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Março 2018 | Edição nº9 Distribuição Digital e Gratuita

Rubrica Psicólogos com opinião O (meu) passado e futuro da psicoterapia por João Ferreira

Cyberdependências Quando a Internet é a nossa melhor amiga Resiliência A evolução da investigação 1


Editorial Caros leitores, trazemo-vos mais uma edição repleta de temas diversos e atuais. Para além disso, desta vez contamos com uma novidade: Presentea-mo-vos com a nova rúbrica da autoria de um psicólogo de várias viagens nesta aventura que é a Psicologia. Não percam! Psisaudações Maria João Fangaia

Ana Aleixo

Auni Dwarkadas

Catarina Fernandes

Maria João Fangaia

Nadine Amaro

Patrícia Martins

Para mais informações ou sugestões podem contactar: editorial.rup@gmail.com Editora Maria João Fangaia Designer Catarina Damas /// ISSN: 108/2015///Interdita a reprodução parcial ou total dos textos, fotografias ou ilustrações sobre quaisquer meios e para quaisquer fins sem previa autorização escrita da Administração da RUP/ANEP//// Editora: Maria João Fangaia ///// Administradora: Adriana Bugalho ///// Director da Comissão de Revisão Cientifica: Tiago Fonseca ///// Periodicidade: Trimestral ///// Produção: Organismo Autónomo Revista Universitária de Psicologia da Associação Nacional de Estudantes de Psicologia ///// Propriedade: Associação Nacional de Estudantes de Psicologia – ANEP ////// Associação Nacional de Estudantes de Psicologia - ANEP ///// Faculdade de Psicologia //////////Alameda da Universidade ///// 1649-013 Lisboa ///// Portugal /////// Revista Universitária de Psicologia da Associação Nacional de Estudantes de Psicologia - RUP/ANEP ///// 3000

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Conteúdos

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Editorial

Agenda

Cyberdependência Quando a Internet é a nossa melhor amiga

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Resiliência: A Evolução da Investigação

Exercício físico – Treinar o corpo…E fortalecer a mente

Relações do futuro

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Esta é uma história real O Síndrome do Peter Pan

Psicólogos com opinião: O (meu) passado e futuro da psicoterapia por João Ferreira

Bibliografia

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Agenda 18|19 ABR 9.º Congresso Internacional de Psicologia da Criança e do Adolescente Auditórios ULL – Universidade Lusíada de Lisboa 10€

19|20|21 ABR XIII Congresso S. João de Deus: “Psiquiatria e Saúde Mental 100 (sem) tabus” Auditório da Escola Superior de Tecnologia de Saúde de Lisboa 40€

20|21 ABR XVII Simpósio da Sociedade Portuguesa de Suicidologia: “Prevenção do suicídio e comportamentos autolesivos – Novos desafios” Hotel dos Templários - Tomar 30€

21 ABR Seminário: “Autismo: Da infância à idade adulta” Espaço Amoreiras – Lisboa 40€

7|8|9 MAI IX Congresso Internacional: “História da Loucura, Psiquiatria e Saúde Mental” Coimbra 30€

10|11 MAI 1.º Congresso Nacional de PHDA - Perturbação de Hiperactividade e Défice de Atenção Auditório da Faculdade de Ciências e Tecnologias da Universidade de Coimbra 49€

17|18 MAI Encontro de Adições de Cascais 2018: “Da Investigação à Intervenção: Perspectivas Atuais” Casa das Histórias Paula Rego - Cascais 20€

24 MAI IX Simpósio sobre comportamento organizacional Instituto Politécnico de Tomar Sem preço fixado

27|28|29 MAI Ageing congress 2018 - Congresso Internacional Sobre o Envelhecimento Instituto Superior de Contabilidade e Administração de Coimbra 50€

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Cyberdependências Quando a Internet é a nossa melhor amiga Estás on? Sim? então, talvez, possamos conversar. Tens acesso a este texto porque estás ligado/a à internet, a rede que nos liga a todos. Gostava de começar esta conversa com uma pergunta simples, para refletires: Quantas vezes por dia acedes à internet, quer seja através do teu computador, telemóvel, tablet ou outros dispositivos eletrónicos? Talvez seja difícil responder a esta questão. E hoje, quantas vezes já usaste? Talvez nem sequer te lembres. De facto, vivemos num mundo virtual. Satisfazemos muitas das nossas necessidades diárias através de uma simples e rápida ligação à internet. Falamos com os nossos amigos, lemos notícias, pesquisamos restaurantes onde se come bem e destinos para marcarmos a nossa próxima viagem, entre outras coisas. Nos dias em que vivemos é difícil parar para pensar que os nossos pais viveram grande parte das suas vidas sem ter acesso aos dispositivos que utilizamos e, claro, sem acesso à internet. E a vida que vivemos é ainda mais distante da vida que levaram os nossos avós. Lanço-vos mais

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um desafio: Já pensaram em ter um computador, um tablet ou um telemóvel sem acesso à internet? Todos nós provavelmente já passámos dias sem saldo no telemóvel. Hoje em dia, esgotar os dados móveis pode parecer um pesadelo...Valha-nos a wi-fi! Estamos permanentemente ligados. Procuramos o Outro frequentemente, através de posts no facebook, instastories que partilhamos, selfies que colocamos no instagram, mensagens que enviamos no whatsapp. Mas será que estamos em relação? De qualquer maneira, parece-me ser uma nova forma de relação, sem dúvida, diferente de quando marcamos um café com o nosso melhor amigo. Até por óbvias questões geográficas. Este tema foi o mote do 4º encontro anual da Associação para a Promoção do Desenvolvimento Juvenil (APDJ) - ‘“des”ligado - novas formas de comunicação, novas formas de relação’. É inegável o poder das tecnologias e a potencialidade de recursos que ela tem para nos oferecer. A internet veio para ficar. E, muitas vezes, é complicado gerir o tempo que lhe dedicamos. Apesar das


suas mais valias, o uso da internet pode tornar-se um problema quando fazemos dela a nossa melhor amiga. Deixam-se de lado as saídas com amigos, as oportunidades para fortalecer laços e relações interpessoais através da experiência propriamente dita e entra-se, num regime muito próximo da exclusividade para com a internet. João Reis et al. (2016) referem que a dúvida central da controvérsia gerada em torno da utilização problemática da internet “está em compreender se esta atividade cria condições para novas formas de doença mental ou se apenas fornece um meio para patologia psiquiátrica, previamente estabelecida se expressar (e.g., depressões e ansiedades, entre outras) (p. 152). Para a Organização Mundial de Saúde (OMS), na nova edição do manual da Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde (CID-11) e para a Associação Americana de Psicologia (APA), na secção de medidas e modelos emergentes, “o uso persistente e recorrente da internet para envolvimento em jogos” é considerado como um distúrbio psiquiátrico/psicológico, quando se verificam 5 (ou mais) dos seguintes critérios, com défice ou mal-estar significativos, por um período de 12 meses: “preocupação com jogos de Internet”; “sintomas de abstinência quando os jogos são retirados”; “tolerância - necessidade de despender quantidades crescentes de tempo envolvidos em jogos de Internet”; “tentativas mal sucedidas de controlar a participação em jogos de Internet”; “perda de interesse em passatempos e atividades de entretenimento prévias resultante de, e com excepção do, uso de jogos de Internet”; “uso excessivo continuado de jogos de Internet apesar do conhecimento dos problemas psicossociais”; “ter enganado os membros da família, terapeutas ou outros relativamente à quantidade de jogo na Internet; uso de jogos de Internet para evitar ou aliviar um humor negativo” e “ter arriscado ou perdido uma relação significativa, emprego ou oportunidades educacionais ou de carreira devido à participação em jogos de Internet” (American Psychological Association [APA], 2013). Assim, o vício dos jogos online preenche a categoria Internet Gaming Disorder e passa a integrar o conjunto de doenças que necessita de atenção especial pelos técnicos de saúde mental, tal como da colaboração e atenção contínuas das pessoas que convivem diariamente com a criança e podem sinalizar comportamentos de jogo “contínuo ou recorrente” em que não existe controlo por parte de quem joga. Helena Fonseca, pediatra e coordenadora da unidade de medicina do adolescente no Hospital de Santa Maria salienta que os clínicos devem alertar os adolescentes para o uso excessivo da internet e discutir com os pais outras possíveis atividades de lazer e o uso racional das tecnologias, que deve passar pela negociação por pais

e filhos e não pela punição (Fonseca, 2014). Também Halley Pontes, investigador na área das dependências online no Reino Unido, salienta que a dependência das redes sociais e a perturbação de dependência dos videojogos podem contribuir simultaneamente para a “deterioração da saúde psicológica global” (Pontes, 2017, p. 601). Numa entrevista dada ao jornal Público, o autor também destaca a “idade e iniciação ao uso da internet”, bem como o seu “uso desregulado e excessivo” como fatores de risco potenciais das cyberdependências (Lusa, 2016). Assim, parece ser importante que os meios de comunicação social utilizem os recursos e o influente poder persuasivo que possuem para alertar pais, crianças, adolescentes e a comunidade em geral (professores, educadores etc.) para os malefícios que o uso inapropriado e, de sobremaneira, inconsciente, da internet pode acarretar. Isto é particularmente importante em idades mais precoces onde a imaturidade natural desta fase, aliada à própria aprendizagem guiada pelos modelos mais próximos e securizantes, leva a que se repitam comportamentos, muitas vezes, inapropriados para a idade, sem se ter consciência das consequências. Assim, como modelos a seguir, os pais devem promover e privilegiar a conversa cara a cara com os seus filhos, ao invés de passarem serões ilusoriamente acompanhados, mas sozinhos consigo próprios ou na companhia da internet, que pode, inadvertidamente, tornar-se no modelo a seguir. No caso dos adolescentes, a internet pode, de facto, tornar-se num porto seguro - responde de forma rápida a todas as questões colocadas, às suas expectativas, não é preciso esperar, não frustra (só quando não há wi-fi ou dados móveis) e permite que nos mascaremos no melhor que queremos ser: mais bonitos, mais interessantes, mais populares. No entanto, apesar de ter as suas mais valias, o uso da internet pode trazer malefícios para o bem-estar e para a própria saúde mental quando funciona como um espelho para a pessoa que queremos ser. Torna-se no modelo a seguir (e.g. youtubers) sem medir as consequências a curto/longo prazo, espelhamos nela tudo o que somos e o que queremos transmitir (e.g. instastories), sem segredos e sem privacidade. Sem que essa janela para o mundo se feche, de vez em quando, e que saibamos ser nós próprios sem ter o mundo a aprovar constantemente o que somos. De facto, sendo uma janela para o mundo, a internet pode mostrar-nos não só o que de bom o mundo tem, mas também os seus perigos, e para além de os mostrar, pode perpetuá-los no tempo. O que acontece na internet, fica (para sempre) na internet. Nesta era da evolução tecnológica contínua, de que tudo pode ser colocado na internet, certos comportamentos irrefletidos podem ser um trunfo para alguns. Todos nós conhecemos casos de vídeos

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colocados na internet a perpetuar comportamentos grupais de agressão verbal, física e psicológica a um elemento sozinho e desprotegido, a vítima. Quando estes atos são colocados na internet, deixamos de estar a falar somente de bullying e passamos a falar também de cyberbullying, dado que estando na internet, várias pessoas podem exercer de forma repetida e intencional atos de humilhação, ofensa e ameaça ao elemento agredido, recorrendo unicamente aos dispositivos eletrónicos. Para além de permitir o anonimato de quem pratica, permite que um maior número de testemunhas tenham acesso ao fenómeno. No cyberbullying, o agressor não observa o impacto que causa na vítima, não há feedback, o que evade quaisquer tipo de sentimentos de culpa ou ressentimento que o agressor possa ter. No caso da vítima, não sendo um ato limitado no espaço e no tempo, é muito mais difícil de escapar aos comportamentos agressivos, que não sendo físicos, têm um enorme impacto psicológico - baixa autoestima, instabilidade psicológica e emocional, diminuição do rendimento escolar, isolamento, dificuldades relacionais e até ideação suicida. É por isso fundamental toda a literacia que possa ser dada às crianças e adolescentes sobre a utilização inadequada da

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internet. Neste sentido, a indústria cinematográfica tem apostado em alguns conteúdos para estas realidades, dos quais destaco o filme Cyberbullying (2011) e a polémica série 13 Reasons Why (2017). No âmbito de projetos de psicoeducação para promover o bom uso e comportamentos adequados no mundo cibernauta, parabenizo e convido-vos a visitar o projeto co-financiado pela União Europeia SeguraNet - navegar em segurança (www.seguranet. pt) e o projeto MiudosSegurosNa.Net (http://www. miudossegurosna.net), fundado por Tito de Morais. Merece também destaque o projeto coordenado por Margarida Gaspar de Matos, professora na Faculdade de Motricidade Humana - DreamTeens/Aventura Social - e que tem como embaixadores o Prof. Dr. jubilado Daniel Sampaio, psiquiatra, e a Dra. Isabel Leal, do Instituto Superior de Psicologia Aplicada (ISPA), entre outras personalidades. Este projeto “pretende privilegiar o envolvimento de jovens e a responsabilidade social num processo de cidadania ativa” (DreamTeens, 2017) e assim, merece ser reconhecido como uma mais valia na promoção da saúde dos jovens, aproximando-os da investigação e da comunidade, reforçando a sua participação social e cívica.


Assim, parece-me ser por aqui, com projetos como estes, que passa a prevenção de potenciais dependências da internet, casos de cyberbullying (e bullying), não esquecendo possíveis comorbilidades associadas, a importância do apoio e suporte social, de conversas cara a cara, de outras atividades de lazer e de falar com alguém - amigos, família e técnicos de saúde mental, que facultarão uma ajuda especializada caso a caso. De facto, apesar das perturbações relacionadas com o jogo serem um tema relativamente novo, já existem algumas abordagens terapêuticas para situações de “jogo patológico” assim designado no Instituto de Apoio ao Jogador (IAJ). A perturbação de jogo patológico é “atualmente a única perturbação não relacionada com substâncias proposta para inclusão nas perturbações relacionadas com substâncias e perturbações aditivas do DSM-5” (APA, 2013, p. 946). Iniciado e dirigido por Pedro Hubert, psicólogo e especialista em adição ao jogo, o IAJ disponibiliza no seu site (www.iaj.pt), algumas sugestões que ajudam a controlar o vício do jogo, destinadas a jogadores regulares e para quem tem tendência ao jogo, como evitar locais de jogo se estiver sob situações de stress ou depressão; não fazer do jogo uma fuga para os problemas, entre outras. Para o tratamento do jogo compulsivo ou patológico o instituto oferece uma resposta adequada e eficaz a este tipo de dependências, possuindo o “conhecimento e formação especializada sobre o perfil, comportamento e fase em que o jogador abusivo ou patológico se encontra, assim como da sua família”. Neste sentido, o IAJ disponibiliza uma ampla gama de serviços, tais como psicologia, psicoterapia, grupos de auto-ajuda, entre outros, e se propõe ao reencaminhamento, acompanhamento, intervenção, informação, prevenção, diagnóstico de problemas de jogo, sugestões, acompanhamento de familiares” (Instituto de Apoio ao Jogador [IAJ], 2017). Para esse efeito, o instituto mantém parcerias com instituições públicas e privadas como a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa e o Serviço de Intervenção dos Comportamentos Aditivos e das Dependências (SICAD) e dispõe de uma linha de ajuda SOS (tlm: 968 230 998) nos dias úteis. Para a marcação de consultas, o IAJ deve ser contactado através do número 962641161. (consultar o website do IAJ para mais informações). No recente ano de 2016, Pedro Hubert lançou um livro que se revela obrigatório para interessados sobre o tema intitulado O Problema do Jogo: O tratamento da dependência invisível. No ano póstumo, foi também publicado um artigo científico sobre o problema do jogo em Portugal (Hubert & Griffiths, 2017). Após este aprofundamento sobre o tema e todas as evidências empíricas encontradas, penso que podemos afirmar que a internet veio para ficar. Assim,

lanço a questão: como podem os psicólogos utilizar a tecnologia para trabalhar e promover a relação terapêutica? Será que é um recurso útil no desenvolvimento profissional dos psicólogos e psicoterapeutas, por exemplo, na supervisão e prática deliberada? Devemos utilizar a tecnologia e todos os recursos que ela nos dá para legitimar e credibilizar junto do público os atos psicológicos, sem fugir à ética e deontologia profissional? Será que o caminho passa por consultas online? Esta é uma polémica atual que divide a opinião dos profissionais de psicologia. Como promover uma maior proximidade (e distância ideal) num mundo à distância de um clique? Penso que estas e outras questões devem ser alvo de debate, pois só é possível estar ao serviço da psicologia e dos cidadãos, acompanhando todas as transformações de um mundo que não espera para mudar.

Texto por Ana Aleixo

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Resiliência A Evolução da Investigação Nas ciências físicas, um corpo é resiliente na medida em que, após sofrer um choque ou deformação, tem a capacidade de recuperar e voltar à sua forma original (Souza & Cernveny, 2006). No âmbito da Psicologia, a resiliência pode ser entendida como a capacidade de o indivíduo se adaptar a situações adversas (pobreza, violência, morte de um familiar, acontecimentos inesperados como ser vítima de crimes ou de um desastre natural) mantendo ou até mesmo fortalecendo a sua saúde mental (Herrman et al., 2011; Herrman, Stewart, Granados, Berger, Jackson & Yuen, 2011). No entanto, na literatura não existe consenso na definição operacional de resiliência. Assim, e tendo em conta a evolução do estudo da resiliência em Psicologia, as principais questões colocadas são: (1) Porquê que algumas pessoas são resilientes perante a adversidade e outras não? (2) Quais são as características dos indivíduos

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considerados resilientes? (3) Como se desenvolvem essas características? (4) Qual a razão para um indivíduo apresentar comportamentos resilientes em determinados contextos e em outros demonstra uma grande vulnerabilidade? Com o objectivo de responder às questões 1 e 2, os primeiros estudos sobre resiliência focaram-se fundamentalmente na identificação das características e traços de personalidade que ajudavam as pessoas a lidar com as adversidades, mantendo um nível de funcionalidade adequado (Herrman et al., 2011). Algumas dessas características relacionam-se com a personalidade (maior abertura à experiência, extroversão e agradabilidade), com o locus de controlo (interno), e a auto-imagem (auto-eficácia e auto-estima positivas) (Herrman et al., 2011). Numa segunda fase, os estudos tentaram dar resposta à terceira questão, focando-se na resiliência como um processo de adaptação à adversidade, no


qual existe a intervenção de factores individuais, familiares e sociais. Segundo Richardson (2002), após um acontecimento disruptivo, há a necessidade de reintegração e reorganização. Durante esse processo existem vários resultados possíveis (nem todos relacionados com respostas resilientes): Reintegração disfuncional; Reintegração com perda; Reintegração de volta à homeostase e Reintegração resiliente (Richardson, 2002). Na fase de estudos mais actual, e com o objectivo de responder à última questão, a investigação focou-se na interacção das características e traços de resiliência e das forças motivacionais, como resultado de diferentes fatores (ecológicos, sociais e espirituais) (Richardson, 2002) e da existència de vários sistemas (família, pares, amigos, comunidade, entre outros), que contribuem para o aumento da resiliência face à adversidade. Desta forma, a resiliência pode ocorrer num contexto e tempo específico, sendo possível que não esteja presente em todos os domínios da vida do indivíduo (Herrman et al., 2011). Outro ponto da investigação ainda por esclarecer é a distinção entre resiliência e crescimento pós-traumático. Segundo Herrman e colaboradores (2011), o crescimento pós-traumático vai para além da resiliência, uma vez que ocorre uma mudança mais profunda no indivíduo, que não volta apenas à homeostase, como acontece na resiliência. No crescimento pós-traumático ocorre um aumento da apreciação da vida, fortalecimento de relações íntimas próximas, aumento do sentido de força pessoal, envolvimento em novas oportunidades e aumento do desenvolvimento espiritual (Herrman et al., 2011). Segundo Bonanno e Diminich (2013), os indivíduos que passam por uma trajectória de crescimento pós-traumático constroem novos significados, relativos ao acontecimento em si, ao seu papel “neste mundo”, enquanto que essa necessidade não existe em indivíduos resilientes, uma vez que as suas

reacções são geralmente breves e não impedem o funcionamento da pessoa. Nesta perspectiva, um indivíduo resiliente mantém a sua capacidade de funcionar face à adversidade, enquanto que para existir crescimento pós-traumático, o acontecimento tem de ser percepcionado como disruptivo, afectar o funcionamento, que mais tarde será recuperado e até melhorado. Assim, ocorre de facto um crescimento do indivíduo. Contudo, esta perspectiva não é consensual e tendo em conta as várias definições de resiliência de diferentes autores, existem aspectos comuns entre o conceito de resiliência e de crescimento pós-traumático, ficando assim as dúvidas: a) Resiliência e Crescimento Pós-Traumático são conceitos diferentes ou diferentes fases do mesmo estado? b) Se são conceitos “autónomos”, quais são as diferenças entre si? Dúvidas à parte, a operacionalização de conceitos importa para a investigação, mas importa ainda mais a aplicação dos conhecimentos que advém dessa investigação. Acontecimentos adversos são, em si, inesperados, mas a existência desses mesmos acontecimentos ao longo da vida de cada um de nós não é inesperada, é inevitável. Não podemos fugir à morte de um ente querido, a uma situação de desemprego ou doença. Qualquer mudança na vida, seja ser vítima de um crime ou um divórcio, pode causar uma necessidade de adaptação e reorganização. Acredito que, quanto maior o conhecimento sobre estas questões, maior será a nossa capacidade para lidar com o inesperado, assim como para ajudar os outros, sejam pacientes ou não.

Texto por Catarina Fernandes

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Exercício físico Treinar o corpo… E fortalecer a mente Na era das redes sociais, somos constantemente bombardeados com mensagens sobre o que é importante para a nossa saúde e bem-estar. Desde a ideia de self-care, meditação, a uma dieta equilibrada, chegando ao exercício físico. O que não faltam são canais de Youtube e blogs que se dedicam a esta temática e enchem o nosso feed de posts. No entanto, algo que é comum em todos eles, são as vantagens do exercício físico proporciona. Não importa que sejam apenas caminhadas, a frequência do ginásio com regularidade, ou mesmo a prática de ioga ou pilates. O consenso parece ser que, independentemente da prática desportiva praticada, os benefícios são transversais. No entanto, o que pesa na balança para quem decide fazer exercício físico são muitas vezes os resultados visíveis da actividade na saúde física – a melhoria da condição física, a perda de peso, ou os benefícios para o sistema cardiovascular por exemplo. Será que também é possível observar efeito positivo entre o exercício físico e condições do foro

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psicológico, como a depressão? O termo clínico depressão é, no senso comum, complexo e com vários tipos de características, sendo assim de difícil definição (Kanter, Busch, & Weeks, 2008). Efectivamente pode englobar vários tipos de sintomas e de comportamentos visíveis num indivíduo, como a perda da auto-estima, uma visão pessimista sobre o futuro pessoal, apatia (Snaith, 2003), pensamentos negativos, entre outros (Kanter, Busch, & Weeks, 2008). Não obstante, a depressão pode também ser a resposta relativa a um acontecimento marcante na vida de um indivíduo, como uma perda, podendo nomeadamente estar relacionada com o luto (Snaith, 2003). É importante realçar que, nos últimos tempos, com o desenvolvimento das tecnologias, têm surgido cada vez mais indicações de que a depressão não é apenas influenciada por factores psicológicos, mas também tem bases neurológicas (Palazidou, 2012). Neste sentido, o sistema límbico foi identificado como tendo um papel significativo na experiência


da emoção na década de 30. James Papez referiu-se a um conjunto de estruturas cerebrais e percursos neurológicos como o “sistema da emoção” (Palazidou, 2012). Estas estruturas (e.g., córtex pré-frontal) e a forma como se relacionam são hoje reconhecidas como sendo responsáveis por manter a estabilidade emocional. Assim, o facto de haver falhas no seu funcionamento poderá influenciar a depressão (Palazidou, 2012). Estudos observacionais demonstram que o exercício físico, com vários tipos de intensidade, está associado a sintomas de depressão reduzidos (Dunn, Trivedi, & O’Neal, 2001,) assim como a diminuição dos níveis de ansiedade (Zoeller, 2007), especialmente quando comparados com aqueles que não exercem exercício físico (Craft & Landers 1998). Demonstram ainda uma melhoria do bem-estar em geral (Craft & Perna, 2004), conduzindo assim, a uma disposição mais feliz (Craft & Perna, 2004). Desde o início da década de 90 que a comunidade científica tem tentado compreender melhor esta relação (i.e., corpo-mente) e quais as vantagens que que a actividade física pode oferecer a um indivíduo. Continuando com esta linha de pensamento, a Universidade de Toronto, baseando-se na análise de estudos prévios, publicou em 2013 um comunicado onde indica que a actividade física moderada é uma ferramenta eficaz no combate da depressão podendo ainda ter um papel preventivo (Mammen, 2013). Isto poderá estar relacionado de com o facto de, durante a actividade e após a mesma, serem libertadas endorfinas - que estão relacionadas com o humor positivo e uma maior sensação de bem-estar (Craft & Perna, 2004), criando-se assim uma associação positiva com o exercício. São as consequências desta associação que fazem com que os indivíduos continuem a praticar exercício físico e que este seja incorporado na rotina diária, de médio e a longo prazo. Outras hipóteses que poderão justificar a relação benéfica entre actividade física e a depressão são a hipótese da distração e a da autoeficácia (Craft & Perna, 2004). A primeira defende que a actividade física serve como distração de pensamentos negativos e preocupações, tendo sido demonstrado uma influência positiva na gestão da depressão. Por sua vez, a autoeficácia refere-se à crença de que é necessário possuir determinadas características e competências, assim como confiança, para alcançar determinado objectivo. Durante um estado depressivo pode existir a crença de uma pessoa não ter as competências necessárias para atingir objectivos positivos na vida pessoal ou profissional. Deste modo foi sugerido que a prática de exercício físico poderá servir como uma forma de aumentar a autoeficácia, baseando-se no cumprimento de experiências previamente pensadas impossíveis (Craft

& Perna, 2004). Existem várias hipóteses que defendem que a melhoria dos sintomas depressivos poderão estar mais relacionados com fatores biológicos (i.e. endorfinas), enquanto outras sugerem que são as hipóteses psicológicas e sociológicas que têm mais mérito. No entanto, futuras investigações poderão demonstrar que é provável que seja uma combinação destes factores que contribuem para o efeito que o exercício físico tem na depressão. Após a conclusão dos benefícios da actividade física na depressão, outra questão importante a colocar é: como motivar indivíduos depressivos a exercerem actividade física? Sabe-se que sujeitos depressivos têm tendência para serem mais sedentários e podem não ter a motivação necessária para o início da prática desportiva. Um possível conselho inicial a dar é começar devagar e escolher uma actividade que o indivíduo goste e que não tenha uma intensidade muito elevada, como por exemplo uma caminhada. Também é importante ter em consideração a frequência e a intensidade do exercício, que deverão ser aumentados de forma gradual, de modo a aumentar a possibilidade da prática contínua do exercício físico (Craft & Perna, 2004). Em suma, podemos referir, que a prática de actividade física poderá ser vantajosa para as pessoas que sofrem de depressão, não existindo limitações no tipo de actividades que podem praticar. No entanto de forma a compreender melhor esta relação, assim como os factores que a influência, e as suas implicações, seria importante serem realizadas mais investigações relacionada com esta temática.

Texto por Patrícia Martins

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Relações do futuro

“Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades”. Será que esta frase de Luís Vaz de Camões se mantém actual, ou hoje deverá dizer-se “Mudam-se os tempos, adaptam-se as vontades”? Encontrar um par para partilhar a vida, os seus bons e maus momentos, é uma das tarefas de vida enquanto adulto (Erikson, E. & Erikson, E.,1998). Efectivamente, estabelecer relações sociais significativas é um ingrediente essencial para uma boa saúde mental. Sendo mal-sucedido, existe um maior risco de depressão, auto-absorção e as consequências negativas daí decorrentes (Erikson, E. & Erikson, E., 1998). No entanto, actualmente as pessoas parecem não possuir tempo para estabelecer relações sociais. Ou não pretendem, porque isso dá trabalho, implica esforço e acarreta a paciência que não têm. Simultaneamente, são cada vez mais exigentes com aquilo que procuram nos outros e menos possuem para oferecer ou para demonstrar. Requerem pessoas humanamente perfeitas (ou mesmo “divinamente” perfeitas), idealizadas, quando cada uma é huma-

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namente imperfeita (e ainda bem, pois têm a possibilidade de se construir e desconstruir). Idealizam pessoas através dos sonhos que têm, dos príncipes e princesas encantadas que leram nas histórias da Disney que pautaram as suas infâncias, das checklists do(a)s namorado(a)s perfeito(a) em artigos de inteligência emocional em revistas e jornais. O tempo é então dos bens mais preciosos a fornecer a outro ser humano. Afinal é um bem estanque, imutável e não renovável a cada segundo que passa. A verdade é que o tempo passa e deve ser aproveitado, antes que ele se aproveite de nós. Contudo, as pessoas rentabilizam-no cada vez pior, passando os seus segundos nas redes sociais, publicando os seus conhecimentos sobre os demais, ao invés de se conhecerem uns aos outros.


Assim, o advento da informática, robótica e inteligência artificial tem revolucionado o campo das relações humanas e das relações sexuais. E será isso uma causa ou consequência da vanguarda tecnológica? Para explorar esta questão, é necessário conhecer os robots sexuais criados e programados através da inteligência artificial. São fabricados em silicone e a sua textura torna-se semelhante à da pele humana. São comandados por aplicações, cujas necessidades se suplantam à distância de um clique do seu utilizador e feitos à medida dos sonhos de quem os pretende. Os robots são anatomicamente semelhantes a um ser humano, ou até talvez considerados como melhores, sendo que nos masculinos pode estar presente o exercitado “six pack” e nos femininos, um busto robusto. No entanto, carecem de livre arbítrio, de capacidade de discussão; da possibilidade de ter pequenas discussões, como “onde estás?”, “Por que não fizeste assim?”. Todavia alguns detêm a capacidade de conversação, de dar resposta, de elaborar uma conversa minimamente inteligível. Harmony é a primeira robot com inteligência artificial para homens, criada pela empresa Realbotix e é uma mulher (de silicone) de sonho! O seu corpo tem sensores ao toque, que, devido à inteligência artificial, se vão traduzir em determinados movimentos e vozes. A Harmony consegue ainda lembrar-se da música, comida favorita e aniversário do seu “namorado”. É personalizável de acordo com 18 características de personalidade (como sensual, tímida, faladora) e segundo determinados gostos (pode aprender a recitar poesia ou contar anedotas) (Hamill & Windle, 2017). Que mais se poderá querer? Naturalmente, as versões para homens são mais conhecidas, diversas e existe menor preconceito face às mesmas. Aliás, são um verdadeiro sucesso e existem até homens casados com as bonecas sexuais! Assume-se que o sexo masculino tem uma maior predisposição para o sexo e líbido mais acentuada, bem como as mulheres supostamente precisariam de um vínculo emocional para se relacionarem sexualmente. No entanto, o primeiro robot sexual para mulheres, Gabriel, vem revolucionar esses mitos. Gabriel tem até um pénis biónico, com uma aparência real. Podem escolher-se tamanhos, cores de pele, capacidade de erecção do corpo e temperatura cor-

poral, ou melhor... temperatura do silicone… Gabriel parece tão real...Poderão as sensações ser igualmente reais? As opiniões dividem-se: algumas mulheres sentem que estão num encontro, outras que estão com um “morto funcional”. Outras preferem-no até pois podem tomar as rédeas da relação e assumir o seu controlo (Kelly, 2017) A realidade é que a utilização de bonecos sexuais comporta, como tudo, pontos positivos e pontos negativos. Como vantagens, os bonecos sexuais podem até ser utilizados em terapia sexual , como um modo de as pessoas que os compraram (sim, eles podem ser muito caros) explorarem o seu corpo, de se desinibirem face a certos actos sexuais e de realizarem as suas fantasias. Um meio de aprendizagem face a si e aos outros. Ou até para pessoas que sofreram algum tipo de experiência traumática a nível sexual (Afonso, 2017). Não obstante, existem campanhas anti-robots sexuais, pois consideram-nos instigadores da perversão sexual, patologias e crimes sexuais, sendo que na vertente contrária, alguns consideram que se houvesse a maior possibilidade de utilizar estes bonecos, existiria uma menor necessidade de recorrer à prostituição, violência sexual ou até mesmo pedofilia (Afonso, 2017). Estas temáticas carecem ainda de estudos científicos que a corroborem. Surge assim a questão - será ético manter relações sexuais com robots? Esse é ainda um aspecto em permanente discussão, mas, actualmente, os robots não podem, nem devem ser encarados como substitutos do ser humano. Ainda não estão criados os meios de auto-suficiência de relações desse tipo. Afinal, por enquanto, os “robots apenas sabem fingir, não sabem sentir amor” (Afonso, 2017). Os robots por si podem contribuir para a objectificação sexual do ser humano, devendo (e não sendo definidos os seus limites e grau pejorativo para o entendimento das relações humanas) ser apenas uma possibilidade de orgasmo do futuro. Até porque se a gratificação sexual pode ser imediata, a satisfação emocional, a capacidade de empatia e de companheirismo é uma questão muito mais complexa e creio poder afirmar (pelo menos por agora) inerentemente humana. Contudo, as tendências futuristas ditam que sim, num futuro não tão distante quanto isso, em 2050, as pessoas poderão casar e formar um lar com um robot (Beall, 2016), dependo do grau de evolução dos robots e do quão mais reais e similares a um ser humano se irão tornar. Esperemos!

Texto por Nadine Amaro

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Esta é uma história real: O Síndrome do Peter Pan Falta de vontade para trabalhar ou trabalhar sem motivação; a incapacidade de desenvolver relações profundas com as pessoas; a crença num sonho longshot, sendo esta utilizada como desculpa; o consumo excessivo de álcool e estupefacientes; e a necessidade de culpar o seu fracasso em algo que os seus pais, companheiro outro sujeito da sua rede pessoal, fez para consigo. Estas pessoas parecem ser despreocupadas e felizes, mas a sua vida pessoal é preenchida por sentimentos de solidão e insatisfação, acompanhados de dependência pessoal. Por norma, precisam de ter ao seu lado alguém que responda às suas necessidade e que as façam sentirem-se protegidas e, assim sendo, tentam obter aprovação pelos pais, irmãos mais velhos ou pelo parceiro/parceira (Kiley, 1984). São estas a características de um Peter Pan, não o do mundo da fantasia que, provavelmente, bem conhecemos, mas do mundo real.

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Desde pequenos, todos conhecemos a história do Peter Pan, a criança que vive na Terra do Nunca e se recusa a crescer. Como todas as histórias de fantasia, também esta tem uma mensagem a transmitir. Fora dos contos infantis, esta é uma história real. Real para as pessoas que vivem, possivelmente, a vida toda na Terra do Nunca. Ainda que não esteja referenciado nos manuais da psicologia, como por exemplo no DSM-V, o Síndrome do Peter Pan caracteriza-se por sintomatologia psicológica, sendo este estado aceite por alguns autores e rejeitado por outros. A designação surgiu da publicação do livro, em 1983, “The Peter Pan Syndrome: Men Who Have Never Grown Up” , escrito por Dan Kiley, para responder a um fenómeno social emergente, que se relacionava com o fato de muitos jovens resistirem ao compromisso de assumir uma vida adulta (Rossi e Rubiolo, 2011). De acordo com Rossi e Rubiolo (2011), vivemos numa época caraterizada pelo individualismo e pela


incerteza, com múltiplas redes onde a velocidade das mudanças levou à interpretação da realidade com códigos diferentes entre gerações. Neste contexto, transitar para a idade adulta é um processo demorado, pois gera-se nos jovens uma resistência patológica para assumir as responsabilidades adequadas a esse período de vida (Rossi & Rubiolo 2011). Os mesmos autores, mencionam também que, a adolescência é uma época de construção da identidade, de novas identidades de separação das figuras parentais e do luto pela perda de segurança de infância. Segundo Lerner (citado por Rossi & Rubiolo, 2011), o adolescente pode insurgir-se como uma vítima da sociedade, que suscitou nele uma alteração na capacidade de criar ideais, de construir um projeto de vida e, sendo assim, nestas circunstâncias, os jovens não parecem ter motivos para crescer, visto que a vida adulta emergem uma série de problemas e preocupações, sem o prestígio social esperado por alguns. Neste sentido, estes autores apontam que o Síndrome do Peter Pan é sustentado pela imaturidade emocional e insegurança profunda, diretamente associadas ao medo de não ser amado/a. Assim, uma das soluções encontradas por Rossi & Rubiolo (2011), para este aspeto é parar o tempo, para manter a proteção e o cuidado da família de origem. Este comportamento é gerador de alguma confusão no meio familiar vigente, porque o comportamento destes jovens é incongruente com a etapa do ciclo de vida onde se encontram, não vislumbrando ou não tendo desejo na possibilidade de se tornarem adultos (Rossi & Rubiolo, 2011). São relutantes no corte da relação de dependência com os pais e, geralmente têm apenas relações superficiais com os outros. Assim, por analogia com a personagem do Peter Pan, estas pessoas “voam” por aí à procura de aventuras e são incapazes de pousar em algum lugar, porque têm medo de enfrentar o mundo real (Psiconlinenews, 2014). Como referido por Mercado (citado por Rossi & Rubiolo, 2011), a família das pessoas que vivem este Síndrome é um espaço que sustenta, de alguma forma, esta dinâmica, onde a proteção e a contenção dada pelos por esta acaba por não permitir o desenvolvimento esperado do jovem, bem como a promoção da emancipação relativamente ao seu seio familiar. Esta resistência em crescer é mais comum nos homens do que nas mulheres e, no geral, este estado está a tornar-se mais comum e com contornos acentuados na nossa sociedade visto que, na atualidade, os jovens têm para com os seus projetos de vida, menos compromisso o que, por sua vez, requisita um esforço menor. Nesta linha de pensamento, também o as pessoas com Síndrome do Peter Pan preferem afastar-se das exigências do mundo

real, escondendo-se num mundo de fantasia, presas como o Peter Pan, na Terra do Nunca. Assim sendo, existe uma dificuldade em desempenhar, de forma adequada, papéis sociais que seriam expectáveis na fase do ciclo de vida em que se encontram. De acordo com Kancyper (citado por Rossi e Rubiolo, 2011), o jovem deve passar pela: desestruturação do outro e desconstrução do vínculo patológico narcisista. Pessoas com esta síndrome são geralmente alegres e enérgicas, demonstram grande segurança e autoestima mas, a sua personalidade é marcada pelo narcisismo, tendencialmente manipuladora, transgressiva, sedução, arrogância e cativante; mesmo que eles se sintam incompreendidos. Como causas multifatoriais deste síndrome podemos questionarmo-nos com, por exemplo, traços de personalidade dependentes. Como consequências do Síndrome do Peter Pan são apontadas alterações emocionais graves, como altos de níveis de ansiedade e tristeza que podem gerar estados depressivos. Especificamente, estas pessoas sentem-se insatisfeitas com as suas próprias vidas, uma vez que não assumem a responsabilidade pelas suas ações, o que faz com que não tenham realizações próprias, afetando diretamente a autoestima. Estes adultos também são incapazes de manter relações com as outras pessoas, devido à exigência padrão que mantém para com as últimas (Psiconlinenews, 2014). Nesta linha de investigação, ainda que existam poucos estudos, parece importante falar de alguns aspetos, mais do que manifestações, causas e consequências que, podem estar, de certo modo, na predisposição do Síndrome do Peter Pan. Na literatura de Gastaud (2007) que, surgiu após a sua prática clínica para com uma criança, é referido que essa criança, tal como o Peter Pan, faz questão de manter a exclusividade da relação com os seus pais, não tolerando a ideia de dividir o amor destes com outra criança, mantendo a fantasia de que, se dececionar estes, será substituída. Neste sentido, segundo Gastaud (2007), coloca-se a opção por não crescer, como forma de garantir o amor e a exclusividade dos seus pais. Ainda segundo Gastaud (2007), existem adultos que consomem produtos culturais infantis que denunciam a resignação à passagem de tempo; e outros que não saem de casa dos pais. São estes os Baby Boomers que, são sujeitos individualistas, apaixonados pelos estereótipos criados pelos meios de comunicação e que, sofrem uma grande influência dos avanços do marketing e da publicidade (Perroni Escudero, 2012). Apesar de muitos serem profissionais bem-sucedidos que já passaram dos 30 anos, acabam não resistir ao prazer de colecionar bonecos e miniaturas (Perroni Escudero, 2012). A explicação

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que Perroni Escudero (2012) dá para este fenómeno prende-se com o facto de, possivelmente, desde da infância, esta geração está em contacto com conteúdos, talvez porque desde a infância esta geração está em contato com conteúdos mediáticos, através de anúncios de alimentos, brinquedos, programações específicas e entretenimento. Falamos por exemplo do filme do Star Wars que, segundo Carreiro (citado por Perroni Escudero, 2012), foi concebido conscientemente para preencher uma lacuna percebida pela primeira geração de adultos considerados com Síndrome do Peter Pan. Também outro elemento importante para esta reflexão é o consumo excessivo de jogos de computador e/ou eletrónicos. A Consumer Electronics Association publicou em 2006 que, um terço destes jogadores são adultos, que passam 10 horas semanais, ou mais, em frente de seu PC ou uma consola (Perroni Escudero, 2012). O último aspeto que sinaliza o Síndrome do Peter Pan prende-se com facto de existir cada vez mais um número maior de jovens que adiam a final da formação académica, optando por intercâmbios e/ ou mudanças de curso (Perroni Escudero, 2012), com o intuito, também de adiar as responsabilidades se apresentam após este ritual de passagem: tornar-se

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adulto, arranjar um emprego, adaptar-se a um mercado de trabalho independentemente, entre outros (Perroni Escudero, 2012). Gastaud (2007) reporta como é curioso pensar numa história de fantasia secular pode exemplificar algo tão atual como o conflito da passagem do tempo, principalmente pelas questões sociais e económicas que tornam cada vez mais traumático o crescimento, enfatizando que o Peter Pan não é uma fábula, mas antes uma personagem humana em todos os sentidos por, dar face a uma ciclo crucial da vida – a transição da infância para a adolescência. De acordo com Psycologytoday (2016), crescer como pessoa é parte do desenvolvimento natural dos seres humanos, mas nem sempre é uma tarefa fácil, na medida em que para se ser adulto é necessário tomar a decisão de crescer e adotar valores e objetivos de vida. É também necessário desistir de algumas coisas para atingir os objetivos, responsabilizar-se pelos próprios erros e tolerar os dias de frustração. Amadurecer não significa ter que perder a criança que há dentro de nós, apenas não permitir que a mesma domine e/ou dificulte a nossa vida adulta, como no caso do Peter Pan (Psycologytoday, 2016). É indispensável ter uma relação harmoniosa entre o adulto e a criança interior. Amadurecer


com sucesso é alcançar um equilíbrio entre esses dois aspetos da nossa personalidade (Psycologytoday, 2016). Em jeito de conclusão, deixamos o seguinte excerto da literatura de Corso & Corso (2005): “Os que se resignam a crescer também se conformam à sua futura mediocridade; por mais que façam, serão fadados a ser mais um dos adultos que ficam devendo diante de tudo o que poderiam ter sido na vida. No nosso tempo, crescer está associado a perder, não há mais tanto prestígio na condição adulta. (...) A Terra do Nunca representa a angústia dos que não conseguem crescer, é a lembrança que a infância deve ser passageira e se não o for poderá

funcionar como um pesadelo do qual não conseguimos acordar”.

Auni Dwarkadas

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Psicólogos com opinião O (meu) passado e futuro da psicoterapia

João Ferreira Psicólogo clínico e Psicoterapeuta com formação e estudo de diversas correntes psicoterapeuticas, nomeadamente, Psicanálise, Psicoterapia EMDR (dessensibilização e reprocessamento através de movimentos oculares), AEDP (psicoterapia dinâmica experiencial acelerada), Terapia Focada nas Emoções, IFS (sistemas familiares internos) e ISTDP (psicoterapia dinâmica intensiva breve).Tem experiência clínica hospitalar no serviço de Dependências do Hospital Santa Maria, bem como, em clínica privada. Colaborou como docente livre na Faculdade de Medicina da Faculdade de Lisboa. Realiza avaliações psicológicas e é também formador em vários contextos.

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Antigamente (e ainda hoje, mas cada vez menos) nascia-se católico, no seio de uma família católica e católico se iria ser... para o resto da vida. A Psicoterapia, infelizmente ainda parece funcionar muito assim: como se existisse verdadeiramente “A” psicoterapia e não o campo das psicoterapias. Cada uma com tendência para ser um mundo fechado e à parte (umas mais que outras...) onde a verdade da sua escola advém mais pela repetição e exultação do sucesso que os seus membros lhe atribuem, repudiando outros “credos”, do que do estudo comparativo, humilde e curioso relativamente ao que existe. E assim o católico é católico, não porque já estudou e experimentou várias religiões ou caminhos espirituais, mas porque precocemente foi endoutrinado e, precocemente julgou implicita ou explicitamente as alternativas (à luz da sua própria doutrina). Eu segui o percurso psicanalítico na faculdade e após a faculdade. A psicanálise era “A” escola de psicoterapia, obviamente! Profunda, inteligente e verdadeiramente curativa (reestruturante a longo termo). A inimiga número 1: a cognitivo-comportamental, claro. Superficiais, básicos e ineficazes. As outras escolas? Pouco importavam, menos conhecidas e pouco desenvolvidas. Apesar da arrogância e, sobretudo ignorância, a curiosidade, abertura e felicidade de contactar e conhecer outras abordagens psicoterapeuticas foi acontecendo. E todas elas foram uma espécie de última resposta, d”A” verdadeira e melhor psicoterapia: primeiro a psicanálise, depois o EMDR, depois o AEDP, depois uma abordagem focada na auto-compaixão, depois a TEAM-CBT, depois o IFS e agora o ISTDP... Ao ter formação em algumas delas testemunhei o orgulho e o “tribalismo” dos seus membros (eu incluído!) inerente à pertença de cada uma d”A”s escola de psicoterapia. Penso que o futuro da psicoterapia passa pela união em primeiro lugar de todos os praticantes de psicoterapia. Se precisamos de um out-group para nos unirmos não precisamos de procurar longe: temos uma sociedade para servir e um Estado para persuadir! E a este nível o desafio é, não só, o de procurarmos dialogar e aprender uns com os out-


ros (de diferentes abordagens) mas, antes de mais, de perceber que todos temos o mesmo objetivo de contribuir para a saúde mental das pessoas. E isto porque mesmo este último objetivo que deveria ser óbvio não o é: a psicanálise, por exemplo, é uma escola com muitas ambivalências em incluir-se no campo das psicoterapias. Depois deste primeiro desafio, vem então o maior desafio de deixar de ver o mundo de forma monocromática (consoante a cor da escola) - como se cada abordagem fosse incompatível com as outras – mas sim, aprender com o que de melhor cada abordagem tem para oferecer: o agir não tem de ser incompatível com o sentir ou com o pensar; a interpretação e a reflexão não tem de excluir a psico-pedagogia ou o elogio; a diretividade não tem de excluir a exploração e a recetividade. Infelizmente ainda existem muitos tabus e preconceitos em relação ao novo ou diferente... independentemente da sua eficácia! Em segundo lugar, penso que o futuro da psicoterapia passa por uma melhor e mais sistemática avaliação dos resultados e do processo psicoterapêutico. A gravação em vídeo das sessões de psicoterapia tem vindo, por exemplo, a revolucionar a aprendizagem, supervisão e investigação do que REALMENTE se faz na “sala negra” da psicoterapia. Outros meios de avaliação como inventários de sintomas, personalidade, aliança terapêutica, mecanismos de defesa, motivação ou feedback do processo psicoterapeutico, são também de grande utilidade, não só para a avaliação de resultados como para a monitorização do processo psicoterapêutico.

Em terceiro lugar, penso que a psicoterapia tenderá a privilegiar fatores salientados na investigação em psicoterapia pela sua grande correlação com bons resultados terapeuticos, como os fatores comuns. Desde logo, fundamental mencionar a importância da aliança terapêutica, não só no que respeita à qualidade da relação terapêutica, mas também no que respeita ao acordo sobre os objetivos e o método para alcançar esses objetivos na terapia. Outro fator salientado pela investigação em psicoterapia na obtenção de bons resultados terapêuticos é a exposição efetiva às circunstâncias – internas e/ou externas – evitadas pelos pacientes. A este nível ganham cada vez mais terreno as psicoterapias que incluem na sua prática uma componente experiencial (ex. EMDR, AEDP, ISTDP, APT, IFS, EFT...). Por último, referir também o foco terapêutico como outro dos aspetos importantes na obtenção de bons resultados terapêuticos. Outras variáveis poderiam ser mencionadas, assim como outras tendências importantes no desenvolvimento de bons psicoterapeutas (exemplo da prática deliberada). De toda a maneira, penso que o enfoque deverá ser cada vez mais no psicoterapeuta (e menos na escola de psicoterapia): nas suas características (ex. responsividade, empatia, persuasão, etc.), nas suas práticas (video-gravação, supervisão, prática deliberada) e nos métodos/abordagens psicoterapeutico(a)s mais eficazes que lhe seja útil aprender.

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