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O PRIMEIRO ENCONTRO

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ESCRITORES

ESCRITORES

A primeira vez que Lygia viu mesmo os cromossomos foi na universidade, antes disso eles estavam ilustrados nos livros escolares, desenhados como uns bastõezinhos. Nesse dia, ela estava no estágio no laboratório da Universidade Federal do Rio de Janeiro, que ficava em um subsolo, quando a professora, que estava olhando no microscópio, disse: “Olha aqui”. Quando ela encaixou seus olhos nas lentes, viu por dentro de uma gotinha de sangue os cromossomos humanos: “São de verdade!”.

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ZUM, ZUM, ZUM

Lá naquele laboratório da UFRJ, pesquisava-se a genética das moscas drosófilas, aquelas mosquinhas que sempre voam em volta da banana. Pode parecer esquisito estudar uma mosca, mas, ao fazer experimentos com elas, é possível estudar uma porção de coisas de genética. A partir desses organismos mais simples, podemos encontrar algo parecido em bichos mais complexos, como nas pessoas. Aquelas mosquinhas são capazes de ensinar, dar pistas, de como as coisas funcionam na gente também.

Quando se estuda genética, pode ser em qualquer organismo, todos os seres vivos têm um genoma, que é uma receita que a natureza segue para formar uma planta, um bicho, um vírus, uma bactéria, ou nós, seres humanos. O genoma também determina como esse ser vivo funcionará ao longo de sua vida.

UMA COISA PODE VIRAR OUTRA?

Sabe aquelas águas-vivas que brilham no escuro? Elas são bioluminescentes, possuem um órgão capaz de emitir um brilho verde, quando são agitadas. Em 1962, um químico japonês, chamado Osamu Shimomura, estudando as águas-vivas, descobriu a primeira proteína fluorescente em um ser vivo. Na década de 1970, sua pesquisa desvendou o que fazia essa proteína brilhar. Vários cientistas se interessaram na descoberta e começaram a fazer experimentos. Eles queriam que as cores brilhantes funcionassem como canetas marca-texto, assim seriam indicadores de processos biológicos em organismos vivos. Imagine poder localizar pelo brilho de uma célula o aparecimento de uma doença! Hoje, esse gene pode ser inserido no genoma de bactérias, plantas, camundongos e até células humanas para aprender sobre a biologia de cada ser vivo.

Alimentos Geneticamente Modificados

A soja transgênica tem um gene de uma bactéria que produz uma proteína tóxica para a lagarta. Coitadinha da lagarta!, mas dessa forma não é preciso colocar na plantação o inseticida que faz mal à nossa saúde. Em outros alimentos, como arroz e tomate, foram colocados genes que aumentam seu valor nutritivo. No entanto, algumas dessas ideias ainda podem causar desconfiança nas pessoas, como novas tecnologias às vezes causam. Mas a ciência feita de forma séria e responsável vem permitindo o avanço dos transgênicos, e ao mesmo tempo protegendo a saúde e o meio ambiente.

UMA CABRA PODE SER UMA FARMÁCIA?

Olhem só outra ideia incrível. Existem pessoas que não conseguem controlar a quantidade de açúcar no sangue: é a diabetes. Quem tem essa doença não produz o hormônio insulina que ajuda a regular o açúcar no sangue. Imagine colocar o gene da insulina dentro de uma cabra, no seu genoma, para que ela produza a insulina direto no leite. Ou no genoma de uma galinha, para que ela produza a proteína na clara dos ovos? Esses animais são conhecidos como biorreatores, são geneticamente modificados para ter a capacidade de fornecer algumas substâncias aproveitadas na área farmacêutica, ajudando pessoas com doenças. Atualmente já existem três medicamentos em uso produzidos em animais transgênicos.

Colocando Os Genes Na Terapia

Uma pessoa tem uma doença genética por possuir um gene defeituoso. Lembra que o genoma é uma receita? Seria a receita com uma instrução errada. A terapia gênica vai inserir na receita uma cópia correta daquela instrução, ou melhor, inserir no seu genoma uma cópia normal desse gene defeituoso nas células dessa pessoa. A estratégia da terapia gênica é usar alguns tipos de vírus como transportadores da cura. Como os vírus são craques em inserir seu DNA em células humanas, os pesquisadores substituem a parte do DNA vírus que nos faz mal, colocando no lugar o gene terapêutico, capaz de curar a doença da pessoa.

“MINHA TIA É MÉDICA DE RATINHOS”

Isso era o que sempre dizia uma sobrinha da Lygia, durante sua pesquisa com camundongos. A cientista estudou a Síndrome de Marfan, uma doença rara, e os ratinhos ajudaram bastante. Essa doença faz as pessoas ficarem com braços e pernas muito compridos, e com problemas no coração que podem até levar à morte. Seu trabalho de doutorado foi sequenciar o gene que causa essa doença, e ela descobriu que o camundongo tem esse mesmo gene.

Então, criou um camundongo com uma mutação naquele gene, com perninhas e bracinhos compridinhos, mas, dessa forma, foi possível estudar a doença com mais detalhes e entender melhor, realizando uma série de experimentos com o ratinho, testando novas terapias para essa doença no camundongo, antes de testar no ser humano.

Lygia morou nos Estados Unidos. Quando ela voltou para o Brasil, e criou o primeiro camundongo de laboratório no Brasil, foi uma grande repercussão. Era uma técnica feita nos Estados Unidos havia uns 10 anos, mas aqui era a primeira vez. Para criar os ratinhos, Lygia e sua equipe usaram células tronco de camundongo, chamadas células tronco embrionárias, modificando o DNA nessas células-tronco, para depois colocar a célula-tronco dentro do embrião do camundongo e aí essa célula se tornar o próprio camundongo.

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