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CARLOS NOBRE

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ESCRITORES

ESCRITORES

O Valor Da Floresta

Vamos voltar 520 anos na História, a 22 de abril de 1500. As 13 naus portuguesas comandadas por Pedro Álvares Cabral chegam ao sul da Bahia em Porto Seguro. O cronista Pero Vaz de Caminha escreve uma carta admirado com a chuva de todos os dias e com a exuberância e a diversidade da Mata Atlântica, pois as florestas a que estava acostumado, em Portugal, tinham uma ou duas espécies de árvores. Na carta, escreve: “Em se plantando tudo dá”, pensando que se há toda aquela vegetação e chuva, então poderiam trazer qualquer espécie da Europa e plantar lá. A floresta não tinha valor. Os conhecimentos da agricultura de roça dos tupinambás, com dezenas de alimentos, fibra, ervas fitoterápicas, muito mais desenvolvida que a dos europeus, foram totalmente ignorados por uma presunção de superioridade, já que os indígenas não tinham metais ou pólvora, e foram devastados pelas doenças que os colonizadores trouxeram em seus organismos.

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Esse exemplo, tão longínquo, continuou sendo replicado, como o gado que não se adaptou na Mata Atlântica, mas que foi levado com sucesso ao Cerrado; ou a floresta, que foi derrubada e substituída pela cana-de-açúcar do sul da Ásia e depois pelo café da Arábia. Nunca se viu valor econômico na floresta, a ciência de hoje mostra a potencialidade do valor econômico da floresta em pé.

Hoje sabemos que as florestas brasileiras contêm 16 mil espécies. Somos o país que tem a maior diversidade de árvores do planeta. No local onde aportaram os portugueses, existiram 450 diferentes espécies por hectare.

A Floresta De Dentro

Carlos Nobre pesquisa e escreve sobre mudanças climáticas, desastres naturais, sobre a importância da Amazônia para a estabilidade climática e os riscos do desmatamento e das queimadas. Paulistano, ele sempre morou perto de áreas onde ainda existiam árvores da Mata Atlântica. Seu pai costumava levar os filhos para passear na mata e falava a respeito dos animais, da importância da vegetação e do papel dos seres humanos, o que acabou inspirando quatro de seis irmãos a se tornarem cientistas ligados à área ambiental. Carlos guardou na memória a paisagem de uma caminhada de mais de 10 quilômetros feita com o pai na Serra do Mar.

Nos anos de 1960 era comum seguir a carreira de engenharia quando o aluno era bom em matérias como Física e Matemática. Foi assim que Nobre acabou se diplomando engenheiro eletrônico pelo ITA - Instituto Tecnológico de Aeronáutica. Mas a atenção com o meio ambiente sempre o atraiu. Até hoje ele se lembra de uma palestra do biólogo Paulo Nogueira Neto, a que assistiu aos 16 anos, que abordava a importância dos ecossistemas, da natureza: “Aquilo ficou na cabeça”.

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