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Serei uma viajante com muita bagagem
Acredito que uma pessoa, quando nasce, é apenas isso, uma pessoa. No entanto, cada um de nós é responsável pela construção da sua própria essência, assimilando e aprendendo com quem faz parte da nossa vida.
Comecei a minha viagem de comboio numa estação chamada “FAMÍLIA”, onde os passageiros aguardavam ansiosamente a minha vinda. Penso que os meus primeiros passos na jornada que é a vida nasceram do carinho imenso dos meus pais e irmãs e dos seus ensinamentos tão importantes para o futuro. O meu pai ensinou-me a importância da sabedoria e a apreciar as pequenas coisas do diaa-dia. A minha mãe mostrou-me como a responsabilidade e a perseverança me podem levar longe. Aprendi com a minha irmã mais velha, Lia, que devo guardar todas as pedras no caminho para um dia construir um castelo. A Fabiana inspiroume a querer aprender sempre mais e a ser curiosa em relação a tudo. E por fim, a Janice ensinou-me a encarar a vida sempre com boa-disposição e a nunca abandonar a criança que vive dentro de mim.
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Quando olho para trás, para toda a minha vida, admiro-me de como este comboio tem andado tão rápido. Tantas paragens, tantas pessoas que entraram e saíram! Algumas dessas pessoas e as experiências que vieram com elas tornaram a viagem difícil e pesarosa, mas a maior parte deixou-me no regaço algo valioso que agora guardo na minha mala. As suas oferendas modularam firmemente os meus objetivos de vida e sonhos.
Na estação “ESCOLA”, entraram os amigos barulhentos e divertidos, que me introduziram nas suas brincadeiras que me fizeram sentir às vezes princesa e outras vezes super-herói. Também vieram os professores, aqueles que guardo a sete-chaves no coração, que me abriram ainda mais a cortina do mundo, para ter acesso a todo o esplendor da vida.
Conheci na estação “MÚSICA” muitas pessoas que ainda agora me acompanham no meu percurso. Com elas, aprendi a expressar através do piano e da guitarra o que as palavras não conseguem.
Cheguei, há pouco tempo, à estação “COLÉGIO”, onde o comboio se encontra parado atualmente. Nesta curta paragem, os professores que entraram presentearam-me com tudo aquilo que me vai ajudar nas próximas estações, lá adiante, para que nunca me sinta perdida. Também me deslumbrei com as cores da verdadeira amizade (lealdade, companheirismo, felicidade), com colegas que espero que continuem a fazer parte da minha vida futura. O comboio está prestes a partir. Já ouço o apito. Confesso que estremeço com a ideia de continuar esta tão incerta viagem.
Mas será assim tão incerta? Olho para a minha bagagem e ao ver tantas memórias e tantas lições de vida, sinto-me acompanhada. Viro-me para a janela e vejo as pessoas que deixei na estação. Cruzo as mãos no peito em sinal de agradecimento. “Obrigada!” grito-lhes, comovida, “Obrigada a todos! Fizeram-me feliz!” Elas sorriem e acenam-me de volta. As pessoas que permanecem na carruagem apertam-me as mãos para me lembrarem que estão comigo.
Até agora, a viagem tem sido tranquila. O comboio segue sem sobressaltos. Entram, por vezes, ladrões de sonhos, mas aqueles que me acompanham protegem-me e expulsam-nos, ensinando-me como os distinguir entre a multidão. Sei que, com tudo aquilo que fui guardando graças àqueles que fizeram parte da minha vida, serei capaz de alcançar tudo. Aguarda-me lá à frente, muito em breve, uma nova etapa.
Quem entrará na próxima estação? Quem sairá que nunca mais verei? E eu, quem serei?
Serei, certamente, uma viajante com muita bagagem. Mas sei que também terei sempre espaço e força suficiente para carregar mais.
Leonor João