RUPortagem nr.10

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Julho 2018 | Edição nº10 Distribuição Digital e Gratuita

“Meu amor de longe”: Vinculação em relações românticas de longa distância Um ano depois de Pedrogão: O papel das escolas na recuperação das crianças

Rubrica: Uma palavra a dizer e muito a fazer Psicologia e Pseudociência

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por Rodrigo Pires


Editorial Caros leitores, chegámos ao fim de mais um ano letivo. Nesta edição de Verão convidamo-vos a desfolharem a nossa revista e mergulharem em temas atuais, inovadores e reflexões pertinentes, para que o vosso espírito-crítico não tenha férias. Psisaudações Maria João Fangaia

Ana Aleixo

Ana Oliveira

Marta Silva

Catarina Fernandes

Micaela Malosso

Maria João Fangaia

Nadine Amaro

Para mais informações ou sugestões podem contactar: editorial.rup@gmail.com Editora Maria João Fangaia Designer Catarina Damas

/// ISSN: 108/2015///Interdita a reprodução parcial ou total dos textos, fotografias ou ilustrações sobre quaisquer meios e para quaisquer fins sem previa autorização escrita da Administração da RUP/ANEP//// Editora: Maria João Fangaia ///// Administradora: Adriana Bugalho ///// Director da Comissão de Revisão Cientifica: Tiago Fonseca ///// Periodicidade: Trimestral ///// Produção: Organismo Autónomo Revista Universitária de Psicologia da Associação Nacional de Estudantes de Psicologia ///// Propriedade: Associação Nacional de Estudantes de Psicologia – ANEP ////// Associação Nacional de Estudantes de Psicologia - ANEP ///// Faculdade de Psicologia //////////Alameda da Universidade ///// 1649-013 Lisboa ///// Portugal /////// Revista Universitária de Psicologia da Associação Nacional de Estudantes de Psicologia - RUP/ANEP ///// 3000

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Conteúdos

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Editorial

Agenda

Rubrica | Uma palavra a dizer e muito a fazer! Psicologia e Pseudo-ciência

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A relação real em psicoterapia e o papel das emoções

“Meu amor de longe”: Vinculação em relações românticas de longa distância

Um ano depois de Pedrogão: O papel das escolas na recuperação das crianças

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Portugal e o Ecocídio

Congresso OPP Eu vou. Tu Também?

Rubrica | Psicólogos com opinião: A importância da prevenção em saúde mental

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Agenda 6|7|8 SET 10º congresso AIDAP/AIDEP : Diagnóstico e avaliação psicológica

Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação - Universidade de Coimbra Estudantes de licenciatura e mestrado - 80,00€; Associados da AIDAP/AIDEP e doutorandos - 120,00€; Outros - 150,00€;

12|13|14|15 SET 4.º Congresso da Ordem dos Psicólogos Portugueses: “Psicologia na prevenção e promoção do desenvolvimento das pessoas, coesão social e crescimento económico” Braga 75€

21|22 SET I Congresso Internacional de Psico-Oncologia Lisboa Até 30 de Junho:25€ A partir de 30 de Junho: 40€

25 SET 1ªs Jornadas Gerontológicas HDMA “Ideias para um envelhecimento positivo, digno e feliz” Teatro Miguel Franco - Leiria Sem preço fixado

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RUBRICA | Uma palavra a dizer e muito a fazer! Psicologia e Pseudo-ciência

Tenho alguma dificuldade em lidar com visões simplistas, distorcidas ou até totalmente desfasadas da realidade no que se refere ao papel do psicólogo, do potencial da intervenção psicológica nas suas diversas vertentes, ou do objecto de estudo da psicologia. Durante a formação comecei a questionar-me se poderia haver algo na nossa área que estivesse a contribuir para que tal sucedesse. Quero, por essa razão, debruçar-me sobre o que creio ser um dos obstáculos à legitimação da ciência psicológica: o envolvimento e adopção de práticas não-científicas, a que de agora em diante classificarei como Pseudo-ciência (PC). Uma vez que não me é possível olhar a casos concretos, neste termo incluo todas as práticas de dentro ou fora da psicologia, que são promovidas sem que existam provas consistentes da sua utilidade para a área ou o bem-comum. Passarei então a argumentar por que razão creio ser errado e até prejudicial dar espaço a este tipo de ideias no seio da psicologia – algo aplicável quer a estudantes, quer a profissionais. Para clarificar o meu ponto de vista, dividi-lo-ei em três argumentos que estão na base da minha opinião. Ao longo do texto, o leitor irá encontrar diversas hiperligações que utilizo para ilustrar determinados pontos. Todas elas servem para aprofundar, caso deseje saber mais acerca do assunto.

Rodrigo Pires Natural de Vila Viçosa – Évora, Mestre em Psicologia pela Universidade de Évora. Formador certificado e com experiência de intervenção psicológica em contexto de reabilitação física. Interessado por temas relacionados à psicologia, psicoterapia e saúde mental, filosofia e neurociências. Colunista no blog de saúde e bem-estar “Life Quadrants” (https://lifequadrants.blog/category/psicologia/).

A pseudo-ciência como obstáculo à legitimação da psicologia Embora a psicologia não seja a única área vulnerável a esta questão, sem olhar a casos específicos, o leitor poderá constatar que uma boa parte das correntes de PC se apropria de termos que integram o léxico psicológico. Não são incomuns alegações ao trabalho através do “inconsciente” ou da “mente”, ao foco no “ego”, a promessas de “ampliar a consciência”, ou até mesmo à criação de “neurologismos” - atrelando o prefixo “neuro” a uma prática ou técnica – e ainda, à utilização de argumentos mais gerais como por exemplo “olhar o sujeito como um todo”. Alguns chegam até a ir 5


práticas de “psicologia/psicoterapia” ou a apelidar-se de “psicólogos” sem sequer terem qualificações para tal. Esta atitude procura criar uma identidade credível, séria e “científica” de modo a transmitir uma imagem de confiança ao consumidor/cliente. Não muito raramente, as oportunidades trazidas pelos seus defensores envolvem um forte recurso a marketing, vendendo cursos ou materiais que prometem mundos e fundos a quem quiser aprender as suas “técnicas”. Por esta razão, o meu primeiro argumento é o de que a PC é um obstáculo à legitimação da ciência psicológica perante a sociedade. Assim sendo, é importante que exista uma distanciação deste tipo de práticas – algo aplicável quer a profissionais, quer a estudantes – e que se opte cada vez mais pela disseminação da ciência psicológica nas suas várias vertentes, pois nenhuma área da psicologia está imune à sua presença.

gos têm como obrigação exercer a sua actividade com […] pressupostos técnicos e científicos [...] De outro modo, acresce a probabilidade de prejudicar o cliente e descredibilizar a profissão […] Os psicólogos deverão ter em atenção que quando desempenham a sua actividade de forma menos competente contribuem para o descrédito da profissão” – é também importante para evocar nesta discussão. O recurso a PC por parte de (futuros) psicólogos poderá levar à contestação da disciplina, contribuindo para a banalização do papel do psicólogo e para a noção de que qualquer pessoa se encontra capacitada para cumprir esse papel (quem nunca ouviu o típico “Eu também sou um bocadinho psicólogo”?). Dado que a intervenção psicológica é uma ferramenta que pode influenciar fortemente a vida daqueles que a ela recorrem, é também pertinente evocar o princípio C: Responsabilidade “ [Os psicólogos] Devem ter consciência das consequências que o seu trabalho pode ter junto das pessoas, profissão e sociedade”. Este princípio diz-nos ainda que “Outra dimensão da responsabilidade reside na importância do desenvolvimento do conhecimento científico como forma de aumentar o potencial da intervenção psicológica”. Logo, a defesa de práticas PC é incongruente com a responsabilidade ética de avançar a prática psicológica. É certo que nem todos aspirarão a ser investigadores de carreira, mas é importante que a actualização permaneça um imperativo para qualquer psicólogo, garantindo que todos estamos cada vez melhor preparados para dar respostas altamente especializadas e eficazes para resolver problemas e melhorar a vida das populações que aos nossos serviços recorrem.

O argumento anti-ético Creio também que, para todo aquele que deseje consolidar-se profissionalmente como psicólogo, o apoio a práticas PC é uma atitude anti ético-deontológica. No meu segundo argumento, quero debruçar-me sobre o código ético deontológico (CED) da Ordem dos Psicólogos Portugueses para explicar o meu ponto de vista: Tomemos como ponto de partida o princípio A do CED: Beneficência e não maleficência – “O dano a evitar será […] todo o prejuízo que resultar de actuação […] não fundamentada em conhecimentos científicos actualizados”. Embora possamos ter fé nas potencialidades da intervenção psicológica, é importante relembrar da possibilidade do surgimento de efeitos adversos, particularmente nas formas menos estudadas. O grau de incerteza face à nocividade de uma intervenção psicológica pode ser ainda maior quando se recorre a intervenções com pouca sustentação empírica ou a intervenções que devido à sua estruturação ou princípios, não podem ser adequadamente estudadas. Este é um requisito importante, dado que sem o estudo controlado de uma intervenção podemos ser erroneamente persuadidos da sua eficácia.

A legitimação como imperativo Ao leitor mais céptico, este texto poderá soar a cientismo alarmista, contudo, convido-o a reflectir sobre os indícios de que anualmente, mais pessoas pagam para recorrer a serviços de cartomantes, médiuns e clarividentes do que para recorrer a profissionais de saúde mental. Como também já referi, este fenómeno não é exclusivo do domínio clínico da psicologia, podendo também alastrar-se para outros domínios aplicados da nossa área. A promoção de PC como resposta séria e confiável é nociva não só para a legitimidade da Psicologia e dos psicólogos, mas também para o bem-estar daqueles que a ela recorrem, podendo chegar a ter efeitos prejudiciais ou

A obrigação do cumprimento dos deveres éticos e científicos da profissão protege não apenas quem recorre aos serviços do psicólogo, mas também a credibilidade da profissão. Por esse motivo, o princípio B: Competência “Os psicólo6


a retardar a capacidade de aceder a intervenções verdadeiramente uteis.

rar. Não basta, contudo, apenas dizê-lo. É preciso prová-lo com recurso a provas sólidas que nos possam corroborar. Por essa razão, dado que todo o psicólogo é um cientista, é propagando o trabalho empírico e educando os outros sobre as descobertas e implicações do nosso campo científico que poderemos verdadeiramente afirmar-nos e mostrar aos restantes membros da nossa sociedade que representamos um campo do saber sério e respeitável. Devemos, por essa razão, juntar-nos àqueles que já o fazem diariamente e trabalhar pelo rigor – “como um todo” (trocadilho propositado) – para que a nossa ciência seja honrada e possa ser útil para o bem-comum.

Acredito que estamos neste momento numa fase crucial da afirmação da psicologia na sociedade portuguesa. É cada vez mais evidente a necessidade da intervenção psicológica na resposta a problemáticas cada vez mais salientes no nosso país. Os psicólogos têm usado o seu estatuto profissional para apelar às altas instâncias da sociedade, o quão necessário e útil pode ser o contributo desta ciência para o bem-comum. Como último argumento a este respeito, defendo que, para que possamos alcançar este objetivo, é importante assumir a legitimação da profissão como um imperativo a que todos devemos aspi-

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A relação real em psicoterapia e o papel das emoções Texto por Ana Aleixo

Segundo Gelso (2014) a relação real pressupõe que se estabeleça uma relação entre terapeuta e cliente, em que ambos os elementos da díade são genuínos um com o outro e experienciam/percecionam o outro de forma a beneficiá-lo. Assim, os terapeutas devem ser realistas, genuínos e autênticos na relação que estabelecem com os seus pacientes. Ser realista com o paciente, pressupõe não só a forma como o terapeuta perceciona e experiencia o que é transmitido pelo paciente, como também o papel da comunicação verbal, não verbal e subentende responsividade do terapeuta, ou seja, a capacidade do terapeuta adaptar as suas intervenções e a relação terapêutica à pessoa do cliente. Este conceito enfatiza não só um ambiente de colaboração, trabalho em equipa, confiança e adaptação à cultura do paciente no jogo a dois que se estabelece, como também humildade e autocrítica do terapeuta para responder à pergunta “o que fazer, como fazer e como me adaptar ao cliente, para o ajudar da melhor forma?”

Se pensarmos que a psicoterapia é, nada mais, nada menos, do que uma forma de relação e uma interação curativa entre a díade terapeuta-cliente (Wampold & Imel, 2015), não é surpreendente, pois, que uma das variáveis que contribui de forma significativa para os resultados do cliente em terapia seja a relação humana e a relação terapêutica que se estabelece. Neste sentido, o leitor pode questionar-se: mas como deve ser essa relação para que os resultados sejam tão benéficos quanto possível? A resposta, segundo o modelo contextual em psicoterapia, é a relação real. Somos seres sociais e viver é, em grande parte, estar com o outro. Assim, a forma de estarmos com os nossos pacientes determina também os resultados alcançados. Sendo a relação real um construto psicoterapêutico que pressupõe a co-contribuição e colaboração de ambos os intervenientes da díade, é fundamental que o terapeuta, enquanto profissional responsável e com o intuito de melhorar continuamente a sua performance, se questione: o que posso eu fazer para melhorar a relação terapêutica que tenho com os meus pacientes?

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É através deste caminho, passo a passo, que o terapeuta vai criando as condições ideais para que se estabeleça um consenso de objetivos e tarefas a realizar em psicoterapia, bem como o bonding necessário para uma aliança de trabalho terapêutica, sem esquecer as dimensões transferenciais e contratransferenciais, imprescindíveis para captar toda a genuinidade e realismo de terapeuta e cliente na relação estabelecida.

mentos de rutura é fundamental para que esses momentos sejam passíveis de ultrapassar. Aqui, uma vez mais , o terapeuta não deve descurar o papel do cliente no trabalho conjunto que se estabelece em terapia, nem a sua contribuição para momentos de rutura. Deve adotar uma postura de humildade e autocrítica que lhe permitirá, não só, fortalecer a aliança terapêutica, como monitorizar a relação estabelecida e obter feedback do cliente sobre a própria terapia.

Efectivamente, em toda a relação terapêutica as emoções têm uma palavra a dizer. Idealmente, se ambos os elementos da díade foram genuínos e realistas um com o outro, as emoções expressas em terapia vão permitir, não só, que o paciente se sintonize, na medida em que a intervenção do terapeuta veicula emoção, por exemplo, o terapeuta reformula um assunto muito doloroso que o paciente acabou de expressar e fá-lo com a emoção adequada. Assim, o terapeuta permite que o paciente ganhe consciência das suas próprias emoções e exteriorize a sua narrativa, com a emoção adequada, refletindo sobre ela, o que, por sua vez, facilita a criação de novos significados e contribui, assim, para a mudança em psicoterapia.

Assim, o terapeuta pode questionar-se: que ferramentas tenho eu à minha disposição para melhorar a minha performance? Sabendo, à partida, que o terapeuta explica entre 5% a 9% do progresso do cliente em terapia e que esse número aumenta para 17% em contextos naturalistas, é fundamental que todos os terapeutas (os que já exercem e os futuros) conheçam alguns dados que a investigação salienta serem de extrema relevância para o benefício da psicoterapia: a importância da monitorização do cliente, os sistemas de feedback e a prática deliberada. Em jeito de conclusão, e tendo em conta a relevância que a psicologia tem para a sociedade, os efeitos a curto, médio e longo prazo que o tratamento eficaz das perturbações psicológicas tem para a economia do país e para a saúde (mental) de todos os portugueses, termino com um desafio, em jeito de pergunta: Sabendo quais as implicações clínicas e os efeitos de uma contribuição consciente, e em constante melhoria, para uma psicoterapia mais eficaz, do que estás à espera para pôr em prática os teus conhecimentos e melhorar as tuas competências?

Não podemos ainda esquecer o papel das emoções nas dimensões transferenciais e contratransferenciais do paciente e terapeuta, respetivamente. Neste contexto, o realismo e a genuinidade do terapeuta e do cliente, permitem que em situações chave, desafiantes para a terapia, o terapeuta consiga percecionar e até evitar ruturas da aliança terapêutica, que em casos limite, levariam ao dropout do cliente face à terapia. Para além disso, a postura do terapeuta perante mo-

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“Meu amor de longe”: Vinculação em relações românticas de longa distância Texto por Ana Rita Oliveira

“Talhado para mim: mal o conheci, eu achei-o desse modo. Logo pude perceber o fado que ia ter por ver nele o fado todo. Chega de tragédias e desgraças, tudo a tempo passa, não há nada a perder Meu amor de longe voltou, só para me ver” (Raquel Tavares, “Meu Amor de Longe”)

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Em 2016, Raquel Tavares editava uma canção intitulada “Meu Amor de Longe”. A letra retrata uma história de amor pautada pela distância: a personagem principal, feminina, aguarda em Lisboa o seu amado, que vem “de longe”. De onde – e por que motivo – não sabemos. Trata-se de uma representação do reencontro entre duas pessoas que, ainda que envolvidas num relacionamento romântico, vivem em zonas geográficas distintas. Uma relação romântica à distância pode ser descrita como um relacionamento cujos indivíduos vivem em locais geograficamente distantes e que se reúnem periodicamente por um curto período de tempo, tornando a separar-se em seguida (Arditti & Kauffman, 2004).

percentagem de estudantes universitários (que, dispersos por estados e cidades com considerável distância entre si, mantêm relacionamentos amorosos), mas também pela quantidade de indivíduos que, por exigências profissionais, habitam em localidades diferentes das do parceiro (Janning et al., 2018). Em geral, a literatura demonstra que sujeitos em relações românticas de longa distância evidenciam uma maior estabilidade relacional do que indivíduos em relacionamentos geograficamente próximos (Stafford & Merolla, 2007). Mas como? Que variáveis estão envolvidas? Como é possível haver uma maior estabilidade numa rotina de separações e reencontros? Vamos aceitar o desafio, lendo estes relacionamentos à luz da Teoria da Vinculação – uma das principais teorias do desenvolvimento e relacionamento humano dentro da Psicologia.

Esta tipologia de relacionamento é, em geral, pouco abordada quando se fala em satisfação conjugal, sexualidade ou ainda no conceito de família. Contudo, não deixa de ser uma realidade relacional que existe e que tem aumentado (Pistole, Roberts, & Chapman, 2010) – por exemplo, no caso dos estudantes universitários cujas instituições de ensino não se localizam na sua área de residência, ou ainda graças a padrões de trabalho ou de família que requerem que os membros do casal estejam durante longos períodos de tempo em localizações geográficas diferentes (Janning, Gao, & Snyder, 2018).

A Teoria da Vinculação A Teoria da Vinculação, proposta por John Bowlby nos anos 50, é uma grelha de leitura bastante utilizada para compreender as relações próximas. Esta teoria postula que nascemos predispostos a estabelecer relações de intimidade com outros seres humanos para assegurar conforto, suporte e proteção - denominadas relações de vinculação. Esta característica marcaria, assim, o sistema de vinculação, um sistema comportamental inato (Bowlby, 1988). Nestas relações, somos, na infância, cuidados por alguém mais forte, mais velho e mais responsável, enquanto que mais tarde esse cuidado passa a ser bidireccional (Bowlby, 1982). Estas figuras mais “sábias” e fortes seriam as nossas figuras de vinculação, e os comportamentos de procura de proximidade às mesmas são concetualizados como comportamentos de vinculação (Bowlby, 1988). Estes comportamentos manter-se-ão durante toda a vida, ainda que tomem diferentes formas em diferentes etapas do nosso desenvolvimento. Na idade adulta, somos não apenas alvo de cuidados, mas também cuidadores da nossa principal figura de vinculação – que, habitualmente, é o par romântico (Shaver & Mikulincer, 2014).

Se procurarmos por “relações à distância” no Google, não faltam entradas de blogs que se questionam: “Relações à distância: É possível?”, ou que se oferecem para dizer qual “O segredo das relações à distância”. Um relacionamento romântico à distância vem desafiar as conceções comuns de um relacionamento amoroso: existe um maior constrangimento à proximidade e à realização de atividades comuns, a comunicação é diferente, e a sexualidade é, evidentemente, vivenciada de forma distinta. Tendo isto em consideração, podemos questionar-nos: o que é que caracteriza estes relacionamentos? O que distingue os indivíduos que neles se envolvem? Que implicações existem para o desenvolvimento individual e de casal? Procurámos, então, perceber alguns destes aspectos.

Brennan, Clark, e Shaver (1998) sugeriram que a vinculação poderá ser descrita em termos de duas dimensões: a ansiedade acerca do abandono e o evitamento da intimidade. A ansiedade acerca do abandono envolveria preocupações e dúvidas acerca da disponibilidade da figura de vinculação, bem como um medo intenso de rejeição. Sujeitos

Como é que a Psicologia compreende estes relacionamentos? Encontramos investigação proveniente dos Estados Unidos da América referente a este tema, cuja pertinência é justificada não só pela grande 11


uma destas separações: conseguimos recordar a voz do nosso par romântico (ou momentos com ele vividos), ou mesmo prolongar o contacto via chamada telefónica ou SMS (Mikulincer, 2006; Mikulincer & Shaver, 2007). O mesmo acontece quando estamos perante uma ameaça, que despoleta a ativação do sistema de vinculação. Enquanto adultos, quando perante algum acontecimento que nos desperta medo ou angústia, não esperneamos e corremos para os braços das nossas figuras de vinculação: temos, uma vez mais, outros recursos cognitivos para fazer face a este desafio (Mikulincer & Shaver, 2007). Já interiorizámos a sensação de segurança que aquelas pessoas nos transmitem, sendo, por vezes, suficiente ativar apenas a representação mental das mesmas, ao recordar-nos de algum momento específico que com elas vivemos. Noutros casos, conseguimos estar mais tranquilos com uma chamada telefónica. Como podem imaginar, isto coloca diversas questões quando falamos em relacionamentos românticos à distância. Se temos a tendência inata de manter a proximidade ao nosso parceiro, como é que, num par romântico distante, os elementos conseguem ser a principal figura de vinculação um do outro? Como é que cada um pode ser verdadeiramente responsivo às necessidades

com elevados níveis de ansiedade tenderiam a exacerbar as suas estratégias de procura de proximidade, como manifestação emocional e exigência elevada por suporte, advindos de relações precoces com figuras inconsistentes. Já o evitamento da intimidade é caracterizado pela limitação de proximidade e interdependência, bem como pela desconfiança. Sujeitos com altos níveis de evitamento tendem a manter distância emocional da sua figura de vinculação ao invés de procurar proximidade, estratégias aprendidas nas suas relações precoces – onde foram castigados por demonstrar as suas necessidades ou mal-estar (Shaver & Mikulincer, 2014). Quem já não sentiu um aperto no estômago, ao despedir-se do seu/ sua amado/a, mesmo que seja apenas por um dia? Esta sensação de angústia é descrita, na teoria de vinculação, como o protesto de separação. O sistema de vinculação é ativado perante a separação. Na infância, este sistema manifesta-se em reações como o choro e na procura dos nossos cuidadores. Os níveis de ativação deste sistema decrescem quando a proximidade é alcançada. Enquanto adultos, nem sempre precisamos deste contacto físico; temos outros recursos cognitivos para nos tranquilizarmos e podermos investir noutras atividades (como o trabalho) depois de

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do outro, se não está por perto para testemunhar as suas manifestações? Como é que, perante o medo ou a tristeza, estes indivíduos poderão sentir-se tranquilos e seguros sem o envolvimento de um abraço? E, last but not least, como retornam estas pessoas ao seu quotidiano depois de uma separação que se prevê longa? É por estes motivos que, por vezes, tendemos a percecionar as relações românticas à distância como um “não assunto”, ou um tipo de relação que, pela teoria, estará condenado a falhar com uma das necessidades básicas do ser humano: a proximidade. Mas será que é mesmo assim?

como desafios profissionais), ainda que distante. Pistole (2010) ilustra a manutenção desta capacidade com relatos de vantagens nas relações à distância, que diversos indivíduos nestes relacionamentos identificam: um maior envolvimento na vida profissional (incluindo maior satisfação com o trabalho e desenvolvimento da carreira), aumento da autonomia, e ainda o aumento de competências pessoais e relacionais (como a comunicação). Assim, parece que somos capazes de explorar as nossas competências (pessoais e profissionais), expressar a nossa individualidade, praticar a nossa autonomia e envolver-nos ativamente nas nossas carreiras, mesmo quando o nosso parceiro não está por perto para nos transmitir a segurança necessária para tal. Contudo, mesmo Pistole (2010) defende que, a certa altura, a proximidade física se torna necessária para que o cuidado (prestado e recebido) seja eficaz.

A Vinculação nas Relações Românticas à Distância Os artigos de Carole Pistole despertam a atenção de qualquer estudioso da teoria da Vinculação para este tópico. Pistole debruça-se sobre o protesto de separação – i.e., a manifestação que ocorre quando um indivíduo se encontra doente, desconfortável, numa situação nova e/ou ameaçadora, ou quando o seu parceiro está indisponível (Bowlby, 1973; Pistole, 2010). Este protesto está presente na despedida do par romântico que vive noutra região, sendo frequentes os relatos de stress, solidão, desilusão, tristeza (Pistole, 2010) – e, claro, a nossa tão bem conhecida saudade.

Manutenção de Relacionamentos à Distância Já conseguimos, à luz da Teoria da Vinculação, compreender algumas das dinâmicas relacionais envolvidas num relacionamento à distância. Mas de que forma é que estes relacionamentos à distância se mantém? Pistole, Roberts, et al. (2010), na sua investigação comparando aspetos relacionados com a vinculação e níveis de stress entre casais em relacionamentos de longa distância e casais em relacionamentos geograficamente próximos, abordam ainda os comportamentos de manutenção da relação. Estes referem-se a comportamentos destinados a manter e melhorar o relacionamento, e incluem i) ter abertura na discussão de sentimentos, ii) assegurar o parceiro acerca do amor e da continuação do relacionamento, iii) a resolução cooperativa de conflitos, iv) a partilha de tarefas, v) o envolvimento em interações prazerosas, vi) providenciar conselhos ao parceiro, e ainda vii) aceder a uma rede social de suporte ao relacionamento.

Quando falamos de relações à distância, é inevitável pensarmos numa separação mais prolongada no tempo, seguida de um reencontro por um curto período. Assim, estes relacionamentos são pautados por estes ciclos de separação-reunião (Roberts & Pistole, 2009). De acordo com a Teoria da Vinculação, as reações despoletadas pela separação seriam amenizadas (e o sistema de vinculação desativado) pela proximidade. Nos adultos, esta proximidade não tem que ser necessariamente física: temos outros recursos cognitivos, como já vimos. Pistole (2010) sugere-nos que, ainda que não haja a proximidade física para o cuidado recíproco, o mesmo pode ser providenciado e recebido de outras formas, por exemplo, através de chamadas telefónicas – tornando-se, neste ponto, evidente o papel da tecnologia. Esta investigadora defende, assim, que podemos ser “um porto seguro” para o nosso parceiro mesmo quando nos encontramos fisicamente longe! Para além disto, o nosso par pode continuar a agir como a nossa “base segura” (dando-nos a confiança e segurança para enfrentar novos desafios,

Pistole, Roberts, et al. (2010) concluíram que os indivíduos mais seguros em termos de vinculação (i.e., com menores níveis de ansiedade e de evitamento) utilizam mais comportamentos de manutenção, nomeadamente resolução cooperativa de conflitos e positividade, em ambos os tipos de relacionamento. Para além disto, casais em relacionamentos geograficamente próximos 13


Pistole, Roberts, e Mosko (2010) analisaram o papel do compromisso, da satisfação conjugal e da vinculação nos relacionamentos à distância e relacionamentos geograficamente próximos. Estes autores adotam a perspetiva advinda do modelo de investimento: neste modelo, o compromisso é visto como persistência relacional, e será influenciado pela satisfação com a relação, perceção de parceiros alternativos e ainda investimentos que seriam perdidos com o término da relação. Os investigadores concluíram que elevados níveis de satisfação conjugal e elevados investimentos na relação predizem o compromisso nos relacionamentos à distância; pelo contrário, baixos níveis de evitamento, elevados níveis de satisfação conjugal, e baixa perceção de alternativas ao parceiro são variáveis que contribuem para o compromisso em relações geograficamente próximas. No caso dos relacionamentos à distância, este “investimento” poderá espelhar todo o tempo de viagem e custos associados, bem como a manutenção das vias de comunicação necessárias (e.g., chamadas internacionais, custos de internet).

e à distância parecem usar comportamentos de manutenção com a mesma frequência. Em ambas as tipologias de relacionamento, maiores níveis de evitamento e de ansiedade estão associados a maiores níveis de stress. Tal resultado é previsível, se tivermos em conta que indivíduos mais evitantes tendem a suprimir o stress e que sujeitos mais ansiosos ruminam as suas preocupações e monitorizam o parceiro. Elevados níveis quer de ansiedade, quer de evitamento, impedem que o sujeito se foque na resolução do problema que causa tal stress. No entanto, os comportamentos de manutenção de relação usados predizem de forma diferente o stress, em relacionamentos à distância e geograficamente próximos. Em relacionamentos à distância, um maior stress está relacionado com menos interações positivas. Esta descoberta vai ao encontro do modo de funcionamento de indivíduos mais ansiosos que, em caso de stress, tendem a focar-se na ausência do parceiro e a tornar-se mais exigentes para com esta figura, aumentando a carga negativa das suas interações (Pistole, Roberts, et al., 2010).

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outro, o que se poderá traduzir numa maior instabilidade. Dados estes argumentos, a transição de uma relação à distância para uma relação geograficamente próxima necessita de mais estudo. O mesmo podemos dizer acerca do inverso: que aspetos serão mais relevantes para considerar no estudo de indivíduos que, depois de viverem uma relação geograficamente próxima, passam a habitar numa região diferente da do parceiro? O que muda na vida destas pessoas? Mais do que bloggers que contam a sua história, sentimos a falta de literatura empírica que nos possa elucidar acerca destas temáticas.

Também Roberts e Pistole (2009) concluíram que baixos níveis de evitamento e ansiedade, bem como viver em habitações diferentes, contribuíram para a satisfação em relacionamentos geograficamente próximos. De facto, no caso de pares românticos que estão geograficamente próximos, coabitar poderá traduzir-se em conflitos ou frustrações que minam a satisfação conjugal, o que poderá explicar este resultado. Por outro lado, baixos níveis de evitamento poderão, a nosso ver, impulsionar os indivíduos a expressar-se emocionalmente e a conectar-se intimamente com o seu parceiro, ajudando na construção de uma comunicação verbal rica em emoções que contribui para a satisfação em relacionamentos à distância.

Parece-nos que a possibilidade de estar em permanente contacto com o outro favorece o aparecimento de novos modos de procura e estabelecimento de proximidade. Quando o sistema de vinculação se ativa, podemos procurar a proximidade através de uma comunicação via chamada de voz, chamada de vídeo ou mensagem. Ouvir e ver o nosso parceiro no final de um dia árduo e desapontante de trabalho irá ajudar-nos a estabelecer um sentido de maior tranquilidade e segurança, desativando-se o sistema de vinculação. Cremos que, nesse aspeto, o uso da tecnologia veio facilitar este cuidado recíproco.

De acordo com Dargie, Blair, Goldfinger, e Pukall (2015), indivíduos em relacionamentos à distância não reportam menores níveis de qualidade quer da relação, quer da vivência da sexualidade. Apesar das dificuldades, os participantes do estudo reportam que o seu relacionamento, ainda que à distância, vale a pena ser mantido e é, para muitos, uma etapa que leva ao seu crescimento pessoal e relacional. A tecnologia e o reencontro foram também citados como centrais para a manutenção destas relações. A literatura acerca de relacionamentos à distância diz-nos que indivíduos que se encontram a viver um relacionamento deste género não estão em desvantagem face aos restantes: utilizam diferentes formas de manutenção de relação, continuam a reportar níveis de satisfação com a relação (mesmo quando se fala em sexualidade!) semelhantes a sujeitos que se encontram em relações geograficamente próximas, e demonstram ainda uma maior estabilidade relacional do que estes (Pistole, Roberts, et al., 2010). Alguns estudos afirmam mesmo que os indivíduos em relações à distância reportam maiores níveis de satisfação relacional e de dedicação ao parceiro (Kelmer, Rhoades, Stanley, & Markman, 2013). No entanto, Stafford e Merolla (2007) argumentam que longos períodos de separação podem induzir uma idealização extrema do par romântico: os indivíduos passam mais tempo longe um do outro, esforçando-se por estar “no seu melhor” quando estão juntos, reduzindo a probabilidade de testemunharem atitudes menos positivas ou situações menos lisonjeiras (por exemplo, mau humor matinal, ou uma explosão temperamental). Quando passam a estar próximos geograficamente, aumenta a probabilidade de cada um dos parceiros presenciar aspetos menos positivos do

Em Suma… As formas de estar numa relação romântica são várias. No fundo, somos seres humanos diferentes, com personalidades variadas e distintos objetivos pessoais e profissionais. E quem disse que a vida profissional e o nosso coração seguem de mãos dadas? A verdade é que nem sempre acontece, porém a investigação deste teor e o consequente reconhecimento da existência de relações românticas à distância, que são satisfatórias e plenas de amor, comporta uma importante lição: somos capazes de nos moldar às circunstâncias que vão surgindo nas nossas vidas, conseguindo, desta forma, adaptar uma das nossas necessidades mais básicas: a de estabelecer um laço emocional íntimo com outro ser humano.

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Um ano depois de Pedrogão O papel das escolas na recuperação das crianças Texto por Catarina Fernandes

os pais por terem medo de estar sozinhas. Para além disso, são referidas ainda quebras no rendimento escolar e situações de hiperactividade (Observador, 2018). Estes episódios têm vindo a acontecer depois do verão passado. Agora que o verão voltou, que o calor aperta e novos incêndios florestais se avizinham, estes episódios poderão aumentar e agravar-se.

17 de junho de 2018. Um ano passou desde o incêndio de Pedrógão Grande. 64 mortes, das quais 9 crianças (Expresso, 2018). E as crianças sobreviventes? Depois das feridas físicas tratadas, o que aconteceu às feridas psicológicas? Nos concelhos mais afetados pelo incêndio (Pedrógão Grande, Castanheira de Pera, Figueiró dos Vinhos, Góis, Pampilhosa da Serra e Sertã) estima-se que atualmente 14% das crianças sofrem de perturbações psicológicas, sendo que 7,9% apresentam sinais de Perturbação de Stress Pós-Traumático (Diários de Notícias, 2018). Relativamente às outras perturbações psicológicas, constatou-se a presença de sintomas de perturbação de adaptação, ansiedade de separação e processos de luto complicado (Observador, 2018).

Posto isto, o que tem sido feito neste último ano para dar resposta às necessidades da população afectada? Segundo um artigo do Diário de Notícias (2018), o agrupamento escolar de Castanheira de Pera, que antes dos incêndios de 2017 tinham apenas uma psicóloga a trabalhar em part-time, contratou duas psicólogas a tempo inteiro. Estas psicólogas iniciaram funções no ano lectivo 2017-2018 e, atualmente, acompanham cerca de quarenta alunos. Contudo, no mesmo artigo, as profissionais demonstram preocupação com o futuro das crianças que acompanham, uma vez que a sua continuação no agrupamento depois deste ano lectivo é ainda incerta, ficando em causa a continuação dos processos terapêuticos.

Fala-se de crianças que evitam estímulos que recordam a tragédia, que se afastam de fogo e fumo mesmo em contextos seguros (na cozinha das suas próprias casas, por exemplo). Da tragédia reproduzida vezes sem conta nos seus desenhos. Do pânico que sentem quando ouvem um alarme de incêndio e da dificuldade em regular essas emoções. Da regressão que é voltar a dormir com 16


crise existe sempre o Centro de Apoio Psicológico e Intervenção em Crise (CAPIC) do INEM, mas este não pode ser responsável pelo acompanhamento psicológico continuado dos indivíduos. Além disso, à falta de recursos, soma-se o estigma associado à procura de apoio psicológico, que as próprias pessoas podem sentir.

São conhecidos os números das vítimas directas - 64 mortes e 200 feridos. Graças aos rastreios realizados nas escolas dos concelhos mais afectados, temos mais informações sobre a saúde mental das crianças, mas quantas mais vítimas existem? O que acontece com os pais, avós e professores? E as outras vítimas? Quantos familiares, amigos e colegas das vítimas directas foram afetados pela tragédia? E as pessoas que assistiram às notícias através dos meios de comunicação social?

Apesar disso, acredito que a tragédia de Pedrógão Grande conduziu a uma maior consciência da importância da saúde mental e do papel dos Psicólogos, assim como de outros profissionais de saúde, na construção e manutenção de uma sociedade “sã”. Começando pela intervenção com crianças, espero que seja possível chegar aos adultos.

A procura de apoio psicológico na região afectada pelo incêndio de Pedrógão Grande cresceu cerca de 67% (Renascença, 2017). Segundo o mesmo artigo, para dar resposta a estes pedidos, houve um “alargamento (dos profissionais de saúde mental) nos três centros de saúde (Figueiró dos Vinhos, Pedrógão Grande e Castanheira de Pera)”. Num país em que muitas vezes existem listas de espera de anos para diferentes Especialidades nos Centros de Saúde, em que a duração dos atendimentos de Psicologia e Psiquiatria são encurtados numa tentativa de tentar corrigir o desequilíbrio entre os recursos humanos existentes e as necessidades reais, mesmo com os novos esforços, a resposta é suficiente? Não, não penso que seja. Para respostas em alturas de

Para mais informações, consultar: https://www.dn.pt/portugal/interior/o-fogo-da-minhainfancia-9475287.html https://observador.pt/2018/06/16/cerca-de-8-dos-alunosda-regiao-de-pedrogao-grande-com-sinais-de-stress-postraumatico/ http://expresso.sapo.pt/pedrogao2018/ http://rr.sapo.pt/noticia/90600/pedrogao_grande_apoio_ psicologico_aumentou_67_depois_dos_fogos

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Portugal e o Ecocídio Texto por Micaela Malosso

o nosso Governo autorizou que o consórcio de petrolíferas Eni/Galp realize uma operação de prospecção de petróleo no largo de Aljezur (Algarve), sendo considerado irrelevante pela Agência Portuguesa do Ambiente (APA) a realização de um estudo de impacto ambiental (AIA).

Lembro-me que das memórias mais felizes que tenho enquanto criança é a de viajar para o Algarve. Nesses dias o mundo parecia parar e eu podia finalmente desfrutar de algum tempo e tranquilidade com a minha família, depois de um ano atarefado com horários, aulas e no geral, sempre numa grande correria. A verdade é que o Algarve apaixona qualquer um, de tal forma que é das regiões Portuguesas mais requisitadas e com maior actividade turística. Já em 2017 registou um total de 19 milhões de dormidas e 1028 milhões de euros de lucros totais.

Face a isto, as opiniões dividem-se: enquanto que Bruno Bobone, presidente da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa (CCIP), tenta convencer-nos de que necessitamos de petróleo para produzir e lucrar com a energia renovável, o cineasta António Pedro Vasconcelos entende que o lucro previsto “É uma mentira pegada. Mas mesmo que assim fosse, aquilo que voltava para o país era próximo de zero. Nós correríamos todos os riscos e ganhávamos zero”. Nuno Lacasta, presidente da APA, considerou não haver risco de impactos negativos ambientais, dado que será apenas uma operação de prospecção. Se (quando) for encontrado petróleo, a APA irá requerer um AIA. Não obstante, já foram avançadas várias petições que procuram bloquear este empreendimento.

Foi em Dezembro de 2015 que na COP21 (21.ª sessão anual da Conferência das Partes), 195 países assinaram o Acordo de Paris. Este acordo prevê, entre outros, que os países envolvidos reduzam as emissões de gases com efeitos de estufa e deixem de utilizar por completo combustíveis fósseis em 2050. Apesar de Portugal ser um dos países participantes neste acordo, paradoxalmente e com semelhanças a um filme do M. Night Shyamalan,

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O Parar o Furo aponta que este é um evento inédito na nossa história e que foi autorizado contra a vontade das populações e autarcas locais. Será que esta operação é tão inofensiva como o Governo nota? Não. Na realidade a exploração de petróleo e gás acarreta vários riscos, tais como o risco de perturbação dos habitats e das rotas de migração da vida selvagem ou o de derrame destas substâncias no nosso habitat.

onde essas ações ocorrem (relações entre-níveis). De grosso modo e em ambos os casos, a Psicologia Ecológica é uma psicologia de contexto. Na abordagem ecológica, a psicologia possui uma posição privilegiada em relação às outras ciências da vida. Como psicólogos, o modo como estudamos e concetualizamos o funcionamento humano, ao mesmo tempo que beneficiamos da credibilidade da ciência, pode transformar a forma como a nossa espécie pensa sobre ela mesma e age no planeta. Heft (2001) considera que as outras ciências da vida não possuem este “poder reflexivo” (p. 376).

De facto, o futuro deste pedaço tão precioso da costa Portuguesa, que como no meu caso, bem como no de tantos Portugueses, faz já parte das memórias de infância, pode estar a ser posto em risco em nome do lucro económico de um punhado de indivíduos. Aparenta ser razoável perguntar: Se a função do Governo é a de proteger os seus cidadãos e o país, então porque razão parece que está a trabalhar para o consórcio Eni/Galp?

Embora a Psicologia Ecológica procure estudar o ser humano no contexto da sua relação com o resto do ecossistema, sinto, contudo, que fomos ensinados desde cedo a olharmo-nos como separados do nosso meio. Porquê considerarmos uma barragem construída por humanos como artificial e considerarmos uma barragem construída por castores como natural? Porquê esta distância entre o ser humano e o mundo natural? Porquê esta dissonância? Porquê este ecocídio? Tal como o célebre físico Neil deGrasse Tyson (2009) disse: “Estamos todos conectados – biologicamente, uns aos outros; quimicamente, à Terra;

Parece sugestivo que as acções e escolhas do nosso Governo vão de acordo com a definição de Ecocídio, i.e. a destruição metódica de um ecossistema ou de uma comunidade vegetal ou animal. Denomina-se de ecocídio porque envolve a morte de diversos sistemas e organismos vivos que co-existem em interdependência uns com os outros, a qual será posta em risco por esta operação. Lovelock e Margulis (1973) desenvolveram a Hipótese de Gaia, estabelecendo que o planeta Terra pode ser visto como um organismo vivo que procura manter a sua homeostase. Neste mesmo sentido, Higgins (2013) propôs uma lei do ecocídio, ou seja, propôs que tal como o homicídio, também crimes contra o nosso ecossistema deveriam ser julgados como um crime contra a vida. Este aponta como crimes a poluição industrial, a criminalidade corporativa o seu impacto no ambiente, corrupção de oficiais no escoamento de lixo tóxico, entre outros. Posto isto, como psicólogos, o que podemos fazer para ajudar e contribuir para a preservação de vida e felicidade no nosso planeta? A Psicologia Ecológica responde. Apesar de que quando se fala em Psicologia Ecológica muitos de nós automaticamente pensam na tão estudada Teoria dos Sistemas Ecológicos de Bronfenbrenner (1977), esta pode significar ainda muito mais. Quais são os seus pressupostos? Que o funcionamento individual necessita de ser entendido em relação às características ambientais com as quais o sujeito interage (relações intra-níveis) e em relação ao cenário circunjacente

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atomicamente, ao resto do universo”. Embora parte da responsabilidade possa cair no paradigma científico atual, que procura estudar o mundo fora da percepção humana, outros autores explicam este abismo artificial entre Humano e Natureza.

habitats. De acordo com o autor será este senso de ego sobre-desenvolvido que nos separa artificialmente da natureza e nos adormece o senso de responsabilidade para com o planeta e o nosso dever em preservar a sua harmonia. O segundo factor é uma visão essacralizada da natureza, ou seja, a noção de que relacionamo-nos com a natureza a partir de uma posição de posse, como se esta fosse nosso objecto para ser explorada abusivamente sem remorsos.

Paradoxalmente, à medida que o nosso conhecimento sobre o universo aumenta, a nossa compreensão sobre o mesmo permanece deveras modesta. Enquanto que adquirimos mestria sobre a natureza e as suas leis, a nossa experiência vivida é cada vez mais removida das suas raízes primordiais.

Já Rollo May (1984) introduziu o conceito de daimónico (daimonic) que subjaz o potencial humano para a criatividade ou destruição e que almeja, no fundo, a totalidade do Eu. Este contestou a concepção Rogeriana de um mundo melhor. Para Rogers (1984) uma maior consciência inevitavelmente produziria um mundo melhor. Para May (1984), e seguindo a mesma lógica que Jung (1983), uma maior consciência invariavelmente implicaria um reconhecimento dos nossos egos daimónicos e da urgente necessidade em aprofundar a nossa relação introspectiva com eles, ao invés de cruzarmos os dedos e desejarmos um mundo utópico onde apenas o potencial criativo existe.

Sob outra visão, Freud (1962) explicou que este é o preço a pagar por vivermos num mundo “civilizado”. O autor notou que inicialmente o ego é todo abrangente e indiferenciado e que mais tardiamente irá separar-se e adquirir individualidade. Este ego diferenciado a que chamamos de Eu é, na verdade, um resíduo desse sentimento todo abrangente que outrora correspondeu a um vínculo fortíssimo entre o ego e o mundo à sua volta. Taylor (2014) aprofunda e propõe uma teoria psicológica do ecocídio potenciada por dois factores. Um senso de ego sobre-desenvolvido, o que muitos argumentariam ser a principal diferença entre o Ocidente “civilizado” e os povos tribais indígenas. As pessoas destes povos aparentam não existir como um ego auto-suficiente no mesmo grau que os Ocidentais o fazem, dado que a sua identidade jaz também nas suas comunidades e

Estas perspectivas elucidam a Psicologia Ecológica no sentido em que não será apenas a consciencialização da nossa interdependência com o resto do mundo natural que assegurará a nossa sobrevivência e evolução enquanto espécie. Antes, teremos que tomar consciência do potencial

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destrutivo enraizado na nossa sociedade, desafiar o nosso senso de individualidade sobre-desenvolvido e estendermos a nossa identidade para incluir egos ecológicos, de tal forma a que a dor do mundo se torne a nossa dor e a preservação e sacralização da vida que nele habita dê significado profundo às nossas vidas.

que sejam substituídos não os jogadores, mas sim o jogo (Pilisuk & Joy, 2015). Pilisuk e Joy (2015) referem que enquanto que as antigas civilizações da Suméria, Babilónia, Tróia, entre outras, surgiram e desapareceram, o povo Miwok existe imperturbado ainda hoje há pelo menos 3000 anos, na costa da Califórnia (EUA). Isto foi e é possível porque este povo sempre respeitou e partilhou os recursos oferecidos pelo seu habitat e como tal, nunca foi preciso disputá-los com os outros na demanda de acumulação de riqueza e recursos. Efectivamente, nesta sociedade não existe uma palavra para “guerra”.

Contudo, teremos também que construir a ponte entre uma maior consciência e um maior poder de acção. Deparamo-nos assim com a pergunta: Quais são as mudanças sociais necessárias para cessarmos o ecocídio? Em primeiro lugar teremos que ter em conta que enfrentamos sistemas muito enraizados e poderosos na nossa sociedade que protegem os interesses das grandes corporações e que estas, efectivamente, seguem interesses daimónicos (Pilisuk & Joy, 2015). Não tem provado ser suficiente idealizarmos os governos e os seus líderes como figuras paternas benevolentes que “olham por nós”. Não basta fecharmos os olhos e esperarmos pelo melhor.

Gostaria assim de terminar com uma ideia: Penso que a solução reside no reconhecimento de que até mesmo nos sistemas político e corporativo, que tomamos como garantido terem apenas intenções e potencial criativos, existe o potencial destrutivo. O individualismo excessivo Ocidental acaba por trabalhar contra nós e a dessacralização da nossa ligação com a natureza adormece em nós a urgência para lutarmos por um mundo melhor para todos e não apenas para os interesses das grandes corporações, com a promessa de que se calhar possamos beneficiar economicamente com isso no futuro.

Neste sentido, Pilisuk e Joy (2015), psicólogos humanísticos, consideram que o chamado movimento New Age segue a tradição europeia romântica da idealização de uma natureza redentora, ao mesmo tempo que não possui grande interesse em prover para o futuro. Marien (1984) comparou este movimento a um recreio para adultos com o propósito de lhes remover a necessidade e motivação em participarem no processo político.

Por tudo isto e para um mundo melhor, convido-te a visitar os websites da Plataforma Algarve Livre de Petróleo (PALP; http://www.palp.pt/), do Climáximo (https://climaximo.wordpress.com/) e do Parar o Furo (http://pararofuro.pt), que têm conduzido a luta contra a exploração de petróleo no nosso amado Algarve.

Por exemplo, no best-seller “O Segredo” (Byrne, 2006) é proposta a existência de uma lei universal da atracção, a qual permite que apenas através do poder do desejo e da visualização seja possível obter tudo aquilo que tanto desejamos. Por outras palavras este livro, que vendeu 20 milhões de cópias e foi traduzido em 50 línguas, promete uma vida maravilhosa e feliz alcançada intencionalmente sem esforço.

Tal como Chaplin (1940) expressou: “Desenvolvemos velocidade, mas acabámos por nos isolar. Máquinas que dão abundância, deixaram-nos na penúria. O nosso conhecimento tornou- nos cínicos; a nossa esperteza, duros e indelicados. Pensamos demasiado e sentimos muito pouco. Mais do que máquinas, precisamos de humanidade. Mais do que esperteza, precisamos de gentileza e amabilidade. Sem estas qualidades, a vida será violenta e tudo será perdido”.

Por outro lado, a sociedade Ocidental investe de tal forma nesta individualidade sobre-desenvolvida que a protecção dos direitos das grandes corporações em criarem e lucrarem com a destruição ecológica é confundida com a protecção das liberdades dos cidadãos. Caso estes sistemas corporativos desenhados para a acumulação de riqueza através da subjugação da natureza, sejam também quem controla a informação transmitida ao público e consequentemente o processo político, teremos que desenvolver e unir esforços para

Adenda pós-redação: Numa reviravolta muito positiva, o Tribunal Administrativo de Loulé impediu esta operação de prospecção de petróleo em 29 de Junho de 2018, por considerar que os interesses invocados pelos ministérios do Mar e da Economia são puramente de carácter económico e de cumprimento contratual, não sendo viáveis para o interesse público.

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Congresso OPP - Eu Vou. Tu Também? Texto por Nadine Amaro

estabelecer networking, nacional e internacional. Sendo que que nunca sabe o que ou quem se poderá encontrar nesta caminhada: uma pessoa com o mesmo quadro de interesses do que tu, um futuro parceiro de um projecto, uma possibilidade de intervir, de ter uma bolsa de investigação, um estágio profissional ou mesmo um emprego; - Espaço para reflexão crítica e partilha de ideias e ideologias. Uma oportunidade de pensar out of the box; - Local de construção de conhecimentos, aprendizagens e memórias; - Possibilidade de publicitar o trabalho de investigação recente de cada um, através de um psipóster, psi-comunicação oral ou simpósio (isto se fizesses a tua submissão até 15 de Junho, podendo os mesmos ser publicados em The Psychologist: Practice and Research Journal).

Cada hora são 60 segundos a menos para o maior evento da Psicologia em Portugal - o IV Congresso da Ordem dos Psicólogos Portugueses: Psicologia na Prevenção e Promoção de Desenvolvimento das Pessoas, Coesão Social e Crescimento Económico. Presidido pelo Sr. Bastonário da Ordem dos Psicólogos Portugueses, Francisco Miranda Rodrigues, possui também as necessárias Comissões Organizadora, Científica, e uma Comissão de Honra, da qual constam nomes sonantes como António Costa (1º Ministro), Tiago Brandão Rodrigues (Ministro da Educação), Adalberto Campos Fernandes (Ministro da Saúde), Telmo Mourinho Baptista (Presidente da European Federation of Psychologist´s Associations) e Manuel Veigas de Abreu (Membro Honorário da OPP). Neste momento deves estar a perguntar-te:

Quais as vantagens de comparecer a este congresso?

No entanto, todas as balanças de decisões da vida têm dois pratos. Apresentadas as vantagens, quais as desvantagens?: Pois, a verdade é que não se apresentam muitas desvantagens, talvez a única contrapartida sejam os preços praticados. Contudo, deve atentar-se ao custo/benefício

- Meio de interacção entre profissionais, investigadores, psicólogos de vários contextos e estudantes, ou seja, uma grande possibilidade de 22


e Samuel Antunes, Coordenador do Programa de Promoção da Saúde Mental nos Locais de Trabalho.

de despender este dinheiro agora, pois é uma oportunidade única e imperdível cujos ganhos poderão ser bem maiores que os custos.Talvez menos um concerto ou uma viagem, mas mais uma pessoa a adicionar no Linkedin e mais uma lâmpada que se acende no campo das futuras investigações em Psicologia.

As Empower Talks, como o próprio nome indica, propõem o empowerment e a capacidade de desenvolvimento estratégico da Psicologia como profissão, mediante os pitchs de António Silva (Senior Advisor Bi Team), Susana Peralta e Margarida Gaspar de Matos, subjacentes à temática Insights Comportamentais e a Prevenção nas Políticas Públicas - Vai um Nudge? A vida é ainda cheia de surpresas e como tal, este congresso também. Ainda irão surgir nomes a integrar o painel de oradores, mas temos confirmados os seguintes, agrupados pelos vários assuntos a comunicar:

Cabe-nos informar que as inscrições (que incluem entrada no congresso, conferências e certificado com créditos) são: - 75 euros para estudantes, psicólogos júniores e orientadores e desempregados; - 110 euros para membros efectivos da OPP, membros da APA (American Psychological Association) e membros COP (Consejo General de La Psicología); - 170 euros para outros profissionais.

- Bullying/Cyberbullying - Margarida Veiga Simão; - Parentalidade, vinculação e saúde mental de mães e bebés - Bárbara Figueiredo, Isabel Leal, Isabel Soares; - Psicologia da Educação/Carreira - Bonnie K. Nastasi, José Morgado, Leandro de Lajonquière e Maria do Céu Taveira; - Flagelos da Sociedade (sem-abrigo, terrorismo) - Bruno Brito, Daniel Dodgen, José Ornelas e Sander Vander Linden; - Psicologia Clínica - David Daniel Ebert, Óscar Gonçalves, Susan Michie, Pim Cuijpers, Rainer Hermann Kurz e Reinhard Guss; - Psicologia do Desporto - Jorge Silvério; - Sexologia - Pedro Nobre; - Boas Práticas Profissionais - Rute Agulhas;

O que podemos então encontrar neste congresso? As Psi-Talks, uma novidade do congresso deste ano. Promovem a discussão de temas relevantes para a sociedade entre oradores cujo trabalho é igualmente relevante e pretendem estimular o debate e a participação activa de quem assiste aos mesmos. Estas relacionam-se com os seguintes temas: - Ciência, Pseudociência e Não Ciência, com Carlos Fiolhais e David Dias Neto, Presidente do Conselho da Especialidade de Psicologia Clínica e da Saúde; - Soft Skills, um Imperativo para a Coesão Social, com Pedro Cunha e Teresa Espassandim, membro da Direcção Efectiva da OPP; - Desporto e Psicologia, com Enrique Canton, Pedro Almeida e Luís Cristovão (comentador desportivo); Organizações mais Competitivas…e Sustentáveis e Literacia e Decisão Financeira - Contributos da Psicologia contam com o discurso de Francisco Miranda Rodrigues, entre outros; - Identidade Profissional do(a)s, com Miguel Ricou (Presidente da Confederação Empresarial de Portugal e Marta Helena de Freitas); - Uma Educação para o Futuro, através de Rui Grilo e Sofia Ramalho (Vice-Presidente da OPP); - Sentir o Envelhecimento através das Letras, pelas mãos do célebre escritor Valter Hugo Mãe e Renata Benavente; - Resolução para 2018: Prevenir Riscos Psicossociais das Empresas, por Filipe Anacoreta Correia

Mais pormenores sobre este congresso não poderei desvendar. Alguns, porque não é possível conhecê-los. Outros, para te obrigar a pesquisar e tomar a decisão (acertada!) de comparecer ou não neste congresso!

Apontem as seguintes informações: Quando? 12-15 Setembro Onde? Braga, Fórum Braga (podes até visitar o Santuário do Bom Jesus!) Reserva desde já o teu lugar! Procura mais informações pelo hashtag #oppcongresso2018 e no site oficial http://www.oppcongresso2018.pt/. 1800 participantes esperados e mais de 20 países em intervenção… Eu vou...e tu, fazes-me companhia?

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RUBRICA | Psicólogos com opinião A importância da prevenção em saúde mental

Desde sempre que a saúde mental se apresenta como o parente pobre da saúde. A contínua falta de investimento pelo poder político, associado ao ainda presente estereótipo cultural relacionado com a saúde mental que a desvaloriza e menoriza, promovem um fraco estatuto da mesma e permitem uma baixa preocupação a ela atribuída pela sociedade em geral. Como consequência, muitas das problemáticas associadas à saúde mental, como o burnout, a ansiedade, a depressão, entre outras, não têm o foco e atenção devidas, sendo, muitas vezes, negligenciadas e, até, banalizadas e desvalorizadas. Seja na sua vida pessoal, nas suas relações pessoais, românticas ou não, seja no trabalho e no que o mesmo implica, as dificuldades do foro psicológico são marginalizadas, quase como que olhadas de lado, com desdém e dúvida, levando a que estas pessoas se escondam no seu sofrimento, aumentando as dificuldades existentes por manterem os mesmos padrões de actuação que as levaram às problemáticas em causa. Com o avançar dos anos e com o desenvolvimento científico na área, a saúde mental, muito à conta do desenvolvimento da psicologia, tem vindo a marcar o seu caminho de afirmação no ceio das populações, tendo, nos últimos anos, atingido um ponto alto na sua propaganda e divulgação. Aqui, demarcando o mau papel realizado pela má divulgação, a informação e conhecimento que advém deste boom é uma ajuda fundamental para que a saúde mental seja, efectivamente, parte da vida de cada um, como uma preocupação a ter tal como são as reocupações com problemáticas físicas ou orgânicas.

Tiago Fonseca Psicólogo Clínico em prática privada na empresa Psinove, onde tem, também, funções nas áreas da Formação e da Investigação. Mestre em Psicologia Clínica e da Saúde - Psicoterapia Cognitivo-Comportamental e Integrativa pela Faculdade de Psicologia da Universidade de Lisboa, em Doutoramento em Psicologia Clínica – Psicoterapia Integrativa pela mesma instituição. Em Pós-Graduação na Associação Portuguesa de Terapias Cognitivas e Comportamentais. Formador certificado pelo IEFP. Membro da Society for the Exploration of Psychotherapy Integration, da Society for Psychotherapy Research e da Ordem dos Psicólogos Portugueses.

Com a recente aprovação em Assembleia da República do Dia Nacional do Psicólogo, bem como com as crescentes iniciativas nos dias Internacional e Mundial da Saúde Mental, são várias as problemáticas e psicopatologias que vão tendo o seu palco de divulgação, o que lhe permite assumir a sua importância no que diz respeito ao dia-a-dia de cada um e à forma como estas dificuldades se manifestam e estão presentes nos 24


Prevenir a doença mental é prevenir o sofrimento das pessoas que, na sua rotina diária, lidam com várias fontes potenciais de dificuldades ou problemáticas psicológicas. Prevenir é antecipar que em diversos contextos existem fontes de stress, momentos de pressão e ansiedade, lutos e perdas, abusos e violência, solidão e negligência, entre outros. Prevenir é informar a população de como desenvolver o seu próprio auto-cuidado, criando estratégias de auto-regulação que possibilitem uma higiene mental eficaz. Prevenir é, ainda, promover, junto das populações, acções de formação, de sensibilização e de intervenção nas problemáticas psicológicas, possibilitando o acesso à psicoterapia e a outras ferramentas da sociedade que a possibilitem.

comportamentos mais simples das pessoas. Por outro lado, é parte integrante desta informação o conhecimento dos possíveis tratamentos e formas de actuação nas diversas problemáticas. Este entendimento contemporâneo, quase de normalização das dificuldades associadas à saúde mental, tem funcionado como um acender da luz destas problemáticas, que leva à maior atenção e activação por parte da sociedade que, por sua vez, começa, aos poucos, a compreender melhor e a valorizar a vertente psicológica da sua saúde. No entanto, como em tudo, há quem ainda não lhe dê o crédito e mérito que esta merece, desconfiando da sua importância e, mesmo, por vezes, da sua existência. Sabemos hoje que mais de um terço da população mundial tem alguma perturbação psicológica ou psiquiátrica e que toda a população, em algum momento da sua vida, beneficiaria de um processo psicoterapêutico. Esta relevância nos números demonstra o quão fulcral deve ser a actuação nesta área, não só por parte das pessoas como de quem cria e regula as leis de funcionamento da saúde nos diversos países do mundo.

Em suma, a prevenção em saúde mental assume um papel central no que diz respeito à promoção de uma saúde integrada, onde as populações funcionam entre si, com os seus membros saudáveis e activos, com um potencial de adaptação elevado em qualquer que seja o seu propósito e quantidade e qualidade de tarefas diárias. Isto, apenas é possível com a noção de cuidado por parte de quem governa, transmitindo a mensagem de que a preocupação com a saúde mental é real e séria, pelo que a prevenção assume o papel principal e primordial nesta preocupação.

Apostar na saúde mental é um pilar importante. Mas, de igual forma, apostar na sua prevenção é um imperativo evolutivo da nossa sociedade.

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