saramela revista quadrimestral da APAP
Conhecer é Conservar Educação Ambiental A importância das Redes Sociais
Sapocomum O maior dos nossos anuros
Pedestrianismo PVZ PR1 S. Pedro de Rates
Migrações Como migram as aves? Cartaxocomum A silhueta inconfundível
NÚMERO 3 | AGOSTO 2016
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FĂŞmea de LibĂŠlula-de-nervuras-vermelhas (Sympetrum fonscolombii) | Foto: Pedro Martins
Editorial Nesta terceira edição da saramela, a Educação Ambiental enquanto ferramenta imprescindível para a conservação da natureza, é o tema central. A Educação Ambiental pode ser materializada sob diferentes formas, como por exemplo através do trabalho de associações, como o que a APAP tem vindo a concretizar, ou até através das Redes Sociais, uma nova e potente forma de comunicação que não poderá ser descurada. É nesse sentido que contamos nesta saramela com a colaboração de dois amantes da natureza, Armando Caldas e José Frade, responsáveis pelo Grupo do Facebook que congrega mais de 15000 membros - "Aves de Portugal Continental". Como o Verão já vai longo, iremos por estes dias assistir a um importante e complexo fenómeno da natureza, as migrações. Assim importa a questão, como migram as aves? Tal como nas anteriores edições, descrevemos de forma sucinta duas espécies, tendo a escolha recaído numa ave e num anfíbio muito comuns na Paisagem Protegida do Litoral de Vila do Conde e Reserva Ornitológica de Mindelo. Naturalmente que a saramela não estaria completa sem a habeitual rubrica de Pedestrianismo, que nesta edição nos trará dicas sobre a forma de avaliar a evolução da meteorologia através da interpretação das nuvens e aconselhará mais um Percurso Pedestre. Pedro Martins Presidente da Assembleia Geral da APAP
ÍNDICE
4 Mensagem da Direcção 8 Conhecer é Conservar 1 0 A importância das Redes Sociais na Educação Ambiental 1 4 Sapo-comum 1 6 Como migram as aves? 20 Cartaxo-comum 22 Pedestrianismo 24 Referências Bibliográficas Contactos: saramela.apap@gmail.com apeantepe@gmail.com
saramela Revista da Associação Pé Ante Pé
Edição digital quadrimestral, gratuita Número 3 - Agosto de 201 6
Nesta edição: Foto de Capa: Garça-real (Ardea cinerea) © Paulo Marta Textos: José Frade, Pedro Andrade, Pedro Martins, Raúl Costa e Sidónio Silva
Fotos: Armando Caldas, Francisco Bernardo, José Frade, Júlio Neto, Paulo Marta, Patricia Martins, Pedro Martins, Raúl Costa
Associem-se, participem, ajudem-nos a crescer! Com uma perspectiva conservacionista, a saramela escreve-se em português, não seguindo o novo acordo ortográfico. Os artigos representam a opinião dos seus autores e não necessáriamente a da APAP / saramela.
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Mensagem da Direcção
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Camarinha (Corema album) - Endemismo Ibérico caracteristico dos sistemas dunares atlânticos | Foto: Pedro Martins
Caros Associados e Amigos Com o lançamento desta edição da Saramela, aproveitamos a oportunidade para saudar e manifestar o nosso agradecimento, pelo facto de corresponderem positivamente ao repto lançado pela APAP, tanto no sentido de se tornarem associados e assim contribuírem para o crescimento desta Associação, como também pelo facto de participarem activamente nas nossas actividades. Nos últimos quatro meses e no seguimento do plano de actividades da APAP para 2016, foram várias as actividades realizadas. A observação de Aves no Estuário do Rio Ave e na Paisagem Protegida, durante a manhã dos primeiros domingos de cada mês, continua a bom ritmo, atraindo cada vez mais observadores ou simples curiosos. Com o aproximar do Outono e do período migratório, o aumento das espécies observadas, e quem sabe das raridades, adivinha-se. No pedestrianismo, uma das vertentes da APAP, à qual as pessoas continuam aderir entusiasticamente, foram organizadas duas caminhadas. A primeira, a Caminhada entre Cidades, que percorreu a linha costeira entre a Foz do Ave (Vila do Conde) e a Foz do rio Esteiro, em Aver-o-Mar (Póvoa de Varzim). A segunda caminhada decorreu no concelho vizinho, ao longo dos cerca de oito quilómetros do PVZ PR1 - Ecomuseu de São Pedro de Rates. Na vertente da Educação Ambiental, de salientar as actividades de Maio e Julho, na ROM (Reserva Ornitológica de Mindelo), com a Associação de Pais e o Centro Escolar de Areia-Árvore, e com as crianças do ATL Brinca Nareia, ambas direccionadas para o contacto com os anfíbios e as aves, incluindo sessões de anilhagem com o apoio do CIBIO. Não deixando passar em claro o 1º Aniversario da APAP na data de15 de Junho 2016, agradecemos a todos os que tornaram realizável este sonho e desta forma contribuirmos, mais, para a preservação da PPRLVCROM e o Meio Ambiente. Sendo o crescimento e o reforço da APAP um dos objectivos traçados, esperamos alcançar o associado nº 100 ainda no decorrer deste ano. Para isso contamos com o apoio de todos os associados na divulgação da Associação, assim como participando e desfrutando nas diferentes actividades. Sidónio Silva Presidente da Direcção da APAP
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10 ideias para a valorização e conservação da Paisagem Protegida Regional do Litoral de Vila do Conde e Reserva Ornitológica de Mindelo
Apesar da sua grande importância na história da conservação da natureza em Portugal, a realização de acções concretas de valorização do património natural na PPRLVCROM tem sido escassa, em contraste com os inúmeros factores de agressão que precisamente levam à necessidade de conservar esta importante área protegida. Se ao menos alguém perguntasse e escutasse as ideias dos que mais gostam da nossa área protegida...
Assim, a Associação Pé Ante Pé (APAP) lança o desafio a todos os sócios, amigos e simpatizantes para nos enviarem ideias para a valorização e conservação da PPRLVCROM. Estamos abertos a todos os tipos de sugestões: ideias para acções de divulgação, projectos específicos de conservação, infraestruturas, acções de requalificação do espaço, meios de actuação…
Estamos certos que as ideias serão infinitas! Enviem-nos as vossas melhores e trataremos de as organizar, complementar e divulgar, para formar um conjunto das 10 melhores ideias para a conservação da PPRLVCROM. A lista será divulgada na próxima edição da Saramela!
Para enviar ideias: apeantepe@gmail.com Data limite: 30 de Novembro de 2016
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JĂĄ tem o seu colete e tshirt da APAP? DisponĂvel em apeantepe@gmail.com
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Conhecer é Conservar
A APAP e a Educação Ambiental Conhecer é Conservar! Este conceito simples, no entanto muito importante, encontra-se intimamente associado à Conservação da Natureza e está na base de áreas tão diversas como a educação e sensibilização ambiental, o turismo de natureza, entre muitas outras formas. Acções de conservação altamente técnicas e suportadas pelo conhecimento científico, como a presente reintrodução do Lince-Ibérico (Lynx pardinus) em Portugal, de pouco ou nada serviriam sem o apoio da sociedade, pois são os actos desta que podem permitir a um projecto vingar, ou fracassar. Ao invés de vedar certas áreas e esconder a existência de determinadas espécies, importa assim esclarecer, desmistificar e apelar à sociedade que ajude a proteger o inestimável bem que é de todos nós, a natureza. A APAP tem dedicado os seus esforços nestas matérias, sobretudo às crianças, com diversas acções diúrnas e nocturnas, ao sol e à chuva, mas sempre com muito boa disposição. Para além de as crianças serem a próxima geração que terá de lutar em prol da natureza, é inegável o factor de educação e persuação que conseguem ter no seu núcleo familiar,
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Saida nocturna na ROM com o ATL Brinca Nareia Foto: Pedro Martins
induzindo nos mais velhos diversas boas práticas ambientais. Nesta edição da saramela vemos alguns exemplos de pessoas, associações e outros grupos, incluindo nas Redes Sociais, que fazem do conhecimento e da educação ambiental a sua ferramenta para a conservação da natureza, naquela que parece ser uma tendência cada vez mais comum, o que permite encarar o futuro com optimismo.
Observação de anfíbios com a Associação de Pais e Centro Escolar Areia-Árvore | Foto: Patricia Martins
Anilhagem com o CIBIO e a Associação de Pais e Centro Escolar Areia-Árvore | Foto: Pedro Martins
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A importância das Redes Sociais na Educação Ambiental
Cuco-rabilongo (Clamator glandarius) | Foto: José Frade
Atravessamos uma era em que não podemos deixar passar ao lado a importância que as redes sociais têm na vida da maioria das pessoas e cabe a todos nós tentar canalizar essa mais valia para aquilo que é importante e entre elas temos a educação ambiental.
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O grande objectivo dos vários grupos existentes nas redes sociais, virados para a temática do ambiente consiste na partilha de conhecimentos entre os membros, conhecimentos esses que passam, principalmente, pela ajuda na identificação das várias espécies, mas em alguns, como o “Aves de Portugal Continental”, vai para além disso, partilha-se experiência, por exemplo na ajuda a salvar alguma ave ferida, ou encontrada abandonada, com alguns cuidados a ter, ou com contactos de locais onde podem obter mais informação e até com a publicação de um livro em que pode ajudar na identificação das espécies, algo muito raro nas redes sociais e que nos lembra que podemos ir mais além do virtual.
O Grupo do Facebook, "Aves de Portugal Continental", foi fundado em Abril de 2012 por Armando Caldas que o administra conjuntamente com José Frade. Com mais de 15000 membros e um elevado número de publicações diárias, este fórum informal, mas rigoroso, permite que qualquer apaixonado pelas aves, independentemente do seu conhecimento técnico, acompanhe o que de mais importante se passa com a nossa avifauna. www.facebook.com/groups/121307984660183
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Capa do livro "Aves de Portugal Continental", sobre foto de um bando de Perna-vermelha-comum (Tringa totanus) da autoria de Francisco Bernardo
Este macho de Cruza-bico (Loxia curvirostra) foi a primeira publicação no Grupo Aves de Portugal Continental, em 3 de Abril de 201 2 | Foto: Armando Caldas
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Pilrito-das-praias (Calidris alba) | Foto: José Frade
A mobilização dos membros para alterar algo que poderá por em perigo a biodiversidade também é um dos pontos em que os grupos poderão ter um papel importante, lembremo-nos do caso do campeonato de motonáutica que iria ser realizado numa altura e num local muito sensível para a nidificação das aves e felizmente a mobilização dos membros veio a ter um contributo essencial na alteração das datas e outros casos, que embora não com o mesmo sucesso, mas que têm vindo a demonstrar o, cada vez maior, interesse e empenho na protecção da natureza. Outra das mais valias dos grupos tem a ver com o estudo das espécies, ao se publicar uma determinada foto, num determinado local e numa determinada data, estamos a contribuir para o estudo dessa mesma espécie, sabendo que ela existe nesse local e nessa altura. Muitos mais exemplos haveria, mas creio que fica aqui demonstrado que algo de bom podemos retirar das redes sociais, mas sem esquecer que não basta escrever, temos de ir ao terreno para ver e é essa experiência que se adquire no contacto com a natureza que poderemos partilhar com quem não tem essa oportunidade. Texto - José Frade
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Sapocomum
Bufo spinosus
A par com a Saramela, o Sapo é um anfíbio sobre o qual recaem inúmeros mitos. Ingrediente de poções e bruxarias, é um animal de mau agoiro e que provoca sapinhos na boca a quem o observar… Tratam-se de mitos totalmente infundados, uma vez que o Sapo-comum, tal como os restantes anfíbios, para além de inofensivo, presta um importante serviço ecológico por se alimentar de invertebrados como centopeias, escaravelhos, ou minhocas entre outros. Bem se vê que o sapo pode ser um dos melhores aliados dos jardineiros e agricultores. O Sapo-comum surge ainda em diversas fontes oficiais com o nome científico de Bufo bufo, no entanto recentemente esse complexo formado por várias subespécies dividiu-se, passando a população portuguesa a integrar a espécie Bufo spinosus.
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É o maior anuro (anfíbios sem cauda) da nossa fauna, sobretudo as fêmeas, que facilmente possuem mais do dobro dos machos, podendo atingir os 22 cm. Os machos dificilmente ultrapassam os 10 cm de comprimento. A sua identificação é muito fácil, sobretudo nos adultos devido ao seu grande tamanho. As características mais marcantes e distintivas são a sua robustez, a grande cabeça arredondada com um focinho curto, assim como as glândulas parótidas muito bem desenvolvidas. A sua pupila é horizontal e a íris vermelha ou acobreada. Os exemplares mais pequenos podem gerar confusão com o Sapo-corredor; no entanto e entre outros aspectos, a íris deste é amarelaesverdeada. Muito polivalente quanto ao habitat, pode ser encontrado na quase totalidade de Portugal Continental, do nível do mar até à Serra da Estrela. Os seus hábitos são maioritariamente nocturnos e terrestres, apenas recorrendo à água durante a época de reprodução. No início da Primavera migram para as massas de água onde se reproduzem, nomeadamente remansos em rios, charcos fundos e pântanos. Os machos são os primeiros a chegar e atraem as fêmeas com os seus chamamentos. As principais ameaças à conservação da espécie prendem-se com a perda de habitat de reprodução por aterro, eutrofização ou poluição das massas de água e de forma directa por atropelamento nas estradas aquando dos movimentos migratórios na época de reprodução e posteriormente de dispersão.
Texto e Fotos - Pedro Martins
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Como migram as aves? Agora que entramos no final do Verão, e o Outono se aproxima a passos largos, as transformações típicas desta época começam a pressentir-se. Os miúdos começam a ficar na expectativa do recomeço das aulas, as equipas de futebol preparam a nova temporada, crescem as amoras e os dias começam a ficar mais curtos, anunciando tempos menos agradáveis. Tal como nós, também a Natureza se prepara para o fim do calor. O final do Verão coincide assim também com o período em que milhões de aves, de muitas espécies diferentes, embarcam no que é uma das mais fantásticas viagens efectuadas no reino animal. Muitas destas aves são pouco mais pesadas que uma caneta, mas ainda assim conseguem utilizar a sua maquinaria interna de ossos, tendões, músculos, asas, coração, pulmões, sacos de ar e cérebro para efectuar viagens de milhares de quilómetros com o único propósito de fugir às condições adversas da estação fria. Mas como o fazem? Como é que uma pequena ave como a Felosinha (Phylloscopus collybita), que pesa apenas cerca de oito gramas, viaja desde o seu local de reprodução na Europa do Norte até chegar às florestas de Vila do Conde para passar o Inverno? E primeiro que tudo, como sabemos que as aves migram sequer?
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Felosinha (Phylloscopus collybita) | Foto: Armando Caldas
De facto, foi preciso esperar pelo final do século XIX para demonstrar que o desaparecimento das aves de um local num determinada estação do ano se devia a estas grandes movimentações a que chamamos migração. O desenvolvimento de esforços de marcação e recaptura de aves selvagens permitiu que os naturalistas conseguissem identificar rotas migratórias, ligando de forma inequívoca um local de captura inicial a um local de recaptura distante para o mesmo indivíduo.
Ao longo dos anos foi ficando evidente que, para a maior parte das espécies migradoras da Europa, a época de reprodução decorre mais a Norte durante a Primavera, quando as temperaturas são mais amenas, e o período de invernada passado a Sul, quer no Sul da Europa quer mesmo em África, evitando a estação fria europeia. Agora já sabemos porque é que as aves migram – para escapar às temperaturas frias, aos dias curtos e à falta de alimento. Falta saber o como. De facto, o “como” as aves migram é um dos grandes mistérios que tem ocupado o tempo de muitos naturalistas, dada a grande complexidade do processo migratório. Durante o período de migração uma ave faz vários voos, tendo que conseguir perceber a altura ideal para partir, como acumular energia para suster o voo durante longos períodos de tempo, encontrar habitat adequado para parar para “reabastecer” e interpretar sinais da paisagem para atingir o destino correcto. Para muitas aves, este “conhecimento” tem que ser aplicado quando muito novas – aves que nascem na Primavera estarão a migrar poucos meses depois, sem a ajuda dos pais, já que a
Andorinha-das-chaminés (Hirundo rustica) | Foto: Júlio Neto
maioria das espécies de aves migra individualmente! As aves socorrem-se de um programa interno, uma herança genética dos pais que as ajudará nas viagens que irão efectuar durante a sua vida. Tal como alguns de nós nascem com os cabelos castanhos ou com uma cor de pele mais escura devido aos genes transmitidos pelos nossos pais, também muitas aves nascem com a propensão para efectuar os voos migratórios na altura certa, durante o tempo certo, até chegar ao sítio certo. Isto foi já demonstrado em muitas experiências com aves de espécies selvagens nascidas em cativeiro, que quando chega a época de migração começam subitamente a moverse mais e a alimentar-se em excesso, como se quisessem “atestar o depósito” em preparação para uma viagem. Por cima deste programa inato, essencial para os jovens nas suas primeiras migrações, irá ser construído conhecimento sobre a melhor rota a tomar – as aves mais experientes conseguem mais facilmente reconhecer elementos da paisagem tais como rios, montanhas ou a linha de costa, facilitando a viagem.
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A migração implica também uma considerável “ginástica fisiológica”, com o funcionamento do corpo da ave a atravessar mudanças profundas e rápidas para melhor responder às necessidades desgastantes do voo. A maior parte dos pequenos pássaros viajará a um ritmo de cerca de 50-100 quilómetros por dia (ou por noite, a altura do dia em que a maioria das espécies migra), e para suportar este esforço as aves têm que consumir uma grande quantidade de comida. Para algumas pequenas aves que fazem voos particularmente longos, como a Felosa-
dos-juncos (Acrocephalus schoenobaenus), o peso pode quase duplicar durante os poucos dias de uma paragem, para logo a seguir a gordura adicional ser novamente gasta! Algumas plantas há muito souberam aproveitar-se desta necessidade das aves, estabelecendo com elas um “acordo de cooperação”. Não é à toa que a maturação de frutos ricos em antioxidantes e hidratos de carbono, como as amoras, os pilritos ou as bagas do sabugeiro coincide com a migração outonal – as aves ganham nutrientes, as plantas têm as suas sementes espalhadas.
A Rola-brava (Streptopelia turtur) era uma ave comum na Reserva Ornitológica de Mindelo, sobretudo durante a migração de Outono, quando milhares de rolas deixando os seus locais de nidificação (a castanho) passavam pelos céus de Portugal a caminho dos seus locais de invernada (a amarelo) na África Ocidental. Adaptado de IUCN Red List of Threatened Species
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Juvenis e progenitor de Andorinha-das-chaminés (Hirundo rustica) - daqui a poucos meses algumas destas pequenas crias podem já estar em África | Foto: Pedro Martins
Mas por muita preparação que as aves tenham, nem sempre tudo corre bem. Ao enfrentar estas duras viagens muitas das aves ficam pelo caminho, e na próxima época de reprodução a população terá voltado a níveis semelhantes aos do ano anterior. Cansaço, fome, frio, doenças, tempestades, todos esses factores podem contribuir para o insucesso de muitas aves. Algumas são atraiçoadas pelo próprio programa interno, que as envia para locais fora da rota habitual. Por exemplo, já foram detectados durante o período de migração em Portugal alguns indivíduos do Pintarroxo-vermelho (Carpodacus erythrinus), uma espécie que nidifica na Ásia e leste Europeu, migrando no
Inverno para o Sul da Ásia. Estes serão provavelmente indivíduos que, por alguma razão, migraram na direcção oposta ao que seria necessário, e o facto de esta rota não se ter estabelecido poderá indicar que estes indivíduos errantes morrerão antes de esta estratégia se estabelecer na população de origem. No entanto, caso as condições se alterem no futuro, talvez estas aves errantes consigam resistir ao Inverno e voltar aos seus locais de reprodução na Primavera, e no Outono seguinte regressarem de novo, e com isso aos poucos alterarem as suas rotas migratórias... Texto - Pedro Andrade
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Cartaxocomum
Saxicola rubicola Independentemente da estação do ano, o Cartaxo-comum é das primeiras aves que se observam ao entrar na nossa Paisagem Protegida, o que mereceu a inclusão da sua silhueta no logótipo da APAP, criado pelo Professor e Designer Dimitri Matos. Este pequeno e colorido insectívoro é facilmente avistado empoleirado em cercas ou ramos de arbustos, de onde procura os insectos de que se alimenta. A sua identificação é fácil, sobretudo do macho, sendo as características mais distintivas o pequeno tamanho e a cabeça preta que contrasta com o colar branco e o peito alaranjado. As fêmeas apresentam uma plumagem menos vistosa e contrastada. A única espécie com que o Cartaxo-comum pode ser confundido, sobretudo as fêmeas, é com o seu congénere Cartaxo-nortenho (Saxicola rubetra), no entanto este tem uma característica sobrancelha branca. Simultaneamente, o Cartaxo-nortenho apenas nidifica nas áreas de montanha do Norte do País, ocorrendo nos restantes locais exclusivamente durante as passagens migratórias. Podendo ocorrer em diferentes tipos de habitats, incluindo o florestal e o agrícola, o Cartaxo-comum apresenta uma preferência por áreas abertas, como matos baixos, charnecas, dunas, sapais, entre outros. Na nossa Paisagem Protegida o passadiço nas dunas é um bom local para observar esta ave. Espécie monogâmica, constrói o seu ninho com fibras vegetais e penas, muito próximo, ou mesmo no chão, na base de um arbusto ou aproveitando buracos em pedras. Sendo uma espécie muito territorial, o macho adopta nesta altura um interessante comportamento de vigia sobre o ninho e a sua fêmea, da qual nunca anda muito longe. Fêmea de Cartaxo-comum (Saxicola rubicola) Foto: Paulo Marta
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Texto - Pedro Martins
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Macho de Cartaxo-comum (Saxicola rubicola) | Foto: Paulo Marta
Pedestrianismo
PVZ PR1 Ecomuseu de S. Pedro de Rates Na sequência das anteriores edições da Saramela, deixarei aqui alguns conselhos úteis. Desta feita, como olhar as Nuvens no Céu para prever o tempo. Numa era em que as novas tecnologias estão presentes em todo o lado e a toda a hora, será interessante conhecer alguns métodos ancestrais - observar as nuvens é o bastante para prever o estado do tempo nas próximas horas, apenas temos de prestar atenção. Se as nuvens tiverem o aspecto de “cachos de cabelos “delicados e brancos e o vento soprar de Oeste ou mesmo de Sul a chuva não tardará. Se as nuvens forem cinzentas/azuladas e em várias camadas encobrindo o sol e se o vento soprar de Noroeste, de Oeste ou de Sudoeste em poucas horas irá chover. Nuvens densas e de cor cinzenta a esconderem a luminosidade, com aspecto de nevoeiro e vento de Oeste ou Noroeste, pode significar alguns chuviscos. O Céu coberto pode trazer algumas abertas se o vento soprar noutras direcções. Nuvens brancas agrupadas anunciam bom tempo. Se algum dos seus equipamentos não funcionar; já sabe, tem sempre a opção de interpretar os sinais das nuvens, do vento e do sol.
Ficha Técnica Tipologia: Pequena Rota Circular Localização: Póvoa de Varzim Início/Fim : Igreja de São Pedro de Rates Distância: 8 Km Grau de Difilculdade: Baixo
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O PVZ PR1 é um Percurso Circular de aproximadamente 8 km, com grau de dificuldade baixo, que percorre caminhos urbanos e rurais. Este percurso tem inicio e fim em frente à Igreja de S. Pedro de Rates, Concelho da Póvoa de Varzim. Depois de passar a Igreja de S. Pedro de Rates seguimos para a praça que dá acesso à Rua Direita e que nos leva até à fonte de S. Pedro. Já no “Caminho de Santiago “continuamos até à casa do lavrador, onde para alem de uma exposição de vários artefactos antigos ligados ao cultivo de cereais e linho, está também instalado o Albergue de apoio aos peregrinos de Santiago. De seguida descemos o caminho da fonte antiga e do lavadouro, espaço muito bem recuperado com umas sombras proporcionadas por ramadas de videiras. Continuamos pelo caminho da Via Sacra que nos vai levar até a um moinho de vento. Depois de o circundar pode descer até a um parque de merendas e repousar um pouco. Recuperadas as forças e saindo do parque, a direcção deveria ser em frente até à Fonte do Pedro, um espaço magnifico, mas que devido à falta de manutenção (pelo menos até esta data) está quase intransitável. Por esta razão sugiro que vire à esquerda para a Fonte da Granja onde vai encontrar um pequeno moinhode-água. Continuando pelo vale vamos chegar à Azenha do Pego, onde para alem da moagem também servia para alimentar uma serra hidráulica para corte de madeira. Depois caminhando pela antiga linha férrea, onde actualmente passa o Caminho de Santiago pela Costa dirigimo-nos de novo à Igreja de S. Pedro de Rates para finalizar o nosso percurso. Espero que apreciem esta rota da “Água e do Pão”, e claro, sempre Pé Ante Pé no bom caminho. Texto e Fotos - Raúl Costa
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Referências Bibliográficas
- Almeida, N.F., Almeida, P.F., Gonçalves, H., Sequeira, F., Teixeira, J. & Almeida, F.F. (2001) Guia FAPAS Anfíbios e Répteis de Portugal. FAPAS. Porto. BirdLifeInternational (2016) Species Factsheet: Saxicola torquatus. Downloadedfromhttp://www.birdlife.org on 07/08/2016. - Couzens, D (2006) Bird Migration. New Holland Publishers, London. - Eraud, C., Rivière, M., Lormée, H., Fox, J. W., Ducamp, J. J., & Boutin, J. M. (2013). Migration routes and staging areas of trans-Saharan Turtle Doves appraised from lightlevel geolocators. PloS one, 8(3), e59396. - Hedenström, A. (2008). Adaptations to migration in birds: behavioural strategies, morphology and scaling effects. Philosophical Transactions of the Royal Society of London B: Biological Sciences, 363(1490), 287-299. - Honrado J., Gonçalves J.A., Figueiredo J., Caldas F.B., Lomba A., Alves P.C., Ferrand N., Múrias Loureiro, A., Ferrand de Almeida, N., Carretero, M.A. & Paulo, O.S. (eds), Atlas dos Anfíbios e Répteis de Portugal. Instituto da Conservação da Natureza e da Biodiversidade, Lisboa. - IUCN Red List of Threatened Species. Disponível em www.iucnredlist.org - Mullarney, K., Svensson, L., Zetterström, D. & Grant, P. J. (2003). Guia de Aves. Assírio & Alvim, Lisboa. 400pp. - Portal Aves de Portugal. Disponível em avesdeportugal.info
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Observação de aves no Estuário ou na ROM sempre ao primeiro Domingo do mês!
apeantepe@gmail.com saramela.apap@gmail.com http://apeantepe.wix.com/apeantepe https://www.facebook.com/associacaopap