Cientistas Brasileiros

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CIENTISTAS BRASILEIROS

Este livro é dedicado a todas as mulheres e todos os homens que contribuíram para salvar vidas durante a pandemia e aos trabalhadores do SUS - Sistema Único de Saúde. As pessoas que participaram da produção deste projeto acreditam na ciência.

Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro e Secretaria Municipal de Cultura patrocinam

Criada em 2013, a Lei de Incentivo à Cultura da cidade do Rio de Janeiro é o maior mecanismo de incentivo municipal do país em volume de recursos. No ano de 2021, atualizamos os procedimentos para tornála ainda mais democrática e mais simplificada. O Rio de Janeiro possui uma produção cultural diversa e que é decisiva para o seu desenvolvimento e para o bem-estar da população. Nossa lei, carinhosamente apelidada de Lei do ISS, é um de nossos mecanismos de fomento que buscam estimular o encontro da produção cultural com a população.

REALIZAÇÃO PATROCÍNIO

OS PIONEIROS

PADRE BARTOLOMEU LOURENÇO DE GUSMÃO

Afrustração de não conseguir voar sempre atormentou a humanidade. Se podemos andar como os animais terrestres, nadar como as criaturas marinhas e até mesmo nos arrastar e saltar feito répteis, por que não conseguimos alçar voo como os pássaros?

Pois eu, Padre Bartolomeu Lourenço Gusmão, passei a vida me dedicando a descobrir um meio de voar, não como as aves, pois não temos asas, mas através de alguma engenhoca que nos tirasse do chão. Por isso, ganhei o apelido de “Padre Voador”, embora nunca tenha conseguido voar.

Nasci em 1685, na Vila dos Santos, na capitania hereditária de São Vicente. A capitania não existe mais, mas a vila se

tornou uma cidade, e agora faz parte do Estado de São Paulo. Fui registrado como “português nascido no Brasil”, pois assim eram feitos os registros dos filhos de portugueses que vinham ao mundo em domínios da Coroa além-mar. O Brasil era então colônia de Portugal e terras de sua majestade. Minha família era bem grande, tenho mais irmãos do que os dedos das mãos, são onze, comigo doze filhos! Meu pai era português e minha querida mãe, brasileira. Assim como eu, a maioria dos meus irmãos decidiu seguir a vida religiosa, dedicando-se à Igreja.

Desde sempre as pessoas quiseram voar e, não conseguindo fazê-lo fisicamente, voavam em sonhos. Na Grécia Antiga, já se contava o mito do jovem Ícaro, que ganhou asas feitas com penas de pássaros coladas

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18.12.1685 – 18.11.1724

com cera de vela. Na história, Ícaro e seu pai Dédalo voaram para fugir do labirinto onde estavam presos, mas o filho, entusiasmado com a beleza do que via, voou alto demais, e o Sol derreteu a cera que unia as penas. As asas se desfizeram no ar e Ícaro caiu do céu.

Mas personagens que voam com asas estão apenas nas lendas. Nem o gênio Leonardo da Vinci, que viveu duzentos anos antes de mim, conseguiu alçar voo imitando os gaviões, as corujas e as pombas.

Assim foi, até o dia que o impossível me pareceu ser um sonho a se concretizar. Isso se deu quando descobri que o ar quente é mais leve que o ar frio. Alguns acham que percebi isso quando vi uma bolha de sabão subir mais rápido ao passar por cima da chama de uma vela. Outros imaginam que observei o papel picado que queimou, virou brasa e saiu voando. Mas ninguém sabe ao certo, então vou manter esse mistério.

Com essa ideia na cabeça, pedi licença ao rei de Portugal, Dom João V, para fazer uma experimentação. Eu tinha mais ou menos vinte e quatro anos e fiz várias tentativas: a primeira não deu certo, o pequeno balão pegou fogo antes de voar. Na segunda, voou quatro metros. Mas, como estávamos num salão, os criados do rei acharam que o balão poderia causar um incêndio e o destruíram. Na terceira tentativa, o balão, que levava uma vela acesa em seu interior, conseguiu fazer um voo curto, mas pegou fogo ao pousar. Na quarta tentativa, ao ar livre, o balão voou até que caiu apagado.

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E, finalmente, na quinta experiência deu certo! No interior do Palácio Real, o balão subiu até o teto, ficou flutuando um pouquinho e desceu com suavidade.

Patenteei minha invenção em Lisboa como “um instrumento para se andar no ar”. Na verdade, porém, nunca consegui fazer uma viagem num balão, o que só aconteceu muito tempo depois, em 1783, quando foi construído o primeiro balão tripulado com sucesso.

Mesmo assim, a fama de meu invento se espalhou. Foi aí que ganhei meu apelido. Começaram a circular desenhos da minha criação, que ficou conhecida como “Passarola”. Era a ilustração de uma barca em formato de pássaro, que não mostrava muito bem os mecanismos que a faziam voar. O desenho foi feito por um aluno meu. Ele me mostrou a ilustração e eu achei que seria um ótimo jeito de esconder a verdadeira forma de a engenhoca levantar voo. Com a Passarola, fiquei conhecido. Uns me achavam genial. E outros nem tanto…

Na vila onde nasci, tinha só uma escola, o Colégio de São Miguel, onde realizei meus estudos até ir para a Bahia. Depois disso fui para o Seminário de Belém, e lá comecei a estudar para me tornar padre. Nessa época, me descobri como inventor!

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Foi assim que aconteceu: o seminário ficava no topo de um monte de cem metros de altura. A água que se usava no colégio vinha de um riacho localizado embaixo, no pé da montanha. Dava um trabalhão danado levar os baldes para cima. Então inventei uma bomba hidráulica, que elevava a água do riacho até o seminário. Foi um sucesso! Meu invento foi registrado, a patente foi expedida em 1707 pelo rei português. Sou o primeiro brasileiro a patentear uma invenção, por isso sou considerado o primeiro cientista das Américas.

Quando terminei o seminário, fui para Salvador, onde ingressei na Companhia de Jesus. Antes de ser ordenado na Ordem Jesuíta, regressei a Portugal para estudar na Faculdade de Cânones da Universidade de Coimbra. Terminados os estudos, a convite de Dom João V, ocupei um cargo no Ministério das Relações Exteriores. Na Secretaria de Estado, me tornei uma espécie de agente secreto. Cabia a mim decifrar mensagens codificadas de outros reinos. A espionagem era uma prática muito comum nas cortes europeias. E eu era muito bom nisso, descobria os códigos de todas as mensagens. O rei e meus superiores sempre reconheceram minha inteligência. Imaginem que eu era capaz de abrir um livro que nunca tinha visto, ler três ou quatro páginas e repeti-las, sem olhar, palavra por palavra. E eu recitava não de cima pra baixo (como lemos naturalmente), mas começava com a última palavra da página até chegar ao início, deixando todos boquiabertos com minha façanha.

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Eu era estimado pelo rei e tinha uma alta posição na Corte portuguesa. Devo isso, em parte, a meu irmão Alexandre de Gusmão, que era um respeitado embaixador. Ele havia ajudado o monarca nas negociações do Tratado de Tordesilhas, que distribuiu as áreas do Novo Mundo entre Espanha e Portugal.

Eu havia inventado o balão, a bomba elevatória de água e não parava por aí. Também criei uma forma de tirar água de dentro das embarcações. O que acontecia é que os navios com frequência enchiam de água e terminavam afundando. Na época, chamei meu invento de “processo para esgotar água dos navios alagados”. O maquinário aproveitava a energia do vento, das ondas ou das correntezas, por meio de um jogo de pesos e contrapesos e de uma série de canaletas inclinadas, para remover a água acumulada nos porões dos barcos.

São muitas as ideias mirabolantes e bem-sucedidas que brotavam de minha cabeça - até um sistema de lentes para assar carne ao Sol, eu bolei. Mas tantos méritos não me pouparam da Santa Inquisição, uma instituição cruel formada pelos tribunais da Igreja Católica que perseguiam, julgavam e puniam pessoas acusadas de se desviarem de suas normas de conduta.

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Porém não foram os meus inventos que me trouxeram problemas, a Inquisição não se preocupava com descobertas científicas. Eram os idos de 1720 quando comecei a ser perseguido. Não vou entrar em detalhes, mas uma das confusões foi causada pela paixão que tive por uma moça que também fazia bater o coração do rei. Quem pode disputar um amor com o soberano?

Tive que fugir e destruí todos os meus documentos, por isso, infelizmente, não sobraram muitos desenhos das minhas invenções. Que pena! Entretanto, são águas passadas levadas na poeira do tempo. O que me deixa muito feliz é saber que o balão que inventei é lembrado até hoje. Soube que, em 1922, o grande inventor Alberto Santos Dumont disse a meu respeito: “A vossa justiça, toda a vossa justiça, não pode e não deve esquecer o primeiro, o precursor Bartolomeu Lourenço de Gusmão, o primeiro da aviação, também nosso, também brasileiro, ao lado do qual está o meu orgulho, que não poderá ser maior”.

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VITAL BRAZIL

No final de 1899, minha família respirou aliviada: agora as cobras estavam em um local apropriado. Até eu ficava um pouco tenso pensando que não era a melhor ideia manter as serpentes em um quartinho ao lado de casa. Para ter uma boa coleção de espécimes, eu pedia aos vizinhos que me trouxessem cobras vivas e os pagava pelo serviço. E ainda tinha um detalhe: eu alimentava as serpentes duas vezes por mês, com ratos e camundongos. Em boa hora foi inaugurado o Instituto Butantan, instalado em uma antiga fazenda, na zona Oeste de São Paulo. Para chegar até lá, posso ir por uma estrada de terra, onde só trafegam carroças puxadas por cavalos ou bois e sendo necessário atravessar uma ponte que me parece bastante insegura.

Venho de barco pelas águas claras do rio Pinheiros. Se vocês estranham eu me referir às águas como claras é porque estamos nos primeiros anos de 1900. Embora todos saibam que, com as chuvas, as águas do rio sobem, às suas margens estão localizados sítios, fazendas e moinhos. De tempos em tempos, tudo é alagado. Quer dizer, não a fazenda Butantan, onde as terras elevadas ficam secas, duras. Daí seu nome indígena: Butantan, que significa terra dura.

Já o meu nome, ganhei por ter nascido no Dia de São Vital. E sendo, antes de tudo, brasileiro, e por ter vindo ao mundo na cidade de Campanha, em Minas Gerais, fui registrado como Vital Brazil Mineiro da Campanha. Vamos facilitar: podem me chamar de Vital Brazil. Muito prazer.

15 28.04.1865 – 08.05.1950

Sou médico e sanitarista. Quando me formei, a humanidade estava começando a prestar atenção na prevenção de doenças. Que bom que na época em que recebi meu diploma já estavam sendo criados institutos para estudar as bactérias e produzir vacinas. Minha primeira tarefa como médico foi acompanhar e combater doenças infecciosas. Era um trabalho no qual eu sempre corria riscos, tanto que acabei sendo picado por um mosquito infectado e contraí a febre amarela.

Pouco tempo depois, já com a saúde restabelecida, recebi um convite para ser clínico na cidade de Botucatu, no interior paulista. E foi lá que as cobras entraram em minha vida: em um triste dia me trouxeram uma menina de 14 anos que tinha sido picada. Não existia ainda antídoto para o veneno; não havia nada que eu pudesse fazer e a menina morreu nos meus braços. Naquele momento, resolvi que iria pesquisar a cura para as picadas de cobras e de outros animais peçonhentos, como os escorpiões e as aranhas.

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Não havia a internet, então era muito mais complicado trocar informações com outros pesquisadores. Escrevíamos cartas e, embora fosse possível falar ao telefone, era necessário o auxílio das telefonistas para se completar as chamadas.

Eu estava realizando experiências com extratos vegetais, quando soube que cientistas franceses buscavam desenvolver um soro a partir da peçonha das serpentes. Peçonha é outra palavra que usamos para veneno. A ideia era uma novidade. Claro, a cura podia estar no próprio mal! Veneno contra veneno! Bingo!  Achei que eles estavam no caminho certo. Era hora de deixar a roça e voltar para a capital, onde seria mais fácil seguir com minhas pesquisas.

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Em São Paulo, fui contratado para trabalhar no Instituto Bacteriológico, que havia sido fundado para lidar com as enfermidades que se abatiam sobre a população. O trabalho era muito e a equipe, pequena.

No comando do Instituto estava Adolfo Lutz, meu querido amigo. Ele permitiu que eu seguisse com meus estudos e me deu ótimos conselhos. Inclusive foi ele quem criou o laço mais seguro para capturar uma serpente, sem que o animal fosse ferido. O instrumento foi batizado como “Laço de Lutz”.

Bem, voltemos aos cientistas franceses. No Instituto Pasteur, em Paris, um pesquisador chamado Calmette tinha desenvolvido um antídoto a partir da peçonha da cobra naja-indiana. Acreditavase que este antídoto serviria contra a picada de todas as cobras. Aqui, eu trabalhava com espécies brasileiras. Quando consegui que uma ampola do soro produzido na França chegasse às minhas mãos, me apressei em testar, mas, para minha surpresa, o soro não funcionou. Imaginei que talvez a teoria de um único antídoto para todas as picadas estivesse errada.

Justo naquele momento uma epidemia mortal teve início no porto de Santos.  Era 1899, e os aviões, até ali, não tinham sido inventados. Imaginem, então, a importância dos navios: era neles que as pessoas e as mercadorias atravessavam os continentes. As autoridades ficaram em estado de alerta, pois uma doença infecciosa no porto era terrível para as pessoas e para a economia.

Eu, que já havia combatido a febre amarela, fui para Santos e montei um pequeno laboratório para pesquisar o que estava acontecendo. Examinando os ratos, descobri que se tratava da temível peste bubônica, também conhecida como peste negra. Era preciso isolar a cidade. Assim como aconteceria no futuro, em outras pandemias, muita gente reclamou da quarentena e do isolamento: “Vamos perder dinheiro”; “O comércio vai ser prejudicado”. Mas as vidas valem mais que o dinheiro, não é?

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Os cientistas logo descobriram que eram as pulgas as transmissoras da bactéria que causava a peste. Elas picavam os ratos e eles eram infectados. A essa altura, já existia um soro que podia curar os doentes. Contudo o mundo todo precisava do soro e ele não chegava em quantidade suficiente ao Brasil. Não bastasse o contágio com a febre amarela, também fui infectado pela peste bubônica.

Enfim recuperado da peste, assim que a terrível pandemia cessou, pude deixar Santos e voltar para São Paulo, a fim de continuar minhas pesquisas, procurando entender o porquê do antídoto francês para picada das cobras não funcionar aqui.

Quando retornamos ao Instituto Bacteriológico, percebemos como ele era pequeno para acomodar as serpentes, os estábulos e também os laboratórios para estudos e desenvolvimento de imunizantes.

O Governo paulista comprou, então, a fazenda Butantan, para a instalação de nosso instituto. Lá havia espaço suficiente para construirmos tudo de que precisávamos.

Um serpentário não podia faltar. Em uma área bem grande e gramada, foram instaladas várias casinhas redondas que lembravam iglus, ou melhor, cupinzeiros, que funcionavam como tocas. As serpentes gostam de se aninhar para se proteger de predadores, do frio e da chuva. Um canal com água e uma mureta lisa evitavam que fugissem. Afinal, uma boa parte delas era venenosa. Essa construção garantia o bem-estar dos animais, que viviam em liberdade, e a nossa segurança.

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Na antiga fazenda já existiam estábulos, que foram reformados e aproveitados. Os cavalos são animais capazes de desenvolver o antídoto para combater o veneno de serpentes. Diferentemente de nós, humanos, que quando somos picados não podemos combater o veneno, o corpo dos cavalos produz anticorpos dentro de seu próprio sangue.

Coletávamos o veneno das serpentes, enfraquecíamos a peçonha e aplicávamos pequenas doses nos cavalos. Depois de um tempo, colhíamos um pouco do sangue do animal e extraíamos da amostra os anticorpos, que são os responsáveis por combater o veneno. O incrível é que, até hoje, essa continua sendo a base do desenvolvimento de qualquer soro e, também, de vacinas.

Uma vez que as pesquisas progrediram, e um soro eficaz já tinha sido descoberto, era hora de iniciarmos a produção e precisávamos de cada vez mais espécimes. Mas de que forma obter tantas cobras?

Como já havia feito com meus antigos vizinhos, iniciamos uma parceria com os agricultores, que sofriam constantes ataques de cobras quando iam trabalhar em suas roças. Distribuímos para os moradores do campo os Laços de Lutz e caixas de transporte. Assim, os agricultores capturavam e nos enviavam as serpentes. Em troca, recebiam soro antiofídico e seringas, passando a estar protegidos em caso de picadas.

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As companhias de trem transportavam de graça nossas caixas, que vinham com etiquetas bem grandes escrito COBRA, para impedir que algum desavisado abrisse as caixas. Dava certo. Passamos a receber uma grande quantidade e variedade de cobras peçonhentas e intensificamos ainda mais nossas pesquisas, o que nos permitiu provar que para cada espécie de serpente há um soro específico.

Passei a representar o Brasil em missões científicas em diferentes países. E um caso curioso aconteceu quando eu estava em uma conferência em Nova York, em 1916. Fui acordado no meio da noite para socorrer um homem que havia sido picado por uma serpente no zoológico do Bronx. Havia três dias que ele vinha sendo tratado por diferentes médicos sem sucesso. Por sorte, eu tinha levado soro em minha bagagem e assim pude curá-lo. Isso me fez acreditar, ainda com mais convicção, que estava no caminho certo.

Um ano depois, quando finalmente recebi a patente que reconhecia a descoberta do soro antiofídico, não hesitei em fazer a doação ao Governo brasileiro, para que todos tivessem acesso a um avanço tão importante da ciência.

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ADOLFO & BERTHA LUTZ

Sou filha de Adolfo Lutz, um homem discreto, alto, que usava óculos de armação redondinha e o bigode que era moda em sua época. Meu nome é Bertha Lutz. Ao ver uma fotografia do meu pai com um grupo de importantes sanitaristas de São Paulo, me vêm muitas lembranças.

Papai vivia olhando o mundo ao redor e se questionando. Um cientista precisa estar o tempo todo se fazendo perguntas para, com sorte, descobrir algumas respostas. Como um porco e um ser humano podem contrair a mesma doença? Um mosquito,

com aquele corpo tão pequenininho, é capaz de carregar uma doença tão grave, que derruba um ser humano? O que é a doença das cadeiras das vacas? Estas eram algumas das questões que ele levantou observando os animais grandes, assim como os seres minúsculos. E, por falar em minúsculos, papai também se interessou pelo bicho-de-pé, que é a menor das pulgas. Quando adulto, tem só um milímetro de comprimento, mas causa um incômodo danado na gente e nos porcos. Quando andamos descalços, uma fêmea grávida do bicho-de-pé pode entrar na nossa pele. E aí coça que é uma doideira.

23 18.12.1855 – 06.10.1940 02.08.1894 – 16.09.1976

Desde criança, o maior divertimento de papai era observar e colecionar espécies de animais e plantas. Mal fez cinco anos, ele já dizia, para espanto de vovó, que ia dedicar sua vida inteira a pesquisar a natureza.  Ele morava na Suíça e, aos dez anos, escreveu para a irmã Helena, que havia se mudado para o Brasil: “A primavera principiou com vigor e os brotos das árvores estão se abrindo. Este ano há muitas violetas e eu conheço os melhores lugares em que podemos encontrá-las”.

Na mesma carta, ele fazia encomendas. Não queria presentes normais. Pedia coisas que, para alguns, podem parecer estranhas: “Não se esqueçam de nos enviar alguns caramujos, cavalinhosmarinhos, conchas de moluscos e pedras mais raras”. E ainda pedia, caso fosse possível, vários exemplares para que ele pudesse trocar com os amigos.

Outro ponto em comum era que nós viajávamos um bocado. Corremos mundo, como se diz por aí. Ele esteve em vários países da Europa, dos Estados Unidos, da Oceania e, na América do Sul, visitou o Uruguai, a Argentina e a Venezuela. Ufa! Outro dia, eu estava lendo os diários da viagem que papai fez ao rio São Francisco, indo de Pirapora até Juazeiro, visitando os povoados ribeirinhos.

Meus pais se conheceram na ilha Molokai, no Havaí, quando ele estava estudando uma das doenças mais temidas naquele tempo, a hanseníase, que talvez vocês conheçam com o nome de lepra. Era um médico corajoso e humano, que jamais evitou contato direto com os doentes.

Falando em viagens, uma que fiz e de que mais gosto de me lembrar aconteceu em 1945. Eu me sinto muito honrada de ter feito parte da delegação brasileira que estava nos Estados Unidos quando foi escrita a Carta da Organização das Nações Unidas. Entre 850 delegados de 50 países, só havia seis mulheres – e uma delas era eu, Bertha Lutz! É claro que fiz questão de garantir que a Carta falasse da igualdade entre homens e mulheres. Sempre fui uma feminista.

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Nasci em São Paulo no fim do século XIX. Nos dias de hoje, ainda bem, as mulheres dirigem empresas, pilotam aviões, são cientistas reconhecidas, votam e são eleitas líderes de grandes nações, mas na minha minha juventude era bem diferente.

Para minha sorte, meus pais já entendiam que mulheres e homens tinham os mesmos direitos à educação, ainda que poucas pessoas pensassem assim. Eles sempre me incentivaram para que eu chegasse à universidade e trabalhasse. Amy Fowler, minha mãe, era enfermeira e se interessou pela área de microbiologia, pesquisando seres vivos tão pequeninos, que só podem ser vistos com microscópio. Segui um caminho muito diferente do da grande maioria das meninas do meu tempo.

Fiz o Colegial na Inglaterra, onde pela primeira vez ouvi falar das sufragistas, mulheres que lutavam pelo direito ao voto feminino. Naquela época a política era considerada “coisa de homem”. Vê se pode! As mulheres não podiam votar nem ser eleitas para um cargo público. Elas só deviam se dedicar aos cuidados da casa e da família. Um absurdo. Cursei a universidade na França e me formei em zoologia, botânica e ciências naturais. Como diz o ditado, filha de peixe, peixinho é. Segui a carreira dos meus pais.

Quando começou a Primeira Guerra Mundial, meu irmão, mamãe e eu estávamos na França e nos vimos separados de papai. No Brasil, ele mergulhou em suas pesquisas, trabalhando em Manguinhos.

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Escrevi uma carta para meu pai: “Estou certa de que suas coleções são muito interessantes. Eu adoraria estar aí para ajudar. Você não gostaria que eu voltasse agora? Não gosto que você esteja tão sozinho, e, além disso, tenho certeza de que aprenderia muito mais com você, na prática, do que na universidade da Sorbonne”. A vida toda o admirei, tenho muito orgulho de ser filha de um grande cientista.

Papai fez experiências junto a Emilio Ribas sobre a transmissão da febre amarela. Acreditava-se que a moléstia era contraída tendo contato com as fezes e a urina de pessoas contaminadas. Mas os dois cientistas queriam provar que esta tese estava errada e que o transmissor da febre amarela era um mosquito. Autorizados pelo Governo, no Hospital de Isolamento de São Paulo, fizeram um experimento:  eles e mais alguns médicos voluntários se deixaram picar por mosquitos infectados. Três deles adoeceram.

Depois, três outros voluntários ficaram fechados por 20 dias em quartos protegidos contra mosquitos, onde estavam várias peças de roupas e objetos sujos de urina, vômito e fezes de doentes da febre. E dessa vez ninguém teve febre amarela. Uma comissão médica atestou: Adolfo Lutz e Emilio Ribas estavam certos, o transmissor era o mosquito!

Meu pai era muito metódico, organizado. Uma coisa que ele sempre fazia era olhar um termômetro que tinha em casa para decidir que roupas deveria vestir. Um dia especialmente quente, o termômetro quebrou, ele não percebeu e aí apareceu no trabalho com roupas pesadas de inverno. Às vezes nossos métodos não dão certo. Acontece.

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Ele trabalhou como médico, e todo mundo dizia que ele era muito bom em dar diagnósticos. Papai analisava todas as possibilidades para descobrir o motivo da moléstia do paciente. Diagnosticou muitas doenças transmitidas de um bicho para o outro. Era especializado em doenças infecciosas, por isso foi convidado a dirigir o Instituto de Bacteriologia, que, como o nome diz, estuda as bactérias.

Uma curiosidade: “backterion” significa, em grego, pequeno bastão, e “logos” é estudo.  Algumas bactérias são compridinhas, os bacilos, daí o nome bastões. Pneumonia, tétano, cólera, leptospirose e tuberculose são algumas doenças causadas por bactérias. Mas nem todas as bactérias nos fazem mal, algumas são boas, como os lactobacilos, que ajudam a flora do nosso intestino.

De volta ao Brasil, resolvi concorrer a uma vaga para o Museu Nacional. Foi um escândalo! Uma mulher querendo ser funcionária pública, onde já se viu, era o que muitos falavam. Saiu até nos jornais! Corria o ano de 1919, vejam bem, precisei mesmo de uma autorização para me inscrever, pois os concursos públicos brasileiros destinavam-se apenas aos homens. Minha simples inscrição fez com que um dos candidatos desistisse de tentar a vaga, considerando um insulto competir com uma candidata do sexo feminino. Ainda bem que o mundo rodou e as coisas mudaram.

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Movido pela curiosidade, papai também classificou espécies de nossa fauna. Fiquei fascinada por suas observações de sapos e rãs. Só um curioso mesmo ia reparar que um tipo de rã coloca seus ovos em cima de folhas em solo seco, e outro os coloca na água sobre as folhas das bromélias.

Com certeza, eu e ele adorávamos os sapos. Continuei suas pesquisas, viajando em expedições pelo Brasil e cataloguei mais de 4.400 espécies nacionais. Descobri que o coaxar das pererecas varia de uma espécie para outra. No período de reprodução, um macho do Cerrado emite sons longos semelhantes a assobios para atrair a fêmea. Essa perereca foi batizada com meu sobrenome: Aplastodiscus Lutzoerum. Aliás, também dei nome a outros sapos e pererecas, como Dendropsophus berthalutzae e Scinax berthae

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O trabalho de papai foi reconhecido: o Instituto de Bacteriologia, que fica em São Paulo, hoje se chama Instituto Adolfo Lutz! Doei todo nosso acervo de pesquisa para o Museu Nacional. Mas, infelizmente, os originais foram queimados no grande incêndio que destruiu o museu em 2018. Uma pena!

Recebi muitas homenagens e condecorações. Foi até criado o diploma Bertha Lutz, que é oferecido anualmente pelo Senado Federal a pessoas que lutam pela defesa dos direitos da mulher. Mas darem meu nome a um dinossauro, isso sim foi divertido! Todos conhecem o Tiranossauro rex, que pertence ao grupo dos terópodes. Uma terópode, encontrada no interior do Paraná, foi chamada de Berthasaura leopoldinae. Divido a honra com a imperatriz Maria Leopoldina, defensora das ciências naturais, que viveu no Paço Imperial de São Cristóvão, depois transformado em Museu Nacional. Fiquei feliz em saber que assim serei sempre lembrada no museu em que comecei minha carreira!

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OSWALDO CRUZ

Era Carnaval, e pela minha janela chegava a cantoria dos blocos passando na rua:

Bem no braço do Zé povo chega um tipo e logo vai Enfiando aquele troço, a lanceta e tudo mais

“Enfiando aquele troço”, vê se pode! O nome correto era “lanceta”, um antepassado da seringa, na minha época era a forma mais segura de aplicar as vacinas. Tem esse nome porque parece uma pequena lança, ou uma lança leve, daí lanceta. Uma gotinha da vacina era colocada na ponta e por um pequeno corte no braço, pronto: a vacina era aplicada, e a pessoa, salva!

Mas a lei manda que o povo e o coitado do freguês Vá gemendo na vacina ou então vá pro xadrez

Estes versos são de uma das marchinhas mais cantadas naquele Carnaval, dos primeiros anos de 1900, e me enchiam de tristeza.

Depois de tantas pesquisas para disponibilizar uma vacina que livrasse a população do Rio de Janeiro da varíola, era surpreendente essa resistência e o deboche, pensava eu, Oswaldo Cruz, nas minhas noites em claro.

Deviam ter medo era da doença, que matava um terço dos infectados, e não da vacina,

33 05.08.1872 – 11.02.1917

que protegeria todos. O Rio era conhecido no exterior como “túmulo de estrangeiros”. Parece que esse terrível apelido se deve ao fato de que, em 1895, um navio italiano atracou no porto da cidade e a viagem acabou virando uma grande tragédia. Dos 340 tripulantes, 333 pegaram febre amarela e 234 não sobreviveram.

Isso porque, apesar do Rio ser a capital do Império, as condições sanitárias e de higiene eram tão ruins que as doenças se espalhavam num piscar de olhos. A cidade que tanto amo sofria com os surtos de febre amarela e varíola.

E a população, o que fazia? Dava ouvidos a toda sorte de boatos. O mais absurdo deles dizia que quem se vacinasse contra a varíola ficava com cara de boi! Será possível alguém acreditar nisso? Pois havia quem, e eram muitos!

De onde saiu tamanha bobagem, não sei ao certo, mas acho que a onda pode ter começado pelo fato de a vacina ter sido desenvolvida a partir de um tipo de varíola que acometia vacas, e percebeu-se que quem ordenhava as vacas ficava imune à varíola humana. É por isso que a palavra “vacina”, que em latim significa “de vaca”, passou a designar todas as aplicações que produzem anticorpos. Nós seríamos mágicos e não cientistas se conseguíssemos transformar pessoas em animais com apenas uma gotinha. Ai, ai, virar boi é o fim da picada.

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Nasci em uma chácara onde meu pai, que era médico, também atendia seus pacientes. Aos 21 anos, me casei com a Miloca, apelido de Emília, minha namorada desde a adolescência. Miloca era filha de um rico comerciante português, o comendador Manuel José da Fonseca. No início, meu sogro não aprovou o namoro, mas com o tempo nos tornamos amigos, tanto que recebi dele de presente de casamento um laboratório completo de microbiologia, o que foi de grande ajuda em minha carreira. E quando quis aprofundar meus estudos no exterior, foi ele quem financiou minha viagem, a de Miloca e a de nossos filhos para a França.

Fui o primeiro brasileiro a estudar no Instituto Pasteur, em Paris, referência na pesquisa científica de doenças infecciosas. Lá, frequentei uma fábrica de vidros e aprendi a confeccionar todo tipo de material usado em laboratório, como as primeiras ampolas. Assim, quando trouxe esse conhecimento para o Brasil, o país não precisou mais importar esses materiais.

Não fui eu quem inventou a vacina contra a varíola, muito menos o medo. Essa vacina foi descoberta em 1796 por um médico lá na Inglaterra, cem anos antes de eu ser nomeado ao cargo. Mas a desconfiança das pessoas que não conhecem a ciência sempre foi grande. Meu papel foi cuidar da população, cumprindo a lei da vacinação obrigatória.

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Talvez devêssemos ter explicado melhor como uma vacina funciona. É assim: pegamos microrganismos parecidos com os que causam a doença que queremos combater, o próprio vírus ou as bactérias enfraquecidos ou mortos, e aplicamos nas pessoas. Nosso corpo, que é uma máquina muito esperta, na mesma hora, entende que aquilo poderia nos causar perigo e manda um alerta para nossas defesas: “SOS! SOS! Alguma coisa estranha chegou e quer nos fazer mal”.  Na vacina, os vírus e as bactérias estão bem fraquinhos, então, vencemos fácil essa luta. A vacina da varíola era como um treinamento para que, depois da aplicação, o corpo passasse a ter um exército pronto e alerta para combater o inimigo.

A varíola é causada por um vírus muito resistente e contagioso. A transmissão se dá de pessoa para pessoa. Por isso, tive que tomar medidas radicais: vacinação obrigatória, isolamento dos doentes, notificação dos casos da doença e desinfecção das casas. Só os vacinados podiam ser contratados para trabalhos, matriculados nas escolas e teriam permissão para viajar. Precisei até autorizar que os médicos entrassem na casa das pessoas, mesmo daquelas que não queriam abrir as portas. Todos deviam ser vacinados, só assim a cidade estaria livre da pandemia.

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Então teve início a confusão. Os jornais começaram a nos difamar, dizendo que as medidas para a saúde eram um “código de torturas”. As marchinhas de Carnaval ridicularizavam o que fazíamos. Pessoas que não acreditavam na vacina reagiam de forma violenta. Imaginem que até o Congresso Nacional protestou e organizou uma liga contra a vacina obrigatória. Contra a vacina?! Como uma parte do Governo era contra? O que estava acontecendo?

No dia 13 de novembro de 1904 (ah, me lembro bem dessa data, como poderia esquecer?), estourou uma rebelião que ficou conhecida como “A Revolta da Vacina”. Houve quebra-quebra, troca de tiros, mortes, incêndios e manifestantes presos. Muita gente na rua. Minha casa foi apedrejada durante a noite. Temi por minha esposa e pelas crianças.

Mas por que tamanha reação se a vacina só causava o bem e não fazia mal algum? A verdade é que havia muitos outros problemas e a tensão era grande. Nessa época, o Rio era a capital do Brasil e de onde o presidente governava. Uns queriam depor o presidente e trazer de novo um rei, um monarca da família imperial. Eram os monarquistas, que desejavam recuperar as regalias que tinham perdido.

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O Brasil tinha abolido a escravidão havia poucos anos. Homens, mulheres e crianças que tinham sido escravizados foram abandonados à própria sorte. Saíam das fazendas sem dinheiro e partiam para a capital, iam viver em cortiços, onde já moravam muitas outras pessoas pobres. Justamente nesse período, o prefeito Pereira Passos estava iniciando uma transformação no Centro do Rio. Para que as ruas fossem alargadas, esses cortiços e muitas casinhas estavam sendo derrubados.

Já não era permitido levar as vacas de casa em casa para fornecer o leite, nem vender miúdos e carnes nas ruas do Centro. E as medidas que tomei no combate à varíola foram a gota d’água. A revolta explodiu. Uma semana depois, o Governo derrotou a rebelião, mas suspendeu a obrigatoriedade da vacina, o que foi um grande retrocesso, já que alguns anos depois, em 1908, um novo surto de varíola infectaria mais de 9 mil pessoas na cidade.

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A varíola não era minha única missão, infelizmente. Eu também precisava combater outras enfermidades. Como a cidade não tinha saneamento e o esgoto corria a céu aberto, o cheiro era muito ruim. Todos achavam que a malária era causada por esses “maus ares”, daí o nome da doença. Foram os pesquisadores cubanos que descobriram que não era nada disso e que a transmissão da doença era feita pelo mosquito aedes aegypti, o mesmo agente que no futuro causaria a dengue. Ciência é assim, compartilhamos descobertas para o bem da humanidade. Se os mosquitos eram os culpados, precisávamos de uma estratégia para combatê-los. A solução foi encontrar os locais com água parada e acabar com os focos, instalar mosquiteiros nas casas e pulverizar as ruas com inseticida. Adivinhem! Novamente teve gente que não acreditou na ciência e até me desenharam em uma caricatura no jornal de cartola e com corpo de mosquito.

Varíola, malária e ainda tinha a peste bubônica - no começo de 1904, lutando contra essa moléstia, criei uma equipe que percorria os bairros do Rio, espalhando veneno de rato e removendo o lixo. Aí pensei cá com meus botões: e se a população nos ajudasse a capturar os ratos, causadores da doença? Quanto mais gente envolvida, mais rapidamente resolveríamos o problema. Como quem trabalha de graça é relógio, consegui autorização para pagar cem réis por rato morto entregue aos agentes sanitários! Ai, ai, que arrependimento. Assim que a notícia se espalhou, surgiram mais marchinhas de deboche. Uma delas tinha um trecho que dizia assim:

Rato, rato, rato

Assim gritavam os compradores ambulantes

Rato, rato, rato,

Para vender na academia aos estudantes

Rato, rato, rato

Dá bastante amolação

Quando passam os garotos, todos rotos

A comprar rato, capitão

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Não se pode acertar sempre nas táticas, o importante é vencer as batalhas. A peste bubônica chegou primeiro em São Paulo, estive lá para atestar a pesquisa de Adolfo Lutz e Vital Brazil. Naquele momento, todas as vacinas eram produzidas no Instituto Pasteur, em Paris, em quantidades que não eram suficientes para atender ao mundo todo que sofria com a peste bubônica. Estava na hora das cidades brasileiras terem seus próprios laboratórios para a fabricação da vacina. Assim foi criado o Instituto Soroterápico do Rio de Janeiro. Escolhemos o endereço em uma fazenda que ficava distante do centro da cidade, próximo à Baía de Guanabara, em Manguinhos.

Minha meta como diretor do Instituto tinha três objetivos: pesquisa, ensino e fabricação de produtos biológicos. E para o projeto do prédio principal, eu imaginava uma construção que chamasse a atenção de todos e que tivesse uma aparência espetacular. Visitei a reforma da Igreja da Penha e conheci o arquiteto responsável, Luiz Moraes Junior. Por coincidência, nos encontrávamos no trem no trajeto para nossos trabalhos, e conversávamos como seria este prédio, que abrigaria os laboratórios mais avançados para a época. Eu estava animado!

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Fiz o primeiro desenho pensando na arquitetura imponente das igrejas, e imaginei mosaicos decorando o prédio. Mas o arquiteto tinha outras ideias e, inspirado nos palácios e mesquitas árabes, refez meu desenho (os mosaicos, ele manteve). O estilo mourisco estava na moda naquela época. Eu gostei da proposta, tinha um ar misterioso e combinava com uma instituição dedicada a inovações na ciência e aos segredos da vida. Além disso, na França existia um importante Observatório Meteorológico também construído em estilo mourisco. Mas foi durante uma viagem à Alemanha que eu e o arquiteto conhecemos a Nova Sinagoga de Berlim e nos apaixonamos por suas torres imponentes. Era a “cereja do bolo” que faltava no desenho final do prédio.

Nunca abri as portas desse castelo. A obra, iniciada em 1903, só foi totalmente concluída 44 anos depois, em 1947, quando eu já não estava mais aqui. Afinal, dá muito trabalho construir um prédio desse tamanho. São muitos laboratórios, cocheiras para os cavalos (para testes das vacinas), biblioteca e inúmeras salas. O pavilhão tem torres que medem trinta metros de altura, em quatro andares decorados com mosaicos. As escadas são de mármore, as paredes, decoradas com folhas de ouro e, no teto do último andar, há um vitral colorido. E, pasmem, também foram instalados elevador e rede telefônica interna, tecnologias muito modernas. Tudo isso não poderia mesmo ter sido feito da noite pro dia!

Enche-me o peito de orgulho dar nome a essa instituição: Fundação Oswaldo Cruz, ou Fiocruz.

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CARLOS CHAGAS

Oque é, o que é?

Na cidade é profissão, Na estrada é um perigo, Na mata é um inseto?

É o barbeiro! Aquele que faz a barba dos outros, ou quem dirige mal. Também pode ser um tipo de percevejo que leva esse nome porque costuma picar as pessoas no rosto enquanto elas dormem, transmitindo uma doença perigosa. Fiquei famoso com essa descoberta. Sou Carlos Chagas, pesquisador, cientista e médico.

Minha história começa em Oliveira ou Nossa Senhora da Oliveira, pequena cidade a duas léguas de São João del Rei, em Minas Gerais, onde meus pais eram donos da fazenda Bom Retiro.

Em casa, na alvorada, buscava-se o leite de ordenha, que vinha à mesa ainda morninho, junto com café, broa de milho e mingaus que entretinham o estômago até a hora do almoço, servido ali pelas dez e meia. Comia-se bem e a vida era pacata. Mas quando eu tinha só quatro anos, papai faleceu e mamãe teve que assumir o comando dos negócios e da família. Ela cuidava de duas fazendas, de mim e de minhas três irmãs. Não era nada fácil. Mesmo assim, arranjou tempo para me alfabetizar.

Mais tarde, fui levado para estudar num colégio de padres jesuítas, no interior de São Paulo. Ficar longe de casa era difícil, ainda mais para mim, que havia passado anos correndo livre pelos campos de uma

43 09.07.1879 – 08.11.1934

fazenda e agora precisava obedecer à rígida disciplina imposta pelos padres. Um dia, tentei sair do colégio sem avisar, fui pego e me expulsaram. No fim, foi uma tentativa frustrada de escapar, que terminou sendo bem-sucedida, pois alcancei meu objetivo: o de voltar para perto dos meus.

Não poderia ficar sem estudar: mal voltei ao aconchego da fazenda, mamãe me matriculou no ginásio São Francisco, em São João del Rei. Esse ginásio não era longe de casa, o que alegrou meu coração. Ali tive a sorte de ter aulas com o querido padre Sacramento, professor que despertou em mim o interesse por História Natural, Botânica e Zoologia, estudos que definiriam, no futuro, minha profissão. Porém mamãe não sabia disso.

Naquele tempo, os pais escolhiam a carreira dos filhos. Foi assim que acabei indo parar no curso de Engenharia, na cidade de Ouro Preto. Mamãe achou que eu me sairia bem naquela profissão. Claramente não deu certo. Graças ao meu tio e ao meu avô, conseguimos convencê-la a me deixar cursar a Faculdade de Medicina no Rio de Janeiro. Foi nesse momento que encontrei meu destino.

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Na faculdade, tive dois professores que me influenciaram bastante. O médico Miguel Couto, que dá nome ao conhecido hospital carioca, me mostrou que, no tratamento dos pacientes, não devíamos apenas aceitar velhas explicações, era necessário pesquisar para salvar vidas. Já o professor Francisco Fajardo me apresentou aos estudos das doenças tropicais, sobretudo a malária. Fajardo era um pesquisador curioso, que também escrevia a respeito da hipnose e de uma força invisível, um magnetismo, que existe em todos os seres vivos.

Corria o ano de 1902. Para me formar, eu teria de apresentar uma tese e escolhi como tema justamente a malária. Nessa época, a casa de uma antiga fazenda, em Manguinhos, tinha sido adaptada para o funcionamento dos laboratórios onde se desenvolviam vacinas. As instalações ainda eram improvisadas, tanto que, na varanda, havia uma mesa para refeição dos funcionários - ali, o castelo da Fiocruz seria erguido anos depois. O acesso também não era simples: havia uma estação de trem na qual um servente com dois cavalos esperava os médicos para leválos até a fazenda. Para os estudantes não havia condução e era necessário caminhar da estação até os laboratórios. Mas, mesmo assim, era lá o lugar mais aparelhado para quem lutava contra as doenças que contaminavam os brasileiros, e meu sonho era realizar as pesquisas, orientado pelo grande Oswaldo Cruz. O professor Miguel Couto escreveu uma carta de apresentação, e Oswaldo Cruz aceitou acompanhar minhas pesquisas, o que me deu imensa alegria. Foi assim que começou nossa parceria.

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Poucos anos depois, quando a cidade paulista de Itatinga sofreu um surto de malária, ele não teve dúvidas e me deu a tarefa de controlar a epidemia. A doença atacava principalmente os trabalhadores que estavam reconstruindo uma represa na região. Como se combatia a malária nessa época? Jogando substâncias tóxicas na água em que as larvas do mosquito se reproduziam e usando mosquiteiros nas camas e nas janelas. Na ocasião, observei que os mosquitos sugavam o sangue das pessoas e, como ficavam mais pesados, permaneciam nos lugares chocando ovos e se multiplicando. Tive, então, a ideia de atacar não só as larvas, mas, principalmente, os mosquitos. Evitar que eles se reproduzissem, era isso que teríamos que fazer! Passamos a usar inseticida. Deu certo! Em cinco meses, conseguimos acabar com o surto. Meu método foi o antepassado dos carros que hoje passam pelas ruas das cidades pulverizando fumaça contra os mosquitos.

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Minha vida não era apenas o trabalho. Já tinha uma família, caseime com Iris e morávamos em uma boa casa, no bairro de Botafogo. Compartilhávamos o mesmo gosto pela música, íamos às óperas do Theatro Municipal e promovíamos saraus que enchiam nossa casa de amigos. E logo viriam os dois meninos, que seguiriam minha carreira de médico. Tive sorte, era feliz.

Quando entrei nos laboratórios de Manguinhos pela primeira vez, não podia suspeitar que o Instituto Oswaldo Cruz, como se chamaria depois, faria parte da minha vida para sempre. Mas assim foi! A todo momento, surgia uma nova missão: depois de Rio e São Paulo, era a hora de controlar a malária no norte de Minas. Desta vez, o surto atingia os operários que trabalhavam na construção de um trecho da Estrada de Ferro Central do Brasil. E lá fui eu. Instalei-me em um vagão de trem, no qual montei meu laboratório e consultório.

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Estava ali para combater a malária, mas percebi que, na região, muitas pessoas morriam de uma doença desconhecida. As casas eram construídas com ripas de madeira e paredes de barro, e suas fendas serviam de ninho para que os barbeiros se reproduzissem. A espécie é hematófaga, ou seja, se alimenta de sangue. À noite, depois de apagadas as luzes, os barbeiros saíam em busca de sua refeição preferida: o sangue das pessoas e dos animais adormecidos. Examinei esses insetos em meu laboratório e encontrei em seu intestino uma nova espécie de protozoário.

E fui mais além. Entendi que o barbeiro era o hospedeiro e que o protozoário era o vetor da doença que estava matando as pessoas.

Nas aulas de química da escola, aprende-se que os protozoários são organismos vivos, com apenas uma célula. Alguns são bons para os hospedeiros (como os que vivem no intestino de cupins e os ajudam na digestão), outros causam doenças: são os parasitas.

Como meu laboratório era improvisado dentro de um vagão de trem, não dava para fazer pesquisas mais aprofundadas. Por isso, mandei alguns desses percevejos para que os estudos prosseguissem no Rio de Janeiro.

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Oswaldo Cruz utilizou os exemplares de insetos que enviei para infectar saguis criados no Instituto - concordo que é triste, mas a ciência precisa de cobaias para encontrar soluções. E um mês depois as análises clínicas mostraram a presença dos protozoários no organismo dos animais que ficaram doentes. Minha tese foi comprovada! Em homenagem a Oswaldo Cruz, dei o nome de Trypanosoma cruzi a esse protozoário.

Estava muito animado, afinal descobertas como essas são muito importantes para a humanidade no combate às doenças. Voltei a Minas para continuar as pesquisas e encontrei o parasita no sangue de um gato e no de uma menina de dois anos chamada Berenice. Tive, então, a certeza de que o percevejo era o transmissor da doença. Pronto! Tínhamos fechado o ciclo!

A notícia foi divulgada em abril de 1909. Os jornais publicaram com orgulho o “grande feito” de um jovem médico (sim, eu tinha apenas 31 anos). Foi uma tripla descoberta: a descrição de uma nova doença tropical, do parasita que a causava e do inseto que a transmitia. Miguel Couto propôs que a doença se chamasse doença de Chagas.

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O achado logo se espalhou pelo mundo, e recebi várias homenagens, mas ainda havia muito o que fazer. Não sou um homem de me aquietar, amo o Brasil, e sair em campo percorrendo nosso país sempre foi minha vocação. Desta vez, embarquei para o Norte, em direção à região amazônica. A borracha havia trazido muita riqueza para Manaus, Porto Velho e Belém. Mas os seringueiros que viviam no meio da floresta coletando o látex, o chamado “ouro branco”, seguiam abandonados à própria sorte e muitos estavam contaminados pela malária. Por mais de um ano, nossa equipe percorreu os rios Solimões, Purus e Negro conhecendo a realidade da gente que vivia nas margens desses rios. Não era possível que o Governo não olhasse para essa situação. Foi isso que escrevi em meu relatório, buscando atendimento para a região.

Por conta das muitas lutas que travei contra as moléstias, fui indicado duas vezes para o Prêmio Nobel de Medicina, em 1913 e 1924. Não ganhei, mas acho que valeu a pena cada minuto dedicado à pesquisa, pois combater as doenças e curar as pessoas deve ser a missão básica de qualquer médico.

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OS

CONTEMPORÂNEOS

SUZANA HERCULANOHOUZEL

QUE TAL UMA SOPINHA DE CÉREBRO?

Calma, pode deixar que não é para comer! A neurocientista carioca Suzana Herculano-Houzel desenvolveu uma técnica para contar a quantidade de neurônios que temos no cérebro.

Por toda parte se dizia que o “cérebro humano tem 100 bilhões de neurônios”.

Curiosa, Suzana perguntou aos colegas de profissão se alguém conhecia de onde vinha esse valor tão redondinho e ninguém sabia. Ela pesquisou nos livros, mas não encontrou nada. Será que era uma crendice? A cientista começou a desconfiar que ninguém tinha de verdade contado o número de neurônios em humanos, ou em qualquer outro ser. Essa dúvida foi o pontapé inicial da sua pesquisa, há 18 anos.

A cientista criou seu próprio método para contar neurônios. O nome oficial é pomposo: “fracionador isotrópico”, mas Suzana diz que o que faz mesmo é transformar o cérebro em uma sopa. Sua receita é: dissolver os cérebros em um detergente, que destrói as membranas, mas mantém intactos os núcleos celulares, obtendo um líquido leitoso com os núcleos livres. Essa fala parece complicada para quem não é da área, mas continue lendo.

Suzana diz que “a beleza da sopa é que, por ser uma sopa, você pode agitá-la e fazer esses núcleos se distribuírem homogeneamente no líquido.” Deste modo, observando no microscópio, apenas quatro ou cinco amostras dessa solução, é possível contar os núcleos e dizer o

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número de células do cérebro estudado. É simples e muito rápido, comparado com a outra alternativa, que seria pegar o cérebro, fatiar bem fininho e fazer vários processos para contar as dezenas de cortes no microscópio.

Na sopa, o tempo de contar os núcleos varia de acordo com o tamanho do cérebro. Em uma tarde é possível contar os núcleos do cérebro de um ratinho, para o cérebro humano leva um mês e meio, já o de um elefante leva seis meses.

Outra vantagem é que, ao separar as regiões do cérebro, é possível saber quantos neurônios existem em cada área. A pesquisa conseguiu contar 86 bilhões de neurônios no cérebro humano. Ela também contou os neurônios de dúzias de espécies e descobriu que cada animal tem um cérebro construído de uma maneira diferente.

CÉREBRO

Peso 1.230 g

Neurônios 18 bi

Outras células 61 bi

DEMAIS REGIÕES

Peso 118 g

Neurônios 0,7 bi

Outras células 7,7 bi

CEREBELO

Peso 154 g

Neurônios 69 bi

Outras células 16 bi

TOTAL

Peso 1.508 g

Neurônios 86 bi

Outras células 85 bi

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O CÓRTEX – A “MASSA CINZENTA”

Córtex é a camada externa do cérebro, que muita gente chama de massa cinzenta, por causa de sua coloração acinzentada. A pesquisa descobriu que, dos 86 bilhões de neurônios do cérebro humano, 16 bilhões estão no córtex cerebral, lugar em que acontecem funções como consciência e raciocínio, o nosso pensamento. Tudo que aprendemos e decidimos está lá.

QUANTO MAIOR O CÉREBRO, MAIS INTELIGENTE?

Antigamente se imaginava que os cérebros eram iguais em funcionamento, e que quanto maior o cérebro, maior o número de neurônios. Mas vamos parar para pensar! A área do córtex do elefante é duas vezes maior que a do córtex humano. Então poderíamos achar que o elefante teria o dobro de neurônios em seu córtex. E mais: se tamanho fosse documento, não seria o caso de os elefantes estarem nos estudando e não o contrário?

Ahá! Contando os neurônios da área do córtex, a pesquisa descobriu que os elefantes têm um terço do número de neurônios que nós temos. Apesar de o cérebro humano não ser o maior entre as espécies animais, é o que tem mais neurônios no córtex cerebral.

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NÓS SOMOS PRIMATAS!

Suzana descobriu uma fórmula matemática para a relação entre o tamanho do cérebro e o número de neurônios. Ela fez as contas: se um primata tivesse 86 bilhões de neurônios teria o cérebro de 1,2 quilo, em um corpo de 66 quilos, o que era exatamente o peso dela. Assim Suzana afirmou: “Nosso cérebro tem a quantidade de células esperada para um primata com esse tamanho”. E ela concluiu que somos primatas com muito mais neurônios para o nosso tamanho do que os outros animais.

TEM QUE COZINHAR?

Mas se somos primatas, outros primatas não poderiam ter a mesma quantidade de neurônios? Talvez se eles soubessem cozinhar! O cérebro humano gasta a mesma quantidade de calorias que os cérebros de outras espécies, uma média de seis calorias por bilhão de neurônios ao dia. Mas, fazendo as contas, um cérebro com 86 bilhões de neurônios precisa de muita energia, cerca de 516 calorias por dia. Das 2 mil calorias que precisamos diariamente, 500 calorias são necessárias só para manter o cérebro funcionando.

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CALORIAS

PARA ALIMENTAR OS NEURÔNIOS

Os outros primatas que não cozinham não conseguem a energia necessária para manter um corpo grande e um número alto de neurônios. Gorilas e orangotangos, que pesam 75 quilos, obtêm cerca de 30 bilhões de neurônios comendo por oito horas e meia no dia. Eles poderiam ter mais neurônios, mas aí não pesariam mais de 25 quilos.

COMER, COMER… É O MELHOR PARA PODER CRESCER!

Há 3 milhões de anos, criamos as primeiras ferramentas, transformando pedras em facas, e foi possível triturar e cortar alimentos. A digestão em todos os animais começa na boca, quando a comida é triturada. Ao preparar os alimentos, nós, humanos, iniciamos esse processo fora do corpo. Opa, pulamos uma etapa e aceleramos a digestão, e o tempo que precisamos para ingerir calorias é muito menor.

Agora vamos falar da importância do fogo, que nossos antepassados também aprenderam a utilizar no preparo da comida, principalmente da carne. Os alimentos cozidos dão muito mais energia em bem menos tempo de trabalho para nosso corpo. Por exemplo, quando comemos uma cenoura crua, só a parte da superfície é digerida e apenas 30% são aproveitados. Mas quando a mesma cenoura é cozida, ela pode ser totalmente digerida e suas calorias são 100% absorvidas.

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SERES HUMANOS SÃO A ÚNICA ESPÉCIE QUE COZINHA

Os animais passam muito tempo comendo (ou procurando alimentos) para conseguir as calorias diárias necessárias e, sem tempo para outra coisa, dormem para descansar. Nós, cozinhando, conseguimos mais energia dos mesmos alimentos e rapidamente suprimos todas as calorias necessárias para o sustento do nosso corpo e cérebro. Porque tivemos mais tempo “sobrando”, pudemos desenvolver as habilidades dos nossos neurônios que ficam na massa cinzenta, no córtex. Tempo para desenvolver conhecimento e tecnologias, e ações que protegessem nossa saúde, como o saneamento e a medicina, que proporcionaram uma vida melhor.

FAST FOOD

No entanto, a solução virou um problema: hoje comemos muito mais do que precisamos. O surgimento da obesidade pede uma volta ao início de tudo, o retorno à dieta crua com a saladinha para perder peso.

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VAI COMER OU VAI DORMIR?

Musaranho é o menor mamífero que existe. Um tipo de musaranho se alimenta de grilos, que são do mesmo tamanho que o bichinho. Depois de uma mordida inicial que paralisa o grilo, o musaranho vai comendo, comendo, até que… puf, dorme! Ele gasta muita energia para mastigar a refeição e precisa descansar para digerir o alimento e conseguir as calorias necessárias para continuar vivendo.

O mesmo acontece quando somos bebês. O bebê faz bastante esforço para mamar e, de repente, dorme. No começo da vida, conforme o cérebro vai crescendo, sua superfície vai aumentando e vamos ficando mais tempo acordados para comer. A mesma comida que faz o cérebro e o corpo crescerem nos deixa mais horas acordados e com mais tempo para comer e continuar crescendo.

Na avaliação de 24 espécies, surgiram descobertas curiosas, como a de que os morcegos dormem por até 20 horas por dia e se alimentam por apenas duas, e os elefantes dormem entre três e quatro horas diárias e gastam 18 horas se alimentando. O aparecimento de mamíferos maiores não seria possível, se o fato de ganhar mais neurônios não tivesse sido acoplado a menos horas de sono.

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O QUE VOCÊ TEM E O QUE VOCÊ FAZ

COM O QUE TEM?

Todos nós temos a mesma quantidade de neurônios no córtex cerebral, o que quer dizer que temos a mesma capacidade cognitiva. No entanto, desenvolver habilidades é tarefa de cada indivíduo, cada um usa o que tem. As ações externas ao cérebro também vão contribuir para o desenvolvimento de habilidades, como o local em que você vive, suas experiências e, principalmente, oportunidades.

Um excelente jogador de futebol teve a chance de chutar uma bola. Um músico famoso teve a oportunidade de experimentar um instrumento. Muitas vezes, a escola é o lugar dessas oportunidades, e é onde acontece o encantamento inicial por algo que com treino e dedicação pode se tornar a principal habilidade de alguém.

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ESCOLA PRA QUÊ?

Na próxima vez que pensar em faltar à aula, lembre-se disso: a escola nos ajuda a criar habilidades, o que aprendemos a fazer com as capacidades biológicas que temos. A escola condensa o conteúdo vivenciado pela humanidade, o que nos permite ir muito mais além, e muito mais depressa.

Suzana acredita que a geração de novos conhecimentos e a transmissão cultural são o progresso. Como o conhecimento não vem com a biologia, é preciso mantê-lo vivo através da escola.

“EVOLUÇÃO NÃO É PROGRESSO”
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Ê, FAMÍLIA AH, FAMÍLIA!”

A pesquisa descobriu que animais de sangue quente com mais neurônios têm a vida mais longa. Isso nos deu maior tempo de convivência em família, temos a possibilidade de aprender com nossos pais e avós. É a oportunidade de transmissão cultural, dos costumes, receitas, contos e cantigas, tradições e saberes que marcam o povo e a sociedade que representamos.

INTELIGÊNCIA É SER FLEXÍVEL

Quanto mais neurônios há no cérebro de uma espécie de animal, mais alternativas de comportamento ele tem, e esse comportamento flexível é inteligência: “a capacidade de agir em prol de manter portas abertas”. Decisões inteligentes são aquelas que aumentam suas possibilidades no futuro. Por exemplo: ao sair de casa com a chave, seu telefone, dinheiro e documentos no bolso, se acontecer alguma coisa, você pode ser encontrado. Ou melhor ainda, decorando o número do telefone dos seus pais, você sempre tem uma maneira de voltar para casa.

“FAMÍLIA
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UMA PULGA ATRÁS DA ORELHA

Suzana foi uma menina que cresceu perguntando sobre tudo! E diz ser sortuda por ter o trabalho perfeito, com a licença profissional para passar os dias fazendo perguntas. E um menino curioso a questionou: “Será possível nosso cérebro ficar maior? Quanto tempo levaria para termos mais neurônios e ficarmos mais inteligentes?”.

Ao ouvir, a cientista respondeu: “Tudo é possível, evolução é mudança através do tempo, mas esse tipo de mudança evolutiva leva milhões de anos. Levou 2 milhões de anos para o nosso cérebro passar do tamanho de cérebro de chimpanzé para o que é hoje. Mas o que você pode fazer por seu cérebro é continuar indo à escola e fazendo muitas perguntas”.

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LYGIA PEREIRA

A NOSSA RECEITA

Eu e você (e todos os humanos do mundo) viemos de uma única célula, união do óvulo da mãe e do espermatozóide do pai. Essa primeira célula começa a se dividir e aí, de repente, umas viram osso, outras, neurônios, e vão para o cérebro, outras viram coração, ou sangue, tudo de uma forma superorganizada, dando origem a trilhões de células, que somos nós.

Como cada célula sabe o que fazer? Cada uma segue uma série de instruções que estão em seu núcleo, que é o genoma, o nosso DNA. É uma receita, não para fazer um bolo, mas para a formação de um indivíduo e seu funcionamento.

A cientista Lygia Pereira começou sua pesquisa guiada pela curiosidade em saber mais sobre essa ciência que permite criar coisas diferentes. Como seria manipular o DNA dos organismos? É possível pegar características de um e botar em outro? Ela conta que ficava imaginando, e essas ideias a fascinavam, o poder dessas técnicas de mexer no DNA.

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02.01.1967

GENOMA

♦ É uma receita para a formação e funcionamento de um ser vivo.

♦ É feito de material bioquímico, o DNA.

♦ O genoma humano tem mais de 3 bilhões e 200 milhões de letras (A, C, T, G...).

GENES

♦ Se o genoma é uma receita, os genes são as instruções que estão na receita.

♦ Cada gene é uma instrução para a célula fazer uma proteína específica.

AUMENTANDO

♦ O conjunto de proteínas faz as células.

♦ O conjunto de células forma os órgãos e tecidos.

♦ O conjunto de órgãos forma a gente.

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O QUE SOMOS

Os cromossomos estão dentro das células humanas, são grandes pedaços de DNA, que é o que Lygia chama de receita, o responsável por formar você e todos os seres vivos. No entanto, essa receita tão complexa está dividida em 46 fascículos, os cromossomos.

ORGANIZANDO, CONTANDO, NOMEANDO…

Um cromossomo é, na verdade, uma longa molécula de DNA que está toda enroladinha bem condensada, mas se ele for desenrolado muitas vezes, será possível ver que se trata de uma dupla hélice. Os seres humanos têm 46 cromossomos que, em conjunto, têm a receita para fazer uma pessoa inteirinha.

Entretanto, os cromossomos são bagunçados. Para analisar, o pesquisador precisa recortar e colocar os cromossomos em uma ordem bonitinha para contar. Os cromossomos são organizados de acordo com seu tamanho, cada um recebendo um nome em ordem decrescente de tamanho.

Ao desenrolar esses bastõezinhos, a dupla hélice é nomeada em “A T C G G G”. A diferença entre as pessoas está nessas letrinhas. São os pais que passam para seus filhos e é por isso que existe um par de cromossomos: um que veio da mãe, e o outro, do pai. E são os cromossomos que determinam se o indivíduo será biologicamente do sexo feminino ou masculino. Isso acontece no momento da fecundação do óvulo pelo espermatozóide.

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O PRIMEIRO ENCONTRO

A primeira vez que Lygia viu mesmo os cromossomos foi na universidade, antes disso eles estavam ilustrados nos livros escolares, desenhados como uns bastõezinhos. Nesse dia, ela estava no estágio no laboratório da Universidade Federal do Rio de Janeiro, que ficava em um subsolo, quando a professora, que estava olhando no microscópio, disse: “Olha aqui”. Quando ela encaixou seus olhos nas lentes, viu por dentro de uma gotinha de sangue os cromossomos humanos: “São de verdade!”.

ZUM, ZUM, ZUM

Lá naquele laboratório da UFRJ, pesquisava-se a genética das moscas drosófilas, aquelas mosquinhas que sempre voam em volta da banana. Pode parecer esquisito estudar uma mosca, mas, ao fazer experimentos com elas, é possível estudar uma porção de coisas de genética. A partir desses organismos mais simples, podemos encontrar algo parecido em bichos mais complexos, como nas pessoas. Aquelas mosquinhas são capazes de ensinar, dar pistas, de como as coisas funcionam na gente também.

Quando se estuda genética, pode ser em qualquer organismo, todos os seres vivos têm um genoma, que é uma receita que a natureza segue para formar uma planta, um bicho, um vírus, uma bactéria, ou nós, seres humanos. O genoma também determina como esse ser vivo funcionará ao longo de sua vida.

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UMA COISA PODE VIRAR OUTRA?

Sabe aquelas águas-vivas que brilham no escuro? Elas são bioluminescentes, possuem um órgão capaz de emitir um brilho verde, quando são agitadas. Em 1962, um químico japonês, chamado Osamu Shimomura, estudando as águas-vivas, descobriu a primeira proteína fluorescente em um ser vivo. Na década de 1970, sua pesquisa desvendou o que fazia essa proteína brilhar. Vários cientistas se interessaram na descoberta e começaram a fazer experimentos. Eles queriam que as cores brilhantes funcionassem como canetas marca-texto, assim seriam indicadores de processos biológicos em organismos vivos. Imagine poder localizar pelo brilho de uma célula o aparecimento de uma doença! Hoje, esse gene pode ser inserido no genoma de bactérias, plantas, camundongos e até células humanas para aprender sobre a biologia de cada ser vivo.

ALIMENTOS GENETICAMENTE MODIFICADOS

A soja transgênica tem um gene de uma bactéria que produz uma proteína tóxica para a lagarta. Coitadinha da lagarta!, mas dessa forma não é preciso colocar na plantação o inseticida que faz mal à nossa saúde. Em outros alimentos, como arroz e tomate, foram colocados genes que aumentam seu valor nutritivo. No entanto, algumas dessas ideias ainda podem causar desconfiança nas pessoas, como novas tecnologias às vezes causam. Mas a ciência feita de forma séria e responsável vem permitindo o avanço dos transgênicos, e ao mesmo tempo protegendo a saúde e o meio ambiente.

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UMA CABRA PODE SER UMA FARMÁCIA?

Olhem só outra ideia incrível. Existem pessoas que não conseguem controlar a quantidade de açúcar no sangue: é a diabetes. Quem tem essa doença não produz o hormônio insulina que ajuda a regular o açúcar no sangue. Imagine colocar o gene da insulina dentro de uma cabra, no seu genoma, para que ela produza a insulina direto no leite. Ou no genoma de uma galinha, para que ela produza a proteína na clara dos ovos? Esses animais são conhecidos como biorreatores, são geneticamente modificados para ter a capacidade de fornecer algumas substâncias aproveitadas na área farmacêutica, ajudando pessoas com doenças. Atualmente já existem três medicamentos em uso produzidos em animais transgênicos.

COLOCANDO OS GENES NA TERAPIA

Uma pessoa tem uma doença genética por possuir um gene defeituoso. Lembra que o genoma é uma receita? Seria a receita com uma instrução errada. A terapia gênica vai inserir na receita uma cópia correta daquela instrução, ou melhor, inserir no seu genoma uma cópia normal desse gene defeituoso nas células dessa pessoa. A estratégia da terapia gênica é usar alguns tipos de vírus como transportadores da cura. Como os vírus são craques em inserir seu DNA em células humanas, os pesquisadores substituem a parte do DNA vírus que nos faz mal, colocando no lugar o gene terapêutico, capaz de curar a doença da pessoa.

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“MINHA TIA É MÉDICA DE RATINHOS”

Isso era o que sempre dizia uma sobrinha da Lygia, durante sua pesquisa com camundongos. A cientista estudou a Síndrome de Marfan, uma doença rara, e os ratinhos ajudaram bastante. Essa doença faz as pessoas ficarem com braços e pernas muito compridos, e com problemas no coração que podem até levar à morte. Seu trabalho de doutorado foi sequenciar o gene que causa essa doença, e ela descobriu que o camundongo tem esse mesmo gene.

Então, criou um camundongo com uma mutação naquele gene, com perninhas e bracinhos compridinhos, mas, dessa forma, foi possível estudar a doença com mais detalhes e entender melhor, realizando uma série de experimentos com o ratinho, testando novas terapias para essa doença no camundongo, antes de testar no ser humano.

Lygia morou nos Estados Unidos. Quando ela voltou para o Brasil, e criou o primeiro camundongo de laboratório no Brasil, foi uma grande repercussão. Era uma técnica feita nos Estados Unidos havia uns 10 anos, mas aqui era a primeira vez. Para criar os ratinhos, Lygia e sua equipe usaram células tronco de camundongo, chamadas células tronco embrionárias, modificando o DNA nessas células-tronco, para depois colocar a célula-tronco dentro do embrião do camundongo e aí essa célula se tornar o próprio camundongo.

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UMA CÉLULA CORINGA

A experiência lá fora permitiu que Lygia tivesse o conhecimento necessário para trazer para o Brasil a pesquisa sobre célulastronco embrionárias que podem se transformar em qualquer tipo de célula, como a carta coringa do jogo do baralho. É como se, nesse estágio embrionário, ainda não tivessem decidido o que serão: se vão ser células dos ossos, do cérebro, do coração etc. O pesquisador põe essas células para se multiplicarem no laboratório, depois, faz elas se transformarem no tipo de células desejadas, para então colocar essas células no paciente. Os estudos seguem no mundo inteiro em fase de testes, mas isso vai permitir que, ao invés de receber um transplante de outra pessoa, um paciente possa recuperar o órgão que foi desenvolvido em laboratório de maneira perfeitamente compatível consigo.

IGUAL A UM MINICORAÇÃO

Todas as nossas células têm o mesmo DNA. Em uma célula de músculo, coração ou cérebro, a sequência do DNA é idêntica. Uma célula de um músculo é completamente diferente da de um neurônio, porque só os pedaços do DNA (alguns genes) relacionados às funções de ser músculo estão ativos, funcionando. Imagine uma sala de controle, com vários botões, cada um tem uma função: a cada um que apertamos, ativamos uma ação diferente. Ligando-se e desligando-se algumas regiões do genoma, as células se transformam em ossos, coração, músculos, e assim por diante. Lygia conta que na primeira vez em que viu as células-tronco, os “botões” ativados eram comandos para virar célula do coração. Ela olhou pelo microscópio e essa célula estava lá batendo, igual a um coraçãozinho.

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DNA É A CARTEIRA DE IDENTIDADE DOS SERES VIVOS

Atualmente, o principal questionamento de Lygia tem sido a pequena parte que diferencia uma pessoa da outra. Todos os seres vivos são resultado de um DNA, o seu genoma. É uma receita que a natureza segue para formar aquele indivíduo, seja ele uma samambaia, um peixe, um vírus ou nós. Quando se estuda esse DNA, entende-se todas as instruções que a natureza segue para formar biologicamente aquele indivíduo, e como seu corpo vai funcionar ao longo da vida.

O que fascinou Lygia foi constatar que muito do que há no genoma de organismos mais simples é encontrado também em seres mais complexos. Lembra das drosófilas? Elas têm 60% do genoma em comum com seres humanos. E na medida em que se aproximam evolutivamente, as semelhanças aumentam incrivelmente, e resta pouca diferença. Humanos e macacos, por exemplo, têm apenas 3% de diferença entre seus genomas.

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SOMOS 0,1% DIFERENTES

Pouca gente tem ideia do quanto os humanos são idênticos uns aos outros do ponto de vista do genoma: somos 99,9% idênticos. O genoma das pessoas não pode ser totalmente idêntico, senão seríamos todos clones, iguaizinhos. Nesse 0,1% estão nossas características individuais, como a cor dos olhos, os tons de pele e os cabelos, mas também a nossa saúde. Estão determinadas as formas como nosso organismo vai trabalhar, por exemplo: como é o nosso metabolismo, como distribuímos a gordura no corpo, se temos facilidade em fazer músculos e nossa predisposição a doenças, tudo está nessa mínima porcentagem.

PROJETO DNA DO BRASIL

Sabendo que somos apenas 0,1% diferentes e que não existe um único genoma humano, mas, sim, mais de 7 bilhões de genomas diferentes, alguns países começaram a sequenciar milhares de pessoas de suas populações para entender essa diferença.

Em 2016, começaram a ser publicados artigos mostrando que 80% desses estudos são feitos em populações brancas, populações de ancestralidade europeia. A comunidade científica internacional estava desenvolvendo todo o conhecimento sobre genética humana sem incluir a diversidade do ser humano. Então Lygia pensou: “Opa, essa é a hora do Brasil contribuir. Porque se tem uma coisa que temos é diversidade”.

Seu projeto atual, O DNA do Brasil, tem como objetivo conhecer os genomas dos brasileiros. Nós somos essa mistura única de indígenas que estavam aqui, de diferentes grupos étnicos, com europeus que vieram e africanos trazidos à força como escravos. Nossa história como Brasil, de 1500 para cá, foi escrita com muita miscigenação, principalmente entre esses três grupos, mas também eventualmente com populações de outras partes do mundo.

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O projeto vai estudar a genética do povo brasileiro com o principal objetivo de conhecer a genética das doenças comuns no Brasil, como asma, diabetes, alzheimer, hipertensão, doenças cardiovasculares e hipertensão. Assim, vamos poder saber quais medicamentos são melhores para cada pessoa, e poderemos até criar novos medicamentos mais precisos e eficazes que adaptem as proteínas, e de forma mais inteligente, para atuar diretamente nas doenças.

Será possível fazer testes para prever quem tem risco maior de desenvolver essas doenças, pois algumas delas não dependem só do fator genético, muitas estão relacionadas ao meio ambiente, às ações externas ao corpo. Então, se conhecemos uma predisposição genética para hipertensão ou diabetes, podemos adquirir hábitos mais saudáveis, cuidando da alimentação e fazendo exercícios. Lygia diz que “a genética não é uma bola de cristal que determina todo seu futuro. Nós somos também muito influenciados pelo meio ambiente. A genética não dá pra mudar, mas podemos mudar o estilo de vida, possibilitando que aquela doença, que está na base do nosso DNA, nunca se manifeste”.

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MUSEU DA ESPÉCIE HUMANA

Com o projeto, abre-se a oportunidade de se conhecer mais sobre a formação da nossa população. Os indígenas originários, por exemplo: a imensa maioria foi dizimada, extinta. Só que aquele DNA ainda existe, fragmentado no brasileiro atual. Cada um de nós é como se fosse um mosaico de diferentes frações de genomas de diferentes origens. E, quando sequenciamos esses genomas, é possível recuperar frações de DNAs de ancestralidade de povos que não existem mais.

Lygia está trabalhando com sua equipe para ajudar a medicina no combate a doenças, mas também para nos mostrar que cada pessoa é como um grande museu da espécie humana. Além de servir de manual de funcionamento do seu organismo, seu DNA guarda memórias das gerações que lhe antecederam, mesmo que você ainda não saiba.

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DUÍLIA DE MELLO

27.11.1963

A MULHER DAS ESTRELAS

Duília de Mello é astrônoma e estuda como as galáxias interagem umas com as outras, como elas se formam e como elas evoluem até se tornarem galáxias como a nossa, a Via Láctea.

Na década de 1970, quando a Nasa, a agência espacial norte-americana, lançava sondas para explorar o espaço, Duília queria se tornar cientista para descobrir como aquelas naves funcionavam, como mandavam imagens do céu e dos planetas para nós. Essas naves eram também mensageiras da Terra, levando informações para outros possíveis moradores do universo que as encontrassem, embora ninguém soubesse qual era a linguagem usada pelos seres extraterrestres.

As sondas Pioneer 10 e 11 levaram uma placa dourada gravada com desenhos mostrando nosso sistema solar (onde a Terra está localizada na Via Láctea) e a estrutura do átomo de hidrogênio. Já as sondas Voyager 1 e 2 incluíram um disco sonoro de ouro contendo saudações em 55 línguas, sons como a batida do coração humano e da natureza, como vento, vulcão, sons de elefantes e cantos de baleias, além de canções folclóricas de vários povos do mundo, incluindo música clássica, como Bach e Beethoven, e música pop, como Chuck Berry. A esperança é que alguém um dia as encontre.

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UMA DESCOBERTA DE 56 MILHÕES DE ANOS

Duília já era doutora em astronomia quando, em 14 de janeiro de 1997, experimentou a sensação de uma descoberta. Ela estava em um observatório no deserto do Atacama, no Chile, em uma montanha alta, seca e que em noites escuras tem condições ideais para observações astronômicas. Naquela noite fria, ela viu algo estranho na telinha do telescópio. Havia uma estrela intrusa que não deveria estar ali. Ela tinha um mapa do céu e chegou a pensar que estava no local errado. Duília poderia ter deixado pra lá, mas, curiosa, fez a pergunta certa na hora certa. Ao passar o instrumento em cima daquela estrela, verificou que sua composição química era a de uma estrela que tinha explodido havia 56 milhões de anos, uma Supernova, que são estrelas que explodiram, aumentando temporariamente sua luminosidade em mais de 1 bilhão de vezes. SN 1997D foi o nome que recebeu a Supernova.

NÓS SOMOS ESTRELAS

As explosões das estrelas são muito importantes para entendermos as nossas origens e a vida. Somos feitos e cercados de elementos químicos. O ferro, que está no sangue; o cálcio dos nossos ossos; o oxigênio que respiramos, tudo é feito dentro das estrelas. Quando as estrelas produzem energia, elas produzem também elementos químicos, essa é a única forma na natureza de produzi-los. Ao fechar os olhos e respirar fundo, vamos sentir o cheiro das estrelas, pois, ao respirar, inspiramos o oxigênio, o qual, acabamos de descobrir, é feito dentro delas.

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ESPAÇO E TEMPO

Quando viajamos, é comum usarmos o tempo como medida de distância. Uma viagem de seis horas pode ser considerada longa, mas só podemos afirmar o quão longe ou perto quando conhecemos o meio de transporte para a viagem. Os astrônomos também usam o tempo para medir distâncias, mas utilizam a luz, no lugar de carros e aviões.

Para medir distâncias enormes como as que temos no universo, foi uma estratégia relacionar o tempo ao espaço, já que sabemos que a luz viaja 299792,458 quilômetros em um segundo. Daí a utilização da unidade "ano-luz", que é a distância que a luz percorre em um ano terrestre - quase 10 trilhões de quilômetros. Se não usássemos o ano-luz, precisaríamos sempre de números imensos para medir as distâncias astronômicas em quilômetros.

A luz das estrelas demora para percorrer o caminho até chegar nos nossos olhos. Por exemplo, a luz do Sol demora oito minutos para chegar à Terra. A estrela Acrux, também chamada de Estrela de Magalhães, é um conjunto de três estrelas que a olho nu forma a estrela mais brilhante da constelação do Cruzeiro do Sul. Elas estão a 320 anos-luz da Terra, ou seja, a luz das três passam 320 anos viajando até serem vistas todas as noites por nós.

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O INVISÍVEL EXISTE

A luz é bem mais do que nossos olhos podem enxergar. Ao longo da história, vários cientistas se perguntaram quanto a isso e foram fazendo descobertas, hoje, fundamentais para a exploração do universo.

♦ Isaac Newton, em 1665, colocou um prisma no caminho de um raio de Sol e viu sete cores, o que nomeou de “espectro visível”.

♦ Em 1800, William Herschel fez o mesmo que Newton, mas queria testar a temperatura de cada cor. Com termômetros, percebeu que a temperatura aumentava do azul para o vermelho e decidiu incluir um termômetro fora das cores visíveis, depois do vermelho, acreditando que registraria só a temperatura ambiente. A surpresa foi que o termômetro subiu ainda mais do que no vermelho - fora do espectro visível. O cientista chamou de “raios que vêm do Sol, inadequados para a visão", descobriu a luz invisível, nomeando a luz como "infravermelha”.

♦ No ano seguinte, Johann Wilhelm Ritter fez outro teste, agora usando um material sensível à luz, o cloreto de prata. Colocou um pouquinho da substância em cada cor visível do arco-íris, adicionando também na área escura, depois do violeta. Acreditem! O cloreto de prata na área não iluminada escureceu mais que na área violeta. Era a descoberta de outra luz invisível: o ultravioleta (“ultra” significa “além de”), hoje conhecido como UV.

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OLHANDO PARA O PASSADO

Nossos sentidos só detectam um pouco do infravermelho e dos raios ultravioleta na forma de calor sobre a pele, por isso, quando vamos à praia, precisamos passar filtro solar, para bloquear os raios de Sol prejudiciais que nos queimam. Então, quando olhamos para as estrelas, mesmo usando telescópios terrestres, nós só conseguimos captar a luz visível. É que a atmosfera filtra a maior parte da luz infravermelha e da radiação ultravioleta emitida pelos astros. Ainda bem, ou precisaríamos de protetor com filtro até durante a noite!

Vinda de lugares distantes do universo, a luz percorre um longo caminho para chegar até aqui. Isto quer dizer que muitas estrelas podem já ter morrido quando as observamos. Mas se as “estrelas mortas” não brilham mais, como é possível ver algo que já não existe? Na verdade, não é bem assim. O telescópio é praticamente uma máquina do tempo. Ao vermos as estrelas bem distantes, estamos vendo o passado, como elas eram naquela época, e não sabemos exatamente como elas são hoje.

A luz visível é só uma pequena parte do que os astrônomos chamam de “espectro eletromagnético”. Existem muitas outras ondas luminosas, incluindo os raios gama, os raios X, a radiação ultravioleta, a radiação infravermelha, as micro-ondas e as ondas de rádio. São necessários equipamentos para detectar essas ondas ou sair da atmosfera que bloqueia a maior parte delas.

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O UNIVERSO É UM BOLO DE PASSAS

A ideia do Big Bang como explosão cria uma imagem na nossa imaginação, de que a expansão do universo acontece de forma esférica. A cientista faz uma comparação curiosa: o universo é como uma massa de bolo com passas no forno, as galáxias seriam as passas, e, conforme o bolo vai assando, as passas/galáxias vão se afastando e a massa vai se expandindo. Porém, não no formato oval, mas achatada, como um bolo que assa em uma forma retangular. Só que diferente do bolo, não existe forma, o universo vai se expandindo cada vez mais, se espalhando em ondas e energia, na maior parte das vezes invisíveis aos nossos olhos.

O QUE OS OLHOS NÃO VEEM

Os primeiros exploradores dos mares só usavam as estrelas como guias, navegavam a partir do que seus olhos enxergavam e usavam lunetas apenas para ver se estavam chegando ao destino. Com o passar do tempo, começamos a utilizar lunetas para observações astronômicas e inventamos telescópios com dispositivos que captam muitas outras faixas de luz além da luz visível. Os telescópios modernos captam o que não conseguimos ver, o que está além da nossa visão no cosmos.

Duília começou a colaborar com a Nasa em 1997 e diz ser fã do Telescópio Espacial Hubble, um satélite artificial que está em órbita ao redor da Terra desde abril de 1990 e já trouxe imagens surpreendentes do universo. Sobre o telescópio, ela diz: “Tenho observado os campos profundos obtidos com o Hubble há décadas, mas ainda acho incrível que, quando olhamos para imagens profundas, estamos vendo o passado, bilhões e bilhões de anos atrás”.

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ESPAÇO INTERGALÁCTICO E AS GALÁXIAS

Bilhões de estrelas, planetas, gás e poeira formam gigantescos sistemas chamados de galáxias.

Duília fez Mestrado em Radioastronomia e estudava galáxias peculiares que não têm formatos bem definidos. Ela queria entender a formação das estrelas nessas galáxias. Onde existem muitas estrelas, há fortes ondas eletromagnéticas que não são visíveis aos olhos humanos, mas podem ser detectadas com radiotelescópios, aquelas antenas parabólicas enormes.

As galáxias podem ser: elípticas, espirais ou irregulares. A nossa, a Via Láctea, é do tipo espiral e tem um diâmetro de 100 mil anosluz. As estrelas nascem nos braços das galáxias espirais, onde há gás e poeira, e o nosso sistema solar habita um desses braços na Via Láctea.

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CAMINHO DO LEITE

Quando olhamos para um céu escuro, vemos uma faixa esbranquiçada, que os gregos associaram a leite derramado. Duília explica que o arco que vemos é um braço da Via Láctea e que as galáxias espirais têm um disco com braços ao redor de um núcleo grande que geralmente tem um buraco negro massivo no meio. O Sol é uma das estrelas que estão em um dos braços em rotação ao redor do buraco negro massivo.

ANDANDO EM PARES

No Doutorado, a cientista começou a estudar galáxias que possuíam companheiras e viviam em pares. Mas sua pesquisa era para entender pares que tinham galáxias de formatos diferentes, por exemplo, uma elíptica que estivesse próxima a uma espiral. Ela queria entender por que, mesmo sendo tão diferentes, elas estariam juntas. Muitos achavam que as galáxias não formavam um par, mas que isso era fruto de uma ilusão de ótica, que elas estariam em perspectivas diferentes, como se uma estivesse muito mais atrás que a outra, e a aparência seria um efeito de projeção.

Em seu estudo, ela demonstrou que não era esse o caso, que as galáxias estavam próximas, sim, e que uma influenciava a outra. Duília encontrou populações estelares jovens nas galáxias elípticas quando se esperava apenas estrelas velhas, pois geralmente as elípticas não têm mais gás para formar estrelas. Ela percebeu que algumas elípticas que tinham as galáxias espirais como companheiras estavam formando novas estrelas: “Botei a culpa na espiral”, afirma, dizendo que a galáxia espiral teria transferido gás para a galáxia elíptica, que, por sua vez, com esse gás, formou uma nova geração de estrelas. E completa: “Foi no Doutorado que fiquei especialista em galáxias em colisão, galáxias que estão muito próximas uma da outra, prontas para colidir”.

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BOLHAS AZUIS - OS BERÇÁRIOS

Mas a descoberta que a Duília mais gosta de contar é a das bolhas azuis. Durante a colisão entre as galáxias, a força da gravidade puxa o gás de uma galáxia para a outra, deixando gás pelo caminho que pode gerar estrelas. Foi nesses caminhos gasosos que Duília procurou por estrelas.

As bolhas azuis são berçários de estrelas que nasceram do lado de fora das galáxias, no meio intergaláctico, ou melhor, entre duas galáxias. Duília diz que usou o satélite da Nasa Galex, que faz imagens ultravioleta para detectar “estrelas grandonas, bem jovens e azuis”, que não podem ser observadas da Terra porque a luz ultravioleta é filtrada pela atmosfera.

Depois, colocando as mesmas coordenadas nas imagens do telescópio Hubble, ela conseguiu ver uma imagem detalhada daquela região das bolhas azuis, que mostra vários berçários de estrelas. O projeto “Bolhas azuis" não parou com o Hubble. Mais tarde, Duília detectou centenas de outras bolhas em outros alvos e com outros telescópios junto com vários colaboradores e estudantes.

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COMO ENXERGAM OS SATÉLITES

Na ilustração abaixo, podemos comparar dois telescópios espaciais que já trouxeram imagens incríveis do Cosmos. O telescópio Hubble vê uma pequena parte dos raios ultravioleta (UV), os raios que enxergamos (o arco-íris) e uma parte dos raios infravermelhos. Já os sensores do telescópio James Webb enxergam uma pequena parte do visível, os raios infravermelhos quase todos, sem o chamado infravermelho longínquo, que é mais próximo das micro-ondas.

Os telescópios captam várias imagens monocromáticas de um mesmo objeto que vão passar por filtros, cada um de uma cor, e juntando todas as imagens formam uma única imagem colorida. O procedimento no telescópio James Webb é quase o mesmo que no Hubble, mas os comprimentos de onda no infravermelho foram associados, indo das mais curtas às mais compridas, na ordem azul, verde e vermelho. No James Webb existe um número bem maior de filtros, para cada uma dessas cores iniciais: cada filtro deixa passar um comprimento de onda específico, associando, criando e mapeando as cores.

Quer ver imagens dos telescópios? Visite os sites:

♦ https://hubblesite.org/home

♦ https://webbtelescope.org/home

TELESCÓPIO ESPACIAL HUBBLE 90

QUEREMOS VER O UNIVERSO DISTANTE

O telescópio James Webb está procurando pelas primeiras galáxias, para isso precisa estar longe do Sol e ter uma capa de proteção voltada para ele, para que esteja frio e possa detectar as imagens em infravermelho. O telescópio Hubble tem 2,5 metros e está a apenas 600 quilômetros da Terra. Já o James Webb tem 6,5 metros de diâmetro e possui uma área bem maior para coletar mais luz, e está a 1,5 milhão de quilômetros de distância da Terra.

As galáxias mais distantes estão se distanciando mais e mais, com uma velocidade muito grande. A luz dessas galáxias vai passar para o infravermelho, por isso o James Webb possui detectores de ondas infravermelhas.

Com este telescópio também é possível ver alvos mais próximos, mas que estão escondidos atrás da poeira, como é o caso das estrelas que nascem em ambientes muito empoeirados. Os detectores infravermelhos conseguem penetrar por dentro da poeira. O novo telescópio vai trazer muitas descobertas, mais planetas, novas estrelas.

“O fato de ainda não sabermos como nossa própria galáxia se formou e evoluiu me faz continuar. Sinto que preciso contribuir de alguma forma para esse quebra-cabeça e tentar entender as nossas origens”, explica Duília de Mello.

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TELESCÓPIO ESPACIAL JAMES WEBB

CARLOS NOBRE

O VALOR DA FLORESTA

Vamos voltar 520 anos na História, a 22 de abril de 1500. As 13 naus portuguesas comandadas por Pedro Álvares Cabral chegam ao sul da Bahia em Porto Seguro. O cronista Pero Vaz de Caminha escreve uma carta admirado com a chuva de todos os dias e com a exuberância e a diversidade da Mata Atlântica, pois as florestas a que estava acostumado, em Portugal, tinham uma ou duas espécies de árvores. Na carta, escreve: “Em se plantando tudo dá”, pensando que se há toda aquela vegetação e chuva, então poderiam trazer qualquer espécie da Europa e plantar lá. A floresta não tinha valor. Os conhecimentos da agricultura de roça dos tupinambás, com dezenas de alimentos, fibra, ervas fitoterápicas, muito

mais desenvolvida que a dos europeus, foram totalmente ignorados por uma presunção de superioridade, já que os indígenas não tinham metais ou pólvora, e foram devastados pelas doenças que os colonizadores trouxeram em seus organismos.

Esse exemplo, tão longínquo, continuou sendo replicado, como o gado que não se adaptou na Mata Atlântica, mas que foi levado com sucesso ao Cerrado; ou a floresta, que foi derrubada e substituída pela cana-de-açúcar do sul da Ásia e depois pelo café da Arábia. Nunca se viu valor econômico na floresta, a ciência de hoje mostra a potencialidade do valor econômico da floresta em pé.

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27.03.1951

Hoje sabemos que as florestas brasileiras contêm 16 mil espécies. Somos o país que tem a maior diversidade de árvores do planeta. No local onde aportaram os portugueses, existiram 450 diferentes espécies por hectare.

A FLORESTA DE DENTRO

Carlos Nobre pesquisa e escreve sobre mudanças climáticas, desastres naturais, sobre a importância da Amazônia para a estabilidade climática e os riscos do desmatamento e das queimadas. Paulistano, ele sempre morou perto de áreas onde ainda existiam árvores da Mata Atlântica. Seu pai costumava levar os filhos para passear na mata e falava a respeito dos animais, da importância da vegetação e do papel dos seres humanos, o que acabou inspirando quatro de seis irmãos a se tornarem cientistas ligados à área ambiental. Carlos guardou na memória a paisagem de uma caminhada de mais de 10 quilômetros feita com o pai na Serra do Mar.

Nos anos de 1960 era comum seguir a carreira de engenharia quando o aluno era bom em matérias como Física e Matemática. Foi assim que Nobre acabou se diplomando engenheiro eletrônico pelo ITA - Instituto Tecnológico de Aeronáutica. Mas a atenção com o meio ambiente sempre o atraiu. Até hoje ele se lembra de uma palestra do biólogo Paulo Nogueira Neto, a que assistiu aos 16 anos, que abordava a importância dos ecossistemas, da natureza: “Aquilo ficou na cabeça”.

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A FLORESTA DO ALTO

Quando Carlos Nobre estava no ITA, um diretor da escola defendeu que os alunos precisavam conhecer o país em que viviam. O Instituto tinha alunos civis e militares, muitos desses pilotos de avião, os quais a Aeronáutica exigia que voassem pelo menos uma vez por ano. Então, durante as férias, eles pilotavam um avião antigo usado na Segunda Guerra Mundial, o modelo DC3, e levavam os demais companheiros de turma para conhecer uma parte remota do Brasil. Carlos Nobre teve muita sorte, pois conseguiu se inscrever duas vezes para sobrevoar a Amazônia: em 1971 foi a Macapá, no Amapá, e em 1972 foi ao extremo oeste do Acre, a uma cidade chamada Cruzeiro do Sul. O avião voa baixo, a uns cinco quilômetros de altitude, o que proporcionava uma belíssima visão da floresta.

As viagens, que duravam cerca de 15 dias, despertaram no jovem a vontade de trabalhar na Amazônia. Depois de formado, Carlos Nobre ingressaria no Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia - INPA, como engenheiro, apoiando os laboratórios.

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A MATA PARA BAIXO E O TERMÔMETRO PARA O ALTO

O relógio de nosso planeta sempre foi lento. A paisagem de gelo que cobria a Era Glacial da Terra levou 12 mil anos para chegar ao Holoceno, período em que vivemos, chamado também de interglacial. Foi preciso todo esse tempo para que a natureza aumentasse 5ºC na temperatura terrestre.

Entretanto, em “apenas” dois séculos, com as ações humanas após a Revolução Industrial, nós já aumentamos em quase 2ºC a temperatura média global. Ou seja, a velocidade com que estamos acelerando o relógio do planeta e transformando o meio ambiente é de 30 a 50 vezes mais rápida do que a ação dos sistemas naturais.

Os anos de 2015 a 2021 foram os seis mais quentes do registro histórico que começou em 1850. Se compararmos com 200 anos atrás hoje temos:

♦ Ondas de calor acontecem duas vezes mais;

♦ Chuvas intensas acontecem uma vez e meia mais;

♦ Furacões, ciclones já ocorrem com muito mais frequência e intensidade.

Essa é a resposta do planeta ao aquecimento global.

Petrópolis 15/02/2022 - As enchentes, os deslizamentos e as mortes trágicas decorreram de uma rápida mudança de temperatura do oceano, que naquele dia ficou muito mais quente. Com o aumento da evaporação de água, o vapor subiu e encontrou a Serra Fluminense, a primeira em direção ao mar, onde já são comuns as chuvas de encosta no verão. Um evento extremo agravado pelo aquecimento global.

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Ao longo da evolução humana, nosso sistema fisiológico descobriu maneiras de estabilizar nossa temperatura próxima aos 36ºC. Além do fluxo de sangue, responsável por mantê-la equilibrada, o suor é importante para refrescar o corpo. Quando suamos, a água sobre a pele retira calor do organismo e, quando as gotas evaporam, o corpo esfria. Esses são mecanismos que a evolução desenvolveu. Mas se a temperatura do ar está muito alta, e o ambiente, úmido, o suor não consegue evaporar no ar saturado.

Carlos sempre praticou esportes e diz que alguns atletas costumam achar que é normal suar muito durante a prática do exercício. Mas em certos dias de inverno, podemos não ver suor, pois o ar é tão seco que faz evaporar a água. Já no verão, o ar carregado de umidade não consegue absorver as gotas de suor.

No ritmo atual das emissões de gases poluentes, se aumentarem os 4ºC no Rio de Janeiro, os nossos bisnetos não poderão mais morar na cidade. Se a temperatura máxima estiver em 43ºC, e a umidade relativa do ar chegar a 60%, o corpo não perderá calor no tempo necessário e entrará em colapso. Em 300 dias por ano, tirando parte do inverno, seriam várias horas por dia em que não poderíamos sair de casa. Um bebê ou um idoso só resistiriam a meia hora nessas condições, sujeitos a um ataque térmico, causando enorme impacto no cérebro e nos pulmões. O aumento tão rápido da temperatura não acompanha o ritmo da nossa capacidade de adaptação. Como não temos como evoluir para que nosso corpo aguente temperaturas tão altas, a melhor saída é impedir que o planeta esquente tanto.

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O PLANETA ESTUFA

Os gases que causam o efeito estufa, e que retém calor próximo à superfície, são o gás carbônico, o metano e o óxido nitroso, eles sempre existiram na atmosfera. O efeito estufa é fundamental para o planeta, sem ele talvez nem existisse a vida como nós a conhecemos, e a temperatura da superfície seria de -17ºC, ou seja, toda a água do planeta estaria congelada. A manutenção desses gases é importante para manter a temperatura, para se ter água em estado líquido e vapor de água: os oceanos cobrem 71% do planeta e evaporam a água, que o vento leva para dentro dos continentes, proporcionando a chuva que permite a vida.

Carbono é o elemento químico fundamental para a existência de vida. Na natureza, ele está presente em cada ser vivo e em tudo o que foi vivo um dia, bem como nos processos básicos da vida, como a alimentação e a respiração. Quando derrubamos ou incendiamos árvores e desenterramos toneladas de petróleo para queimar na forma de combustível, estamos jogando para a atmosfera o carbono que estava fixado, estacionado, na natureza. Por isso o termo “efeito estufa”: a quantidade excessiva de gases forma uma cobertura sobre o planeta, concentrando ainda mais o calor, como em uma estufa.

Os vegetais fazem o “trabalho ecológico” de capturar o carbono que está no ar e fixar de novo, de forma menos agressiva, à vida. A gente aprende esse processo desde cedo na escola, a fotossíntese: usar energia solar para transformar gás carbônico em oxigênio. Fica fácil de ver até na fórmula química: se os vegetais pegam CO2 (gás carbônico) e soltam O2 (oxigênio), para onde foi o C de Carbono? Para o corpo do vegetal. Imagine uma floresta do tamanho da Floresta Amazônica, com suas árvores enormes de troncos largos, quanto carbono fixa! E quando as plantas ou derivados do petróleo são queimados, o Carbono (C) que está fixado é liberado no ar e se junta com o oxigênio do ar (O2), formando o gás carbônico (CO2).

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SEM FUMAÇA NEM FOGO

Para Carlos Nobre, o grande motivo da crise climática que enfrentamos são os combustíveis fósseis: “O carvão, o petróleo e o gás natural têm que ficar enterrados. Se forem queimados, vamos ultrapassar os limites, ficaremos muito acima dos 2ºC de aumento da temperatura e um futuro insustentável”. Segundo ele, é uma tendência mundial o uso de energias renováveis, como a solar e a eólica, muito mais econômicas, inclusive; e o Brasil tem um dos territórios mais favoráveis para geração dessas novas possibilidades energéticas: “O futuro está na eletrificação dos transportes, os veículos elétricos já estão sendo testados em todo o mundo - um trânsito sem fumaça”.

A previsão é que, durante o século XXI, o aumento da temperatura seja tão alto, que não vamos conseguir sair de casa, em termos fisiológicos. O setor do combustível fóssil é muito forte economicamente, resiste em permitir a queima de recursos fósseis, é urgente voltarmos nossa atenção para o aquecimento global.

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NÓS, OS SEM FLORESTA?

O primeiro artigo publicado por Carlos Nobre, em 1990, falava sobre uma provável “savana na Amazônia", alertando para um futuro em que a Amazônia poderia se tornar um bioma como o Cerrado. E o que era alerta está mais perto de acontecer, já que esse risco não vem só pelo desmatamento, a floresta está mais vulnerável ao fogo. Como é vizinha a áreas desmatadas, a floresta degradada fica perfurada pela ação humana.

São motivos conectados: a estação seca está mais longa, pois a floresta está 3ºC mais quente; em áreas que não absorvem carbono, o aumento da temperatura causa a diminuição de chuvas. Outra preocupação é que as árvores de clima úmido estão morrendo, sua decomposição gera mais carbono, o gás do efeito estufa, que vai para a atmosfera.

Essas são observações reais, não é mais apenas teoria. Se continuarmos nessa direção, e chegarmos a 50 ou 60% de degradação da Amazônia, acabaremos em um ponto de não retorno, e não teremos como recuperar a floresta.

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TROCAS COM O AMBIENTE

O projeto Amazônia 4.0 quer valorizar o enorme potencial da “floresta em pé”, que tem milhares de produtos para todas as áreas. Um hectare de floresta amazônica tem mais espécies de árvores do que toda a Europa, são mais de 300. A ciência já estudou mais de 500 possibilidades - alimentos, bebidas, fitoterápicos, remédios, cosmética e óleos. É urgente juntar esse potencial gigantesco e levar indústrias para explorar essas oportunidades. É “aprender com a biologia”.

A NATUREZA QUE INSPIRA

Uma pesquisadora da Universidade Federal do Amazonas, ao observar a formiga cortadeira, teve uma ideia: desenvolveu um novo grampo para sutura, os pontos cirúrgicos, inspirado na mandíbula da formiga saúva. É o biomimetismo, a ciência busca referência no que deu certo na natureza.

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ZONA FRANCA DA FLORESTA EM PÉ

Em 1969, foi inaugurada a Zona Franca de Manaus. O pensamento da época era atrair indústrias prontas de fora para o desenvolvimento do município. Hoje, além de eletrodomésticos, a região produz veículos, motocicletas, bicicletas, computadores, bebidas, isqueiro, lâmina de barbear, xarope para refrigerantes, entre outros produtos. As indústrias são atraídas pela isenção fiscal, o abatimento nos impostos que são pagos para a produção local. Sendo assim, em vez de abrir uma fábrica em São Paulo, é comercialmente mais atrativo abrir empresas em Manaus.

O projeto Amazônia 4.0 aponta que a sustentabilidade pode unir meio ambiente e economia. Ao invés de trazer produtos e peças de fora, por que não conhecer e investir nos ecossistemas aquáticos e terrestres de nossos rios e florestas?

MAIS VERDE E MELHOR

A ideia é desenvolver uma bioeconomia:

♦ para a recuperação de áreas degradadas pela pecuária em sistemas agroflorestais;

♦ para desenvolver biofábricas para processar produtos locais;

♦ para a pesquisa de novos produtos.

O Brasil exporta só a matéria-prima, mas são os industrializados, derivados da transformação dos produtos da floresta, que podem gerar mais renda. Carlos Nobre conheceu o açaí em uma sorveteria na sua primeira viagem à Amazônia em 1971, e perguntou: “Qual o sabor daquele sorvete roxo?”. Na época, o consumo era apenas local, hoje, é uma indústria mundial presente em 20 mil pontos do mundo, gerando 10 milhões de dólares por ano. Mas é exportado como polpa e é industrializado fora do país: “Nos Estados Unidos você pode ir à farmácia e encontrar diversos produtos feitos de açaí”. Atrair indústrias e criar novidades, em vez de exportar apenas produtos primários, agregaria valor cinco vezes mais alto, levando uma nova produção para fora da Amazônia e para outros países.

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REPENSAR NOSSOS VALORES

Exportar produtos primários, como madeira e minérios, gera desigualdade. São poucos proprietários de grandes áreas, assim como acontece nas fazendas gigantescas de pecuária. Se não há indústrias para gerar trabalho, os melhores empregos diminuem, são elas que geram oportunidades para os moradores locais, em um sistema coletivo que beneficia milhares de pessoas. Uma ideia socialmente inclusiva e economicamente rentável para o país.

Carlos Nobre diz que temos que repensar nossos valores: a floresta em pé tem muito mais valor, o projeto deve ser um esforço concatenado do governo com políticas públicas e recursos para a implantação das bioindústrias para uma Amazônia 4.0.

Um hectare com sistema agroflorestal que gera açaí, castanha, cacau, produzidos por cooperativas, mesmo sem industrialização, atinge por ano uma lucratividade entre cinco e dez vezes mais que a do gado, e o dobro que a da soja, já que se produz mais em menos espaço.

O sistema agroflorestal é uma forma de uso consciente do solo e combina o plantio de várias espécies levando em consideração o tempo para colheita e a lucratividade de cada produto, fazendo a recuperação do solo entre os plantios, restabelecendo a vegetação nativa e atraindo a fauna.

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GOSTINHO DA MATA

Uma das ideias em teste é o cupulate, chocolate feito da semente do cupuaçu. “Para você ter uma ideia do quanto isso agrega valor: o quilo do cupulate vale dez vezes mais que o da semente do cupuaçu”. A pesquisa quer criar novos produtos com a polpa do cupuaçu e o nibs de cacau, o chocolate em sua forma mais pura, além de pesquisas para a castanha-do-brasil e o açaí.

AQUI DESDE SEMPRE

O Amazônia 4.0 reafirma o respeito a todos os grupos indígenas, inclusive àqueles que não querem contato com pessoas não indígenas e preferem ficar isolados. O professor relembra a figura dos bandeirantes paulistas que nos livros de História do seu tempo apareciam como heróis, mas que hoje poderíamos comparar aos que são invasores e que praticam grilagem de terra e garimpo ilegal.

♦ Grilagem de terras é uma prática ilegal, alguém invade um terreno e frauda um documento comprovando que aquela terra lhe pertence. São apropriações de terrenos do Governo Federal ou de áreas de povos indígenas. O nome vem de quando se colocava o documento em uma caixa com grilos, que em pouco tempo ficava esburacado e com cor envelhecida. Hoje, os grileiros possuem técnicas avançadas para forjarem os documentos e são responsáveis por grande parte do desmatamento da floresta.

O professor conta que já apresentou a ideia a várias lideranças indígenas que se mostram favoráveis às bioindústrias; a grande maioria quer manter sua cultura, mas com melhores possibilidades de vida material, e o projeto quer criar uma parceria, dar treinamento técnico às comunidades indígenas, pesquisando tecnologias embasadas em conhecimento tradicional.

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SABERES ANCESTRAIS

O cientista nos contou que na adolescência passou por uma situação inusitada, em uma noite, acampando com amigos em uma floresta na Serra do Mar. À noite, um dos amigos sentiu que algo tinha entrado no cobertor e alertou ao grupo. Eles tinham levado um guia que era morador local e descendente de um grupo indígena. O guia pediu que o rapaz aguardasse, que ele não se mexesse e esperasse o nascer do sol. Nos primeiros raios do dia, o menino viu sair do saco de dormir uma cobra cascavel. Era ela que estava enrolada na sua perna. O professor recorda de como ficou impressionado nesse primeiro contato com o conhecimento dos povos tradicionais, e reflete: “Talvez o final da história fosse outro, se estivéssemos sozinhos e tentássemos qualquer outra coisa: se o amigo fosse mordido, não haveria forma de atendimento médico naquela hora, dentro da mata”.

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COMO POSSO CONTRIBUIR?

O papel do cidadão é o consumo responsável. Para que as futuras gerações possam ter uma trajetória sustentável, precisamos mudar nossos hábitos, como reduzir muito o consumo de carne bovina. Além do desmatamento, a pecuária está associada a muitas emissões, incluindo a do gás metano liberado pelo gado. Hoje, já existe a proteína de base vegetal, e a estimativa é que até 2025 ela se torne mais barata que a carne de origem animal. O professor completa: “Na minha casa, não entra carne animal, compramos carne vegetal uma vez por semana. Cada um deve fazer a sua parte”.

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CIENTISTAS 4.0

“Eu era o mensageiro de más notícias.” diz Carlos, que na maior parte de sua carreira realizou experimentos e medições de dados sobre aquecimento global e seus efeitos na Amazônia. Emitia alertas e, em 2016, vendo o risco do cenário, mudou de procedimento: “Depois de 40 anos, comecei a alertar através de soluções”.

O professor reconhece a necessidade dos dois tipos de cientistas: aqueles que contribuem com análises de riscos que ainda não imaginamos, fazendo previsões do quanto o meio ambiente será modificado e, principalmente, quanto tempo ainda temos para evitar esses riscos. Na outra ponta, precisamos dos cientistas aliados à cultura de inovação, que atuam na busca de soluções possíveis e que usam conhecimento e criatividade, sem medo e nem apego a modelos ultrapassados e inalcançáveis. A partir dessa união, poderemos encontrar saídas para a agricultura, energia, transportes e outras áreas técnicas, mas também para sistemas de saúde, políticas públicas e para a superação de problemas sociais.

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ALAN ALVES BRITO

O MENINO QUE OLHOU PARA O CÉU

Na zona rural, sem a confusão da iluminação urbana, o céu parece imenso.

Desde pequeno, Alan Alves Brito, que nasceu no interior da Bahia, queria estudar as estrelas. Ele se lembra das noites desse céu brilhante, em lugares onde a energia elétrica não havia chegado.

Em 1986, o cometa Halley voltou ao nosso sistema solar 76 anos depois de sua última passagem. Essa aparição criou uma grande expectativa, o cometa foi tema de especiais de televisão, festa de aniversário, quadrinhos e capas de cadernos escolares e lancheiras. Mas, infelizmente, na maior parte das cidades brasileiras, por conta de

condições climáticas ou da poluição, não foi possível ver a passagem do cometa.

Na data em que Halley voltou a cruzar o céu da Terra, Alan tinha oito anos. Os jornais comentaram a frustração de todos os brasileiros, de não terem avistado o cometa. Mais ou menos no mesmo período, um outro fato astronômico ocorreu na pequena cidade baiana de Valença: caiu um "corisco" em cima da casa onde Alan morava. "Corisco" era como as pessoas da região chamavam algum raio ou coisa que caía do céu. “Foi um furdunço, gente acreditando que o mundo ia acabar… Mas não vimos o cometa!”, diz ele. No entanto, mesmo sem ver a cauda do cometa, a união desses dois acontecimentos ficou em sua imaginação de criança.

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08.03.1978

Alguns anos depois, a família se mudou para a cidade de Feira de Santana, também na Bahia, que tem até hoje o Observatório Astronômico Antares. Alan sempre frequentava esse observatório, onde folheava livros em inglês com imagens do céu. Nas manhãs de sábado, não perdia o programa de ciências na televisão; aos 13 anos, criou um clube de ciências para crianças, e com ele, realizou seu primeiro projeto científico.

Queria ser astrônomo: era uma certeza. Na escola, um professor havia dito que para isso era necessário fazer faculdade de Física e, justamente quando ele prestaria vestibular, o curso foi inaugurado na Universidade Estadual de Feira de Santana. Pouco tempo depois, pôde ter aula com dois professores que tinham experiência em astronomia. Talvez, como diz a expressão, “o universo estivesse conspirando a seu favor".

Alan foi a primeira pessoa de sua família a entrar no Ensino Superior, tendo estudado em escola pública, o que era um grande feito. Mas a trajetória acadêmica de Alan estava apenas começando. O jovem recebeu um prêmio de iniciação científica em São Paulo e voltou como herói para sua cidade. Os moradores comemoraram, afinal, era uma conquista não só para Alan, mas para todos. Com toda essa repercussão, o garoto que dormia olhando os pontos brilhantes no céu se viu cada vez mais perto das estrelas quando cursou o mestrado em São Paulo, depois o doutorado, o pósdoutorado, com períodos no Chile e na Austrália - onde estudou com o ganhador do prêmio Nobel de Física de 2011, o professor Brian Schmidt, que descobriu que a expansão do Universo estava acelerando e não desacelerando como até então se imaginava.

O pesquisador enxerga a ciência entrelaçada com questões sociais. Consciente de suas origens, ele sempre manteve projetos de divulgação científica para jovens estudantes. Em sua pesquisa, ele volta o olhar para nossas raízes brasileiras, valorizando os pensamentos dos povos originários indígenas e africanos.

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ANTÔNIA E OS SEGREDOS DO UNIVERSO

Não havia livros em casa, mas Alan era frequentador assíduo da biblioteca de Feira de Santana. Por ter estudado a vida inteira em escolas e universidades públicas e gratuitas, ele não consegue pensar sua carreira profissional longe dessa realidade. “Não tinham carteiras, mas tinham professores; não tinham livros, mas tinham professores”. Hoje é Alan que assume esse papel e colabora na divulgação da ciência: “Olho para trás certo de que não estaria aqui se não fosse a escola pública que transformou a minha vida e me possibilitou mundos outros”.

Quando visita as escolas, Alan costuma ouvir: “Você é professor de educação física?” Alan identificou que meninas e meninos negros não se imaginam como físicos, ou astrofísicos, como se essas carreiras não pudessem fazer parte do futuro deles. Foi dessa necessidade de representatividade que nasceu a personagem Antônia, uma menina negra que carrega os segredos do universo.

A escolha do cabelo crespo se deu não só pela estética, mas para mostrar que crianças negras também podem fazer perguntas, que deve haver espaço para todos que têm curiosidades. Antônia tem sotaque, ela fala “oxente” e “mãinha”. Por ser negro e nordestino, o cientista afirma que até hoje sofre preconceitos: “Eu não poderia chegar aqui e dar as costas para minha história, trajetória, família. Não vim sozinho, eu represento muita gente”.

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OUTROS POVOS SEMPRE OLHAVAM PARA O CÉU

Quando olhavam para o céu, o que pensavam outros povos, além dos europeus? Os nomes das constelações vêm da mitologia grega, mas a cultura brasileira é formada também pelos saberes dos indígenas, que já estavam aqui quando os europeus chegaram em suas caravelas, e dos africanos que foram trazidos à força. Alan acredita que muitas vezes uma parte importante da história se perde: as vozes de povos que são silenciados, pelo racismo e pela colonização.

O Brasil tem uma plataforma de lançamento de satélites em Alcântara, no Maranhão, que é muito importante para a representação da ciência no nosso país, mas foi construída em um território quilombola. São escolhas como essa que, se fossem feitas com o olhar sociocientífico, poderiam ter rumos diferentes.

A árvore genealógica nos mostra quem são nossos parentes próximos e quem foram nossos antepassados, como bisavós e tataravós. A palavra “ancestralidade” é uma forma respeitosa de honrar, relembrar e saudar os antepassados e traz a sabedoria das gerações anteriores à nossa existência. O presente e o futuro são compreendidos através do passado. Ancestralidade é fundamental para os povos indígenas e a diáspora africana, pois remete a uma conexão que não se perde, mas resiste através do contato com suas raízes.

Enquanto a Cosmologia busca explicar como tudo se formou no universo, a pesquisa de Alan Alves Brito trabalha agregando conhecimentos de povos como os Yanomamis, os Guaranis, os Kaingangs, além das populações de matriz africana. Um saber não se sobrepõe ao outro, uma cultura não deve ser vista como melhor do que as outras. Essa é uma preocupação social e científica, uma sociociência. A proposta é acrescentar as contribuições das culturas africanas e indígenas na ciência para se ter uma compreensão mais ampla dos fenômenos da natureza e da História.

O cientista conseguiu mobilizar a comunidade científica para que o Referencial Curricular Gaúcho, que é plano da Secretaria Estadual de Educação do Rio Grande do Sul, e o planejamento da Secretaria Municipal de Educação de Porto Alegre incluíssem temas da Educação Escolar Quilombola.

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A DIVERSIDADE ESTÁ NAS ESTRELAS

Uma das imagens mais conhecidas da astronomia foi feita pelo telescópio espacial Hubble: uma captura dos primeiros instantes do universo que permite a observação de galáxias, como elas eram há mais de 13 bilhões de anos. “A diversidade é uma potência no universo: são galáxias de diferentes cores, formas, composição química, temperaturas e idades. Se o universo é assim, por que não termos um ambiente científico que represente essa diversidade?”, Alan pergunta a si mesmo e a nós.

Como trazer o olhar sobre o céu de outras culturas? Para que a visão de ciência deixe de ser unicamente europeia (eurocêntrica), o pesquisador defende que profissionais de outras áreas do conhecimento, como arqueólogos, antropólogos e historiadores da arte contribuam com essa ideia de pluralidade, criando laços entre as descobertas. Um diálogo não só feito nas universidades, mas envolvendo pessoas que tenham diferentes vivências, como artistas da dança, músicos e, é claro, representantes dos povos originários, indígenas e quilombolas.

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O CÉU IORUBÁ

Os povos Iorubá foram forçadamente trazidos ao Brasil e desembarcaram na Bahia nos séculos XVIII e XIX. Sua tradição conta que Ilé-Ifé é a cidade sagrada onde o mundo se origina: o início de tudo começa com Odùduwà, o ancestral de todos os povos que, encaminhado por Olódùmarè (o grande senhor do céu), teve a missão de ajudar na construção do mundo.

Na Cosmologia Iorubá, o mundo está dividido em dois hemisférios distintos que se complementam para formar a cabaça da existência: Òrun (céu: mundos invisíveis, abóbada celeste) e Àiyé (terra: mundos visíveis).

ARTE TAMBÉM NO COSMOS

O povo Tabwa, do Congo, utiliza uma cesta como representação do céu: a tampa da cesta é a superfície terrestre; as pernas são os pontos cardeais e a alça é uma referência à Via Láctea. Os desenhos triangulares (bala mwezi) ao longo da cesta remetem ao nascer da Lua Nova, ligados, portanto, às fases da Lua.

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CONSTELAÇÃO DO HOMEM VELHOPOVO INDÍGENA GUARANI

Podemos olhar para o céu e ligar os pontos, criando constelações - áreas celestes com conjunto de estrelas agrupadas por estarem aparentemente próximas, sendo as mais acesas os principais pontos de atenção. As figuras dependem de quem observa os pontos brilhantes na noite do céu. Onde os europeus viam uma cabeça da constelação de Touro, os indígenas enxergavam a cabeça de um homem velho; no Hemisfério Norte, via-se a constelação das Três Marias; No Brasil, os indígenas enxergavam a imagem de um dos joelhos da perna arqueada do mesmo homem velho; e onde há uma estrela de luz avermelhada que os europeus chamam de Betelgeuse e é o ombro do herói Órion, os povos originários acreditam ser a perna do homem velho. Além da constelação de Homem Velho, a cultura Guarani formou figuras como a Ema e o Cervo do Pantanal, o Colibri... Grande parte das estrelas do céu era vista nos dois lados do mundo. Apesar de admirarem os mesmos pontos no céu, cada civilização formou seus próprios desenhos a partir de suas vivências e referências.

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OUTRAS CIÊNCIAS: OS YANOMAMI E A QUEDA DO CÉU

Muito antes dos cientistas falarem sobre o impacto das mudanças climáticas na camada de ozônio, nos anos 1990, Davi Kopenawa Yanomami já alertava sobre os perigos do céu cair. A imagem do céu desabando é a forma como o povo yanomami compreende os impactos da devastação ambiental, advindos da “fumaça do metal” emitida pelos maquinários dos nape, (não indígenas). É o que a ciência ocidental entende como aquecimento global.

Os Yanomami entendem o cosmos como algo vivo, que sonha e se manifesta, intimamente ligado à vida de todos nós. Para eles, a floresta e o mundo são sinônimos, traduzidos nos conceitos de hutukara e urihi, a “terra floresta” cujo coração pulsa e respira embaixo do solo. O que chamamos de natureza, eles chamam simplesmente de vida. Palavras que se aproximam do que chamamos de ecologia: o entendimento de que todos nós fazemos parte de uma cadeia de relações entre seres vivos e o meio em que vivemos.

Davi Kopenawa Yanomami é xamã. Ele é o maior porta-voz de seu povo, tornando-se uma das lideranças indígenas mais reconhecidas nas últimas décadas. Discursou diversas vezes na ONU e recebeu premiações internacionais. Ele é autor do livro A queda do céu (2015) junto ao antropólogo Bruce Albert. Em 1992, foi um dos responsáveis pelo reconhecimento oficial da Terra Indígena Yanomami, uma das maiores reservas indígenas do Brasil até hoje, e continua seu trabalho de defesa da floresta contra a invasão de garimpeiros, motivo da crise ambiental e humanitária que seu povo está sofrendo.

Trata-se de compreender que cada forma de habitar o mundo produz novos jeitos de conhecê-lo, respeitá-lo e, até mesmo, salvá-lo. É nesse sentido que a ancestralidade se mostra como o portal para o futuro: resgatando saberes dos povos tradicionais é que vamos (re)aprender a habitar o mundo.

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ESCRITORES

DANIELA CHINDLER

Já escreveu sobre pintores, escritores, imigrantes, inteligência artificial, países distantes e os segredos por trás das paredes de prédios como a Academia Brasileira de Letras e a Biblioteca Nacional. Atualmente coordena o programa educativo do Centro Cultural Banco do Brasil nas cidades do Rio, São Paulo, BH e DF e está desenvolvendo séries animadas. Já foi curadora da programação infantil da Bienal do Livro no Rio de Janeiro, Amazonas e Bahia. O projeto que mais a emociona é a sala de leitura do “Histórias além muros” para as mulheres em privação de liberdade. Dentre seus livros publicados, está “O hambúrguer era de carneiro - Diário de uma viagem a Índia” e “Bibliotecas do Mundo”, considerado o melhor livro informativo de 2012, pela Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ).

GIL CARDOSO

Nascido sob as sombras da Serra da Mantiqueira, desde pequeno se cercou de natureza em acampamentos e trilhas sempre querendo saber mais das coisas que via. De tanto perguntar, foi estudar Ciências Biológicas e Ciências Sociais no Rio de Janeiro. Lá, especializou-se em Ensino de Ciências e se tornou Mestre em Educação na UFRJ, onde foi professor substituto de Educação Ambiental. Trabalhou em faculdades, escolas, museus e jardins, e hoje compartilha sua paixão pela Ciência através de exposições, espetáculos, interativos pedagógicos e livros como este que você tem em mãos!

MARIA CLARA CAVALCANTI

Contadora de histórias, autora de livros para crianças e jovens, especialista em Leitura: Teoria e Prática e em Literatura Infantil e Juvenil. Nascida em uma família mineira, cresceu em um tempo que não havia televisão e, por isso, as horas em volta da mesa após o jantar em companhia de seus avós, sua mãe e seus irmãos lhe eram preciosas. Ali ela ouvia histórias, “causos” de infância dos avós, relatos de assombrações que ao mesmo tempo a amedrontavam e fascinavam, e, sem perceber, foi sendo introduzida no mundo da imaginação e da leitura do que jamais se afastou.

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FLAVIA ROCHA

Uma de suas primeiras lembranças é das mãos de sua avó, fazendo cafuné e contando lendas indígenas na hora de dormir. Contadora de histórias há 20 anos, Flavia adora pensar formas de explicar as coisas, procurar as melhores palavras que deixem uma ideia complicada fácil de se entender e, assim, formar imagens que podem ser “vistas” por todos. “Ao escolher uma linguagem mais acessível, aproximamos os conteúdos acadêmicos de crianças e jovens”, diz. Redatora e pesquisadora, participou de diversas publicações de materiais para professores, como os cadernos de atividades do projeto Percurso Livre da Fundação Roberto Marinho. A quatro mãos escreveu “Brincantes do Brasil – Ô abre a roda” com Daniela Chindler.

AUGUSTO PESSÔA

Conta histórias em livros, no teatro e, durante quatro anos, também se apresentou na TV. É ator, cenógrafo e figurinista de mais de cinquenta espetáculos teatrais. Tem vários livros publicados entre eles "Malasartes! Histórias de um camarada chamado Pedro” e "Felizes para sempre”. Pesquisador do grupo de estudos GELIJ da Cátedra UNESCO de leitura (PUC-Rio). Para assisti-lo contando histórias, é só clicar no site www.augustopessoa.com.

ILUSTRADOR

CAMILO MARTINS

Nasceu e se criou no Rio de Janeiro. Desde que se formou em Gravura, fez a promessa de nunca mais parar de desenhar: seja em livros, revistas, guardanapos, paredes e roupas. A religião de terreiro é algo que o acompanha desde o berço. Filho de Xangô, era embalado todas as noites por mitos e lendas das matas e até hoje escuta atentamente as histórias sobre os encantados do Brasil. “Desenhar é sua forma de acreditar no mundo e devolver ao maravilhoso aquilo que recebo todos os dias” afirma.

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Dados internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

Arthur Chaves Ferreira - CRB-7/7353

Chindler, Daniela

C539 Cientistas brasileiros / Daniela Chindler ... [et al.]; ilustrado por Camilo Martins - Rio de Janeiro : Sapoti, 2023 120 p. il.; 16x23 cm

ISBN 978-65-991686 -9-7

1 Ciência 2 Cientistas brasileiros I Cardoso, Gil II. Albuquerque, Maria Clara Cavalcanti de III. Pessôa, Augusto IV Rocha, Flavia

V Título VI. Martins, Camilo, ilustr

CDD 500

A produtora

Sapoti é uma fruta tropical, bem doce e com cor de terra. A palavra em português tem um ritmo divertido e dinâmico de se ouvir. Quando nos perguntam o porquê de escolhermos Sapoti, respondemos que o nome tem ligação com as raízes brasileiras, nossa história, patrimônio e cultura. A Sapoti Projetos Culturais acredita que o conhecimento pode ser construído e compartilhado de forma criativa. Livros, espetáculos, séries animadas e ações educativas em Museus são formas que a produtora escolheu para contar histórias.

Quem escreveu as histórias

Os Pioneiros

Padre Bartolomeu de Gusmão – Augusto Pessôa e Daniela Chindler

Vital Brasil – Daniela Chindler

Adolfo & Bertha Lutz – Augusto Pessôa, Daniela Chindler e Maria Clara Cavalcanti

Oswaldo Cruz – Daniela Chindler, Flavia Rocha e Maria Clara Cavalcanti

Carlos Chagas – Daniela Chindler e Maria Clara Cavalcanti

Os contemporâneos

Suzana Herculano Houser – Daniela Chindler e Flavia Rocha

Lygia Pereira – Daniela Chindler, Flavia Rocha e Gil Cardoso

Duília de Mello – Flavia Rocha

Carlos Nobre – Flavia Rocha e Gil Cardoso

Alan Alves Brito – Daniela Chindler, Flavia Rocha e Gil Cardoso

Produção

Daniela Chindler

Martina Rangel

Thaysi Soares

Quem ilustrou

Camilo Martins

Revisão

Sol Mendonça

Pesquisa

Daniela Chindler

Dalia Schneider

Flavia Rocha

Projeto Gráfico

AOQUADRADO

Finalização

Jean Viveiros

120

Editora

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Articles inside

ESCRITORES

3min
pages 120-123

OUTRAS CIÊNCIAS: OS YANOMAMI E A QUEDA DO CÉU

1min
pages 118-119

A DIVERSIDADE ESTÁ NAS ESTRELAS

2min
pages 115-117

ALAN ALVES BRITO

4min
pages 111-114

COMO POSSO CONTRIBUIR?

1min
pages 108-110

SABERES ANCESTRAIS

0
page 107

O PLANETA ESTUFA

6min
pages 100-106

A MATA PARA BAIXO E O TERMÔMETRO PARA O ALTO

2min
pages 98-99

A FLORESTA DO ALTO

0
page 97

CARLOS NOBRE

1min
pages 95-96

COMO ENXERGAM OS SATÉLITES

1min
pages 92-94

BOLHAS AZUIS - OS BERÇÁRIOS

0
page 91

ESPAÇO INTERGALÁCTICO E AS GALÁXIAS

1min
pages 89-90

O INVISÍVEL EXISTE

3min
pages 86-88

UMA DESCOBERTA DE 56 MILHÕES DE ANOS

1min
pages 84-85

DUÍLIA DE MELLO

0
page 83

UMA CÉLULA CORINGA

4min
pages 76-82

O PRIMEIRO ENCONTRO

3min
pages 72-75

LYGIA PEREIRA

2min
pages 69-71

UMA PULGA ATRÁS DA ORELHA

0
pages 67-68

Ê, FAMÍLIA AH, FAMÍLIA!”

0
page 66

SERES HUMANOS SÃO A ÚNICA ESPÉCIE QUE COZINHA

2min
pages 62-65

CALORIAS

0
page 61

O CÓRTEX – A “MASSA CINZENTA”

1min
pages 59-60

SUZANA HERCULANOHOUZEL

1min
pages 57-58

CARLOS CHAGAS

6min
pages 45-54

OSWALDO CRUZ

8min
pages 35-44

ADOLFO & BERTHA LUTZ

6min
pages 25-34

VITAL BRAZIL

6min
pages 17-24

PADRE BARTOLOMEU LOURENÇO DE GUSMÃO

5min
pages 9-16

CIENTISTAS BRASILEIROS

0
pages 4-6
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