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OUTRAS CIÊNCIAS: OS YANOMAMI E A QUEDA DO CÉU
Muito antes dos cientistas falarem sobre o impacto das mudanças climáticas na camada de ozônio, nos anos 1990, Davi Kopenawa Yanomami já alertava sobre os perigos do céu cair. A imagem do céu desabando é a forma como o povo yanomami compreende os impactos da devastação ambiental, advindos da “fumaça do metal” emitida pelos maquinários dos nape, (não indígenas). É o que a ciência ocidental entende como aquecimento global.
Os Yanomami entendem o cosmos como algo vivo, que sonha e se manifesta, intimamente ligado à vida de todos nós. Para eles, a floresta e o mundo são sinônimos, traduzidos nos conceitos de hutukara e urihi, a “terra floresta” cujo coração pulsa e respira embaixo do solo. O que chamamos de natureza, eles chamam simplesmente de vida. Palavras que se aproximam do que chamamos de ecologia: o entendimento de que todos nós fazemos parte de uma cadeia de relações entre seres vivos e o meio em que vivemos.
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Davi Kopenawa Yanomami é xamã. Ele é o maior porta-voz de seu povo, tornando-se uma das lideranças indígenas mais reconhecidas nas últimas décadas. Discursou diversas vezes na ONU e recebeu premiações internacionais. Ele é autor do livro A queda do céu (2015) junto ao antropólogo Bruce Albert. Em 1992, foi um dos responsáveis pelo reconhecimento oficial da Terra Indígena Yanomami, uma das maiores reservas indígenas do Brasil até hoje, e continua seu trabalho de defesa da floresta contra a invasão de garimpeiros, motivo da crise ambiental e humanitária que seu povo está sofrendo.
Trata-se de compreender que cada forma de habitar o mundo produz novos jeitos de conhecê-lo, respeitá-lo e, até mesmo, salvá-lo. É nesse sentido que a ancestralidade se mostra como o portal para o futuro: resgatando saberes dos povos tradicionais é que vamos (re)aprender a habitar o mundo.