A REVISTA DA AGROPECUÁRIA Ano 4 - Nº 15 - 5,00€ outubro | novembro | dezembro 2014 (trimestral) Diretor: Nuno Marques www.revista-ruminantes.com
branca e preta, duas raças autóctones de merinos
índice vl erva, adaptado ao sistema de alimentação com erva entrevista ao presidente da unileite, gil jorge
EDITORIAL
edição nº15 outubro | novembro | dezembro 2014
“Os negócios são simples, as pessoas é que os complicam” Ouvi esta frase a um diretor de uma empresa onde trabalhei, durante uma análise à eficiência dos processos implementados em diversas áreas do negócio, quando lhe comentava que “perdíamos” muito tempo e existia um grande desgaste das pessoas na resolução de assuntos. Acredito que esta situação seja transversal a diferentes negócios. Conseguir-se-ia maior simplicidade e eficiência se existisse o hábito de analisar, em equipa, a origem dos problemas mais frequentes. A maior parte das vezes, os negócios complicam-se porque as pessoas envolvidas — empregados, clientes ou fornecedores —, tomam atitudes e decisões baseadas na emoção em vez de na razão. Um negócio deve ser tão racional e lógico como um programa de computador. Mas quando a emoção se sobrepõe à razão ou os interesses pessoais se sobrepõem aos da empresa, acaba por se por complicar aquilo que, à partida, era simples. Vários estudos publicados sobre psicologia humana afirmam que 95% das pessoas não agem de acordo com o seu conhecimento mas sim com base em razões pessoais. Frequentemente, quem complica as situações no mundo dos negócios fá-lo numa tentativa de parecer inteligente ou de mostrar prepotência, acabando, afinal, por perder credibilidade. Quem é realmente inteligente não receia partilhar os seus conhecimentos porque não vê nos outros uma ameaça. Pelo contrário, tem prazer em partilhar e ensinar o que sabe, contribuindo assim, claramente, para o sucesso global da empresa. Também se geram problemas pelo facto de não se comunicar de forma transparente e precisa. Os produtores de leite, por exemplo, questionamse frequentemente sobre os motivos que determinam, a cada momento, as oscilações de preço que, quase sempre, sobe pouco e desce muito. E o mesmo se passa com os associados de algumas cooperativas que não se sentem confortáveis com a falta de clareza na definição de novos preços. O tempo perdido por culpa de uma comunicação deficiente reflete-se na produtividade e impede os produtores de se concentrarem noutros assuntos importantes da exploração. Existem, contudo, exemplos concretos em que o modelo aplicado no estabelecimento de preços envolve os próprios produtores na decisão, acabando por empenhá-los no sucesso da empresa com que trabalham. É assim na maior cooperativa leiteira dos Açores, onde o processo que estabelece o preço do leite a pagar aos produtores é simples e aberto aos produtores associados; em assembleia geral são explicadas as razões que levam a direção a propor o novo preço base e os produtores votam a proposta. Embora se trate de um modelo simples e claro, só funcionará se todos os intervenientes trabalharem numa base de confiança e humildade.
Diretor
Nuno Marques | nm@revista-ruminantes.com Colaboraram nesta edição Ana Vieira; António Cannas; António Moitinho; António Santana; Carla Azevedo; Carlos Fariñas; Carlos Vouzela; Catarina Martins; Diogo Pereira; Esmeralda Curval; Fernanda Brito; Francisco Marques; George Stilwell; Gil Jorge; Gonçalo Martins; IACA; João P. Carneiro; José Caiado; José Paulo Loureiro; Lopes Jorge; Manuel Figueiredo; Manuel Ortigão; Marisa Bernardino; Miguel Neves Lima; Miguel Vieira; Nuno Simões; Paulo Costa e Sousa; Pedro Castelo; Pedro Cordero; Rui Alves; Sofia Carrondo; Tareca Almeida; Tereza Moreira; Tiago Perloiro.
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Nuno Marques
“Quanto mais simples somos, mais completos nos tornamos.” (August Rodin)
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ruminantes outubro . novembro . dezembro 2014 3
Índice Alimentação 14 A alimentação e a rentabilidade em explorações leiteiras 24 Combinando alta produção de leite com boa condição corporal 26 Raça Mertolenga, melhorar a eficiência nas engordas 46 Hy-Diet Nutrition Cycle
CONHEÇA A LEI 68 Transporte de animais vivos - II
ENTREVISTA 08 Hipra atingiu este ano a liderança 18 Mercado que valoriza inovação e qualidade 42 A fertilidade era um problema
10 BRANCA E PRETA, DUAS RAÇAS AUTÓCTONES DE MERINOS
56 A prevenção compensa
ECONOMIA 34 Observatório de matérias primas 36 Observatório do leite
Entrevista a Tiago Perloiro, secretário técnico da ANCORME.
38 Índice VL
EQUIPAMENTO 60 Todo o tempo conta 62 Ordenha robotizada 66 Novidades de produto
forragens 32 Processo de ensilagem e utilização de aditivos
PASTAGEM 28 Como melhorar a disponibilidade e durabilidade da pastagem
SAÚDE E BEM-ESTAR ANIMAL 48 Controlar a desidratação provocada pela diarreia
39
22
índice vl erva
Entrevista a gil jorge
Novo índice daptado ao sistema de alimentação com erva.
Comercializamos os nossos produtos em 16 países.
51 O parto difícil 52 Limitar a propagação dos agentes infeciosos 58 Doenças ocultas em pequenos ruminantes
boletim de assinatura 1 ano, 4 exemplares
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Portugal: 20,00 €
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Europa: 60,00 €
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atualidades
Palha de arroz, uma alternativa à suplementação da alimentação bovina Como é do conhecimento de quem trabalha com bovinos de produção leiteira ou para produção de carne, a alimentação é o maior custo que estas produções acarretam e qualquer oportunidade para diminuir esta despesa tem um impacto considerável na economia da exploração. Foi neste âmbito que os investigadores da universidade da Califórnia se decidiram a lançar um guia que ajuda os produtores a lidar com a palha de arroz e utilizá-la como uma alternativa de suplementação da alimentação de bovinos. O documento debruça-se sobre os principais desafios que a palha de arroz apresenta na integração da alimentação de bovinos, fornecendo também conselhos sobre a sua integração em vários tipos de formulações, sobre a escolha da melhor palha e até sobre o que pedir ao fornecedor aquando da compra. Os quatro principais desafios apontados são a palatabilidade, a baixa digestibilidade (8 a 14% de sílica comparado com 1 a 2 % na luzerna), proteína bruta baixa (2 a 7% em matéria seca) e uma percentagem alta de oxalatos (o que pode trazer problemas na absorção de cálcio). Outros problemas tratados no artigo são a variabilidade da consistência, disponibilidade regular, possibilidade de toxicidade e uma composição diferente das matérias-primas habituais. Um dos casos apresentados no guia é o do rancho de Holzapfel em Willows, EUA, que tem utilizado palha de arroz com sucesso desde 1943, testemunhado que uma das chaves para este sucesso vem com enfardar dentro de 1 a 3 dias, uma vez que à medida que os dias sem enfardar aumentam pode aumentar até 4% a fibra em ácido detergente (ADF), tornando a palha menos palatável (ver figura 1). Outra investigação referida no guia mostrou que uma maior fertilização com nitrogénio da planta de arroz aumenta a quantidade de proteína bruta da palha (ver figura 2). No Norte da Califórnia a palha de arroz é apontada como uma matéria-prima a explorar e ter em conta para fazer uma formulação equilibrada e mais económica. Em Portugal, tendo em conta que a produção nacional ronda os 1 250 mil toneladas/ ano (INE, 2013), poder-se-á apresentar como uma possibilidade mais em conta na conjuntura actual. Figura 1 Quantidade de Fibra em detergente ácido (ADF) da palha de arroz não enfardada ao longo dos dias após a colheita (adaptado de http://anrcatalog.ucdavis.edu/ pdf/8079.pdf). 60
Fontes: http://www.ine.pt/xportal/ xmain?xpid=INE&xpgid=ine_main
% ADF
55.15 55
51.5
Para mais informações Poderá consultar este guia em: http://anrcatalog.ucdavis.edu/ pdf/8079.pdf
51.08
50
53.18
53.05
10
21
45 1
2
31
Dias após colheita Figura 2 Percentagem de proteína na palha de arroz, consoante a quantidade de azoto aplicado no terreno da plantação de arroz (adaptado de: http://anrcatalog.ucdavis.edu/ pdf/8079.pdf).
% de proteína
6.0 5.5
5.74
5.12
5.0
4.30
4.5 4.0
3.71 3.35
3.5
3.37
3.0 0
50
100
150
200
Quantidade de libras azoto aplicado por acre (1 libra equivale a 0,45 quilo e um acre equivale a aproximadamente 4047 m2).
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250
Margarina ou Manteiga Qual a mais saudável? A partir da década de 60, a difusão de campanhas contra o consumo de gorduras influenciou a decisão de compra dos consumidores. O fisiologista norte-americano, Dr. Ancel Keys, responsável pela dieta do exército americano durante a II Guerra Mundial, liderou uma destas campanhas, que visava demonstrar que o consumo de gorduras saturadas estava associado ao desenvolvimento de doenças cardiovasculares. Em 1961, a Associação Americana do Coração, deu razão ao fisiologista, e a revista Time publicou um artigo assinado pelo mesmo, onde se demonstrava ser mais saudável consumir margarina do que manteiga. O impacto desta publicação na opinião pública teve como consequência o aumento das vendas da margarina e o decréscimo nas vendas de manteiga. Atualmente, novas investigações vieram revelar que os problemas de saúde verificados nas sociedades ocidentais, como a obesidade e a diabetes tipo 2, estão relacionados com o consumo elevado de ingredientes artificiais e de alimentos hipercalóricos e processados, nos quais podemos incluir a margarina. Atentos a esta questão, os consumidores tendem a consumir alimentos com menos ingredientes artificiais. Nesta linha, verifica-se que a manteiga saiu vencedora. Nos últimos três anos, os americanos preferiram a manteiga, em alternativa à margarina e, espera-se que este ano, as vendas atinjam dois mil milhões de dólares.
atualidades
Um estudo feito na Universidade de Duke identificou um gene que pode ajudar engenheiros e cientistas a desenvolverem culturas resistentes à seca. O gene chama-se OSCA1 e codifica uma proteína existente na membrana das células das folhas e das raízes, que deteta alterações na disponibilidade de água no interior da planta. Trata-se de uma espécie de termostato de origem. Alguns investigadores acreditam que o desenvolvimento da engenharia genética, em conjunto com práticas agrícolas adequadas, pode ser o caminho para ajudar as culturas a resistirem à seca, sobretudo no período do Verão. No entanto, a máquina molecular das plantas ainda é desconhecida. Estas procuram as suas próprias estratégias quando são confrontadas com a desidratação e estão envolvidos neste processo muitos genes. Sabe-se que uma das formas das plantas responderem à falta de água
consiste em aumentarem o nível de cálcio nas suas células. O aumento de cálcio assume-se como um alarme que ativa os mecanismos de adaptação para ajudar a planta a reequilibrar a quantidade de água de que precisa para crescer. Parece que o gene OSCA1 funciona como um canal que permite que o cálcio atue na célula. Se este gene não for saudável, as plantas não conseguem fixar o cálcio nas células, e murcham rapidamente. O próximo passo da equipa de investigação é manipular a atividade do gene OSCA1 e verificar como certas plantas reagem à escassez de água. Aquelas que consigam repor o nível de humidade interno com maior rapidez e voltem a crescer rapidamente, serão as mais viáveis neste contexto, uma vez que são capazes de alocar energia ao crescimento de uma forma mais eficiente. Esta investigação ganha maior importância uma vez que procura
Foto: Wikimedia Commons
Investigadores norte-americanos estudam plantas resistentes à seca
responder às necessidades alimentares da população mundial, que segundo as previsões, vão aumentar exponencialmente, assim como às alterações climáticas, previstas para os próximos anos, onde a escassez de água é um dos principais problemas apontados.
Para mais informações http://today.duke.edu/2014/08/droughttolerance
Existem outras formas de fixar micotoxinas
T5X
Muito mais que um adsorvente de micotoxinas T5X possui quatro ações principais: - Os componentes adsorventes do T5X foram selecionados num sofisticado modelo “invivo”. As micotoxinas não passam pela parede intestinal. - T5X estimula a produção de enzimas naturais especificas de neutralização /desintoxicação que catalisam a eliminação das micotoxinas. - Os poderosos antioxidantes presentes no T5X inibem os radicais livres e previnem a degradação da membrana celular. - T5X estimula o sistema imunitário não especifico, fortalecendo os animais. Distribuído por INVIVONSA Portugal, SA Zona Industrial de Murtede 3060-372 Murtede Cantanhede Tel: 231 209 900 – Fax: 231 209 909 geral@invivo-nsa.pt www.invivo-nsa.pt
ruminantes outubro . novembro . dezembro 2014 7
entrevista
HIPRA atingiu este ano a liderança no mercado das vacinas para ruminantes A Unidade de Negócios de Ruminantes da HIPRA atingiu este ano a liderança no mercado das vacinas para ruminantes através da tetravalente para prevenção da patologia reprodutiva e respiratória. Carla Azevedo, diretora técnica e de marketing de ruminantes, contextualiza o posicionamento e crescimento da empresa no mercado dos ruminantes. PUBLI-REPORTAGEM
respiratório e PI-3). É neste momento a única vacina tetravalente no mercado que pode ser utilizada durante a gestação e lactação, o que é um fator particularmente importante para o médico veterinário que a prescreve e para o produtor, para quem é essencial a comprovação da segurança dos produtos que aplicam nos seus animais.
CARLA AZEVEDO Diretora técnica e de marketing de ruminantes da HIPRA.
Qual é, no seu entender, a razão para o crescimento da HIPRA no mercado dos Ruminantes em Portugal? Carla Azevedo - O crescimento da HIPRA resulta da conjugação de vários fatores: um portfolio de vacinas que assenta na sua versatilidade, segurança e caracter inovador; soluções técnicas inovadoras de diagnóstico e assessoria disponibilizadas ao médico veterinário e às explorações onde presta assistência; uma equipa experiente e dinâmica com uma forte formação técnica, e acima de tudo, o reconhecimento e a confiança
dos médicos veterinários e dos produtores nas nossas soluções. Quais as características da vacina líder, desenvolvida pela HIPRA que lhe conferem essa confiança por parte do médico veterinário e do produtor? A nossa vacina apresenta, em simultâneo, os benefícios da versatilidade, eficácia e segurança. Com uma única vacina é possível proteger todos os animais da exploração a partir do primeiro mês de vida, frente às principais causas de doença reprodutiva e respiratória (BVD, IBR, Virus Sincicial
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Que outro tipo de vacinas a HIPRA tem lançado no mercado? A HIPRA tem apostado no lançamento de vacinas inovadoras e diferenciadas relativamente às soluções já existentes no mercado. Nos últimos anos, a HIPRA lançou a primeira vacina trivalente (BVD, Vírus Sincicial Respiratório e PI-3), que permite completar um programa de erradicação de IBR, a primeira vacina registada pela EMA para mamites de Bovinos, e mais recentemente, a única Vacina Inactivada para Mamites de Ovinos e Caprinos registada no mercado português. E que serviços técnicos disponibiliza a HIPRA aos médicos veterinários e respetivas explorações? Na HIPRA, gostamos de estar perto do veterinário e do produtor, oferecendo serviços técnicos diferenciados. Isso permite-nos, em conjunto com o veterinário, conhecer a realidade do que acontece
na exploração e ajudar o cliente, orientando-o para as medidas a tomar para garantir a saúde dos seus animais. Para isso, contamos com uma equipa técnica experiente e com o nosso próprio centro de diagnóstico: DIAGNOS. O DIAGNOS disponibiliza ao médico veterinário e aos seus clientes uma panóplia de ferramentas de diagnóstico que vão desde o Seromilk à serologia individual, continuando a desenvolver soluções baseadas nas mais modernas tecnologias como o RT-PCR FTA (pesquisa de DNA vírico ou bacteriano, sem necessidade de refrigeração da amostra). Qual é o posicionamento e a visão da HIPRA para o futuro? A nossa estratégia de futuro expressa-se de forma clara na nossa visão: ser a Referência na Prevenção da Saúde Animal. Provavelmente, neste momento, a HIPRA é o laboratório com maior potencial de crescimento e maior quantidade de produtos lançados nos últimos anos, mantendo a independência que nos caracteriza (a criação de grandes empresas resultantes de fusões e aquisições entre multinacionais farmacêuticas é cada vez mais comum) e a dedicação exclusiva ao mundo da prevenção da saúde animal e ao apoio técnico diferenciado aos nossos clientes.
entrevista
BRANCA E PRETA,
DUAS RAÇAS AUTÓCTONES DE MERINOS Entrevista a Tiago Perloiro, secretário técnico da ANCORME. por ruminantes
Sobre a ANCORME A ANCORME (Associação Nacional de Criadores de Ovinos da Raça Merina) foi fundada a 30 de Maio de 1990 para iniciar, por delegação de competências do Ministério da Agricultura, o Livro Genealógico da Raça Merina Branca, e dois anos depois iniciou o Livro Genealógico da Raça Merina Preta. A associação é formada exclusivamente por criadores de Ovinos de Raça Merina Branca e de Raça Merina Preta, inscritos nos Livros Genealógicos das respetivas raças, e que participam ativamente nos Programas de Conservação e Melhoramento Genético de cada uma delas. A Associação possui criadores associados desde o Baixo Alentejo até a Beira Baixa, sendo que a primeira sede foi na cidade de Beja, mas por necessidade de maior centralidade passou para Évora. O Programa de Conservação e Melhoramento Genético faz parte das diversas acções que são desenvolvidas nas explorações dos criadores pela equipa técnica da associação, composta por quatro técnicos, todos com formação académica relacionada com a atividade.
Contactos Maré Sala EE04 7005-873 Évora Tel/Fax +351 266 744 287 E-mail:ancorme@mail.telepac.pt www.merina.com.pt
imagem 1 Herdade de Vale Poço - Pavia.
Tiago Perloiro, membro da direcção da ANCORNE desde 2008 e secretário das raças Merino Branco e Merino Preto desde 2010, aceitou falar com a Ruminantes sobre estas duas raças de Merino. Tiago licenciou-se em Engenharia Zootécnica na UTAD em 1992, especializandose em Extensão rural, sendo também ele próprio agricultor e criador de ovinos da raça Merina branca e Merina preta desde o ano em que terminou a licenciatura. Ruminantes - Quando se fala de Merino quais são as raças que engloba? Tiago Perloiro - A classificação das diferentes raças de ovinos é feita em função do tipo de lã que os carateriza. A raça Merina carateriza-se por fibras de lã finas, que por isso são
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de excelente qualidade para a confeção de vários tipos de produtos, e tão conhecidas por todos. Existe também em Portugal outra raça de merino autóctone além do Merino Branco e Merino Preto, a raça Merina da Beira Baixa, que possui animais de caraterísticas lanares muito similares ao Merino Preto e Merino Branco, mas com um porte mais pequeno. Penso que é importante realçar sobre este tema da Lã o trabalho que a ANCORME tem vindo a fazer nos dois últimos anos. Com caraterísticas tão especiais como as da lã merina, começámos em 2012 a selecionar junto dos nossos criadores um núcleo de produtores de lãs finas. As melhores lãs são assim selecionadas e classificadas velo a velo pelos nossos
técnicos e posteriormente encaminhadas para a indústria. Para este trabalho estabelecemos parcerias de forma a obtermos um produto de qualidade máxima. A lã Zagal, é já uma realidade que se encontra à venda no mercado convencional bem como em vários sítios da internet. Este ano estamos a dar um especial relevo a lãs de cores naturais, que têm tido uma grande procura, e para as quais a lã proveniente das ovelhas de raça Merina Preta tem especial vocação dadas as suas diferentes tonalidades (cacau, chocolate, mel e jardo). A criação de uma marca que defenda as lãs nacionais e que permita aos produtores de cada raça desenvolver o seu produto é de grande importância. A ANCORME está já a trabalhar neste sentido.
entrevista
Qual o censo das diferentes raças? Presentemente temos na Raça Merina Preta 59 criadores ativos, com um efetivo de 846 machos e 9995 fêmeas inscritos no Livro Genealógico de Adultos.Na raça Merina Branca temos 28 criadores activos e um efetivo de 776 machos e 9575 fêmeas inscritos no Livro Genealógico de Adultos. Quais as vantagens e desvantagens das raças da ANCORME quando comparadas às raças exóticas presentes no nosso país? A grande vantagem quando falamos de raças autóctones é, em primeiro lugar, a sua adaptação ao meio onde se encontram. Este facto conferelhes grande rusticidade, que se traduz em termos práticos numa elevada capacidade de aproveitamento dos recursos alimentares disponíveis nas diferentes épocas do ano, numa resistência acrescida ao clima, numa significativa resistência a doenças, e numa elevada capacidade maternal. As raças exóticas exploradas na nossa região têm ao nível alimentar, sanitário, e de uma forma geral em todas as questões de maneio, uma maior exigência. Como se adapta o Merino às condições ambientais com grandes amplitudes térmicas, como as do Alentejo? Como uma raça autóctone que é. Vários autores reportam que a origem do Merino foi devida à introdução de raças produtoras de lãs finas, originárias da Ásia Menor (Palestina) e de zonas costeiras do Norte de África, trazidas pela tribo Beni-Merines em 1146, e que através do Mediterrâneo entraram no sul de Espanha (Sanz,1986). Todos estes anos dotaram estas duas raças de características únicas que lhes permitem ser resistentes às condições edafoclimáticas características do sul de Portugal.
desenvolver a sua actividade. Este é desde logo o principal fator. Outro fator importante é o económico e que, em conjunto com o primeiro, determina a raça ovina a escolher para a sua exploração. A diferença principal entre o Merino Preto e o Merino Branco é a cor da lã. Em todas as outras caraterísticas as raças são semelhantes, apenas podendo atribuir-se à raça Merina Preta um maior potencial de rusticidade. Aliás, certos autores referem que o mais antigo representante da raça Merina seria de lã pigmentada, sendo os seus descendentes os ovinos criados pelos Turdetanos, Vetões e Lusitanos, na região da Península Ibérica (Sobral et al.,1986). O potencial produtivo destas duas raças deve também ser um ponto ao qual os produtores devem dar atenção e que na maioria das vezes é desconhecido. O trabalho de melhoramento realizado pela associação tem permitido obter animais que, com as condições edafoclimáticas da nossa região, nos permitem obter resultados muito interessantes. Penso mesmo que ainda temos margem para melhorar estas caraterísticas, mantendonos, como é evidente, sempre fiéis às caraterísticas raciais. (ver tabelas na página seguinte) Que serviços prestam a não sócios? A ANCORME trabalha fundamentalmente com os criadores associados, e é com estes que realiza todo o seu trabalho de campo. Apenas no que diz respeito a algumas atividades de cariz administrativo apoia não sócios, tais como elaboração de candidaturas, projetos de financiamento agrícola, livros de estábulo, etc. Estamos a ponderar alargar alguns dos serviços
Fio de LÃ zagal Zagal é um fio de lã exclusivo da parceria entre a ANCORME e a Retrosaria Rosa Pomar. É um dos poucos fios comerciais produzidos a partir de matéria-prima exclusivamente portuguesa. É inteiramente produzido em Portugal, a partir da lã de ovinos de Raça Merino Branco inscritos no Livro Genealógico da Raça e que integram o respectivo Programa de Conservação e Melhoramento Genético. Em breve será apresentada a lã Zagal produzida exclusivamente a partir de ovinos Merino Preto.
À VENDA EM: www.retrosaria.rosapomar.com www.merina.com.pt Lojas “A Vida Portuguesa” (Lisboa e Porto)
Ficha técnica Apresentação: meada de ±100g (85m). Textura: 2 Ply. Composição: 100% lã Merino Branco Portuguesa. Agulhas: 6 a 7mm. Amostra: 14 malhas x 19 carreiras = 10cm
*Artigo sobre a lã na próxima edição
que prestamos aos nossos associados aos criadores de ovinos em geral (Identificação Electrónica, Testes Andrológicos, Inseminação Artificial, Ecografias, Tosquias, Classificação e Tipificação Lanar, etc) Quais são os países que nos fazem maior concorrência a nível do mercado interno? Em que difere a nossa carne? Espanha é o país que nos faz maior concorrência. O Modo de Produção, que se caracteriza por diversos aspectos
imagem 2 Herdade Vale Pocinho Velho - Pavia.
Quando deve um produtor comprar Merino? Quando se deve utilizar o Merino Preto em vez do Merino Branco? Qualquer pessoa em início de atividade como Criador de Ovinos deve definir muito bem o tipo de exploração que pretende fazer. Claro que esta decisão é condicionada por vários fatores, sendo de grande importância o local onde vai implantar a actividade, ou seja, as caraterísticas da propriedade onde vai
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entrevista
como o tipo e maneio alimentar, maneio reprodutivo, a idade e pesos dos borregos ao abate, são alguns dos principais aspetos que mais fazem distinguir a nossa carne das provenientes de outros países. Existem prémios/ajudas comunitárias aos Criadores? Todas as raças autóctones estão incluídas numa medida de financiamento comunitária ao abrigo do actual PRODER – “2.2 Valorização de Modos de Produção, 2.2.2 Protecção da Biodiversidade Doméstica”. Esta medida destina-se a apoiar, durante um período de cinco anos, os criadores individuais ou colectivos de animais das raças autóctones ameaçadas de extinção. Este programa promove a utilização sustentada dos recursos genéticos, assegurando a conservação in situ das raças ameaçadas e promovendo a sua utilização de forma a minimizar as perdas de variabilidade genética por acumulação de consanguinidade. Assegurar o fornecimento de material genético aos Bancos Portugueses de Germoplasma Animal é também uma função desta medida. O apoio é anual, pago por cabeça normal (CN) elegível e diferenciado em função do grau de risco de extinção das raças.
PARÂMETROS PRODUTIVOS E REPRODUTIVOS DA RAÇA Reproduzem-se nas tabelas seguintes alguns parâmetros produtivos e reprodutivos que têm sido obtidos em diversos trabalhos sobre as raças Merina Branca ( Tabelas 1 e 2) e Merina Preta (Tabelas 3 e 4), e que mostram bem o seu potencial.
Raça Merina Branca
Raça Merina Preta
TABELA 1 Médias para caracteres de crescimento em borregos da Raça Merina Branca *(Adaptado de Taniças, 2009).
TABELA 3 Médias para caracteres de crescimento em borregos da Raça Merina Preta (Adaptado de Taniças, 2009).
Caracteres de Crescimento Peso ao nascimento (kg)
Médias 3,50 a 4,65
Pesos Ajustados (kg)
Caracteres de Crescimento Peso ao nascimento (kg)
Médias 3,35 a 4,50
Pesos Ajustados (kg)
30 Dias
8,65 a 11,7
30 Dias
60 Dias
14,0 a 18,80
60 Dias
13,5 a 18,65
90 Dias
19,4 a 25,33
90 Dias
19,3 a 25,33
Ganho Médio Diário (gr)
8,83 a 11,8
Ganho Médio Diário (gr)
Até aos 30 dias
170 a 240
Até aos 30 dias
180 a 250
Até aos 60 dias
150 a 240
Até aos 60 dias
170 a 240
Até aos 90 dias
180 a 230
Até aos 90 dias
180 a 220
* Médias dos mínimos quadrados em função do sexo, tipo de parto, idade da ovelha, época de parto e as interações Sexo*tipo de parto, idade da ovelha*tipo de parto e época de parto*tipo de parto. (Mínimos e máximos obtidos no intervalo entre os anos de 1995 e 2008).
* Médias dos mínimos quadrados em função do sexo, tipo de parto, idade da ovelha, época de parto e as interações Sexo*tipo de parto, idade da ovelha *tipo de parto e época de parto*tipo de parto. (Mínimos e máximos obtidos no intervalo entre os anos de 1995 e 2008).
TABELA 2 Índices obtidos em vários estudos para alguns caracteres reprodutivos em ovinos da raça Merina Branca (Matos, 1986).
TABELA 4 Índices obtidos em vários estudos para alguns caracteres reprodutivos em ovinos da raça Merina Preta.
Caracteres Reprodutivos Fertilidade Prolificidade
Valores 85,7% a, 91,2% b 1,2 a 1,3
Prolificidade
89,41 a , 54,41 b 1,06 a 1,18
1,30
Prolificidade c)
1,26
3%
Prolificidade d)
1,18
Até aos 5 dias de idade
5,4 %
Prolificidade e)
26,42
Até ao desmame (90 dias)
10%
1,02 a 1,25
Peri-Natal
b
Fertilidade
Médias
Prolificidade a)
Fecundidade Mortalidade em Borregos
a
Caracteres Reprodutivos
Cobrição de Primavera Cobrição de Outono
Prolificidade: Número de borregos nascidos / ovelhas paridas. Fertilidade: Fêmeas férteis / fêmeas colocadas à cobrirão.
imagem 3 Tiago Perloiro a recolher amostra de lã.
12 outubro . novembro . dezembro 2014 Ruminantes
a) Fertilidade e prolificidade média de fêmeas sujeitas a diferentes sistemas de maneio: prétratamento com progestagénios, pré-exposição a carneiros vasectomizados e inseminação artificial duas semana antes da cobrição natural. b) Valores médios de fertilidade obtidos com inseminação artificial utilizando uma concentração de ± 254 milhões de espermatozóides por dose de sémen aplicada. c) Valores médios de prolificidade após inseminação artificial. d) Valores médios de prolificidade após cobrição natural. e) kg de borrego desmamado/ ovelha exposta à cobrição.
referências bibliográficas Não foram incluídas por uma questão de espaço editorial, mas os autores disponibilizam bastando enviar um email para ancorme@mail.telepac.pt.
Alimentação
EXPLORAÇÕES LEITEIRAS
A ALIMENTAÇÃO E A RENTABILIDADE Dada a conjuntura atual, traduzida pelas condições de preços e volumes, as explorações leiteiras exigem uma otimização dos recursos, promovendo assim uma melhor gestão. por Rui Alves - Assistente Técnico Ruminantes da Soja de Portugal
otimização de outros fatores de rentabilidade, tais como a saúde do efetivo, a fertilidade, a produção, a qualidade do leite, etc. Cada vez mais o custo da alimentação de um efetivo leiteiro ganha maior realce, representando atualmente entre 40 a 68%, como referem alguns autores, do custo total de litro de leite produzido, dependendo do tipo e estrutura da exploração. O aumento do produto interno bruto (PIB) da China, com o aumento das necessidades de commodities, o aumento da procura para a produção de etanol de grãos de milho nos De forma a realizar uma correta gestão económica destas explorações, tem que se ter em conta, primeiramente, um conhecimento profundo da parte técnica que as envolve. Uma exploração pecuária é sempre um sistema complexo que exige a gestão integrada de múltiplas áreas, de forma a garantir a rentabilidade. Poucas explorações poderão ser lucrativas se não conseguirem equilibrar corretamente a produção de leite, a alimentação, a saúde animal, a reprodução e a genética. É crucial uma gestão eficaz, como também é importante a capacidade de ver o negócio sob vários ângulos e de questionar os padrões estabelecidos. A eficiência económica de uma exploração leiteira
exige animais saudáveis e produtivos, que, por seu turno, depende de vários fatores, tais como as instalações, o tamanho do efetivo, a qualificação dos trabalhadores, o grau de automatização do maneio, o clima, a alimentação, dos dias em leite (DEL), da qualidade do leite produzido e de alguns parâmetros reprodutivos, como o intervalo entre partos (IP-P), o número de inseminações por inseminação artificial fecundante (IA/IAF), a idade das novilhas ao primeiro parto, etc. A variável que mais influencia a rentabilidade de qualquer exploração leiteira é a alimentação, não só pelos seus elevados custos, quer em termos absolutos, quer em termos relativos, mas também pela influência que exerce na
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EUA, as alterações climáticas e toda a especulação associada ao negócio, levam a uma instabilidade nos preços dos alimentos. Assim, dada esta inconstância e imprevisibilidade do preço das matérias-primas, há que otimizar a variável da alimentação e, por conseguinte a sua rentabilidade. Para implementar um sistema de alimentação há que considerar o nível de produção da exploração, os estados reprodutivos e de lactação do efetivo, bem como as caraterísticas das forragens e do valor nutritivo dos alimentos disponíveis.
REDUÇÃO DOS CUSTOS ALIMENTARES A atual relação entre o preço do leite pago ao produtor e o preço dos concentrados exige que os produtores de leite e os técnicos procurem alternativas para reduzir os custos de alimentação. Neste contexto, reduzir os custos de forma quase aleatória e pouco refletida, quando o preço do leite ao produtor diminui, é uma tentação impulsiva em muitas explorações. Este tipo de situação terá que ser antecedido de alguma reflexão, devendo considerar-se prioritários os investimentos em vez dos custos efémeros sem consequências futuras. Por exemplo, comprar
forragens ou outros alimentos de pior qualidade assim como reduzir as quantidades de concentrados podem provocar desequilíbrios que trarão prejuízos, muitas vezes recuperáveis apenas a médio-longo prazo. Esta redução inadvertida dos custos alimentares poderá traduzir-se numa descida da produção, o que poderá agravar ainda mais a rentabilidade da exploração, devido a um maior impacto dos custos fixos sobre o custo do litro de leite. Os custos alimentares ao nível energético podem ser reduzidos, através da potenciação da produção e do aproveitamento de forragens
Alimentação
próprias, de boa qualidade, com bons níveis de energia, de ingestão e de digestibilidade, o que pode reduzir consideravelmente o custo dos concentrados. Também o aumento da produção de forragens na própria exploração (milho, azevém, etc.) funciona como forma de reduzir a dependência dos preços dos alimentos comprados, que o produtor individual não controla. Uma possível alternativa para otimizar os custos alimentares poderá passar pela avaliação das vantagens e desvantagens de diferentes grupos de alimentação de vacas, com planos alimentares diferentes, fornecendo a vacas menos produtivas rações mais económicas. No entanto, deve atender-se que esta situação apresenta custos que deverão ser considerados, relativos ao trabalho e
maquinaria associados com a produção de um carro unifeed adicional, assim como o custo associado à perda potencial de produção de leite das vacas que mudam do grupo de alta para o grupo de baixa produção. Neste contexto, outra solução poderá passar por utilização de uma alimentação base única na manjedoura, suplementada individualmente através do sistema de boxes (ou outro sistema) com um concentrado, em função do potencial produtivo de cada animal. A redução de custos alimentares deverá passar também, pela diminuição de perdas associadas com a manipulação dos alimentos no carro unifeed, tendo que ser feita por um operador responsável e preparado, e devendo ter-se em atenção o bom funcionamento das balanças.
ALIMENTAÇÃO E A QUALIDADE DO LEITE O produtor tem muito pouco controlo sobre o preço do leite, daí ser muito importante que potencie ao máximo o pouco domínio que possui. Pode assim controlar o preço do leite através da melhoria da qualidade, diminuindo as contagens de células somáticas (CCS), assim como as bacteriológicas e melhorando os níveis dos teores butiroso (TB) e proteico (TP). Para além de melhorar o preço do leite, a redução das CCS melhora também a rentabilidade da exploração, através da redução dos custos veterinários e de um potencial aumento de produção. A nutrição pode potenciar esta diminuição das CCS, através de aportes adequados de vitaminas e minerais (Vitamina E, zinco, cobre e selénio), que interferem favoravelmente no sistema imunitário do animal. A distribuição do alimento após a ordenha poderá ajudar
a manter os esfíncteres dos tetos do úbere limpos, enquanto estão abertos. A utilização de proteínas metabolizáveis com um perfil de aminoácidos bioprotegidos (metionina e lisina), favorecem o aumento do TP, assim como a presença de teores de amido de média/baixa fermentação ruminal, na ordem dos 15 a 20% da matéria seca ingerida. O fator que mais interfere no TB do leite é o teor de fibra da dieta. Assim, quanto maior o teor de fibra da dieta maior será o teor de gordura do leite, devido à variação na proporção de ácidos gordos voláteis produzidos no rúmen, em função da diferença na dieta. Também, o uso de tamponizantes na dieta, tais como bicarbonato de sódio ou óxido de magnésio, podem prevenir o abaixamento do TB.
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ALIMENTAÇÃO E FASES PRODUTIVAS Em função da fase produtiva, existem uma série de pressupostos que podem ajudar a otimizar os custos, sem comprometer a produção.
Recria Ao reduzir a idade ao primeiro parto (24 meses), consegue-se reduzir o número de animais em recria e, por conseguinte o número de dias que se alimentam.
Vacas Secas O período de secagem deve ser entendido como o início de uma nova lactação, sendo a alimentação e o maneio adequados fundamentais para a manutenção da saúde da vaca, a otimização da produção na lactação seguinte e o aumento da eficiência reprodutiva. Através de um programa alimentar
correto pode ser aumentada significativamente a produção de leite na lactação seguinte e reduzir ainda, o risco de ocorrência de perturbações metabólicas como hipocalcemias, acetonemias, retenções placentárias e deslocamentos de abomaso.
Vacas em produção A alimentação das vacas em lactação deverá priorizar a rentabilidade através da maximização da eficiência de conversão dos nutrientes aportados, e produzir a quantidade de leite ótima para maximizar o benefício, que passará pelo máximo volume de leite,com a melhor qualidade. Esta eficiência alimentar consegue-se fornecendo os nutrientes necessários, sem resultar em excessos.
conclusão Numa época de grande instabilidade quer do preço do leite ao produtor, quer do preço das matérias-primas e, consequentemente da alimentação dos animais, as explorações leiteiras têm que otimizar ao máximo todas as suas variáveis, nomeadamente a alimentação, que é a que maior influência tem no processo produtivo. Neste contexto, a Sorgal, através do seu corpo técnicocomercial, tem sempre presente esta preocupação de potenciar os lucros de cada um dos seus clientes, através do acompanhamento de proximidade, do conhecimento profundo daquilo que sãos os seus objetivos, as suas limitações e os seus potenciais, promovendo assim a otimização alimentar, quer em termos produtivos, quer em termos de rentabilidade financeira.
atualidades
um subproduto amigo do ambiente
O borrego está nas redes sociais
O Instituto de Investigação Agrícola Neiker-Tecnalia divulgou os primeiros resultados da utilização de bolo de colza (subproduto resultante da extração do óleo de colza) como um redutor de emissão de gás metano por parte dos bovinos, e também como possível redutor da emissão de dióxido de carbono para máquinas agrícolas. Este subproduto demonstrou não só reduzir a emissão de gás metano entre 6 a 13%, como também demonstrou diminuir a emissão de dióxido de carbono entre 6.8 e 13.6%. Outra característica descoberta foi a sua capacidade em aumentar a eficiência da digestibilidade da matéria orgânica entre 4.4 e 10.1%. Estes resultados preliminares foram obtidos em laboratório, pelo que os investigadores pretendem agora avançar para os testes de campo. O subproduto vai ser testado tanto em vacas como em ovelhas, sendo promissor não só porque há uma possibilidade de integração na dieta até 8%, mas também porque já existem provas de que ovelhas alimentadas com este subproduto apresentam um perfil de ácidos gordos no leite bastante favorável. Nas máquinas agrícolas, a investigação vai debruçar-se no uso do óleo extraído diretamente da prensagem das sementes de colza como combustível, na adequação aos vários tipos de motores e na avaliação da redução de CO2 nas emissões dos motores conseguida com o emprego de óleo de colza comparativamente com o diesel convencional de origem fóssil. Estudos já efetuados demonstram que o óleo de colza pode ser adicionado ao gasóleo numa proporção de até 30% do depósito de combustível sem que seja necessária qualquer modificação dos motores. Outra vertente a investigar será a utilização da colza nas culturas de rotação, contando com a colaboração de vários produtores da região. Este projecto, financiado em conjunto pela União Europeia e pelo Governo Regional Basco (Espanha), pretende contribuir para a transformação necessária do setor agrícola numa área mais “amiga do ambiente”, sem que a produção seja prejudicada.
A Eblex, Organização Industrial do Sector Ovino e Bovino Inglesa, está a promover uma campanha nas redes sociais, que procura convencer os jovens a cozinharem e a consumirem carne de borrego. Apelidada de LambSoc, a iniciativa visa criar uma comunidade de pessoas, com idades compreendidas entre os 18 e os 25 anos, que serão convidadas a publicarem vídeos e fotografias a confecionem receitas onde o ingrediente comum é o borrego. Uma das responsáveis pelo projeto, Zhenya Dewfield, afirmou que um dos objetivos da campanha é posicionar a carne de borrego como uma “carne de aventura”, fácil de cozinhar e saborosa, dado que na sua confeção podem associar-se diferentes especiarias. A campanha visa unir cerca de 4.000 pessoas através de canais online, como o Facebook, o Twitter, o Instagram e o You Tube, e tem como finalidade aumentar a rentabilidade das explorações de ovinos.
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entrevista
MERCADO QUE VALORIZA INOVAÇÃO E QUALIDADE Entrevista a Pedro Cordero, diretor-geral da Nanta em Espanha e Portugal. por ruminantes
Pedro Cordero, o percurso na empresa “Iniciei a minha colaboração com a NANTA em 1990 e durante 15 anos tive a oportunidade de desenvolver o meu trabalho no Serviço Técnico Comercial de Ruminantes numa área realmente ampla e interessante pela grande variedade de cenários: Cantábria (no norte de Espanha) e Castela e Leão, o que me proporcionou experiência em vacas de leite e carne, assim como em pequenos ruminantes. Durante este período também tive a oportunidade de trabalhar na zona centro e norte de Portugal, o que foi particularmente enriquecedor e me permitiu obter um importante conhecimento, não só do mercado português e das suas particularidades, como também do país e da sua cultura com os quais me sinto muito identificado. Em 2005 fui nomeado diretor regional adjunto na mesma região, começando uma nova orientação na minha carreira profissional até que em 2010 assumi o cargo da direção de marketing do segmento de pecuária para Espanha e Portugal, responsabilidade que desempenhei até agora. Portanto, são quase 25 anos desenvolvendo diferentes funções na empresa, o que me permitiu adquirir múltiplos conhecimentos e experiências que me serão muito úteis nesta nova etapa como diretor-geral da Nanta”.
Ruminantes – Porque criou a Nutreco a unidade de negócio Compound Feed & Meat Iberia? Em que consiste? Pedro Cordero - Tratou-se de uma questão fundamentalmente organizativa que reúne sob uma mesma direção as três empresas. Portanto, neste momento, somos uma unidade de negócio dentro da NUTRECO como outras que já possui. Este modelo de organização tem como objetivo potenciar as inumeráveis possibilidades de
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sinergia que existem entre as três empresas num mercado que tende à verticalização e concentração das produções pecuárias. Os nossos clientes reconhecerão vantagens adicionais na medida em que estamos pondo ao seu alcance todos os nossos recursos de forma coordenada. Qual é a importância da NANTA nesta nova unidade de negócio? A NANTA, com cerca de 800 empregados dos quais 8% estão em Portugal, representa 65% da
faturação incluindo as vendas às outras empresas do Grupo. A NANTA tem uma vocação clara que foi uma das chaves do seu desenvolvimento: somos especialistas em alimentação animal. No segmento de pecuária o nosso objetivo é fazer crescer o negócio dos nossos clientes. Não só fornecemos produtos de altíssima qualidade, como proporcionamos um assessoramento profissional com técnicos de alto nível. Isto permite-nos manter um elevado conhecimento das tendências do mercado, o que nos facilita o desenvolvimento de estratégias de valor que põem ao alcance dos nossos clientes tudo aquilo de que possam necessitar. Por outro lado, a NANTA está muito presente no segmento da distribuição na Península Ibérica, de forma muito importante em Portugal. Através da nossa rede de 1500 distribuidores e pontos de venda fornecemos em todos os mercados locais alimentos para animais de companhia, produções rurais, cavalos e todo o tipo de complementos. A NANTA sempre esteve ligada às universidades e aos Centros de Investigação da Nutreco, colaborando em muitos projetos. Que significado tem este envolvimento da empresa nos resultados dos produtos, para os clientes da NANTA? Efetivamente, a inovação baseada na investigação é um dos principais motores do desenvolvimento da NANTA.
entrevista
Para além dos centros de investigação próprios da Nutreco, temos acordos com várias universidades. Isto permite-nos não apenas validar de forma experimental tudo quanto oferecemos aos nossos clientes, mas também partilhar ideias, conhecimento e experiências com peritos de diferentes campos, que se traduzem no desenvolvimento de produtos mais eficientes e soluções inovadoras. Em conclusão, trata-se de potenciar a rentabilidade dos produtores de gado que confiam em nós. Que produtos e programas alimentares para ruminantes surgiram no seguimento do investimento feito nestes projetos de investigação? Como disse, contámos com o apoio de oito centros de investigação repartidos por todo o mundo. Portanto, são muitas as linhas de trabalho que podemos cobrir. Diferentes grupos de trabalho formados por investigadores e equipa técnica comercial em contacto com os clientes, determina os possíveis benefícios de cada linha de investigação, e a partir daí pomo-nos em ação. Cobrimos qualquer aspeto da produção que possa ser suscetível de melhoria, seja gestação, lactação, bem-estar animal, diferentes genéticas, etc. Para exemplificar, temos atualmente muito avançado um projeto sobre os benefícios da vitamina E na qualidade da carne e sua conservação. Neste projeto, levado a cabo pela equipa da NANTA junto com o RRC (Ruminant Research Centre) da Nutreco e universidades espanholas, dinamarquesas e holandesas, contamos ainda com a estreitíssima colaboração de um cliente da NANTA. Este último permite-nos validar os resultados em condições de exploração comercial. Em que produto novo se traduzirá isto? Ainda é cedo para sabê-lo mas o que não duvido é que, em breve, estes avanços serão
“No segmento de pecuária o nosso objetivo é fazer crescer o negócio dos nossos clientes. Não só fornecemos produtos de altíssima qualidade como proporcionamos um assessoramento profissional com técnicos de alto nível.” incorporados nas nossas rações. Gostaria de falar de alguns dos produtos que já estão à disposição dos clientes da NANTA e que são resultado desta tecnologia de trabalho como por exemplo as rações Novalac para vacas de leite e Inolac para ovinos e caprinos leiteiros, Gesticor para ovinos de carne, Opticar para vacas de carne, Komplet para pequenos ruminantes ou Kempen para vacas leiteiras, entre outras que não refiro para não me alongar demasiado. Qual a importância do desenvolvimento de nutrientes específicos da NANTA na otimização dos arraçoamentos para ruminantes? O principal objetivo do arraçoamento em ruminantes é oferecer-lhes alimentos que forneçam nutrientes específicos que cubram as suas exigências com o objetivo de maximizar a sua produção, a sua sanidade e a eficiência alimentar. Com isto conseguiremos aumentar a rentabilidade e a sustentabilidade da exploração de leite. A NANTA desenvolveu e aperfeiçoou um modelo específico para ruminantes de leite (Novalac) baseado numa correta avaliação nutricional dos alimentos que dá resposta às necessidades reais que tem
o produtor pecuário no campo. O desevolvimento e a validação de nutrientes específicos da NANTA permite calcular e controlar melhor a fermentação ruminal e a oferta de nutrientes aminogénicos, cetogénicos e especialmente os glucogénicos, face aos nutrientes convencionais. Por isso, quando se utiliza Novalac para a conceção das rações, as vacas alimentam-se com maior precisão e com um melhor controlo sobre a estabilidade do rúmen e a saúde geral do animal. O desenvolvimento correto dos animais jovens é fundamental para a eficiência de explorações modernas. Que projetos de novos alimentos tem a NANTA para este período dos animais, em bovinos, ovinos e caprinos? Efetivamente, é bem sabido pelos profissionais da pecuária que este período é crítico para o futuro das explorações e, portanto, para a melhor viabilidade do negócio. Na NANTA estamos conscientes disto e damos uma grande importância às rações para esta fase, prestando grande atenção quer à formulação quer à qualidade, com um
restrito processo de seleção de matérias-primas e de controlo do produto acabado. Os nossos produtos para estas primeiras idades abarcam desde uma gama completa de leites de substituição – NANTAmilk – para vacas, ovinos e caprinos até às rações para a recria de novilhas, e obviamente as rações de iniciação como o Novalac TXT recentemente apresentado na Agroleite, ou os demais produtos para iniciação de pequenos animais. Além disso, fruto de toda essa investigação que mencionei anteriormente, estamos a trabalhar num novo programa, “Novalac Prima”, que esperamos pôr à disposição do mercado em breve e que contribuirá para melhorar a recria das novilhas de forma substancial, o que como todos sabemos, ajudará a conseguir melhores vacas leiteiras para as explorações. Como vê o negócio do leite e da carne de bovinos e ovinos na Península Ibérica? Para além da incerteza lógica que continuamos a ter relacionada com as consequências das alterações nas normativas europeias
Números e quota de mercado da nova Unidade de negócio e da Nanta na Ibéria Cada uma das três empresas de produção de alimentos compostos e produção pecuária que a Nutreco possui na Península Ibérica (NANTA, SADA e INGAFOOD) é líder no seu segmento: • NANTA - com 19 fábricas (uma delas em Portugal, na localidade de Marco de Canaveses) é líder do mercado ibérico de alimentos compostos com uma produção próxima de 2,8 milhões de toneladas/ano, das quais 60% ao mercado não integrado e 40% às empresas do Grupo. Isto representa cerca de 13% do mercado total e 15% do mercado livre da Peninsula Ibérica (Espanha e Portugal) • INGAFOOD - produz um milhão de porcos brancos e cerca de 50.000 ibéricos. Para além disso comercializa mais de 300 mil animais de clientes da NANTA. • SADA - produz e comercializa anualmente mais de 140 milhões de frangos, o que representa mais de 25% do mercado espanhol. A soma das três empresas constitui o grupo mais potente do setor com uma faturação superior a 1.400 milhões de euros consolidados e cerca de 4 mil empregados.
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entrevista
(reforma da PAC, desaparecimento das quotas, etc.), o que mais preocupa a curto prazo é como o setor será capaz de se adaptar com rapidez às mudanças do mercado. Refirome à evolução negativa da procura de produtos lácteos e carne que condiciona o crescimento das explorações, à volatilidade dos preços das matérias primas que dificulta o planeamento e às dificuldades para conseguir financiamento. Apesar de tudo, estou otimista porque ao longo dos anos pude ver como os produtores souberam sair de situações muito difíceis. Para além disso, atualmente abrem-se novos mercados para estas produções e tudo isto é ajudado pela tendência atual dos preços das matérias primas. É uma visão otimista mas também realista e acredito que podemos ter alguns anos bons pela frente. O que representa para a NANTA o mercado português? Como vê o futuro? O mercado português é muito importante para NANTA. Trata-se de um mercado que valoriza realmente a inovação e a qualidade dos produtos, ao contrário de outros em que nos movemos. Como já comentei, contamos com uma fábrica em Marco de Canavezes e as nossas vendas aí representam 11% do nosso volume de mercado de terceiros (mercado não integrado) na Península com uma notável contribuição nos resultados económicos da empresa. A confiança na gestão do negócio que desenvolvem os nossos colegas portugueses é absoluta. Em relação ao futuro, Portugal como Espanha atravessa uma das maiores crises económicas da sua história, o que se está a traduzir em mudanças sociais e de consumo muito importantes. Obviamente que isto nos afeta já que não se pode esquecer que o fundamento das produções pecuárias é a produção de alimentos sãos e acessíveis para a população. No entanto, sou dos que acreditam que nestes momentos os negócios ligados à produção agropecuária jogam com alguma vantagem pois não estão baseados em princípios especulativos, mas sim no seu próprio valor como bens de consumo básico.
Entrevista a António Santana, diretor da NANTA em Portugal. Ruminantes - Na prática, o que representa para o mercado português todo o investimento em investigação e inovação que a empresa tem feito? António Santana – Este investimento é o fator principal de diferenciação que nos permite estar na vanguarda da alimentação animal. Com esta política conseguimos aumentar a eficiência produtiva dos animais dos nossos produtores e, assim, contribuir para a rentabilidade dos seus negócios. Isto tem um reflexo prático ao nível das vendas, pois temos crescido de forma sustentada, ano após ano, apesar de o mercado ter decrescido, para além do reconhecimento dos operadores do setor. Quais os produtos e serviços para ruminantes que prevêem lançar em Portugal nos próximos tempos? A NANTA Portugal está integrada num processo que engloba todo o grupo da Península Ibérica e mundial da Nutreco e, como tal, são desenvolvidos produtos, processos e serviços comuns. Logicamente que existe uma adaptação a cada um dos mercados, devido às suas características e especificidades, mas a linha de atuação é comum. No que se refere a ruminantes incluímos os sistemas referidos pelo nosso diretor-geral, Pedro Cordero, quer sejam para grandes como para pequenos ruminantes. Estamos, agora ainda mais, focados no desenvolvimento
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de produtos para as primeiras idades, como é o caso do lançamento do Novalac Txt que fizemos na Agroleite, na Póvoa de Varzim, no passado mês de Julho, e que tem tido uma ótima aceitação do mercado. Muito brevemente falaremos também do novo programa Novalac Prima e do seu contributo para melhoria da recria de Novilhas. Também os leites de substituição produzidos e comercializados pelo Grupo têm merecido a preferência de muitos produtores. Os novos produtos criam expetativas de melhores resultados de campo. Como faz esse acompanhamento e como verifica a qualidade dos produtos? Os nossos serviços de acompanhamento comercial e técnico de clientes fazem uma monitorização diária de clientes e produtos. A nossa equipa em Portugal é constituída por três veterinários e nove Zootécnicos com formação, conhecimento e meios tecnológicos que permitem avaliar os resultados e a sua sustentabilidade. A empresa dispõe de sistemas e certificações de controlo de qualidade e segurança alimentar que nos permitem assegurar produtos de alta qualidade, seguros e eficientes, e isso reflecte-se no sucesso que temos nas nossas vendas.
atualidades
Alltech Global Dairy & Beef A segunda edição do Global Dairy & Beef 2014 decorreu na localidade francesa de Deauville, no início de setembro, simultaneamente com os Alltech FEI World Equestrian Games™ 2014 que tiveram lugar na Normandia (França). Este ano estiveram presentes mais países, um maior número de participantes (cerca de 700) e mais de 500 mil bovinos representados pelos criadores. Com as indústrias da produção de leite e carne a enfrentarem desafios constantes e em várias áreas, as palestras realizadas focaram a necessidade de aumento da eficiência de produção, da melhoria da rentabilidade, e a sustentabilidade a longo prazo. O Global Dairy & Beef examinou a indústria atual e olhou para as tendências futuras, abordando temas ligados com a preparação que os produtores devem ter
para enfrentarem com sucesso os desafios futuros. “Os produtores são eternos empreendedores e terão um futuro risonho se se concentrarem em oportunidades no mercado, abraçando a tecnologia e estando dispostos a correr riscos”, afirmou Pearse Lyons, fundador e presidente da Alltech. Damien McLoughlin, professor na University College Dublin (Irlanda), pediu aos participantes que “abracem a inovação e deem prioridade ao fator tempo, por forma a criar oportunidades e tornar mais rentável os seus negócios.” Katrine Lecornu, presidente da Associação Europeia de Produtores de Leite, falou sobre a exploração do trabalho agrícola e o seu futuro. “Os principais desafios para o produtor de amanhã são a melhoria da gestão do trabalho, a rentabilidade
e os investimentos e os custos de arranque”, afirmou. “Os produtores do futuro devem decidir se querem gerir animais ou pessoas”, comentou a mesma oradora. “A próxima geração de produtores vai levar-nos a novos voos e eles precisam da nossa confiança para chegar lá.” Durante o evento, a Alltech apresentou vários casos de produções locais na Normandia. Esta região francesa é o coração da indústria de ruminantes –
existem mais de 580 mil vacas leiteiras e mais de 250 mil de bovinos de corte nas 12 500 explorações leiteiras existentes e 5800 unidades de carne bovina. Cerca de 17 mil pessoas da região trabalham na agricultura. A próxima edição do evento Global Dairy & Beef será realizada em conjunto com o 31º Simpósio Internacional Anual da Alltech que terá lugar no estado norte-americano de Kentucky em maio do próximo ano.
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entrevista
Comercializamos os nossos produtos
em 16 países
Gil Jorge, presidente da Unileite, abordou o atual estado do setor das cooperativas de laticínios na ilha de São Miguel, Açores. A relação com os produtores, a qualidade dos produtos e a evolução da empresa estiveram no centro do discurso daquele responsável. por ruminantes
Unileite é a união de cooperativas de laticínios de São Miguel. Tem já 60 anos e agrega dez cooperativas em toda a ilha, que recolhem e entregam o leite nas suas instalações. Em 1990 viveu um período de crise, tendo estado perto da insolvência. No entanto, conseguiu resolver os seus problemas e, nos últimos 20 anos progrediu de tal forma, que foi considerada em 2013, a nona maior empresa do arquipélago. De há dez anos a esta parte duplicou a sua produção, sendo que no ano passado passou a ter uma quota de 189 milhões de litros leite. O número de associados é sensivelmente idêntico ao período mais conturbado da sua história: se na década de 90 eram 760 produtores, hoje são 720. Ainda assim, um aspeto sobressai: naquele período a
empresa apenas angariava 30 milhões de litros de leite. Gil Jorge sublinha que o segredo da recuperação foi trabalhar a Unileite como uma empresa, através de uma gestão rigorosa e com grande empenho dos seus sócios e cooperativas associadas. “Começámos por deslocar as instalações do centro da cidade para o centro da bacia leiteira, nos Arrifes. Mais tarde, em 2000, construímos uma nova fábrica. Com esta mais-valia invertemos a tendência, começámos a crescer e criámos novos e inovadores produtos. O facto de podermos contar com excelente matéria-prima, torna os nossos produtos saborosos e de enorme qualidade. Temos, por exemplo, ganho prémios regionais, nacionais e internacionais. A recuperação da empresa
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veio com o crescimento e teve na sua base o profissionalismo de todas as pessoas envolvidas, técnicos competentes que sabiam exatamente para onde queriam ir e o caminho a percorrer. Em 2004 demos um passo ainda maior: juntámo-nos à CALF do Faial e à Uniqueijo de São Jorge, criando a União Cooperativa de Lacticinios dos Açores, a LactAçores. Nesse mesmo ano a faturação foi de 28 milhões de euros. Em 2013, atingiu os 72 milhões”. Ruminantes - O que tem feito a Unileite e o que pensa fazer no futuro para valorizar, ainda mais, o leite dos seus produtores? Gil Jorge - A Unileite tem sempre em mente o preço do leite ao produtor. Defendemos os produtores e a nossa obrigação é valorizar, ao máximo, o preço do leite.
entrevista
“sempre que o preço do leite tem que subir ou descer é em Assembleia Geral que se toma a decisão final.”
Nos últimos dez anos, desde que assumi funções como presidente da Unileite, tenho defendido a aproximação aos produtores - também eu sou um produtor. Fazemos várias reuniões ao ano e sempre que o preço do leite tem que subir ou descer é em Assembleia Geral que se toma a decisão final. A direção explica o que se passa no mercado e quais as razões que a leva a alterar o preço do produto. A forma de melhor valorizar o leite assenta em dois pilares: primeiro, no Departamento de Inovação da Unileite, que tem a responsabilidade de criar e produzir novos produtos, e que muito tem contribuído para o sucesso de vendas. Lançamos anualmente três a quatro novos produtos, tendo consciência que nem todos vingam, mas ainda assim temos casos de enorme sucesso. Em alguns a inovação passou por criar produtos fatiados, que antes apenas existiam em barras, e que nesta apresentação não se vendiam. O segundo pilar centra-se na busca de novos mercados, pois atualmente 20 por cento das nossas vendas têm como destino os Açores, 70 por cento vão para o Continente e restam 10 por cento - que ainda podem crescer – que vão para países europeus. Possuímos produtos de grande potencial e que já comercializamos em 16 nações. Temos vindo a fazer o nosso trabalho de casa para poder continuar a crescer de forma sustentável. Existe a consciência de que vamos ser invadidos por produtos e que temos o mar
e um transporte muito caro antes de chegar aos nossos mercados. Posto isto, temos a convicção de que apenas com matéria-prima de valor acrescentado poderemos vingar. Que posição deverão assumir os produtores junto da Unileite após o término das suas quotas? A relação da Unileite com os seus associados já não irá sofrer grandes alterações, pois existe com estes uma proximidade muito grande. Tem sido feita uma gestão baseada na evolução e valorização. Posso citar um exemplo prático que melhor explica a minha tese: pagamos o leite com base numa classificação que vai de 0 a 9 pontos (valor máximo) e há dez anos pagávamos, em média, 1,5 a 2 pontos de classificação. Hoje, esse valor situa-se nos 8,5, ou seja, muito perto do limite máximo de qualidade. A estabulação das vacas pode prejudicar o valor acrescentado do leite açoriano? A Unileite defende que cada produtor deve fazer a gestão da sua exploração, cada cooperativa deve gerir a sua organização e que para alcançar bons produtos é necessária matéria-prima de qualidade. No que toca ao estabulamento, há alguns produtores, poucos, que por necessidade fazem algum. Na ilha de São Miguel houve uma grande evolução, sendo que atualmente há concelhos onde não se consegue mudar as vacas de parcela. É impossível mudar vacas de parcela em parcela, pois temos produtores com 150 a 250 vacas, alguns com 300, e atravessar a rua com todos estes bovinos não faz sentido. São estes produtores que, em determinado período do ano, são obrigados a ter vacas semiestabuladas ou estabuladas. Acredito que nos Açores nunca passará de 6 a 7 por cento de vacas neste contexto. Mais de 90 por cento estarão naquilo que gostam: em pastoreio.
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alimentação
Manuel Ortigão Eng.º Zootécnico, Tecadi Técnico-Comercial Zona Norte e Açores manuel.ortigao@tecadi.pt
Combinando alta produção de leite com boa condição corporal Com o rápido aumento da produção de leite após o parto, a necessidade de glucose no sangue aumenta e a sua reserva é esvaziada drasticamente.
Combi CLA Combi CLA é um alimento complementar inovador para vacas leiteiras que torna mais fácil aos animais iniciar a lactação. Contém ácido linoleico conjugado (CLA), que os animais estabulados não conseguem absorver em quantidades suficientes. Combi CLA é uma pré-mistura de Lutrell® (BASF), adaptada à utilização directa nas explorações leiteiras, seja no unifeed, na manjedoura, no robot ou no alimentador automático. Combi CLA gere a energia gasta na produção de matéria gorda do leite durante o curto período em que é utilizado, resultando numa redução do consumo de glucose do sangue e optimizando o balanço energético da vaca leiteira. Isto corresponde a um alívio significativo para o metabolismo no início da lactação e permite um tempo mais fácil para o animal, durante esta fase crítica e incontornável do periparto. Esta é uma distinção fundamental entre Combi CLA e outras medidas utilizadas, que muitas vezes visam optimizar este balanço através do aumento do consumo de energia pela vaca. A investigação científica tem demonstrado que o teor mais elevado de glucose no sangue obtido com Combi CLA (Lutrell®) nas primeiras semanas de lactação, resulta em menos gordura corporal mobilizada(1) (2). Esta menor mobilização reduz o stresse para o fígado, dado que menos ácidos gordos livres têm de ser processados e portanto, menos betahidroxibutirato é produzido. Isto reduz a acumulação de gordura no
fígado e o perigo de cetose. A vaca leiteira responde, entre outras coisas, produzindo maior quantidade de leite. Outro efeito do aumento no nível de glucose no sangue, é a influência sobre importantes hormonas responsáveis pelos processos de fertilidade. Isto foi demonstrado por um estudo relacionando esta concentração de glucose com o sucesso à 1ª inseminação(3). Outros estudos mostraram um aumento na concentração de IGF-1 acompanhada por perfis mais nítidos de progesterona no plasma sanguíneo(4). Como consequência,
a vaca leiteira começa mais cedo o ciclo e o embrião tem condições mais favoráveis para uma mais rápida e segura implantação no útero. A gestação começa mais cedo em vacas que receberam ácido linoleico conjugado, o principal ingrediente de Combi CLA, durante a fase de transição e o início do período da lactação(5). Combi CLA, ajudando a utilizar as reservas de energia da vaca de alta produção com mais eficiência e a estabilizar a situação metabólica, em última análise, melhora a sua vida tabela 1 Benefícios médios por vaca da utilização de Combi CLA.
Situação Inicial
Combi CLA
Diferenças Diferenças Absolutas Relativas
Efeitos na performance de uma vaca Leite (kg/lactação)
10.000
10.700
700 kg
7,0%
Leite corrigido para energia (ECM) (kg/lactação)
10243
10.800
557 kg
5,4%
Gordura (%)
4,20
4,08
-0,12%
-2,9%
Gordura (kg/lactação)
420
437
17 kg
4%
Proteína (%)
3,40
3,39
-0,01%
-0,3%
Preço do leite (€/kg)
0,300
0,297
Receita c/ leite (€/vaca/lactação)
3.000
3.178
Melhoria (em dias)
0
10
Valor económico (€/dia)
0
3
Melhoria (%)
0
5
Valor económico (€)
0
850
O seu benefício imediato (1ª lactação)
178 €
O seu benefício adicional (>1ª lactação) Intervalo entre partos
30 €
Taxa de refugo
43 € Fonte: BASF
24 outubro . novembro . dezembro 2014 Ruminantes
alimentação
produtiva, contribuindo para uma produção de leite economicamente mais sustentável. O uso de Combi CLA significa um lucro médio para o produtor de 200 € por vaca e lactação. A tabela 1 contém um cálculo médio ilustrando como esse valor cresce com o uso a longo prazo deste produto. Recomendamos aplicar 125g de Combi CLA por vaca e dia, começando 21 dias antes da data prevista para o parto até 80 dias após. Um período mais curto de aplicação é possível, até ao trigésimo dia após o parto, porém neste caso a dosagem deve ser duplicada.
Carlos Cruz (Ovar) (116 vacas em lactação) está com este produto desde Janeiro de 2014: tem obtido desde então um significativo aumento da taxa de fertilidade. “Um dos efeitos mais imediatos do uso do Combi CLA foi o primeiro cio ser observado mais cedo, estando agora nos 28-35 dias pósparto. A 1ª inseminação passou em média dos 60 para os 45 dias. O nº médio de IA fecundantes passou de 2,7 para 2,4”. A produção actual é de 34 kg/vaca/dia, atribuindo o produtor cerca de 1 kg de aumento ao Combi CLA. Também na transferência de embriões tem obtido bons resultados, tendo referido o exemplo recente da utilização do produto durante 30 dias numa vaca em que conseguiu recolher 7 embriões. Este
efeito tinha já sido demonstrado num trabalho da Universidade dos Açores em 2011, em que as vacas que receberam Lutrell apresentaram um nível de progesterona mais elevado e uma taxa de recolha de embriões no estado de mórulas significativamente mais elevado ao dia 7. Referências Bibliográficas (1) Odens, L. J.., R. Burgos, et al. (2007), Journal of Dairy Science 90(1): 293-305. (2) Hoetger, K., H. M. Hammon, et al (2013), Journal of Dairy Science 96(4): 2258-2270. (3) Garverick, H. A., M. N. Harris, et al (2013) Journal of Dairy Science 96(1): 181-188. (4) Castañeda-Gutiérrez et al. (2007), Journal of Dairy Science 90: 4253-4264. (5) De Veth et al. (2009), Journal of Dairy Science 92: 2662-2669.
EM PORTUGAL Em Portugal, este produto tem sido utilizado desde 2011, havendo bastantes produtores que conhecem bem os seus efeitos na rentabilidade das suas explorações. Fomos falar com alguns dos produtores que utilizam o produto há mais tempo, a quem muito agradecemos a colaboração que sempre deram na recolha dos dados.
Fernando RodrigueS (Murtosa) (60 vacas em lactação) fornece este produto no periparto desde Maio de 2011. Refere que o que primeiro registou, “poucos dias após o início de utilização do Combi CLA, foi o aumento da produção e a redução na gordura do leite. Pouco depois comecei a aperceber-me de cios mais visíveis, especialmente nas primíparas”. Isto resultou numa redução de 40 dias do intervalo entre partos ao fim de 2 anos e meio. O Médico Veterinário que acompanhava a exploração em 2011 referiu a redução significativa da ocorrência de quistos foliculares.
Eduardo Fernandes (Vila do Conde) (85 vacas em lactação), que usa Combi CLA desde Outubro de 2012, salienta “uma melhor observação de cios e a antecipação da 1ª inseminação em alguns dias”. O intervalo entre partos, que estava em 435 dias em Setembro de 2012, passou para 418 em Agosto de 2014, indicando o programa de gestão da exploração um intervalo previsto de 405 dias, para uma produção de leite habitualmente acima dos 40 kg/vaca/dia.
Carlos Diogo Salgueiro (Vila do Conde) (60 vacas em lactação), com Combi CLA desde Março de 2013, prefere salientar “a melhoria da produção de leite” tendo até referido a quebra de produção que ocorreu durante um curto período em que houve interrupção de administração do produto. Nota: O autor escreveu este artigo segundo o Antigo Acordo Ortográfico.
ruminantes outubro . novembro . dezembro 2014 25
Alimentação
pedro castelo Engº agrónomo, reagro sa. pedro.castelo@reagro.pt
RAÇA MERTOLENGA
MELHORAR A EFICIÊNCIA NAS ENGORDAS É do conhecimento geral que os preços das matérias-primas para a alimentação animal devem continuar a preços razoáveis durante os próximos meses, no entanto o preço dos animais ao desmame deverão permanecer elevados.
Protocolo definido São vários os fatores e já muito discutidos, deste modo torna-se imprescindível apostar cada vez mais na eficiência alimentar para garantir resultados técnicoeconómicos positivos. Devido a uma constante preocupação em ser cada vez mais eficientes, ou seja, produzir ao menor custo possível, fizemos em conjunto com a Associação de Criadores de Bovinos Mertolengos (ACBM) um protocolo para encontrar um caderno de encargos mais adaptado à raça que permita ter o melhor rácio custo/ benefício possível. Assim, realizamos dois programas alimentares que diferiam no valor de proteína do alimento concentrado, sendo que todos os outros parâmetros (energia, fibra bruta, NDF, amido, Ca e P) se mantiveram constantes – Tabela 1. Alterando apenas um parâmetro seria possível
Proteína
observar o impacto que tinha sobre as performances e consumos. Deste modo, o protocolo definido aplicou-se a machos Mertolengos em recria, inscritos no Livro Genealógico e com destino à comercialização como Vitelão Mertolengo DOP, o que significa uma idade ao abate entre 12/13 meses e um peso de carcaça por volta dos 150/160 kg.
Ensaio Assim, para verificar o objetivo descrito anteriormente, procedemos à realização de um ensaio no Centro de Testagem e Recria da Raça Mertolenga em Évora, entre 29 de Janeiro e 23 de Abril de 2014. Foram considerados 2 lotes homogéneos (raça, peso e idade) de 12 animais. No início do ensaio os animais do lote A tinham em média 223 kg de peso vivo e 9,2 meses de idade,
Farinha ACBM Lote A
Farinha ACBM – Ensaio Lote B
Proteína Bruta (%)
16
15
PDIN (g)
116
108
PDIE (g)
113
108
PDIA (g)
57
53
tabela 1 Valores de proteína dos alimentos concentrados.
26 outubro . novembro . dezembro 2014 Ruminantes
enquanto os do lote B tinham uma média de 252 kg de peso vivo e 9,5 meses de idade. Os animais foram pesados em jejum de 21 em 21 dias durante o ensaio. Os animais do lote A tiveram acesso à farinha ACBM com 16 % de proteína bruta (PB) enquanto os animais do lote B tiveram acesso à farinha ACBM Ensaio (15% PB). Ao longo de todo o período do ensaio foi contabilizada a farinha e a palha consumida por cada lote, garantindo que em nenhum momento faltasse alimento concentrado, água
ou palha aos animais. Estes dados foram fundamentais para uma análise técnicoeconómica posterior. Analisando os dados da tabela 2, podemos concluir que os ganhos médios diários (GMD) por animal foram superiores no lote que tinha à disposição a farinha com nível proteico mais elevado (1345 g/dia) quando comparado com o outro grupo (1321 g/dia), durante a totalidade do período. Curiosamente, o consumo médio diário de alimento concentrado por animal no lote A foi inferior (7,738 kg/
Alimentação
animal/dia) relativamente aos animais do lote B (7,938 kg/animal/dia).
Análise económica
tabela 2 Evolução do peso médio no ensaio (kg) e ganho médio diário final (g) por lote. Lote de animais
Preço Médio (€/ton)
29 Jan (€)
19 Fev (€)
12 Mar (€)
No que diz respeito à análise A - Farinha 16% PB 282,79 223 253 282 económica (tabela 3), apesar B - Farinha 15% PB 271,36 252 281 308 do alimento concentrado do lote A ter um preço superior, os consumos foram ligeiramente inferiores e com ganhos médios diários superiores (>24 g/dia). Assim, obtivemos um Análise Económica índice de conversão inferior no AGRADECIMENTOS lote A (5,75) comparativamente Preço Concentrado ao lote B (6,01). Para concluir, queria Considerando o preço dos Consumo Médio Diário Alimento Concentrado agradecer à Associação alimentos (concentrado e de Criadores de Custo Concentrado forragem) a preços reais, Bovinos Mertolengos, Ganhos Médios Diários apesar do custo médio nomeadamente ao por animal e por dia ser Engº José Pais, pela sua Índice Conversão superior no lote A (2,29 disponibilidade e pela Preço Palha €) relativamente ao lote B forma criteriosa que Consumo Médio Diário Forragem - Palha (2,26 €), o custo total por aplicaram neste trabalho peso vivo reposto é mais pois penso que este tipo Custo Palha interessante no lote A (1,70 de iniciativas poderá Custo Total/Animal/dia €) comparativamente ao tornar-nos cada vez mais Custo Total/1 Kg PV lote B (1,71 AF €).meia_Ruminantes_185x125AmicoteCV32.pdf competitivos. 1 14/09/09 10:14
2 Abril (€)
23 Abril (€)
GMD (g)
313
336
1345
335
363
1321
tabela 3 Análise económica referente ao ensaio. Lotes Unidade
A
B
€/ton
282,69
271,36
kg/animal/dia
7,738
7,938
€/animal/dia
2,19
2,15
g/animal/dia
1345
1321
Consumo médio de concentrado/GM
5,75
6,01
€/ton
70,00
70,00
kg/animal/dia
1,50
1,46
€/animal/dia
0,11
0,10
€/Animal/dia
2,29
2,26
€/kg PV
1,70
1,71
C
M
Y
CM
MY
CY
CMY
K
ruminantes outubro . novembro . dezembro 2014 27
pastagem
João P. Carneiro Engº Agrónomo EMP/INIAV joao.carneiro@iniav.pt
Nuno Simões Engº Zootécnico EMP/INIAV nuno.simoes@iniav.pt
Como melhorar
FIGURA 1 Desmatação prévia à sementeira da pastagem.
a disponibilidade e durabilidade da pastagem - CUIDADOS A TER PARTE 3 - Instalação e uso adequados
Nos artigos precedentes, nos números 13 e 14 da revista “Ruminantes”, sob o tema “Como melhorar a disponibilidade e durabilidade da pastagem”, abordámos os princípios teóricos das pastagens melhoradas e com que espécies contamos para introduzir, nos campos, para ter mais e melhor alimento para os animais. Neste número trataremos de realçar alguns cuidados que se deverão ter para o sucesso da pastagem, desde a decisão de semear até à sua utilização. 28 outubro . novembro . dezembro 2014 Ruminantes
Preparação prévia e como semear Como precedente é absolutamente necessário que a terra esteja limpa de plantas arbustivas e também não esteja entorroada; dito de outra forma, para se realizar a sementeira de uma pastagem, é conveniente ter a terra esmiuçada mas firme: consegue-se que a terra fique firme com a passagem prévia de um rolo (figura 1 e 2). Para melhorar ou conseguir uma boa pastagem tem de se fazer, previamente, uma análise sumária de terras, para com base nos
resultados dessa análise poder-se fazer uma adubação adequada. Os macronutientes fósforo e potássio devem estar providos em quantidade de pelo menos 50 mg por kg de terra. Se estes apresentarem valores mais baixos que os indicados, devem ser introduzidos com adubações, as quais se podem fazer: • no ano da sementeira ou de início de recuperação da pastagem; • durante outros anos nos períodos em que se fazem
pastagem
adubações de manutenção, de preferência no outono, que são as adubações para colmatar as necessidades das plantas. Em terrenos muito pobres e lavados, ou seja, com a fração mineral dominada por partículas da classe de textura arenosa, é conveniente aplicar alguns nutrientes, que embora necessários em quantidade mais reduzidas que o fósforo e o potássio, são fundamentais para a planta (boro, enxofre, molibdénio, zinco e o cálcio e o magnésio, em solos de grande acidez). Estes nutrientes devem-se aplicar em mistura, à razão de 3 a 5 kg por hectare, a cada dois anos. É uma prática com poucos custos e que pode representar apreciáveis benefícios. Para se assegurar uma distribuição homogénea de uma quantidade tão pequena, faz-se a aplicação conjunta e em mistura com os outros adubos (figura 3). Nas pastagens a aplicação de estrumes, chorumes e fertilizantes calcários calcíticos ou magnesianos são, em muitas situações, prenúncio de melhoria da produtividade. Em terrenos com infestação de arbustivas e em condições de clima mediterrâneo, tem-se verificado como boa prática fazer gradagens pesadas, sensivelmente um ano e quatro meses (por volta de Maio) antes da sementeira ou do início da nova pastagem que se quer melhorar. É frequente e aconselhável, a introdução de uma cultura anual forrageira, para alimentação animal (mistura de leguminosas e gramíneas), entre a mobilização com grade e a sementeira da pastagem. Ou seja, no primeiro ano após a gradagem será semeada a forragem, sendo que a pastagem só
F IGURA 2 Rolo articulado.
será semeada no ano seguinte. Fazer e usar esta forragem, com corte cedo ou por pastoreio intensivo tem por finalidade contribuir, juntamente com a gradagem, para a limpeza do terreno, especialmente contra infestantes. As operações devem ser feitas tendo em consideração que uma pastagem de sequeiro se tem de semear cedo (entre setembro e meados de outubro). A precocidade da sementeira deverá ser calculada em função da região, isto é, em zonas onde as temperaturas baixem mais rapidamente é aconselhável não ultrapassar o fim de setembro para a operação. As plantas das pastagens e as leguminosas em particular, que precisam que as bactérias (rizóbio ou Rhizobium sp.) que convivem nas raízes, se instalem e trabalhem para fixar azoto da atmosfera, gostam de nascer e crescer com as terras quentes, com temperaturas entre os 15º e 20º C. Na Estação de Melhoramento de Plantas, existem trabalhos com resultados marcantes do efeito prejudicial de semear tarde. Quando se semeia tarde, as leguminosas podem não nascer e se nascem ficam durante meses com folhas pequenas e definhadas. Geralmente, as casas que comercializam sementes vendem as misturas pratenses, especificamente as sementes de leguminosas inoculadas com rizóbio. Apresentam um aspeto enfarinhado pelo revestimento que se faz de inóculo e cola com carbonato de cálcio. Se as sementes forem vendidas sem inoculante, devemos consultar um especialista para saber que rizóbio aplicar, que quantidade e modo de aplicação, na superfície da semente (figura 4).
FIGURA 3 Adubação da pastagem
FIGURA 4 Semente inóculada com rizóbio.
Como escolher a mistura a semear Na escolha de uma mistura para pastagens é determinante considerar as condições climáticas e de solo do local: • Qual é a disponibilidade de água para as plantas em situação sem rega? • Qual a capacidade de retenção do solo para a água na dependência da orografia que determina a escorrência superficial e interna? • Qual a profundidade interna do terreno, a classe textural do solo que determina a força de retenção do solo para a água? Nas condições de Portugal, com regadio é possível e aconselhável cultivar plantas mais produtivas (principalmente espécies perenes) que em sequeiro; mesmo sem regadio, dependendo de um maior período de disponibilidade de água para as plantas (pluviosidade e retenção no solo), podem-se escolher espécies e variedades de ciclo longo e inclusive algumas plantas perenes; quanto maior for a duração do ciclo vegetativo, maior é o potencial de crescimento e de produção economicamente útil. Em solos esqueléticos e com escassa precipitação, só se consegue produzir e manter uma pastagem com plantas de ciclo curto que, de um modo geral, produzem pouco. E por pouco, considera-se uma produção da ordem de 3 000 kg de matéria seca por hectare e ano. A mistura é feita sabendo que se quer ter entre seis a dez componentes de leguminosas e gramíneas. Para se considerar que a quantidade de leguminosas, após a sementeira e nos anos seguintes é satisfatória, deveremos conseguir observar que no solo se encontram, de um modo continuo, plantas com uma distância de três centímetros entre si. Na sementeira introduzimos semente de gramíneas, geralmente perenes, numa proporção de 1/3 a 1/5 da massa
ruminantes outubro . novembro . dezembro 2014 29
pastagem
de semente de leguminosas, que corresponde a 1/4 a 1/6 do conjunto da mistura, se bem que, se considerem ou aproveitem as gramíneas espontâneas do terreno; tratam-se de espécies com sementes, de um modo geral,
F IGURA 5 Aspecto que deverá ter a pastagem no fim do Verão.
mais leves do que as leguminosas. Pormenorizando, podemos afirmar que é frequente que as gramíneas espontâneas sejam a grande componente da produção de fitomassa de gramíneas na pastagem semeada.
FIGURA 6 Regeneração da pastagem.
Aproveitamento cuidado Depois das leguminosas terem, de forma global, mais de seis folhas verdadeiras, e se as condições de humidade do terreno forem propícias, deve-se deixar os animais pastorearem. Se o terreno estiver muito encharcado, o pisoteio dos animais é verdadeiramente terrível para as jovens plantas. Os animais devem pastorear continuadamente ou intermitentemente até ao início da floração. A partir do início da floração das três componentes leguminosas que sejam mais precoces os animais devem ser retirados até a pastagem ter as plantas maduras e secas. Quer-se garantir, deste modo, a melhor produção de semente – em quantidade e estado de formação; esta prática de retirar os animais desde o início da floração até à maturação das plantas da pastagem, tem de se cumprir com rigor no ano de instalação ou seja do primeiro ano. Em anos posteriores, a retirada dos animais nessa altura faz-se ou não consoante a necessidade, ou não, de reforçar o banco de sementes desejáveis no terreno. Em todos os anos, no estio, a pastagem seca tem de ser pastoreada
a fundo (figura 5). Neste período a fitomassa, na sua maioria, é comida pelos animais. As sementes também são comidas, em grande parte, mas muitas delas, passam pelo sistema digestivo do animal, incólumes, e passam para a superfície do terreno (nas fezes) (figura 6). Trabalhos científicos desta especialidade, realizados em países de ambiente mediterrâneo, confirmam a viabilidade ou faculdade germinativa das sementes de diversas espécies de leguminosas (principalmente as que possuem sementes com elevada dureza seminal) depois de serem comidas pelos ruminantes e serem devolvidas ao terreno com os dejetos. De uma forma global podese dizer que os fatores principais que determinam a capacidade germinativa após a passagem pelo trato digestivo são a resistência física das sementes e o seu tamanho. A título de exemplo e por termos experiência no tratamento de sementes de luzernas anuais, afirmamos que as espécies e dentro delas as cultivares com sementes maiores, têm sementes mais brandas; são digeridas em muito maior escala que as sementes de espécies que as têm pequenas.
30 outubro . novembro . dezembro 2014 Ruminantes
Outra fração da semente cai, das plantas, diretamente no solo, aquando do pastoreio, ou em algumas espécies, mesmo sem a perturbação da passagem dos animais, a semente cai de modo natural. As sementes na superfície do terreno ficam mais sujeitas aos agentes ambientais. São as variações que ocorrem (amplitude térmica diária) que fazem com que as sementes das leguminosas percam gradualmente a sua dureza. No verão as temperaturas à superfície do terreno são da ordem dos 40º C, de dia, e cerca de vinte graus mais abaixo durante a noite; com o finalizar do verão constatamse também grandes variações de humidade. Estas variações levam ao fendilhamento do tegumento (casca) da semente; esse fendilhamento da casca permite iniciar-se o processo de germinação da semente às primeiras chuvas. Com este processo as sementes ficam gradualmente disponíveis para germinar.
A pastagem é um bem que o gestor deve valorizar Com a sementeira de pastagens, em que se despende entre 20 e 30 kg de semente por hectare, quer-se chegar a um banco de sementes na superfície do terreno, com um valor aceitável, de 400 a 700 kg de sementes Este banco que é dinâmico e que se quer reforçado todos os anos, consegue-se formar se houver boa adaptação das plantas ao ambiente em que são colocadas, se o terreno tiver fertilidade e o agricultor tiver o cuidado de um maneio adequado. Para além dos cuidados atrás descritos, o sucesso da instalação de uma pastagem e formação do banco de sementes, é dependente da sorte de termos um ano bom para pastagem no ano da instalação (figura 7). De qualquer forma quando se quer beneficiar uma determinada área com pastagem, dever-se-á fazêlo gradualmente, ano após ano, tentando aferir se técnica de implantação e uso é a adequada.
FIGURA 7 Pastagem melhorada.
FORRAGENS
PROCESSO DE ENSILAGEM E UTILIZAÇÃO DE ADITIVOS A forragem de qualidade tem um papel fundamental na economia da produção.
• Açúcares fermentáveis • Condições de anaerobiose • Bactérias ácido lácticas
Processo de ensilagem Esmeralda Curval Engenheira Zootécnica Responsável de Nutrição de Ruminantes na INOVPEC esmeralda@inovpec.pt
Numa altura em que os custos com a alimentação são cada vez maiores, o fornecimento de forragens aos animais torna-se imperativo ,e a preocupação com a sua qualidade é cada vez mais importante. Assim, devemos avaliar as técnicas de ensilagem e fazer melhorias neste processo. É essencial conhecer as diferentes fases, quais os perigos que pode enfrentar e os melhores procedimentos para obter uma silagem de qualidade. Não só é importante a técnica de colheita, como também devemos respeitar todas as práticas de ensilagem. Os principais objetivos da ensilagem são a redução das perdas e manutenção dos nutrientes presentes na planta, por um período de tempo superior. Quanto melhor a qualidade do material inicial a ensilar, maior é o desafio na sua conservação. No entanto, independentemente do tipo de forragem, existem alguns requisitos básicos para a sua conservação: • Matéria seca adequada
O processo de ensilagem adequado baseia-se na fermentação controlada de uma planta com um grau de humidade elevado e que facilmente se pode deteriorar, numa fonte de alimento de elevado valor, estável e segura. É necessário compreender os processos biológicos e químicos que ocorrem durante o processo de ensilagem, os seus efeitos na qualidade da silagem e como estes processos podem ser controlados. São quatro os processos de ensilagem.
AERÓBIA Esta fase (corte e enchimento do silo) dura apenas algumas horas e ocorre na presença de oxigénio, devido à respiração da planta e microrganismos, causando alterações e perdas de nutrientes. A respiração é um processo de perdas, pois são utilizados açucares e oxigénio para a libertação de dióxido de carbono, água e calor. • Perdas de energia e matériaseca • Os açúcares são a principal fonte de alimento para as bactérias ácido lácticas • O calor produzido aumenta a temperatura da silagem • São geradas reações
32 outubro . novembro . dezembro 2014 Ruminantes
que diminuem a digestibilidade da silagem. Práticas que podem diminuir as perdas durante a fase 1 • Consumir rapidamente todo o oxigénio através de uma compactação adequada. • Cobrir a silagem, o mais rápido possível, com plástico, para evitar a exposição da silagem ao oxigénio. Erros cometidos nesta fase não podem ser corrigidos posteriormente.
fermentação Este processo ocorre em condições de anaerobiose (sem oxigénio) e deve ser dominado pelo crescimento de bactérias ácido lácticas. Caracteriza-se por um abaixamento do valor de pH para cerca de 3.8-4.0. No início do processo, o pH deve rondar o valor de 6.5 e, todo o tipo de bactérias anaeróbias estão ativas. As bactérias ácido lácticas encontram-se em competição pelos açúcares com enterobactérias, clostrídio, listeria e leveduras. O desenvolvimento destes não é desejável uma vez que levam a perdas de energia e ao aparecimento de metabolitos tóxicos. Para o sucesso da fermentação é importante que as bactérias ácido lácticas se desenvolvam mais rapidamente que as outras. Assim que as bactérias ácido lácticas proliferam e consomem os hidratos de
carbono da planta para produzir ácido láctico (ácido forte) o pH baixa inibindo ou matando os microrganismos indesejáveis. Práticas que podem diminuir as perdas durante a fase 2 • Fazer a colheita da planta com a matéria seca ideal. Se a forragem é muito húmida (matéria seca baixa), irão ocorrer perdas importantes através dos efluentes. O conteúdo em hidratos de carbono também é inferior e, desta forma, a produção de ácido é muito menor, levando mais tempo a ser atingida a fase estável da silagem. • Um rápido abaixamento do pH vai ajudar a minimizar as perdas de matéria seca. • A utilização de aditivos biológicos e químicos é recomendada para que se consiga um rápido abaixamento do pH. A utilização de aditivos deve ser bem avaliada pois não é a solução para erros de maneio noutras fases do processo de ensilagem.
estável A fermentação já ocorreu e, desde que não haja qualquer entrada de ar, não surgem alterações significativas na silagem. As perdas durante esta fase devem ser mínimas. Práticas que minimizam as perdas na fase 3 • Cobrir a silagem com plásticos adequados e colocar peso sobre a cobertura.
FORRAGENS
• Avaliar periodicamente o estado da cobertura e reparar qualquer defeito que possa aparecer.
abertura É aqui que se evidencia a precisão aplicada no processo de ensilagem. Nesta fase, a forragem ensilada é novamente exposta ao oxigénio. O oxigénio permite o crescimento de leveduras (produção de calor e compostos voláteis). O pH da silagem aumenta e, microrganismos (bactérias e fungos) que anteriormente tinham a sua atividade inibida, podem desenvolver-se e deteriorar ou reduzir a qualidade da silagem. No entanto, se boas práticas de maneio forem aplicadas na fase de retirada de alimento, as perdas aeróbias podem ser mínimas. Microrganismos mais importantes Bactérias ácido láticas Produzem ácido lático e permitem baixar o pH da silagem abaixo do valor crítico. Os dois grupos de bactérias ácido lácticas são: • Homofermentativas, que produzem apenas ácido lático; • Heterofermentativas, que produzem ácido acético etanol e ácido lático.
Bactérias ácido acéticas São desejáveis no início do processo de ensilagem, pois proporcionam as condições ambientais ideais para a bactérias ácido láticas e contribuem para a estabilidade aeróbia porém, níveis elevados de ácido acético reduzem a palatibilidade e levam a quebras de ingestão. Leveduras, enterobactérias, Clostrídio, bacilos e bolores Pertencem à microflora indesejável. Fermentam os hidratos de carbono, degradam a proteína e produzem componentes tóxicos. Levam a perdas na qualidade da silagem, diminuem o seu valor e em alguns casos a palatibilidade é afetada. Aditivos nas silagens O uso de aditivos nas silagens de qualquer tipo tem sempre como objetivo inibir o desenvolvimento de microrganismos indesejados e, portanto, evitar a degradação dos nutrientes e preservar a qualidade da forragem. Com a utilização de aditivos podemos esperar uma melhor conservação das silagens assim como, melhor ingestão, digestibilidade e conteúdo em nutrientes. Existem 2 categorias de aditivos para silagens:
Aditivos Químicos • Ácidos – proporcionam um ambiente positivo para o desenvolvimento mais rápido das bactérias ácido lácticas. Porém, efeitos como por exemplo na ingestão e digestibilidade, não devem ser esperados. • Sais de ácidos – menos agressivos que os seus ácidos correspondentes logo, mais fáceis e seguros de manusear.
Os objectivos da utilização das bactérias são: • Regulação direta do processo de fermentação • Eliminação de microrganismos indesejáveis • Prevenir o aquecimento e defeitos de fermentação • Redução das perdas de matéria seca • Melhorar a palatibilidade • Melhorar a digestibilidade • Melhorar o desempenho dos animais.
Aditivos Biológicos • Melaços / açúcares – são fonte de açucares fermentáveis no entanto, a sua utilidade é pontual em alguns tipos de silagem. • Enzimas – degradam a fibra, podem ser adicionadas aos inoculantes ou utilizadas individualmente. É economicamente pouco viável. • Bactérias (inoculantes) – são principalmente bactérias ácido lácticas homofermentativas. A sua eficácia depende do tipo de forragem a ensilar. Alguns inoculantes incluem também bactérias heterofermentativas, como a Lactobacillus buchneri que produz ácido acético, melhorando a estabilidade aeróbia da silagem e reduzindo o crescimento de leveduras na frente do silo.
CONCLUSÃO Más práticas de maneio da silagem, em qualquer uma das fases de ensilagem, levam a perdas elevadas. Para decidir se irá utilizar algum aditivo ou qual deles é o melhor, é necessário conhecer como é que um aditivo pode influenciar a fermentação da silagem. O critério mais importante para a escolha do tipo de aditivo para a silagem são as propriedades e as condições da forragem. Lembre-se que, um bom aditivo pode tornar uma boa silagem ainda melhor, mas não torna melhor uma silagem má. A silagem é um produto de alto valor e com potencial de perdas elevado portanto, vale a pena dedicar o seu tempo a garantir que a quantidade e qualidade da sua silagem são atingidas.
ruminantes outubro . novembro . dezembro 2014 33
economia
Cereais de novo a bom preço
observatório
Encontramo-nos em tempos que a indústria desejava há muito: o mundo dos cereais de novo barato face aos preços dos últimos anos. por paulo costa e sousa
Obviamente, a alegria da indústria é a depressão dos agricultores: neste tema de preços há muito que é impossível agradar a todos. O fantasma de um mundo com falta de cereais e de stocks diminutos parece estar afastado para os próximos tempos. Mais uma vez o mercado funcionou e, ao soar de preços interessantes para o mundo, pôs-se a produzir. Não é alheio, também, o avanço tecnológico em termos agrícolas e fundamentalmente o bom ano agrícola que se vive para que a produção tenha atingido níveis recorde. Este ano também com o trigo a mostrar a sua presença e, para gáudio da indústria de alimentos compostos para animais (e desespero da de moagem), com uma degradação da qualidade que resulta em maior oferta de trigo forrageiro. Também de salientar que o nosso principal país fornecedor, a Ucrânia, apesar da sua convoluta política, não deixa de produzir nem de exportar a níveis muito elevados. Assim sendo, temos de novo um mundo com cereais a níveis muito interessantes, mas infelizmente não aproveitamos esse facto ao máximo. Com efeito, a indústria baseada na velha máxima de que “o seguro morreu de velho”, quando
se deu conta de uns preços um pouco melhores que o ano passado lançouse a cobrir uma parte significativa das suas necessidades a preços diferentes dos atuais, podendo o impacto desta tomada de posição algo antecipada, sem conhecer nada sobre as colheitas, resultar numa menor competitividade da nossa indústria face à espanhola, que se lançou mais tarde e pode aproveitar melhor desta baixa de preços. O que esperar deste ambiente baixista? Durante esta fase da colheita até ao final do ano não se vislumbra no horizonte qualquer notícia altista, pelo que o atual estado de coisas se deverá manter. A partir de janeiro, é natural que se comece a fazer sentir retenção por parte dos agricultores, estes preços são dificilmente sustentáveis para os atuais custos de produção, devendo a indústria aproveitar, na medida em que lhe for possível, este estado de coisas. Salienta-se que a opção de ter disponível trigo forrageiro a médio prazo constitui em certa medida um teto para uma subida do milho. No caso do trigo forrageiro, temos ainda países como o Reino Unido onde é apontado um superávit exportável de mais de dois milhões de toneladas que
34 outubro . novembro . dezembro 2014 Ruminantes
ainda não se fizeram sentir no mercado principalmente por não lhe agradar o entorno de preços, podendo assim vir mais tarde a fazer-se sentir o peso desse superávit. No caso das proteínas, o tão esperado mito da soja barata veio finalmente a ter lugar. Vinte milhões de toneladas de superávit de grão de soja no Brasil, Argentina e Estados Unidos fazem com que os preços tenham perdido 25% nos últimos tempos. Aí sim, a indústria estará felizmente melhor comprada e mais em linha com a sua concorrente espanhola. Salientamos o facto de cada fábrica em Portugal ter sempre uma missão tripla: estar competitiva com o mercado, com a sua fábrica vizinha e com o seu concorrente de produtos acabados mais próximo, ou seja a Espanha, não basta estar igual ao vizinho português sob pena de encontrarmos no supermercado produtos de outros países. Nos últimos anos temos conseguido estas três coroas, este ano teremos, de momento, perdido a última. De tudo isto há que aproveitar para fazer coberturas o mais longe que for possível nesta amplitude de preços e, para mais, se não for esperada uma grande oscilação para os produtos finais, carne, leite e ovos.
economia
Evolução do preço de matérias primas (em Euros/tonelada) Preços semanais de 14 de março de 2011 a 12 de setembro de 2014 milho
cevada €/ton
€/ton
320
300
300
280
280
260
260
240
240
220
220
200
200
180
180 160
160
*valor da semana de 8 a 12 de setembro 2014
*valor da semana de 8 a 12 de setembro 2014
trigo
bagaço de soja €/ton
€/ton
600
320 300 280 260 240 220 200 180 160
550 500 450 400 350 300 250
*valor da semana de 8 a 12 de setembro 2014
*valor da semana de 8 a 12 de setembro 2014
bagaço de colza
bagaço de girassol €/ton
€/ton
360
440 400
330
360
270
320
240
280
210
240
180
200
150
160
120
*valor da semana de 8 a 12 de setembro 2014
*valor da semana de 8 a 12 de setembro 2014
Fonte: www.revista-ruminantes.com
Evolução do preço médio de alimentos compostos para animais (em Euros/tonelada) vacas leiteiras em produção
novilhos de engorda
2010 2011 2012 2013
€/ton
€/ton
2014
500 550
450
500
400
450
350 300
400
250
350
200
300
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12 meses
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
meses
Fonte: IACA
ruminantes outubro . novembro . dezembro 2014 35
economia
USDA, LTO
observatório Fontes: USDA, EDA, www.agrimoney.com
Rússia e União Europeia É um dos problemas do momento na agenda mundial: o braço de ferro que União Europeia e Rússia disputam, através de sucessivos embargos em várias áreas, com o gás e alimentos na ponta da lança. Motivo? A crise ucraniana, onde separatistas prórussos detêm, já, o controlo de algumas cidades na Ucrânia. A Europa tem ameaçado o embargo de gás natural russo. Moscovo, por seu turno, tem bloqueado as importações de carne de vaca, porco, frango, peixe, queijo, leite e legumes. Para se ter uma real dimensão do volume de negócios que estes produtos movimentam, referir que as exportações europeias com destino à Rússia atingiram 11,8 mil
milhões de euros em 2013, valor que representa 9,9 por cento do seu total. Dados da Comissão Europeia (CE) mostram-nos que 33 por cento do total de exportações europeias de queijo, em 2013, tiveram como destino Moscovo. Relativamente à manteiga, a percentagem é de 28 pontos percentuais, sendo que os produtos frescos atingiram os 10 pontos. Os preparados têm um peso de 9 por cento, ficando os produtos finalizados com 8 pontos. A lactose atinge os 7 por centos das exportações totais, havendo ainda 3 pontos percentuais dedicados a outros derivados do leite. A CE tem mantido reuniões sucessivas com os seus membros, de forma a avaliar os prejuízos provocados pelo embargo feito pelo governo russo.
36 outubro . novembro . dezembro 2014 Ruminantes
África | Destino do leite europeu Já com a perspetiva do fim das quotas leiteiras em 2015, os países da União Europeia (UE) estão a aumentar, gradualmente, a sua produção de leite. Algumas estimativas sugerem que o final das quotas poderá gerar um aumento anual da produção de nove mil milhões de leite, com a Dinamarca, França, Reino Unido, Irlanda, Holanda e Alemanha. Para 67% deste aumento, que representa mais de seis mil milhões de litros, teria de se encontrar mercados fora da Europa. E é aqui que entra o continente africano: esta região é, atualmente, o centro das atenções das maiores fábricas de laticínios na UE devido ao seu enorme potencial. Recuando alguns anos,
economia
podemos observar que, entre 2006 e 2012, a procura por produtos lácteos entre a população africana cresceu 22%. Empresas como a sueco-dinamarquesa Arla, a holandesa FrieslandCampina e a Danone estão a desenvolver parcerias com o empresariado local para melhor escoar os seus produtos.
final deste ano, início de 2015, através do aumento da demanda global por lácteos ano após ano. Estamos no início da estação, pelo que é importante que os nossos produtores continuem a exercer com cautela. Se as condições de mercado mudarem, atuaremos”, prometeu.
Nova Zelândia
Estados Unidos | Preço do leite desce
A maior companhia de laticínios da Nova Zelândia, Fonterra, irá manter a sua previsão de preço do leite ao produtor durante o período 2014/15. Assim, o valor deverá estagnar nos 3,87 euros por quilo de sólidos de leite, o equivalente a 0,31 euros por quilo de leite. Segundo John Wilson, presidente da cooperativa, a decisão de manter a previsão do preço do leite reflectiu uma previsão a longo prazo dos preços internacionais dos lácteos. “As atuais visões de mercado, apoiadas pela nossa própria previsão, indicam que os preços das commodities melhorarão no
preço do leite standardizado (1) países
companhia
bélgica alemanha
França
35,83
40,63
35,48
38,92 39,66
37,07 38,39
41,81
Hameenlinnan Osuusmeijeri
44,40
46,41
leite à produção
Bongrain CLE (Basse Normandie)
41,31
39,20
Preços médios mensais em 2014
Danone
39,60
38,94
Lactalis (Pays de la Loire)
38,42
38,23
Sodiaal
38,72
37,28
Julho
Dairy Crest (Davidstow)
41,42
39,35
Agosto
First Milk
38,25
Setembro outubro NOVEMBRO
34,97
38,21
Kerry
34,92
38,08
Granarolo (North)
45,81
44,45
DOC Kaas
35,38
41,19
Friesland Campina
38,42
44,33
38,65
40,27
Preço médio leite (2) SuÍça
Emmi A.G.
54,01
52,13
Nova Zelândia
Fonterra
30,37
39,25
EUA
EUA (3)
39,58
37,71
Fonte: LTO (1) Preços sem IVA, pagos ao produtor; Preço do leite de diferentes empresas leiteiras para 4,2% de MG e 3,4 de teor proteico • (2) Média aritmética (3) Ajustado para 4,2% gordura, 3,4% proteina e contagem de células somáticas 249,999/ml • (4) Inclui o pagamento suplementar mais recente
meses
37,56
Glanbia
Irlanda
Holanda
Milcobel Alois Müller Nordmilch
Inglaterra
Itália
média dos ultimos 12 meses (4)
Arla Foods
Dinamarca Finlândia
preço do leite (€/100kg) julho 2014
Gregg Tanner, diretor executivo da Dean Foods, prevê que preço do leite baixe nos próximos meses. Para o responsável, o abrandamento das exportações é uma das causas mais fortes para o fenómeno. Os preços dos produtos lácteos a nível internacional baixaram em 4,9% devido ao aumento da produção de leite nos sete principais exportadores deste produto na primeira metade do ano. De realçar, que os maiores importadores, onde se inclui a China, possuem atualmente as suas reservas no máximo. Tanner dá Pequim como exemplo. “A China comprou uma quantidade superior à que necessitavam para ter em stock. Devido a essa situação, as importações caíram e vão manter-se neste registo até que o mercado doméstico estabilize”, disse. Recordar que, nos primeiros seis meses do ano, a forte procura do leite por parte do mercado asiático fez o seu preço aumentar.
2014
eur/kg
teor médio de matéria gorda (%)
teor proteico (%)
Contin.
Açores
Contin.
Açores
Contin.
Açores
0,325
0,326
3,60
3,76
3,16
3,11
0,327
0,327
3,64
3,79
3,19
3,10
0,358
0,342
3,71
3,87
3,25
3,14
0,360
0,343
3,78
3,92
3,28
3,24
0,375
0,340
3,92
3,83
3,29
3,17
DEZEMBRO
0,377
0,354
3,98
3,82
3,36
3,19
JANEIRO
0,372
0,349
3,89
3,75
3,31
3,28
FEVEREIRO
0,372
0,350
3,85
3,74
3,31
3,19
MARÇO
0,372
0,349
3,78
3,62
3,33
3,24
ABRIL
0,391
0,349
3,79
3,64
3,29
3,26
maio
0,346
0,348
3,78
3,60
3,28
3,22
junho
0,343
0,346
3,78
3,63
3,26
3,16
julho
0,328
0,344
3,74
3,67
3,23
3,10
Fonte: SIMA Gabinete de Planeamento e Políticas
ruminantes outubro . novembro . dezembro 2014 37
economia
ÍNDICE VL
adivinham-se dificuldades para os produtores de leite Por António Moitinho Rodrigues, docente/investigador, Escola Superior Agrária do Instituto Politécnico de Castelo Branco Carlos Vouzela, docente/investigador, Departamento de Ciências Agrárias da Universidade dos Açores Nuno Marques, revista Ruminantes
Analisamos neste número da Ruminantes o período de maio a julho de 2014, período em que o preço do leite pago ao produtor individual no continente apresentou uma tendência de descida acentuada (SIMA, 2014). Felizmente que esta descida do preço do leite tem sido acompanhada pela redução, embora menos acentuada, do preço das principais matérias-primas utilizadas no fabrico dos alimentos compostos. A título de exemplo, em julho, o milho grão, a cevada, o bagaço de soja44 e o bagaço de colza atingiram os preços mais baixos do ano, respetivamente 0,178 €/kg, 0,174 €/kg, 0,380 €/kg e 0,244 €/kg, acompanhando a tendência decrescente do preço do leite que, no mesmo mês, atingiu 0,328 €/kg, o valor mais baixo de 2014. Esta evolução de preços refletiu-se no Índice VL que em julho de 2014 foi de 1,767. De referir que, no mesmo mês do ano anterior, o Índice VL havia sido de 1,651. Se considerarmos que o valor 1,5 é um valor moderado, representando um negócio saudável e 2 um valor elevado muito favorável para o sucesso económico da exploração (Schröer-Merker et al., 2012),
concluímos que os produtores de leite do continente continuam a trabalhar numa zona de conforto financeiro, embora muito menor do que tiveram no trimestre anterior. Recorde-se que 2012 foi um ano muito difícil para a produção de leite nacional tendo o Índice VL atingido 1,283 em julho de 2012, valor muito baixo e absolutamente insustentável para manter a rentabilidade da exploração. Realça-se a necessidade da produção de alimentos forrageiros de boa qualidade nutricional na própria exploração, pois só desta forma será possível criar condições para que a produção de leite dependa cada vez menos da utilização de alimentos compostos cujos preços o criador não controla. Caso o preço do leite pago ao produtor continue a diminuir e os preços dos alimentos comecem a aumentar, adivinhamse dificuldades para os produtores de leite.
notas:
No número 11 da revista Ruminantes, editado em outubro de 2013 (Ruminantes, Ano 3 – N.º 11), foi publicado o artigo inicial deste Índice com o título “Índice VL, uma ferramenta útil para a bovinicultura leiteira”, caso o queira receber envie email para geral@revista-ruminantes.com.
Referências Bibliográfia:
Relativamente ao trimestre anterior, o preço do leite pago ao produtor individual no continente diminuiu de forma acentuada (maio 0,346 €/kg; junho 0,343 €/kg; julho 0,328 €/kg) sendo bastante inferior ao valor médio pago na UE. A título de exemplo indica-se o preço médio do leite pago em junho aos produtores da UE28; 0,377 €/kg; O preço médio das 3 principais matériasprimas que entram na formulação do alimento composto teve uma tendência decrescente de maio a julho; Desde setembro/outubro de 2013 que os preços da silagem de milho e da palha de cevada estão mais baixos do que na mesma altura do ano 2012. Nos mercados do Alentejo e do Ribatejo e Oeste a palha atingiu, em julho, o preço de venda de 0,05 €/kg (SIMA, 2014); Os 3 aspetos anteriores refletem-se no Índice VL que em julho de 2014 foi de 1,767. De acordo com Schröer-Merker et al. (2012), aquele valor é indicador de condições favoráveis para o sucesso económico da exploração de leite.
Não foram incluídas por uma questão de espaço editorial, mas os autores disponíbilizam bastando enviar um email para geral@revista-ruminantes.com.
Evolução do Índice VL
2013
2014
Índice VL
Julho
1,651
Agosto
1,603
Setembro
1,853
outubro
1,833
novembro
1,905
dezembro
1,904
janeiro
1,923
Fevereiro
1,879
março
1,826
abril
1,912
maio
1,750
junho
1,766
julho
1,767 Valor do Índice VL
de julho de 2012 a julho de 2014 O valor é influenciado pela variação mensal do preço do leite pago ao produtor português e pelas variações mensais dos preços dos alimentos que constituem o regime alimentar da vaca leiteira. 2,0
Valores do Índice VL
últimos 13 Meses
1,5
1,0 julho 2012
Limiar de rentabilidade
38 outubro . novembro . dezembro 2014 Ruminantes
julho 2014
Negócio saudável
Forte ameaça para a rentabilidade da exploração
economia
ÍNDICE VL erva
uma ferramenta útil para a bovinicultura leiteira Por António Moitinho Rodrigues, docente/investigador, Escola Superior Agrária do Instituto Politécnico de Castelo Branco Carlos Vouzela, docente/investigador, Departamento de Ciências Agrárias da Universidade dos Açores Nuno Marques, revista Ruminantes
Desde outubro de 2013 que a revista Ruminantes (Ruminantes, Ano 3 – N.º 11) tem vindo a publicar o Índice VL. Este indicador pretende refletir a rentabilidade da produção de leite, em função dos custos com a alimentação das vacas. O Índice VL resulta do quociente entre a receita obtida com a venda do leite produzido por vaca da exploração (preço do leite pago ao produtor individual do continente) e os custos associados à alimentação da mesma vaca (preços dos alimentos praticados no continente) (Rodrigues et al.,2013). De acordo com alguns estudos, o custo da alimentação tem um peso demasiado elevado no custo total do leite produzido em Portugal. Pode variar entre 56,7% e 63,6% (Batista et al., 2012) e 59,3% e 71,3% (Sottomayor et al., 2012). Para o cálculo do Índice VL tem sido utilizado um regime alimentar em que a silagem de milho é o alimento principal, como acontece no Entre Douro e Minho e na Beira Litoral, duas das 3 regiões do país onde é produzido mais leite de vaca. A partir deste número, a revista Ruminantes, juntamente com a Escola Superior Agrária do Instituto Politécnico de Castelo Branco e com a Universidade dos Açores, vai passar a publicar o Índice VL – erva. Este novo indicador pretende refletir um regime alimentar para uma vaca leiteira baseado em pastagem e/ou em silagem de erva, conjuntamente ou não com silagem de milho. Este regime alimentar é típico da Região Autónoma dos Açores. Como tal, para o cálculo do Índice VL – erva vai ser utilizado o preço do leite pago ao produtor individual nos Açores e o custo da alimentação vai basear-se no preço tipo das forragens comercializadas naquela Região Autónoma. Os custos de produção do leite e os preços de alguns alimentos são muito voláteis, podendo apresentar grandes variações de mês para mês. Estas flutuações podem ter um impacto adverso na rentabilidade das explorações leiteiras. Se o preço do leite pago ao produtor cai e se o preço dos alimentos sobe, a rentabilidade da exploração diminui. Embora a variação
destes fatores não ande de “mãos dadas” a sua monitorização regular constitui uma ferramenta útil e simples de controlar o negócio do leite e a sua tendência evolutiva. O produtor individual não pode influenciar os preços do leite nem das matérias-primas que entram na formulação de alimentos compostos, mas pode avaliar os regimes alimentares e reduzir os custos da alimentação de todos os animais da exploração, incluindo os de reposição.
O que é o Índice VL - erva? É um índice que mede a rentabilidade da produção de leite em que o regime alimentar da vaca leiteira é a pastagem e/ou a silagem de erva, conjuntamente ou não com silagem de milho.
Como se obtém? O valor do Índice VL – erva resulta da divisão da receita proveniente da venda do leite produzido diariamente por uma vaca num determinado mês pelo custo da alimentação diária da mesma nesse mesmo mês. O valor de cada um dos elementos que entra no cálculo provém de fontes publicadas periodicamente, a saber: • preço médio do leite adquirido a produtores individuais na Região Autónoma dos Açores, publicados mensalmente pelo Serviço de Informação de Mercados Agrícolas (SIMA-GPP). Estes valores são obtidos através da consulta da página Web http://www.gpp.pt/cot/; • preço médio dos alimentos compostos, preços publicados no site e na revista Ruminantes; • preço das forragens utilizadas no regime alimentar, preços de mercado praticados na Região Autónoma dos Açores.
Qual a utilidade deste índice para o produtor? O Índice VL – erva refere-se a uma exploração tipo em que o alimento forrageiro base é a pastagem e/ou a
silagem de erva, conjuntamente ou não com silagem de milho. A vaca leiteira tipo tem um peso vivo médio de 580 kg, DEL médio de 168 dias e uma produção média diária de leite de 20,5 kg, com teores butiroso e proteico, respetivamente, de 3,80% e 3,16% (médias SIMA-GPP 2013 para os Açores).
Como interpretar? Quando o Índice VL – erva é igual a 1, significa que o preço que o produtor recebe pelo leite produzido é igual ao custo alimentar e, portanto, o negócio apenas está a pagar o custo da alimentação. Estamos perante um indicador muito desfavorável para o produtor e altamente penalizador para o sucesso económico da exploração. Se o Índice VL- erva for inferior a 1,5 estamos perante um valor muito baixo que indica forte ameaça para a rentabilidade da exploração. Quando o valor encontrado é superior a 1,5 estamos perante um Índice VL moderado. Indica que a produção de leite é um negócio rentável. Se o Índice VL for superior a 2, estamos perante um valor elevado, muito favorável para o sucesso económico da exploração (Schröer-Merker et al., 2012). Para a formulação do regime alimentar tipo da vaca utilizada no cálculo do Índice VL – erva, foram determinadas as necessidades nutricionais da vaca tipo (Quadro 1).
QUADRO 1 Necessidades nutricionais da vaca leiteira tipo (NRC, 2001; AFRC, 1993). Capacidade de ingestão de MS
18,8 (kg MS/dia)
EM total
185 (MJ/dia)
PB
1806 (g/dia)
RDP
1439 (g/dia)
UDP
367 (g/dia)
NDF total
6561 (g/dia)
NFC total
8248 (g/dia)
ruminantes outubro . novembro . dezembro 2014 39
economia
O arraçoamento formulado para o período primavera/verão é constituído por 60 kg/dia de erva verde (pastagem), 10 kg/dia de silagem de erva e silagem de milho e 5,6 kg/dia de concentrado. O arraçoamento formulado para o período outono/inverno é composto por 47 kg/ dia de erva verde (pastagem), 23,3 kg/ dia de silagem de erva e silagem de milho e 6,7 kg/dia de concentrado. O concentrado utilizado foi formulado com milho, bagaço de soja 44, bagaço de girassol, bagaço de colza e cevada (76%) e 24% de outras matérias-primas. Tem a seguinte composição química: 17,1% PB; 4,3% GB; 21,3% NDF; 46,8% NFC; 6,3% cinzas; 11,0% humidade. Nos 13 meses analisados verifica-se que o Índice VL – erva variou entre 1,826 em março de 2014 e 2,535 em julho de 2014 (Quadro abaixo). Durante aquele período o Índice VL – erva foi sempre superior a 1,5, em alguns meses mesmo superior a 2.
Isto indica que a relação entre preço de leite pago ao produtor individual e o custo da alimentação foi sempre muito favorável ao produtor, contribuindo para o sucesso económico da exploração.
Schröer-Merker, E., Wesseling, K., Nasrollahzadeh, M. 2012. Monitoring milk:feed price ratio 1996-2011. In: Chapter 2 – Global monitoring dairy economic indicators 1996-2011, IFCN Dairy Report 2012, Torsten Hemme editor, p 52-53. Published by IFCN Dairy Research Center, Schauenburgerstrate, Germany. SIMA. 2014. Leite à produção - Preços Médios Mensais em 2014. Sistema de Informação de Mercados Agrícolas, Gabinete de Planeamento e Políticas. http:// www.gpp.pt/cot/ acesso em 05-09-2014.
Referências Bibliográfia: AFRC. 1993. Energy and protein requirements. Agricultural and Food Research Council, CAB International, Wallingford, Oxon, UK. Baptista, F., Murcho, D., Silva, L.L., Marques, C. 2012. Energy efficiency measures in Portuguese dairy cows production. In: Economic and environmental analysis of energy efficiency measures in agriculture - Case Studies and trade offs. AgrEE, funded by the FP7 Program of the EC with the Grant Agreement Number 289139. NRC. 2001. Nutrient Requirements of Dairy Cattle. 17th revised edition, National Academic Press, Washington, DC. Rodrigues, A.M., Vouzela, C., Marques, N. 2013. Índice VL, uma ferramenta útil para a bovinicultura leiteira. Ruminantes, Ano 3, N.º 11: 42-43.
Sottomayor, M., Costa, L., Ferreira, M.P. 2012. Impacto da Reforma da PAC Pós-2013 no Setor do Leite em Portugal - Relatório 6.07.2012. Estudo elaborado para a FENALAC - Federação Nacional das Cooperativas de Produtores de Leite pelo CEGEA da Universidade Católica Portuguesa, Porto.
LEGENDA: DEL – dias em leite; EM – energia metabolizável; PB – proteína bruta; GB – gordura bruta; NDF – fibra em detergente neutro; NFC – hidratos de carbono não fibrosos; MS – matéria seca; RDP - proteína degradável no rúmen; UDP - proteína não degradável no rúmen.
Evolução do Índice VL erva
2013
2014
Índice VL
Julho
2,414
Agosto
2,238
Setembro
2,434
outubro
2,398
novembro
2,368
dezembro
2,445
janeiro
1,923
Fevereiro
1,879
março
1,826
abril
2,383
maio
2,443
junho
2,476
julho
2,535 Valor do Índice VL
de julho de 2013 a julho de 2014 O valor é influenciado pela variação mensal do preço do leite pago ao produtor individual nos Açores (SIMA-GPP, 2014) e pelas variações mensais dos preços dos alimentos que constituem o regime alimentar da vaca leiteira. 3,0
Valores do Índice VL Erva
últimos 13 Meses
2,0
1,5
1,0 julho 2013
Limiar de rentabilidade
40 outubro . novembro . dezembro 2014 Ruminantes
julho 2014
Negócio saudável
Forte ameaça para a rentabilidade da exploração
atualidades
Forragem será a base da alimentação mundial “Durante o século XXI, a forragem será a base da produção alimentar mundial. Por outro lado, a utilização responsável da terra e dos recursos limitados trarão uma maior eficiência na produção de carne e produtos lácteos”. O autor destas declarações é Martin Scholten, diretor do Grupo de Ciência Animal da Barenburg, enquanto abordava o exponencial aumento da população mundial para os próximos anos, durante o European Forage Relation Day. Este evento contou ainda com a participação da Lusosem, importadora da Barenburg em Portugal, através de Filipa Setas e Manuel Laureano. Segundo Scholten, para alimentar um número tão elevado de pessoas nas décadas vindouras, “será necessário produzir o dobro da comida e com mais qualidade, mas utilizando metade dos nutrientes”. É no seguimento deste raciocínio que o responsável alega que a forragem será uma das saídas possíveis para fazer face aos desafios do planeta. “Possui grande valor alimentar, é uma cultura eficiente e robusta com uma enorme biodiversidade, corrige o dióxido de carbono e os seus nutrientes têm um ciclo curto de vida nas explorações”, enumera. Para que esta solução tenha sucesso, diz Scholten, “é imperativo que governos, universidades, tecido industrial e agricultores dialoguem e encontrem as melhores formas de cooperação e troca de conhecimentos”. Para Martin Scholten, a Holanda é, neste tema, “um exemplo a seguir”.
Maneio adequado produz melhor carne Parece que a forma como os animais são tratados ao longo da vida influencia a qualidade da carne. Segundo Temple Grandin, investigadora e professora na Universidade do Colorado, nos EUA, um animal que entre em stress nos últimos cinco minutos de vida dará carne de qualidade inferior a um outro que não se encontre agitado no momento do abate. Maneios agressivos provocam no gado a produção de cortisol, hormona corticosteroide, que lentifica o ganho de peso e contribui para que a carne fique menos tenra. Em 1976, o consumo de carne de vaca atingiu o pico, começando a decrescer devido às preocupações dos consumidores americanos com a ingestão de gorduras saturadas. No entanto, o preço da carne manteve-se elevado devido à seca e ao preço alto da alimentação animal. Atualmente verifica-se uma procura pela carne de alta qualidade que estará sempre associada a um maneio adequado do animal. Por exemplo, o consumo de carne de Angus aumentou 20% no ano passado, embora se tenha verificado um decréscimo na procura de carne bovina.
ruminantes outubro . novembro . dezembro 2014 41
entrevista
A FERTILIDADE ERA UM PROBLEMA Entrevista ao sócio gerente da Louagri, José Paulo Loureiro. por ruminantes
“Olho para os valores do intervalo entre partos, os dias de lactação e número de inseminações por vaca prenha como indicadores para saber se o negócio está no caminho certo”. Esta é a frase que sumariza a filosofia de gestão de José Paulo Loureiro, sócio gerente da exploração Louagri – Sociedade de agricultura de grupo Loureiros, Lda., que juntamente com a sua mulher e outro empregado levam todo o trabalho da exploração. Localizada na freguesia de Fradelos, concelho de Famalicão, distrito de Braga, a exploração conta com 30 hectares regados, onde todos os anos são produzidos azevém e milho para silagem. É com os elementos da tabela 1 que José Paulo Loureiro estabelece “como objetivo para a exploração, chegar à produção anual de 1.500.000 litros nos próximos três anos, porque entendo que isso me deixaria mais confortável na viabilidade deste negócio, mas vai obrigar-me a ter mais vacas e a melhorar os resultados.”
”como objetivo para a exploração, chegar à produção anual de 1.500.000 litros nos próximos três anos”
Ruminantes - Fez alterações na genética que estava a utilizar. O que procurou quando decidiu experimentar fazer crossbreeding? José Paulo - Estava com problemas de fertilidade, as vacas que tinha não “pegavam” bem, “repetiam” muitas vezes, e como por vezes o conselho que me davam para ter as vacas cheias era cruzar com outras raças (de carne). Decidi fazer um teste com a Parda Suiça que teve sucesso. Após isso passei para um programa específico de cruzamentos, o Procross, com o objetivo de resolver o problema da fertilidade e obter na mesma vacas leiteiras desse cruzamento.
produzir, obrigando-nos a otimizar a relação da forragem produzida com o número de vacas em produção. Um exemplo disso seria diminuir a taxa de reposição permitindo-nos canalizar mais forragem (e ter mais vacas) para a produção leite.
Quais os fatores limitantes desta exploração para o crescimento do seu negócio? O fator limitante principal é a área de produção de forragens, pois não temos por onde crescer. Isto traz limitações nos recursos alimentares que podemos
O conceito do crossbreeding em vacas leiteiras é relativamente recente. Porque o implementou e que receios teve no momento de tomar a decisão? A decisão da implementação foi muito mais racional que emocional, porque eu já estava com problemas da fertilidade há
42 outubro . novembro . dezembro 2014 Ruminantes
TestemuNhos de PRODUTORES E técnicos nacionais com experiência de vacas Procross
João Paisana
Rui Ferreira
Agro-pecuária Afonso Paisana, Lda Herdade dos Coelhos - Foros de Salvaterra
Sociedade Agro-pecuária Ferreira e Ferreira, Lda. (S. Miguel – Açores)
“Estamos a fazer o ProCross com alguma expetativa! Conhecemos, de perto, casos de sucesso que esperamos poder reproduzir. Na fase inicial em que estamos, a análise dos registos indica uma taxa de mortalidade das Hosltein-Montbeliarde, até aos 90 dias, inferior a metade da mortalidade das Holstein. Se esta maior resistência se mantiver, aumentando a longevidade e reduzindo o refugo, permitindo, assim, aumentar o efetivo então a aposta está ganha.”
“Aderi ao programa ProCross com pouco conhecimento acerca das suas vantagens. Só mais tarde percebi que, ao utilizar o programa, conseguiria ter vacas mais resistentes a mamites e a células somáticas, registando também uma significativa melhoria na fertilidade. Verifiquei, ainda, que as vacas não necessitam de tantos medicamentos e são mais saudáveis, o que se traduz na superior qualidade do leite. Após algumas visitas a explorações que já tinham aderido ao programa ProCross há mais tempo, percebi que tinha tomado a decisão certa ao aceitar segui-lo. Assim, posso concluir que as vacas do futuro serão, a longo prazo, um produto deste programa.”
Romão França Sociedade Agro-pecuária França, Lda Vila Franca de Xira
“Em Janeiro de 2008, começámos a utilizar o cruzamento de raças hoje denominado ProCross com as raças complementares Sueca Vermelha e a Montbeliarde. Nos primeiros anos e até termos os primeiros animais nascidos, foi uma utilização muito restrita, e bastante cuidadosa. No decorrer de 2008 e até finais de 2011 fomos analisando a pouca informação que tínhamos disponível dos nossos animais junto com outras informações e dados de outros colegas produtores nacionais já com bons grupos de referencia de animais já em lactação. Podemos constatar, visitando vários deles que realmente o programa da vaca ProCross estava a dar resultados em todos os aspetos que o caracterizam. Vacas de alta saúde, excelente reprodução, longevidade na vida produtiva e animais de maneio mais fácil. Com base em toda essa informação e tendo já no inicio de 2012 alguns animais em produção (atualmente 54 animais) decidimos assim alterar a nossa estratégia genética para a utilização do programa ProCross a 100% na nossa exploração.”
José Carlos Engenheiro de Produção Animal
“Na região do país onde há seis meses de inverno e seis meses de inferno, os cruzamentos de vacas Holstein com Sueca Vermelha e com Mombeliard, são sem dúvida a melhor solução para se produzir leite. Digo isto com conhecimento de causa pois trabalho numa exploração situada no concelho de Vimiso, freguesia de Caçarelhos. Esta exploração possui vacas Holstein, vacas Suecas Vermelhas puras, bem como vacas hibridas (Holstein x Monbeliard); (Holstein x Sueca vermelha). As vacas cruzadas quando comparadas com Holstein puras, são do ponto de vista alimentar, mais eficientes e de uma rusticidade mais elevada, aproveitando melhor os alimentos mais grosseiros, muito abundantes na nossa região (feno de lameiro, feno de aveia). São vacas que se adaptam muito melhor às nossas condiçõs climatéricas, de extremos, especialmente ao calor do verão. São mais resistentes a doenças, nomeadamente as que se relacionam com a produção. Quando comparadas com as Holstein puras, fazem menos descargas de celulas somáticas. São vacas com menos problemas de patas. Do ponto de vista reprodutivo as vacas cruzadas ficam gestantes mais cedo quando comparadas com as vacas Holstein, logo obtemos mais lactações durante a vida produtiva. Relativamente à valorização cárnica as vacas cruzadas no final da sua vida produtiva apresentam-se em melhor condição corporal, que as suas homólogas Holstein, logo obtém-se um maior valor comercial. Os machos cruzados são igualmente mais valorizados que os Holstein. Por todas as evidências explanadas, tenho a certeza que o melhor caminho para produzir leite em regiões dificeis como é a do Planalto Mirandês, passa pela obtenção de animais resultantes de cruzamentos triplos, (Holstein x Mombeliard x Sueca Vemelha).”
entrevista
dados gerais da exploração Nº de vacas em produção: 118 Nº de vacas secas: 23 Efetivo total de animais: 254 Produção média de leite/vaca/dia: 30 litros Teor butiroso: 3,7% Teor proteico: 3,2% Contagem média de células somáticas: 117.000 A alimentação forrageira é baseada na silagem de milho, silagem de erva e palha.
bastante tempo e vi neste programa a solução. Os receios não foram muitos, porque antes já tinha visitado várias explorações com o programa Procross e vi que estava a funcionar. Ainda me chamaram a atenção para as cores dos animais, mas acho que tudo muda na vida e que outras cores nos animais até poderia tornar a exploração mais engraçada. Por esta razão comecei o cruzamento pela Sueca Vermelha. Outro receio que me incutiram foi a menor produção de leite por vaca, mas na verdade o que eu vi foi que elas produzem sensivelmente o mesmo e fazem mais lactações. Falou da aplicação do programa Procross. Em que fase se encontra? Neste momento tenho 10% dos animais em produção, e no próximo ano já serão 30%. Comecei por cruzar apenas nas vacas problemáticas que tinha na exploração e depois continuei em todas as novilhas F1. Agora já estou também a fazer nas outras vacas. O meu objetivo é chegar aos 50% das vacas em produção. O que significa para si a vaca Procross? Traz-me um sentimento de tranquilidade, pois não fico com receio de as vacas não estarem “cheias” e de ter problemas ao parto. Talvez seja a vaca do futuro! Repare, eu estou com uma média de 1,5 inseminações por vaca grávida nas vacas que estão neste programa, contra 4,1 nas puras.
”Olho para os valores do intervalo entre partos, os dias de lactação e número de inseminações por vaca prenha como indicadores para saber se o negócio está no caminho certo” Quais são os fatores que caracterizam a vaca Procross nesta exploração? Em termos de consumo de alimento são semelhantes. No que respeita à produção penso que seja sensivelmente o mesmo por lactação, mas como são mais “certinhas a pegar” vão produzir mais leite ao fim de poucos anos em produção. Hoje estou com 2,5 lactações por vaca em média, e estava com 2,3. Depois, como referi atrás, o número de inseminações baixou drasticamente (de 4,1 para 1,5) e o intervalo entre partos passou de 415 dias para 381 dias nas cruzadas. E ainda temos os custos com a saúde, que embora não possa quantificar, baixaram. Quanto ao temperamento dos animais, e ao contrário dos avisos que tive, têm-se revelado iguais aos que cá tinha. Onde se nota diferença é nos vitelos que comem muito mais, mas também engordam mais. Hoje estou a vênde-los com mês e meio a dois meses de idade por 200 a 250 euros, e mais tivesse mais vendia.
44 outubro . novembro . dezembro 2014 Ruminantes
Acha que este programa de cruzamentos o pode ajudar na competitividade que se espera com o fim das quotas? Não sendo fácil a resposta... eu diria que sim, pois vou baixar os custos de produção, com menor intervalo entre partos, menor número de inseminações e custos de saúde, menor taxa de reposição... e mais vacas em produção no mesmo espaço. Sendo a área de forragem limitada, tal como tinha referido anteriormente, acha que este programa pode ajudar a produzir mais leite com a mesma área? Considerando que o meu negócio é produzir e vender leite, quantos mais animais saudáveis eu tiver a produzir e menos animais de reposição eu precisar de ter, melhor otimização tenho da área da exploração. Quando faço uma projeção de resultados a quatro anos com Vacas Procross, os números apresentam-se muito interessantes, pois reduzo o custo de recria pela menor necessidade de animais em reposição (-6%), e dessa forma posso colocar mais 16 animais em produção para o mesmo encabeçamento que hoje existe, ou seja, passar de 141 para 157 vacas em produção, e de 113 para 79 animais em recria. Com este modelo, a venda de vitelos terá um incremento na receita devido ao aumento do número de partos e menor necessidade de reposição, bem como um aumento na produção total para 1.400.000 quilogramas, mais 12% para a mesma área de forragem.
atualidades
Alterações ao decreto-lei nº 99/2005 permitem transportar mais carga O decreto-lei nº 99/2005, que aprova o regulamento que fixa os pesos e as dimensões máximas autorizadas para os veículos em circulação, sofreu alterações que permitem às empresas agrícolas aumentar a carga dos produtos transportados. Assim, o transporte de animais e de produtos vitivinícolas, frutas, produtos hortícolas e cereais, contentorizado e não contentorizado, em veículos a motor-reboque, a partir de cinco eixos, inclusive, com destino a unidades de concentração ou transformação, passa de um peso bruto de 44 toneladas para um máximo de 60 toneladas. Também a carga transportada de mercadorias, com destino
aos portos nacionais, sofre a mesma alteração, sendo esta uma medida que visa o incentivo às exportações. Note que, durante as campanhas agrícolas, a carga não contentorizada permitida no transporte dos produtos supracitados, era de 40 toneladas passando agora a ser de 44. O secretário de Estado da Agricultura, José Diogo Albuquerque, afirma que as alterações ao decretolei nº 99/2005 resultaram de uma proposta articulada entre o Ministério da Agricultura e o Ministério da Economia, tendo como principal objetivo aumentar a eficiência do setor agrícola. O novo diploma, decreto-lei nº 133/2014, entrou em vigor no dia 5 de setembro.
A Ruminantes esteve presente na agroglobal A revista Ruminantes marcou presença na AgroGlobal 2014, onde se apresentou com um stand de 100 metros quadrados. A feira decorreu durante os dias 10, 11 e 12 de setembro e contou com mais de 200 empresas e cerca de 20 mil visitantes, entre profissionais e curiosos. O evento teve ainda a visita de vários governantes e políticos, com destaque para as presenças do ministro da Economia, António Pires de Lima e da ministra da Agricultura e do Mar, Assunção Cristas. Além dos expositores, a AgroGlobal 2014 teve, durante os três dias, vários debates sobre a atualidade e futuro do setor primário.
Rações com Qualidade Para produtores com lógica empresarial
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ruminantes outubro . novembro . dezembro 2014 45
alimentação
Gonçalo Martins Gestor de Produto, Especialidades Zootécnicas gmartins@vitas.pt
HY-Diet Nutrition Cycle Especialista na fileira da produção leiteira, a HYPRED diversifica a sua oferta ao propor uma gama de produtos dietéticos para vacas leiteiras.
HYPRED, empresa do grupo Roullier, lança HY-Diet, um conceito de quatro produtos sob a forma de bolus efervescentes para manter uma boa condição metabólica das vacas leiteiras. O programa HY-Diet é composto por quatro tipos de bolus que contêm a complementação nutricional adaptada às diferentes etapas do ciclo de produção das vacas leiteiras. A cada uma das fases críticas do ciclo de produção (secagem, parto, inseminação,…) corresponde um bolus que fornece vitaminas, oligoelementos, aminoácidos e outros aditivos em função das necessidades nutricionais da fase em questão.
secagem BOLITRACE®BIOTIN Aporte de oligoelementos e vitaminas essenciais ao ciclo produtivo dos animais de forma contínua (4 meses) para a: • Otimização do desenvolvimento fetal; • Preparação do parto e qualidade do colostro; • Preparação do próximo ciclo reprodutivo.
FIGURA 1 Ciclo Fisiológico da Vaca Leiteira.
SECAGEM
PRÉ-PARTO
parto
reprodução
BOLITRACE® BIOTIN
BOLIFAST® PHYSIO
BOLIFLASH® CALCIUM
BOLIFLASH® FERTIL
pré-parto
permite uma libertação tanto instantânea como progressiva do cálcio.
BOLIFAST®PHYSIO Especialmente adaptado às necessidades nutricionais das vacas leiteiras antes do parto. Rico em hépato-protetores (colina e metionina ruminoprotegidas) sendo indicado na preparação para o parto de vacas com excesso de condição corporal.
parto BOLIFLASH®CALCIUM Desenvolvido para reduzir o risco e incidência da febre vitular. Fornece um total de mais de 80 g. de cálcio, libertado sobre várias formas: formiato, carbonato e citrato. A tecnologia HY-Diet
46 outubro . novembro . dezembro 2014 Ruminantes
reprodução BOLIFLASH® FERTIL Uma semana antes da inseminação. Fornecimento de oligoelementos quelatados e vitaminas de forma a melhorar os índices reprodutivos.
Em resumo Os produtos HY-Diet fornecem os nutrientes necessários para cada fase do ciclo da vaca leiteira, sendo um programa desenhado de forma a fornecer a quantidade de nutrientes adequada, na altura exata e no momento ótimo do ciclo, cobrindo as
lactação
necessidades fisiológicas e prevenindo o aparecimento de determinadas doenças metabólicas, tanto na sua forma clínica como subclínica. HY-Diet apresenta-se sob a forma de bolus ruminais, o que torna a sua aplicação segura, simples e prática. Os bolus HY-Diet são o resultado de novas tecnologias galénicas que maximizam a biodisponibilidade dos nutrientes administrados. A filosofia de HY-Diet é a de melhorar os resultados da exploração fornecendo soluções dietéticas, com a mensagem de que a solução mais rentável é a prevenção. Todo o saber e inovação de HYPRED para responder às necessidades nutricionais dos animais.
Notas Para mais informações e esclarecimentos, não hesite em contactar o técnico Hypred mais próximo de si.
SAÚDE E BEM-ESTAR ANIMAL
Manuel D. Figueiredo
Diogo C. Pereira
DVM, Bayer HealthCare Animal Health manuel.figueiredo@bayer.com
DVM, Bayer HealthCare Animal Health diogo.pereira@bayer.com
Controlar a desidratação provocada pela diarreia
A diarreia é sem dúvida um dos principais problemas nos primeiros tempos de vida do vitelo.
Sinais clínicos
Grau de desidratação (%) 0
Leve depressão, aumento da produção de urina
2
Olhos fundos, pele sem elasticidade, boca e narinas secas, mas ainda de pé
6
Sintomas anteriores agravados, orelhas e pernas frias, não se mantem de pé Choque e morte
4
depressão
8 10 12 14
Necessidade de fluidoterapia parenteral estado crítico
morte QUADRO 1 Evolução do nível de desidratação.
Alguns estudos recentes revelaram que 1/3 dos vitelos passam por um quadro de diarreia durante as 2 primeiras semanas de vida e que este número pode ainda ser superior quando temos animais confinados em grupos. Nestes casos podemos ter 90% dos vitelos dentro de um grupo a sofrer problemas de diarreia. Vitelos que desenvolvem diarreia vão rapidamente apresentar sinais de desidratação, podendo estas perdas chegar a 12% dos fluídos corporais num só dia. O quadro
1 auxilia na classificação do grau de desidratação dos vitelos. Quando nos deparamos com um animal desidratado é essencial contrariar essa situação o quanto antes de modo a minimizar os danos consequentes. Para isso devemos proceder a uma reidratação eficaz baseada nos seguintes aspectos: • Reposição das perdas de líquidos • Reposição de electrólitos • Correcção da acidose metabólica • Fornecimento energético
48 outubro . novembro . dezembro 2014 Ruminantes
A reidratação pode ser feita de duas formas: oral e parenteral. A escolha é feita consoante o quadro clínico e a disponibilidade de material e de fluídos adequados. No entanto, é importante ter em mente que animais com taxas de desidratação superiores a 8% necessitam sempre de fluídos por via parenteral (endovenosa). Nestes animais é também importante não esquecer a fluidoterapia oral após a parenteral. Por outro lado, a reidratação por via oral é suficiente sempre que o grau de desidratação seja inferior a 8% ou o animal se consiga levantar e manter de pé sem auxílio.
destacar o sódio, o potássio e o cloro uma vez que, quando existe um desequilíbrio entre estes as funções electroquímicas do organismo deixam de funcionar.
Acidose metabólica
A acidose metabólica é caracterizada por uma diminuição dos valores de pH do sangue cujos valores normais se situam entre os 7,2 e os 7,4. Esta condição é originada por um desequilíbrio nos electrólitos que provocam uma alteração no balanço electrolítico bem como nos processos bioquímicos. O quadro 2 explica de forma Perda de simplificada uma das vias de desenvolvimento da acidose electrólitos metabólica e quais as suas Como foi dito anteriormente, consequências. quando pensamos em Desta forma ao reidratar um reidratar e, neste caso, em reidratar por via oral devemos vitelo devemos adicionar uma substância dita tampão. ter em consideração vários aspectos. Um deles é a perda Algumas das substâncias de electrólitos. Estas partículas possíveis de serem utilizadas são o bicarbonato e o são importantes para um acetato, pois são substâncias correcto funcionamento dos de pH básico que têm como órgãos, células e sistema objectivo neutralizar e corrigir nervoso. Entre todos os a acidose. electrólitos é importante
SAÚDE E BEM-ESTAR ANIMAL
QUADRO 2 Mecanismo de desenvolvimento de acidose metabólica causada pela diarreia.
Diarreia Diminuição do volume plasmático Diminuição da pressão arterial Diminuição da função renal
Diminuição da perfusão aos tecidos
Redução da excreção de H +
Aumento do metabolismo anaeróbio Acidose metabólica
Falha na relação H+/K+ Aumento de potássio no sangue Morte por falha cardíaca
Reidratar com ou sem leite? Vitelos com um quadro de diarreia perdem parcialmente a sua capacidade de digerir o leite. Da mesma forma, a passagem de leite não acidificado no intestino pode levar a um agravamento da diarreia, na medida em que pode ser um facilitador do crescimento bacteriano dentro do intestino. Por essa razão tem sido aconselhada a substituição, total ou parcial, do leite por uma solução de reidratação oral (SRO) durante o período de reidratação. Contudo, os últimos estudos indicam que animais que durante dois dias recebem só a SRO, continuam a apresentarse desidratados e perdem peso rapidamente. Não nos podemos esquecer que um dos factores a ter em conta para uma boa reidratação é a suplementação energética dos vitelos. Deste modo, torna-se extremamente importante continuar a alimentar os animais com leite durante o processo de reidratação, suprindo assim as necessidades energéticas dos mesmos. Está demonstrado que vitelos alimentados com a quantidade diária recomendada de leite (10% do seu peso vivo) em conjunto
com uma SRO não pioram o estado diarreico e, pelo contrário vão apresentar ganho de peso durante o período de reidratação (sete dias). O principal problema da administração concomitante da SRO e do leite tem a ver com o tipo de substância tampão utilizada. Uma das substâncias referidas anteriormente foi o bicarbonato. Esta substância é problemática pois interfere na digestão normal do leite evitando a formação do coágulo no abomaso, levando assim a um agravamento da diarreia pelas razões referidas acima. Para evitar este tipo de situações devemos utilizar uma SRO com acetato em substituição do bicarbonato. O acetato não vai interferir na correcta digestão do leite e, por essa razão, pode ser administrado com o leite. Este aspecto é importantíssimo pois, para além da importância do leite no fornecimento de energia, este desempenha ainda um papel extremamente importante na função imune e na morfologia das vilosidades intestinais.
Referências bibliográficas Disponíveis para consulta mediante solicitação. Nota: Os autores escreveram este artigo segundo o Antigo Acordo Ortográfico.
ruminantes outubro . novembro . dezembro 2014 49
atualidades
Leilão de reprodutores Limousine e Charoleses em Montemor-o-Novo No passado dia 6 de setembro, no contexto da Expomor, a feira anual que reúne em Montemoro-Novo todo o sector agrícola e pecuário da região, decorreu o terceiro leilão de reprodutores puros certificados, da raça Limousine, este ano conjuntamente com a raça Charolesa. A organização deste leilão foi partilhada entre a Apormor, a Associação de Produtores de Bovinos, Ovinos e Caprinos da Região de Montemor-o-Novo, e as associações da raça Limousine e da raça Charolesa, com o objetivo de estender, para os reprodutores bovinos, o enorme sucesso que os leilões semanais de animais para engorda e abate têm tido em Montemor-o-Novo. A Apormor, numa aposta clara no melhoramento genético das explorações dos seus associados, onde são produzidos os animais cruzados que são vendidos em leilão, apoiou mais uma vez os seus associados na aquisição de reprodutores puros certificados deste leilão, com um valor de 1000€ para os Limousine Ouro, 800€ para os Limousine Prata e 600€ para os Limousine Bronze, representando uma importante ajuda no contexto da atual crise económica, uma vez que a aposta na genética certa resulta, a médio prazo, em retorno económico e no reforço da vitalidade dos bovinicultores. A edição do leilão de reprodutores de 2014 contou com 12 animais da raça Limousine e 12 animais da raça Charolesa e a base de licitação dos reprodutores foi de 3000€ para os Limousine Ouro, 2750€ para os Limousine Prata e 2500€ para os Limousine Bronze. Os animais da raça
Limousine foram todos vendidos, ou seja, todos os 12 animais Limousine presentes. No caso da raça Charolesa, com os mesmos valores de base de licitação e de apoio, foram vendidos 3 dos 12 animais presentes. A melhoria gradual da genética dos bovinos nacionais, destinados ao cruzamento para carne, resultará, a médio prazo, no crescimento da economia nacional e na redução da necessidade de importações, valendo a pena sublinhar os bons exemplos, como este da Apormor, ajudando os criadores a criar riqueza numa região com elevado potencial pecuário.
1ª PROVA DE CÃES DE PASTOREIO Com o objectivo de valorizar a utilização do cão pastor, visando o bem-estar do cão e do Homem, a APUCAP, “Associação Portuguesa de Utilizadores de Cães Pastores” organiza, no próximo dia 18 de Outubro de 2014, a 1ª prova de cães de pastoreio, que decorrerá na Herdade da Pontega às 8h00m (Igrejinha – Arraiolos). O evento conta conta com duas provas de pastoreio de dois níveis distintos, em que serão premiados os melhores cães de pastoreio.
Para mais informações apucap.sheepdog@gmail.com
50 outubro . novembro . dezembro 2014 Ruminantes
SAÚDE E bem-estar animal
A SANOFI COMPANY
O PARTO DIFÍCIL POR José Miguel Lopes Jorge, Merial Portuguesa - Saúde Animal, Lda lopes.jorge@merial.com
Para as explorações bovinas, o parto constituí um momento critico para o resultado económico, uma vez que representa o início de uma nova lactação e do nascimento da vitela/o. Após o parto inicia-se uma corrida contra o tempo para tentar assegurar que a vaca fique gestante no intervalo de tempo mais curto possível (diminuição do intervalo entre partos), constituindo assim a fertilidade o motor das explorações de bovinos leiteiros e aleitantes.
O parto difícil: um custo acrescido para os efectivos leiteiros Num efectivo leiteiro, estimase que um parto assistido com extracção forçada implica uma perda de rendimento médio de cerca de 100 € a 200 €, fora honorários veterinários,
em comparação com um parto sem problemas. (1) As perdas de rendimento repartem-se entre a mortalidade (vitelos/vacas), o impacto na quantidade e qualidade do leite produzido e o impacto na fecundidade (Gráfico 1). As perdas económicas aumentam com a dificuldade do parto (em média 426 € para um parto de grande dificuldade – grau 5). (2)
O parto difícil tem impacto no desempenho de todo o efectivo Numa exploração aleitante, as distócias influenciam negativamente os parâmetros reprodutivos, nomeadamente os retornos ao cio, as taxas de fecundidade e a percentagem
GRÁFICO 1 Composição das perdas económicas (diminuição receita + custos suplementares) associados a um parto difícil.
Mortalidade (vitelo / vaca)
Quantidade e qualidade do leite
25%
41%
34%
GRÁFICO 2 Consequências de um parto difícil sobre os parâmetros reprodutivos(3). Classe de parto não distócico distócico
Idade das vacas
2, 3 e 4 anos
Assim, no caso de parto difícil, torna-se imperioso gerir o desconforto do animal para minimizar as perdas económicas, surgindo a utilização de anti-inflamatórios não esteróides (AINEs) como auxiliar na melhoria do bem-estar animal.
Número de vacas
Detectadas em cio (%)**
O β-hidroxibutirato é um reflexo da utilização das reservas adiposas pela vaca, nomeadamente para compensar o défice energético fisiológico no início da lactação. Após um parto difícil, as novilhas tratadas com AINE apresentam concentrações significativamente mais baixas em β-hidroxibutirato. Esta diferença é significativa 6 dias após o parto e evidencia um melhor apetite e uma menor utilização das reservas corporais (Gráfico 3).
Num lote de 54 novilhas, avaliou-se a taxa de gestação após um parto difícil. No caso de lesões vulvares ou vaginais (rasgamento ou episiotomia), os animais que receberam AINE no parto, apresentam uma taxa de gestação significativamente superior ao lote testemunha sem AINE (Gráfico 4).
Taxa de fecundidade (%)**
Taxa de gestação (%)**
1,423
74,3
68,5
84,6
466
59,9
50,8
71,1
** Todos estes resultados são estatisticamente significativos.
GRÁFICO 3 Concentração de βOH em mmol/l 0,8 0,6 0,4 0,2 0 D0
D6
D28
GRÁFICO 4 Taxa de gestação após um parto difícil
AINEs e o aumento da ingestão alimentar (4)
AINEs e a melhoria da fecundidade (4)
Diminuição ou atraso na fecundidade* * (número de IA; intervalo parto-IF)
de vacas gestantes (Gráfico 2).(3)
100% 80% 60% 40% 20% 0%
Testemunhas AINE
Em resumo No caso de partos difíceis, a utilização de AINEs auxilia a gestão imediata do desconforto, minimizando as consequências económicas.
Bibliografia (1) Software de estimativa das perdas económicas devidas a doenças numa exploração de bovinos leiteiros, UMR Gestion de la Santé Animale, site ENVN. (2) CMB. Demataweva e PJ. Berger, 1997. Effect of Dystocia on Yield, Fertility and Cow Losses and an Economic Evaluation of Dystocia Scores for Holstein, J Dairy Sci, 80, 754-761. (3) GC.Lamb, 2000. The nemesis of a beef cow-calf operation: the first-calf cow, Minesota Beef. (4) Resultados preliminares de estudos em curso: utilização do ROMEFEN 10% em parto difícil.
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SAÚDE E BEM-ESTAR ANIMAL
Limitar a propagação dos agentes infecciosos Que medidas a adoptar para limitar a difusão de um agente infeccioso numa exploração?
Marisa Bernardino DVM, MV em regime ambulatório na Clínica Veterinária Dra. Carla Mendonça, Vila Verde bernardino.marisa@gmail.com
Biossegurança Os avanços tecnológicos e científicos têm-nos permitido uma melhor compreensão da patogénese e das características dos agentes infecciosos, assim como a aplicação de vacinas e tratamentos mais eficazes. Contudo, necessitamos de tirar um maior partido dos conhecimentos que os referidos avanços nos têm proporcionado, nomeadamente ao nível da Biossegurança, que constitui uma peça-chave na redução da ocorrência e disseminação de agentes infecciosos, pelo que se torna imperativo que os produtores, em conjunto com os veterinários assistentes, desenvolvam programas de maneio baseados não só no processo patológico e na prevenção da doença, como também em questões de saúde pública, dado que essas medidas de biossegurança permitem uma limitação da propagação dos agentes infecciosos nas e entre explorações. Mas, e o que é a Biossegurança? Este conceito compreende, de uma forma vaga, os procedimentos adoptados com vista a evitar os riscos das actividades biológicas, ou seja, o conjunto de acções voltadas para a prevenção, protecção
do trabalhador, minimização de riscos inerentes às actividades, visando assim, a saúde do homem, dos animais, a preservação do meio ambiente e a qualidade dos resultados. No que diz respeito aos agentes infecciosos, o termo Biossegurança engloba as medidas de maneio e higiene que visam a redução da introdução, exposição e transmissão desses agentes nos/entre os animais. O interesse pela biossegurança tem aumentado ao longo dos últimos anos, tornando-se de tal forma importante que constituiu uma das áreas-chave do Plano Estratégico de Saúde Animal (2007-2013) da Comissão Europeia.
Doenças infecciosas em bovinos Em bovinos, de aptidão leiteira ou de carne, subsistem um conjunto de doenças infecciosas que têm merecido uma particular atenção por parte dos profissionais de veterinária e produtores, constituindo uma preocupação para o sector, uma vez que surgem de forma quase “silenciosa”, são na sua maioria, altamente contagiosas e, muitas vezes a sua cura/solução é morosa e dispendiosa, pelo que a sua entrada numa exploração é acompanhada de grandes prejuízos para o produtor. Entre essas doenças merecem especial atenção, pela importância sanitária e económica que assumem a nível Mundial, a Rinotraqueíte Infecciosa Bovina (IBR) e a Diarreia Viral Bovina (BVD), devido às perdas decorrentes da patologia e às restrições no movimento dos animais. Em conjunto com estas doenças, a Paratuberculose e a Neosporose constituem um grupo para o qual é mais fácil e económico (embora, por vezes não pareça) apostar em fortes, eficazes e persistentes medidas de prevenção.
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IBR A IBR é uma síndrome viral, causada pelo Herpesvirus tipo 1 (BoHV1), cuja principal característica é a sua capacidade de latência (ou seja, de permanecer inactivo e passar “despercebido” nas células ganglionares e nervosas, não sendo detectado pelos exames de rotina). Esta característica torna o vírus passível de ser reactivado a qualquer momento quando o animal é submetido a uma situação de stress (alterações na dieta, subnutrição, transporte, parto, desmame, superlotação, condições atmosféricas adversas e infecções concomitantes) ou a medicação imunosupressora. Este vírus possui, deste modo, uma característica comum a todos da sua família: o animal que se infecta passa a ter o vírus para o resto da vida, sendo portador de uma infecção crónica, muitas vezes assintomática, até que ocorra o tal episódio de stress que dá origem à multiplicação do vírus e à sua eliminação através das secreções. O combate ao agente depende da eficiência dos mecanismos de defesa do animal, contraindo a doença aqueles que têm esses mecanismos comprometidos, razão pela qual se torna muito importante a adopção de medidas profilácticas constantes e adequadas, entre as quais cuidados de maneio e programas de vacinação. A desinfecção dos ambientes (parques, viteleiros, maternidade, salas de ordenha) com derivados fenólicos 1%, hipoclorito de sódio 2%, hidróxido de sódio 0,5%, amônia quaternária 1%, compostos iodados 10% ou solução de formalina 5% constitui uma importante medida de prevenção uma vez que o BoHV-1 é rapidamente inactivado por estes agentes. O risco de stress dos animais e contágio entre eles também deve ser minimizado através do seu isolamento prévio à introdução
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no rebanho (durante 2-3 semanas), isolamento dos bovinos doentes e utilização de sémen e embriões apenas de animais negativos.
laboratorial do diagnóstico e/ou nas de alto risco de introdução do agente.
Paratuberculose BVD A BVD é uma infecção viral, causada por um Pestivirus capaz de provocar diversas manifestações clínicas ou subclínicas, desde infecções ligeiras, problemas respiratórios e alterações gastrointestinais (com componentes hemorrágicos, vesículas, erosões da mucosa e diarreias em vitelos). No entanto, as maiores perdas parecem estar relacionadas com falhas reprodutivas, que constituem o sinal mais evidente da presença da infecção e que incluem mortalidade embrionária, abortos, mal-formações fetais, nascimento de vitelos fracos e inviáveis e altas taxas de rotorno ao cio. Quando a infecção ocorre na primeira metade da gestação, pode haver a produção de animais persistentemente infectados (PI). As principais medidas de controlo desta doença passam pela testagem laboratorial dos animais a serem introduzidos na exploração, monitorização sorológica em casos de suspeita de infecção; identificação e eliminação dos vitelos identificados como PI e implementação de programas de vacinação em explorações com confirmação
A Paratuberculose (ou Doença de Johne) é uma doença infecciosa e contagiosa, caracterizada por uma diarreia crónica (não responsiva ao tratamento), que apresenta como agente etiológico o Mycobacterium avium subsp. Paratuberculosis (MAP). Apesar do quadro clínico ser predominantemente gastrointestinal, a Paratuberculose provoca perdas directas e indirectas, entre as quais se podem citar: a diminuição da produção leiteira, o aumento da percentagem de mastites, a redução gradual de peso, o atraso no crescimento, o aumento do intervalo entre partos, os custos com tratamentos (muitas vezes infortúnios), o refugo precoce e a mortalidade. As principais vias de transmissão desta doença são a fecal-oral (ingestão das fezes de animais contaminados), a intra-uterina e o colostro. Os animais que desenvolvem a doença clínica (que ocorre por volta dos 2 anos de vida) são os infectados nas primeiras semanas de vida. Uma vez que não existe nenhum tratamento eficaz contra esta doença e que o surgimento de um caso pode significar a existência de muitos mais “mascarados”, a implementação de
boas práticas sanitárias e de maneio constitui o ponto-chave de controlo da doença. Concretamente, como medidas de biossegurança podemos incluir: • limitar a exposição dos animais jovens à bactéria, através de cuidados de higiene no parto e com o recém-nascido; • separar os vitelos das mães infectadas, logo após o nascimento; • utilizar colostro de vacas negativas e colocar o alimento e água em locais mais elevados do solo; • desinfectar os espaços com soluções de formol a 5%, de sulfato de cobre a 5% ou de cresol a 10%, uma vez que o MAP é sensível a estes desinfectantes, aos raios ultravioletas e ao calor, sendo altamente resistente nos solos e nas matérias fecais (até 47 meses).
Neosporose A Neosporose bovina é uma doença infecciosa de origem parasitária, causada pelo protozoário Neospora caninum, sendo a principal causa de abortos (principalmente no último terço da gestação) em bovinos de aptidão leiteira e de carne, em muitos países. O ciclo de vida deste protozoário engloba dois hospedeiros, cujo definitivo é o cão que se infecta ao consumir tecidos com parasitas (na forma cística) provenientes de hospedeiros intermediários, como os bovinos. Estes, por sua vez, infectam-se ao consumirem alimentos contaminados pelas fezes dos cães. No estômago dos bovinos, o parasita invade os tecidos e multiplica-se, podendo ficar latente nos tecidos nervosos, durante meses ou anos, restabelecendo-se o ciclo quando a carcaça é consumida por canídeos. À semelhança da patologia anterior, não existe um tratamento ou vacina 100% eficaz para a Neosporose, pelo que, uma vez mais, a prevenção através da adopção de medidas higiosanitánias e de maneio, se torna crucial. Entre estas medidas, destacam-se: • a redução da exposição de cães a tecidos infectados (como placenta e fetos abortados);
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• a remoção de fetos, crias mortas e placentas dos hospedeiros definitivos; • o uso de maternidades individuais; • a redução do número de gatos e cães co-habitando com a vacada; • a protecção dos alimentos dos bovinos da contaminação por fezes dos cães; • o controlo da circulação de canídeos na exploração, ou implementação de um rigoroso protocolo de desparasitação dos mesmos; • a realização de transferência de embriões (se for hábito), usando somente receptoras seronegativas.
“a biossegurança continua a ser a peça-chave na redução da ocorrência das doenças infecciosas...”
Assim, sendo, na generalidade, as principais medidas de biossegurança que devem ser tidas em conta no controlo dos agentes infecciosos supracitados são:
de agentes de diarreias, entre os quais a Salmonella spp. e o MAP, assim como na transmissão de agentes do complexo respiratório, muitas vezes transmitidos aos vitelos através do leite mamítico.
1. Vacinação estratégica, nos casos em que existe essa possibilidade, adaptada a cada exploração, com base nos riscos e na prevalência das doenças. As vacinas podem ser utilizadas não só a título profiláctico (vacinação de grupo), como também na redução da severidade dos sintomas (em casos individuais);
d) A identificação dos animais doentes e sua separação dos saudáveis para uma área confortável e de fácil limpeza e desinfecção, onde se deverá utilizar material e vestuário específico (i.e, que não seja utilizado nos saudáveis), bem como proceder à correcta desinfecção das mãos do pessoal responsável pelo tratamento destes animais.
a) O número de animais por viteleiro, a ventilação do mesmo e as condições físicas do alojamento. b) A administração de leite pasteurizado ou de substituição, para a prevenção da transmissão
4. Quarentena e isolamento dos animais adquiridos, de forma a não misturar animais que entram na exploração com os já lá existentes, sem antes conhecer o estado sanitário dos primeiros e “habituar” os mesmos ao novo ambiente, minimizando o stress. 5. Vedação das explorações, com vista a não permitir a passagem indesejada de animais de uma exploração para outra vizinha.
principais medidas de biossegurança
2. Biossegurança nos vitelos, focada em diminuir a transmissão dos agentes patogénicos entéricos e que engloba a localização, o tipo de construção, o estado de higiene dos viteleiros e do material de alimentação dos vitelos (baldes, tetinas, biberões), assim como o tipo de alimentação fornecida a estes animais. Alguns factores a ter em conta incluem:
e o maneio do rebanho, uma vez que animais stressados/excitados, apresentam maior frequência respiratória e maior volume de ar expelido.
c) A remoção do recém- nascido da maternidade, logo após o seu nascimento, de modo a não contactar com os agentes patogénicos dos animais adultos.
3. Ventilação das explorações que, quando realizada de forma adequada permite: diminuir a concentração de agentes patogénicos e endotoxinas no ambiente; eliminar gases tóxicos, poeiras e zonas de ar estagnado; ajudar na manutenção de uma temperatura ambiente e níveis de humidade adequados e, por conseguinte, num melhor bem-estar dos animais. Para uma ventilação adequada contribuem não só o tipo de instalação e construção, como também a densidade animal
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6. Cuidados de higiene rigorosos do pessoal /veículos que circulam entre várias explorações e, na mesma exploração entre grupos de animais distintos. Deverão ter-se cuidados habituais como lavar botas, construir rodiluvios, limitar a circulação de pessoas estranhas à exploração, não partilhar materiais descartáveis e desinfectar materiais (por exemplo, os envolvidos nas manobras do parto).
EM SUMA As medidas de biossegurança, revelam-se, assim, muito importantes na redução da transmissão dos agentes infecciosos e devem ser adoptadas em combinação com outras estratégias de maneio adaptadas a cada exploração, por forma a diminuir os factores de risco e, consequentemente, a morbilidade e mortalidade associadas a estes agentes.
Bibliografia: Consultar a autora. Nota: A autora escreveu este artigo segundo o Antigo Acordo Ortográfico.
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entrevista
A prevenção compensa A mamite, ou inflamação da glândula mamária, é a doença mais comum e com maior impacto económico nas explorações produtoras de leite. por Sofia Carrondo
A mamite, ou inflamação da glândula mamária afeta os rebanhos leiteiros de todo o mundo e as suas consequências ultrapassam os portões de cada vacaria, pois afetam inevitavelmente a indústria de laticínios. As suas perdas económicas traduzem-se pelo leite que não é utilizado para vender, pelas reduções ou perda total da produção, mas também pelos custos com medicamentos, com o aumento da mão-de-obra e custos veterinários. Para além dos custos diretos, há ainda que somar o impacto negativo que tem na saúde pública e o refugo prematuro de vacas com elevado potencial produtivo.
Não nos esqueçamos que as mamites provocam alterações na qualidade do leite e exigem a presença de antibióticos, cujos resíduos interferem com o processo de manufaturação de muitos produtos lácteos, nomeadamente queijos e outros produtos fermentados, assim como sabores indesejáveis que reduzem o valor do leite e podem causar problemas de saúde nos consumidores. A sua erradicação é algo praticamente impossível de ser alcançado numa exploração leiteira. Contudo, se percebermos quer a origem, quer as diferentes vias de contaminação e disseminação da doença, podemos atuar. Há assim um conjunto de fatores relacionados com o correto maneio dos animais, com a melhoria das condições da própria exploração e com
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a utilização de vacinas, que minimizam o impacto desta doença e os seus custos associados. E como devemos aprender com os bons exemplos, visitámos a vacaria Irmãos Ferreira Gomes, na Carvalhosa (Paços de Ferreira), onde fomos muito bem recebidos pelos seus responsáveis e equipa veterinária. Pode-nos fazer uma contextualização da sua exploração? Esta exploração vai na sua segunda geração. Na altura em que assumimos a sua gestão contava com cerca de 30 vacas. Depois fizemos uma compra de 10 vacas e a partir daí, toda a renovação do efetivo é feita cá. Atualmente temos 103 vacas em ordenha e no total são 213 animais. Este crescimento foi mais
entrevista
notório quando passámos a utilizar sémen sexado nas novilhas, para podermos ter mais fêmeas. Quais têm sido as áreas de maior investimento? Temos procurado investir sempre no bem-estar animal e em tudo o que se relacione com a higiene da exploração. Uma vaca com uma boa cama e uma boa manjedoura produz mais leite. Logo, procuramos criar as melhores condições para os animais. Todo o investimento que temos feito nesta área da melhoria do bem-estar, como o alargamento do parque das novilhas, do espaço onde estão as vacas secas e o cuidado com a nutrição, tem permitido um aumento considerável da produção de leite. Como exemplo, a produção prevista das novilhas aos 305 dias aumentou em quatro anos mais de 1.000 litros. O controlo das mastites nas explorações leiteiras é essencial. O que o preocupa mais e o que faz a nível da prevenção? Penso em primeiro lugar que é essencial uma boa cama limpa, com uma substituição frequente do serrim sujo para que se possa manter sempre o mais seca possível. Por outro lado, uma boa desinfeção dos tetos antes e pós ordenha, bem como um maneio correto na sala de ordenha, constitui também uma boa prevenção das mamites. Finalmente creio que a vacinação é essencial e ajuda-nos muito na prevenção das mamites. A sua exploração tem algum programa de gestão da qualidade do leite? Temos sim. E foi com esse trabalho de sistematização que conseguimos aferir com rigor que tínhamos vários animais com E. coli e S. aureus, morrendo-nos todos os anos alguns animais com E. coli. Conjuntamente com a equipa técnica que tem, o que decidiu fazer? Foi-nos recomendada a vacinação de todo o rebanho, que estamos a fazer desde final de 2011. Desde que vacinamos os animais, perdemos menos vacas por mamite por ano. O ano passado não perdemos nenhuma em vez das 4 ou 5 que perdíamos em média todos os anos. Tendo em conta que uma novilha de reposição custa cerca de 2.000 €, conseguimos um ganho anual de cerca de 10.000 €. Por outro lado, temos menos custos com tratamentos: quando iniciámos a vacinação na nossa
exploração, tínhamos um custo mensal de cerca de 1.000 € e conseguimos reduzir essa fatura para uma verba inferior a 600 €. Logo passámos a ter um ganho efetivo de 300 €/mês, já contando com o custo da vacina. Portanto, àqueles 10.000 €, juntamos um ganho de 3.600 €/ano. Por outro lado, aproveitamos muito mais leite, o que também constitui um ganho para nós. Há ainda que referir que desde que vacinamos as vacas, quando há um caso de mamite consegue-se resolvê-lo mais rapidamente e facilmente, o que também é muito positivo para nós. Portanto, penso que a vacinação associada ao bom maneio que procuramos sempre fazer na vacaria, tem permitido grandes ganhos em várias frentes, quer no número de mamites que deixaram de surgir, quer na diminuição dos custos com os tratamentos, quer no aumento da produção, quer na diminuição do refugo voluntário que fazemos. Tem a sistematização do refugo voluntário que fazem anualmente? Sim, os médicos veterinários que nos acompanham há alguns anos têm todos esses dados que analisamos frequentemente. Sabemos, por exemplo, que anualmente temos uma taxa de 20-25 % de refugo voluntário, já considerando as vacas que produzem menos leite, o que considero muito bom. Ou seja, já nos conseguimos dar ao luxo de refugar animais pelo simples facto de produzirem menos, e assim aproveitar apenas aquelas que produzem o que
Na foto da esquerda para a direita Guadalupe Gomes (HIPRA), João Marques e Andreia Amaral (equipa técnica da exploração), irmãos Ferreira Gomes (produtores) e Carla Azevedo (HIPRA).
entendemos como aceitável. Sabemos também que, em quatro anos, a produção prevista das novilhas aos 305 dias aumentou mais de 1.000 litros. Qual é o protocolo que seguem? Vacinamos de 3 em 3 meses o efetivo de vacas em produção, as secas e as novilhas a 3 meses de parirem, revacinando-se às 3 semanas. Fazemos isto meticulosamente de 3 em 3 meses. Orgulhosos da sua exploração, os irmãos Ferreira Gomes fizeram-nos ainda uma visita guiada pelas várias áreas da vacaria, onde pudemos constatar a excelente condição física dos animais, a sua esmerada limpeza e o seu conforto e bem-estar nos diversos parques. Tal como nos explicaram, “se cuidarmos bem de uma vaca, ela agradece-nos e retribui”, e um dos médicos veterinários, o Dr. João Marques rematou, dizendo: “Se tivermos menos casos clínicos e casos mais fáceis de resolver, teremos menos necessidade de tratamentos com antibióticos. Inevitavelmente teremos não só menos custos, como principalmente animais mais saudáveis e mais produtivos.”
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Doenças ocultas em pequenos ruminantes Regras de biossegurança são imprescindíveis em qualquer exploração de pecuária garantindo algum controlo à entrada de novos agentes infecciosos. No entanto, há doenças que podem facilmente ultrapassar essa barreira se o produtor não conhecer as suas características. POR George Stilwell, Inês Ajuda e Ana Vieira Projecto AWIN, Faculdade de Medicina Veterinária, U.LISBOA stilwell@fmv.ulisboa.pt
Na forma de exemplo comecemos por apresentar uma doença infecciosa de que muitos provavelmente já ouviram falar mas cujos contornos desconhecem. É a paratuberculose (PTB), causada pela bactéria Mycobacterium avium subespécie paratuberculosis.
doença infecciosa Apesar de ser bastante mais conhecida em bovinos a PTB afecta igualmente os pequenos ruminantes. Actualmente considerase existir duas estirpes principais, a C, que afecta essencialmente os bovinos e caprinos e a S, que infecta os ovinos (e caprinos coabitantes). Esta é uma doença do tracto intestinal caracterizada por uma enterite crónica. Ao contrário do que acontece com os bovinos, nos pequenos ruminantes a diarreia não acontece sempre podendo as fezes ter o aspecto normal. Sendo assim o único sinal invariavelmente associado a PTB em
pequenos ruminantes é a perda continuada e bastante rápida de peso, mesmo mantendo-se o apetite. As suspeitas tornam-se mais consistentes quando se associam estes sinais ao facto de apenas os animais com mais de 1-2 anos adoecerem e os casos surgirem de forma esporádica. A evolução da doença, após os primeiros sinais, é relativamente rápida conduzindo à morte quando o animal não é abatido ou vendido mais cedo por baixa produção e caquexia. No entanto a razão porque se chama esta doença a estas páginas é outra. Ela interessa-nos porque é o exemplo máximo da doença oculta que ultrapassa facilmente as barreiras de biossegurança. Apesar da infecção ocorrer por via oral quando os animais são jovens nunca a doença clínica se mostra antes da idade adulta e mesmo entre esses há muitos que apesar de infectados nunca virão a fazer a doença. Assim, podemos ter numa exploração muitos animais saudáveis a excretar o agente e ocasionalmente uns a perder peso e
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“Uma vez infectada, muito dificilmente se consegue erradicar a paratuberculose de uma exploração.”
FIGURA 1 A perda de peso continuada pode ser o único sinal de paratuberculose, uma das doenças ocultas
produção e a morrerem. A luta contra a PTB encerra ainda outra grande dificuldade que interessa apresentar – os portadores não são facilmente identificáveis por testes sanguíneos ou pesquisa do agente nas fezes. Alguns países têm conseguido reduzir a incidência da PTB nos efectivos de pequenos ruminantes através de vacinação, mas esta via ainda encerra alguma polémica (especialmente em caprinos por dificultar a posterior identificação de infectados por tuberculose) e não é 100% eficaz. Sobra, por isso, regras
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apertadas de maneio, higiene e sanidade que não são fáceis de cumprir, especialmente nas explorações em extensivo. O objectivo principal é o de evitar a infecção primária dos borregos ou cabritos, o que implica a separação logo à nascença, a alimentação com colostro e leite pasteurizado e a recria efectuada SEMPRE longe dos adultos (e das suas fezes). E como mesmo assim não é garantida a impossibilidade de transmissão entre adultos, deve-se evitar a sobre-densidade, a conspurcação dos comedouros e bebedouros por fezes, a acumulação de estrume nas camas e os campos adubados com esterco não devem ser usados para pastoreio durante pelo menos um ano. Como se comprova esta é uma doença que de certeza ninguém quer que entre na sua exploração no caso de estar indemne. Só que esse estatuto não é fácil manter principalmente quando é preciso comprar animais de reposição ou aumentar o efectivo, porque nem a minuciosa observação dos animais nem sequer a observação de um longo período de quarentena conseguem evitar a entrada de animais portadores.
soluções É portanto evidente que a abordagem mais comum – exame superficial dos animais seguido de alguns dias de quarentena – não funciona com as que designámos como doenças ocultas (ver Tabela 1). Sendo assim há várias hipóteses possíveis para minimizar o risco de entrada de animais
Doença
Agente
Espécie mais afectada
Observação
Mycobacterium avium paratuberculosis
Ovinos e caprinos
Portadores assintomáticos desde jovens.
Brucelose
Brucella melitensis. (B. abortus, B. ovis)
Ovinos e caprinos
Testes efectuados através de programa sanitário nacional.
Linfadenite caseosa
Corynebacterium pseudotuberculosis
Ovinos e caprinos
Animais com abcessos internos.
Mastites sub-clínicas
Staphilococcus sp. e Streptococcus sp.
Ovinos e caprinos
Fonte de contágio do restante efectivo através da ordenha
Maedi-visna
Lentivirus
Ovinos
Períodos de incubação muito longos e possibilidade de doença sub-clínica.
Artrite e encefalite caprina (CAEV)
Lentivirus
Caprinos
idem
Paratuberculose
TABELA 1 Exemplos de doenças contagiosas que mais facilmente podem escapar ao crivo de um período de quarentena.
portadores destes agentes infecciosos. A seguir listamos algumas formas, por ordem decrescente de eficácia.
Não comprar animais no exterior esta é, obviamente, a forma mais segura de manter a nossa exploração isenta. Muitos destes microorganismos são pouco resistentes no exterior do hospedeiro animal e por isso, ao não comprar animais, é pouco provável que consigam ter acesso ao efectivo a proteger. Infelizmente esta solução nem sempre é viável já que a necessidade de renovação ou melhoramento do rebanho pode obrigar à compra de animais de substituição ou reprodutores valiosos.
Comprar animais apenas de explorações com bons registos onde seja possível retirar informação credível quanto à história sanitária e clínica do rebanho dos anos anteriores. Isto exige grande confiança no vendedor e nos
seus registos, para além de se ter de reconhecer a sua capacidade de diagnóstico. Por exemplo, ao garantir não ter CAEV na sua exploração o vendedor pode realmente estar convencido disso, mas apenas porque não sabe reconhecer os sinais clínicos da doença.
Fazer quarentena normal dos animais introduzidos e durante a qual é feita uma bateria de testes laboratoriais destinados a encontrar os infectados/ portadores. Esta estratégia baseia-se no facto de, geralmente, um animal que é portador de um vírus ou bactéria, produzir anticorpos específicos contra esse agente ou excretá-lo contínua ou intermitentemente. Infelizmente, no entanto, algumas das doenças ocultas dão origem a muitos falsos negativos, que são animais que apesar de infectados não produzem anticorpos detectáveis. O médicoveterinário assistente é o melhor para decidir quais testes a fazer e para retirar conclusões dos resultados obtidos.
Mensagens a reter • A quarentena é uma excelente medida de biossegurança que deve ser planeada em conjunto com o médicoveterinário e cumprida escrupulosamente sempre que há compra de animais. • O período de incubação de certas doenças infecciosas pode ser muito longo ou estas podem permanecer escondidas em portadores toda a sua vida. • Estas doenças “ocultas” podem causar importantes prejuízos económicos. Algumas podem também infectar os humanos. • Para evitar a entrada de animais infectados e portadores dessas doenças é preciso associar uma boa história da exploração de origem com análises laboratoriais. • Na dúvida é sempre preferível recusar a entrada de novos animais.
Nota: Os autores escreveram este artigo segundo o Antigo Acordo Ortográfico.
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equipamento
Na foto da esquerda para a direita Manuel Baioneta (Tractores Ibéricos), Manuel Vieira, Miguel Vieira e sobrinhos, Ribeiro (Reptractor), Carlos Ribeiro e Rui (Mecânico da Reptractor).
kuhn
todo o tempo conta A necessidade de rentabilizar o tempo despendido com a alimentação das vacas e de conseguir uma mistura homogénea e de elevada qualidade, levou a que Manuel e Miguel Vieira, sócios da Agropecuária Irmãos Vieira, Lda., tivessem decido investir num novo unifeed automotriz Kuhn, modelo SPV 12, adquirido à empresa Reptractor, concessionário Tractores Ibéricos. A Revista Ruminantes esteve presente no dia da entrega da máquina, feita pela empresa Reptractor. A Agropecuária Irmãos Vieira fica sediada na localidade de Sobral, em Ovar e tem no negócio da produção de leite a sua principal atividade. No total, a exploração conta com 40 hectares de terra dispersos onde se alternam as culturas do milho e do azevém. Possui um efetivo de 160 vacas leiteiras em produção em cerca de 360 animais. A produção média de leite por vaca e dia situa-se nos 30 litros, com teores butiroso e proteico de, respetivamente, de 3,8 e 3,4%. A exploração está equipada com uma sala rotativa de 24 lugares, onde são realizadas
duas ordenhas diárias. Recentemente, Miguel e Manuel Vieira, que gerem em conjunto a empresa, tomaram a decisão de aumentar o número de animais em produção e como tal, surgiu como prioridade reduzir o tempo que atualmente dedicam à preparação da mistura do alimento. A aquisição de um automotriz Kuhn SPV 12 vertical, de 12 metros cúbicos prendese com estas exigências, porquanto com esta máquina será possível reduzir o tempo de preparação da mistura para 12 a 15 minutos. Cada carga permitirá alimentar entre 50 a 60 animais. Questionado sobre os pontos mais atrativos do SPV 12, Miguel Vieira referiu a questão da distribuição de peso na máquina (mais de 60% do
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peso sobre o eixo traseiro com a máquina carregada), o que lhe confere uma excelente tração. E também a facilidade de acesso ao motor, localizado atrás, a boa visibilidade do condutor para o tapete de distribuição, e ainda o facto de os circuitos de alimentação
de óleo do hidráulico serem independentes, não havendo desta forma desvios de óleo. Uma outra vantagem referida relaciona-se com a possibilidade de regulação das contra-facas do tegão, importante para a otimização do comprimento da fibra.
equipamento
Principais caraterísticas técnicas
Manuel Cáceres técnico de pós-venda da Kuhn Ibérica
“O tempo de mistura é bastante rápido, quando termina a entrada de ingredientes no unifeed a mistura está praticamente concluída. O tempo de mistura depende do arraçoamento mas é frequente ter valores entre os 10 e 15 minutos por cada carro unifeed. A ordem de entrada dos ingredientes deve começar pelos mais ligeiros, como a palha, depois os concentrados (ração, matérias primas, etc.) e depois os produtos mais húmidos como as silagens. O comprimento da forragem tem influência no tempo de mistura, uma silagem de erva ou de milho bem picadas têm um tempo de mistura menor.”
Carlos Ramos
técnico de pós-venda da Tractores Ibéricos
“O funcionamento deste equipamento é muito simples e intuitivo. Na cabina, existem dois ecrãs de comando, um dos quais diz respeito às pesagens, e o outro que permite verificar as funções da máquina (se o tapete de carga está a trabalhar, se a lança está em funcionamento, se a mistura está a ser feita, etc.). As quatro principais funções do unifeed são comandadas pela mesma alavanca joystick. O SPV 12 está equipado com motor John Deere de 142 cavalos e transmissão hidrostática. No que se refere à manutenção, a primeira revisão é feita às 100 horas e depois a cada 500 horas.”
Capacidade (m3)
12
Comprimento (m)
8,10
Altura (m)
2,78
Largura (m)
2,48
Peso em vazio (kg)
9 650
Peso total em carga (kg)
15 500
Repartição da carga em vazio (à frente/atrás) (%)
43/57
Repartição da carga em carga (à frente/atrás) (%)
34/66
Potência do motor (kW / cv)
104 / 142
Autonomia (índice de carga a 50%) (horas)
16
Número de rodas motrizes
2/traseiras
Velocidade máx. trabalho (km/h)
12,5
Raio de viragem (m)
6,7
Diâmetro da fresa (m)
0,68
Largura total da fresa (m)
2,10
Altura máx. desensilagem (m)
4,70
Número de facas no sem-fim vertical
7
Altura de distribuição com cinta transversa (m)
0,55
Frequência de descarga (kg/min)
3 400
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equipamento
Ordenha Rotativa Automática (AMR) Até agora, o sistema mais popular para grandes explorações de leite tem sido o Sistema de Ordenha Automático AMS com um braço. Em 2010, a DeLaval lançou a primeira Ordenha Rotativa Automática (AMR), sendo hoje uma realidade comercial em explorações em países como a Suécia, Austrália, Finlândia e Alemanha. O futuro das grandes explorações com AMS é muito promissor e a introdução de tecnologias eficientes apresenta-se como a melhor solução para lidar com os diferentes desafios que este setor enfrenta.
“TEIXEIRA”, UM EXEMPLO A SEGUIR A Sociedade Agrícola Teixeira do Batel, situada no Norte de Portugal, com 600 vacas, será a maior exploração Robotizada do Sul da Europa com a instalação dos 10 VMS. Um dos seus responsáveis, José Luís Teixeira, explicou as razões para robotizar a sua exploração: • Ordenhar três ou mais vezes por dia • Maior controlo das vacas • Bem-estar e qualidade de vida • Stress de ordenhar diariamente Explicou também os motivos porque escolheu trabalhar com 10 Robots VMS: • Braço parecido ao do Homem • Serviço Pós-Venda • Tráfico inverso: + Ordenhas/dia + Capacidade • Menos vacas atrasadas para recolher • Mais tempo para fechar o esfíncter
na foto José Luís e Jorge Filipe.
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Ordenha Robotizada Solução adequada para grandes Explorações de Leite? POR Carlos Fariñas, DeLaval / Harker XXI - info@harker.com.pt
Sem dúvida, a ordenha robotizada é uma solução adequada para grandes efetivos, como demonstram vários exemplos de explorações que assim funcionam hoje em dia em todo o mundo. O funcionamento de um Sistema de Ordenha Automática (AMS) requer o mesmo conjunto de habilidades e conhecimentos necessários para múltiplas unidades. No final, o que acontece com um ou dois robots é o mesmo que sucede na maior exploração do mundo, na Rússia, que trabalha com 34 estações do Sistema de Ordenha Voluntário (VMS). A maioria dos grandes projetos começaram por robotizar a exploração por fases, em parte porque é a forma mais lógica para a transição de um ponto de vista financeiro e porque, devido a princípios de escalabilidade, modularidade e flexibilidade, as
grandes explorações podem ser adaptadas ou construídas de novo.
VANTAGENS DA ORDENHA ROBOTIZADA NAS GRANDES EXPLORAÇÕES DE LEITE As grandes explorações podem alcançar os mesmos benefícios em comparação com as pequenas ou médias. No entanto, existem duas áreas descritas a seguir, onde a ordenha robotizada pode ter um maior impacto sobre grandes explorações de leite.
Trabalho Enquanto os custos de tecnologia baixam, os custos com a mão de obra sobem e a automatização será
equipamento
Exploração Teixeira do Batel Plano com a disposição dos 10 Robots VMS.
maior, mas os frutos serão visíveis, uma vez que vão utilizar a tecnologia e os dados disponíveis para tomarem decisões precisas e definirem estratégias eficazes na gestão da exploração.
Gestão por exceção
Seis estações VMS Sistema de Ordenha Automático AMS.
a solução sustentável para o futuro. Na ordenha robotizada é importante avaliar a eficiência do trabalho, que corresponde ao número de robots por empregado. A Tabela 1 mostra exemplos de diferentes explorações com Robot AMS, detalhando tamanhos, número de funcionários necessários e o número de vacas por funcionário. A questão do trabalho não é apenas uma questão de eficiência, mas também de disponibilidade. A falta de mão-de-obra qualificada nesta área de negócio é devida à exigência/desgaste que envolve ordenhar duas vezes por dia. Agora com o robot, é condição necessária o recrutamento de jovens conhecedores da tecnologia e formá-los como gestores da exploração; será um passo a dar e, provavelmente, vão exigir um salário
tabela 1 Eficiência do Empregado com Robot de Ordenha. Nº de robots
Total Nº Nº de Robots/ Vacas/ de vacas EMPREGADOS EMPREGADOS EMPREGADOS
1
60
1
1
60
2
120
1,5
1,3
80
4
240
2
2
120
8
480
3
2,7
160
20
1200
5
4
240
Fonte: Francisco Rodríguez en Progressive Dairyman (USA).
O tamanho de grupo ideal é uma vaca. Independentemente do tamanho, a tecnologia e o programa de gestão, permitem aos produtores centrarem-se em vacas individuais sem perderem a visão da gestão do grupo.
PLANIFICAÇÃO DE UMA GRANDE EXPLORAÇÃO ROBOTIZADA AMS
“Enquanto os custos de tecnologia baixam, os custos com a mão de obra sobem e a automatização será a solução sustentável para o futuro” da vaca, não na fase da lactação. Ao planificar e tomar decisões, as novilhas em lactação devem ter prioridade na correta adaptação ao Sistema de Ordenha Voluntário.
Alimentação
Enumeram-se de seguida os principais factores-chave para instalação de uma exploração de grande escala com Robots VMS:
Tamanho • É recomendável fazer um plano a curto e médio prazo e definir uma estratégia a longo prazo para implementação por etapas. • Um tamanho ideal para iniciar a primeira fase seria de oito robots para 480 vacas, com grupos de 60 vacas por Robot, ou 120 vacas por dois robots. • Assim que o produtor de oito robots considerar que está de acordo com as expetativas, então estará pronto para expandir. É importante recordar que se deve planear e construir para um futuro crescimento.
Conforto Animal e Gestão da Vaca • O agrupamento dos animais nas explorações com robot, deve basear-se no número de lactações, e no comportamento
• Há que ter em conta não apenas a qualidade da ração, como também a disponibilidade da mesma. Ter 70 centímetros de manjedoura por vaca e duas ou três filas de cubículos, no máximo, na estabulação de cada lado da manjedoura seria o ideal. Isto pode ser conseguido tanto com corredor central, como com corredores laterais, ao longo do estábulo. • O Nutricionista tem muito a dizer sobre a adaptação das vacas ao robot. O reajuste da ração deve ser reformulado a partir da alimentação que vamos dar à vaca no Robot. Entre dois e dez quilogramas de ração, em função da tabela de alimentação baseada em produção e dias de lactação, será o principal atrativo para a vaca ir para o VMS. • A cama de areia é a solução standard para grandes explorações de leite, mas a cama de borracha com boa limpeza, com secantes e com corredores largos, também é uma ótima solução. • Há que evitar o excesso de vacas, já que se repercute contra as vacas recém-paridas ou débeis contra as vacas dominantes. • Um ou mais robots por parque está comprovado que funciona. Devemos
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equipamento
tabela 2 Robot individual VMS vs. AMR Rotativa robotizada.
Sala Rotativa Robotizada DeLaval com sistema AMR.
variável
ROBOT AMS ESTAÇÃO SIMPLES
ROTATIVA AMR
(5 ROBOTS, 24 LUGARES)
Acesso Vaca
Voluntário
Por Lotes ou Voluntário
Eficiência (Vaca/Robot/dia)
7,5 - 8,5
13 - 14
Custo
Standard
Menor
Nº de Ordenhas / dia
180
1.600
Ampliável
Sim
Sim
Adaptação à existente
Muito boa
Excelente
Tamanho do lote ideal
60
65
Nº Unidades / Exploração
Ilimitado
Ilimitado
Maior Instalação Atual
34 VMS 2.040 Vacas (Rússia)
1 AMR 5 Robots, 24 Lugares 400 Vacas (Alemanha)
Fonte: Francisco Rodríguez en Progressive Dairyman (USA).
certificar-nos apenas de que o projeto permite a uma só pessoa mover as vacas para o robot, sem ajuda adicional. • Continuar com a atual prática de pedilúvio será crucial para a saúde dos cascos e, por conseguinte, para as vacas poderem aceder ao robot. • O cornadi nos corredores de alimentação ou nas áreas de separação são necessários para facilitar as rotinas normais de tratamento e a fácil depilação do úbere. • Uma boa ventilação natural ou mecânica, é importante para que as vacas não congestionem por variações de temperatura e se distribuam uniformemente pelo estábulo, especialmente no Verão.
Tráfico de Vacas • Estratégias de Alimentação: Se o sistema de alimentação baseado numa ração total misturada (TMR) for a prioridade da exploração e se se quer
minimizar os custos da alimentação, primeiro é recomendável ordenhar com porta seletora. Se o objetivo é dividir 50% da ração entre o Unifeed e o robot de ordenha, tanto o tráfico livre como a pré-selecção funcionam bem. • Poupança na mão-de-obra: A partir desta perspetiva, o tráfico de vacas mais eficiente “ordenhar primeiro” com porta seletora porque vai ajudar a reduzir o número de vacas atrasadas a recolher até 3%, em comparação com os 10 aos 15% no tráfico livre. Para as pequenas explorações a diferença é aceitável, mas quando temos mil vacas para ordenhar, os números podem variar de 30 a 150 vacas - uma grande diferença. • Simplicidade: Se se querem evitar portas inteligentes e portas não-retorno e não for um inconveniente pagar o custo adicional de mão de obra, o tráfico livre é a melhor solução.
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“As inovações terão um maior impacto na Mão-de-Obra, Gestão do Rebanho e Responsabilidade Social”
Transição Independentemente do tamanho da exploração, é importante ter consciência de que as rotinas vão mudar, bem como o modelo de gestão. A planificação de um período de transição/adaptação é crucial. A formação da mão de obra e o estabelecimento de uma estratégia que tenha o enfoque na escolha dos equipamentos e das vacas certas, são os fatores que podem conduzir a exploração ao êxito. Não pode ser esquecida a oportunidade para selecionar as vacas ideias para o robot com base em: • Velocidade de Ordenha; • Formação do úbere, posição e tamanho do teto; • As vacas mais velhas adaptam-se a um ritmo mais lento.
produto
ferramenta de avaliação para a conservação de silagem de milho O Silo’Scan é uma ferramenta de avaliação da conservação dos silos de milho, sendo bastante útil em qualquer tipo de produção bovina. O Silo’Scan fornece informação das características do silo, bem como a melhor utilização do milho ensilado e precauções a ter na confecção dos próximos silos. O objectivo principal é a avaliação das perdas previsíveis de matéria seca, uma vez que após o calcamento do silo, este perde 5 a 20% do seu peso no decorrer da época. Estes valores têm um impacto considerável a nível económico uma vez que, para uma produção com 20 hectares de milho, o investimento para um silo bem confeccionado de três dos hectares ronda os 4500 €. São quatro as ferramentas utlizadas: • O “compactometro” que mede a densidade e deduz a porosidade; • Os termómetros – de infra vermelhos e de sonda – que localizam as zonas de risco de toda a frente do silo; • A “Silage box” – caixa de odores de referência criada pelo Orne Conseil Elevage (Conselho de produção animal de Orne), para definir o perfil de fermentação; • O medidor de pH a fim de determinar a acidez do silo.
BRINCO DE ALERTA FeverAlert é um brinco que alerta quando o bovino tem febre. Este é fixado na orelha do bovino e controla a temperatura do animal a cada 15 minutos, emitindo um sinal vermelho intermitente cada vez que o animal apresenta hipertermia (> 39,7ºC). Esta ferramenta é um grande auxílio para os produtores para diminuir o índice de mortalidade, permitindo detectar o início de uma doença algumas horas a dias antes de surgirem sinais clínicos detectáveis a “olho nu” (por exemplo, no caso da doença respiratória bovina a subida de temperatura é detetada 51 horas antes do animal se apresentar prostrado e 60 horas antes de este apresentar outros sinais clínicos como tosse). Este produto apresenta várias vantagens, não só porque deteta alterações na saúde do animal mais cedo, como também permite dispensar o termómetro rectal, que tem uma aplicação laboriosa. Este dispositivo apresenta-se também superior a outros dispositivos com provas dadas no mercado, como a camara termográfica, ou o bolus térmico intra-ruminal. A primeira é muito exigente nas condições ambientais em que é aplicada, podendo variar com coisas muito simples como a espessura do pêlo, e é útil apenas na fase em que os animais estão à manga e muito próximos do operador. O segundo método é mais caro e rejeitado nos matadores.
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Nedap lança novo sistema de detecção do cio A Nedap está a lançar o sistema de deteção do cio com monitorização da posição deitada e em pé, uma solução abrangente que permite aos criadores de gado leiteiro monitorizar, de forma contínua e automática, o cio, a saúde e o bem-estar de todo o efetivo de animais. A nova funcionalidade de monitorização da posição deitada e em pé permite monitorizar cinco aspetos comportamentais diários de uma vaca: o tempo que passa deitada, em pé e a andar, o número de vezes que se levanta e o número de passos que dá por dia. Uma vaca apresenta o mesmo padrão de comportamento e movimentos todos os dias. A monitorização da posição deitada e em pé reflete com precisão esses padrões de comportamento. Assim, qualquer alteração nesses aspetos comportamentais indica que pode haver algo de errado com o animal em questão. O novo sistema agora apresentado deteta essas alterações a grandes distâncias, 24 horas por dia, 7 dias por semana, e identifica atempadamente os animais que estão em cio ou que têm possíveis problemas de saúde. Isso permite ao criador de gado obter melhores resultados de fertilidade, de forma fácil, e também monitorizar e tratar atempadamente animais com possíveis problemas ou riscos de saúde. O sistema tem por isso um papel-chave na busca de uma produção leiteira sustentável, ao mesmo tempo que aumenta o número de lactações e o tempo de vida dos animais. Para além disso, o criador de gado consegue obter e manter resultados de produção ótimos de cada animal, independentemente da dimensão do efetivo de animais. A nova funcionalidade é uma adição ao já conhecido sistema de deteção do cio da Nedap, que continuará a ser vendido pelo mesmo preço.
produto
A OBTENÇÃO DE UMA BOA SILAGEM REQUER CONSERVANTES E INOCULANTES DE ÚLTIMA GERAÇÃO Reboques de silagem Joskin com taipais suplementares Até agora, a Joskin propunha para os reboques agrícolas um taipal inteiro, sobreponível e totalmente em alumínio. Os novos tapais para silagem desenvolvidos pela marca estão disponíveis com as alturas de 500 e 750 mm, oferecem uma solução duradoura e permitem o transporte de substâncias de baixa densidade (silagem, aparas de madeira, cascas,...) em volumes compatíveis. Estes taipais de chapa perfurada, em aço galvanizado e em alumínio, associam facilidade de manuseamento e resistência, tendo sido construídos de forma a tornar a montagem fácil. Além disso, as perfurações proporcionam uma visibilidade acrescida da carga e também permitem evitar turbulência dentro da caixa devida à ventilação das máquinas de silagem. Os seis elementos são colocados sobre as calhas ao longo de todo o comprimento da borda da caixa. Os taipais são fixos nos postes intermédios por várias cabos de bloqueio, que conferem a rigidez necessária ao conjunto.
VIRBAC FLEXIBAG E FARMPACK O flexibag® é um novo tipo de bolsa maleável para grandes volumes de produtos veterinários. Esta bolsa é constituída por quatro camadas das quais uma é película de alumínio, o que providencia uma protecção óptima do fármaco e melhora a conservação do produto após a sua abertura. O FarmPack® é o sistema para ser utilizado no Flexibag® aquando da administração do fármaco. É uma mochila rígida que protege o Flexibag®. Uma vez que esta mochila é carregada nos ombros do operador traz-lhe uma maior liberdade de movimentos, permitindo-lhe ter as mãos livres para segurar o animal o que lhe fornece uma maior segurança ao aplicar o tratamento.
• FÁCIL MANUSEAMENTO • NÃO VOLÁTEIS
• NÃO PERIGOSOS Uma alimentação mais eficiente necessita de uma boa forragem
EnSILE SILOSOLVE FungiSTAT ENSILADO Contacto: Manuel Ferreira 917 549 902
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conheça a lei
Transporte
de Animais Vivos - II POR Miguel Neves Lima, Advogado - WWW.FLADVOGA.COM
Na edição anterior referimos que o transporte de animais vivos é disciplinado no nosso país pelo Regulamento (CE) n° 1/2005, do Conselho, de 2 de Dezembro de 2004 bem como pelo decreto-lei n° 265/2007, de 24 de julho, posteriormente e pontualmente alterado pelo decreto-lei nº 158/2008, de 8 de agosto. Recorde-se que tais textos legais se aplicam exclusivamente aos transportes com fins comerciais e já não às restantes situações, designadamente às indicadas nos “documentos explicativos da legislação” elaborados pela Direção Geral de Alimentação e Veterinária (DGAV) que podem ser consultados em www.dgv. min-agricultura.pt. Nesta edição vamos fazer referência às condições gerais aplicáveis a todos os transportes de animais vivos – previstas no artigo 3º do Regulamento - bem como às demais regras aplicáveis ao transporte com fins comerciais realizados pelos agricultores, dos seus animais e nos seus meios de transporte, em percursos, dentro do território nacional, de distância inferior a 50 Km. As condições gerais aplicáveis a todos os transportes de animais vivos com fins comerciais encontram-se estabelecidas no artigo 3º do Regulamento. Este artigo estatui que ninguém pode proceder ou mandar proceder ao transporte de animais em condições suscetíveis de lhes causar lesões ou sofrimentos desnecessários. Para além disso devem também ser cumpridas as seguintes condições: • Terem sido previamente tomadas todas as disposições necessárias para minimizar a duração da viagem e satisfazer as necessidades dos animais durante a mesma;
• Os animais estarem aptos a efetuar a viagem prevista; • Os meios de transporte serem concebidos, construídos, mantidos e utilizados de forma a evitar lesões e sofrimento e a garantir a segurança dos animais; • Os equipamentos de carregamento e descarregamento serem concebidos, construídos, mantidos e utilizados adequadamente de forma a evitar lesões e sofrimento e a garantir a segurança dos animais; • O pessoal que manuseia os animais possuir a formação ou competência adequada para este fim e desempenhar as suas tarefas sem recurso à violência ou a qualquer método suscetível de provocar medo, lesões ou sofrimento desnecessários; • O transporte ser efetuado sem demora para o local de destino e as condições de bem-estar dos animais serem verificadas regularmente e mantidas de forma adequada; • Serem proporcionados aos animais uma área de chão e uma altura suficientes tendo em conta o seu tamanho e a viagem prevista; • Serem proporcionadas aos animais, em qualidade e quantidade indicadas para a sua espécie e o seu tamanho, água, alimentos e repouso a intervalos adequados. Para a realização de transporte com fins comerciais realizados pelos agricultores, dos seus animais e nos seus meios de transporte, em percursos, dentro do território nacional, de distância inferior a 50 Km é necessário: • Requerer o registo e obter autorização de transportador de curta duração; • Notificar a DGAV quando se verifiquem
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alterações aos requisitos anteriormente comunicados à mencionada entidade para efeitos de obtenção da autorização; • Fazer-se acompanhar, no meio de transporte, de documentação indicando a origem dos animais e o seu proprietário, o local, data e hora da partida, a duração prevista para a viagem e o local de destino; • Possuir certificado de aptidão profissional que deve ser facultado à entidade competente aquando do transporte dos animais. • Por seu lado, os animais devem ser acompanhados por um tratador, exceto: a) Se forem transportados em contentores que sejam seguros, devidamente ventilados e, se necessário, contenham alimentos e água suficientes, em distribuidores à prova de derramamento, para uma viagem com a duração prevista; b) Se o condutor assumir a função de tratador. Os meios de transporte a utilizar e, designadamente, o espaço disponível por animal bem como as normas respeitantes à aptidão dos animais para o transporte e as regras respeitantes ao carregamento, descarregamento e manuseamento dos animais estão previstas no Anexo I do Regulamento indo-se referenciar no presente artigo, e sem carater exaustivo, o que o mencionado anexo dispõe relativamente a estes dois últimos aspetos. Relativamente à aptidão para o transporte temos que: • Não pode ser transportado nenhum animal que não esteja apto a efetuar a viagem prevista, nem as condições de
conheça a lei
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transporte podem ser de molde a expor o animal a ferimentos ou sofrimento desnecessários; Os animais feridos ou que apresentem problemas fisiológicos ou patologias não podem ser considerados aptos a serem transportados, nomeadamente, se: a) Forem Incapazes de se deslocar autonomamente sem dor ou de caminhar sem assistência; b) Apresentarem uma ferida aberta grave ou um prolapso; c) Forem fêmeas prenhes para as quais já tenha decorrido, pelo menos, 90 % do período previsto de gestação, ou fêmeas que tenham parido na semana anterior; d) Forem mamíferos recém-nascidos cujo umbigo ainda não tenha cicatrizado completamente; e) Forem cães ou gatos com menos de 8 semanas, exceto se estiverem acompanhados pela mãe; f) Forem cervídeos no período em que se refazem as suas armações. No entanto, os animais doentes ou feridos podem ser considerados aptos a serem transportados se: a) Estiverem ligeiramente feridos ou doentes, desde que o seu transporte não provoque sofrimento adicional, devendo, em caso de dúvida, ser pedido o parecer de um veterinário; b) Forem transportados para fins da Diretiva 86/609/CEE do Conselho, isto é, para fins experimentais científicos, e a doença ou o ferimento fizer parte de um programa de investigação; c) Forem transportados sob supervisão veterinária para, ou após, tratamento ou diagnóstico veterinário e desde que o transporte não implique sofrimento desnecessário ou maus tratos para os animais em questão; d) Se tratar de animais que tenham sido submetidos a intervenções veterinárias relacionadas com práticas de maneio, como a descama ou a castração, desde que as feridas estejam completamente cicatrizadas. Sempre que os animais adoeçam ou sejam feridos durante o transporte devem ser separados dos restantes e receber um tratamento de primeiros socorros o mais rapidamente possível. Devem receber tratamento veterinário adequado e, se necessário, ser submetidos a abate ou occisão de emergência para que não lhes seja infligido sofrimento desnecessário. Não devem ser utilizados sedativos em
animais a serem transportados, exceto se tal for estritamente necessário para garantir o bem-estar dos animais e forem utilizados sob controlo veterinário. • Se se tratar de éguas prenhes para as quais já tenha decorrido pelo menos 90% do período previsto para a gestação ou que tenham parido na semana anterior ou se tratarem de recém nascidos cujo umbigo ainda não tenha cicatrizado completamente tratando-se de equídeos registados, ou de potros recém-nascidos acompanhados das suas éguas registadas, podem ser transportados se a finalidade da viagem for melhorar a saúde e as condições de bem-estar no parto desde que os animais estejam permanentemente acompanhados por um tratador que se ocupe exclusivamente deles durante a viagem. Quanto às práticas de transporte, carregamento, descarregamento, e manuseamento dos animais vivos deverão observar-se as seguintes regras: • Sempre que as operações de carregamento ou descarregamento tenham uma duração superior a 4 horas, exceto no caso das aves de capoeira: a) Devem existir equipamentos adequados para manter, alimentar e abeberar os animais fora do meio de transporte sem estarem amarrados; b) As operações devem ser supervisionadas por um veterinário autorizado e devem tomar-se precauções especiais para garantir a manutenção das condições de bem-estar dos animais durante estas operações. • As mercadorias transportadas no mesmo meio de transporte que os animais devem ser posicionadas por forma a não causarem ferimentos, sofrimento ou agitação aos animais. • Deve ser prevista uma iluminação adequada durante o carregamento e o descarregamento. • Sempre que os contentares carregados - animais sejam colocados uns por cima dos outros no meio de transporte - devem ser tomadas as precauções necessárias para: a) Evitar, no caso das aves de capoeira, coelhos e animais para pelaria, o derramamento de urina e fezes em cima dos animais que se encontram por baixo; b) Garantir a estabilidade dos
contentares; c) Assegurar que a ventilação não seja impedida. No que respeita ao manuseamento, dos animais é proibido: a) Bater ou pontapear os animais; b) Aplicar pressões em partes especialmente sensíveis do corpo dos animais, de uma forma que lhes provoque dores ou sofrimentos desnecessários; c) Suspender os animais por meios mecânicos; d) Levantar ou arrastar os animais pela cabeça, orelhas, cornos, patas, cauda ou velo ou manuseá-los de forma a provocar-lhes dor ou sofrimento desnecessários; e) Utilizar aguilhões ou outros instrumentos pontiagudos; f) Obstruir voluntariamente a passagem a um animal que esteja a ser conduzido ou levado em qualquer sítio onde os animais sejam manuseados. • O uso de instrumentos destinados a administrar descargas elétricas deve ser evitado na medida do possível e só podem ser utilizados em bovinos e suínos adultos que recusem moverse e apenas se estes dispuserem de espaço suficiente para avançar. As descargas não devem durar mais do que um segundo, devendo ser devidamente espaçadas e aplicadas apenas nos músculos dos membros posteriores. As descargas não podem ser utilizadas de forma repetida se o animal não reagir. • Os animais não devem ser presos pelos cornos, pelas armações, pelas argolas nasais nem pelas patas amarradas juntas. Os vitelos não devem ser amordaçados. Os equídeos domésticos com mais de 8 meses devem levar um cabresto durante o transporte, com exceção dos cavalos não domados. • Sempre que os animais tenham de ser amarrados, as cordas, as amarras ou outros meios utilizados devem ser: a) Suficientemente fortes para não partirem em condições normais de transporte; b) De molde a permitir aos animais, se necessário, deitarem-se, comerem e beberem; c) Concebidos por forma a eliminar qualquer risco de estrangulamento ou ferimento e a permitir que os animais sejam rapidamente libertados.
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Não deixe de...
• Os animais devem ser manuseados e transportados separadamente nos seguintes casos: a) Animais de espécies diferentes; b) Animais de tamanhos ou idades significativamente diferentes; c) Varrascos e garanhões adultos de reprodução; d) Machos e fêmeas sexualmente maduros; e) Animais com e sem cornos; f) Animais hostis entre si; g) Animais amarrados e desamarrados. • As alíneas a), b), c) e e) do ponto anterior não são aplicáveis sempre que os animais tenham sido criados em grupos compatíveis, estejam habituados à presença dos outros, a separação provoque agitação ou as fêmeas sejam acompanhadas por crias que dependam delas. • Durante o transporte deve ser prevista uma ventilação suficiente para atender plenamente às necessidades dos animais, tendo em conta, nomeadamente, o número e o tipo de animais a serem transportados e as condições meteorológicas esperadas durante a viagem. No caso do transporte em contentores estes devem ser dispostos de modo a não impedir a ventilação. Aconselha-se vivamente o cumprimento deste conjunto de regras, a das demais previstas nos diplomas legais acima descritos – e cuja leitura não deve ser dispensada – com o que se conseguirá evitar a aplicação das inúmeras sanções legalmente previstas e, sobretudo, porque poderá minorar os inconvenientes que o transporte sempre causa aos animais.
formação Curso de Aprendizagem de Inseminação Artificial em Bovinos InÍcio 4 de outubro a 16 de novembro de 2014 O objetivo principal do curso é a transmissão de conceitos básicos relacionados com a fisiologia e maneio reprodutivo de bovinos, dando especial ênfase à componente prática desta tecnologia reprodutiva, visando em última análise a dotação de capacidades a cada formando para inseminar de forma correta, e controlar todas as fases desta técnica de reprodução em bovinos. Será realizado aos fins de semana com aulas teóricas (ESAE) e práticas (Exploração bovina e Matadouro) num total de 50h. Este curso tem como formadores os Médicos Veterinários João Nestor das Chagas e Silva e Miguel Minas. É patrocinado pela ZOETIS.
Mais informações: T: +351 268 628 528 E: nucleoformacao@esaelvas.pt
3ª edição do Workshop de Maneio de Vitelos 5 e 6 de dezembro de 2014 Proporcionar ao formando contato com animais, instalações e principais técnicas de maneio. Entender os princípios básicos da imunotransferência e da importância de um bom encolostramento. Capacitar os formandos de ferramentas técnicas que lhes permitam resolver problemas práticos que surjam. Possibilitar a execução de administração de fármacos, soros, plasmas com o intuito de tratar os animais e solucionar-lhe problemas de saúde. Detetar e corrigir pontos críticos na recria e desenvolvimento dos vitelos. Executar tarefas diárias do viteleiro com astúcia e conhecimento. Conhecer e entender as principais patologias dos vitelos recém-nascidos e da recria de forma a que se possam resolver e prevenir com rapidez problemas reais. O formador é o Dr. Miguel Minas (ESAE/IPP). A componente teórica da formação decorrerá na ESAE e a prática numa exploração agro-pecuária (transporte cedido pela ESAE/IPP).
Mais informações: T: +351 268 628 528 E: nucleoformacao@esaelvas.pt
7as Jornadas Hospital Veterinário Muralha de Évora 6 e 7 Março 2015 no Évora Hotel Ao longo destes dois dias irão ser abordados diversos temas de ruminantes e equinos, em diferentes áreas temáticas, que possibilitem melhorar a produtividade dos sectores, de forma sustentável, contribuindo para o desenvolvimento rural. As Jornadas constituem uma oportunidade para que investigadores, técnicos e outros profissionais dos sectores possam partilhar ideias, analisar e discutir o estado actual do conhecimento e das perspectivas futuras. A organização das Jornadas foi mais uma vez movida pela ambição e o desafio de responder às expectativas de todos os que nos procuram , conjugando elevados padrões de qualidade nas palestras e inovação. Em breve, serão disponibilizados os temas de Ruminantes e Equinos.
Mais informações: T: +351 266 77 12 32 | M: +351 93 77 12 311 E: jornadas.hvme@gmail.com www.hvetmuralha.pt
70 outubro . novembro . dezembro 2014 Ruminantes
FEIRAS Fiera Internazionale del Bovino da Latte 22 a 25 outubro de 2014 Cremona, Itália www.bovinodalatte.it
Eurotier
11 a 14 novembro de 2014 Hanove, Alemanha www.eurotier.com