Ruportagem nº7

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Agosto 2017 | Edição nº7 Distribuição Digital e Gratuita

Depressão e Suicídio na adolescência O que acontece aos que ficam? Psicologia de Emergência: A intervenção em Catástrofe - O exemplo de Pedrógão Grande 1


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Editorial

Trazemos-te também o tema da depressão e suicídio na adolescência com base na popular série “13 Razões”. Por último abordamos a questão da intervenção psicológica em catástrofe e, com base no exemplo do incêndio de Pedrógão Grande, entrevistamos uma popular e Rui Pedro Ângelo, Docente Convidado no Curso Pós-Graduado em Psicologia e Intervenção em Crise e Emergência e Investigador no Centro de Investigação em Ciência Psicológica na Faculdade de Psicologia da Universidade de Lisboa. Boas férias! Psisaudações

Chegámos ao fim de mais um ano letivo. Para alguns foi apenas mais um ano concluído com a expetativa do que se seguirá, para outros foi o derradeiro ano final, o culminar de um percurso, de uma vida académica já com o agridoce sabor a saudade. Para vós trazemos um desafio e manifestamos o desejo de poder ajudar ao longo da procura de Estágio Profissional. Nesta edição de Verão falamos das tão aguardadas férias e do que representam para muitos. Debruçamo-nos sobre a geração dos Millennials e as incertezas da realidade para estes jovens. Falamos ainda da procura pela cara metade em tempos de Tinder. Estaremos perante uma mudança de paradigma nesta busca pelo amor? Ou teremos apenas mais ferramentas?

Maria João Fangaia

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Ana Aleixo

Auni Dwarkadas

Catarina Fernandes

Maria João Fangaia

Nadine Amaro

Tiago A. G. Fonseca

João Mena

Para mais informações ou sugestões podem contactar: editorial.rup@gmail.com Editora Maria João Fangaia Designer Ruben Alves

/// ISSN: 108/2015///Interdita a reprodução parcial ou total dos textos, fotografias ou ilustrações sobre quaisquer meios e para quaisquer fins sem previa autorização escrita da Administração da RUP/ANEP//// Editora: Maria João Fangaia ///// Administradora: Adriana Bugalho ///// Director da Comissão de Revisão Cientifica: Tiago Fonseca ///// Periodicidade: Trimestral ///// Produção: Organismo Autónomo Revista Universitária de Psicologia da Associação Nacional de Estudantes de Psicologia ///// Propriedade: Associação Nacional de Estudantes de Psicologia – ANEP ////// Associação Nacional de Estudantes de Psicologia - ANEP ///// Faculdade de Psicologia //////////Alameda da Universidade ///// 1649-013 Lisboa ///// Portugal /////// Revista Universitária de Psicologia da Associação Nacional de Estudantes de Psicologia - RUP/ANEP ///// 3000

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Conteúdos

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Editorial

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Depressão e Suicídio na adolescência O que acontece aos que ficam?

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Aproveitar as férias ou o negligenciar do ano inteiro

Hoje é o nosso futuro: A geração Millennials e os jovens Nem-Nem

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Psicologia de Emergência: A intervenção em Catástrofe - O exemplo de Pedrógão Grande: Duas entrevistas, dois pontos de vista

A procura de Estágio Profissional

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Amor em tempos de cólera...e o amor em tempos de Tinder?

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Bibliografia


Aproveitar as férias ou o negligenciar do ano inteiro Os meses de Julho, Agosto e Setembro são, primordialmente, os meses de férias para os portugueses. As razões são várias, como a temperatura, que surge como mais propícia nestes meses para as fugidas para a praia e calor, o movimento económico nacional, que surge como mais activo devido ao turismo exponencial nesta altura do ano e, a corrente cultural que parece mais forte. É por isso normal que a grande maioria da população activa portuguesa agende as suas férias para a época de Verão, combinando as mesmas com os seus familiares e/ou amigos.

Apesar de as férias constituírem uma fase importante na vida de um trabalhador, estas são encaradas como uma meta a atingir no ano, como se o dia-a-dia fosse uma prisão que apenas vê a sua libertação quando surgem as férias. Muitas pessoas passam o seu dia a pensar nas férias, nos momentos que irão passar, o não trabalhar, o descanso e o passeio, o fim do dia de trabalho, como se não conseguissem ser capazes de aproveitar o seu ano, mesmo que a trabalhar. Significa isto que quando, de uma forma geral, as pessoas esperam ansiosamente pelas férias será porque não conseguem usufruir da sua vida diária. No sentido de não estar ansioso no dia-a-dia, conseguindo aproveitar cada momento para que se sinta bem e não apenas em altura de férias, deixo algumas dicas que podem ajudar.

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pensamentos e objectivos e tempo para os seus reforçando os seus laços familiares e com os amigos, esteja com as pessoas de quem gosta, vá ao cinema, ao teatro, à beira-mar, conheça um restaurante novo e experimente o que ainda não experimentou, faça desporto e caminhadas, leia e actualize o seu conhecimento. Vai ver que conseguirá ter uma semana mais calma e menos séria, sem o peso de pensar que apenas trabalhou e não aproveitou o tempo que foi passando.

“Faz algo que gostes e nunca terás de trabalhar um dia na vida”

Apesar de em termos motivacionais esta frase ter algum sentido, é certo que o mais amado dos trabalhos pode, de igual forma, originar fadiga e stress. Apenas e só porque cada trabalho tem as suas dificuldades e a sua vivência provoca vários tipos de emoções diferentes, nem todas fáceis de lidar ou de resolver. É essencial gostar do trabalho que temos. Nem sempre é possível, sabemos disso. No entanto, existem formas de adaptarmos uma situação desagradável tornando-a numa situação equilibrada e pacífica. Encontrar novidade no que fazemos, ter boas relações no trabalho com colegas e chefia, perceber os objectivos da empresa ou da instituição empregadora, criar objectivos pessoais diários com as tarefas a desempenhar ou na empresa em termos de crescimento de carreira, resolver os conflitos que vão surgindo e sentir-se valorizado e reforçado pelo trabalho que desenvolve, são algumas das formas de ver o seu trabalho com mais leveza, tornado o dia-adia mais fácil de encarar. Quanto mais leve e livre de stress for o dia de trabalho, menos ansioso estará diariamente, pelo que pensará menos nas férias.

Claro que as férias significam o conjunto de dias seguidos onde pode fazer diversas coisas que gosta e estar com as pessoas sem pensar que se tem de deitar cedo pois trabalhará no dia seguinte. No entanto, se não aproveitar o dia-a-dia no seu ano para fazer as coisas de que gosta, o tempo de férias será sempre insuficiente. Até para aproveitar melhor as suas férias, é importante que não esteja exausto mas sim liberto de corpo e mente para poder aproveitar o tempo que tem. O que faz no dia-a-dia é importante no processo de desempenho e motivação das tarefas que tem de realizar, bem como será importante na forma como se vê a si próprio e aos outros. Sentir-se ansioso por as férias estarem a chegar ou por estas estarem a terminar pode ser resultado de uma má gestão diária no seu trabalho. Pense em alternativas, pense em si. Vai ver a diferença! Texto por: Tiago A. G. Fonseca

Reforçar o período fora do trabalho

Muitas vezes, o cansaço acumulado é tanto que apenas se quer chegar a casa e estar quieto. O dia foi longo, com muito trabalho, muitas discussões, muitas situações de crise para resolver e todo o resto perde importância. Este tem de ser um ponto de viragem. O cérebro percebe a mensagem e tenta contrariar a informação com alguma actividade lúdica mas será frustrada pela falta de motivação para a mesma. É necessário que consiga ter uma agenda fora do trabalho. Tenha hobbies e passatempos que o levem a ter outras actividades fora do que faz no seu dia-adia laboral, mesmo que em casa, procure conhecer sítios onde nunca foi e procure novidades nos sítios que já conhece, faça passeios e explore o mundo à sua volta, tenha tempo para si e para os seus

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Hoje é o nosso futuro: A geração Millennials e os jovens Nem-Nem Para iniciar esta reflexão deixo-vos com uma citação breve de Silva (2012) da coletânea Fundação Francisco Manuel dos Santos no seu livro A Crise, a Família e a Crise da Família que, penso eu, suscitará curiosidades e algumas inquietações sobre o artigo que agora vos introduzo:

Por sua vez, em consequência do estado económico atual do país e do sempre elevado desemprego jovem, Portugal vê emigrar o seu maior potencial humano, esses jovens, que por um lado estão desempregados e por outro lado, têm as maiores qualificações profissionais de sempre na nossa História. Posso, assim, sumariamente apresentarvos o maior dilema da geração Millennials, de que segundo Correia, Montez e Silva (2016) fazem parte todos os jovens que nasceram entre 1980 e 1996 e que os distingue de quaisquer gerações ulteriores – as suas habilitações e capacidades educativas e profissionais versus os recursos que o país tem para lhes oferecer. No geral, já não é novidade que o número de diplomados nos cursos superiores é, em média, muito superior ao número de colocações nas suas áreas. Também através do Diário de Notícias, na sua plataforma online, Pires (2017) indicou que a grande maioria dos desempregados “pertence à área das ciências sociais e do comportamento com 9,7% correspondendo a 704 inscritos, sobretudo em cursos de Psicologia”, seguindo-se as áreas das Engenharias e das Arquiteturas com 9,4% e 6,8% dos alunos formados, respetivamente. Atualmente, todos estes índices contribuem para a crescente procura de novas oportunidades alémfronteiras. De facto, todos nós conhecemos alguém que optou, por força das condições económicas, por procurar emprego fora de Portugal, mesmo que por vezes, a estas condições económicas forçadas se juntem outras motivações de ordem pessoal, como

Vamos assistir com certeza à subida do desemprego e à diminuição dos serviços do Estado. Quer dizer, vai haver mais trabalho para fazer, mas menos emprego. Dificilmente ambos os elementos do casal terão, em todas as casas, emprego a tempo inteiro ou sequer algum emprego…também vamos voltar a ter gerações a viver sobre o mesmo tecto, bem como amigos a partilhar apartamentos, o que só era habitual ver entre estudantes e emigrantes. (Silva, 2012, p. 43) Também o atual Ministro das Finanças português, realçou na mesma coletânea que o desemprego em faixas etárias mais jovens sempre foi mais elevado que em outros grupos etários mais avançados, no entanto, deixa claro, que a crise financeira que se fez sentir desde há uns anos não veio modificar esta relação desemprego/juventude e entre algumas razões para o elevado número de desemprego jovem destaca o início da carreira e inserção no mercado de trabalho e, portanto, citando o próprio, os jovens

encontram-se “num processo de tentativa e erro de procura do «par perfeito»” (Centeno, 2003, p.

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a vontade de conhecer novos países e culturas, consequência de um mundo global, cada vez mais unido e a expansão das novas tecnologias que leva a que estejamos todos cada vez mais perto, apesar da distância que nos separa. Estes são, assumidamente, fatores da ordem do dia que seriam de imperdoável esquecimento ao falarmos desta geração Millennials – a globalização aliada à expansão das novas tecnologias. Esta geração, também denominada geração Y, é uma geração digital, onde muito do que procura está a distância de um clique. Estes «filhos da globalização», como também lhes chama a revista Visão, contrariam a sociedade industrial e o consumismo, que como indica Casariego (2015) “continua a crescer movida pela publicidade que associa a felicidade ao consumo” que, resumidamente, representa a supremacia do ter versus ser. Esta visão do mundo foi claramente influenciada pela Revolução Industrial que modificou sem precedentes a economia de uma sociedade – movida pela compra e venda (até do próprio trabalho). Estamos hoje perante um Homo consumens, como o indicam Sousa e Correia (2017). No entanto, esta nova geração – Millennials – está a «revolucionar o capitalismo» e assim, contribuindo para uma mudança a grande escala nos novos tempos.

falta de sentido para a sua vida? Ou pelos dois? Será que esta sociedade e este século potencia a doença mental e fenómenos como o burnout e o mobbing? Seremos hoje Homo laborans como o referem Sousa e Correia (2017)? E em caso afirmativo, estaremos

nós, estudantes e futuros técnicos de saúde mental preparados para esta geração e esta sociedade?

É isto que agora vos proponho a refletir. O jornal i, na sua página online, refere que de entre 252 millennials portugueses, “mais de metade dos inquiridos entre os 22 e os 35 anos não se sentem realizados no atual emprego”, o que perfaz 55,1%. Relativamente ao cansaço sentido perante a função desempenhada, 34,9% referem um nível médio de cansaço (nível 3 de uma escala de likert de 0 a 5), enquanto 28,8% referem que estão muito cansados (nível 4) e um total de 9,9% indicam cansaço extremo (nível 5). Quando lhes é perguntado se gostam da função desempenhada, a grande fatia considerase indiferente (50,7%) e apenas 36,2% responde afirmativamente, que o faz por «vocação e por gosto» (Carvalho, 2017). Segundo Maslach (1993) citado por Skodova, Lajciakova e Banovcinova (2017) a Síndrome de Burnout é definida como uma “tríade de exaustão emocional, despersonalização e uma diminuição do sentido de realização que ocorre entre indivíduos que trabalham com outras pessoas” (p. 417). Neste artigo, as autoras associam alguns fatores de risco da organização do trabalho, bem como caraterísticas individuais como mecanismos de coping ou tipos de personalidade, como a personalidade tipo D, a este fenómeno complexo. A personalidade tipo D é caracterizada por uma elevada tendência pessoal para experienciar emoções negativas, auto-estima baixa, falta de flexibilidade, e das pessoas que parecem tê-la, diz-se que se assemelham a quem carrega sempre uma cruz às costas, um fardo muito pesado que elas não conseguem suportar.

Vejamos alguns exemplos citados na revista Visão online: esta geração prefere experimentar ao invés de possuir – 60% dos jovens entre os 25 e os 34 anos prefere arrendar casa e apenas 15% considera extremamente importante ter carro próprio. Um total de 92% dos jovens desta geração acedem à internet, 94% utilizam computador e 32% fazem compras online. A sua maioria, 55%, é levado ao consumo através de comentários online feitos por outros consumidores. Quanto à globalização que atrás referi, embora 72% dos jovens entre os 20 e os 29 anos ainda vivam com os pais, estes jovens não têm medo de largar tudo e procurar entrar no mercado de trabalho fora do país. Muito embora este não seja exclusivamente o único desafio da geração Millennials é um assunto que marca um extenso role de notícias em muitos meios de comunicação social. O Jornal Público, por exemplo, pergunta: «Millennials: uma geração sem ar (e sem futuro?)» introduzindo uma reflexão acerca da geração Me, os impulsionadores das selfies, frequentemente narcisistas, habituados a triunfar numa sociedade também ela individualista, seres “multifacetados e polivalentes”, uma geração que “tende a estar mais alerta e a ser mais curiosa”. Apesar destas qualidades que caracterizam a referida geração e de acordo com Coco Amardeil citada por Público (2017) “estes jovens sentem-se asfixiados e estão sedentos de ar…e de vida”. Estaremos, então, perante uma geração que face às suas qualidades e sociedade que a rodeia está, apesar de tudo, dominada pela ansiedade? Ou por uma inerente 9


Não tendo o nível de hostilidade da personalidade tipo C, nem o registo stressado da personalidade tipo A, estas pessoas são frequentemente «as enfermeiras de serviço», sofredoras, e a par de uma ansiedade e depressão (angústia) caminha sempre lado a lado um registo elétrico – estas pessoas andam sempre a 200 %. Com base neste registo não é difícil adivinhar que este tipo de personalidade esteja significativamente correlacionado a problemas cardíacos, nomeadamente, com a insuficiência cardíaca, e a nível epidemiológico, a insuficiência cardíaca com os traços depressivos, levando a um agravamento do prognóstico, aumento da mortalidade e do número de reinternamentos e um aumento do declínio funcional (Almeida, 2014). Com base neste e noutros estudos sobre o fenómeno,

psicopatologia estamos inerentemente a falar de vácuo existencial. O fundador da Logoterapia no seu livro A Falta de Sentido na Vida explica assim este fenómeno: Já não há tradições que digam ao homem de hoje o que este deve fazer. Ora, não sabendo o que tem de fazer, nem sabendo o que deve fazer, parece muitas vezes já não saber muito bem o que no fundo quer. Assim, quer apenas o que os outros fazem, o que conduz ao conformismo! Ou então, faz apenas o que os outros querem – isto é, querem dele, que por sua vez leva ao totalitarismo. (Frankl, 2017, p. 12) Para o existencialismo falar de saúde é falar de um poder de autorrealização completo, conhecermo-nos na totalidade. Para isso é fundamental fomentarmos a nossa identidade, construímo-la ao longo da nossa infância e adolescência e construirmos também um projeto de vida – as nossas metas, os nossos objetivos de vida, quer seja escrever um livro, tirar um curso, casar ou ter filhos, todos são válidos e idiossincráticos de cada um de nós. Para a geração Millennials a identidade é fomentada através das redes sociais, uma geração digital que, muitas vezes se deixa persuadir pelos comentários online feitos por outros utilizadores, por exemplo.

torna-se importantíssimo estudar o impacto psicológico deste ritmo de vida frenético que hoje vivemos e prevenir e alertar os psicólogos e outros técnicos de saúde mental para esta e outras questões sociais que tanto influenciam a qualidade de vida dos seus pacientes, quer a sua saúde mental, quer física, dada a interligação profunda entre corpo e mente. De facto, atualmente evoca-se um ecossistema corpo/mente ao invés da conhecida dualidade cartesiana de Renée Descartes e falar em saúde, já não é apenas e só falar em ausência de doença. Vitor Frankl considera que ao falarmos hoje de

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Erich Froom citado pela Fundação Síndrome de Down (2013) diz acerca da necessidade de uma identidade

“Essa necessidade de um sentimento de identidade é tão vital e imperativa que o homem não poderia ser saudável se não encontrasse algum modo de satisfazê-la” (n.d.). Esta falta de sentimento de identidade está hoje muito bem caracterizada nos chamados jovens Nem Nem, porque “nem” estudam, “nem” trabalham, estando desempregados e não frequentando qualquer formação. Esta designação perfaz os jovens dos 15 aos 34 anos e segundo o Instituto Nacional de Estatística (INE) contabilizavam-se mais de 300 mil jovens nesta situação no ano de 2016.

mais stressadas, o que influencia negativamente a sua saúde mental e física. Neste aspeto, regista-se uma correlação muito significativa entre a personalidade tipo C e as doenças oncológicas (Kavan, Engdahl, & Kay, 1995). De facto, o stress (crónico) funciona como um imunossupressor e afeta negativamente o sistema imunitário (Carlsson, Frostell, Ludvigsson, & Faresjo, 2014). Assim, é tempo de parar e refletir: tendo em

A estes jovens parece estar associada a personalidade tipo C e tipicamente correlacionada com esta personalidade, encontra-se uma «depressão sem depressão», a designada Depressividade (Matos, 2003). Estes jovens adultos e alguns adolescentes parecem dominados por um cansaço irrecuperável, uma falta de ânimo e entusiasmo para a vida. Neles carece um sentido de paixão pela vida que vivem, parecendo não tendo objetivos, nem planos, nem futuro, resignados, conformados, com todas as implicações que isso lhes trará. António Coimbra de Matos caracteriza a Depressividade no seu livro Mais Amor, Menos Doença como “um traço de personalidade constituído por uma depressão latente a larvar como uma mistura de atributos de depressão anaclítica e depressão introjetiva” (Matos, 2003, p. 33) associando esta perturbação egossintónica e estável a traços de personalidade borderline. O consagrado psicanalista português associa ainda em frequência a Depressividade com alguns quadros de toxicodependência, doença psicossomática e perturbações do comportamento, quer seja, alimentar, sexual ou agressivo. Relativamente ao início e origem da Depressividade, António Coimbra de Matos destaca a “carência afectiva e repressão precoces” na infância (Matos, 2003, p. 33). Além disso, o autor assemelha a Depressividade a uma «dor de alma», a um «estado de estar triste». Diz-se que as pessoas que parecem possuir uma personalidade tipo C vivem num registo de grande hostilidade e contenção emocional (que a longo prazo pode levar a traços alexitímicos, ou seja, pessoas que têm dificuldade em definir por palavras o que sentem). São estas pessoas a que frequentemente atribuímos um «falso Self», que vivem constantemente num registo de raiva (contida) que quando se exprime, expressa-se em forma de violência. Sabe-se ainda que estas pessoas ao conter a raiva (narcísica) e ira, registam alterações nos padrões de cortisol e vivem

conta as consequências nocivas do stress a longo prazo para a nossa saúde, não estará na hora de abrandarmos o ritmo frenético desta sociedade?

De facto, atualmente é difícil parar para refletir sobre o que quer que seja. Erich Froom citado por Sousa e Correia (2017) diz “Somos uma sociedade de pessoas com notória infelicidade, solidão, ansiedade, depressão, destruição, dependência; pessoas que ficam felizes quando matam o tempo que foi tão difícil conquistar” (p. 51). Além disso, os autores do livro Pensar, Sentir, Viver rematam “o mundo está fora de si…criou-se um novo homem, que Carl Strenger chamou Homo globalis. É alguém que passou a encarar tudo como contabilizável, até ele próprio” (Sousa & Correia, 2017, p. 181). Neste livro, os autores associam a globalização e as novas tecnologias que atrás já abordei, marcas desta geração, à falta de «essência» individual, a vidas incoerentes e sem sentido – o tal vácuo existencial de que fala Vítor Frankl.

O homem do século XXI é tipicamente “solitário, individualista, autocentrado, facilitista”, até nas relações amorosas – “as relações são intensas, fugazes, centradas mais no eu que no nós e no outro, muito sustentadas na comodidade virtual e na superficialidade” (Sousa & Correia, 2017, p.

186). É inegável que o homem e o mundo de hoje estão a mudar. O homem acompanha esta sociedade em mudança e as mudanças na sociedade moldam o homem e o futuro de um mundo que a cada dia é novo. E se o hoje for o nosso futuro? O que farás hoje depois de ler este texto? Pensa. Sente. Vive. Hoje é o teu futuro. O nosso futuro. Vamos vivê-lo? Texto por: Ana Aleixo

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Amor em tempos de cólera... e o amor em tempos de Tinder? Numa era em que nos preocupamos cada vez mais e, paradoxalmente, também cada vez menos connosco, é difícil ter tempo para nós e para outra pessoa. Afinal, uma relação implica muito conhecimento próprio e do outro, capacidade de encaixe e superação e também tempo.Vivemos envoltos em trabalho, sobrecarregados de stresse, com preocupação extrema em ser fit e acabamos por descurar o alimento da alma. Se antes prestávamos atenção ao que nos rodeava, atualmente, essa atenção parece cada vez mais dispersa em várias tarefas como tirar fotos para postar nas redes sociais. Estamos sempre ligados, não ao mundo real que nos rodeia, mas pelo mundo virtual que nos assoberba. As relações amorosas são cada vez menos como outrora, em que os casais se conheciam em bancos de jardim e neles tinham os seus primeiros encontros.

O amor é um sentimento básico capaz de unir seres racionais e seres irracionais. Pode surgir de modo assolapado, associando-se a sentimentos intensos característicos da fase de paixão. Contudo, pode construir-se e reconstruir-se e aí sim, chamar-se de amor. Enquanto uns o procuram anos a fio e nunca o encontram, outros conhecem-no à primeira flechada do Cupido ou ainda outros acabam por se cruzar com ele quando menos o esperavam. Sobre o amor e a capacidade de encontrá-lo: encontrar alguém que nos forneça estabilidade, companheirismo e com ele moldar um caminho - é um processo em muito relacionado com a capacidade de amor-próprio. A máxima “Se eu não gostar de mim, quem gostará” é bem verdade! Procuramos pessoas inteiras, mas para isso também temos de ser pessoas inteiras. De nada adianta querer a laranja toda, quando só podemos alcançar metades.

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Esta mudança no paradigma do modo de ser e de estar em sociedade, foi aproveitada por engenheiros informáticas, que criaram aplicações “amorosas” para smartphone, como Happn ou Tinder. Aí, a escolha é como se de um catálogo de homens e mulheres se tratasse. Escolhemos a idade do parceiro e a aplicação funciona de acordo com a proximidade, ou seja, podemos escolher perfis de acordo com a distância em kms, bem como o género da pessoa que é procurada. A partir daí é só fazer scroll, carregar na bola verde e talvez surja um match ou se clicada a cruz, a bola vermelha...bom, é porque não tinha de ser. E o que é um match? Passo a explicar: a pessoa x clica na pessoa y...mas a pessoa y ainda nem sabe da existência da pessoa x. Eventualmente, a pessoa y vai aparecer no radar da pessoa. Se gostar dela...como se costuma dizer, “já são dois a querer” e match! Os criadores do Tinder - Justin Mateen, Sean Rad, Jonathan Badeen e Christopher Gulcyzinksi lançaram a app em 2012 e desde aí o crescimento tem sido exponencial! Contudo, se a aposta destes fundadores era ligar o advento das novas tecnologias à possibilidade de cruzar pessoas que não se encontrariam por circunstâncias da vida, a verdade é que o seu objetivo saiu (um pouco) gorado - o Tinder popularizou-se rapidamente como um meio de encontrar pessoas para encontros sexuais. Aliás, em conversas de amigos, dizer que se usa o Tinder é sempre um tabu e referenciar que se encontrou alguém pelo Tinder pode ser um meio de soltar umas boas gargalhadas!

Instalar o Tinder e navegar pela sua interface é sobretudo uma experiência como qualquer outra: com causas e efeitos, com pontos negativos e positivos. Por um lado é bom: poupa tempo, constrangimentos. É indicado para pessoas muito tímidas para tomar a iniciativa e está à distância de um clique! Pode ser especialmente boa aplicações para grupos ainda discriminados da sociedade, como os LGBT (Thor & Passarelli, 2016). O Tinder acompanha as novas tendências das relações, de satisfação imediata e de curta duração, onde os riscos a correr são menores porque os objetivos a atingir também são eles de baixo nível - as conexões criadas são passageiras, descartáveis, menos íntimas, não se criando um verdadeiro laço entre os seus intervenientes. Contudo, se estas aplicações forem fomentadas como espaços de inclusão podem até proporcionar relações de maior duração. Eu por exemplo, conheço as duas versões da moeda: pessoas que apenas têm o Tinder como uma forma de divertimento, para aventuras; e outras que instalaram o Tinder e procuravam relações sérias e o conseguiram...um dos casais mais sólidos e apaixonados que conheço, sim, conheceu-se no Tinder, contra todos os preconceios envolvidos! Por isso, formem a vossa própria opinião face a estas aplicações, experimentem...sem esquecer que tudo é bom em dose q.b.! Texto por: Nadine Amaro

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Depressão e Suicídio na adolescência O que acontece aos que ficam? Uma reflexão sobre a série Thirteen Reasons Why laços afetivos (APAV, 2012). Vários autores chamam, com frequência, os enlutados de “co-vítimas”, efetivamente estes sujeitos perderam alguém e sofrem com esse acontecimento, quer a nível mais ou menos evidente. Este sofrimento atinge-as a nível pessoal, social e até, por exemplo, profissional provocando alterações profundas na sua organização e uma necessidade de ajustamento à realidade de perda. (APAV, 2012) Neste sentido surge o processo de luto, que é pessoal e complexo. Para a pessoa enlutada, para além de outros aspectos, pode existir por vezes um sentimento de culpa, particularmente visível quando a própria pessoa em luto começa a atribuir a culpa a si própria por “não ter feito nada”. De um modo mais específico, a pessoa em luto lamenta-se e recrimina-se por pequenos detalhes ou por acontecimentos normais dos relacionamentos afetivos, que poderiam ter sido diferentes (APAV, 2012). Este sentimento de culpa associado à perda de uma pessoa é visível no decorrer da história da série em várias personagens, primordialmente em Clay personagem que acompanhamos de perto ao longo da sua jornada de escuta das cassetes. Ouvindo as cassetes, percebemos que esta personagem, na verdade, não fez nada que levasse Hannah a cometer

“Thirteen Reasons Why” é uma série americana, que começou a ser exibida a 31 de Março de 2017, na plataforma Netflix, e que se baseia na obra Thirteen Reasons Why (2007) de Jay Asher. A série retrata o suicídio de Hannah, uma estudante de 17 anos, os eventos que conduziram a essa decisão e as pessoas envolvidas nos mesmos, nomeadamente os colegas de escola. Antes de se suicidar, Hannah entrega a um amigo uma caixa com cassetes, onde relata os motivos pelos quais decidiu acabar com a sua vida. A jovem deixou ainda instruções para que essas caixas fossem passadas de mão em mão, por cada um dos “responsáveis” pela sua morte. Desta forma, cada episódio foca-se numa cassete e num “culpado”. A série tem sido alvo de várias críticas quanto à forma como aborda a temática do suicídio, englobando outros temas também sensíveis, como bullying e violação. Para este texto, iremos focar-nos em alguns pontos que, ainda que importantes para o entendimento da história, foram pouco explorados. Pretendemos assim refletir sobre as pessoas “que ficaram” quando Hannah partiu. A perda de uma pessoa provoca grande sofrimento nos familiares, amigos ou pessoas próximas da mesma, sobretudo quando estavam ligados por fortes

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suicídio mas, ainda assim, sente-se culpado talvez por não ter impedido o seu suicídio, como referimos no início do parágrafo. Ademais, vários autores (e.g. Fukumitsu & Kovacs, 2016; Jordan, 2001) indicam que o luto de uma morte por suicídio pode ser um processo mais difícil do que outros tipos de luto, como o luto esperado associado a uma doença ou causa naturais. O seu impacto estende-se à rede social da pessoa que cometeu o suicídio, sendo que a família, amigos, colegas e até os professores de Hannah são considerados “sobreviventes” neste processo. A vivência de culpa destes personagens é ainda mais agravada pelas cassetes, que apontam claramente para “culpados” da sua morte. Para além disto, deparamo-nos ao longo da série com o medo da exposição pública, o receio de que as cassetes se tornem do conhecimento geral, não apenas dos 13 envolvidos.

consiste no assédio através da Internet. A estatística mostra que as raparigas têm uma tendência maior do que os rapazes para serem sujeitas a rumores e gestos sexuais, fisicamente e online. Neste caso, os rumores relativamente a Hannah começaram com uma foto alegadamente comprometedora, que serviu de arranque a outras formas de abuso, tais como o assédio, culminando mais tarde na violação de Hannah. Contudo, nessa altura, na cassete 13, Hannah decide pedir ajuda ao counselor da escola, dando uma última “oportunidade à vida”. Esse pedido de ajuda acabou por transformar-se num outro abuso: a culpabilização da vítima e consequente “desculpabilização” do violador. Perguntas como “Estás arrependida do que fizeste?”, “Alguma vez lhe disseste para parar?” criaram um estado de vergonha e de sentimento de não compreensão por parte do outro, e face a isto Hannah parece ter desistido. Voltou a casa, organizou as cassetes e deixou instruções para que fossem ouvidas, encheu a banheira de água e cortou os pulsos. A cena é brutal, visual e emocionalmente, culminando na descoberta dos pais - primeiro a mãe, depois o pai - do corpo da filha.

No seguimento dessas cassetes, surgem os pais de Hannah, os quais são em muitos episódios mencionados pela mesma. No contexto da perda de um filho, segundo a APAV (2012), a morte de um filho é geralmente descrita como um dos acontecimentos mais dolorosos da vida de alguém, tornando-se em todas as culturas, a mais dolorosa e absurda das mortes, descrita mesmo como aquela que “fica para além de toda a ordem natural da vida”. Durante os 13 episódios da primeiro temporada, vemos os pais de Hannah a tentarem lidar com a situação. As suas ações focam-se num ponto, que pode ser considerado pouco saudável para “seguir com a vida”, que foi a procura de responsáveis para a morte de Hannah. Essa busca por culpados conduziu a um processo judicial, baseado em evidências de bullying, envolvendo toda a comunidade escolar.

Mais do que as questões do bullying, da violência/ abuso sexual, da vingança, do facto de a história despertar a ideação suicida em algumas jovens - aspetos estes referidos em várias críticas após a transmissão da série - e, para além dos pontos anteriores abordados, consideramos importante para o entendimento desta história, olhar para as ações das várias personagens para com Hannah no sentido em que, provavelmente a intenção não seria que a mesma terminasse com a sua própria vida. Ou seja, talvez tenha sido o conjunto destes atos isolados que tenha levado à catarse da história. Assim sendo, não deixa de ser importante a mensagem que transmitimos ao outro - verbal ou não verbal - como a transmitimos e, mais do que isso, ter em conta que a perceção de quem recebe, pode ser diferente daquilo que queremos transmitir. “Thirteen Reasons Why” volta em 2018, para uma segunda temporada.

No que concerne ao polêmico tema da vitimização de pares, este é um problema bastante prevalente entre estudantes de ensino secundário dos USA, para além do resto do mundo. Este fenómeno pode manifestar-se através de comentários e gestos sexuais, através do comportamentos agressivos, de “espalhar” rumores e mentiras sobre a vítima, de fazer comentários depreciativos relativamente à aparência da mesma, entre outros (Klomek et al, 2008). Outra nova forma de vitimação é a cyber vitimação, que

Texto por: Auni Dwarkadas e Catarina Fernandes

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Psicologia de Emergência: A intervenção em Catástrofe

O exemplo de Pedrógão Grande Testemunho de Rute

No passado dia 17 de Junho, um incêndio florestal tomou conta de Pedrógão Grande, fazendo 64 vítimas mortais e mais de 200 feridos. O fogo atingiu não só a população da zona, mas também grande parte da região Centro. Vários corpos de bombeiros de todo o país foram mobilizados para o combate das chamas, assim como a Proteção Civil, técnicos de saúde e os hospitais prepararam-se para receber feridos e prestar apoio. Relativamente à atuação dos profissionais de Psicologia, foi ativada a Bolsa

Conversámos com Rute, de 43 anos de idade, residente em Góis há alguns anos. Ainda que esta habitante não tenha presenciado os incêndios, confirmou que se manteve sempre informada dos acontecimentos através das notícias televisivas e conversas com o seu marido, que a informou sobre as possíveis estradas cortadas, para que Rute saísse do trabalho e chegasse a casa em segurança.

da Ordem dos Psicólogos Portugueses de 1000 Psicólogos em “Intervenção Psicológica em Situações de Catástrofe”.

Auni: O que é que acha que poderá ter causado os incêndios? Considera que foi causa natural, provocado pelo trovão que mencionam nas notícias? Rute: Na minha zona não se viu nenhum trovão. E ainda não ouvi dizer qual foi a causa! Também pode ter sido por quererem acabar com os pinheiros para plantar eucaliptos. É daí que há os incêndios… Mas ali naquela zona não! Não ouvi falar do que é que poderia ter originado, nem ouvi o noticiário a falar da causa em Góis.

Neste sentido, o presente artigo destina-se a falar do contributo dos psicólogos para com as vítimas deste evento e para com os profissionais envolvidos. Para tal, contamos com os testemunhos de Rute, uma habitante de Góis e de Rui Pedro Ângelo, Docente Convidado no Curso Pós-Graduado em Psicologia e Intervenção em Crise e Emergência e Investigador no Centro de Investigação em Ciência Psicológica na Faculdade de Psicologia da Universidade de Lisboa.

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A: Qual é a sua opinião sobre a atuação do Governo

A: Nesta situação existiu a intervenção de psicólogos que prestaram apoio às pessoas afectadas pelos incêndios. Soube de alguém que tenha tido apoio psicológico? R: Não… Foi explicado, de um modo breve, à testemunha como se prestava o apoio psicológico às pessoas, que neste caso, tinham sido afetadas pelos incêndios. No seguimento desta explicação, Rute afirmou que: R: Eu penso que se esse tipo de intervenção existiu faz sentido para estas situações. Na minha zona, as pessoas não ficaram desalojadas, apenas ficaram temporariamente fora de casa porque foram evacuadas por precaução. Agora para as pessoas que perderam familiares, e às vezes não é preciso ser familiares... às vezes basta ser a casa... Penso que tem sempre que haver um aconselhamento e um apoio ainda que seja pequeno, para ajudar as pessoas a recuperarem as perdas que tiveram.

a nível da prevenção? E quanto à actuação dos bombeiros em geral? R: A minha opinião é muito pessoal. Eu acho que foram muitas aldeias evacuadas e bem! É uma questão de prevenção. Todos os anos há imensos incêndios e nunca com o alarme que surgiu para evacuação. Evacuaram as aldeias e depois ninguém ficou a defendê-las, penso eu.... Neste caso, acho que os bombeiros deviam ter ajudado a combater o fogo. Houve familiares do meu marido que lá ficaram (nas aldeias) porque não tinham a ajuda de um único bombeiro! Não critico os bombeiros. Eles só fazem o que lhes mandam. Acho que há um erro grave da Proteção Civil porque evacuam as aldeias, mas depois não protegem as casas…Se é a Proteção Civil que coordena não foi muito bem coordenado. Não faz sentido os populares e os familiares terem conseguido regressar para ajudar a apagar o fogo. Não faz sentido terem deixado isso acontecer, sem ninguém lá que coordenasse as pessoas. Já o alarido que houve para evacuar… Foi uma loucura aquilo. Nem deixaram as pessoas buscarem os telemóveis para avisar os familiares que tinham sido evacuados. A pompa e circunstância que fizeram para evacuar para prevenir e depois não estavam lá para apagar os incêndios...

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psicólogo que trabalhe em qualquer contexto de Psicologia. Obviamente assume particular

Entrevista com Dr. Rui Pedro Ângelo Catarina: Pode começar por falar da Psicologia de Emergência e da importância que esta tem para estudantes e profissionais? Rui Ângelo: Uma das questões fundamentais da Psicologia de Emergência é que não é abordada nas Licenciaturas. Portanto é uma área pela qual os psicólogos têm muito fascínio, mas que há pouco conhecimento e por isso acho fundamental

importância na Protecção Civil ou em cenários de catástrofe como o que tivemos em Pedrógão Grande.

C: Uma das principais queixas da população

relativamente à actuação de bombeiros e Protecção Civil é a falta de apoio. Existem meios de socorro suficientes em Portugal para catástrofes como a de Pedrógão? R.A.: O que caracteriza um cenário de catástrofe enquanto Protecção Civil é precisamente os recursos não serem suficientes para as necessidades, por isso é que as pessoas se queixam que não há um carro de bombeiros para cada casa, não há um psicólogo para cada família. Não há. Qualquer pessoa que tenha uma experiência negativa intensa vai fazer queixas relativamente ao socorro. Por exemplo, nas zonas como Góis, pois como as consequências foram mais nefastas na zona de Pedrógão Grande e Castanheira de Pêra, foi para lá que foi canalizado a maioria do apoio na área psicossocial. A nossa História tem-nos protegido relativamente a este tipo cenários. Eu costumava dizer que o nosso país nos protegia deste tipo de catástrofes. Temos de recuar à queda da ponte de Entre os Rios e, mesmo assim, foi circunscrito àquela zona e aos veículos que caíram. E é verdade que tivemos as enxurradas da Madeira, e incêndios florestais, mas não temos histórias como por exemplo Espanha tem, de acidentes ferroviários com dezenas de vítimas, ataques terroristas, sismos… Portanto aqui ao lado Espanha tem um historial muito mais recorrente de

ser explicado o que é isto da Psicologia da Emergência e o que pode fazer num cenário com as exigências do incêndio de Pedrógão Grande.

A Psicologia de Emergência não é apenas para a catástrofe e não apenas para a Protecção Civil. Eu comecei o meu trabalho na área Comunitária e Terapia Familiar. Na intervenção em bairros sociais, existem também situações críticas. Desde conflitos entre grupos, conflitos com questões relacionados com adolescentes, entre outros. Quanto aos psicólogos que trabalham nas escolas, há incidentes críticos, relacionados com incêndios, crises de ansiedade… um psicólogo que se depara com uma crise de ansiedade, faz todo o sentido que se aplique primeiros socorros psicológicos. Estes são benéficos para a actividade do psicólogo de forma transversal. É como termos um médico cirurgião, que não sabe fazer um pequeno curativo num arranhão. Um psicólogo pode ser especialista em fobias, mas se não consegue estabilizar a pessoa, falta-lhe uma ferramenta. Os primeiros socorros psicológicos

são uma ferramenta essencial para qualquer

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C: Qual é que é o papel do psicólogo nesse cenário? R.A.: Há vários níveis. Primeiro temos o nível da

emergências e desastres graves do que em Portugal.

Falecerem mais de 60 pessoas é de facto uma catástrofe. Termos três concelhos particularmente afectados é também uma catástrofe. E as organizações de Psicologia poucas estavam preparadas para actuar num contexto como o de Pedrógão Grande.

própria coordenação. O posto de comando, que coordena as operações, desde urgência hospitalar, alojamento, etc. também tem de ter alguém do apoio psicossocial. Quando digo apoio psicossocial não digo psicológico, porque num cenário de catástrofe, o apoio psicossocial inclui o apoio psicológico de emergência, alimentação de emergência… nós podemos estar a prestar um apoio psicológico fantástico a uma família, mas se não tem o que comer e onde dormir, o apoio psicológico perde o seu efeito. Depois tirando esta faceta de coordenação, de planeamento, o psicólogo transforma-se no operacional, que é aquele que está vocacionado principalmente para falar, intervir com os sobreviventes, que não têm ferimentos físicos ou, se têm, são ligeiros. Alguém com uma fractura, com um problema de saúde grave, vai para o hospital. Os que tem apenas arranhões e têm alta, do ponto de vista médico, passam a ser alvo de apoio psicológico de emergência. E também os seus familiares. Em

C: Como foi essa actuação? Estando pouco preparadas as organizações… como é que aconteceu? R.A.: Temos algumas organizações que actuam ao nível da Psicologia de Emergência como é o caso do INEM, que trabalha diariamente, e temos outras organizações como as equipas de apoio psicossocial da ANPC, que também actuam de forma contínua, com foco nos bombeiros. E também existem outras entidades que se focam nos profissionais; temos a PSP, GNR, três ramos das Forças Armadas. São organizações que têm uma hierarquia e uma estrutura que facilita actuar num contexto destes. Agora, como é natural, uma coisa é a emergência quotidiana, que nos dá estratégias para grandes catástrofes, mas existem questões que apenas surgem nessas grandes catástrofes. Por mais que nós tentemos, por muita formação que tenhamos, é muitas vezes a experiência prática que nos vai dando capacidade de resposta face às necessidades que nos surgem. E as organizações em Portugal, não tendo ocorrências de grande magnitude no passado, foi assim um factor de novidade. Algo fundamental são os planos estarem feitos antes de a catástrofe ter início ou durante a catástrofe. Nesse caso vamos ser reactivos, vamos atrás dos acontecimentos e preparamo-nos. As equipas de apoio psicossocial da ANPC estiveram desde 2016 a fazer exercícios para a intervenção em contextos desta natureza, em termos da criação de uma equipa rápida de apoio psicossocial, que é a equipa que vai em primeiro lugar ver as necessidades, desde o apoio psicológico de emergência, alimentação, alojamento, etc. A equipa reporta esses dados ao posto de comando e o posto de comando depois analisa quem deve dar resposta a cada uma das dimensões. E isso acabou por existir, houve comunicação entre as entidades. Muitas vezes pensamos: “para que são necessários os exercícios?” Servem para treinarmos e para conhecermos as pessoas de outras entidades. Assim quando chegámos ao teatro de operações, as pessoas já se conheciam, o que facilitou imenso a intervenção. Existe ainda o contexto normal de uma catástrofe, quando há pouca informação. Nas primeiras horas não conseguimos bem perceber o que aconteceu e é com o desenrolar do tempo que essas informações vão chegando. Acima de tudo, a formação ajuda-nos a perceber que o que acontece é precisamente o défice de informação. Temos nos adaptar a esse cenário.

Pedrógão houve muita essa necessidade. Os familiares perderam entes queridos, ou mesmo familiares que estavam à procura de pessoas desaparecidas. O psicólogo assume assim um papel fundamental ao agir e intervir com estas pessoas. Os bombeiros estão vocacionados para apagar o fogo e tratar de feridas, mas é preciso alguém tratar do ferido. Há uns anos atrás, depois da busca, salvamento e de cuidados médicos, nada se fazia mais.

Portanto os psicólogos têm um papel fundamental. Têm é que ser sempre de acordo com o posto de comando, para saber as missões que são necessárias e que lhe são atribuídas. Houve muitos psicólogos a quererem oferecer-se para ir para o teatro de operações. Vão com muita vontade de ajudar, com muito altruísmo. É fundamental perceber que neste contexto, ainda por cima com um incêndio a decorrer, não pode haver pessoas a intervir a título individual para um cenário destes.

C: Psicólogos sem formação específica? RA: Mesmo que tenham formação, têm de estar enquadrados numa organização de emergência. Se vão sozinhos, podem ir para uma zona em que se põem em perigo a eles próprios. Não têm

conhecimento das estradas que estão cortadas, um incêndio pode estar dominado e não estar extinto, pode haver uma reactivação. E mesmo passado esta fase toda, o posto de comando da Protecção Civil não trabalha com um psicólogo a título individual. Trabalha com um psicólogo que esteja integrado numa organização. Uma coisa é estar a trabalhar com uma ONG com trinta voluntários: a ANPC fala com coordenador da ONG. Outra coisa é a ANPC ter de falar com 30 voluntários. O posto de comando não tem capacidade de estar a acolher voluntários individualmente.Para além disso, se eu for sozinho,

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C: E relativamente a esse cuidado com os próprios

não tenho ninguém para me coordenar, não tenho equipa, não tenho ninguém para me tirar duvidas. Nós psicólogos temos de perceber que uma coisa é trabalhar num consultório sozinhos, e ter supervisão quinzenal ou mensal; outra coisa é actuar num teatro de operações de forma articulada e em equipa. Não é possível ir para lá, principalmente na fase de emergência, sozinho. Até pode ser um estorvo maior para as operações do que um benefício. E pensa-se: houve psicólogos suficientes num cenário destes? Nunca há. Então porque não alugamos 5 autocarros com 200 psicólogos? Para onde é que eles iam? Também temos de ter cuidado com a multi assistência às vítimas. As necessidades têm de ser reportadas ao posto de comando e coordenadas. Se vão 10 psicólogos diferentes, vamos estar a re-traumatizar a vítima, que vai contar 10 vezes a mesma história.

os profissionais que evidenciam uma reacção muito aguda de stress é que ficam disponíveis para ser apoiados por nós. Ou porque bloqueiam na prestação de socorro; ou porque têm uma reacção muito aguda, de grande intensidade emocional, torna-se visível e precisam de apoio; e aí presta-se os primeiros socorros tal como se presta aos civis. Por norma, os operacionais estão em modo de combate, e é quando terminam as operações que se prestam os primeiros socorros. Isso por uma questão prática; quando estão a combater o fogo, por exemplo, não têm disponibilidade física para receber o nosso apoio. Portanto nós tivemos uma grande operação de apoio aos bombeiros no fim-de-semana de 24 e 25 de Junho, quando os incêndios já estavam dominados.

C: Há algum episódio marcante de intervenção em

C: E esse apoio é nesse momento estipulado ou é

profissionais, o que tem sido feito?

RA: Enquanto decorre a operação, normalmente só

contexto de emergência que gostaria de partilhar? RA: Uma coisa que pode acontecer é depararmo-nos com uma situação que pode levar a um elevado grau de identificação da nossa parte. Houve uma mãe que perdeu uma criança com uma idade similar à minha própria filha. Naturalmente no processo de empatia, que é a pessoa sentir que está no lugar da outra e demonstrar essa empatia para com a situação, tornase mais difícil de gerir. O processo de identificação dificulta o nosso próprio processo de gestão emocional. Temos de ter noção que o psicólogo de emergência, pelo suporte, empatia e escuta activa, fica muito exposto a tudo o que acontece. E numa situação de catástrofe podemos ter várias vítimas que estão em situação de grande vulnerabilidade e temos de ter um grande cuidado com o autocuidado que cada técnico deve ter. Também por isso é que o psicólogo não pode estar sozinho, tem de trabalhar em equipa. Para não expor o técnico a uma situação de excessiva identificação, procuramos fazer rotação de funções. Contudo numa situação de catástrofe, não dá para fazer isto. Aparece a vítima, o psicólogo é destacado para dar apoio, começa a relação e depois não pode dizer: “a situação é muito próxima, espere que vou chamar o meu colega, noutra aldeia, a 20 km daqui, vai demorar uma hora a cá chegar”. O fundamental é saber que essa situação vai “mexer” mais connosco do que outras situações. As reacções que nós dizemos às vítimas que podem acontecer – reações fisiológicas, emocionais, cognitivas – também nós podemos ficar sujeitos às mesmas. É fundamental termos a noção destas reações e saber geri-las. Cada um de nós tem as suas próprias técnicas. Por exemplo, eu uso técnicas de distracção cognitiva.

mais continuado? RA: O apoio psicológico de emergência convém ser o mais próximo possível da ocorrência. Depois disso, temos um modelo Psicológico de Emergência para bombeiros, para ver se a sintomatologia justifica o encaminhamento, nomeadamente para avaliação clínica. O psicólogo de emergência não faz

avaliação clínica; faz um despiste de sintomas e se justificar faz então o encaminhamento para psicologia clínica, para o serviço nacional de saúde ou para o médico de família.

C: E relativamente ao cuidado e apoio psicológico aos próprios psicólogos? RA: Isso é fundamental e muitas vezes os psicólogos tendem a esquecer isso. Pode ser feito num registo formal de intervisão de uma equipa. Isto é até um modelo muito americano; os colegas que não estiveram tão expostos fazem uma desmobilização aos colegas que lá estiveram. Pode ser também um registo de supervisão mais clássico, clínico, em que quem esteve exposto fala com um supervisor, mas isto é mais comum nas equipas profissionais. Nas equipas de voluntariado existe uma rede de suporte informal, em que normalmente o psicólogo menos experiente vai falar com um mais experimente. É importante também tirar dúvidas de cariz mais técnico. Muitas vezes fazemos um briefing técnico, para falar da intervenção realizada, para tranquilizar o psicólogo porque tecnicamente fez tudo o que estava a seu alcance. E depois o próprio psicólogo também tem de ter a capacidade de analisar a sua própria sintomatologia e perceber se foi uma situação demasiado extrema para conseguir gerir, fruto do que foi exposto ou até de vulnerabilidades prévias. Deve ser o primeiro a levantar o braço a pedir ajuda. Se nós psicólogos não o fazemos, como esperar que a população civil o faça?

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C: Tem algum conselho para quem está interessado

em seguir esta área? RA: Primeiro, procurarem alguma formação, desde pós-graduações a cursos de pequena duração, para perceberem melhor o que é isto da Psicologia de Emergência. Depois, fundamental é integraremse numa organização, que seja séria e responsável, com estrutura, para que estejam acompanhados de pessoas experientes, que possam coordenar e apoiar, e dar também supervisão de quem está a iniciar a sua carreira. Compreendo que isto pode ser difícil para algumas pessoas que estão sozinhas; temos um psicólogo numa equipa comunitária, numa escola, e não tem uma rede. Poucos são os psicólogos que têm o “luxo” de integrar uma equipa de psicólogos. Aí, é procurar um grupo de pertença que possa pelo menos fazer intervisão e supervisão, de forma a ter respostas nas intervenções de contexto de emergência. Acima de tudo é procurar outros colegas que estejam em posições similares e criar um grupo de entreajuda, nem que seja informal, para analisarem juntos estas situações. Em forma de conclusão remetemos o leitor para as palavras de Rute, que acreditamos ir de encontro à opinião da população afectada pelos incêndios: “ a intervenção psicológica nestes casos (incêndios) faz todo o sentido... para as pessoas que perderam familiares e/ou casas”. Deixamos ainda algumas palavras do Dr. Rui Ângelo: “Acima de tudo, a Psicologia de Emergência é uma ferramenta que todos os psicólogos devem ter.” A importância da Psicologia de Emergência tem vindo a ser reconhecida e, como tal, está definido que a formação inicial da OPP vai contemplar um módulo de Primeiros Socorros Psicológicos. Assim, num futuro próximo, será uma ferramenta ao dispor de todos os psicólogos, com vista a uma maior eficácia das intervenções em situações de crise. Texto por: Auni Ketan e Catarina Fernandes

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A procura de Estágio Profissional

Aquelas duas palavras que, sempre que nos assaltam os sentidos, nos provocam sudorese, palpitações, dor no peito ou até tremores (cf. DSM-V). Todos os estudantes de Psicologia, especialmente aqueles que chegaram recentemente à fase final, sabem que esta é uma realidade com que têm de se defrontar inevitavelmente. Muito provavelmente até já ouviram falar dele e acham que conhecem os procedimentos sem na verdade conhecer. E é aqui que precisamos da tua ajuda! Queremos tentar encontrar estratégias e respostas para as dificuldades a que todos estamos sujeitos, mas para isso precisamos de saber quais estas são. Assim, pedimos que partilhes connosco as dificuldades pelas quais passaste, ou estás a passar neste desafio de procura de estágio profissional, para podermos, tentar encontrar formas de as ultrapassar ou facilitar este processo. Contamos contigo! Texto por: João Mena

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Serviços à Comunidade O Centro de Prestação de Serviços à Comunidade (CPSC) da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade de Coimbra tem como principais objetivos aproximar a comunidade académica da sociedade civil, apostando no saber e na investigação. Consultas de Psicologia O CPSC enquadra consultas de Psicologia, asseguradas por docentes e profissionais de reconhecido mérito, em diversas áreas de intervenção.  Assessoria ao Tribunal: o Avaliação Neuropsicológica o Avaliação Psicológica e Intervenção Terapêutica de Suporte para a Mudança  Avaliação Psicológica, Aconselhamento e Reabilitação  Gerontopsicologia  Consulta "Anos Incríveis"  Orientação e Aconselhamento de Carreira  Psicoterapia de Grupo  Psicoterapia Individual  Consulta Universitária Crianças e Adolescentes  Resolução de Problemas e Aprendizagens Escolares  Terapia de Casal e Familiar Consultoria O CPSC assegura igualmente serviços de consultoria, nas diversas áreas de especialização da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação, às entidades e serviços que assim o solicitem.  Âmbito de Procedimentos Concursais (Portaria nº 83-A/2009, de 22 de Janeiro, alterada e republicada pela Portaria n.º 145-A/2011, de 06 de abril)

o Avaliação psicológica (Artº 10º) o Entrevista de avaliação de competências (Artº 12º)

Formação não graduada O CPSC organiza um conjunto de formações não graduadas (área de Psicologia, Ciências da Educação e Serviço Social), dinamizados por docentes da Faculdade e/ou convidados externos de elevada qualidade. Para 2016/2017 as formações na área da Psicologia foram submetidas ao sistema de acreditação da Ordem dos Psicólogos Portugueses (OPP). www.uc.pt/fpce/CPSC/FnG CPSC: Telef.: 239 851 476 (09h00 – 12H30) | cpsc@fpce.uc.pt | www.uc.pt/fpce/CPSC/ Telef.: 239 851 450 | dir@fpce.uc.pt | http://www.uc.pt/fpce/


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