Saramela nº 4 (Dezembro 2016)

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saramela revista quadrimestral da APAP

Segredos escondidos nas dunas Por entre os grãos de areia Víbora­cornuda Beleza ameaçada Caixas­ninho Dicas e sugestões Gaivotas Serão todas iguais? Águia­pesqueira A rainha dos nossos estuários Taxonomia Porque mudam os nomes científicos? Pedestrianismo FAF PR5 - Rota dos Espigueiros NÚMERO 4 | DEZEMBRO 2016


Editorial Nesta quarta edição da saramela, uma mosca com cerca de 2 mm teve honras de capa. Trata-se de uma espécie nova, que da ciência esteve escondida entre os grãos de areia das nossas dunas, até ser descoberta pelo olho clínico do Rui Andrade. O seu irmão Pedro contará como foi e também nos explicará porque volta e meia se mudam os nomes às espécies. Como diz o ditado - tempestade no mar, gaivotas em terra. A época é propícia à procura de espécies de gaivotas menos vulgares, que nos dias mais tempestuosos procuram abrigo na nossa costa. A época é ainda propícia à observação de diversos invernantes, como as águias-pesqueiras que têm passado pelo Estuário do Ave. Já a sonharem com a próxima Primavera, o David Santos deixa-nos conselhos sobre caixas-ninho, uma simples e correcta forma de promovermos a biodiversidade em meios humanizados, e o Raúl Costa na sua habitual rúbrica de pedestrianismo sugere-nos uma Pequena Rota em Fafe. Rui Lemos, fundador do Grupo do Facebook Répteis & Anfíbios, apresenta-nos através da sua objectiva um dos mais bonitos répteis da nossa fauna - a Víbora-cornuda. Boa leitura e boas-festas! Pedro Martins Presidente da Assembleia Geral da APAP

ÍNDICE

4 Mensagem da Direcção 8 Víbora-cornuda 1 2 Porque mudam tanto os nomes científicos 1 6 Águia-pesqueira 1 8 Segredos escondidos nas dunas 22 Gaivotas, serão todas iguais? 30 Caixas-ninho 36 Pedestrianismo 38 Referências Bibliográficas

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Contactos: saramela.apap@gmail.com apeantepe@gmail.com

saramela ­ Revista da Associação Pé Ante Pé

Edição digital quadrimestral, gratuita Número 4 - Dezembro de 201 6

Nesta edição: Foto de Capa: Mosca-das-dunas (Tethina lusitanica) © Rui Andrade

Textos: David Santos, Pedro Andrade, Pedro Martins, Raúl Costa, Rui Lemos e Sidónio Silva

Fotos: Júlio Neto, Paulo Marta, Pedro Andrade, Pedro Martins, Raúl Costa, Rui Andrade, Sidónio Silva e Tomás Martins

Associem-se, participem, ajudem-nos a crescer! Com uma perspectiva conservacionista, a saramela escreve-se em português, não seguindo o novo acordo ortográfico. Os artigos representam a opinião dos seus autores e não necessáriamente a da APAP / saramela.


Chapim-real (Parus major) | Foto: JĂşlio Neto

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Mensagem da Direcção

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Garça-real (Ardea cinerea) | Foto: Tomás Martins


Caros Associados e Amigos. A revista digital da APAP, a saramela, faz neste mês de Dezembro um ano de edições quadrimestrais. Sendo a saramela um rebento da APAP, um dos objectivos é sensibilizar e mostrar às pessoas o valor e a importância da preservação da nossa área protegida. No último número da saramela, lançámos aos nossos sócios e amigos o desafio de nos darem as suas ideias, preocupações, a sua visão acerca do futuro da nossa Paisagem Protegida Regional do Litoral de Vila do Conde e Reserva Ornitológica de Mindelo. A opinião de todos é importante e contribuirá para melhor desenharmos o Plano e Orçamento da APAP para 2017. Desta forma poderemos ter uma visão mais ampla e traçarmos um conjunto de linhas de acção enquadradas no que é a perspectiva geral para o futuro da Paisagem Protegida. Ao longo do ultimo ano, e no decurso do plano de actividades, a APAP têm sido objectiva com o plano traçado cumprindo com o mesmo neste ano que agora finda. Desta forma, continuamos com a observação de aves no Estuário do Rio Ave, todos os primeiros Domingos do mês. Lembramos que esta actividade poderá realizar-se noutra área que não o Estuário, estando inserida na PPRLVCROM, caso as condições da maré assim o obriguem. Continuamos a desenvolver actividades no âmbito da Ciência do Cidadão, estando no arranque mais dois censos, o projecto NOCTUA dedicado às aves nocturnas e o Arenaria, dedicado às aves costeiras, com particular enfoque nas limícolas. Na vertente do Pedestrianismo, desde a última Saramela, a APAP realizou duas caminhadas. Na primeira, visitamos a Paisagem Protegida das Lagoas de Bertiandos e São Pedro de Arcos e respectivo Centro Interpretativo. A segunda e 8ª caminhada da APAP, teve lugar na freguesia de Arcos, percorrendo o trilho PR3 Rota da Ponte Românica. Em época Natalícia a APAP deseja a todos os Associados e Amigos um Feliz Natal e um Próspero Ano Novo. Renovando os votos de participação dos associados e amigos nas actividades futuras, incentivando também o associativismo e contribuindo assim para o crescimento da Associação em benefício da Natureza. Associe-se! Sidónio Silva Presidente da Direcção da APAP

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Pilrito-comum (Calidris alpina) | Foto: Paulo Marta


10 ideias para a valorização e conservação da Paisagem Protegida Regional do Litoral de Vila do Conde e Reserva Ornitológica de Mindelo

Na anterior edição da saramela (Agosto de 2016) a APAP lançou o desafio a todos os sócios, amigos e simpatizantes para nos enviarem ideias para a valorização e conservação da Paisagem Protegida Regional do Litoral de Vila do Conde e Reserva Ornitológica de Mindelo. Das diversas ideias, sugestões e preocupações que fomos recebendo, seleccionamos 10, que irão ser devidamente enquadradas na actividade da APAP, desde logo no Plano e Orçamento 2017, mas também no contacto com as entidades oficiais, como Câmara Municipal e Juntas de Freguesia, com as quais a APAP comunica regularmente. - Erradicação de espécies exóticas. - Requalificação do habitat e acções de conservação para espécies alvo. - Criação de observatórios de aves. - Definição de Percursos Pedestres sinalizados e com painéis informativos. - Restrição da circulação de veículos motorizados. - Interdição a cães sem trela. - Interdição a bicicletas fora dos percursos. - Maior fiscalização de actividades ilegais. - Acções de limpeza. - Execução de Planos de Monitorização Ambiental.

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Víbora­cornuda

Vipera latastei Este é o olhar da cobra que está provavelmente mais ameaçada na Península Ibérica, a Víbora-cornuda (Vipera latastei). Vive apenas na Península Ibérica e numa pequena parte do Norte de África, isso significa que temos uma grande responsabilidade em cuidar para que as populações não continuem em regressão. Em Portugal ocorre de Norte a Sul, em núcleos populacionais reduzidos. Na Paisagem Protegida Regional do Litoral de Vila do Conde e Reserva Ornitológica de Mindelo reside uma pequena população que devemos preservar. É um animal muito calmo, que quando incomodado evita o confronto e raramente morde, tal como o resto das cobras.

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Na verdade, é mais provável que tenhamos um acidente com um carro ou um cão, do que com uma cobra. É reconhecida pelo seu característico focinho elevado e a sua pupila elíptica e vertical. A sua coloração é muito variável (cinza, castanha, laranja, etc. ) e está lindamente decorada com um padrão dorsal, em forma de zig-zag mais ou menos grosso. Se tivermos a sorte de a encontrar no campo, podemos observá-la com total tranquilidade, a uma distância segura e sem manipulá-la. No entanto, há que ter muita cautela pois trata-se de um animal venenoso. A sua potencial perigosidade constitui por vezes (infelizmente) motivo suficiente para o seu extermínio.


As cabeças de víbora cornuda são usadas em rituais de magia negra ou simplesmente como amuleto, tendo, este tipo de crenças, maior popularidade no norte do país.

O conjunto de todas as suas características morfológicas e biológicas, fazem desta espécie um dos animais que os fotógrafos e os naturalistas mais desejam encontrar na natureza. Espero que tenham gostado de saber mais sobre esta senhora escamosa.

Texto e Fotos - Rui Lemos

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Corvo-marinho-de-faces-brancas (Phalacrocorax carbo) | Foto: Tomรกs Martins

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JĂĄ tem o seu colete e tshirt da APAP? DisponĂ­vel em apeantepe@gmail.com

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Porque mudam tanto os nomes científicos? De entre as muitas designações que as espécies de seres vivos podem ter, os naturalistas amadores acabam invariavelmente por se deparar, e muitas vezes utilizar, os chamados “nomes científicos”. Estes nomes referem-se a um conjunto de dois nomes, geralmente (mas não obrigatoriamente) derivados do latim ou do grego, que indicam a designação “oficial” a que as pessoas, quer estejam em Portugal, na China ou na Austrália, devem utilizar quando se referem a um determinado grupo de seres vivos muito próximos. Esta nomenclatura binomial implica a atribuição de um nome de género (um grupo que pode incluir várias espécies) e outro de espécie (um grupo mais exclusivo com populações de indivíduos muito aparentados, que geralmente se podem cruzar gerando descendência fértil). Por exemplo, o estorninho-preto pertence ao género Sturnus e à espécie Sturnus unicolor, e é parente muito próximo do estorninhomalhado (Sturnus vulgaris), duas espécies que ocorrem no concelho de Vila do Conde. Mas se é suposto a designação científica funcionar como um padrão a ser aderido em todo o mundo, de forma a prevenir a confusão quando falamos das diferentes espécies, porque é que nos últimos anos temos visto tantos nomes científicos de seres vivos a mudar?

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“Agora o sapo-comum é Bufo spinosus em vez de Bufo bufo?” “Os chapins agora têm todos um nome diferente, que grande confusão” “Esses gajos da genética estão sempre a mudar as coisas!” A verdade é que nos últimos anos temos assistido a um ritmo de mudança acima do comum na designação atribuída a muitos dos seres vivos que nos rodeiam. A principal razão para isto foi o início nas últimas décadas do uso generalizado de informação genética para estudar o parentesco dos seres vivos. O material genético que todos os seres vivos possuem (o DNA, o ácido desoxirribonucleico) é passado de geração em geração, com modificações relativamente e geralmente constantes ao longo do tempo, e que por isso funciona como uma marca do real parentesco que os seres vivos possuem entre si. Quanto maiores forem as diferenças entre dois seres vivos numa porção do genoma (ou em várias), maior a probabilidade de terem partilhado um antepassado comum distante, e por isso não serem muito aparentados. Assim, nos últimos anos os cientistas têmse apercebido que alguns dos agrupamentos que antes tinham sido


Foto: Pedro Andrade

feitos não reflectem na realidade o parentesco mais próximo entre os seres vivos. Um bom exemplo é a mudança que ocorreu nas várias espécies de aves do género Carduelis, que junta entre outros os pintassilgos, os lugres, os pintarroxos e os verdilhões. Tradicionalmente estas espécies foram colocadas nesse mesmo género porque tinham algumas características que pareciam ser só delas. Com recurso à sequenciação de porções do DNA destas espécies, percebeu-se que o seu parentesco real era mais complexo do que parecia à partida: os lugres (Carduelis spinus) são mais aparentados com os chamarizes e canários (Serinus, mas não com todos, já que alguns Serinus são mais aparentados com outras espécies de Carduelis); os pintarroxos (Carduelis cannabina) com os cruza-bicos (Loxia); os pintassilgos (Carduelis carduelis) estão igualmente aparentados com vários outros Carduelis e Serinus; já os verdilhões (Carduelis chloris) são um grupo bastante mais afastado destes todos. Confuso? Para tentar descomplicar e “renovar” a ideia que temos deste grupo de acordo com o novo conhecimento, a decisão dos autores deste estudo (Zuccon et al. 2012) decidiram reagrupar as espécies em vários novos géneros, todos eles coerentes entre si. Por exemplo, todas as espécies dentro do renovado Carduelis estão mais aparentadas entre si do que com qualquer outra espécie de outro género. As espécies mais distantes foram reclassificadas: por exemplo, Spinus spinus, Linaria cannabina e Chloris chloris.

Os nomes das espécies já mudaram muitas vezes no passado, quando se tinha menos conhecimento sobre as mesmas: a Toutinegrade-barrete, Sylvia atricapilla, já teve o nome Motacilla atricapilla, mas certamente nenhum ornitólogo de hoje a vê como uma espécie de alvéola. A genética é apenas uma nova fonte de conhecimento a juntar-se à morfologia, ao estudo dos cantos, à fisiologia e a outras que já há séculos são usadas para delimitar as espécies. O seu poder advém de ser uma janela muito mais directa para o parentesco entre os seres vivos (já que o DNA é a própria molécula que transmite a informação hereditária), e por isso o seu uso é considerado mais conclusivo que outros tipos de evidência.

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Foto: Júlio Neto

A borboleta pavão-diurno é agora mais frequentemente designada Aglais io, em vez do tradicional Inachis io.

Mais do que um problema da genética, este é um problema da taxonomia, que tem que ser ao mesmo tempo uma ferramenta útil e estável e também ter um significado evolutivo baseado no conhecimento científico. Como se calhar seria de esperar, a Natureza não se dobra facilmente à nossa comodidade… No entanto, podemos olhar para esta nova “onda” de mudanças de várias formas optimistas. Por um lado, a mudança nos nomes científicos não é nada que não tenha acontecido no passado: veja-se o exemplos dos “familiares” tentilhões, Fringilla coelebs, que já foram considerados como próximos dos pardais (Passer coelebs).

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Por outro, estamos no meio de um período em que o o uso de técnicas de sequenciação de DNA se está a expandir muito rapidamente, levando a uma renovação do conhecimento sobre o parentesco dos seres vivos. Provavelmente, vai-se chegar a um novo período em que o acrescento de nova informação não trará algo de significativamente novo, e aí a taxonomia poderá voltar a estabilizar. Também podemos olhar de forma mais realista para esta mudança “generalizada”, já que uma comparação dos guias mais actuais de aves ou outros grupos de vertebrados com os de há duas décadas indica-nos que apenas uma percentagem reduzida das


espécies mudou de nome científico. Na realidade, os novos dados acabam por apoiar a maior parte dos agrupamentos tradicionais. Nunca iremos chegar a um ponto em que consigamos sistematizar realmente a Natureza – esta é muito mais complexa do

que a nossa capacidade de a compreender e simplificar. Resta-nos, pouco-a-pouco, caminhar no sentido de melhor a entender e transmitir de uma forma que seja o menos ambígua possível.

Texto - Pedro Andrade

Foto: Pedro Martins

As populações ibéricas do Sapo-comum são agora atribuídas a uma espécie própria (Bufo spinosus) devido a diferenças morfológicas consistentes e uma divergência das restantes população de Sapo-comum-europeu (Bufo bufo).

Nota: o autor deste texto é um biólogo que trabalha exclusivamente com animais, e sobretudo aves. Apesar de muitas coisas que foram ditas também possam ser generalizadas ao mundo não-animal, os outros seres vivos tendem a ter histórias evolutivas e populacionais muito mais complexas. O autor deixa por isso aos botânicos, micólogos, microbiólogos, virologistas e outros a correcção desta visão um pouco mais “cor-de-rosa” do estado da taxonomia.

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A Águia-pesqueira é uma rapina de grande porte, que tal como o nome indica é especializada na captura de peixe. A população residente do nosso país sofreu um declínio superior a 80%, apresentando um estatuto de conservação CR Criticamente em Perigo. Os registos de nidificação são muito baixos e irregulares, na Costa Vicentina e na Albufeira do Alqueva, onde decorre um projecto de reintrodução. Entre Setembro e Abril ocorrem em Portugal individuos migradores e invernantes. A população que passa entre nós o Inverno apresenta um estatuto EN – Em Perigo, verificando-se no entanto uma tendência positiva. Em Janeiro de 2016 aconteceu o 2º Censo Nacional desta espécie, no qual a APAP participou, altura em que não foi detectado nenhum individuo na zona do estuário ou do Rio Ave. A nível nacional estimou-se um valor de 135 a 150 aves. Nos últimos dias tivemos a visita de pelo menos duas aves no Estuário do Ave, sendo que num dos casos através da anilha foi possível saber que a ave é originária da Alemanha.

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Águia­pesqueira

Pandion haliaetus

Texto - Pedro Martins Fotos - Sidónio Silva

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Segredos escondidos nas dunas Portugal é um país de praia. Chega-se a Agosto e muitos de nós, do mais humilde cidadão aos políticos nos mais altos cargos, acorrem às praias em busca de Sol, mar e areia, aproveitando umas semanas de férias para poder esquecer o stress do dia-a-dia. Os habitats costeiros ficam sobre-lotados de gente nos meses de Verão, o que nos poderia levar a pensar que todos os cantos estão mais que conhecidos. Puro engano!

Dunas na praia da Apúlia

Ao contrário da maioria das pessoas, o meu irmão Rui não é grande apreciador de praia. Ou melhor, não era. Não que se tenha convertido às delícias do bronze, simplesmente percebeu isto que já vos falei: longe de serem habitats mais que vasculhados, as praias podem ser um baú cheio de tesouros! Para os encontrar é preciso ter olho para os detalhes, aqueles detalhes que escapam aos desatentos, e gosto pelo que as pessoas mais desgostam, e as moscas são disso um óptimo exemplo. No dia 6 de Setembro de 2008, em visita à praia da Apúlia (concelho de Esposende) o Rui aventurou-se numa das primeiras vezes pelas praias à procura de moscas e outros insectos.

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Mosca-das-dunas (Tethina lusitanica)


"Nesse dia visitei as dunas da Apúlia com a minha máquina fotográfica, com o objectivo de ver e fotografar moscas e outros insectos característicos deste habitat. O dia acabou por me proporcionar duas descobertas muito interessantes. A primeira deu-se quando olhei para a areia junto a umas plantas dunares e vi dois pequenos insectos a mover-se. Eram duas pequenas moscas que exibiam uma camuflagem extraordinária que lhes permitia passar despercebidas na areia e que apenas foram avistadas porque se moveram. A segunda deu-se poucos minutos depois quando vi um ser minúsculo com pouco mais de 1 mm de comprimento a correr velozmente sobre a areia. Na altura, devido ao pequeno tamanho da espécie, não percebi a que grupo de insecto pertencia e só quando observei o exemplar em casa com mais cuidado é que descobri que se tratava de uma mosca com asas vestigiais da família Hybotidae." Rui Andrade Tão invulgares moscas mereceram uma atenção mais cuidada por parte de especialistas, a quem os espécimes foram enviados. A mosca cor da areia foi enviada para o entomólogo italiano Lorenzo Munari, do Museu de História Natural de Veneza, especialista nos Canacidae, um grupo de moscas tipicamente associadas a habitats costeiros, onde se alimentam de algas e matéria orgânica. Dentro destas, era especialmente parecida com Tethina pictipennis, um canacídeo marroquino com as mesmas pintas nas asas, mas com algumas características diferentes, nomeadamente nos órgãos genitais dos machos. Diferenças nos órgãos genitais funcionam muitas vezes vezes como uma barreira reprodutiva que separa indivíduos em diferentes espécies, pelo que esta nova mosca parecia ser de uma

espécie nunca observada até à altura! Em 2009, em conjunto com o entomólogo português Jorge Almeida, o Rui e o Lorenzo Munari publicaram a descrição desta nova espécie, à qual chamaram Tethina lusitanica. A biologia da T. lusitanica, a Mosca-dasdunas, não é ainda muito bem conhecida, mas não deverá ser muito diferente dos restantes canacídeos. É uma espécie que aparece sobretudo na Primavera e Outono, escapando aos meses mais extremos, e deposita os ovos na areia; para além disso, vários comportamentos já foram observados. Apesar de as asas lhe permitirem voar, esta mosca não é grande adepta dos ares: quando a incomodam, dá apenas um pequeno voo, beneficiando da camuflagem para desaparecer na areia quando aterra.

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Mais curioso ainda será o comportamento de exibição sexual, em especial o dos machos, que competem entre si realizando várias “danças” e “empurrando-se” com as patas. A outra pequena mosca teve que esperar mais algum tempo até lhe darem mais atenção. Pertencente ao grupo dos Hybotidae, moscas predadoras comuns em muitos habitats, foi analisada pelo belga Patrick Grootaert e pelo russo Igor Shamshev, do Instituto Real Belga de Ciências Naturais, que determinaram ser uma nova espécie dentro do género Chersodromia. No final de 2010 deramlhe o nome de Chersodromia squamata, uma referência às pequenas asas em forma de escama. Tal como a Mosca-das-dunas, C. squamata não é grande fã do voo, levando isso ao extremo de perder quase completamente as asas! Um biólogo do futuro até o poderia considerar um “elo de transição”, pois parece possível que no futuro esta espécie evolua no sentido de as perder completamente, estando nós a assistir a um passo transitório nesse percurso evolutivo. A razão para a perda das asas, assim como para a pouca apetência da Mosca-das-dunas para realizar voos longos, pode estar relacionada com os fortes ventos que se fazem sentir no litoral, e que atrapalham o voo de pequenos insectos como estes.

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Outra curiosa característica desta pequena mosca escura é a sua espantosa velocidade, o que faz com que seja bastante difícil de fotografar. Tanto a T. lusitanica como a C. squamata já foram encontradas noutras praias do Litoral Norte e Centro de Portugal (incluindo na “nossa” Paisagem Protegida de Vila do Conde) e no Norte de Espanha. Aparecem quando as praias possuem dunas com alguma qualidade, o que sugere que podemos retirar delas benefícios práticos, nomeadamente na monitorização da qualidade do ambiente costeiro. As dunas são importantes para proteger a costa da erosão do mar, pelo que podemos usar a presença de espécies como estas para controlar a qualidade destes ecossistemas. Estas duas moscas, encontradas nas dunas de uma praia numa zona habitada, mostram como não é preciso ir para uma remota floresta tropical para encontrar novas e espantosas formas de vida, nunca antes conhecidas. Com atenção e dedicação, podemos encontrar por baixo dos nossos narizes coisas raras, ou mesmo inéditas em todo o mundo! Nota: texto ligeiramente alterado a partir de um original publicado no blog Histórias da Vida e da Terra (http://vidaterra.wordpress.com)


Competição entre dois machos de Mosca-das-dunas (Tethina lusitanica).

Chersodromia squamata

Tethina lusitanica

Texto - Pedro Andrade Fotos - Rui Andrade

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Guincho (Larus ridibundos) em plumagem de 1 ยบ Inverno | Foto: Pedro Martins

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Gaivotas Serão todas iguais? As gaivotas são um grupo de aves que à partida qualquer pessoa identifica sem hesitação desde pequeno e como aves comuns e utilizadoras de espaços humanizados, tendem a ser desvalorizadas por muitos iniciantes à observação de aves. Aliás, é frequente ver-se alguma desilusão quando chegados a um estuário ou praia, constatam que "é só gaivotas". Mas serão as gaivotas todas iguais? Em Portugal existem registos confirmados das 19 espécies que ocorrem no Paleártico Ocidental, no entanto algumas dessas ocorrência correspondem a verdadeiras raridades. Assim, centrarei este artigo nas seis espécies de gaivotas que mais facilmente serão observadas na costa de Vila do Conde, procurando ilustrar as características chave para a sua identificação (recomendo vivamente uma leitura mais detalhada do "Guia de Aves" de Lars Svensson). Diz o ditado "gaivotas em terra, tempestade no mar", pois bem, vale a pena neste período de Inverno, sobretudo nos dias mais tempestuosos, fazer uma visita ao Estuário do Ave e às zonas piscatórias de Caxinas e Vila Chã, para observar com atenção que surpresa pode estar escondida no meio de um grande bando de gaivotas.

As gaivotas são um grupo de aves que nidifica no solo, possui hábitos alimentares omnívoros e até oportunistas e tem como habitat a linha costeira (na maior parte das espécies). Morfologicamente as gaivotas possuem um bico forte, membranas inter-digitais, uma capacidade de voo tremenda mesmo com ventos fortes, osmorregulação através de glândulas nasais, que lhes permite beber água salgada, entre várias outras características e adaptações. No tocante à sua identificação, os adultos não apresentam particular dificuldade uma vez que apresentam diversas características distintivas, sobretudo a nível da coloração das partes superiores, do bico e das patas. É ao nível dos imaturos que surgem os maiores obstáculos à correcta identificação, sobretudo ao nível das grandes gaivotas, onde os juvenis e imaturos possuem uma plumagem parda. Convém também atender às plumagens dos diversos grupos etários: 2 no caso das pequenas gaivotas como o Guincho, 3 no caso do Famego e da Gaivota-decabeça-preta e 4 nas grandes gaivotas.

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Gaivota-de-patas-amarelas Larus michahellis

Plumagem de 1 º Inverno Plumagem de 2º Inverno

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Nidifica em diversos locais da nossa costa, com particular abundância nas Berlengas. O adulto é inconfundível, com o dorso cinza-prateado contrastando com a ponta das asas preta e o amarelo garrido das patas e bico. Possui 4 grupos etários, sendo os indivíduos de 1º Inverno dificeis de distinguir dos de Gaivota-de-asa-escura.


Adulto em plumagem de Inverno

Gaivota-de-asa-escura Larus fuscus

Adulto de L. michahellis (esq.) vs L. fuscus (dta.) Plumagem de 3º Inverno

Com silhueta e cor do bico e patas muito parecidas com a L. michahellis, os adultos distinguem-se pelo tom muito mais escuro do dorso, que vai do cinzento ardósia ao preto. A população residente (reprodutora) é diminuta, sendo uma ave mais abundante no Outono e no Inverno. Possui 4 grupos etários, sendo os indivíduos de 1º Inverno dificeis de distinguir dos de Gaivota-de-patasamarelas.

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Adulto em plumagem de Inverno

Gaivotão-real

Comparação de tamanho com a Gaivota-de-patas-amarelas

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Larus marinus O Gaivotão-real ou Alcatraz é a maior gaivota do mundo. Apesar de ser raro e ocorrer em norma isolado, é uma presença regular na nossa costa, sobretudo a Norte, no período do Inverno. À primeira vista lembra uma Gaivota-deasa-escura, pelas suas partes posteriores muito escuras, no entanto o seu grande tamanho, o bico e pescoços robustos e as patas rosadas (e não amarelas), permitem a sua distinção. Tal como as restantes grandes gaivotas de cabeça branca, possui 4 grupos etários, sendo os indivíduos de 1º e 2º Inverno pardacentos, o que pode levar a confusão com a Gaivota-de-patas-amarelas e a Gaivota-de-asa-escura, no entanto o seu tamanho chamará a atenção.


Plumagem de 1 º Inverno

Gaivota-parda ou Famego

Larus canus Esta pequena gaivota é ligeiramente maior que uma Gaivota-de-cabeça-preta, mas consideravelmente menor que as de patasamarelas ou de asa-escura. Tal como o Gaivotão-real, o Famego ocorre regularmente no Litoral Norte e Centro no período de inverno, ainda que em números reduzidos. A sua identificação é fácil, pela dimensão, dorso e asas cinzentos (adulto) e patas esverdeadas. Pode ocorrer confusão com a Gaivota-debico-riscado (Larus delawarensis), no entanto esta é consideravelmente maior (e mais rara). Possui 3 grupos etários.

Comparação com 1 º Inverno de L. michahellis

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Adulto em plumagem de Inverno

Gaivota-de-cabeça-preta

Larus melanocephalus Apesar de serem invernantes mais comuns no Centro e Sul, ocorrem por cá regularmente. A sua identificação é fácil, apenas sendo possível confusão com o Guincho, que possui sensivelmente o mesmo tamanho e bico e patas vermelhas. Entre adultos o principal factor de Plumagem de 1 º Inverno distinção prende-se com as pontas das asas todas brancas, na Gaivota-de-cabeçapreta. No entanto importa ter em conta que esta espécie possui 3 grupos etários e nas duas fases imaturas, as primárias são pretas (1º Inverno) ou com manchas pretas (2º Inverno). Os imaturos possuem bico e patas mais escuros que os imaturos de Guincho.

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Plumagem de 2º Inverno


Adulto em plumagem de Inverno

Guincho

Larus ridibundos O Guincho é uma pequena e graciosa gaivota, que será das mais abundantes em Portugal. Quando em plumagem nupcial adquire um bonito capuz cor de chocolate. Tal como anteriormente referido, apenas pode ser confundido com a Gaivota-de-cabeça-preta, no entanto ao contrário dos adultos desta espécie, apresenta a ponta das primárias preta e o bordo da asa com um branco característico. O seu bico é menos robusto que o da Gaivota-de-cabeça-escura, ainda que seja igualmente vermelho com ponta escura. Possui 2 grupos etários, ou seja os indivíduos adquirem a maturidade no segundo ano de vida. Texto e Fotos - Pedro Martins

Plumagem de 1 º Inverno

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Caixas­ninho

Dicas e sugestões “Ir aos ninhos” era uma actividade comum para a gerações que me antecede. Quantos não o terão feito enquanto crianças e adolescentes. Era sinal de perícia, segredo, uma forma de se evidenciar, comportamento que trazia respeito dos pares e dos mais velhos. Também tinha os seus mitos associados – Não ponhas as mãos no ninho que ficas a tremer –o temor ao desconhecido e a sintomas físicos de perturbação impunham respeito, e também se podia referir ao potencial de encontrar répteis, cobras e lagartos, que predam os ninhos. A construção de ninhos artificiais tem séculos. Na Europa e na Península Ibérica encontram-se documentos medievais que fazem alusão a pombais, a sua forma antiga de ninhos artificiais, como privilégio de nobres. Para Espanha o mais antigo documento que a esta forma de ninho artificial reporta, data do séc. XIII. Em Portugal os mais famosos encontramse na região transmontana e podem ter origem no séc. XVIII ou XIX, não sendo consensual as datas da sua construção. Na realidade, desde esses tempos remotos, os pombais, mais que permitirem a que a espécie Pombo-das-rochas (Columba livia) se reproduzisse, destinavam-se à obtenção de carne para a alimentação. Na actualidade como instrumento de Educação Ambiental a construção e colocação de caixas ninho tem sido usada essencialmente, mas não exclusivamente, para passeriformes e há as caixas-ninho para morcegos. Quase todas as ONGA (Organização Não-Governamental de Ambiente) nacionais ou locais, promovem

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actividades desse cariz, não sendo de excluir outras entidades como autarquias ou escolas. Existe pelo menos um estudo sobre a biologia dos parídeos (Chapins) com recurso a caixas-ninho no Parque Florestal de Monsanto, Lisboa, que tinha uma componente de educação ambiental associada, que permitiu a monitorização das mesmas, pelas Escolas envolvidas no projecto.

Chapim-carvoeiro (Periparus ater) Foto: Júlio Neto


As caixas-ninho são construções que se destinam a simular pequenas cavidades naturais que ocorreriam em meio florestal ou rochoso. Como já atrás foi dito não são de uso exclusivo de aves, os morcegos também beneficiam das mesmas. Em Portugal ainda não se popularizou o conceito de caixa de hibernação para mamíferos ou para borboletas, sendo que esta última pode ter mais um carácter ornamental que eficácia ou impacto na vida das borboletas segundo a Associação Americana de Borboletas (NABA). As caixas são mais importantes durante o período da reprodução para as aves e durante todo o ano para os morcegos, uma vez que hibernam. No Inverno poderão servir para mamíferos, como o Ouriço-cacheiro (Erinaceus europaeus) e o Leirão (Eliomys quercinus), os restantes mamíferos de pequenas dimensões, têm essencialmente um período de torpor não hibernando efectivamente. Factores como a perda de habitat devido ao desenvolvimento urbano mal planeado, mudanças climáticas, abuso de pesticidas e herbicidas, abandono da agricultura e higienização do espaço rural, podem ser mitigados com recurso às caixas-ninho. Esta é uma solução rápida e que pode ser de longo prazo se aceite por algum animal. No caso particular das caixas-ninho para aves, estas destinam-se a espécies que se reproduzem em pequenas cavidades e não são verdadeiros “construtores” de ninhos como o caso dos tecelões.

Ninho de tecelão em Tete, Moçambique Foto: Pedro Martins Espécies como a Carriça (Troglodytes troglodytes) ou o Chapim-rabilongo (Aegithalos caudatus) são mestres na construção de ninhos "cavernosos" como os recriados pelas caixas-ninho. Espécies como o Melro-preto (Turdus merula) ou a Toutinegra-de-barrete-preto (Sylvia atricapilla) constroem ninhos com o aspecto de "taça" que geralmente associamos a um ninho. As andorinhas constroem ninhos tão característicos que pela simples observação se consegue identificar a espécie.

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Recomendações sobre as caixas-ninho para aves do British Trust of Ornithology (Fundo Britânico para a Ornitologia), entidade que acumula 70 anos de experiência em colocação de caixas-ninho e do Bats Conservation Trust (Fundo para a Conservação de Morcegos) são: 1. Materiais para a construção da sua caixa-ninho - Madeira natural de resinosas (pinho) tem vantagens de duração sobre as outras madeiras de folhosas (carvalho, cerejeira…). Madeira contraplacada, laminada ou prensada têm pouca resistência quando exposta ao clima. O MDF possui uma substância cancerígena (formol) que dada a sua exposição à chuva pode ser arrastada. - Construções em plástico, apesar de existirem, não devem ser usadas pois dependem da qualidade para não ser tóxicas. A simples exposição ao Sol pode degradar o plástico. A reutilização do plástico é desaconselhada em qualquer circunstância pelo potencial de substâncias cancerígenas. O plástico é um pobre isolante de calor e frio, aquece muito durante o dia e arrefece rápido à noite. É possível que surjam problemas de condensação no interior. - Metal, seja qual for, não é um bom material para a construção de caixas-ninho. É um bom condutor de calor e por isso é um mau isolante. Caixas de metal expostas ao clima têm problemas de condensação, criando gotas que encharcam os ninhos. - Composto de serradura, cal-morta e aparas de papel, com o aspecto de cimento poroso, é um material recente que aparentemente tem tido sucesso e são duráveis, sendo comercializadas.

Caixa-ninho para Peneireiro colocada pela APAP na Paisagem Protegida Foto: Raúl Costa 32 | saramela


Esquema para construção de caixa-ninho e de abrigo para morcegos a partir de uma tábua Desenho: David Santos

2. Fixação a árvores ou outras estruturas permitindo que a chuva escorra, daí poderem ser afastadas com um certo ângulo através de uma trave. - Pregos e Parafusos ou Cavilhas de cobre, latão e alumínio são melhores para fixar que os de ferro pois duram mais e não enferrujam. Sempre que se retirar a caixa-ninho deve-se retirar o prego/parafuso. O recurso a buchas permite que no caso de esquecimento, motosserras ou outras ferramentas de corte não se estraguem. - Corda sintética colocada no sentido ascendente com um ângulo próximo dos 30º também pode usada. Embora a corda possa ser roída por ratinhos ou esquilos. - Arame tem o inconveniente de se poder “enterrar” nos troncos ou ramos, na verdade é o crescimento das árvores que provoca este efeito. É necessário verificar anualmente o estado deste arame, para além do óbvio enferrujamento. - Elásticos largos feitos a partir de câmaras de ar podem fixar com eficácia e permite o crescimento de troncos e ramos. Podem rebentar por acção de roedores ou simples acção de degradação, requerem por isso visitas regulares de inspecção.

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Caixa-ninho para Mocho-galego colocada pela APAP na Paisagem Protegida Foto: APAP 3. Localização e orientação devem ter em conta a exposição solar, vento, chuva predominantes. Em cada caso devem ser verificadas todas estas variáveis. - Uma orientação do tipo de Leste para Sudeste no Litoral Norte será a mais indicada uma vez que a chuva ocorrerá com maior frequência com o vento Sul. O vento predominante é de Norte ou de Noroeste (dito do mar). E garante uma boa exposição solar às primeiras horas da manhã, o ideal serão 6h de exposição directa, tanto para aves como para morcegos, evitando a hora do maior calor entre as 12h e as 14h. - A altura a que são colocadas pode variar consoante a espécie a que se destinam. Pode variar desde 1m de altura até vários metros. Sendo mais importante uma área aberta para permitir o acesso em vôo e dificultar a predação. As caixas para morcegos devem estar entre os 3m e 5m. Caixas a baixa altura mais facilmente são visitadas por predadores ou perturbadas por seres humanos. - Inclinação do tronco ou ramo de árvore tem uma influência quase decisiva para as aves. Deve-se colocar a caixa de forma a que o tronco também sirva de abrigo. Caixas voltadas ligeiramente para baixo serão mais eficazes que caixas voltadas para cima.

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4. Número de caixas numa área depende da espécie e da disponibilidade de locais de suporte. - Espécies que nidificam em colónias como o Estorninho-preto (Sturnus unicolor) permitem uma maior densidade de caixas. O Pisco-de-peito-ruivo (Erithacus rubecula) muito territorial deve ter caixas ninho mais afastadas umas das outras. Os chapins são espécies que defendem o seu território com agressividade. - A colocação deve ocorrer antes do período da reprodução para as aves, Janeiro ainda que chuvoso será o mês ideal; para os morcegos qualquer altura do ano. 5. Manutenção e limpeza de caixas-ninho deve ocorrer fora da época de nidificação, entre Setembro e Janeiro. Embora seja mais usual pensar no mês de Fevereiro para o inicio da época de reprodução, Janeiro dará a margem de segurança para as aves não “estranharem”. A caixa tanto poderá ter uma abertura por cima como pela frente o que facilita a remoção de velhos ninhos e outros detritos. A dobradiça poderá ser em borracha grossa ou metal, e sempre sujeita a verificação, mas não devem ser usados produtos anticorrosão. O fundo da caixa deverá ter espaço para escoamento de água. As caixas para morcegos apenas devem ser verificadas acerca da sua fixação uma vez que são abertas no fundo e usadas todo o ano o que requer um especial cuidado nessa operação que deverá ser no momento do pôr-do-sol, em finais de Agosto início de Setembro.

Pardal-comum (Passer domesticus) Foto: Pedro Martins Está então em boa altura de aproveitar um ou outro dia mais chuvoso e construir a caixa-ninho e instalá-la no quintal, jardim ou “bouça”, de acordo com os proprietários, e esperar pelos dias de Primavera e ficar à espera para ver se esta é ocupada. E não esquecer que não deve perturbar os animais quando faz observações.

Texto - David Santos

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Pedestrianismo

FAF PR5 ­ Rota dos Espigueiros A Rota dos Espigueiros é um percurso circular que percorre 12 Km por uma paisagem magnifica, entre os lugares de Bastelo e Várzea Cova Concelho de Fafe. Começamos junto à Igreja Paroquial de Várzea Cova, avançamos por caminhos na aldeia onde se podem contemplar alguns exemplares de Espigueiros. Várzea Cova é uma povoação muito antiga e também uma das mais distantes do centro da cidade. Existem fortes vestígios de ter havido aqui vivência pré-histórica, através da construção megalítica da Malhadoura. Existe uma ponte medieval que atravessamos, datada do século XIII, chamada de ponte do “Borralho”. Lá perto existe um pequeno parque de merendas onde se pode usufruir da sombra dos plátanos contemplando a natureza.

Ficha Técnica Tipologia: Pequena Rota Circular Localização: Fafe Início/Fim : Largo da Igreja Várzea Cova Distância: 12 Km Grau de Difilculdade: Médio

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Todas as épocas do ano têm o seu encanto, mas eu aconselho a efectuar este PR principalmente na Primavera, o cheiro, o brilho e as cores que a flora que ali vegeta nos oferece têm um efeito “curativo” sobre nós. Subimos por entre rochas repletas de musgo que mais parece veludo até Outeiro do Pensal, depois de atravessar a EN331, vira-se à esquerda para acompanhar a Ribeira de Bastelo até encontrar a capela de São Mamede no lugar de Bastelo. Este é o lugar mais rural do concelho de Fafe e onde se podem observar as mais belas construções da região. Depois de visitar a aldeia, o percurso desce para Porto Covo percorrendo-se um caminho em terra, paralelo à Ribeira de Abrunheiros e continuamos em frente ladeados por belos Carvalhos até alcançar novamente a aldeia. Para finalizar em “grande”, fica a sugestão. Perto da Igreja existe um “cafezinho” onde pode saborear uma sande de marmelada caseira acompanhada por uma malga de verde tinto da região…Forças recuperadas hora de regressar a casa. Bom Natal e um Feliz Ano Novo com boas caminhadas!

Texto e Fotos - Raúl Costa

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Referências Bibliográficas

- Arntzen, J. W., McAtear, J., Recuero, E., Ziermann, J. M., Ohler, A., van Alphen, J., & Martínez-Solano, I. (2013). Morphological and genetic differentiation of Bufo toads two cryptic species in Western Europe (Anura, Bufonidae). Contributions to Zoology, 82(4). - BatInformation Pack – BatsConservation Trust, 2014 - Cabral, M.J. et al. 2006. Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal. Instituto da Conservação da Natureza, Lisboa, Portugal. - Dole, C – Hibernation Boxes: Do They Work? – Newsletter: Butterfly Gardeners' Quarterly, nº 14 Outono de 1997 - Feu, C. – The BTO Nestbox Guide – British Trust of Ornithology, Thetford, 2003 - Ficha abrigo para morcegos – Projecto Bio Agri da Liga para Protecção da Natureza, 2012 - Grootaert, P., I. Shamshev & Andrade. 2010. Notes on Chersodromia from Portugal, Spain and France with the description of a new brachypterous species (Diptera, Hybotidae, Tachydromiinae). Bulletin de la Societe Royale Belge d’Entomologie 146(9-12): 203-206. - Moreira, R – Contribuição para o estudo da biologia reprodutora dos parídeos na cidade de Lisboa: O projecto “Aqui há ninho!” – Tese de Mestrado Universidade de Lisboa, 2009 - Munari, L., J. Almeida & R. Andrade, 2009. A very peculiar new species of Tethina Haliday, 1838 and a new record of Tethina illota (Canacidae, Tethininae). – Lavori, Soc. Ven. Sc. Nat. 34: 123-126. - Mullarney, K., Svensson, L., Zetterström, D. & Grant, P. J. (2003). Guia de Aves. Assírio & Alvim, Lisboa. 400pp. - Oosterbroek P. (2006) The European families of the Diptera – identification, diagnosis, biology. KNNV Publishing, Utrecht. - Portal Aves de Portugal. Disponível em avesdeportugal.info - Ruf, T – Daily torpor and hibernation in birds and mammals – Biological Reviews, Volume 90, Issue 3, Agosto 2015, Págs 891-926 - Zuccon, D., Prŷs-Jones, R., Rasmussen, P. C., & Ericson, P. G. (2012). The phylogenetic relationships and generic limits of finches (Fringillidae). Molecular Phylogenetics and Evolution, 62(2), 581-596.

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Observação de aves no Estuário ou na ROM sempre ao primeiro Domingo do mês!

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