EXPEDIENTE Edição: V. 3, n. 03 - março de 2020 Periodicidade: mensal
Revisão: a revisão dos textos é feita pelo próprio autor, não sofrendo alteração pela revista (a não ser tão-somente quanto à correção de erros materiais). Diagramação: Marcelo Bizar Capa: concepção de Marcelo Bizar e Marco Trindade a partir de foto de Natalia Bezerra, in Wikipédia: Atribuição: "As fotos da Virada! / CC BY-SA (https://creativecommons.org/licenses/by-sa/2.0)." Di s p o n í v e l e m : <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Quinteto_em_Branco_e_Preto_e_D._Ivone_ Lara_(2449338907).jpg> Arte e Grafismo: Marcelo Bizar Distribuição: A distribuição da Revista Sarau Subúrbio é online e totalmente gratuita. Plataformas de leitura: https://revistasarausuburbio.com.br, ISSUU e Calamèo. Notas importantes: A Revista Sarau Subúrbio é uma publicação totalmente gratuita, sem fins lucrativos. Não contamos com patrocínio de qualquer natureza. Nosso objetivo, em linhas gerais, é servir de instrumento para que os artistas que não possuem espaço de divulgação nas mídias tradicionais possam apresentar seus trabalhos, nas mais variadas formas, seja na literatura, na música, no cinema, no teatro ou quaisquer outras vertentes artísticas, sempre de forma livre e independente. Todos os direitos autorais estão reservados aos respectivos escritores que cederam seus textos apenas para divulgação através da Revista Sarau Subúrbio de forma gratuita, bem como a responsabilidade pelo conteúdo de cada texto é exclusiva de seus autores e tal conteúdo não reflete necessariamente a opinião da revista. Editores Responsáveis: Marcelo Bizar e Marco Trindade Conselho editorial: Ana Cristina da Silva, Leonardo Bruno, Marcelo Bizar, Marco Trindade e Silvio Marcelo. Contato: sarausuburbio@gmail.com
EDITORIAL Mal passou o carnaval, a moçada ainda se recompondo dos dias de festa, com aquela pontinha já de saudade, e eis que surge esse lance terrível de epidemia, pandemia, covid-19, coronavírus, quarentena, todo mundo isolado em casa, um deus nos acuda, que tristeza, meu povo! Todavia nem tudo está perdido neste mês de março, não podemos esquecer da força simbólica do dia 08, data em que é celebrado anualmente o Dia Internacional da Mulher, dia de muita reflexão e luta. Para homenagear as mulheres, a capa desta edição estampa o rosto da grande compositora, cantora, suburbana, mulher pioneira, de fina sensibilidade artística, que fez história no Samba impondo sua feminilidade e negritude, estamos falando de ninguém menos que Dona Ivone Lara. Que seu legado seja sempre estudado, revisitado, refletido, e que seja fonte de muita inspiração. No mais, vamos respeitar a quarentena, todo mundo quietinho em casa lendo a Revista Sarau Subúrbio, e ouvindo muito Samba! Boa leitura, se cuidem, e fiquem com a nossa grande dama do Samba.
Candeeiro de vovó (Dona Ivone Lara / Délcio Carvalho) Vige, Minha Nossa Senhora Cadê o candeeiro de vovó Seu troféu lá de Angola Cadê o candeeiro de vovó Era lindo e iluminava Os caminhos de vovó Sua luz sempre firmava Os pontos de vovó Quando veio de Angola Era livre na Bahia Escondia o candeeiro Dia, noite, noite e dia Mas um golpe traiçoeiro Do destino a envolveu Ninguém sabe até hoje Como o candeeiro desapareceu
Vovó chorou, de cortar o coração Não tem mais o candeeiro Pra enfrentar a solidão Vovó chorou, chorou Como há tempos não se via Com saudades de Angola E sua mocidade na Bahia
SUMÁRIO 02 03 04 05 06 07 09 10 12 13 14 15 16 17 18 19 20 22 23 24 25 27 29 32 33 35 36 40
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EXPEDIENTE EDITORIAL SUMÁRIO SABORES TEXTUAIS ANTA O CASO DO PÃO-DURO A VIDA É UMA CIRANDA SOMOS CULPADOS SOBRE OS TELHADOS MULHER À CAPITAL DO SUBÚRBIO DONA NEUMA, A PRIMEIRA DAMA DA MANGUEIRA UM LUGAR NO SUBÚRBIO ESTANTE SUBURBANA VITROLINHA SUBURBANA ELISA SCHEID - UMA EDUCADORA SUBURBANA CARNAVAL E UMA DÚVIDA SHAPERVILLE É AQUI ARTISTA É TUDO VAGABUNDO MANECO, O SACI DE IRAJÁ CORONAVÍRUS, PURRINHA E BIOTERRORISMO TRECHOS DE TEXTOS DE CAROLINA MARIA DE JESUS MULHERES QUE NÃO SE ENCONTRAM, MAS ESCREVEM UM CONTO SEM TÍTULO DE JONATAN MAGELLA A TEMPOSIÇÃO DAS ALMAS ÍNCUBAS - O POÇO BOLSOVÍRUS FOI UM SAMBA QUE PASSOU EM MINHA VIDA BLOG DO TIZIU
SABORES TEXTUAIS Sem rodeios, dispara: ”Tia, não gosto de ler!” Compreensível! Tem lido o que? Pra que? Por quê? Vazio de respostas! Desejo em escassez! E sem fome, qual o estímulo para comer? Na tenra infância, leu: "Eva viu a uva." Texto vazio de sentido... Uva sem gosto, sem cor, sem aroma... Primeira recusa alimentar! Impossível gostar de ler sem, antes, saborear. Ato mecânico é engolir um texto. Lê-lo é degustar! É as emoções humanas alimentar. É basilar nutrir a alma e amadurecer o pensamento. Comer com os olhos! Cada página, cada enredo... A pirâmide alimentar pode (e deve!) ser mais diversa. Biblioteca do IFSP/Campus Jacareí Novas letras na sopa... Novos autores a folhear... Adicionar Fagundes Varela? Veríssimo? Olavo Bilac? Que tal começar por Pepetela? Conceição Evaristo? ou Sérgio Vaz?
Á g a t a Ne l z a G o m e s d e S o u z a Bibliotecária e Apaixonada por leitura
ANTA
Anos sessenta Pra falar de flores, Dylan, Joplin, Hendrix... Vietnã, França, Cuba, Israel, pra não dizer que não falei de mísseis. Anos setenta Terror, a Copa, Warhol e a Cola. Geração Perdida, Anos oitenta, E a vida segue louca e ciumenta. Ela, mistura de mulher e santa; Eu, uma anta.
Mas s ilon Silva
O CASO DO PÃO -DURO
O vendedor olhou para João e após fazer vários cálculos disse: - Tudo dá dois mil reais. - O que? Tá caro! – Contestou João. - Mas seu João é o preço cobrado na região. – Arriscou justificar o vendedor. - Mas o quê? Que eu tenho haver com o preço da região? – Disse João já demonstrando nervosismo. - Calma João. Tentou amenizar Catarina, esposa de João. - Não, não! Tá caro! Eu vou é ver outros preços. Proclamou João decido a sair do estabelecimento, mas impedido por Catarina que conciliadora disse: - Mas João, não tem mais ninguém que vende isso, sem contar com as horas, já é bem tarde. João era figura conhecidíssima na cidade de Barra Mansa, principalmente entre os vendedores do comércio local, já que a toda compra reclamava do preço, mesmo que este estivesse bem baixo. Era o popular pão-duro, e rezingava de tudo, independente do que fosse comprar, tudo era motivo de reclamações, e não abria mão de ganhar um desconto, mesmo que este desconto fosse menos de um por cento do valor do produto, isso não o importava, o que valia era o fato de ter conseguido o desconto e de ter economizado alguns trocados. E quando não conseguia o desconto, o que era raro acontecer, saía da loja cabisbaixo e magoado consigo mesmo. E quando interrogado sobre o motivo de tal pão–durismo ele olhava para seu interlocutor com feição séria e dizia: - Você por acaso tem ideia de quantas horas eu tenho que trabalhar para ganhar cem reais? E sem dar tempo para resposta continuava. - Meu amigo, você não sabe o sacrifício que eu passei em Minas Gerais na cidade de Liberdade onde nasci, até fome eu passei! Agora que eu tô com uma condição melhor, se eu não tomar conta do meu dinheiro quem vai fazer por mim?
E finalizava a conversa sem mais delongas. Nesta feita, após percorrer todos os estabelecimentos semelhantes e constatar que os preços eram todos iguais, permaneceu inquieto pelo desejo de pechinchar, apesar dos apelos de sua esposa que pedia urgência na compra do produto. - Meu amigo me dá um desconto? - Mas seu João, não pode, o preço já está baixo! - Baixo? Você acha que dois mil reais, é um valor baixo. - Para o que o senhor quer comprar é! – Respondeu o vendedor. Mas João não se dando por vencido, tentava a qualquer custo convencer o vendedor a lhe dar um desconto. - Na minha terra eu cansei de fazer isso, toda a vizinhanças me procurava para que eu fizesse, e sabe quanto eu cobrava? Nada! Absolutamente nada! Ficava tudo na amizade. Pois como eu fazia para os outros, alguém poderia fazer para mim quando precisasse. E você quer me cobrar dois mil reais? Isto me parece que é o fim do mundo. E a conversa continuava, de um lado João pechinchando, do outro o vendedor tentando se justificar pelo preço do produto, e entre os dois estava Catarina com ar triste aguardando a decisão do marido. - João, por favor, compra isso logo! – Disse Catarina querendo chorar. - Mas Catarina olha o preço? - João, por favor! Já é tarde e mamãe está esperando. – Disse ela já não conseguindo esconder as lágrimas que corriam por sua face. João revoltado vira para o vendedor e diz. - Tá bom! Dessa vez vou levar neste preço, mas o próximo eu quero desconto, e um desconto significativo. Além do mais, fique sabendo que só vou fazer isso porque é para a mãe da minha esposa. - Mas o senhor fez um excelente negócio! – Disse o vendedor triunfante. João não dando atenção atirou, a contragosto, o dinheiro em cima do balcão e disse ao vendedor. - Agora leva este caixão logo que a velha já deve estar até cheirando mal.
Celso Ricardo de Almeida
A VIDA É UMA CIRANDA A vida é uma ciranda A gente dança , roda, gira sem parar E às vezes descamba na corda bamba Só quem samba é quem não sabe lutar Vai na força do teu coração, vai com fé e pé no chão Vai , faz do tempo o seu amigo Segue na paz porque Deus está contigo. Nesta ciranda , felicidade é a gente que constrói Na simplicidade , sinta a cada dia gratidão Nesta ciranda a natureza é mãe generosa Só não vê quem não tem alma e coração Voa nas asas da poesia Pois o mundo não é casa de solidão Cultive o amor e amizade Assim sobreviverás na ciranda deste mundo cão.
Elaine Morgado
SOMOS CULPADOS Parabéns, minha cidade querida! Meu Rio de Janeiro amado! Hoje completas mais um aniversário, mas como tu tens sido sacrificada. As catástrofes que te assolam estão difíceis de suportar tanta lama e descaso que dá até vergonha catalogar. Morros deslizando, casas desabando e os políticos que te governam andando e evacuando. Tu tens se esforçado em superar suas desditas e se não estás pior é porque para Deus tu és bendita. Lutas em vencer o desleixo de seus governantes tentando dar um fim nessa miséria constante entretanto eles seguem enganando com falsas promessas e comportamentos arrogantes. Eles são sagazes e têm manha no falar Todavia somos nós que ano após ano enterramos um amigo, um familiar. Contudo não são apenas os estadistas culpados pela nossa adversidade nós também temos responsabilidade pelo “leite derramado”. Tuas ruas se transformam em rios e teus rios em mar: mar de água, mar de lama, mar de lixo. Nós não respeitamos tua geografia desmatamos tuas colinas e florestas e assentamos nossa esperança quando chega o temporal leva nossas lágrimas junto. Ninguém se prepara para as chuvas torrenciais e quando ela chega culpamos apenas o Estado porém não fazemos o nosso papel de fiscalizarmos o governo em tudo o que ele faz. É hora de colocarmos a “boca no trombone” e observarmos atentamente as “bocas-de-lobo” porque não dá mais para ver o teu honrado nome de Cidade Maravilhosa seguindo pelo Canal do Mangue. As tuas enchentes não são apenas calamidades naturais elas acontecem pela displicência governamental e populacional.
Parabéns, minha cidade querida! Meu Rio de Janeiro amado! Talvez no próximo aniversário estejas mais bem governada com políticos compromissados e de caráter comprovado que repensem estratégias de contenção que te livre do estrago das águas e do dano da corrupção. E que teus habitantes tenham mais o “pé no chão” para que as águas de março tragam benção e não maldição.
Edna das Dores de Oliveira Coimbra
SOBRE OS TELHADOS O que se vê por baixo de chuvas e céus É a tentativa de proteção Dos que são julgados réus Qualquer que seja o dedo apontado da mão Um arder de fogaréus Muitos juízos então Direcionados aos pobres Maioria que são Não se reconhecem fortes Escória da civilização O que se vê por esforço de braços É uma tentativa de cooperação Construção de barracos Meios de habitação Elevação de telhados Café, mortadela e pão Sem manteiga, com pouco açúcar Nula ou pouca condição De se seguir com a luta O nada no vão Furos de pedras e tiros Tudo em coleção Deus há de olhar para os filhos Que carecem de compaixão Mas são julgados indignos As chuvas carregadas estão De dificuldades vindas com força Dilúvio mal entendido por benção O desespero apresentando a forca Aos também membros do que se chama nação
Wallace Araujo de Oliveira
M U LHE R Não tenha medo Não tenha medo de ousar, nem de errar, não tenha medo de se arrepender nem de aprender. Não tenha medo de se mostrar nem de se impor, não tenha medo de seja o que for. Viva intensamente. Ame loucamente. Sorria irreverente! Se cair, levante, dê a volta por cima, refaça o caminho, sacode a poeira e mostre seu brilho. A vida é feita disso. De emoções, de dores, de perdas e de amor que é o condutor da felicidade.
Da n i C o i m b r a
À CAPITAL DO SUBÚRBIO As suas ruas, eu já conheço Pode passar anos, mas não esqueço. Desde a infância, me vem à memória De poder andar pelas suas ruas e saber sua História. O Prazer da Serrinha me encanta O Jongo Imperial é mais que uma Dança Madureira é forte, linda e Imperial Vem com o Santo Guerreiro para ser imortal. Vem ao Mercadão, vem!. Se encante, desfrute, descubra Quero que você se cubre de Axé E descubra que, no Mercadão, se encontra mais que miçanga, biju e Fé. Vou como posso à Oswaldo Cruz E exalto Paulo, Caetano e Rufino. Em Madureira sempre serei um menino E a ver sempre, no fim do Túnel, uma luz. Madureira é mais que o Império do Divino Madureira é mais que o azul de uma Tabajara É um Rio que enaltece essa Guanabara E, junto com Manacéia, Candeia o nosso destino. Caminho pelo Parque e sinto o cheiro de biscoito da Piraquê Turiaçu é príncipe e Madureira, rainha Irajá lhe passou a Majestade Soberana, venha reinar na Suburbanidade. O Viaduto se faz presente com o Charme Hei, psiu! Não se alarde! Aqui o Camelô não é ilegal É trabalhar o do Subúrbio dessa Capital Madureira é mais que um lugar É algo, uma ideia pra você abraçar Na desordem se faz a ordem Aqui todos vivem como podem.
DONA NEUMA A PRIMEIRA DAMA DA MANGUEIRA Filha de Saturnino Gonçalves, um dos fundadores do Bloco dos Arengueiros e também da Estação Primeira onde foi o primeiro presidente. Tinha outras duas irmãs, Dalila e Ceceia, e foram criadas ali na Rua Visconde de Niterói em uma casa com quintal e que tinha entrada pela rua e também pelo lado do morro, na rua Visconde de Niterói 990. Desde novinhas as irmãs eram amigas de minha mãe Isaura Meirelles e de Irene, mãe do ex-mestre-sala Lilico. Sua irmã Ceceia batizou meu irmão Ivan Meirelles. O pai de Neuma, Saturnino Gonçalves faleceu em 1935, quando ela e as irmãs eram ainda bem novinhas. Mas Neuma que já amava a Mangueira pegou a bandeira do pai como missão e seguiu em frente defendendo as cores verdes e rosa. Quando criança eu frequentava muito a casa dela que tinha um quintal confortável com uma árvore frondosa. Brincava muito com seu filho Montinho que faleceu aos dezesseis anos, único filho homem. Foram também minhas contemporâneas na juventude suas filhas Chininha, Ceci e Guezinha que batizou meu sobrinho Ivo Meirelles. Neuma tinha uma liderança natural e sua dedicação à Mangueira foi incrível. Nos anos 60 por intermédio de um politico conseguiu um telefone. A Sede da Estação Primeira era no Buraco Quente, muito humilde e sem recursos, então a casa dela funcionava como uma verdadeira subsede. Quando um jornalista quisesse fazer entrevistar ou reportagem com pessoas influentes na escola de samba, ligavam para casa dela e lá era marcado o encontro. Próximo a sede moravam, Tinguinha, Prego, Marcelino, Dona Raimunda velha baiana e primeira porta bandeira da história da Estação Primeira, e Preto Rico. Na Capelinha morava mestre Valdomiro e Nininha Xoxoba. Assim que os jornalistas chegassem qualquer criança que estivesse ali na casa da Neuma (Sim por que naquele quintal muitas crianças brincando e depois almoçavam por ali mesmo) se deslocavam pra casa dessas pessoas influentes para o encontro na casa da Neuma. Em suma naquela época os encontros entre jornalistas e diretores ou pessoas influentes na escola de samba eram sempre em sua casa. Em função disso a imprensa a reconheceu como a primeira dama da Estação Primeira e muito merecidamente. Naqueles tempos ninguém tinha telefone em casa e quando se necessitava de um socorro médico era de sua casa que ligavam para o hospital pedindo ambulância. Mulher bondosa, humana e solidária sempre disposta a ajudar quem precisasse dela, principalmente os mais carentes.
Onesio Meirelles Sambista, escritor e pesquisador
UM LUGAR NO SUBÚRBIO DENTRO DE CASA
Em tempos de COVID-19, nós suburbanos que não somos bobos nem nada, seguindo as orientações dos especialistas em Saúde Pública, entendemos que hoje o melhor LUGAR NO SUBÚRBIO é o seu próprio lar, queridos leitores e leitoras. Curta a sua casa, cultive suas plantas, aproveite o seu AP, ou seu quintalzão, aquele banho de borracha tá valendo, bote um samba bonito na vitrola, leia um belo poema, pois quando passar a quarentena estaremos juntos novamente!
*Foto da casa: Imagem de IevaLi in Pixabay
ESTANTE SUBURBANA
A ORLANDO SILVA 100 ANOS - O CANTOR DAS MULTIDÃ&#x2022;ES Jonas Vieira
VITROLINHA SUBURBANA
G U I N G A - DE L ร R I O C A R I O C A Gravadora: Velas Catรกlogo: 11-V008 Ano: 1993 Artistas: Guinga
ELISA SCHEID - UMA EDUCADORA SUBURBANA
Quem conhece o bairro de Engenho de Dentro já deve ter passado ou ouvido falar na Rua Henrique Scheid. O nome da rua é uma homenagem ao engenheiro da Estrada de Ferro Central do Brasil, que também era imigrante alemão. Porém, eu gostaria de destacar a trajetória de uma de suas filhas: a professora Elisa Scheid. Elisa além de professora elementar da municipalidade do Rio de Janeiro, teve uma interessante atuação no que diz respeito à vida operária no Rio de Janeiro no início do século XX. Elisa foi vice-presidente e relatora da Comissão de Redação e Instrução da União Operária do Engenho de Dentro, sediada a Rua Niemeyer nº 3, onde ela sempre proferia palestras. Nessa organização, organizou escolas voltadas para os operários e familiares destes. Ela acreditava que os proletários deveriam ter uma instrução intelectual e formal a fim de alcançar a “emancipação” e “liberdade”, conforme artigo de sua autoria publicado no Jornal do Brasil em 1904. Aliás, Elisa teve oportunidade de publicar diversos artigos não só no JB, mas também no Correio da Manhã. Em sua vertente jornalística destaca-se também o jornal A União Operária, que circulou pelo menos entre 1904 e 1905, o qual ela era redatora juntamente com Pinto Machado, líder operário de destaque. O Jornal do Brasil em 1901 salientava também que a professora Elisa Scheid defendia a organização de uma creche para os filhos de operárias e de outras classes de trabalhadoras. Além disso, Elisa foi presidente do pequeno Partido Operário Independente. A educadora parecia mesmo pensar a frente de seu tempo. Elisa Scheid nunca se casou nem teve filhos, dedicou sua vida à educação dos operários. No Ceará chegou-se a fundar uma escola operária com seu nome. Provavelmente faleceu no final da década de 1930. Ainda tenho muito a pesquisar e descobrir sobre essa fascinante mulher suburbana do início do século XX. Vamos à pesquisa!
Ana Cristina da Silva de Paula
CARNAVAL E UMA DÚVIDA O Carnaval 2020 foi marcante nos blocos pela Cidade, na disputa acirrada pelo campeonato do grupo especial na Avenida Marques de Sapucaí com belos desfiles e alguns ótimos sambas-enredo; confesso que vivi intensamente esse período entre vinte e dois de fevereiro e vinte e seis de Fevereiro (quarta feira de cinzas). Comecei já na sexta feira seguindo às 11h da manhã para a concentração do bloco das Carmelitas em Santa Tereza, logo ao chegar vesti minha batina preta de Padre e às 14h me juntei as Freiras na frente do cortejo, nesse momento meu coração explodia de alegria com o Ótimo samba dos amigos Luiz Fernando, Danilo Firmino, Domênico e cia; tudo perfeito e toda gente descendo a ladeira, ou quase perfeito eis que tomo um esbarrão na altura da cintura bem no lado esquerdo e uma jovem gordinha de um metro e sessenta sorri pra mim, logo retribuo com a benção típica do papado; passado esse minuto me distraio e uma mão sorrateira passa por baixo da batina e alcança o bolso da bermuda onde estava ele ( meu celular ), sinto que algo aconteceu e coloco a mão esquerda em cima do bolso então descubro que perdi o mobile para a punga...desci a ladeira feito um balão apagado triste caindo sozinho num valão às quatro da matina. Sabadou era dia 21 e já refeito da “facada” do dia anterior chego na Sapucaí às 21h para curtir pela primeira vez um camarote no setor 4 e desfilar na ala de compositores do Império da Tijuca, dia de desfile das Escolas de Samba do grupo de acesso A. No camarote tem comida e bebida fartas realmente é uma farra de excessos, o único problema é que não dá para assistir os desfiles, o espaço para isso é pequeno, mesmo com dois andares de extensão; só consegui ver a Unidos de Bangu, pois logo entendi a dinâmica do lugar. Amanheceu, e o primeiro Império do Samba passou bem, missão cumprida. O meu sonho do camarote foi realizado; gratidão! Domingo acordo às 12h, dia de relaxar e às 16h desço do apartamento na Rua Maria Amália e sigo em direção à praça Xavier de Brito que fica bem próxima, estou fantasiado de short, chinelo, camiseta e chapéu de velha guarda; dia de conhecer a famosa Marcha Nerd na Tijuca. Ao chegar percebo que estou num Mundo paralelo repleto de seres e fantasias inimagináveis, de onde vem esse povo? Acredito que todo carnavalesco de Escola de samba deveria fazer um estágio nesse evento que mistura tribos de todas as tendências de credo e cruz credo, leveza e metal, beleza e horror. A Praça está tomada e não para de chegar gente, encontro minha filha fantasiada de “Demônia”, ela me diz que “ano que vem vai ter que ser em outro lugar esse bloco”, pois o espaço ficou pequeno. Segunda Feira, oba! Dia de louvar Elza Soares na Sapucaí, foi uma espera gostosa onde curti cada minuto desde o momento de vestir o terno da Ala de compositores da Mocidade Independente de Padre Miguel, numa roupa que estava representando os professores da Diva; a caminhada até o Metrô ouvindo desejos de boa sorte e Salve a Mocidade, a chegada na estação praça onze e uma gostosa
concentração regada a beats e suco de cevada. Com um samba Lindo entramos às 3h da Manhã na Avenida, nossa ala a frente da Deusa em carne osso cantava a plenos pulmões para uma praça da apoteose lotada com sessenta mil pessoas em êxtase. Quanta energia fluiu naquele chão, foi difícil voltar para a realidade, uma manhã realmente inesquecível. Terça-feira, ufa! Acordei às 13h e como todo bom “atleta” desci para fazer um trabalho de manutenção fisiológica (passeio leve) num alcance de cem metros em busca de visões do carnaval e uns goles de chopp. Foi dia de seguir para a Intendente Magalhães no bairro de Campinho, noite de desfilar na ARES Vizinha Faladeira, nossa ala de compositores vinha com uma linda camisa vermelha repleta de notas musicais, calça e sapato branco, chapéu com fita vermelha e um lindo cavaquinho azul nas mãos. Nosso bonde saiu de Uber a meia-noite da Tijuca, deveríamos desfilar às 3h da matina. O detalhe é que duas ligas disputaram dentro do mesmo grupo de acesso “B” e a confusão já era prevista; dessa forma pela primeira vez desde 2009 fui até a avenida e não desfilei, pois tive que regressar em função de um compromisso, a Vizinha desfilou às 8h da manhã...dia triste esse. “Nas cinzas da quarta feira” (citando o poeta e bamba Otto Guilherme) consegui uma vaga no bar encontro dos amigos bem no bairro da Muda, fiquei no balcão em frente a TV, eram 16h e ali assisti atentamente o desfile das notas, quesito a quesito mensurando tudo que foi mostrado durante a passagem espetacular das Escolas do carnaval na Sapucaí, toda a repercussão e resenha depois ( que no meu caso terminou às 21h) encerrando os festejos de Momo. Chego em casa e vou dormir pelas 23:30 abençoado por um ar-condicionado geladinho no quarto. Acordo na quinta feira (dia 27) com uma forte dor de cabeça (são raras essas dores comigo) e muita tosse seca que perdura em tempo integral, no dia seguinte sinto uma fadiga impressionante e tenho febre a noite; resolvo investir na coristina D e cama, durmo 12 horas seguidas; chega o sábado das campeãs e não tenho força para desfilar com a Mocidade, nunca tive uma “virose” dessa proporção. Chega o Domingo (quarto dia da tormenta) tenho uma leve melhora e sigo com tosse (comprei mel agrião pra amenizar) e fadiga ( mal estar ). Na Segunda Feira, dia 02 de março, estou oitenta por cento bom com uma leve dor de cabeça e diarreia. Finalmente na terça-feira estou bom.Sobrevivi e hoje dezenove de março de dois mil e vinte achei importante registrar.
Rodolfo Caruso Poeta todo dia
SHAPERVILLE É AQUI! Neste mês de março estamos realizando os 21 dias de ativismo contra o racismo. No Brasil e em diversos outros países, esse período é marcado por uma série de atividades que têm em comum o fato de denunciar e combater essa prática nefasta que é o racismo. Num país como o nosso de passado escravista, onde os assombros da “casa grande” e da senzala se fazem presentes cotidianamente, urge que nos posicionemos firmemente contra essa e todas as outras formas de preconceito. Não avançaremos do ponto de vista civilizatório enquanto existir em qualquer espaço que seja essa prática tão hedionda que nos remete à barbárie humana, onde a marca fenotípica te insere ou te exclui, te qualifica ou desqualifica, te promove ou te reprova ou ainda, no limite da crueldade, determina quem vive e quem morre. Em 1960, no Bairro de Shaperville, na cidade de Johanesburgo (África do Sul), em plena vigência do regime de apartheid, o dia 21 de março entrou de forma trágica para a História. Dezenas de pessoas foram mortas e mais de cem ficaram feridas, quando a polícia racista sul africana interrompeu a tiros uma marcha dos cidadãos negros que reivindicavam o direito de ir e vir e o consequente fim da “Lei do Passe” que limitava, em muito, aquele direito. A sanha criminosa dos policiais deteve com cargas de artilharia de metralhadoras e fuzis, a justa marcha dos moradores de Shaperville. Em poucos minutos, em meio a gritos de dor e desespero, já podiam ser vistos muitos corpos tombados sobre a poeira das ruas e vielas. O sangue escorria de corpos negros e, misturando-se à poeira, formava o amalgama que denunciava ao mundo a crueldade e a insanidade ali registradas. Lá e aqui, a violência tem cor. O nosso cotidiano é igualmente marcado pela violência racial, mascarada de ação legal, castrando direitos básicos e consagrados da população negra. Aqui como lá vemos em ruas, becos e vielas ações criminosas perpetradas institucionalmente ou não. Portanto, mais do que nunca, torna-se necessário lembrar Shaperville e combater em todas as frentes o caráter desumano, predatório e cruel do racismo. Todas as lutas empreendidas contra o mesmo são necessárias. Como disse Angela Davis: -“em uma sociedade racista, não ser racista não é o bastante. Temos que ser antirracistas”! Vidas negras importam, todas as vidas importam.
Silvio Silva
ARTISTA É TUDO VAGABUNDO Hoje eu resolvi não trabalhar Vou cancelar todos os compromissos Deixar de lado a emoção Fazer parar a vibração Aquietar o coração... Hoje eu resolvi não trabalhar E vou apenas procurar ficar comigo Caminhar sem direção Pisar descalço pelo chão Quem sabe desbravar outra paixão... Hoje eu resolvi não trabalhar E vou sorrir bebendo um cálice de vinho Pular as pedras do caminho Sem dar bom-dia ao vizinho Saborear e ouvir cantar o passarinho... Hoje eu resolvi não trabalhar E ajudar quem acha sempre ter razão Fazer protesto contra a arte Se houver festa vou dar parte Que vão fazer barulho no planeta marte... Hoje eu resolvi não trabalhar Não vou cantar para você aquele refrão Talvez afrouxe a corda do meu violão Se for ligar o rádio vai ouvir um não Não vai ter Samba na palma da mão... Hoje eu resolvi não trabalhar Talvez até eu seja alguém imundo Não vou fazer poema, não vou ler um livro Não vou pintar um quadro E nem fazer Cultura pelo mundo... Hoje eu resolvi não trabalhar Vou criar um argumento e entender Olhar no espelho e meditar profundo Ir trabalhar prá quê se afinal Artista é tudo vagabundo...
Junior da Prata
MANECO, O SACI DE IRAJÁ
Terceiro goleador da história do América, 187 gols. Atuou no habilidoso ataque tico tico no fubá do clube rubro. Em 1947 chegou ao selecionado brasileiro. Em 1950 foi vice-campeão carioca. Comprou financiado uma casa na Rua da Prosperidade. Mas ela não veio. O que chegou foi o despejo e o desespero. Os oficiais de justiça arrombaram a porta. Maneco se matou. Tomou veneno com álcool. Morreu aos 34 anos em 1956. Cruel coincidência ocorreu com o quase xará Maneca. Atacante baiano do Vasco, também foi da seleção. Cinco anos depois, também usou veneno para tirar a vida. Uma multidão acompanhou o enterro do Saci de Irajá.
Orl a n d o Ol i v e i ra
CORONAVÍRUS, PURRINHA E BIOTERRORISMO - A culpa é dos americanos. - Alfredo, não parou com essa mania de achar que tudo é culpa dos americanos, não!? - Tá bom, falei besteira. A culpa é do governo americano. Obrigado, Paxeco pela observação. - É... já vi que não tem jeito mesmo! Vê se pode, Joninha. Nosso amigo Alfredo acha que o Covid-19 é uma arma biológica dos americanos. Pode isso? - E trouxe comigo umas anotações que mostram como as armas biológicas tem sido usadas de maneira bastante abrangente na nossa História e que foi usada atualmente também, pelo governo americano. - Olha isso, Joninha. O Alfredo está pensando que está numa daquelas aulas que ele ministrava no “Partidão” na década de 1970. Quando sempre vinha com suas teorias conspiratórias. - As aulas do Alfredinho eram sensacionais, Paxeco. Quase sempre tinham brigas ao final, mas ele sempre estava muito bem fundamentado historicamente. - Obrigado, Joninha, pela parte que me toca. Você sabe que eu nunca argumento sem fatos. Principalmente os fatos históricos. - Manolito, desce mais uma bem gelada. E uma rodada de maracujá pros três, pra mantermos a calma enquanto o Estálin não chega. - Boa pedida, Paxeco. Assim vocês podem ouvir minha tese com calma. E poderão tirar suas próprias conclusões, assim como tirei a minha. Por que o Estálin tá demorando mesmo? - Ele disse que só jogaria purrinha se trouxesse os “palitos especiais” que ele iria preparar. - Ah, tá vamos aguardá-lo então, Paxeco. Enquanto isso vocês ouvirão o meu argumento. É só um! - Sempre bom recordar os velhos tempos, meus amigos. Vamos aproveitar enquanto ainda não fecharam todos os bares aqui de Parada de Lucas. - Bem lembrado, Joninha. Vamos ouvir os fatos do Alfredinho, enquanto esperamos o Estálin pra nossa disputa de purrinha. Antes deixa eu agradecer ao Manolito pelo maracujá que está excepcional como sempre. E vou pedir também umas duas porções do melhor fígado de frango acebolado com pãozinho e azeite do nosso Estado e, quiçá, do nosso Brasil. Manda pra gente aí, cubano! - Ai, ai, ai... que cubano!? Onde está esse cubano aqui!? Já disse que sou do Suriname. A nossa estrela é amarela, não se esqueçam disso! Se continuar me chamando de cubano tasco a pimenta do Manolito no seu fígado! - Paxeco, deixa de provocação! Sacaneia o ‘guiano’, não! - Ai, ai, ai... até tu, Joninha! Que "sacanarrem"! Cubano, guiano… sou surinamês! Surinamês! - Senhores, posso começar!? Pois bem... - Esse cenário de guerra híbrida que estamos passando, com armas biológicas
como o Covid-19, começa com uma previsão de um ex-funcionário de uma grande rede social. Um tal de Martínez, em 2015, disse à época que em 5 anos, o que dá 2020, haveria um colapso mundial por causa da falta de trabalho para humanos, cujas funções poderiam ser feitas por robôs de alta capacidade tecnológica. - Quando chega a parte dos americanos, ou melhor, do governo dos EUA? - Paxeco, espera, deixa o Alfredinho falar, assim ele perde a linha de raciocínio. Só não entendi uma coisa: é híbrida ou biológica a guerra? - A guerra híbrida se utilizando de artifícios de outras guerras. Mas, deixa eu continuar. Então, em termos gerais, minha tese é que para conter o colapso mundial com a falta de trabalho, lançaram esse vírus, que mata mais pessoas idosas e que já possuem uma saúde fragilizada por outras doenças. Se morressem muitos idosos e doentes seria ótimo para as previdências sociais governamentais e para os sistemas de saúde público. Certo? - É mais o Covid-19 também já matou jovens, Alfredo. Sua tese não se sustenta! - Efeito colateral, meu caro Paxeco. Efeito colateral! - Armas biológicas são perigosas pois podem sair do controle. Como aconteceu quando cobertores contaminados com varíola foram dados aos nativos americanos durante a guerra franco-indígena, isso se deu por volta de 1759),e o capitão Ecuyer foi o responsável pelos presentes contaminados. - Sim, é verdade, Joninha. Aconteceu também em relação à Peste Negra na Europa. Os guerreiros mongóis que morriam por conta da Peste, tiveram seus corpos lançados sobre os muros de Caffa, que hoje se chama Teodósia, antiga cidade da atual República Autônoma da Crimeia, acabando por espalhar a Peste Negra por toda a Europa. - Alfredo, tristes lembranças. Lembrei que em muitos conflitos históricos usaram o método de lançamento de cadáveres de pessoas que morreram por contaminação de agentes biológicos. Atrocidades! - E o que tem mais, Alfredinho!? - Mais nada, Joninha. Era tudo o que queria dizer. Pra mim esse novo coronavírus foi criado em laboratórios americanos e lançado na China. Uma arma biológica secreta. Viu, Paxeco! Não foi uma aula, nem falei muito, como você estava pensando! - Ainda bem, Alfredinho... daqui a pouco mandam fechar os botecos e a gente não aproveitou nem um pouco... - Olha! Tá vindo o nosso camarada Estálin! - E aí Estálin, se atrasou muito pro nosso jogo de purrinha. Trouxe os tais palitos que você disse que só jogaria se fossem uns palitos especiais? - Olá, camaradas! Claro que trouxe. Passei álcool gel em todos os palitos, depois de lavar bem as mãos com sabão, e ainda trouxe luvas pra jogar! Vocês estão ligados nesse bioterrorismo que o governo americano está propagando pelo mundo pra exterminar socialistas e comunistas, né!? Estão ligados, companheiros!? - Manolito, desce pra gente uma bem gelada e cinco maracujás, por favor… cinco sim, eu vou beber logo dois!
J o n a s H é b ri o
MULHERES COLABORADORAS DA REVISTA SARAU SUBÚRBIO: PARABÉNS
Mês de Março, muitos acontecimentos, inclusive meu aniversário dia 06, que chega junto com o dia 8, Dia de Luta, Dia Internacional da Mulher, pensei vou homenagear minhas companheiras da Revista Sarau Subúrbio , Dorina Barros, Elaine Morgado, Bete e Ana Cristina. Estou escrevendo sobre Tecer Histórias com as mulheres e não faço isto com as colaboradoras da Revista, a minha escrita vem do encontro que acontece pela vida e tem objetivos bastante específicos,chegou uma boa oportunidade, na sua maioria não nos encontramos, não vamos ao teatro, ao cinema, não batemos um papo, não bebemos uma cerveja,mas com certeza de alguma forma nos admiramos, pois somos Mulheres e as mulheres pelo simples fato de ser, são admiráveis, não que sejam obrigadas , mas é a forma pela qual se coloca na sociedade nos vários territórios, o senso comum existe mas seu sentimento vai além dos estereótipos e dos gêneros. Então na escrita nos encontramos. Depois que começamos a passar pela quarentena do Codiv-19 comecei a refletir, escrevemos mensalmente em uma revista, compomos, cantamos , desenvolvemos outras profissões, somos filhas, irmãs, mães, esposas ou não e tudo mais. Cuidamos o tempo todo dos outros e da nossa própria vida. Precisamos estar juntas, estreitar, política-social-econômicamente, elevar o nosso espírito, trocar afetos, conhecer, buscar ter contato e entrelaçar nossas histórias para seguir evoluindo e aprendendo sempre.
Se talvez não tivesse um dia encontrado Marielle Franco no Movimento de Mulheres, não teria uma marca tão forte no meu coração, na despedida sempre dizia: Preta qualquer dia a gente se vê. São memórias de histórias tecidas que carregamos pelo tempo e então queremos todas as respostas e um samba nasce, Marielle Liberdade, com Louise Silva...O final é, a luta continua grande representação, e assim é a nossa vida repleta de lutas, isto foi há 2 anos, no dia 15 de março. Há alguns meses esta frase veio na minha mente - mulheres comprometidas se comprometem com as outras, isto é autocuidado. Um termo viralizado hoje em dia, mas que já é estudado e testado há muitas décadas. Cuidar para não desistir, caminhar junto e encontrar novos caminhos e ser capaz de ser a dona do seu destino... e suas vontades e desejos, ser livre para criar e para viver.. A escrita nos conduz ao infinito como dizem vários poetas homens e mulheres, é assim que percebo o mundo cheio de possibilidades e desafios, o maior deles é encontrar e dialogar com as pessoas. Um compositor na juventude me dizia, você não serve pra ser Musa, esta na disputa, amo os homens que compreendem a minha alma, sempre teve razão, não sirvo mesmo. Quando estive com Conceição Evaristo no dia 20 de julho de 2019 ela me disse “Fico feliz quando as mulheres negras continuam a minha escrita”, fiz uma homenagem pra ela com o Poema Mulheres de Minas de minha autoria na Roda da Moça Prosa , eu teci histórias com a Escritora desde os 15 anos de idade, quando se deu nosso encontro pelos livros e artigos. Quando a conheci no Rio de Janeiro nosso diálogo foi maravilhoso e me tornei sua eterna seguidora. É assim que se dá pelo respeito e admiração. Por isto mulheres, espero em breve encontrá-las para que possamos tecer, parabéns pela existência de vocês, pela compreensão que tem do mundo e por se entregar no que fazem com desvelo, amor e dedicação, colocando assinatura e revestida de vontade, chegando sempre pra vencer, mulheres não são inimigas como alguns nos fazem crer, elas são a potência do século XXI, vamos entrar nessa fila e cumprir nossa missão. Sejam vida. Felicidade absoluta independente de qualquer dificuldade. Gratidão a todos os homens que vieram ao mundo concebidos pela mulher para lutar conosco e os que se opõem se preparem, desistir jamais. Marcaremos um encontro presencial.
Márcia Lopes
TRECHOS DE LIVROS DE CAROLINA MARIA DE JESUS
Do livro Casa de alvenaria - diário de uma ex-favelada 17 de outubro ... Chegou um senhor que veio pedir-me para eu escrever uns versos para ele gravar uns discos, que está desempregado. Que assim como eu venci na vida ele também há de vencer. É compositor. Deus uns versos para ele cantar. Cantou. ele não conhece ritmo. Percebi que ele é um tipo que quer serviços leves. Eles esquece (sic) que homem, para vencer, tem que enfrentar qualquer especie de trabalho.
Do livro Carolina Maria de Jesus - Antologia Pessoal POETA Poeta, em que medita? Por que vives triste assim? É que eu a acho bonita E você não gosta de mim.
Poeta, está triste eu vejo Por que cisma tanto assim? Queria apenas um beijo Não deu, não gosta de mim.
Poeta, tua alma é nobre És triste, o que o desgosta? Amo-a. Mas sou tão pobre E dos pobres ninguém gosta.
Poeta! Não queixas suas aflições Aos que vivem em ricas vivendas Não lhe darão atenções Sofrimentos, para eles, são lendas.
Poeta, fita o espaço E deixa de meditar. É que... eu quero um abraço E você persiste em negar.
Do livro Diário de Bitita A FAMÍLIA O meu avô pai de oito filhos. Quatro homens e quatro mulheres. Os homens eram: José Benedito, Antônio, Joaquim, João Benedito. O João teve meningite em criança, ficou com o cérebro atrofiado. O Joaquim era o campeão da família. Nós o tratávamos de Tróhem. As mulheres: Maria Carolina, Maria Verônica, Ana e Claudimira. A tia Ana, "a Donda", seu apelido, casou-se com um mulato, Cândido Nunes. Deixou um filho, Adão Nunes. A tia Ana morreu com barriga-d'água. Quem descobriu a enfermidade foi o doutor Vicente Cândido dos Santos. E operou-a. Quando a água caía na bacia, eu ficava olhando aquela água verde, sem compreender as deficiências do corpo humano. E o doutor Vicente ficou famoso.
Do livro Pedaços da fome "Minha mãe, pensava ela, proporcionou-me os mais belos quadros da vida." Sua vida infantil, acrescentava, era a sua melhor recordação. E sonhava em brincar nos prados, construir castelos de areia. E a voz de sua mãe: - Que filha boazinha e bonita. Não lhe encontro defeitos!Eu quero que seja feliz. Quando você casar-se há de ser feliz. - Ela era tão pequena, não sabia o que era. Não devia ser infeliz. Ignorava as reviravoltas da vida. Tudo que a sua mãe lhe disse estava atingindo-a como se fosse uma profecia. O coração é um oráculo que às vezes define o futuro dos filhos: ela se opôs tenazmente ao seu casamento com Paulo. - Minha filha, este homem, não te fará feliz, tenho muitas dúvidas, parece que já estou vendo as atribulações que você irá passar.
Do livro Provérbios
(...) Não tem valor o amor onde se visa o lucro. As mulheres apreciam só os homens arrojados. Os que se iludem com as aparências, às vezes tropeçam num abismo. Os que são predominados num país, nunca têm razão. O homem ambicioso que pensa que é dono dos seus haveres, esquece que não é dono de sua vida. Às vezes uma árvore só consegue ser mais frondosa. É o que devemos fazer isolarmos dos que nos rodeia, se nos prejudica. O mundo modifica para os que reagem. Os vates dão valor as autoridades, porque reconhecem suas utilidades. O nosso melhor amigo é o que nos castiga ensinando, o nosso pior inimigo é o que nos agrada perdendo-nos. (...)
Malkia Usiku
Já faz quarenta anos desde a década de oitenta. Mas o velho não se esquece.Onde quer que se apresentasse como morador de Belford Roxo, escutava o mesmo comentário: Belford Roxo, a cidade mais violenta do mundo. Ele sabia, como todos os moradores antigos, que aqueles cadáveres que amanheciam jogados nas ruas da cidade não eram assassinados ali, mas trazidos de carros da capital e arremessados dos porta-malas de Santanas e Opalas. Belford Roxo é área de desova. Debochavam, contudo, de sua explicação. Para comprovar sua tese, ele se lembra, resolveu não dormir. Selou toda a casa, fez um furo no tijolo da parede e ficou espreitando o momento em que viriam os carros jogarem os corpos. Nunca conseguiu vê-los. Mas, orgulhoso e confiante em sua cidade, continuou a espera-los, dos anos oitenta até os dias atuais. Sempre desperto enquanto não havia sol. Até que, com quase setenta anos, na noite de hoje, jantou coma sensação de que os carros viriam. Não para despejar corpos, mas para buscar. Buscar um corpo.Triste era não poder esperá-los acordado, com aquele sono estranho e pesado que de repente sentiu.
J o n a ta n M a g e l l a
A TEMPOSIÇÃO DAS ALMAS ÍNCUBAS - O POÇO
O jeito era correr até o Rio Acari e pular em O Poço, saindo de vez de Suburbilênia. O problema seria se errasse o local. Talvez um cumpadrecitocabroneparça o ajudasse, mas as ruas estavam desertas. Aquilo estava estranho demais. Suburbilênia sem milhares de pessoas andando em suas ruas, não era comum aquilo. El Tonto resolveu então andar pela estação de metrô de Acari e, após descer as escadas em direção à plataforma de embarque, encontrou o motivo de os cidadãos de Suburbilênia estarem reclusos: pichado na parede o símbolo internacional de risco biológico ao lado de uma frase dizendo para todos permanecerem em suas casas, saindo somente para o estritamente necessário. Então era o motivo de todos estarem reclusos. Alguma ameaça biológica estava atuando em Suburbilênia. Pensou se poderia já ter se contaminado. Não saberia dizer. O mais importante agora seria sair rapidamente de Suburbilênia. Deveria arriscar-se. Ainda se lembrava muito bem das coordenas onde se encontrava O Poço: 22.825614ºS, 43.356315ºW. Agora era só correr em direção ao Rio Acari, dobrar à esquerda, correndo até o ponto das coordenadas e mergulhar em O Poço. O Poço com seus simbolismos. Representa a profundeza da terra, o oculto, mas também a verdade, a água, o tesouro que brota das terras. Não é a profundidade do poço que importa. Sem água não há vida, e o poço, é o mistério que envolve o surgimento da vida. No I Ching, livro sagrado presenteado aos antigos chineses, o poço destapado e cheio de água representa a felicidade, a sinceridade, a honestidade. O Poço, o poço que se encontra no Rio Acari e que é a única saída de
de Suburbilênia, é um poço formado dentro das águas. É um poço em que o obscuro e formado pelo revelado, as trevas são formadas por luz, por isso é um poço de grande poder. O Poço também representa fonte. Todos os tipos de fontes. Fonte como princípio, meio e também fim, por mais incrível que possa parecer. Poços iniciáticos são encontrados em muitas partes dos Multiversos e em muitos deles vemos escadarias, indicando que os poços também são passagens. No poço reside uma das Sínteses: no poço o sagrado é a síntese-dos-trêselementos. Água, Terra e Ar. O Poço representa a ligação do que está de um lado e do outro, do que está acima e abaixo, do que está dentro e fora. Em Números 21:16 lemos o seguinte: "A seguir, foram para Beer. Esse é o poço a respeito do qual Jeová disse a Moisés: “Ajunte o povo para que eu lhes dê água.” O que torna interessante a associação entre água e cerveja, mas, apesar de achá-la enigmática, nunca soube pelos II (IniciadosInstruídos) se isso significava algo além de pura coincidência. El Herói de Las Gentes sabia de todo esse simbolismo. O que lhe preocupava sobremaneira era que tinha se esquecido das exatas palavras que o levasse de volta ao Subúrbio do Rio de Janeiro. Isso ele tinha se esquecido, mas não poderia permanecer em Suburbilênia com o risco de se contaminar. Na verdade ele já poderia estar contaminado. Procuraria saber disso depois. O dia já estava indo embora. Logo seria noite. Resolveu que se arriscaria. Pularia em O Poço. Chegou na entrada da Estação de Metrô de Acari, olhou para os lados, para todos os lados e para cima também. Ninguém à vista. Correu. Corria o mais que podia. Corria. Acabou derrubando uns latões que estavam no caminho. Foram ali colocados deliberadamente. Teve certeza quando ouviu outros passos correndo em sua direção. Olhou para trás e não podia acreditar no que via: uma multidão o perseguia. Atrás dele estavam Zumbikiumbaindavivos, SANOS e os cumpadrecitoscabronesparças de Suburbilênia. Engraçado que todos estavam usando máscaras cirúrgicas. Soube então que no ar estava a contaminação de Suburbilênia, mas nada podia fazer naquele momento. Corria o mais rápido que podia. Corria. Corria muito. Até que chegou em 22.825879ºS, 43.356177ºW e saltou para O Poço!
Pazuzu Silva
BOLSOVÍRUS Praga Erva daninha Pandemia. Contramão Desvario Epidemia. Purulento SER Abjeta criação Escuridão do planeta Gameta perdido. Aqui no subúrbio Já encontramos O antídoto: A guilhotina da Ciência suburbana!
Marco Trindade
E FOI UM SAMBA QUE PASSOU EM MINHA VIDA...
1. Depoimento de Clรกudia Barros - ABR 2018 https://soundcloud.com/sarau-suburbio/depoimento-1
2. Depoimento de Elizabete Craveiro - ABR 2018 https://soundcloud.com/sarau-suburbio/depoimento-de-elizabetecraveiro
3. Depoimento de Amรกlia - MAI 2018 https://soundcloud.com/sarau-suburbio/dep-de-amalia
4. Depoimento de MaurĂcio Pereira - JUN 2018 https://soundcloud.com/sarau-suburbio/depoimento-demauricio-pereira
5. Depoimento de Junior da Prata - JUL 2018 https://soundcloud.com/sarau-suburbio/depoimentojunior-da-prata
6. Depoimento de Onesio Meirelles - OUT 2018 https://soundcloud.com/sarau-suburbio/depoimentode-onesio-meirelles
7. Depoimento de Geiza Kelly - DEZ 2018 https://soundcloud.com/sarau-suburbio/depoimento-geiza
8. Depoimento de Marco Trindade - ABR 2019 https://soundcloud.com/sarau-suburbio/fspmvtrindade
9. Depoimento de Marcelo Bizar - OUT 2019 https://soundcloud.com/sarau-suburbio/depoimentobizar
• Na edição de dezembro de 2019
10. Depoimento de Elainde Morgado - DEZ 2019 https://soundcloud.com/sarau-suburbio/elaine-morgado
Muitos outros depoimentos ainda estão por vir no “Foi um samba que passou em minha vida”. O samba, assim como o choro, são gêneros musicais nascidos no subúrbio carioca e faz parte da trilha sonora de muitos suburbanos. Matamos saudades dos depoimentos que qui estão e tenho certeza que ouviremos juntos muitos outros que virão!
Marcelo Bizar
HORA DE FICAR EM CASA A hora é de ficar em casa Se proteger em quarentena Não vou bater a minha asa e ficar quieto sob a pena O certo é ficar no lar Protegido isolamento Segurança não tem par Previne qualquer lamento A OMS já explicou Esse vírus não é coisinha Não acredite em quem falou Que isso é só uma gripezinha Quem o disse é bem pior Que o Covid-19 Capaz seja uma besta-mor ou ignorância aprove Com certeza é mais letal Que o novo coronavírus Escolhe só entre o mal Pois é uma "Anta-vírus"
Tiziu