Ruportagem nº6

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Abril 2017 | Edição nº6 Distribuição Digital e Gratuita

Novos Tipos de Família: Velhos Problemas, Novos Desafios O Narcisismo do Reinado de Donald Trump 1


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Editorial

Caro leitor, Quase a caminhar para o fim de mais um ano letivo trazemos-te alguns temas variados para que possas ler e refletir! Novas formas de família, o que é fazer o luto por alguém e as sincronias desse processo. Por outro lado, falamos de emoções, do que é e do porquê de amarmos. Damos-te ainda a conhecer o que é o Rendimento Básico Incondicional, falamos da diversidade do ambiente de trabalho, ao nível organizacional e refletimos ainda sobre Donald Trump. Não te esqueças de dar uma espreitadela na nossa agenda de eventos e conferências que divulgamos a pensar em ti! Boas leituras Maria João Fangaia

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Ana Aleixo

Beatriz Casquinho

Catarina Fernandes

Patrícia Martins

João Mena

Maria João Fangaia

Marta Silva

Nadine Amaro

Para mais informações ou sugestões podem contactar: editorial.rup@gmail.com A Editora, Maria João Fangaia Designer Yara Neves Tiago A. G. Fonseca

/// ISSN: 108/2015///Interdita a reprodução parcial ou total dos textos, fotografias ou ilustrações sobre quaisquer meios e para quaisquer fins sem previa autorização escrita da Administração da RUP/ANEP//// Editora: Maria João Fangaia ///// Administrador: Adriana Bugalho ///// Director da Comissão de Revisão Cientifica: Tiago Fonseca ///// Periodicidade: Trimestral ///// Produção: Organismo Autónomo Revista Universitária de Psicologia da Associação Nacional de Estudantes de Psicologia ///// Propriedade: Associação Nacional de Estudantes de Psicologia – ANEP ////// Associação Nacional de Estudantes de Psicologia - ANEP ///// Faculdade de Psicologia //////////Alameda da Universidade ///// 1649-013 Lisboa ///// Portugal /////// Revista Universitária de Psicologia da Associação Nacional de Estudantes de Psicologia - RUP/ANEP ///// 3000

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Conteúdos

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Editorial

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R.I.P - Reviver Intensamente Pós Processo de Luto

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Porque Amamos?

Agenda

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Novos Tipos de Família: Velhos Problemas, Novos Desafios

Diversidade do Ambiente de Trabalho: Benefícios e Desafios

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O Narcisismo do Reinado de Donald Trump

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Rendimento Básico Incondicional


Agenda

V Congresso da A Cores - Crescer Hoje Local: Auditório do IPDJ, Coimbra Data: 20 e 21 de Abril 2017 Preço: Congresso (20 Abril) + 3 workshops (21 Abril) Estudantes e estagiários profissionais – 35€ 11.º Congresso Iberoamericano de Psicodrama Local: Fábrica do Braço de Prata, LisboaData: 14 de Janeiro de 2017 Data: 3 a 6 de Maio de 2017 Preço: Sócios SPP e Estudantes – 130 €

8.º Congresso Internacional de Psicologia da Criança e do Adolescente Local: Auditórios 1 e 2 da Universidade Lusíada, Lisboa Data: 26 e 27 de Abril de 2017 Preço: Estudantes da Universidade Lusíada – 5€ Estudantes de outras instituições – 10€ I Congresso de Psicologia, Saúde e Segurança no Trabalho Local: Hotel Tryp, Coimbra Data: 4 de Maio de 2017 Preço: Até 16 de Abril: Estudantes – 10 € Após 16 de Abril: Estudantes – 15 € 6


8.º Congresso Nacional de Medicina do Adolescente - Adolescência e Violência – Prevenção, detecção e intervenção Local: Teatro José Lúcio da Silva, Leiria Data: 17 a 19 de Maio de 2017 Preço: Até 15 de Abril: Alunos do ensino superior – 25€ Após 15 de Abril: Alunos do ensino superior – 55€

XXVIII Colóquio da Sociedade Portuguesa de Psicanálise- “Sexualidade Contemporânea e Psicanálise – Olhares, Desafios, Diálogos” Local: Auditório J.J. Laginha ISCTE- Instituto Universitário de Lisboa Data: 3 a 6 de Maio de 2017 Preço: Até 31 de Marco: Estudantes ISCTE-35€ Estudantes e membros da IPSO - 45€ Após 31 de Março: Estudantes ISCTE-45€ Estudantes e membros da IPSO - 55€

II Encontro FamiliarMente - “ Saúde Mental na Família, Presente e Futuro” Local: Auditório do Hospital Magalhães de Lemos, Porto Data: 19 de Maio de 2017 Preço: Sem preço afixado 5th Global Congress for Qualitative Health Research & 14th International Conference of Nursing Research Local: Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa Data: 8 a 12 de Maio de 2017 Preço: Até 30 de Março: Estudantes de 1º ciclo – 100€ Estudantes de 2º e 3º ciclos –250€

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IX Encontro - Os Desafios da Psicologia Forense: Estágios e Projetos de Investigação Local: Grande Auditório do Instituto Superior de Ciências da Saúde Egas Moniz, Monte de Caparica Data: 25 de Maio de 2017 Preço: Sem preço afixado

3.as Jornadas de Psiquiatria do Hospital Garcia de Orta/ 2.º Encontro de Psiquiatria da Península de Setúbal -“Interfaces da Psiquiatria: Entre o Corpo e a Mente” Local: Hotel Aldeia dos Capuchos Golf & Spa , Costa da Caparica Data: 26 a 27 de Maio de 2017 Preço: Estudantes de Psicologia/Escolas Superiores de Saúde – 40,00€

Congresso de Cuidados Continuados e Paliativos do Instituto S. João de Deus Local: Centro de Conferências da Alfândega do Porto Data: 25 a 26 de Maio de 2017 Preço: Sem preço afixado

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Serviços à Comunidade O Centro de Prestação de Serviços à Comunidade (CPSC) da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade de Coimbra tem como principais objetivos aproximar a comunidade académica da sociedade civil, apostando no saber e na investigação. Consultas de Psicologia O CPSC enquadra consultas de Psicologia, asseguradas por docentes e profissionais de reconhecido mérito, em diversas áreas de intervenção. - Assessoria ao Tribunal: o Avaliação Neuropsicológica o Avaliação Psicológica e Intervenção Terapêutica de Suporte para a Mudança - Avaliação Psicológica, Aconselhamento e Reabilitação - Gerontopsicologia - Consulta "Anos Incríveis" - Orientação e Aconselhamento de Carreira - Psicoterapia de Grupo - Psicoterapia Individual - Consulta Universitária Crianças e Adolescentes - Resolução de Problemas e Aprendizagens Escolares - Terapia de Casal e Familiar Consultoria O CPSC assegura igualmente serviços de consultoria, nas diversas áreas de especialização da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação, às entidades e serviços que assim o solicitem. - Âmbito de Procedimentos Concursais (Portaria nº 83-A/2009, de 22 de Janeiro, alterada e republicada pela Portaria n.º 145-A/2011, de 06 de abril)

o Avaliação psicológica (Artº 10º) o Entrevista de avaliação de competências (Artº 12º)

Formação não graduada O CPSC organiza um conjunto de formações não graduadas (área de Psicologia, Ciências da Educação e Serviço Social), dinamizados por docentes da Faculdade e/ou convidados externos de elevada qualidade. Para 2016/2017 as formações na área da Psicologia foram submetidas ao sistema de acreditação da Ordem dos Psicólogos Portugueses (OPP). www.uc.pt/fpce/CPSC/FnG CPSC: Telef.: 239 851 476 (09h00 – 12H30) | cpsc@fpce.uc.pt | www.uc.pt/fpce/CPSC/ Telef.: 239 851 450 | dir@fpce.uc.pt | http://www.uc.pt/fpce/

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Porque Amamos?

O Amor É uma Companhia O amor é uma companhia. 
Já não sei andar só pelos caminhos, 
 Porque já não posso andar só. 
Um pensamento visível faz-me andar mais depressa 
 E ver menos, e ao mesmo tempo gostar bem de ir vendo tudo. 
Mesmo a ausência dela é uma coisa que está comigo. 
E eu gosto tanto dela que não sei como a desejar. 

Se a não vejo, imagino-a e sou forte como as árvores altas. 
Mas se a vejo tremo, não sei o que é feito do que sinto na ausência dela. 
Todo eu sou qualquer força que me abandona. 
Toda a realidade olha para mim como um girassol com a cara dela no meio. Alberto Caeiro 10


fotografia de um indivíduo familiar intersetadas por uma tarefa de distração, verificou-se a ativação da área tegmental ventral direita (VTA) que é uma região de células dopaminérgicas e uma parte central do “sistema de recompensa” do cérebro, associada ao prazer, excitação, foco da atenção e motivação para perseguir e adquirir recompensas (Schultz, 2000; Delgado et al., 2000; Elliot et al., 2003). Este mesmo “sistema de recompensa” está fortemente associado ao vício de drogas. Adicionalmente a técnica de VTA envia projeções a várias regiões cerebrais, incluindo o núcleo caudado, onde também se verificou um grupo de ativações significativas. Este núcleo desempenha um papel importante na deteção de recompensas, na expectativa, na representação de objetivos e na integração de inputs sensoriais de preparação para a ação (e.g, Schultz, 2000; Martin-Soelch et al., 2001; Lauwereyns et al., 2002; O´Doherty et al. 2002).

Helen Fisher é uma antropóloga biológica, investigadora sénior no Kinsey Institute e membro do Center for Evolutionary Studies no Departamento de Antropologia na Universidade de Rutgers, New Jersey. Tem 6 livros lançados e conduziu uma extensa investigação sobre a evolução e futuro do amor, sexo, casamento, diferenças cerebrais de género e características da personalidade que determinam a atração. Atualmente dedica-se ao estudo da neurociência de liderança organizacional e inovação. Em conjunto com uma equipa de neurocientistas (Dr. Lucy L. Brown), psicólogos (Dr. Arthur Aron) e outros investigadores, tem levado a cabo uma série de estudos com o objetivo de compreender melhor os mecanismos cerebrais implicados no amor romântico e nas suas diferentes expressões e características. Utilizando sempre a técnica de fMRI de forma a identificar as regiões cerebrais implicadas no amor e na rejeição, a investigação tem conduzido ao descobrimento dos circuitos específicos relacionados com estes processos.

3 Sistemas Motivacionais

É proposto por Fisher (Fisher, 1998; Fisher et al., 2002b) que espécies mamíferas e aves desenvolveram de forma evolutiva três sistemas distintos dinâmicos e inter-ligados – representativos de instintos básicospara o cortejo, o acasalamento e a parentalidade: 1. O instinto sexual evoluiu de forma a motivar os indivíduos a procurar um conjunto de parceiros para reprodução; 2. A atração romântica, e a sua forma desenvolvida, o amor romântico evoluiu para motivar os indivíduos a focar a sua energia de acasalamento em parceiros específicos; 3. A vinculação evoluiu de forma a motivar os indivíduos a permanecerem juntos o tempo suficiente para completar objetivos parentais específicos de cada espécie.

No que concerne a este tema, é conhecido o facto de que animais de diferentes espécies têm preferências de parceiro e focam a sua “energia de cortejo” em indivíduos específicos. Na maioria das espécies de mamíferos e aves esta atração é sobretudo breve, durando minutos, horas dias ou semanas. No entanto, na espécie humana o mecanismo neural associado com a atração consiste na base fisiológica do amor romântico. Este fenómeno é caracterizado, como todos nós sabemos, por pensamentos intrusivos e atenção seletiva ( participantes de um dos estudos da autora reportaram passar mais do 85% do seu tempo acordados a pensar na outra pessoa), aumento de energia e oscilações de humor. Este sistema cerebral tem inspirado canções, poemas, magia, mitos e lendas ao longo de toda a história da Humanidade. Sendo um fator de tanto peso em todas as sociedades e no mundo interior de cada um de nós, vale a pena debruçar-nos sobre as suas raízes biológicas.

Estes três sistemas cerebrais podem correlacionarse de diferentes maneiras. Por exemplo, o aumento na produção de dopamina durante o orgasmo pode ativar o sistema de atração romântica. Mas também podem funcionar de forma independente uns dos outros, isto é, uma pessoa pode ser capaz de sentir uma forte vinculação por uma outra enquanto sente

Regiões cerebrais implicadas no amor romântico

Através do estudo com Fmri de um grupo de participantes “apaixonados” que alternativamente viam uma fotografia do objeto do seu amor e uma

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normas sociais Verificou-se uma ativação nas áreas encarregadas da produção de serotonina naqueles que manifestam uma pontuação alta nesta escala: córtex ventrolateral prefrontal esquerdo. Atividade no sistema serotoninérgico tem sido correlacionada com a aderência às normas sociais, auto-controlo e auto-regulação, sociabilidade, aversão ao risco, precisão e interesse em detalhes e criatividade figurativa e numérica. Os indivíduos com resultados mais altos nesta escala também têm maior probabilidade de estar afiliados com algum sistema de crenças religiosas. (Exemplo de iten:“A minha família e amigos diriam que eu tenho valores tradicionais”)

uma forte atração sexual ou romântica por um outro indivíduo. Questão que nos poderia remeter para um futuro debate sobre a monogamia ou poligamia como tendência “natural”.

Mas porque nos apaixonamos por umas pessoas em vez de outras?

Para responder a esta questão, foi construído um novo modelo temperamental baseado na literatura recente acerca da fisiologia cerebral. Este foi desenvolvido e testado através da criação do Inventário Temperamental de Fisher (FTI), questionário que é uma das primeiras medidas temperamentais desenhadas diretamente a partir da neurociência, testada e validada utilizando ressonância magnética funcional (FMRI) (Brown et al., 2013). Para a construção deste inventário temperamental, primeiro foram extraídos duma revisão de literatura traços associados a sistemas neuroquímicos cerebrais: dopamina, serotonina, testosterona e estrogénio/ oxitocina (Fisher et al., 2010a,b ; Brown et al., 2013). E através da análise fatorial foi desenvolvido o Questionário, FTI, que depois foi testado com as respostas de usuários de um conhecido site de encontros (Match.com). A partir de este Questionário podem-se identificar 4 tipos Temperamentais, cada um associado a um sistema neuro-químico diferente:

3.Sistema de testosterona:Analítico/ Determinado Resultados altos nesta escala correlacionaramse com a ativação em áreas do córtex occipital que medeiam funções visuais básicas e que são influenciadas pela produção de testosterona. Nestas áreas do córtex occipital têm sido documentadas diferenças funcionais e anatómicas entre ambos sexos. Também se verificaram ativações significativas no córtex parietal, envolvido no pensamento matemático/ espacial, e que presenta diferenças anatómicas entre homens e mulheres. O priming de testosterona prenatal está associado com uma maior habilidade de percepção visuo-espacial, destreza matemática aptidão musical, agressividade e fluência verbal diminuída. A testosterona endógena, para além disto também está ligada a um menor reconhecimento emocional, comunicação assertiva, maior auto-segurança e sensibilidade ao domínio social. (Exemplo de iten:“Gosto de conversações competitivas”)

1.Sistema de dopamina e norepinefrina: Curioso/Enérgico Pontuações altas nesta escala correlacionam-se com ativação nas regiões cerebrais encarregadas da produção de dopamina: Sustância Nigra, Cortex Dorsolateral prefrontal direito e a região rica em noreprinefina, o locus coerelus. Em todos os tipos temperamentais é ativada a região dopaminérgica da Área Tegmental Ventral, que como já tinha sido referido, faz parte da reação normal ao estímulo amoroso independentemente do tipo de personalidade. Alguns comportamentos associados à produção de dopamina (e que por isso sobressaem nas pessoas com estes resultados na FTI) são a procura de aventura e novidade, suscetibilidade ao aborrecimento e desinibição, a flexibilidade cognitiva, criatividade verbal e não-linguística, curiosidade e pouca capacidade de introspecção. Esta escala correlacionou-se positivamente com o fator de Extroversão no modelo Big Five. ( Exemplo de iten: “Tenho mais energia que a maior parte das pessoas”)

4.Sistema de estrogénio e oxitocina: Pro-social/ Empático Participantes com altas pontuações nesta escala mostraram ativação no Giro Frontal direito(IFG), insula anterior esquerda e o giro fusiforme esquerdo, áreas associadas com a ação dos neurónios espelho e a empatia. Esta última está ligada à produção de estrogénio. Estas regiões demonstram diferenças anatómicas relativamente ao sexo. O priming de estrogénio prenatal está associado ao pensamento contextual, teoria da mente, empatia, generosidade e confiança, motivação para a criação de laços sociais e memória de experiências emocionais. De forma parecida, a oxitocina encontrase relacionada com o comportamento prosocial, introspecção e confiança. (Exemplo de iten:“Valoro muito a intimidade emocional profunda nas minhas

2.Sistema de serotonina: Cauteloso/Obediente das

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relações”) Adicionalmenter, verificou-se que os homens, de forma geral obtiveram resultados mais altos na escala Analítico/Determinado, e as mulheres pelo contrario, na escala Prosocial/Empatica. Isto devese, como é evidente, às diferenças biológicas entre as quantidades de testosterona e estrogénio e oxitocina para os dois sexos. Este modelo temperamental avaliado pelo FTI, tem sido utilizado pela pagina Match.com como recurso para encontrar um parceiro romântico compatível, uma vez que os dois primeiros grupos de personalidades procuram um parceiro semelhante a eles, enquanto os dois últimos tendem a procurar um parceiro com diferentes características. Mais recentemente a autora, Helen Fisher, tem procurado formas de aplicar estas dimensões temperamentais em contexto de empresa, de forma a compreender melhor as dinâmicas organizacionais.

“Os estudos anteriores, identificaram que os sentimentos de amor romântico intenso envolvem regiões do “sistema de recompensa” do cérebro, que são as mesmas ativas nos vícios de substâncias ou comportamentais. ” romântica (onde se verifica uma ativação na VTA mas também de regiões cerebrais associadas à dor física como o córtex insular) partilha características prejudiciais da dependência. No contexto do abuso de substâncias, o dependente tem um forte desejo de consumo, acompanhado duma forte motivação de aproximação mesmo quando o estímulo já não produz o mesmo efeito que nos momentos iniciais e está associado a consequências negativas. A associação entre estas duas realidades, num primeiro olhar pode parecer relativamente rebuscada, mas na verdade pode ajudar no desenvolvimento de novas estratégias clínicas tanto nos tratamentos para o abuso de substâncias ou vícios comportamentais, como para a rejeição amorosa que pode levar a patologias clínicas como a depressão. Por exemplo, após uma rejeição amorosa podem ser aconselhadas técnicas semelhantes a aquelas utilizadas no tratamento da toxicodependência como a eliminação de pistas externas que elicitem o desejo, procura de experiências de auto-expansão (novas experiências espirituais, hobbies, desporto), procura de grupos de ajuda ou contacto com amigos próximos.

Que tipo de Amor? Intenso, Apaixonado, Romântico: uma dependência natural?

Voltando à teoria, sabe-se que a maior parte das pessoas, nas etapas iniciais de amor romântico intenso mostram vários sintomas de dependência a substâncias ou dependências comportamentais (ao jogo, às compras, vídeo-jogos, etc. ). Focamse no objeto do seu amor (saliência), sofrem com a sua ausência (ressaca), sentem um aumento de energia ao ver ou pensar nele (euforia, intoxicação). A medida que a relação se vai construindo, o amante procura cada vez maior interação com a outra pessoa (tolerância). E se há um corte na relação experimentam-se sinais de abstenção, como letargia, ansiedade, insónia ou hipersónia, perda de apetite ou binge eating e irritabilidade. Para além disto, podem sofrer recaídas como os toxicodependentes: qualquer pista externa ligada ao outro pode desencadear memórias e voltar a sentir desejo, ter pensamentos obsessivos (pensamento intrusivo) e iniciar uma procura compulsiva do outro. No entanto nem todos nós apresentamos estes sintomas após o final de uma relação. Os estudos anteriores, identificaram que os sentimentos de amor romântico intenso envolvem regiões do “sistema de recompensa” do cérebro, que são as mesmas ativas nos vícios de substâncias ou comportamentais. Assim, vários psicólogos têm vindo a concluir que o amor romântico pode ser considerado como uma dependência natural, que pode tornar-se uma dependência patológica quando é tóxico, inapropriado ou rejeitado, mas tem o potencial de ser positivo, e uma experiência de “expansão do self” (modelo de Aron and Aron, 1986). Por outro lado, isto também implica que a rejeição

A verdade é que todos nós já passamos nalgum momento das nossas vidas por experiências tanto positivas como negativas de amor romântico. Não se trata de um fenómeno linear no entanto, tal como os exemplos da investigação nos mostram, é possível que com maior conhecimento acerca do tema sejamos capazes de extrair o melhor que tem para oferecer para um maior enriquecimento mental e pessoal. Texto por: Beatriz Casquinho

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O Narcisismo do Reinado de Donald Trump

“Man is the most vicious of all animals, and life is a series of battles ending in victory or defeat.” Donald Trump

Segundo a mitologia grega, Narciso era um jovem de extraordinária beleza que repudiava os avanços românticos de todos os que se interessavam por ele. Um dia, ao debruçar-se numa fonte para beber água, viu o reflexo do seu rosto e apaixonou-se pela própria imagem. Incapaz de desviar o olhar, Narciso permaneceu imóvel na contemplação de si próprio e acabou por falecer.

incapacidade de aceitar a realidade; (6) intolerância em relação à opinião e visões alheias. Estas características do comportamento de Trump indicam um actual e futuro estilo de governação perigoso, como os mesmos profissionais afirmam.

Mas que características de personalidade Donald Trump podem levar a esse perigo? Quem é afinal Donald Trump?

Donald Trump, empresário de sucesso, multimilionário, estrela de reality shows e, desde dia 10 de Janeiro de 2017, 45º presidente dos EUA, pode ser considerado o grande Narciso do actualidade. Desde as Trump Towers, à sua fortuna e aos comportamentos exuberantes, a vida deste homem de quase 70 anos parece centrar-se na busca incessante de grandiosidade. Podemos até testemunhar através dos media exemplos dos grandes e insanos atos para atingir um dos seus objectivos “make America great again”, como a construção de um muro na fronteira entre México e EUA. O estado de mental do novo presidente tem gerado tanta preocupação, que cerca de um mês depois da sua eleição, psiquiatras, psicólogos e outros profissionais de saúde mental quebraram o código de ética e assinaram uma carta aberta em que alertam para a incapacidade governativa de Trump. Os argumentos usados a favor desta posição são: (1) falta de empatia demonstrada durante a campanha; (2) tendência à desonestidade ou a distorção da realidade, de forma a adequar-se à suas idéias; (3) explosões de raiva constantes; (4) instabilidade nas posições e opiniões; (5)

Segundo o psicólogo Dan P. McAdams em “The mind of Donald Trump” (The Atlantic, Junho de 2016), o presidente é um constante ator, desde os reality shows até ao desempenho durante a campanha eleitoral. Os seus discursos inflamados, as declarações polémicas e o “conforto” que mostra face a decisões polémicas e de cariz violento, como as políticas anti-imigração e antiterrorismo, criam um ambiente de insegurança. No mesmo texto, McAdams salienta alguns dos traços de personalidade de Trump. Tendo em conta os Big Five, o psicólogo propõe um perfil marcada por alta Extroversão, baixa Amabilidade, e Abertura à Experiência média. Desta forma, o presidente é (Extroversão) exuberante, socialmente dominante, com predisposição para a tomada de decisões de alto risco e motivado para a busca de experiências emocionalmente positivas, como o reconhecimento social, fama, riqueza, sendo mais gratificante a busca do que o resultado final. É ainda (Amabilidade) rude, arrogante, desonesto e demonstra falta de empatia. Contudo, e embora algumas das suas posições sejam bastante rígidas, (Abertura à Experiência), Trump demonstra alguma flexibilidade nas

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“Sabemos que o Narcisismo associa-se ainda a comportamentos pouco éticos, por vezes desumanos e, neste contexto, o presidente já demonstrou que não se preocupa com danos colaterais a fim de atingir os seus objectivos.”

decisões, especialmente em relação ao seu império de negócios, mudando de estratégia de forma a alcançar maior lucro e fama. Este pode ser um ponto favorável no seu estilo governativo, tornando-a capaz de mudar de decisão assim que se depara com uma opção mais vantajosa para si e para o país. Na vida política nem sempre apresenta convicções estáveis, parecendo mais conservador ou liberal consoante o tema, o que é indicador de um certo grau de Abertura à Experiência. É um líder capaz de tomar decisões pragmáticas - até porque não se prende a sentimentalismos ou questões humanitárias - difíceis e arriscadas. Contudo a raiva, uma das característica mais marcantes da sua personalidade, pode toldar as suas decisões e anular qualquer traço de pragmatismo. Trump é o novo Narciso. Ama-se sobretudo a si próprio, procura a aceitação social de forma a uma maior glorificação do “eu” e, apesar de ser desagradável, o seu humor e carisma conseguiram conquistar muitos seguidores. Sabemos que o Narcisismo associa-se ainda a comportamentos pouco éticos, por vezes desumanos e, neste contexto, o presidente já demonstrou que não se preocupa com danos colaterais a fim de atingir os seus objectivos. Para além das características negativas, Donald Trump também apresenta alguns (poucos) pontos favoráveis que influenciam o seu estilo governativo. Apesar dos seus defeitos, as pessoas narcísicas são habitualmente dinâmicas e destacam-se na multidão. Com grande influência a nível mundial, capacidade de liderança nata e alguma flexibilidade para ouvir os conselheiros, talvez o presidente recue em algumas decisões e seja capaz

de usar estratégias mais arriscadas do que os seus predecessores - uma característica da Extroversão mas importantes para o desenvolvimento global. O futuro o dirá: “(...) Life is a series of battles ending in victory or defeat”. http://www.independent.co.uk/news/world/americas/ us-politics/donald-trump-mental-health-new-yorktimes-incapable-being-president-warning-openletter-a7578831.html h t t p s : / / w w w. t h e a t l a n t i c . c o m / m a g a z i n e / archive/2016/06/the-mind-of-donald-trump/480771/ Texto por: Catarina Fernandes

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R.I.P - Reviver Intensamente Pรณs Processo de Luto

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É do conhecimento geral que a vida, infelizmente, comporta várias perdas, materiais e/ou imateriais. Já todos passámos por perdas reais, isto é sofremos, por exemplo, com a morte de um familiar ou uma relação amorosa que terminou ou, com perdas simbólicas, quando um pior resultado escolar nos impediu de atingir um determinado curso no ensino superior. As perdas são efetivamente parte integrante do ciclo de vida, no entanto, o modo como são vivenciadas difere de pessoa para pessoa e até na mesma pessoa, dependendo de vários fatores, como a natureza da perda, as experiências de perdas passadas, a personalidade e valores do indivíduo, bem como o contexto sócio-cultural em que se insere. E, a cada uma dessas perdas, embora com diferentes tipos e graus de intensidade, corresponde um luto, uma reação específica à perda (Barbosa, 2010), entendase, a tentativa de resolução da dor causada pela falta de alguém ou não concretização de um objetivo. O luto é assim um processo composto por várias fases, são estas: Choque/Negação - evitamento e incredulidade face à perda; Desorganização/Desespero – no qual se dá a tomada de consciência face à perda, podendo ocorrer um sentimento constante de presença do falecido, falta de de vontade de continuar a viver e isolamento; Reorganização/Recuperação - o indivíduo reconhece a perda como real, desenvolvem-se novos modos de adaptação, uma nova identidade e novos significados. Não obstante, o luto é, em si mesmo, um fenómeno bastante idiossincrático na medida em que, não se trata de um processo sequencial pelo qual se vai passando, pois os indivíduos podem passar pela mesma fase mais que uma vez, do mesmo modo que não há um tempo estipulado para a duração de cada fase. Ademais, cada uma destas etapas envolve processos cognitivos, emocionais, comportamentais, somáticos, sociais e até mesmo espirituais (Barbosa, 2010).

dificuldades e adaptando-se às mudanças causadas pela perda. Para além disto, surge a possibilidade de que o sujeito consiga ainda manifestar novos interesses, possibilitando assim novos vínculos satisfatórios e uma adaptação a novas formas de estar na sociedade (Barbosa, 2010). Se existe um processo de luto dito normal, que cumpre as fases referidas acima e permite ultrapassar a perda, também existem processos de luto complicado e psicopatológico que correspondem a cerca de 10 ou 20% das pessoas em luto (Barbosa, 2010). Os processos de luto complicado, que derivam de uma má adaptação ao processo de luto, subdividem-se em: luto traumático – quando advém de uma perda traumática e inesperada, como a morte de um filho num acidente de carro, luto inibido - em que há adiamento do processo de luto, por haver uma sobrevalorização dos aspetos positivos do objeto perdido e um recalcamento dos pontos negativos, luto crónico -mais frequente em personalidades dependentes, luto exagerado - o enlutado entra em comportamentos autodestrutivos, como consumo de drogas ou práticas sexuais inseguras na tentativa de aliviar a sua dor- e luto indizível -a pessoa não pode manifestar a sua tristeza por constrangimentos sociais, como acontece em determinadas culturas ou no caso de relações entre homossexuais (Barbosa, 2010). Assim, sob outro ponto de vista, nos lutos psicopatológicos, o modo de vivência do luto desenvolve-se de modo semelhante ao de manifestações de perturbações psicopatológicas, existindo por isso luto psicopatológico melancólico, maníaco, paranóide, histérico, hipocondríaco, obsessivo, fóbico, ansioso, pós-traumatico, borderline, aditivo, caracterial (relacionado com perturbações de comportamento sobretudo em crianças e adolescentes) e somatoforme (Barbosa, 2010). Dada a importância de ultrapassar e vivenciar o processo de luto, é essencial profissionais de ajuda, tal como é o caso de psicólogos, acompanharem devidamente indivíduos em processo de luto. Ou seja, devem deter como competências a capacidade de criar empatia, de contenção das suas próprias emoções, de tolerância, de não sofrer de perturbações psiquiátricas graves nem perturbações de personalidade e ter os seus lutos elaborados e resolvidos (Barbosa, 2010).

“O luto afigura-se assim essencial para restaurar o equilíbrio do sistema de vida do indivíduo, é necessário processar e integrar a perda.” O luto afigura-se assim essencial para restaurar o equilíbrio do sistema de vida do indivíduo. É necessário processar e integrar a perda. Como tal, as principais tarefas do trabalho de luto são a aceitação e compreensão da perda, aceitando-se o luto como doloroso e sofrendo-se a dor e o desgosto do mesmo; a reposição emocional do objeto perdido e a adaptação criativa à vida, sendo o indivíduo é capaz de viver sem o objeto perdido, enfrentando as

Texto por: Nadine Amaro

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Novos Tipos de FamĂ­lia: Velhos Problemas, Novos Desafios

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é impossível falar de famílias sem entendermos ainda o conceito de ciclo de vida familiar. Efectivamente, todas as famílias, num dado momento, pertencem a um dado ciclo de vida familiar, que se vai modificando ao longo do tempo de vida da família. Deste modo, enquanto algumas famílias estarão no ciclo de vida “família com filhos pequenos na escola”, outras, por hipótese, estarão na etapa “formação do casal”. Relvas (1996) define ciclo vital como uma “sequência previsível de transformações na organização familiar, em função de tarefas bem definidas”. Assim, penso encontrar-me em condições de indicar o propósito deste artigo, possibilitando algumas reflexões acerca dos novos tipos de família.

No contexto de uma reflexão sobre os novos tipos de família, penso que é impossível abordar a questão convenientemente sem antes sublinhar alguns construtos. Deste modo, tendo em conta que o pano de fundo do artigo se situa no âmbito da psicologia sistémica, quando falo de família, falo sim da família como sistema. Por isso, toma-se como base o que Watzlawick, Beavin e Jackon (1993) definem como sistema, ou seja, o “conjunto de objetos (e das) relações entre os objetos e os atributos, sendo que os objetos são os componentes ou partes do sistema, os atributos são propriedades dos objetos e as relações dão coesão ao sistema todo (…) enquanto que os objetos podem ser indivíduos humanos, os atributos pelos quais eles são identificados são comportamentos comunicativos”. Deste modo, tratando-se a família de um sistema com características particulares, Sampaio e Gameiro (1985) concetualizam-na como um conjunto de elementos ligados por um conjunto de relações entre si e com o exterior. Este sistema mantém o seu equilíbrio ao longo do processo de desenvolvimento, percorrendo estádios de evolução diversificados. É assim possível perceber a família, como a indica Alarcão (2002), sob o ponto de vista dos objetos, relações que ligam os diversos objetos; contendo subsistemas (dos quais, os subsistemas conjugal, filial e fraternal são exemplos) e também outros sistemas ou suprassistemas todos interligados de forma organizada hierarquicamente. Sabe-se ainda que a família contém limites ou fronteiras que a separam e distinguem do meio que a rodeia. Para além disto, como pano de fundo, temos o que Minuchin (1979) designa por estrutura- uma espécie de rede de “necessidades funcionais” que organiza a forma como as famílias interagem entre si (subsistemas e sistema incluído). Mas de que modo interagem os membros familiares considerando o paradigma sistémico? Através do que o mesmo autor chama de padrões transacionais, ou seja, “sequências repetitivas de trocas verbais e não verbais que se vão construindo no dia-a-dia familiar, como resultado de adaptações recíprocas, implícitas e explícitas, entre os seus elementos” (Alarcão, 2002). Por último, e em jeito de síntese da introdução ao tema,

Como novas formas de família podemos considerar as variações em torno do ciclo vital familiar protótipo. Com efeito, há medida que os tempos urgem, cresce o número de famílias com configurações familiares distintas das ditas “tradicionais” e por isso é também crescente o número de investigadores que estudam a temática. Desta feita, é minha intenção abordar duas novas formas de família – as famílias reconstituídas e as ditas famílias monoparentais – e, posto isto, refletir acerca da parentalidade e do funcionamento familiar de cada uma delas.

Como se podem definir estes dois tipos de família?

Segundo Alarcão e Relvas (2007) as famílias monoparentais ou de educador único são marcadas quer “pela existência de diferentes subformas que nela se enquadram, como é o caso das famílias pósdivórcio, com educador viúvo(a) ou com progenitor solteiro, quer pela confusão conceptual que envolve as noções que se lhe associam como parentalidade, co-parentalidade, bi-parentalidade, função maternal/ paternal, entre outras.” No entanto, uma coisa é certa: a monoparentalidade contém em si a noção de “conjugalidade desfeita”. É importante evidenciar ainda, citando Alarcão e Relvas (2007) que esta nova forma de família “é um fenómeno de tal forma importante nos dias de hoje que deve ser considerado como um verdadeiro fato social saído da evolução do feminismo, bem como das modificações das funções maternais e parentais”. De facto, com a emancipação da mulher e a entrada da mulher no mundo do trabalho,

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frequente”. Concluiu-se então que as famílias monoparentais representam um desafio e uma mudança dos modos de estar na vida, tanto a nível individual como a nível interpessoal/sistémico. Em pleno século XXI é necessário refletir sobre as implicações desta nova forma de família que terá de certo extrema importância no desenvolvimento das crianças em todas as suas vertentes (emocional, sociocognitivo etc). Quanto ao segundo tipo de famílias que vos prometi abordar, as famílias reconstituídas, partilham o facto de, no essencial, “na atual configuração, existirem pessoas que, num passado mais ou menos próximo, tiveram outras famílias (nucleares), em parte agora reunidas num novo sistema” (Alarcão, 2002). A mesma autora salienta ainda que o importante, neste tipo de famílias, é o trabalho de luto que deve ser realizado – “pelo progenitor desaparecido” – e uma aceitação – aos elementos que entram de novo”. Desta forma, há “uma construção nova que tem de ser edificada”, ou seja, novas regras e novos padrões transacionais. Relativamente à dinâmica familiar é essencial ter em conta alguns pareceres, diz Alarcão (2002). Em primeiro lugar, “a clara coexistência de diferentes etapas do ciclo vital que não podem ser fundidas nem ultrapassadas, mas que têm de ser vividas num registo de complementaridade”. Por exemplo, no mesmo sistema de uma família reconstruída podem coexistir a etapa de pais com filhos pequenos e pais com filhos adolescentes. Para além disto, como referido verifica-se a necessidade de criar novas regras e novos padrões transacionais, sem negar o passado, mas compreendendo que o presente é diferente. Numa tentativa de comparação dos dois tipos de família, a literatura indica, como nos revela Simões (2011), que “existe uma maior disfuncionalidade no comportamento parental no contexto de famílias reconstituídas, em comparação com as famílias monoparentais”. A mesma autora indica mesmo que crianças que vivem em famílias reconstituídas tendem a percepcionar as suas mães como menos afetuosas, mais rejeitantes e menos estimulantes. Muitas vezes estas famílias, tendo a cabo filhos não só do sistema familiar atual mas também de um sistema familiar anterior de um dos elementos da família deixam-se descuidar quanto aos estilos educativos parentais e

muitas das funções parentais se alteraram. A mulher não serve apenas para cuidar dos filhos enquanto o pai vai ganhar dinheiro para o sustento. Em muitas famílias os papéis invertem-se. Outro fator social que contribui para tudo isto foi a emigração. Pode dizer-se que é relativamente comum um elemento do casal emigrar porque encontrou emprego além fronteiras e o outro ficar em terras nacionais a cuidar do filho. É ainda citado que “nestas famílias os papéis e as funções de cada um necessitam de ser avaliados segundo as circunstâncias que presidiram à reorganização do sistema familiar, e ainda, à idade das crianças e às regras do funcionamento familiar” com vista ao funcionamento saudável da mesma. Estão assim associados a estas variações algumas implicações ou particularidades que passo a referir. Em concreto, um estudo de Alarcão e Relvas (2007) revela que “pese embora as “dificuldades” sentidas (da monoparentalidade) serem mais diversificadas e em maior número do que as “facilidades”, não será de estranhar que, aos “problemas na educação dos filhos e à “ausência do companheiro”, se contraponham enquanto facilidades, a “maior estabilidade na educação dos filhos” e a “independência/ autonomia”. Relativamente à representação social da monoparentalidade, as autoras concluem que essa representação não se afigura como muito positiva embora também não seja na sua totalidade negativa, tanto em termos globais, como no que se refere às suas dificuldades enquanto grupo familiar e à exigência na relação filho/pai-mãe. Para além disto, segundo Simões (2011) a monoparentalidade é considerada um fator de risco para a qualidade da parentalidade, especialmente na medida em que cria condições condições desfavoráveis à parentalidade funcional e saudável em consequência da associação a factores de risco. Parke (2003) citado em Simões (2011) afirma que “são as mães que nunca casaram, em comparação com as mães divorciadas, as que têm condições de vida mais desvantajosas”. Sob outra perspectiva deparamo-nos com a parentificação e neste contexto Alarcão e Relvas (2007) afirmam que “o risco de uma ou várias crianças, normalmente as mais velhas, exercerem funções parentais relativamente aos irmãos mais novos é bastante

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família com uma dinâmica própria no entanto, tal como em qualquer tipo de família dita tradicional, o contexto de interações familiares, a disponibilidade dos cuidadores e a criação de vínculos seguros é essencial para o saudável desenvolvimento destes futuros adultos. Concluindo e considerando o título, penso que é relativamente seguro afirmar que os dois novos tipos de família apresentados igualam as famílias nucleares relativamente a problemas que são tudo menos novos, como a parentalidade e os seus comportamentos, as suas funções, as suas dúvidas e receios, os estilos educativos e sobretudo a felicidade dos filhos, que quer estejam inseridos numa família nuclear ou com uma nova configuração deve estar sempre em primeiro lugar. Por outro lado, é seguro também dizer que as novas configurações que muitas vezes estão presentes em famílias do século XXI representam novos desafios para os terapeutas familiares, para os psicólogos no trabalho do dia-adia e para a sociedade que a cada dia se desenvolve e projeta um futuro diferente.

acabam por rejeitar um filhos. No entanto, a literatura indica que algum tempo após uma “transição marital” a parentalidade tende a melhorar, nomeadamente, nas famílias reconstituídas estáveis e, estando o companheiro presente nas várias funções parentais, a diferença na qualidade do comportamento parental é relativamente pouca em relação às famílias nucleares. Ainda assim, autores como Hetherington e Stanley-Hagan (2002) citados em Simões (2011) indicam que, no caso da monoparentalidade, os problemas mantêm-se. Supõe-se que é talvez devido ao facto da monoparentalidade ser vivida de forma una quanto às funções parentais (exercidas por pai ou por mãe, apenas), o que se reflete na qualidade do comportamento parental e nos estilos educativos implementados. Se o elemento que cuida da criança estiver a passar um mau momento, por exemplo, ao mesmo tempo que toda a responsabilidade pela criança está a seu cargo, a sobrecarga aumenta também substancialmente. Tendo em conta tudo o que até agora foi dito, podemos assim refletir sobre a polémica questão: Face a estas diferenças será que, nos novos tipos de famílias, estamos perante crianças mais ou menos felizes, mais ou menos equilibradas psicologicamente? Será que o sistema familiar em que se inserem tem clara influência na sua felicidade e no seu desenvolvimento futuro? Não há um padrão, cada família é uma

Texto por: Ana Aleixo

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Diversidade do Ambiente de Trabalho: Benefícios e Desafios

primeiro lugar, ganha uma maior adaptabilidade pois uma força de trabalho com mais diversidade oferece diferentes talentos e experiências, sugere novas ideias e formas de pensar, o que torna a organização mais flexível com novas exigências de mercados e de clientes. Um segundo benefício é a maior oportunidade de negócio. Com mais diversidade de competências, como a capacidade de dominio de diversos idiomas ou compreensão cultural, surge a possibilidade de lidar com novos mercados, novos clientes e a prestação de diferentes serviços. Uma execução mais efectiva dos objectivos da organização é outro dos benefícios possíveis, na medida em que, ao ter uma força de trabalho diversa, os colaboradores sentemse motivados para trabalhar. Deste efeito resulta uma maior eficácia na execução de estratégias, maior produtividade, retorno de investimento e ainda lucros. Para além destes benefícios mencionados, a diversidade no local de trabalho pode ainda levar

Com a constante globalização da sociedade, é comum uma maior interação entre indivíduos com diferentes características e experiências. Assim, atualmente os indivíduos não privilegiam apenas a semelhança, quer a nível de experiências ou de características que outra pessoa com quem se possam relacionar possa apresentar, mas também procuram a diferença. Esta nova realidade é especialmente visível no local de trabalho na medida em que as empresas fazem parte de uma economia global, visível na sua força de trabalho, que é cada vez mais diversa. Surge a questão: O que se considera como diversidade no local de trabalho? Trata-se da variedade de diferenças que existe entre as pessoas que trabalham numa organização. Apesar de parecer uma explicação simplista, estas diferenças englobam elementos como a personalidade, o género, o grupo étnico, a educação, entre muitos outros. A diversidade, para além de incluir a forma como um indivíduo se vê, inclui também a forma como outro o perceciona, sendo que essas perceções irão influenciar a forma como duas pessoas interagem (Greenberg, 2004). No entanto, de forma a que estas diferenças não tenham um impacto negativo nas organizações, é importante que sejam criadas medidas que facilitem a comunicação, a adaptabilidade e a mudança, conceitos que são importantes na gestão de uma organização. A diversidade pode ter vários benefícios para as organizações. Quando uma organização abraça a diversidade da sua força de trabalho e implementa ferramentas para lidar com esta diversidade, a empresa ganha bastante, a diversos níveis. Em

“Esta gestão é um processo que é mais do que confirmar a existência de diferenças entre colaboradores, mas sim o reconhecimento dessas próprias diferenças, combater a discriminação e promover a inclusão entre vários grupos. ”

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a menos ações judiciais, mais oportunidades de marketing, recrutamento, criatividade e a melhorar a imagem da empresa (Esty et all, 1995). No entanto, apesar de todos estes benefícios, é importante ter em mente que existem desafios na gestão de uma força de trabalho diversa. Esta gestão é um processo que é mais do que confirmar a existência de diferenças entre colaboradores, mas sim o reconhecimento dessas próprias diferenças, combater a discriminação e promover a inclusão entre vários grupos. Para além disto, a comunicação, a resistência à mudança, a implementação de políticas de diversidade e a gestão da diversidade no local de trabalho são determinantes. Efetivamente num ambiente muito diverso existem barreiras culturais, linguísticas e percetuais que precisam ser ultrapassadas para os programas de diversidade terem sucesso. De outra forma, a comunicação que ocorre não é eficaz, o que poderá resultar em baixa motivação e trabalho de equipa ineficaz. É importante no entanto termos consciência de que apesar da mudança ser necessária para a evolução e sucesso de uma organização, haverão sempre colaboradores que resistem à realidade de que o ambiente social e cultural do local onde trabalham está a mudar mesmo que saibamos que este tipo de mentalidade atrasa o progresso e a implementação de novas ideias. Por todas estas razões, o desafio basilar, no meu

ponto de vista, pode pautar-se pela implementação de políticas de diversidade no local de trabalho. Concretamente, tendo em conta os resultados de avaliações dos colaboradores e dados bibliográficos, devem ser construídas e implementadas estratégias aplicadas ao contexto da organização de forma a maximizar os efeitos da diversidade no local de trabalho, de modo a poder utilizar os benefícios que esta dá à organização. Face a isto, após a implementação de políticas dedicadas à diversidade, é necessário a gestão com sucesso das mesmas. É importante que sejam criadas estratégias que criem uma cultura de diversidade de que seja visível em qualquer departamento ou evento da organização. Podemos então concluir que a diversidade nas organizações é a nova realidade. A economia está cada vez mais globalizada, e isso reflete-se na força de trabalho das empresas, por sua vez, o sucesso e a competitividade destas irá depender da forma como reagem e gerem a diversidade dos seus colaboradores. Como tal, ao criar um ambiente onde a diversidade seja valorizada, a organização terá colaboradores mais criativos, produtivos e motivados, o que a longo prazo será benéfico para os seus objetivos. Texto por: Patrícia Martins

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Rendimento Básico Incondicional

-Individual: atribuído e entregue a nível individual, a cada pessoa, e não ao agregado ou seu representante; -Universal: entregue a todos, sem burocracias (por exemplo, necessidade de prestação de comprovar necessidade), independentemente da idade, ascendência, local de residência, profissão, etc.;

O Rendimento Básico Incondicional (RBI) surge, atualmente, em várias propostas, com definições que diferem em alguns pontos. Apesar de a Basic Income Earth Network (BIEN)1 não se afiliar com nenhuma proposta em específico, na Assembleia Geral da BIEN, que se realizou a 9 de julho de 2016 em Seoul, a maioria dos membros presentes concordaram com uma descrição ampla. Define-se assim o RBI como estável em tamanho e frequência, e elevado o suficiente para, em conjunto com outras medidas sociais, ser parte de um planeamento estratégico para eliminar a pobreza material e permitir a participação social e cultural de todos os indivíduos. Salienta-se a sua oposição à substituição de serviços sociais, ou direitos, caso esta substituição piore a situação de pessoas em relativa desvantagem, vulnerabilidade ou baixo rendimento. Apesar das diferenças entre as várias definições, nomeadamente no que ao valor, fonte de financiamento, natureza e dimensão das reduções noutros apoios, por exemplo, a BIEN identifica cinco características essenciais1,2:

-Incondicional: entregue sem nenhum requerimento prévio, por exemplo obrigação em integrar um emprego pago ou envolvimento em serviço comunitário.

A BIEN cita múltiplas razões que podem ser evocadas em favor do RBI1, para nomear apenas algumas, a maior liberdade e igualdade, eficiência e sentimento de comunidade, propriedade comum do planeta Terra e partilha igual nos benefícios do progresso tecnológico, a flexibilização do mercado de trabalho e a luta contra condições de trabalho desumanas. Argumenta-se, também, que a incapacidade para encontrar soluções convencionais para o desemprego ao longo da última década tem contribuído para que o RBI seja tido em consideração por um número crescente de organizações e estudiosos. Nesta linha, a Economia e Politica Social não podem ser concebidas separadamente, sendo cada vez mais o RBI visto como a única forma de reconciliar os seus, respetivos, objetivos principais: emprego total e alivio da pobreza1.

-Periodicidade: ser pago/entregue em intervalos regulares, por exemplo mensalmente;

Texto por: João Mena

-Pagamentos em dinheiro: entregue num medium of

exchange (meio de troca) apropriado, por exemplo dinheiro, permitindo a quem o recebe a decisão de como, e onde, o gastar (não é, portanto, pago em géneros nem vouchers);

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Basic Income Earth Network. (s.d.). Basic Income Earth Network. Obtido de What is basic income?: http://basicincome.org/basic-income/ Rendimento Básico Incondicional Portugal. (s.d.). O que é. Obtido de Rendimento Básico: http://rendimentobasico.pt/

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