Ruminantes 14

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A REVISTA DA AGROPECUÁRIA Ano 4 - Nº 14 - 5,00€ julho | agosto | setembro 2014 (trimestral) Diretor: Nuno Marques www.revista-ruminantes.com

aAa®, sistema de análise de vacas leiteiras QUE VEIO PARA FICAR

Crescimento de Novilhas Holstein Friesian Informação fornecida pelo contraste leiteiro



EDITORIAL

edição nº14 julho | agosto | setembro 2014

DE ENTREGADOR A FORNECEDOR

Diretor

Nuno Marques | nm@revista-ruminantes.com

“Nada na vida tem que ser receado mas sim compreendido. Agora é a altura de compreender melhor, para podermos recear menos”. (Marie Curie) Já falta pouco tempo para que o regime de quotas leiteiras chegue ao fim. Porém, a poucos meses de enfrentar uma nova realidade, na generalidade dos casos as novas modalidades de gestão do volume de leite entre produção e indústria ainda estão por definir. O que na prática significa que o produtor possa não vir a ter um comprador garantido para o leite da próxima campanha. É neste momento que os produtores devem, se ainda não o fizeram, acautelar a sua situação perante os compradores atuais ou futuros, não adiando o assunto. Porque, ainda que não fique tudo definido para 2015, será difícil mudar aquilo que agora se estabelecer. É bom lembrar, uma vez mais, que faltam menos de 9 meses para o fim das quotas, e que qualquer alteração programada numa exploração de vacas leiteiras deve ser feita com um ano de antecedência. Não é fácil apreender todas as mudanças que poderão acontecer. O discurso em torno deste tema está por norma envolto numa aura trágica em que a maior competitividade dos países do norte da Europa e a quebra do preço do leite são pressupostos sempre presentes. Porém, ouve-se pouco sobre o que se deve tentar fazer e os cenários que se colocarão aos produtores em face das novas regras. Gostando ou não, estaremos em breve num mundo sem gestão administrativa dos volumes de leite e sem enquadramento interprofissional do preço. O que muda nas negociações e relações comerciais dos produtores com as empresas privadas e cooperativas, com o fim das quotas? As relações com a indústria devem ser abordadas com um novo estado de espírito. Com as empresas privadas, devem ser construídas verdadeiras relações comerciais: os produtores passam de entregadores a fornecedores de leite de um cliente. Isto muda tudo. Com as cooperativas, os produtores vão ter que se envolver na estratégia. Os responsáveis das organizações de produtores e as direções das cooperativas têm uma pesada responsabilidade, precisam de ter todos os produtores com eles para esta mudança. Na verdade, se tudo correr normalmente, os produtores não vendem simplesmente o leite à cooperativa, mas confiam nela para que o possa valorizar o melhor possível. Os produtores terão cada vez mais que saber colocar-se no papel de fornecedores de um ou mais clientes, ou até de uma transformação de leite própria. Terão que negociar com bastante antecedência os contratos, contemplando o volume máximo e mínimo a fornecer por dia, a qualidade do leite e os processos e regras de produção de acordo com um possível caderno de encargos... Um ano será o prazo necessário para se poderem estabelecer objectivos de produção. É desejável que os produtores sejam parceiros da indústria e trabalhem em sintonia com ela. E que percebam que estão num mercado concorrencial, pois a indústria vai seguramente preferir trabalhar com aqueles que melhor se adaptarem aos seus requisitos. Nuno Marques

Colaboraram nesta edição Alexandre Arriaga e Cunha; A R. Cabrita; Ana Barradas; Ana Gomes; Ana Paula Peixoto; Ana Ramos; Ana Rita Diniz; Ana Vieira; António Cannas; António Godinho; António Moitinho; Carlos Cruz; Carlos Vouzela; Daniel Lopes; Francisco Marques; George Stilwell; Gonçalo Martins; Hugo Sousa; IACA; Inês Ajuda; Jan Schilder; João Mateus; João P. Carneiro; Joaquim Cerqueira; José Araújo; José Caiado; José Santoalha; José Silvestre; Lopes Jorge; Luís Queirós; Manuel Rovisco; Maria Luísa Ferrão; Miguel Neves Lima; Nuno Simões; Nuno Sobral; Paulo Costa e Sousa; Pedro Castelo; Ricardo Bexiga; Rien Louwes; Rosemay Carvalho; Sofia de Menezes; Teresa Santos; Tereza Moreira; Walter Liebregts; Zacaya.

Publicidade e assinaturas Nuno Marques | comercial@revista-ruminantes.com

REDAÇÃO

Francisca Gusmão, Maria Luísa Ferrão

Design e PrÉ-impressão Sílvia Patrão | prepress@revista-ruminantes.com

Impressão

Jorge Fernandes, Lda Rua Quinta Conde de Mascarenhas, Nº9, Vale Fetal 2825-259 Charneca da Caparica Tel. 212 548 320

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Propriedade / Editor Aghorizons, Lda / Nuno Marques Contribuinte nº 510 759 955 Sede: Rua Alexandre Herculano, nº 21, 5º Dto 2780-051 Oeiras Tiragem: 8.000 exemplares Periodicidade: Trimestral Registo nº: 126038 Depósito legal nº: 325298/11 O editor não assume a responsabilidade por conceitos emitidos em artigos assinados, anúncios e imagens, sendo os mesmos da total responsabilidade dos seus autores e das empresas que autorizam a sua publicação. Reprodução proibida sem autorização da Aghorizons, Lda. Alguns autores nesta edição ainda não adotaram o novo acordo ortográfico.

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Índice Alimentação 30 Repiso de tomate na alimentação de vacas aleitantes 33 Alimentos líquidos 34 Misturas “Unifeed” para vacas leiteiras 40 Efeito do calor em vacas leiteiras

CONHEÇA A LEI 76 Transporte de animais vivos

ENTREVISTA 14 A Alimentação no topo das prioridades 50 A qualidade do queijo associada à estabilidade da alimentação 62 A vaca Procross na Holanda

08 aAa®, sistema de análise de vacas leiteiras QUE VEIO PARA FICAR Este sistema ajuda os produtores de leite a melhorar a raça dos animais, analisando como todas as partes do corpo do animal funcionam em conjunto como um todo.

ECONOMIA 44 Observatório de matérias primas 46 Observatório do leite 48 Índice VL

EQUIPAMENTO 74 Conforto e longevidade dos animais

forragens 18 Fenosilagens e feno 22 Protaplus, mais proteína na sua exploração! 26 O gado merece, a terra agradece!

opinião 12 O homem é o único mamífero que bebe leite na idade adulta, porquê?

PASTAGEM 36 Como melhorar a disponibilidade e durabilidade da pastagem

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Crescimento de Novilhas

contraste leiteiro

64 Orientações para avaliação de risco 66 Mas afinal o que é a cetose?

A antecipação da idade à puberdade das novilhas permite a redução dos custos de produção.

Uma excelente ferramenta para monitorizar várias áreas de interesse numa exploração leiteira.

68 Hidroterapia 71 A castração

SAÚDE E BEM-ESTAR ANIMAL

72 Clamidíase em pequenos ruminantes

boletim de assinatura 1 ano, 4 exemplares

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Portugal: 20,00 €

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Europa: 60,00 €

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Pagamento • Por transferência bancária: NIB: 0032 0111 0020 0552 3997 7 Enviar comprovativo para o email geral@revista-ruminantes.com • Por cheque: À ordem de Aghorizons, Lda.

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atualidades

Farm Bill 2014-2018 incentiva produção de leite A nova lei agrícola, aprovada em 2014 e que regulará o setor agrícola norte-americano nos próximos cinco anos, sofreu grandes alterações que consistiram sobretudo na abolição integral das ajudas diretas aos agricultores. Estas verbas foram canalizadas para fundos de seguros e seguradoras que oferecem proteção aos produtores quando estes sofrerem prejuízos. A lei agrícola americana abandona assim o mecanismo das ajudas diretas, que vigorou no país durante dezoito anos, e que consistia na atribuição de uma ajuda ao produtor independentemente do lucro e da produção. Conscientes das oportunidades de mercado do setor do leite, os americanos criaram um dispositivo de segurança que assegura uma margem mínima paga ao produtor no sentido de incentivar a produção e premiar o risco que resulta da atividade. A margem “protecionista” é calculada mensalmente, pelo Departamento de Agricultura dos E.U.A. (USDA) em função

do preço do leite e do custo dos alimentos dados aos animais. Mediante esta análise, os produtores de leite decidem, mediante os riscos que pensam que irão correr, se subscrevem o seguro e escolhem o nível de cobertura. A margem mínima é de 4 dólares por 50 kg, ou seja, 62€ por 1000 litros de leite mas os produtores podem optar por coberturas que vão até 8 dólares por 50 kg. Nestes casos, o Estado financia apenas uma parte. Ralph Ichter, consultor das organizações agrícolas francesas nos E.U.A, acredita que em média os produtores de leite irão optar por coberturas na ordem dos 6 a 7 dólares por 50 kg, o que se traduz quase no dobro da margem mínima. Assim, com este novo sistema o produtor americano é incentivado a produzir com vista a aumentar o lucro da sua empresa e, em cenários menos favoráveis, que comprometam a atividade agrícola que desenvolve, tem uma garantia de proteção que pode ser acionada.

Nutreco cria Compound Feed & Meat Iberia O grupo Nutreco deu por terminadas as negociações que anunciavam um possível desinvestimento nos negócios de rações e carne na Península Ibérica. Depois de uma avaliação dos resultados atingidos em Portugal e Espanha, a direção decidiu criar uma unidade de negócio independente denominada Compound Feed & Meat Iberia que inclui algumas das empresas líderes no mercado espanhol como a Sada, que comercializa produtos de carne de aves com uma quota de 26%, a Nanta presente em Espanha e em Portugal, com uma quota de 13% na área dos alimentos compostos, e a Inga Food, vocacionada para a criação de porcos e para outras actividades comerciais em Espanha. A nova unidade, liderada por Javier Rodriguez Ceballos, espera atingir resultados acima dos verificados no primeiro semestre de 2013, que se traduziram em Para mais informações 13,8 milhões de euros. www.nutreco.com

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Acordo entre UE e Mercosul pode afetar setor bovino irlandês A Associação de Produtores Rurais da Irlanda está preocupada com a proposta levada a cabo pela Comissão Europeia no que respeita ao acordo comercial entre a União Europeia e a Mercosul. Qualquer tentativa de aumentar as quotas de importações de carne bovina constitui uma ameaça grave para o setor produtivo e agro-alimentar irlandês. Segundo a euro deputada irlandesa, Marian Harkin, a produção e exportação pecuária europeia e, em particular, a irlandesa, sairá gravemente prejudicada com a proposta de acordo entre UE e Mercosul, que se prevê ficar fechada até ao final do mês, após cerca de quinze anos de negociações.

Para mais informações www.beefpoint.com.br

Provimi Portugal tem novo comando A Provimi Portugal, empresa pertencente ao Grupo Cargill, tem novo comando a partir do mês de julho. Cidinei Mioto, que até ao momento exercia as funções de Diretor Comercial da Nutron na unidade da Cargill no Brasil, passará a desempenhar o cargo de Diretor Geral da Provimi Portugal. Cidinei Miotto é veterinário, possui um MBA em Gestão de Empresas, e desde 1995 vem desenvolvendo uma carreira sólida de crescimento profissional até a atual função exercida nos últimos quatro anos como líder de toda área comercial da empresa.

Dirigida desde 2007 por Jorge Almeida, a operação portuguesa experimentou uma trajetória de crescimento contínuo e resultados sólidos, através de uma gestão voltada para elevados princípios éticos e uma abordagem próxima ao cliente. “A Provimi Portugal tem uma marca reconhecida como de alta qualidade e confiança, uma rede de distribuição com cobertura nacional e um ótimo relacionamento com os clientes. O nosso desafio será reforçar este posicionamento e preparar a empresa para enfrentar os desafios de um mercado cada vez mais competitivo.” diz Cidinei Miotto.


atualidades

Feira Açores XIII Concurso micaelense da raça Holstein Frísia Decorreu em junho passado, em S. Miguel, o mais importante evento pecuário realizado na região autónoma dos Açores, a Feira Açores. Entre os dias 20 e 22, a Feira contou com a visita de cerca de 55 mil pessoas que tiveram oportunidade de ver o que de bom existe nas outras ilhas do arquipélago representadas com excelentes exemplares de raças de carne e leite. O novo pavilhão multiusos, recentemente inaugurado, foi pela primeira vez utilizado para o concurso micaelense. Com uma superfície total

de 6 000 m2 dos quais 4.000 são cobertos, é sem dúvida um lugar aprazível, construído com excelentes materiais e bem inserido na bonita paisagem que o envolve. A utilização desta infraestura vem, na opinião de Jorge Rita, presidente da associação, “dar uma grande segurança à organização e aos participantes, pois permite-nos saber que o concurso se realiza sem os condicionalismos do clima que antes existiam”. O concurso contou com a presença de cerca de 275 animais em representação de 90 explorações, e

mostrou o que de melhor existe na região autónoma. Como já é habitual decorreu ao mesmo tempo o concurso juvenil que contou com a presença de 45 explorações.

“A ideia para o futuro é realizar mais um concurso por ano, em novembro, e que os concursos contém com mais explorações participantes, mas o mesmo número total de animais” disse Jorge Rita.

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entrevista

aAa®, sistema de análise de vacas leiteiras

QUE VEIO PARA FICAR Mais popular do que nunca após 64 anos, o sistema aAa® ajuda os produtores de leite a melhorar a raça dos animais, analisando como todas as partes do corpo do animal funcionam em conjunto como um todo. por ruminantes

Em 1950, o americano Bill Weeks começou o sistema aAa® depois de estudar como os animais funcionam na natureza, e agora o sistema cresceu para ser usado em 22 países no mundo. Ruminantes entrevistou um dos homens na frente deste movimento, Jan Schilder. Jan Schilder cresceu num ambiente de produção leiteira e teve trabalhos que foram desde a produção de rosas à venda de sémen. No entanto, após uma ida ao aeroporto para dar boleia a um dos avaliadores certificados do aAa®, a sua jornada neste novo sistema começou, tornando-se o primeiro analisador certificado do aAa® na Holanda, há mais de 25 anos.

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Ruminantes – O serviço de reprodução para vacas leiteiras, aAa®, é uma filosofia única. Pode explicar-nos um pouco melhor do que se trata? Jan Schilder - O sistema aAa® é único porque é o único método que encontra as causas dos problemas da vaca, analisando a relação entre as várias zonas corporais do animal. Por exemplo, quando a zona pélvica da vaca é estreita, não é possível ter um úbere largo e com uma inserção mais traseira, uma vez que não há espaço para isso na pélvis. Este sistema foi iniciado por Bill Weeks em 1950, após este ter reconhecido como as partes do corpo da vaca se relacionam umas com as outras. Por exemplo, na classificação de qualidade aAa® “#1Dairy”, a vaca apresenta uma cabeça feminina que normalmente está associada com um

pescoço comprido, costelas longas, ancas largas, curvilhões refinados e uma inserção da cauda refinada. Estas características estão também associadas a animais que têm uma natural apetência para produzir leite, dando muito leite para o seu tamanho. Estes animais têm também uma descida de leite fácil e rápida. Nesta linha de pensamento, Bill Weeks criou 6 categorias diferentes de qualidades aAa® para vacas e touros, e chamoulhes: “#1 Dairy”, “#2 Tall”, “#3 Open”, “#4 Strong”, “5# Smooth” e #6 Style”. As primeiras três categorias representam animais com uma fisionomia mais angulosa, enquanto as outras três categorias são animais mais arredondados na sua fisionomia. Uma vaca equilibrada em termos fisionómicos deve ter todas as categorias aAa® a um nível alto,


entrevista

podendo assim ser uma vaca alta produtora, fácil de ordenhar, com facilidade de parto e com uma boa longevidade. Aquando da análise da vaca nós escrevemos num papel as 3 qualidades aAa® que a vaca mais necessita, sendo que são registadas da esquerda para a direita, e a primeira é a qualidade de que a vaca tem maior necessidade. Na da análise do touro, escrevemos as três qualidades que ele tem maior probabilidade de transmitir aquando do cruzamento, escrevendo da esquerda para a direita, começando com a qualidade aAa® mais forte. Um touro só pode adicionar qualidades à geração seguinte se cruzado com uma vaca que não as tem como principais, uma vez que cada um deles contribui, respectivamente, em 50% dos genes da geração seguinte. Por exemplo, se uma vaca é muito angulosa e tem como classificação aAa® 564, significa que esta necessita de um touro 564. Assim, as qualidades “arredondadas” do touro vão fazer com que os filhos (as) se tornem mais funcionais, devido a um melhor equilíbrio entre as categorias angulosas e as arredondadas. Basicamente, o Bill reconheceu como a Natureza trabalha. Nós podemos reconhecer esta relação de partes, não só em vacas leiteiras, mas em tudo na Natureza. Quais são as vantagens deste sistema? A vantagem está numa vaca que traz menos problemas, porque funciona melhor. A vaca não vai ter só apetência para produzir leite, como vai ter a força necessária a produzilo a um alto nível. Tudo isto também significa menos tratamentos, logo menos tempo gasto nestes procedimentos, bem como uma possível redução na taxa de refugo (ver destaque ao lado). Quantas gerações em média são necessárias para formar um grupo equilibrado de vacas leiteiras? Numa geração é possível ver as diferenças, e em quantas mais gerações se fizer bons cruzamentos, melhores resultados serão obtidos. Os produtores frequentemente reconhecem que os seus vitelos estão mais uniformes e há menos extremos. Estes vitelos são mais activos e têm mais vitalidade.

“O sistema aAa é único porque é o único método que encontra as causas dos problemas da vaca, analisando a relação entre as várias zonas corporais do animal.” Como é medido o retorno deste investimento? Em quanto tempo há retorno do investimento? Nós não medimos isso. Os produtores acreditam que melhores animais trazem mais lucro e mais prazer em trabalhar com eles. Normalmente ouvem de outros produtores que estes têm bons resultados, ou tiram as suas conclusões quando visitam outras explorações que já aplicam o sistema aAa®. O que ouvimos dos produtores é que estes têm melhores vitelos machos, que têm um valor maior, logo só isso paga o investimento. Por outro lado, vacas com partos mais fáceis, uma taxa de refugo mais baixa, e a própria condição corporal das vacas na altura do refugo, aumentam o retorno da exploração. A única razão pela qual o sistema aAa® ainda existe, prende-se com o facto de os produtores verem resultados nas suas explorações. Uma vez que a genética não é linear, a informação (dos touros aAa®) é complementada com um programa oficial de provas de descendência? Recomenda aos produtores a complementarem a análise aAa® com este tipo de informação? Testes de descendência são importantes para os produtores seleccionarem os touros que melhor se adequam aos seus objectivos de criação. Por exemplo, pode haver um produtor que está a seleccionar touros por alta produção leiteira, outro que esteja a seleccionar touros para bons aprumos, e outro produtor, um touro com componentes altos. Os números do sistema aAa® não vão dizer se o touro é bom ou não, eles vão mostrar como é que estes touros

6 categorias para vacas e touros Qualidade aAa ”#1 Dairy” Uma vaca com a qualidade aAa ”#1 Dairy” é descrita como mais leite por tamanho, logo significa que esta vaca vai produzir melhor para o seu tamanho corporal.

Qualidade aAa ”#2 Tall” Uma vaca com a qualidade aAa “#2 Tall” tem os ossos mais longos, logo o úbere está inserido alto o suficiente para fazer com que a ordenha seja fácil.

Qualidade aAa ”#3 Open” Esta qualidade aAa “#3 Open”, faz com que haja mais espaço na zona pélvica, tornando assim os partos mais fáceis e também fazendo com que haja mais espaço para o úbere.

Qualidade aAa ”#4 Strong” Nesta qualidade aAa “#4 Strong”, os animais têm mais massa óssea e um peito profundo, criando mais espaço para os pulmões e coração, tornando a circulação melhor para manter a vaca mais saudável (têm que circular 500 litros de sangue para produzir 1 litro de leite).

Qualidade aAa ”#5 Smooth” Uma vaca com esta qualidade aAa “#5 Smooth” tem uma postura mais estável e costelas mais amplas, podendo assim ingerir mais forragem, levando a menos problemas com o balanço energético negativo.

Qualidade aAa ”#6 Style” Animais com esta qualidade aAa “#6 Style” têm extremidades posteriores mais longas e estáveis, fornecendo estabilidade à zona lombar. Estes animais também possuem unhas mais arredondadas, necessitando de uma menor frequência de aparo correctivo.

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entrevista

são diferentes e qual deles pode funcionar melhor. Por isso, o aAa® é utilizado na reprodução para coordenar a vertente física das vacas e dos touros. As análises de descendência dizem-nos como é que as filhas do touro são em média após o cruzamento. A análise aAa® diz-nos qual o tipo de touro a utilizar em cada vaca individualmente, de modo a obter filhas acima da média do touro utilizado. Considerando toda a informação genética que existe hoje em dia, a genómica tem guiado as populações de raças de vacas leiteiras nas suas avaliações genéticas. Qual é a sua opinião? Hoje em dia não podemos mais dar-nos ao luxo de ter muita paciência. Um touro com uma fiabilidade alta dá origem a menos desilusões. Seleccionar touros com provas dadas ou touros genómicos é um método de selecção, que dá a possibilidade ao produtor de decidir qual o mínimo de fiabilidade que quer no sémen que compra. Nós ajudamos o produtor a fazer bons cruzamentos, porque no final estes continuam a ser entre uma vaca individual e um touro individual. Quando uma vaca necessita de qualidades para melhorar a sua largura, um bom touro genómico sem essas características pode tornar o cruzamento desapontante. Nos últimos anos, a consanguinidade na população Holstein é um problema. O que pensa sobre isto tendo em conta o equilíbrio e a rentabilidade da vaca leiteira Holstein? O “sistema” fez com que nos concentrássemos nas filhas e filhos dos touros de topo que têm os melhores valores estimados. Isto significa que todos utilizamos a mesma genética a nível mundial. Para mim, a chave do problema passa por as pessoas que são responsáveis pelo futuro da genética incidirem mais em evitar a consanguinidade. Deviam existir mais pessoas na indústria da reprodução a perguntar-se porque é que determinado touro ou vaca são bons, aprendendo a partir dessa informação para a próxima geração. Eles não olham para trás a fim de analisar o que os pais do animal foram. Muitos touros influentes do passado não têm um pedigree bem conhecido, ou um passado lógico, pelo menos não de acordo com as teorias genéticas convencionais. Por exemplo, o pai do Elevation era o “arredondado” Tidy Burke Elevation, um touro que se

mantinha em três patas. Outro exemplo sucedeu-se quando para a mãe do Ivanhoe o Bill Weeks tinha outro touro em mente, diferente do que o produtor havia pensado. Isto devia-se, não porque sabia que Ivanhoe ia nascer, mas porque o pai de Ivanhoe podia adicionar alguma qualidade da qual a mãe necessitava. Este sistema (aAa®) é um cruzamento selectivo. Não estamos a focar-nos na árvore em vez de nos focarmos na floresta? Nós estamos a focar-nos na floresta. O Bill ensinou-nos que é importante ver todas as partes da vaca a trabalhar juntas, uma vez que todas as zonas corporais têm uma função no animal e influenciam sempre outras zonas, nunca podendo funcionar separadas. Mas talvez queira dizer que nos focamos muito na vaca individualmente em vez de nos focarmos em toda a população. A reprodução na natureza nunca muda, é sempre um cruzamento entre uma vaca e um touro. Os produtores só trabalham com indivíduos e não com médias. Por exemplo, quando pomos um pé em água a ferver e outro em água gelada, na média, temos uma temperatura perfeita, mas na realidade não queremos manter-nos assim por muito tempo. Em que países existe a análise aAa®? A aAa® começou nos Estados Unidos em 1950 e tem sido utilizada nos Estados Unidos, Canadá, México, Austrália e Nova Zelândia desde então. Em 1989, foram pela primeira vez, analisadas vacas na Holanda. Da Holanda passou a ser utilizada na Europa. Hoje em dia na Europa utiliza-se a marca Weeks, mas é a mesma que a análise aAa®. Neste momento a análise é utilizada na Holanda, na Alemanha,

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Jan Schilder Primeiro analisador certificado do aAa na Holanda, há mais de 25 anos.

na Dinamarca, na Suécia, na Polónia, na República Checa, na Áustria, na Suíça, em Itália, em Portugal, em França, na Bélgica, no Reino Unido e na Irlanda. A análise é também utilizada por produtores noutros países, para os quais o sémen de touros analisados é vendido. Como podemos aceder a este serviço? Qual é o tamanho mínimo da exploração, na qual se justifica utilizar o triplo A? É possível utilizar o serviço telefonando ou enviando um email a um analisador que possa ir à área onde se localiza a exploração. O custo é de 6 euros por vaca, uma vez em toda a sua vida produtiva, sendo que alguns analisadores podem cobrar despesas de deslocação. Frequentemente quando os animais são analisados ainda jovens, na visita seguinte estes são reavaliados gratuitamente após terem parido, para que haja certeza quanto à ordem dos números atribuídos àquele animal. Não existe um tamanho mínimo para que a exploração possa ser analisada. Com que frequência vem a Portugal? Eu vou a Portugal uma vez por ano em maio, e neste momento analiso as vacas de 15 explorações diferentes.

MAIS INFORMAÇÕES www.aaaweeks.com e-mail: jan.schilder@quicknet.nl


PUBLI-REPORTAGEM

alimentos compostos Matosmix, Alimentos Compostos para Animais, Lda. A Matosmix é uma empresa portuguesa fabricante de alimentos compostos e completos para animais, para todas as espécies, sob a marca Prestigium e misturas Matosmix. Especializada no fabrico de alimentos de alta qualidade para a alimentação de aves, bovinos de carne e leite, coelhos, cavalos, suínos, ovinos e caprinos, está focada na rentabilidade das explorações, mas tendo sempre presente a natureza e o bem-estar animal. A empresa tem como propósito produzir e comercializar, para o mercado nacional e internacional, rações adequadas às necessidades dos seus clientes, desenvolvendo alimentos personalizados com vista aos melhores resultados produtivos, financeiros e comerciais, tentando, desta forma, diferenciar-se dos seus mais directos concorrentes. Na Matosmix os alimentos são produzidos e formulados recorrendo às melhores matérias-primas disponíveis no mercado que, combinadas com formulação personalizada e especializada, sejam capazes de satisfazer o cliente mais exigente.

A empresa tem, assim, como objetivo primordial, definir-se como empresa de referência, produtora de alimentos reconhecidos naturalmente pela sua qualidade e potenciadora de resultados técnico-económicos. Manuel Rodrigues Matos fundador da empresa, dedicou-se desde muito novo, ao comércio de produtos agrícolas e de alimentos para a produção animal. Iniciou a sua actividade em 1974, em Macieira de Rates, Barcelos, com um pequeno estabelecimento que depressa se tornou uma referência na zona. Em Julho de 1998 criou a sociedade Matosmix, com os seus filhos Adélio e Carlos Alberto Matos e foram já estes que, em 2005, elaboraram uma estratégia de modernização e expansão desta área de negócio e que, em 2012, criaram e registaram a marca Prestigium. A Matosmix tem crescido de forma sustentável fruto da realização de inúmeros investimentos na unidade fabril, em equipamento, em recursos humanos e em logística. O universo dos alimentos produzidos e comercializados

tem vindo a crescer sendo neste momento constituído por alimentos para todas as espécies, na forma de alimentos granulados, farinados e misturas. O sucesso que a Matosmix tem tido baseia-se no recrutamento de colaboradores competentes e talentosos, capazes de garantirem a continuidade e o crescimento sustentável da empresa. As pessoas são, na Matosmix, a “ matéria-prima” mais importante, porque são chave para o desenvolvimento da empresa e para a satisfação total dos seus clientes. Por isso promovemos o bom desempenho das equipas e incentivamos a formação contínua e atitudes e comportamentos orientados para os resultados e para a satisfação do cliente. Actualmente a Matosmix é constituída por 30 colaboradores. São, ainda de referir, como fator potenciador do sucesso

Prestigium Fabrico de alimentos de alta qualidade para a alimentação de aves, bovinos de carne e leite, coelhos, cavalos, suínos, ovinos e caprinos.

da empresa, as parcerias estabelecidas com os seus fornecedores, ao nível da inovação e da tecnologia, assim como ao nível técnico, incentivando a colaboração de nutricionistas com mérito reconhecido.

MATOSMIX Avenida Aldeia Nova nº 431, 4755-277 Macieira de Rates Tel: 252 951 288 Fax: 252 955 422 E-mail: geral@matosmix.pt www.matosmix.pt

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OPINIÃO

Alexandre Arriaga e Cunha Produtor de leite com Exploração no Sabugo, Sintra alexcarnide@gmail.com

bebe leite na idade adulta? Porque é que o homem é o único mamífero que o FAz? Este texto procura expor, de uma forma simples, a inversão que se daria se na Natureza não fôssemos os únicos animais a beber leite na idade adulta: seria o fim das espécies de mamíferos! Ponhamos de lado a noção de que é preciso ser inteligente para colher o leite e armazená-lo no frio para consumo, e concentremonos na forma como funciona a Natureza. Para início de conversa, convém apenas recordar que a glândula mamária não é um armazém de leite, mas sim uma fábrica, onde a temperatura ronda os 38oC, logo, à medida que o leite é produzido, é conveniente que vá sendo consumido, senão deteriora-se, pois é uma substância que só se conserva abaixo dos 5oC. O mamífero, nos primeiros tempos de vida, depende da mãe para sobreviver, não só ao nível alimentar mas também ao nível da protecção dos predadores. Convém, portanto, que não se afaste muito dela e não se alimente de outras substâncias que o possam saciar, pois o leite, caso não seja consumido frequentemente, pode

fermentar no úbere e provocar um grande desconforto à progenitora, com a muito provável e consequente privação alimentar parcial da cria, pois uma glândula mamária cujo leite não é extraído pára de o produzir. O próprio estômago, ao princípio, está especialmente preparado para consumir apenas leite, sofrendo posteriormente as devidas alterações subjacentes a uma dieta mais variada. O recém-nascido precisa, assim, de beber várias vezes ao dia, não só por ter um estômago ainda pequeno, como também por ser necessário “esvaziar” o úbere para que o leite não se deteriore, e também para dar espaço para que mais leite seja produzido. A relação mãe/filho é, portanto, simbiótica. À medida que o novo ser vai crescendo, vai também adquirindo uma cada vez maior autonomia alimentar e, como vai procurando diversos

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alimentos no ambiente que o rodeia, vai-se saciando aos poucos e, em consequência disso, vai bebendo cada vez menos leite, o que transmite à progenitora a informação de que o fabrico pode ser reduzido pois o consumo decaiu. Chegada a idade da puberdade, é de extrema importância que o jovem mamífero já esteja autónomo e sobreviva longe da mãe pois, se se mantivesse perto dela (caso ela continuasse a produzir leite na quantidade de que um adolescente precisa, ele teria uma forte motivação para se manter nas redondezas) e no caso de ser do sexo masculino, poderia cobri-la quando ela entrasse em cio, e isso é para mim a principal razão para que, na Natureza, só seja fornecido leite a animais nos primeiros tempos de vida, ou seja, para evitar a consanguinidade, que acabaria com as espécies. O leite é um excelente alimento para um bom

arranque nesta vida, mas, em doses excessivas, cria uma dependência pouco saudável para qualquer mamífero, pelo facto de garantir ao novo ser uma fonte de nutrientes de tal forma substancial, que faz perpetuar a sua presença junto da mãe com todas as consequências nefastas daí resultantes. Na Natureza, está bem à vista a força do vigor híbrido, pois é notória a energia que está subjacente ao comportamento das diversas espécies de mamíferos, especialmente no caso dos membros do sexo masculino, que são fortemente estimulados a afastaremse do grupo de origem e a procurar refúgio em manadas, rebanhos ou grupos diferentes daqueles que os viram nascer e crescer, devido à presença dominadora de um ou mais machos Alfa, que defendem a sua posição hierárquica até ao limite das suas forças, neutralizando qualquer ameaça de jovens


OPINIÃO

imaturos e inexperientes que são ainda fáceis de expulsar. Esta força é um denominador comum a muitas espécies de mamíferos e parece incontornável. É nesta fase que esses jovens começam a desenvolver a sua agressividade, que os acompanhará até ao fim das suas vidas, e que estará patente no seu comportamento habitual como garante da sua sobrevivência, geralmente com um “equipamento” a condizer, como dentes compridos e afiados, portanto, incompatíveis com a delicadeza de uma glândula mamária. Nesta altura, já as mães destes adolescentes amamentam uma nova

cria que seguirá percurso idêntico. Caso a Natureza estivesse programada para a amamentação dos adultos, isso representaria não só que cada fêmea só poderia ter um descendente na vida, pois era responsável pela sua alimentação ao longo de toda a sua existência, o que exige muito em termos energéticos, como também teria que transportar leite suficiente para saciar um adulto, muitas vezes cheio de fome, o que significaria que teria que ter um úbere de tal maneira grande que dificultaria a sua locomoção, assim como uns têtos especialmente fortes para suportarem uma boca cheia de dentes cortantes. Por conseguinte, um úbere preparado para amamentar

um adulto teria que ser muito diferente de um equipado para amamentar um recém-nascido. Por outro lado, caso um animal morresse, a sua mãe ver-se-ia sem escoamento para o seu leite e poderia também sofrer uma infecção grave na glândula mamária, pois a quantidade de leite dentro do úbere seria grande, como é de prever no caso de se destinar à alimentação de um adulto. Caso um adulto chegasse ao pé da sua mãe para se amamentar e ela não fosse capaz de o saciar devido à fome exagerada deste, como reagiria ele perante tamanha insatisfação, já que é suposto um animal agir de forma agressiva sempre que é contrariado na Natureza? Enfim, obrigar qualquer

mãe a amamentar um filho durante a vida adulta, não só mantém o filho sempre por perto, o que abre portas à consanguinidade, como desmotiva o jovem adulto de procurar novos grupos de semelhantes para aí deixar a sua descendência e, assim, lutar pelo propósito subjacente ao comportamento de cada indivíduo, de que são os melhores e mais fortes genes que deverão ser transmitidos à geração seguinte, sendo os testes à virilidade feitos através de lutas muitas vezes brutais, que revelam a força escondida por detrás de aparências por vezes pouco abonatórias, como garante do vigor das gerações vindouras. Por último, resta-me dizer que, sempre que ponho leite no tacho do meu cão adulto, ele bebe-o num ápice.

ruminantes julho . agosto . setembro 2014 13


entrevista

A ALIMENTAÇÃO NO TOPO DAS PRIORIDADES Entrevista a Carlos Cruz. por ruminantes

A exploração de Manuel Cruz, hoje denominada Sociedade Manuel Cruz & Carlos Cruz, Lda, situada no Lugar do Sobral – Ovar, no distrito de Aveiro, iniciou a actividade em 1978 com apenas 4 vacas de leite. Após constantes evoluções, continua nos dias de hoje a ser uma empresa familiar, onde trabalham para além do Manuel e da Laura, os filhos Carlos e Luísa (aos fins-de-semana), ambos formados em Produção Animal. Actualmente, contam com cerca de 47 ha para produção de forragens encontrando-se a vacaria implantada numa folha de 7 ha. As principais forragens utilizadas na alimentação dos animais são: silagem de milho, silagem de erva (azevém x aveia x ervilhaca) e feno de azevém ou palha. Todas as forragens são produzidas na exploração à excepção da palha.

14 julho . agosto . setembro 2014 Ruminantes

Ruminantes - Todas as forragens utilizadas na exploração são de produção própria? Carlos Cruz - Com excepção do concentrado e da palha de trigo, tudo o resto é produzido por nós. A silagem de milho é produzida em sequeiro entre Maio e Setembro, e a silagem de erva (consociação de azevém x aveia x ervilhaca) é feita entre outubro e abril. Ainda em relação às forragens, reservamos cerca de 8 ha da área total para produzir feno de azevém, que normalmente ocorre durante o mês de junho. Relativamente à produção de silagem de milho, conseguimos ter em média 70 a 80 toneladas/ha de matéria verde, valor para nós considerado bom, atendendo a que a cultura é feita em sequeiro.

Que cuidados tem na elaboração das suas forragens? Os cuidados começam logo na escolha das variedades que melhor se adaptam às nossas condições, para que a sementeira ocorra na altura certa. A sementeira, a colheita e a conservação são feitas com todos os cuidados. Utilizamos conservantes apenas na silagem de erva porque esta é armazenada sob a forma de rolos, e o facto de utilizarmos este tipo de produto melhora significativamente a sua conservação. No caso da silagem de milho utilizamos silos de trincheira com capacidade para cerca de 700 toneladas cada. Devido a isso semeamos cerca de 10 ha de milho no mesmo dia, com a mesma variedade e ciclo, permitindo-nos assim na altura da colheita termos


entrevista

uma grande uniformidade em termos de plantas. O enchimento rápido dos silos, uma boa compactação, cobertura e estanquicidade dos mesmos, permitem obter boas condições anaeróbias para que a fermentação ocorra de forma normal. Os ciclos de milho utilizados variam entre os 400 e 500, dependendo das variedades aplicadas verificam-se diferenças na qualidade final das silagens, nomeadamente nos seus teores em amido e NDF (fibra neuto detergente). Outro aspecto que considero de grande importância é o facto da minha máquina de ensilar (automotriz) possuir craker (picadora) e isso permitir fazer a silagem com um grau ligeiramente mais avançado do estado vegetativo do grão de milho, sem com isso comprometer a sua assimilação eficaz. Como faz a gestão das quantidades diárias de forragem? Que custo tem? O objectivo é ter os animais que se encontram em produção sempre com a mesma alimentação forrageira ao longo do ano. Com isto, pretendemos manter a flora microbiana do rúmen o mais estabilizada possível. Para atingir este objectivo temos que dividir a quantidade produzida de cada forragem pelo efectivo e número de dias para o qual pretendemos essa dieta (normalmente 365 dias). Pelas minhas contas o custo da silagem de milho nunca fica abaixo de 3,5 cêntimos por quilograma. É com esta base forrageira que conseguimos os melhores resultados. Que análises costuma fazer? Com que frequência? Quem lhe dá este serviço? De uma forma geral fazemos análises de rotina ao longo de todo o ano. No caso específico da silagem de milho e como os silos são compridos, fazemos ao longo de todo o silo. Quando tentamos despistar alguma variação no consumo de alimento, diminuição repentina do número de visitas das vacas ao robô de ordenha, ou diminuição de produção de leite, analisamos mais de uma vez por mês. Felizmente que estas situações não são muito frequentes. Relativamente às análises feitas aos rolos de erva, normalmente acompanham a mesma frequência das análises feitas à silagem de milho, apenas sendo feitas análises extra quando suspeitamos que vamos iniciar o consumo de rolos que à partida vão ter qualidade diferente dos que estamos a gastar. Os parâmetros analisados são os recomendados pelo técnico responsável pela nutrição da exploração Eng. António Godinho da Sorgal (Rações Sojagado) e são analisados os

“Os cuidados começam logo na escolha das variedades que melhor se adaptam às nossas condições, depois fazemos todo o possível para semear na altura certa.”

dados gerais da exploração Tipo familiar com 3 UHT a tempo inteiro e 1 UHT a tempo parcial. Futuramente serão 4 UHT a tempo inteiro. 1.500.000 kg de quota anual. 47 ha para produção de forragens. Instalação da vacaria num único edifício, com cobertura constituída por duas águas. Efectivo actual constituído por 332 animais, dos quais 116 vacas em produção. Dois Robôs de ordenha, colocados em dois parques indiferenciados com capacidade para 128 animais no total. Alimentação com utilização do sistema TMR para vacas em produção, secas e novilhas confirmadas. Sistema de aleitamento automático de vitelas(os). “Boxes” automáticas de alimentação de concentrados para novilhas.

seguintes: matéria-seca (MS%), Fibra bruta (FB%), fibra ácido detergente (ADF%), fibra neutro detergente (NDF%), cinzas totais (CT%), amido (%), e proteína bruta (PB%). Como faz a optimização da alimentação? Sempre que recebemos os resultados das análises das forragens, avaliamos a dieta dos animais com o nutricionista da Sorgal e caso haja necessidade, efectuamos uma optimização ao nível do plano alimentar ou ao nível dos concentrados. Utilizamos dois tipos de concentrados: um granulado específico para utilização nos robôs e uma mistura personalizada de matérias-primas utilizada na manjedoura, misturada com as forragens. O alimento granulado está disponível para todas as vacas em produção, cifrando-se o consumo médio nos 4,5 kg/vaca/dia. A mistura personalizada é utilizada no unifeed juntamente com as forragens e à razão de 5,5 kg/vaca/dia. De salientar que esta mistura contém todos os nutrientes incluindo os minerais, vitaminas e todos os aditivos que achamos necessários para a saúde e bom desempenho dos animais.

Performances produtivas Produção média por vaca aos 305 dias: 10.885 kg com TB – 3,76%, TP – 3,32%. Média de lactações: 2,2 Peso médio vaca: 680 kg Produção média por vaca/dia em Maio: 34,5 litros com TB – 3,7% e TP – 3,3%. Ureia – 280 mg/l CCS: 218.000/ml Nº ordenhas: 3,1 vaca dia Ruminação Total Média: 480 min/dia/vaca

TECNOLOGIAS UTILIZADAS Dois robôs de ordenha, duas “boxes” de alimentação automática, detetor de início de trabalho de parto, câmaras de video nos tratores e reboques, câmaras de vídeo ao longo da vacaria.

Quantos tipos de alimentação tem na exploração? São vários. Vacas em produção, vacas secas e novilhas confirmadas gestantes, novilhas em recria e vitelas(os) na fase de cria. Temos ainda um parque de pré-parto no qual utilizamos a mesma alimentação das vacas em produção só que em menor quantidade. A razão da existência destes lotes com diferentes planos alimentares (ver tabelas dos planos alimentares) prende-se com as diferentes necessidades dos animais ao longo da sua vida. As necessidades de um animal em crescimento são diferentes das de um animal em produção. A título de exemplo, as necessidades de crescimento das novilhas obedecem a alguns cuidados especiais na

ruminantes julho . agosto . setembro 2014 15


entrevista

sua alimentação, nomeadamente durante a fase de desenvolvimento do úbere. Outro exemplo é o da alimentação de uma vaca seca em que pretendemos recuperar o animal, principalmente ao nível da glândula mamária e ao nível do seu rúmen, tentando recuperar e regenerar as suas vilosidades (pregas), bem como prevenir doenças metabólicas no pós-parto. Qual o seu custo alimentar por litro de leite? Sei que muitos produtores se preocupam em comprar barato todos os produtos que adquirem fora da exploração, mas não imaginam quanto lhes custa produzir um litro/leite. Nem mesmo em termos alimentares que representam cerca de 60% do custo total do litro de leite. Atualmente e com o agravamento dos custos dos fatores de produção, o custo alimentar por vaca e por dia andará na ordem dos 5,5 €, o que

TABELAS Planos alimentares. Vacas em produção: Quantidade (kg/animal)

Alimento

Sil. Milho (MS-34%)

43,0

Sil. Erva (MS-27%)

5,0

Palha Trigo

1,0

Mix Matérias-Primas

5,5

Granulado Robot

Min. 2,0 - Máx. 9,0

Vacas secas e novilhas gestantes: Quantidade (kg/animal)

Alimento

Sil. Erva (MS-27%)

À discrição

Palha Trigo

3,0

Sil. Milho (MS-34%)

4,0

Concentrado

1,0

Pré-parto: Quantidade (kg/animal)

Alimento

TMR Vacas em produção

1/2 da quantidade

Vitelas(os) até 77 dias (Desmame): Alimento

Leite (Máq. aleitamento) Feno

Quantidade (kg/animal)

Variável À discrição

Vitelas(os) Pós desmame: Alimento

Quantidade (kg/animal)

Feno

À discrição

Starter

À discrição

representa cerca de 0,157€/litro de leite. Tem consumos médios diários de matéria seca superiores a 25,5 kg/vaca em produção. Tem algum maneio especial para o conseguir? Não temos nenhum maneio especial, temos boa genética, boas instalações e cuidamos muito bem dos nossos animais desde que nascem até serem vacas. Tentamos ter muito cuidado com a alimentação, tem que ser boa e apetente para que tenham vontade de comer, na realidade as vacas não são diferentes de nós, que quando gostamos da comida repetimos o prato. Depois faço o unifeed duas vezes por dia para que o alimento vá “fresco” e estimule o consumo. Se reparar nos minutos de ruminação que têm estes animais (480 mn), percebe-se que comem bem e são saudáveis. Traça objectivos de produção de leite e custos com o seu nutricionista? Temos reuniões periódicas e o objetivo é sempre o mesmo, manter ou melhorar os resultados em relação ao período anterior, mas numa óptica de optimizar os resultados de acordo com o seu retorno e não a sua maximização. Tenho a perfeita noção que poderia produzir mais leite, mas a que custo? Com que retorno? Estamos muito focados na prevenção, no equilíbrio. Queremos produções de leite altas, mas também queremos vacas gestantes, animais saudáveis e com o mínimo de problemas. Em colaboração com o nutricionista, fazemos também experiências e análises com produtos que vão surgindo no mercado e que possam ser interessantes sob o ponto de vista económico. O bagaço de soja tem estado muito caro, como tem contornado esta situação? Apesar de caro continua a fazer parte das

16 julho . agosto . setembro 2014 Ruminantes

Na FOTo Laura, Luísa, Manuel e Carlos.

fórmulas, se bem que, cada vez em menor quantidade. Isso traduz que a sua relação custo-benefício continua ainda positiva. Como substituto parcial do bagaço de soja têm sido utilizados, em parte, bagaço de colza, corn glúten feed, DDGS (Distillers Dried Grains with Solubles) entre outros, bem como a utilização de compostos azotados não proteicos. Tentamos também maximizar a qualidade e quantidade de incorporação da silagem de erva. Quais são as primeiras tarefas que executa quando chega à exploração? Em primeiro lugar ver os mapas fornecidos pelo sistema informático, nomeadamente, as vacas que estão por ordenhar. Depois observar os animais a fim de detectar eventuais anomalias. A seguir, varrer as manjedouras, elaborar as diferentes dietas e distribuí-las pelos diferentes lotes de animais. Que indicadores de produção/ rentabilidade utiliza para ver se o negócio está a correr bem? Utilizo diariamente a produção de leite total e o nível de saúde dos úberes, através dos mapas fornecidos pelo sistema informático do robot. Anualmente utilizo como indicadores, a taxa de concepção, que foi de 61,4% com sémen sexado e também o IOFC (Income Over Feed Cost), que foi de 4,72 € por vaca dia (dados referentes a 2013). Quais os objetivos para o futuro? Poder continuar activo neste setor após as grandes alterações ao nível da Europa que se aguardam para breve.



FORRAGENS

LUÍS QUEIRÓS orage Additives Technical Support Manager Lallemand Animal Nutrition lqueiros@lallemand.com

Fenosilagens E feno No contexto actual da produção de leite nacional e mesmo internacional, cada vez mais se torna essencial a produção de forragens de elevada qualidade, por forma a diminuir os custos de alimentação, principalmente no que respeita à aquisição de concentrados.

Processos principais da preservação DE forragens

De uma maneira geral, poderíamos dizer, optimisticamente, que conseguimos já controlar os processos principais da silagem de milho, como sejam a seleção das variedades ajustadas à região, a escolha da melhor época de colheita e o processo inerente ao corte da silagem, seja na dimensão da partícula, seja no processamento do grão e posterior fermentação. Se, no entanto, ainda na silagem de milho temos pontos fulcrais a melhorar, as silagens, fenosilagens e mesmo fenos Outono-Inverno, pela sua complexidade, exigem, da parte

Gráfico 1 Fermentação Ideal, Fases de Estabilidade e Utilização.

Fase de Fermentação Fase de Estabilidade e Utilização

Sem Ar

>45ºC 39ºC

Açucares

Sem Ar Estável, elevada qualidade

Dias de fermentação

Ácido Acético

Ácido Láctico

pH

18 julho . agosto . setembro 2014 Ruminantes

do agricultor, um maneio bastante mais apurado e exigente. Aqui sim, podemos e devemos melhorar muito, ainda para mais quando geralmente produzimos este tipo de forragens para obtermos quantidade e qualidade de proteína, ou em menor caso, fibra de boa qualidade, que sirva como estrutura física da dieta de uma vaca de leite. É um facto que na produção de silagens, fenosilagens, ou fenos, existem alguns factores que o agricultor não controla, principalmente as condições atmosféricas. Estas podem impedir a colheita na altura ideal para obtenção de proteína ou fibra de elevada qualidade, e em última instância, prejudicar mesmo o processo de pré-fenação, assim como todo o processo de fermentação. O primeiro quer-se o mais curto possível (ver gráfico 1), pois enquanto a planta estiver no campo em presença de oxigénio, o consumo de nutrientes e a diminuição de qualidade serão bastante mais elevados. Por esse facto, aconselhamos sempre o agricultor a proceder à pré-fenação com tempo seco e com sorte ventoso, e a utilizar cordões largos, para que a desidratação da planta seja mais rápida e homogénea. Na prática, deveríamos ocupar cerca de 80% da área cortada com a erva espalhada em cordão largo. Dependendo do tipo de forragem que produzimos (tanto gramíneas, como azevém, festuca, triticale, ou leguminosas, como luzerna, ervilhaca, trevos, ou então consociações entre as duas), algumas características

Gráfico 2 Fermentação por bactérias do género Clostridium. Fase de Fermentação Fase de Estabilidade e Utilização

Forragem muito húmida, Poucos açúcares

>45ºC 39ºC Açúcares pH

Clostridial Baixa qualidade de forragem Elevado NH3 e Ácido Butírico

Dias de Fermentação

Ácido Acético Ácido Butírico

Ácido Láctico

podem influenciar dramaticamente o processo de ensilagem e qualidade final da forragem. São principalmente três as que mais influenciam: • Teor de Proteína Bruta; • Teor de Açúcares Solúveis; • Teor de Matéria Seca. A Proteína Bruta exerce uma capacidade tampão elevada na forragem, dificultando a sua acidificação. Por este motivo, torna-se extremamente importante garantir que o processo inicial de fermentação acidifique rapidamente a forragem, utilizando para tal bactérias homofermentativas, produtoras de ácido láctico, que rapidamente baixam o pH. Inibimos assim a proliferação de bactérias nocivas, como as do género Clostridium, provenientes do solo, e que degradam a proteína em compostos não utilizados pelos animais (ver gráfico 2).


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FORRAGENS

O processo mecânico de produção de silagens de erva ou fenosilagens leva muitas vezes a um teor elevado de cinzas, fruto da quantidade de solo que entra nos silos ou fardos juntamente com a forragem. Este factor influencia de forma significativa a quantidade de esporos butíricos existentes neste tipo de silagem. É por isso que aconselhamos sempre que possível um corte mais elevado do solo. A diferença de corte entre 2 cm do solo e 10 cm é a suficiente para diminuirmos em mais de 20 vezes o teor destes esporos. A existência de Clostridia nas silagens, juntamente com condições ideais ao seu desenvolvimento, como teores de humidade elevados, leva à degradação da proteína, denominada proteólise (ver figura 1), em principalmente dois compostos: • Aminas biogénicas; • Azoto amoniacal. As aminas biogénicas, como a histamina e putrescina, diminuem a percentagem de proteína utilizável pelos animais, além de diminuírem em muito a ingestão de forragem. Já a existência de azoto amoniacal aumenta o teor de proteína solúvel. Este excesso acarreta gastos energéticos, pois o organismo do animal tem que excretar o azoto amoniacal, de forma a evitar distúrbios metabólicos, como a alcalose, caracterizada por um aumento acima dos 7,2, do pH ruminal. Em casos agudos, a excreção pode não ser suficiente, levando a toxicidade elevada e muito provavelmente à morte do animal. O teor em açúcares solúveis é outro dos aspectos a ter em conta quando falamos da preservação de forragens de elevado valor proteico. Tipicamente estas forragens não contêm açúcares solúveis suficientes para efectuar uma fermentação completa e eficaz, pelo que existem alguns pontos que deverão ser considerados. A pré-fenação tem a vantagem de concentrar os açúcares solúveis, pelo que ocorrendo antes do período de fermentação, poderá auxiliar em muito toda a acidificação da forragem, preservando os seus nutrientes. Veja-se o caso da luzerna, que apenas quando atingimos os 35% de Matéria Seca da planta, e com a utilização de enzimas, conseguimos

Péptidos

AMONÍACO Acidificação lenta

Aminoácidos livres

Aminoácidos livres

Alta atividade

Alta atividade

Proteases da planta

Microorganismos proteoliticos

Baixa atividade

Baixa atividade

Proteinas

Forragem Aminoácidos

Péptidos

Acidificação rápida

Péptidos

AMONÍACO

FIGURA 1 Proteólise durante a fase de Ensilagem.

obter um teor suficiente de açúcares (ver quadro 1). A altura do dia em que se efectua o corte influencia enormemente o teor de açúcares solúveis circulantes na planta. Como a produção destes está dependente de todo o processo fotossintético, um corte ao início da tarde poderá ter 4-6% mais açúcares solúveis do que a mesma forragem cortada de manhã, logo após o amanhecer. Apenas este facto pode diferenciar uma boa fermentação de uma fermentação indesejável. Já referimos acima, mas a utilização de enzimas nos inoculantes, em situações de carência de açúcares solúveis, pode ajudar bastante o processo fermentativo ao quebrar algumas ligações de fibras mais complexas em compostos mais simples e solúveis, como os açúcares fundamentais.

Para finalizar Para finalizar, o teor de matéria seca da planta influencia muito a estabilidade aeróbica da forragem. matérias secas mais elevadas dificultam a compactação, pelo que quando ultrapassamos os 30% de matéria seca, deveremos utilizar um inoculante que contenha bactérias heterofermentativas, como é o caso do Lactobacillus buchneri, que produz compostos antifúngicos, como o ácido acético e propiónico, que impedem a proliferação de fungos e leveduras, responsáveis pelo aquecimento da silagem e consequente diminuição de densidade nutritiva e perdas de Matéria Seca.

Quadro 1 Conselhos básicos para ensilar luzerna.

20 julho . agosto . setembro 2014 Ruminantes

% Matéria seca

ph conservação

teor HC S em luzerna g/kgMS (com inoculante em enzimas*)

Teor inicial de HC S necessário para conservar a luzerna g/kgMS

20

4,0

40 - 170 (insuf.)

340

30

4,4

40 - 170 (insuf.)

170

35

4,6

40 - 170

140

40

4,8

40 - 170

100

45

5,0

40 - 170

70

50

5,2

40 - 170

60


A Solução para a estabilidade

Cientistas norte-americanos transformam estrume em água abeberamento de vacas. Steve Safferman, professor de engenharia agrícola e de biossistemas, envolvido na investigação, afirma que mil vacas produzem cerca de quarenta milhões de litros de estrume por ano. Cerca de 90% desta quantidade é composta por água e os outros 10% por nutrientes, carbono e agentes patogénicos que têm um impacto negativo no ambiente se não forem tratados de forma adequada. A utilização desta tecnologia permite ainda capturar uma percentagem elevada de amoníaco, composto químico nocivo, que se perde na atmosfera impactando negativamente a qualidade do ar. Actualmente é possível produzir 200 litros de água a partir de 400 litros de estrume, sendo o objectivo do projecto de investigação aumentar a produção de água para 260 litros mantendo a quantidade de estrume acima citada.

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Já pensou que o estrume produzido numa exploração agrícola pode ser transformado em água limpa e que os nutrientes extraídos desta água ainda podem ser utilizados como fertilizantes? A tecnologia que permite esta transformação foi desenvolvida na Universidade do Michigan e espera-se que chegue ao mercado já no final deste ano. Conhecido como McLanahan Nutrient Separation System, ou Sistema de Separação de Nutrientes, o processo começa com um digestor anaeróbio, equipamento usado para o processamento de matéria orgânica, neste caso o estrume, numa atmosfera onde não existe oxigénio. Daqui resulta o metano, gás natural, também utilizado como combustível na produção de energia eléctrica. Além do digestor, o processo inclui a ultrafiltração, a extracção de ar e um sistema de osmose inversa. O resultado final não é só energia, mas também, fertilizantes e água limpa que não serve para os humanos beberem mas que pode perfeitamente servir para

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ruminantes julho . agosto . setembro 2014 21


Forragem

PROTAPLUS

Mais proteína na sua exploração! POR Rien Louwes, International Product Manager Forage / Barenbrug Holland BV

Introdução Atualmente, os preços dos concentrados estão elevadíssimos. Os preços dos cereais e dos bagaços de soja aumentaram mais de 150% nos últimos anos e não é provável que venham a diminuir. Especialmente para as explorações que utilizam a silagem de milho na alimentação animal, a aquisição de uma fonte de proteína adicional representa um importante custo. A silagem de azevém de elevada qualidade é uma parte da solução, mas é possível ir mais longe. Este cenário levou a Barenbrug, reconhecido produtor de azevéns a nível mundial, a procurar soluções que permitam ao agricultor obter mais fontes de proteína na sua própria exploração. As leguminosas poderão assumir um papel importante uma vez que são uma fonte natural de azoto, em particular o trevo anual de crescimento rápido em explorações com culturas forrageiras de Inverno. Estas espécies conseguem fornecer azoto às culturas e acima de tudo serem uma fonte de proteína para a alimentação animal. No entanto, importa salientar que para obter o máximo benefício da introdução dos trevos numa mistura é necessário alcançar a combinação e proporções ótimas para cada espécie. Assim, a equipa de investigação da Barenbrug testou inúmeras combinações e misturas de gramíneas e leguminosas

em diferentes regiões, obtendo um novo conceito de produto: o PROTAPLUS.

Conceito O ProtaPlus é uma mistura de elevada qualidade, que contém variedades superiores de azevém anual combinadas com trevos anuais como o Trevo da Pérsia, o Trevo Encarnado e o Trevo Bersim. O ProtaPlus foi concebido pela equipa de investigação da Barenbrug após ensaios internos e testado em condições reais em muitas regiões e condições edafo-climáticas diferentes. Espécies

Benefícios

Azevém Westerwold

Estabelecimento muito rápido, rendimento elevado no 1.º corte, alto valor nutricional. Tetraplóides para silagem, diplóides também adequados para feno.

(Lolium multiflorum Var. Westerwoldicum)

Azevém italiano

(Lolium multiflorum)

Trevo Encarnado

(Trifolium incarnatum)

Trevo Bersim

(Trifolium alexandrinum)

Trevo da Pérsia

(Trifolium resupinatum)

22 julho . agosto . setembro 2014 Ruminantes

Composição

PROTAPLUS 45%

Azevém Westerwold

25%

Azevém italiano

30% Mistura de trevos anuais

Elevado rendimento, crescimento rápido após corte, perfeito para cortes múltiplos, elevado valor nutricional e palatabilidade da ração.

Rápido estabelecimento, rendimento elevado no 1.º corte, tolerante à seca, excelente qualidade proteica, adequado em solos ácidos.

Floração tardia, rápido estabelecimento, perfeito para cortes múltiplos, excelente em solos húmidos.

Elevado rendimento, hábito de crescimento mais prostrado, excelente qualidade proteica.

Imagem


Um valor superior por hectare Baspectra II e Bartigra

provaram proporcionar um valor económico superior por hectare, podendo igualmente conduzir a uma redução de custos com a alimentação. Resumindo: o investimento numa genética superior de Azevéns é um primeiro passo para uma boa rentabilidade das explorações do Futuro! DISTRIBUÍDO POR:

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Forragem

aplicação

O ProtaPlus é um produto para a produção de forragem de curto prazo (6 a 12 meses). Pode ser utilizado como uma cultura intercalar. Deve ser semeado no período do outono, preferencialmente de setembro a outubro, desde que a temperatura do solo seja suficientemente elevada (> 12 °C). Considerando a pequena dimensão das sementes de trevo deverá realizarse uma sementeira pouco profunda (0,5 a 1,0 cm de profundidade). O ProtaPlus permite múltiplos cortes podendo ser utilizado como silagem, feno ou ser directamente fornecido aos animais. O pastoreio também é possível, sendo recomendado a utilização do pastoreio rotativo ou por faixas. Para um rápido crescimento após o corte, deve ser deixado um restolho com 7 a 8 cm de altura. Para obter o máximo

teor proteico, recomenda-se uma viragem suave durante o processo de ensilagem uma vez que as folhas de trevo podem cair das plantas no processo.

Resultados de Ensaios Barenbrug Os resultados de diversos ensaios da Barenbrug revelaram que o ProtaPlus consegue produzir até 20% mais de matéria seca por hectare quando comparado com o azevém puro. Este facto, pode ser observado no gráfico ao lado apresentado. A ótima combinação de gramíneas e leguminosas presente na mistura Protaplus, permite um aumento substancial do valor nutricional da ração e, em particular, da proteína digerível.

+ 30 a 50% de proteína digerível. A partir de 1 hectare, esta quantidade adicional de proteína equivale a 700800 kg de bagaço de soja. Com os atuais preços das rações, isto significa um valor adicional de aproximadamente 300€ /ha como resultado da utilização de ProtaPlus.

GRÁFICO Produção de Matéria Seca.

…Com PROTAPLUS, o agricultor obterá uma fonte de proteína produzida na sua própria exploração, reduzindo a dependência da volatibilidade dos preços dos cereais e das rações...

120 115

Produção de matéria seca (rel)

PROTAPLUS

A silagem do ProtaPlus comparada com o azevém puro:

110 105 100 95 90 85

ProtaPlus Azevém italiano

80

+ 5 a 15% de Energia (MJ ME).

1.º corte

2.º corte

BARENBRUG e Lusosem, relacionamento estratégico A representação do grupo holandês BARENBRUG pela LUSOSEM iniciou-se em 2013. Em 2014 esta colaboração foi reforçada pela distribuição da gama de sementes da Barenbrug pela LUSOSEM como Distribuidor Nacional para o mercado Português. A BARENBRUG, um dos principais operadores Mundiais no mercado de sementes de pastagens e forragens, é reconhecida

24 julho . agosto . setembro 2014 Ruminantes

desde há vários anos no mercado nacional, como marca de referência em termos de qualidade e Inovação, particularmente através do seu catálogo de azevéns anuais. O catálogo a desenvolver e comercializar pela LUSOSEM, a partir desta campanha, será constituído, entre outros, por reconhecidas marcas de azevém anual - BASPECTRA II e BARTIGRA - , assim

como variedades de luzerna e uma gama de misturas forrageiras de elevado potencial produtivo como o PROTAPLUS. Para a LUSOSEM, o relacionamento agora reforçado com a BARENBRUG é estratégico, fortalecendo de forma importante a oferta de sementes da LUSOSEM ao mercado nacional através de um catálogo mais completo e em contínua evolução.


ruminantes julho . agosto . setembro 2014 25


FORRAGEM

O gado merece, a terra agradece!

imagem 1 Avaliação em bancadas, 1ª etapa.

É esta a máxima da Fertiprado. Desde 1990 a apostar na genética vegetal. por Maria Luísa Ferrão

Melhorar pastagens e forragens com o grande objetivo de conseguir sistemas agropecuários mais sustentáveis levou a família Crespo a fundar a empresa Fertiprado na Herdade dos Esquerdos em Vaiamonte, no Alentejo. Depois de alguns anos a atuar em Portugal, principalmente no sul e centro do país, a empresa expandiu a sua atividade a outros países do sul da Europa, principalmente Espanha e Itália. A obtenção de novas variedades de espécies forrageiras constitui um objetivo central na Fertiprado, cujo esforço tem sido marcado nos últimos cinco anos. A empresa tem uma estrutura técnica dedicada ao setor de I&D, particularmente na obtenção de novas variedades, atuando também na avaliação de todas as variedades que leva ao mercado. Esta

é a forma de garantir a melhor qualidade dos seus produtos e assim manter a liderança na inovação de variedades e misturas adequadas a cada nicho de utilização. Segundo Ana Barradas, a responsável pelo setor de I&D, o grande objetivo desta área é o desenvolvimento de novas soluções em articulação com o departamento técnico-comercial. “Os técnicos que andam no campo fazem o diagnóstico das necessidades de cada exploração agrícola e transmitem-nos por forma a que nós possamos desenvolver “produtos” que mais tarde serão comercializados”, afirma a responsável. Manuel Rovisco, diretor comercial, acrescenta. “O nosso objetivo é conseguir comercializar estes novos produtos tanto no mercado nacional como no mercado

26 julho . agosto . setembro 2014 Ruminantes

Ana Barradas Responsável pelo setor de I&D.


FORRAGEM

imagem 2 Seleção em vasos, 2ª etapa.

internacional. Então, é muito importante encontrar as variedades adaptadas a vários solos, a diferentes climas, que se mostrem mais produtivas e com qualidade superior ao que existe no mercado”. O processo de obtenção de variedades, composto por várias etapas, é complexo e moroso visando sempre um resultado com garantia de qualidade. “No mínimo, para fazermos uma variedade, demoramos entre 4 a 6 anos, no processo de seleção e melhoramento”, diz Ana Barradas. Na 1ª etapa do melhoramento avalia-se de forma sistemática o comportamento do material préselecionado em bancadas ao ar livre. Anualmente existem cerca de 500 linhas ou ecótipos em estudo entre plantas anuais e perenes. O vigor, o porte, a susceptibilidade a pragas e doenças, as datas de floração e de maturação das plantas, assim como os rebrotes e as produções relativas entre espécies, são variáveis que irão ser avaliadas na altura em que o material for selecionado para passar à 2ª etapa do processo de melhoramento. Aqui as sementes são colocadas em vasos, agrupadas segundo características específicas, sendo o objetivo desta etapa escolher as plantas com maior potencial produtivo. Nos últimos anos, a Fertiprado inscreveu novas cultivares de espécies

imagem 3 Seleção e agrupamento em vasos segundo características específicas.

“Os técnicos que andam no campo fazem o diagnóstico das necessidades de cada exploração agrícola e transmitem-nos por forma a que nós possamos desenvolver “produtos” que mais tarde serão comercializados”

forrageiras no Catálogo Nacional de Variedades e tem em curso a inscrição de novas obtenções, que estarão disponíveis nos próximos anos. Ana Barradas esclarece. “A inscrição de uma variedade no catálogo é um processo que leva vários anos. Para além de todo o processo de seleção e avaliação das linhas, que demora em média quatro anos, são feitos estudos oficiais que no caso das variedades anuais tardam dois anos e nas perenes levam três anos”. Em 2010 a empresa apostou no estudo de um trevo que até aqui ninguém tinha

investigado e que não estava inscrito no Catálogo de Variedades da OCDE. “Este trevo (Trifolium isthmocarpum) apresenta características importantes e será um elemento inovador nas misturas pratenses e forrageiras. É a primeira variedade “domesticada” desta espécie, continuando a Fertiprado a trabalhar na seleção de novas linhas desta espécie, bem como de muitas outras de interesse agronómico relevante”. Esta aposta da empresa na investigação e certificação de novas variedades visa uma maior auto-suficiência dos materiais no médio prazo, ou seja, conseguir produções de sementes próprias que permitam uma maior incorporação de variedades nacionais nas suas misturas. Paralelamente, a empresa pretende aumentar a presença em outros mercados, contribuindo para a exportação e para a redução da importação de sementes forrageiras. A exportação constitui hoje cerca de 30% do volume de negócios da Fertiprado que pretende vir a aumentar este indicador. A responsável pelo setor de I&D acrescenta. “Desenvolvemos variedades adaptadas a diferentes nichos de mercado. Mesmo olhando só para o território nacional, existe uma grande diversidade de situações de solo, de clima e de sistemas de produção que devemos atender”. Para que isso aconteça com sucesso são feitos estudos de

ruminantes julho . agosto . setembro 2014 27


FORRAGEM

“Um dos fatores diferenciadores das nossas misturas é o alto teor em proteína. Nós garantimos ao agricultor a produção dessa proteína em casa, na sua própria forragem, permitindo reduzir a fatura de suplementos proteicos”

imagem 4 Ensaios de variedades anuais.

adaptabilidade das espécies nos locais onde a empresa está presente, por forma a garantir o sucesso do investimento por parte dos agricultores. Falamos de campos de experimentação não só em Portugal, mas também em Espanha, França, Itália e Uruguai. As variedades são testadas em estreme, ou seja, sozinhas, e em misturas de gramíneas e leguminosas. O trabalho do Melhorador de Plantas é árduo e persistente. Há que estar todos os dias no campo, observar as plantas e interpretar os sinais que elas vão emitindo. O olho do melhorador é fundamental em todo o processo. O registo de dados, a sua avaliação estatística e a observação do comportamento das plantas requer uma grande dedicação. No entanto, o seu papel está condicionado pelos diferentes anos climáticos que vão acontecendo, uma vez que a sementeira só acontece uma vez por ano e as correções e melhorias não podem ser feitas em ambiente controlado, o que significa que só na próxima campanha se pode voltar a actuar. “Em suma, trabalhamos em plena natureza, tentando conhecer e interpretar as características de cada linha”, afirma a responsável. Partindo do princípio que os prados permanentes devem durar muitos

anos, sobretudo por razões de ordem económica, Ana Barradas esclarece. “A proteína e a digestibilidade são sempre analisadas, assim como, recentemente os taninos condensados, importantes na nutrição dos animais.” Um dos principais problemas da produção de ruminantes é o elevado custo da proteína que, nas rações, provém quase sempre da soja. “Por isso, uma das nossas linhas de trabalho consiste na obtenção de pastagens e forragens mais produtivas e ricas em proteína, de forma a beneficiar o produtor pecuário pela redução de custos de produção.” afirma Manuel Rovisco. O diretor comercial acrescenta que este é um ponto-chave para a empresa. “Um dos fatores diferenciadores das nossas misturas é o alto teor em proteína. Nós

“A proteína e a digestibilidade são sempre analisadas, assim como, recentemente os taninos condensados, importantes na nutrição dos animais”

28 julho . agosto . setembro 2014 Ruminantes

garantimos ao agricultor a produção dessa proteína em casa, na sua própria forragem, permitindo reduzir a fatura de suplementos proteicos.” A Fertiprado tem em curso dois projetos nacionais em parceria com o Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária (INIAV). Estes visam a conservação e seleção de ecótipos de leguminosas e de gramíneas pratenses e forrageiras. Os objetivos dos projetos são a colheita e avaliação do germoplasma, a seleção das melhores linhas, o testar em diferentes climas e utilizações o comportamento das culturas, a multiplicação de manutenção e a proposta de registo das variedades. Desde Março de 2011, que a Fertiprado é um dos vinte e cinco parceiros do projecto europeu Animal Change que tem como promotor o Institut Nacional de la Recherche Agronomique (INRA) em França. Este visa introduzir pastagens biodiversas capazes de sequestrar o carbono e estudar a adaptação de novas variedades resistentes à secura e ao encharcamento. Ana Barradas destaca as vantagens destas parcerias. “Há estudos conjuntos e cruzamento de experiências que enriquecem e credibilizam os parceiros”. Ana Barradas conclui acreditando no contributo que a Fertiprado pode acrescentar às explorações agrícolas dentro e fora de Portugal. “Perante a nova PAC e as novas regras de Greening acreditamos no valor do nosso trabalho e nos benefícios que poderá trazer aos agricultores”.



Alimentação

pedro castelo Engº agrónomo, reagro sa. pedro.castelo@reagro.pt

repiso de tomATE

NA ALIMENTAÇÃO DE VACAS ALEITANTES Os materiais provenientes do processamento das matérias-primas nas agroindústrias são usualmente considerados como não perigosos, baratos e potencialmente valorizáveis. O objetivo deste artigo é descrever o interesse de um destes subprodutos, Repiso de Tomate, na alimentação de vacas aleitantes. No que diz respeito à utilização deste subproduto, do ponto de vista zootécnico, apresenta grande interesse em bovinos (leite e carne) e ovinos. Em caprinos de leite é utilizável mas com mais precauções. Este é um produto com alguma variabilidade, mas de uma forma geral é apetente. Devido ao seu valor alimentar, o repiso de tomate pode causar acidoses subclínicas e por vezes acidoses clínicas, por isso a sua utilização deve ser acompanhada por um técnico especializado de forma

a minimizar os riscos e assim retirar os benefícios da sua utilização.

Composição Química do Repiso de Tomate A composição química do repiso de tomate (ver tabela 1) pode variar duma fábrica para outra e, ainda, na mesma fábrica. Estas variações ocorrem devido às diferentes variedades utilizadas, ao tipo de máquina que fez a recolha e, ainda, ao tipo de tecnologia utilizada na fábrica. O teor de matéria azotada

tabela 1 Composição quimica do repiso de tomate. (Resultado obtdo a partir da análise de 15 amostras (INRA 1988).

Matéria Seca (%)

Valor Médio

Valores Min - Máx.

27

20 - 35

Matéria Mineral (% MS)

5

3,5 - 6

Matéria Azotada Total (% MS)

22

18 - 26

Fibra Bruta (% MS)

34

27 - 41

Matéria Gorda Bruta (% MS)

15

12 - 19

Cálcio (g/Kg MS)

3

1,8 - 4,2

Fósforo (g/Kg MS)

3

3,1 - 4

Potássio (g/Kg MS)

-

7 - 10

Magnésio (g/Kg MS)

-

2,1 - 2,2

Manganês (g/Kg MS)

-

Baixo a muito baixo

Cobre (mg/Kg MS)

-

15 - 20

Zinco (mg/Kg MS)

-

Baixo a muito baixo

Enxofre (mg/Kg MS)

-

30 julho . agosto . setembro 2014 Ruminantes

1,7 - 1,9

tabela 2 Valor Alimentar do repiso de tomate. (INRA 1988) UFL/Kg MS

UFV/Kg MS

PDIN g/Kg MS

PDIE g/Kg MS

PDIA g/Kg MS

0,62

0,49

140

120

85

médio é de 22% da matéria seca (MS), o que indica ser um alimento proteico potencialmente interessante para os ruminantes. As análises dos compostos parietais mostram um elevado teor em fibra bruta (34%), sendo 56,31% da MS de NDF (Neutral Detergent Fibre), 46,13% da MS de ADF (Acid Detergent Fibre) e 24,65% da MS de ADL (Acid Detergent Lignin). Em relação ao teor de matéria gorda, o repiso de tomate apresenta valores elevados, na ordem dos 12,5% da MS. Apenas há que ter em conta o elevado teor em cobre devido aos vários tratamentos com fungicidas.

Valor Alimentar do Repiso de Tomate Em relação ao valor alimentar (ver Tabela 2), a digestibilidade da MS é da ordem dos 60 % enquanto a proteína solúvel se aproxima dos 34 % (sendo esta variável, entre 20 e 45%). Apesar do seu valor de matéria gorda elevado,

o valor energético do repiso de tomate é mediano devido ao seu elevado teor em fibra bruta.

Utilização do Repiso de Tomate em ruminantes O objetivo deste artigo é mostrar alguns casos práticos realizados em Portugal ao longo de alguns anos (ver tabela 3). Iremos comparar dois arraçoamentos adequados para vacas aleitantes em fase de gestação/lactação. Os arraçoamentos apresentados têm sido utilizados em lotes constituídos por vacas na

tabela 3 Nivel de distribuição recomendado, em Kg de repiso de tomate por dia. Vacas Leiteiras

15 - 20

Novilhas (os)

7-8

Touros

10 - 15

Cabras Leite Borregos

2-3 2 - 3,5



Alimentação

tabela 4 Dois arraçoamentos com as mesmas características nutricionais.

A Custo por Animal/Dia= 1,26 €

(41,51 €/ton MB)

(120 €/ton MS)

Quantidade Distribuida Preço (€/ton)

Matéria-Prima

Silagem de Milho PB7 AMD31

Kg

45

MB

MS

16,45

5,1

Caracteristicas Nutricionais (/Kg MS) MS

UFL

31,00

0,91

PDIN

PDIE

PDIA

Ca

g

g

g

g

P g

42,00

67,00

15,00

2,00

1,80

Feno Azevém PB 9

90

1,85

1,65

89,00

0,61

54,00

71,00

26,00

3,90

3,10

Repiso Tomate 30MS

20

11,85

3,56

30,00

0,60

103,43

106,52

75,00

4,01

5,42

Núcleo Vacas Aleitantes

580

0,2

0,2

99,33

0,00

0,00

0,00

0,00

269,36

16,00

-

30,35

10,5

34,60

0,74

73,04

79,75

36,76

8.04

3,50

P

Total

b Custo por Animal/Dia= 1,39 €

(77,49 €/ton MB)

(120 €/ton MS)

Quantidade Distribuida Preço (€/ton)

Matéria-Prima

Kg MB

MS

Caracteristicas Nutricionais (/Kg MS) MS

UFL

PDIN

PDIE

PDIA

Ca

g

g

g

g

g

Silagem de Milho PB7 AMD31

45

4,00

1,24

31,00

0,91

42,00

67,00

15,00

2,00

1,80

Feno Azevém PB 9

90

5,69

5,06

89,00

0,61

54,00

71,00

26,00

3,90

3,10

Fenosilagem 50MS 12PB

70

8,00

4,00

50,00

0,90

99,00

76,00

27,00

4,50

2,80

Núcleo Vacas Aleitantes

670

0,20

0,20

99,09

0,00

157,11

0,00

0,00

210,99

38,48

-

17,89

10,50

58,70

0,74

71,67

71,09

24,59

7,81

3,50

Total

fase de lactação e gestação porque, apesar das necessidades alimentares dos animais diferirem, por vezes não é possível ter lotes constituídos por vacas na mesma fase de reprodução Em relação aos preços das forragens e/ou matériasprimas consideraram-se preços atuais de mercado (ver tabela 4). De acordo com o nosso caderno de encargos para o objetivo

Balanço Azotado

pretendido fizeram-se dois arraçoamentos (ver tabela 4). Nestes exemplos, a alimentação das vacas aleitantes é feita através de foragens (silagem de milho e de erva), um subproduto (repiso de tomate) e um Núcleo adequado para satisfazer as necessidades vitamínico-minerais dos animais. Numa primeira fase, pode-se afirmar que é possível obter, pelo menos, o mesmo nível nutricional

Arraçoamento

Unidade

A

B

% MS

13,50

10,50

PDIN

g/Kg MS

73,04

71,67

PDIE

g/Kg MS

79,75

71,09

PDIA

g/Kg MS

36,76

24,59

g/dia

766,92

752,55

Proteína Bruta

Total PDIN/animal/dia Total PDIE/animal/dia

g/dia

837,33

746,47

Necessidades PDI

g PDI

724,90

724,90

%

51,99

80,06

DT (proteína degradável no rúmen)

tabela 5 Balanço Azotado dos arraçoamentos.

32 julho . agosto . setembro 2014 Ruminantes

a um menor custo com o repiso de tomate (1,26 €/ vaca/dia) do que sem este (1,39 €/vaca/dia). Proteína Relativamente à proteína (ver tabela 5), o arraçoamento com repiso de tomate tem um nível mais elevado uma vez que este é uma fonte de proteína barata. No entanto, em ambos os casos estão cobertas as necessidades proteicas. Energia No que concerne à energia, ambos os arraçoamentos têm o mesmo nível energético. No entanto, o arraçoamento com repiso de tomate, além de ter menor custo, apresenta valores mais adequados no que diz respeito ao amido + açúcar e glúcidos rápidos (energia rapidamente fermentescível no rúmen, necessária à população microbiana).

Fibra Em relação aos teores de fibra, ambos os arraçoamentos contêm níveis adequados que possibilitam uma boa valorização alimentar por parte do animal.

Conclusão Como conclusão, numa exploração com forragens disponíveis, repiso de tomate, Núcleo (vitaminas, minerais, adsorvente de micotoxinas) adaptado e equipamento apropriado (unifeed e trator com carregador frontal) é possível fazer uma alimentação de vacas aleitantes mais barata. Considerando preços de mercado, a diferença de custo alimentar é de 0,13 €/animal/dia, ou seja, um benefício de 390 € mensais por cada lote de 100 vacas.


alimentação

Alimentos Líquidos POR Hugo Sousa, ED&F Man Portugal hugo.sousa@edfman.com

Estando conscientes de que é essencial para o agricultor contar com uma gama de alimentos com preços estáveis e não sujeitos a flutuações típicas do mercado de matérias-primas para alimentação animal, bem como assegurar a sua disponibilidade de forma contínua garantindo características qualitativas constantes, conduziu ao desenvolvimento da linha de Alimentos Líquidos SUGAR PLUS.

10 RAZÕES PARA UTILIZAR ALIMENTOS LÍQUIDOS “SUGAR PLUS” EM RUMINANTES 1 - O alimento líquido SUGAR PLUS é um modo fácil e económico de adicionar açúcares á dieta? Sim, sabendo-se que o teor de açúcares na dieta de, por exemplo, vacas de leite, deveria ser no mínimo 6% da matéria seca. Por norma, forragens e outras matérias primas fornecem apenas 2 a 3% de açucares. 2 - Os açúcares disponíveis nos alimentos líquidos SUGAR PLUS contribuem para o aumento da eficiência ruminal? Sim.Os açúcares são responsáveis por iniciar a fermentação ruminal.Sendo solúveis no rúmen estão à disposição imediata das bactérias. Os alimentos líquidos SUGAR PLUS fornecem açúcares com 6 atómos de carbono (sacarose, glucose, frutose) os quais são mais rápidos e melhor utilizados pela microflora ruminal, quando comparados com os açúcares com 5 átomos de carbono contidos em forragens e outras matérias primas.O rúmen torna-se mais eficiente devido à maior digestibilidade da fibra e do aproveitamento da matéria seca em geral que acaba por se traduzir na produção de leite maior e de melhor qualidade. 3 - Os alimentos líquidos SUGAR PLUS são capazes de fornecer açúcares mesmo quando o rúmen já não tem espaço? Sim, os alimentos líquidos SUGAR PLUS preenchem o espaço no rúmen que sobra disponível após a ingestão de alimentos

sólidos. Portanto, o SUGAR PLUS goza da vantagem, enquanto alimento líquido, de aumentar a ingestão de matéria seca quando o rúmen de outra forma estaria completamente “ocupado” com alimentos sólidos. O líquido SUGAR PLUS quando entra em contacto com os vários componentes da dieta no misturador, promove a agregação dos vários componentes da dieta, reduzindo desse modo a possibilidade de escolha de ingredientes de maior apetência em detrimento de outros menos apetentes por parte dos animais. A alimentação com líquido SUGAR PLUS melhora o aroma, a palatabilidade e a textura da dieta, reduz as poeiras e contribui efectivamente para a uniformidade da alimentação composta no misturador. As vantagens obtidas são: aumento da ingestão de matéria seca; reduz a possibilidade de animais seleccionarem os alimentos de maior apetência em detrimento de outros (“sorting”); maior uniformidade da dieta; menos partículas não digeridas nas fezes.

6 - É verdade que ocorre uma menor incidência de acidose no rúmen? Sim, várias pesquisas demonstraram que a adição de açúcares a uma dieta homogénea e uma adequada inclusão de fibra, tem lugar uma maior produção de ácidos butirato +valerato e uma menor presença de ácido láctico. Tal resulta num pH do rumen mais elevado e mais estável 7 - Há vantagem em alimentar as Vacas Secas com Açúcares? A inclusão de 500 gr de Alimento Líquido na dieta de Vacas Secas aumenta a digestibilidade da fibra a mantém elevada a condição do animal para a lactação seguinte. Uma produção mais elevada de butirato a partir da fermentação ruminal dos açúcares é um factor chave para o crescimento optimizado das papilas ruminais.

8 - Posso utilizar açúcares durante o período de transição? Sim, uma vez que as células epiteliais da mucosa ruminal - dos quais o butirato é a fonte de energia preferencial - serão mais eficientes na absorção de nutrientes na próxima lactação. O Butirato também promove a síntese de 4 - Os açúcares dos alimentos líquidos glucose hepática, importante para reduzir SUGAR PLUS melhoram a digestão da fibra? o Balanço Energético Negativo e o seu Sim, uma maior quantidade de açúcares contributo negativo nas doenças metabólicas permite uma maior quantidade de no pós-parto forragem na dieta, para uma função ruminal mais saudável e eficiente. O 9 - O SUGAR PLUS contribuí para a ingestão primeiro resultado é um aumento da de Matéria Seca no Verão? gordura do leite. Além disso, a melhoria Sim, mesmo no cenário menos favorável, o da digestibilidade da fibra permite reduzir decréscimo de matéria seca ingerida pela o teor de amido nas dietas , contribuindo vaca no Verão diminui com a adição do assim para uma melhor saúde da vaca SUGAR PLUS.. Este efeito é particularmente leiteira. relevante num clima como o nosso, cujos 5 - Os alimentos líquidos SUGAR PLUS são um veículo para fornecer outros nutrientes importantes da dieta a custo competitivo? Sim, SUGAR PLUS é um veículo perfeito para fornecer outros nutrientes de elevado valor acrescentado às dietas a custo competitivo, com perdas reduzidas e de fácil aceitação pelos animais.

verões são muito quentes e secos. 10 - É fácil o manuseamento e armazenagem dos alimentos líquidos SUGAR PLUS? Sim, os alimentos líquidos SUGAR PLUS são armazenados em tanque na exploração pecuária, sendo rápida e facilmente distribuídos directamente para o misturador.

ruminantes julho . agosto . setembro 2014 33


Alimentação

FIBRA EFECTIVA, UNIFORMIDADE E ESCOLHA NAS MISTURAS “UNIFEED” PARA VACAS LEITEIRAS O conceito dos três arraçoamentos (formulado, distribuído, consumido) também se aplica à componente física da dieta e não só a composição de nutrientes, sendo algo que preocupa todos os profissionais que estão ligados a este sector, e também uma das principais razões para flutuações na produção geral e individual dos animais. por José Silvestre – DIN, SA

O conceito dos três arraçoamentos (formulado, distribuído, consumido) não se aplica apenas à composição nutricional da dieta mas também à componente física, constituindo esta última um dos principais factores de flutuação na produção geral e individual dos animais. Esta ideia foi reforçada por Leahy (2014) que salienta o facto da produção de leite e os seus componentes serem determinantes no seu pagamento, logo, melhorar a ingestão de matéria seca (IMS), especialmente no início, e uma alta produção são objetivos a alcançar. De acordo com este autor, uma vez que os custos totais de alimentação têm vindo a aumentar nos últimos anos, reveste-se de especial importância a necessidade de gerir a recusa alimentar (“sobras”) de forma a reduzir as perdas económicas.

Uniformidade Olberg (2011), ilustrou os factores que podem levar a falhas de uniformidade numa mistura TMR no seguinte gráfico. Gráfico 1 FACTORES DE VARIAÇÃO numa mistura TMR Combinação de problemas 5,4%

Sobre enchimento 6,2%

Processamento 10% Sem problemas 29,9%

Tempo de mistura do último ingrediente 13,5%

Ordem de adição 2,4% Sub-enchimento 5,1% Liquidos adicionados 4,3%

Manutenção 23,2%

Segundo Olberg (2011), o melhor misturador “unifeed” é o que possui um plano de manutenção adequado e que é carregado e operado devidamente. Nestas condições, a mistura obtida é consistente, proporcionando a manutenção de um rúmen saudável, constituindo este facto uma das chaves para o sucesso financeiro.

34 julho . agosto . setembro 2014 Ruminantes

Fibra efectiva ou peNDF É do conhecimento dos produtores de leite, veterinários e nutricionistas que as vacas leiteiras exigem fibra e que uma parte da sua dieta deve ter um comprimento físico adequado para promover a óptima função do rúmen. A fibra longa é frequentemente chamada de “fibra efectiva” ou fibra fisicamente efectiva (peNDF), sendo essencial para fornecer preenchimento ruminal, por formar um “bolo” espesso no rúmen que retarda a passagem de partículas mais finas e de alimentos fibrosos, aumentando assim a sua digestão. Porque a maioria das fibras estruturais são degradadas a um ritmo mais lento do que amidos, açúcares e fibras solúveis, aumentar o tempo desta passagem é uma importante forma que os ruminantes possuem para digerir essas fontes mais recalcitrantes de hidrato de carbono. A peNDF melhora a ruminação e a salivação, proporcionando assim uma melhor fonte de tampão para o rúmen, sendo por isso importante para vacas com Ingestão de Matéria Seca (IMS) muito elevadas, muita da qual rapidamente

é fermentada em ácidos orgânicos no rúmen. Por fim, peNDF está relacionada também com o limite de ingestão alimentar (Armentano, 2010). Segundo Jordan (2001) os efeitos de insuficiente peNDF em rações leiteiras incluem: • Acidose (subaguda ou aguda) • Ingestão de matéria seca insuficiente • Depressão de gordura no leite • Problemas de saúde (cetose, laminite, deslocação de abomaso) A medição de peNDF tem sido amplamente utilizada na investigação e na nutrição de ruminantes, logo, usar o peNDF no equilíbrio do arraçoamento e solução de problemas, adicionado valor de Fibra Detergente Neutra (FDN) total, pode vir a ser uma ferramenta útil. O procedimento de peNDF, de Mertens, usa 1,18 mm como a dimensão crítica na qual as partículas de alimentos são consideradas fisicamente eficazes para vacas leiteiras. Esta dimensão foi revista recentemente, situando-se mais próximo de 4 mm, valor este presente nos novos crivos de separação de partículas (PSPS) desenvolvidos pelo Penn State College (Heinrichs, 2013).

tabela 1 Recomendações das percentagens de tamanho de partículas no PSPS, para diferentes alimentos (Heinrichs, 2013). Crivo

Superior

Tamanho de partícula (mm)

Silagem de milho

Silagem de erva

TMR

> 19

3 a 8%

10 a 20%

2 a 8%

Intermédio

8 a 19

45 a 65%

45 a 75%

30 a 50%

Inferior

4a8

20 a 30%

30 a 40%

30 a 40%

<4

< 10%

< 10%

10 a 20%

-

9.0

11.5

7.12

Tabuleiro Média (mm)


Alimentação

Escolha/Selecção

Conclusão

Os TMR’s são uma ferramenta que proporciona um equilíbrio consistente de nutrientes. Se a elaboração e entrega da mistura às vacas for controlada, verificamos que o que cada vaca consome não é sempre o mesmo que foi entregue. As vacas mostram preferência por partículas menores do arraçoamento em detrimento de forragem mais longa da mistura total. Esta escolha pode resultar numa dieta consumida mais rica em carbohidratos rapidamente fermentáveis do que a prevista, e baixa em fibra efectiva, elevando assim o risco de acidose ruminal subaguda.

A monitorização das misturas obtidas pelos misturadores móveis e do comportamento alimentar dos animais é essencial. A análise diária das misturas deve prever a avaliação do tamanho da forragem, a verificação de homogeneidade ao longo da manjedoura (presença/ ausência de aglomerados de fibra de maior dimensão) e, principalmente, o comportamento das partículas mais finas do arraçoamento (principalmente o concentrado) relativamente ao total da mistura. No âmbito do comportamento alimentar, devemos avaliar se os animais comem toda a mistura ou apenas parte da mesma, pois não é

Bucholtz (2003) sugere as seguintes estratégias de gestão para ajudar a reduzir a selecção: 1. Uso de ingredientes de alta qualidade (Alimentos contaminados e de baixa palatibilidade podem aumentar a escolha); 2. Controlar a humidade da mistura do “unifeed” (Misturas mais secas potenciam uma maior escolha); 3. Manter o tamanho de partícula ideal das forragens na mistura (seguir recomendação do Penn State de 2-8% de partículas no crivo superior), (Tabela 1); 4. Distribuir os alimentos frequentemente; 5. Adicionar água ou outros ingredientes líquidos (melaço) ao TMR para ajudar a ligar os ingredientes secos.

nutricionalmente correcto que uns animais comam a maior parte do concentrado e partículas mais finas da dieta e os restantes comam a maioria da fracção fibrosa. A análise de todos os pontos confere-nos a capacidade de escolher a solução adequada a cada exploração, e permitenos decidir pelo uso em maior ou menor quantidade de substâncias tampão, ou sobre a necessidade de recorrer a substâncias alcalinizantes.

Notas Artigo de revisão escrito, excluindo as normas do novo acordo ortográfico. Referências bibliográficas disponíveis após solicitação.

ruminantes julho . agosto . setembro 2014 35


pastagem

Como melhorar a disponibilidade e durabilidade da pastagem - Escolha das espécies Nuno Simões Engº Zootécnico EMP/INIAV nuno.simoes@iniav.pt

João P. Carneiro Engº Agrónomo EMP/INIAV joao.carneiro@iniav.pt

PARTE 2 A escolha das espécies deve ser sempre realizada tendo em consideração a sua utilização. No caso de pastagens de sequeiro, a escolha das espécies e variedades terá de ser feita em função de dois principais fatores: a natureza do solo e a pluviosidade. Nem todas as plantas se adaptam a todas as texturas nem a grande variedade de solução do solo (pH) pelo que devem ser criteriosamente escolhidas. No que se refere à pluviosidade, nas variedades a

escolher deverá ter-se sempre em atenção que quanto menor for a pluviosidade anual e a capacidade do solo disponibilizar água às plantas, mais curto deverá ser o ciclo fenológico da variedade, dito de outro modo, maior é a necessidade de ter variedades precoces. De um modo geral as espécies perenes, devido ao facto de, a partir do segundo ano, serem mais rápidas no estabelecimento após as primeiras chuvas deverão ser

preferencialmente escolhidas sempre que as condições o permitam (elevada pluviosidade ou regadio), principalmente no caso das leguminosas. No caso das gramíneas perenes existem algumas espécies e variedades bem adaptadas às condições de sequeiro. De seguida apresenta-se uma breve descrição das espécies com maior interesse no estabelecimento de pastagens em situações de sequeiro ou de regadio e zonas frescas.

Sequeiro (leguminosas) Serradelas (Ornithopus)

Biserrula (Biserrula pelecinus)

São espécies bem adaptadas a solos de textura ligeira de solução ácida. Possuem um sistema radical profundo. O crescimento invernal é lento, compensando na primavera com um crescimento elevado. Existem, principalmente, duas espécies de serradela com elevado interesse pratense: a serradela brava (O. compressus) e a serradela cultivada (O. sativus). A serradela brava possui um porte mais prostrado e uma elevada proporção de sementes duras, que pode atingir os 90%. Por outro lado a serradela cultivada é de porte mais ereto e com uma mais baixa percentagem de sementes duras (30%), pelo que é menos persistente nas pastagens. É frequente serem semeadas juntas, uma vez que a menor germinação da serradela brava (pelas elevada quantidade de sementes duras) no primeiro ano é compensada pela serradela cultivada. As sementes duras são as que não germinam a curto prazo, mesmo que as condições ambientais sejam favoráveis. A dureza constitui um processo natural de garantir a persistência.

36 julho . agosto . setembro 2014 Ruminantes

É uma planta com grande resistência à seca. Esta resistência deve-se em grande medida ao facto de possuir um sistema radical muito profundo, mais ainda do que as serradelas, o que faz com que, de um modo geral se mantenha verde durante mais tempo no campo. Adapta-se bem a grande diversidade de solos entre eles solos de granito, ácidos e arenosos. A sua maior adaptação a solos ácidos, quando comparada com outras leguminosas, deve-se ao fato do seu rizóbio específico ter maior resistência a pH baixo. Produz uma grande quantidade de semente, sendo que quase 90% mantem-se dura depois de dois anos na superfície do solo, o que é um garante de persistência e de grande interesse em pastagens permanentes de sequeiro.

Luzernas anuais

(Medicago)

Existem variadas espécies de luzerna com interesse pratense: M. polymorpha, M. arabica, M. truncatula, M. doliata . São espécies que se adaptam melhor a solos neutros a alcalinos, embora existam algumas espécies que toleram a acidez (M. polymorpha e M. murex). A sua maior dificuldade na adaptação a solos ácidos tem mais a ver com o rizóbio (R. meliloti), com que faz simbiose, do que com a planta em si. Certas espécies suportam ou sobrevivem com precipitações de 250 mm anuais. Adaptam-se a grande variedade de texturas de solo (desde arenosas até argilosas).


pastagem

Trevo glomerato (Trifolium glomeratum)

Trevo subterrâneo (Trifolium subterraneum) Principal planta utilizada na composição de pastagens de sequeiro. Existem três subespécies com características diferentes, tendo duas delas particular interesse. O trevo subterrâneo subespécie subterraneum caracterizase por se adaptar a solos de pH ácido a neutro, de textura ligeira, onde enterra mais facilmente as suas sementes. É mais exigente em vernalização do que a subespécie brachycalycinum, sendo por isso espontânea principalmente no norte de Portugal. Não tolera encharcamento. A subespécie brachycalycinum, embora prefira solos de solução moderadamente ácida, tolera melhor solos alcalinos podendo ir relativamente bem em solos de pH = 8. Prefere solos de textura mais pesada e com melhor capacidade de armazenamento de água, sendo por este facto (para a mesma quantidade de precipitação) de ciclo mais tardio que a subespécie subterraneum. Existem variedades com diferentes durações do ciclo o que permite selecionar para valores de precipitação anual que tenham como mínimo 350 mm.

Trevo rosa (Trifolium hirtum) Adapta-se a uma grande variedade de solos, desde ácidos a ligeiramente alcalinos e de textura ligeira a pesada. É menos exigente em nutrientes do que o trevo subterrâneo, podendo ser utilizado como pioneiro em zonas mais pobres. Sendo de porte ereto ou semi-ereto tem maior tendência a desaparecer da pastagem ao fim de uns anos.

É uma espécie autóctone muito frequente em Portugal em terrenos que não são mobilizados há alguns anos. As suas características biológicas permitem que cresça em áreas marginais, em solos de baixa capacidade de retenção de água, aparecendo também em áreas mais férteis. Apresenta uma elevada dureza seminal, e está muito bem adaptado ao pastoreio. Pode ser utilizada como percursora de outras leguminosas pratenses de maior potencial devido à sua rusticidade.

Trevo entaçado (Trifolium cherleri) Planta de grande rusticidade, pode ser utilizada tal como o trevo glomerato como percursora de outras espécies leguminosas pratenses. Adapta-se a pluviosidades a partir dos 300 mm. Possui a habilidade de produzir rapidamente sementes em condições de seca primaveril o que aumenta a sua persistência. Adapta-se a varias texturas e solução de pH.

Trevo balansa (Trifolium michelianum) O trevo balansa suporta grande variabilidade edafo-climática. Podendo encontrar-se variedades adaptadas a pluviosidades a partir de 350 mm. Adapta-se a quase todas as texturas, tendo no entanto maior dificuldade em persistir em solos de baixa fertilidade de textura grosseira. Possui alguma tolerância a solos mal drenados. Produz grande quantidade de semente (pequena e de elevada dureza). O principal problema consiste no seu porte semi-ereto o que torna as inflorescências mais suscetíveis a serem comidas pelos animais, o que poderá levar a uma drástica diminuição da sua presença na pastagem. É uma espécie que não sendo da Flora portuguesa tem-se difundido muito a partir de introduções feitas em pastagens semeadas.

Trevo da pérsia (Trifolium resupinatum) Existem dois tipos de trevo da pérsia, o Trifolium resupinatum ssp. resupinatum e Trifolium resupinatum ssp.majus (alguns autores consideram, cada um deles, ao nível da espécie tomando o segundo o nome de Trifolium suaveolens). O primeiro é utilizado em pastagens, sendo uma planta de porte mais prostrado, enquanto que o segundo, maior e de porte mais ereto é utilizado na produção de forragem. Adapta-se a solos de variadas texturas e de pH. É tolerante à salinidade e ao encharcamento, desde que não seja por períodos prolongados.

ruminantes julho . agosto . setembro 2014 37


pastagem

Regadio/zonas frescas (leguminosas) A situação de regadio está ligada a plantas vivas durante todo o ano, com crescimentos mais baixos na época fria ou nas semanas com temperaturas elevadas, superiores a 32oC. O número de espécies com interesse e adaptabilidade é menor do que no sequeiro.

Trevo branco (Trifolium repens) Espécie perene e de caules rasteiros que enraízam nos entrenós. Esta característica de formar estolhos (perde a raiz primária assim que forma as raízes nos entrenós) permite-lhe ser uma das espécies mais bem adaptadas a climas temperados e/ou de regadio. É uma planta muito exigente em luz e não tolera a seca, devido em parte ao facto de o seu sistema radical ser superficial. Não gosta de solos pobres, arenosos e ácidos É geralmente utilizada em mistura com gramíneas às quais fornece grandes quantidades de azoto (é uma das leguminosas pratenses com maior capacidade de fixação simbiótica de azoto atmosférico).

Gramíneas Panasco (Dactylis glomerata)

Trevo violeta

Planta perene, ereta, de estabelecimento inicial mais lento que o azevém perene, mas mais rápido do que a festuca e a alpista tuberosa. Prefere solos férteis, de textura franca a argilosa É utilizada em misturas em sistemas de regadio, onde se utilizam variedades do tipo continental como é o caso da variedade Porto. De um modo geral é sensível à seca, embora existam variedades mais adaptadas a clima mediterrâneo, dormentes no verão, que são mais tolerantes a solos com pouca água e que podem ser utilizadas em sistemas de sequeiro.

(Trifolium pratense) Planta pratense, e que pode persistir, em ótimas condições, até 7 anos na pastagem. É muito produtiva, no entanto exigente em humidade, pelo que nas condições mediterrâneas deve ser utilizada em regadio. Adapta-se melhor a solos de solução ácida do que o trevo branco. Pode também ser utilizada como substituta de alfalfa (Medicago sativa) neste tipo de solos, devido ao facto de poder ser utilizada tanto como pratense como forrageira.

Trevo morango (Trifolium fragiferum) Leguminosa pratense perene de hábito rasteiro e com um comportamento bastante semelhante ao do trevo branco ao formar raízes nos entrenós. No entanto conserva a sua raiz primária pelo que é um pouco mais tolerante à seca que este. É a leguminosa de pastoreio que melhor aguenta os solos encharcados por largos períodos, podendo aguentar submersas 3 meses se a água for corrente ou 7 a 8 semanas se for estagnada. Adapta-se a um grande espectro de pH, desde 5,5 até 9, preferindo no entanto solos alcalinos de elevado valor de carbonatos, sendo bastante tolerante à salinidade.

38 julho . agosto . setembro 2014 Ruminantes

Festuca alta (Festuca arundinacea) Encontra-se em solos profundos, férteis e frescos, tolerando solos de ácidos a muito alcalinos. Tem um estabelecimento muito lento, embora uma vez instalada tenha um recrescimento bastante rápido e uniforme. Possui um sistema radical mais profundo do que o panasco, podendo algumas variedades serem utilizadas em sequeiro a partir dos 600 mm, desde que o solo apresente alguma profundidade e capacidade de armazenamento de água.


pastagem

Notas

Azevém perene (Lolium perenne - ray-grass inglês)

Alpista tuberosa (Phalaris tuberosa)

Planta de fácil estabelecimento, com a semente a germinar rapidamente e apresentar plântulas vigorosas. ‘As suas raízes são mais abundantes que no caso de outras gramíneas, explorando melhor o solo. Esta facilidade de crescimento pode ser perigosa ao tornar a planta muito competitiva pelo que a dose de semente em misturas não deve ser muito grande. Cresce melhor em solos férteis, especialmente se ricos em azoto. Adapta-se a variadas texturas e soluções do solo desde que possuam azoto e água em abundância, no entanto prefere textura mediana a forte, de pH ligeiramente ácido.

Gramínea perene, adaptada ás condições de clima mediterrâneo. Pode ser utilizada em zonas de sequeiro a partir dos 400 mm de pluviosidade. Adapta-se a uma grande variedade de solos, embora prefira os profundos, férteis e fortes. Possui um sistema radical profundo o que lhe permite tolerar melhor situações de seca.

Azevém italiano (Lolium multiflorum - ray grass italiano) Planta parecida com o azevém perene embora com folhas mais largas e cor mais clara. Possui raízes muito superficiais pelo que se torna muito sensível à falta de água. Comporta-se como bianual, no entanto em certas condições ótimas pode permanecer mais anos na pastagem. Possui também uma forma anual denominada westerworld, a qual é estritamente anual. Devido ao seu crescimento extremamente competitivo, não deverá ser utilizada em pastagens permanentes, uma vez que poderá fazer desaparecer as restantes espécies presentes, o que leva, quando termina o seu ciclo (anual ou bianual) ao surgimento de clareiras na pastagem. Em pastagens temporárias o seu rápido desenvolvimento pode permitir o aproveitamento da erva ao fim de 6 semanas.

As pastagens semeadas devem ter uma composição mista, de gramíneas e leguminosas. Têm frequentemente quatro ou cinco espécies ou até mais e várias variedades de cada. Nas condições de sequeiro escolhem-se as variedades mais precoces quando a disponibilidade de água para as plantas é escassa. Segundo resultados do projeto 87 do programa de divulgação AGRO obtiveram-se valores anuais de produção de pastagem semeada, expressa em matéria seca, superiores a 8000 kg por hectare. A instalação de pastagem deve fazer-se cedo, com a terra quente, mobilizada numa espessura de 0,10 m, esmiuçada na superfície mas firme. Tendo-se o cuidado de não semear a uma profundidade superior a 1 cm, devido à reduzida dimensão das sementes. Quem instala pastagens fará a preparação com as alfaias que possa dispor e que queira usar; no entanto, um rolo de elementos separados e perfil dentado é equipamento absolutamente necessário; poderá ser necessário passar antes de semear para garantir a fineza e o esmiuçamento da terra. Após a sementeira a sua passagem, para aconchegar a terra às sementes é imprescindível. Semear pastagens é uma operação que, para ter sucesso, tem de ser feita com conhecimento, bom critério e cuidado.

ruminantes julho . agosto . setembro 2014 39


alimentação

Gonçalo Martins Gestor de Produto, Especialidades Zootécnica gmartins@vitas.pt

Os efeitos do calor em vacas leiteiras

O stress térmico tem um enorme impacto económico nas explorações leiteiras.

Reação dos Bovinos ao stress térmico Os bovinos têm dois mecanismos principais para regularem a temperatura corporal quando sujeitos a condições extremas: Favorecendo a dispersão do calor, em particular através da evaporação, aumentando a vasodilatação periférica, a respiração ofegante, etc. Estes mecanismos de regulação térmica aumentam as necessidades energéticas em 20% (no caso de uma temperatura ambiente de 35ºC). No caso das vacas leiteiras

isto quer dizer que parte da energia para a produção de leite é redirecionada para a regulação térmica. Limitando a produção de calor, reduzindo toda a sua actividade e alterando o seu comportamento alimentar. Na realidade, a produção de calor na vaca de leite deve-se principalmente às fermentações ruminais. A ingestão de matéria seca (IMS) pode diminuir 10 a 30%. Para além disso, o processo de ruminação que também produz calor, diminui

drasticamente. Os animais tendem a comer menos durante o dia (mais vezes e menos quantidade) e mais durante a noite, quando a temperatura baixa. No entanto o seu comportamento alimentar nas horas de menor temperatura leva a problemas digestivos, pois comem mais depressa e escolhem os componentes da dieta que produzem menos calor durante a digestão (preferem o concentrado à forragem). Assim, em períodos de stress térmico, o risco de acidose é maior, sendo os factores que contribuem para a acidose ruminal os seguintes: Comportamento alimentar: os animais preferem comer em grandes quantidades ao amanhecer e ao entardecer. Diminuição da IMS com

menor proporção de forragem e elevados níveis de concentrado. Diminuição das substâncias tampão naturais que os animais possuem devido a: • Diminuição da ruminação, • Menor quantidade de saliva a chegar ao rúmen, porque os animais “babam-se” (saliva = importante fonte de bicarbonato), • Respiração ofegante, o que faz com que mais CO2 seja expelido, fazendo com que o poder tampão da saliva diminua. Para além disso, a diminuição do pH ruminal diminui a eficiência na degradação da fibra, porque as bactérias celulolíticas são as mais afectadas quando o pH ruminal diminui para valores inferiores a 6.

FIGURA 1 Variações sazonais da taxa de fertilidade. Média da Temp. máximas (0ºC)

a zona de conforto térmico depende do estado fisiológico e nível de produção da vaca, sendo que animais de alta produção são mais sensíveis ao stress térmico. O stress térmico é definido como sendo o estado a partir do qual os animais não são capazes de dissipar o calor corporal excessivo de forma a manter a temperatura corporal em valores normais. Ocorre quando os animais são expostos a condições ambientais de elevada temperatura/humidade.

Taxa de Fertilidade (%)

Os prejuízos derivados do efeito das altas temperaturas estão relacionados com a diminuição da produção de leite, que pode chegar a uma quebra de 35%. A diminuição dos índices reprodutivos e a diminuição do estado imunitário dos animais também têm impacto sobre os custos de produção de leite. A zona de conforto térmico da vaca é entre 5-20ºC. No entanto, a temperatura externa não é o único parâmetro a considerar, a humidade relativa é também bastante importante para definir a zona de conforto da vaca. Para sermos mais precisos,

35 30 25 20 35 30 25 20 15 10 5 0 J M M J S N J M M J S N J M M

40 julho . agosto . setembro 2014 Ruminantes



alimentação

Impacto na produtividade e saúde O stress térmico tem bastante impacto tanto na produtividade como na saúde da vaca leiteira (ver figura 1). A curto prazo a consequência mais notada do stress térmico é a redução da produção de leite. Como descrito anteriormente, o stress térmico leva a uma diminuição da IMS e a um aumento das necessidades energéticas para regular a temperatura corporal do animal. A redução da produção de leite resulta de uma combinação de factores que têm como base a falta de energia disponível para a produção de leite. Estudos demonstram que a produção de leite nos meses de verão pode diminuir até 35% A longo prazo o stress térmico tem um impacto negativo nos sistemas imunitário e reprodutivo: • Aumenta a frequência de mamites e a contagem de células somáticas (CCS). • Diminui a fertilidade, aumenta a mortalidade embrionária, aumentam os casos de retenção placentária e partos prematuros, com consequências no peso vivo do vitelo, viabilidade e saúde.

NÍvel de Stress

Frequência Respiratória (RPM: respirações por minuto)

Temperatura rectal

Perca de produção

Limiar de stress THI=[68-71]

> 60 RPM

> 38.5ºC

-0.283 kg/h

Stress moderado THI=[72-79]

> 75 RPM

> 39.0ºC

-0.303 kg/h

Stress severo THI=[80-89]

> 85 RPM

> 40.0ºC

-0.322 kg/h

Stress extremo THI=[90-99]

> 120 RPM

> 41.0ºC

Não medido. Animal em falência

TABELA 1 Sinais fisiológicos de stress térmico e a sua associação com a perca de produção.

Diagnosticar o stress térmico Existe uma variedade de índices utilizados para estimar o grau de stress térmico a que o animal está sujeito, sendo que a termorregulação em bovinos é influenciada tanto pela temperatura ambiente como pela humidade relativa (Armstrong, 1994). O Index Temperatura-Humidade (THI) (ver figura 2) que incorpora estas duas variáveis, é amplamente utilizado para verificar o impacto do stress térmico em vacas de leite. A recolha do THI diário constitui uma boa ferramenta para calcular o efeito do stress térmico em bovinos de leite (García-Ispierto et al., 2007). Um THI de 68 unidades é considerado o limite da zona de conforto em vacas

Limiar do stress térmico Stress térmico moderado Stress térmico severo Stress térmico extremo

FIGURA 2 Tabela THI (Revista pela Universidade do Arizona, 2011).

42 julho . agosto . setembro 2014 Ruminantes

leiteiras e o início do stress térmico, no entanto a taxa de concepção apenas é afectada com valores superiores a 72 (Burgos Zimbelman e Collier, 2011). Na prática, uma vaca sujeita a um stress térmico moderado apresenta sinais visíveis, tais como: • Respiração rápida e superficial (vacas a “bater”); • Diminuição da actividade; • Diminuição de 10% da produção de leite; • Diminuição da ingestão de alimento. Em situações mais graves poderemos observar: • Boca aberta com a língua de fora;

• Respiração ofegante; • Diminuição de 30% na produção de leite. A tabela 1 resume alguns sinais, a que nível de stress térmico dizem respeito e as consequências sobre a produção leiteira.

As soluções Vitas Portugal De forma a minimizar os efeitos do stress térmico, os investigadores do Grupo Roullier desenvolveram VITACALOR, um alimento mineral da gama VITACOMPLEX. O VITACALOR tem como objectivo combater a diminuição da ingestão de matéria seca e fomentar a eficiência ruminal, para que não haja diminuição dos níveis produtivos e reprodutivos e também para que o sistema imunitário seja estimulado. Assim o VITACALOR tem na sua composição: • Complexo rúmen; • Minerais específicos; • Anti-oxidantes; • Protector hepático; • EOMix Calor. A Vitas Portugal continua a defender uma busca permanente de novas e mais adequadas soluções para os nossos clientes. Para mais informações e esclarecimentos, não hesite em contactar o técnico Vitas mais próximo de si.



economia

ABUNDÂNCIA OU APERTO?

observatório O mercado de cereais prepara-se para a safra que se avizinha. De momento, os motores vão aquecendo para a colheita de trigo, que acontecerá em poucas semanas. por paulo costa e sousa

Por agora, o balanço desta cultura não aparenta uma folga maior que a do ano passado, quer os stocks iniciais quer os finais apontam para os mesmos números, o que em termos gerais quer dizer que não foram reconstituídas as reservas mundiais. Acompanhando estes últimos meses não parece haver alguma razão para que as produções saiam muito do esperado, pelo que o preço do trigo não se alterou nos últimos tempos e, a não ser que aconteça alguma catástrofe meteorológica, a proporção trigo forrageiro/trigo moagem parece vir a ser a esperada. Há no entanto um fator, no que toca ao nosso mercado, que poderá vir a influenciar o preço do trigo: a Inglaterra, habitual fornecedor de trigo forrageiro até há uns anos atrás, tem este ano uma produção que aponta para um excedente exportável de 3 milhões de toneladas; além disso, a Ucrânia tem uma quota livre de direitos para exportar trigo para a UE de cerca de 1 milhão de toneladas. Estes dois fatores poderão pesar de uma forma

positiva (baixa do preço) ao longo do ano. No milho aproxima-se a altura crítica do seu ciclo, a floração e polinização, que determinará em grande parte o sucesso ou insucesso da colheita. Por agora, quer nos EUA quer no Mar Negro, a colheita apresenta-se sem grandes factores de agravamento, tendo mesmo no caso da Ucrânia a área semeada sido muito semelhante à do ano passado, não obstante as questões político/económicas. Assim sendo, o milho está num ponto crucial em que poderá perder um pouco mais de preço no caso de uma polinização sem problemas, ou poderá inverter a queda no caso de alguma questão meteorológica durante este período. No caso das proteínas, tudo indica que iremos ter mais uma boa produção de grão de soja nos EUA, que determinará um aumento de cerca de 12 milhões de toneladas de produção em relação ao ano passado. O que, a juntar

44 julho . agosto . setembro 2014 Ruminantes

aos excedentes sul-americanos já confirmados, resultam num aumento de cerca de 20 milhões de toneladas em relação ao ano anterior que parece ser um indício fortemente baixista. No entanto, as habituais questões logísticas na América do Sul estão, como habitualmente, a travar essa descida que apesar de tudo se tem verificado e que se vislumbra com mais efeito à medida que se confirme este excedente nos EUA. Quanto às proteaginosas, a UE e o Mar Negro não indiciam qualquer situação alarmante, e o girassol apresenta uma situação aparentemente favorável. Assim sendo, teremos que estar atentos aos fenómenos meteorológicos dos próximos dias que poderão determinar abundância ou o voltar a uma situação de maior aperto.


economia

Evolução do preço de matérias primas (em Euros/tonelada) Preços semanais de 14 de março de 2011 a 13 de junho de 2014 milho

cevada €/ton

€/ton

310

300

290

280

270

260

250

240

230

220

210

200

190

180

170

160

*valor da semana de 9 a 13 de junho

*valor da semana de 9 a 13 de junho

trigo

bagaço de soja €/ton

€/ton

600

310

550

290

500

270 250

450

230

400

210

350

190

300

170

250

*valor da semana de 9 a 13 de junho

*valor da semana de 9 a 13 de junho

bagaço de colza

bagaço de girassol €/ton

€/ton

360

440 400

330

360

270

320

240

280

210

240

180

200

150

160

120

*valor da semana de 9 a 13 de junho

*valor da semana de 9 a 13 de junho

Fonte: www.revista-ruminantes.com

Evolução do preço médio de alimentos compostos para animais (em Euros/tonelada) vacas leiteiras em produção

novilhos de engorda

2010 2011 2012 2013

€/ton

€/ton

2014

500 550

450

500

400

450

350 300

400

250

350

200

300

1

2

3

4

5

6

7

8

9

10

11

12 meses

1

2

3

4

5

6

7

8

9

10

11

12

meses

Fonte: IACA

ruminantes julho . agosto . setembro 2014 45


economia

USDA, LTO, INE,

observatório Fontes: USDA, EDA, www.agrimoney.com

União Europeia (UE) Mercado de laticínios em alta impede declínio dos rebanhos A dinâmica do mercado de laticínios e o anunciado fim do sistema de quotas à produção estão a contribuir para encorajar a produção de leite, o que se traduz numa consequente pressão sobre o aumento dos preços. Os rebanhos de vacas leiteiras cresceram 0,6% no ano passado e este ano prevê-se que cresçam 1,3%. Esta é a primeira vez, nos últimos 30 anos, que o bloco dos 28 países europeus assiste a dois anos consecutivos de crescimento dos rebanhos, contrariando a tendência de contração acentuada verificada nas três décadas anteriores. Segundo o relatório disponibilizado pelo U.S. Department of Agriculture (USDA), a tendência para o declínio do número de rebanhos de vacas leiteiras na União Europeia está fora de causa no longo prazo. Este facto é atribuído ao aumento do preço do leite pago ao

produtor e ao fim do sistema de quotas que, como se sabe, impunha limites à produção de leite com o objetivo de regular os preços.

Produção a aumentar Em 2013 e 2014 a União Europeia assistiu a um aumento de 1% das quotas de leite. Esta medida incentiva o investimento na indústria dos laticínios, sobretudo em países onde é possível produzir a custos baixos, como é o caso da Irlanda, onde o clima húmido e a existência de boas pastagens favorecem o produtor. Nos últimos três meses a subida dos preços do leite encorajou a produção. Segundo a previsão avançada pelo USDA, a UE produzirá este ano 1,5 milhões de toneladas. Condições climatéricas favoráveis e, consequentemente, maior disponibilidade de alimentos associado ao contínuo esforço de melhoria genética dos rebanhos, estão na base do aumento médio estimado da produção de leite na UE.

46 julho . agosto . setembro 2014 Ruminantes

Crescimento das exportações Parte do excedente da produção de leite será absorvido pelo forte consumo de produtos láteos, especialmente queijo, resultado de uma recuperação económica sentida na UE que aumentou o poder de compra das pessoas face a 2013. O relatório destacou o crescimento significativo da produção de leite em pó desnatado, devido ao excedente de leite existente no mercado e também a forte capacidade tecnológica de processamento do leite existente na indústria agro-alimentar alemã. Prevêse que as exportações cresçam 16,4%, o que se traduz em 475,000 toneladas. Note que, nos primeiros dois meses de 2014, as exportações de leite em pó desnatado foram 50% superiores ao valor verificado no mesmo período em 2013. Isso deveu-se a uma forte procura deste produto pelo mercado chinês que se traduziu em 162 toneladas, valor que aumentou sete vezes face ao período homólogo do ano anterior. As exportações de manteiga também


economia

aumentaram, na ordem de 16%, nos primeiros dois meses do ano, facto que se deveu a uma quebra nos preços na UE, tornando o produto mais competitivo no mercado mundial. No entanto, este aumento deveu-se parcialmente ao crescimento das importações por parte da Rússia, registadas na ordem de 50%. Este é um mercado que se espera pouco estável no futuro devido à deterioração das relações diplomáticas entre o Ocidente e Moscovo e ao enfraquecimento do rublo.

China

EUA

Na Nova Zelândia a produção de leite aumentou na ordem dos 20% a 30% face à campanha anterior, severamente impactada pela seca. Estima-se que a produção de leite tenha sofrido um aumento na ordem dos 7% na campanha de maio de 2013 a maio de 2014. Também na Austrália se prevê um crescimento da produção de leite na ordem dos 5,3%. Em 2013, condições climatéricas favoráveis e um aumento no preço do leite contribuíram para um crescimento na produção, ainda que marginal. Já em 2014, prevê-se uma recuperação dos níveis de produção que resultam de um clima favorável e de um aumento do preço pago ao produtor. Espera-se, ainda, que exista algum excedente de produção que será canalizado para as exportações.

Estima-se estabilidade na produção de leite para o próximo trimestre. As importações da gordura do leite continuarão baixas, enquanto as de sólidos desnatados subirão. As exportações sobem devido à procura de nata e queijo. O preço da manteiga e do soro de leite aumentam enquanto o preço do queijo se mantém.

preço do leite standardizado (1) países

companhia

preço do leite (€/100kg) ABRIL 2014

média dos ultimos 12 meses (4)

Milcobel

40,03

40,63

Alois Müller

38,40

39,35

bélgica alemanha

França

Nordmilch

39,05

38,97

40,99

40,83

Hameenlinnan Osuusmeijeri

42,46

45,99

leite à produção

Bongrain CLE (Basse Normandie)

35,52

38,38

Preços médios mensais em 2014

Danone

40,01

38,31

Lactalis (Pays de la Loire)

34,87

37,33

Sodiaal

36,79

37,07

abril

Dairy Crest (Davidstow)

37,17

38,02

First Milk

38,78

35,86

Glanbia

38,94

38,53

Inglaterra

Irlanda Itália Holanda

Kerry

38,77

38,21

Granarolo (North)

45,81

43,18

DOC Kaas

37,73

41,35

Friesland Campina

40,13

43,73

39,09

39,73

Preço médio leite (2) SuÍça

Nova Zelândia e Austrália

Arla Foods

Dinamarca Finlândia

Existem algumas preocupações centradas no mercado chinês. Sabe-se que no ano passado a forte procura de leite na China fez com que os preços subissem. No entanto, este ano parece que o país está a importar menos leite, devido à produção interna estar a revelar-se acima do esperado.

Emmi A.G.

49,40

51,57

Nova Zelândia

Fonterra

40,24

40,02

EUA

EUA (3)

43,14

35,31

Fonte: LTO (1) Preços sem IVA, pagos ao produtor; Preço do leite de diferentes empresas leiteiras para 4,2% de MG e 3,4 de teor proteico • (2) Média aritmética (3) Ajustado para 4,2% gordura, 3,4% proteina e contagem de células somáticas 249,999/ml • (4) Inclui o pagamento suplementar mais recente

meses

2013

2014

eur/kg

teor médio de matéria gorda (%)

teor proteico (%)

Contin.

Açores

Contin.

Açores

Contin.

Açores

0,337

0,312

3,75

3,73

3,27

3,21

Maio

0,319

0,309

3,72

3,64

3,26

3,20

Junho

0,330

0,313

3,69

3,70

3,22

3,15

Julho

0,325

0,326

3,60

3,76

3,16

3,11

Agosto

0,327

0,327

3,64

3,79

3,19

3,10

Setembro

0,358

0,342

3,71

3,87

3,25

3,14

outubro

0,360

0,343

3,78

3,92

3,28

3,24

NOVEMBRO

0,375

0,340

3,92

3,83

3,29

3,17

DEZEMBRO

0,377

0,354

3,98

3,82

3,36

3,19

JANEIRO

0,372

0,349

3,89

3,75

3,31

3,28

FEVEREIRO

0,372

0,350

3,85

3,74

3,31

3,19

MARÇO

0,372

0,349

3,78

3,62

3,33

3,24

ABRIL

0,391

0,349

3,79

3,64

3,29

3,26

Fonte: SIMA Gabinete de Planeamento e Políticas

ruminantes julho . agosto . setembro 2014 47


economia

ÍNDICE VL

MOMENTO FAVORÁVEL PARA OS PRODUTORES POR António Moitinho Rodrigues, docente/investigador, Escola Superior Agrária do Instituto Politécnico de Castelo Branco Carlos Vouzela, docente/investigador, Departamento de Ciências Agrárias da Universidade dos Açores Nuno Marques, revista Ruminantes

No número 11 da revista Ruminantes, editado em outubro de 2013 (Ruminantes, Ano 3 – N.º 11), foi publicado um artigo com o título “Índice VL, uma ferramenta útil para a bovinicultura leiteira”. Pela primeira vez foi apresentado em Portugal o Índice VL, indicador que reflete a rentabilidade da produção de leite que está muito dependente dos custos com a alimentação da vaca leiteira. O Índice VL resulta do quociente entre a receita obtida com a venda do leite produzido por vaca da exploração e os custos associados à alimentação da mesma vaca (Rodrigues et al., 2013). Analisamos neste número da Ruminantes o período de fevereiro a abril de 2014, período em que a evolução dos preços do leite e dos alimentos continuou a ser favorável ao produtor. Os custos com a alimentação da vaca mantiveram-se relativamente estáveis e o preço do leite apresentou uma tendência ligeiramente crescente, tendo sido em abril de 0,391 €/kg (SIMA, 2014). Isto reflete-se no Índice VL que em abril de 2014 era de 1,912 quando, no mesmo mês do ano anterior, tinha sido de 1,700. Se considerarmos que o valor 1,5 é um valor moderado representando um negócio saudável e 2 é um valor elevado muito favorável para o sucesso económico da exploração (Schröer-

Merker et al., 2012), concluímos que os produtores de leite vivem um momento favorável. Em alguns casos, os produtores estão a aproveitar este bom momento para sanear financeiramente as contas das explorações preparando-se para ter custos fixos mais baixos quando terminar o regime de quotas leiteiras. Recorde-se que 2012 foi um ano dificílimo para a produção tendo o Índice VL atingido 1,283 em julho de 2012, valor muito baixo, absolutamente insustentável para manter a rentabilidade da exploração. Noutros casos, o bom momento que a produção de leite vive está a ser aproveitado para melhorar a eficiência produtiva da exploração fazendo investimentos na modernização dos equipamentos para produzir mais e melhores forragens, no aumento dos efetivos e na melhoria das instalações e do conforto animal. Se o principal objetivo dos produtores de leite for o LUCRO, a produção de leite terá que depender cada vez menos da utilização de alimentos compostos, cujos preços muito voláteis o criador não controla. Isto só será possível se na própria exploração forem produzidas forragens em quantidade e de boa qualidade nutricional (Ex. silagem de milho, feno silagem de gramíneas/leguminosas,…).

notas: O preço do leite pago ao produtor do continente manteve-se estável nos primeiros três meses do ano 2014, aumentando ligeiramente em abril (0,391€/kg); O preço médio das 3 principais matérias-primas que entram na formulação do alimento composto teve uma tendência ligeiramente crescente nos primeiros três meses do ano, baixando em abril; Desde setembro/outubro de 2013 que os preços da silagem de milho e da palha de cevada estão mais baixos do que na mesma altura do ano 2012; Os 3 aspetos anteriores refletemse no Índice VL que em abril de 2014 foi de 1,912. De acordo com Schröer-Merker et al. (2012), o Índice VL próximo de 2 é elevado sendo indicador de condições favoráveis para o sucesso económico da exploração de leite.

Referências Bibliográfia: Não foram incluídas por uma questão de espaço editorial, mas os autores disponíbilizam bastando enviar um email para geral@revista-ruminantes.com.

Evolução do Índice VL abril

2013

2014

Índice VL 1,700

Maio

1,585

Junho

1,643

Julho

1,651

Agosto

1,603

Setembro

1,853

outubro

1,833

novembro

1,905

dezembro

1,904

janeiro

1,923

Fevereiro

1,879

março

1,826

abril

1,912

DE JULHO DE 2012 a ABRIL de 2014 O valor é influenciado pela variação mensal do preço do leite pago ao produtor português e pelas variações mensais dos preços dos alimentos que constituem o regime alimentar da vaca leiteira tipo (concentrado 9,5 kg/ dia; silagem de milho 33 kg/dia; palha de cevada 2 kg/dia). 2,0

Valores do Índice VL

últimos 13 Meses

Valor do Índice VL

48 julho . agosto . setembro 2014 Ruminantes

1,5

1,0 julho 2012

Limiar de rentabilidade

abril 2014

Negócio saudável

Forte ameaça para a rentabilidade da exploração



entrevista

A QUALIDADE DO QUEIJO

ASSOCIADA À ESTABILIDADE DA ALIMENTAÇÃO Entrevista com Daniel Sousa Lopes, responsável pela Queijaria Cabeço do Carvão. por ruminantes

A Casa Agrícola Cabeço Carvão tem como sócios gerentes os irmãos José Sanches e António Rodrigues. Estes irmãos deram continuidade ao negócio iniciado pela avó Teresa, na altura com 60 ovelhas Merino da Beira Baixa e 40 hectares. Hoje em dia contam com cerca de 900 hectares de pastagens naturais, 25 ha de prados permanentes de regadio e um efectivo de 1800 animais (cerca de 1000 em ordenha), com genética maioritariamente Lacaune. Daniel Sousa Lopes, filho de José Sanches, é formado em Engenharia Biológica Alimentar, pela ESACB, e conta com uma pós-graduação em Inovação e Qualidade Alimentar. Depois de muitos dias de férias e tempos livres a trabalhar na queijaria e na exploração de ovelhas de leite com a avô Tereza e com o pai, está agora como responsável da Queijaria Cabeço do Carvão, um negócio da família que conta com 8 empregados. A Ruminantes foi saber que importância

tem o controlo da alimentação na qualidade e regularidade dos queijos. Ruminantes - Produz leite todo ano? Qual o destino final do leite produzido? Daniel Lopes - Sim, produzimos leite todo ano. A produção anual ronda os 250.000 litros, que são recolhidos através de duas salas de ordenha, de 24 e 12 pontos, nos dois montes. A maior produção está entre janeiro e maio de cada ano. Temos agora também uma parição de junho para ter mais leite de verão e outra para outubro para o queijo do Natal. Todo o leite que produzimos é transformado em queijo e vendido com a marca da casa “Queijaria Cabeço do Carvão”. Que importância dão à qualidade do leite? Damos muita importância, porque vai influenciar a qualidade do queijo. Isso é uma das razões porque não compramos leite a outros produtores.

50 julho . agosto . setembro 2014 Ruminantes

Que variações tem ao longo do ano no perfil nutricional do leite? Atualmente temos muito pouca variação, porque o sistema alimentar que utilizamos é ajustado periodicamente e isso permite-nos ter uma regularidade muito grande no perfil do leite. Qual o sistema alimentar que utiliza? Utilizamos rações adaptadas às nossas forragens e aos prados (de trevos) regados no verão. Depois utilizamos os pastos naturais e fenos de ervas espontâneas de sequeiro. Os fenos são dados juntamente com milho moído e ração no unifeed. Os serviços técnicos da Nanta, através do Eng. João Mateus, fazem uma avaliação do perfil nutricional das forragens e do leite ao longo do ano, e em função dos resultados, definem o perfil nutricional para o concentrado, que é adaptado às necessidades dos animais e dos objectivos propostos.


Que parâmetros tem o leite na primavera e no verão? Que problemas trazem estas variações? Por norma o perfil é diferente na primavera e no verão, embora no nosso caso este fator esteja minimizado porque sabemos que se entrar leite muito diferente na queijaria, não vai sair sempre o mesmo tipo de queijo. É por ser impossível minimizar o impacto dessa diferença no produto final que temos muito cuidado com a alimentação e com o maneio, temos que fazer tudo o que nos seja possível para que o leite seja muito semelhante ao longo do ano. Atualmente a gordura está entre os 6,5 - 7% e a proteína entre os 5,2 – 5,3%. Porque usa a raça Lacaune? Porque são animais mais adaptados às ordenhas mecânicas e com boas produções. Alimentação é uma parte importante dos custos de produção do leite. Costuma “desafiar” o maneio alimentar? Sim, por exemplo agora estamos a introduzir um novo produto, o Ovikomplet. A disponibilidade de forragens e pastagens é menor e este é um alimento rico em fibra, que nos permitirá ter uma alimentação forrageira muito mais estável ao longo do verão e com isso aumentar inclusive a produção

de leite. Neste período (fim da primavera até ao final do verão), o sistema alimentar é composto por este produto (Ovikomplet), feno e pelos trevos regados. O que diferencia o seu queijo dos outros? Essencialmente a experiência, a confiança e o processo de fabrico, que conta com uma cura muito natural e com 60 dias de maturação. Estamos neste negócio há muito tempo. Os clientes já nos conhecem, e acreditam muito em nós porque temos a fileira completa, da produção de leite à transformação em queijo, ou seja, as ovelhas, a alimentação, o leite, a transformação, é tudo manuseado e controlado por nós. Não compramos leites de diversas origens, e isso faz a diferença. Que produtos comercializa? Neste momento apenas queijo, mas estamos a trabalhar para ter manteiga e iogurte de leite de ovelha.

Contactos: E-mail: danielsousalopes@hotmail.com Telm: 967 167 173

Daniel Sousa Lopes Responsável pela Queijaria Cabeço do Carvão

ruminantes julho . agosto . setembro 2014 51


atualidades

AXION® ThermoPlus

A melhor arma contra o calor ! Mantém a performance dos animais

A Vetlima anuncia o lançamento do Avi-Plus O Avi-Plus é um alimento complementar para animais. A sua forma exclusiva, desenvolvida pela Vetlima, torna o Avi-Plus um produto completo e muito versátil, uma vez que pode ser utilizado em aves, coelhos, borregos, cabritos, equinos, vitelos e leitões. A sua composição rica em vitaminas e a sua elevada solubilidade tornam o Avi-Plus a escolha ideal em todas as situações que

provoquem stress, transporte dos animais, como tónico ou sempre que se queira influenciar o crescimento e a produção dos animais. Contém ainda L-carnitina e Betaína para tornar os resultados ainda mais consistentes.

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A Ibersan lança o novo ThermoPlus Durante os períodos de temperaturas elevadas (a partir dos 25°C) os bovinos sofrem um stress térmico que provoca uma diminuição da ingestão e das performances (leite, GMD), assim como surgem sinais e sintomas de acidose (laminites, diminuição do TB, etc.). AXION® ThermoPlus é uma associação de substâncias com forte poder tampão ruminal e extractos de plantas que permitem manter a ingestão e melhorar a digestão intestinal. AXION® ThermoPlus

A Inovpec alargou a sua gama para nutrição de ruminantes em extensivo A gama Nutrilick proporciona uma fonte complementar de vitaminas e minerais essenciais à boa performance animal. Na sua nova gama, inclui o Nutrilick Garlic Grazer que também possui todos os benefícios do alho. O alho é reconhecido pelas suas propriedades repelentes de insetos e capacidade de melhorar os sistemas imunitário e respiratório.

52 julho . agosto . setembro 2014 Ruminantes

regula a temperatura corporal dos animais melhorando o seu conforto e respectivas produções, permitindo um aumento de 1 a 2 litros de leite/vaca/dia e 1 a 3 g/litro de TB em vacas leiteiras e melhorias entre 100 a 200g de GMD e 0,1 a 0,2 no Índice de Conversão em bovinos de carne.

Para mais informações 261 416 450 ou geral@ibersan.pt



PRODUÇÃO

Crescimento de Novilhas Holstein Friesian Santos, T.M.V.

na região do Entre-Douro e Minho (Vila do Conde)

Faculdade de Ciências, Universidade do Porto (FC-UP).

Cabrita, A.R.J., Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar, Universidade do Porto (ICBAS-UP).

Gomes, A. Sub-secção de Nutrição Animal da Cooperativa Agrícola de Vila do Conde, CRL.

ENQUADRAMENTO Crescimento de novilhas Holstein Friesian A produção de leite, tal como qualquer outra actividade agrícola, está dependente da eficiência económica das explorações e dos métodos adotados pelos seus produtores no alcance dos objetivos de produção pretendidos. A antecipação da idade à puberdade das novilhas e, consequentemente, da idade ao primeiro parto, permite a redução dos custos de produção uma vez que reduz a fase improdutiva dos animais.

Efeito da alimentação na idade à puberdade

FIGURA 1 Curvas de crescimento originadas através do ajustamento dos dados de altura da totalidade dos animais das 16 explorações estudadas aos modelos de Gompertz, Logístico, Brody e Von Bertanlanffy.

O aparecimento da puberdade nas novilhas Holstein Friesian encontra-se mais relacionado com a idade fisiológica do que com a idade cronológica. Elevadas taxas de crescimento proporcionadas por elevados níveis nutricionais permitem diminuir a idade à puberdade, e não levam necessariamente a pesos vivos mais baixos. Assim, uma estratégia passível de antecipação da puberdade passa então pela imposição de maiores taxas de crescimento através da alimentação. Total Explorações

1000

Peso Vivo (kg)

800

600

Gompertz Logistico Brody Von Bertanlanffy

400

200

0

-200

1000

2000

3000

Idade (dias)

54 julho . agosto . setembro 2014 Ruminantes

4000

5000

6000

Consequências da antecipação da idade à puberdade Além de diminuir o período não lucrativo dos animais, como anteriormente mencionado, a antecipação da idade à puberdade permite também uma mais rápida avaliação dos progenitores e um aumento da vida reprodutiva dos animais, uma vez que estes começam a reproduzir-se mais cedo. Por outro lado, a indução de altas taxas de crescimento, além de acarretar um aumento no custo com a alimentação devido às dietas de alto valor energético aplicadas aos animais, também pode afetar negativamente o desenvolvimento da glândula mamária e, naturalmente, a futura produção de leite, sobretudo na primeira lactação. A antecipação da puberdade pode ainda trazer outras desvantagens como baixas taxas de conceção e o aumento de partos distócitos.

Desenvolvimento da Glândula Mamária Os relatos de menor produção de leite na primeira lactação provocados pela antecipação da puberdade, são normalmente explicados pelo efeito negativo que pode ocorrer no desenvolvimento da glândula mamária. Este desenvolvimento está dividido em duas fases distintas: a fase pré-púbere e a fase pós-púbere. Na fase pré-púbere ou pré-puberdade, a glândula mamária desenvolve-se segundo um ritmo alométrico, ou seja, o úbere cresce a uma taxa mais elevada do que o resto do corpo. Pelo contrário, na fase pós-púbere ou pós-puberdade, a glândula já se desenvolve segundo um ritmo de crescimento isométrico, isto é, à mesma taxa que o resto do corpo. Sendo assim, o período em que os níveis de ingestão podem afetar negativamente o desenvolvimento da glândula mamária, a que podemos chamar de período crítico, é apontado como coincidente com a fase pré-púbere, ou seja, com a fase de crescimento alométrico.

TRABALHO EXPERIMENTAL Objetivos Este trabalho teve como objetivos primordiais avaliar o crescimento de novilhas Holstein Friesian na região do Entre-Douro e Minho (mais concretamente no concelho de Vila do Conde), estimar a idade à puberdade e


PRODUÇÃO

avaliar o efeito da idade ao primeiro parto na produção de leite aos 305 dias nas três primeiras lactações. Esta informação permitiu traçar a realidade desta região e perceber a necessidade ou não de alterações nas estratégias, nomeadamente de maneio, para alcançar os parâmetros considerados ideais.

Total Explorações

Altura (cm)

160

Material e Métodos Neste trabalho participaram 16 explorações comerciais de bovinos de leite, todas elas abrangidas pela certificação Global GAP e pertencentes ao concelho de Vila do Conde. Cada exploração foi alvo de apenas uma visita, onde o efetivo animal avaliado foram apenas as fêmeas pertencentes à raça Holstein Friesian. As medições foram realizadas no período de 8 de Janeiro a 22 de Maio de 2013. Foram avaliados um total de 910 animais, pertencentes a vários grupos etários: dos 0 aos 3 meses, dos 3 aos 6 meses, dos 6 aos 12 meses, dos 12 aos 18 meses, dos 18 meses ao 1º parto e por fim vacas adultas. No primeiro grupo (0-3 meses) foram medidos todos os animais existentes e nos restantes grupos apenas 15% do efetivo de cada um, sendo que o número mínimo de animais a medir em cada grupo foi, sempre que possível, 10. Os animais a medir foram escolhidos aleatoriamente, não tendo sido utilizado nenhum tipo de critério pré-definido. A altura foi medida com uma régua em forma de L invertido, ao garrote, com o animal em estação, confortável e de cabeça erguida, sempre que possível, e numa superfície limpa e nivelada. O peso vivo foi estimado a partir da medição, com uma fita, do perímetro torácico, com o animal de pé e com a cabeça levantada. Foi realizada apenas uma única medição, tanto de altura como de peso vivo, por animal. Os dados referentes ao peso vivo (kg) e à altura (cm) foram ajustados ao modelo polinomial de grau 2 (y=ax2+bx+c) e aos modelos matemáticos não lineares de Gompertz, Logístico, Brody e Von Bertanlanffy. A idade à puberdade das novilhas estudadas foi estimada segundo as curvas de crescimento (altura e peso vivo) geradas pelos vários modelos utilizados. O efeito da idade ao primeiro parto na produção de leite aos 305 dias nas três primeiras lactações foi avaliado, em todas as explorações, utilizando os animais que possuíam toda esta informação. Duas explorações não foram incluídas neste estudo por falta de acesso à informação necessária. A análise foi realizada segundo um modelo misto (Proc Mixed do

120

Gompertz Logistico Brody Von Bertanlanffy

80

40

0

0

1000

2000

3000

4000

5000

6000

Idade (dias)

FIGURA 2 Curvas de crescimento originadas através do ajustamento dos dados de altura da totalidade dos animais das 16 explorações estudadas aos modelos de Gompertz, Logístico, Brody e Von Bertanlanffy.

programa SAS, versão 9.1, SAS Institute, Inc., Cary, NC, USA) incluindo a idade ao primeiro parto como efeito fixo (classe 1: < 24 meses de idade; classe 2: 24-25 meses de idade; classe 3: 25-26 meses de idade; e classe 4: > 26 meses de idade ao 1º parto), a exploração como efeito aleatório e o erro residual aleatório.

Resultados e Discussão Curvas de crescimento Como se pode verificar nas Figuras 1 e 2, todos os modelos matemáticos utilizados geraram curvas de crescimento muito semelhantes, quer utilizando o peso vivo, quer a altura como parâmetros de crescimento. Contudo, apesar de todos os modelos terem fornecido estimativas de peso vivo à maturidade muito semelhantes, estas foram superiores aos 680 kg de referência para a raça Holstein Friesian (Quadro 1). Já no que concerne à

altura à maturidade, todos os modelos estimaram valores muito próximos ou mesmo iguais aos 144 cm de referência para a raça (Quadro 2). Estimativa da idade à puberdade A estimativa da idade à puberdade, para o modelo de Gompertz, Logístico e Von Bertanlanffy, foi feita com base no ponto de inflexão das respetivas curvas. Nos restantes modelos a idade à puberdade foi estimada através dos valores de referência para a puberdade referidos na literatura, segundo a qual as fêmeas Holstein alcançam a puberdade aos 390 a 450 dias, com 340 a 360 kg de peso vivo e 122 a 127 cm de altura. Como se pode observar no Quadro 3, as fêmeas avaliadas atingem o peso indicativo da puberdade mais cedo do que a altura. No entanto, comparando com trabalhos realizados na mesma região em 1997

Quadro 1 Número de iterações, r2 ajustado e parâmetros de crescimento estimados pelo ajustamento dos dados de peso vivo da totalidade dos animais das 16 explorações estudadas aos modelos matemáticos não lineares de Gompertz, Logístico, Brody e Von Bertanlanffy. A ±A.S.E

B ±A.S.E

K ±A.S.E

M ±A.S.E

0,947

744 19,9

2,8 0,2

0,004 0,000

-

7

0,948

739 18,6

-

0,004 0,000

3,8 0,4

Brody

10

0,933

792 31,2

1,0 0,03

0,002 0,000

-

Von Bertanlanffy

9

0,946

755 21,0

0,7 0,04

0,003 0,000

-

Modelo

Nº Iterações

r2 Ajustado

Gompertz

9

Logístico

A - Peso vivo à maturidade • B - Constante de integração • k - Índice de maturidade • M - Determina o ponto de inflexão.

ruminantes julho . agosto . setembro 2014 55


PRODUÇÃO

A ±A.S.E

B ±A.S.E

K ±A.S.E

M ±A.S.E

0,961

144 1,3

0,6 0,02

0,004 0,000

-

30

0,959

144 1,3

-

0,004 0,000

0,9 0,03

Brody

73

0,960

144 1,4

0,5 0,01

0,003 0,000

-

Von Bertanlanffy

42

0,960

145 1,3

0,2 0,006

0,003 0,000

-

Modelo

Quadro 2 Número de iterações, r2 ajustado e parâmetros de crescimento associados ao ajustamento dos dados de altura da totalidade dos animais das 16 explorações estudadas aos modelos matemáticos não lineares de Gompertz, Logístico, Brody e Von Bertanlanffy.

A - Altura à maturidade • B - Constante de integração • k - Índice de maturidade • M - Determina o ponto de inflexão.

(Cabrita, 1997) e em 2007 (Maia, 2007), a idade à puberdade tem vindo a diminuir, aproximando-se cada vez mais dos valores de referência. Os resultados obtidos nos referidos estudos anteriores apontavam para idades à puberdade muito superiores a 450 dias e neste momento esses valores encontram-se a rondar os 378 dias para o peso vivo e os 459 dias para a altura. Efeito da idade ao 1º parto na produção de leite Na maioria dos animais avaliados, a idade ao 1º parto é superior a 26 meses, ou seja superior à idade ideal referida na literatura para a raça Holstein Friesian, que se encontra entre os 22 e os 24 meses (Quadro 4). Este facto pode ser explicado pelo alcance mais tardio da puberdade destes animais, bem como pela opção de alguns produtores em adiarem a primeira inseminação. Também é possível constatar que animais com idades ao primeiro parto inferiores a 24 meses produziram menos leite na primeira lactação não existindo, no entanto, diferenças significativas nas lactações seguintes.

CONCLUSão No presente estudo verificou-se que as fêmeas Holstein Friesian de 16 explorações comerciais, do concelho de Vila do Conde, atingem a puberdade mais tarde do que os valores de referência, no entanto esta idade tem vindo a diminuir. Esta situação encontra-se, muito provavelmente, relacionada com Idade à Puberdade (dias) Modelo

Peso Vivo

Altura

Gompertz *

383

408

Logístico *

384

439

Brody

341

442

Von Bertanlanffy *

370

429

Polinomial de Grau 2

410

577

Nº Iterações

r2 Ajustado

Gompertz

31

Logístico

Quadro 4 Efeito da idade ao 1º parto na produção de leite aos 305 dias nas primeiras 3 lactações no total das explorações estudadas. Modelo

Lactação

Idade ao 1º Parto (meses)

≤ 24

24-25

25-26

26

EPM

P

-

-

n

15

17

19

65

-

-

1

8468a

9336b

9309b

9532b

254,5

0,007

2

9981

10720

10178

10796

392,3

0,077

3

10380

10635

10473

11121

412,8

0,102

TOTAL

28786

30583

29917

31427

930,8

0,013

a

a,c

a

b,c

n - nº de observações para cada classe de idades ao 1º parto • EPM – Erro padrão da média • Na mesma linha, valores com notações diferentes (a, b, c), são significativamente diferentes (P<0,05).

melhorias verificadas nos últimos anos, no maneio alimentar dos animais de reposição e no seu potencial genético. Observou-se também, que os animais atingem o peso indicativo da puberdade mais cedo do que a altura, sugerindo a necessidade de correções a nível do regime alimentar, principalmente no equilíbrio energia/proteína. Na população amostrada, a produção de leite na primeira lactação é menor quando a idade ao primeiro parto é inferior a 24 meses, não se verificando diferenças nas lactações seguintes. Para melhor analisar o impacto desta situação nas explorações da região seria necessária uma análise económica que confronte a vantagem de encurtar a fase improdutiva dos animais (e.g., custos de recria, longevidade produtiva) com a eventual perda de produção na primeira lactação. Por fim, saliente-se que este estudo foi realizado apenas em 16 explorações, tendo sido os animais medidos apenas uma vez. De modo a ser possível a extrapolação dos resultados para a realidade de toda a região, será importante alargar a base de

Quadro 3 Estimativa da idade à puberdade com base nos dados de peso vivo e altura recolhidos nas explorações estudadas.

56 julho . agosto . setembro 2014 Ruminantes

dados, bem como a obtenção de dados longitudinais. Todavia, a facilidade e rapidez do estudo e dos métodos utilizados, permitiram traçar um panorama muito próximo da realidade desta região num curto espaço de tempo, dando a conhecer um pouco melhor aos produtores que alterações podem implementar no sentido de melhorarem o rendimento das suas explorações.

Agradecimentos À Cooperativa Agrícola de Vila do Conde (CAVC) que colaborou e tornou possível a realização da parte experimental deste trabalho; À Engenheira Isabel Ramos (Sub-secção de Nutrição Animal da CAVC) e Engenheiro André Lopes (Sub-secção de Nutrição Animal da CAVC) pelo empenho e auxílio na realização deste estudo e nas medições dos animais; Às explorações de leite em estudo e respetivos produtores pela sua simpatia e disponibilidade, tendo um papel fundamental na concretização deste trabalho. Referências Bibliográficas Cabrita, A.R.J., 1997. Factores que influenciam o surgimento da puberdade em fêmeas da raça Holstein frísia. Relatório Final de Estágio. Universidade de Trásos-Montes e Alto Douro, Vila Real, 159 pp. Maia, M. A. M. A. 2007. Crescimento de fêmeas Holstein Friesian na região de Entre-Douro e Minho. Relatório do trabalho final de curso. Engenharia Agronómica. Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, 70 pp. Santos, T.M.V., 2013. Crescimento de Novilhas Holstein Friesian na região do Entre-Douro e Minho. Dissertação de Mestrado em Engenharia Agronómica, Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, Porto, 77 pp.


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Produção

Informação fornecida pelo

contraste leiteiro O contraste leiteiro pode ser uma excelente ferramenta para monitorizar várias áreas de interesse numa exploração leiteira, para além de contribuir com informação útil para o melhoramento animal. Dos dados que são fornecidos mensalmente fazem parte várias folhas que podem ajudar a compreender o que está a ocorrer na exploração. Uma das folhas que mais importância tem, é a folha de Resumo Mensal da Exploração. Nesta folha são apresentadas algumas médias com interesse.

Resumo Mensal da Exploração Ricardo Bexiga Faculdade de Medicina Veterinária, Universidade de Lisboa ricardobexiga@fmv.ulisboa.pt

Número de animais na 1ª lactação Esta coluna apresenta a distribuição do número de animais por lactação, caracterizando a estrutura da população. No caso de estarem a ser adquiridos animais, para um aumento voluntário do efectivo, é frequente que a proporção de vacas na 1ª lactação seja elevado. Caso

58 julho . agosto . setembro 2014 Ruminantes

não estejam a ser adquiridos animais, uma proporção elevada de novilhas corresponde geralmente a um refugo demasiado intenso, com baixa longevidade dos animais. As causas desta baixa longevidade devem ser investigadas e deve ser estabelecido um plano de acção. Em explorações com bom maneio, as primíparas correspondem a cerca de 33%


Produção

do total de animais em lactação. Deve também ser avaliada a proporção de animais com 5 ou mais lactações: em explorações em que os animais têm grande longevidade, este grupo pode corresponder a 10% do efectivo em lactação.

Número médio de dias em lactação Este parâmetro pode dar-nos uma ideia de como está o efectivo no plano reprodutivo. Se a distribuição de partos fosse uniforme ao longo do ano, esperaríamos que este valor fosse aproximadamente metade da duração média das lactações, ou seja, no caso de lactações com 305 dias, teríamos cerca de 153 dias. Na prática, a distribuição dos partos não é uniforme ao longo do ano, com picos de partos a ocorrer geralmente 9 meses após o Outono, devido às baixas taxas de concepção durante o Verão. Assim, os valores mais baixos costumam ocorrer nos meses de Dezembro e Janeiro. Em explorações em que o intervalo médio entre partos não é muito longo, este valor ronda em média ao longo do ano os 175 dias.

Diferença entre média de dias em lactação para a totalidade do efectivo e para as novilhas É frequente as primíparas terem um intervalo entre o parto e a concepção mais longo que o resto dos animais, eventualmente devido a um balanço energético negativo mais prolongado por ainda terem necessidades energéticas de crescimento. No entanto, é desejável que a média de dias em lactação das primíparas não se afaste demasiado da média do resto da exploração. Se isso acontece, podemos considerar a hipótese de existirem problemas na recria ou no acesso das primíparas

a espaço de manjedoura. Esta diferença não deve exceder em média os 15 dias.

Teor butiroso Este valor é variável de acordo com os objectivos das explorações e com o maneio nutricional que é realizado. Existe também um elevado grau de variação em função do processamento da amostra, uma vez que a gordura sendo menos densa acaba por ficar na superfície dos recipientes. É um dos parâmetros em que com mais frequência existe disparidade entre os valores do contraste e os valores fornecidos pela fábrica que recolhe o leite. Em termos de monitorização, valores médios abaixo de 3.3% no contraste, devem levar a uma investigação mais profunda sobre a ocorrência de acidose nos animais. Esta investigação pode passar por exemplo pela verificação da uniformidade das fezes e pela avaliação da proporção dos animais deitados que está a ruminar.

Teor proteíco Este parâmetro pode darnos alguma indicação sobre a ocorrência de balanço energético negativo nos animais. Teores proteicos relativamente baixos em animais individuais, abaixo de 2.9% (Mulligan et al, 2006) estão correlacionados com balanço energético negativo. Isso significa que valores no contraste abaixo de 3.2% devem levar a uma investigação mais pormenorizada da nutrição. É importante salientar que muitas vezes a formulação da dieta pode estar correcta, mas a disponibilidade de alimento pode ser irregular ao longo do dia, com os animais a passarem horas com a manjedoura vazia.

Ureia O teor médio de ureia no leite depende também da

nutrição. Se há excesso de ureia no leite, esta provém do azoto que não está a ser completamente aproveitado pelos microorganismos do rúmen, sendo o excesso excretado pelo leite. Esse excesso de azoto pode ser absoluto, no caso do nível de proteína da dieta das vacas ser excessivo, todavia, dados os preços das fontes de proteínas na dieta das vacas leiteiras serem elevados, este excesso absoluto de azoto hoje em dia será relativamente raro. O excesso de azoto pode também ser relativo a uma escassez de energia no rúmen, para que os microorganismos possam utilizar o azoto na síntese proteica, o que será a situação mais frequente. Os valores de referência encontrados na literatura internacional são por norma mais baixos dos que são encontrados frequentemente nos contrastes de explorações nacionais. É possível que isso se deva a calibrações diferentes dos equipamentos. De qualquer forma, nos contrastes nacionais, valores acima de 300 devem levar a uma verificação da dieta dos animais, em termos

de balanço entre energia e proteína.

Contagem de células somáticas Estes será um dos valores para os quais mais frequentemente se olha, e é relativamente imediato. Um dos pontos mais importantes das contagens de células somáticas é a divisão por fases da lactação. Deve ser dada especial atenção ao período até aos 60 dias de lactação, em comparação com as outras fases. No início da lactação, os animais deviam ter as contagens mais baixas de todos os animais em lactação, uma vez que acabaram de passar por um período seco em que foram submetidos a antibioterapia, para tratar infecções existentes e prevenir novas infecções. Com frequência no entanto, até aos 60 dias surgem as contagens médias mais elevadas. Isto prende-se normalmente com condições de higiene deficientes na maternidade, no local onde estão as vacas recém paridas e com balanço energético negativo antes e depois do parto, que reduz o estado imunitário dos animais.

Relatório Mensal de Gestão das Células Somáticas Outra das folhas que compõem as listagens do contraste leiteiro é o Relatório Mensal de Gestão das Células Somáticas, que contém a listagem de vacas problema. Nesta listagem surge alguma informação relevante para monitorizar a situação do efectivo. Os primeiros quadros permitem-nos saber qual a proporção de vacas em lactação sem mastites, correspondendo à

percentagem de animais abaixo das 200.000 células/ml de leite. Esta folha apresenta também o valor de perda diária de leite, em função das contagens de células somáticas médias do contraste e da produção actual. Esta perda é variável de acordo com o nível de células somáticas. A um aumento das 200.000 para as 500.000 células/ml de leite, corresponde uma perda diária de produção de cerca de 6% (NMC).

ruminantes julho . agosto . setembro 2014 59


Produção

TABELA 1 Lactações em Curso Produções Médias Diárias Lactações

Produção (kg)

Nº de Animais

dias lact.

leite

M. G

M. P.

1a Lactação

84

178

31,5

0,83

0,99

2,68

2 Lactação

68

147

35,8

1,09

1,15

3a Lactação

27

107

44,6

1,37

1,36

a

T. B. (%)

T. P. (%)

CCS

Ureia (mg/kg)

x 1.000

L. S.

3,17

308

128

3,4

3,00

3,22

329

111

3,1

3,07

3,06

301

51

2,0

4a Lactação

21

159

45,0

1,41

1,39

3,13

3,09

319

139

3,5

5a Lactação e seguintes

16

204

36,9

1,23

1,16

3,32

3,15

304

82

2,7

Média do Efectivo

216

159

36,2

1,07

1,14

2,95

3,15

315

108

3,1

Lactações até 60

60

34

39,7

1,20

1,23

3,00

3,09

289

104

3,1

Lactações de 61 a 120

40

90

42,5

1,18

1,26

2,78

2,96

317

66

2,4

Lactações de 121 a 180

36

146

37,4

1,07

1,19

2,85

3,18

338

128

3,4

Lactações acima de 180

80

294

29,9

0,92

1,00

3,09

3,34

322

131

3,4

A lista de vacas problema inclui vários parâmetros úteis para monitorizar a saúde do úbere no efectivo. Estes parâmetros incluem para além da contagem de células somáticas: • LS. As iniciais de linear score, uma conversão logarítmica da contagem de células somáticas. No fundo trata-se apenas de apresentar o resultado de outra forma, correspondendo um valor de 4.0 a contagens de células somáticas de 200.000 células/ml. • Número de vezes com LS>4. Esta coluna mostra o número de vezes que um animal teve uma contagem de células somáticas superior a 200.000 células/ ml durante a presente lactação. Dá-nos uma ideia

se a mastite subclínica que o animal apresenta, que se traduz por aumento da contagem de células somáticas, aconteceu pela primeira vez nesta lactação, ou se já é uma situação crónica. • Média de LS. Esta coluna permite ter uma noção da gravidade da mastite subclínica, pela média de células somáticas na presente lactação, convertida mais uma vez em linear score. Quanto maior for esta média, maior será a gravidade da mastite. Para além destas colunas, é bastante útil a informação acerca do número de dias em leite e do número de lactações, quando se tomam decisões quanto ao futuro dos animais na exploração.

Número de animais na primeira lactação Número médio de dias em lactação para as primíparas Número médio de dias em leite Contagem de células somáticas até aos 60 dias de lactação

conclusão O contraste leiteiro é uma excelente ferramenta para monitorizarmos o que está a acontecer no nosso efectivo. Deve no entanto ser olhado como um todo, já que todos os parâmetros estão interrelacionados de alguma forma. Consideremos por exemplo uma situação em que a ureia no leite é relativamente elevada. Simultaneamente, o teor de proteína do leite pode ser relativamente baixo, indicando risco de balanço energético negativo para alguns

animais. O balanço energético negativo pode levar a má performance reprodutiva, com aumento do número médio de dias em leite. Para além disso, o balanço energético negativo pode conduzir também a quebras imunitárias, com consequente aumento nas células somáticas. O contraste leiteiro permite no fundo monitorizar o efectivo quanto a vários parâmetros, alertando-nos para possíveis cenários na vacaria. Devemos lembrarnos no entanto que o contraste leiteiro não substitui um olhar atento aos animais!

Bibliografia: Mulligan, F. J., O’Grady, L., Rice, D. A., Doherty, M. L. (2006). A herd health approach to dairy cow nutrition and production diseases of the transition cow. Animal Reproduction Sience, 96:331-353. FIGURA 2 O número de vacas em cada lactação pode esclarecer sobre o nível de refugo na exploração.

60 julho . agosto . setembro 2014 Ruminantes

National Mastitis Council. The value and use of dairy herd improvement somatic cell count (http://nmconline.org/dhiscc.htm). Acesso em Março de 2014.


TestemuNhos de PRODUTORES E técnicos nacionais com experiência de vacas Procross Adelino Oliveira Produtor, Paço de Sousa

“O nosso ensaio com o Procross tem demonstrado melhor fertilidade e robustez. A produção é equivalente ás da raça Holstein frísia, tendo como contrapartida o aumento dos sólidos do leite (TP 3,7 e TB 3,9), sendo um bónus extra que o nosso comprador valoriza. Salientando que o encurtecimento do IPP e o aumento da longevidade, projeta uma menor taxa de refugo e maior número de partos na vida produtiva. Em suma, num menor curto prazo, atingiremos o nosso objectivo (crescimento do efectivo).”

Miguel Vieira e Manuel Vieira Sócios gerentes da Agro-Pecuária Irmãos Vieira, Lda., Ovar

“Iniciámos em Novembro de 2010, a utilização do Programa Genético de Valorização do Vigor Híbrido “PROCROSS”. Até Outubro de 2013 fomos analizando os poucos dados que foram aparecendo na nossa Exploração, junto com as diversas informações técnicas e dados de outros colegas Produtores de Leite Nacionais que já estavam mais avançados no “PROCROSS”. Em Outubro de 2013 e após visita a vários Estábulos Nacionais “PROCROSS”, decidimos alterar a nossa estratégia Genética para a utilização do Programa Rotacional “PROCROSS” a 100% conforme as recomendações Técnicas. Até ao momento estamos satisfeitos, pois todos os indicadores Técnicos estão dentro do previsto.”

Manuel Paulo

César Silva

Medico Veterinario, Vila do Conde

Sócio Gerente da Quinta do Muroz, S.A., Bebedouro - Arazede

“Tenho assistido através do programa PROCROSS a uma maior valorização dos vitelos e uma menor necessidade de intervenção veterinária dos animais em geral. Reprodutivamente são mais eficientes, reduzindo o IPP alcançam taxas de reposição muito interessantes. O objetivo de alcançar a máxima rentabilidade através da longevidade e saúde dos animais sem comprometer a produção, parece-me possível, através do uso dos melhores touros de cada raça que se conseguir alcançar.”

“Após visita a vários estábulos nacionais “PROCROSS”, de ter verificado e confirmado com os meus colegas, que a utilização da mais valia económica do vigor híbrido do programa rotacional “PROCROSS” é da maior importância para o aumento da rentabilidade do nosso negócio, decidimos, assim alterar a nossa estratégia Genética com a introdução do Programa “PROCROSS” na nossa Exploração de produção de Leite que começou a ser utilizado em 05-01-2012.”

Andreia Santos Médica Veterinária Responsavel da Cooperativa Agricola de Famalicão

“A desvalorização do valor de mercado dos animais de aptidão cárnica, há cerca de 6-7 anos atrás, redirecionou a procura de possíveis cruzamentos da raça Holstein com raças de aptidão mista. Vem desse tempo a nossa experiência com cruzas Holstein – Montbéliarde, Holsteins – Parda Suíça ou Holstein – Sueca Vermelha. Com as mais variadas características, todos encontraram um lugar nas explorações de leite e, de uma forma geral, são apreciadas pelos produtores, pelo carácter resistente e funcional. A resistência, sabe-se, tem origem no vigor híbrido que se obtém no cruzamento de duas raças diferentes. A introdução de uma terceira raça potencia essa característica. O comportamento de produção leiteira destes animais faz com que sejam menos susceptíveis a doenças metabólicas, as quais estão na origem dos grandes desequilíbrios no pós-parto. Enquanto assistente de explorações, encaro o crossbreeding através de programas de cruzamentos testados e comprovados como uma ferramenta de trabalho, que deve ser usada com critério, em resposta aos problemas que caracterizamos em cada exploração, com uma preocupação: cruzar os animais Holstein não é sinónimo de desvalorizar o valor genético da raça a usar, mas selecionar, a par dos melhores Holstein, os melhores Montbéliarde, Sueco Vermelho ou Pardo Suíço.”


entrevista

A VACA PROCROSS NA HOLANDA

Entrevista com Walter Liebregts da KOOLE & LIEBREGTS B.V. Heino, Holanda por ruminantes

A empresa holandesa K&L está há 20 anos no mercado da genética e conta atualmente com 25 colaboradores. O seu negócio centra-se na venda de sémen das raças Holstein Friesian, Montbéliarde, Jerseys e Vermelho Sueco, na Holanda; e Holstein na Europa e nos EUA. Entrevistado pela Ruminantes, Walter Liebregts, fundador e atual gerente, falou acerca dos principais problemas que afetam as explorações leiteiras holandesas no que se refere à genética. O mercado holandês de vacas leiteiras representa, segundo Liebregts, cerca de 2 milhões de animais e 18 mil produtores com uma média de 95 vacas por exploração. Os valores médios de produção por vaca são de 8.800 kg leite por ano, com 4,4% gordura e 3,5% de proteína. A genética

mais difundida é a Holstein mas, segundo o entrevistado, são cada vez mais os produtores que começam a cruzar as vacas. Referiu ainda que, atualmente, cerca de 15% do efetivo leiteiro holandês é inseminado com outra raça e que o crescimento anual de vacas cruzadas é de 1%. Para o gerente da K&L, o preço elevado da terra e da alimentação das vacas, aliados à tendência de crescimento do número de animais no seu país, fazem com que a eficiência alimentar seja um fator muito importante e em que os produtores terão que se concentrar nos próximos tempos. Com efeito, refere “muitas explorações novas foram construídas nos últimos três anos, e quando o sistema de quotas acabar, estas explorações serão preenchidas com mais vacas.”

62 julho . agosto . setembro 2014 Ruminantes

Ruminantes - O que mudou no negócio da genética na Holanda, nos últimos cincos anos? Walter Liebregts - Os agricultores começaram a verificar que a fertilidade das vacas e a vida produtiva está a piorar, há menos vacas gestantes e com maior número de doses por vaca gestante, e estão menos anos em lactação. Os produtores estão cada vez mais atentos ao problema do aumento da consanguinidade da raça Holstein, e a seleção genómica vai fazer acelerar este problema. Os agricultores querem vacas mais eficientes e mais saudáveis, e as cruzadas são muito melhores animais no que toca a eficiência e rentabilidade. Quais são os principais problemas de origem genética nas explorações leiteiras holandesas? A consanguinidade na população das vacas Holstein.


entrevista

Que têm feito os produtores para resolver esses problemas? Os cruzamentos são a única solução para resolver os problemas de consanguinidade. Que resultados de campo está a obter com o programa ProCross? Relativamente aos produtores holandeses que já estão no programa e dos quais analisamos regularmente os dados, podemos afirmar que, em média, registam uma melhoria substancial nos seguintes pontos: • Intervalos entre Partos (IPP): menos de 40 Dias • Células Somáticas: menos de 50.000/ml • Média das produções por dia igual à das vacas puras • Menos animais na recria devido ao refugo ser muito baixo • As vacas vivem em média mais de 1 ano • Custos de saúde: Despesas com veterinários e medicamentos reduzidos em 50% O conceito ProCross é bastante recente na genética leiteira. Acha que é um produto com condições para vencer? Porquê? Sim, claro que é um produto vencedor. Resolve muitos dos problemas de saúde originados pela consanguinidade. As três raças são as mais produtivas, e entre elas combinam-se muito bem nos pontos fortes e fracos de cada uma. Com o decorrer do programa, os produtores começam a confirmar através do acompanhamento dos principais indicadores económicos, reprodutivos, produtivos e de saúde, que tudo o que o programa Procross propõe está lá para seu benefício.

O ProCross implica a utilização de três raças diferentes, Holstein, Vermelha Sueca e Montbéliarde. Porque é que não são outras raças leiteiras? Devido à baixa produção das outras raças e também às diferenças no tamanho dos animais. As outras raças são demasiado pequenas para se trabalhar com elas num programa rotacional como o ProCross. Como explica as diferentes reações das pessoas ao conceito Procross na Holanda? Cada vez mais agricultores iniciam o programa ProCross com a nossa empresa. Outros ainda estão emocionalmente ligados às Holstein. Alguns grupos de veterinários já veem o nosso programa como uma prevenção para os problemas excessivos das Holstein e até têm sido bastantes favoráveis. Outros ainda o veem como uma ameaça ao seu modelo de rendimento económico. Os nutricionistas têm tido, até agora, uma atitude mais neutra. Como vê o negócio de genética na Holanda nos próximos cinco anos? Esperamos duplicar as nossas vendas a cada três anos. Quanto representam as vendas de sémen ProCross? Cerca de 90%. Que tipo de serviços presta aos produtores? Programas de emparelhamentos e distribuição de sémen diretamente nas explorações.

Todo-o-terreno com queda para a agricultura A Polaris apresentou, no passado mês de maio, novos produtos com aplicações possíveis na agricultura. Para o efeito, a marca norte-americana organizou uma prova todo-o-terreno na Herdade do Monte da Ribeira, em Reguengos, propriedade da Ervideira. Na gama ATV, a Sportsman 570 – modelo testado pela abolsamia - apresentase interessante para deslocações no interior de herdades, devido à sua rapidez e versatilidade. Este veículo está disponível para homologação como trator. Na gama RANGER, o modelo XP900 de 60 cavalos (off road) – que também testámos– apresenta-se mais potente, com o motor localizado sob a caixa de carga, fazendo com que a condução seja mais silenciosa. É possível efetuar a alteração de AWD (All Wheel Drive) para 2WD em andamento, sendo apenas necessário desacelerar. Este modelo tem a possibilidade de desbloquear o diferencial e permitir que as rodas de transmissão traseiras funcionem de forma

independente. Esta inovação facilita a rodagem em pisos sensíveis como estufas e relvas, permitindo ainda manobras em espaços apertados. A linha Full Size desta gama tem ainda uma versão a diesel, com motor Yanmar 900cc 3 cilindros, possuindo mais de 40 por cento de autonomia que o XP e uma maior capacidade de reboque. Este veículo tem bastante interesse para a utilização de gasóleo agrícola. A versão Crew, por sua vez, apresenta-se com a 570, 800 e 900. Esta última é idêntica à RANGER 900, atinge os 80 quilómetros/ hora e tem mais espaço para os passageiros atrás. A Polaris é uma empresa de origem norte-americana que nasceu em 1954, em Roseau, no estado do Minnesota, como fabricante de motos de neve. Está presente a nível mundial com mais de 12 filiais e 41 distribuidores. Em Portugal, as operações são geridas pela Polaris Ibéria, que tem 4 concessionários e 8 agentes, dependentes do Grupo MASAC.

ruminantes julho . agosto . setembro 2014 63


SAÚDE E BEM-ESTAR ANIMAL

Joaquim Cerqueira Escola Superior Agrária do Instituto Politécnico de Viana do Castelo

José Araújo Escola Superior Agrária do Instituto Politécnico de Viana do Castelo, Centro de Investigação de Montanha (CIMO) – ESA-IPVC

ORIENTAÇÕES PARA

AVALIAÇÃO DE RISCO Em bem-estar animal Autoridade Europeia de Segurança Alimentar A Autoridade Europeia de Segurança Alimentar (EFSA) foi criada em janeiro de 2002, e tem como principais atribuições o aconselhamento científico independente e o apoio à Comissão Europeia na criação de legislação para as políticas de segurança alimentar da UE. A EFSA tem realizado um trabalho fundamental na elaboração de pareceres independentes sobre os riscos associados à alimentação humana e animal,

fitossanidade, ambiente, saúde animal e bem-estar animal utilizando, sempre que possível, uma avaliação de risco. Além disso, uma das funções da Autoridade é promover e coordenar o desenvolvimento de metodologias de avaliação de risco uniformes, nas áreas mencionadas, auxiliando os investigadores, professores e alunos na orientação dos seus estudos nestas temáticas. Compete à EFSA contribuir para o desenvolvimento de normas, realizar a avaliação dos riscos num contexto global e promover medidas

64 julho . agosto . setembro 2014 Ruminantes

baseadas nos resultados obtidos ao nível do bem-estar animal. Saliente-se que o painel de peritos da área de Saúde e Bem-Estar Animal da EFSA aprovou 42 pareceres científicos sobre bem-estar animal, entre 2004 e 2012, nomeadamente no que se refere ao bem-estar de vitelos, suínos, vacas e espécies selvagens. A avaliação dos riscos para a saúde e o bem-estar dos animais, como um bem público, visa a proteção da saúde humana, do meio ambiente e a garantia dos benefícios económicos. O

Painel de Saúde e Bemestar Animal da EFSA é responsável por todos os aspetos de saúde e bemestar animal, relacionados principalmente com animais de produção na sua relação homem-animal-ambiente. Os protocolos de avaliação de bem-estar utilizados em trabalho de campo devem abranger os principais riscos identificados em pareceres científicos da EFSA. A integração da avaliação de risco com a aplicação das medidas baseadas nos animais, passa por um quadro metodológico da


SAÚDE E BEM-ESTAR ANIMAL

Avaliação de risco em bem-estar animal

EFSA, garantindo a definição e validação dessas medidas, recolha sistemática de dados de campo, assegurando a fiabilidade e robustez dessas medidas que poderiam ser usadas em sistemas de vigilância de bem-estar a nível europeu, permitindo ainda futuras avaliações.

Geralmente as patologias dos animais de produção apresentam uma etiologia multifatorial. Muitos dos fatores de risco interagem entre si e apresentam um carácter cumulativo, tendo cada exploração um conjunto de fatores de risco específicos. Por isso, uma análise individual por fator de risco, apesar de indicar uma tendência da avaliação, será redutora na sua análise estatística. Os fatores de risco podem ser externos (agentes ambientais) ou internos (intrínsecos ao animal). A avaliação dos riscos em bem-estar animal compreende três etapas: a avaliação da exposição, a identificação de perigos e as consequências associadas. Algumas avaliações consideram um único fator e um único resultado, no entanto para a avaliação dos riscos de bem-estar animal, deve equacionar-se muitas vezes a necessidade de incluir vários fatores em simultâneo, com ou sem interacção entre estes (Tabela 1). Os animais podem ser expostos em simultâneo ou sucessivamente a um ou mais fatores de risco, contribuindo para a mesma ou para uma variedade de consequência(s).

TABELA 1 Exemplos de fatores de risco de bem-estar e respetivas consequências (adaptado de EFSA, 2012b). Fator de risco único

Consequência única

Mycobacterium bovis Listeria monocytogenes

Tuberculose bovina Listeriose

Fatores de risco múltiplos

Consequência única

Agentes microbianos Higiene na ordenha Sistema de estabulação Nutrição Genética

Mastite

Fatores de risco múltiplos

Consequências múltiplas

Higiene na ordenha Sistema de estabulação Nutrição Agentes químicos Maneio animal

Mastite Claudicação Infertilidade Lesões Comportamento anormal

FIGURA 1 Fluxograma de princípios de bem-estar animal, algumas medidas baseadas nos animais e sua magnitude (adaptado de EFSA, 2012b).

Consequências da falta de bem-estar (exemplos)

Medidas de bem-estar (exemplos)

Magnitude (duração x intensidade)

duração

Cenário de exposição

• • • • • • • •

Fome Sede Conforto fisico Conforto térmico Lesões Doenças Dor Comportamento

A avaliação de risco para vários fatores pode ser efetuada isoladamente ou levar em consideração as possíveis interações entre diversos fatores (antagonismos, sinergias e seus efeitos), devendo a sua identificação ter por base a investigação científica. Nesta fase e de acordo com a causa dos riscos associados à população alvo, o objetivo consiste em obter uma listagem completa dos fatores relevantes com influência no bem-estar dos animais. É importante considerar o nível, a duração e a variabilidade de um fator de risco. As medidas de bem-estar baseadas nos animais (indicadores) são necessárias para avaliar as consequências dos problemas, dependendo a sua interpretação e avaliação da magnitude da patologia. As medidas podem ser realizadas por um produtor, por um técnico ou inspetor habilitado, sendo recomendável a consulta de publicações da EFSA (ex: avaliação de bem-estar em vacas leiteiras (EFSA, 2012a)). O diagrama seguinte ilustra as consequências da falta de bem-estar animal e algumas medidas de avaliação baseadas no animal. As pontuações de cada medida proporcionam uma avaliação da intensidade de cada problema de bem-

pontuação claudicação

Magnitude intensidade

pontuação higiene pontuação condição corporal

estar específico. A magnitude por sua vez resulta do binómio da duração e da intensidade de cada indicador mensurado (Figura 1). A caraterização do risco consiste em determinar a estimativa quantitativa e qualitativa do mesmo, incluindo as incertezas inerentes e a probabilidade de ocorrência de perigos para o bem-estar de uma determinada população, podendo igualmente ser realizada ao nível do indivíduo.

Mais Informação Para ter acesso aos pareceres científicos da EFSA é favor consultar o endereço eletrónico: www.efsa.europa.eu/en/panels/ahaw.htm

Bibliografia EFSA (European Food Safety Authority), 2009. Scientific Opinion of the Panel on Animal Health and Welfare on the overall effects of farming systems on dairy cow welfare and disease. The EFSA Journal, 1143: 1-38. EFSA (European Food Safety Authority), 2012a. Scientific Opinion on the use of animal-based measures to assess welfare in dairy cows. EFSA Journal, 10(1): 2554. EFSA (European Food Safety Authority), 2012b. Scientific Opinion on Guidance on Risk Assessment for Animal Welfare. EFSA Journal, 10(1): 2513.

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SAÚDE E BEM-ESTAR ANIMAL

Mas afinal o que é a CETOSE? POR ELANCO PORTUGAL

A cetose é um distúrbio metabólico, que está associado ao período de transição da vaca, período esse em que a vaca necessita de mais energia (para o desenvolvimento da glândula mamária, produção de leite, crescimento do feto, sistema imunitário e sua manutenção) e simultaneamente ingere menos concentrado, o que faz com que entre em balanço energético negativo e como não o consegue “ vencer”, o seu organismo vai mobilizar reservas corporais ( Nefas) que levarão à formação de corpos cetónicos no fígado. Em vacas leiteiras, o principal corpo cetónico é o BHBA. Daqui é de salientar a ideia que os sintomas de cetose surgem no pós-parto, mas claramente a origem desta é no pré-parto, daí ser fundamental a prevenção. Quando se fala de cetose há que considerar cetose clínica e subclínica. Tal como o próprio nome indica, cetose subclínica é aquela em que não há manifestação de sintomas por parte do animal. Ora aqui está o grande problema inerente a esta patologia, uma vez que não se evidencia clinicamente, muitas vezes não é detetada precocemente. É uma doença que surge com prevalência bastante significativa, mesmo em explorações com bom maneio e gestão. A cetose subclínica tem uma prevalência muito maior que a forma clínica; estamos a falar, em média, de 3% de prevalência cetose clínica para 30% de prevalência cetose oculta. Assim, se pensarmos

numa exploração com 100 vacas, há cerca de 3 vacas em que é possível observar os sintomas e diagnosticar a doença; contudo há 30 vacas que podem ter cetose e como não manifestam os sintomas passam despercebidas, o que permite que a patologia se desenvolva e agrave. São muitas as consequências associadas á cetose, tais como: diminuição da produção de leite (menos de 350l/vaca afetada), Quebra na reprodução (potencia o aparecimento de quistos ováricos, conduzindo à infertilidade), deslocamentos de abomaso, metrites, maior taxa de refugo de vacas e/ou novilhas. A grande consequência da cetose subclínica é o forte impacto económico, que se traduz por elevados prejuízos para o produtor, podendo chegar aos 600 euros por vaca afetada.

Então como é possível fazer um diagnóstico rápido e concreto de cetose subclínica? Para ajudar os veterinários e produtores a identificar cetose subclínica nas suas explorações, a Elanco lançou um

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Kit denominado Keto-Test, que se pode realizar na própria exploração. Este Kit de diagnóstico foi apresentado no colóquio e explicado o seu modo simples e fácil de manusear. São apenas necessários breves minutos para obter uma avaliação precisa da presença de cetose subclínica. Consiste num Kit de 20 tiras colorimétricas. Assim, mergulhando a tira num recipiente com leite durante pouco mais de 1 minuto, vai surgir uma cor entre amarelo a roxo intenso no topo da tira; quanto mais intensa a cor roxa, maior a concentração de BHBA no leite e logo mais grave é a cetose. Obtém-se um resultado positivo quando a concentração de BHBA é superior a 100 micromoles/ litro leite, resultado esse que se revela por uma tonalidade que não se altera após a realização do teste. A quando da realização do teste, há uma folha de registos que deve der preenchida; nessa ferramenta deve-se registar o número de vacas testadas e dessas as positivas. Se a prevalência for acima dos 25% - sinal de alarme – é necessário consultar o médico Veterinário. O Keto-Test pode ajudar não só a diagnosticar cetose subclínica em vacas e novilhas em risco, como também a realizar uma monitorização regular da exploração. Conhecer a prevalência de cetose oculta

pode ser o primeiro passo para decidir e implementar estratégias de prevenção que permitam reduzir o nível de e o impacto da cetose na exploração. É sem dúvida um teste semiquantitativo muito prático, podendo ser realizado quer pelo veterinário quer pelo produtor, sendo o único método de diagnóstico de cetose subclínica no leite, existente no mercado. Uma das principais vantagens desta prova é que é realizada no leite sendo assim mais prático do que os outros testes existentes no mercado. Não promove qualquer tipo de stress à novilha ou vaca e é muito simples e fácil de efetuar. Para além disso, os resultados obtidos com este teste têm uma ótima correlação com os obtidos na análise laboratorial de sangue.

conclusão No final deste evento sumarizaram-se as seguintes conclusões: • Prevalência cetose subclínica ronda os 30%. • Muitas consequências que acarretam muitas perdas financeiras para o produtor. • É possível diagnosticar no leite cetose subclínica: keto-test. • É fundamental pensar e adotar a prevenção, para isso pode contar com uma solução inovadora Elanco!


O que aconteceria se um terço das vacas dos seus produtores tivessem um s€gr€do?

A cetose oculta não se vê, mas existe. Estudos recentes indicam que pode afetar aproximadamente 30% das vacas, inclusive em explorações com um adequado maneio. Enquanto não se manifesta com sintomas visíveis, provoca custos. A cetose oculta é prejudicial para a saúde das vacas, para o rendimento reprodutivo, para a produção de leite e a sua qualidade. Pode trazer custos, desde 250€ até 600 € por vaca. O Keto-Test é uma prova de leite rápida e fácil que ajuda os produtores a controlar esta ameaça oculta na sua exploração. E nós podemos ajudá-lo, dando-lhe recomendações e proporcionando ferramentas para o controlo integral da exploração. Para obter informações acerca da possibilidade em oferecer um serviço de mais valia aos seus produtores, entre em contacto com um representante da Elanco. A etiqueta de Keto-Test contém toda a informação sobre a sua utilização, incluindo as advertências. Leia, compreenda e siga sempre as instruções de manuseamento e a etiqueta. Prevalência de cetose: Macrae, A.I. y col. Prevalence of clinical and subclinical ketosis in UK dairy herds 2006-2011. Congreso Mundial de Buiatría, Lisboa, Portugal, 2012; Auditoria numa exploração da Elanco, 2011, n.º GN4FR110006. Dados arquivados. Redução na quantidade de leite: Ospina 2010. Association between the proportion of sampled transition cows with increased nonesterified fatty acids and ß-hydroxybutyrate and disease incidence, pregnancy rate and milk production at the herd level. J. Dairy Sci. 93:3595-3601. Diminuição da ferilidade: Walsh 2007. The effect of subclinical ketosis in early lactation on reproductive performance of postpartum dairy cows. J. Dairy Sci. 90:2788-2796. Qualidade do leite: Duffield 2000. Subclinical ketosis in lacating dairy cattle. Vet. Clin North Am. Food Anim. Pract. 16:231-253. Risco de reposição: Leblanc 2010. Monitoring metabolic health of dairy cattle in the transition period. J. Reprod. Dev. 56:S29-S35. Deslocamento do abomaso, metrites e cetose clínica: Duffield 2009. Impact of hyperketonemia in early lactation dairy cows on health and production. J. Dairy Sci. 92:571-580. Ovários quísticos: Dohoo 1984. Subclinical ketosis prevalence and associations with production and disease. Can. J. Comp. Med. 48:1-5. Retenção de placenta: Leblanc 2004. Peripartum serum vitamin E, retinol and beta-carotene in dairy cattle and their associations with disease. J. Dairy Sci. 87:609-619. Custos e prevalência: Esslemont, R.J. The Costs of Ketosis in Dairy Cows. Congresso Mundial de Buiatria, Lisboa, Portugal, 2012. Elanco, Keto-Test e a barra diagonal são marcas registadas própias ou autorizadas por Eli Lilly and Company, suas filiais ou afiliados. Keto-Test™ é uma marca registada de Elanco Animal Health. Fabricado por SKK, Japón. © 2012 Elanco Animal Health. WECTLKTO00021 Elanco Lilly Portugal – Produtos Farmacêuticos, Lda. – Rua Cesário Verde, 5 - piso 4 – Linda-a-Pastora – 2790-326 QUEIJAS – Tel.: 21 412 66 40 – Fax: 21 410 99 44


Saúde e bem-estar animal

Ana Paula Peixoto Med. veterinária - Anavet-serviços veterinários, Lda anapeixoto@hotmail.pt

Hidroterapia O único método capaz de elevar um bovino, mantendo-o confortável durante várias horas, sem causar lesões de pressão adicionais, é a flutuação em água morna.

síndrome da vaca caída O síndrome da vaca caída é um problema grave que acontece com alguma frequência nas explorações leiteiras. O diagnóstico das possíveis causas deste síndrome e o sucesso do tratamento continuam a ser um desafio para o produtor e veterinário assistente, com resultados positivos aquém do esperado. O síndrome da vaca caída caracteriza-se pela vaca incapaz de se levantar, normalmente em decúbito esternal, a comer, beber e alerta.

Este síndrome tem etiologia múltipla, que inclui traumatismos (lesões musculo esqueléticas primárias, injúrias pélvicas resultantes de parto distócico), problemas metabólicos (hipocalcémia, hipofosfatémia, fígado gordo), disfunções neurológicas (lesões medulares ou do sistema nervoso central (SNC)) e toxémias severas associadas a doenças infecciosas. Apesar da etiologia multifactorial, este ocorre imediatamente antes ou depois do parto, sendo que 97% das vacas caídas surgem até 100 dias pós-parto. Os partos difíceis são a causa mais comum.

FIGURA 1 Animal durante a hidroterapia, tanque adaptado.

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A vaca caída alerta é o resultado de um animal que foi submetido a uma abordagem inicial, para tratamento da doença primária, mas que continua em decúbito. Este decúbito prolongado causa uma lesão muscular/nervosa e tendinosa, particularmente se o animal está caído numa superfície dura, escorregadia e se mantém na mesma posição durante muitas horas. Uma compressão prolongada dos músculos conduz a uma “morte localizada dos tecidos vivos”, lesão celular e inflamação, e que consequentemente conduzem a uma tumefacção, com aumento adicional de pressão, limitando a perfusão sanguínea dos tecidos, provocando diferentes graus de lesões musculares e nervosas locais. À medida que a compressão nervosa aumenta, a condução nervosa é altamente prejudicada e eventualmente perdida, secundariamente o animal nunca mais se levanta. Estas lesões são sempre mais acentuadas nos membros posteriores por suportarem mais peso. O decúbito agrava sempre a lesão muscular, por isso um animal caído deve ser colocado numa cama “mole” e confortável. Em

condições normais o animal vai trocando de posição por forma a suportar o seu peso, prevenindo desta forma as lesões musculares/nervosas. Tradicionalmente existem várias formas para levantar os animais, tais como as “pinças da anca”, “cintas”, colchões insufláveis, entre outros métodos. Todas estas formas de elevar o animal são temporárias, de aplicação rápida, de forma a não causar traumas adicionais. Todos estes métodos falham e causam lesões de pressão adicionais quando aplicados durante algum tempo.

flutuação em água morna Desta forma, o único método “humano” capaz de elevar um bovino, mantendo-o confortável durante várias horas, é a flutuação em água morna. Estima-se que a vaca só deve levantar 10% do seu peso corporal, devido à força da flutuação da água. A água morna por si só tem efeitos terapêuticos estimulando a circulação nas zonas musculares comprimidas. No entanto na nossa realidade nem sempre os animais são


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colocados em água morna, dependendo do proprietário e das condições climatéricas, pois os “tanques” utilizados são “adaptados” às nossas condições (ver figura 1 e 2). No campo, colocamos o animal com a ajuda da “Pá frontal do Trator” e deixamos a cintas colocadas, de forma a que no final do tratamento possamos retirar o animal, pois os “tanques” são “adaptados” e não têm “portas”. Os animais com este síndrome devem ser avaliados para determinar se são candidatos à flutuação. Animais com fracturas, compressão medular severa, rupturas musculares, paralisia nervosa ou doença sistémica grave não devem ser submetidos a hidroterapia. Apesar da flutuação não curar nenhuma desta doenças, em determinados animais permite-nos efectuar um diagnóstico definitivo, de forma a evitar mais sofrimento ao animal e continuar com vários dias de tratamento sem sucesso. Os animais que submetemos a hidroterapia e na primeira flutuação não suportam o tratamento, que se debatem constantemente, não aguentam a estação mesmo na água, demonstrado ainda mais sofrimento, devem ser imediatamente eutanaziados. Os animais que submetidos a hidroterapia, que suportam a estação, mesmo por vezes apoiando-se nas paredes do “tanque” (lado do animal lesionado), começam a comer e tentar ganhar coordenação motora nos membros lesionados, são os melhores candidatos à recuperação. Estes animais não apresentam sofrimento e transmitem uma sensação de “bem- estar”, começando a comer e a ruminar. No final do tratamento, quando os retiramos da água, e estes conseguem ficar em estação, existem animais que “parecem felizes”….

No entanto, muitos destes animais têm que ser submetidos vários dias a flutuação, por vezes 10 dias consecutivos, várias horas por dia, começando em quatro horas até oito horas, aumentando a duração ao longo dos dias. No final dos tratamentos, ao retirarmos os animais, estes devem ser colocados em terrenos não escorregadios, pois a primeira tentativa uma vez fora do “tanque” é tentar andar. Por vezes é neste preciso momento que o animal acaba por se lesionar gravemente. Normalmente o membro contra-lateral ao membro lesionado vai suportar todo o peso, e é exactamente no momento em que sai da flutuação que o animal se lesiona, se não tivermos os devidos cuidados, como colocar o animal num local de cama “mole” não escorregadia, e limitarmos os movimentos iniciais do animal que ainda esta a tentar a coordenação motora. No tempo frio os animais devem ser protegidos quando saem da flutuação, pois as diferenças de temperatura podem causar uma doença secundária ao tratamento. A hidroterapia é um método muito trabalhoso e nem todos os proprietários apresentam disponibilidade para o realizar. No entanto, quando optamos por este tratamento a sua taxa de sucesso sobe quanto mais cedo é aplicado, antes do desenvolvimento de graves miopatias ou neuropatias. Um dos principais motivos para o insucesso deste tratamento é a decisão em aplicá-lo, pois quando o decúbito continua ao longo dos dias as lesões secundárias já são irreparáveis, e no momento em que decidimos já é tarde demais. No final de 12 horas de decúbito, se o animal está alerta e é um bom candidato à flutuação deve

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Saúde e bem-estar animal

ser imediatamente submetido ao tratamento, como forma de aumentar a taxa de sucesso. Os animais que recuperam voltam a ter uma vida produtiva normal. Os melhores candidatos são os animais jovens, no entanto alguns animais com várias lactações recuperam completamente. A taxa de sucesso na nossa opinião ronda os 50%, se aplicado prontamente. A hidroterapia pelo trabalho que requer não é um método muito atractivo, no entanto se salvamos alguns animais, regressando estes a uma vida produtiva normal, economicamente é viável e rentável permitindo uma certa realização pessoal. Um animal produtivo nunca pode ser visto como um animal de estimação, no entanto entre tentar o

tratamento ou a eutanásia, se existe alguma possibilidade, embora algo remota, porque não tentar? Azaradamente alguns produtores nunca tem sucesso neste tratamento, por isso por vezes é considerado como uma “loucura” e uma perda de tempo. No entanto outros conseguem recuperar aproximadamente 50% dos animais e consideram um método útil. Neste momento os “tanques “ disponíveis não apresentam as melhores condições e arranjar água morna é uma tarefa complicada, mas vamos sempre tentando.

FIGURA 2 Animal durante a hidroterapia, tanque adaptado.

Bibliografia: Para ter acesso às referências bibliográficas basta consultar o autor.

Lã suja pode ser convertida em fertilizante

A MANQUITA Um dos temas mais abordados actualmente é a rentabilidade de uma exploração e o setor do leite não é exceção. Qualquer produtor tem como objectivo, maximizar o potencial genético de uma vaca e assim obter a maior produção de leite possível durante a vida útil desse animal. Existem valores padrão que nos ajudam a avaliar um animal, no entanto há animais que nos surpreendem com a sua capacidade de produção, como acontece com a vaca de nome Manquita, que se encontra na vacaria do Sr. Francisco Muga, no Planalto Mirandês. Ao longo dos seus onze anos de vida, já

produziu 113 151 litros de leite e encontra-se no primeiro trimestre da oitava lactação. Mas esta não é a única alta produtora que encontramos na vacaria do Sr. Francisco Muga. A Canadiana é uma vaca mais nova, mas produziu até ao momento, 91 347 litros de leite em sete lactações. A produção de leite é influenciada por um vasto leque de factores, desde aspectos genéticos, ambientais, nutricionais, instalações e maneio. Este conjunto de aspectos associados a muito trabalho e dedicação permitem ao Sr. Francisco Muga obter altas produtoras. Por Rosemary Carvalho

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O projeto “GreenWoolf”, coordenado pelo Instituto de Macromoléculas de Turim, e financiado pelo programa europeu Life +, tem como objetivo desenvolver um sistema inovador de hidrólise capaz de transformar a lã em fertilizante ecológico. A lã suja, um subproduto que resulta da tosquia, e que até aqui apenas constituía um custo para o produtor, obrigado a recolhê-la do campo e a eliminá-la, pode, através desta tecnologia, ganhar valor comercial ao ser reciclada e utilizada na fertilização do solo. Ao sujeitar a lã a temperaturas elevadas, obtém-se biomassa que atua como fertilizante natural, aumentando o carbono e a capacidade de retenção de água no solo. O projeto, que será desenvolvido num prazo de três anos, conta com uma verba de um milhão de euros. A longo prazo, espera-se que a experiência piloto entre no mercado real e que a utilização desta tecnologia possa gerar emprego nos países detentores de grandes rebanhos de ovelhas.

Para mais informações www.agrodigital.com


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A SANOFI COMPANY

A castração POR José Miguel Lopes Jorge, Merial Portuguesa - Saúde Animal, Lda lopes.jorge@merial.com

Avaliação do desconforto com base em critério zootécnico

Avaliação do desconforto com base em marcadores bioquímicos

Durante o ensaio foi medido o ganho médio diário de peso (GMD) dos animais, dos diferentes lotes, antes e depois da castração. Os resultados confirmam os obtidos em ensaios anteriores: o desconforto consecutivo a uma intervenção cirúrgica tem repercussões no GMD dos animais em crescimento. A diminuição do GMD é significativa durante a primeira semana a seguir à intervenção: 890 g de diferença entre o lote testemunha e lote castrado sem tratamento. O lote castrado com anestesia local demonstrou também um GMD negativo durante a semana seguinte à operação. Os animais só atingiram o seu peso inicial no decorrer da segunda semana, enquanto o lote tratado com AINE obtém desempenhos de crescimento positivos nos dias seguintes à cirurgia.

O cortisol é um marcador de desconforto quase instantâneo. No momento da castração cirúrgica, a sua concentração sanguínea aumenta rapidamente e mantém-se num nível elevado durante umas doze horas após a operação. A haptoglobina é um marcador de desconforto crónico, mais tardio e persistente. É também um marcador precoce da inflamação. A concentração sanguínea em haptoglobina, normalmente nula ou próxima de zero nos bovinos, aumenta nas 24 horas seguintes à castração, e é máxima cerca do terceiro dia. Com base nestes indicadores, um ensaio conduzido na Irlanda mostra que a utilização de AINE durante a castração permite um melhor controlo do desconforto do que uma anestesia local, quer imediatamente (cortisol nas primeiras 12 horas após a intervenção; Gráfico 1), quer de forma prolongada (haptoglobina nos 3 dias após a intervenção, Gráfico 2).

Em resumo Durante a castração cirúrgica a anestesia local não é suficiente para gerir o desconforto do animal. A

GRÁFICO 2 1,4

1,4

D1

1 0,8 0,6

p<0,05 - vs castrado - vs castrado + anestesia local

0,4 0,2 0

Testemunha não castrado

D3

1,2

Haptoglobina (g/dl)

Haptoglobina (g/dl)

1,2

1 0,8 0,6

12 horas

200 150

p<0,05 p<0,05

100

50

0

GRÁFICO 3

319 250

-130 p<0,05

-500

utilização de AINEs com acção anti-álgica (limitação da dor) diferenciada (ex: cetoprofeno) no momento da castração permite: • Acção rápida e prolongada na diminuição do desconforto. • Manutenção de um desempenho de crescimento (GMD) positivo após a intervenção.

p<0,05 - vs castrado

0,4 0,2 0

Castrado

GRÁFICO 1

Cortisol (ng/ml.h-l)

no momento da castração.

GMD médio de D1 a D7 (g)

A castração dos bovinos machos é uma prática corrente em numerosos países. Não só tem influência na qualidade da carne, mas também facilita a gestão da produção, reduzindo consideravelmente os comportamentos sexuais e a agressividade observados nos lotes não castrados. Dependendo da conveniência do operador e tendo em conta a idade dos animais, podem ser escolhidas várias técnicas: constrição com o auxílio de um elástico, esmagamento do cordão espermático usando uma pinça ou ablação cirúrgica dos testículos. O desconforto consecutivo à castração traduz-se, nas horas e dias que se seguem, por um aumento do cortisol, redução dos desempenhos zootécnicas e depressão imunitária. A castração cirúrgica é o método que provoca uma resposta mais forte do cortisol. A legislação de alguns países impõe que a castração cirúrgica seja precedida de uma anestesia local. Esta última pode ser utilmente prolongada ou até substituída pelo emprego de anti-inflamatórios não esteróides (AINEs) com acção anti-álgica (limitação da dor) diferenciada (ex: cetoprofeno)

Castrado + anestesia local

Castrado + AINE

Bibliografia “Effects of ketoprofen alone or in combination with local anaesthesia during the castration of bull calves on plasma cortisol, immunological, and inflammatory responses” B. Earley, M. Crowe J.Anim.Sci.2002.80.

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Clamidíase em pequenos ruminantes A comumente designada clamidiose ou clamidíase é uma doença causada por bactérias gram negativas intracelulares de nome Chlamydofila psittaci e Chlamydofila pecorum. POR Inês Ajuda, Ana Vieira e George Stilwell AWIN – Animal Welfare Indicators, Faculdade de Medicina Veterinária, Universidade de Lisboa awinportugal@gmail.com

Estes agentes ainda continuam a ser estudados, sendo que estão constantemente a ser divulgadas novas informações. Este texto pretende fazer um apanhado geral do conhecimento actual sobre esta doença, para que possa auxiliar na sua prevenção e combate, nas explorações de pequenos ruminantes.

Quantas formas há desta doença? Estes microrganismos afectam tanto cabras como ovelhas, bem como outras espécies (aves, bovinos, humanos, etc), sendo que a sua expressão clínica apresenta várias formas, entre as quais as principais são: 1. Reprodutiva 2. Respiratória 3. Articular 4. Ocular

Reprodutiva Esta forma caracteriza-se nas fêmeas por aborto e nos machos por afecções do aparelho reprodutivo, nomeadamente epididimites e orquites. É a forma mais conhecida da doença e aquela com maior impacto na produção de pequenos ruminantes, uma vez que causa grandes prejuízos, podendo 25% a 60% das fêmeas abortarem durante

um surto. É uma das causas de aborto mais prevalente em pequenos ruminantes apresentando uma distribuição mundial. O aborto dá-se apenas a partir dos 90 dias de gestação, sendo mais comum no último mês. Mesmo que o animal já esteja previamente infectado, o aborto só se dá nesta altura da gestação devido à multiplicação do agente nos cotilédones da placenta, impedindo o fornecimento de nutrientes ao feto. Estes surtos acontecem geralmente aquando da entrada de novos animais na exploração, expondo os animais que já estavam na exploração, ou os novos animais, a um agente com o qual nunca tinham contactado e contra o qual não possuem imunidade. Podem no entanto existir fêmeas que contactam com a bactéria apenas no último trimestre da gestação, mantendo-se num estado de latência até à época de partos seguinte. Após a infecção o hospedeiro torna-se imune à doença durante cerca de três anos. Nas fêmeas os sinais clínicos desta forma de clamidíase estão quase todos relacionados com o aborto. As fêmeas podem apresentar, 2 a 3 dias antes de abortarem, febre, falta de apetite e corrimento sanguíneo vaginal. Podem abortar o feto intacto ou em decomposição, bem como

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FIGURA 1 Placenta típica de uma fêmea com Clamídia com placentomas de várias colorações (www.uoguelph.ca).

fazer retenção de placenta. Apesar de não existirem lesões características no feto, as lesões na placenta são bastante típicas: espessamento e manchas com diversas colorações (brancos, cinzentos, amarelos e vermelhos) nos placentomas (ver Figura 1). De notar, que quando a clamidíase se torna enzoótica numa exploração (por exemplo depois do primeiro surto de abortos) a percentagem de abortos por época de partos pode baixar para taxas entre 1 a 15%. Quanto aos machos, sabe-se que pode causar infecções a vários níveis do trato reprodutivo, levando a sinais como um edema da

zona testicular, aumento da temperatura e recusa em montar. Ou seja, poderá causar uma muito baixa taxa de gestação no efectivo.

Respiratória É uma forma mais rara da doença e normalmente está associada às outras formas da mesma. Os animais aparecem deprimidos, febris, com tosse seca, descarga nasal, dificuldade respiratória e, por vezes, com diarreia. Durante um surto da doença a forma


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respiratória é mais provável nos animais mais jovens.

Articular Pensa-se que esta forma é causada essencialmente pela espécie Chlamydophila pecorum, sendo frequentemente descrita em engordas intensivas de borregos nos Estados Unidos. Atinge animais entre um mês a oito meses de idade, sendo mais comum entre os três e os cinco meses. Normalmente estes animais surgem com febres muito altas (podendo chegar aos 42 ºC), relutância em mexerem-se, prostrados, claudicantes e com as articulações inchadas. Surge muitas vezes juntamente com a forma ocular. Está associada a uma morbilidade de 80% e a uma mortalidade de 1%, sendo que há uma resolução dos sinais clínicos, mesmo em animais não tratados, num prazo de 10 a 14 dias, podendo alguns ficar a coxear de um ou mais membros.

ocular Apresenta-se como uma conjuntivite muito semelhante à conjuntivite causada por Micoplasmas (ver Figura 2). Esta forma aparece normalmente relacionada com doença sistémica, ou seja, não só aparece mais comumente nos dois olhos (80% dos casos), como está associada a pelo menos a uma das formas da doença referidas acima. Uma característica que pode ser difícil de detectar na prática, mas que é referida na teoria, é a presença de lesões esbranquiçadas que se tornam rosas ou avermelhadas, na zona superior do globo ocular, por baixo da pálpebra superior.

FIGURA 2 Queratoconjuntivite pode ser causada por diversos agentes e apresentar sinais semelhantes. Um desses agentes é a Chlamydofila psittaci (www.sheepandgoat.com).

Como se transmite esta doença? As várias formas da doença discutidas acima têm mecanismos de transmissão/ contágio semelhantes. Todos os animais infectados podem eliminar os agentes através de secreções vaginais, uterinas (ou esperma no caso dos machos), urina, fezes, secreções oculares e nasais. Sabe-se ainda que aves, como o pombo e o pardal-comum, são reservatórios da bactéria e que carraças e outros insectos podem também transmitir a doença. No caso da forma reprodutiva as fêmeas que abortam excretam o agente durante pelo menos três semanas após o aborto, sendo que algumas podem vir a excretá-lo durante o estro. Os machos infectados eliminam bactérias através do esperma pelo menos até 29 dias após a infecção. Em feedlots de borregos descobriu-se que podem existir até 50% de animais a eliminar bactérias sem qualquer tipo de sinal clinico.

acompanhado ou não por sinais clínicos e lesões típicas da placenta. Para tornar o diagnóstico definitivo o melhor método é a cultura do microrganismo a partir das secreções, sendo que este método é actualmente mais referido para o tecido fetal ou placenta, ou, caso não seja possível nestes, através das secreções vaginais. No entanto, também é possível fazer uma pesquisa de anticorpos no sangue (ELISA ou imunofluorescência), não sendo este diagnóstico tão conclusivo. Como apenas a presença de anticorpos não é suficiente para diagnosticar a doença, é necessário colher amostras de sangue em alturas diferentes da manifestação da doença e confirmar o aumento dos níveis de anticorpos. Por exemplo, no caso da forma reprodutiva, o sangue deve ser colhido na altura do aborto e novamente 2 a 3 semanas mais tarde, tanto de fêmeas que abortaram como de fêmeas que não abortaram, para que se possa traçar um perfil antigénico da exploração a fim de chegar a uma conclusão (ver Tabela 1).

Há algum tratamento? Existem vários tratamentos antibióticos que funcionam contra este agente, devendo o médico-veterinário assistente decidir pela melhor opção para cada caso. No entanto, devido às graves

consequências desta doença, não só a nível sanitário, como económico, e ao nível do bem-estar animal (como aborto, claudicação e lesões pulmonares crónicas), deve-se apostar essencialmente na prevenção.

Como podemos preveni-la? Existem vacinas mono ou polivalentes disponíveis no mercado. Até agora não existe nenhuma que seja 100% eficaz na eliminação da doença, pelo que poderão ainda existir abortos devidos a clamidíase após a vacinação. As vacinas têm algumas condicionantes e podem causar algumas reacções, pelo que o programa vacinal deve ser sempre efectuado em colaboração com o médicoveterinário assistente da exploração. Os animais que abortam na exploração devem ser separados do rebanho, pelo menos durante três semanas, e o material biológico derivado do aborto deve ser queimado. Devem também ser tomadas medidas para evitar a contaminação da comida e da água, como sejam não fornecer o alimento no chão nem em comedores para onde os animais consigam subir. Evitar ainda a contaminação da água de bebida (furos e poços) e a coabitação dos ruminantes com aves como os pombos ou galinhas.

TABELA 1

Material que é necessário colher num surto de abortos para confirmar a presença de Chlamydofila psittaci 1 – Placenta e feto conservados em gelo.

Como podemos diagnosticá-la?

2 – Esfregaço vaginal até 3 dias após o aborto (caso não existam, placenta ou feto).

O diagnóstico é geralmente feito através da história de um surto de aborto

3 – Amostras de sangue de fêmeas que abortaram e de fêmeas que não abortaram.

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equipamento

Conforto e Longevidade dos animais Depois de 130 anos a servir os produtores de leite em todo o mundo a visão da DeLaval para o futuro é que devemos tornar possível a produção sustentável de alimentos. POR José Santoalha - Harker XXI, SA jose.santoalha@harker.com.pt

Isto consegue-se com a redução da pegada ambiental das explorações agrícolas, o aumento da produção de alimentos, a rentabilidade agrícola e melhorando o bem-estar das pessoas e animais. A DeLaval apresenta soluções para “Cow Longevity”, Longevidade das vacas com as melhores práticas para aumentar o tempo de vida dos animais.

quatro pilares da actividade leiteira Sustentável As melhorias que fortalecem os quatro pilares da actividade leiteira Sustentável são:

Longevidade e Rentabilidade Uma lactação saudável adicional aumenta o tempo disponível para a vaca pagar o investimento com a recria (15-20% do total das despesas relacionadas com a produção de leite) e começar a gerar lucro. O investimento na recria e uma vida longa e produtiva do rebanho é naturalmente vantajoso para recuperar o investimento na produção de leite. O aumento do tempo de vida produtiva média do rebanho, por mais uma lactação saudável, aumenta a produtividade em 13%. Isto corresponde a um aumento da rentabilidade de 110 euros por vaca no rebanho e ano.

Longevidade e Bem-estar Animal Retirando as causas por abate involuntário, as outras três principais razões são a infertilidade, mastite e

claudicação, que irão melhorar significativamente com o bem-estar animal. A ciência tem demonstrado que as melhores práticas de gestão resultam em melhorias significativas no bem-estar animal e rentabilidade da exploração. A doença e lesão são problemas de bem-estar óbvios, e a claudicação é amplamente reconhecida como o problema mais grave para o bem-estar de vacas leiteiras. Recentemente, a Autoridade Europeia para a Segurança dos Alimentos concluiu que a falha reprodutiva é devida essencialmente a problemas de saúde, e também pode ser um indicador de bem-estar animal baixo. Assim, as altas taxas de refugo involuntário numa exploração indicam um baixo nível do bem-estar animal.

Longevidade e Responsabilidade Social Todas as questões de bem-estar das vacas leiteiras

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associadas ao abate e à morte são uma das principais fontes de má publicidade para a produção leiteira. Assim, as normas de bem-estar animal para vacas leiteiras têm de reduzir estas ocorrências. Um excelente conforto e gestão também melhora a qualidade de vida das pessoas. A gestão e a melhoria da saúde e longevidade vão contribuir para a diminuição do consumo de antibióticos, o que representa outro grande benefício.

Longevidade e Sustentabilidade O impacto ambiental da produção de leite é reduzido quando a longevidade de cada vaca e a eficiência da produção de leite são melhoradas. As doenças, para além do impacto negativo na produtividade e longevidade da vaca, reduzem a eficiência global da produção de leite e aumentam o impacto ambiental da indústria de lacticínios.

Conclusões: A substituição controlada de vacas por novilhas saudáveis e ​​ produtivas paridas pela primeira vez, é o motor de toda a luta do produtor de leite para manter a rentabilidade; Numa base anual 35 - 40 % das vacas no rebanho são substituídas. Destas, 70 - 80% são abatidas devido à saúde, predominantemente mastites e claudicação, ou problemas de fertilidade; 15-30% das vacas de descarte involuntário deixam o rebanho durante os seus dois primeiros meses de lactação, e até 25 % do involuntário abatidos morrem; É preciso pelo menos uma lactação para recuperar o investimento na compra e / ou criação de uma novilha; Aumentar o tempo de vida produtiva média do rebanho, mantendo as vacas no rebanho por mais uma lactação saudável, é aumentar a produtividade do tempo de vida média por dia em cerca de 13%. Isto corresponde a um aumento da rentabilidade de 110 euros por cada vaca no rebanho e ano; Os problemas de saúde subjacentes (mastite, infertilidade e claudicação) levam os produtores a abater os seus animais a um alto custo. Como exemplo, a claudicação custa 220 euros por caso e a prevalência média muitas vezes ultrapassa 20%; Abate e mortes no início da lactação custam até 740 euros por caso (não incluindo as perdas na produção de leite). Os esforços para reduzir as taxas de mortalidade e melhorar a saúde no início da lactação são muito rentáveis; Proporcionar conforto e excelentes práticas de gestão, melhora a rentabilidade e a qualidade de vida para as pessoas que trabalham na exploração leiteira. Também melhora a imagem pública, bem como reduz o impacto ambiental da produção de leite.


equipamento

para conseguir atingir o objectivo de maior Longevidade das Vacas, a DeLaval apresenta as suas soluções A Longevidade pode também ser vista pela Qualidade do Leite

Controlador do Sistema de Estabulação BSC É o cérebro que comanda o estábulo! O BSC ajuda automaticamente a criar as condições ambientais óptimas dentro do estábulo em qualquer momento do dia ou da noite e em todas as condições climatéricas possíveis. Ventilação, luminosidade, estação meteorológica, sensor de humidade, sensor de chuva. O BSC centraliza todos os comandos e todos os sensores. É um mini-computador que pode ser ligado ao PC da exploração e ao Smartphone. As condições ambientais internas do estábulo supervisionam-se e regulam-se para alcançar um índice de temperatura e humidade (THI) óptimo, um cálculo baseado nos níveis médios de temperatura e humidade. Os ventiladores e as soluções de iluminação podem activar-se mediante um sensor ou um temporizador, consoante o caso. Todos os sistemas do estábulo funcionam conjuntamente para proporcionar um aumento de produção e um leite de elevada qualidade. Ter a capacidade de controlar as condições ambientais do estábulo pode ter um efeito muito positivo na produção de leite e no rendimento produtivo do rebanho. Ao aumentar a intensidade de luz no estábulo, reduzem-se os níveis de melatonina e, por consequência, a produção de leite aumenta. As condições de temperatura óptimas também reduzem o risco de stress térmico.

Esta é a vocação do Herd Navigator. Vaca por vaca, ordenha por ordenha, o Herd Navigator da DeLaval é um Laboratório de Análises que se instala na Máquina de Ordenha para determinar os Parâmetros de Progesterona – Reprodução, Lactose Desidrogenada – Saúde do Úbere, Ureia e B-hidroxibutírico – Alimentação e Balanço Energético no Leite. O Sistema selecciona automaticamente, mediante um avançado modelo biométrico (fórmulas matemáticas que se combinam com factores de risco adicionais), quais as vacas que devem ser analisadas, em que ordenha e a que parâmetros. Apresenta indicadores de detecção de enfermidades para tomada de acções rápidas e precisas – Antes das vacas apresentarem sintomas clínicos.

Contador de Células Somáticas OCC Entre 265 expositores, de 15 países, o Contador de Células Somáticas OCC Supra da DeLaval conhou o Concurso de Inovação Tecnológica em GandAgro - Feira de Agricultura de Silleda, pelo seu impacto claro e imediato no sector e pela sua capacidade de medição traduzido na rentabilidade económica das explorações. Trata-se do primeiro verdadeiro contador de células somáticas automático disponível para VMS. Acesso a um nível de conhecimento incomparável, que permite controlar o rebanho, monitorizando proactivamente o nível de células somáticas de cada vaca, em cada ordenha. Uma nova opção revolucionária!

Protecção de Manjedouras As vacas alimentam-se melhor com a protecção de manjedouras lisa, fácil de limpar e resistente a substâncias ácidas e alcalinas. As manjedouras sem protecção e degradadas por substâncias ácidas estão contaminadas por milhões de germes e bactérias, que podem causar problemas de saúde nas vacas e reduzir a produção de leite. A Tecnologia BI-Orientation patenteada, faz com que a protecção de manjedouras seja três vezes mais resistente a substâncias ácidas e alcalinas que outras superfícies plásticas. Resistente à carga pesada dos tractores.

vacas mais confortáveis no tapete Esta é uma das conclusões da Universidade de Ciências Agrícolas da Suécia (SLU). Durante 4 meses, Pernilla Norberg criou dois lotes de animais, um dos quais deitava-se sobre betão e o outro sobre camas de borracha. Nesta experiência comprovou-se que existiam menos infecções e menos exclusões no lote das vacas sobre tapetes.

Escova Rotativa Um estudo feito pela Universidade Cornell no Estado de Nova Iorque comparou dois lotes de vacas, escovadas e não escovadas, e concluiu que a utilização da escova melhora substancialmente a saúde animal devido ao facto de melhorar o seu sistema circulatório. O estudo concluiu também que a probabilidade de mastite clínica é menor em 34% em vacas que usaram a escova SCB DeLaval. A equipa que conduziu a pesquisa constatou um aumento na produção de leite de até 1 kg por dia (3,5%) nas vacas em que foi utilizada a escova, em comparação com um grupo de referência, que foi mantido nas mesmas condições, sem acesso à escova SCB.

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conheça a lei

Transporte

de Animais Vivos POR Miguel Neves Lima, Advogado - WWW.FLADVOGA.COM

Há já várias décadas que se sabe que a forma como os animais são transportados tem forte impacto no seu bem-estar e saúde. Para além disso, o transporte dos animais, designadamente em longas distâncias, constitui um fator de disseminação de doenças infecto-contagiosas que importa evitar. Assim, a Comunidade Europeia tem vindo a regulamentar esta atividade, estabelecendo, entre outros aspetos, requisitos que visam evitar a dor e o sofrimento dos animais durante e após o transporte. Atualmente, aplica-se a esta matéria o Regulamento (CE) n° 1/2005, do Conselho, de 2 de Dezembro de 2004. Não obstante a obrigatoriedade da aplicação direta do mencionado regulamento em todos os Estados membros, com o objetivo de assegurar a execução e garantir o cumprimento, no ordenamento jurídico nacional, das obrigações dele decorrentes no transporte rodoviário efetuado em território nacional, no transporte marítimo entre os Açores, a Madeira e o continente, e no transporte entre ilhas, bem como definir a entidade responsável pelo controlo da sua aplicação no nosso país, foi publicado o decreto-lei n° 265/2007, de 24 de Julho, posteriormente e pontualmente alterado pelo decreto-lei nº158/2008, de 8 de Agosto. A interpretação destes normativos reveste-se de alguma complexidade, pelo que a Direção Geral de Alimentação e Veterinária (DGAV) – entidade que atualmente no nosso país tem competência para controlar a aplicação

de tais normas - elaborou diversos “documentos explicativos da legislação” cuja leitura pode contribuir para o facilitar a interpretação dos textos legais e que podem ser consultados em www. dgv.min-agricultura.pt. O primeiro aspeto com que nos debatemos prende-se com a determinação dos transportes a que se aplica o regime legal instituído por tais diplomas legais. As regras e as obrigações deles resultantes aplicamse a todos os transportes de animais vivos? No considerando 12 do Regulamento (CE) nº 1/2005 pode ler-se: “O transporte para fins comerciais não se limita aos transportes que impliquem uma troca imediata de dinheiro, de bens ou de serviços. O transporte para fins comerciais inclui nomeadamente os transportes que induzam ou tendam a produzir direta ou indiretamente um lucro.” Por seu lado, no nº 5 do seu artigo 1º, onde se estabelece o âmbito da respetiva aplicação estatui-se: “O presente regulamento não é aplicável ao transporte de animais que não seja efetuado em relação com atividades económicas, nem ao transporte direto de animais de ou para clínicas ou consultórios veterinários por indicação de um veterinário.” Acresce que o nº 1 do artigo 8º do decreto-lei nº 265/2007, relativo ao transporte rodoviário de animais em território nacional, refere: “Para efeitos do presente artigo entende-se por transporte com fins comerciais todo aquele transporte que induza ou tenda a produzir direta ou indiretamente um lucro, não se limitando

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aos transportes que impliquem uma troca imediata de dinheiro, de bens ou de serviços.” Do que já ficou dito resulta não ser simples determinar quais os transportes que o legislador comunitário tinha em vista. Todavia, um dos mencionados “documentos explicativos” emitidos pela DGAV, e que, conforme referido, pode ser consultado no endereço acima indicado, explicita claramente que o Regulamento (CE) nº 1/2005 e o decreto-lei nº 265/2007 se aplica exclusivamente aos transportes com fins comerciais e que, assim sendo, não se aplica: • Ao transporte de animais para pastagens quando efetuado pelo produtor nos seus meios de transporte; • Ao transporte de animais entre explorações, designadamente para efeitos de recria, quando os animais, as explorações e os meios de transporte pertençam ao mesmo produtor; • Ao transporte de animais de companhia pelos seus detentores, ou por indivíduos por eles mandatados nos seus meios de transporte com destino a exposições e competições, no decurso dos quais não se realizam trocas comerciais; • Ao transporte de cavalos pelos seus detentores, ou por indivíduos por eles mandatados, nos seus meios de transporte, com o destino a outra exploração do detentor ou a fim de participarem em treinos, passeios, exposições, concursos hípicos e eventos culturais, no decurso


conheça a lei

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dos quais não se realizam trocas comerciais; Ao transporte de animais pelo produtor, nos seus próprios meios de transporte, com destino a eventos de carácter local, no decurso dos quais não se realizam trocas comerciais; Ao transporte de animais pelas forças policiais ou organismos públicos no âmbito das respetivas competências; Ao transporte de animais para centros de recuperação; Ao transporte de animais de espécies protegidas, ao abrigo da CITES (EEPs); Transporte de animais entre parques zoológicos por motivo de troca, cedência ou doação, no decurso dos quais não se realizam trocas comerciais; Transporte de animais entre parques zoológicos efetuados ao abrigo de programas de reprodução; Ao transporte, a título gratuito, de animais de laboratório cedidos entre entidades de experimentação e outros fins científicos; Ao transporte de pombos correio para treinos ou largadas que não possuam um fim comercial.

Com o objetivo de garantir o bemestar dos animais nos transportes com fins comerciais, o legislador atendeu a diversas circunstâncias, designadamente geográficas, as distâncias a percorrer e a duração das viagens, o tipo de transportador e dos animais transportados para definir a aplicabilidade a cada transporte dos requisitos abaixo indicados, e a medida em que o cumprimento dos mesmos é obrigatório: • Registo e autorização de transportador

de curta duração; • Registo e autorização de transportador de longa duração; • Certificado de aprovação do meio de transporte; • Certificado de aptidão profissional para condutores e/ou tratadores; • Condições gerais aplicáveis ao transporte de animais; • Documentação de transporte; • Obrigações de planeamento relativa à viagem; • Obrigações do transportador; • Obrigações dos detentores; • Aptidão dos animais para o transporte; • Condições dos meios de transporte; • Práticas de transporte, carregamento, descarregamento e manuseamento; • Intervalos de abeberamento e alimentação, períodos de viagem e repouso; • Requisitos adicionais para os veículos que efetuem viagens de longa duração de ovinos, caprinos, bovinos, equídeos e suínos; • Espaço destinado a cada animal a transportar; • Diário de viagem; • Sistema de navegação por satélite. De entre os tipos de transporte que o decreto-lei n° 265/2007 prevê destacamos os seguintes: • O transporte de animais realizados no território nacional, pelos agricultores nos seus próprios meios de transporte e dos seus próprios animais, numa distância inferior a 50 km; • O transporte de animais efetuado a nível nacional numa distância inferior a 65 km; • O transporte de animais efetuados a

numa distância superior a 65 km; • O transporte com fins comerciais de equídeos registados e o transporte de touros de lide, pelas características próprias de que se revestem, têm também regras específicas, não se lhe aplicando algumas das disposições do Regulamento (CE) nº 1/2005. Os transportes acima referidos só podem ser realizados por quem disponha de autorização de transportador. Estas autorizações são válidas por um período de cinco anos a contar da data de emissão, devendo ser solicitada, 60 dias antes do termos da validade, nova autorização. A infração às normas sobre o transporte de animais vivos no nosso país, é punível com coima no montante mínimo de € 500 e máximo de 3.740,00 ou € 44.890,00, consoante o agente seja pessoa singular ou pessoa coletiva. Para além disso, as infrações poderão dar lugar, entre outras sanções, à apreensão dos meios de transporte, dos animais transportados, à interdição do exercício de uma profissão ou atividade, à privação do direito a subsídio ou beneficio concedido por entidades ou serviços públicos, ao encerramento dos estabelecimento e à suspensão de autorizações, licenças e alvarás. A fiscalização do cumprimento do Regulamento (CE) nº1/2005 e do decreto-lei nº265/2007 compete à Direção-Geral de Alimentação e Veterinária e a aplicação das sanções previstas neste ultimo diploma legal compete ao seu diretor-geral havendo recurso das decisões deste para os Tribunais.

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Não deixe de...

FEIRAS Agroleite 17 a 20 julho de 2014 Rates - Portugal www.leicar.pt

Agroglobal 10 a 12 setembro de 2014 Valada do Ribatejo - Portugal www.agroglobal.com.pt

SPACE 16 a 19 setembro de 2014 Rennes - França www.space.fr

formação I Fórum Saúde do Úbere e Qualidade de Leite Dia 8 de julho de 2014 Hotel Tryp Lisboa Aeroporto A Inovpec irá organizar, em conjunto com a Milkrite o “I Fórum Saúde do Úbere e Qualidade de Leite”, no dia 8 de Julho de 2014, das 9:30 às 18:00H, no Hotel Tryp Lisboa Aeroporto. O evento destina-se a produtores de leite, técnicos, responsáveis da exploração, médicos veterinários. Conta com a presença de especialistas de reputação mundial como o Ian Ohnstadt e a Sofie Piepens, assim como alguns dos mais experientes consultores nacionais - Luís Pinho e Ricardo Bexiga. Local: Hotel Tryp Lisboa Aeroporto. Rua C, Numero 2. Aeroporto Internacional de Lisboa. 1749- 125 Lisboa. Tel: 218 425 000 Preço: 40€ (inclui almoço e coffee-break)

World Dairy Expo “Designer Dairy” 30 setembro a 4 outubro de 2014 Madison - USA www.worlddairyexpo.com

Contactos para inscrições e mais informações: Sara Martins – Inovpec Email: sara@inovpec.pt Telm: 913 751 705 Limitado a 35 participantes. Inscrições até dia 2 de Julho 2014.

Sommet de l´élevage 1, 2 e 3 outubro de 2014 Clermont-Ferrand - França www.sommet-elevage.fr

Fiera Internazionale del Bovino da Latte 22 a 25 outubro de 2014 Cremona - Itália www.bovinodalatte.it

Eurotier 11 a 14 novembro de 2014 Hanover - Alemanha www.eurotier.com

AGROLEITE 2014 17 a 20 julho de 2014

Organizada pela Leicar, vai realizar-se em Rates, Póvoa de Varzim ,a XI Feira Agrícola do Leite, AGROLEITE 2014, entre 17 e 20 de Julho. No evento estarão presentes empresas expositoras de alimentação e nutrição animal, genética, máquinas agrícolas e serviços. O ponto alto do certame será a realização do XI Concurso da Raça Holstein-Frísia, a decorrer nos dias 19 e 20, e, uma novidade, o 1º Concurso de Preparadores e Manejadores, a decorrer na sexta-feira, dia 18, durante a manhã e tarde.Todos os dias haverá espectáculos de animação e jogos tradicionais. Os visitantes terão á disposição tasquinhas e restaurantes das raças autóctones. Mais informações: www.leicar.pt

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