EXPEDIENTE Edição: V. 2, n. 6 - Julho de 2019
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Periodicidade: mensal
Revisão: a revisão dos textos é feita pelo próprio autor, não sofrendo alteração pela revista (a não ser tão-somente quanto à correção de erros materiais). Diagramação: Marcelo Bizar Capa: Concepção: Marcelo Bizar e Marco Trindade; Arte e Grafismo: Marcelo Bizar Foto capa: Igreja da Penha Imagens: as imagens não creditadas são da Internet. Distribuição: A distribuição da Revista Sarau Subúrbio é online e gratuita. Plataformas: ISSUU e Calamèo Notas importantes: A Revista Sarau Subúrbio é uma publicação totalmente gratuita, sem fins lucrativos. Não contamos com patrocínio de qualquer natureza. Nosso objetivo, em linhas gerais, é servir de instrumento para que os artistas que não possuem espaço de divulgação nas mídias tradicionais possam apresentar seus trabalhos, nas mais variadas formas, seja na literatura, na música, no cinema, no teatro ou quaisquer outras vertentes artísticas, sempre de forma livre e independente. Todos os direitos autorais estão reservados aos respectivos escritores que cederam seus textos apenas para divulgação através da Revista Sarau Subúrbio de forma gratuita, bem como a responsabilidade pelo conteúdo de cada texto é exclusiva de seus autores e tal conteúdo não reflete necessariamente a opinião da revista. Editores Responsáveis: Marcelo Bizar e Marco Trindade Conselho editorial: Marco Trindade, Marcelo Bizar, Silvio Marcelo, Kátia Botelho Contato: sarausuburbio@gmail.com
EDITORIAL São tempos bicudos, mas parafraseando o escritor Euclides da Cunha, o Suburbano é, antes de tudo, um forte, por isso não deixamos a peteca cair, e para espantar a maré sinistra e a friaca que vem tomando conta da nossa cidade, recorremos ao calor humano de um dos bairros mais tradicionais do subúrbio carioca, o qual, aliás, está comemorando seu centenário. Nesta edição dedicamos este espaço para destacar e celebrar os 100 anos do bairro da Penha, comemorado no dia 22, segundo calendário oficial do Município, aprovado por lei. A Penha está no imaginário de todo suburbano, não só pela referência religiosa do seu maior destaque que é a Igreja, mas também pelo comércio abundante, pela lembrança do icônico parque Shanghai, e claro, por sua enorme contribuição à Cultura Popular brasileira através da Música. A Revista Sarau Subúrbio parabeniza o bairro e seus moradores por esta data tão especial! Fiquem ao som deste maravilhoso Baião, de autoria de David Nasser e Guio de Morais, imortalizado na voz do nosso genial Nordestino Luiz Gonzaga: BAIÃO DA PENHA (David Nasser /Guio de Morais) Demonstrando a minha fé Vou subir a Penha a pé Pra fazer minha oração Vou pedir à padroeira Numa prece verdadeira Que proteja o meu baião Penha! Penha! Eu vim aqui me ajoelhar Venha, venha, Trazer paz para o meu lar. Nossa Senhora da Penha Minha voz talvez não tenha O poder de te exaltar Mas de bênção padroeira Pressa gente brasileira Que quer paz pra trabalhar
SUMÁRIO
05- CAMÕES 06- A LEVEZA DO PESO 07- A GLÓRIA DOS PEQUENOS GIGANTES DO FUTEBOL CARIOCA 09 A COISA CRISTALINA... 11- PROSA POÉTICA I - UM DOMINGO DE INFÂNCIA 12- SUBVENÇÃO ÀS ESCOLAS DE SAMBA 14- A TRAGÉDIA DA PIEDADE - PARTE I 16- O BALÃO 18- ENSAIOS MINIMALISTAS 19- A VIDA DÁ SAMBA 20- MULHER NEGRA COM ESPERANÇA EM DIAS DE GUERRA 22- À PRIMEIRA VISTA 24- ESTANTE SUBURBANA 25- VITROLINHA SUBURBANA 26- SERÁ NOSSO EMBAIXADOR 28- NAVIO PERDIDO 29- TIA MARIA DO JONGO 31- A TEMPOZIÇÃO DAS ALMAS ÍNCUBAS - OS CÍRCULOS ALQUÍMICOS DE CONHECIMENTO I 34- UM LUGAR NO SUBÚRBIO 35- PROVOCAÇÃO PÚBLICA 36- QUEM QUER SER UM MILIONÁRIO? 39- BLOG DO TIZIU
C AM Õ E S Próximo ao Cabo da Boa esperança, diante das tormentas africanas, apresento-lhes o desconsertado, o instável e o criador do Amor maior: Camões menino. Creio Creio Creio Creio
na na na na
universalidade do Amor, mudança das Coisas, instabilidade dos Corpos, pulsão da Aliteração.
Crendo que o Criador existe, E Ele talvez esteja no meio de todos, Tronco, coração, braços, pernas, Céu, Vejo de cabeça pra baixo Camões sorrindo. Mas a loucura é tamanha no Amor, Vejo Amor na abstração de tudo, Vejo a consumação do Amor na carne. O contrário faz parte do jogo. Ora ama-se a alma da amada, Ora descumpre-se o trato selado. Leonardo Bruno
A L E V E Z A DO PE S O
Não parcelei em duzentas vezes um apartamento, como quase todos os meus amigos. Eu construí o meu apartamento. Na verdade, o sobrado onde moro, em cima de uma loja que meu pai aluga. Com a ajuda de familiares e amigos (típica construção solidária da Baixada Fluminense) desenhei e fiz a moradia da minha família. Das colunas à laje, já são dez anos de obra. No início, porém, o desafio me pareceu exaustivo demais. Ser ajudante de pedreiro, depois de quarenta horas semanais de magistério e tantas outras de escritor, seria cansativo. Seria pesado. Pesado feito os mil e quinhentos tijolos 20x30 que eu vi o entregador descarregar na calçada. Ficou decidido que seria tarefa minha agarrar os tijolos no segundo andar. Hesitei: - Não vou conseguir, tô tão cansado. Primo meu esclareceu: - Observa o tijolo. Eu vou jogá-lo com força e ele vai subir com velocidade e pesado. Mas tem uma hora que ele para no ar. Então você agarra ele, praticamente com peso nulo. Ele estava correto. Foi fácil como colher uma flor. Agarrar tijolos foi a etapa mais leve e divertida do desgastante assentamento de alvenaria. Desde então eu penso que, se algo me parece um pesado fardo, é porque não estou atentando-me ao momento exato de agir. Há que se aprender diariamente. A leveza é o fim de todas as cargas. E uma vida leve é a moradia mais apetecível ao nosso tempo.
J o n a ta n M a g e l l a
A GLÓRIA DOS PEQUENOS GIGANTES DO FUTEBOL CARIOCA
Che com o time de futebol do Madureira em Cuba
O São Cristóvão foi campeão carioca em 1926, Leônidas da Silva iniciou a carreira no Bonsucesso e dá nome ao estádio da avenida Teixeira de Castro, o Madureira fez a mais longa excursão do nosso futebol, a Portuguesa venceu o poderoso Real Madrid, em plena capital espanhola. Campo Grande e Olaria conquistaram as taças de Prata e Bronze (segunda e terceira divisão). A história dos chamados seis pequenos do futebol carioca e também do Canto do Rio, de Niterói, é o tema do livro Vai dar zebra, de José Rezende e Raymundo Quadros. A expressão que caracteriza a vitória dos azarões da bola foi popularizada por Gentil Cardoso em 1964, quando previu a vitória da Portuguesa sobre o Vasco da Gama. O treinador pernambucano foi um ex-jogador, dirigiu muitas equipes modestas e profetizou também a conquista do título do Fluminense em 1946, ao pedir a contratação de Ademir Menezes, autor do gol decisivo na final contra o Botafogo. Gentil lançou no Bonsucesso, seu clube de coração, Leônidas da Silva, que chegou à seleção com a camisa rubro anil e foi artilheiro do mundial de 1938. O São Cristóvão, primeiro clube dirigido pelo folclórico treinador, além do título de 1926, teve o artilheiro Vicente com 25 gols. Ivo Sodré, ex-seleção olímpica, foi grande destaque do clube, que antes de revelar Ronaldo Fenômeno, trouxe nos anos 80 num sistema de cooperativa craques como o campeão mundial Edu, Búfalo Gil e Orlando Lelé.
O Campo Grande chegou a contar com Roberto Dinamite e Barbosa, ex-goleiro da seleção em seu elenco. A Portuguesa com Zózimo e Vavá, ex-campeões mundiais. Já o Olaria, sob a direção do empresário Álvaro Melo, foi terceiro lugar no campeonato carioca de 1971, com inesquecível time que contava com Afonsinho, Roberto Pinto e Miguel, convocado para seleção ainda no clube, antes de jogar no Vasco e Fluminense. Celeiro de craques, o Madureira revelou Jair Rosa Pinto, Didi e Evaristo e foi recebido numa excursão em Cuba por Che Guevara, enquanto o Canto do Rio contou com os ex-goleiros de seleção Veludo e o paraguaio Garcia. As dificuldades financeiras e a globalização futebolística tornaram cada vez mais difícil a vida dos pequenos gigantes do subúrbio carioca, assim como dos “médios” Bangu e América, que amargam jejum de títulos desde os anos 60, mas a paixão de abnegados torcedores mantém acesa a chama destas agremiações tradicionais, tão justamente lembradas nas páginas deste livro que evoca a nostalgia da época de ouro do futebol brasileiro.
Orl a n d o Ol i v e i ra Jornalista
A COISA CRISTALINA...
Num clarão da noite, caído, eu o vejo. “Por que não passo batido!"... É o que no íntimo praguejo, Aconselhado pelo meu lado bandido. Durante décadas, fomos unha e carne. Amigos que se diziam não separáveis Nem pelos desígnios do desencarne! Mas somos todos, por natureza, falíveis... Afasto-me num impulso indômito, Porém, me sinto bem mais ridículo Do que o sujeito caído, em meio ao vômito, Que expõem, como obra de arte, os testículos. Torto, semiacordado, bolsos rasgados E com as vestes recendendo a bebida, Mas ar de quem não estava só embriagado. Percebi vestígios nas narinas embranquecidas. Aproximo-me e, contendo a repugnância, Recosto-o em um tronco da árvore do passeio, Apesar de sua renhida e teimosa relutância Com gestos bruscos e olhar de receio. Sereno, entabulo um diálogo persuasivo E apelo por lembranças de priscas eras. Ele me encara com um furor obsessivo Tal qual a mais acuadas das feras. Seguro-o com firmeza e mudo a toada, Vario do tom moderado para o grave E ralho com a força de uma trovoada. Ele então escancara um sorriso suave. E, com um falar enrolado, me bendiz
Seguro-o com firmeza e mudo a toada, Vario do tom moderado para o grave E ralho com a força de uma trovoada. Ele então escancara um sorriso suave. E, com um falar enrolado, me bendiz Lançando-me um olhar inexpressivo. Com a palma da mão esfrega o nariz Funga e desaba num choro convulsivo. Tempo depois de tudo quase serenado, Ele, de pé e por mais um papel obcecado, A reclamar de que fora afanado, Implora-me apenas por uns trocados.
PROSA POÉTICA I - UM DOMINGO DE INFÂNCIA
Naquele domingo de infância o entardecer era só um verbo dito que se escondia nos ventos e trançava outras lembranças ainda mais longínquas. O quadro daqueles dias desenhado espalhavam-se no arrebol do bairro de Cascadura. O verbo também se aprisionava nas pedras dos antigos casarões da rua, amontoando-os de ecos. Os pardais banhavam-se na areia criando esculturas em forma de laranjas, enquanto na boca um pêssego mordia minha língua: fazia-me experimentar a quase- noite se aproximando. Depois da melodia dos violões esquecidos no verbo, tangidos nos ventos, eis que chega a noite. Ela surgiu tão negra naquele inverno, cobrindo sua cor em tudo. Tão plena que nos iluminava. Fol então que o tempo curvou novamente o espaço e o ontem que estava no escritório, entre as lentes dos óculos e a lente do computador, entrou num buraco de minhoca e voltou de onde viera: décadas que passaram.
Antero Catan
SUBVENÇÃO ÀS ESCOLAS DE SAMBA
Em 1935 o prefeito da Cidade do Rio de Janeiro, então Capital do Brasil era Pedro Ernesto. Em sua gestão o desfile das Escolas de Samba que começaram a acontecer em 1932, foi oficializado e consequentemente veio a subvenção para que as mesmas desenvolvessem seus carnavais. De lá pra cá houve vários períodos de turbulências na política, mas nada impediu que essas agremiações deixassem de receber suas subvenções. Em 1937 Getúlio Vargas o Presidente da Republica, decretou o Estado Novo, implantando uma ditadura no país e cuja sede do seu governo era aqui no Rio de Janeiro, Distrito Federal. De maneira alguma a prefeitura da época se aproveitou da situação para deixar de conceder a subvenção a que as escolas de samba tinham direito. Outro período crítico foi quando Getúlio Vargas em seu segundo mandato, desta vez eleito pelo povo, deu fim a própria vida no ano de 1954. Não se tem notícias se deste período até as eleições do Presidente Juscelino que governou de 1956 em diante, houve supressão da subvenção por parte do prefeito da cidade. Em 1960 a capital foi transferida para Brasília, sendo o Rio de Janeiro transformado em Cidade-Estado. O Governador era Carlos Lacerda era de um partido conservador e mesmo depois de instalada a Ditadura no Brasil, com a deposição do Presidente João Goulart, manteve o direito das escolas de samba. Vieram outros gestores do Rio de Janeiro e esses continuaram a atender aos anseios das Escolas de Samba. Passados 82 anos dos desfiles oficiais, um pastor evangélico assumiu a Prefeitura da Cidade. Começou a perseguição. Já para o carnaval de 2017 ele reduziu a subvenção que cada escola recebeu em 2016, para a metade, ou seja, um milhão de reais. Para a preparação do carnaval de 2018, não houve ensaios técnicos por falta de verba e o povão que não tem como pagar os desfiles oficiais, ficaram a ver navios. Para o carnaval de 2018, mais uma surpresa, nova redução, desta vez para quinhentos mil reais para cada escola do grupo especial Com toda demagogia que lhe é peculiar, o prefeito reduziu as verbas sob alegação que iria destiná-la aos hospitais públicos. Estamos esperando até hoje. Ele só esqueceu-se de dizer que o carnaval gera uma receita muito grande para a cidade.
No ano de 2019, ele teve a cara de pau de reduzir a verba novamente, desta vez, 250 mil para cada escola. Sem contar que as agremiações desta vez tiveram ensaios técnicos patrocinados por empresas privadas, pois se dependesse dele, mais um ano não teria. Agora o prefeito Marcelo Crivella já anunciou que vai assinar um decreto proibindo a prefeitura de dar subvenção a eventos que venda ingresso, participação da Comlurb, da CET Rio, de Ambulâncias da prefeitura. O que ele pretende? Acabar com o desfile das Escolas de Samba? Muitos sambistas votaram nele e acreditaram nele, até a Liesa o apoiou. E agora?
Onésio Meirelles
A TRAGÉDIA DA PIEDADE - PARTE I
O escritor Euclides da Cunha é o homenageado desse ano da Flip (Festa Literária Internacional de Paraty). Nascido em 1866, Cunha se tornou militar e posteriormente foi convidado pelo Jornal O Estado de São Paulo para acompanhar e relatar os acontecimentos finais do conflito de Canudos1. Desses relatos surgiu sua grande obra - Os Sertões – que é até hoje uma referência não só para entender o episódio de Canudos, mas também todo um contexto histórico e social que permeia a vida dos sertanejos pobres e marginalizados do Brasil. Entretanto, nesse artigo (que será dividido em duas partes) iremos tratar do trágico desfecho de sua vida que ocorreu no bairro de Piedade, subúrbio do Rio de Janeiro. Engenheiro militar, Euclides da Cunha participou de diversas campanhas de demarcação de limites territoriais e construções de pontes e estradas de ferro no interior do Brasil. Com tais ocupações, Euclides ficava longas temporadas longe da família que morava no Rio de Janeiro. O escritor era casado com Anna de Assis, filha de um major do Exército, e teve três filhos com ela. Durante as grandes ausências do marido, Anna acabou conhecendo e se apaixonando por Dilermando de Assis, um jovem cadete de 17 anos. Ainda casada com o escritor, Anna tem dois filhos com Dilermando: Mauro, que morreu com sete dias e Luís, nascido em 1907 e registrado como filho de Cunha. Nos dizeres do próprio escritor, Luís, único loiro numa família de pessoas com cabelos escuros, era uma “espiga de milho no meio do cafezal”. Dilermando muda-se para o sul em 1906. Entretanto continua correspondendo-se com Anna. Dois anos depois retorna ao Rio e passa a morar com o irmão Dinorah numa casa localizada na Estrada Real de Santa Cruz (hoje Avenida Dom Hélder Câmara) em Piedade. Euclides da Cunha, por sua vez, encerra a sua carreira como engenheiro e começa a dar aulas no Colégio Nacional (Colégio Pedro II). Dessa forma, fixa-se no Rio de Janeiro, mas isso não impede que Anna e Dilermando continuem se encontrando. Disposto a “limpar a sua honra”, em 15 de agosto de 1909, Euclides da Cunha vai ao encontro dos dois amantes na casa da Piedade. Chegando ao local, o escritor desfere diversos disparos atingindo a Dinorah e Dilermando. Este, que era campeão de tiro, precisa de apenas dois disparos para ferir mortalmente o seu antagonista.
1. A chamada Guerra de Canudos, revolução de Canudos ou insurreição de Canudos, foi o confronto entre um movimento popular de fundo sócio-religioso e o Exército da República, que durou de 1896 a 1897, na então comunidade de Canudos, no interior do estado da Bahia.
Grande a foi a comoção causada pela morte do grande escritor. Além disso, a polêmica entorno do adultério de Anna de Assis acrescentou a esse acontecimento ares de uma trama que parecia saída das páginas de um livro. Dilermando foi a julgamento, sendo absolvido pelo fato do júri entender que ele matou em legitima defesa. Mas não termina por aqui. No próximo mês iremos ver os desdobramentos dessa história que marcou para sempre a literatura brasileira e o bairro de Piedade. Até lá.
Casa de Dilermando em Piedade Revista Careta 1909
Dilermando de Assis Revista Careta 1909
Velório de Euclides da Cunha na ABL O Malho 1953
Ana Cristina de Paula
O BALÃO!
Uma dúvida atravessa a calmaria das minhas divagações: qual o ideal de felicidade que almejamos? Pergunta trivial, cuja resposta esbarra quase sempre no senso comum. Mas, por que a felicidade tem que ser sempre um objetivo a ser alcançado? Talvez, porque seja da natureza humana tê-la como bem supremo. De modo contrário, a tristeza que nos assombra sem hora marcada, não é associada à normalidade humana. Ela não condiz com o desejo de bem estar. Mais do que um amontoado de palavras para preencher linhas ou mesmo elucubração filosófica simplista, esses estados emocionais dialogam com a condição humana. Felicidade e tristeza podem ser produzidas ao mesmo tempo e paradoxalmente pela mesma pessoa. Haja vista a cosmética midiática de pessoas comemorando a tragédia alheia como um troféu conquistado na final de um campeonato. Num momento de êxtase quase seminal, um pleito decide quem vai morrer trabalhando e quem vai ganhar menos, depois de trabalhar a vida inteira.”Guardiões da moral pública e da equidade social” decidem ao bel prazer sobre aqueles que pouco trabalharão e muito ganharão, sobre os que nunca trabalharam e serão regiamente recompensados por isso e, num neo malthusianismo de seguridade social made in Pindorama, em pleno século XXI, determinam os que morrerão de inanição para as graças do sistema financeiro. Que felicidade é essa que faz regozijar aqueles que tripudiam sobre a dignidade humana, vilipendiada num painel eletrônico, gerando entre muitos SIM e poucos NÃO, uma legião de desgraçados famélicos, deserdados da “pátria acima de tudo”. Legislaram para a exclusão, ganhando cada qual seu quinhão. Esses rejeitaram qualquer estatuto de humanidade, ungidos por uma nova KR$ISTANDADE. Não seria leviano dizer que ensaiaram leituras de manuais refinados de holocaustos. Ei-nos aqui nesse momento catártico, juntando linhas do novelo da História para tentar entender essa trama tão macabra. As evidências indicam que a roda civilizatória emperrou no nosso país e valores universais básicos foram jogados no lixo. Por tudo isso e mais, ouso aqui, realizar um pequeno exercício metafórico, usando o balão como referência. O balão, feito por mãos humanas, ganha forma mesmo ainda vazio. Igualmente pelas mãos humanas, assume sua plenitude quando inflado com ar quente. Seu destino inexorável é o céu.
Entretanto, ainda preso às mãos que o fizeram, o balão não é livre para seguir o seu destino. O que falta a ele é justamente aquilo para o qual foi criado e ganhou forma, ou seja, voar ao sabor do vento, ser senhor de si. Mas, para quem o fez, cabe exercer até o último segundo o controle sobre a sua liberdade. E esta, sendo efetivada, anula a dimensão de poder do criador sobre a criatura. Por princípio, nesse caso, o criador deveria se realizar na felicidade da sua criatura. Mas, se assim o fizer, de imediato, perderá o controle sobre o seu feito. Assim, medem forças numa luta paradoxal. Mal sabe o criador, por egoísmo, sensação de poder ou coisa que o valha, que a essência da sua existência é ou deveria ser, proporcionar a liberdade àquele que lhe dá sentido como ser. Um balão livre voa altaneiro, vislumbra horizontes mais distantes, compartilha o prazer de voar com outros seres que viajam pelos céus. Longe de mãos e cordas não pode ser mais controlado. O balão só retorna à condição primitiva quando o tempo lhe rouba a energia gerada pelo calor que lhe dava força para subir e flutuar. Caído e murcho, talvez volte às mãos humanas para ser reaproveitado e, se manipulado corretamente, sucumbirá à tentação de ser lançado mais uma vez ao espaço e, temporariamente, viver a sensação de que pode seguir seu próprio destino. Nessa metáfora penso que, por mais que seja sedutora a idéia de liberdade, não deveríamos almejar sermos balões, mas sim, mãos. Digo isso porque mãos fazem balões, ajudam-lhes a terem forma e sentido. Elas proporcionam aos mesmos o vento certo e garantem o vôo seguro e pleno de liberdade. Aí residirá parte da nossa grandeza, atuar para que todos os balões vivenciem a liberdade. E, se por uma razão qualquer, o vento bem aventurado parar de soprar ou mesmo o calor que os sustenta se esgotar, ou ainda, nuvens carregadas lhes interromperem a trajetória e fazê-los caírem em lugares ermos e perigosos, que não sejam capturados por insanos que não sabem o valor da liberdade. Mas, que sejam recolhidos por mãos bem feitoras, que lhes devolvam a sua essência e que não admitam enclausurá-los, transformando-os em troféus do seu egoísmo.
Silvio Silva
ENSAIOS MINIMALISTAS
No Continente Africano a noção do tempo possui um significado de atemporalidade; qual seja, as coisas que devem acontecer estarão universalmente conectadas independentemente do tempo que passa no relógio do Continente Europeu; na prática se agora vamos rezar não podemos nos preocupar com outros afazeres sejam eles quais forem, pois nesse momento o que temos a fazer é somente nos conectar com o Divino de forma a contemplar de significação o propósito. Para que essa Clareza nos papéis que exercemos na caminhada Maravilhosa entre a Vida e a Morte seja verdade, precisamos estar atentos ao que ou com quem gastamos mais energia, tempo e dinheiro; essa relação tripla é de forma conjunta ou separadamente reveladora de muito do que mais gostamos; com certeza ela vai refletir nos papéis denotando se a Vida que levamos é Real ou falsa ( sem verdade ); se em algum desses papéis ( Pai,Mãe, irmão,irmã, filho(a), neto, sobrinho, genro, cunhado,nora, sogra, marido, esposa, docente, Estudante, amigo(a), vizinho, condômino,Tio(a), etc ) como exemplo, se não nos sentimos confortáveis na atuação é melhor rever os conceitos e buscar uma Identidade que possa satisfazer plenamente esse exercício cotidiano chamado de missão de Vida. O senso de pertencimento está relacionado a uma forma bastante positiva de motivação vivida em um grupo; cada um de nós necessita do outro para que literalmente possa sentir em plenitude sua própria existência; e certamente é importante nosso senso de posicionamento dentro dos sistemas, questionando a si mesmo: quero mesmo estar ali? Será que aqui eles gostam de mim ou apenas me toleram? Posso contar meus Sonhos para eles? Amar e ser Amado , reconhecido e elogiado nos lugares por onde se anda e convive; essa é a idéia central da afiliação e do pertencimento. Posicionar-se Claramente nos lugares em que se convive é com certeza modelo de Sucesso em todos os aspectos da Vida Humana; é estar em dia com sua própria Saúde Mental. O corpo movimenta a mente fisiologicamente.
Rodolfo Caruso Poeta todo dia
A VIDA DÁ SAMBA
Ao som de um pandeiro, um cavaco e um violão Eu canto samba na maior felicidade Para espantar a tristeza do meu peito A vida é dura, há muita falta de respeito! Na vida você samba se não tiver sabedoria Puxam teu tapete na maior cara de pau Mas Deus é grande e te protege a cada dia Abre outras portas, bem melhores que a atual Tolo é aquele que se acha tão esperto Pensa que está se dando bem todo momento Ignora as leis de justiça do universo Que atua a todo instante sobre cada pensamento É bem verdade, alguns caminham para frente Sorriso no rosto e paz no coração Outros são escravos dos seus próprios tormentos Tropeçam nas pedras da sua própria ambição. A vida é curta e sempre traz uma lição Deixe falar bem alto o amor no coração Pois é no bem que se constrói a liberdade E a cada amanhecer felicidade.
MULHER NEGRA COM ESPERANÇA EM DIAS DE GUERRA
Pensando no dia 25 de julho na parte da história de Teresa de Benguela nossa heroína, que perdeu seu companheiro e teve que seguir sozinha lutando pela dignidade de seu povo penso, quantas Teresas temos por este Brasil, mulheres que ficam sozinhas, com filhos e precisam lutar pela subsistência e educação dos seus herdeiros e por sua própria. Devemos considerar que há muitas heroínas contemporâneas em um País aonde a discriminação, preconceito, racismo, misoginia, feminicídio são as maiores notícias nos jornais das mulheres em geral e das mulheres negras pelas estatísticas são as mais afetadas. Mas mesmo assim seguem lutando e tentando ajudar umas as outras, tanto é que no dia 28 de julho de 2019, no bairro de Copacabana posto 4,as 10 horas, haverá a Marcha das Mulheres Negras que sempre participo. Uns pensam que este movimento das mulheres é insignificante, mas não se luta quando não existe uma causa. Alguns até dizem que racismo não existe, a tal da Democracia racial. Gostaria de acordar e dizer que somos todos iguais, pois como Martin Luter King, tenho um sonho. E neste sonho desejo que algum dia os homens e mulheres negros possam ser realmente tratados de acordo com a dignidade humana e os valores baseados no seu caráter e não na sua cor..... Na carta de Winnye Mandela que foi enviada ao seu esposo e que Martinho da Vila musicou ela diz: “Meu homem dormi com saudades suas e sonhei com a liberdade caminhando livremente sobre o sol de Juanesburgo..”, nós sonhamos sobre o sol do Brasil e por que não dizer do planeta. O que entendemos nos dois exemplos é que o desejo dos Negros é se livrar dos grilhões em uma liberdade de fato e de direito, que supostamente foi concedida em 13 de maio de 1888, porém não foi entendida até hoje 2019, século XXI sendo uma questão estrutural em nossa sociedade que interfere no bem estar físico, mental,intelectual e social do individuo comprometendo sua auto-estima e seu bemviver. E há quem seja contra as cotas raciais, diante de tantas desigualdades e faltas de oportunidades,vindas da escravidão como não pensar nelas, para um povo que ficou sem família, sobrenome, emprego, casa ,sem dignidade. Somos vitimistias? não, queremos reparação, que não é para a eternidade, mas ainda se faz necessária...nos dias de hoje. Falando desta canção me lembro de quando Martinho da Vila já preocupado com as questões Lusófonas tinha um projeto maravilhoso no Rio de Janeiro, no Campo de São Cristóvão, era um acontecimento Preto na cidade, O Kizomba nos anos de 1980, imagine! ( que mais tarde seria o nome de um samba composto por Luiz Carlos da Vila).
Não sei se alguém se lembra? Conheci homens e mulheres de todos os cantos, principalmente África e Angola. E nesse intercâmbio cultural as pessoas puderam realmente criar desejos aonde se delineavam talvez suas futuras expertises, pude me iniciar nos meu conceitos e anseios como “Mulher de cor?”, que era uma terminologia muito usada na época. Era muito jovem acabava de sair do segundo grau no Colégio Pedro II aonde pude exercitar bastante a vontade de romper barreiras e vencer desafios, era uma liderança. Foi realmente uma fase que não dá pra esquecer. Havia uma casa noturna de um africano que frequentávamos na Lapa, acho que na rua André Cavalcante, e ali se faziam muitos debates, aonde a fala da Mulher negra liderava em toda plenitude e desejo de um mundo melhor,” sinto este momento.” Tudo isto aconteceu por causa desse projeto de Martinho da Vila, com menos intensidade, tinha o Clube do Samba aonde tive alguns encontros proveitosos. Assim posso dizer que o samba sempre foi um lugar para me apropriar dos conhecimentos que desejava em todas as áreas. E ainda o Cacique de Ramos nas quartas-feiras, tudo junto na minha cabeça. E eu ali na guerrilha com homens da minha juventude que também lutavam por coisas que eu não perseguia, mas eu estava ali dialogando como estou até hoje. Arlindo Cruz um dia me disse em minha casa na tijuca,” o samba é um lugar de encontros e conhecimentos que tecemos nossas histórias”, mas você não serve pra Musa é igual a mim, hoje entendo isto como um grande elogio, pois nunca me corrompi em momento algum. falou pra mim. Ouvi e guardei como todas as outras colocações inteligentes e filosóficas que tinha. Estas são memórias realmente significativas. Quero poder com elas incentivar mulheres que atravessem meu caminho, a lutar por seus direitos e conhecer a história principalmente pelo cotidiano e pela vivência de cada pessoa, indo além dos livros, pois o modo de viver nos ajuda muito em relação as mudanças sociais e de paradigmas. Não existe nada mais enriquecedor do que conhecer pessoas e suas histórias...por isto digo, a mulher negra que vai à luta, pisa com vontade e não se esconde atrás de lembranças e sim faz delas uma forma de mudar a realidade não cometendo os mesmos erros está na linha de frente para vencer. Agir com amorosidade e ser estrategista e solidária com minhas irmãs.. Sou a mulher negra com esperança em dias de Guerra.
Márcia Lopes
À PRIMEIRA VISTA
À primeira vista Não te percebi Não te olhei nos olhos Não te dei motivos... À Primeira vista Não pensei sorrisos Não ouvi palavras Nem sussurros ouvi! À primeira vista Não haviam flores Não haviam aves Não se ouviam canções... À primeira vista As mãos não tremiam Os olhos não piscavam tanto As pernas não ficavam bambas... À primeira vista Era fácil entender o passo Escolher o caminho Desatar o laço... À primeira vista O coração não perdia o compasso O pensamento seguia o entendimento A razão coordenava a emoção...
À primeira vista Tudo era o silêncio O vento acalmava o calor Um analgésico abrandava a dor...
À primeira vista Não existia a luz Não existia o barulho Quase nada tinha valor... À primeira vista Minha paixão tinha pouco valor Meu eu não conhecia de verdade O sentido da palavra amor!!!
Junior da Prata
ESTANTE SUBURBANA 1 5 0 A N O S DE S U B Ú R B I O C A R I O C A Organizadores: Marcio Pinon de Oliveira | Nelson da Nobrega Fernandes Autores: Alfredo Cesar Tavares de Oliveira | Almir Chaiban El-Kareh | Antonio Jose Pedral Sampaio Lins | Laura Antunes Maciel | Luiz Claudio Motta Lima | Maria Lais Pereira da Silva | Rolf Ribeiro de Souza Editora: Lamparina Coeditora: EDUFF
S I N O PS E Este livro é uma bela homenagem à historicidade dos lugares, pois recupera a complexidade socioeconômica e cultural de uma vasta área do Rio de Janeiro geralmente desvalorizada pelo pensamento dominante. Essa homenagem implica uma recusa da seletividade espacial que sustenta a estrutura hierárquica e excludente da cidade; seletividade que naturaliza desigualdades sociais, estigmatiza a sociabilidade de grandes segmentos da classe trabalhadora e legitima privilégios econômicos e políticos.
V I T R O L I N H A S U BU R BA N A
BENZA, DEUS Luiz Carlos da Vila - 2004 Carioca Discos
SERÁ NOSSO EMBAIXADOR? Dizem que um hamburgueiro Lá pros lados de Brasília Sonhou em ir pro estrangeiro Era sonho de família Para conseguir tal feito Disse saber outra língua E que já era uma eleito Não morreria à míngua Embaixador nos 'esteites' Do país a honraria Homem de bem sem enfeites Não faltou-lhe a galhardia Fez-se uma sabatina Pra mostrar o que sabia Aquilo que mais atina O que em sua cuca cabia E num discurso vultoso Respondeu sem estertores Era um Impetuoso Frente aos nobres senadores "Pra mostrar que não blasfemo E do povo sou amado: Para fechar o Supremo basta um cabo e um soldado!" Disse que assim mostrava Que era bom de estratégia E que numa luta brava Estava acima da lei régia Muitos aplausos e até grito Ocorreram no Senado Nascia ali mais um mito Para o povo alienado?
Afirmou ter gabarito Para exercer a função Fritou muito frango frito E tem pós-graduação Disse ter experiência Pois até fez intercâmbio Fritava com eficiência E do inglês fazia usâmbio A verdade apareceu Tudo aquilo era teatro O hamburgueiro se rendeu Quase que fica de quatro Popeyes, onde trabalhou Hambúrguer lá não serviam Teve quem se levantou Não era o que previam Da internet veio um vídeo feito a cu de cavalo Pareceu mais suicídio Seu inglês não valia um galo De 'embroumeichon' recheado Parecia zoação Quem teria enviado O vídeo da gozação? Outra verdade chegou Veio da televisão Ele jamais se formou Na tal Pós-graduação Só não baixou seu topete Diante das revelações "Pra debaixo do carpete Varreriam as delações!" Disse que era doutor E não mudava uma vírgula Seria embaixador Ainda que nomeado por Calígula
J o n a s H é b ri o Sociólogo de Boteco
NAVIO PERDIDO Singrei em outros mares pra não sangrar meu coração, corri para outros lugares pra fugir da solidão. Sou um navio perdido em busca de um porto, sou um peito vazio, sou velho, sou moço. Não existe astrolábio pra mim, quem me guia quase sempre é um perfume de jasmim. Vai mar de ilusão, não me deixe sozinho, tu és o meu ninho, meu fruto e meu pão.
Marco Trindade
TIA MARIA DO JONGO
Tia Maria do Jongo mantinha e transmitia os ensinamentos que os Bantos trouxeram ao Rio de Janeiro no século XIX. Tais ensinamentos influenciaram sobremaneira o samba, participaram de sua criação. Seus pais, Etelvina e Zacarias, foram músicos e vieram de Minas Gerais para morar na Serrinha. No dia 14 de maio de 2019, Tia Maria do Jonto foi agraciada com o 'Prêmio Sim à Igualdade Racial', categoria Arte em Movimento. A família de Tia Maria do Jongo tem História, e muita. Foi seu irmão,Sebastião Molequinho, após o carnaval de 1947, quem convocou para uma reunião alguns insatisfeitos com os rumos que a Escola de Samba Prazer da Serrinha estava tomando e fundaram o Império Serrano em 23 de março do ano de 1947. A reunião ocorreu na casa de uma irmã de Tia Maria do Jongo, Dona Eulália do Nascimento. Outro grande baluarte do jongo, Mestre Darcy, foi quem convidou Tia Maria do Jongo para fazer parte do grupo jongo da Serrinha, o ano de 1977 marca o fato. Tia Maria do Jongo no dia 30 de dezembro de 1920 nasce, logo ali, na rua da Balaiada. A Tia, com toda sua família, estava sempre integrando as festividades da região, incluindo o carnaval, a escola de samba e o jongo. Ela participava como baiana do Império Serrano e o jongo assistia desde menina na Serrinha. O Mester Darcy a convida, no ano de 1977, para participar do grupo Jongo da Serrinha.
Tia Maria foi durante muitos anos a jongueira mais antiga do Jongo da Serrinha, passando a líder do movimento. A Tia dançava, cantava e compunha muitos jongos. E no quintal da sua casa que se confraternizavam com feijoada, ensaiavam, festejavam o dia dos Pretos Velhos, faziam a distribuição de doces no São Cosme e São Damião e se dançava muito jongo. Muitas tradições suburbanas eram mantidas tendo a Tia Maria do Jongo como incentivadora e muitas vezes líder de movimentos. Muitas saudades ficam, e um enorme legado para a Cultura Brasileira, para a Cultura Humana.
Malkia Usiku
Fonte: Disponível no site do Jongo da Serrinha: http://jongodaserrinha.org/historia-do-jongon o - b ra s i l /
A TEMPOZIÇÃO DAS ALMAS ÍNCUBAS OS CÍRCULOS ALQUÍMICOS DE CONHECIMENTO I
Alquimia é conhecimento antigo. Não se sabe sua a origem. chamado Iluminismo procurou dar fim à Alquimia. Claro, não conseguiu. Muitos estudam ainda os conhecimentos alquímicos. Em lugar da Alquimia criaram a Química. A Química é uma pequena parte da Alquimia. A Alquimia não é dura, mensurável, estável como a Química. A Alquimia é maior em tudo. Enganam-se aqueles que dizem ser a Alquimia uma ciência. Ciência é algo extremamente limitado para se dizer que o conhecimento alquímico seja ciência. Alquimia é Ciência, Arte, Filosofia, Matemática, Física, Química e também Anti-Ciência, Anti-Filosofia, Anti-Matemática, Anti-Física, Anti-Química. É também Proto-Ciência, Proto-Filosofia etc. e ainda também PósCiência, Pós-Filosofia etc.
É o Grande Conhecimento, o Conhecimento do Todo. A mente racional e científica do homem do Iluminismo e do Racionalismo não compreenderiam a Alquimia. Até que hoje em dia o conhecimento científico vem roçando no conhecimento alquímico. A Física se aproxima do quântico, a Química consegue criar elementos inexistentes na Natureza, a Matemática cria e recria mundos de dimensões múltiplas e infinitas, a Filosofia explora a relatividade da realidade através do ser e do não-ser, ambos transformadores. Até mesmo na Religião.
Uma das mais novas religiões do planeta terra é a Umbanda, religião brasileira, religião que funde conhecimentos religiosos das matrizes da cristandade, da pajelança, dos Orixás e do espiritismo científico. Tivemos o conhecimento da Alquimia sendo desenvolvido em diferentes cantos do mundo. Viram-na na Mesopotâmia, no Egito Antigo, no Império Persa, na Índia Antiga, na China Antiga, na Grécia Clássica, no Império Romano, no Mundo Islâmico, na América Latina Pré-colombiana, na Europa Medieval e Renascentista. A Umbanda é Alquimia. Só mudaram o nome. Assim como a Alquimia é um caldeirão de conhecimentos que abarcam e combinam elementos da Química, Física, Biologia, Medicina, Semiótica, Misticismo, Espiritualismo, Arte, Antropologia, Astrologia, Filosofia, Metalurgia e Matemática. Os Círculos Alquímicos do Conhecimento em muito se parecem com os Pontos Riscados da Umbanda. Os círculos do conhecimento estão por toda parte. O círculo do ying-yang chinês, o círculos das mandalas indianas, os círculos das danças mágicas dos pajés e xamãs, os círculos dos Dervixes, os cículos de andança no Candomblé, as giras da Umbanda, o Ourobouros (a cobra mordendo seu rabo formando um círculo), os círculos mágicos de magos e bruxas. Eu aprendi com o Mestre Hanan Negev, O Oitavo Alquimista, sobre os Círculos Alquímicos de Conhecimento. Eles poderiam ser usados para diversos objetivos. Um deles o de encontrar pessoas. Mas, por que então eu não os usava para encontrar as Almas Íncubas? Ora, simples, as Almas Íncubas são imunes às Magias do nosso plano. Aliás, na escala infinita dos planos, as Almas Íncubas só são alcançadas a partir do sextilionésimo plano, e a magia na Terra não alcança nem o milionésimo. Eram tardes agradáveis e aprendíamos com amor sobre a Alquimia. Em minha memória o texto da Tábua de Esmeralda me chega, não posso deixar de lembrá-lo:
Tábua de Esmeralda É verdade, certo e muito verdadeiro: O que está embaixo é como o que está em cima e o que está em cima é como o que está embaixo, para realizar os milagres de uma única coisa. E assim como todas as coisas vieram do Um, assim todas as coisas são únicas, por adaptação. O Sol é o pai, a Lua é a mãe, o vento o embalou em seu ventre, a Terra é sua nutridora; O Pai de toda Telesma do mundo está nisto. Seu poder é pleno, se é convertido em Terra. Separarás a Terra do Fogo, o sutil do denso, suavemente e com grande perícia. Sobe da terra para o Céu e desce novamente à Terra e recolhe a força das coisas superiores e inferiores. Desse modo obterás a glória do mundo. E se afastarão de ti todas as trevas. Nisso consiste o poder poderoso de todo poder: Vencerás todas as coisas sutis e penetrarás em tudo o que é sólido. Assim o mundo foi criado. Esta é a fonte das admiráveis adaptações aqui indicadas. Por esta razão fui chamado de Hermes Trismegisto, pois possuo as três partes da filosofia universal. O que eu disse da Obra Solar é completo. CONTINUA...
Pazuzu Silva
UM LUGAR NO SUBÚRBIO CENTRO CULTURAL CASA DO JONGO DA SERRINHA
Casa do Jongo, instalada no pé do Morro da Serrinha, em Madureira, reabriu depois do fechamento das atividades por falta de recursos, deixando 400 crianças e adolescentes sem aulas de dança, música, inglês, capoeira, costura, arte, entre outros cursos. O espaço, criado para manter a tradição da cultura africana, é o resultado de uma longa história que começou com os negros bantus escravizados que vieram do Congo e de Angola para o Brasil. Depois de libertos, muitos deles, que trabalhavam na lavoura no Vale do Paraíba e em Minas Gerais, se instalaram no Morro da Serrinha. Lá, gostavam de dançar o Jongo uma combinação de canto, de dança e de religiosidade. Mas a tradição corria o risco de se perder. Foi aí que, junto com o Mestre Darcy, Tia Maria, hoje com 97 anos, moradora da comunidade, filha e neta de negros escravizados, ajudou a criar o Grupo de Jongo da Serrinha e, assim, mostrar para os mais novos a importância de preservar aquela cultura. Em 2000, o grupo se tornou Organização Não Governamental (ONG), depois associação para, no ano seguinte, criar a Escola de Jongo. Em 2005, o Jongo foi reconhecido como Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Dez anos depois surgiu a Casa do Jongo.
Fonte: http://agenciabrasil.ebc.com.br/cultura/noticia/2018-03/casa-do-jongo-reabre-com-festa-hojen a - z o n a - n o r te - d o - r i o
PROVOCAÇÃO PÚBLICA
Preteridos pródigos Parceiros pleiteiam poréns Portanto processam pareceres prognósticos Padecem por parecerem privilegiados Protestam pedindo pertinências preciosas Prudente pros pobres Protestar paradigmas Padres, pretos, presos Preparados prá politizar Pensam proceder prá plenitude peculiar Passíveis persuasões prudentes perspicazes Ponto passo paro para predizer Pulsam petições profundas Particularmente patuscadas pífias Profundas provocações Pintadas pelos prédios pulverizadas Prévias postuladas piedosas Postam poucas promessas
Marcelo Bizar Escritor e Jornalista
Q U E M Q U E R S E R U M M I L I O NÁ R I O ?
Juarez, um camelô de Deodoro, tem que visitar alguns bairros levando sua mercadoria, sairá da sua casa e depois pra ela retornará para o jantar. Ele sabe que não precisa seguir uma ordem entre os bairros e que pode de qualquer dos bairros ir para o outro diretamente. Ele pediu ajuda a um amigo matemático para ajudá-lo a percorrer a melhor rota para que o tempo de viagem seja o mínimo possível. O matemático lhe respondeu. Dependendo do número de bairros será impossível sabermos! O Juarez começou a desconfirar se o Professor Newton é realmente um matemático... Voltaremos à essa história depois, eu prometo! Quando resolvemos escrever uma coluna sobre Matemática numa revista não científica foi com o intuito de mostrar o quão divertida, poética, intrigante, instigante, prazeroza, maneira mesmo, pode ser a Matemática, e também para discutir um pouco sobre a existência de uma matemática suburbana, como já falamos em outros textos. Hoje vamos falar que existe uma maneira de ficar milionário com a Matemática: resolvendo alguns problemas matemáticos que estão por aí em aberto. Alguns há décadas, outros há séculos e até milênios. Sim, há prêmios milionários para alguns problemas matemáticos! Revolvê-los é o grande problema! Quando você ouvir em falar na Ciência da Computação não pense nos programas que você está acostumado a usar no seu computador. Ciência da Computação é muita Matemática, muita mesmo. E existe um problema de Matemática em aberto, que dará a quem conseguir respondê-lo, um milhão de dólares. O nome do problema é suscinto: Problema P versus NP. Não é exagero dizer que se trata do problema mais importante da Ciência da Computação. E mais, sua resolução tem relevância para campos do conhecimento tais como a Engenharia e a Criptografia. Vamos ao problema! O nome é muito simples: "Problema P=NP." Sim, o nome do problema é simples assim. A ideia por trás dele também. Existem problemas que os computadores levam um tempo razoável para resolver, são os problemas P. Já os problemas NP são aqueles que nem o melhor supercomputador da IBM consegue resolver num tempo razoável. Matematicamente, o que os cientistas querem saber é se existe alguma forma de igualar esses tempos. Seria possível existir um meio de tornar problemas NP em problemas P.
Se não existir então P=NP é um sofisma matemática. Algo impossível de acontecer. Agora, se existir uma forma de P=NP as consequências seriam imenas para a humanidade. Alguns exemplos de problemas NP que temos são: a) envelopamento de proteínas: é o processo pelo qual proteínas em um organismo biológico obtêm sua estrutura. Uma compreensão melhor desse processo poderia ajudar no reconhecimento das mutações, ou mesmo impedi-las, possibilitando a cura de certas formas de câncer. b) otimização percursos: uma viagem com o melhor percurso possível através de 15 cidades diferentes sem passar pela mesma cidade duas vezes? Problema difícil de resolver, mesmo para um computador, por isso que na ciência da computação é considerado um problema NP. c) partida de xadrez perfeita: uma partida de xadrez têm infinitas possibilidades de movimentos, tanto que mesmo um supercomputador com capacidade extraordinária não é capaz de determinar uma tática perfeita. Muitos matemáticos consideram esse problema tão difícil que nem o consideram problema NP, mas o colocam completamente fora do âmbito de possibilidades. O que aparentemente é simples não é. Alargando um pouco mais a ideia por trás do problema é que sabemos que alguns problemas NP podem ser resolvidos até certo ponto, bastando testar os resultados que aparecem. Você de repente vai lembrar da aula de Combinatória (Teoria da Contagem, ou outro nome que seu professor possa ter dado). João está para sair e tem 2 calças e 3 camisas, quais são as possíveis combinações de vestimenta que ele poderá usar? Daí você percebe o seguinte: não sei se existe uma fórmula para isso. Mas, se você perceber dá pra gente contar manualmente. Suponhamos que as calças sejam uma branca e uma preta e as camisas sejam vermelha, azul e amarela. Então podemos combinar de forma bem simples: I. Calça preta com camisas vermelha ou azul ou amarela - 3 possibilidades. II. Calça branca com camisas vermelha ou azul ou amarela - 3 possibilidades Total de possibilidades 6 possibilidades. Agora, o problema dos problemas NP que realmente interessam saber se eles podem ser resolvidos num tempo P é que simplesmente não dá para testá-los um a um, não dá para "contá-los". Um exemplo de problema assim é o clássico problema do caixeiro viajante (que é o mesmo problema do Juarez lá do início do texto). Exemplificando, se o número de bairros do subúrbio que ele percorrerá for quatro, temos que n = 4. Chamando-os de bairros A, B, C e D, uma rota que o Juarez pode considerar seria: saia de A e daí vá para B, dessa vá para C, e daí vá para D e então volte a A. As outras possibilidades seriam: ABCDA, ABDCA, ACBDA, ACDBA, ADBCA, ADCBA. É fácil então verificarmos no Google Maps qual seria a melhor estratégia.
Matematicamente o que ele fez foi um conta bem fácil: resolveu o valor de 3! (três fatorial... você ainda lembra do fatorial!?). Fatorial lembra: 3! = 3 x 2 x 1 = 6. Como o A fica paradinho no início e no fim ele nem conta. Agora, se fossem vinte e um bairros, teríamos que resolver 19! (dezenove fatorial). O resultado de 19! é 121.645.100.408.832.000 (passamos do um trilhão). É, acredito que agora não há como verificarmos no Google Maps. Aliás, não é fácil nem para um Supercomputador. Então, quem quer ser um milionário resolvendo esse problema?
H e r a l d C o s ta