelo que é importante que os produtores vigiem de perto o seu gado para que possam detetar problemas e estarem preparados para agir para remediar a situação, se necessário”, finalizou Nick Adams.
SAÚDE E bem-estar animal
A SANOFI COMPANY
Edema mamário do peri-parto POR José Miguel Lopes Jorge, Merial Portuguesa - Saúde Animal, Lda lopes.jorge@merial.com
Avaliação do desconforto com base em informações clínicas Em vacas que sofrem de edema mamário pós-parto, os critérios clínicos foram avaliados diariamente: edema do úbere, da região craneal ao úbere e do períneo, dor e congestão (vermelhidão). Foi administrado um AINE, tendo-se verificado uma rápida redução do desconforto associado à dimensão do edema mamário (80% dos animais em 3 dias; gráfico 1) e uma redução ainda mais rápida do desconforto ligado à dor (80% dos animais em 2 dias; gráfico 2).
Produção de leite (kg/dia)
gráfico 3 30
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Avaliação do desconforto com base na produção leiteira Os tratamentos à base de corticosteróides e diuréticos normalmente utilizados no tratamento do edema permitem um alívio rápido do animal mas penalizam a sua produção leiteira imediata. No caso das vacas atingidas pelo edema mamário no parto, está demonstrado que a quantidade de leite recolhido durante os quarenta dias seguintes foi idêntico no casos das vacas que receberam corticosteróides e nas que receberam um placebo. Estes tratamentos podem evitar rapidamente o desconforto do animal, mas não permitem evitar o défice de produção. Novilhas tratadas com AINE apresentam um melhor desenvolvimento da lactação que as que receberam um corticosteróide e um diurético (lote testemunha); a sua produção média foi superior em 2,8 kg no dia 0 e de 7,5 kg no dia 10 (Gráfico 3). No caso de edema mamário, a utilização de AINEs permite melhorar o conforto do animal, preservando o seu potencial de produção e assegurar um melhor desenvolvimento da lactação.
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Dias após a primeira injecção Costicosteróide + Diurético
AINE
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Edema 100 80 60 40 20 0 D0
D+1 D+2 D+3 D+4 D+5
GRÁFICO 2 Dor à palpação 100 80 60 40 20 0 D0
D+1 D+2 D+3 D+4 D+5
2 e 3: severo ou intenso 0 e 1: ausente ou ligeiro
Em resumo
• Num efectivo leiteiro, uma redução rápida do edema mamário sem penalizar a produção leiteira. • Num efectivo aleitante, a diminuição do edema mamário pode favorecer a ingestão precoce de colostro.
Os AINEs no tratamento de edema mamário do peri-parto possibilitam: • Utilização precoce quando surgem os primeiros sintomas sem risco de parto prematuro
Bibliografia “Efficacité clinique du kétoprofene sur l’oedeme mammaire post partum de la vache laitière” R. Vernhes Thése ENVT 1991.
20
15
GRÁFICO 1
% animais
mais sensíveis, tornando-se necessária a instituição de um tratamento para aliviar o animal, surgindo os antiinflamatórios não esteróides (AINEs) na primeira linha de opções.
% animais
O edema mamário do periparto, frequente num efectivo leiteiro, em particular no caso das novilhas, pode também aparecer num efectivo aleitante (vacas de carne). É uma fonte de desconforto para o animal e de perdas financeiras para o produtor. Uma glândula mamária congestionada e dolorosa não poderá ser esvaziada correctamente nem pelo tratador nem pelo vitelo. Estes edemas, frequentes na altura do parto, podem penalizar o desenvolvimento da lactação ou da ingestão precoce de colostro por parte dos vitelos. Embora a incidência dos edemas mamários possa ser fortemente diminuída por uma boa gestão nutricional durante a secagem, são ainda acima de tudo um fenómeno fisiológico ligado ao aumento da pressão sanguínea na veia mamária pela altura do parto. Este fenómeno pode ser amplificado nos indivíduos
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Saúde e bem-estar animal
Rui silva Licenciado em Medicina Veterinária pela FMV - Universidade Técnica de Lisboa, sócio gerente da firma Vettotal, em Odemira ruilamberto@hotmail.com
O parto O dia do parto é o dia da vida produtiva de uma vaca/novilha que pode ditar o retorno económico do animal, se tudo correr bem. Enquanto que, numa vaca de leite, o lucro é fundamentalmente ditado pela sua produção leiteira. Por ruminantes
Para garantir que o vitelo nasça sem problemas, o criador tem que tomar decisões a mais longa distância (do foro genético na selecção da linha de vacas e do touro), e outras a mais curta distância, como as do foro nutricional, que devem ser implementadas pelo menos 60 dias antes do parto. Como sei que uma vaca/ novilha se aproxima do parto? O principal sinal corresponde ao relaxamento dos ligamentos da bacia para que o vitelo possa passar sem grandes dificuldades pelo interior da mesma, e que se traduz por um abaixamento relativo da base da cauda em relação às tuberosidades isquiáticas –
quando os ligamentos estão completamente relaxados, a vaca geralmente pare dentro de 24 horas. Outros sinais situam-se ao nível do úbere: nas novilhas, o aumento do seu tamanho acompanhase por um edema mais exuberante e nas vacas mais velhas por vezes parem de úbere vazio, o que poderá ser um sinal enganador de parto eminente. Ao nível vulvar há aumento do seu tamanho e edema que ao aproximar de parto eminente se reduz, além de que há o aparecimento de um muco translúcido (“rolhão gelatinoso” que bloqueia a entrada do útero durante toda a gestação e que se liquefaz nos dias que precedem o parto).
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Como sei que está a decorrer o parto propriamente dito? O parto é composto por três fases: 1. Dilatação do cérvix e início de contrações (dura em média 4 horas): a vaca torna-se agitada, ansiosa, olhando para trás, raspa no solo, deita-se e levantase. As contrações uterinas iniciam, embora irregulares, deslocando o vitelo para dentro da bacia junto com a bolsa das águas que se exterioriza na vulva e se rompe. 2. Expulsão do vitelo (dura em média 3 horas): as contrações uterinas aumentam de intensidade e regularidade, fazendo com que o vitelo apareça na vulva através das patas dos membros anteriores (posição normal) e depois da sua cabeça, culminando na expulsão do vitelo. 3. Expulsão da placenta: após a saída do vitelo com respetiva rutura do cordão umbilical, o útero contrai-se e, no espaço de 12 horas, a placenta é expulsa. Deste modo, é importante o criador conhecer os sinais anunciadores, bem como os sinais de parto propriamente dito, para que possa, de uma forma contínua e por períodos nunca superiores a 4 horas, observar a vaca/novilha
para, caso seja necessário, uma assistência célere a um parto que esteja a decorrer mal (parto distócico). Como regra, e para que o vitelo não sofra hipóxia (falta de oxigénio no cérebro), deve-se tomar como medida para auxílio a um parto as 2 a 3 horas após a rutura da bolsa das águas sem que o vitelo tenha sido expulso, para que então sejam iniciadas as diligências céleres para assistência técnica ao parto, uma vez que cada hora que passa aumentam exponencialmente os riscos de morte fetal. Após o parto, os cuidados com a mãe e o filho terminaram? Após a expulsão do vitelo, é aconselhável fazer levantar a vaca para evitar o risco de prolapso uterino, ver se há saída anómala de sangue pela vulva (hemorragias), fazer com que a mãe procure o filho, para que possa dessa forma estimular o vitelo, aumentandolhe a sua vitalidade e procura pela teta. O criador deverá saber avaliar a vitalidade do recém-nascido, uma vez que vitelos fracos atrasam a mama do primeiro leite (colostro) que é fundamental para a proteção adequada do recém-nascido nos primeiros 45 dias de vida. Como avaliar a vitalidade de um vitelo? Um vitelo recém-nascido
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com boa vitalidade é aquele que: possui um reflexo de endireitamento da cabeça quase imediatamente após o nascimento; abre bem os olhos; obtém o decúbito esternal 2 a 3 minutos após o nascimento, seguido rapidamente por tentativas de se levantar num período máximo de 15 a 30 minutos procurando a mãe; possui um bom reflexo de sucção de amamentação. Que causas podem levar a dificuldades no parto? As principais causas são: • Origem maternal – bacias pequenas e com más conformações, bem como vulvas e vaginas pequenas; • Origem fetal – vitelos com más posições ao parto ou excessivamente grandes (desproporção fetal); • As duas situações anteriores ao mesmo tempo – desproporção feto-materna. Esta é a principal causa de distócia em bovinos de carne Peso/Dimensões do vitelo + Tamanho/Forma da bacia da vaca ↓ Dificuldade de parto O que posso fazer para evitar a desproporção entre feto e mãe? Sabemos que o nível esperado normal para dificuldades de parto é de cerca de 3 a 5% em vacas adultas e 10 a 15% em novilhas primíparas (se as condições de maneio forem as adequadas). Para que estes índices não atinjam níveis elevados, com graves consequências económicas, há que ter: • Bom maneio genético – a genética influencia o peso e forma do vitelo, bem como a forma e o tamanho da bacia da mãe. O criador deve, assim, basear todo o emparelhamento do seu efetivo tendo por base bois
cujos filhos sejam fáceis de nascer (“easy calving”); e as fêmeas deverão ser o resultado de uma seleção genética para bacias com grande aptidão ao parto, devendo ser bacias longas, bem abertas nas tuberosidades ilíacas e isquiáticas (por visão dorsal da bacia esta deverá ter um formato retangular) e com um sacro ligeiramente saliente em relação às referidas tuberosidades (vacas “easy calving”). • Bom maneio nutricional – a vaca/novilha deverá ter uma boa condição corporal e um bom desenvolvimento osteomuscular, para suportar uma gestação e posterior parto. Sabendo que 75% do crescimento fetal ocorre nos últimos 60 dias de gestação, é nesta fase que a alimentação da mãe deverá ser rigorosa, para que não ocorram deposição de gorduras no canal do parto, nem sobrecrescimento fetal, o que originaria dificuldades de parto. Por outro lado, mães com fraca condição corporal ao parto criam dificuldades ao parto, crias com fraca vitalidade e má preparação do úbere para o aleitamento. Referência especial para as novilhas que, para cumprirem um bom desenvolvimento quer da estrutura reprodutiva quer mamária, deverão entrar em reprodução com 60% do peso vivo esperado à idade adulta (explorações com excelente maneio) ou entre os 20 e os 24 meses de idade. Não esquecer que as novilhas cumprem ainda necessidades de crescimento ao mesmo tempo que estão gestantes, pelo que se aconselha a separação do resto do efetivo. E que deverão ter um ganho médio diário mínimo de 0,5 kg no último trimestre de gestação.
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Doença Respiratória em ruminantes jovens Na origem da doença respiratória estão normalmente implicados factores do ambiente, do hospedeiro e infecciosos. Concentrar o combate nestes últimos é uma estratégia com baixa probabilidade de sucesso. POR George Stilwell, Ana Vieira, Inês Ajuda AWIN – Animal Welfare Indicators awinportugal@gmail.com
O processo, a evolução, os factores de risco e mesmo alguns dos agentes causais são muito parecidos na doença respiratória das três espécies de ruminantes da nossa produção e principalmente no que se refere a animais jovens criados em sistemas intensivos. Por esta razão, neste artigo iremos falar sobre a doença de uma forma geral, realçando esporadicamente alguns pormenores mais específicos.
doença respiratória Usaremos neste texto a designação doença respiratória para incluir todas as afecções do tracto respiratório inferior, independentemente da sua localização ou causa específica. Com algumas poucas excepções poderá equivaler ao termo pneumonia. Esta estratégia facilita a exposição e resulta do facto de geralmente não ser fácil distinguir o quadro clínico específico de cada doença. Se bem que seja verdade que a doença respiratória resulta da acção de microorganismos (vírus,
bactérias ou fungos) ou parasitas (ver Caixa 1), é essencial que os produtores percebam e reconheçam que na maior parte dos casos são factores da exploração e do maneio que desencadeiam ou facilitam a doença. Ou seja, os mesmos animais perante os mesmos microorganismos podem adoecer ou resistir consoante as condições ambientais em que se encontram. Assim, tornase crucial para um controlo efectivo das infecções, que se conheçam os factores de risco e de predisposição. A estratégia sustentada no uso de vacinas como prevenção e no uso de antibióticos como profilaxia/tratamento é uma abordagem cara e carregada de insucessos. Os ruminantes apresentam certas características morfológicas e funcionais que os tornam especialmente predispostos para fazer doença respiratória – pulmões relativamente pequenos, paredes dos alvéolos pulmonares pouco elásticas, susceptibilidade maior a certas bactérias etc… No entanto, esta constatação, em vez de criar a ideia de “não há nada a fazer” no produtor de ruminantes ainda o deve incentivar mais a criar as melhores condições para os seus
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agentes infecciosos mais importantes na doença respiratória de ruminantes: Bactérias – Mannheimia haemolytica, Pasteurella multocida, Bibersteinia trehalosi e Histophilus somni (comum às três espécies de ruminantes); Mycoplasma (existem estirpes específicas de cada espécie de ruminante – e.g. bovis, ovipneumoniae, arginini); Chlamydophila spp. (mais provável em pequenos ruminantes). Vírus – Vírus Sincicial, herpesvirus, vírus da parainfluenza e reovirus (com estirpes típicas de bovinos, ovinos ou caprinos); adenovírus (adenomatose dos ovinos); Maedi-visna (pneumonia crónica em ovinos); CAEV (pneumonia crónica em caprinos). Parasitas – Dictyocaulus viviparus (bovinos) Muellerius capillaris e Dictyocaulus filarial (ovinos e caprinos). Fungos – Aspergillus.
CAIXA 1
animais. A fragilidade maior associada a mau maneio conduz quase sempre a situações dramáticas com um enorme impacto económico.
factores de risco É portanto crucial rever aqui os factores de risco, que são aqueles que por si só não causam doença respiratória mas “abrem a porta” para os agentes infecciosos.
Eis uma listagem dos mais importantes: Imunidade de origem materna: trata-se da resistência a agentes infecciosos conferida pelos anticorpos que o colostro contem. Em termos gerais e simplificados a falha na transmissão dessa imunidade resulta da administração de colostro de má qualidade ou de um maneio inadequando (atraso na administração, volume insuficiente…). Mesmo naqueles casos em que a doença respiratória só surge após o desmame ainda é
SAÚDE E BEM-ESTAR ANIMAL
o epitélio muco-ciliar que é o principal responsável por remover partículas e microorganismos que ganham acesso à traqueia, brônquios e pulmão. Adicionalmente estes gases provocam a inactivação da imunidade local constituída por imunoglobulinas da mucosa que fixam e eliminam vírus e bactérias.
FIGURA 1 O corrimento nasal e respiração acelerada podem ser os primeiros sinais de um caso de Doença Respiratória (Fot. George Stilwell).
possível encontrar relação com deficiente transmissão da imunidade materna, já que um bom colostro garante uma protecção mais prolongada e um animal com um sistema imunitário mais capaz. Ventilação e acumulação de gases nocivos: este é um dos factores mais importantes em animais estabulados em regime intensivo. A urina, fezes e material das camas em putrefacção produz uma série de gases que afectam o tracto respiratório superior, nomeadamente destruindo
Temperatura e humidade: qualquer um destes factores é extremamente prejudicial quando ocorre nos extremos (muito alto ou muito baixo). No entanto, a situação é tanto mais grave quanto a sua actuação é conjunta. Ou seja, uma temperatura média pode ser um enorme factor de risco quando acompanhada de uma humidade relativa elevada. É por essa razão que normalmente se apresenta este factor de risco como o Índice Temperatura Humidade. Estes factores aumentam a susceptibilidade à doença respiratória por duas vias: favorecem a multiplicação de microorganismos no ambiente e afectam a imunidade local e geral dos animais. Factores de stress: um ruminante quando exposto a um factor de stress segrega uma hormona chamada cortisol que tem o papel de moderar a resposta inflamatória/ imunitária e preparar o animal para responder a esta e futuras agressões.
A libertação continuada ou muito elevada de cortisol conduz a imunodepressão e por isso reduz a resistência às bactérias e vírus do ambiente. A listagem de factores de stress é imensa mas destacamos: o transporte, a descorna ou castração, o desmame, o agrupamento de animais, as intempéries, os maus tractos humanos, a presença de animais considerados predadores (cães…) e o bulling quando se agrupam animais de tamanhos diferentes. Também o desconforto (piso agressivo, más camas…) pode ser causa de imunodepressão. Densidade animal: quer porque favorece o stress no estabelecimento de hierarquia, competição por comida e espaço, quer porque torna mais fácil a circulação de agentes infecciosos, este é um factor de risco enorme e muitas vezes descurado. Alguns estudos comprovam que o aumento da densidade animal para o dobro corresponde a dez vezes maior concentração de bactérias patogénicas no ambiente. Vírus: os vírus podem ser vistos como agentes
determinantes da doença respiratória (por si só causam doença), mas normalmente são agentes predisponentes para a infecção bacteriana. As viroses na maior parte das vezes são doenças autolimitantes no animal com uma boa imunidade. No entanto, podem em certos casos afectar as defesas do tracto respiratório (eliminação da imunidade local da mucosa e destruição do epitélio mucociliar) abrindo caminho à invasão bacteriana que causa a doença grave e tantas vezes fatal.
CONSTATAÇÃO A primeira constatação que se retira desta listagem é que a garantia de bemestar animal é o primeiro passo para a prevenção da maior parte das doenças infecciosas. A não ser a infecção viral, mais nenhum destes factores é controlado por medicamentos ou vacinas. Ou seja, é do bom maneio, das boas instalações, da boa nutrição e das boas práticas que
FIGURA 2 Pneumonias crónicas são causa de enorme sofrimento e perdas económicas.
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resulta a prevenção. Apesar de considerarmos essencial sublinhar constantemente a prevenção e o controlo dos factores de risco como a pedra basilar do combate a doença respiratória, é evidente que devemos procurar detectar tão cedo quanto possível os animais doentes. É
essencial lembrar que o sucesso terapêutico muitas vezes depende de um diagnóstico precoce. Os animais têm de ser constantemente monitorizados e para isso é essencial a formação dos tratadores em comportamento, bemestar e identificação de sinais de doença.
A abordagem a um surto de doença respiratória: Há uma série de considerações e perguntas que se devem colocar quando se avalia um surto ou se pretende corrigir uma situação com caracter enzoótico. A análise da combinação destas respostas permitem descartar muitas hipóteses e favorecer outras, o que permite chegar a um diagnóstico mais rapidamente e, principalmente, seleccionar com critério os testes laboratoriais que irão confirmar as suspeitas. Por exemplo: • Qual a idade dos animais mais frequentemente afectados? Fase lactante? Recria? Engorda? Adultos também são afectados?
Como detectar precocemente a doença respiratória O aumento da frequência respiratória (em animais jovens os movimentos respiratórios não devem ultrapassar os 10 a 30 por minuto) é um dos primeiros sinais a considerar, mas deve ser dada atenção à temperatura ambiente, ao esforço físico recente ou ao stress a que o animal está submetido. A dificuldade respiratória, evidenciada por movimentos do abdómen (animal a bater), pescoço estendido, boca aberta e relutância ao esforço, pode surgir em diferentes graus. O mesmo sucede com a tosse (geralmente gorda, ou seja provocada pela presença de muco nas vias respiratórias), o corrimento nasal (espesso e mais ou menos purulento) e os ruídos respiratórios. A febre apresenta variações muito grandes o que torna esse parâmetro num sinal clínico muito pouco fiável. Outros sinais a ter em atenção é a conjuntiva congestionada, o corrimento ocular e a cabeça inclinada para um dos lados.
A doença respiratória tem um enorme impacto sobre a economia e o bem-estar dos animais. As perdas resultam da mortalidade, dos tratamentos, da mãode-obra extra para garantir os cuidados necessários, da perda de qualidade da carcaça ao abate e nos intervalos de segurança. No entanto, a maior perda provém das perdas de peso ou, pelo menos, no atraso de crescimento. Por esta última razão a forma com maior impacto sobre a economia da exploração é a chamada pneumonia crónica. Os casos típicos caracterizamse por emagrecimento, respiração acelerada e sobressaltante (abdómen parece que salta com cada movimento respiratório), principalmente evidente após esforço físico, mau pêlo (erriçado, quebradiço, baço…) e tosse após exercício ou compressão da traqueia. Ao contrário do que se pensa a tosse e corrimento nasal podem estar completamente ausentes em ruminantes jovens com pneumonia crónica. No entanto, é
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• Qual a estação do ano mais problemática? Por exemplo, a pneumonia por M. haemolytica é mais provável na Primavera ou início de Verão, enquanto que os vírus sinciciais são mais prevalentes nos meses frios. • Qual o local onde estão os animais quando apresentam os primeiros sinais – pastagem, qualquer parque ou apenas em parques específicos? Por exemplo, não será de esperar o envolvimento de parasitas se os animais não têm acesso a pastagem. • Existem factores de risco não controlados tais como ventilação, temperaturas e humidades extremas? • Os surtos seguem-se a momentos de stress, tais como transporte, desmame, partos, descorna/castrações? • Houve entrada de animais novos na exploração? Há regras de biossegurança (outros animais e humanos)? • Existe um programa de vacinação e desparasitação estabelecido e estudado para a exploração em questão? O facto de se fazerem estas intervenções nem sempre é sinónimo de protecção porque vários factores podem influenciar negativamente a resposta (e.g. animais em stress, desparasitação na época errada; interferência com anticorpos de origem amterna…). • Qual a situação de outras doenças causadoras de imunodepressão (CAEV, linfadenite, Maedi-visna, BVD…)? • Quantos animais são afectados (morbilidade)? Qual a mortalidade? • Quais são os sinais clínicos mais evidentes e qual a sua prevalência?
importante ter a noção de que mesmos os casos em que os sinais clínicos estão praticamente ausentes, há redução no ganho de peso diário e por isso perdas avultadas. Na presença de um surto de doença respiratória, com diversos animais a apresentarem estes sinais e com alguma mortalidade, deve ser imediatamente estabelecido um plano de investigação para identificação dos agentes
CAIXA 2
responsáveis e dos factores de risco presentes (ver caixa 2). Esta intervenção deve ser multidisciplinar e liderada pelo médicoveterinário assistente. Como já referimos, a abordagem com seringa na mão normalmente apresenta resultados muito pouco satisfatórios.
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atualidades
Salão internacional DE
AGRICULTURA de Paris POR DAVID CATITA
A história do Salão Internacional de Paris, que comemorou no ano passado 50 anos de existência, tem na sua génese a realização em Paris do Concurso Geral Agrícola, criado em 1870, este ano na sua 123ª edição. Este coloca em competição diversas áreas agrícolas, pecuárias e agro-industriais de toda a França, promovendo estas actividades junto da população da capital francesa e levando a sua reputação a todo o mundo. A entrada no Salão de Paris é, por si só, impressionante, dada a dimensão grandiosa deste evento, mas o interior dos diversos pavilhões ainda é mais avassalador. O pavilhão do gado é sem dúvida um paraíso para quem trabalha neste sector, com mais de 500 animais em exposição das 36 raças existentes em França, mas no qual a abordagem à pecuária vai para além da presença dos animais. Todos os stands promovem, de forma pedagógica e integrada, o mundo rural, em especial junto do público mais jovem e expondo toda a variedade de produtos existentes, desde a
carne até à incontável variedade de produtos lácteos. Olhando para os diferentes sectores representados percebe-se claramente quais as vantagens da existência de uma organização de fileira e de uma promoção integrada e interprofissional. Para além da organização e entendimento entre os vários sectores, a atitude de orgulho dos agricultores foi o mais surpreendente, em especial porque inevitavelmente somos levados a comparar o que vemos com o que se passa em Portugal, no qual os agricultores raramente são homenageados na justa medida do árduo trabalho que realizam, tendo em conta a quantidade de incertezas a que estão sujeitos e da importância deste trabalho em termos ambientais, fixação de populações no interior, criação de empregos e de riqueza, ocupação do território, redução das consequências
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figura 1 Campeões Limousine do Concurso de Paris.
do despovoamento como os incêndios, entre outros aspectos. Quando se atravessa França vê-se um mundo rural com um aspecto saudável, em que todas as áreas parecem cuidadas e por todos os lados se respira prosperidade. Esta paisagem é consequência de uma cultura de orgulho agrícola, bem patente no Salão de Paris, no qual o ministro da agricultura de França entregou a medalha da Ordem de Mérito Agrícola a um destacado representante da raça Limousine pelo trabalho desenvolvido ao longo de uma vida, para dar apenas um exemplo. No Salão internacional de Agricultura de Paris, as raças de carne estavam organizadas em redor de uma grande zona
de promoção da carne, na qual muitas empresas tinham suculentas peças a grelhar, onde as pessoas podiam provar, mas também podiam aprender a diferenciar as diferentes peças do animal e como deveriam ser cozinhadas, sem complexos de mostrar às crianças uma carcaça de uma novilha a ser desmanchada por um profissional que ia relatando as várias peças que destacava e que colocava ao alcance dos espectadores para poderem apreciar as diferenças. A abordagem integrada do sector demonstra claramente que todas as componentes estão estruturadas numa organização interprofissional, em que todos trabalham no mesmo
atualidades
sentido, sendo ilustrativa a frase promocional do stand do Intermarché, onde se podia ler: “A paixão anima-nos, a qualidade une-nos!” A fileira do leite e dos seus derivados ainda se mostrou mais impressionante, com uma enorme zona temática denominada “Viagem ao país do leite”. No início desta, encontravam-se os animais limpos e bem tratados, junto dos seus criadores, após a qual os visitantes podiam ordenhar algumas vacas falsas mas em tamanho real e, em simultâneo, responder a algumas perguntas realizadas por um animador, como se um concurso de televisão se tratasse. Foi maravilhoso observar as crianças a colocarem as diversas tetinas nas tetas das vacas e verem o leite passar por uma tubagem transparente até chegar a um pequeno depósito, como se fosse um espectáculo de magia. Coisas simples, mas que em Portugal, por alguma razão inexplicável, preferimos manter longe das nossas crianças, afastando-as de um mundo real que deveriam conhecer e acarinhar. Após a obtenção do leite, apresentavam-se diversas zonas em que se mostrava aos visitantes como se produzia o queijo fresco, a manteiga, as natas, o queijo curado e os iogurtes, sempre numa atitude pedagógica, usando como
mote promocional que cada dia deveríamos comer pelo menos três produtos lácteos diferentes, fazendo-o com jogos interactivos em que os visitantes tinham de recolher três produtos lácteos para saírem de um labirinto virtual que viam num grande ecrã à sua frente, ou com um enorme percurso com comboios eléctricos em que as diferentes estações eram dedicadas aos diferentes produtos lácteos. O Salão internacional de Agricultura de Paris demonstra de uma forma inequívoca que a promoção da agricultura passa pela promoção concertada dos animais, do espaço rural,
figura 2 Crianças a ordenhar.
figura 3 Entrada da zona temática “Viagem ao país do leite”.
das escolas agrícolas, dos agricultores e dos produtos resultantes desta actividade, todos no mesmo espaço, mostrando que a agricultura é feita por homens e mulheres dedicados e talentosos, e não por máquinas, fazendo que o país se orgulhe dos seus agricultores e levando a que os melhores se dediquem a este admirável ofício e não como uma ocupação de recurso para quem não conseguiu outra profissão. Em Portugal, apesar de termos uma longa e rica história agrícola, temos deixado que algumas pessoas menos esclarecidas delapidassem este importante património, de onde resultou que até há pouco tempo os agricultores tinham uma má reputação junto da opinião pública, situação que aparentemente está a melhorar, mas que devemos aprender
com o passado e não permitir nunca mais que digam mal da agricultura e dos agricultores portugueses. Em suma, é importante sublinhar que os bovinos estão na base de atividades produtivas fundamentais para o nosso País, através da carne, do leite e dos seus derivados, como o queijo, a manteiga, o iogurte, entre outros; são produtos nacionais de agricultores empenhados e trabalhadores, e que mesmo que alguns não tenham denominações de origem protegida também devem ser motivo de orgulho e como tal serem escolhidos prioritariamente nas prateleiras dos supermercados. É esta a mensagem que se sente em todo o Salão de Paris e que nos deve servir de exemplo, uma vez que os consumidores são o destinatário de um longo percurso que começa nas mãos do agricultor.
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atualidades de equipamento
McHale Fusion 3 Plus
Gestão da fertilização orgânica
Em vez de recorrer a rede ou cordel, esta enfardadeira-embaladora integrada aperta o fardo com plástico logo na câmara de enfardamento. Isto faz com que a quantidade de plástico empregue na zona curva do fardo seja superior ao habitual. Ao aplicar o plástico no fardo este estica cerca de 20%, e proporciona um aperto superior ao que se consegue com rede ou corda. A máquina é controlada através de um monitor iTouch a cores de 7”..
Espalhar fertilizantes orgânicos sem antes medir os seus nutrientes, através da recolha de amostras para análise em laboratório, acarreta o risco de se estar sujeito a grandes oscilações. A John Deere lança o primeiro sistema que oferece uma medição contínua dos nutrientes, quer no momento em que se enche a cisterna quer durante a distribuição. Ao cruzar-se esses dados com amostras de solo ou mapas de rendimento, é possível adequar a distribuição ao tipo de cultura e incidir na zona onde ela é mais necessária. Um sensor infravermelho instalado na cisterna mede o conteúdo cerca de mil vezes por minuto durante o espalhamento e transmite os dados para o trator via Can BUS. Os nutrientes medidos são nitrogénio total, nitrato amónico, fósforo, potássio, e matéria seca. É depois possível fazer calibrações específicas do espalhamento de acordo com o tipo de chorume empregue.
Semeador com monitorização contínua
Contador de células robot de ordenha O contador de células OCC Supra para robot de ordenha VMS, da empresa DeLaval, foi o vencedor do concurso de Inovação Tecnológica GandAgro Innova, promovido pela feira Gandagro. Entre as 16 inovações apresentadas a este concurso, com o objetivo de trazer melhorias ao mundo rural e otimizar recursos, o júri decidiu eleger o contador de células OCC Supra, por entender ser esta uma inovação “com impacto claro, direto e imediato no setor lácteo, baseado em parâmetros de medição e não em indicadores”. E também porque “pode ter uma repercussão económica nas explorações”. O OCC Supra é um pequeno laboratório que se pode instalar de forma opcional no robot de ordenha e que proporciona ao produtor uma contagem real de células em apenas um minuto, obtendo informações que permitem controlar melhor a saúde das vacas e melhorar a qualidade do leite.
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O modelo ViCheck Miniair Nova, da Kverneland, é o primeiro semeador com sistema ótico capaz de monitorizar sementes individualizadas com diâmetro inferior à semente de colza (1 mm). O sistema de controlo da qualidade de sementeira observa constantemente o disco de sementeira com uma câmara de alta definição que dispõe de um led triplo
de alta luminosidade. Os dados recolhidos são depois processados por um programa que analisa quantos grãos de semente por buraco estão presentes no disco. Deteta semente em falta e também em excesso; se forem detetados erros de sementeira individualizada, o operador é informado via ISOBUS e pode configurar o equipamento para fazer a correção.
atualidades de equipamento
Joskin lança novo reboque espalhador de estrume O fabricante de reboques Joskin acaba de acrescentar um novo modelo de capacidade mais baixa à sua gama de espalhadores de estrume Tornado3: o T5511/12V. Este tem como particularidade uma altura de caixa de 113 cm e um comprimento de 5,50 m, que é a mais baixa da gama Tornado3, permitindo um carregamento fácil com todo o tipo de carregadores. Com esta altura de caixa, a altura do cilindro traseiro foi reduzida a 2,30 m conservando o mesmo diâmetro das espirais (tubo ø219 mm e curvas ø1010 mm). O conjunto de acionamento manteve todas as especificidades dos maiores da gama dos espalhadores de estrume Joskin, nomeadamente, a dupla segurança no acionamento (um acoplamento elástico entre as caixas assim como um segundo acoplamento resiliente entre as caixas dos cilindros). Este conceito une as numerosas qualidades já testadas e comprovadas desta gama, uma capacidade mais baixa (12 m³ a 14,75 m³ com um taipal suplementar de 250 mm) que pode convir aos utilizadores intensivos de máquinas de menor dimensão.
Deteção de anomalias mecânicas O dispositivo TP Sens da Forigo Roter itália, destina-se à monitorização em tempo real dos principais componentes das máquinas agrícolas, nos quais pode ser instalado (p. ex. caixas de velocidades). Pode conter diferentes sensores e visa alertar o operador para o funcionamento anormal desses componentes. Pretendese que os problemas sejam detetados antes de terem consequências de maior dimensão e que obriguem a reparações mais dispendiosas. A transferência dos dados que recolhe é feita via bluetooth ou wi-fi para um PC ou tablet e tem memória suficiente para o armazenamento de informação durante 3 meses. É uma ferramenta destinada sobretudo aos fabricantes, permitindo-lhes que solucionem preventivamente e com exatidão eventuais anomalias.
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atualidades
ii Jornadas Técnicas VetAgroMor O seminário de abertura das Jornadas Técnicas Vetagromor versou em torno da maximização técnica da produção de bovinos e ovinos no Alentejo. Dentro deste grande tema, destacamos a importância da definição de objetivos que o produtor pretende atingir anualmente na sua exploração. Para ser possível uma vaca parir 1 vitelo por ano, e uma ovelha 1,5 borrego por ano, com elevados ganhos médios diários, há um conjunto de procedimentos que o produtor não pode descurar. A gestão económica de uma exploração engloba o maneio e o bem-estar animal, uma alimentação adequada às necessidades do efetivo, profilaxia sanitária e médica, reprodução e melhoramento genético, informatização de registos, tudo isto com o objetivo da comercialização. Esta última etapa da cadeia será o grande desafio dos produtores e das organizações de produtores (OP) que terão que criar estratégias comerciais para aproximar o produtor do consumidor. Segundo Feliciano Reis, responsável pela organização deste evento, “os agrupamentos de produtores são a base da organização pecuária num futuro próximo, uma vez que, a produção não está devidamente
organizada, e há necessidade de preparar a comercialização”. O médico veterinário acrescenta que “o próximo quadro comunitário avizinha-se decisivo e deverá ser direcionado no sentido de promover a organização coletiva, e não individual, de produtores de carne”. Desta forma, tudo indica que será vantajoso para o produtor estar agrupado, ainda que não se saibam concretamente quais os benefícios em causa. O tema “Desenvolvimento de novas variedades de plantas forrageiras e pratenses”, ao serviço dos produtores pecuários, foi amplamente discutido, seguindo-se uma palestra sobre a importância das vitaminas, micronutrientes essenciais ao bom desempenho das funções orgânicas dos ruminantes. A discussão continuou em torno do “Enquadramento dos agrupamentos de produtores na PAC 2014/2020”, com os representantes da Carnalentejana e do projeto Vitela Pingo Doce, a partilharem a sua experiência diária vivida com produtores e clientes. Os temas “Economia na gestão reprodutiva” e o “Mercado global da carne – desafios e oportunidades” fecharam as conferências previstas para o primeiro dia
das Jornadas. No dia seguinte, começou por falar-se em “Melhoramento genético das vacadas de carne” seguido da discussão sobre as “Potencialidades genéticas do cruzamento industrial com raças exóticas”. As jornadas terminaram com uma reflexão subordinada ao tema “Política Agrícola Comum 2014/2020 – perspectivas de evolução do sector dos ruminantes de carne face a esta reforma”. Portugal contará com cerca de 8000 milhões de euros para a agricultura divididos pelo Pilar I e Pilar II. Segundo Feliciano Reis, os ruminantes de carne têm um futuro promissor do ponto de vista económico, sendo necessário melhorar a eficiência na produção, através de um apoio técnico com mais-valia. “No mercado cada vez mais global penso que a organização será sinónimo de sucesso económico sendo este quadro comunitário vital na orientação da produção”, afirma o técnico. E termina com uma sugestão. “Aconselho a quem tenha disponibilidade económica para investir, que o faça, na compra e arrendamento de terra com boa aptidão para a produção agrícola, pecuária de extensivo e florestal. Tenho a certeza de que não se vai arrepender”.
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conheça a lei
Danos causados por animais
Quem os deve suportar? Drª Sofia Peixoto de Menezes, Advogada estagiária, www.fladvoga.com
Este tema enquadra-se num bem mais vasto: O da responsabilidade civil. Na vida social, os comportamentos das pessoas causam, por vezes, prejuízos a outrem. A questão que se coloca desde logo é a de saber quem deve suportar o dano verificado. Isto é, se o prejuízo deverá ser suportado por quem o sofreu ou, pelo contrário, deverá impor-se à pessoa que o provocou a obrigação de indemnizar o lesado. Para além de outros requisitos, para que esta ultima obrigação surja é necessário, em princípio, que quem causou o dano tenha atuado com culpa, ou porque causou o dano intencionalmente ou porque não respeitou os deveres de cuidado, diligência ou perícia necessários a evitar a produção dos danos. E bem se compreender que assim seja. Em princípio, quem agir corretamente, quem procede como um “bom pai de família”, com a diligência do homem médio, mesmo que venha a provocar danos a outrem não terá de indemnizar o lesado. E mais, não terá sequer de se preocupar em demonstrar que procedeu corretamente. Será o lesado que pretenda ser indemnizado que terá de provar que os danos ocorreram por culpa de quem os causou. E será que se passa o mesmo quando os danos são causados por animais? De notar desde já que nos vamos referir tanto aos animais domésticos como aos restantes animais, como sejam as abelhas ou os animais ferozes. O nosso código civil dedica a esta matéria dois artigos em especial. Trata-se dos artigos 493º e 502º que nas próprias epígrafes se referem a danos causados por animais.
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Artigo 493º O artigo começa por estabelecer que quem tiver assumido o encargo da vigilância de quaisquer animais, responde pelos danos que estes causarem. E bem se compreende que assim seja. É a pessoa que tem os animais à sua guarda – seja o proprietário ou alguém que tomou o animal de empréstimo – que deve tomar as providências indispensáveis para evitar que os animais causem danos. E, se não tomar tais providências e os animais causarem dano a outrem então deverá indemnizar os lesados. Até aqui nada parece ser de novo. Mas, em seguida, o mesmo artigo acrescenta que quem tiver assumido o encargo de vigiar os animais só não será responsabilizado se provar que nenhuma culpa houve da sua parte ou que os danos se teriam igualmente produzido ainda que não houvesse culpa sua. Esta solução apontada pelo legislador já parece afastar-se da ideia geral que acima referimos. É que nesta matéria dos danos causados por animais não é ao lesado, mas antes quem assumiu o dever de vigiar os animais, quem tem de provar que tomou todas as providências necessárias a evitar a lesão. Ou, em alternativa, terá de provar que os danos se teriam igualmente produzido ainda que não houvesse culpa sua. E, caso não faça tal prova, poderá ser condenado no pagamento de uma indemnização ao lesado pois o legislador presume que a culpa é de quem assumiu o encargo de vigiar os animais. A titulo de exemplo referimos a situação de um bovino transpor um cercado, sem qualquer condução por parte do proprietário ou de quem tenha sido
incumbido do dever de o vigiar, invadindo a via pública e ali venha a provocar um acidente. Nesta situação presume-se a culpa do proprietário e/ou vigilante do animal pelos danos por este causados a terceiros, que estes não zelaram pelo controlo do animal de modo a evitar a sua intrusão naquela via. Quando dizemos “zelar pelo controlo do animal”, no caso específico dos bovinos destinados a carne, referimo-nos às condições em que os animais habitam, pois, como é do conhecimento geral, este gado habita normalmente em áreas descobertas, devidamente delimitadas por vedações que asseguram a não transposição dos animais para fora das mesmas, mormente quando a área em causa tenha estrema confinante com a via pública, caso em que devem ser tomadas precauções acrescidas. Com efeito, o simples facto de a área estar cercada não isenta o proprietário e/ ou vigilante de fiscalizar periodicamente as vedações, cabendo-lhes levar a cabo todas as práticas inerentes à sua boa manutenção, a qual se inclui na obrigação que sobre eles impende de guardar e vigiar os animais em seu poder, de modo a evitar que, inadvertidamente, possam causar quaisquer danos a terceiros. Mas, se o proprietário e/ou vigilante tiverem agido de forma diligente e o conseguirem demonstrar, ficarão isentos de culpa e da obrigação de indemnizar à luz deste artigo. Outro caso de exclusão da culpa, é o facto de um bovino ou qualquer outro animal, se encontrar na via pública em resultado de caso fortuito ou de força maior que esteja ligado a uma ação de terceiro, ou, como se verifica com frequência, a fenómenos da
conheça a lei
natureza que, por serem incontroláveis e imprevisíveis, e em absoluto alheios à vontade do proprietário e/ou vigilante do animal, não são passíveis de imputação pelas suas consequências, por se configurarem como evento contra o qual nada podia ser feito. Os fenómenos da natureza constituem, assim, causa de afastamento da presunção de culpa, o que acontece sempre que se verifique, nomeadamente, uma alteração climatérica com períodos de vento de tal forma forte e veloz que, provocando, por exemplo, queda de árvores que por sua vez danifique ou destrua uma vedação tornando-a vulnerável e transponível permitindo a fuga de um animal que, com origem naquele fenómeno e por sua direta consequência, cause danos a terceiros. Igualmente, o furto de um animal pode constituir causa de afastamento da presunção de culpa, se os danos pelo mesmo causados a terceiros resultarem de ocorrência que tenha tido lugar em momento posterior ao furto, não sendo assim imputada ao proprietário e/ou vigilante do animal a responsabilidade decorrente de tais danos. A fim de se evitar a obrigação de indemnizar nestes casos aconselha-se que em caso de furto de animais seja sempre apresentada queixa-crime junto das autoridades competentes. Como se viu, o simples facto de se ser dono de um animal, ou de ter assumido a obrigação de o vigiar, acarreta desde logo o encargo, caso este provoque danos, de ter de provar que se não teve culpa na produção dos mesmos, sob pena de, não fazendo, poder ter de indemnizar o lesado. Artigo 502º O artigo 502º, por seu lado, estabelece que quem no seu próprio interesse utilizar quaisquer animais responde pelos danos que estes causarem, desde que os danos resultem do perigo especial que envolve a sua utilização. Conforme resulta da leitura deste artigo, pode-se ser responsabilizado pelos danos que os animais causarem independentemente de se terem ou não tomado as diligências necessárias a evitar a produção do dano. Isto é, podese ser obrigado a indemnizar mesmo que
se tenha agido sem culpa, bastando para isso que os danos resultem do perigo especial que envolve a sua utilização. A questão que se pode colocar é a de saber se será justo responsabilizar alguém que procedeu com os cuidados previstos na Lei. Vejamos as coisas na seguinte perspetiva: O dono de um cão é especialmente cuidadoso e mantémno sempre preso num canil construído e mantido de forma adequada a que o animal ali fique preso. Por uma razão imprevisível o animal consegue soltarse e morde uma ovelha de um vizinho, que, para a tratar, tem necessidade de gastar um montante considerável. O prejuízo verificou-se pois tal quantia foi gasta. Se continuarmos a defender que apenas pode ser responsabilizado quem agir com culpa então o dono do cão não pode ser responsabilizado pois foi deligente. E é o dono da ovelha que fica prejudicado, pois suportou as despesas de tratamento desta. Esta última hipótese seria a mais justa? O legislador pensou que não. Uma vez que alguém tem de ficar prejudicado – pois a despesa fez-se – então que seja o dono do cão, que é quem beneficia da existência deste, da segurança e companhia que lhe proporciona. É justo que seja quem utiliza em seu proveito os animais, que, como seres irracionais, são muitas vezes uma fonte de perigos, que deve suportar as consequências do risco especial que acarreta a sua utilização.
Do referido resulta já que em matéria de danos causados por animais há dois aspetos a realçar. Por um lado, temos os casos em que a obrigação de indemnizar se funda na culpa e em que é o dono do animal. caso não queira ser responsabilizado, que tem de provar que agiu sem culpa. Por outro lado, poderá haver obrigação de indemnizar sem culpa. E como coexistem estes dois aspetos? O artigo 493º refere-se às pessoas que assumiram o encargo de vigilância dos animais, entre os quais se pode contar
o proprietário, bem como o depositário, o guardador, o tratador ou o interessado na compra que experimenta o animal. Tendo o animal causado dano a terceiros, estas pessoas são responsáveis pela indemnização salvo se provarem que nenhuma culpa houve da sua parte ou que os danos se teriam igualmente produzido ainda que não houvesse culpa sua. O artigo 502º, por seu lado, aplica-se aos que utilizam os animais no seu próprio interesse, isto é, que beneficiam da sua utilização, como é o caso do proprietário, e de quem os toma de aluguer ou de empréstimo. Essencial é que o dano resulte do perigo especial que envolve a utilização do animal e não a qualquer facto estranho a essa perigosidade específica. E é assim que o proprietário responde sem culpa pelos danos que o animal causar. Porém, se o dono ceder o animal de empréstimo a outrem, também este último o utiliza em seu proveito, daí tê-lo pedido emprestado, pelo que é justo que responda pelos danos que o animal venha a causar. Se o animal for alugado, a sua utilização faz-se tanto no interesse de quem diretamente se serve dele como do dono que o deu de aluguer, pois recebe em troca um preço, pelo que ambos se devem considerar responsáveis perante o terceiro lesado. E se o dono do animal encarregar alguém de o vigiar? Se o facto danoso provir da culpa do vigilante será justo que se cumulem as duas responsabilidades perante o terceiro lesado. Não havendo culpa do vigilante a obrigação de indemnização recairá apenas sobre o dono com fundamento no risco. Sendo as coisas como se descrevem, para que um proprietário de animais se sinta realmente protegido poderá sempre contratar um seguro específico de responsabilidade civil transferindo para uma companhia de seguros a responsabilidade decorrente da propriedade ou vigilância dos animais. Contratado o seguro, será a seguradora que, em caso de acidente, assumirá os pagamentos que forem reclamados pelos terceiros lesados proporcionando assim aos donos de animais uma tranquilidade merecida.
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Programa Sexta dia 11 09:00 Vacinas - back to basics | Prof. Luís Tavares 09:45 Palestra Vetlima 10:30 Vacinação para problemas digestivos | Prof. Ricardo Bexiga 11:15 Pausa para café 11:45 Experiência Bovicontrol | Dra. Adelaide Pereira 12:30 Palestra Hipra 13:15 Almoço 14:45 Vacinação para problemas reprodutivos | Prof. Luís Costa 15:30 Palestra Zoetis 16:15 Vacinação em pequenos ruminantes | Prof. Fernando Boinas 17:15 Pausa para café 17:45 Palestra Merial Sábado dia 12 09:00 09:45 10:30 11:00 11:45
Sorologia e sua interpretação | Prof. Ricardo Bexiga Palestra MSD Pausa para café Vacinação para problemas respiratórios | Prof. George Stilwell Palestra CEVA
70 abril . maio . junho 2014 Ruminantes
Público Alvo: Médicos Veterinários Inscrições/contatos: Secretariado: Teresa Baltazar (tbaltazar@fmv.ulisboa.pt) Coordenação: Ricardo Bexiga (ricardobexiga@fmv.ulisboa.pt) Telefone: 213652805 | Fax: 213652810 Faculdade de Medicina Veterinária Av. da Universidade Técnica Polo Universitário da Ajuda 1300-477 Preço da Inscrição: 100€ Dados para Pagamento: Beneficiário: Faculdade de Medicina Veterinária Conta: 0011006923630 IBAN: PT50003500110000692363069 NIB: 003500110000692363069 SWIFT: CGDIPTPL