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O que os nossos olhos dizem
Dizem que os nossos olhos são espelhos da alma e vitrines do coração e é muito fácil concordar com esta expressão. No olhar das pessoas é percetível as emoções de cada um.
De facto, o nosso olhar transmite mais do que, às vezes, gostaríamos e é de salientar a alegria e a inocência no olhar de uma criança, a dureza e solidão que encontramos no olhar de um mendigo, a amargura, o medo e a insegurança numa vítima de violência, a confiança e frieza de um gestor. Dado que, os olhares contam histórias de uma forma
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abrupta sem necessitarem das palavras para as narrar, realçam as experiências de vida de cada um.
Visto isto, o envelhecimento é notório no nosso olhar e vai muito para além das rugas, devido à preocupação em demasia, às mágoas passadas, entre tantos outros motivos que nos deixam marcas irreparáveis. É possível dizer que a forma como olhamos para as coisas é como a arte, uma vez que ao longo dos tempos vamos amadurecendo e tendo perspetivas diferentes. Por exemplo, quando um adulto olha para o céu vê nuvens, mas quando uma criança olha para este as nuvens ganham forma e vida, tornando-se em princesas, animais, em fadas… A verdade é que a falta de inocência leva-nos a ver o mundo de uma maneira mais preto no branco, uma vez que, na perspetiva de um jovem adulto, “Nem tudo o que reluz é ouro”.
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No entanto, a dificuldade é perceber o que os nossos olhos dizem sobre nós próprios. Considero que o meu olhar é bastante expressivo, assim sendo é muito fácil perceber o meu estado de espírito sem eu precisar de me expressar. Visto isto, o meu olhar conta que sou uma pessoa feliz, com momentos mais baixos na minha vida, mas maior parte das vezes encontro-me feliz.
A minha infância foi passada com bastante tranquilidade, passava bastante tempo em casa dos meus familiares. A maior parte deste tempo era passado com adultos dado que era a única criança na família, assim sendo acabei por me tornar bastante comunicativa e sociável, sendo que nunca tive problemas em fazer amizades e desenvolver conversa com outras pessoas, onde quer que fosse.
Contudo, passei pela minha adolescência demasiado cedo, a verdadeira idade da estupidez. Cometi bastantes erros, fiz demasiadas asneiras, mas independentemente de tudo acredito que aprendi com eles e que foi preciso fazer escolhas erradas ou até bater no fundo do poço, em alguns momentos, para me tornar na mulher que sou hoje. Com isto, percebi que a vida é como uma montanha russa, tem momentos mais altos e momentos mais baixos, sendo que o principal objetivo é que esta minha “carruagem” não pare ou descarrile, o que por vezes pode parecer complicado.
Assim sendo, os meus olhos contam o que a minha boca não quer contar, descrevem os meus mais profundos pensamentos e os meus mais profundos sentimentos, revelando a minha fraqueza para que todo o mundo a possa ver… “Os nossos olhos falam coisas que a boca na maioria das vezes não sabe, ou até mesmo não tem coragem de dizer” - Ivanilson Oliveira.
Todavia o meu olhar apenas conta o meu passado e o meu presente, sendo assim o meu futuro visto nos meus próprios olhos é uma mera dúvida e/ou incerteza. Obviamente que, como a maior parte da nossa sociedade, tenho sonhos e objetivos que gostaria de cumprir, como por exemplo, ter uma família, ser uma ótima profissional na minha área, independentemente de qual esta for, viajar pelo mundo, entre tantos outros desejos. No entanto, desde há uns anos para cá prefiro viver no presente e saborear os bons momentos que a vida me dá, ao invés de esperar por algo que poderá não vir, assim tento a ser uma pessoa alegre.
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Em suma, os meus olhos, vistos do meu próprio olhar, contam a minha história de vida de uma forma inédita e destemida, sendo que, como disse anteriormente, muita das vezes contam o que não quero ou não tenho coragem para dizer por palavras, “Os meus olhos contam coisas que a minha boca não quer falar” – Evelyn Souza.
Alexandra Felisberto
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“Cumpramos o que somos Nada mais nos é dado”
Ricardo Reis
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