Saramela nº 1 (Dezembro 2015)

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saramela revista quadrimestral da APAP

Rola­do­mar Projecto Arenaria

História da ROM Parte I

Pedestrianismo PR3 ­ Ponte Românica de Arcos

Salamandra­de­pintas­amarelas A mal amada

NÚMERO 1 | DEZEMBRO 2015


Editorial Salamandra, salamandra-de-fogo, saramaganta, saramantiga, saramela… são alguns dos muitos nomes e regionalismos pelos quais é conhecido o mais mal-amado dos nossos anfíbios. Criatura peçonhenta, demoníaca, que nasce do fogo, ingrediente de poções e bruxarias, será também o anfíbio sobre o qual mais mitos persistem. Justificadamente? Não, de todo... Como todos os mitos, crendices, superstições, a má-fama da salamandra resulta dos seus hábitos nocturnos, do seu invulgar colorido e sobretudo do desconhecimento. Lançada a ideia de criarmos uma revista, começou de imediato a procura por um nome que fosse curto e simultaneamente nos remetesse para a biodiversidade do Litoral de Vila do Conde, mas também para o âmbito da APAP. Saramela representa os anfíbios, grupo muito importante uma vez que aqui ocorrem 14 das 18 espécies autóctones de Portugal. Simultaneamente desmistificar é proteger, pelo que a sugestão da Tesoureira da APAP, Cristiana Carvalho, foi acolhida de forma unânime. O caminho faz-se caminhando, pé ante pé, pelo que veremos futuramente por onde irá enveredar esta nossa saramela. Para já idealizámos uma periodicidade quadrimestral, com alguns temas fixos como textos sobre espécies que ocorrem no Litoral Norte, o pedestrianismo e complementarmente textos enquadrados no âmbito da Associação. Futuramente esperamos os vossos contributos com sugestões, fotografias, reportagens de viagens a outras áreas naturais, entre outros. Contactem a Associação e a saramela, associem-se, ajudem-nos a crescer! Para concluir e uma vez que me coube o privilégio deste primeiro editorial, não podia deixar passar a oportunidade de endereçar o meu reconhecimento ao Albano, ao Sidónio e ao Raúl, por terem sonhado a Associação Pé Ante Pé.

Pedro Martins Presidente da Assembleia Geral da APAP

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Arenaria interpres e Calidris alba | Foto: Pedro Martins

2ª Caminhada APAP | Foto: Raúl Costa

Observação de aves | Foto: Dimitri Matos

PPRLVCROM | Foto: Sidónio Silva

2ª Caminhada APAP (8/11/2015) © Raúl Costa

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ÍNDICE

Mensagem da Direcção Rola-do-mar História da ROM (Reserva Ornitológica de Mindelo) Parte I 1 2 Pedestrianismo 1 6 Salamandra-de-pintasamarelas 1 8 Referências Bibliográficas Contactos: saramela.apap@gmail.com apeantepe@gmail.com

saramela ­ Revista da Associação Pé Ante Pé

Edição digital quadrimestral, gratuita Número 1 - Dezembro de 201 5

Nesta edição: Foto de Capa: Salamandra salamandra © Pedro Martins Textos: Pedro Andrade, Pedro Martins, Raúl Costa e Sidónio Silva

Fotos: Acervo do Fundo do Professor J.R. dos Santos Júnior (Centro de Memória de Torre de Moncorvo), Diana Sousa, Dimitri Matos, Pedro Andrade, Pedro Martins, Raúl Costa, Sidónio Silva

Associem-se, participem, ajudem-nos a crescer! Com uma perspectiva conservacionista, a saramela não segue o novo acordo ortográfico.

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Caros associados e leitores, bem-vindos á Associação Pé Ante Pé! Uma associação sem fins lucrativos, destinada à observação, divulgação, e conservação da natureza e da biodiversidade. O associativismo constitui na nossa sociedade uma importante forma de interacção social, mas também um importante instrumento, tanto mais que o seu funcionamento e gestão é quase sempre feito de voluntariado, onde um colectivo alcança objectivos que se tentados de forma individual, seriam muito difíceis, senão mesmo impossíveis. A APAP não é disso excepção. Em 2013 um pequeno grupo de amigos com gosto pela natureza e preocupados com a preservação da antiga Reserva Ornitológica de Mindelo (ROM), resolveram organizar e participar em eventos de cariz ambiental (como anilhagem de aves e colocação de caixasninho), dando assim início a uma longa caminhada, pé ante pé. Em Março de 2014, a esse pequeno grupo juntaram-se dois elementos ligados á biologia e ornitologia e em conjunto organizaram uma palestra sobre a anilhagem de aves selvagens. Complementarmente, realiza-se duas semanas mais tarde, uma sessão de anilhagem científica na Paisagem Protegida Regional do Litoral de Vila Conde e Reserva Ornitológica de Mindelo (PPRLVCROM), aberta ao público. Em Abril nova iniciativa, com uma saída nocturna para observação de anfíbios na ROM, ao que se seguiram outras iniciativas de cariz ambiental. A entusiástica e elevada afluência das pessoas em todas estas actividades, deunos uma motivação extra e o impulso

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necessário para continuarmos! Daí em diante existiram longas horas de trabalho, de troca de ideias e de planeamento. Estava criada a Comissão Instaladora da futura Associação, uma semente no solo que germinaria a 15 de Junho de 2015, quando na presença da quase totalidade do núcleo de 34 sócios fundadores, que entretanto a nós se juntaram, decorreu a 1ª Assembleia Geral que aprovou Estatutos, Regulamento Interno e elegeu os actuais Órgãos Associativos. O dia de 15 de Junho fica assim marcado como o dia em que oficialmente a APAP começou a trilhar o seu caminho, pé ante pé, com especial enfoque na Paisagem Protegida (PPRLVCROM). O dia 12/08/2015 representa também uma data marcante para a associação, uma vez que foi a data de apresentação do seu logótipo. Como uma associação vive dos seus associados, lançou-se o desafio de serem estes a criar a imagem da APAP, através de um concurso, do qual sairia vencedor o sócio Dimitri Matos, autor do nosso logótipo. Apesar de ainda não se terem completado seis meses de vida da associação, têm sido desenvolvidas sucessivas actividades, com adesão crescente de participantes, como observação nocturna de anfíbios, duas caminhadas, assim como sessões de observação de aves no Estuário do Ave, em Azurara.


Mensagem da Direcção

o e A g o st d 0 3 e s h ad a d C a m i n P o nt e d e A rc o PR3

20 de Junho anfíbios na ROM

observação de aves no Es tuário do Ave (12/09/15)

2ª Caminhada APAP /15) Árvore/Vila Chã (08/11

Para 2016 a Direcção tem já preparado o plano anual de actividades, que no cumprimento dos objectivos da APAP, contará com saídas nocturnas para observação de herpetofauna, na vertente do pedestrianismo com a realização de várias caminhadas, na participação da associação em projectos de Ciência do Cidadão, na realização de workshops, entre muitas outras actividades! Relativamente à observação de aves, a APAP lança o desafio de reservarem na agenda a manhã do primeiro Domingo de cada mês, para observação de aves na Paisagem Protegida. Desta forma poderemos acompanhar ao longo do ano as espécies residentes e visitantes, mas também criar um ponto de encontro e de convívio entre curiosos, observadores e fotógrafos de natureza, naquele que será certamente um informal fórum de partilha de conhecimento. Durante estas actividades a APAP assegurará a presença de ornitólogos, bem como de telescópios e binóculos. Contaremos convosco, associem-se, ajudem-nos a crescer! Sidónio Silva e Raúl Costa Presidente e Secretário da APAP

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Rola­do­mar

Arenaria interpres

A Rola-do-mar, ou Vira-pedras na tradução literal do seu nome anglófono, fruto de uma das suas estratégias de alimentação em que usa o bico para virar pedras ou algas e capturar invertebrados, é uma pequena ave limícola inconfundível. Possui aspecto atarracado, bico escuro em forma de cunha pontiaguda, patas curtas corde-laranja e ventre branco que contrasta com o “babete” preto e o dorso castanhoacinzentado escuro na plumagem de Inverno. Com inúmeras variações individuais de padrão ao longo do ano, os adultos em plumagem de Verão adquirem uma coloração alaranjada do dorso e um padrão a preto e branco na cabeça.

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Sendo possível observar indivíduos ao longo de todo o ano, é na época de migração e sobretudo no Inverno que se observa o maior número de rolas-domar no nosso país. Esta espécie apresenta uma distribuição muito generalizada à escala global, efectuando amplos movimentos migratórios. Reproduz-se no Árctico a grandes

latitudes, em planícies costeiras, zonas húmidas e na tundra. Por seu turno, fora da época de reprodução apresenta uma clara preferência pelas áreas costeiras. É este o caso de Portugal, onde não obstante ocorrer em estuários, salinas e outras zonas húmidas do litoral, é maioritariamente comum nas praias costeiras com rochas expostas.

Em Vila do Conde, durante o Inverno é uma ave abundante e que pode ser vista isoladamente ou em pequenos bandos, por vezes na companhia de outras limícolas como o Pilrito-das-praias (Calidris alba) a alimentar-se nas praias, paredões, no estuário e inclusivamente no centro da cidade, junto ao rio.

Portugal, incluindo Açores e Madeira, dividida em quadrículas de 5 km, é imprescindível a colaboração de inúmeros observadores voluntários que realizem as contagens de aves durante os meses de Dezembro e Janeiro. Este tipo de estudos permite obter importantes dados acerca da distribuição, tendências populacionais ou preferências de habitat A designação científica da Rola-do-mar (entre vários outros aspectos) das aves deu nome a um importante estudo em do litoral português, a nível nacional. curso desde o inverno de 2009/10, o Projecto Arenaria - Monitorização da No presente Inverno de 2015/16, a Distribuição e Abundância de Aves nas APAP será voluntária neste projecto, Praias e Costas de Portugal. Projecto assegurando as contagens relativas à que envolve a Unidade de Investigação costa dos concelhos de Vila do Conde e em Eco-Etologia, o Museu Nacional de da Póvoa de Varzim, naquele que será o História Natural e da Ciência e a 2º Censo Nacional de Aves Costeiras Sociedade Portuguesa para o Estudo das Invernantes e o 1º Censo Nacional de Aves (SPEA). Este projecto é um bom Pilrito-das-praias (Calidris alba). exemplo de Ciência do Cidadão, uma vez que para cobrir toda a costa de Texto e Fotos - Pedro Martins

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História da ROM (Reserva Ornitológica de Mindelo) ­ Parte I Não é toda a gente que tem uma área protegida à porta de casa. Para os vilacondenses, esse privilégio é uma realidade com a existência da área protegida de Mindelo, bem conhecida como Reserva Ornitológica de Mindelo (ROM), hoje em dia mais correctamente designada de Paisagem Protegida Regional do Litoral de Vila do Conde e Reserva Ornitológica de Mindelo (PPRLVCROM). A sua preservação ao longo de décadas, apesar da grande pressão urbanística e do esquecimento de muitos, deve muito ao apreço que muitos vilacondenses têm mantido pela reserva. Mas como nasceu a “nossa” reserva?

Santos Júnior numa sessão de anilhagem na ROM | Foto: Acervo do Fundo do Professor J.R. dos Santos Júnior (Centro de Memória de Torre de Moncorvo)

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Descortinar a história da ROM é também levantar o véu sobre uma parte importante da história do estudo das aves de Portugal. A figura central na história da reserva é sem dúvida Joaquim Santos Júnior, professor e director do Instituto de Zoologia Dr. Augusto Nobre da Universidade do Porto, o grande impulsionador não só da criação da reserva mas também de muitos dos primeiros estudos que nela foram feitos. Nascido em 1901 em Barcelos, Santos Júnior teve um percurso variado mas que ficou conhecido sobretudo pela sua ligação à ornitologia, da qual foi um dos pioneiros em Portugal (a ciência portuguesa andou sempre atrasada em relação ao que se verificava no resto da Europa).


Corria o ano de 1953 quando visitou Mindelo pela primeira vez de forma a conseguir o apoio dos roleiros para a captura de rolas-bravas (Streptopelia turtur) com o objectivo de as anilhar – a anilhagem é uma técnica de recolha de dados usada para fins científicos, com origem no Norte da Europa na transição entre os séculos XIX e XX, e que envolve a colocação de uma marca (geralmente uma anilha metálica) com um código alfanumérico único que permite a identificação individual da ave.

Anilha de uma das séries utilizadas por Santos Júnior, parte do esquema de anilhagem gerido pela Universidade do Porto | Foto: Pedro Andrade

A criação desta área protegida foi duplamente pioneira: foi a primeira área protegida para a preservação de valores naturais em território português (antes até da criação do Parque Nacional da Peneda-Gerês, em 1971), assim como a primeira reserva ornitológica na Europa. A área inicial de 411 hectares foi ampliada no ano seguinte para 594 hectares, englobando a zona entre a foz Os valores naturais dos campos, do rio Ave em Azurara até Mindelo, florestas e do litoral de Vila do Conde incluindo também partes das freguesias não passaram despercebidos a Santos de Árvore e Fajozes. Júnior, que viu neles um ecossistema diverso com uma grande importância Santos Júnior via a criação da ROM para a fauna, e por isso com uma como um passo inicial para o especial necessidade de protecção. A 2 desenvolvimento de uma estação de de Setembro de 1957, apenas quatro campo para estudos ornitológicos, que anos após o início dos trabalhos em passaria também pela construção de um Mindelo, foi criada a Reserva observatório. Ornitológica de Mindelo por pedido de Santos Júnior à Direcção Geral dos Serviços Florestais e Aquícolas. A anilhagem em Portugal foi iniciada algumas décadas antes por iniciativa de abastados comerciantes ingleses, sobretudo pela mão do negociante de vinho do Porto William Tait e o seu sobrinho Geoffrey Tait, mas foram os trabalhos de Santos Júnior em Mindelo que iniciaram a prática da anilhagem organizada por investigadores nacionais.

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Rola-brava (Streptopelia turtur) | © Diana Sousa

“As aves bem merecem ser estudadas e defendidas” Joaquim Santos Júnior, 1968

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Uma peça fundamental para o bom funcionamento da reserva foi o contributo do Sr. António de Jesus Pereira, seu guarda permanente desde o início e colaborador nos trabalhos científicos que decorreram na ROM. Outros colaboradores importantes foram Agostinho Isidoro, Osvaldo Freire e Nuno Gomes Oliveira. Santos Júnior contava também com a ajuda preciosa dos roleiros e de outros voluntários interessados em ajudar ao conhecimento das aves, contribuindo com a sua dedicação e com o conhecimento de técnicas de captura tradicionais. As campanhas de anilhagem foram a face mais expressiva da grande actividade ornitológica, tendo atingido o seu expoente máximo durante a década de 1960. Até ao ano de 1984 foram anilhadas várias dezenas de milhares de aves de mais de cem espécies diferentes, desde pequenos passeriformes a limícolas e rapinas. Dentro de um objectivo mais geral de conhecer a biologia e ecologia deste grupo de vertebrados, o foco principal era adquirir informação sobre a migração das aves. Paralelamente à anilhagem, realizaram-se também vários outros tipos de estudos sobre a avifauna da ROM, aulas de campo da Universidade do Porto, visita de especialistas estrangeiros e estudos sobre os outros elementos da fauna da reserva. O grupo de trabalho da ROM constituía igualmente o núcleo duro da Sociedade Portuguesa de Ornitologia (SPO), sociedade científica criada em 1964 com o objectivo de aprofundar o conhecimento sobre as aves portuguesas, assim como lutar pela sua conservação.

Sr. António de Jesus numa visita à ROM em 2006 | Foto: Sidónio Silva

foram anilhadas 19000 aves desta espécie na ROM, embora uma fatia significativa tenha sido durante as primeiras décadas de trabalho: o ano de 1970 foi especialmente produtivo, com a captura de quase 1500 rolas. Infelizmente, pelo menos para meu conhecimento, não há informação disponível sobre o esforço de captura, pelo que se torna difícil aferir de que forma a quebra nas capturas nos últimos anos está relacionada com o diminuir dos trabalhos de campo ou com o gradual escassear desta espécie durante a passagem migratória. De qualquer das formas, o conhecimento empírico dos que acompanharam a evolução da ROM ao longo dos anos não deixa margem para dúvidas: a emblemática ave da reserva tornou-se dramaticamente mais rara em poucas décadas. Infelizmente, este não terá sido o único dos problemas que a reserva enfrentou ao longo da sua existência…

Em linha com as raízes da própria reserva, a maior parte do esforço incidiu sobre a anilhagem de rolas-bravas com o auxílio dos roleiros: entre 1953 e 1989 Texto - Pedro Andrade

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Pedestrianismo

PR3 ­ Ponte Românica de Arcos

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Pé Ante Pé… pôr um pé à frente do outro para se deslocar, poderia ser esta a definição de pedestrianismo. A sua transversalidade faz com que seja mais do que uma modalidade desportiva, sendo também uma forma de interpretar a natureza, de fomentar a educação ambiental, cultural e histórica. No entanto, quando mal praticado pode ser uma actividade geradora de impactes, em prejuízo da natureza. Com a participação cada vez mais frequente das pessoas nesta prática, o risco de destruir a vegetação, a perturbação da fauna, o pisoteio e os resíduos deixados ao acaso, aumenta bastante. No entanto pode desfrutar de um belo passeio despreocupadamente, bastando seguir os conselhos e boas praticas que constarão dos percursos devidamente sinalizados. Para uma boa caminhada tenha em atenção três aspectos importantes: as condições climatéricas, o tipo de terreno e declive, assim como a distância/duração do percurso. Na próxima edição da saramela, falarei sobre equipamento e darei mais alguns conselhos úteis.

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O PR3 começa e termina junto à Ponte Românica de Arcos, edificada no século XII e que integrou uma importante via Romana chamada Via Veteris. Este traçado é hoje utilizado pelos peregrinos que vão para Santiago de Compostela. Esta estrutura integrou o principal caminho do entreDouro-e-Minho que ligava o Porto à Galiza. Prosseguimos e poucos metros depois viramos à direita para a Rua da Cividade, passamos pelo local onde existiu um pequeno povoado da idade do ferro chamado Castro de Casais.

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A tradição diz que existiu um castelo mourisco na aldeia de Casais com um caminho subterrâneo, que vai dar ao rio Este. É possível que existisse um caminho, pelo qual os animais iam matar a sede ao rio, mas assume-se que este seria na realidade o tradicional fosso que existia à volta dos castelos, com função simultânea de defesa. Depois de continuar por uns caminhos agrícolas avista-se a norte a Quinta do Visconde,

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casa do principio do século passado. Mais modesta é a casa de Gilfonso, ilustre arcoense distinguido pela actividade eclesiástica e na ajuda aos pobres. Na Rua da Fonte Nova viramos à direita para começar a subir para uma mancha verde de eucaliptos e pinheiros de onde no topo temos uma vista magnífica, estamos no “Alto da Bouça”.


Ficha Técnica Tipologia: Pequena Rota Circular Localização: Freguesia de Arcos Vila do Conde Início/Fim : Ponte Românica de São Miguel de Arcos Distância: 6,5 Km Grau de Difilculdade: Fácil

Neste local será um bom momento para um pequeno lanche, já que depois entramos numa zona de casario. Seguese pela ruas da aldeia e logo de seguida vamos ter de cruzar com cuidado a estrada nacional 306 para encontrarmos o rio e nele parar para apreciar as suas azenhas e moinhos. Avançamos para Moldes rodeados de campos agrícolas, lugar que em tempos foi uma paroquia dedicada a Santiago.

Prestes a terminar passamos pela Capela do Senhor Desamparado para alcançar a Igreja Paroquial templo oitocentista. Por último contornamos a Igreja em direcção à azenha do Correia, não sem antes deixar de olhar para a sede dos escuteiros para termos novamente a companhia do Rio até ao fim, na ponte de São Miguel de Arcos. Até à próxima edição, boas caminhadas! Texto e Fotos - Raúl Costa

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Salamandra­de­pintas­amarelas Salamandra salamandra

Tal como referido no editorial, a Salamandra-de-pintas-amarelas será o anfíbio sobre o qual persistem mais mitos. É possível encontrar referências à sua "relação com o fogo", desde as ancestrais civilizações grega e egípcia. A visão de uma salamandra a sair do fogo seria certamente perturbadora, sobretudo tendo em conta o desconhecimento da sua biologia. Para este mito terá contribuído o hábito destes anfíbios encontrarem abrigo em pilhas de lenha, de onde obviamente tentam escapar quando atiradas para o fogo…

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Perturbador seria igualmente o seu colorido, invulgar nos nossos anfíbios, que representa uma estratégia de defesa e aviso face a potenciais predadores, pois a Salamandra segrega nas suas glândulas parótidas uma toxina - samandrina. Naturalmente que isto não a torna perigosa para os humanos, a não ser que inexplicavelmente a tencionem ingerir. Pelo contrário, este simpático anfíbio presta um importante serviço a agricultores e jardineiros, pois alimentase de caracóis, lesmas e outros invertebrados.


Integrando a Ordem Urodela, ou seja nos anfíbios com cauda (salamandras e tritões), esta espécie apresenta pele lisa, preta, com um típico padrão amarelo, por vezes com pontuado vermelho, único de cada indivíduo, como que uma impressão digital. Outra característica marcante são as glândulas parótidas bem desenvolvidas e com poros pretos. Raramente excedendo os 20 cm de comprimento, possui em média 14 a 17 cm, sendo as fêmeas comparativamente maiores e mais robustas que os machos. Com excepção das zonas mais secas do Alentejo, ocorre generalizadamente no território continental, com clara preferência por zonas com elevada precipitação, sobretudo em bosques caducifólios húmidos e sombrios, ou nas imediações de pequenos cursos de água. A sua actividade é predominantemente nocturna e terrestre, procurando a água somente para a reprodução, tal como a maioria dos anfíbios. O seu período reprodutor decorre entre Setembro a Maio, com variações regionais dependentes da precipitação e temperatura. Tratando-se de uma espécie ovovivípara, deposita directamente no meio aquático 20 a 40 larvas, cuja metamorfose pode durar até 6 meses. Os juvenis atingirão a maturidade sexual aos 3 ou 4 anos, podendo ter uma longevidade de cerca de duas décadas. Texto e Fotos - Pedro Martins

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Referências Bibliográficas

- Almeida, N.F., Almeida, P.F., Gonçalves, H., Sequeira, F., Teixeira, J. & Almeida, F.F. (2001) Guia FAPAS Anfíbios e Répteis de Portugal. FAPAS. Porto. - BirdLife International (2015) Species factsheet: Arenaria interpres. Downloaded from http://www.birdlife.org on 20/11/2015. - Honrado J., Gonçalves J.A., Figueiredo J., Caldas F.B., Lomba A., Alves P.C., Ferrand N., Múrias Loureiro, A., Ferrand de Almeida, N., Carretero, M.A. & Paulo, O.S. (eds), Atlas dos Anfíbios e Répteis de Portugal. Instituto da Conservação da Natureza e da Biodiversidade, Lisboa. - T., Grosso J.M., Soares C., Gonçalves D., Loureiro A., Santos P., Ribeiro A., Oliveira R., Andresen T., Silva I., Silva V., Cunha M., Vasconcelos V., Vale M. e Granja H. (2005) Estudo Prévio para a Elaboração de um Plano Estratégico com vista ao Ordenamento e Gestão da Reserva Ornitológica do Mindelo e Área Envolvente do Concelho de Vila do Conde, Relatórios Sectoriais. - Mullarney, K., Svensson, L., Zetterström, D. & Grant, P. J. (2003). Guia de Aves. Assírio & Alvim, Lisboa. 400pp. - Oliveira N.G. (2006) Reserva Ornitológica. Parques e Vida Selvagem, 17: 30-31. - Pimenta M. (2006) Santos Júnior. Pardela, 25: 18-19. - Portal Aves de Portugal. Disponível em avesdeportugal.info - Projecto Arenaria. Disponível em https://sites.google.com/site/projectoarenaria

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apeantepe@gmail.com saramela.apap@gmail.com http://apeantepe.wix.com/apeantepe https://www.facebook.com/associacaopap


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