RUPortagem Nº4

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ISSN 108/2015

Julho 2016 | Edição nº4 | Distribuição Digital e Gratuita

Estágios de Verão em Psicologia



ÍNDICE

4 Ficha técnica 6 Saúde Mental da População Refugiada 8 Estágios de Verão em Psicologia 12 Vou ou não para Psicologia? 18 Vamos conhecer melhor o Psicodrama? 22 A importância da relação terapêutica: será que podemos ser a mudança que queremos ver nos outros? 26 3 anos de Psicologia 28 Congresso da EFPSA em Portugal

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FICHA TÉCNICA

Catarina Fernandes

Nadine Amaro

Maria João Fangaia

Adriana Bugalho

Ana Daniela Aleixo

Fernanda Filha

Nádia Costa

Nota Editorial Caros leitores, escrevo-vos pela última vez enquanto editora desta revista. Ao longo destes anos a minha preocupação foi trazer-vos temas interessantes, inovadores e actuais. Estou certa de que a RUPortagem continuará a surpreender-vos. Peço-vos portanto que nos continuem a acompanhar através da revista online e do website da RUP: www.rupsicologia.com.

Para mais informações ou sugestões podem contactar: editorial.rup@gmail.com

Em relação a esta RUPortagem Nº4, podem encontrar uma boa companhia para as tão aguardadas férias de Verão, longe dos exames e entregas de trabalhos. Boa leitura!

Designer, Nádia Carvalho

A Editora, Nádia Costa Coordenador de Design, Ruben Alves

Revisora, Sofia Costa

/// ISSN: 108/2015///Interdita a reprodução parcial ou total dos textos, fotografias ou ilustrações sobre quaisquer meios e para quaisquer fins sem previa autorização escrita da Administração da RUP/ANEP//// Editora: Nádia Costa ///// Administrador: Marco Fernandes ///// Director da Comissão de Revisão Cientifica: João Mena ///// Periodicidade: Trimestral ///// Produção: Organismo Autónomo Revista Universitária de Psicologia da Associação Nacional de Estudantes de Psicologia ///// Propriedade: Associação Nacional de Estudantes de Psicologia – ANEP ////// Associação Nacional de Estudantes de Psicologia - ANEP ///// Faculdade de Psicologia //////////Alameda da Universidade ///// 1649-013 Lisboa ///// Portugal /////// Revista Universitária de Psicologia da Associação Nacional de Estudantes de Psicologia - RUP/ANEP ///// 3000

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/////Elementos gráficos adquiridos no freepik, feitos pelo freepick, posteriormente alterados pelos nossos designers/////



Saúde Mental da População Refugiada Catarina Fernandes

Numa altura em que o acolhimento de refugiados se torna uma realidade cada vez mais próxima, compreender melhor as especificidades da saúde mental desta população revela-se premente.

Numa altura em que o acolhimento de refugiados se torna uma realidade cada vez mais próxima, compreender melhor as especificidades da saúde mental desta população revela-se premente. Este texto é uma pequena revisão de literatura, escrito com o objectivo de nos informar, futuros psicólogos, um pouco mais sobre as características da saúde mental dos indivíduos que se veêm obrigados a abandonar o seu país, a sua casa, a vida que conhecem e as suas famílias, para recomeçar num outro lugar. Segundo Basheti (2015) (que levou a cabo um estudo piloto, com 73 sírios a viver num campo de refugiados na Jordânia), 56% dos inquiridos reportam distress psicológico, 46% reconhecem a necessidade de apoio psicológico e 14,5% referem que frequentam sessões terapêuticas. Os “stressores” mais comuns nos refugiados são a pobreza e falta de satisfação de necessidades básicas, como ter alimentação e um abrigo, sendo que esta situação pode conduzir a um 6

aumento da tensão e violência dentro da família (Hassan, 2015). Outros “stressores” também comuns são o risco de violência e de exploração; o isolamento e discriminação; as situações de perda de familiares e amigos ou a incerteza quanto ao destino dos mesmos; a incerteza também quanto ao seu próprio futuro; a perda dos seus lares, da pátria e de identidade; e a adaptação à nova vida numa comunidade estrangeira (Hassan, 2015). De forma a lidar com estas situações de crise, os refugiados (Hassan, 2015) apresentam, no geral, estratégias de coping individuais e também “sociais”. Dentro das estratégias mais positivas, encontram-se: 1) oração (individual ou em grupo); 2) a procura da companhia de amigos e familiares; 3) o envolvimento em actividades sociais;


4) a frequência de escolas nos países de acolhimento; 5) a procura de apoio de uma pessoa de confiança; 6) ouvir música; 7) exprimir-se através de arte, como o desenho. Quanto às estratégias de coping mais negativas, consistem:

familiares que ficaram no país de origem; dificuldade em “seguir em frente” e fazer planos para o futuro, enquanto a família não estiver reunida (Wilmsen, 2013). A actual crise de refugiados é um flagelo a nível mundial, uma realidade cada vez mais próxima. Espero que este texto sirva como uma pequena ajuda para possíveis intervenções no campo da psicologia com esta população, que necessita de ajuda.

1) afastamento das outras pessoas; 2) deambular “sem fazer nada”, uma vez que percepcionam pouco controlo sobre a situação, achando que nada podem fazer para alterá-la; 3) condutas aditivas como fumar ou beber álcool; 4) ver notícias obsessivamente; 5) preocupação com a segurança e o bem-estar de familiares e amigos que permaneceram no país de origem. Embora a população refugiada apresente comportamentos de resiliência e grande parte se adapte às situações ansiogéncas, estima-se que entre 15% a 20% venham a sofrer de uma perturbação mental moderada ou ligeira (perturbação de stress pós-traumático, depressão e ansiedade) e entre 3% a 4% de uma perturbação severa, como o desenvolvimento de uma psicose, ou de estados de depressão e ansiedade mais graves (Hassan, 2015). Tendo em conta a preocupação acima referida, em relação aos familiares, é comum que, devido a guerra, conflito, instabilidade política e realojamento, os membros das famílias de refugiados se encontrem separados (Wilmsen, 2013). Esta separação conduz a efeitos psicológicos prejudiciais, tais como preocupação com a segurança da família que permaneceu no país de origem; insónias e pesadelos; falta de concentração, decorrente da preocupação com os familiares; sentimento de culpa e responsabilidade quanto à separação; saúde fragilizada (como consequência do estado depressivo em que se encontram devido à separação dos familiares); responsabilidade financeira no sentido de sacrificarem o seu bem-estar para apoiar monetariamente os

“estima-se que entre 15% a 20% venham a sofrer de uma perturbação mental moderada ou ligeira (perturbação de stress pós-traumático, depressão e ansiedade) e entre 3% a 4% de uma perturbação severa, como o desenvolvimento de uma psicose, ou de estados de depressão e ansiedade mais graves” Referências

Basheti, I.A., Qunaibi, E.A., & Malas, R. (2015). Psychological Impact of Life as Refugees: A Pilot Study on a Syrian Camp in Jordan. Tropical Journal Of Pharmaceutical Research, 14(9), 1695-1701; Hassan, G., Kirmayer, L.J., Mekki- Berrada A., Quosh, C., el Chammay, R., Deville-Stoetzel, J.B., Youssef, A., Jefee-Bahloul, H., Barkeel-Oteo, A., Coutts, A., Song, S. & Ventevogel, P. Culture, Context and the Mental Health and Psychosocial Wellbeing of Syrians: A Review for Mental Health and Psychosocial Support staff working with Syrians Affected by Armed Conflict. Geneva: UNHCR, 2015; Wilmsen, B. (2013). Family separation and the impacts on refugee settlement in Australia. Australian Journal Of Social Issues (Australian Social Policy Association), 48(2), 241-262.

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Estágios de Verão em Psicologia Nadine Amaro

Embora as estações do ano estejam cada vez mais estranhas, o Verão é usualmente sinónimo de férias, calor, praia, viagens e diversão! Ou seja, diversão rima com não a estudos, não a trabalho, não a preocupações.

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Embora as estações do ano estejam cada vez mais estranhas, o Verão é usualmente sinónimo de férias, calor, praia, viagens e diversão! Ou seja, diversão rima com não a estudos, não a trabalho, não a preocupações. Mas, e se quisesses fazer do teu Verão um Verão diferente, em que trocarias as havaianas e o fato de banho por uma roupa mais formal (depende!), a toalha de praia por alguns livros e relatórios e o protector solar passasse a ser uma defesa não face aos raios solares, mas sim um combate ao raios de desemprego que tanto assolam os jovens do nosso país após a conclusão do seu curso? A sugestão que te dou é que faças mais do teu Verão! Que te diferencies dos demais, que construas a tua marca (não a marca do fato de banho devida à exposição solar) no mercado de trabalho...que aumentes a tua rede de contactos, ganhes mais experiência, vivencies o que é estar inserido no meio profissional, lides com os seus desafios e, de preferência, que este estágio seja de algum modo remunerado. Aceitas o desafio de tentar ir à praia e sair com os amigos apenas aos fins de semana? Se sim, é chegada a altura de conheceres estágios de Verão...em Psicologia? Uma das primeiras perguntas que te deves colocar é se pretendes realizar esse estágio na tua área de formação ou noutra. Sair um pouco da zona de conforto ou, sair muito e ter um currículo de experiências diversificadas? Na área da Psicologia, infelizmente não existem muitas oportunidades em Portugal. Exemplos de empresas que aceitam são a Jerónimo Martins, através do seu programa Summer Internship (consulta a RUPortagem Nº3 para saberes mais), mas as candidaturas terminaram no fim de Março. A EDP também oferece essa possibilidade, selecionando “Origem da candidatura – Espontânea” e “Tipo de Candidatura – Estágio de Verão” em

“Trocarias as havaianas e o fato de banho por uma roupa mais formal (depende!), a toalha de praia por alguns livros e relatórios e o protector solar passasse a ser uma defesa não face aos raios solares, mas sim um combate ao raios de desemprego que tanto assolam os jovens do nosso país após a conclusão do seu curso? ”

A Universidade de Coimbra tem também um programa de estágios de Verão com várias empresas associadas, certificado, embora sem remuneração ou oferta de subsídios de transporte e alimentação. As candidaturas fecharam no início de Abril, mas numa próxima podes saber mais em

A Fundação da Juventude tem o PEJENE – Programa de Estágios de Jovens Estudantes do Ensino Superior nas Empresas, que decorrem de Julho a Setembro. As candidaturas para estudantes começaram a 12 de Abril, podendo cada estudante escolher no máximo quatro possibilidades de estágio, subdivididas em várias áreas como Psicologia Clínica, Psicologia Social e Psicologia dos Recursos Humanos. Existem oportunidades para todo o país, como “Associação de Pais e Amigos da Escola Básica do Pinheiral”, em Braga ou “GoExpand Consultoria Lda”, em Lisboa. O estagiário terá um tutor que o auxiliará e elaborará um relatório final de avaliação. Candidata-te em

http://www.uc.pt/academicos/insercao_profissio nal/estagios_verao

http://ms.fjuventude.pt/pejene2016/candidatur aestudantes.htm

https://www.edpessoa.internet.edp.pt/Cezannecv /RecruitmentWeb/CznCandidate.asp?FUNID=7 004516&ACTION=INSERT&LANGID=2070&W FID=&RESNME=

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O Novo Banco tem estágios de verão em várias vertentes, de modo a abarcar diversas áreas de formação. Para alunos de Psicologia, o indicado é o Programa Formação Diversificada, dirigido a pré-finalistas e finalistas de Licenciatura ou Mestrado. Tem a duração de um mês e confere uma bolsa de estágio. Vê mais aqui http://www.novobanco.pt/site/cms.aspx?labelid= estagiosbesup E se o teu estágio se realizasse além fronteiras? Por que não realizar um intercâmbio que te permite conhecer pessoa novas de uma outra cultura, practicar uma outra língua, trabalhar em moldes diferentes e ter férias simultaneamente? As possibilidades são várias:

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Global Talent – Estágios Profissionais, uma boa forma de iniciar a carreira e remunerado mensalmente; Programa Global Citizen – Estágios de Voluntariado, sendo que ao ser um trabalho relacionado com o desenvolvimento da sociedade e responsabilidade social através do trabalho com ONG (organizações não governamentais), têm especial ênfase para a nossa área de Psicologia (os apoios dados centram-se nas despesas de alojamento e alimentação) e Global Entrepreneurs – Estágios Empresariais, dedicado a pessoas de áreas como Marketing ou Gestão. Para poderes abraçar estes programas, clica “Sign Up” e “Apply Now” (podes candidatar-te a mais do que um estágio) https://opportunities.aiesec.org/

(1)“Summer Job”: experiência profissional com remuneração, alojamento e alimentação; (2)“Farm Stay”: experiência em quintas ou herdades com alojamento e alimentação; (3)“Internship”: estágios em empresas de todas as áreas profissionais; (4)“Volunteer”: integrar uma equipa de voluntários para proteger o ambiente, espécies em extinção ou ajudar os mais desfavorecidos; (5)“Au Pair”: viver com uma família local e cuidar das crianças, sendo que em troca recebe alojamento, alimentação e pocket money para viajar e divertirse nas folgas e férias. Podem realizarse um pouco por todo o mundo, na Europa, África, Ásia, América Latina ou América do Norte, com a duração de dois a seis meses. Para isso visita o site da VidaEdu

Podes criar o teu próprio projeto de intervenção e dispões de mais de 128 países à tua escolha. A União Europeia tem igualmente sempre vários concursos abertos, por isso está atento(a) à página

http://vidaedu.com/estagiosde verao

Se quiseres ficar por Portugal, consulta

Que te oferece apoio e acompanhamento durante todo o período de estágio, dado ter equipas locais no destino escolhido. É apenas necessário realizares a inscrição até 29 de Abril! A AIESEC é uma organização de estudantes universitários, referência na promoção de estágios internacionais, cujas características centrais são “a qualidade e flexibilidade”. Existem três tipos de programa de estágio: Programa

http://cdp.portodigital.pt/estagios/trabalhosdeverao

http://www.trabalharnauniaoeuropeia.eu/estagios Ainda podes saber de outras ofertas internacionais em http://www.fish4.co.uk/jobs/student/?referer=su mmerjobs4students.co.uk e/ou http://www.backdoorjobs.com/

Aventura-te!



Vou ou não para

Psicologia? Adriana Bugalho

Estás a pensar ingressar no curso de Psicologia mas não estás certo da tua decisão?

Estás a pensar ingressar no curso de Psicologia mas não estás certo da tua decisão? Tens visto filmes, lido livros que parecem interessantes e que te chamam a atenção para este mundo, para esta ciência tão fascinante que é a Psicologia? Então estás no caminho certo. A exploração de uma determinada área de interesse, usando todos os recursos disponíveis é a melhor estratégia para, não só conheceres melhor aquilo que queres (Psicologia!!) como para te conheceres a ti mesmo! Esta é uma rúbrica que esteve presente em edições anteriores e à qual pretendemos dar

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continuidade, apresentando-te filmes (guarda o tempo para depois leres as bíblias) que podem dar-te uma boa perspectiva das áreas de estudo da Psicologia. Não pretendemos dar-te todas as ferramentas ou mostrar-te todos os campos de estudo. A nossa opção passa por te apresentar opiniões e sugestões de algum “material” que outros colegas que frequentam a Licenciatura ou o Mestrado em Psicologia elegeram como importante, fomentando a tua capacidade exploratória e criativa.


Black Swan Um dos primeiros filmes de psicologia que vi foi o Cisne Negro - Black Swan. Este filme conta a história de uma jovem bailarina que vivia entre a pressão do mundo do espectáculo e a "prisão" em que a sua mãe a enclausurava. Elejo esse filme porque mostra que aquilo que vemos de fora nem sempre é tão linear como podemos pensar. Podemos olhar para uma mesma realidade de várias perspectivas. A psicologia é isso mesmo. Pôr-me no lugar do outro e tentar perceber a sua realidade. Para além disso, o final trágico mostra que se não fizermos nada relativamente aos nossos problemas, perdemos o controlo sobre eles. Recomendo este filme porque apesar de ser um pouco extremo já que, como disse, tem um final trágico, permite perceber que qualquer pessoa, seja familiar, seja amigo, pode encontrar-se no meio de uma situação patológica, uma vez que a rapariga do filme é uma rapariga como qualquer outra que tem os seus sonhos e procura atingi-los. Sara da Costa, Universidade de Évora, 3º Ano

K-Pax O filme conta-nos a história de um homem que diz ser de um planeta chamado K-Pax. Quando este chega a um hospital psiquiátrico, rapidamente consegue o carinho de todos os pacientes que lá se encontram, assim como, a especial atenção do psiquiatra que tenta perceber este homem que aparenta não ter qualquer tipo de perturbação. Eu recomendo o filme K-Pax, porque nos mostra uma perspetiva diferente da psicologia, pelos olhos de um paciente diferente de todos os outros. E é através da exploração, por parte do psiquiatra deste mesmo paciente, que começamos a perceber o mundo interno desta pessoa e as razões pelas quais ele reage da forma que reage às situações que enfrenta. É um filme que apesar do conteúdo psicológico um pouco pesado, é descrito e mostrado de uma forma leve e harmoniosa. Patrícia Teles, Universidade de Évora, 3º Ano

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A Beautiful Mind A Beautiful Mind é sem dúvida um dos melhores filmes que já vi e sem dúvida o melhor relacionado com a temática da Psicologia. Este retrata o esquizofrénico John Nash, um famoso matemático americano. Durante o seu desenvolvimento, as cenas incidem-se na fase mais psicótica de Nash, ou seja, a fase em que os episódios de esquizofrenia vão tomando características mais explícitas da sua doença como também graves, sendo algumas delas mesmo perigosas para si e para os que o rodeiam. Fica um pouco a dúvida sobre aspectos relacionados com a sua infância, uma incerteza sobre a manifestação de alguns dos possíveis sintomas ou não, contudo, o facto de o início desta história tomar um rumo evolutivo da doença torna-se um retrato vivo, de uma excepcionalidade tal que o actor interpreta uma perturbação deste nível. Para além do seu pico de episódios psicóticos, também “destapa” um pouco do processo de adaptação à medicação contando com os seus benefícios, mas com um número bem mais alargado de desvantagens, tendo este configurado um aspecto mais depressivo sob o efeito destas substâncias medicamentosas. De uma forma geral, este é um dos filmes que qualquer estudante de psicologia ou profissional deve ter na sua lista de filmes! É uma aproximação ao mais real possível de uma perturbação psicótica, de tal grandeza como a esquizofrenia, bem como a mensagem que transmite: apesar de se viver nas circunstâncias em que se vive, não é de todo impossível continuar a viver a vida apenas ignorando os que demais existem na nossa mente. John Nash foi a prova viva disso. “Não, não desapareceram. E talvez nunca o façam. Mas habituei-me a ignorá-los e penso que eles desistiram de mim (...) Temos de os alimentar para se manterem vivos (...) Pertencem ao meu passado. Todos somos perseguidos pelo passado.” Juliana Braulino, Universidade de Évora, 1º Ano de Mestrado em Psicologia Clínica

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Good Will Hunting O Bom Rebelde é um drama americano de 1997 que retrata a vida de Will, um rapaz de 20 anos, que embora nunca tenha frequentado uma Universidade a não ser para se encarregar da sua limpeza, é bastante inteligente, possuindo uma incrível memória fotográfica e uma especial habilidade com os números. Aconselho este filme porque mostra, entre outros aspectos, a forma como o meio de onde advimos nos condiciona, mas não define aquilo que podemos vir a ser futuramente. Apesar de ser órfão e de ser proveniente de um meio não facilitador e até mesmo dito problemático, onde tivera problemas com a lei por furto e agressão, Will consegue obter, pela primeira vez, na figura do terapeuta uma figura de apego seguro. Assim, este filme representa também a forma como a relação entre paciente e terapeuta consegue “desbloquear” certos aspectos na vida das pessoas que causam sofrimento ou entraves a um desenvolvimento dito saudável e feliz. É especialmente interessante conhecer Will, um jovem inicialmente impulsivo, agressivo na relação com o outro, de baixa autoestima, e com alguns traços de uma personalidade Borderline, com grande instabilidade na vida amorosa e íntima, que só quando conheceu Sean, foi capaz de prosseguir com a sua relação com Skylar. Margarida Piteira, Universidade de Évora, 2º Ano de Mestrado em Psicologia Clínica

Memento O filme fala sobre um homem que perdeu a capacidade de reter a informação adquirida no dia-a-dia, fazendo com que a memória a curto prazo não exista. Essa perda derivou da noite traumática em que ele perdeu a mulher. O que o move é encontrar quem matou a mulher, pois ele crê que só aí encontrará paz. Para saber em quem confiar, onde está alojado, qual o seu carro e etc., ele tira fotos com uma máquina instantânea e legenda-as. Relativamente aos factos sobre o assassino da mulher, ele grava-os no corpo, tatuados. Recomendo o filme porque gostei de ver, está de facto interessante a maneira como uma pessoa que perde a capacidade de memória a curto prazo, consegue ter um objectivo tão difícil de alcançar e mesmo assim é bem sucedido, apesar de todas as dificuldades que se impuseram no seu caminho. Sara, B., Universidade de Évora, 1º Ano de Licenciatura

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Girl, Interrupted O filme relata a história de uma rapariga que, pelos comportamentos que leva chama a atenção dos pais e é internada num hospital psiquiátrico. Após uma consulta com um psiquiatra, que meses antes a tinha visto, é diagnosticada com uma perturbação borderline, alterando por completo a sua vida. Já no hospital, conhece entre outros pacientes uma sociopata que organiza uma fuga da instituição com o intuito de conseguirem retomar as suas vidas longe daquele ambiente. O filme aborda vários temas importantes para o conhecimento da sociedade em geral e do funcionamento psicológico do indivíduo, como é o caso de problemas relacionados com a droga (visto como escape para a dor psicológica), a perturbação borderline (uma perturbação caracterizada por um self instável e difuso, com falta de limites, em busca constante pelo amor do objecto com vista à agregação dos aspectos “não integrados” da mente), ou mesmo a problemática do suicídio. Pela riqueza das personagens e do argumento, do ponto de vista da psicologia, é um filme que recomendo a todos os interessados em desvendar os aspectos internos do funcionamento humano. Ana Simões, Universidade de Évora, 3º Ano

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Vamos conhecer melhor

o Psicodrama? Fernanda Filha

Psicodrama é um tipo de terapia que se tem tornado cada vez mais conhecido e utilizado. Não vou entrar em muitos detalhes porque o entrevistado vai responder às questões que talvez sejam as que nos ocorrem quando pensamos em Psicodrama.

Psicodrama é um tipo de terapia que se tem tornado cada vez mais conhecido e utilizado. Não vou entrar em muitos detalhes porque o entrevistado vai responder às questões que talvez sejam as que nos ocorrem quando pensamos em Psicodrama. O professor António José Gonzalez é docente no ISPA desde 1994, onde lecciona disciplinas ligadas à História da Psicologia, Psicodrama, Expressão Dramática, dirige teses de Mestrado e Doutoramento e orienta estágios. Membro do Centro Cultural Aziz ab’Saber dirige grupos de

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psicodrama, tem formação em psicodrama moreniano e também em psicodrama psicanalítico, sendo membro dos corpos gerentes da Sociedade Portuguesa de Psicodrama desde 2006. É membro didata dessa sociedade. É membro do Comité de Investigação da FEPTO. Investigador na área da saúde e em particular do psicodrama e das ligações entre as áreas expressivas e a saúde. Fundou e coordena a Pós-Graduação em Desenvolvimento pelas Artes Expressivas, no ISPA – IU. Fundou e coordena o dISPArteatro, grupo de teatro do ISPA,


colaborando como produtor, formador, performer e encenador. Com este grupo, tem trabalhado com crianças, jovens e adultos em hospitais, escolas, projectos educativos especiais, com trabalhos interactivos na área do teatro do improviso, do teatro fórum e do teatro do oprimido. Produziu diversas peças e intervenções, algumas das quais encenou / dirigiu. Colaborou com o Grupo de Teatro Terapêutico do Hospital Júlio de Matos. Esteve na recente génese do GIRARTE, grupo de artes dos utentes do GIRA (Grupo de Intervenção e Reabilitação Activa), vocacionado para o trabalho com adultos com experiências de institucionalização psiquiátrica e ainda colaborou com os palhaços da Operação Nariz Vermelho.

O que é o Psicodrama? Responder a uma pergunta tão simples, para mim, logo à partida coloca - me perante o desafio de cumprir o que Moreno (o pai do psicodrama) dizia, que é não optar pela conserva cultural , ou seja, não optar pelas definições que estão no dicionário, pronto, tentar ser adequado, espontâneo, responder o que é o psicodrama mas sem recorrer a nenhuma fórmula, a nenhuma definição muito batida. O psicodrama é um formato psicoterapêutico que acontece em grupo onde o lugar da expressão corporal, do imaginário e da fantasia estão em destaque e onde, com métodos menos convencionais do que as terapias baseadas no discurso, se tenta transformar o mundo interno das pessoas. Na minha tentativa de não ir às conservas culturais, acabei por dar uma definição demasiada longa, portanto vou tentar responder de novo à tua pergunta. O que é o psicodrama? Uma arte terapêutica nascida no teatro e nascida do desafio de ir para além da convenção de que a psicoterapia se faz apenas numa conversa entre duas pessoas. São muito conhecidas as relações históricas do psicodrama com a psicanálise, do Moreno com o Freud, são conhecidas as relações íntimas entre os dois mas eu gosto de lembrar de que do outro lado do psicodrama estão também, na minha opinião, as artes e as terapias expressivas, as artes e as terapias que usam recursos artísticos para auxiliar a pessoa a conhecer-se melhor. Última nota antes de passarmos à tua segunda pergunta, pessoalmente sendo responsável não só por uma disciplina de psicodrama no ISPA como também por uma disciplina de opção de expressão dramática (na qual tu és aluna), acho extremamente valioso para

todos os estudantes de psicologia terem um lugar no seu currículo onde o corpo é fonte de conhecimento, de auto-conhecimento, de descoberta e de pesquisa. Eu não vejo porquê que o corpo não tem mais espaço nos currículos de psicologia e sei por experiência própria, seja como paciente, cliente, seja como terapeuta, que ter essa informação é uma mais valia , portanto acho que o psicodrama se inscreve muito bem perto da linhagem das psicoterapias corporais, das psicoterapias expressivas, sem perder as vantagens das terapias mais narrativas, mais baseadas na oralidade. Portanto, se conseguirmos buscar os benefícios desses dois mundos acho que é uma mais valia para todos. Como terapia, quais são os pontos fortes do psicodrama? Vamos começar por um muito evidente, resgatar uma energia que muitas vezes na nossa vida adulta está perdida, que é a energia tão presente nas crianças, que é o potencial que a imaginação e a fantasia têm. O adulto parece que se vai afastando desse potencial, desse potencial criador, no sentido de dar novas respostas a velhos problemas... O culto da espontaneidade, o culto do retirar as barreiras que permitem que a pessoa possa exprimir, pôr cá fora, impulsos, vontades, desejos, sendo que o espaço dramático, o contexto dramático, a dramatização, lhe permitem experienciar múltiplas possibilidades à volta de uma mesma situação sem ter que pagar o preço que na vida do dia-a-dia, quotidiana, que nós chamamos o contexto social , de facto nos é cobrado quando uma tentativa de resolver um

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problema corre mal, eu sei lá, fomos demasiado agressivos ao nos dirigirmos a alguém, ou pouco assertivos, ou demasiado sedutores, o que seja. O psicodrama é como se nos desse uma possibilidade de andarmos para trás e para a frente, filmarmos uma vez o filme e fazer um take 2 e um take 3 e até de usar actores duplos para fazerem de nós e vermos de fora, esse, claramente, é um potencial. “Como se”, dizia o Moreno, “as if”, usar o espaço dramático, o tapete do psicodrama para brincar como as crianças e imaginar então “...e se eu tivesse essa capacidade extraordinária de interacção, extraordinária de coragem, extraordinária de inteligência?”, muitas vezes as pessoas descobrem nesse jogo que têm mesmo. É muito típico no psicodrama, no fim das dramatizações, as pessoas dizerem: “ AH, eu consigo fazer isso aqui mas no mundo real...” e a minha pergunta é sempre “Mas o que é que há de irreal no que acabámos de fazer?”. Certo, há o estar protegido, mas há de facto a aptidão, a competência está lá, se a pessoa conseguiu demonstrar aqui, agora trata-se de criar as condições para que este (e usando um pouco a teoria do psicodrama, a teoria do papel), papel pouco desenvolvido, como tal pouco praticado na vida quotidiana, possa vir a ser mais praticado, portanto, potenciando a criatividade, a imaginação , de podermos, como Moreno dizia, recriar as nossas vidas e brincar a ser Deus, jogar o papel de Deus, aquele que consegue brincar com o tempo, brincar com o espaço, criar, ser o criador último ou primeiro, se preferirmos. E ainda a utilização do corpo como fonte de informação e como fonte de transformação, lugar à criatividade e à espontaneidade, a componente grupal, sem dúvida absolutamente nenhuma, como outras terapias grupais, isso não é exclusivo do psicodrama, quando um bom grupo, coeso, trabalha , chega uma determinada altura em que, depois de uma determinada história do desenvolvimento do grupo, em que tens a sensação que o grupo podia quase trabalhar sem o terapeuta, as pessoas gostam umas das outras, responsabilizam-se umas pelas outras, ajudam-se umas às outras e isto, para além da valência directa que tem, que estamos a ajudar outras pessoas, essas pessoas estão a beneficiar dessa ajuda mas de repente percebemos que também nós temos potencial de sermos cuidadores, de sermos “terapeutas” de alguma forma, e isso é uma mais valia na nossa auto-estima, na crença nas nossas capacidades pessoais. Outra mais valia do psicodrama (para além da utilização do corpo, a imaginação, o outro, o grupo), é que é uma forma privilegiada de descobrir motivações, pulsões, desejos, medos que no nosso quotidiano estão escondidos em nós próprios. Às vezes somos completamente surpreendidos porque ao trazer para o tapete do psicodrama algo de que falamos no aquecimento, narramos no aquecimento, de repente os outros

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vêem coisas e devolvem coisas que nós não víamos, simplicíssimas, são factuais. “Informo-te que acabei de te ver durante a dramatização a fazer isto”, e tu ficas “Não, eu não fiz isso!”, e toda gente confirma “sim, tu fizeste isso”, e se a “isso” corresponde um padrão, corresponde uma resposta inconsciente, não-verbal, que tu deste, que tu passaste, um comportamento que tiveste, isto pode-nos surpreender, naquela arena onde de alguma forma, estão olhos de todos os lados a ver - isto por um lado pode parecer muito inibidor para algumas pessoas mas depois posso buscar também os benefícios de ter tantas perspectivas tantas pessoas diferentes a olharem para uma situação problemática de uma delas, pode ser uma grande, grande frescura, no bom sentido da palavra.

Porque escolheu especializar-se em Psicodrama? Foi uma escolha bastante natural, ainda durante o meu curso, como aliás a maior parte, penso eu, dos estudantes psis, resolvi fazer psicoterapia e em Coimbra, nas Faculdades de Psicologia e de Medicina, naquela altura, houve várias iniciativas de divulgação do psicodrama. Assisti a uma primeira, mas naquela altura as minhas competências sociais deixavam muito a desejar (...) e fiquei com uma opinião não muito favorável , parece-me tudo aquilo muito espectacular e demasiada intimidade partilhada ali com aquelas pessoas que não conhecia de lado nenhum. Entretanto e para combater precisamente essas minhas dificuldades de relacionamento social, comecei a fazer teatro universitário, no CITAC. E talvez como muitas outras pessoas que começaram a fazer teatro, não foi porque achámos que iríamos ser belos actores, mas por treino de competências. Descobri que havia ali um potencial extraordinário de aprendizagem sobre mim próprio e quando resolvi, no meu 5º ano de curso, começar terapia, o psicodrama foi a escolha evidente. Nesse momento (1992, penso) havia um grande psicodramatista a trabalhar em Coimbra (havia mais do que um, por acaso, só anos mais tarde vim a conhecer o José Luis Pio Abreu e a saber que havia toda uma comunidade de psicodramatistas a crescer, nos anos 90, na cidade), e comecei a fazer psicodrama com o Prof. Carlos Amaral Dias. Depois saí de Coimbra, ingressei noutro grupo em Lisboa, comecei a minha formação teórica em psicodrama mais tarde. Quando estava em Espanha abriu um curso de psicodrama psicoanalítico na cidade onde estava a estudar, fiz este curso de 3 anos e quando voltei a Portugal quis fazer o psicodrama Moreniano cá e desde aí, naturalmente, fiquei vinculado à Sociedade Portuguesa de Psicodrama, à qual pertenço até hoje. Comecei a minha prática como psicodramatista, sempre mantendo também a minha ligação ao teatro e à expressão dramática e tendo desenvolvido ligações à área das artes expressivas.


Houve algo que se tenha passado nas sessões em que participou ou dirigiu que o tenham marcado? Tanta coisa...Eu sei que é muito cliché, mas quase em todas as sessões acontecem coisas especiais... Para não ir mais longe, ontem à noite a minha colega terapeuta também no grupo que estou, na devolução, na parte das partilhas, no fim, dizia qualquer coisa como “Na minha vida passo a maior parte dos dias profissionais com pessoas, passo o dia acompanhada de pessoas em contexto terapêutico. Mas há qualquer coisa neste grupo de pessoas muito especial”. Nós tínhamos acabado de fazer uma dramatização, baseados num tema que uma das pessoas do grupo trouxe. Tínhamos acabado de fazer uma dramatização onde, de facto, ninguém estava a fazer papel nenhum. Apesar de estarem no tapete, com as “cadeiras abertas” (são um símbolo no psicodrama, equivalente às cortinas abertas do teatro), os participantes estavam a ser eles próprios, a interagir com os outros reais que ali estavam e isto alguns podem dizer, “então espera aí, isso se calhar não é bem psicodrama!” e eu diria: isto talvez seja um grupo maduro, com muito percurso feito, com muito caminho feito em que as pessoas se vão conhecendo semana após semana, se vão ouvindo, vão se respeitando e chegam a uma altura onde é possível, com um mínimo de barreiras possível, dizerem ao outros aquilo que corresponde ao que Moreno chamava Tele, é ver-te como realmente és e permito-me partilhar contigo como eu realmente te vejo e aceitar o que o outro diz, seja um elogio, seja uma crítica, seja um defeito e criar um ambiente desses, onde se dá o que Moreno e outros filósofos do encontro como Buber chamavam o “verdadeiro encontro”. Por pequeno, ou simples, que possa parecer, é das coisas mais profundas e mais transformadoras que podem existir, quando duas pessoas verdadeiramente se encontram, se olham nos olhos, se vêem, se aceitam, se permitem contactar com a emoção do encontro. Aí, estamos a testemunhar algo de especial. Portanto este encontro, que não acontece quotidianamente, nem em todas as sessões de psicodrama, quando acontecem sente-se, cheira-se, vê-se que está algo ali a acontecer, algo que pode ser transformador. Outro momento especial...Sou investigador também, é muito bonito contactar com a visão que os participantes têm e dão através de alguns instrumentos de recolha de dados, em que se lhes pergunta “como foi para si esta sessão?”, é incrível ver que estivemos no mesmo espaço e às vezes aquelas pessoas aprendem coisas que não foste tu que disseste, que nem te apercebeste, e que há todo um mundo potencial de aprendizagem ali presente, disponível, quando de facto se consegue criar este ambiente de aceitação, de exploração, no sentido de explorarmos os nossos mundos íntimos... Enfim, depois poderia, de cada pessoa com quem trabalhei, sempre destacar um

momento especial, uns mais espetaculares, outros mais contidos, mas acho que, enfim, estes dois... Posso dizer mais uma coisa, gosto sempre, sempre, sempre - é uma técnica que não é assim muito utilizada - de ser surpreendido quando fazemos dramatização de sonhos, é um momento que gosto muito de ser testemunha. Alguém oferece um sonho e o grupo oferece a possibilidade desse sonho ser dramatizado. Sendo que podemos partir dos conteúdos manifestos naquele sonho e sair do mundo ... baseados neles, criar um fim diferente para o sonho, imaginar outros sonhos a partir daquele.

Onde nos podemos dirigir se quisermos fazer formação em psicodrama? Que eu conheça em Portugal há duas sociedades de formação de psicodramatistas, penso que já houve três mas neste momento estão activas duas. A Sociedade Portuguesa de Psicodrama, à qual eu pertenço, e a Sociedade Portuguesa de Psicodrama Psicanalítico de Grupo. Estas duas sociedades estão em íntima colaboração hoje em dia. E nos sites dessas duas sociedades podem encontrar-se os grupos, a maior parte dos grupos activos dirigidos pelos sócios dessas mesmas sociedades em Portugal, sendo que dois deles funcionam aqui no ISPA, na Clínica de Psicologia (temos neste momento a funcionar dois grupos de psicodrama) mas há em Lisboa, Porto, Coimbra, Faro, Aveiro... em muitas cidades do país estão a funcionar grupos de psicodrama si. E pode começar uma viagem para mais dentro de si. Deixo o convite. E agradeço a entrevista.

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A importância da relação terapêutica: será que podemos ser a mudança que queremos ver nos outros? Maria João Fangaia

“Estou cada vez mais convencido de que nós descobriremos leis para a personalidade e para o comportamento humano que serão tão importantes para o progresso humano ou para a compreensão do homem como a lei da gravidade ou as leis da termodinâmica.” Carl Rogers

Não podemos conceber a criação de leis para o comportamento humano e personalidade tão concretas ou linearmente e facilmente aplicáveis como as da gravidade ou termodinâmica. Caso isso acontecesse, não sei se seria bom ou mau sinal. Numa realidade paralela onde fosse sempre compreensível a complexidade do comportamento, cognições , emoções humanas pela aplicação de uma lei, ou seria tudo muito preto e branco ou os terapeutas tinham desenvolvido super-poderes. A verdade é que as ciências humanas, nomeadamente a psicologia,

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são abstractas, não se trata de uma série de medições, aplicações de fórmulas e ajustes, ou sequer de debitar pura e simplesmente o que uma licenciatura e um mestrado em qualquer das abordagens clínicas nos ensinam. Cada vez mais, chego à conclusão que é necessário mais do que a experiência de campo do estágio de fim de mestrado para desenvolver o toque certo, o tom certo, a postura correcta, saber lidar com coisas simples como silêncios inesperados, choros, ataques de raiva e afins que podem surgir dentro de um consultório, sem aviso prévio. Felizmente,


por vezes, temos a sorte de ter professores que nos ensinam os “truques”, até fazemos aqueles role plays que ajudam, resolvemos casos práticos, e se tivermos coragem, tempo e determinação procuramos esse contacto real fora do contexto das aulas, seja através de voluntariados ou afins. Por um lado, são tarefas como estas que nos vão dotando destas qualidades para sermos bem-sucedidos na prática. Por outro é saber como, para além de saber as teorias, saber o que fazer na perturbação x, y ou z, saber que o papel de ser terapeuta de alguém é saber como ajudar essa pessoa com toda a calma e tempo que esse processo requerer, é respeitar os timings, é mesmo sabendo que temos perante nós alguém que não quer estar ali, que não vê a utilidade daquilo, saber criar um laço, saber criar empatia com a pessoa, e fazer com que ela queira voltar na próxima sessão, com a pequena dúvida ou desconfiança positiva de que aquilo até pode servir para algo, ou pelo menos mal não fará. Parte de coisas como a “disposição relativamente estável, avaliativa, que faz uma pessoa pensar, sentir ou comportar-se, positiva ou negativamente em relação a determinada pessoa, grupo ou problema social” – as atitudes, a linguagem verbal e não verbal, entre outras coisas, tudo o que fica dito ou se demonstra, por pouco que seja tem efeito, ou pode ter. Não podemos criar uma falsa imagem de aceitação, de interesse ou simpatia. Tentar manter uma atitude fechada, agir de uma dada maneira superficial quando por baixo se está a passar por uma experiência completamente diferente. A imagem cliché que muitas pessoas têm de um psicólogo como alguém sentado num cadeirão ou atrás de uma secretária com a mão a apoiar a cara numa posição pensativa ou mesmo de julgamento, é um retrato um pouco ingrato. Não nos podemos também entregar à emocionalidade total de embarcar no que o paciente diz ou demonstra, ficando muito afectados, sofrendo ali mais que ele.

nós mesmos, aprendemos a interpretar que a pessoa x nos provoca as emoções a, b e c, e que há algo que nos deixa mais afastados da pessoa y. É preciso compreender isso, saber o porquê disso. O que há em nós, na nossa história e experiência de vida? Que crenças estão no meio da criação de uma boa relação terapêutica? Quais contribuem para ela? Podemos sempre ver algo de bom, admirável em toda a gente?

“Temos de encontrar o equilíbrio, a atitude receptiva de quem quer genuinamente saber sobre o que o paciente fala, as pequenas palavras-chave que, parecendo que não, ajudam à abertura e ao fortalecimento de uma colaboração terapeuta- cliente”

Temos de encontrar o equilíbrio, a atitude receptiva de quem quer genuinamente saber sobre o que o paciente fala, as pequenas palavras-chave que, parecendo que não, ajudam à abertura e ao fortalecimento de uma colaboração terapeuta- cliente. Afinal, se não houver uma genuína relação entre os dois, não há o clique, a abertura para poder haver cooperação com vista a melhorar aquilo que o paciente deseja e/ou precisa. É como criar uma equipa que luta pelo mesmo. Há mais eficácia quando nos ouvimos a

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Efectivamente pode estar aí a chave para uma parte do processo. Todos somos humanos, não há um racional a aplicar magicamente, como ter a vida ideal, mas sim um processo de aprendizagem e evolução para nos tornarmos cada vez mais próximos daquilo que desejamos ser. É necessário criar uma relação real. Ouvir o que a pessoa nos diz, aquilo em que acredita, sem julgar, mas com distância suficiente para ir criando o seu caso clínico, objectivamente, com a sua história, o que nos conta, o que desconfiamos e queremos confirmar, as hipóteses, aquilo que nos permite criar um guião para a intervenção, adaptada à pessoa que ali está, sendo que o podemos reformular a cada sessão. Afinal as pessoas não são as variáveis de uma equação, e esta equação será sempre mutável, mesmo em consequência do processo terapêutico que se começa a criar e a evoluir. É essencial sabermos que as pessoas não reagem às coisas em si, mas à visão que delas têm. Não são os factos mas as interpretações pessoais. Há algo na sua história que as levou a serem o que são, aconteceu-lhe algo negativo, em maior ou menor grau e número e não houve suporte, factores protectores fortes o suficiente para fazer com que aquilo não abalasse as suas crenças sobre si e sobre o mundo. Houve uma falha que mudou a visão que tinha das coisas e que exigiu novas maneiras de lidar com elas. Os seus comportamentos (ou a maioria deles) foram adaptativos para si em algum momento, mas já não o são no momento actual. É preciso corrigir as distorções no processamento de informação que foram criadas por este evento negativo, as crenças desadaptativas que orientam tudo, os comportamentos e emoções negativas. E dotar a pessoa de competências para que a sua vida seja melhor ou que pelo menos vá no sentido daquilo que deseja alcançar, explicando-lhe tudo isto para que compreenda, para lhe fazer sentido e para que embarque no processo de mudança. Às vezes, isto pode ou não ser fácil, pode ou não haver consciência das coisas, podem ser problemas mais ou menos intrínsecos à sua estrutura de personalidade, mais ou menos egossintónicos, o que é essencial de aferir em cada caso e intervir a esse nível.

Ainda asssim, podemos sempre descobrir um traço, uma qualidade nestas pessoas, mesmo quando pessoalmente temos tendência a julgar ou avaliar os seus actos como negativos, é importante termos a visão de que as pessoas, mesmo quando se tratam de criminosos ou cometeram actos moralmente condenáveis, elas não são o acto que cometeram, são uma pessoa que teve o infortúnio de ter seguido esse caminho na sua vida, mas que pode mudar e refazer a sua vida com a nossa ajuda. Claro está que quando as nossas barreiras pessoais não nos permitem fazer isto, quando aquele tema mexe mais connosco por isto ou aquilo, quando não conseguimos fazer a ligação desejada com a pessoa, eticamente devemos reencaminhar para outro terapeuta que o possa fazer melhor do que nesse caso, nós seriamos capazes de fazer. Então mas e quando a pessoa não quer mudar? E se achar que não há problema algum? Quando ele está tão enraizado, que não o vê? Por outro lado, o que fazer quando estamos perante pessoas que cometeram actos pelos quais foram judicialmente condenadas e acham que são alvo de injustiças mesmo quando todas as provas apontam para o contrário? A chave parece estar na diminuição da resistência e aumento da motivação, como alguns autores cognitivo-comportamentais defendem. As experiencias não estão cristalizadas, se não houve experiências positivas, podemos contribuir para que o indivíduo aprenda a procurá-las, a estar receptivo as possibilidades e a criá-las. Afinal, somos nós que agimos sobre o mundo e não apenas ele sobre nós, temos poder para mudar, apenas é preciso querê-lo verdadeiramente. Há regras, tem de haver. Não é “psicoterapia de cabeleireiro”. Mas não há uma receita com todos as gramas necessários de aceitação, interesse, sorrisos , etc. E é importante salientar ainda a ideia do consciente colectivo sobre a psicologia e o acto de

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fazer psicoterapia , que ainda são pouco conhecidos pela sociedade. Não serve só para desabafar, não serve só para quando se pensa que chegou “ao fundo do poço”, quando achamos que não somos compreendidos por mais ninguém. A psicoterapia pode ser um pouco como o exercício físico, e o psicólogo de certo modo, e sob uma visão simplista, como um personal trainner com o qual devemos colaborar, criar uma equipa, estabelecer metas, cumprir cada uma, mesmo que custe, e não desistir até alcançar os objectivos. Afinal a motivação não é apenas um ingrediente necessário na batalha para o corpo perfeito mas para a mente mais sã possível. Já pensaram em melhorar a vossa saúde mental? Sentem-se em forma? Como futuros terapeutas, é importante pensar que não podemos facilmente mudar as pessoas, mas sim começar por ser a mudança que desejamos ver nelas e com elas criar essa mesma mudança.

“A psicoterapia pode ser um pouco como o exercício físico, e o psicólogo de certo modo, e sob uma visão simplista, como um personal trainner com o qual devemos colaborar, criar uma equipa, estabelecer metas, cumprir cada uma, mesmo que custe, e não desistir até alcançar os objectivos”

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3 anos de Psicologia Ana Daniela Aleixo

E agora? É esta a pergunta que muitos dos estudantes de psicologia fazem no final do 1º ciclo de estudos

A transição da licenciatura para o mestrado pode ser inquietante para muitos, surgindo muitas dúvidas na cabeça dos formandos, nesta que é uma fase crucial na formação de futuros psicólogos.

profissão que escolhi, mas descobrir dia após dia a vida, o que me rodeia e o meu “self “. É não só uma aprendizagem constante, mas inclusive um crescente refinar de sentido crítico sobre o mundo.

O 2º ciclo de estudos representa uma etapa onde os estudantes se especializam e acumulam aprendizagem numa de três áreas gerais – Psicologia Clínica e da Saúde, Psicologia da Educação e Psicologia das Organizações e do Trabalho. No entanto, estas áreas podem variar de faculdade para faculdade onde são leccionadas.

Se estás no começo desta caminhada, aconselho-te a tirar proveito de todas as aprendizagens e momentos que a faculdade te proporciona para que seja mais fácil escolher no fim da licenciatura.

Se estás com dúvidas, quero dizer-te que é totalmente normal e não te deves preocupar em demasia, mas apenas explorar as diversas oportunidades que tens para apurar qual a melhor área para ti. De facto, no início parece ser um percurso interminável, mas tenho uma novidade para ti: passa mais rápido do que imaginas! Para mim, estudar psicologia representa não só a

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Hugo Araújo que frequenta o 2º ano do Mestrado Integrado em Psicologia da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade do Porto, refere-se à sua área de formação com uma grande nostalgia, apesar de reconhecer que ainda está no início de uma grande aventura. Quando o abordei acerca da sua experiência, bem como as motivações inerentes à escolha do curso foi bastante perentório.


“É engraçado verificar que, não na generalidade, todavia em número considerável, uma das principais motivações quanto à escolha do curso é o desejo de autoconhecimento. Pessoalmente, essa foi uma das razões. E na interacção com colegas confirma-se a transversalidade desta motivação. De facto, é uma razão tão nobre como qualquer outra, porém não deve ser um fim em si mesma. Facilmente se infere que “a ciência que estuda o comportamento humano e a vida mental” é a escolha ideal para nos compreendermos sem ter de partilhar as nossas fraquezas e incoerências como homens a um qualquer profissional de saúde. Contudo, deve fermentar no âmago do ser a vontade de ajudar, muito particularmente em questões relativas ao foro psicológico. Portanto, mesmo que habite em nós a urgência do conhecimento pessoal, é imprescindível vir condimentada com uma dose equilibrada de altruísmo e preocupação com o outro; junta-se o útil ao agradável! Durante o período de licenciatura houve, para mim, um contínuo desmistificar de muitos mitos concebidos na ignorância de quem é alheio à disciplina. De entre vários, o mais importante mito estilhaçado na parede da verdade, foi o de que há seres humanos perfeitamente ajustados. Não há. Nunca houve. Duvido que seja possível haver. E, consequentemente, desta constatação advém outra que se opõe a um mito que, com muito pesar da minha parte, ainda é tomado como verdade irrefutável por parte de uma grande quantidade de pessoas: a ideia de que o psicólogo é para malucos. Só vai ao psicólogo quem não está bem da cabeça. E, por vezes, há uma enorme relutância por parte de muitos quanto a irem a um psicólogo por temerem uma abordagem menos afável por terceiros. Convém frisar que esta assunção vem sendo posta em causa por um número cada vez maior de pessoas devido, principalmente, ao nível médio de instrucção da sociedade. Contudo, é ainda gritante o número de pessoas a favor deste mito. Assim, uma das maiores aprendizagens que realizei neste caminho que ainda trilho, é a de que todos nós temos as nossas psicoses e neuroses. O psicólogo não é um iluminado que alcançou a perfeição terrena e que realiza tudo de forma racional e pensada. Parafraseando um professor que tive em dias, a prática da psicologia é isto: um ser humano imperfeito que procura ajudar outro ser humano imperfeito. Conclui-se então que o período de licenciatura é um tempo em que tomamos verdadeira consciência de quais as matérias com que realmente lidamos e, não menos importante, se de facto é isto que queremos.”

Estando eu a acabar a licenciatura em psicologia concordo em absoluto com o meu entrevistado. E mais uma novidade: a aprendizagem não acaba aqui. A única maneira de conseguirmos ser bons profissionais em psicologia, como em qualquer outra área, é fomentarmos a curiosidade genuína acerca do outro, na preocupação com o bem-estar do outro, nunca nos esquecendo de nós próprios. Qualquer que seja a área escolhida por ti, está consciente que a aprendizagem continuará e independentemente da maior ou menor expectativa de empregabilidade o importante é vivermos daquilo que mais gostamos!

“A única maneira de conseguirmos ser bons profissionais em psicologia, como em qualquer outra área, é fomentarmos a curiosidade genuína acerca do outro, na preocupação com o bem-estar do outro, nunca nos esquecendo de nós próprios” 27


Congresso da EFPSA em Portugal Nádia Costa

Este ano Portugal foi o país anfitrião e não desiludiu!

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Decorreu entre os dias 1 e 8 de Maio o 30º Congresso da EFPSA. Este ano Portugal foi o país anfitrião e não desiludiu. Há dois anos que uma equipa de aproximadamente 30 pessoas está a organizar este evento. Escolheram um hotel fantástico no Vimeiro (Torres Vedras) para ser o palco de todos os acontecimentos.

“Tem como missão desenvolver eventos para todos os estudantes de psicologia, nos quatro cantos da Europa, tal como contribuir para a sociedade e promover a psicologia”

Espera…Não sabes o que é a EFPSA? Já podias ter perguntado! A EFPSA é nada mais, nada menos, que a Associação de Federações Europeias de Estudantes de Psicologia. Tem como missão desenvolver eventos para todos os estudantes de psicologia, nos quatro cantos da Europa, tal como contribuir para a sociedade e promover a psicologia. A interacção e a partilha de experiências e culturas são uma constante. Sabias que a EFPSA foi estabelecida em Portugal, no seu primeiro congresso que se realizou em 1987? Fica a saber ainda que temos a tradição de ter estudantes portugueses na direcção. O congresso de que falamos hoje é apenas um dos seis eventos anuais. Podes saber mais sobre o trabalho da EFPSA em: www.efpsa.org ou www.facebook.com/EFPSA Mas voltando ao congresso…400 participantes de 33 países, uma semana, programa social, programa cultural, piscina, mar, sol, boa comida, muitas amizades novas e sobretudo muito trabalho! Ficaste com curiosidade? Então vê as fotografias que se seguem para ficares mais esclarecido.

“EFPSA foi estabelecida em Portugal, no seu primeiro congresso que se realizou em 1987. Fica a saber ainda que temos a tradição de ter estudantes portugueses na direcção” 29


João Almeida, também parte da família RUP, e coordenador do programa científico do congresso da EFPSA conta-nos como foi a experiência.

Como surgiu o convite para fazer parte da organização do evento? Comecei por apresentar a minha candidatura para integrar e colaborar na equipa científica do 30º Congresso da EFPSA. Pouco tempo depois, fui convidado para abraçar o desafio de coordenar esta mesma equipa, convite esse que prontamente aceitei. Talvez por já ter estado envolvido em diversos projectos no âmbito do associativismo, senti que poderia estar à altura deste desafio e dar o meu contributo. Quais foram as maiores dificuldades? Sem dúvida a necessidade de equilibrar a ambição num projecto deste relevo com a obrigatoriedade de cumprir um orçamento tão restrito. No entanto, não hesitamos em manter a fasquia sempre elevada e isso trouxe-nos o sucesso que, na minha opinião, alcançámos. Foi uma semana muito intensiva. Conseguiram cumprir os vossos objectivos? Na minha opinião, sem dúvida! Trouxemos a Portugal e ao Vimeiro, prestigiados e reconhecidos oradores a nível nacional e internacional (veja-se Daniel Salzman, Karen Quigley, Aaron Garner, Daniel Reisel, entre tantos outros). A par dessa componente científica e académica, procurámos diversificar o programa, visando abranger o maior número possível de interesses. Achámos ainda que era importante inovar e, nesse sentido, criámos, por exemplo, as Lab Sessions, que também se revelaram um surpreendente sucesso.

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Valeu a pena todo o trabalho que tiveram? Se me perguntasses isso 15 dias antes do Congresso, com os níveis de ansiedade e cansaço muito para além do alerta vermelho, dir-te-ia a mesma resposta que dou agora: sem dúvida! Foi um projecto muito longo, extremamente exigente, mas que sinto ter sido de extrema importância, não só para mim, mas também para a equipa e para todos os mais de 300 participantes que recebemos. O sucesso foi de todos e só com todos foi conseguido. O que de início era uma Org.com, no final ficou sob a forma de uma amizade, que relembro diariamente com saudade. Que mensagem gostarias de deixar aos alunos de Psicologia? Valorizem-se e dêem o vosso tempo aos outros. Juntem-se a projectos que vos desafiem e vos obriguem a superar-se. Acreditem que esta é a melhor forma de chegarmos ao final do dia com um sorriso de orelha a orelha, mais uns quantos amigos no bolso e uma mente aberta, preparada para todos os desafios do dia-a-dia!

Se ficaste interessado nesta organização, não percas tempo e entra já em contacto. Ainda podes ir a tempo de viver a verdadeira EFPSA experience e conhecer pessoas maravilhosas.

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