RUP nº8

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Dezembro 2017 | Edição nº8 Distribuição Digital e Gratuita

Literacia Emocional para Crianças O início e o final de uma vida académica: Impactos do ingresso no Ensino Superior 1


Editorial Nesta última edição de 2017 trazemos até aos nossos leitores uma edição que aborda alguns temas marcantes dos últimos meses: as últimas eleições autárquicas e a experiência de início/conclusão do ensino superior por parte dos caloiros e finalistas deste ano. Por outro lado, refletimos sobre o contributo dos estudantes como participantes em investigações, analisamos a perspectiva histórica da visão dos trabalhadores nas empresas. Abordamos ainda a literacia emocional em jovens e crianças e falamos dos contributos da psicologia social. Esperamos proporcionar-vos boas leituras. Por último, não se esqueçam... Espreitem a nossa agenda!

Votos de Boas Festas e de Próspero Ano Novo de toda a equipa da RUPortagem! Que o ano de 2018 vos traga oportunidades para alcançarem os vossos objetivos académicos e pessoais.

Maria João Fangaia

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Ana Aleixo

Auni Dwarkadas

Catarina Fernandes

Maria João Fangaia

Nadine Amaro

Patrícia Martins

David Almeida

Para mais informações ou sugestões podem contactar: editorial.rup@gmail.com Editora Maria João Fangaia Designer Catarina Damas

/// ISSN: 108/2015///Interdita a reprodução parcial ou total dos textos, fotografias ou ilustrações sobre quaisquer meios e para quaisquer fins sem previa autorização escrita da Administração da RUP/ANEP//// Editora: Maria João Fangaia ///// Administradora: Adriana Bugalho ///// Director da Comissão de Revisão Cientifica: Tiago Fonseca ///// Periodicidade: Trimestral ///// Produção: Organismo Autónomo Revista Universitária de Psicologia da Associação Nacional de Estudantes de Psicologia ///// Propriedade: Associação Nacional de Estudantes de Psicologia – ANEP ////// Associação Nacional de Estudantes de Psicologia - ANEP ///// Faculdade de Psicologia //////////Alameda da Universidade ///// 1649-013 Lisboa ///// Portugal /////// Revista Universitária de Psicologia da Associação Nacional de Estudantes de Psicologia - RUP/ANEP ///// 3000

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Conteúdos

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Editorial

Agenda

Canetas, flores e beijinhos ou as Eleições Autárquicas de 2017: Porque (não) votamos?

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O início e o final de uma vida académica: Impactos do ingresso no Ensino Superior

“Falta cumprir-se os participantes”

Literacia Emocional para Crianças

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O trabalhador: uma perspectiva histórica

A Árvore da Psicologia Social

Bibliografia

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Agenda

12 JAN

Workshop “Abordagem Sistémica na violência entre casais LGBT” Sociedade Portuguesa de Terapia Familiar - Delegação do Norte Preço não afixado

19|20 JAN

18º Seminário do Centro de Desenvolvimento da Criança Coimbra 75€

25|26|27 JAN

12º Congresso Nacional de Psicologia da Saúde - Promover e Inovar em Psicologia da Saúde ISPA - Instituto Universitário 100€

2nd International Conference on Childhood and Adolescence Olaias Park Hotel - Lisboa 180€

1|2 FEV

12º Congresso Nacional de Psicologia da Saúde - Promover e Inovar em Psicologia da Saúde ISPA - Instituto Universitário 100€

23|24 FEV

I Congresso Internacional de Cuidados Paliativos de Castelo Branco Cine-TeatroAvenida - Castelo Branco 40€

18|19 ABR

9.º Congresso Internacional de Psicologia da Criança e do Adolescente Universidade Lusíada de Lisboa Estudantes das Universidades Lusíada - 5€ Estudantes de outras instituições - 10€

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Canetas, flores e beijinhos ou as Eleições Autárquicas de 2017: Porque (não) votamos?

Lembram-se das Eleições Autárquicas de dia 1 de Outubro? Eu quase que também não… Então porque falar delas agora? Em primeiro lugar, porque agora surgiu a oportunidade de fazê-lo e, em segundo lugar, porque as eleições fazem parte de qualquer nação democrática e, como tal, voltarão a acontecer. Confesso que a minha preocupação com as Eleições era ligeira. A sombra dessa preocupação surgia ao deparar-me com cartazes, todos mais ou menos iguais, sem características notórias para se distinguiram dos demais. Pensava que, na realidade, não conhecia os planos de cada partido, apenas me chegavam ecos de discussões na televisão e frases feitas. Talvez não estivesse atenta o suficiente, sentia-me desinformada, incapaz de escolher conscientemente, inapta para votar. E embora tivesse noção disso, raramente me preocupava. Existiam outras coisas que roubavam a minha atenção... assuntos mais, digamos, apelativos. Encontrava-me num desses momentos de ignorante tranquilidade, sentada no autocarro a caminho

de casa, quando entra um conjunto de pessoas, encabeçados por uma mulher a distribuir flores. Na altura não a reconheci mas, no dia seguinte, consegui identificá-la num dos cartazes aborrecidos que via todos os dias. Era uma mulher alta, bem parecida, carismática. Facilmente conseguiria ficar nos primeiros lugares de um qualquer concurso de popularidade, o que muitas vezes não é uma situação nada distante das Eleições. Entregava as flores com firmeza, como quem aperta a mão, e deixava umas palavras autoritárias mas não agressivas, de forma a convencer-nos a votar no partido X. Nos segundos de atenção que me concedeu, perguntei-lhe o que prometiam, ao que ela respondeu com um simples mas assertivo “continuação do bom trabalho”. A senhora deu-me um beijinho e uma flor e a seguidora entregou-me uma caneta (que curiosamente se partiu poucos dias depois). Não fiquei convencida. Não havia conteúdo. Informeime...Não encontrei informação decente sobre os candidatos da minha pequena freguesia. Como era

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difícil, não procurei mais, admito. Dirige-me às urnas, votei e saí com um sentimento de insatisfação. Não havia ninguém em particular que eu quisesse no poder. Fui uma dos 54, 97% votantes no país. Mais uma vez, a verdadeira vencedora foi a Abstenção. E, se assumirmos que estes números estão certos (que os cadernos eleitorais estão actualizados), é preocupante. É preocupante que praticamente metade da população votante deixe a decisão sobre os seus representantes nas mãos de outros. E porque fazemos isto? Porque não nos importamos? Porque achamos que a nossa opinião não é válida? Ou porque achamos que nada muda através do nosso voto? Será que nenhum partido ou candidato nos inspira? Caprara, Vecchione e Scwartz (2012), num estudo realizado com eleitores em Itália, identificou várias razões para o acto de não votar. Em primeiro lugar, é referido a baixa escolaridade, que cria uma desigualdade no acesso a recursos e oportunidades e, consequentemente, mais dificuldade em fazer ouvir os seus interesses. Contudo, o acesso a educação também pode levar ao mesmo efeito: os autores hipotetizaram que a maior tendência para o criticismo, potenciada pela educação, pode aumentar o “não voto”, como forma de protesto face às opções de Governo. Outras razões relacionamse ainda com a perda de capacidade dos partidos em mobilizar e motivar os eleitores, uma vez que atualmente as pessoas são menos influenciadas por ideologias políticas. O envolvimento da população mais jovem na vida política tem vindo a decrescer, fruto de outras prioridades ou até mesmo de um sentimento de desconfiança e insatisfação com as instituições democráticas. Contudo, a conclusão mais importante deste estudo está relacionada com a necessidade de as pessoas votarem para afirmar os seus valores. Se a população não se identificar

com nenhum dos candidatos/partidos/ideologias políticas, existe uma maior probabilidade de não participação nas eleições, visto que os seus valores não estão em causa. Vamos abordar a temática através de outro ponto de vista: porque votamos? Blais e Young (1999) defendem que o acto de votar é irracional. Segundo os autores, um ser racional pode concluir que o seu voto é apenas uma ínfima parte do total de votos, não contribuindo para o resultado final. Blais e Young (1999) demonstraram o papel importante do DEVER na decisão de votar. O sentido de ética, de dever social, influencia a decisão podendo conduzir os indivíduos a votar, de uma forma habitual e irreflectida. Este parece ser o meu caso e acredito que muitos de vós se encontram também nesta situação. De qualquer forma, o direito ao voto ou não voto é a expressão de uma nação livre e democrática. É através do voto que o cidadão comum consegue exercer a sua vontade relativamente à sua nação, escolhendo as pessoas que considera mais aptas para governar. É a forma que o indivíduo tem de participar democraticamente no destino do seu país. Não votar pode ser também um acto de rebeldia, de protesto, quando consideramos que nenhum dos candidatos é merecedor de tal poder...No entanto é importante pensarmos que não é por não votarmos que um candidato deixa de subir ao poder. O que pesa mais? P.S.: A candidata do autocarro não venceu, mas ficou em segundo lugar. Eu não votei nela. Texto por Catarina Fernandes

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O início e o final de uma vida académica: Impactos do ingresso no Ensino Superior

Qualquer transição constitui uma situação que coloca desafios, requerendo, na maior parte dos casos, mudanças de comportamento que exigem ao indivíduo a mobilização dos recursos disponíveis, para um melhor ajustamento possível às novas situações ou acontecimentos (Batista Seco et al., 2005). Para os estudantes, a transição e a integração académica colocam algumas exigências, apelando a níveis adequados de autonomia e maturidade para garantir a sua adaptação e sucesso (Soares et al., 2014). Frequentemente, as expetativas iniciais dos alunos nem sempre são realistas e de um modo geral não se cumprem; a saída de casa dos pais e os grupos de pares anteriores nem sempre são compensados pelas novas amizades e os processos de ensino apelam a níveis de autonomia e de auto regulação da aprendizagem que nem todos os jovens adquirem competências para tal (Almeida, 2005). A Teoria da Transição, Schlossberg (citado por Batista Seco et al., 2005), anota que uma situação de

transição surge quando um acontecimento ou a sua ausência, produz mudanças nos relacionamentos, nas rotinas e nos papéis do indivíduo, podendo afetar ou que temos de nós próprios ou do mundo que nos rodeia. Este processo transitivo está associado ao tempo, elemento crucial na adaptação do indivíduo ao ensino superior e, assume diferentes caraterísticas, de modo que é importante como os jovens o perspetivam (Batista Seco, 2005). A título de exemplo de alguns estudos sobre esta temática, a abordagem ecológica de Bronfenbrenner (citado por Batista Seco, 2005) tem sustentado diversas conclusões que apontam para a importância da congruência ecológica entre o estudante e a instituição, enquanto condição necessária para o aumento do nível geral de satisfação do estudante, do seu desempenho académico e do seu desenvolvimento pessoal. Outras investigações reportam para o efeito do sentimento de pertença (belonging), equivalente à perceção de se sentir em casa como consequência de um maior estreitamento

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das relações entre o estudante e os restantes elementos da instituição de ensino superior (Beal e Noel; Banning, citados por Batista Seco, 2005). Refletindo agora para um outro período de transição e, de acordo com Andrade (2010), “ser adulto” definia-se pelo exercício de uma atividade profissional e pela constituição de família. No entanto, existem novos contornos tanto na transição para a idade adulta como no assumir do papel de adulto por parte da população jovem, surgindo o prolongamento dos estudos, a instabilidade profissional e do mercado de trabalho como fatores inibidores (Andrade, 2010). Isto é, as anteriores variáveis afetam os jovens e, particularmente, os jovens licenciados, para os quais frequentemente as expetativas associadas ao investimento na formação académica não correspondem ao mercado de trabalho atual, tanto em termos de estabilidade de emprego, como em termos de estatuto profissional (Elejabeitia, citado por Andrade, 2010). No passado dia 18 de Setembro de 2017, muitos jovens ingressaram, pela primeira vez, no Ensino Superior. Pela mesma altura, outros jovens terminaram este percurso que é uma vida académica e, passados 3 anos (Licenciatura) ou 5 anos (Mestrado) preparam-se para se inserirem no mercado de Trabalho. Entende-se que ambas as faixas etárias trazem consigo expetativas para o percurso que se avizinha. Neste sentido, este artigo pretende, em conversa com alguns destes estudantes e antigos estudantes, averiguar qual o impacto (individual, familiar e social) da transição do Ensino Secundário ou Profissional para o Ensino Superior e, posteriormente, para o Mercado de Trabalho tal como os pensamentos, expetativas e crenças que consigo trazem. Procura também perceber se as expetativas dos jovens que terminaram o Ensino Superior foram correspondidas e se têm sentimentos em comum em relação ao período em que ingressaram a Universidade. Importa salientar que, para a escrita deste artigo considera-se um processo de transição a entrada no Ensino Superior como a saída do mesmo e a procura de um lugar no mercado de trabalho. Aquando conversa com alguns destes estudantes e antigos estudantes, foram colocadas as seguintes questões:

3. Como têm sido os primeiros tempos? Questões para os antigos estudantes do Ensino Superior 1. Agora que terminaste este percurso de 3 ou 5 anos, o que esperas do futuro? 2. O que vai deixar saudades? O que não vai deixar saudades? 3. Este percurso, correspondeu aos teus pensamentos, expetativas e crenças iniciais? 4. Sentes que estás preparado para o que se avizinha? 5. Neste momento estás a sentir o que sentiste à 3 anos/5 anos atrás? Para além destas questões, algumas informações relevantes também foram recolhidas, nomeadamente a idade do jovem, o género, a localidade do estabelecimento do Ensino Superior, o curso no qual tinham ingressado ou terminado e se o mesmo é ou tinha sido a primeira opção. O grupo A (estudantes no 1º ano do Ensino Superior) era constituído por 10 jovens (n=10), tal como o grupo B (antigos estudantes do Ensino Superior, com n=10). De um ponto de vista qualitativo, mais do que quantitativamente, importa salientar alguns resultados que respondem aos objetivos iniciais deste artigo. Antes de apontarmos alguns resultados relevantes, importa sublinhar que todos os alunos do grupo A, tiveram que mudar de localidade para poderem frequentar as aulas. Neste sentido, esta é uma transição comum para estes estudantes, sendo que 5 sujeitos apontam que é um aspeto que tem dificultado a adaptação (“o que custa mais é mesmo a distância”; “para já não está a ser nada fácil”). No entanto, apesar deste tópico ser mencionado como uma dificuldade, os sujeitos apontam aspetos positivos como o facto de estarem a gostar do curso e terem sido bem acolhidos dentro da instituição (“todos acolheram-me bem e gosto muito do curso”). Relativamente aos pensamentos, expetativas e crenças que reportam, destacam-se aspetos relativos ao sucesso académico (n=8), o impacto que um curso superior poderá ter no futuro (n=4), a crença de um aumento de empregabilidade (n=3) e novas amizades (n=1) (“tenho a crença que o mercado de trabalho melhore cada vez mais, de modo a aumentar a empregabilidade”; ”porque é algo que vai ter impacto no meu futuro”; “ser bem sucedida no curso”; “tirar os melhores resultados possíveis”; “criar novas amizades, novas experiências e novas memórias”). De acordo com metade dos sujeitos, os primeiros tempos desta nova etapa não têm sido muito fáceis, justificando que, por exemplo “não há nada que os prepare para as aulas” ou “que nos ajude a organizar melhor”; Por outro lado, a

Questões para estudantes no 1º ano do Ensino Superior 1. Estás a estudar na tua cidade ou tiveste de te deslocar? Se sim, como tem sido esta, que também é uma transição? 2. Quais são os teus pensamentos, expetativas e crenças para esta nova etapa que, acabaste de iniciar?

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uma expetativa para um futuro mais próximo. De acordo com a maioria dos jovens questionados (n=9), o que na vida académica vai deixar mais saudades são o convívio, os amigos, os colegas e “até alguns professores” (“as pessoas principalmente e a vida académica também”; “passava mais tempo com eles do que em casa”; “os laços que se formaram”) e, ainda a “aprendizagem constante”, referenciada por 2 sujeitos. Por outro lado, todos os jovens apontam que não vão sentir falta da pressão geradora de stress dos exames e trabalhos, incluído o trabalho em si e os prazos a cumprir (“não tenho saudades dos exames e dos prazos a cumprir”; “a vida presa por exames”; “noitadas a estudar e a fazer trabalhos”). Para a terceira questão (“Este percurso, correspondeu aos teus pensamentos, expetativas e crenças iniciais?”) os sujeitos dividem-se entre respostas afirmativas (n=3), respostas negativas (n=3) e respostas afirmativas que trouxeram uma superação de expetativas e/ou mudanças de plano inesperadas (n=4) (“superou”; “mais ao menos”; “creio que correu melhor do que esperava”). Abordados pelo sentimento de estarem ou não preparados para “o que se avizinha”, 7 dos 10 sujeitos afirmam que sim, sendo que os outros 3 referem que necessitam mais de “experiência prática”.

outra metade dos sujeitos, ainda que refiram que nos primeiros dias “era um mundo novo” e “uma mistura de emoções”, consideram que a adaptação tem sido positiva na medida em que existe “muito bom ambiente” e entreajuda entre os alunos (“as pessoas são espetaculares”; “o pessoal ajuda em tudo o que pode, inclusive na integração”). Relativamente aos jovens do grupo B curso (n=10), que deixaram de ser estudantes, para ingressar no mercado de trabalho, importa frisar em primeiro lugar, alguns dados que podem ajudar a compreender alguns resultados. Dos 10 jovens questionados, 2 terminaram a licenciatura apenas; 4 sujeitos não tiveram que mudar de localidade para frequentar o ensino superior; e 6 para destes jovens, o curso que agora terminaram era a sua 1ª opção. Para a primeira questão (“Agora que terminaste este percurso de 3 ou 5 anos, o que esperas do futuro?”), todos os jovens mencionaram que pretendem encontrar um lugar profissional na área (“um bom emprego na área”; “arranjar trabalho na área”), demonstrando uma expetativa positiva. Ainda para esta questão, 4 dos 10 sujeitos são mestres em Psicologia e, neste sentido, referem o estágio profissional e o ingresso na ordem, como

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Para a última questão, (“Neste momento estás a sentir o que sentiste à 3 anos/5 anos atrás?”), todos os jovens, de uma modo ou outro, descreveram-se como sentindo-se “diferentes” (“mudaram muito a minha forma de pensar e ser”; “sinto que sou uma pessoa mais preparada para o futuro”).

como um lugar de realização pessoal. Neste sentido podemos dizer que, os jovens questionados no grupo B, mais do que olharem para o curso como fonte de rendimento económico, reconhecem o esforço que o mesmo exigiu e têm como expetativa o lugar profissional na área, como uma linha traçada para o seu futuro. Para concluir e em jeito de mensagem para os alunos que ingressaram recentemente o ensino superior, deixo uma citação de um jovem que respondeu às questões do grupo B, como antigo estudante do ensino superior, com o intuito de os incentivar e minimizar alguns aspetos que considerem negativos para e neste percurso que é a vida académica: “penso que é um processo de auto descoberta que é perfeitamente adaptativo e construtivo”.

Atendendo aos resultados obtidos, podemos afirmar que para os jovens do grupo A, a distância de casa é um fator que dificulta a transição para o ensino superior e a respetiva adaptação. Por outro lado, o interesse e gosto pelo curso e o acolhimento agradável por parte dos colegas, revelam-se aspetos potenciadores da anterior transição e adaptação. Este último aspeto volta a ser referenciado como positivo e catalisador, quando os jovens são questionados acerca dos “primeiros tempos” da sua vida académica. Em relação às expetativas, pensamentos e crenças, podemos dizer que são positivas no sentido em que esperam um bom rendimento académico, relacionando-o com o impacto que poderá ter nos seus futuros profissionais. De acordo com os resultados do grupo B, a leitura que podemos fazer é de que, as expetativas estão direcionadas para um lugar laboral na área, sendo que a maioria dos jovens sente-se “preparado para o que se avizinha”. Os amigos, os colegas e o convívio em geral, são referenciados como o que deixaram para trás neste percurso e o que deixará mais saudades e, os exames, os trabalhos, e os prazos a cumprir, são fatores dos quais os jovens não terão saudades. Relativamente à correspondência deste percurso, em jeito de reflexão, das expetativas iniciais que tinham, existe uma dispersão das respostas, das afirmativas para as negativas. Ainda existem algumas considerações que importa salientar. Em primeiro lugar e, segundo diversos autores, a integração de um jovem no Ensino Superior é um processo progressivo de adaptação, multidimensional e complexo, fortemente dependente de fatores pessoais, tais como a autoconfiança e a perceção de competência social, e fatores contextuais, tais com o relacionamento com os colegas, envolvimento vocacional (Soares et al., 2014) e, ainda o suporte social (Batista Seco, 2005). Nesta linha de pensamento, entendemos que existem diversos fatores e variáveis a ter em conta neste processo e no seguinte processo que também é uma transição, referenciados tanto pelo grupo A como pelo grupo B. Em segundo lugar e para os jovens que agora pretendem ingressar no mercado de trabalho, de acordo com Arnett e Tanner (citados por Andrade, 2010) a atividade laboral é atualmente percecionada por estes não apenas como uma tarefa que lhes deve permitir a autonomia económica, mas também

Texto por Auni Ketan

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“Falta cumprir-se os participantes”

(...)”Falta cumprir-se Portugal”, referia Fernando Pessoa na sua obra, Mensagem. A verdade é que ainda hoje se “falta cumprir” muitos predicados em Portugal, a vários níveis, nomeadamente o campo da investigação. As ideias inovadoras devem ser aproveitadas. Até aquelas que possam parecer mais estapafúrdias, podem permitir a produção de conhecimento. Confuso? Efetivamente, é pensando naquilo que ainda não se pensou, debatendo aquilo que ainda não se debateu que podem surgir estudos e conclusões inusitadas, importantes para uma melhor compreensão do que e de quem nos rodeia. Tomemos como exemplo: Muitas vezes, podemos ser auxiliares de investigação, embarcando em ideias de estudo de outros, cujo financiamento é fornecido por Universidades ou Fundações, como a Fundação Francisco Manuel dos Santos (https://www.ffms. pt/) ou até o Conselho Europeu de Investigação (http://www.eurocid.pt). Mas podemos igualmente deter um papel principal, enquanto investigadores.

Sabe-se que as dissertações de mestrado realizadas para finalização do Mestrado Integrado são um bom exemplo de primeiro contacto com o mundo da investigação em Psicologia. Nestes casos, com o auxílio de um orientador, os alunos são semi-autónomos no delineamento do caminho a percorrer para cumprirem os diversos passos da metodologia de investigação. No caso de serem pessoas mesmo “fora da caixa” (espero que sim!) podem sempre tentar conversar com os vossos professores de faculdade/colegas/conhecidos (vale tudo!) que estejam ativamente ligados ao mundo das publicações em revistas científicas que certamente saberão ajudar-vos em como prosseguir com a vossa ideia avante. Notas importantes neste caminho: Não tenham vergonha! Afinal: - Quem não arrisca, não petisca! - Quem espera sempre alcança. É, no entanto, importante considerar que para propor um tema para investigar, deve cumprir-se uma determinada linha investigativa. É essencial

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ler e manter-se atualizado sobre os temas em Psicologia, desenvolver um pensamento crítico e até descobrir as pontas soltas. Mediante o tema, realizar uma pesquisa sistemática e efetuar uma revisão de literatura que permita definir objetivos de investigação e colocar hipóteses de investigação e/ou questões de investigação. Uma vez reunidas estas condições, são necessárias pessoas para testar as hipóteses. E se anteriormente mencionava que os investigadores têm um papel principal, a verdade é que arranjar participantes, a denominada amostra de estudo, é um dos papéis mais cruciais (e por vezes difíceis) e sem eles...bom sem eles, nada de investigação...Nada de análise fatorial exploratória ou confirmatória, nada de resultados, nada de discussão de resultados, nada de saber se as hipóteses se confirmam, nada de conclusões e muito pouco relativamente a questões futuras. Parece que o protagonismo de uma investigação em Psicologia é então dividido. E se pode parecer muito fácil angariar participantes, pois, não é. Dependendo do tema em investigação, existem certos critérios/ requisitos que restringem a amostra. Consoante os objetivos de investigação, podem ser necessários questionários longos e aborrecidos ou focus group que obrigam os participantes a despender tempo que não têm. Por essa razão, criam-se incentivos à participação que são realmente um boost de motivação extrínseca, tais como: - Entrega de vales ou cartão presente (muitas das vezes válidos em lojas seleccionadas, restauração ou grandes hipermercados). - Sorteio de prémios maiores, como telemóveis ou máquinas fotográficas. - Créditos a uma determinada disciplina - Etc. Parecem-me realmente vantagens, especialmente para quem é estudante! Por isso, e se esta temática te despertou o bichinho da investigação, deves inscrever-te, por exemplo nestes sites. (São-te solicitados breves dados e consoante encaixes no perfil daquela investigação, és chamado(a)). -http://www.cis.iscte -iul.pt/LapsoVolunteer. aspx?Lang=pt (Participante voluntário no ISCTE) -http://psiestudos.ispa.pt/psiestudos/public/ (Participante voluntário no ISPA) -http://psicexplab.fp.ul.pt//public/ (Participante voluntário na FPUL) Além disso, podes participar inúmeras vezes. Existem sempre vários estudos a decorrer, e uma vez na pool de participantes, podes ser chamado novamente. Alguns estudos podem ser online, outros presenciais. Em todos, te é entregue um

Consentimento Informado (a explicar as condições do estudo, ficando uma cópia assinada para ti e outro para o investigador). Uma vez concordando com o explicitado, prossegues com o estudo. Se em algum momento não sentires que ali devas estar, a interrupção é voluntária e sem prejuízo para o participante. Por isso experimenta por ti e descobre as vantagens! Conheces mais plataformas do que as mencionadas, como participantes voluntários de Psicologia? Informa-nos! E lembra-te … “Falta cumprir-se Ciência, falta cumprir-se participantes!” Texto por Nádine Amaro

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Literacia Emocional para Crianças

Quem é que põe sal nas lágrimas? Porque é que às vezes ficamos com a cara vermelha? Porque é que choramos quando estamos tristes? são exemplos de perguntas que as crianças fazem frequentemente e que nos obrigam a falar sobre emoções. A tristeza, a alegria, o medo, a repulsa e a raiva são, segundo extensa evidência empírica, as cinco emoções básicas, isto é, de característica universal, sendo mesmo inatas. Desta forma, quer nos encontremos no Sudoeste Asiático, na Europa ou na África Ocidental, todos nós choramos, rimos ou expressamos medo através de uma fisionomia facial muito semelhante e, ao mesmo tempo, característica de cada emoção. Assim, estas emoções são invariáveis consoante raça, cultura ou sociedade. Por outro lado, para além das emoções básicas, existem as chamadas emoções secundárias, compostas por duas ou mais emoções básicas (ex: a culpa e a vergonha). Quantas crianças não sentem vergonha quando são expostas em público ou a falar com familiares desconhecidos? Posto isto, e dada a universalidade de algumas

emoções, a frequência com que ocorrem e a função que desempenham, penso que seja de elevada pertinência que se eduquem emocionalmente as crianças, quer nas suas casas e espaços habituais, quer em contexto escolar. Mas antes de vos falar sobre o que é isto de literacia emocional, falar-vos-ei sobre a funcionalidade das emoções. Neste sentido, muitas vezes é complicado para os pais, cuidadores e educadores explicarem às crianças o que são as emoções e para que servem. Face a um dia complicado no trabalho, um filho poderá perguntar à sua mãe, ao vê-la cabisbaixa no sofá “Porque é que estás triste, mãe?” E o que é isto da tristeza? O humor? Os estados de espírito? Os sentimentos? Os afetos? Tantas palavras, distintas, embora comumente equivalentes na gíria. Para Batson, Shaw e Oleson (1992), o afeto distingue vários sentimentos com valência (positiva ou negativa), isto é, as emoções e os estados de espírito (ou mood). Falemos de emoções. Segundo Frijda (1994) as emoções são pontuais, têm um objeto bem

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definido e, ao qual se dirige, permitindo direcionar o sentir para o exterior. Têm uma natureza discreta. Porque é que ficamos tristes, de vez em quando, em qualquer altura difícil da nossa vida? A palavra emoção, tal como o estado de espírito, é uma das duas categorias do que chamamos “sentimentos afetivos”. Provém do latim emovere que significa “pôr em movimento”, “mover para fora”. De facto, é essa uma das funções da emoção, já implícita na sua etimologia – levar à ação. Imaginemo-nos sozinhos na floresta. Estamos a acampar. Sem esperarmos, vemos um urso à nossa frente. Qual é a nossa reação? Temos duas soluções, como nos indica a conhecida expressão da biologia: fight ou flight, isto é, luta ou fuga. O que imagina o leitor perante este cenário? Muito medo, especulo eu. Face a este cenário, de facto, assustador, a emoção medo informa-nos de duas possibilidades de ação distintas: lutar ou fugir. No entanto, esta é apenas uma das várias funções das emoções. A emoção sintoniza-nos. É um excelente informador. Saber que estamos tristes ou irritados informa-nos que as nossas necessidades não estão satisfeitas. A tristeza, a raiva e as demais emoções dão-nos informações sobre o que precisamos, aumentam a nossa consciência sobre o que se passa connosco e à nossa volta e, além de tudo isto, são um poderoso instinto de sobrevivência. Já imaginou o leitor o que aconteceria se não sentisse medo perante uma situação potencialmente fatal? Se se debruçasse sobre um precipício e não tivesse consciência do que poderia acontecer se se desequilibrar e cair? Aumentaria em flecha a probabilidade de vir a sofrer um acidente e pôr em risco a sua vida. Até aqui sabemos que a emoção é um alerta poderoso e um importantíssimo auxílio aos nossos recursos e instintos de sobrevivência. Mas pensemos por exemplo na tristeza e na alegria. O bebé desde o seu nascimento reconhece o rosto e o sorriso da sua mãe. E chora quando quer informar os seus pais de que tem dores, fome ou sede. Esta é outra das funções básicas das emoções: um potente guia para alcançar os nossos objetivos. Greenberg (2014) informa-nos ainda que “as emoções são fundamentalmente adaptativas na sua natureza” (p. 50). Para além disto, as emoções são eficientes avaliadores, avaliando de forma rápida e automática diversas situações, para que de forma eficaz, nos assegurem do nosso bemestar. Desta forma, as emoções guiam as pessoas em direção a comportamentos adaptativos, ou seja, vão ao encontro das nossas necessidades básicas de sobrevivência, como no caso do urso, ou outro tipo de necessidades como aceitação, formação de uma identidade ou vinculação. Na perspetiva de Leslie Greenberg as emoções ocupam uma posição central, dando o nome à Terapia de que é autor - a

Terapia Focada nas Emoções (TFE), tendo como principal pressuposto, segundo Greenberg (2014), que: “as emoções são essencialmente adaptativas, apesar de, por variadas razões, poderem tornar-se problemáticas: por traumas do passado, por défice de competências (por exemplo, nunca se aprendeu a simbolizar as emoções na consciência, ou aprendeuse a ignorá-las ou negá-las) ou por evitamento das emoções (por medo do seu impacto no self ou nos outros)” (p. 24) Não pretendendo com este artigo aprofundar demasiado os princípios da TFE, são exatamente o défice de competências e o evitamento das emoções, abordadas por Greenberg, que a literacia emocional para as crianças pretende combater. Quantas vezes todos nós já não ouvimos a expressão “Um homem não chora”? Greenberg (citado por Greenberg, 2014) indica que a TFE se destina a ajudar os pacientes a desenvolverem a sua literacia emocional e a sua inteligência emocional, isto porque, “o evitamento das emoções rouba às pessoas parte da sua inteligência já que as emoções revelam o que é importante para elas em determinada situação e orienta-as nos comportamentos necessários para obterem o que precisam ou desejam” (p. 24). Mas quais os benefícios da literacia emocional e o que implica? O que significa ser-se competente emocionalmente? Para Greenberg (2014) existem várias vantagens. Por um lado, ao sermos competentes do ponto de vista das nossas emoções, temos acesso e consciência do que sentimos, ou seja, à nossa experiência emocional. Conseguimos identificar e diferenciar a emoção que estamos a sentir e o grau de profundidade em que a sentimos, por exemplo, quando uma paciente deprimida diz ao seu terapeuta “Estou profundamente triste há anos”. Por outro lado, para além de as simbolizarmos e diferenciarmos, desenvolvemos a capacidade de regular e transformar as emoções desadaptativas (ex: o ressentimento em tristeza). Por último, é permitido ao paciente construir e desenvolver narrativas identitárias positivas. Segundo a página web Treino Inteligência Emocional (2017), o conceito de Inteligência Emocional é a base de todo o nosso desenvolvimento enquanto pessoas, sendo inteligentes com as nossas emoções, reconhecendo as nossas emoções e as dos outros e tendo a capacidade de gerirmos tanto as nossas emoções, como as emoções dos que nos rodeiam. De facto, o objetivo maior da literacia emocional para crianças é tornar crianças cada vez mais inteligentes emocionalmente, a partir do presente e preparandoas para o futuro. O autor que mais expandiu o conceito ao conhecimento mundial é o psicólogo norte-americano Daniel Goleman, com variados livros escritos sobre a Inteligência Emocional e

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Dentro para Fora: Como Nasce a Empatia”, que ocorreu no ISCTE – Instituto Universitário de Lisboa. Estas iniciativas têm permitido aos alunos do jardimescola estar mais conscientes das suas emoções, identificá-las e geri-las, assim como, “olhar para o outro e perceber o que se está a passar”, como indica uma das psicólogas da Escola das Emoções. Citando o seu website, a Escola das Emoções (2017) “é uma associação sem fins lucrativos formalizada em Março de 2014, com o objetivo de informar e divulgar a importância da educação emocional nas crianças, famílias e organizações”. Mais se informa, que a missão desta associação, passo a citar, é “promover a educação emocional nas famílias e organizações, ensinando comportamentos e emoções através do conhecimento do nosso corpo e da génese das nossas emoções”. Para além de outros parceiros esta associação conta com o apoio da Câmara Municipal de Leiria. Relativamente à parceria da Escola das Emoções e do jardim-escola João de Deus em atividades de educação/literacia emocional, o resultado inerente ao primeiro ano de aplicação da literacia emocional às crianças demonstrou que existiam “menos medos,

traduzidos em vários países, nomeadamente em Portugal, como “Inteligência Emocional”, “Trabalhar com a Inteligência Emocional” e “Os Novos Líderes – A Inteligência Emocional nas Organizações”, disponíveis nas livrarias nacionais. O conhecimento do que se faz e dos benefícios inerentes à literacia emocional para crianças tornase mais fácil conhecendo a história e as atividades desenvolvidas em escolas onde já se falou de emoções às crianças com idades compreendidas entre os 4 e os 9 anos. É o caso do jardim-escola João de Deus, em Leiria, como noticia o jornal Público (2017) “Eles têm aulas sobre emoções e passaram a zangar-se menos”. Citando a notícia do referido jornal, a diretora da escola onde já foi implementado este sistema, Vera Sebastião, acredita que “esta é também uma forma de prevenir problemas na infância e na adolescência”. Este projeto, desenvolvido há quase dois anos, com a parceria da Escola das Emoções, criada em 2014, tem levado ao desenvolvimento de dois congressos sobre Educação Emocional, um no ano de 2016, intitulado “Como Crescemos por Dentro?” organizado no Instituto Politécnico de Leiria e outro em Maio deste ano, de nome “De

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regulado e pensado. As emoções são nos úteis e permitem com a ajuda da razão, tornarem-nos mais inteligentes, mais competentes e preparados para o futuro. É essa a principal premissa da literacia/ educação emocional para crianças. Educar as crianças e alertá-las para as emoções é educá-las ao longo do seu desenvolvimento para a assertividade, o aumento da auto-estima, diminuição da ansiedade e um apoio desenvolvimental para que, mais tarde, estas crianças tomem as melhores decisões em função das suas necessidades. Por outro lado, a literacia emocional constitui-se como um nível primário de prevenção e intervenção precoces, na medida em que, nas suas áreas de atuação, é um excelente aliado na prevenção e alerta para os mais diversos problemas infantis e juvenis que têm como possíveis indicadores isolamento social, alterações de humor e alteração no arousal e no tipo de emoções experienciadas, como por exemplo, problemas de comportamento, ansiedade, perturbação de hiperatividade e défice de atenção, depressão, ideação suicida ou casos igualmente graves e atuais como o bullying, o cyberbullying e adição ao jogo/novas tecnologias, consideradas áreas emergentes da psicologia. Nesse

menos birras e maior controlo da agressividade” (Público, 2017). De facto, a literacia emocional pode ter enormes benefícios a nível do bemestar das crianças. A aprendizagem das emoções, ao acompanhar o desenvolvimento cognitivo da criança irá torná-las mais competentes a nível emocional e social, o que apenas traz benefícios nas suas relações familiares e com os seus amigos. Ao estarem atentos às emoções, estas crianças estão, não só, mais competentes para perceber se um amigo se encontra triste ou identificar a sua tristeza ou frustração quando, por exemplo, os seus pais não lhe compram o seu brinquedo preferido, conforme era seu desejo. Todas estas competências se irão revelar fundamentais para um desenvolvimento normativo da criança e para um futuro mais adaptativo e equilibrado. Quantas discussões familiares começam com a birra de uma criança? A dificuldade de ouvir um não? Quantas crianças intolerantes a um não e a um sentimento generalizado de frustração não se sentem ansiosas? E quantos pais fazem uso dos tablets e de outros equipamentos eletrónicos para gerir o silêncio à hora da refeição e evitar gritos e choros? De facto, as emoções são o nosso mundo. E um mundo que deve ser muito bem gerido,

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sentido, acrescento ainda que a literacia emocional poderia ser, muitas vezes, um método preventivo da criminalidade juvenil, que continua a aumentar nos dias de hoje, tendo em conta que os seres humanos, numa perspetiva construtivista, têm a capacidade de se auto-regular, de se co-construir e o ensino para as emoções em tenra idade poderia modelar a escolha de melhores opções ao longo dos vários ciclos de vida. Nesta perspetiva, considero que educar para as emoções deveria ser tido em conta, e constituído como um método auxiliar tanto nos planos curriculares das escolas, como em formações para pais e educadores que lidam todos os dias com estas crianças. Neste ponto, aplaudo a iniciativa da Disney Pixar ao criar um filme de animação didático não só para as crianças como para as suas famílias – Divertidamente – que de forma divertida, como o nome indica, explica às crianças e a todos os que assistem o filme, o propósito e utilidade das emoções na vida de uma criança, face a uma situação potencialmente ansiógena – mudar de casa e deixar para trás todos os seus amigos. Vejamos ainda o caso da Escola da Ponte, fundada por José Ponte, mestre em Educação da Criança

pela Universidade do Porto e defensor de uma reestruturação profunda do sistema de ensino. Em entrevista ao Observador, em 2016, José Pacheco defende “A aprendizagem acontece quando há um vínculo afetivo entre quem supostamente ensina e quem supostamente aprende” (Observador, 2016). A escola da Ponte, situada em Santo Tirso, é uma escola onde não há ciclos de ensino, nem turmas, nem testes. O objetivo é que todos aprendam, atinjam as suas metas de acordo com as suas motivações e necessidades. Neste caso, motivação e emoção estão de braço dado e são a deixa ideal para uma pergunta que faz jus a um livro do psicólogo e psicanalista Eduardo Sá: “Porque é que os bons alunos não tiram sempre boas notas?” como nos indica o jornal Público (2014), que lança, de imediato, a pergunta: “Porque é que não gostam as crianças da escola?”. É preciso repensar o sistema de ensino, a revisão curricular, a formação de professores e criar uma maior empatia entre os dois intervenientes. Com este fim, já existem até escolas que apostam na meditação para acalmar as crianças e aumentar a sua concentração. É o caso da Escola Básica de Vigia, no concelho de Vagos e outras escolas no distrito de Aveiro, como noticia o Diário de Notícias (2016). Com a meditação, uma

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aluna indica sentir-se “menos nervosa, mais serena e tranquila”. Seguindo o exemplo, mais projetos na área da meditação em contexto escolar têm vindo a ser desenvolvidos. O certo é que está a aumentar a importância que se dá às emoções, às técnicas de relaxamento, à meditação ou mesmo às terapias de 3ª geração, como é o caso do Mindfulness, o que representa um acréscimo atencional ao bem-estar e à saúde em todos os seus pilares, desde tenra idade até idades mais avançadas, numa perspetiva inclusiva e integrativa. Saúde de todos e para todos. Neste sentido, o bastonário da Ordem dos Psicólogos alerta para a necessidade da contratação de mais psicólogos nas escolas, seguindo-se o lema “uma escola para melhorar de vida” conforme indica a revista Sábado (2017). Francisco Miranda Rodrigues remata “criaremos escolas mais saudáveis para o crescimento dos nossos cidadãos de amanhã, cidadãos mais participativos e resilientes, mais preparados para lidar com as dificuldades que todos acabamos por ter que enfrentar”, afirmando ser isto apenas possível com a contribuição de uma equipa multidisciplinar, contando com a participação de psicólogos, que “esperam, ainda hoje, por uma contratação sucessivamente prometida”, diz o

bastonário. No entanto, esperam-se medidas que deem resposta e tragam soluções às lacunas existentes, dados os benefícios da literacia emocional para os mais pequenos. Assim, educar as crianças para as emoções, não só em contexto escolar, mas tanto na escola como em casa e em atividades integradas na sua comunidade é educá-las para um futuro com mais oportunidades de decisão, capacitá-las para desenvolverem um mundo com maior empatia entre todos e dotá-las de respeito pelo próximo, na certeza de que olhar para as emoções, saber regulálas, geri-las e dar-lhes atenção é olhar para a saúde de todos nós e é tornar as crianças de hoje, jovens e adultos mais saudáveis e felizes. Texto por Ana Aleixo

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O trabalhador: uma perspectiva histórica

Desde que o Homem começou a viver em sociedade começou a criar ligações. Familiares, profissionais, relações onde existe uma interação bilateral, ambos dão e ambos recebem. Em algumas destas relações ambos os indivíduos contribuem da mesma forma e têm um papel semelhante. Noutras relações apesar de existirem duas partes a contribuir, estas fazem-nas de uma forma diferente. Com o florescer da sociedade começaram a criarse vários papéis, necessários para acompanhar a mudança, um deles foi o de empregado e o de empregador. No dicionário define-se empregador como aquele que emprega, que dá emprego, que é o director de uma empresa quando comparado com os empregados. Por sua vez, empregado é definido como a pessoa que exerce um emprego. Esta distinção de papéis tornou-se mais clara durante a Revolução Industrial. Esta revolução (século XVIII) caracterizouse pelo enorme crescimento e inovação tecnológica nos transportes e máquinas, revolucionando a forma

de produzir, ao mesmo tempo que gerava milhares de desempregados, acelerava o ritmo de produção. As fábricas começaram a surgir, e apesar de existirem um grande número de máquinas, os trabalhadores humanos continuavam a ser necessários. No entanto, estas fábricas iniciais não tinham as melhores condições: eram pouco iluminadas, abafadas e sujas. Os salários recebidos eram muito baixos e o trabalho infantil (masculino e feminino) era a norma. Eventualmente os trabalhadores criaram as versões iniciais dos sindicatos, cujo objectivo era melhorar as condições de trabalho. Nos meados do século XIX, Frederick Taylor desenvolveu uma teoria criada a partir da observação dos trabalhadores nas indústrias (Taylorismo). Taylor propôs a ideia de que ao simplificar e optimizar as tarefas, a produtividade iria aumentar. Desta forma, defendia que os trabalhadores deveriam ser categorizados de uma forma hierarquizada e com funções e competências definidas, ou seja, dentro de uma indústria cada trabalhador teria uma actividade

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específica. Assim, no Taylorismo o trabalhador é monitorizado segundo os tempos de produção, o objectivo é cumprir o maior número de objectivos no espaço mais curto de tempo, onde os premiados, monetariamente, são os que se sobressaem – quanto mais produzissem mais recebiam. Outra inovação nesta teoria foi o facto de Taylor defender que os trabalhadores e os gerentes deveriam trabalhar em conjunto, o que até então nunca se tinha realizado. Devido a vários estudos que Taylor realizou, chegou à conclusão que existiam pessoas com mais competências para desempenhar determinados tipos e actividades do que outras, o que significava que selecionar o tipo de indivíduo para determinada tarefa também iria influenciar a produtividade. Dando seguimento a algumas das ideias de Taylor, Henry Ford desenvolveu também o seu método de trabalho baseado numa linha de montagem, que seria propícia para produção em massa. Este modelo de trabalho que surgiu no século XX viria a ser conhecido como Fordismo, estando associado ao crescimento económico e ao consumo em massa (Jessop). Neste modelo o trabalhador era visto como mais uma parte da linha de montagem, onde desempenhava apenas uma tarefa de forma repetitiva. E para este modelo os trabalhadores eram facilmente substituíveis, cada empregado tinha exatamente uma tarefa, e não se desviava dela minimamente. A natureza deste trabalho era extremamente repetitiva, exigente, requeria altos níveis de concentração e era extremamente aborrecida. Devido a estas características havia altos níveis de turnover. Ford tinha a opinião que o trabalhador só cumpria as suas funções pelo salário que recebia e o medo de perder o emprego (Thompson). Tanto o Taylorismo com o Fordismo contribuíram de certa forma para o avanço da economia e da forma como o trabalhador é visto. Apesar de nos dias de hoje ainda podermos ver algumas destas ideias a serem implementadas no mercado de trabalho, a forma como o trabalhador é visto não é a mesma. Nos dias de hoje as empresas reconhecem que é importante que o trabalhador esteja satisfeito com as tarefas que desempenha, e que a forma como este se sente irá influenciar diretamente a sua produtividade e o empenho de na forma como realizam as suas tarefas. Nos últimos tempos as políticas das empresas têm vindo a mudar, o reconhecimento das necessidades do trabalhador, tanto a nível profissional como a nível pessoal, tem vido a originar um novo conjunto de políticas, como a oferta de formação, a possibilidade de trabalhar a partir de casa, a parceria da empresa com outros prestadores de serviços.

A própria gestão das empresas também têm mostrado esta nova realidade, apesar de ainda existirem hierarquias estas podem ser mais flexíveis e os supervisores e gestores terem uma maior relação com os empregados tendo em conta as políticas de gestão da própria empresa. A forma como o empregado tem sido percepcionado tem mudado muito ao longo da história, acompanhado os avanços tecnológicos e económicos da sociedade. Não sendo esta estática e sempre em constante evolução, também a forma como o trabalhador é interpretado continuará a mudar e a evoluir. Texto por Patrícia Martins

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A Árvore da Psicologia Social

É da sabedoria tradicional que um potro pode trotar logo a seguir ao nascimento ou que os gatos deixam as mães para ir à procura de alimento com poucas semanas de vida. Por outro lado, se compararmos o ser humano com outros animais, é constatável que nós nascemos precoces. É com base no contexto Histórico da evolução humana que Harari (2017) realça que não conseguimos sobreviver sem estarmos em contacto com outros seres humanos durante os primeiros anos de vida. Deste modo, a evolução proporcionou ao ser humano ser extremamente dotado de capacidades sociais, criando laços fortes e formando tribos. Dentro destas, os familiares e vizinhos auxiliavam as mães, para que as mesmas garantissem a sobrevivência dos filhos, realçando a interação (Harari, 2017). Assim, com base na história da humanidade, é ousado e tentador afirmar que as interações sociais não são a fonte mas sim a sustentabilidade da evolução humana. Compreende-las é um dos focos da Psicologia Social. A Psicologia Social é, ainda nos dias de hoje, uma

ciência emergente que surgiu no séc. XX. Os autores Cerclé & Somat no seu livro Manual de Psicologia Social utilizam a definição de Gergen e Gergen (1999) para interpretar esta ciência como “uma disciplina em que se estuda de forma sistemática as interações humanas e os seus fundamentos psicológicos”. Ao analisar a sociedade, a psicologia social foca o seu estudo no comportamento do indivíduo enquanto comportamento social. É inegável que o contexto onde o indivíduo se insere é um fator relevante para entendermos os seus comportamentos. Tomemos como exemplo o estudo das atitudes feito por esta área da Psicologia. O resultado das atitudes dos indivíduos são particularidades de uma adaptação ao contexto. A título de exemplo, quando a nossa equipa de futebol ganha expressamos felicidade ou, quando um estudante tira boas notas floresce dentro dele o sentimento de orgulho, pelo esforço dedicado naquela disciplina. É suposto ser assim. E tudo isto resulta porque, nós, indivíduos, inseridos num sistema complexo,

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somos influenciados pelas mesmas crenças, valores e princípios. São constructos psicológicos que permitem a coesão social, por base na influência social (Lane, 2017). Voltando ao exemplo do recém nascido: desde o início da sua formação que o embrião é influenciado, e esta influência é a metáfora de uma mãe extremamente cuidadosa, que ao expressar-se, destina-lhe valores, crenças e, até mesmo, o amor de mãe. A influência social desperta curiosidade na psicologia social, com o propósito de explicar a necessidade dos indivíduos viverem em sociedades complexas e organizadas, por leis gerais e crenças. Efetivamente, as leis gerais da psicologia afirmam que o grupo social é um facilitador de aprendizagem, tendo a linguagem como um dos principais exemplos. Em casos radicais, podemos dizer que é o nosso instinto de sobrevivência que nos faz viver em sociedade, visto que o aumento da cooperação significa também um progresso nas probabilidades do Homo Sapiens sobreviver. Do mesmo modo, é de conhecimento comum que sobrevivemos por diversos fatores. Um deles é porque conseguimos dar continuidade à reprodução. E por sua vez, a reprodução dá origem a um novo ser humano, necessitando este de outras pessoas para conseguir sobreviver. É o ciclo que nos rodeia que define o grupo social. O primeiro de todos é a Família (Lane, 2017). À medida que o indivíduo se desenvolve e se matura, cria a sua individualidade, conhece novas pessoas, viaja para diferentes locais, entra em contacto com novas cultura, aproxima-se do propósito de Vida do ser social que é. A Vida, entre muitas perceções que podemos ter sobre ela, é um conjunto de interações e, em grupo, o indivíduo começa a desenvolver a sua identidade. É a experiência pessoal, originada pelas interações, que arquiteta uma parte essencial do Self. Até parece simplista esta lógica, visto que cada um pode ver a mesma imagem, objeto, ou situação, tendo a capacidade de a/o pensar e compreender como sendo diferente. Goleman (2014) no seu livro Foco realça a sensibilidade social como um dos aspetos essenciais para fazer a diferença ao convivermos com o outro. Para este autor, entender o contexto, também permite ao indivíduo entender certos indícios sociais que irão auxiliar o seu comportamento. No seguimento deste raciocínio, o indivíduo constrói ferramentas que o possibilita interpretar e considerar que é necessário desenvolver empatia com o próximo. Ter a habilidade de identificar e compreender os seus sentimentos é, no sentido social da palavra, criar uma relação com o outro. A relação com o outro é essencial para todos nós, tal como defendido por autores como Argyle (1969).

Este autor vai mais longe que os anteriores e aponta até que os nossos pensamentos e a nossa autoestima derivam, predominantemente, da opinião que os outros têm sobre nós. Assim, o papel da Psicologia é essencial para que, ao longo da história, se encontrem respostas sobre a evolução psicológica da humanidade na sociedade. Entender certos comportamentos, a sua origem, e os seus resultados na sociedade, pode ser um indicador essencial para permitir ao ser humano continuar a evoluir. E, entre outras possíveis apreciações, focar no que por norma ambicionamos, a sustentabilidade da espécie humana.

Texto por David Costa Almeida

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