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Tenho os olhos postos na melhor versão de mim que está para vir
Desde muito nova que me habituei a mudar de casa em casa, de cidade em cidade e quase de vida. Para mim, lar sempre foi, por isso, sobre um grupo de pessoas e nunca sobre um local específico.
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Tive uma infância muito
normal, eu diria, porém, fui ao mesmo tempo, durante essa época, uma criança muito feliz. Nasci no Porto e fui, passado pouco tempo, para Lisboa, cidade pela qual até ao dia de hoje tenho um enorme carinho. Passados uns anos mudei-
me para o Norte do país e desde então que aqui vivo, na belíssima terra que é o Porto.
A realidade é que responder à questão “Quem fui, quem sou e quem serei?” tem muito que se lhe diga, porém considero inevitável ser abordada a temática da mudança e da passagem do tempo. A mudança é inerente ao ser humano e fundamental para a evolução da sociedade. Aliás, como Buda uma vez disse, “Nas nossas vidas, a mudança é inevitável. A felicidade reside na nossa adaptabilidade em sobreviver a tudo o que é mau”.
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Deste modo, assim como a realidade que me rodeia hoje é diferente da que vivenciei em tempos passados, também seguramente a que irei, futuramente, vivenciar será distinta da dos dias de hoje.
Quem eu uma vez fui, quem eu sou e quem um dia serei são três pessoas diferentes, contudo semelhantes, dado que levo comigo os mesmos valores de sempre e mantenho muitas das minhas perspetivas sobre a vida. A dança, por exemplo, é uma das minhas grandes paixões que me acompanha desde que me lembro. Já não sei referir o ano específico que comecei a dançar, apenas que desde então esse gosto nunca saiu de mim. O mesmo acontece com a música. Ouvir música diariamente sempre foi algo terapêutico para mim, sempre serviu como uma escapatória, ainda que por meros momentos, de todos os problemas ao meu redor.
Deste modo, todas os momentos que vivenciei até à data, bons e menos bons, tiveram de algum modo impacto na pessoa que sou hoje. Exemplo disso é a minha experiência no Colégio Internato Claret.
Entrei para o colégio em 2013 e como tal, são inúmeras as memórias que aqui fiz e que levo comigo. Durante estes oito anos, o colégio permitiu-me conhecer inúmeras pessoas e construir amizades que hoje já não vivo sem. É verdade que nem tudo foi perfeito mas acredito que as experiências menos positivas me fizeram crescer e me deram força para enfrentar tudo o que a vida me trará daqui para a frente.
Em termos de vivências, durante os anos que aqui estudei, é também inevitável falar da pandemia que se está a viver no momento e que veio condicionar a vida de todos nós. Em tão pouco, a COVID-19 exigiu de nós, humanidade, toda uma nova adaptação da nossa forma de viver. Para além disso, tratando-se o décimo segundo ano de um ano tipicamente stressante e exigente só por si mesmo, acrescentar ainda uma pandemia pelo meio e tudo o que esta implica, foi sem dúvida um desafio.
Sendo eu uma das dezenas de milhões de pessoas que foram contagiadas com este vírus, posso com certeza admitir que foi uma experiência extremamente
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desafiante vivenciar tudo aquilo num ano tão crucial das nossas vidas como o que estamos a terminar. Porém, acredito que é com a cabeça erguida que se deve encarar a vida e como se costuma dizer, “o que não nos mata, torna-nos mais fortes”.
Nos dias de hoje, considero-me uma pessoa ambiciosa. Assim como qualquer outro adolescente, também eu “tenho em mim todos os sonhos do mundo”, o que leva a, por vezes, ser um pouco exigente de mais comigo mesma. A vida no momento está longe de ser perfeita, no entanto, mesmo com todas as complicações, considero-me uma pessoa muito feliz e realizada. Continuo impaciente e teimosa, como sempre fui, mas confesso que isso é algo que tenho vindo a trabalhar em mim.
Adoro viajar, apesar de ser algo que no momento atual não é tão viável quanto em tempos foi. Adoro o verão e os jantares fora nas noites de mais calor. Adoro passar tempo com quem é mais importante para mim, organizar jantaradas com os meus amigos e estar horas à mesa a conversar. Adoro a vida, ou pelo menos, o que esta representa para mim.
Atualmente não temo a mudança pois acredito na importância da mesma. Quanto ao futuro, creio que só o tempo ditará o rumo que certas coisas tomarão na minha vida. Muitas partes são incertas, porém planeio permanecer ambiciosa, como até à data sempre fui e sonhadora, sempre em busca de algo mais. Gostaria de voltar a ter a possibilidade de viajar pelo mundo fora. Gostaria de ter a experiência de viver fora do país, nem que por pouco tempo e de, um dia, lá no futuro, construir a minha própria família. Lá no fundo, para o futuro, pretendo ser simplesmente, nada mais, nada menos, do que genuinamente feliz.
Assim, apesar de me orgulhar da pessoa que sou hoje, tenho os olhos postos no futuro e na melhor versão de mim que está para vir. Como Fernando Pessoa uma vez disse, também eu “Sou, por índole, e no sentido direto da palavra, futurista”.
Catarina Alves
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Fernando Pessoa
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