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7.5 Mapa do total dos gastos com pessoal

O total dos gastos com o pessoal é calculado automaticamente pela folha de cálculo (quadro 7.5), sendo ainda apresentada a sua evolução ao longo dos anos, tendo em conta a atividade prevista pela organização social.

Quadro 7.5 – Mapa do total dos gastos com pessoal

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7.3 Investimentos

Fonte: folha Excel dos autores

O desenvolvimento da estratégia social implica a realização de um investimento inicial que a empreendedor social tem de fazer para arrancar com a iniciativa. Envolve, por exemplo, a aquisição de equipamento administrativo, de transporte ou equipamento básico para o desenvolvimento da resposta social. Inclui, ainda, a compra de material informático ou de software. No caso da aquisição de edifício o custo será incluído aqui.

Por outro lado, será necessário fazer uma estimativa de outros investimentos que são indispensáveis realizar para o arranque da iniciativa social, bem como para os anos seguintes em função da possível estratégia de expansão da organização social ou da substituição dos equipamentos adquiridos, que poderá ser estimada através do uso do mapa em Excel (quadro 7.6).

Para que a depreciação/amortização dos ativos seja contabilizada para o apuramento dos resultados, será necessário indicar a respetiva taxa de depreciação.

Quadro 7.6 – Mapa dos investimentos

7.4 Financiamento

Fonte: folha Excel dos autores

O desenvolvimento da estratégia de intervenção de uma organização social arrasta consigo um conjunto de necessidades financeiras, em virtude de ser necessário conseguir meios monetários para a aquisição dos recursos e atender às atividades necessárias ao projeto social. O acesso a financiamento é crítico para a sustentabilidade e/ou crescimento das organizações sociais.

A realização das estimativas no âmbito da orçamentação, anteriormente apresentadas, permitirá à organização social a determinação das necessidades de recursos financeiros, com o apuramento dos montantes de recursos financeiros necessários para cada período de tempo .

As necessidades de financiamento resultam do investimento a realizar, bem como da constituição de uma reserva de tesouraria para fazer face aos encargos operacionais que as atividades impõem (como, por exemplo, pagamento de salários, pagamento a fornecedores ou pagamento de impostos ao Estado), que poderá ser estimada como uma percentagem do volume das operações desenvolvidas pela organização social.

As necessidades de financiamento das organizações sociais poderão ser observadas a curto-prazo, para assegurar a liquidez da organização e fazer face a despesas de funcionamento da sua atividade, ou a médio/longo prazo, de modo a permitir fazer os investimentos necessários, que terão um horizonte temporal mais alargado .

O apuramento das necessidades de financiamento será importante para que a organização social possa obter esses recursos da forma mais vantajosa, tendo em conta as diferentes opções de financiamento disponíveis.

7.4.1 As fontes de financiamento para as organizações sociais

Numa fase inicial da organização poderão ser especialmente relevantes os fundos financeiros que sejam mobilizados através das poupanças do próprio fundador ou da sua rede de contactos, sejam estes familiares, amigos, antigos colegas, parceiros de negócio, membros da comunidade ou pessoas interessadas no problema social em causa .

A organização social poderá ainda obter recursos financeiros através de fontes de capital próprio, onde se incluem, a título de exemplo, as entradas de capital efetuadas por cooperadores ou associados, consoante o estatuto jurídico prosseguido pela organização social.

A obtenção de financiamento poderá ainda ocorrer por via de mecenas ou filantropia tradicional, que oferecem a título gratuito recursos financeiros à organização social. Para o efeito poderão ser empreendidas atividades de angariação de fundos junto da comunidade a ser levadas a cabo para finalidades específicas. O financiamento poderá ser também realizado através de Fundações Filantrópicas, entidades institucional e legalmente comprometidas com propósitos sociais, que dispõem de montantes específicos para apoio ao desenvolvimento de projetos de cariz social (por exemplo; fundação Google, fundação Rockefeller, Fundação Calouste Gulbenkian, entre muitas outras).

O financiamento poderá, ainda, ocorrer por via de fundos e programas europeus de financiamento, concebidos com objetivos específicos de apoio às entidades da economia social. O montante de financiamento e a proporção do financiamento que será reembolsável dependerá das características específicas do programa de financiamento. A candidatura aos programas de financiamento exigirá, no entanto, a disposição de recursos humanos qualificados para a preparação das respetivas candidaturas. Uma outra opção para a mobilização de financiamento são os apoios financeiros públicos de âmbito nacional, onde se incluem prémios, concursos e programas específicos, bem como apoios não monetários e donativos diretos.

Os montantes de financiamento disponibilizados pelos mecanismos tradicionais têm-se revelado insuficientes para as necessidades das organizações sociais e são atribuídos por períodos de tempo demasiadamente curtos, o que os torna incompatíveis com o perfil das organizações sociais. Dado o reconhecimento da insuficiência e inadequação dos tradicionais mecanismos de financiamento, várias entidades (incluindo públicas) têm desenvolvido esforços no sentido de criar novas formas de financiamento que permitam gerar os fluxos financeiros mais adequados para as iniciativas sociais . Um desses esforços tem levado ao desenvolvimento de

instrumento de investimento social. É aqui que se inserem os chamados títulos de impacto social . Estes consistem em contratos entre uma entidade do setor público e investidores privados, que se comprometem a financiar um determinado programa de melhoria social ou projetos inovadores em áreas prioritárias de política pública, mediante o alcance de resultados sociais mensuráveis previamente contratualizados. Este instrumento financeiro permite alinhar os objetivos de um conjunto de stakeholders perante um propósito de cariz social.

Refira-se, ainda, o crescimento que os fundos de investimento social começam a assumir, representando uma opção de financiamento com potencial para o setor social. Trata-se de uma modalidade que reúne o capital de vários investidores privados num fundo. Estes fundos aplicam os recursos que têm à sua disposição em projetos que se revelem promissores, em termos de valor social ou económico mensuráveis e que satisfaçam determinados critérios ambientais e sociais, tais como tecnologia limpa, educação, saúde, e desenvolvimento comunitário . Os gestores desse fundo têm discricionariedade para aplicarem os recursos, de uma forma global, nos programas que lhes pareçam mais relevantes.

Aplicando-se o conceito originário do setor empresarial, têm também sido criadas sociedades de capital de risco e Business Angels para as organizações sociais. Estas entidades investem o seu próprio capital na iniciativa social, com o intuito de obter uma determinada rentabilidade. Para além de oferecer o capital, disponibilizam o seu know-how e a sua rede de contactos para acompanhamento ao projeto. É uma modalidade de financiamento particularmente relevante nas fases iniciais das organizações sociais. A participação destas sociedades ou investidores no capital das organizações sociais é geralmente temporária.

Na mobilização de recursos financeiros há que considerar a possibilidade de mobilização de donativos, fornecidos por particulares ou empresas, bem como os fundos mobilizados por organizações no âmbito da sua estratégia de responsabilidade social corporativa .

A mobilização recursos financeiros poderá ocorrer por via da obtenção de empréstimos bancários tradicionais, junto das instituições financeiras. Tratase de uma operação através da qual um banco coloca à disposição de um seu cliente (beneficiário do crédito), um determinado montante, que este último se compromete a reembolsar na data previamente fixada, acrescido de juros antecipadamente fixados (que poderá envolver uma taxa de juro fixa ou variável). Pode haver um período de carência, que significa que o reembolso do capital solicitado apenas começará a ser realizado a partir de um determinado período de tempo (geralmente definido em anos).

Neste caso, o capital solicitado deverá ser reembolsado na maturidade acordada no contrato de empréstimo e envolver o pagamento de uma taxa de juro, contratada com a instituição financeira. Para além disso, poderá recorrer a linhas de crédito

especificamente concebidas para o setor social, seja por parte das instituições financeiras existentes no mercado, seja por outras entidades públicas ou do setor social. De referir, a título de exemplo, agências multilaterais, tais como o Banco Mundial, a Agências das Nações Unidas, ou o Banco Europeu para a Reconstrução e Desenvolvimento, bem como programas concebidos por entidades de apoio à economia social (Cooperativa António Sérgio para a Economia Social, por exemplo).

De referir também o papel do microcrédito, que é numa tipologia de financiamento que consiste na atribuição de empréstimos de pequenos montantes (geralmente inferior a 25.000 euros), e que poderá ser mobilizado por entidades da economia social. Apesar dos montantes relativamente baixos que permitem mobilizar, poderão ser uma modalidade interessante . Como vantagens face a outras operações de créditos tradicionais, o microcrédito envolve menos burocracia na contratualização, taxas de juro mais favoráveis e facilidade ao nível das garantias exigidas.

Uma outra modalidade interna à organização social é o autofinanciamento, que se traduz nos meios financeiros obtidos e retidos pela organização social, através de possíveis excedentes. Pode ser utilizado para financiar investimentos de expansão futuros, assegurar a atividade operacional da organização, bem como viabilizar o reembolso de dívidas de médio e longo prazo. No entanto, o montante de recursos capazes de serem mobilizados por autofinanciamento nas organizações sociais tende a ser bastante limitado, em virtude da dificuldade de apropriação de valor com que geralmente se deparam, bem como pela limitação à possibilidade de geração de excedentes, por vezes imposto pelos seus estatutos e pela sua finalidade sem fins lucrativos.

Uma outra modalidade de financiamento é o crowdfunding (CF). É uma modalidade de angariação de fundos em quantias relativamente pequenas, através de um número relativamente elevado de pequenos investidores ou doadores. O financiamento de um projeto específico ocorre por via de um conjunto de pequenos investidores (“the crowd”), por oposição à solicitação de um montante elevado a uma única entidade. Para mediar o processo existe um portal de financiamento ou uma plataforma virtual, onde se promove a interação de uma comunidade que partilha os mesmos interesses em relação a uma causa . Trata-se, portanto, de uma modalidade de “financiamento coletivo” ou “financiamento colaborativo”, onde se visa potenciar o encontro entre uma rede de empreendedores sociais (que têm um projeto que gostariam de desenvolver e para o qual carecem de financiamento) e de potenciais investidores (que estão dispostos a aplicar os seus fundos em projetos sociais que se revelem sustentáveis e que pretendam apoiar).

A figura 7.4 ilustra o papel de cada um dos intervenientes no processo de CF. O empreendedor, social ou empresarial, inicia o processo com a ideia (a), que coloca na plataforma e solicita uma doação/investimento (b). Em troca, o investidor transfere fundos (c) e aconselha (d) o empreendedor, que consoante o modelo de CF escolhido, fornece uma recompensa em espécie (produto) ou monetária (e) ao investidor ou backer (apoiante).

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