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Existe tanto que ainda posso fazer

Apresento aqui a minha essência enquanto pessoa. Eu, na minha forma mais genuína, composta pelo passado, pelo presente e pela incerteza do amanhã.

Muitas vezes me questionei sobre o meu papel no meio disto tudo; ainda não tenho uma resposta. Porém, sei que aquilo que sou agora resultou de um processo de construção delineado pelas minhas experiências com as pessoas que fazem parte da minha vida ou fizeram em algum momento.

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Do passado recordo experiências e lições que aprendi. O carinho e amor desmedido por parte da família, as brincadeiras e novas formas de me relacionar com novos amigos, a persistência e educação com professores. Lembro também experiências que de alguma forma me marcaram, medos que ainda não me deixaram, comidas que talvez nunca voltei a experimentar, memórias que gostaria de reviver. Guardo comigo as recordações desse tempo com apreço e apesar do passado não voltar, é graças às experiências de outrora que sou o que sou. O passado nunca nos deixa, a página vira, mas a história continua.

A mudança pode ser algo assustador. A ansiedade e a incerteza do desconhecido do amanhã fazem-nos sentir vulneráveis e hesitantes. Contudo, a mudança abre sempre novas portas para o futuro. Conhecemos pessoas que, tal como nós, estão inseguras e perdidas e isso traz-nos conforto; afinal não estou sozinha.

O presente, por sua vez, trouxe inúmeras mudanças. Grandes mudanças. Fiz escolhas, escolhi um caminho. A pior parte foi a aflição, o desassossego de pensar que fiz a escolha errada. A vontade de dar meia volta e regressar ao início era tremenda. Desistir? Nunca. Vou só ignorar esta escolha por uns tempos, pode ser que desapareça. Foi aí que percebi que tudo tem um propósito, um sentido e que, refletindo sobre a situação, talvez estas escolhas não sejam assim tão

assustadoras. Escolhas não são mais do que isso. Escolhas. Não é o fim do mundo nem do percurso, e é através desta imensidão de possibilidades que conseguimos continuar o nosso caminho. Acredito que o meu destino não está traçado. Existe tanto que ainda posso fazer... A minha passagem no Colégio não foi curta, até custa acreditar que em algumas semanas não estarei mais aqui como aluna. Cresci muito desde que entrei nesta nova e desconhecida realidade (não só em altura, mas também enquanto pessoa): conheci amigos para a vida, melhorei as minhas competências, compreendi novas realidades. Venci medos, ganhei medos novos. Vivi um tumulto de emoções com o passar dos anos, tanto positivas como negativas, mas não me arrependo. Confesso que o uso do uniforme e algumas das celebrações não foram do meu agrado, contudo, foi neste estabelecimento que passei grande parte da minha vida escolar e é-me impossível negar que não houveram momentos de que verdadeiramente sentirei saudades. Trago do Colégio ensinamentos para a vida que certamente aplicarei no meu futuro e tenho orgulho em dizer que fui aluna do Claret.

Ao olhar para trás sinto orgulho nas mudanças que verifico em mim. É uma jornada que ainda estou a percorrer, talvez nunca a termine por completo. É possível que a minha mudança enquanto pessoa não seja tão percetível para os outros, no entanto, para mim, é um alívio o facto de ter mudado. Sou muito mais feliz no presente e, com certeza, isso é algo de elogiar mesmo que de mim para mim.

Com certeza o futuro trará mais

mudanças, mais inseguranças, mais momentos em que desejarei ter definido objetivos diferentes. Mas esse é um problema para o futuro. O “eu” de agora deseja criar, deixar a perfeição, ignorar os pensamentos que não me deixam seguir em frente e assim, seguir o meu caminho. Espero ser honesta, manter-me fiel aos meus valores, não me deixar

intimidar e procurar ser verdadeiramente feliz com aquilo que faço. Quero estar junto daqueles que me são mais queridos e continuar a crescer junto deles. Sou o conjunto daquilo que vivi, daquilo que sou para os outros e daquilo que quero ser e, imperfeita como sou, desejo que as novas experiências reservadas para mim moldem o eu de amanhã.

Matilde Azevedo

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