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“Our lives are not our own”
O que é que faz de nós únicos? Todos nós encontramos
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conforto em pensar que há algo de especial sobre nós próprios, mas será que a noção de “eu” que tenho de mim mesma é sequer fiel à realidade?
Bem, lembro-me de quando li pela primeira vez a expressão “Our lives are not our own” de David Mitchell, que significa “As nossas vidas não nos pertencem”, pois fez-me pensar no quão pouca influência tenho no rumo da minha
vida. Penso que são as minhas experiências que me formam e como apenas tenho controlo das decisões que posso tomar, quem eu sou é o resultado de uma junção entre as escolhas que faço e todos os outros fatores externos. Por exemplo, quem eu sou agora é a consequência de ter decidido estudar nesta escola, os amigos com quem me escolhi dar e o curso que optei. No entanto, há elementos fora do meu controlo, tal como os professores que me foram atribuídos ou o ambiente escolar, que foram igualmente impactantes e decisivos quanto ao meu percurso enquanto estudante e pessoa!
Tudo isto leva-me a questionar se, caso eu tivesse optado por outros caminhos e passado por outro tipo de experiências, o meu caráter se manteria. O simples facto de ter nascido com dupla nacionalidade ou de sempre ter vivido na praia são fatores que desde logo me moldaram, por isso não sei dizer ao certo se
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eu seria a mesma pessoa caso tivesse nascido e crescido numa realidade totalmente diferente. Estou perante o velho conflito - O que é mais determinante: a minha natureza ou a minha educação? Não sei se alguma vez saberei responder a essa pergunta, no entanto gosto de pensar que o meu propósito não é “encontrar-me” ou “descobrir quem sou”, mas sim tentar tornar-me em alguém de que me orgulhe.
Eu sou agora uma pessoa diferente de quem eu era e de quem serei no futuro, o que apenas revela que, tal como todos nós, sou um ser em constante crescimento e transformação e que, ao longo do tempo, aprendo, adapto-me e renovo-me. Isto significa que é impossível dizer que, ao longo da minha vida, terei uma só identidade que me defina, uma vez que tudo aquilo que me define neste momento, ou seja as minhas crenças, sentido de humor, valores, gostos, passatempos e inclinações, vai eventualmente sofrer alterações.
Tenho de admitir que, ao passo que consigo olhar para trás e determinar com alguma facilidade que tipo de pessoa era, é complicado tentar expressar por palavras quem eu sou atualmente. Sinto que consoante as pessoas com quem estou, o ambiente em que estou inserida ou até a língua que estou a falar, a minha personalidade varia. Às vezes tudo isto me leva a ter uma espécie de crise de identidade, no entanto, acho que em última análise tenho de pensar que é um aspeto bom ter a capacidade de moldar a minha personalidade consoante a situação em causa, permitindo-me encontrar sempre algum tipo de harmonia com o meio que me rodeia.
Toda esta reflexão acaba por ser bastante egocêntrica, o que não me sai com muita naturalidade. Sempre tive muito interesse em ler livros filosóficos porque gosto de refletir sobre questões que me obrigam a pensar como é que o mundo à minha volta funciona, por isso ter de interpretar a minha própria existência é algo invulgar. No entanto, penso que isto é um exercício fundamental, uma vez que ao aprender mais sobre mim, acabo por conseguir compreender melhor a humanidade como um todo.
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Estou curiosa por descobrir o que é que daqui a uns anos vou achar de mim mesma, mas neste momento posso dizer que sou uma pessoa imensamente grata por tudo aquilo que tem e cheia de vontade de descobrir o que aí vem!
Carlota Cutler
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José Saramago
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