Revista Universitária de Psicologia Nº1 - 2012

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Setembro 2012

A Psicologia da Crise

Investigar no Estrangeiro

EUROPLAT

Publicação Semestral

"Crise" a palavra da moda

Formação sem Fronteiras

Miséria & Desastre? Partilha & Qualidade?

RUP / NÚMERO 01 ISSN: 2182-4258 € 2,50 (IVA Incluído) Portugal Continental

Trabalhar no Estrangeiro Trabalhar num ambiente extremamente internacional

Estudar e Ensinar no Estrangeiro

A Psicologia Positiva Serão as pessoas felizes?

A Psicologia na Universidade do Minho

Unidades de Investigação em Portugal Psicologia das Organizações

XIX ENEP Encontro Nacional de Estudantes de Psicologia

"Afirmar os Psicólogos" O 1º Congresso Nacional da Ordem dos Psicólogos Portugueses.

"Mind the body" O 26˚ Congresso da EFPSA

Estágios da OPP



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ISSN: 2182-4258

Nota Editorial

Nota Editorial Cabe à Psicologia e aos seus estudantes, o papel de agentes de mudança positiva.

A

palavra “crise” é provavelmente um dos vocábulos mais utilizados hoje em dia, nos meios de comunicação social, em conversas de café, em encontros familiares, nas escolas, nos hospitais, nas empresas, enfim, um pouco por todo o lado. E, de facto, vivemos momentos de crise económica e, sobretudo, social. Momentos em que nos são colocados desafios mais ou menos inesperados e complexos. Como ciência social e humana que é, a Psicologia deve assumir, neste quadro, o seu papel imprescindível no sentido de apoiar as pessoas e as sociedades a fazer face às dificuldades e a encarar de frente e com optimismo todas as oportunidades, assim como todos os desafios. É por isso que o número 1 da Revista Universitária de Psicologia se apresenta com o tema “Oportunidades e Desafios”. Optámos por este tema porque temos a certeza que os estudantes de Psicologia em Portugal querem tomar consciência dos desafios existentes na sociedade que os rodeia, assim como no que diz respeito à prática, à formação e à investigação na nossa área. É com esta consciência que os estudantes podem pôr mãos à obra e investir os seus recursos pessoais e académicos na luta por uma maior qualidade de vida para todos e na transformação dos desafios em oportunidades de crescimento, aprendizagem, e actualização. Acreditamos, por isso, que cabe à Psicologia e aos seus estudantes, o papel de agentes de mudança positiva e fecunda, por um mundo mais harmonioso, mais próspero e mais respeitoso, onde todos possamos ter a oportunidade de explorar e desenvolver o nosso potencial enquanto seres humanos e seres sociais. Podemos, por exemplo, adoptar posturas de optimismo, encarar uma Psicologia Positiva, centrada nas forças, virtudes e capacidades de todos e de cada um. Há, também, que olhar para o que se faz de bom no estrangeiro, a nível de investigação, formação e prática

profissional, aprendendo com exemplos de sucesso e inspirando-nos em histórias fascinantes que há para contar por esse mundo fora. Não esqueçamos também, o claro dinamismo que caracteriza o nosso país e a Psicologia que por cá se desenvolve, a qual deve ser olhada com o devido e merecido orgulho. Nas páginas que se seguem encontram-se, então, histórias de estudantes e antigos estudantes, de profissionais, de professores, de investigadores e de instituições que procuram encarar cada desafio com optimismo e fazer do mundo em que vivemos um lugar melhor, com mais oportunidades para todos. Poder-se-ão, também, ler histórias de encontros de estudantes portugueses (ENEP) e de toda a Europa (Congresso EFPSA), assim como de Psicólogos Portugueses (Congresso Afirmar os Psicólogos), encontros esses muito distintos mas com um objectivo comum: fazer crescer a Psicologia e os seus contributos para as sociedades em que se insere. Assim, temos o prazer de apresentar agora um número da Revista Universitária de Psicologia que esperamos poder ser uma fonte de inspiração, que motive a paixão pela aprendizagem. Esperamos ter a oportunidade de fornecer aos leitores informação útil e profícua sobre os desafios que há a enfrentar e sobre formas de os enfrentar positivamente.

Alice Morgado, Editora RUP

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Ficha Técnica

Editora Alice Morgado

Redacção Alice Morgado / Ana Carolina Pascoal / Ana Rita Martins / Andreia Jesus / Bárbara Costa / Daniela Valente / Mafalda Sobral / Maria Gouveia / Mariana Ambrósio / Mariana Guarino / Mariana Mendes / Patrícia van Beveren / Patrícia Pereira

Fotografia Roberto Botelho / Vanessa Mendes

Logotipo André Rocha

Grafismo Inês João / Tiago Perdigão

Capa Tiago Perdigão

RUP / NÚMERO 01 Setembro 2012 Publicação Semestral

Gráfica

Oportunidades e Desafios A Psicologia aqui e agora

///// ISSN: 2182-4258 //////////////////////////////////////////////////////////////////////////////// Interdita a reprodução parcial ou total dos textos, fotografias ou ilustrações sobre quaisquer meios e para quaisquer fins sem previa autorização escrita da Administração da RUP/ANEP /////////////////////////////////////////////////////////////////////////////// Editora: Alice Morgado ///// Administrador: João Carlos Arruda ///// Director da Comissão de Revisão Cientifica: Pedro Belo ///// Tiragem 2000 Exemplares ///// Periodicidade: Semestral ///// Produção: Organismo Autónomo Revista Universitária de Psicologia da Associação Nacional de Estudantes de Psicologia ///// Propriedade: Associação Nacional de Estudantes de Psicologia - ANEP //////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////// Associação

Com o apoio da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Coimbra

Nacional de Estudantes de Psicologia - ANEP ///// Faculdade de Psicologia //////////Alameda da Universidade ///// 1649-013 Lisboa ///// Portugal //////////////////////////////// Revista Universitária de Psicologia da Associação Nacional de Estudantes de Psicologia - RUP/ANEP ///// 3000 Coimbra ///// Portugal //////////////////////////////////////////////////////////

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Os conteúdos desta revista não seguem as regras do novo acordo ortográfico.


ANEP: um projeto verdadeiramente nacional

ANEP: um projeto verdadeiramente nacional Depois de “renascida” na última direção, onde quase tudo teve que ser repensado e refeito, a ANEP continua o seu processo de metamorfose, caminhando a passos largos para a sua própria (re)emancipação.

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epois de reestruturada e reerguida, a ANEP, através desta nova direção, tenta consolidar-se como um projecto que conquiste o espaço na agenda dos alunos de Psicologia espalhados por todo o território português, mas acima de tudo, consolidar-se como um verdadeiro projecto nacional. Desta forma, esta direção apresenta como uma das suas maiores armas a rutura com o passado recente, reconquistando espaços que se encontravam pouco ativos e começando a criar ligações com estudantes de instituições que tradicionalmente nunca tiveram um elo de ligação forte com a ANEP. O exemplo mais crasso desta reconquista de espaços que estavam pouco ativos na ANEP é o caso do Minho, que depois de algum tempo de pouco envolvimento dos estudantes no que à direção da ANEP diz respeito, começou por reenvolver-se na direção anterior, sendo atualmente já um dos focos mais coesos e intensos de trabalho da ANEP. Isto é importante pela carga simbólica do corte com a hegemonia da ANEP nos principais centros urbanos (Porto e Lisboa) e daquela que é considerada a capital estudantil (Coimbra). Assim, a ANEP mostra-se uma associação e um projecto com força para se tornar cada vez mais “nacional” e ganhar visibilidade e credibilidade nos mais variados cantos do país. Para que o Minho (mais concretamente Braga) não seja um caso isolado neste nosso trajecto de “nacionalização” da ANEP, esta direção tem como grande preocupação criar igualmente uma teia de colaboradores cada vez maior, principalmente em instituições onde a ANEP nunca chegou. Este processo é lento, mas já começou a ser executado. Neste momento podemonos orgulhar de ter pessoas a colaborar connosco desde o Algarve até ao Minho, tendo sempre como principal intuito criar uma enorme base de contactos que nos

permita uma boa comunicação e rápida execução de tarefas, sempre que necessário. É impensável que a ANEP continue no marasmo de invisibilidade que foi sujeita ao longo deste passado recente, onde a desinformação era a nota predominante entre os estudantes. A ANEP é feita de estudantes e, por isso, não sobrevive sem eles. A direcção, os restantes órgãos sociais e membros de pleno direito são apenas uma pequena parte daquilo que é a Associação Nacional. Para prosseguirmos neste novo rumo de mudança e de progresso, é necessário o apoio de todos os estudantes de Psicologia espalhados por todo o país. São bastantes os planos idealizados a pensar em todos nós e a nossa motivação é enorme, mas nada disto chega se não tivermos o apoio estudantil. Este apoio passa pela colaboração nos nossos projetos e, acima de tudo, passa pela divulgação da ANEP. Queremos que Associação Nacional de Estudantes de Psicologia seja verdadeiramente “nacional” e realmente feita por e para estudantes. João Paulo Petiz, Vice-Presidente da direção da ANEP / Lénia Alexandra Leal Amaral, Vogal da direção da ANEP

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26º Congresso da EFPSA: O crescimento da EFPSA

26˚ Congresso da EFPSA: O crescimento da EFPSA No passado mês de Abril decorreu na Dinamarca o 26º Congresso da EFPSA, cujo tema foi Mind the body. Este foi um congresso que reuniu mais de 300 pessoas dos mais variados países da Europa, com a especificidade de serem todos estudantes de psicologia.

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omo é costume nestes congressos da EFPSA, o evento foi pautado por um forte cartaz científico conjugado com um programa social e cultural muito interessantes. Todos os participantes tiveram oportunidade de interagir com culturas e pessoas de países diferentes, de enriquecer o seu percurso académico mas, sem dúvida, que o mais significativo que todos os participantes levaram consigo foi mesmo o EFPSA Spirit: algo complicado de descrever e que só quem participou perceberá. Contudo, arriscaríamos a descrever este espírito como uma onda de “vibrações” positivas de amizade e bem-estar, próprias de quem se encontra a estudar numa área que tem o ser humano e a empatia como pedras basilares. Para além disto, a EFPSA deu um gigante passo, decidindo implementar na sua estrutura alterações que prometem trazer novidades e mais dinamismo a esta federação: foi aprovado em assembleia a criação de um/a Vice-Member Representative, ou seja, um/a segundo/a representante nacional da EFPSA por cada país membro. Esta foi uma medida proposta pela direcção da EFPSA para que esta federação, e organismo máximo no que toca aos estudantes de Psicologia na Europa, pudesse ter uma representação mais significativa e mais abrangente em cada país, principalmente tendo em conta a dimensão e/ou importância/gente envolvida de países como a Alemanha, Polónia, Roménia ou Holanda. Desta forma, pretende-se que a EFPSA entrasse, de facto, na agenda de um número de estudantes de Psicologia europeus cada vez maior. No caso específico português, enquanto representantes nacionais da EFPSA, temos representada a Universidade de Coimbra (João Pedro Estanqueiro) e a Universidade do Minho (João Paulo Petiz). A nossa missão passa por trazer a EFPSA, os seus eventos e as inúmeras oportunidades que oferece aos estudantes para território nacional e, por outro lado, ser a voz que defende 06 RUP Nº1

os interesses dos estudantes portugueses de psicologia no panorama europeu. O facto de sermos estudantes de duas universidades diferentes representa um ponto muito importante de forma a podermos, de uma vez por todas, cortar com o passado recente de invisibilidade da EFPSA que tem vindo a ser sujeita nos últimos anos e poder mostrar a oportunidade que representa a EFPSA (e todas as suas vantagens inerentes) para todos os estudantes de Psicologia em Portugal. Por fim, devemos salientar que, ao longo do próximo mandado da ANEP, a EFPSA vai ser uma das nossas prioridades, estando na nossa agenda a realização de eventos promocionais e palestras de divulgação e esclarecimento da EFPSA. João Paulo Petiz, Vice-Presidente da direção da ANEP / João Pedro Estanqueiro, Portuguese Member Representative of EFPSA (European Federation of Psychology Students’ Association) (www.efpsa.org)


26ยบ Congresso da EFPSA: O crescimento da EFPSA

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Índice

Índice Oportunidades e Desafios, 10-12 A Psicologia da Crise, 12-17

Trabalhar no Estrangeiro, 18-25

São múltiplas e profundas as transformações que ocorrem na época actual em que vivemos, desafiando, a cada dia que passa, a capacidade de reacção do Homem. Deste leque imenso de transformações, que ocorrem a ritmos vertiginosos, faz já parte o conceito de “crise”, cuja referência tem ecoado cada vez mais pelos media, pelas ruas e pelas várias famílias portuguesas. Este conceito pode já ser considerado como a palavra da “moda”, gerador de impasses e de um possível esgotamento do modo de vida, que abarca o campo da experiência psicológica dos indivíduos, constituindo uma crescente preocupação nos dias correntes. Texto Alice Morgado / Andreia Jesus / Bárbara Costa / Mafalda Sobral / Mariana Ambrósio / Patrícia Pereira

O Pedro Monteiro e a Filipa Rodrigues são duas pessoas muito diferentes, cada um com as suas próprias ideias e sonhos para o futuro. Em comum têm a formação em Psicologia, em particular, do mestrado WOP-P em Psicologia das Organizações, do Trabalho e dos Recursos Humanos*, e o facto de estarem a trabalhar no estrangeiro. Por isso, pedimos a estes antigos estudantes de Psicologia, para nos contarem um pouco do seu percurso formativo e profissional, ajudando-nos a compreender o que os levou a escolher trabalhar fora de Portugal e o que isso realmente significa. Texto Alice Morgado

Investigar no Estrangeiro, 26-29 “Quero investigar no estrangeiro! O que tenho de fazer para isso?” Texto Patrícia van Beveren

Formação sem fronteiras: Aprender e ensinar no estrangeiro, 30-34 Estudar (Erasmus) no Estrangeiro. Ensinar no Estrangeiro. Texto Mariana Mendes

A Psicologia Positiva: Um olhar positivo, optimista e preventivo, 35-38 “A felicidade não é algo que acontece às pessoas, mas algo que elas fazem acontecer” Csikszentmihalyi (1999, p.824).

Conceitos Básicos. Serão as Pessoas Felizes? Texto Carolina Pascoal

Rede Europeia para o Ensino e Aprendizagem da Psicologia (EUROPLAT), 39-43 Miséria & Desastre: uma miséria desastrosa ou um desastre miserável? Partilha & Qualidade: uma partilha de qualidade ou uma qualidade partilhada? Texto Ana Rita Martins

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Índice

A Psicologia Aqui e Agora, 44-45 XIX Encontro Nacional de Estudantes de Psicologia, 46-53

A Psicologia na Universidade do Minho, 68-72 Já com uma estrutura bem definida a nível institucional, a Escola de Psicologia da Universidade do Minho, ao longo do tempo tem vindo a adaptar-se às reais necessidades da área e do país, apostando fortemente numa formação direccionada para a investigação, proporcionando diversas experiências nesse sentido, nomeadamente, investindo em laboratórios diversos, actividades inovadoras, tudo em função de uma boa formação, que se possa colocar efectivamente em prática num futuro próximo. Texto Daniela Valente / Patrícia Pereira

Texto Ana Rita Martins / Andreia Jesus / Maria Gouveia / Mariana Guarino / Patrícia van Beveren

“Afirmar os Psicólogos”: O Primeiro Congresso Nacional da Ordem dos Psicólogos Portugueses, 54-59 Mais de 1800 psicólogos esgotaram o Centro Cultural de Belém naquele que foi o encontro histórico na afirmação da Psicologia em Portugal, o Primeiro Congresso Nacional da Ordem dos Psicólogos. Texto Ana Rita Martins / Andreia Jesus

"Mind the body": O 26˚ Congresso da EFPSA, 60-67

A Psicologia das Organizações do Trabalho e dos Recursos Humanos, 73-76 O ser humano é uma coisa estranha que pensa e nessa perspectiva inventou a liberdade. Por vezes sabe quem é, mas tudo o que quer é não o ser e, por isso, passa a vida a combater e a lutar contra si mesmo. E vai trabalhando… Outras vezes o que mais quer é preencher um vazio existencial e, neste caso, passa a vida a procurar algo que nem sabe bem o que é. E muda de trabalho… Inacabado ao nascer. Ao evoluir, insatisfeito. O encontro do indivíduo com a autenticidade da sua existência e de um lugar na sociedade é um dos seus maiores desejos. E nessa (mesma) perspectiva inventou a escolha e a decisão de livre vontade. Texto Ana Rita Martins

Estágios da Ordem dos Psicólogos Portugueses, 77-81 Em 2010, para além da aprovação, em Portugal, da lei que permite o casamento homossexual, do terramoto no Haiti, de 7.0 graus na escala de Richter, que provocou a morte de 230 mil pessoas, da realização do primeiro transplante facial total, da visita do papa Bento XVI a Portugal, e dos 33 mineiros que ficaram presos numa mina no Chile, foi publicado, a 20 de Outubro, na 2ª serie do Diário da República o Despacho Nº 15866/2010 – Regulamento de Estágios da Ordem dos Psicólogos. Texto Mariana Guarino

As Unidades de Investigação & Desenvolvimento em Psicologia em Portugal, 82-89 A investigação tem sempre vindo a acompanhar o desenvolvimento do conhecimento e de novas descobertas no meio científico. No âmbito das ciências psicológicas, tal não é excepção. É através da investigação que se reúnem conhecimentos, conceitos e conclusões fundamentados em estudos rigorosamente desenvolvidos, que constituem (ou pretendem constituir) a base de qualquer boa prática psicológica. Texto Maria João Gouveia

Texto Maria João Gouveia

Próximos eventos em Psicologia, 90-92

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Oportunidades e Desafios


A Psicologia da crise

A Psicologia da crise São múltiplas e profundas as transformações que ocorrem na época actual em que vivemos, desafiando, a cada dia que passa, a capacidade de reacção do Homem. Deste leque imenso de transformações, que ocorrem a ritmos vertiginosos, faz já parte o conceito de “crise”, cuja referência tem ecoado cada vez mais pelos media, pelas ruas e pelas várias famílias portuguesas. Texto Alice Morgado / Andreia Jesus / Bárbara Costa / Mafalda Sobral / Mariana Ambrósio / Patrícia Pereira Fotografia Roberto Botelho

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ste conceito pode já ser considerado como a palavra da “moda”, gerador de impasses e de um possível esgotamento do modo de vida, que abarca o campo da experiência psicológica dos indivíduos, constituindo uma crescente preocupação nos dias correntes. Todos os dias perpassa para a sociedade a valência negativa da crise, o que acaba por enfraquecê-la, deixando-se aluir pela maré negativa de notícias provenientes, essencialmente, dos órgãos de comunicação social. Segundo a Professora Doutora Maria Jorge Ferro, docente na FPCE-UC, com quem a RUP teve a oportunidade de conversar, o discurso político tende a referir-se à crise económica como sendo uma enorme preocupação e geradora de pânico.Em geral, todos dizem que o caminho que está a ser seguido não é o correcto mas que, ainda assim, pouco se faz para parar este percurso. Neste sentido, a docente acrescenta que para além de a crise se reportar à crise económica mundial, europeia e portuguesa, diz respeito também a uma crise absoluta do sentido da vida e daquilo que é ser-se humano. Na sua opinião, esta é a crise que realmente preocupa os

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profissionais de Psicologia, afirmando que “isto só vai mudar se as pessoas todas assumirem que têm uma responsabilidade, alterando a sua acção, o que implica ter um sentido claro para a vida”. A crise económica actual tem originado grandes consequências ao nível da saúde mental do ser humano, sendo vasto o conjunto de efeitos adversos, em particular do foro psicológico. O efeito principal e o mais abordado tem sido a depressão, seguida pelo suicídio e pelo consumo descontrolado de drogas. Contudo, os efeitos psicológicos podem também ser menos evidentes ou enquadrar-se num quadro clínico de menor gravidade, como uma sucessão e evolução de pensamentos negativos, cujo impacto não se poderá, de modo algum menosprezar. As pessoas não só têm vindo a reformar as suas expectativas, como também os seus planos futuros, seus planos futuros, o que patenteia um elevado nível de insegurança. Começam por inibir alguns comportamentos, pensando no futuro de forma disfórica e acabam por viver o dia-a-dia com uma grande ansiedade. O facto de a maior parte dos indivíduos desenvolver estilos

Acho que a população está a ter uma atitude mais passiva do que activa, as pessoas estão a desacreditar.

de vida que pouco visam o dia de amanhã ou a possibilidade de alguns privilégios cessarem leva, por vezes, a uma grande sensação de impotência. Segundo a Professora Doutora Maria Jorge Ferro, a crise económica leva as pessoas a terem medos, o que as faz silenciarem-se e comprometerem-se, retraindo as suas formas de estar, agir, pensar, falar e até de reivindicar condições dignas de trabalho: “acho que a população está a ter uma atitude mais passiva do que activa, as pessoas estão a desacreditar” – menciona a docente. Será então pertinente questionarmos acerca das consequências psicológicas da crise económica no indivíduo? O que fazer? Como prevenir? Em que medida a crise põe em causa toda a actuação dos profissionais de Psicologia junto dos seus pacientes? Estas, entre outras, são interrogações para as


oportunidades e desafios

Por isso importa “fazer as contas” e investir no que faz sentido a médio prazo, ou seja, numa intervenção psicológica que possa prevenir o agravamento de situações existentes e detecte atempadamente novas situações que merecem intervenção.

quais é necessário encontrar respostas claras, objectivas e informativas. Segundo a notícia lançada pela RTP, no dia 1 de Outubro de 2011, Portugal aparece como o país da Europa com a maior taxa de depressão, num estudo realizado pela Aliança Europeia. Será que o país está preparado para responder de forma apropriada face aos dados apresentados? Na tentativa de conhecer em que estado se defronta Portugal e que recursos tem à sua disposição na área da Psicologia, entrevistámos o Bastonário da Ordem dos Psicólogos Portugueses, Professor Doutor Telmo Baptista e o Psicólogo Clínico Dr. Luís Marques, membro sócio fundador e profissional da equipa Psikontacto – Núcleo de Formação e Intervenção Terapêutica com Crianças e Adolescentes (Coimbra). Face ao incremento do número de depressões e suicídios registados nos últimos anos como consequência da crise económica actual, o Professor Doutor Telmo Baptista defende a necessidade uma “intervenção psicológica de proximidade, focalizada e de amplo acesso”, sendo importante a inclusão de psicólogos em estruturas de proximidade, como Centros de Saúde, uma vez que estes são “os primeiros pontos de referência para ajudar a despistar as situações que necessitam de uma intervenção psicológica”. No entanto, os cortes

na saúde, bem como na educação, poderão pôr em causa a respectiva inclusão e a prestação de serviços por parte dos psicólogos, o que poderá levar, não só a danos pessoais extensos, como também a danos económicos. O Bastonário da OPP descreve que “um relatório recente da OMS refere que o impacto da perturbação mental no PIB da Europa é de cerca de 3-4%, ou seja, um impacto económico muito considerável. Por isso importa “fazer as contas” e investir no que faz sentido a médio prazo, ou seja, numa intervenção psicológica que possa prevenir o agravamento de situações existentes e detecte atempadamente novas situações que merecem intervenção.” Tendo em conta a nova conjectura, as principais medidas de prevenção a serem tomadas pelos psicólogos, segundo o Professor Doutor Telmo Baptista, devem ser a nível governamental e institucional, tendo os psicólogos um papel essencial no que diz respeito ao fornecimento de estratégias pessoais para ajudar as pessoas a lidar com perturbações do stress, ansiedade, depressão e suicídio resultantes da crise. Sendo que, cada vez mais, o número de indivíduos vulneráveis às consequências da crise é maior, ou seja, são mais aqueles que têm poucos recursos pessoais, sociais e familiares, o Bastonário deixa o alerta de que é “preciso reforçar a presença de

psicólogos nas estruturas de proximidade e acabar com o desperdício português de termos técnicos que não utilizamos”, reforçando que “um dos dramas de Portugal é não saber aproveitar bem as competências desenvolvidas pelos seus profissionais, que depois são utilizadas no estrangeiro e para benefício de outros”. Dado que trabalha em contexto privado, o Dr. Luís Marques observa, no que diz respeito à procura de ajuda psicológica como consequência da actual crise económica, que “os clientes referem mais frequentemente problemas associados à crise económica nas consultas.” Chega, ainda, a mencionar que a crise é “ao mesmo tempo um factor importante na psicopatologia e um factor que restringe a procura de ajuda psicológica, sobretudo em contexto privado mas não só, por questões económicas”. No sentido de minorar os custos, já que o aconselhamento psicológico privado pode tornar-se dispendioso, existem locais onde as pessoas se poderão dirigir para encontrar este tipo de ajuda, nos serviços públicos. Como o Dr. Luís Marques nos referiu, é possível encontrar aconselhamento e apoio psicológico “nos hospitais centrais e boa parte dos centros de saúde que, apesar do seu escasso número, compreendem equipas de proximidade que trabalham RUP Nº1 13


A Psicologia da crise

num contexto multidisciplinar e que fazem um trabalho importante de prevenção primária”. Em geral, os estudos apontam para o incremento da procura e utilização dos serviços de saúde mental em períodos de crise económica, bem como o aumento de hospitalização de doentes psiquiátricos. No entanto, é relevante salientar-se que os cortes resultantes dos programas de austeridade poderão levar, não apenas a uma diminuição do número de Psicólogos nos hospitais e centros de saúde, mas também, ao decréscimo da procura global dos serviços de saúde mental, o que poderá resultar em consequências preocupantes. Segundo o Dr. Luís Marques, neste caso, as pessoas irão acabar por dirigir-se aos serviços de psicologia e psiquiatria, apresentando situações clínicas mais graves, mais incapacitantes e de pior prognóstico. No que diz respeito às principais causas associadas à crise económica, expostas pelos pacientes, são referidas, não só para as depressões mas também para os problemas de ansiedade e dependências (com particular incidência no álcool): a eminência do desemprego, a instabilidade laboral e a precariedade do futuro próximo. O Dr. Luís Marques refere que “a dificuldade em encontrar trabalho, poder pensar numa carreira ou até, meramente, poder ter uma vida independente dos pais são aspectos frequentemente referidos em consulta. O trabalho em áreas que são, em geral, pouco gratificantes, a pouca remuneração e a percepção das desigualdades socias têm sido aspectos que começam a estar também presentes, contribuindo para o desespero e para a sensação de impotência que, por sua vez, colaboram decisivamente para a depressão”.

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A dificuldade na organização e estabelecimento de rotinas e projectos de vida, a sensação de incapacidade para transformar a situação decorrente de problemas relacionados com a crise económica actual, a redução de perspectivas de mudança para uma situação mais compensadora, a reestruturação da vida pessoal em virtude das exigências financeiras que a crise coloca e o desespero são alguns dos sintomas psicológicos referidos com mais frequência. Particularmente preocupante é o facto de se verificarem também recaídas de situações psicopatológicas que já estavam controladas ou que já tinham cessado. A junção entre a vulnerabilidade psicológica e a vulnerabilidade social é, então, actualmente, a mistura bombástica para os sintomas de maior circunspecção que levam ao suicídio, violência e ao consumo de drogas, como o álcool, marijuana ou haxixe, refere o Dr. Luís Marques. Inerentes a estes efeitos psicológicos negativos estão os efeitos económicos, também eles de valência negativa, que estão bem patentes no aumento da taxa de desemprego. Segundo os dados do Eurostat, lançados a 2 de Abril de 2012, a taxa de desemprego em Portugal atingiu os 15% no segundo mês do presente ano, fazendo com que se destaque na lista dos países-membros da UE como o terceiro país com a taxa de desemprego mais elevada. Este acentuado aumento do desemprego faz-nos reflectir sobre a importância do trabalho na vida do ser humano, na medida em que se trata de uma actividade produtiva com valor para a sociedade. É uma experiência que integra actividades pelas quais os seres humanos recebem dinheiro, permitindo a sua sobrevivência, bem como actividades que cumprem diversas funções, como a manutenção de rotinas diárias e de desenvolvimento de redes sociais, refere a docente da FPCE-UC, especialista em

(...) os cortes resultantes dos programas de austeridade poderão levar, não apenas a uma diminuição do número de Psicólogos nos hospitais e centros de saúde, mas também, ao decréscimo da procura global dos serviços de saúde mental, (...)


oportunidades e desafios

As pessoas tomaram consciência de que têm de mobilizar os seus recursos e estão a perceber que têm mais recursos do que achavam que tinham antes desta situação.

Aconselhamento da Carreira, Professora Doutora Paula Paixão. Segundo a mesma, a crise económica vigente pode ter um impacto positivo, uma vez que possibilita às pessoas considerarem diferentes maneiras de viver e de pensar sobre certas questões que nunca tinham sucedido até ao momento e “até eventualmente nalguns casos reorganizarem a sua vida através de formas alternativas”. A docente pensa que a população geral é, de alguma forma, pessimista mas também resiliente na medida em que as pessoas se esforçam por

superar numerosos obstáculos e viver normalmente o quotidiano. “As pessoas tomaram consciência de que têm de mobilizar os seus recursos e estão a perceber que têm mais recursos do que achavam que tinham antes desta situação”. De facto, ao longo da vida adulta, as intervenções de carreira podem ser cruciais, já que têm um papel importante na facilitação da transferência das aprendizagens e dos conhecimentos e competências adquiridos em contextos desiguais de vida. Tendo em conta as palavras

da Professora Doutora Paula Paixão, os profissionais de aconselhamento de carreira podem actuar a três níveis: a um nível mais directo, seja individual ou grupal, a um nível de consultoria de carreira e a um nível de advocacia social. No nível de consulta, mais propriamente dito, os psicólogos podem ajudar os sujeitos a reconhecer os seus recursos, ajudar as pessoas a lidar com o impacto negativo das situações, a tornar dificuldades em oportunidades e fazer com que o sujeito tenha consciência crítica daquilo que é da sua responsabilidade e o que é da responsabilidade de outrem. E no que diz respeito às organizações, como poderão as empresas fazer uma gestão adequada dos recursos humanos? Dado o contexto actual do progressivo crescimento do desemprego e da insuficiência na criação de postos de trabalho, a crise poderá definir-se como “um acontecimento extraordinário ou uma série de acontecimentos, que afecta de forma diversa a integridade do produto, a reputação ou a estabilidade financeira da organização” (Wilcox et al., 1999). A crise actual obriga o encerramento de várias empresas por toda a Europa, tornando-se, consequentemente, também uma crise social, dado que os encerramentos consecutivos e, muitas vezes, inesperados deixam as pessoas receosas e inseguras, particularmente no controlo do seu futuro. O despedimento, utilizado em casos de insolvência ou mesmo na reestruturação de muitas empresas, que se viram forçadas a reduzir o orçamenRUP Nº1 15


A Psicologia da crise

to para a manutenção de postos de trabalhos, origina um pico de stress, tanto na vida do trabalhador como também na empresa. Na realidade, o despedimento acarreta tanto consequências emocionais, cognitivas e motivacionais para o recente desempregado como também provoca uma quebra ao nível da imagem externa, uma diminuição da eficácia laboral e das relações de trabalho, sendo por último verificável a deterioração do ambiente de trabalho (Maia, & Nyaradi, 2005). Esta é uma experiência dolorosa, assustadora e, muitas vezes, devastadora para a pessoa enquanto indivíduo, que perdeu não só o seu sustento mas também a sua função na sociedade (Maia, & Nyaradi, 2005). Devido à elevada competitividade do mercado de trabalho e ao facto de várias empresas comercializarem um mesmo produto, o valor das empresas não se irradia tanto dos seus bens físicos, mas sim dos seus activos intangíveis como é o caso da experiência e motivação dos seus funcionários. Numa entrevista a Hugo Costa, licenciado em gestão de recursos humanos e responsável pelos recursos humanos nos cinemas UCI, este mostrou apoiar a ideia de que “por formação e ideologia acredito que o maior activo das empresas são os seus recursos humanos”. Actualmente, as empresas procuram investir numa gestão mais eficaz dos recursos humanos, evidentemente, devido à solidificação da percepção de que colaboradores bem treinados, motivados e fortemente envolvidos na dinâmica empresarial, são um trunfo no mercado cada vez mais problemático e delicado. Apoiando estes mesmos conceitos, Hugo Costa assegura que “quando existe motivação nos trabalhadores, os mesmos sentem que o seu esforço é recompensado e que existe uma avaliação justa e objectiva, o que levará à tendência de elevar os níveis 16 RUP Nº1

de eficiência e, consequentemente, os de produtividade”. Nesta demanda, por uma maior produtividade empresarial, surge o conceito de “qualidade de vida no trabalho”, que se refere à satisfação de diferentes necessidades dos trabalhadores no desempenho das suas tarefas, incluindo necessidades sociais, de aprovação, de utilização das suas capacidades, etc., envolvendo, portanto, o efeito do trabalho na satisfação laboral, na satisfação com outras áreas da vida, na satisfação geral com a vida, na felicidade e no bem-estar subjectivo (Sirgy et al. 2001). Neste sentido, a empresa está interessada no combate a eventos stressantes, apesar de a acção da crise também se fazer sentir neste sector. Nas palavras de Hugo Costa, “é óbvio que com as restrições que a crise criou é necessário mais imaginação e uma adaptação às novas realidades”. Nesta perspectiva, as empresas são as principais interessadas na caça de programas empresariais, para que estes eventos stressantes sejam minorados, tomando a perspectiva de que o investimento em recursos humanos e lucro não são conceitos antagónicos. Neste mesmo sentido, Hugo Costa afirma que a gestão dos recursos humanos deveria passar por uma “política motivacional justa e o mais objectiva possível”. Os especialistas em recursos humanos terão, portanto, um papel fundamental nesta readaptação do contexto laboral a uma situação de crise, tentando assim reduzir os episódios de stress e as consequências negativas cada vez mais associadas a esta. Um outro aspecto que interfere significativamente com a produtividade e, portanto, com o interesse da empresa, é a condição de trabalho, dado que esta influencia a própria actividade laboral e o seu resultado. Com a instauração de um regime de crise, termos como “precariedade”, ganharam força no mercado de trabalho, instalando uma atmosfera de

A crise actual obriga o encerramento de várias empresas por toda a Europa, tornando-se, consequentemente, também uma crise social, dado que os encerramentos consecutivos e, muitas vezes, inesperados deixam as pessoas receosas e inseguras, particularmente no controlo do seu futuro.

incerteza e temor no seio dos trabalhadores. Como forma de melhorar as condições laborais, surgiu o sistema de prémios por mérito, os quais são um “bom exemplo de como o lucro e motivação podem andar de mãos dadas”, afirma Hugo Costa. Apesar da geral descrença na resolução dos problemas económicos e na melhoria do mercado de trabalho, várias são as empresas que deveriam ser felicitadas, uma vez que, mesmo em tempos de crise, foram capazes de planear e executar planos de reestruturação construtivos, eficazes e essenciais na delimitação da perda dos postos de trabalho. É fulcral, portanto, acreditar que as empresas, através de uma gestão optimal dos seus recursos humanos, são capazes de criar formas construtivas de combate à crise. No sentido de ultrapassar todas estas contrariedades, e perante a crise económica, é necessário que o indivíduo tenha uma grande capacidade de resiliência e de serenidade, podendo promover a sua autorregulação. A capacidade de identificar, precisamente, a causa dos problemas e das adversidades do meio, a tomada de decisão, que proporciona, muitas vezes, a força


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De uma forma mais geral, será importante repensar e melhorar o acesso da população a uma educação mais inclusiva, de melhor qualidade, e a cuidados de saúde mental devidamente estruturados e capazes de dar resposta às exigências das situações adversas com que a sociedade e o ser humano se vão deparando.

necessária para se poder enfrentar os contratempos e o optimismo baseado num investimento contínuo na crença de que tudo poderá melhorar, são três factores, também eles essenciais, para manter a integridade psicológica face à crise. Quando existe esta capacidade de resiliência nos indivíduos, isto é, ser-se capaz de superar os obstáculos, respondendo de forma saudável, produtiva e proactiva, a gestão e transposição da crise constituirão uma adaptação positiva ao sistema. A saúde mental depende desta capacidade, devendo-se encarar o trabalho e a vida pessoal de uma forma construtiva. A crise cria sentimentos de impotência e impede-nos, muitas vezes, de pensar produtivamente, o que dificulta a nossa interpretação da realidade. Os indivíduos podem procurar encontrar algo de construtivo nas mudanças que estão a ocorrer mesmo que, numa primeira instância, seja complicado descobrir o lado positivo das situações, sobretudo quando estas são tão complicadas de entender e para as quais não parece haver “responsáveis”. É essencial salientar a importância de educar as novas gerações neste sentido, de se tornarem sujeitos capazes de ultrapassar as suas dificuldades e com a capacidade de encontrarem formas eficazes de lidar com os problemas. Desta forma, com a finalidade de tentar prevenir que futuras gerações caiam num oceano de frustrações

fundo, será importante trabalhar a questão da gestão de expectativas de futuro. É igualmente essencial tentar não cair num exagero desmedido ao ponto de afirmar, como muitas vezes referenciado pelos nossos políticos que “os Portugueses vivem acima das possibilidades”. De uma forma mais geral, será importante repensar e melhorar o acesso da população a uma educação mais inclusiva, de melhor qualidade, e a cuidados de saúde mental devidamente estruturados e capazes de dar resposta às exigências das situações adversas com que a sociedade e o ser humano se vão deparando. A psicologia deve, por isso, lutar para que o futuro não seja observado de forma temerosa e para que as expectativas não baixem drasticamente. Neste âmbito a resiliência é cada vez mais um recurso pessoal crucial que deve ser trabalhado e fomentado, no sentido de repensar um futuro mais promissor.

Referências: ▶ Maia, C. G. S., & Nyaradi, N. O. (2005). Outplacement: A arte de humanizar demissões. Simpósio de Excelência em Gestão e Tecnologia, 605-618. Retirado de http://www.aedb.br/seget/artigos05/275_ OUTPLACEMENT-SEGET.pdf. ▶ Sirgy, M. J., Efraty, D., Siegel, P., & Lee, D. J. (2001). A new measure of quality of work life (QWL) based on need satisfaction and spillover theories. Social Indicators Research, 55, 241–302. doi:10.1023/A:1010986923468. ▶ Wilcox, D. L., Ault, P.H., Agee, W.K., & Cameron, G.T. (1999) Public relations: Strategies and tactics (6th ed). Boston: Allyn & Bacon

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Trabalhar no estrangeiro

Trabalhar no estrangeiro O Pedro Monteiro e a Filipa Rodrigues são duas pessoas muito diferentes, cada um com as suas próprias ideias e sonhos para o futuro. Texto Alice Morgado Fotografia Pedro Monteiro e Filipa Rodrigues

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m comum têm a formação em Psicologia, em particular, do mestrado WOP-P em Psicologia das Organizações, do Trabalho e dos Recursos Humanos*, e o facto de estarem a trabalhar no estrangeiro. Por isso, pedimos a estes antigos estudantes de Psicologia, para nos contarem um pouco do seu percurso formativo e profissional, ajudando-nos a compreender o que os levou a escolher trabalhar fora de Portugal e o que isso realmente significa. O Pedro Monteiro foi para Genebra (Suíça), onde se enquadrou numa equipa multidisciplinar dentro da área de formação e recursos humanos. Mas até chegar a este ponto do seu percurso, há uma interessante história que partilhou com a RUP. “Comecei o meu percurso na Universidade de Coimbra em 2005, quando entrei para a licenciatura em Psicologia. Sempre me interessei mais por uma abordagem aplicada da Psicologia. Foi muito importante ter tido cadeiras que davam uma visão de como os modelos psicológicos, os métodos de avaliação e intervenção podiam ser aplicados em contextos tão diferentes como o desporto, tribunais ou empresas. Penso que essa é uma mensagem que, muitas vezes, não passa para a sociedade: a Psicologia tem (já) aplicação real muito para lá dos consultórios e hospitais. As cadeiras que tive no meu terceiro ano mostraram isso e influenciaram, sem dúvida, a escolha da área de Psicologia das Organizações. Em 2008, concluída a licenciatura e já no novo quadro de Bolonha, candidatei-me e fui aceite no mestrado em Psicologia do Trabalho Organizações e Recursos Humanos Erasmus Mundus WOP-P. A minha escolha não foi difícil. Dentro da área de Psicologia das Organizações, o mestrado em Psicologia do Trabalho Organizações e Recursos Humanos Erasmus Mundus WOP-P é único no nosso país e, tanto quanto sei, ainda o é na Europa. É exigente e trabalhoso mas, ao mesmo tempo, marcado por experiências internacionais muito ricas e um ambiente de grande proximidade entre os alunos e professores – o sermos menos alunos ajuda muito, e o modelo aproxima-se muito de mestrados em países como a Holanda e Estados Unidos. 18 RUP Nº1


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Ao mesmo tempo, é uma mais-valia para uma experiência de trabalho internacional e num ambiente global – seja no conhecimento ecompetências que te dá seja, também, na capacidade de networking, project management e team work que te dá. Foi uma experiência que me influenciou muito e de que me orgulho muito. O profissional que sou hoje e o percurso que vou construindo aos poucos devo-o às excelentes bases e experiências que este mestrado oferece.”

▶ A Filipa vive e trabalha em Madrid (Espanha), onde chegou e se tem mantido graças ao programa Inov Contacto**. Trabalha numa empresa multinacional jovem, dinâmica e inovadora onde os desafios são constantes e, mais do que Psicóloga, vê-se como Profissional de Recursos Humanos. 20 RUP Nº1

A Filipa vive e trabalha em Madrid (Espanha), onde chegou e se tem mantido graças ao programa Inov Contacto**.


oportunidades e desafios

O seu percurso académico, e à semelhança do Pedro, teve lugar na Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Coimbra, a sua primeira opção, que considera ter sido, não apenas uma base de preparação para a vida profissional, mas sobretudo uma escolha muito importante para o seu crescimento pessoal: “foram 5 anos que recordo com muita saudade e que passaram muito rápido, foram tempos vividos com muita intensidade, por vezes com alguns momentos difíceis, mas sempre repletos de aprendizagens a vários níveis e vividos ao lado de grandes amigos. É difícil de descrever, só posso dizer que me sinto orgulhosa por ter estudado e feito parte da FPCE da Universidade de Coimbra e acho que é uma experiência sem comparação, que deixa uma marca profunda no nosso percurso pessoal e profissional”. Quando chegou a altura de escolher o mestrado, a Filipa optou por aquele

que também assegura ser o melhor mestrado em Psicologia do Trabalho, das Organizações e dos Recursos Humanos a nível europeu no que concerne à qualidade e exigência do programa: “escolhi-o porque era o que tinha o melhor programa curricular e que conciliava o desenvolvimento de competências de investigação com competências profissionais. Por outro lado, este mestrado podia fazer toda a diferença no meu currículo e futuro profissional, pois ao tratar-se de um

(...) uma das grandes mais valias do mestrado foi a interacção internacional, a promoção da mobilidade e de intercâmbio de aprendizagens de alunos e de professores reconhecidos da área originários de diversos países (...)

mestrado europeu estou convencida de que mais tarde podia dar-me mais visibilidade no mercado de trabalho e abrir-me mais portas”.A vertente internacional do pograma e a possibilidade de estudar noutras universidades fora do país foram factores decisivos na sua decisão em se candidatar, dado que “um currículo internacional é muito valorizado no mercado de trabalho e tem mais visibilidade”. Deste modo, findos os cinco anos de formação em Psicologia, a Filipa pode obter um duplo diploma da Universidade de Coimbra e da Universidade de Valencia, na qual estudou durante um semestre. De facto, a ex-estudante de Psicologia reconhece que essa experiência de aprendizagem em Espanha, assim como o facto de ter aprendido a língua, foram decisivos para que agora esteja a trabalhar em Madrid. Sem dúvida, considera que uma das grandes mais valias do mestrado foi a interacção internacional, a promoção RUP Nº1 21


Trabalhar no estrangeiro

da mobilidade e de intercâmbio de aprendizagens de alunos e de professores reconhecidos da área originários de diversos países: “estas interacções preparam-nos para ambientes de trabalho internacionais, como acontece com as empresas multinacionais. O mestrado ajudou-me a preparar-me para o trabalho com equipas virtuais, é muito mais difícil de trabalhar com equipas virtuais e de geri-las do que em equipas em que estamos a trabalhar lado a lado com as pessoas”. Para além disso, destacou o desenvolvimento de competências pessoais e profissionais (como resiliência, trabalho em equipa, etc.), a possibilidade de aprender com professores reconhecidos internacionalmente da área da Psicologia do Trabalho, das Organizações e dos Recursos Humanos, a aquisição de conhecimentos teóricos a que hoje em dia recorre no seu local de trabalho, como grandes vantagens da formação que obteve.

▶ Relativamente às mais-valias desta

formação, o Pedro também destacou a possibilidade de contactar e conhecer as diferentes práticas de Recursos Humanos nos vários países e conhecer as diferenças culturais entre eles: “sabermos trabalhar com elas, e potenciá-las, é o maior desafio que podemos encontrar em empresas multinacionais hoje em dia. É algo que os meus colegas de trabalho sempre me dizem e que, no dia-a-dia, comprovo. O mestrado deu-me essas bases através de várias experiências internacionais - todas elas, muito estruturadas. Por exemplo, no mestrado temos sempre dois períodos de estudo e trabalho em duas universidades do consórcio e, desta forma, uma vez concluído o mestrado temos um diploma duplo que reconhece as nossas competências e formação. Mas mais importante é que, em ambas as universidades, estudamos e conduzimos projectos de equipa com colegas de 22 RUP Nº1

de diferentes países. Podemos estudar muito sobre o que é a gestão de diversidade, mas não é muito melhor aprendermos no dia-a-dia a trabalhar com ela? Ao mesmo tempo, o mestrado oferece a possibilidade de um terceiro período de mobilidade (opcional). No meu caso, estudei nos Estados Unidos, na Universidade de Portland, e, ainda hoje, sinto que foi das experiências que mais me ajuda a trabalhar num contexto internacional”. Acrescenta ainda que, mesmo não tendo assumido a posição de psicólogo, a sua formação em Psicologia tem muito peso no modo como trabalha: “em jeito de caricatura, Maslow (e outros tantos) têm lugar nas empresas e nas conversas que tenho com colegas”.

(...) trabalhar num ambiente extremamente internacional”. Sobre as diferenças entre o trabalho em Portugal e a Suíça, Pedro considera que “ao contrário de Portugal, a diferença é que a Psicologia, os seus modelos e métodos, nas organizações internacionais é assumida com grande naturalidade (da Psicologia e doutras áreas do conhecimento). Não há fronteiras rígidas.

O percurso profissional do Pedro começa com o estágio curricular na Capgemini, seguido de um segundo estágio em recrutamento e selecção na Michael Page. Depois disso, para o Pedro a mudança para a Suíça, “um dos países europeus onde encontro uma maior diversidade cultural e uma das economias mais dinâmicas, foi um passo natural”, já que, após a

conclusão do mestrado e das experiências que este lhe proporcionou, percebeu que o que mais o entusiasma e motiva é “ trabalhar num ambiente extremamente internacional”. Sobre as diferenças entre o trabalho em Portugal e na Suíça, Pedro considera que “ao contrário de Portugal, a diferença é que a Psicologia, os seus modelos e métodos, nas organizações internacionais é assumida com grande naturalidade (da Psicologia e doutras áreas do conhecimento). Não há fronteiras rígidas.” No caso da Filipa, o percurso profissional em Portugal consistiu em dois estágios realizados ainda como estudante: “ambas as experiências de estágio que tive foram curtas


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(...) a “aventura” de não saber a que país iria parar e de poder contactar e integrar-se noutra cultura foram fortes motivações para a candidatura.

e bastante especializadas numa ou duas áreas centrais, principalmente recrutamento e formação”. A ex-estudante acrescentou que, todavia, “nunca tinha trabalhado numa empresa multinacional que era o que eu queria, uma empresa multinacional é muito mais dinâmica e aprende-se a um ritmo mais acelerado, há sempre novos projectos”. De facto, considera que a nível de empresas multinacionais, Portugal não tem tantas oportunidades de progressão de carreira como outros países: “por exemplo, numa empresa multinacional que tenha filiais em Portugal e em Espanha, normalmente há sempre mais empregados e mais cargos de maior responsabilidade em

Espanha, da mesma forma há funções desempenhadas em Espanha nessas mesmas multinacionais que não estão representadas em Portugal”. De facto, foi salientado o valor que uma experiência de trabalho noutro país pode ter para as empresas: “é quase um ritual de passagem para poder aceder a empresas multinacionais, o mercado de trabalho lá fora tem outro tipo de oportunidades que podem não surgir tão facilmente em Portugal”. A emigração foi sempre uma hipótese presente na sua mente e, talvez por já ter vivido dez anos na Alemanha durante a infância, a Filipa não teve qualquer receio de o fazer. “Um dos principais factores pelos que

me candidatei ao programa de estágios do INOV Contacto foi porque gostava de poder trabalhar numa empresa estrangeira, de preferência multinacional”. Além disso, a “aventura” de não saber a que país iria parar e de poder contactar e integrar-se noutra cultura foram fortes motivações para a candidatura. Foi precisamente por esse desejo de aventura que nos confessou que, quando soube que havia sido selecionada para Espanha, ficou um pouco desiludida, já que o desafio cultural não iria ser tão grande como noutros países, como a China ou Índia. Contudo, e após algum tempo a viver em Madrid, também reconheceu: “afinal vim parar ao país vizinho e estou a adorar, tanto que ainda continuo por aqui”. Do ponto de vista profissional, a Filipa contou-nos que, na multinacional onde trabalha, “há muita coisa ainda que tem de ser criada e consequentemente há muitas oportunidades de participar em projectos diferentes”, destacando, nesse mesmo contexto, o contacto constante com colegas de outros países: “é uma oportunidade de aprender a trabalhar com equipas multiculturais e de forma virtual o que constitui também um grande desafio”. Quanto ao futuro, o Pedro tem grande entusiasmo pela área de formação e desenvolvimento, sobretudo de colaboradores e equipas internacionais: “pensa, por exemplo, nos desafios que surgem agora nas empresas: como fazer melhor e mais formação com orçamentos menores e RUP Nº1 23


Trabalhar no estrangeiro

A emigração é um desafio considerável que deve ser equacionado e ponderado como projecto de vida e ambição pessoal e nunca como uma necessidade ou inevitabilidade.

colaboradores cada vez mais ocupados? Como manter o conhecimento e competências nas organizações quando os colaboradores saem? Como adaptar a formação à maneira de aprender, trabalhar e viver de uma geração, como a minha, que tem como ponto de referência para comunicação as redes sociais? Se pensarmos bem, muito disto passa por questões como motivação, comunicação ou dinâmica de grupos – questões que, acho, são familiares para os estudantes de Psicologia desde o primeiro ano”. Para a Filipa, no futuro, há a perspectiva de crescer como profissional de recursos humanos, com um particular interesse pelas áreas de Talent Management e Compensações e Benefícios. No entanto, com uma visão bastante realista e madura, a ex-estudante partilhou o seu desejo de mais aprendizagem e formação no que concerne a cada uma das áreas da Psicologia do Trabalho das Organizações e dos Recursos Humanos: “a especialização numa área sempre se pode fazer mais tarde; o importante é continuar a investir em formação para o desenvolvimento contínuo na profissão”. Os antigos estudantes deixaram, ainda, alguns conselhos aos actuais estudantes de Psicologia sobre a possibilidade de trabalhar no estrangeiro. 24 RUP Nº1

Ficou sobretudo a ideia que que tal escolha não deve nunca ser encarada como solução de recurso. A emigração é um desafio considerável que deve ser equacionado e ponderado como projecto de vida e ambição pessoal e nunca como uma necessidade ou inevitabilidade. Para além disso, foi destacada a importância da obtenção prévia de muita informação sobre o destino, assim como a criação de uma rede de apoio e contactos nesse mesmo destino. Pedro Monteiro: “Encorajo que o façam por vocação e não por necessidade. É uma ideia simples mas importante: se fores por vocação e motivado, vês em cada obstáculo, e claro que os há, uma oportunidade; se fores desmotivado e por necessidade, a cada oportunidade vês um obstáculo. Este mestrado responde muito bem às dúvidas se queres, gostas e consegues trabalhar num ambiente multinacional. Só te resta fazer uma pergunta: queres saber a resposta?” Filipa Rodrigues: “Acho que pode ser muito importante ter uma experiência de trabalho fora do país durante algum tempo. Para tomar essa decisão, é importante conhecermo-nos bem a nós próprios e reflectirmos um pouco sobre como lidamos perante determinadas dificuldades, principalmente quando estamos longe do

nosso grupo de apoio habitual, da família e de amigos. Não é fácil, principalmente quando se está a iniciar a carreira.”


oportunidades e desafios

* O mestrado WOP-P em Psicologia das Organizações, do Trabalho e dos Recursos Humanos é o único mestrado em Psicologia apoiado pelo Programa “Erasmus Mundus”, conferindo um duplo diploma por duas das cinco Universidades europeias envolvidas no programa: Universidade de Valência (Espanha), Universidade de Barcelona (Espanha), Universidade René Descartes Paris 5 (França), Universidade Alma Mater Studiorum de Bolonha (Itália) e Universidade de Coimbra (Portugal). A orientação para a excelência académica e para uma perspectiva europeia caracteriza este mestrado, no qual o a mobilidade e internacionalização dos seus estudantes está bem patente não só através do desenvolvimento de estudos em diferentes Universidades (Universidades de Origem e de Acolhimento) mas também através da frequência de unidades curriculares intensivas (Winter School) com estudantes de todas as instituições parceiras. ** Iniciativa promovida pelo Ministério da Economia e do Emprego, apoiado pela União Europeia e gerido pela AICEP Portugal Global. Trata-se de um programa que visa apoiar a formação de jovens com qualificação superior em contexto internacional. O estágio no âmbito do programa INOV Contacto dura aproximadamente 6 meses e decorre em mercados de interesse estratégico para Portugal, em entidades de reconhecido interesse e mérito. As entidades acolhedoras dos estagiários podem ser empresas portuguesas com estruturas em Mercados Externos, Empresas Multinacionais e Organizações Internacionais. As empresas de destino distribuem-se por 73 países diferentes, sendo os principais países acolhedores Espanha (15%), Estados Unidos da América (14%), Brasil (10%), China (6%), e Reino Unido (6%). RUP Nº1 25


Inestigar no estrangeiro

Investigar no estrangeiro “Quero investigar no estrangeiro! O que tenho de fazer para isso?” Texto Patrícia van Beveren Fotografia Gilberto Siva

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ara responder a esta questão, pedimos o testemunho de Filomena Parada, a realizar investigação de pós-doutoramento no Instituto de Psicologia Cognitiva, Desenvolvimento Vocacional e Social da Universidade de Coimbra e no Department of Educational and Counselling Psychology and Special Education da University of British Columbia, Canadá; Vânia Gonçalves, investigadora de pós-doutoramento na área de Psicologia Clínica; Nuno Teixeira, também em pós-doutoramento no Instituto de Psicologia – Grupo de Psicologia Experimental da Universidade Johannes Gutenberg em Mainz (Alemanha); Carla Crespo, doutoranda na área de Casal e Família da Universidade de Canterbury, Nova-Zelândia; Mariana Martins doutoranda nos Estados Unidos da América; Carina Teixeira, doutoranda em Psicologia Clínica da FPCEUC e do Institute of Psychiatry do King’s College London. Os motivos que levaram estes investigadores a “ganhar asas e aprender com peritos internacionais”, como nos disse Carla Crespo, são os mais variados: o prestígio das universidades e dos respectivos centros ou unidades de investigação, a pro26 RUP Nº1

jecção internacional dos seus trabalhos, bem como as referências positivas de testemunhos de colegas, são os principais motivos que fazem com que um estudante ou recém-formado de Psicologia pondere ir fazer investigação no estrangeiro. Há também quem tenha tido experiências anteriores de contacto directo com Instituições de Psicologia no estrangeiro, que suscitaram interesse em trabalhar nelas, ou ainda quem vá por ter um interesse particular em ser orientado no mestrado, doutoramento ou pós-doutoramento por algum professor ou investigador que se encontra a trabalhar no estrangeiro. O desejo de Filomena Parada em “expandir e aprofundar as minhas competências enquanto investigadora, ao mesmo tempo que, potencialmente, contribuiría para a minha afirmação e crescimento tanto a nível nacional como internacional” é também um motivo muito partilhado pelos demais investigadores. Assim, as aspirações são de melhorar o curriculo de investigação, aumentando, deste modo, a probabilidade de futuras contratações. Para alguns, investigar no estrangeiro é apenas uma passagem construtiva e estratégica tendo em vista assegurar, posteriormente, a

carreira profissional na sua terra natal, para outros o seu destino é ir “onde o vento os levar”. Subjacente a este sentimento de alargar horizontes e de enriquecimento pessoal e profissional, está a curiosidade de conhecer outras culturas, outros estilos de vida e, mais concretamente, de viver noutro país. Praticamente todas as instituições de investigação têm formas de funcionar, pensar, formular teorias, analisar dados e intrepretar resultados diferentes das portugueses, assim como as teorias e concepções científicas priveligiadas pelas mesmas. Apesar do grande fascínio e curiosidade pelo estrangeiro, há quem tenha mais em conta as desvantagens de investigar Psicologia em Portugal, para dar o “pulo para fora”. Foram referidas, mais concretamente, questões relativas, não apenas ao modo como se faz investigação e se exerce em Psicologia, mas também relativas aos hábitos de trabalho do nosso povo. Qualquer um deste motivos e outros mais que possam existir são válidos e importa conhecê-los, de modo a orientar a pesquisa e as tomadas de decisão, da melhor maneira. É fundamental que, antes de se lançar à aventura, se faça um levantamento


oportunidades e desafios

dos possíveis locais de investigação e nossa área de conhecimento. Uma forma de fazer essa pesquisa fácil e confortavelmente é através da internet, nos sites das universidades e centros de investigação. Deste modo, podemos perceber quem são as pessoas/equipas que trabalham em cada local, o seu modo de funcionamento, os recursos de que dispõe e os interesses e tópicos de investigação sobre os quais se debruçam. Podem, também, analisar-se indicadores como o número de publicações do grupo e o factor de impacto das revistas em que publicam e avaliar a posição (nacional e internacional) da universidade onde as equipas trabalham. Há três maneiras de fazer investigação no estrangeiro: através de estágios ou períodos de formação, com bolsas de mestrado/doutoramento/ pós-doutoramento, ou por via de um contrato de trabalho. No primeiro caso, há que começar por se fazer uma pesquisa inicial, de modo a definir uma proposta com um timing e tarefas definidas, e esclarecer o interesse pelos tópicos e/ou metodologias de investigação daquela equipa/ investigador, enviando essas informações por e-mail, para o coordenador da equipa de investigação ou para um investigador individual. No caso das bolsas de mestrado/ doutoramento/pós-doutoramento, contactam-se os professores/investigadores para saber a sua disponibilidade como orientadores, no âmbito e condições de funcionamento das bolsas, para depois se enviar a candidatura à bolsa. E finalmente, no caso das candidaturas a empregos, deve primeiramente conhecer-se qual o nível a que cada um se pode candidatar, o que depende da nossa experiência prévia e do que é pedido. Depois teremos de perceber se correspondemos ou não à descrição da oferta de emprego, segundo os critérios que são pedidos e, se sim, explicá-lo de modo convincto numa cover letter. Para qualquer um RUP Nº1 27


Inestigar no estrangeiro

destes três processos será uma mais valia falar com professores ou investigadores da área em questão, pois, segundo Carla Crespo, “as dicas informais são uma fonte de informação complementar e preciosa”. Um percurso de investigação inclui diversas fases nas quais os estudantes de Psicologia podem participar, por exemplo, em tarefas como a análise e manuseamento de dados e revisão de literatura. Desta forma não só ganham experiência, como têm a oportunidade de definir se o seu interesse é realmente a investigação. Apesar das fortes expectativas e motivos que levam alguém a tomar a decisão de sair do seu país para se aventurar no mundo da investigação, nem sempre tudo é um “mar de rosas”. Todos os entrevistados se depararam com algumas dificuldades no processo de conseguir garantir a sua ida e, posteriormente, na própria estadia no estrangeiro. Para começar levantam-se questões burocráticas relacionadas as bolsas, com a obtenção do visto e com o local de residência, que são processos complicados e por vezes arrastam-se durante algum tempo. A distância à terra-natal e à família, são por norma os maiores obstáculos, não só na tomada de decisão de ir investigar para fora, mas também, na estadia no outro país. De qualquer modo, supera-se com facilidade, quando se tem boas redes de apoio familiar e dos amigos e graças às tecnologias de comunicação existentes (por exemplo, o Skype). Também a língua constitui um importante desafio: apesar de se falar maioritariamente inglês no ambiente interno dos centros de Investigação, fora destes, “as mais pequenas rotinas (como ir a um café, um supermercado, um bar, a correspondência [incluíndo contas de electricidade e água]) podem apresentar os mais diversos desafios” refere Nuno Teixeira. E mesmo em países em que o povo domine bem o 28 RUP Nº1

Um percurso de investigação inclui diversas fases nas quais os estudantes de Psicologia podem participar, por exemplo, em tarefas como a análise e manuseamento de dados e revisão de literatura. Desta forma não só ganham experiência, como têm a oportunidade de definir se o seu interesse é realmente a investigação.

inglês “há toda uma multiplicidade de interpretações que nos escapa e cuja sensação não se desvanece ao mesmo ritmo que se aprende a língua”. No que diz respeito ao trabalho em si, teremos de desenvolver a parte científica e técnica do nosso trabalho e adaptarmo-nos às dinâmicas e normas implícitas do contexto social e profissional. Cada centro de investigação tem um determinado modo de funcionar, que segue uma certa tradição de temas e privilegia algumas teorias em detrimento de outras, independentemente do paradigma da Psicologia existente na altura. Compreender essa estrutura interna não é um processo automático e aprender a agir em função dela requer algum tempo e constitui um grande desafio. Até porque, como explica Nuno Teixeira, “não é algo que possa ser verbalizado pelos colegas – pelo contrário, é algo que se vai lendo na forma como este ou aquele artigo é lido, a relevância que lhe é atribuída, etc.”. Para isto será crucial a flexibilidade e a curiosidade de conhecer outras culturas e concretamente outras formas de pensar e de trabalhar, que numa primeira instância nos levaram a tomar a decisão de ir para fora. É igualmente importante não nos esquecermos das

nossas raízes e, deste modo, darmos o nosso contributo, da forma mais construtiva possível. Mariana Martins sublinha que “os meus períodos no estrangeiro foram indubitavelmente aqueles que me enriqueceram mais”, sentimento este que é partilhado por todos os entrevistados. Apesar dos contratempos e das dificuldades por que passaram, todos concordaram que é uma experiência de enriquecimento, única e de grande valor. Este desafio permite, através de todas as pessoas com quem nos cruzamos, que esta experiência seja uma “constante fonte de oportunidades e aprendizagens.”, como diz Vânia Gonçalves, acrescentando que “foi uma experiência fantástica quer a nível pessoal, quer a nível profissional [...] que marcou a minha vida e maneira de pensar e fazer Psicologia.” Porém, não retirando importância às pessoas com quem se contacta, há um aspecto pessoal que está na base do sucesso: a flexibilidade e a abertura a novos olhares. Alguns investigadores queixaram-se da dificuldade


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gadores, a investigação em Psicologia é fomentada incisivamente nos países anglo-saxónicos, em particular na América do Norte (Estados Unidos e Canadá), no Reino Unido e na Austrália. Também outros países têm tido grandes desenvolvimentos no domínio da Psicologia tais como a França, Suiça e orgulhosamente, também Portugal. Independentemente do local, dos motivos ou das expectativas, concluímos com o sábio conselho da Vânia Gonçalves: “a todos que queiram embarcar nestas aventuras, não desistam nunca, mesmo quando ouvem não. Com persistência colhem-se sempre frutos!”.

“ de exporem os seus trabalhos e ideias à crítica de pessoas com formações e percursos tão distintos. Porém é essa mesma capacidade de enfrentar, aceitar e até integrar essas diferentes opiniões, que permite o desenvolvimento de competências profissionais e a consequente melhoria dos trabalhos realizados. Por outro lado, ao contactar com outras culturas e estilos de vida, esta experiência permite perceber que muitas coisas tão enraizadas no nosso país, acontecem de forma completamente diferente e, por vezes simplificada, noutro. Concretamente ao nível das instituições, Filomena Parada confessou que “coisas simples, relacionadas com o funcionamento quotidiano das instituições em Portugal, são muito complicadas”. Assim, alargam-se horizontes a diferentes realidades e modos de funcionar, realtivamente à satisfação das necessidades de quem trabalha e aos critérios de exigência expectáveis dos investigadores. Tendo em conta a multiplicidade de sítios para onde se pode ir fazer

investigação em Psicologia, é legitimo que se se questionem quais os melhores locais para o efeito. Neste sentido, há quem defenda que não há melhores ou piores locais para se fazer investigação em Psicologia e que o prestígio nada tem a ver com as próprias instituições, mas sim com o trabalho desenvolvido por um grupo restrito, ou que essa distinção é muito subjectiva e relativa, dependendo das pessoas com quem se contacta e que nos acolhem. Por outro lado e de um modo geral, segundo alguns investi-

Para isto será crucial a flexibilidade e a curiosidade de conhecer outras culturas e concretamente outras formas de pensar e de trabalhar, que numa primeira instância nos levaram a tomar a decisão de ir para fora. É igualmente importante não nos esquecermos das nossas raízes e, deste modo, darmos o nosso contributo, da forma mais construtiva possível.

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Formação sem fronteiras: Aprender e ensinar no estrangeiro

Formação sem fronteiras: Aprender e ensinar no estrangeiro A abertura à multidiversidade é, na verdade, o que leva as pessoas a avançar. A sociedade actual é marcada por várias limitações e rompê-las é essencial para o desenvolvimento de cada um. Deste modo, entrevistámos duas pessoas que tiveram o privilégio de experienciar e conhecer outros horizontes, nomeadamente fora do país de origem, relatando-nos os pormenores desse desafio.

Texto Mariana Mendes Fotografia Vanessa Alves

▶ Estudar (Erasmus) no Estrangeiro Estudar fora, algo que muitos alunos anseiam e esperam poder realizar. Desta vez falámos com alguém que decidiu fazer as malas rumo a Itália e começar uma experiência nova repleta de desafios. Renata Campos, estudante do 3º ano de Psicologia, actualmente a estudar na Universidade de Bolonha (UNIBO), em Cesena, explica-nos porque decidiu candidatar-se ao programa de mobilidade Erasmus, acrescentando que sempre fora sua intenção fazê-lo no último ano de licenciatura. À medida que o tempo passava era confrontada com feedbacks muitos positivos daqueles que 30 RUP Nº1

já o tinham feito, o que acabou com as suas dúvidas e a incentivou a ir. No entanto esperava não ir sozinha, algo que acabou por ocorrer, e que agora garante que foi a melhor coisa que lhe poderia ter acontecido. Havia escolhido estudar na Universidade de Bolonha, em Itália, a universidade mais antiga do mundo europeu, com uma lista de antigos alunos que inclui Nicolau Copérnico, Dante Alighieri ou Erasmo de Roterdão, e esperava ansiosa por começar essa experiência, ainda que, ao mesmo tempo hesitante, confessa. Ao encontro de um berço de conhecimento ia, então, Renata Latães Campos que tentava não criar demasiadas expectativas sobre a experiência, de modo a não se decepcionar.

Chegada a Cesena, relata que a primeira impressão foi má e só pensava : “O que estou aqui a fazer?”. Com o passar do tempo, as pessoas começaram a acolhê-la e defende nunca se ter sentido posta de parte pelos italianos. De facto, explicou-nos que “a palavra charme que temos por hábito usar para descrever os italianos, eu substitui-la-ia por simpatia. Para além disto, pelo que me apercebi os jovens italianos são muito perfeccionistas, principalmente a cozinhar. Preferem dedicar duas horas do seu tempo a cozinhar a ir à secção dos congelados ou da comida pré-cozinhada. Os almoços são sempre pasta, sempre!”. Confessando que o dia-a-dia de Cesena é muito diferente do de Coimbra,


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sua Universidade de origem, explica a diferença que é acordar todos os dias rodeada de pessoas de várias partes do mundo em que, no seu caso, a única coisa que partilham é o conhecimento da língua italiana. Convicta da disparidade de mentalidades e costumes, remete para o facto de que “quando estamos num país diferente, em que se fala uma língua diferente as coisas são vistas duma perspectiva diversa”. Para além do modo de pensar, também os seus hábitos e costumes seriam substituídos por outros que, agora, parecem mais adequadas a certos contextos. Defende ainda que um país diferente, com pessoas novas e uma língua nunca antes falada pode ser um grande arranque para uma enorme mudança, a todos os níveis. “Cesena é uma cidade pequena que encanta pela sua simpatia” diz Renata ao perguntarmos como é esta cidade italiana da região de Emilia-Romagna, que contém cerca de 93.006 habitantes. Em relação ao estudo propriamente dito da Psicologia na Universidade de Bolonha, Renata admite que o ensino é bastante semelhante ao da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Coimbra, especificando que o curso é muito alicerçado em teoria e que o papel do professor universitário é apenas leccionar, sem haver grande conectividade em termos de relações proximais com os alunos. No entanto, a Universidade de Bolonha disponibiliza várias ofertas aos seus alunos como workshops, conferências, ofertas especiais de viagens para estudantes Erasmus e excelente serviço de apoio a estudantes. A aluna defende que as aulas são bastante semelhantes às leccionadas na universidade de origem, excepto o facto de o terceiro ano ter apenas aulas teóricas, sendo que as aulas são todas dadas em italiano. As unidades curriculares também são muito similares, sendo muito direccionadas para a Psicologia

em si, contando com: Psicopatologia Differenziale, Teorie e Tecniche della Psicologia Clinica, Pschiatria, entre muitas outras. Apesar de inicialmente ter planeado um semestre de experiência noutra cidade, noutra universidade, noutro país, Renata decidiu ficar mais tempo e a explicação que dá para esse pedido e decisão foi “porque estava a adorar Itália, as pessoas, a minha casa e senti que se voltasse para Portugal no segundo semestre estava a deixar esta experiência a meio”. No início desta viagem, a estudante de Coimbra não sabia expressar-se em italiano, vendo de modo difícil uma comunicação com alguém, ou mesmo o estabelecimento de relações. O não conhecimento da língua pode ser um grande entrave, mas rapidamente aprendeu a ultrapassar essa barreira e agora apenas a família e os amigos a fazem retornar a Portugal. Por conseguinte, deixa aqui um apelo de uma aluna que se aventurou sozinha pelas ruas de Itália e que não estava certa, no início, do que poderia vir a experienciar: “Se alguém está a pensar fazer Erasmus e não tem a certeza (porque eu também não tinha) aconselho, pelo menos, a tentar. Tenho a certeza que vão adorar.”. Por fim, pedimos ainda a Renata que nos enviasse uma fotografia que nos descrevesse a sua experiência de estudar no estrangeiro e foi esta que recebemos: “Hapiness is only real when shared”

Se alguém está a pensar fazer Erasmus e não tem a certeza (porque eu também não tinha) aconselho, pelo menos, a tentar. Tenho a certeza

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Formação sem fronteiras: Aprender e ensinar no estrangeiro

▶ Ensinar no Estrangeiro A formação no estrangeiro é uma temática sobre a qual os alunos, em geral, não têm muita informação e conhecimento. Para nos ajudar a esclarecer esta questão, mostrando-nos a riqueza da intercomunicação pedimos ajuda ao Professor Doutor Eduardo Santos, Professor Associado com Agregação da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Coimbra, Professor Adjunto Convidado da State University of New York, Albany, NY, USA, e Professor Imérito na Universidade de Santa Cecília, em Santos, São Paulo, Brasil. Em entrevista, começa por esclarecer o modo como lhe surgiu esta oportunidade de leccionar fora do país de origem, que ocorreu no âmbito da colaboração com colegas estrangeiros, em termos de investigação. Com a participação em congressos internacionais, foi tendo a oportunidade de estabelecer contactos com professores/investigadores de outras universidades. De facto, como nos referiu, ao interagir com os colegas vão-se partilhando interesses, tal como a educação e a docência. Apesar de já ter leccionado em Espanha, França e Brasil, a sua maior experiência tem sido nos EUA onde conheceu, durante um congresso, David Blustein, colega, amigo e consultor do “Projecto de Inscrição sobre Desempregados com mais de 40 Anos”. No ano seguinte, voltou à State University of New York (SUNY), onde é Professor Adjunto Convidado. Como explicou, é habitual nas universidades americanas a integração do professor convidado noutras actividades como reuniões, investigações e projectos, apesar de o maior contributo continuar a ser o ensino, sobretudo ao nível de estudos pós-graduados/doutoramentos. Destaca que “o contexto educativo norte-americano é muito diferente do nosso”. 32 RUP Nº1

Apesar de actualmente não se encontrar a participar em qualquer actividade de ensino fora do país por falta de tempo, continua a colaborar com os alunos no acompanhamento de doutoramentos de equipas de investigação, promovendo discussões, reflexões e formações nesses contextos mais específicos. Os contactos com a SUNY mantêm-se, visto que, a partir do departamento de “Counselling and Educational Psychology” vai ser organizado um congresso em Outubro, na cidade de Coimbra, onde se juntarão professores e alunos, norte-americanos e portugueses da área do Aconselhamento e da Psicologia da Educação. Relativamente a este tipo de iniciativas (realizadas frequentemente), o Professor Doutor Eduardo Santos considera que tanto congressos como aulas abertas para alunos e docentes são oportunidades bastante importantes e educativas, destacando o facto de, nos países por onde esteve, ter presenciado sempre uma grande adesão a este tipo de iniciativas. Salientou ainda que, quando há uma pessoa de outro país a dar uma palestra ou aula aberta, não são apenas os alunos que comparecem, mas também os próprios professores que participam de forma activa. Este facto reflecte uma cultura académica bastante diferente.

Em Portugal existe, segundo o Professor Doutor Eduardo Santos, uma separação entre professor/aluno ainda bastante marcada. Apesar de terem naturalmente estatutos diferentes, no exterior há uma conectividade muito maior entre professores e alunos, tanto nos EUA como no Brasil. Há mais abertura e proximidade. E isso nota-se quando são convidados professores estrangeiros para palestras em Portugal e os outros docentes não aparecem, e muitas vezes poucos são os alunos que o fazem. Não sendo uma aula formal, há pouca adesão, fruto de “uma pedagogia formal que Bolonha não mudou. Houve um enquadramento legal e académico mas não pedagógico”. Quando questionado sobre outras diferenças relevantes entre o contexto ensino-aprendizagem português e norte-americano, responde: “são culturas e contextos educativos diferentes, mas de facto pratica-se uma pedagogia muito mais crítica no estrangeiro”. Do seu ponto de vista, no estrangeiro as pessoas têm maior experiência de liberdade de pensamento, sendo que nós, portugueses, agimos e pensamos de um modo mais limitado. As universidades portuguesas são conservadoras e tradicionais. Defende que Bolonha também não mudou a


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pedagogia do copy paste. Enquanto cá os docentes lêem os artigos, levando-os para a aula e pedindo o reverso do processo aos alunos, lá fora um professor é efectivamente um investigador e é essa experiência que partilha na sala de aula. “Não se pode pensar num professor norte-americano como não investigador”, sendo portanto as suas aulas direccionadas para a sua prática de investigação. Este facto conduz a uma pedagogia bastante mais crítica, pois coloca os alunos a pensar, a levantar problemas, a ler autores de referência, bem como trabalhos dos seus próprios professores. Mas aponta que “pensar livremente não é carregar num botão, temos de fazer uma aprendizagem que tem muito a ver com a própria história dos países e também com as situações estruturais”. Além disso, o nosso entrevistado especificou que o estatuto do docente português, a carga de trabalho, o número de horas de aula

e a responsabilização de orientações de teses acabam por não permitir um investimento total ao nível da investigação e publicação. Também a situação financeira não ajuda, pois apesar de nos outros países também haver cortes orçamentais, os cortes na educação e na ciência não são tão grandes como em Portugal. Outra grande diferença ocorre ao nível da responsabilização do aluno. O aluno americano ou mesmo o brasileiro responsabiliza-se mais no processo de construção do seu currículo e a sua formação possibilita o contacto com outras disciplinas diferentes das que se centram no seu curso académico. Para o Professor a interdisciplinaridade é bastante importante, mas o ensino português “afunila”, acabando por se centrar apenas no núcleo da área que o aluno escolheu, sendo necessária mais abertura e exploração. Esclarece ainda que apesar de haver, nos países supramencionados, uma maior responsabilização do aluno, não há uma

(...) tendo experienciado a saída de alunos da sala de aula antes do término da mesma, atitude não experimentada fora do contexto nacional. De facto, é raro ver um aluno numa sala norte-americana sair antes de a aula acabar”.

desresponsabilização do professor. Relativamente ao processo de doutoramento, a título ilustrativo, o Professor Doutor Eduardo Santos considera que o modo como os doutoramentos são defendidos na Universidade de Coimbra (na sala dos capelos com o ritual adjuvante), apesar de tornar bastante interessante o acto como momento final que preconiza, deveria ser adaptado à realidade de hoje. Em contrapartida, no estrangeiro um RUP Nº1 33


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doutoramento tem uma parte curricular, uma de investigação e ainda de campo. A tese é discutida de um modo muito mais informal, culminando com a atribuição de uma nota final de acordo com todos os parâmetros acima descritos. Outro aspecto que difere bastante entre a realidade nacional e internacional é a pontualidade: “já tendo experienciado a saída de alunos da sala de aula antes do término da mesma, atitude não experimentada fora do contexto nacional. De facto, é raro ver um aluno numa sala norte-americana sair antes de a aula acabar”. Por outro lado, há certos aspectos que são semelhantes em todos os locais por onde passou e um deles é a formalidade no ensino universitário, considerada a necessária pelo Professor. O carácter positivo da experiência de docência no estrangeiro fica bem claro pelo testemunho do professor. De lamentar, contudo, que não haja apoio financeiro suficiente, pois a mobilidade tem custos e as bolsas não cobrem tudo. A título de exemplo, referiu que, embora o incentivo para que os docentes publiquem fora país seja grande, o apoio que lhes é dado é pouco. Para além disso, quando os docentes se deslocam para actividades no exterior, têm de faltar às aulas e acabam por ser penalizados pela rigidez do sistema: quando regressam têm de repor as aulas, originando uma sobrecarga de trabalho, explica. O sistema português ainda está centrado na ideia de que “quando o professor não está numa sala de aula não está a ensinar, e nem sempre é assim, mas nós ainda entendemos a universidade como uma casa com telhado e umas janelas e eu acho que há outras maneiras de interagir”. O Professor Doutor Eduardo Santos defende ainda uma gestão mais flexível, não de um modo empresarial como tem sido feita, visto que a Universidade tem uma especificidade enquanto orga34 RUP Nº1

nização que deveria levar a modelos de gestão diferentes: “Fala-se muito em mobilidade e internalização mas depois os obstáculos são sempre difíceis”. Por exemplo, o tempo moroso da negociação e formalização de uma mobilidade muitas vezes leva as pessoas a desistir da mesma. Há barreiras e estas acabam por limitar a mente. Mesmo sem estatísticas, aponta que “são poucos os docentes que acabam por decidir leccionar fora”, apesar de vários programas de mobilidade para docentes. Em suma, a ciência e a inovação são necessárias e, no ponto de vista do Professor, devia-se investir mais, embora actualmente assistamos a investimentos cada vez menores. Neste sentido, e com 31 anos de docência, o Professor Doutor Eduardo Santos defende que o grande desafio é a abertura à opinião crítica dos outros, trabalhar sem rede, sem defesas. Enquanto numa aula a pessoa está mais segura para falar com os alunos, num congresso não há muito tempo para a defesa, há um confronto de ideias, uma fase exploratória entre metodologias, pensamentos, culturas e “é daí que nascem parcerias, muitas vezes internacionais, e isso é bastante importante”. Acrescentou, ainda que “se

ficarmos sempre na torre de marfim não vamos a lado nenhum. Estabelecer redes de cooperação é fonte de segurança e desenvolvimento”. Quando lhe é perguntado se seria o mesmo, caso não tivesse experienciado este tipo de actividades, responde redondamente que não, reforçando a sua inconformidade ao referir que parar os investimentos na ciência empobrecerá o país: “gastar dinheiro em ciência não é despesa, é investimento”. E em jeito de conclusão, há que referir a posição do Professor relativa ao facto de a importância das relações internacionais não se aplicar apenas aos docentes, mas aos alunos também. Incentivando este tipo de experiências aos mais novos, refere que “o mundo é globalizado, pelo que não fiquem presos aos limites que vos são impostos, enriquecendo assim as vossas vidas pessoais e formações”.


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A Psicologia positiva: Um olhar positivo, optimista e preventivo “A felicidade não é algo que acontece às pessoas, mas algo que elas fazem acontecer” Csikszentmihalyi (1999, p.824). Que ideia tens relativamente ao que pensas ser a Psicologia? Qual tem vindo a ser, na tua opinião, a sua verdadeira função? Nos dias de hoje, quando pensamos em Psicologia, a primeira ideia que nos surge é a de que esta é uma ciência que se ocupa de estudar as patologias ou as doenças mentais do ser humano. Um saber que se inteira dos aspectos negativos e deficitários da mente humana, marcada por uma vertente inegavelmente negativista. Mas será esta a única função da Psicologia? Será apenas o despiste e tratamento das patologias mentais? Não haverá igualmente uma vertente mais positiva nesta ciência?

Texto Carolina Pascoal Fotografia Diogo Saldanha e Vanessa Alves

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A Psicologia positiva: Um olhar positivo, optimista e preventivo

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e facto, e na situação actual de crise em que vivemos, é compreensível que os aspectos negativos se sobreponham, muitas vezes, às emoções positivas! Diariamente somos confrontados com desafios e responsabilidades socioeconómicas que nos afundam em estados depressivos e de stress que por vezes parecem praticamente crónicos, e quando procuramos acompanhamento psicológico esperamos uma solução milagrosa e instantânea para a angústia advinda. Esquecemos, no entanto, que “chorar sobre leite derramado” não é a melhor solução para problema algum. Se aprendermos desde cedo a desenvolver os meios necessários para promover o nosso próprio bem-estar e felicidade, poderemos enfrentar as situações com outros olhos. Olhos, esses, optimistas, positivos e preventivos e que são o cerne da Psicologia Positiva. É neste contexto, e para dar resposta a estas questões, que surge a Psicologia Positiva. Um olhar, como o próprio nome indica, positivo, optimista e preventivo, de contraste com as tendências que olham a Psicologia através de uma perspectiva centrada na doença, encarando a disciplina como “remédio para todos os males”. De facto, nas palavras de um dos “pais” da Psicologia Positiva, Martin Seligman, “a Psicologia não trata apenas da cura para a doença mental, é também acerca da realização e identificação da excelência humana” (2002 in Froh, 2006). De forma breve, podemos afirmar que a Psicologia Positiva é uma subdisciplina da Psicologia que tem vindo a ganhar e despertar interesse nos últimos anos dentro das ciências sociais e em estudos na área do comportamento. Nos seus alicerces teóricos encontram-se conceitos como a felicidade, o bem-estar e outras emoções positivas, sendo abordados sobretudo os seus benefícios formas de os desenvolver. Quando se estuda a história desta correrente, diferentes períodos históri-

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cos são mencionados. Compton (2005), por exemplo, ao mencionar a evolução do estudo do bem-estar no mundo ocidental, inicia a sua reflexão em torno da cultura hebraica, passando por quase todos os períodos fulcrais da história ocidental (Grécia antiga, início do cristianismo, idade média, renascimento, romantismo, século XIX e século XX). Gable e Haidt (2005), por sua vez, consideram que a Psicologia Positiva remonta aos escritos de William James acerca de uma “mentalidade positiva”, referindo, igualmente, o interesse de Allport pelas características humanas positivas, a proposta de Maslow acerca do estudo de indivíduos saudáveis em vez do estudo de indivíduos doentes, e a pesquisa de Cowan sobre a resiliência em crianças e adolescentes. No entanto, e de uma forma geral, há um consenso de que a Psicologia Positiva, surgida no séc. XX e com raízes de Psicologia Humanista, foi criada no intuito de romper um viés negativo em torno do desenvolvimento humano. Independentemente do período histórico em que situemos o inicio informal desta disciplina, é em 1998, que a Psicologia Positiva começa a estabelecer-se mais formalmente, pelas mãos de Martim Seligman, quando este presenteou a American Psychological Association com um discurso empreendedor relativo à disciplina. Alertava e demonstrava através da investigação científica que é fundamental estudar e conhecer as forças e virtudes humanas, e o que contribui para que as pessoas se sintam felizes. Assim, o funcionamento saudável e adaptativo do ser humano é apontado como principal objecto de estudo da Psicologia Positiva, que se interessa pelas experiências positivas, tais como o bem-estar, a resiliência, o optimismo, a esperança e a empatia. Isto sem, no entanto, ignorar uma vertente inegavelmente negativista

que marca a Psicologia tal como a conhecemos e a efectiva importância de estudar e compreender as perturbações mentais e os factores de risco. “Como efeito secundário do estudo dos traços humanos positivos, a ciência aprenderá como lutar e prevenir perturbações mentais e físicas. Como consequência principal, os psicólogos irão aprender a construir as qualidades que auxiliam os indivíduos e as comunidades, não apenas a aguentar e sobreviver, mas também a florescer” (Seligman, & Csiksentmihaly, 2000, p. 13).

(...) é em 1998, que a Psicologia Positiva começa a estabelecer-se mais formalmente, pelas mãos de Martim Seligman, quando este presenteou a American Psychological Association com um discurso empreendedor relativo à disciplina.

▶ Conceitos Básicos Um conceito central para a Psicologia Positiva é o bem-estar, construto que engloba dois conceitos: bem-estar psicológico e bem-estar subjectivo. Ao contrário do bem-estar psicológico, centrado nos actos do indivíduo, o bem-estar subjectivo contempla componentes de cariz cognitivo e afectivo. É não mais que uma reacção avaliativa levada a cabo pelas pessoas relativamente à sua própria vida em termos de satisfação com a mesma (avaliação cognitiva) e com os aspectos afectivos envolvidos (reacções emocionais e afectivas estáveis). O bem-estar subjectivo é um conceito recente, que tem suscitado crescente interesse na Psicologia e que tem vindo igualmente a reforçar a sua identidade. Encontra-se, ainda, relacionado com dois outros importantes conceitos: a felicidade e a satisfação.


oportunidades e desafios

Desde a Grécia Antiga que as reflexões teóricas em torno da felicidade e da satisfação têm progredido relativamente pouco. Durante muito tempo os psicólogos menosprezaram estes conceitos, provavelmente por se considerarem de aspectos pouco apreensíveis empiricamente, e porque a terapia, mais do que a profilaxia, surgia no centro das atenções (o remediar e não o prevenir, portanto!). No entanto, a felicidade e a satisfação são questões positivas fundamentais, bastante individualizadas e diferenciadas. Assim, o conceito de felicidade inclui estados de felicidade passados e futuros e que englobam prazeres e gratificações. Ser ou não ser feliz é algo fundamental na vida das pessoas, nas famílias, nos empregos e em qualquer outra manifestação sociocultural. Poderá, mesmo, dizer-se que a busca da felicidade constituiu o grande objectivo da existência. Já no que concerne ao conceito de satisfação, este diz respeito a uma visão de julgamento global acerca de como o sujeito considera e aceita a sua vida. Há ainda que referir duas noções basilares da Psicologia Positiva, que foram propostas por Seligman: virtudes e forças. Na óptica do autor, virtudes representam “as características nucleares endossadas por quase todas as tradições religiosas e filosóficas, e, reunidas, elas apreendem a noção de bom carácter ” (Seligman, 2008, p. 172). Podem ser identificadas as seguintes seis virtudes: a sabedoria e conhecimento, coragem, amor e humanidades, justiça, temperança, e espiritualidade e transcendência. As forças, por sua vez, dizem respeito às forças do nosso carácter que nos permitem alcançar as virtudes. Assim, para cada uma das virtudes, existe um dado número de forças:

•• Sabedoria e conhecimento ▶ Curiosidade pelo mundo ▶ Amor à aprendizagem ▶ Julgamento crítico ▶ Empenho e perspectiva ▶ Inteligência social

Coragem ▶ Valor e bravura ▶ Perseverança ▶ Integridade

Os resultados de diversas investigações têm sugerido que as forças de carácter, ao serem utilizadas, podem contribuir para um sentimento global de felicidade e bem-estar das pessoas. De facto, as forças de carácter contribuem para a realização de uma vida que é percebida como boa para o próprio e para os outros. Nesta óptica, e porque as forças humanas desempenham um papel importante no modo como a pessoa lida com situações adversas, a Psicologia Positiva interessa-se, sobretudo, pelo modo como as forças podem promover a optimização de todo o potencial humano da pessoa.

amor e humanidade ▶ Bondade ▶ Generosidade ▶ Amar-se e deixar amar justiça ▶ Cidadania ▶ Equidade ▶ Liderança

Temperança ▶ Auto-controlo ▶ Prudência ▶ Humildade Transcendência e espiritualidade ▶ Apreciação da beleza e excelência ▶ Gratidão e esperança ▶ Sentido de propósito ▶ Perdão e misericórdia ▶ Bom humor e prazer/entusiasmo RUP Nº1 37


A Psicologia positiva: Um olhar positivo, optimista e preventivo

As pessoas felizes e infelizes lidam de maneiras diferentes com a escolha, tomada de decisão e rejeição.

▶ Serão as pessoas felizes? Grande parte das investigações a este respeito aponta para que as maioria das pessoas afirma ser feliz. Hipóteses há, defendendo até que a felicidade pode ser genética! Podemos mesmo nascer providos de um nível base de felicidade que varia ao longo dos vários contextos e situações, mas que acaba por retornar ao seu estado inicial. Podemos também dizer que a felicidade não tem na sua razão de ser motivos demográficos e de riqueza, mas está sim associada a sentimentos de auto-estima, sensação de controlo sobre a vida, optimismo, extroversão e saúde. Vários estudos mostram como as pessoas felizes diferem das infelizes em muitas maneiras. As pessoas felizes e infelizes lidam de maneiras diferentes com a escolha, tomada de decisão e rejeição. A Psicologia Positiva surge, então, como uma vertente relativamente recente da Psicologia que, a pouco e pouco, vai despertando crescente interesse na sociedade e conquistando o seu próprio terreno na investigação. Esta temática abrange uma complexa filosofia que se interessa pela vertente positiva dos acontecimentos, dos traços, da qualidade de vida. A Psicologia dos últimos 50 anos tem-se focado no estudo das patologias: transtornos foram descobertos, diagnosticados e tratados, laboratórios, instrumentos de medidas e avaliação confiáveis foram 38 RUP Nº1

desenvolvidos e aprimorados. Esses estudos devem continuar a contribuir para o avanço científico da Psicologia. Todavia, é necessário reunir os mesmos esforços para o estudo do outro lado do funcionamento humano - o positivo! A ciência precisa também de aprender a proteger e prevenir. Para esses fins, a Psicologia Positiva pretende trazer a compreensão das virtudes, forças pessoais, habilidades promovidas nos contextos de resiliência. Trata-se de averiguar o papel das experiências positivas, e de delinear a função das relações positivas com os outros. “A Psicologia Positiva é simplesmente Psicologia” (Sheldon, & King, 2001, p. 216).

Referências: ▶ Compton, W. (2005). Introduction to positive psychology. Belmont: ThomsonWadsworth. ▶ Csikszentmihalyi, M. (1999). If we are so rich, why aren't we happy? American Psychology , 54 (10), 821-827. ▶ Froh, J. (2006). Positive psychology in practice: book review. Newspaper of the National Association of School Psychologists , 32. ▶ Gable, S., & Haidt, J. (2005). What (and why) is positive psychology? Review of General Psychology , 9 (2), 103-110. ▶ Seligman, M. (1998). Positive social science. The APA Monitor Online , 29 (4). ▶ Seligman, M. (2008). Felicidade autêntica: Os princípios da psicologia positiva. Cascais: Pergaminho. ▶ Seligman, M., & Csikszentmihalyi, M. (2000). Positive psychology: An introduction. American Psychologist , 55 (1), 5-14. ▶ Sheldon, K., & King, L. (2001). Why positive psychology is necessary. American Psychologist , 56 (3), 216-217.


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Rede europeia para o ensino e aprendizagem da psicologia (EUROPLAT) Miséria & Desastre: uma miséria desastrosa ou um desastre miserável? Partilha & Qualidade: uma partilha de qualidade ou uma qualidade partilhada? Texto Ana Rita Martins Fotografia Diogo Saldanha

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sociedade actual enfrenta um período de instabilidade marcada e de incerteza acentuada, face à grave crise económica vigente. Escasso poder económico. Bem-estar pessoal e interpessoal diminuto. Competitividade individual desenfreada. Descrédito político. Dificuldades pessoais, familiares e organizacionais variadas. Desesperança social. Qualidade de vida em risco. Crise. Crise. Crise. A palavra de teóricos. A realidade do povo. Felizmente esse povo é fruto de uma evolução inteligente, capaz de manter os seus mecanismos mais básicos de sobrevivência e adaptação, as suas armas vitais. Foram audazes os nossos antepassados como foi resistente o nosso funcionamento cerebral. Fugir, lutar ou congelar? Respostas tão simples, mas ao mesmo tempo tão sofisticadas pela sua funcionalidade. Fugimos da crise. Lutamos contra ela. Voltamos a fugir. Não importa, o que interessa é que não paramos. E por isso mesmo, os desastres e crises são sempre momentos difíceis mas também activadores cognitiva, emocional e comportamentalmente.

E porque todos queremos fugir ou lutar contra a crise, este período surge assim revigorado de oportunidades e desafios urgentes. Começase a contestar a funcionalidade da luta individual e aposta-se na luta colectiva, impulsionadora de objectivos globais e de cooperação europeia e mundial mais estreita. Mais expansão. Maior crescimento. Uma Europa sem fronteiras. E são exactamente a partilha e a qualidade as apostas do Projecto Europeu para o Ensino e Aprendizagem da Psicologia (European Network for Psychology Learning and Teaching – EUROPLAT) que surge, em Outubro de 2009, ciente do/no contexto internacional e necessidades actuais. Para nos guiar na exploração deste projecto inovador e com relevo no contexto social actual, em geral, e na Psicologia, em especial, pedimos a colaboração do Professor Doutor Frederico Marques, professor catedrático na Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Lisboa, representante da Universidade de Lisboa como membro efectivo da EUROPLAT;

e da Professora Doutora Ana Cristina Almeida, professora auxiliar na Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Coimbra, representante da Universidade de Coimbra como membro associado da EUROPLAT; que, gentilmente, nos concederam entrevistas e material de pesquisa.

E são exactamente a partilha e a qualidade as apostas do Projecto Europeu para o Ensino e Aprendizagem da Psicologia (European Network for Psychology Learning and Teaching – EUROPLAT) que surge, em Outubro de 2009, ciente do/no contexto internacional e necessidades actuais.

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Rede europeia para o ensino e aprendizagem da psicologia (EUROPLAT)

De viva voz, a RUP teve a oportunidade de ouvir factos, projectos, propostas, inquietações e desafios de quem denota um marcado interesse na reflexão, investigação e desenvolvimento de um ensino e aprendizagem de qualidade da Psicologia. Posto isto, o Programa de Aprendizagem ao Longo da Vida da Comissão Europeia, em Outubro de 2009, financiou o projecto da rede EUROPLAT, constituindo-se, assim, o grupo inicial, coordenado pela Universidade de York, UK, representada pela Professora Doutora Annie Trapp, no qual Portugal ficou representado pela Universidade de Lisboa, ao cuidado do Professor Doutor Frederico Marques. O projecto teve, portanto, início nesse ano e terminará em Setembro de 2012, sendo constituído por membros de todos os países da União Europeia, perfazendo um total de 32 membros efectivos de 31 países. Tal como definido no projecto “Start up/Action Plan” de Novembro de 2009, divulgado no site oficial da EUROPLAT (www.europlat.org), a estrutura de trabalho na rede encontra-se dividida em seis subgrupos principais de trabalho, cada um da responsabilidade de um dos membros efectivos. São eles: “Project Management”, liderado pela Universidade de York, UK; “Quality Assurance”, da responsabilidade da Universidade de Aston, UK; “Valorisation and dissemination”, da responsabilidade da Middle East Technical University, Turquia; “Development of regional hub and spoke”, da Universidade de Salzburg, Áustria; “Development of Analysis and Research”, da Universidade de Lisboa, Portugal; e, por último, “Explotation of Europlat”, liderada pela Universidade de Linnaeus, Suécia. Perante esta forma de trabalho estruturado, cooperativo e dinâmico, produzem-se diversos “outputs” com 40 RUP Nº1

pertinência para o ensino e aprendizagem. Assim, ao nível de produtos, a EUROPLAT foca-se em três tipos de actividades principais. Em primeiro lugar, centra-se em actividades de pesquisa, apresentando três relatórios de projectos de investigação sobre ensino e aprendizagem da Psicologia, nomeadamente no âmbito da inovação do ensino (finalizado em 2011 e publicado no site oficial da rede), empregabilidade de psicólogos graduados (no prelo) e iniciativas de qualidade da formação (a finalizar no presente ano). Em segundo lugar, e no sentido de promover a troca e comunicação de conhecimento, organiza conferências anuais: a primeira teve lugar em Edimburgo, Reino Unido, em 2010; a segunda em Istambul, Turquia, em 2011; e a terceira será este ano em Vílnius, Lituânia. Um outro tipo de produtos são as newsletters publicadas no site oficial da rede. Deste modo, todos os anos os membros da rede completam um projecto de investigação e participam num encontro anual para discussão do progresso do projecto.

Ambos consideram que as questões de ensino e de aprendizagem em Psicologia não têm sido prioritárias no campo da investigação nem da intervenção, estando a Psicologia muito mais orientada para outros temas como a clínica, educação, trabalho, entre outros. É por este motivo que consideram essencial a existência de reuniões de reflexão e debate direccionadas também para a temática da formação em Psicologia.

O Professor Doutor Frederico Marques adverte para o facto de estas iniciativas não se cingirem aos membros da rede, pois também outras pessoas, professores, profissionais e alunos, que não façam parte da EUROPLAT individualmente, mas que estejam interessadas nestas temáticas da formação de psicólogos e da formação de ensino superior, podem propor comunicações e objectos de estudo para as reuniões. Tal como preconiza a natureza e índole deste projecto, a EUROPLAT não existe isoladamente. Existe uma constante “articulação em rede”, patente também nas ligações externas que mantém com a European Federation of Psychologists’ Associations (EFPA), European Federation of Psychology Teachers’ Associations (EFPTA), European Federation of Psychology Students’ Associations (EFPSA), entre outras. Para o Professor Doutor da Universidade de Lisboa, esta articulação multidimensional é “fundamental para que este projecto se possa tornar eventualmente


oportunidades e desafios

(...) a articulação recente com a EFPSA como uma tentativa de desenvolvimento de uma comunicação mais próxima com os estudantes para que, no futuro, seja possível que alguns membros da EUROPLAT possam participar, fazer apresentações ou workshops nos encontros da EFPSA, e, concomitantemente, que os alunos europeus de Psicologia, interessados no seu ensino e aprendizagem, também possam intervir nas reuniões da rede europeia.

uma associação”, à semelhança do que já existe, por exemplo, nos Estados Unidos com a National Institute on the Teaching of Psychology (NITOP), e que possa, desta forma, formalizar e possibilitar um futuro mais sólido a esta importante reflexão sobre formação em Psicologia. Destaca ainda a articulação recente com a EFPSA como uma tentativa de desenvolvimento de uma comunicação mais próxima com os estudantes para que, no futuro, seja possível que alguns membros da EUROPLAT possam participar, fazer apresentações ou workshops nos encontros da EFPSA, e, concomitantemente, que os alunos europeus de Psicologia, interessados no seu ensino e aprendizagem, também possam intervir nas reuniões da rede europeia. Neste contexto, e a título ilustrativo, destaca-se uma das iniciativas conjuntas patrocinada pela EUROPLAT em associação com a EFPSA – um primeiro concurso/competição para estudantes de Psicologia sobre o que é ser psicólogo e qual o seu contributo profissional, intitulado “Why Employ Me?”.

E porque todo o projecto é dinâmico e fruto de uma construção activa e permanente, para além da Universidade de Lisboa, que está integrada como primeiro representante na rede, já aderiram à EUROPLAT, segundo os dados apontados pelo Professor Doutor Frederico Marques, como membros associados portugueses, as Faculdades de Psicologia e de Ciências da Educação das Universidades do Porto e de Coimbra e também a Escola de Psicologia da Universidade do Minho que, enquanto membros associados, podem também beneficiar de uma ligação mais directa aos produtos da rede, para que sejam utilizados na microreflexão ao nível de cada instituição. Revelador de uma crescente preocupação europeia relativa à formação em Psicologia é o facto de já se ter efectuado um novo pedido de financiamento EUROPLAT II para o triénio 2012-2015, com um total de 92 membros de 35 países. Perante esta realidade que é a EUROPLAT, o Professor da Universidade

de Lisboa afirma que o desafio principal da rede europeia é o de manter uma continuidade para esta reflexão porque esta é uma preocupação relativamente nova: “Já conseguimos envolver muitas pessoas e associações, é verdade. Contudo, os docentes de Psicologia estão mais preocupados em manter as suas investigações e não tanto com este tipo reflexão, nada menos importante”. Assim, esclarece que se pretende que as instituições “não só beneficiem dos recursos da EUROPLAT mas sirvam de cadeia de transmissão desses interesses e possam promover, no seio das diferentes instituições que constituem a rede, esta reflexão e debate sobre a qualidade da formação em Psicologia”. No mesmo sentido, a Professora Ana Cristina Almeida, vê o envolvimento mais activo da comunidade, tanto estudantil como de docentes, no sentido de tornar a investigação do ensino uma matéria de investimento mais presente, como um dos principais desafios da rede. RUP Nº1 41


Rede europeia para o ensino e aprendizagem da psicologia (EUROPLAT)

Dirigindo-se aos alunos especificamente, incita-os a serem “mais participativos, mais activos, a estarem atentos aos concursos, actividades e desafios lançados na EUROPLAT e nas várias associações e instituições, a criarem um espírito de equipa, cooperação e troca de experiências e novidades”.

Enumera ainda outros desafios importantes da EUROPLAT, nomeadamente a reflexão sobre a preparação de alunos habilitados para desempenhar funções profissionais e responder às questões da sociedade actual, tendo acolhimento nas instituições empregadoras; a actualização da formação dos professores; e a mobilização de uma “responsabilidade formativa” entre aluno e professor. Em síntese, promover suporte a uma formação de qualidade a alunos e professores que lhes possibilite responder de forma mais efectiva às necessidades actuais, para que, como fim último, “a profissão tenha maior prestígio”. Relativamente ao futuro do projecto, o Professor Doutor Frederico Marques menciona que “está criado um embrião, o seu desenvolvimento depende, não só dos aspectos de financiamentos, mas essencialmente do interesse das pessoas em manter esta discussão”. Acrescenta ainda que, pelo menos na Faculdade de Psicologia da Universidade de Lisboa este é, de facto, um aspecto muito prezado e com fortes intenções de manutenção e desenvolvimento. Transpondo alguns conhecimentos adquiridos no seu envolvimento com a rede europeia para o contexto português e tendo por base a sua perspectiva e experiência pessoal, a Professora representante da Universidade de Coimbra, ao reflectir sobre 42 RUP Nº1

o futuro da formação de Psicologia especificamente no nosso país, desenvolve algumas pistas de desenvolvimento futuro: promover uma maior integração curricular, apostando na interdisciplinaridade; desenvolver uma metodologia de “projectos baseados em problemas” ou um “trabalho de formação baseada em projectos”, principalmente ao nível do segundo ciclo, devendo ser este um percurso preparado atempadamente e não só nos últimos semestres; promover mais parcerias entre as unidades curriculares e mais trabalho colaborativo; proceder a um melhor aproveitamento dos recursos de que dispomos, mesmo no campo das ferramentas tecnológicas e de ensino à distância; trabalhar com grupos mais pequenos de alunos para que se desenvolvam sistemas tutoriais de ensino e aprendizagem. Dirigindo-se aos alunos especificamente, incita-os a serem “mais participativos, mais activos, a estarem atentos aos concursos, actividades e desafios lançados na EUROPLAT e nas várias associações e instituições, a criarem um espírito de equipa, cooperação e troca de experiências e novidades”. ••

No seio de uma época de instabilidade, desesperança e desespero, em que “nada vale a pena o esforço” e tudo parece perdido, a EUROPLAT nasce e cresce como uma oportunidade de desenvolvimento, de progresso científico e de meta-cognição ao nível da formação em Psicologia. Um caminho de desafios em construção numa época em que o expectável era a destruição A época de formação de um psicólogo omnipotente não é claramente esta! A EUROPLAT mostra-nos, assim, a urgência e pertinência de constituir redes de suporte de reflexão e investigação para que cada elemento/instituição/país beneficie dos saberes e competências do outro e juntos criem uma unidade mais coesa e melhor preparada. EUROPLAT: uma plataforma em edificação dentro das oportunidades que os momentos de crise também regeneram. Uma tentativa de promover uma partilha de qualidade e de criar uma qualidade partilhada.


oportunidades e desafios

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A Psicologia Aqui e Agora


XIX Encontro Nacional de Estudantes de Psicologia

XIX Encontro Nacional de Estudantes de Psicologia Foi nos dias 25, 26 e 27 de Novembro que decorreu o XIX Encontro Nacional de Estudantes de Psicologia (ENEP), um evento que regressou este ano lectivo, dois anos após a concretização do último encontro, tendo lugar no Concelho de Odemira, mais concretamente nas paisagens paradisíacas do complexo turístico Eco Resort Zmar na Zambujeira do Mar. Relativamente ao local escolhido para a realização deste evento, a crítica foi bastante positiva, alteando a devida preparação para instalar os 220 participantes em bungalows modernos e os grandes espaços com amplas salas bem equipadas de materiais necessários à realização das formações, workshops e mesas de conferência.

Texto Ana Rita Martins / Andreia Jesus / Maria Gouveia / Mariana Guarino / Patrícia van Beveren Fotografia Roberto Botelho

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XIX Encontro Nacional de Estudantes de Psicologia

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o que diz respeito ao programa científico, o mesmo foi considerado, pelos respectivos participantes, bastante interessante e oportuno, mesmo após algumas desistências de última hora por parte de oradores. “Introdução ao Mindfulness”, “Psicologia positiva: para uma ciência útil e transformadora”, “Intervenção em Psicogerontologia”, “First responders em cenários de catástrofe e desastre” entre muitos outros, foram temas de workshops que decorreram no Encontro Nacional de Estudantes de Psicologia. Para além dos mais variados workshops, este evento contou ainda com diversas formações relativas a áreas dinâmicas e inovadoras de Psicodrama, Psicologia Evolucionista, Psicologia do Tráfego e Psicologia do Desporto, assim como, com quatro mesas de conferência no âmbito de Psicologia Clínica e Saúde, Psicologia das Organizações e Recursos Humanos, Psicologia Forense e, por último, a quarta mesa correspondente à área das Neurociências e Cognição. 48 RUP Nº1

Para além de todo o programa científico, os participantes tiveram ainda acesso aos serviços disponibilizados pelo complexo como a piscina de ondas, piscina exterior, campo poli-desportivo, percurso pedestre de manutenção, entre muitos outros. Entre as conferências de entrada livre, workshops, formações, espaços de lazer e troca de experiências entre estudantes de Psicologia de norte a sul do país e psicólogos nacionais e internacionais, não haveria como ficar parado neste longo e, ao mesmo tempo, curto fim-de-semana. Foi no dia 26 de Novembro que se encetou por volta das 10:00h a sessão de abertura oficial do ENEP, na sala onde, de seguida, se viriam a realizar as mesas de conferência, com o objectivo de receber todos os participantes com palavras motivantes de boas-vindas e de incentivo à reflexão consciente, debate científico e partilha activa entre estudantes, professores, investigadores e profissionais na Psicologia.

Esta sessão de abertura teve como principais temáticas as saídas profissionais em Psicologia, os contextos de futuro em Psicologia e o ensino em Psicologia, contando com a participação de João Andrade (coordenador geral do XIX Encontro Nacional de Estudantes de Psicologia) como moderador. Foi João Andrade quem principiou a sessão de abertura oficial do ENEP, seguido pelo Presidente da Associação Nacional de Estudantes de Psicologia (ANEP), Luís Miguel Alvim Tojo e pelo Presidente da Câmara Municipal de Odemira, Dr. José Alberto Candeias Guerreiro. Por fim, as palavras do Bastonário da Ordem dos Psicólogos Portugueses (OPP), Professor Doutor Telmo Batista, a quem coube o término da sessão de abertura, foram de incentivo ao trabalho qualificado da Psicologia, alertando para a necessidade de reverter a visão e situação actual da sociedade relativamente à Psicologia, passando esta de uma área


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de “último recurso” para uma área fundamental na vida das pessoas. O Bastonário salientou a importância da OPP na promoção de uma nova visibilidade da área, sendo para tal fundamental a ligação da OPP aos estudantes. Descreveu, ainda, de forma sistemática e estruturada o percurso da formação em Psicologia, desde o 1º ano de curso até ao fim do estágio profissional, reforçando a necessidade de se desenvolverem projectos interventivos capazes de envolver os problemas que vigoram na sociedade actual. O seu discurso incidiu, especialmente, na importância da intervenção psicológica de qualidade e de rigor científico, afirmando que esta é capaz de fazer toda a diferença pelo que não deve ser vista como um luxo. Nesta linha apelou, então, à reversibilidade de tal posição a fim de se permitir que as vantagens da intervenção sejam visíveis na sociedade, asseverando que “temos de ser capazes de gerar soluções para os outros”.

Nesta sessão de abertura oficial do ENEP, foi ainda realizada a apresentação da edição experimental da Revista Universitária de Psicologia (RUP) pelo seu administrador, João Carlos Arruda. Terminada a sessão de abertura, o Professor Doutor Telmo Baptista, numa conversa informal, quando questionado sobre o XIX Encontro Nacional de Estudantes de Psicologia e sobre outros eventos semelhantes, teceu vários elogios a iniciativas deste género, enumerando algumas das vantagens destes eventos tais como acabar com as “Psicologias do norte, do sul, das ilhas”, unir estudantes e profissionais da área, partilhar saberes, conhecimentos e experiências, entre muitos outros benefícios. Mencionou também que, para os organizadores destes eventos, a “bagagem” que se leva para o futuro é imensa, proporcionando-lhes uma grande capacidade de trabalho e de organização de eventos a grande escala.

O Bastonário deixou bem claro que experiências que promovam o contacto entre os diversos estudantes de Psicologia e que permitam a troca de ideias e opiniões são muito benéficas para todos e que só poderão trazer bons resultados no futuro. Por fim, congratulou a organização pelo trabalho desenvolvido e pelo evento levado a cabo, deixando o incentivo para mais iniciativas destas. Após o término da sessão de abertura e ao longo do dia decorreram quatro mesas de formações. A primeira, referente à área de Psicologia Clínica, contou com a participação da Professora Doutora Maria do Céu Salvador (Investigadora no CINEICC e Professora da FPCE-UC) e do Professor Doutor José Pinto Gouveia (Presidente do CINEICC e Professor Catedrático na FPCEUC), ambos seguidores do Modelo Cognitivo-Comportamental aplicado à psicoterapia. Num primeiro momento, a Professora Doutora Maria do Céu Salvador, focalizando a sua participação RUP Nº1 49


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nas Terapias Cognitivo-Comportamentais de 2ª Geração – reestruturação cognitiva –, explorou a evolução temporal e histórica da Terapia Cognitivo-Comportamental, apresentou as principais características destas terapias e os factores determinantes da eficácia da intervenção terapêutica, alertou para mitos e mal-entendidos subjacentes e, por último, apresentou um conjunto de aplicações da Terapia Cognitivo Comportamental em diferentes contextos clínicos. A sua participação revelou-se uma sistematização dos aspectos fundamentais e discriminativos do Modelo Cognitivo-Comportamental na explicação do funcionamento humano e respectiva aplicabilidade clínica. De seguida, o Professor Doutor José Pinto Gouveia encaminhou os estudantes para uma nova vaga de terapias que têm vindo a reter, cada vez mais, a atenção de clínicos e investigadores na área. Trata-se das Terapias de 3ª Geração, nas quais se incluem as terapias baseadas no Mindfulness, as terapias comportamentais dialécticas, as terapias metacognitivas, a terapia da auto-compaixão, entre outras. Questionando a certeza da razão, a verdade atribuída aos pensamentos e o controlo das experiências internas do ser humano, o Professor Doutor José Pinto Gouveia reforçou a importância da linguagem, a capacidade de aceitar a dor, em detrimento da procura incessante e angustiante de rejeição ou controlo da mesma, a necessidade de “deixar de sermos usados pela nossa cabeça e passarmos a usar a cabeça”, percebendo que “os pensamentos são puramente contextuais e não traduzem nada de definitivo sobre nós”. Neste tipo de terapias mais recentes, mais importante do que a reestruturação cognitiva, típica das Terapias de 2ª Geração, é a modificação da relação da pessoa com a sua experiência interna/ mente no sentido de, ao intervir no 50 RUP Nº1

seu contexto e função, torná-la mais funcional e adaptativa, processo este onde a linguagem desempenhará um papel fulcral. Esta terá sido, quanto à plateia, a mensagem geral do contributo do professor na presente mesa. Por último, depois de lamentada, tanto pelos oradores como pelos estudantes a ausência do Professor Doutor Carlos Amaral Dias e do Professor Doutor António Branco Vasco na mesa, abriu-se um espaço de questões e comentários, permitindo desta forma uma plataforma de diálogo, esclarecimentos e confronto de pontos de vista variados. Foi assim que terminou a mesa, com uma nítida sensação de que, e utilizando as palavras do Professor Doutor José Pinto Gouveia, “saltar dos automatismos da nossa mente para a nossa vida presente” é a melhor forma de “viver uma vida valorizada”. A segunda mesa, referente à área da Psicologia das Organizações e Recursos Humanos, como referido anteriormente, contou com a presença do Professor Doutor Adelino Duarte Gomes (Coordenador do mestrado em Psicologia das Organizações e do Trabalho da FPCE-UC) como moderador, que começou por fazer uma breve introdução sobre as três áreas fundamentais da Psicologia. Seguidamente, foi a Professora Doutora Leonor Cardoso (Professora e Investigadora da FPCE-UC) quem tomou a palavra, focando a sua abordagem essencialmente em duas questões: o que é a Psicologia das Organizações e quais foram as suas perspectivas dominantes. Esta mesa contou ainda com a participação do Professor Doutor (Professor e Investigador na Universidade de Évora), o qual patenteou o coaching executivo enquanto prática de desenvolvimento intencional nas organizações, e com a presença da Professora Doutora Isabel Silva (Professora Catedrática da FPCE-UP), cuja

reflexões e desafios da Psicologia das Organizações e do Trabalho, incidindo fundamentalmente no trabalho nocturno e nos seus efeitos negativos na saúde, nos contextos ocupacionais, na vida familiar e na vida social. Ressalta-se a prevista participação e, portanto, a ausência da Professora Doutora Teresa d’Oliveira e da Professora Marlenne Lacombez nesta mesa de conferência. Estava assim dada por concluída a primeira parte do primeiro dia do ENEP no que diz respeito ao programa científico. A segunda parte do dia, depois de um almoço onde foi promovida a interacção entre todos os participantes deste evento, iniciou-se quando a Professora Doutora Maria da Luz Vale Dias (Professora na FPCE-UC) abriu a mesa alusiva à área da Psicologia Forense, onde desempenhou o papel de moderadora, iniciando o seu discurso congratulando a Associação Nacional de Estudantes de Psicologia (ANEP) pela “brilhante iniciativa”. Também a Professora Doutora Susana Monteiro (Professora no Instituto Superior de Ciências da Saúde


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não quis iniciar a sua exposição sem, primeiramente, elogiar a ANEP pelo encontro em questão. Posteriormente, expôs a temática que iria aprofundar: “avaliação forense em caso de abuso sexual – o lúdico na recolha de testemunho”. Neste âmbito, a oradora enumerou alguns dos comportamentos bizarros que uma criança pode apresentar após uma violação, aprofundou as dificuldades na avaliação, isto é, na detecção e no diagnóstico do abuso sexual, e, mais à frente, desenvolveu a sua reflexão em torno da componente lúdica na recolha de testemunho, explicando quais os recursos a serem utilizados e como estes se devem aplicar. Terminada esta temática seguiu-se a “Avaliação das Competências e Capacidades Parentais na Promoção e Protecção da Infância” com a Professora Doutora Madalena Alarcão (Coordenadora da área de Psicologia Forense da FPCE-UC e Vice-Reitora da Universidade de Coimbra). Neste âmbito, foram abordados diversos pontos que incidiram, sobretudo, no conceito de “crianças de risco” e na diferenciação entre competências e capacidades parentais.

Por último, mas não menos importante, o Professor Doutor Pinto da Costa (Professor Catedrático no Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar da Universidade do Porto e Professor no ISCS-N) falou-nos acerca das “Repercussões do Abuso Sexual de Menores ao Longo da Vida”, abordando o conceito de “abuso sexual de crianças”, quais as justificações para tal suceder, os diferentes tipos de danos, os múltiplos comportamentos da criança que podem levantar suspeitas sobre esta ter sido vítima de abuso, alguns indicadores psicológicos que conduzem a essa desconfiança e as consequências da verificação da veracidade da mesma. Dada por encerrada esta mesa, iniciou-se a quarta e última mesa de conferência: Neurociências e Cognição. Esta teve como moderadora a Professora Doutora Alexandra Reis (Investigadora e Professora da Universidade do Algarve) e como oradores o Professor Doutor Karl Magnus Peterson da Universidade do Algarve, que falou sobre os objectivos da neurociência cognitiva, e o Professor Doutor Armando Machado (Professor Catedrático da Universidade do Minho e Presidente da Associação Portuguesa de Psicologia

Experimental). Este último centrou a sua participação na Psicologia Animal, alientando que o ser humano não está tão longe dos animais como pensa e ressaltou a Psicologia da Aprendizagem como a área que mais contributo supriu à Psicologia ao longo de toda a história. Os dois dias seguintes do XIX ENEP foram dedicados exclusivamente à realização dos workshops e das formações, os quais foram alvo de críticas bastante positivas por parte dos alunos de Psicologia do Instituto Superior de Ciências da Saúde - Norte e do ISPA. As críticas respeitantes aos horários dos workshops foram unânimes entre a maior parte dos participantes, que apontaram a existência de uma sobreposição excessiva destes com outras actividades, o que limitava a participação nas outras actividades desejadas. A ausência de exercícios de promoção de dinâmicas de grupo com os objectivos de conhecer pessoas novas e de criar um espírito de grupo mais interactivo e coeso, assim como a falta de divulgação de informação sobre alguns workshops constituíram, também, algumas das principais críticas a este evento.

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XIX Encontro Nacional de Estudantes de Psicologia

Para uns a organização ainda um pouco incipiente do XIX Encontro Nacional de Estudantes de Psicologia teve algumas falhas, para outros foi boa, proporcionando a superação das expectativas relativas a estes três dias cheios de dinamismo. Por outro lado, na perspectiva de quem organizou este evento, nem o sono, o cansaço, as queixas de participantes exigentes ou menos contentes ou até os imprevistos abalaram a sua motivação e proveito. “Repetia, sem dúvida, a mesma experiência, independentemente dos horários, stress, pouca ou nenhuma disponibilidade para participar no programa social e científico. No final do evento, senti que todo o esforço e toda a dedicação foram retribuídos pela minha satisfação pessoal de ter estado a organizar”. São as palavras de Joana Diniz Costa, uma das organizadoras deste evento, que demonstram o empenho com que os membros da ANEP prepararam o XIX ENEP, tendo sido, de um modo geral, capazes de responder prontamente a todos os imprevistos que ocorreram e tendo-se mostrado disponíveis e interessados no feedback que lhes foi dado. 52 RUP Nº1

Depois de três dias alucinantes em que os estudantes aprenderam, conviveram e desfrutaram do intercâmbio de experiências e conhecimentos, o balanço geral do que foi o XIX Encontro Nacional de Estudantes de Psicologia foi bastante positivo. A satisfação dos participantes bem como da organização foi demonstrada no desfecho deste encontro onde se reuniram todos, agradecendo-se mutuamente. Deixamos agora as boas memórias de um ENEP acontecido para projectar as nossas energias no desenvolvimento de um ENEP que ainda está para acontecer... O XX ENEP já se encontra em preparação, reunindo uma equipa composta tanto por elementos da organização passada, como por participantes do ENEP anterior e ainda alguns novatos. O principal objectivo será o de reunir a experiência de trabalho, o feedback dos participantes e as ideias frescas de novatos para realizar um Encontro que potencie as qualidades do anterior, mas que se destaque por melhorar aquilo que de algum modo não correu tão bem. Podemos já adiantar que os participantes do XX ENEP irão con-

tar com um espaço diferente, preços mais acessíveis, nomes e um formato bastante diferentes no programa científico, assim como uma maior aposta no programa social! Para mais um cheirinho, recomendamos que fiquem atentos à página www.anep. pt e www.facebook.com/xxenep, que vão sendo actualizadas com todas a informações necessárias, de modo a aguçar a vossa curiosidade, mas mantendo alguma surpresa do que se espera que possa vir a ser o melhor ENEP alguma vez realizado!


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“Afirmar os Psicólogos”: O primeiro congresso nacional da Ordem dos Psicólogos Portugueses

“Afirmar os Psicólogos” O primeiro congresso nacional da Ordem dos Psicólogos Portugueses Mais de 1800 psicólogos esgotaram o Centro Cultural de Belém naquele que foi o encontro histórico na afirmação da Psicologia em Portugal, o Primeiro Congresso Nacional da Ordem dos Psicólogos. Este decorreu em Lisboa nos dias 18, 19, 20 e 21 de Abril e consistiu, especialmente, num espaço privilegiado que proporcionou a reflexão, partilha de práticas, intervenções e o estabelecimento de contactos, redes sociais e parcerias. Segundo o Bastonário da Ordem dos Psicólogos Portugueses, Professor Doutor Telmo Baptista “os mais de 1800 psicólogos são a expressão da vitalidade da profissão e da vontade de contribuir e de nos colocarmos ao serviço da sociedade”. Texto Ana Rita Martins e Andreia Jesus Fotografia Vanessa Alves

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primeiro Congresso Nacional da OPP contou com o alto patrocínio do Presidente da República Portuguesa, o que representa o reconhecimento da actividade fundamental dos psicólogos e o contributo da Psicologia no país. Segundo o Professor Doutor Telmo Baptista, este patrocínio comprova nitidamente a atenção fornecida pelo Presidente da República aos assuntos referentes à Psicologia, bem como ao seu impacto na sociedade: “estou muito satisfeito com o patrocínio do Sr. Presidente da República ao evento que para nós assume uma importância vital na afirmação dos psicólogos, e que tem um carácter histórico, dado que é o primeiro congresso profissional de todos os psicólogos”, afirma, numa entrevista à revista oficial da Ordem dos Psicólogos Portugueses (PSIS 21). Este patrocínio reconhece, portanto, a importância que o primeiro

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Congresso dos Psicólogos Portugueses arroga no panorama nacional. Durante quatro dias consecutivos, foram diversas as actividades realizadas que permitiram a inclusão de variadíssimas áreas da Psicologia, desde a importância da Psicologia Social e das Organizações para as questões laborais em tempos de crise, até aos maus tratos e negligência a crianças, ou a definição, contextualização e planeamento de estratégias de intervenção. Foi logo no primeiro dia, 18 de Abril, que foram realizados vários wokshops pré-congresso, fundamentais e basilares para a prática dos psicólogos portugueses e que procuraram responder às necessidades formativas dos mesmos nas suas diversas áreas. Os participantes tiveram à sua disposição oportunidades de formação em formatos inovadores de intervenção que favoreceram o desenvolvimento e a compreensão de um vasto conjunto de temáticas

relacionadas com aquilo que é a Psicologia actualmente. “Intervenção psicológica em crise e emergência: entre o risco e a oportunidade”, “Psicopatia e sucesso social: os psicopatas entre nós”, “O poder e a complexidade das intervenções em grupo”, “Introdução ao coaching”, entre muitos outros, são exemplos dos numerosos workshops desenvolvidos neste dia bastante proveitoso para todos os participantes. Para além de wokshops, existiram, ainda, várias modalidades de apresentação, com o objectivo de tornar este congresso o mais abrangente possível, tais como, comunicações, projectos, vídeos & pecha-kucha e posters, que foram apresentados ao longo dos restantes dias. É fundamental salientar que, em pouco mais de dois meses, foram submetidas mais de 450 apresentações, examinadas pela Comissão Cientifica, que contaram com uma enorme diversidade e riqueza no que respeita ao conteúdo, contextos de


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“Afirmar os Psicólogos”: O primeiro congresso nacional da Ordem dos Psicólogos Portugueses

prática, trabalhos de investigação e formatos de apresentação. Segundo David Neto, presidente da comissão organizadora, esta adesão “foi a confirmação que, de alguma maneira, o congresso chegou a um nicho que não estava preenchido e respondeu a uma necessidade da Psicologia em Portugal”. O Primeiro Congresso Nacional da OPP contou, ainda, com mais de uma dezena de espaços organizados e apropriados de discussão. Estes espaços tiveram como objectivo primordial agregar os psicólogos, permitindo que estes apresentassem as suas perspectivas sobre temáticas relevantes para a profissão. Permitiram, ainda, o debate e a troca de ideias sobre as questões essenciais para a profissão, a criação de especialistas, a formação, a autonomia e a afirmação profissional dos psicólogos. Esta vertente da estrutura dos espaços de debate contou com o contributo de nomes que constituem uma referência na Psicologia, tais como António Branco Vasco, Eduardo Sá, Gillian 56 RUP Nº1

Hardy, Jorge Correia Jesuíno, José Maria Peiró, Margarida Gaspar de Matos, Mário Ceitil, entre muitos outros. A Comissão Organizadora do congresso trabalhou no sentido de alargar estes espaços de debate no congresso online, para que os psicólogos pudessem apresentar as suas ideias antes ou depois das sessões. É deveras importante salientar que, tal como os profissionais de Psicologia, também os estudantes tiveram oportunidade de fruir de um espaço de discussão exclusivamente destinado a eles através da mesa “Ser-se estudante de Psicologia”. Esta foi constituída por quatro elementos da já anterior direcção da ANEP: Luís Miguel Tojo, João Pedro Estanqueiro, João Andrade – estudantes da Universidade de Coimbra – e João Paulo Petiz – estudante da Universidade do Minho. Os oradores falaram das principais temáticas da actualidade respeitantes aos estudantes de Psicologia, abordando e discutindo os

seus principais desafios e responsabilidades. Foi feito também um confronto entre a situação actual dos estudantes portugueses e a dos restantes colegas europeus, bem como uma reflexão sobre como ultrapassar algumas das dificuldades que são vividas actualmente pela comunidade estudantil de Psicologia. Segundo João Paulo Petiz, actual vice-presidente da Associação Nacional de Estudantes de Psicologia (ANEP) e representante nacional da European Federation of Psychology Students’ Association (EFPSA), o congresso da OPP foi da maior importância pois “teve o mérito e o condão de juntar e unir a classe profissional, atendendo principalmente ao momento delicado de grave crise económica e social em que estamos”. A seu ver, com a existência de um espaço de debate sobre a situação actual dos estudantes de Psicologia e Portugal “a Ordem dos Psicólogos Portugueses mostra


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sensibilidade para aqueles que irão ser potenciais psicólogos no futuro, vincando a importância da harmonia entre a classe profissional e a classe estudantil em Psicologia na afirmação continuada dos psicólogos”. Com a finalidade de saber quais as expectativas para este primeiro encontro histórico de psicólogos, a RUP foi ao encontro de vários participantes. As principais expectativas eram de perceber o que os outros psicólogos andam a fazer e quais as suas perspectivas de futuro; de tomar conhecimento acerca da condição actual nacional, quer ao nível da formação, quer ao nível da investigação, bem como tirar proveito do que está a ser realizado nas diversas áreas de Psicologia. Perceber que soluções há em termos de empregabilidade, promover a união dos psicólogos enquanto classe, rever temáticas antigas e aprender novas e estabelecer contactos, incrementando sempre um carácter dinâmico, constituíram também expectações por parte dos participantes. Foi justamente no segundo dia, 19 de Abril, após a conferência de Eduardo Sá (“A Psicologia e o Futuro”) e de Margarida Gaspar de Matos (“Regresso ao futuro: activação de recursos enquanto aposta do(a)s cidadãos e do(a)s psicólogo(a)s em tempo de crise”), onde foi evidenciada a importância dos recursos que o ser humano pode encontrar em si para fazer face à crise e quais as conquistas que o mundo contemporâneo vive desde há 200 anos, que ocorreu a Sessão Oficial de Abertura do congresso. Foi o Bastonário da OPP quem principiou, testemunhando, desde logo, a sua enorme satisfação pela afluente adesão e pelo significado especial que, para si, instituiu o patrocínio do Presidente da República. Tendo sido este um congresso que se realizou numa altura de crise, que afecta particularmente o nosso país, o Professor Doutor Telmo Baptista alertou para a necessidade de não RUP Nº1 57


“Afirmar os Psicólogos”: O primeiro congresso nacional da Ordem dos Psicólogos Portugueses

nos deixarmos atraiçoar pelas notícias que desejamos ouvir, afirmando que “a crise só será uma verdadeira oportunidade se tivermos a atitude e os comportamentos necessários para transformar esta situação e se mobilizarmos os nossos recursos o mais rápido possível, antes que seja demasiado tarde”. A seu ver, a crise ameaça a coesão social, deteriorando o desenvolvimento e o crescimento económico, pelo que considera que “nunca o empreendorismo, as atitudes e os comportamentos foram tão mencionados como cruciais para o desenvolvimento económico e para o sucesso no trabalho e nas organizações”. No decorrer da sessão de abertura, o Bastonário reforçou o elevado grau de importância da actividade precoce dos psicólogos junto dos jovens, a fim de os preparar melhor para os desafios do futuro, educar para o risco, para a aprendizagem com os erros e para as atitudes e comportamentos compatíveis com a flexibilidade cognitiva e com a incerteza que o futuro já hoje nos reserva. Os psicólogos assumem, então, o estatuto de profissionais mais competentes na preparação de cidadãos aptos para lidar com a incerteza e com as frustrações do fracasso e, acima de tudo, os mais competentes no fornecimento de esperança àqueles que estão mais desprotegidos e possuem menos competências para lidar com este novo contexto económico e social. O Professor Doutor Telmo Baptista salientou, ainda, que “não nos podemos esquecer que o sofrimento é tolerável se encontrar um sentido. As pessoas são capazes de minorar o seu sofrimento se perceberem que o fazem em prol de algo ou de um futuro mais promissor. Não procurar dar sentido ao sofrimento é o caminho certo para o desespero; e o desespero nunca serviu as sociedades democráticas”. Foi com a referência a um grande psicólogo, um dos génios fundadores da Psicologia, que viveu 58 RUP Nº1

do séc. XIX e princípio do séc. XX, William James, que o Bastonário da OPP finalizou a sua intervenção. Tal como asseverou um dia William James, que a grande descoberta da sua geração foi que os seres humanos podem alterar as suas vidas, alterando as suas atitudes, também o Bastonário assim o considera, defendendo que cada um de nós não tem de ser vítima da sua condição biológica e que o poder de transformação individual ou colectivo reside nas escolhas que cada um faz: “queremos dizer aos portugueses que podem contar com os psicólogos para os ajudar na tarefa de escolher o seu próprio caminho”, certifica. Após as palavras do Professor Doutor Telmo Baptista, foi David Neto, presidente da comissão organizadora do congresso, quem quis deixar as suas palavras de apreço e de alegria pela participação no congresso, após meses de preparação, afirmando que “é muito gratificante para nós comissão organizadora ter esta resposta por parte dos participantes”. David Neto salientou que a ideia foi criar um congresso diferente dos outros, mais abrangente e mais centrado na profissão e nos assuntos relevantes para a prática da Psicologia, em que as pessoas pudessem fazer as suas próprias apresentações. Salientou, igualmente, 3 objectivos principais que orientaram a organização do encontro: o debate de ideias, promoção da aprendizagem e a reflexão sobre temas da Psicologia importantes; a reflexão e construção de significados sobre assuntos centrais da prática profissional em Psicologia; e a criação de um ponto de encontro para os psicólogos, permitindo criar novas oportunidades e trocar experiências. O presidente da comissão organizadora fez ainda menção ao logótipo que caracterizou o congresso, proferindo que este teve como objectivo transmitir o carácter generativo das aprendizagens efectua-

das, esperando que estas se reflictam na prática dos psicólogos. Também o secretário de estado adjunto do Ministro da Saúde, Fernando Leal da Costa, interveio na sessão de abertura, realçando, primeiramente, a sua satisfação em participar numa de mais futuras representações oficiais dos psicólogos e do exercício em Psicologia. Seguidamente salientou que o Ministério da Saúde está atento e sabe qual o potencial profissional dos psicólogos, considerando que estes são “uma peça importante da qual não devemos prescindir” e que o seu profissionalismo “é um dos principais e fulcrais elementos na qualidade em saúde”. Fernando Leal da Costa findou a sua interposição desejando que o Primeiro Congresso da OPP fosse o primeiro de uma longuíssima série de congressos deveras profícuos para a saúde dos portugueses. Apesar de este ter sido um congresso verdadeiramente nacional, com participantes provenientes de todos os pontos do país, o Conselho Federal


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de Psicologia do Brasil e o Consejo General de Colegios Oficiales de Psicólogos de Espanha estiveram representados no Primeiro Congresso Nacional da OPP, assim como o Bastonário da Ordem dos Psicólogos de Angola, Professor Doutor Carlinhos Zassala, ilustrando a clara cooperação existente na Psicologia a nível internacional. Em conversa com a RUP, o Professor Doutor Carlinhos Zassala demonstrou a sua enorme satisfação no convite que lhe foi feito e elogiou a forma como se organizou o congresso, bem como os temas escolhidos e debatidos. À semelhança do encontro que se esperou entre os psicólogos portugueses, este congresso foi também um encontro de psicólogos de vários países, em que a vinda destas delegações a Portugal revela o esforço e aproximação de associações congéneres. Para além da partilha de trabalhos, de perspectivas e da troca de impressões, o congresso permitiu, ainda, a partilha de bons momentos de lazer e convívio. O jantar de gala e

o momento musical com Melech Mechaya são dois exemplos destes momentos. Numa pequena entrevista que a RUP teve oportunidade de realizar a David Neto, para tomar conhecimento da sua opinião final sobre o congresso, este demonstrou a enorme satisfação e vontade em pertencer de novo à Comissão de Organização do possível Segundo Congresso Nacional da Ordem dos Psicólogos Portugueses e adiantou, ainda, que a Ordem propôs as suas candidaturas à organização de dois congressos internacionais em Portugal, tendo ambas sido aprovadas. Assim, a OPP terá a seu cargo a organização do Congresso da International School Psychology Association (ISPA) em 2013 e do Congresso da Federação Iberoamericana de Psicologia (FIAP) em 2014. Estes dois congressos organizados em território nacional serão, sem dúvida, outra oportunidade para os psicólogos portugueses participarem e apesentarem os seus trabalhos junto de colegas de outros países. Chegado ao fim o congresso, e depois de quatro dias admiráveis e produtivos, o feedback geral sobre o Primeiro Congresso Nacional da Ordem dos Psicólogos Portugueses, por parte dos participantes, revelou-se bastante positivo, tendo sido elogiada a diversidade de temas, a possibilidade de contacto, partilha e de exposição, a qualidade e o carácter inovador das diversas apresentações, bem como a organização e o convívio proporcionado. As principais críticas referenciadas basearam-se no tamanho reduzido das salas, uma vez que estas ficaram sobrelotadas, devido ao interesse e confluência de numerosos participantes, e na importância diminuta atribuída à investigação nacional em comparação com prática profissional. Todavia, frases como “este congresso foi um marco fundamental e uma porta aberta para todos os profissionais”, “este congresso per-

mitiu um grande crescimento não só a nível profissional, como também ao nível pessoal”, “com este congresso foi possível sentirmos que pertencemos a um corpo com um papel fundamental na sociedade”, evidenciam distintamente o quão importante e marcante foi o Primeiro Congresso da OPP para aqueles que tiveram a oportunidade de nele participar. A clara satisfação não só foi evidenciada pelos participantes, como também por toda a comissão organizadora e pelo próprio Bastonário da OPP, Professor Doutor Telmo Baptista. Este último manifestou o seu enorme agrado e satisfação na sessão oficial de encerramento, chamando ao palco toda a Comissão Organizadora do evento, desde a Comissão Científica até aos elementos da estrutura da OPP que também trabalharam na construção deste congresso, congratulando-os. Depois da lisonjeada oportunidade que a RUP teve em participar no congresso que maior contributo teve para a afirmação da Psicologia e dos psicólogos em Portugal, deixamos aqui a sugestão ao nosso caro leitor de visitar o site da Ordem dos Psicólogos Portugueses, para que possa aceder aos vídeos que os participantes submeteram e ao fórum online. Deixamos também a sugestão de uma possível visita à nossa capital, Lisboa, onde em Belém poderá provar os melhores pastéis de nata, a nível nacional (e internacional!), que fizeram as maravilhas dos vários participantes que estiveram presentes num congresso que fez história, o Primeiro Congresso Nacional da Ordem dos Psicólogos Portugueses!

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"Mind the body": O 26º Congresso da EFPSA

“Mind the body”: O 26˚ Congresso da EFPSA Antes do tão aguardado congresso da EFPSA, que decorreu em Abril de 2012, a equipa da RUP teve a oportunidade de entrevistar pessoalmente o ex-presidente da EFPSA, Vedran Lešić, que gentilmente nos clarificou alguns aspectos fundamentais acerca da federação. Texto Maria João Gouveia Fotografia Inês Ribeiro / Maria João Gouveia / Timo Säämänen

O que é a EFPSA? A EFPSA (European Federation of Psychology Students’ Associations) é uma organização não-governamental de associações de estudantes de Psicologia de vários países da Europa, gerida numa base de voluntariado de e para estudantes. Foi estabelecida como organização em 1987, em Portugal, e é constituída actualmente por 29 associações de estudantes de Psicologia de 29 países/ regiões europeias como membros efectivos e 2 associações como membros observadores. O seu objectivo principal é o de representar os aproximadamente 300.000 estudantes de Psicologia por toda a Europa, através das associações que fazem parte da EFPSA, procurando ir de encontro às suas necessidades e interesses. Apesar de se focar essencialmente nos estudantes, procura abranger também psicólogos, instituições e organizações profissionais de nível nacional e europeu. Como salienta Vedran Lešić, a EFPSA promove uma plataforma que permite reunir todos os estudantes de Psicologia, 60 RUP Nº1

de forma a desenvolver o diálogo científico e a troca de experiências multiculturais entre os estudantes dos diferentes países representados. Assim o trabalho de equipa e a troca intercultural de conhecimentos e de conceitos fundamentais em Psicologia são realçados, fomentando a mobilidade e possivelmente o início de projectos interculturais. Quais os principais eventos realizados pela EFPSA? ▶ Contam-se essencialmente quatro actividades anuais promovidas pela EFPSA, cada qual sendo realizada num país diferente. O principal evento, e o ponto alto do ano, é, sem dúvida, o congresso internacional realizado todos os anos num país diferente, e que junta cerca de 250 estudantes de diferentes países Europeus. O primeiro congresso teve lugar em Portugal em 1987. Este evento permite aos estudantes, não apenas aumentar o seu conhecimento sobre o tema geral, como partilhar as visões que diferentes estudantes de diferentes países têm do mesmo tópico, para

além de possibilitar a participação mais activa dos estudantes, através da apresentação de posters, de palestras ou de workshops. Para aqueles que se querem envolver activamente na EFPSA, durante os primeiros dois dias do congresso, os participantes podem submeter candidaturas para membros efectivos da organização. Outra actividade realizada anualmente pela EFPSA é a European Summer School (ESS) que marca o início de um programa de investigação para os estudantes que desejam desenvolver uma pesquisa científica. A prioridade da ESS é proporcionar uma experiência de investigação que dificilmente os estudantes encontrarão nas suas universidades. Neste evento participam cerca de 35 estudantes, que se dividem em 6 grupos de trabalho, cada um com um supervisor que irá orientar a pesquisa. Este programa de investigação com início na ESS prolonga-se por um ano, em que ocorre recolha de dados, permitindo a comparação multicultural dos dados recolhidos em diferentes países. A pesquisa culmina na apre-


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sentação dos resultados da pesquisa numa conferência ou na publicação dos resultados numa revista. Este ano realizou-se em Portugal a 6ª ESS, em Vila Nova de Foz Côa, na semana de 15 a 22 de Julho, contando com um follow-up através de um programa em colaboração com a Universidade de Cambridge. Mais à frente será descrita com mais pormenor a 6ª edição da ESS. Uma terceira actividade é o Trainer the Trainers (TtT), que tem o objectivo de promover conhecimento para os estudantes da área da Psicologia das Organizações, nomeadamente no treino especializado e avançado de competências de comunicação, de financiamento, de construção de equipas, de treino e de liderança. Durante este evento, que reúne cerca de 10 a 12 participantes, os estudantes têm a oportunidade de se propor para o cargo de trainer na EFPSA. Este ano a 3ª edição do TtT teve lugar na Roménia, entre os dias de 19 a 26 de Agosto. Finalmente, e tendo já sido realizado duas vezes, o EFPSA Day é um dia em que todas as universidades dos diferentes países europeus comemoram a EFPSA e as experiências, conceitos e valores partilhados.

(...) a EFPSA promove uma plataforma que permite reunir todos os estudantes de Psicologia, de forma a desenvolver o diálogo científico e a troca de experiências multiculturais entre os estudantes dos diferentes países representados.

Na sua opinião, qual a importância do Congresso Internacional da EFPSA? ▶ Para o ex-presidente da EFPSA, a importância do congresso internacional resume-se ao facto de este juntar 250 estudantes com o mesmo interesse (Psicologia) num mesmo local. Este é o ponto de partida para se começar a desenvolver um trabalho em rede, possibilitando um futuro de troca de experiências culturais e profissionais muito propenso, bem como

aumentando a sensibilidade e a consciência para uma identidade europeia. Para além disso, este é um momento onde se atraem e se encontram pessoas interessadas em trabalhar na equipa da EFPSA. Para além de todas as vantagens profissionais (e de ser sem uma mais-valia para o currículo), é também uma experiência pessoal, única, onde se esbatem as fronteiras culturais e se conhecem novas pessoas e culturas, e onde nos conhecemos melhor a nós próprios. RUP Nº1 • 61


"Mind the body": O 26º Congresso da EFPSA

O que gostaria de dizer aos estudantes de Psicologia de Portugal? ▷ O congresso internacional da EFPSA é uma óptima experiência para conhecer estudantes de Psicologia de outros países, é uma excelente actividade extra-curricular, dado que a EFPSA oferece algo que não se pode encontrar na educação normal, oferece determinadas experiências que não se têm na vivência quotidiana das aulas. É também uma oportunidade para praticar a língua inglesa, conhecer pessoas de diferentes culturas, conhecer pessoas interessadas na mesma área da Psicologia, comparar diferentes sistemas de educação, decidir o país onde ir de Erasmus e criar contactos nesse país, e, quem sabe, entrar na equipa da EFPSA. Existe uma frase que costumamos dizer que é “não irás saber o que é o ‘espírito EFPSA’ até ao momento em que participares num evento da EFPSA”, e que para nós representa um dos maiores desafios que podemos colocar aos estudantes de Psicologia. Em suma, existe um leque variadíssimo de experiências de vida que os estudantes poderão ter ao entrar no mundo da EFPSA.

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“Mind the Body” O Congresso da EFPSA O 26º Congresso anual da EFPSA, teve, este ano, lugar na terra dos contos de fadas, a Dinamarca, de 22 a 29 de Abril de 2012. O local escolhido para a realização do evento foi um parque de campismo, “Western Camp”, localizado no sudeste da Dinamarca, na ilha Lolland. Foi então, numa atmosfera rústica e num estilo country que se encontraram 250 estudantes de Psicologia de toda a Europa, dos quais 9 eram portugueses, para enveredar numa semana repleta de novos conhecimentos académicos e pessoais. “Mind the body” foi o tema escolhido para o Congresso de 2012 por ser actualmente um “tópico quente” na Psicologia dinamarquesa, razão privilegiada pela equipa organizadora e que os motivou a realizar o congresso no seu país. Este é um tema antigo que remonta aos debates filosóficos mas que se mantém actual, tanto na Psicologia, como na sociedade europeia de hoje-em-dia. É baseado no conceito da cognição corporal, tendo como objectivo a inclusão do corpo na forma como a Psicologia é ensinada, vista e praticada. Tal relação entre a mente e o corpo, pode ser aplicada nas diferentes áreas da Psicologia (Psicologia do Desporto, Psicologia Clínica, Mindfulness, Psicologia da Educação, entre outras). Tal aplicabilidade está, actualmente, nos debates de todas as escolas de Psicologia, daí o interesse crescente em conhecer e alargar o nosso conhecimento na relação entre a mente e o corpo. Desta forma, o programa científico contou com a participação de profissionais de relevo nacional que, de diferentes formas, têm em consideração o corpo na sua

abordagem psicológica. Alguns dos tópicos abordados foram: a importância da imagem corporal nas perturbações alimentares, deficiência física, identidade de género, sexologia clínica, psicologia no serviço militar, hipnoterapia, manejo da dor, tratamento de trauma, meditação e mindfulness nas culturas oriental e ocidental, debates variados da relação entre a mente e o corpo, etc. De modo complementar às conferências dos profissionais, o programa científico, como habitual nos congressos da EFPSA, contou também com o contributo dos estudantes em apresentações, posters e workshops. Alguns dos temas presentes foram: distúrbio de conduta, psicodrama, expressões faciais e FACS (“Facial Action Coding System”), procrastinação académica, diferenças de género no tipo de infidelidade e ciúme, percepção de risco durante o ciclo menstrual, Psicologia do movimento, aceitação, técnicas projectivas no aconselhamento de pares, entre outros. Uma vez que o evento reuniu 250


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“ pessoas de toda a Europa, não podia ser deixado de parte todo o intercâmbio social e cultural, que permitiu um conhecimento aprofundado principalmente da cultura dinamarquesa, mas também das culturas dos restantes países europeus representados. Tal foi então possível, através de um recheado programa social nocturno de descoberta da cultura dinamarquesa, desde a ‘Danish evening’, a uma viagem pelo cinema dinamarquês, ao ‘Fairytaile Ball’, como não podia deixar de ser. Contou-se, ainda, com a participação dos estudantes dos diferentes países, através de uma apresentação do seu país com as mais variadas e criativas ideias, seguida pela ‘Cultural evening’, onde foi possível ver, cheirar e provar os produtos gastronómicos típicos de cada país participante. Finalmente, e como descanso do programa científico, a meio da semana realizou-se uma excursão a Copenhaga, capital da Dinamarca, que incluiu uma visita guiada a diferentes atracções turísticas da cidade, e terminou com uma animada festa na Universidade de Copenhaga.

À parte de todo o programa científico e social detalhadamente programado, o congresso da EFPSA funcionou também como o encontro anual de todos os seus membros efectivos. Desta forma, durante esta semana realizaram-se reuniões dos vários órgãos da EFPSA, nomeadamente dos 29 representantes nacionais (Member Representatives) e do conselho científico (Executive Board).

Foi também este o momento de renovação do mandato, e por isso aqueles que se quiseram envolver activamente na EFPSA puderam submeter as suas candidaturas para membros efectivos da organização durante os dois primeiros dias do congresso. Assim, ao longo do congresso decorreram duas Assembleias Gerais, onde todos puderam estar presentes para conhecer as actividades que o Conselho Científico desenvolveu durante o último mandato, assim como ficar a par daquilo que está a decorrer no momento presente na EFPSA. A primeira Assembleia Geral ocorreu no primeiro dia do congresso, depois da cerimónia de abertura, e a segunda ocorreu no último dia, antes da cerimónia de encerramento.

Uma vez que o evento reuniu 250 pessoas de toda a Europa, não podia ser deixado de parte todo o intercâmbio social e cultural, que permitiu um conhecimento aprofundado principalmente da cultura dinamarquesa, mas também das culturas dos restantes países europeus representados.

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"Mind the body": O 26º Congresso da EFPSA

Esse é o momento onde as candidaturas e as propostas foram votadas pelos Representantes Nacionais e onde se apresentaram propostas para o próximo ano (como o local de realização do congresso). Este ano os vossos colegas portugueses propuseram realizar em Portugal um novo evento da EFPSA, a Conferência! Mas, apesar de todos os esforços colocados nesta missão, infelizmente ganharam os nossos colegas holandeses. É, por isso, de grande importância não só para o futuro da EFPSA como para o conhecimento da organização por parte dos seus participantes assistirem às Assembleias Gerais, principalmente aqueles que estão a participar no congresso da EFPSA pela primeira vez. Mas, como todas as experiências sociais, e, principalmente as experiências internacionais, a melhor forma de as conhecer é vivendo-as. Não há forma de explicar como é enriquecedor viver num ambiente intercultural, trocar experiências de vida, conheci64 RUP Nº1

Não há forma de explicar como é enriquecedor viver num ambiente intercultural, trocar experiências de vida, conhecimentos gerais e conhecimentos específicos nas diferentes formas de estudar a Psicologia, ainda que por uma semana.

mentos gerais e conhecimentos específicos nas diferentes formas de estudar a Psicologia, ainda que por uma semana. Pessoalmente, queria agradecer do fundo do coração a todos aqueles que tornaram esta semana ainda mais especial, e que formaram a maravilhosa ‘Portuguese crew’ que espalhou a magia e o encanto do povo português pelas terras dinamarquesas. Aos restantes, apenas posso aconselhar que experimentem por si próprios o espírito EFPSA, participando num dos vários eventos anuais. Fica então a dica: “Spice it up!” in Turkey, April 2013… Durante o congresso, tive a oportunidade de fazer uma entrevista à representante da Comissão Organizadora deste congresso, Josephine Schultz, que, à semelhança de todo o povo dinamarquês se mostrou gentilmente disponível para partilhar as dificuldades e as escolhas de um ano e meio de preparação deste evento.


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O número de participantes está de acordo com as suas expectativas? Acha que este ano houve mais estudantes interessados no congresso? ▶ O número de participantes foi estipulado para 250, no entanto, tenho a certeza de que, se houvesse mais vagas, havia muitas mais pessoas interessadas em participar no congresso. Não apenas pelo programa científico e pelo tema em questão, mas também pela experiência intercultural em si mesma, e pelo confronto com diferentes formas de estudar a Psicologia. O que gostaria que fosse diferente no congresso? ▶ Seria muito interessante realizar, para além das conferências, posters e workshops, mesas de discussão que permitissem uma participação mais activa dos estudantes e um verdadeiro confronto de opiniões e culturas.

O que foi diferente neste congresso relativamente a congressos anteriores? ▶ Sem dúvida nenhuma que o tema. A nossa equipa focou-se muito e preocupou-se em trazer um tema actual e específico do estado de arte do nosso país, para que as pessoas dos outros países da Europa pudessem de facto perceber qual o estado da Psicologia neste momento na Dinamarca. Outro aspecto diferente foi o rigor e o modo como estruturamos o horário, para ter a certeza que as pessoas apareciam a tempo das conferências e que tudo iria correr da melhor forma.

parem nos eventos da EFPSA, e a partilharem a vossa cultura com os outros países, principalmente com os países nórdicos. É muito interessante contrastar a cultura de países do sul da Europa, como Portugal, Espanha e Itália, com os países do norte, como a Dinamarca, o Reino Unido e a Polónia.

O que gostaria de dizer aos estudantes de Psicologia de Portugal? ▶ Foi um prazer enorme ter, pela primeira vez, 9 participantes portugueses no Congresso da EFPSA. Continuem a ser activos, a particiRUP Nº1 65


"Mind the body": O 26º Congresso da EFPSA

“The Biased Brain” A Escola de Verão da EFPSA ▶ Vila Nova de Foz Côa foi o local escolhido para a realização da 6ª Edição da European Summer School (ESS) da EFPSA. Entre as verdes colinas e os vales cobertos de vinhas espelhadas pelo rio Douro, no espaço isolado da Pousada de Juventude, criou-se a atmosfera ideal e inspiradora para a realização de uma semana que oscilou entre momentos de trabalho e de lazer. No total, entre participantes, supervisores, conferencistas e organizadores participaram cerca de 60 pessoas. Ao contrário das edições anteriores, a comissão organizadora deste ano teve a difícil tarefa de selecionar os participantes de um conjunto de mais de 120 candidaturas de um elevado nível académico, o que 66 RUP Nº1

resultou no aumento do número de participantes para 39. Assim, o evento contou com a participação de 39 estudantes de 26 países, divididos por 6 grupos de investigação, dirigidos por supervisores de Portugal, Itália e Turquia. Cada grupo de investigação desenhou, ao longo desta semana, as bases do seu projecto de investigação, passando por diferentes etapas: revisão da literatura, discussão das questões ou hipóteses de investigação e decisão sobre quais os métodos que irão ser utilizados. Em conjunto, cada projecto será desenvolvido pela respectiva equipa ao longo de 12 meses. O tema escolhido para esta edição da ESS foi: The Biased Brain: Research in Decision-making (O cérebro enviesado: Pesquisa na tomada de decisão). A partir deste tema global, diferentes temas independentes foram escolhidos pelos supervisores para cada grupo de investigação: “The Good, the Bad, and the Ugly: Fast Reasoning in Risky Decisions” (supervisora: Dra. Sarah

Furlan, da Universidade de Pádua, Itália); “Bought by Chance? Understand Why! How Materialism, Hedonism and Need of cognition influence impulse purchases” (supervisor: Doutorando Samuel Lins, Universidade do Porto, Portugal); “When is your face fit for the place?” (supervisora: Doutoranda Beatriz Lloret, ISCTE, Portugal); “My problem is schizophrenia – what about yours? – Fighting the stigma of schizophrenia among students” (supervisora: Doutoranda Carina Teixeira, Institute of Psychiatry at King’s College London e Universidade de Coimbra); “Eyewitness Memories and the Role of Cultural Differences on Post-event Misinformation Effect” (supervisora: Doutoranda Serra Tekin, Universidade de Istanbul, Turquia); “Do team sports players fully buy the information given to them about other players or decide during on-going interaction?” (supervisora: Prof.ª Doutora Vanda Correia, Universidade do Algarve, Portugal).


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No último dia, os estudantes apresentaram os seus projectos a todos os intervenientes na ESS, ficando imediatamente incluídos no Young Researcher Programme (YRP), um programa inovador da EFPSA, nascido este ano com o objectivo de qualificar o trabalho desenvolvido por estes estudantes. Pretende-se assim proporcionar a cada grupo de investigação um acompanhamento personalizado e especializado ao longo do ano lectivo, culminando com a apresentação dos projectos na Universidade de Cambridge, em Agosto de 2012 para os participantes do grupo de 2011 e em Agosto de 2013 para os participantes do grupo de 2012. Para além disso, os participantes do grupo de 2012 terão também a oportunidade de apresentar os projectos no congresso anual (a realizar no próximo ano na Turquia), de submeter os seus projectos para serem publicados em revistas internacionais e de participar como estagiários no programa de investigação na instituição de acolhimento. Esta oportunidade única de enriquecimento curricular, foi ainda complementada pelo contributo de conferencistas de relevo internacional na área da tomada de decisão. Assim, tivemos a participação de três oradores convidados, que nos proporcionaram conferências em áreas diferenciadas, todas elas relacionadas com o tema principal da ESS. Dada a sua relevância excepcional na área da Psicologia Motivacional e da Personalidade, o Professor Brian R. Little, da Universidade de Cambridge, antigo Professor da Universidade de Oxford, McGill e Harvard, eleito "Professor Favorito" por três anos consecutivos pelas turmas licenciadas de Harvard e Director do Departamento de Pscicologia Social e do Desenvolvimento, apresentou a conferência acerca de “Projectos pessoais enquanto decisões na vida”, sua principal área de investigação no

momento actual. O Professor Dr. Miguel Oliveira, da Universidade de Coimbra, apresentou um resumo histórico e crítico do conceito de enviesamento aplicado na Psicologia. Finalmente a Dra. Sanne de Wit, da Universidade de Amesterdão apresentou-nos o seu trabalho na área dos mecanismos neuronais do comportamento compulsivo. De modo a complementar o intenso trabalho diário de todos os participantes, não faltaram momentos de lazer e de convívio social e cultural, como não podia deixar de ser num evento da EFPSA. Assim, cada noite teve diferentes actividades, com o objectivo de promover um melhor conhecimento da cultura portuguesa e da cultura dos restantes 26 países representados. Houve ainda uma interessante adaptação de um conhecido programa de televisão, “Who wants to be a psychologist”. Para além disto, a meio da semana realizou-se uma excursão, em que se aliou o conhecimento da região vinhateira do Douro ao descanso e descontração de todos os participantes, num agradável passeio no rio Douro. Finalmente, e de modo a terminar a semana da melhor forma, a cerimónia de Gala permitiu aos estudantes apresentarem os seus projectos após o qual foram presenteados com um memorável jantar no qual puderam assistir a um momento de Fado. A noite terminou com a entrega de certificados de participação e com os merecidos agradecimentos. Foi, pois, uma semana de muito trabalho para todos, mas sem dúvida recompensado por todo o convívio e pelas experiências únicas trocadas entre participantes, supervisores, oradores, organizadores e todos os intervenientes na ESS dos diferentes países. Enquanto membro da organização local não queria deixar de elogiar a brilhante equipa que permitiu que a

6ª edição da ESS ficasse, sem dúvida, na memória de todos, e o irreconhecível mérito do seu representante, Luís Miguel Tojo, por ter permitido com que o evento acontecesse, elevando-o a uma qualidade nunca antes vista.

Foi, pois, uma semana de muito trabalho para todos, mas sem dúvida recompensado por todo o convívio e pelas experiências únicas trocadas entre participantes, supervisores, oradores, organizadores e todos os intervenientes na ESS dos diferentes países.

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A Psicologia na Universidade do Minho

A Psicologia na Universidade do Minho Já com uma estrutura bem definida a nível institucional, a Escola de Psicologia da Universidade do Minho, ao longo do tempo tem vindo a adaptar-se às reais necessidades da área e do país, apostando fortemente numa formação direccionada para a investigação, proporcionando diversas experiências nesse sentido, nomeadamente, investindo em laboratórios diversos, actividades inovadoras, tudo em função de uma boa formação, que se possa colocar efectivamente em prática num futuro próximo. A escola conta com dois departamentos distintos: o de Psicologia Básica e o de Psicologia Aplicada, ambos com responsabilidades bem diferenciadas, e dispõe de formação nas áreas de Psicologia Clínica e Saúde, Psicologia da Justiça e Comunitária, Psicologia das Organizações e Desporto e, Psicologia Escolar e Educação. Texto Daniela Valente e Patrícia Pereira Fotografia José Francisco Soares

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egundo, o Professor Catedrático Armando Machado, docente da instituição, não é possível formar psicólogos que queiram desenvolver boas carreiras, que queiram investigar uma variedade de áreas e que queiram ser competitivos, na ausência de formação quantitativa ou na presença de uma fraca formação, carente de qualidade e rigor científico. Neste sentido, afirma que as Universidades têm um papel fundamental na formação de um bom ou mau psicólogo, profissional e/ou investigador, sendo o currículo a sua arma fundamental. Relativamente às especificidades da instituição na qual lecciona, o Professor Armando Machado considera que esta tem duas características distintivas: a ênfase na investigação e a qualidade do seu corpo docente nesta área de investigação, que é muito forte. As avaliações neste centro de investigação têm sido muito positivas, integrando actualmente várias pessoas 68 RUP Nº1

com projecção internacional, professores que formam os alunos e que os encorajam a investir também numa carreira além fronteiras, procurando desenvolver estudos noutras Universidades. Assim, o aluno da Escola de Psicologia da Universidade do Minho tem uma formação na qual se encontra muito próximo de docentes dotados de um grande currículo internacional. O Professor acrescenta ainda que “alunos mais arrojados, com maior iniciativa, têm aqui condições que não têm em nenhuma outra Universidade de Psicologia do país, em termos de facilidade e de quantidade de laboratórios em que podem trabalhar e de equipas de investigação que podem integrar.” Este novo currículo (Pós-Bolonha) percebe que a Psicologia hoje não é a Psicologia de há dez ou vinte anos atrás, abrindo portas para lidar com as novas e emergentes áreas, nomeadamente, áreas quantitativas, biológicas, engenharias, interligando

os novos conhecimentos, inerentes à inovação, com as áreas mais gerais e já com alguma afirmação conceptual e empírica na Psicologia da saúde, desenvolvimento e educação. Desta forma, não se trata de “fechar portas” a áreas e aliados tradicionais da Psicologia, mas sim de criar novos conhecimentos de qualidade e de integrar saberes variados. Da Escola de Psicologia da Universidade do Minho fazem parte o centro de investigação e o serviço de consulta aberto à comunidade, tendo o último a função de responder, não só às necessidades de aconselhamento e intervenção psicológica para alunos, funcionários e docentes, mas também, da população em geral. Ao mesmo tempo, a vertente de investigação permite que alguns dos seus processos sejam articulados com o serviço de consulta, o que denota a preocupação pela manutenção de um elo de permanente relação e parceria entre investigação e prática da Psicologia.


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A Psicologia na Universidade do Minho

Para o Professor Armando Machado os maiores desafios com que a Escola de Psicologia se depara serão, num futuro próximo, a conquista do mercado, já saturado, tendo em conta as necessidades do país e a diferenciação da massa humana pela sua qualidade. Tal leva a Universidade do Minho a reconhecer e abraçar a necessidade de se continuar a impor e a manter o seu nível elevado para que se diferencie das demais. Aqui a aposta é e será: “qualidade, qualidade, qualidade”. Salienta-se a vontade de aumentar, por exemplo, o número de estudantes de Erasmus, os índices de internacionalização em geral, estando a instituição, afirma o Professor, “cada vez mais a receber pessoas do estrangeiro e pedidos para fazerem estágios nos nossos laboratórios. Portanto, a parceria com Espanha tem vindo a aumentar, assim como com outros velhos parceiros: Estados Unidos, Canadá, Inglaterra, não nos desviando do grande desafio que é na qualidade”. Acrescenta ainda que, olhando para o futuro, as perspectivas são de que a Escola cresça, uma 70 RUP Nº1

vez que “em termos de Psicologia nós temos infra-estrutura e capacidades para crescer.” Quando questionado sobre a formação em Psicologia a um nível geral no país, o Professor considera que apesar de ter vindo a melhorar, é ainda “fraquinha”, pelo que, a Escola de Psicologia da Universidade do Minho tem apostado em áreas de maior fragilidade a nível nacional, especificamente, na formação quantitativa, formação na investigação dos processos psicológicos de base e formação laboratorial.

Apesar de as perspectivas indicarem um crescimento futuro, a Escola não apresenta, para já, intenção de abraçar novos projectos num futuro próximo. A intenção será estabilizar, como afirma o Professor Armando Machado: “precisamos de alguma tranquilidade devido às alterações na última década, parar um pouco, deixar que este novo currículo se exprima. Queremos avaliar o currículo à medida que ele se vai desenrolando, tendo em conta resultados, feedback dos alunos, percepções e resultados objectivos”.


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Segundo o mesmo Professor, a Escola de Psicologia da Universidade do Minho é “arrojada, dinâmica, jovem, com formação e investigação de qualidade e voltada para o futuro, luta pela fundamentação científica do saber, sendo estas algumas das características que nos permitem manter um rigor científico cada vez maior.” Margarida Vasconcelos, aluna do 4º ano do Mestrado em Psicologia Clínica e Saúde e Vice-presidente da Associação de Estudantes, corrobora esta caracterização, afirmando que pouco deveria ser alterado na instituição. Especificamente, afirma que apenas acrescentaria componentes práticas, por exemplo, no contexto de consulta, pois considera que isso é algo que falta na sua formação. Nas suas palavras, “esta é a melhor instituição de ensino para se estudar Psicologia, em comparação com colegas meus que estudam noutros lugares: pelos Professores, pela forma como o conhecimento é transmitido e pelo plano curricular – apesar de o plano actual já ser diferente daquele com

(...) a Escola de Psicologia da Universidade do Minho é “arrojada, dinâmica, jovem, com formação e investigação de qualidade e voltada para o futuro, luta pela fundamentação científica do saber, sendo estas algumas das características que nos permitem manter um rigor científico cada vez maior.

que eu entrei que, a meu ver, até é bastante melhor – muito voltado para a investigação.” No entanto, confessa imaginar-se a estudar no estrangeiro devido à possibilidade de contacto com diferentes métodos de ensino e aprendizagem, de investigação e de crescimento a nível profissional e pessoal.

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A Psicologia na Universidade do Minho

Ser estudante nesta instituição de ensino é “muito bom, um orgulho e um prazer por tudo aquilo que a Universidade do Minho nos proporciona, é um nicho de oportunidades, de crescimento pessoal e profissional e, quer os órgãos da Universidade, quer os órgãos da Associação de Estudantes, estão muito empenhados no crescimento dos seus alunos e na criação de oportunidades. Estudar aqui não é um mero passo na vida, é uma oportunidade que muitos não têm”

Quanto à investigação na sua Escola, Margarida salienta o facto de os alunos se poderem inscrever como colaboradores de investigação, o que lhes permite participar em projectos que estejam a decorrer em colaboração com os docentes. Por outro lado, existe também um banco de experiências, para efeitos de recolha de dados, que necessita sempre da colaboração de estudantes universitários e é uma forma de fazer com que os alunos participem nos projectos. Relativamente à Associação de Estudantes da Escola de Psicologia, Margarida aponta, como principal objectivo, proporcionar aos alunos actividades e formações extra-curriculares. Enquanto vice-presidente, pretende que as actividades programadas pela Associação de Estudantes sejam um complemento à formação e ao dia-adia que os alunos de Psicologia têm na Universidade. Para além disto, é desejável que se abarquem os restantes alunos da academia e, se possível, toda a comunidade extra-academia, “porque isso é bom, traz pessoas à escola, divulga as actividades, os propósitos e a própria Escola de Psicologia”. 72 RUP Nº1

Ser estudante nesta instituição de ensino é “muito bom, um orgulho e um prazer por tudo aquilo que a Universidade do Minho nos proporciona, é um nicho de oportunidades, de crescimento pessoal e profissional e, quer os órgãos da Universidade, quer os órgãos da Associação de Estudantes, estão muito empenhados no crescimento dos seus alunos e na criação de oportunidades. Estudar aqui não é um mero passo na vida, é uma oportunidade que muitos não têm”, conclui Margarida Vasconcelos. A Escola de Psicologia da Universidade do Minho tem-se vindo a apresentar, segundo os seus docentes e estudantes, como uma instituição com um balanço positivo a todos os seus níveis de funcionamento, dos quais se destacam a formação, a investigação e respectivas infra-estruturas. Assim, parecem estar aglomeradas condições para um desenvolvimento futuro mais adaptado às condições práticas do exercício da profissão, abarcando novas áreas que possam vir a integrar-se na área da Psicologia.


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A Psicologia das organizações, do trabalho e dos recursos humanos O ser humano é uma coisa estranha que pensa e nessa perspectiva inventou a liberdade. Por vezes sabe quem é, mas tudo o que quer é não o ser e, por isso, passa a vida a combater e a lutar contra si mesmo. E vai trabalhando… Outras vezes o que mais quer é preencher um vazio existencial e, neste caso, passa a vida a procurar algo que nem sabe bem o que é. E muda de trabalho… Inacabado ao nascer. Ao evoluir, insatisfeito. O encontro do indivíduo com a autenticidade da sua existência e de um lugar na sociedade é um dos seus maiores desejos. E nessa (mesma) perspectiva inventou a escolha e a decisão de livre vontade. Texto Ana Rita Martins Fotografia Diogo Saldanha

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ós somos estudantes de Psicologia e, ao longo do nosso percurso académico, somos confrontados com momentos de importantes tomadas de decisão que nos vão definindo como estudantes, profissionais e pessoas. Um desses momentos é o “e agora, qual a área de especialização que vou escolher?”. De facto, a formação em Psicologia, ao longo do seu percurso histórico, foi evoluindo de uma licenciatura geral e abrangente para uma formação mais especializada, estruturada em diferentes ramos ou áreas de especialização. Assim, para responder a essa questão há que conhecer a gama de oportunidades, e especificidades de cada área que existe. Uma dessas áreas é a Psicologia

das Organizações, do Trabalho e dos Recursos Humanos. Porque os factos históricos e noções teóricas ganham outra dimensão, mais rica e profunda, quando aliados aos significados que as pessoas que os presenciaram e, mais do que isso, os impulsionaram, lhes atribuem, pedimos a colaboração dos Professores Duarte Gomes, Paulo Renato e Teresa Rebelo, docentes da área de especialização em Psicologia das Organizações, do Trabalho e dos Recursos Humanos na Universidade de Coimbra, para nos contar como surgiu, como é e como poderá ser esta área de formação. Em Portugal, a formação em Psicologia surgiu relativamente tarde, comparativamente ao contexto europeu e

americano. Só após a Revolução de Abril de 1974, período durante o qual existiram movimentos, investimentos, vontades individuais e colectivas no sentido de afirmar a Psicologia, é que se fundaram, em 1977, pelo Decreto-Lei nº 12/77 de 20 de Janeiro, os “Cursos Superiores de Psicologia”, no Porto, em Coimbra e em Lisboa, onde se enunciam três áreas de especialidade com o objectivo de formar psicólogos especialistas: Psicologia Clínica, Psicologia da Educação e Psicologia das Organizações e do Trabalho. Como nos conta o Professor Doutor Duarte Gomes, “a Psicologia foi-se organizando e estruturando, bem como a área de formação em Psicologia das Organizações que, após o RUP Nº1 73


A Psicologia na Universidade do Minho

impulso inicial de professores que foram aprender para o estrangeiro (como eu que fui para Louvain, na Bélgica, fazer o meu mestrado na área, retornando a Portugal para ensinar o que conhecera e investigara) e após reestruturações graduais, se foi adaptando, afirmando, modernizando, internacionalizando e formando varias gerações de psicólogos até à actualidade”. Sistematizando, o Professor impulsionador do ramo na Universidade de Coimbra, recorda o percurso de desenvolvimento da formação em Psicologia das Organizações, do Trabalho e dos Recursos Humanos em Coimbra: “depois da licenciatura em Psicologia, onde se começou por inserir o estágio específico em Psicologia das Organizações e do Trabalho, surge o primeiro Mestrado em Psicologia das Organizações e do Trabalho, depois o doutoramento na área. Isto antes da implementação do Processo de Bolonha. Com esse, segue-se o Mestrado Integrado, de seguida o Mestrado Europeu WOP-P* e o curso de doutoramento em Psicologia das Organizações, do Trabalho e dos Recursos Humanos inserido no Colégio Doutoral de Tordesilhas**”. Tendo em consideração o movimento gradual de expansão, reconhecimento e aceitação deste ramo da Psicologia, questionámo-nos sobre o que é, afinal, a Psicologia das Organizações, do Trabalho e dos Recursos Humanos? Segundo a Professora Doutora Teresa Rebelo e o Professor Doutor Paulo Renato o que distingue esta área é o foco/nível a que se dedica, o seu objecto de estudo não é o indivíduo apenas em si mesmo, mas o “indivíduo em contexto, o indivíduo na organização, e, também, o grupo e a organização”. Esta área procura assim estudar os processos psicológicos nestes três níveis – indivíduos, grupos e organizações – cruzando-os (e conciliando-os) entre si. De facto, o 74 RUP Nº1

seu grande foco é procurar conciliar objectivos individuais com grupais e organizacionais. Como é que o nível organizacional tem influência nos indivíduos? Como é que os indivíduos conseguem moldar o nível organizacional? – são algumas das principais questões levantadas pela professora para explicar a natureza da Psicologia das Organizações. Os docentes consideram, ainda, que pensar a Psicologia das Organizações como uma disciplina exclusivamente aplicada é redutor da sua complexidade e relevância, pois ela não se limita à aplicação de conhecimentos provenientes da Psicologia geral nem à mera resolução de problemas organizacionais. É uma área que desenvolve investigação, modelos, teorias próprios, e na qual os problemas são analisados como “um sintoma de um funcionamento mais complexo” através de um olhar mais amplo e consciente daquilo que é a organização, os seus fenómenos e o trabalhador. A Psicologia das Organizações pretende trabalhar com um público específico: “trata-se de adultos empregados, em idade activa, que estão a fazer coisas, que têm objectivos, tarefas e prazos a cumprir, que sabem que têm de ser eficazes e que efectivamente querem ser mais eficazes e produtivos, sendo essencial aqui a articulação entre o bem-estar e objectivos pessoais com as metas organizacionais”, refere o Professor e coordenador Duarte Gomes. Acrescenta ainda que outra forma de caracterizar a sua especificidade é falar em termos de cliente e do serviço prestado. O seu cliente habitual não é um indivíduo ou uma pessoa individualmente considerada; são empresas, são organizações. A qualidade do serviço que presta é avaliada pela entidade colectiva a que chamamos organização. Os três docentes da equipa de formadores na área da Psicologia das Organizações, do Trabalho e dos

Recursos Humanos da Universidade de Coimbra enaltecem a necessidade de ligação constante entre a investigação, prática profissional e formação, referindo que centram estas dimensões em dois princípios orientadores: por um lado os “2 R’s”, Rigor (na produção de uma investigação e formação fiável e de qualidade) e Relevância (na adequação da investigação e formação ao exercício profissionalizante). Por outro, o “The Scientist Practitioner Model” (uma orientação científica e profissional) que denota a importância desta articulação entre investigação e intervenção, e respectiva confluência na promoção de uma formação científica e relevante dos estudantes. Desta forma, seguem, nos mestrados que promovem – Mestrado Integrado e Mestrado Europeu WOP-P – o modelo de referência europeu da “European Network of Organisational Psychologists” (ENOP)***. A nível nacional, esta área de especialização existe em várias universidade públicas e privadas ainda que adoptando diferentes denominações.


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A propósito disto, o Professor Duarte Gomes refere que nem sempre a designação, orientação e organização dos cursos é convergente por razões de tradição, inserção institucional, história de cada faculdade e curso, investigadores e docentes da área, entre outras. Contudo, a área de especialização encontra-se activa na Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Coimbra; na Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto; na Faculdade de Psicologia da Universidade de Lisboa; na Escola de Psicologia da Universidade do Minho; no Departamento de Psicologia da Universidade de Évora;

Falta-nos uma associação que, à semelhança da que existe a nível europeu, promova, defenda e conduza ao nosso reconhecimento,(...)

no Departamento de Psicologia e Educação da Universidade da Beira Interior; na Faculdade de Ciências Humanas da Universidade do Algarve; no Instituto Superior de Psicologia Aplicada (ISPA); no Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa – Instituto Universitário de Lisboa (ISCTE-IUL); na Faculdade de Ciências Humanas e Sociais da Universidade Lusíada de Lisboa, na Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias de Lisboa, na Faculdade de Educação e Psicologia da Universidade Católica do Porto e no Instituto Piaget. Entre as várias universidades nacionais há também um conjunto de colaborações e de pontes que se vão construindo sobretudo com base em actividades concretas ou áreas de interesse conjuntas porque basicamente “somos muito poucos em Portugal, todos nos conhecemos”, explicam os docentes entrevistados. Extrapolando o contexto nacional, torna-se relevante acentuar a aposta da área de Psicologia das Organizações, do Trabalho e dos Recursos Humanos da Universidade de Coimbra na internacionalização da sua formação ao nível do 2º e 3º ciclos com a implementação do Mestrado Europeu WOP-P e do Colégio Doutoral de Tordesilhas, respectivamente, que, ainda que com características diferentes, são duas colaborações em termos internacionais bastante relevantes para alunos e professores, para as faculdades e para o progresso científico e afirmação da área. Deste modo, os docentes de Coimbra destacam a participação de professores das Universidades do Porto, Lisboa, Minho e Évora como parte colaborativa no desenvolvimento do Mestrado WOP-P. É exactamente este um dos principais desafios apontados pelos professores entrevistados: a criação de mais parcerias, orientando a nossa cultura nacional para a cooperação,

partilha e “movimento associativo” na área. “Falta-nos uma associação que, à semelhança da que existe a nível europeu, promova, defenda e conduza ao nosso reconhecimento”, são as palavras do Professor Duarte Gomes. Outros desafios apontados pela equipa referem-se à melhoria na investigação científica, nas publicações, na visibilidade internacional, na formação e no desenvolvimento profissional, ou seja, e utilizando as palavras do Professor Paulo Renato, uma “melhoria contínua”. A Professora Teresa Rebelo destaca ainda a necessidade de a “Universidade incentivar e ensinar as pessoas a saber pensar”, melhorando a formação dos alunos no sentido de lhes conferir a excelência e a diferença em termos curriculares e atitudinais, tão necessária nos tempos de crise actual. Neste sentido, refere que uma das grandes recompensas que retira da sua experiência como docente na área é “ver os nossos meninos a voarem ainda mais alto que nós, e isso sim é fantástico, pois a nossa função é fazer com que a próxima geração vá mais longe e leve a Psicologia das Organizações mais alto”. Dirigindo-se aos estudantes, apontam traços gerais dos alunos da área: “é preciso que as pessoas tenham muito gosto, se sintam verdadeiramente apaixonadas por esta área e convictas de que é isto que querem; é preciso que sejam pessoas trabalhadoras, proactivas, que tenham valores de colaboração, ética, responsabilidade e empreendorismo no topo”. Aos estudantes de Psicologia em geral incentivam a aposta em actividades extra-curriculares, participando em estágios de curta-duração, voluntariado, movimentos associativos, etc., para que desenvolvam competências transversais, alertando para o facto de este ser um aspecto muito valorizado no mercado de trabalho.

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A Psicologia na Universidade do Minho

Que sentido é que as pessoas dão ao trabalho e ao período mais activo das suas vidas?

Que sentido é que as pessoas dão ao trabalho e ao período mais activo das suas vidas? Numa época em que a desesperança face ao futuro cresce e os valores de responsabilidade cívica decaem, torna-se urgente desenvolver estratégias que ajudem a pessoa a confrontar-se com as suas potencialidades, a articulá-las com os seus postos de trabalho e a desenrolar um processo mais autêntico e significativo de recriação de si próprio no contexto organizacional e social em que vive com sentido. Porque essa coisa estranha que pensa inventou a liberdade; porque é possível humanizar a crise e ter organizações mais humanas e mais eficientes; e porque podemos encontrar-nos no nosso contexto de trabalho, por mais instável que ele pareça, “um pouco muito” de Psicologia das Organizações faz bem a qualquer pessoa activa, grupo, organização e a toda a sociedade. Em jeito de conclusão, é ainda importante ressalvar que este pequeno artigo constitui-se como uma primeira aproximação de divulgação muito genérica de uma área de especialidade cuja complexidade ultrapassa a abordagem geral aqui efectuada, pelo que arriscamo-nos a não ser totalmente justos e a não citar todos os seus principais precursores. A história da Psicologia e das suas especialidades, em Portugal, está por 76 RUP Nº1

fazer. Este é um pequeno contributo para que no futuro tal venha a ser concretizado.

* Ver primeira nota de rodapé do artigo “Trabalhar no Estrangeiro” publicado na presente revista. Para mais informações consultar o site oficial www.uv.es/ erasmuswop/. ** O Colégio Doutoral de Tordesilhas em Psicologia das Organizações, do Trabalho e dos Recursos Humanos é o único colégio aprovado que articula cursos de doutoramento de seis instituições do Ensino Superior de Portugal, Espanha e Brasil: Universidade de Coimbra, ISCTE-IUL, Universidade de Sevilha, Universidade de Valência, Universidade de Mackenzie e Universidade de S. Paulo. Com o objectivo de desenvolver equipas de investigação e parcerias de coorientação multinacionais, promove a mobilidade e intercâmbio de conhecimento, a cooperação interuniversitária e a participação no movimento europeu de crescimento científico e qualitativo da área. ** A ENOP, “European Network of Organisational Psychologists”, fundada em 1981, é um conjunto de associações europeis que visa a reflexão, discussão e partilha dos problemas, desafios e oportunidades relativos à Psicologia das Organizações, do Trabalho e dos Recursos Humanos e que funciona como modelo de referência europeu na estruturação e organização da formação e investigação na área. Para isso promove um conjunto de actividades que se encontram divulgadas no seu site oficial http://www. enop.ee.


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Estágios da Ordem dos Psicólogos Portugueses Em 2010, para além da aprovação, em Portugal, da lei que permite o casamento homossexual, do terramoto no Haiti, de 7.0 graus na escala de Richter, que provocou a morte de 230 mil pessoas, da realização do primeiro transplante facial total, da visita do papa Bento XVI a Portugal, e dos 33 mineiros que ficaram presos numa mina no Chile, foi publicado, a 20 de Outubro, na 2ª serie do Diário da República o Despacho Nº 15866/2010 – Regulamento de Estágios da Ordem dos Psicólogos.

Texto Mariana Guarino Fotografia Roberto Botelho

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ste despacho visava, no anexo que lhe estava associado, estabelecer as “regras e os princípios normativos referentes ao estágio, com adequada assimilação que dele constam”. O estágio profissional, corresponde, nas palavras do Professor Doutor Telmo Baptista, a “um período de aprendizagem tutelado, em ambiente profissional e a tempo inteiro”, que vem dar “início a uma verdadeira experiência de trabalho, com as responsabilidades inerentes, e onde se pode fazer uma aplicação diversificada das aprendizagens que foram adquiridas na faculdade”. “Aspectos relacionados com a promoção da profissão, e com as dimensões práticas de relacionamento com outras profissões” também são adquiridos, com esta experiência. Em entrevista à RUP, o Professor Doutor Telmo Baptista, Bastonário

da OPP, refere que “a introdução de um estágio profissional obrigatório é fundamental para a profissão, e coloca-nos em situação de igualdade com os outros países europeus, cumprindo-se assim uma formação que corresponde ao Diploma Europeu em Psicologia, isto é , a um amplo consenso na Europa sobre qual deve ser a formação dos psicólogos”. O Bastonário frisa ainda que “a Psicologia é uma das poucas profissões que conseguiu esta consensualização, pelo que o reconhecimento da profissão nos diversos países se tornará muito mais fácil. Além disso, o estágio profissional era já realizado por muitas pessoas, o que a lei veio fazer foi alargar a aplicação, tornando-o obrigatório”. No entanto, uma matéria tão sensível como a dos estágios profissionais gera mais questões do que o

o que se pode imaginar. De facto, após este despacho, “para que uma pessoa se possa denominar psicólogo precisa de se inscrever na Ordem - após dois ciclos de formação em Psicologia - o que no momento presente significa ter o mestrado em Psicologia, e realizar um estágio profissional”, como explica o Sr. Bastonário. “Os critérios seguidos para a criação dos estágios passaram essencialmente por dois eixos: 1) Garantir que o estágio tenha uma supervisão por um membro sénior e que decorra numa instituição cujos objectivos sejam compatíveis com o trabalho em Psicologia; 2) Providenciar através de um pequeno curso associado ao estágio um contacto com as questões éticas e deontológicas da profissão, com os conceitos de empreendedorismo e com formas de gestão de projectos”. RUP Nº1 77


Estágios da Ordem dos Psicólogos Portugueses

Concretamente este processo passa, então, por três fases: ▶ Inscrição na OPP; ▶ Submissão do projecto de estágio, realização do estágio e de um curso de formação - intitulado “Deontologia e Ética”; ▶ Conclusão do estágio profissional e entrega do relatório do mesmo. O procedimento inicia-se, então, com a inscrição na Ordem dos Psicólogos Portugueses e com o registo na plataforma de estágios profissionais, “suporte informático que sustenta todos os procedimentos relacionados com os estágios profissionais” e onde intervêm o psicólogo estagiário, o orientador e a Comissão de Estágios. Posteriormente, o psicólogo estagiário deve preencher uma ficha disponibilizada pela OPP para submeter o seu projecto de estágio. Nesta ficha devem constar os dados relativos à entidade receptora, informação referente ao orientador, uma declaração de compromisso do psicólogo estagiário na qual este se responsabiliza por respeitar os seus deveres e o projecto de estágio a submeter. Neste último ponto, o psicólogo estagiário deve fazer referência a diversos aspectos, tais como a entidade que o acolherá, que já tem de ter um protocolo com a OPP; a duração do seu estágio; os objectivos que pretende atingir; a definição e preparação da sua estratégia; o planeamento da intervenção e da avaliação; entre outras. O orientador de estágio, não só deve ser membro efectivo da OPP, como também tem de estar a exercer há, pelo menos, 5 anos. 78 RUP Nº1

As entidades e os orientadores de estágio profissional devem preencher os “requisitos de idoneidade estabelecidos” assim como vincularem-se “perante a Ordem a respeitar os deveres – sobretudo de colaboração e diligência – constantes do Estatuto da Ordem dos Psicólogos Portugueses”. Os protocolos de estágio profissional e de contratos de orientação de estágio profissional são instrumentos que servem de garantia do cumprimento destes requisitos assim como a “vinculação ao cumprimento dos mencionados deveres”. Caso a entidade receptora ou o profissional ainda não tenha este protocolo com a OPP, o estagiário deve anexar ao seu projecto a proposta para a celebração do mesmo, para que assim se garanta o cumprimento e a vinculação acima mencionados. Após ter preenchido o formulário de inscrição e ter recebido o e-mail de notificação da conclusão do mesmo, o orientador validará o projecto submetido pelo psicólogo estagiário. Se a apreciação do orientador for negativa, o estagiário será contactado por e-mail e deverá proceder às alterações necessárias. Caso a apreciação seja positiva, as únicas alterações que se poderão fazer daí em diante serão as propostas pela Comissão de Estágios. À Comissão de Estágios compete, depois do projecto se encontrar

O procedimento inicia-se, então, com a inscrição na Ordem dos Psicólogos Portugueses e com o registo na plataforma de estágios profissionais, “suporte informático que sustenta todos os procedimentos relacionados com os estágios profissionais” (...)

lacrado, verificar se este “respeita, na sua totalidade, as regras e princípios constantes do Regulamento de Estágios da OPP” e autorizar a “prossecução do projecto de estágio”. Esta validação “deve ocorrer no máximo de 60 dias a contar da data em que o mesmo é lacrado”. A duração do estágio profissional depende do tempo de formação dos psicólogos, isto é o estágio de profissionais com formação de 4 anos sem estágio curricular incluído tem uma duração de 18 meses e os restantes de 12 meses, o que corresponde, respectivamente, a um mínimo de 2400 e 1600 horas de exercício em Psicologia. Dois terços deste total de horas devem ser realizados em regime presencial. Esta imposição de um limite mínimo de horas prende-se com a necessidade de diferenciar um “estágio profissional de doze meses com uma carga horária de sete horas diárias” de “um estágio profissional que, embora com os mesmos doze meses, foi realizado com uma carga horária média de três horas diárias”, uma vez que “a experiência adquirida e o grau de cumprimento dos objectivos do estágio profissional são, num e noutro caso, totalmente díspares”, como refere a Ordem. Para garantir o cumprimento deste número mínimo de horas, o estagiário deve preencher, semanalmente, uma Ficha de Assiduidade, que também se encontra disponível na Plataforma de Estágios Profissionais, sendo que, no final de cada mês, o orientador deve proceder à validação destas fichas, que serão subsequentemente sujeitas à validação da Comissão de Estágios. Após meio ano a realizar estágio profissional, o estagiário deve também preencher, na Plataforma de Estágios Profissionais, o campo que se refere ao Relatório de Progresso. O orientador apreciará este relatório e preencherá uma ficha de avaliação onde inscreve a classificação do “desempenho do psicólogo estagiário de


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acordo com critérios previamente definidos”. Para valorizar e reconhecer o trabalho desenvolvido pelos estagiários junto das instituições, fornecendo a estas benefícios com o exercício dos estágios nas mesmas, a Ordem prevê, no artigo 17º, nº 6, do Regulamento de Estágios que, como regra geral, os estágios devem ser remunerados, não o sendo apenas quando o estágio em regime de voluntariado se percepciona como a única possibilidade com que o estagiário se depara. Não obstante a esta obrigatoriedade muitos são ainda os estagiários a realizar estágios em regime de voluntariado, como nos revelou uma estudante à procura de estágio profissional: “ao contrário do que se previa, os estágios profissionais remunerados são a excepção à regra”. Esta estudante refere ainda que “cada vez é mais difícil encontrar entidades que tenham possibilidades de receber estagiários mediante um pagamento pelos serviços prestados, especialmente no que respeita a entidades públicas. Com certeza que estas dificuldades não se verificam tanto ao nível de empresas e entidades particulares, e por isso, áreas como a Psicologia das organizações não são tão afectadas. Já o mesmo não acontece com a Psicologia clínica, pois os hospitais, maternidades, entre outros, não têm como sustentar estágios profissionais remunerados”. A OPP, na pessoa do seu Bastonário, ao que a este assunto diz respeito apenas refere que “a posição da Ordem tem sido a que foi aprovada na sua Assembleia de Representantes, ou seja, a de que os estágios devem ser remunerados, e que a excepção deveria ser a sua não-remuneração. No entanto, a Ordem entende que, não deve ser um impedimento a realizar um estágio profissional para se tornar membro efectivo da Ordem”. O Professor Doutor Telmo Baptista acrescenta ainda que “esta situação já foi expos-

ta por várias vezes aos organismos governamentais responsáveis. Aguardamos uma resposta que nos permita esclarecer de forma mais precisa todos os estagiários”. Além das horas mínimas obrigatórias, o estagiário tem ainda de realizar um curso de formação no qual deve obter classificação positiva. Tais cursos são disponibilizados pela OPP que entende que “estes formam a base para uma abordagem da profissão consequente com os desafios que hoje se põem aos psicólogos”, visando focar alguns assuntos importantes no que se refere à formação profissional e deontológica dos estagiários. Nas palavras de Inês Martins, uma profissional que realizou este curso em regime pós-laboral (existe também a possibilidade de o executar em regime intensivo), “o curso, embora um pouco cansativo pela intensidade do mesmo, é, ao contrário do que eu esperava, bastante interessante e uma ferramenta muito útil para o nosso futuro”. Quando questionada sobre a aplicabilidade do mesmo na vida profissional, Inês não hesita em responder que “no estado em que o país se encontra é fundamental o espírito de iniciativa que eles nos incutem, as formas de pensar que eles nos ajudam a desenvolver. Este curso além de tudo fomenta o nosso espírito crítico e a nossa capacidade de desenvolver projectos a partir do zero”. Inês faz alusão à forma dinamizadora como o curso está organizado: os grupos pequenos (15 pessoas) facilitam a participação de todos os elementos (aspecto muito valorizado na avaliação do curso) e as dinâmicas, os problemas e a exigência de soluções para os mesmos promove a capacidade de empreendedorismo. Como aspecto muito positivo do curso, Inês salienta a “disponibilidade e prontidão com que os professores se disponibilizam para nos ajudar e facultar o material necessário”.

(...) o curso, embora um pouco cansativo pela intensidade do mesmo, é, ao contrário do que eu esperava, bastante interessante e uma ferramenta muito útil para o nosso futuro.

A opinião de Inês é partilhada pela grande maioria dos estudantes que já teve a possibilidade de frequentar este como salienta o Bastonário da OPP, “ depois do curso ter sido frequentado por mais de mil pessoas, a avaliação que as pessoas fazem é muito positiva, e sentem que o curso os ajuda a perspectivar a sua vida profissional”. A frequência destes cursos torna-se, então, mais do que apenas um dever, um direito dos psicólogos no seu período de estágio, como está descrito no comunicado da OPP acerca da temática dos estágios profissionais. Concluído o número mínimo de horas e obtida a avaliação positiva no curso de formação de estágio profissional, o estagiário deve realizar, então, o seu relatório final, preenchendo, na Plataforma de Estágios Profissionais, o formulário respectivo. Este relatório deve conter toda a informação referente às actividades desenvolvidas ao longo do tempo assim como a opinião e parecer do orientador de estágio. Esta avaliação é tida muito em conta pela OPP, uma vez que estagiário e orientador desenvolvem, durante o período de estágio, um trabalho muito próximo, tendo este último acesso a todo o método de trabalho do seu “aprendiz” e podendo, por isso, fazer uma análise mais pormenorizada e fidedigna do mesmo. Após a submissão do relatório final, a Comissão de Estágios procede à avaliação do mesmo, atribuindo classificação positiva ou negativa. RUP Nº1 79


Estágios da Ordem dos Psicólogos Portugueses

Os estudantes à procura de estágio, e os que já se encontram a realizá-lo, manifestam o seu desagrado relativamente ao funcionamento da plataforma, alegando respostas tardias aos seus pedidos e submissões de projectos, o que dificulta o desenvolvimento de todo o processo.

Caso se verifique a primeira situação, então o psicólogo estagiário pode solicitar em qualquer delegação da OPP a sua inscrição na OPP como membro efectivo. Na segunda situação, a inscrição do psicólogo estagiário caduca. O estágio profissional é entendido como uma mais-valia, tanto para os profissionais, uma vez que lhes fornece “a possibilidade de praticar a profissão sobre a tutela de um profissional experiente” como para os utilizadores que têm, assim, “uma garantia importante de que o profissional fez um percurso académico e profissional, e que beneficiou da supervisão, podendo por isso fornecer serviços de elevada qualidade”. Ainda assim, os estudantes à procura de estágio, e os que já se encontram a realizá-lo, manifestam o seu desagrado relativamente ao funcionamento da plataforma, alegando respostas tardias aos seus pedidos e submissões de projectos, o que dificulta o desenvolvimento de todo o processo. Em resposta a este “obstáculo” o Professor Doutor Telmo Baptista refere que “a criação de uma plataforma de estágios foi a única forma de conseguir responder às necessidades de articular um número tão elevado de estágios em tão pouco tempo”, dado número de pessoas que actualmente saem dos 32 cursos de Psicologia deste país. A plataforma foi assim 80 RUP Nº1

criada para “reduzir a necessidade de contacto directo com a Ordem, a produção de documentos em papel, e para criar uma uniformidade no processo de submissão”. Embora o Bastonário confesse que “a primeira vez que se utiliza a plataforma esta possa parecer algo difícil”, garante também que a OPP está atenta e simplificou “todos os processos de modo a que não restem dúvidas substantivas sobre o que se pretende”. No entanto, é de referir que “a espera não está propriamente relacionada com a plataforma (…) uma atitude pró-activa diminuirá os tempos de obtenção destes documentos, e facilitará muito o processo”. De qualquer modo, ficou a garantia de que a OPP se encontra muito atenta ao feedback e vai introduzindo as modificações que entendem que facilitam a utilização da plataforma. Em jeito de conclusão e, mais uma vez, recorrendo às palavras do Professor Doutor Telmo Baptista, “os estágios profissionais estão a realizar-se dentro da normalidade, dado o número de pessoas que todos os anos terminam os seus estudos”. Por sua vez, “a Ordem já assinou mais de 500 protocolos com instituições que se prontificam a fornecer estágios profissionais, e tem no terreno pessoas que se dedicam a contactar instituições para aumentar o número de locais disponíveis para os futuros

estagiários”. Segundo Sr. Bastonário, uma procura activa de um local de estágio e de um supervisor, por parte de quem termina os estudos, é fundamental, de forma a garantir uma maior continuidade entre o término do curso e o início dos estágios profissionais.


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Excepto indicação em contrário, as expressões citadas foram retiradas do Manual de Estágios Profissionais e do Comunicado dos Estágios Profissionais disponibilizados no site da Ordem dos Psicólogos Portugueses e do Diário da República, 2ª série – Nº 204 – 20 de Outubro de 2010 RUP Nº1 81


Unidades de investigação & desenvolvimento em psicologia em Portugal

Unidades de investigação & desenvolvimento em psicologia em Portugal A investigação tem sempre vindo a acompanhar o desenvolvimento do conhecimento e de novas descobertas no meio científico. No âmbito das ciências psicológicas, tal não é excepção. É através da investigação que se reúnem conhecimentos, conceitos e conclusões fundamentados em estudos rigorosamente desenvolvidos, que constituem (ou pretendem constituir) a base de qualquer boa prática psicológica. O estudo da Psicologia é, então, acompanhado por uma grande equipa de psicólogos que se dedicam a diferentes funções: há quem se dedique à atualização das suas bases teóricas, enquanto outros as põem em prática. Texto Maria João Gouveia Fotografia Diogo Saldanha

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estudo da Psicologia é, então, acompanhado por uma grande equipa de psicólogos que se dedicam a diferentes funções: há quem se dedique à actualização das suas bases teóricas, enquanto outros as põem em prática. Em Portugal, existem diferentes apoios para aqueles que se querem dedicar inteiramente à investigação. Grande parte da investigação científica portuguesa é realizada em Unidades de Investigação & Desenvolvimento (I&D), designação oficial das unidades de investigação financiadas e avaliadas pela Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT). Desta forma, iremo-nos focar no apoio fornecido pela FCT às Unidades de I&D na área da Psicologia.

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Em 2007 foi realizada a última avaliação internacional de Unidades de I&D, na sequência do processo de avaliação regular do sistema científico iniciado em 1996-1997, tendo como objectivo último “estimular o desenvolvimento do sistema científico e tecnológico nacional no quadro da sua crescente relevância internacional”. Como resultado da avaliação, as instituições científicas são classificadas em 5 categorias de qualidade (Excelente, Muito Bom, Bom, Regular ou Fraco), sendo essa classificação usada para efeitos do financiamento de base a atribuir pela FCT a cada Unidade nos próximos anos. As instituições com classificações inferiores a Bom deixam de ser reconhecidas ou financiadas pela Fundação

para a Ciência e a Tecnologia. De acordo com a última avaliação existiam 15 Unidades de I&D em Psicologia em Portugal, no entanto, no presente momento existem apenas 9, que se encontram distribuídas por quatro localizações: Lisboa, Coimbra, Porto e Minho.


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Unidades de investigação & desenvolvimento em psicologia em Portugal

Em Lisboa existem cinco unidades de I&D: ▶ Centro de Estudos de Psicologia Cognitiva e da Aprendizagem da Universidade Lusófona (CEPCA-ULH) ▶ Centro de Investigação e Intervenção Social do Instituto Universitário de Lisboa/ISCTE (Cis-IUL) ▶ Centro de Investigação em Psicologia da Universidade de Lisboa (CIPUL) ▶ Unidade de Investigação em Psicologia Cognitiva do Desenvolvimento e da Educação (UIPCDE-ISPA) ▶ Unidade de Investigação em Psicologia e Saúde (UIPES – ISPA/IU)

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Centro de Estudos de Psicologia Cognitiva e da Aprendizagem da Universidade Lusófona

Centro de Investigação e Intervenção Social do Instituto Universitário de Lisboa ISCTE (Cis-IUL)

▶ Coord. Sara Ibérico Nogueira

▶ Coord. Francisco Esteves

▶ Laboratório de Psicologia Experimental ▶ Três grupos de investigação: EducaTE — Psicologia da Aprendizagem e Desenvolvimento; criatividade. PsicoTIC — Psicologia Clínica e Psicoterapia; Realidade Virtual; Eye Tracking. SocialOrC — Psicologia Social; Psicologia das Organizações; Psicologia Cultural. ▶ Objectivos: — estimular o interesse científico entre jovens investigadores — publicar pesquisa científica de todos os membros e colaboradores — promover um intercâmbio regular de informação dos resultados científicos na comunidade geral — ir de encontro aos interesses académicos da comunidade — Actualmente, o CEPCA está a preparar a III Conferência de Eye Tracking, Visual Cognition and Emotion

▶ Psicologia Social e Organizacional — Referência nacional nas relações de género, na Psicologia Organizacional, e na Psicologia da Comunidade — Referência internacional na percepção de risco, emoções, relações intergrupais, cognição social e justiça social. ▶ Dois grupos de investigação: — Grupos, cognição social e relações intergrupais (GCRI) — Qualidade da vida social: Saúde, ambiente e comunidade (SAC) ▶ Interdisciplinaridade — sociologia, economia, gestão, medicina, ecologia social, engenharia ambiental, ecologia, biologia, arquitectura e urbanismo ▶ Colaboração/cooperação com colegas de várias Universidades, Hospitais e Instituições, a nível nacional e internacional


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Centro de Investigação em Psicologia da Universidade de Lisboa (CIPUL) ▶ Coord. Leonel Garcia Marques ▶ Seis grupos de investigação: — Psicologia da Saúde e do Desenvolvimento — Processos de mudança em contextos clínicos e naturais — Orientação da Carreira e Desenvolvimento de Recursos Humanos — Processos Cognitivos e Cognição Social — Avaliação Psicológica: teorias, metodologias e aplicações — Auto-regulação: procedimentos de avaliação e intervenção. ▶ Objectivos: — melhorar a prestação de serviços à comunidade nos domínios da saúde, orientação da carreira e psicoterapia — aumentar a divulgação do conhecimento científico através da participação em conferências nacionais e internacionais, da publicação em revistas com revisores parceiros, em livros para profissionais e público em geral, e da organização de encontros científicos e seminários de formação avançada

Unidade de Investigação em Psicologia Cognitiva do Desenvolvimento e da Educação (UIPCDE-ISPA) ▶ Coord. Margarida Alves Martins ▶ Quatro linhas de investigação: — Psicologia do Desenvolvimento — Práticas de Literacia e Aquisição da Linguagem Escrita — Cognição e Contexto — Contextos de Vida e de Aprendizagem: Processos Afectivos e de Identidade ▶ Questões: — como é que a experiencia social afecta o desenvolvimento das competências fundamentais e limita a qualidade de vinculação da criança? — como é que as amizades com os pares afectam o desenvolvimento cognitivo e afectivo? — qual o efeito das práticas de literacia dos pais e dos professores no processo de aprendizagem da linguagem escrita das crianças nos primeiros anos escolares?

Unidade de Investigação em Psicologia e Saúde (UIPES – ISPA/IU)

▶ Coord. Isabel Pereira Leal ▶ Estudo dos processos de promoção/protecção de saúde, e a prevenção/ tratamento de doenças, tanto a nível individual como comunitário ▶ Áreas de investigação: — Psicologia Comunitária, — Saúde, Doença e Qualidade de Vida — Psicologia Sexual, Género e Parentalidade ▶ Objectivos — Atingir o reconhecimento e a excelência internacionais, através da investigação e formação avançada nas áreas de interface entre a Psicologia e a Saúde, a nível internacional, sem esquecer o estado de arte português e dos países de língua portuguesa.

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Unidades de investigação & desenvolvimento em psicologia em Portugal

Em Coimbra, existem actualmente duas Unidades de I&D financiadas pela FCT: ▶ CINEICC-UC (Centro de Investigação do Núcleo de Estudos e Intervenção Cognitivo-Comportamental) ▶ IPCDVS-UC (Instituto de Psicologia Cognitiva, Desenvolvimento Vocacional e Social), ambas sediadas na Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade de Coimbra (FPCEUC)

Centro de Investigação do Núcleo de Estudos e Intervenção CognitivoComportamental (CINEICC-UC)

Instituto de Psicologia Cognitiva, Desenvolvimento Vocacional e Social (IPCDVS-UC)

▶ Coord. José Pinto Gouveia

▶ Coord. Eduardo Santos

▶ Comissão Externa Permanente de Aconselhamento Científico (CEPAC) constituída por professores de universidades internacionais de reconhecido mérito científico que acompanham, colaboram e avaliam a actividade desenvolvida pelas diferentes linhas de investigação — Paul Gilbert da Universidade de Derby (Inglaterra)

▶ Para além dos investigadores nacionais, a colaboração de investigadores estrangeiros é muito valorizada

▶ Quatro linhas de investigação: — Modelos CognitivoComportamentais, Teoria de Ranking Social, Psicopatologia e Saúde — Sexologia Clínica (na Universidade de Aveiro) — Avaliação Neuropsicológica e Cognitiva — Psicologia Sócio-cultural, Cognição Social e Saúde (que funciona no Instituto Superior da Maia) ▶ Objectivos: — apoiar os docentes e investigadores universitários que realizam investigação clínica — promover intercâmbios entre investigadores e unidades de investigação nacionais e internacionais — Jornadas Internacionais “Novos olhares sobre a mente”, de dois em dois anos, onde são apresentados os trabalhos desenvolvidos pelas diferentes linhas de investigação, em conferências, simpósios e workshops

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▶ Linhas de investigação (cada uma conta com um investigador internacional externo ao Instituto, responsável por fazer a avaliação e por guiar os trabalhos desenvolvidos): — Cognitiva e Social Aplicadas — Comportamento e Desenvolvimento Vocacional e Académico — Transições Psicossociais no Contexto de Sistemas de Desenvolvimento e Multiculturais: A Pesquisa pela Qualidade — Relações, Desenvolvimento & Saúde ▶ Este ano irá realizar dois eventos de grande peso: — 1st International Conference on Time Perspective – Covering Paths in Psychology Time Theory and Research — Life Transitions: Contexts and Processes (com a colaboração de parceiros das Universidade de Albany-New York e Wisconsin)


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No Porto actualmente existe apenas: ▶ Centro de Psicologia da Universidade do Porto (CPUP) enquanto Unidade de I&D, que tem como instituição de acolhimento a Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto (FPCEUP).

Na Universidade do Minho existe uma Unidade de I&D de referência nacional: ▶ Centro de Investigação em Psicologia (CIPsi-UM)

Centro de Psicologia da Universidade do Porto (CPUP)

Centro de Investigação em Psicologia (CIPsi-UM)

▶ Coord. Marianne Lacomblez

▶ Coord. Pedro Albuquerque

▶ Grupos de investigação (inseridos em redes internacionais): — Contextos relacionais de desenvolvimento — Desenvolvimento da carreira e aprendizagem ao longo da vida — Grupo de Investigação em Linguagem — Grupo de Investigação em Psicologia Social — Grupo de Investigação em Psicologia do Trabalho — Investigação desenvolvimental, educacional e clínica em crianças e adolescentes — Motivação e projectos de vida: influências da família e da escola — Organizações: gestão, processos e mudança — Grupo de Saúde e Reabilitação

▶ Promover o estudo científico do comportamento em vários domínios, desde os mais básicos aos mais aplicados ▶ Dois domínios de investigação que englobam seis áreas de investigação Básica — Laboratório de Cognição Humana; Laboratório de Aprendizagem e Comportamento animal; Laboratório de Neuropsicofisiologia Psicologia Aplicada — Psicoterapia e Psicopatologia; Justiça e Violência; Aprendizagem e Realização

▶ Objectivos: — investigar o comportamento humano nas diversas situações em que ocorre, a concepção de meios diagnósticos e o desenvolvimento de estratégias interventoras exigia uma diferenciação das tarefas atinentes — contribuir para o bemestar do ser humano e para uma sociedade renovada, tendo em conta a especificidade da realidade portuguesa e a sua inserção num mundo global

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Unidades de investigação & desenvolvimento em psicologia em Portugal

No sentido de procurar aproximar as Unidades de Investigação & Desenvolvimento e os interesses dos próprios estudantes de Psicologia do nosso país, pedimos a estas unidades que respondessem a algumas questões. Que facilidade têm os estudantes de Psicologia em contactar directamente com o trabalho desenvolvido pelas Unidades de Investigação & Desenvolvimento? ▶ A maioria das unidades de I&D encontra-se aberta à participação dos estudantes nas investigações em desenvolvimento, mesmo ainda durante a licenciatura, colaborando voluntariamente com investigadores membros das unidades. Os estudantes podem também conhecer o trabalho realizado no seio das unidades, através das actividades como conferências e colóquios que cada unidade vai realizando. Na UIPES, os estudantes podem colaborar com os trabalhos da unidade através de estágios de investigação a que se podem candidatar ainda durante a licenciatura. O CIS é apresentado aos alunos no início do ano, sendo a informação sobre a investigação transmitida de forma natural nas aulas. Desta forma, os alunos do 1º e 2º ciclos podem candidatar-se como estagiários: “temos cerca de 30 por ano em projectos financiados (pagos pelos projectos) ou sem financiamento próprio (pagos pelo orçamento global do CIS)”. No IPCDVS e no CINEICC, apesar de ser difícil abrir bolsas de investigação a estudantes dos 1º e 2º ciclo, todos aqueles que quiserem entrar em contacto com as investigações em desenvolvimento são bem-vindos, mediante um programa de voluntariado obviamente certificado. No IPCDVS, no caso dos recém-formados, estes podem-se candidatar a bolsas 88 RUP Nº1

de 6 meses, 1 ano ou, no máximo, 5 anos. No CINEICC tanto os estudantes de Mestrado como os de Doutoramento podem facilmente desenvolver ou participar em investigações que estejam a decorrer numa das linhas de investigação da unidade. Entre 2008 e 2010 o CPUP acolheu na sua equipa 24 estudantes do 1º ciclo de estudos do ensino superior (Bolseiros de Integração na Investigação). No CIPsi, segundo o Professor Pedro Albuquerque, há três formas de os alunos, ao longo do seu percurso académico, participarem na investigação: uma delas é como colaboradores de investigação, colocando os alunos em contacto directo com a investigação (no ano de 2011 abriram 49 vagas); os alunos interessados em determinada área têm também a oportunidade de ajudar um investigador e participarem na sua investigação, podendo ser integrados na própria unidade; a outra forma é enquanto sujeitos participantes nas experiências que se realizam, mediante um sistema de creditação. Que possibilidades isso dá aos estudantes de Psicologia e o que podem ganhar com isso? ▶ De um modo geral, são vários os ganhos dos estudantes apontados pelas unidades: a própria aprendizagem inerente a essa experiência, competências específicas de investigação, a possibilidade de se poderem envolver e contactar diretamente com novos projetos, de poderem sugerir e assumir alguma liderança em novos projetos de investigação, de poderem seguir uma carreira de investigação, de participar com comunicações em congressos nacionais e internacionais ou ser co-autores de artigos científicos, havendo sempre um ganho curricular. De acordo com o CPUP, o contato directo com as actividades de inves-

tigação e a integração em equipas de investigação é um estímulo para os estudantes e permite o desenvolvimento do seu sentido crítico, autonomia e criatividade. Segundo o Professor Eduardo Santos, director do IPCDVS, quando entramos numa unidade de investigação entramos no Mundo da investigação, “todas as competências adquiridas dão aos estudantes uma aprendizagem que lhes permite lidar com a ciência de modo mais amigável, facultando uma experiência que não se tem ao longo do percurso académico, e que é complementar a esse. É como ir aos bastidores da ciência e ver o making of da ciência”. Na opinião do Professor Pedro Albuquerque, do CIPsi, fazer investigação implica adquirir um conjunto de competências aplicáveis não só a nível da investigação, como em qualquer outro trabalho. Que importância pode ter a participação dos estudantes de Psicologia no trabalho desenvolvido pelas Unidade de Investigação & Desenvolvimento? ▶ A participação dos estudantes é essencial em muitos aspectos: permite diversificar e enriquecer a investigação feita na unidade, trazer sentido crítico, inovação e criatividade. De acordo com o Professor Francisco Esteves, diretor do CIS-IUL, os alunos adquirem uma atitude científica perante a Psicologia e a vida em geral. Na opinião do Professor Eduardo Santos do IPCDVS, com os estudantes, as unidades de investigação ganham um grau de realismo acerca das necessidades dos próprios estudantes, e um conhecimento acerca daquilo que deve ser adaptado em termos do processo de ensino-aprendizagem, para além do entusiasmo e sugestões que trazem. Para além disso, a participação dos


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estudantes em atividades de recolha de dados, é essencial para o desenvolvimento da investigação, para além de permitir alargar o número de participantes em algumas investigações. São também uma importante ajuda em termos logísticos, por exemplo, na realização e organização de congressos, como estão de acordo o IPCDVS e o CINEICC. O CPUP acrescenta ainda que os estudantes constituem uma forma de disseminar os resultados das investigações científicas, contribuindo para a divulgação do trabalho desenvolvido pelo centro. De um modo sucinto e, na opinião do Professor Pedro Albuquerque do CIPsi, a investigação vive da participação dos alunos enquanto participantes nas experiências e enquanto assistentes (colaboradores) de investigação. O que acha da investigação em Psicologia desenvolvida em Portugal? ▶ Unanimemente, todas as unidades reconhecem um desenvolvimento exponencial nos últimos 20 anos da investigação em Psicologia em Portugal, aproximando-se gradualmente da investigação que é feita a nível internacional. Segundo o UIPCDE e o CIS, o resultado desta evolução demonstra-se através dos vários centros de investigação existentes em várias instituições de Psicologia, que têm desenvolvido um trabalho notável, ao nível do que melhor se faz na Europa. Na opinião do Professor Francisco Esteves, também as universidades começaram a reconhecer e a valorizar a componente de investigação (e não só a docência). É um processo a médio/longo prazo que começa agora a dar frutos. O panorama da investigação em Psicologia em Portugal, na opinião do Professor Eduardo Santos, do IPCDVS, é bom, dada a existência de bons centros de investigação e de

bons investigadores, mas neste momento está mal, devido, essencialmente, à situação de crise que o país atravessa. Temos potencialidades e reconhecimento internacional, mas sem as condições de trabalho dos nossos colegas estrangeiros. A directora do CEPCA, Dr.ª Sara Ibérico acrescenta que muitas áreas ainda estão por desbravar e que são precisos jovens investigadores que assumam a sua cota parte de responsabilidade, que liderem e estimulem novos trilhos. Na área da Psicologia experimental, o Professor Pedro Albuquerque do CIPsi, reconhece que há cada vez mais pessoas novas com mais qualidade na investigação experimental, e cada vez mais vão para fora realizar investigação. A grande dificuldade é a publicação em inglês, o que aumenta em grande escala o esforço de cada publicação, impedindo, muitas vezes, que sejam atingidos níveis semelhantes aos de países estrangeiros. O que acha que podia mudar/ melhorar? ▶ De um modo geral, todas as unidades referem a falta de suporte para a continuidade e publicação dos seus trabalhos, nomeadamente o apoio financeiro, sobretudo aos jovens investigadores. É também partilhada a insatisfação relativa à sobrecarga de trabalho dos investigadores devido à acumulação, em grande parte dos casos, de funções docentes e de prestação de serviços à comunidade, quando não de funções de gestão. Neste momento, como refere o Professor Eduardo Santos do IPCDVS, a internacionalização é muito importante, pois não só nós aprendemos com os colegas estrangeiros, como também eles aprendem connosco. Tanto o IPCDVS como o UIPCDE referem que a investigação desenvolvida na área da Psicologia em Portugal carece ainda de algumas redes internas de suporte.

Por um lado, deveria ser promovido o desenvolvimento de projectos de investigação entre os vários centros de Psicologia, promovendo sinergias entre os investigadores das várias unidades. A criação destas parcerias permitiria um desenvolvimento de investigação cada vez mais aprofundada e, por outro lado, a criação de um Laboratório Associado em Psicologia, de momento inexistente. Por outro lado, a investigação nacional em Psicologia carece ainda de divulgação internacional. O CPUP aponta mais alguns aspectos a melhorar: problemas nos processos de avaliação dos Centros de Investigação em Psicologia e das candidaturas de projectos de investigação em Psicologia; os Bolseiros de Investigação encontram-se em situação precária; tem-se desvalorizado a produção científica em língua portuguesa; não existe um reconhecimento do papel cultural fundamental exercido pelos investigadores na comunicação da ciência à comunidade em geral. Nas palavras do Professor Eduardo Santos, do IPCDVS, é necessária a mediatização da ciência e a transferência do conhecimento para a sociedade.

▶ Os eventos referidos neste artigo poderão ser consultados com mais detalhe no final desta revista em “Próximos Eventos em Psicologia”. Fontes online: http://www.fct.pt/apoios/unidades/avaliacoes/2007 http://www.cis.com.pt/index.php?ref=1 http://www.fpce.up.pt/cpup/ RUP Nº1 89


Próximos eventos em Psicologia

Próximos eventos em Psicologia Com o objectivo de promover o envolvimento e a participação do leitor na área da Psicologia, bem como fomentar o seu gosto por tal, a RUP elaborou uma lista dos eventos que decorrerão num futuro próximo. Participa!

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Próximos eventos em Psicologia

Formações / LISBOA ▶ Curso Avançado de Psicogerontologia: 24 de Setembro de 2012 a Janeiro de 2013; Psicologia.pt (Portal dos Psicólogos) ▶ Curso Prático em Balística Forense: 29 de Setembro a 6 de Outubro; Psicologia.pt (Portal dos Psicólogos) ▶ A Clínica Infantil – O Desenho e o Brincar: 6 de Outubro a 24 de Novembro; Psicologia.pt (Portal dos Psicólogos) ▶ Introdução a PNL Programação Neuro Linguística: Início a 8 de Outubro; Psicologia.pt (Portal dos Psicólogos) ▶ Avaliação Psicológica de Crianças com Dificuldades de Aprendizagem: Início a 13 de Outubro; Psicologia.pt (Portal dos Psicólogos) ▶ Desenvolvimento Transpessoal - Consciência e Espiritualidade: Início a 13 de Outubro; Psicologia.pt (Portal dos Psicólogos) ▶ Intervenção na Crise em Diferentes Contextos: Início a 13 de Outubro; Psicologia. pt (Portal dos Psicólogos) ▶ Autismo, Hoje: Início a 13 de Outubro; inspsic. pt (Instituto Português de Psicologia)

▶ A Avaliação Psicológica e a Intervenção em Psicologia Clínica Psicanalítica: 15 de Outubro de 2012 a 1 de Julho de 2013; Psicologia.pt (Portal dos Psicólogos) ▶ Avaliação Psicológica de Condutores: Início a 16 de Outubro; Psicologia.pt (Portal dos Psicólogos) ▶ Avaliação e Intervenção na Dislexia: Início a 16 de Outubro; Psicologia.pt (Portal dos Psicólogos) ▶ Marketing na Saúde: Uma ferramenta para todos os profissionais de saúde: Início a 20 de Outubro; Psicologia. pt (Portal dos Psicólogos) ▶ Psicofarmacologia para Psicólogos: Início a 24 de Outubro; Psicologia.pt (Portal dos Psicólogos) ▶ Sistemas Organizacionais de Gestão de Talento: Início a 30 de Outubro; Psicologia. pt (Portal dos Psicólogos)

Encontros Científicos / PORTO ▶ 3rd Joint Meeting of the European and the United Kingdom Chapters of the Society for Psychotherapy Research: de 11 a 13 de Outubro; ordemdospsicologos.pt

/ Santo Tirso ▶ V Congresso Internacional da Sociedade Portuguesa de Psiquiatria e Psicologia da Justiça: 9 e 10 de Novembro; Local não divulgado (sede da associação: Santo Tirso) spppj.com (Sociedade Portuguesa de Psiquiatria e Psicologia da Justiça) ▶ I Congresso Internacional de Neuropsicologia e Neurociências - Novos e Velhos Paradigmas: 16 e 17 de Novembro; inspsic. pt (Instituto Português de Psicologia)

/ PORTO ▶ Intervenção nas Toxicodependências: 13 de Outubro; inspsic.pt (Instituto Português de Psicologia) ▶ Intervenção no Tabagismo: 24 de Novembro; inspsic. pt (Instituto Português de Psicologia)

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Próximos eventos em Psicologia

Pós-Graduações / LISBOA ▶ Avaliação e Intervenção Psicológica com Crianças e Adolescentes: de 12 Outubro de 2012 a 9 de Junho de 2013; Psicologia.pt (Portal dos Psicólogos)

/ PORTO ▶ Ciências Forenses, Investigação Criminal e Comportamento Desviante: Início a 6 de Outubro; Psicologia.pt (Portal dos Psicólogos) ▶ Avaliação e Intervenção com Crianças e Adolescentes: Início a 13 de Outubro; Psicologia.pt (Portal dos Psicólogos) ▶ Psicomotricidade: Início a 13 de Outubro; inspsic. pt (Instituto Português de Psicologia) ▶ Terapia Familiar e Intervenção Sistémica: Início a 13 de Outubro; Psicologia.pt (Portal dos Psicólogos) ▶ Intervenção Clínica em Psicogerontologia: Início a 20 de Outubro; Psicologia.pt (Portal dos Psicólogos) ▶ Neuroeducação: Início a 27 de Outubro; Portal dos Psicólogos) ▶ Reinserção Social e Gestão de Projectos de Intervenção: Início a 17 de Novembro; inspsic.pt (Instituto Português de Psicologia)

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▶ Psicoterapias Cognitivo Comportamentais de Terceira Geração – Mindfulness e outras abordagens: Início a 24 de Novembro; inspsic. pt (Instituto Português de Psicologia)

/ E-LEARNING

/ COIMBRA

Workshops

▶ Prática Clínica em Saúde Mental: de Outubro a Dezembro de 2012; Psicologia.pt (Portal dos Psicólogos) ▶ Avaliação e Reabilitação na Neuropsicologia Clínica: Início a 13 de Outubro; Psicologia.pt (Portal dos Psicólogos) ▶ Intervenção Cognitivo Comportamental – III Edição: Início a 27 de Outubro; associacaocentraldepsicologia. pt ▶ Psicopatologia da Infância à Idade Adulta - Diagnóstico e Intervenção: Início a 10 de Novembro; Psicologia.pt (Portal dos Psicólogos) ▶ Sexologia Clínica – Diagnóstico e Intervenção: Início a 24 de Novembro; associacaocentraldepsicologia. pt ▶ Psicologia Forense: Início a 24 de Novembro; Psicologia. pt (Portal dos Psicólogos)

/ ÉVORA ▶ Psicoterapias CognitivoComportamentais: Início a 20 de Outubro; inspsic. pt (Instituto Português de Psicologia)

▶ Ciências Forenses e Medicina Legal: Início imediato; Internet (E-Learning) Psicologia.pt (Portal dos Psicólogos)

/ LISBOA ▶ A Influência da Linguagem Corporal: Comunicação NãoVerbal: 17 e 18 de Outubro; Psicologia.pt (Portal dos Psicólogos) ▶ Técnicas para Apoio a Grupos de Ajuda Mútua: 13 e 20 de Outubro; Psicologia. pt (Portal dos Psicólogos) ▶ Psicoterapia Bonding: Treino de consultas em psicoterapia emocional e bonding e desenvolvimento pessoal: 27 de Outubro; Psicologia.pt (Portal dos Psicólogos)

/ SANTO TIRSO ▶ Profiling: 8 de Novembro; Local não divulgado (sede da associação: Santo Tirso) spppj.com (Sociedade Portuguesa de Psiquiatria e Psicologia da Justiça)


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