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A MATA PARA BAIXO E O TERMÔMETRO PARA O ALTO
O relógio de nosso planeta sempre foi lento. A paisagem de gelo que cobria a Era Glacial da Terra levou 12 mil anos para chegar ao Holoceno, período em que vivemos, chamado também de interglacial. Foi preciso todo esse tempo para que a natureza aumentasse 5ºC na temperatura terrestre.
Entretanto, em “apenas” dois séculos, com as ações humanas após a Revolução Industrial, nós já aumentamos em quase 2ºC a temperatura média global. Ou seja, a velocidade com que estamos acelerando o relógio do planeta e transformando o meio ambiente é de 30 a 50 vezes mais rápida do que a ação dos sistemas naturais.
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Os anos de 2015 a 2021 foram os seis mais quentes do registro histórico que começou em 1850. Se compararmos com 200 anos atrás hoje temos:
♦ Ondas de calor acontecem duas vezes mais;
♦ Chuvas intensas acontecem uma vez e meia mais;
♦ Furacões, ciclones já ocorrem com muito mais frequência e intensidade.
Essa é a resposta do planeta ao aquecimento global.
Petrópolis 15/02/2022 - As enchentes, os deslizamentos e as mortes trágicas decorreram de uma rápida mudança de temperatura do oceano, que naquele dia ficou muito mais quente. Com o aumento da evaporação de água, o vapor subiu e encontrou a Serra Fluminense, a primeira em direção ao mar, onde já são comuns as chuvas de encosta no verão. Um evento extremo agravado pelo aquecimento global.
Ao longo da evolução humana, nosso sistema fisiológico descobriu maneiras de estabilizar nossa temperatura próxima aos 36ºC. Além do fluxo de sangue, responsável por mantê-la equilibrada, o suor é importante para refrescar o corpo. Quando suamos, a água sobre a pele retira calor do organismo e, quando as gotas evaporam, o corpo esfria. Esses são mecanismos que a evolução desenvolveu. Mas se a temperatura do ar está muito alta, e o ambiente, úmido, o suor não consegue evaporar no ar saturado.
Carlos sempre praticou esportes e diz que alguns atletas costumam achar que é normal suar muito durante a prática do exercício. Mas em certos dias de inverno, podemos não ver suor, pois o ar é tão seco que faz evaporar a água. Já no verão, o ar carregado de umidade não consegue absorver as gotas de suor.
No ritmo atual das emissões de gases poluentes, se aumentarem os 4ºC no Rio de Janeiro, os nossos bisnetos não poderão mais morar na cidade. Se a temperatura máxima estiver em 43ºC, e a umidade relativa do ar chegar a 60%, o corpo não perderá calor no tempo necessário e entrará em colapso. Em 300 dias por ano, tirando parte do inverno, seriam várias horas por dia em que não poderíamos sair de casa. Um bebê ou um idoso só resistiriam a meia hora nessas condições, sujeitos a um ataque térmico, causando enorme impacto no cérebro e nos pulmões. O aumento tão rápido da temperatura não acompanha o ritmo da nossa capacidade de adaptação. Como não temos como evoluir para que nosso corpo aguente temperaturas tão altas, a melhor saída é impedir que o planeta esquente tanto.