EXPEDIENTE Edição: Ano 01 - Nº 08 - Dezembro de 2018 Periodicidade da publicação: mensal Idioma: Português (Brasil) Editores: Marcelo Bizar e Marco Trindade Conselho editorial: Marcelo Bizar, Marco Trindade, Sônia Elã, Kátia Botelho Secretária-geral: Sônia Elã Revisão: a revisão dos textos é feita pelo próprio autor, não sofrendo alteração pela revista (a não ser tão-somente quanto à correção de erros materiais). Diagramação: Marcelo Bizar Capa: Concepção: Marcelo Bizar e Marco Trindade; Arte e Grafismo: Marcelo Bizar Imagens: todas as imagens não creditadas foram retiradas da Internet, tendo optado o Conselho Editorial da revista por não identificar seus autores quando desconhecidos. Contato: sarausuburbio@gmail.com, https://sarausuburbio.wixsite.com/revista. Distribuição: A distribuição da Revista Sarau Subúrbio é online. Encontra-se em diversas plataformas da Internet. Em seu sítio: https://sarausuburbio.wixsite.com/revista, e também: ISSUU, Calaméo e alguns blogs: Sapoblogs, Recanto das Letras e Bloger. Notas importantes: A Revista Sarau Subúrbio é uma publicação totalmente gratuita, sem fins lucrativos. Não contamos com patrocínio de qualquer natureza. Nosso objetivo, em linhas gerais, é servir de instrumento para que os artistas que não possuem espaço de divulgação nas mídias tradicionais possam apresentar seus trabalhos, nas mais variadas formas, seja na literatura, na música, no cinema, no teatro ou quaisquer outras vertentes artísticas, sempre de forma livre e independente. Todos os direitos autorais estão reservados aos respectivos escritores que cederam seus textos apenas para divulgação através da Revista Sarau Subúrbio de forma gratuita, bem como a responsabilidade pelo conteúdo de cada texto é exclusiva de seus autores e tal conteúdo não reflete necessariamente a opinião da revista.
EDITORIAL Modéstia à parte, nós aqui da Revista Sarau Subúrbio também nos atrevemos a dar nossos pitacos sociológicos (risos), um deles inclusive tem a ver com o mês de dezembro. Vocês já irão entender. Em nossa opinião, uma das chaves para se penetrar na alma do povo brasileiro é tentarmos sentir de verdade a relação entre o que se imagina profano e sagrado, algo bem retratado em nossa cultura popular. O mês de dezembro, por exemplo, é bastante ilustrativo. Por um lado, representando o sagrado, é o mês em que o Cristianismo celebra o nascimento de Jesus Cristo, período onde Cristãos ou não-cristãos se deixam “amolecer” de certo modo, tocados por uma espécie de espírito de fraternidade. Por outro lado, simbolizando o profano, em dezembro comemora-se o dia nacional do Samba, maior expressão da cultura popular brasileira, gênero musical vinculado à festa pagã que arrasta multidões em nosso país, que é o carnaval. Além disso, não podemos esquecer que dezembro é marcado como sendo o mês de nascimento, daquele que para muitos críticos continua sendo o maior compositor popular de todos os tempos do Brasil, o poeta mundano, o inveterado boêmio Noel Rosa. Logo no início do mês o Rio de Janeiro, é agitado pelo “Trem do Samba”, levando milhares de apaixonados da Central do Brasil até o subúrbio de Oswaldo Cruz, em uma festa digna de todos os aplausos, dia de felicidade nos subúrbios, certamente. E quando chega o Natal não é diferente, a festa continua, sob o forte calor de nossa Terra adorada, ao longo do dia e mesmo durante a ceia, o profano e o sagrado dão as mãos, entre uma reverência e outra, toma-lhe cerva gelada e banho de borracha pra aliviar o calor, quem não tem grana para o bacalhau e outros quitutes mais caros, ataca com o bom e velho churrascão. E na vitrola um disco de Samba, porque ninguém é de ferro. No subúrbio é assim! Um Feliz Natal com paz, amor e muito Samba para todos os leitores e leitoras da Revista Sarau Subúrbio.
Natal Diferente (Arlindo Cruz e Sombrinha) O meu natal não tem ceia Nem vinho, nem bacalhau Pra quem tem samba na veia Isso é normal, isso é normal E pode ser lua cheia Ou noite de temporal Que o pagode incendeia lá no quintal (...)
SUMÁRIO 02 - Expediente 03 - Editorial 04 - Sumário 05 - Sem refrão 06 - Um Natal todo dia 07 - Xerém, a terra de pagodim 09 - Dia de samba com o grupo raízes fortes do samba 11 - Os sambistas 12 - Poeta da Estação Primeira 14 - Novembro e dezembro, meses de conscientização 15 - A Literatura da Baixada não é um safári, muito menos um jornal sensacionalista 17 - Natal no subúrbio 18 - Foi um samba que passou em minha vida 19 - Os Impérios do samba 21 - Fantasmas do Natal 23 - Um Natal em Marechal 24 - Um lugar no subúrbio 25 - Uma polêmica histórica do samba: Wilson e Noel 28 - Botequins e eu suburbanista 30 - Como o samba desabrochou em mim 31 - Biblioteca Suburbana 31 - Discoteca Suburbana 32 - Matemática na roda de samba 35 - Dez anos sem Luiz Carlos da Vila (3ª parte) 41 - Temposição das Almas Íncubas - Segundo Pentakapite - lIII. Olfato 44 - Vila Isabel e Noel Rosa - um história sem fronteiras 45- Revista Sarau Subúrbio visitou o Quilombo do Camorim 47- 110 Anos de Umbanda 49- Blog do Tiziu
Sem refrão Me perdi entre acordes Para tentar te esquecer Mas ao fechar os olhos Ao final da canção Pude apenas ver você... Fui trocando palavras Desviando a tensão Entre batidas e ritmos Foi um rock, um blues Hoje é samba-canção... Comecei em Ré Maior Fui baixando meio tom Seguindo sempre o compasso Respeitando os caminhos Que indicava o coração... Num compasso quaternário Quatro tempos para sorrir Quatro tempos para sonhar Um intervalo para um sim E uma vida para amar... Fui solando e dedilhando As nuances do pensar Fiz solfejo e desejei Quando o som silenciar A canção recomeçar!!!
Júnior da Prata
U m Na t a l t o d o d i a Caríssimos, leitores e colaboradores, é tempo de natal! Data que reservamos para celebrar o nascimento de um Avatar, Para muitos o maior de uma vasta casta divinal E do qual muitos ainda aguardam o advento. Mas deixemos as religiões de lado, Elas provocam muitas divergências, E absorvamos os bons eflúvios exalados Neste mágico período de excelência. Quando os espíritos se enternecem, Uma aura de fraternidade nos envolve, Os odores dos maus fluidos se arrefecem E a amabilidade ao nosso âmago revolve. Que as emanações das essências deste momento Norteiem as nossas ações e reações, Tornando-as fraternas nesses tempos cinzentos Assoberbados por extremas pressões. Que no transcorrer do ano novo Nossas expectativas de renovações Ao quebrarem, mais uma vez, a casca do ovo Encontrem os desígnios das boas aspirações. E assim meu povo! Façamos um esforço sobrenatural Para celebrarmos o natal A cada dia do ano novo.
Kaju Filho
Xerém, a terra de pagodim A terra de Pagodim tem cascatas e morros e matas tão bonitas de se admirar... tem morenas e louras, mulatas tão boas de um ser desejar. A terra de Pagodim é de beleza pura e singela que a gente precisa cantar e tem também dona Estela, que faz em suspiros sonhar. Por falar em sonhos, há tantas igrejas onde o povo de vida modesta sonha anjos, céu, paraíso, confiante que, partindo desta, só terá razões de sorrisos. Na terra de Pagodim não se sonham tão só sonhos místicos, eu vejo também sonho artístico de quem samba nos botequins. Lá tem muita moça bonita com sonhos de Cinderela e tem também a Rosita, que não é tão moça, mas também é bonita e sonha também namorar, mas o marido - bandido! insiste em nunca deixar. A terra de Pagodim tem time de futebol treinando e uma meninada sonhando aplausos, estádios, fortuna. A terra de Pagodim tem casas e ruas singelas, tem bares de muita alegria, lugares de muita poesia, tem, não nego, suas mazelas,
A terra de Pagodim tem time de futebol treinando e uma meninada sonhando aplausos, estádios, fortuna. A terra de Pagodim tem casas e ruas singelas, tem bares de muita alegria, lugares de muita poesia, tem, não nego, suas mazelas, mas não há como enfim não louvar a terra de Pagodim.
Ba r ã o d a M a t a
Dia do Samba com o grupo Raízes Fortes do Samba Comemorações ao Dia Nacional do Samba acontecem por toda cidade. Muitas delas, já bastante conhecidas pelo público, ficam lotadas de pessoas. Muitas sequer sabem o que o dia significa. Não me entusiasmo em participar da comemoração do samba nesses eventos midiáticos, até por que sei da dificuldade de ir, ficar e até mesmo sair de multidões. Mas, sou amante do samba e do choro. Sou músico, toco violão de sete cordas. Toco por paixão, toco por amor. Minha profissão sempre foi a advocacia. Eu acabo me contagiando com o clima vendo reportagens na televisão, lendo matérias nos jornais (sou fanático por jornais, não sei se já disse isso aqui em alguma outra crônica. Leio três jornais por dia, benefício da minha aposentadoria), ouvindo as notícias no rádio. O orgulho de sermos o país do samba vem à tona. Acho isso bonito, mas digo para meus amigos sempre: - Dia do samba é todo dia. Aliás, dia do choro também. - Hora essa e tem dia do choro? Nunca ouvi falar, "Tero" (é como o Anselmo me chama desde moleques correndo nas ruas de Mesquita, na Baixada Fluminense). - Pois é, tem dia do choro sim, Anselmo. É comemorado no dia do nascimento do nosso mestre maior o Pixinguinha. No dia vinte e três de abril. - Se lembraram do Pixinguinha, que bom. Esse cabra merece a homenagem. - Concordo plenamente, Anselmo. Antes deles tivemos nomes importantes do choro: Joaquim Callado, Anacleto de Medeiros, Chiquinha Gonzaga, Ernesto Nazareth, dentre outros, dentre outros. - E muitos nomes importantes vieram depois, não é não!? Eu gosto muito desses dois rapazes aí o Yamandú e o Hamilton de Holanda. - Sim, são excelentes músicos. E levam nosso choro pro mundo inteiro. Você deve saber que eles tocam músicas do Pixinguinha, não sabe? - Claro que sim, Tero. As músicas do Pixinguinha não são datadas. São músicas que vão fazer parte do repertório de muita gente ainda. - E o dia do samba!? Você sabe que é dia dois de dezembro, não sabe? - Sim, disso eu sei. Todo ano tem o Trem do Samba, ideia do Marquinhos de Oswaldo Cruz. E quem nasceu nesse dia pra ser homenageado? - No caso do Dia Nacional do Samba não tem a homenagem de nascimento de um grande sambista. A data é marcada pela primeira vez que o compositor Ary Barroso foi à Bahia. Foi ideia de um vereador de Salvador. Bem, foi assim que li num dos meus jornais. - Estranho, não! Coisas do samba, como se diz por aí!
- E Anselmo, uma espécie de trem do samba já existia antes de 1995 quando o Marquinhos organizou o evento. Já na década de 1930, o Paulo da Portela, reunido como outros sambistas de Oswaldo Cruz e Madureira, voltando no trem das 18h5min rumo ao subúrbio depois de um dia de trabalho, durante a viagem discutiam como seria o carnaval e essas reuniões sempre acabavam em samba, muito samba. Excelente a ideia desse garoto o Marquinhos de Osvaldo Cruz reviver esses encontros no trem. - Ô, meu mestre Tero! Que aula, irmão! - Ora, deixa de bobeira, irmão! São os jornais, tudo nos jornais. Os bons jornais pelo menos. Mas deixa eu te mandar o recado. Então, eu não vou nos grandes eventos, mas aqui pertinho de casa, num barzinho em Rio das Pedras, vai tocar um grupo em que um de meus alunos de violão faz parte. Sai daí de Mesquita e vamos lá. - Que bom! Vamos sim, vamos sim! Qual o endereço? - Vem aqui pra casa. Ele vem me buscar de carro, você vai junto com a gente. Vale muito ir! - É mesmo, por quê? - Eles são todos jovens, na faixa dos vinte e poucos anos. São entusiastas dos sambas antigos, sabe! No repertório dos meninos tem Noel Rosa, Wilson da Silva, Candeia, Cartola acho que o mais novinho do repertório deles é o Paulinho da Viola! O Anselmo riu muito do que falei no final da nossa conversa ao telefone. Claro, era uma piada. Na verdade foi quase uma verdade. O grupo dos garotos, Raízes Fortes do Samba, queria tocar sambas dos "antigos mestres" que, segundo eles chegaram à conclusão, "iria até o Paulinho da Viola do segundo LP, o "Foi um rio que passou em minha vida", só que o dono do bar pediu que tocassem também "uns sambinhas mais conhecidos do povão, né!?". Eles cederam em parte com um repertório "moderno", que na verdade eram regravações feitas de sambas antigos. As raízes do samba continuam forte! Axé, saravá!
Antero Catan
Os S a m b i s ta s Os surdos e os tambores afinados mais do que conhecia a cultura humana que da monumental África Subsaariana, por mares sangrados, aqui chegaram na terra-pau-brasil, além das americanas Em ritmos e compassos assimilados muito mais do que poderia ser dita profana entre gente preta, vermelha e branca edificaram a nação de caipirinhas, cajus e cachaças musicaram O compasso dois por quatro dominando em sincopados e batidas invertidas de harmonias refinadas de sangue-história trazidas os ritmos inusitados mestiçavam misturados com as danças dos lusíadas na pajelança dos Tupis e Tupinambás (que aqui já batucavam) nasceu o samba o filho mais ilustre da terra de lundus, jongos, cateretês, maxixes, maculelês, cirandas, cocos e emboladas originado Os sambistas perseguidos não se entregaram e até hoje em dia são os guerreiros que não desistem de levarem a todo o mundo a cultura de seus sambas verdadeiros pois no sangue o batuque se instalou um novel DNA cromossomizou e a herança das terras quentes orientais ficou de uma marca a ferro-quente desenhada: a do nosso samba brasileiro revelada
Marcelo Bizar
Poeta da Estação Primeira Se eu fosse poeta, seria o seu nome que eu chamaria nos dias escuros. Se eu fosse poeta, a minha bandeira seria o seu passado e o seu presente de glórias. Se eu fosse poeta, o meu refúgio de paz seria o seu barracão. Seu eu fosse poeta, a minha rotina de fé seria buscar o seu cruzeiro de oração. Se eu fosse poeta, minha massa de criação seriam seus corpos cheios de calor e seus becos repletos de vitalidade. Se eu fosse poeta, o meu coração eu deixaria descansando no colo de uma linda cabrocha, de tantas que enfeitam seu reino de bambas. Se eu fosse poeta, eu queria ter a idade da sabedoria de uma velha guarda imortal.
Se eu fosse poeta, das cinzas das quartas-feiras silenciosas, eu faria renascer todos os poetas que sua aldeia pariu, e que hoje estão encantados nas suas árvores, nos tamborins, nos sorrisos mirins de esperança, nos violões e cavaquinhos, nas vozes e no canto, nos pés descalços que pisam o terreiro, nos negros abraços de afeto Se eu fosse poeta, o meu sangue eu tingiria de verde e rosa, num ritual de paixão. Se eu fosse poeta, eu passaria meus últimos dias sambando no meio do povo, vivendo no seio da escola, morando de braços dados com A dor e com a alegria... Eu morreria em Mangueira. Marco Trindade
Novembro e dezembro, meses de conscientização O Quilombo hoje fez muita festa. Bebemos e cantamos pelo Dia Nacional do Samba. Se bem que aqui todo final de semana fazemos nosso samba. Nestes meses tão importantes pra nossa consciência, não se poderia esperar nada diferente. Zumbi foi lembrado e homenageado. O samba também foi lembrado e homenageado. Atualmente querem fazer a Terra ficar plana novamente. E, pra quem tem leituras mais atentas, querem denegrir a imagem e a figura de Zumbi dos Palmares e a importância do samba na formação, identidade e cultura brasileiras. A mesma desinformação que fizeram com as religiões de origem afro ou afro-brasileiras, temos que ficar atentos. Alertas! Fiquemos muito alertas pois há uma massa de pessoas que se escondiam e que agora, com o falso poder que sentem ter (ilusão criada pelas redes sociais e a guinada ao Fascismo), mostram sua cara. O lindo samba do genial Luiz Carlos da Vila, diz claramente que "Valeu, Zumbi!". Sim: Valeu, Zumbi! Valeu também Dandara e tantas e tantos outros e outras. Em parceria com o querido amigo Marcelo Bizar, fizemos um samba falando dessas coisas... ih! Faz um tempinho! Mas, melhor deixar quieto.
No s s a l u t a c o n t i n u a Olha pra dentro de si E um belo samba encontrará Se você for brasileiro Há de ouvir forte um pandeiro E um coro em "lá, rá, lá, iá!" Um toque tão promissor Cheio de luz e calor Assim se desenha um bamba É certo que devemos agradecer A quem nos fez tanto querer Lutar bravamente pela nossa cor Valeu, Zumbi! Valeu, Dandara! Salve a nossa jória rara: Nosso samba nos faz vencedor E nossa luta nunca termina Querem nos dizer que é sina Mas isso nós podemos mudar
A nossa liberdade vai brotar Quando o forte canto de dor ecoar Quebrando as correntes da injustiça Pois o samba é o doutor da vida Sempre encontra a melhor saída Cadenciando em qualquer lugar É certo que devemos agradecer A quem nos fez tanto querer Lutar bravamente pela nossa cor Valeu, Zumbi! Valeu, Dandara Salve a nossa jória rara Nosso samba nos faz vencedor São ecos que chegam de Palmares Venceram o tempo, o ar e os mares Nos fizeram compreender Com nossa luta podemos mudar! Valeu, Zumbi! Nós podemos mudar Com nossa garra podemos mudar! Valeu, Dandara! Nós podemos mudar Malkia Usiku
A L i t e r a t u r a d a Ba i x a d a n ã o é u m s a f á r i , m u i t o menos um jornal sensacionalista Nos últimos anos, em quase todos os eventos literários do Rio, há uma mesa de debates com o tema: Literatura na Baixada Fluminense. Sempre que penso Baixada Fluminense, lembro da provocação do professor Breguelé: Baixada Fluminense, longe de Deus, perto do Rio. O professor traça um paralelo entre Baixada e México, Rio e EUA. Cortázar também me ajuda nesse pensar: segundo ele, a Literatura da América Latina foi vista durante muito tempo, por americanos e europeus, como produtora de sensações equivalentes a viagens turísticas a regiões tropicais ou indígenas. Inclusive, à medida que um escritor latino-americano se desligasse de temas estereotipados, recebia críticas severas – como ocorreu a Carlos Fuentes quando renunciou escrever romances “tipicamente mexicanos”, com señoritas e sombreros. Fuentes não se importou com o que esperavam dele e do México. Surge a questão: o que esperam de nós, escritores da Baixada Fluminense? Mais: qual imaginário possuem de nossa região? O poeta Moduan Matus me disse certa vez que durante os anos 1930, Nova Iguaçu, a mãe da Baixada, era tida como uma das cidades mais progressistas do país. A partir dos anos 1940, contudo, levas de migrantes começaram a chegar e o Poder público se pôs a sair (fica a dúvida se um dia entrou). Resultado: a violência cresceu avassaladoramente nos anos 1960. A partir dessa época, a grande mídia cunhou o termo “Baixada Fluminense” para delinear uma espécie de cinturão da violência: “daqui pra lá, publicaremos sangue”. Sangue é o que esperam de nós. Duvida? Tire as crianças do sofá e dê um Google. No inconsciente coletivo da zona sul, para nos atermos ao exemplo mais radical, a Baixada Fluminense é um espectro de chacinas e brigas de faca, um insólito Território de carroças e lama. É por isso que o discurso dos espectadores de nossas mesa nos eventos literários quase sempre diz respeito à superação e outros temas paralelos. Raro é convidar um autor local para debater Literatura. Novamente Cortázar: “A mais fecunda é uma Literatura que já não precisa da etiqueta do pitoresco”. Quando escrevo, penso numa espécie de responsabilidade, a de buscar não reproduzir os folclores que possuem sobre nosso lugar. Não vou escrever o que escrevem os jornais, muito menos criar na minha região um safári, como se fôssemos todos selvagens e os leitores nos observassem, dentro de seus carros protegidos, de seus apartamentos com segurança 24 horas. O ponto de partida da minha escrita é a indignação com o mundo. Ora, se não fosse tal indignação, eu não recriaria meu mundo e outros, eu os viveria. Escrevo ficção porque a vida tal qual eu gostaria de viver não é possível.
Na Literatura me deparo com a possibilidade de escrever não como as coisas são, mas como poderiam ser. Não caio com isso num moralismo: a idéia não é fingir que problemas não existem, mas escolher um ponto de vista menos óbvio e condizente com a mídia tradicional. Portanto é preciso um constante esforço no ato de escrever: tanto para ser orgânico, quanto para fugir de estereótipos, já que a literatura é provavelmente a arte que mais molda imaginários, tamanha a intimidade entre livro e leitor. Estabeleçamos novas formas de vida: trata-se de uma disputa de narrativas. E se a narrativa hegemônica deseja tornar-se perene, sejamos fuentes, moduans, breguelés, cortázas, bizares e trindades, sejamos eu mesmo, fazendo da Literatura um contraponto.
J o n a ta n M a g e l l a
Na t a l n o s u b ú r b i o O Natal no subúrbio é diferente. Pelo menos era na minha época de criança. Na televisão víamos os filmes “made in USA” com aquelas casas enormes totalmente iluminadas, as crianças brincando na neve, todo mundo encasacado, cheio de frio, o Papai Noel entrando pela chaminé. Mas no subúrbio, a decoração de Natal era mais simples (bem mais simples). Lembro que lá em casa nós tínhamos um pinheiro (de verdade!) que ficava o ano todo largado no quintal, mas que em dezembro era devidamente enfeitado com bolinhas e com a estrela. Às vezes, colocávamos algodão nos galhos do pinheiro para simular neve (ahahah!). Tínhamos um LP (o quê?) de músicas natalinas que sempre tocava na velha vitrolinha da Sonata em forma de maleta. O chester e a rabanada eram garantidos, e tinha todo um ritual para prepará-los. Era simples, mas era bom. Para quem participava de uma igreja como eu, era a época das cantatas de Natal junto com a encenação do nascimento de Jesus. Eram geralmente as mesmas músicas, às vezes com arranjo diferente, mas ninguém se importava: o legal era fazer parte da celebração, de preferência no papel de Maria ou de José. O menino Jesus normalmente era um boneco emprestado de alguma menina. Ao invés de neve, em dezembro no Rio temos um calor desgraçado, então a diversão era tomar banho de mangueira na laje ou no quintal. E que festa que era! Quando dava, rolava uma praia, sim, porque suburbano também curte praia. Nessas ocasiões, cabiam umas vinte pessoas dentro de um Fusca ou de um Chevette (quem tinha um Monza era rei). Se fosse Kombi, então cabiam umas quarenta pessoas. O vinho era aquele do garrafão de cinco litros, que muitas vezes se ganhava no trabalho. Para as crianças era Simba, Pakera, e outros rótulos folclóricos de refrigerante naquelas garrafas de vidro. Depois, estas evoluíram para as atuais garrafa pet, com as marcas atualmente conhecidas. Não se tinha uma mesa enorme para abrigar todo mundo como nos filmes americanos. Cada um se virava comendo em pé ou sentado num banquinho no canto da casa. Mas era bom. A criançada ficava muito feliz com uma boneca ou bola de presente, o que valia era a bagunça que se fazia. Se o presente fosse uma bicicleta ou um videogame, então era a glória total. Não importava a marca, não importava o preço. O mais importante era a alegria de um brinquedo novo, que seria largamente explorado por todo o período de férias escolares, e quiçá o ano todo, até o próximo Natal. O Natal no subúrbio sempre teve a sua própria magia. E a gente ficava se perguntando como o Papai Noel fazia para entrar nas casas, já que não tínhamos chaminé... Ana Cristina de Paula
• Foi um samba que passou em minha vida
Na vida de todos nós que amamos o samba existe aquele em especial que nos marcou. Este é o espaço para os depoimentos apaixonados, compartilhe com os leitores aquele samba inesquecível.
link: https://soundcloud.com/sarau-suburbio/sonho
Os I mp é ri o s d o s a mb a Instalada no Morro da Formiga na Usina, sub-bairro da Tijuca no Rio de Janeiro com endereço da Rua Medeiros passos 84, com saída para a rua principal do bairro a Conde de Bonfim a Escola de Samba Império da Tijuca foi fundada em oito de dezembro de 1940, fruto da junção de duas outras escolas de samba do local a Recreio da Mocidade e a Estrelinha da Tijuca. Ali existia um grupo de escoteiros que atuavam na educação chamados de tropas José do Patrocínio. Foi a primeira escola de samba a usar em seu nome a palavra império, por isso tem em sua bandeira uma Coroa que representa um símbolo de nobreza e ramos de fumo e de café, representando as nossas riquezas da época. GRES Império da Tijuca tem as cores verde e branca onde o verde simboliza a esperança e o branco a paz . Ela só começou a desfilar oficialmente seis anos depois de sua fundação quando em 1946 apresentou-se com o Enredo “Aos heróis de Monte Castelo. Em suas fileiras teve dois nomes de destaques, o compositor Marinho da Muda que na década de 70 estourou no carnaval com o Samba “O meu barraco fica assim de gavião” que é tocado até hoje pelas bandas do carnaval carioca. O outro nome famoso é o do compositor Sinval Silva que gravou com Carmem Miranda. De 1984 ano de inauguração do Sambódromo até 1987, fez parte do grupo especial, voltando a esse grupo em 1996 com o enredo “ Reino Unido do Nordeste”., mas caiu logo em seguida. Em 2013 foi campeã de grupo de Acesso A com o enredo “ A negra pérola mulher” e voltou ao especial quando desfilando em 2014 com o enredo “Batuk e cujo samba era um dos melhores”, foi rebaixada injustamente com a critica muito pesada sobre os julgadores. A escola tem uma comunidade muito forte originaria do Morro da Formiga que fica próximo ao Morro do Borel, reduto da consagrada Escola de Samba Unidos da Tijuca, uma das mais competitivas do grupo especial sempre brigando pelo título. Mas a verde e branca da Tijuca, fez história. Em 1947, foi fundada outra escola de samba do Rio de Janeiro com as mesmas cores e com o mesmo símbolo, a Coroa. E também com o nome de Império. Estou falando da tradicional escola de samba Império Serrano que completou 70 anos de existência e de muitas vitorias, sendo por muitos anos uma das quatro grandes escolas juntamente com a Mangueira, Portela e Salgueiro cujos títulos só ficavam entre elas até o ano de 1975 quando o Salgueiro foi bicampeão.
Em 1976 a Beija Flor de Nilópolis quebrou esta barreira e foi tri campeão. A bandeira do Império Serrano é parecida com a bandeira do Império da Tijuca, cuja agremiação serviu de inspiração para os fundadores do Império Serrano que nasceu em 23 de março de 1947 O símbolo da escola representado na bandeira é a Coroa do 2º Império. Esta escola foi campeã por nove vezes no grupo principal e seu último título foi no ano de 1982, quando ainda não exista o Sambódromo.. Por ironia do destino após a fundação desta pista de desfile o Império Serrano nunca foi campeão, muito pelo contrário foi ficando para traz ao ponto de subir e descer várias vezes para o grupo de acesso. Neste ano de 2017 foi campeão do grupo de acesso com o enredo “ Meu quintal é maior que o mundo” e voltará a desfilar entre as grandes escolas do Rio de Janeiro, lugar que nunca deveria ter saído, pela sua história, pela sua tradição. Seguindo na mesma trilha em seis de março de 1959 surgiu a Escola de Samba Imperatriz Leopoldinense em referência a Imperatriz Maria Leopoldina da Áustria já que o nome faz menção a Estrada de Ferro Leopoldina sendo suas cores em homenagem a sua madrinha a Escola de Samba Império Serrano. Seu símbolo também é uma coroa estampada no meio de sua bandeira verde e branca e que contem onze estrelas representantes dos bairros da Leopoldina. Esta escola fica na Rua professor Lace 235 em Ramos e já foi campeã no grupo especial por oito vezes e completa o trio de escolas de samba do Rio de Janeiro que fazem menção ao Brasil Império. Mas como o SAMBA NÃO TEM FRONTEIRAS, São Paulo também tem o seu Império. Só que este não tem a mesmas cores e nem as mesmas origens históricas. O Gres Império da Casa Verde foi fundado em 2 de fevereiro de 1994 com as cores azul e branca, tendo como madrinha a escola de samba Camisa Verde e Branco Em seu primeiro ano de desfile ou seja em 1995, sagrou-se campeão no grupo B-UESP (sexta divisão) Em 1996, desfilando pelo grupo 3-UESP ( quinta divisão) sagrou-se novamente campeão, passando para o outro grupo. No ano de 1997, desfilando no grupo 2-UESP ( quarta divisão) Império da Casa Verde mais uma vez foi campeã, ascendendo para o grupo seguinte. Em .1998 desfilando pelo grupo 1-UESP ( terceira divisão) a escola foi vice campeã e subiu para o grupo de acesso. Em 2002 foi vice campeã no grupo de acesso e subiu para o especial, Em 2005 foi campeã pela primeira vez no grupo especial, repetindo o feito no ano de 2006, conquistando o bicampeonato. No ano de 2016 após dez anos conquistou novamente o campeonato desfilando pelo grupo especial de São Paulo. Salve os IMPÉRIOS Onesio Meirelles
Fantasmas do Natal Perambulando pelas ruas do Centro da cidade do Rio de Janeiro Zequinha, um moleque de doze anos com cara de dezesseis e corpo de oito, ficava encantado com as luzes chinesas que enfeitavam as fachadas e vitrines das lojas. Acostumado às calçadas sujas, marquises envelhecidas e soleiras de granito rachado, sentia-se atraído por aquela atmosfera onírica de fim de ano. Ao que se sabe, isso contado pelos parceiros de infortúnio, Zequinha vivia nas ruas desde os sete anos. Seguia a mesma rotina todos os dias: pela manhã, nos bares e lanchonetes ficava a espreita nos balcões usando a mesma velha e surrada frase: _ moço, paga um pão com café! Tal frase era repetida no mínimo quinze vezes, até conseguir a primeira refeição do dia. Zequinha então seguia um roteiro com a sua trupe de saltimbancos mirins pelas avenidas e ruas da cidade “maravilhosa”. Equilibravam-se no meio fio, desafiavam as leis da Física sendo mais rápidos do que os carros com o sinal aberto, faziam malabarismos de impressionar o Cirque du Soleil. Ao avançar dos ponteiros lá ia a tarde. Os passantes do principal boulevard do Centro do Rio andam apressadamente entre uma loja e outra, num frenesi consumista de deixar novaiorquino abismado. São calçados, roupas, vinhos e eletrodomésticos adquiridos com cheques, cartões e outros cheques e cartões e até, quem diria, em dinheiro vivo. É o “wonderfull world”! Nas calçadas, bolsas, sacolas e caixas penduradas nos braços disputam os centímetros do espaço. É um ir e vir frenético e, espremido entre os alucinados compradores, está Zequinha. Este, de mãos vazias e pés encardidos de poeira misturada com o suor, começa a sua oratória de frases decoradas: _ moço, me dá um real pra comprar um salgado! Ei moça, me dá cinquenta centavos! Na outra esquina seus companheiros empregam as mesmas falas, igualmente sem sucesso. As frases se repetiam uma, duas, cinco, trinta vezes. “Ah, o espírito natalino! Época de comunhão, fraternidade, congraçamento, de corações aquecidos pela solidariedade”! Ao anoitecer, a cidade vai ficando vazia e, nas ruas, os seus “inquilinos” começam a demarcar os territórios com papelões, onde se lêem TV de 56 polegadas SMART ou então fogão em aço inox seis bocas com acendedor automático ou ainda Geladeira e freezer com painel digital. A ocupação dos espaços tem a exata extensão da marquise que se ergue sobre a calçada. E lá, Zequinha se ajeita com a sua turma, uns quatro ou cinco moleques.
Aos incrédulos da bondade humana, nem tudo estava perdido! Um casal de vendedores com uniformes de uma rede de lojas de eletrodomésticos, correndo para não perder o ônibus, deixa cair uma quentinha semi aberta que continha um banquete de oito salgadinhos comprados à quilo. Zequinha e sua turma com “olhos de linces urbanos” percebem a grande oportunidade que se apresenta e, mais rápidos do que camelôs fugindo do rapa, se apropriam da “farta e variada refeição”. Seguram a dez ou doze mãos a quentinha, que já estava fria há meia hora, e repartem a ceia entre e si. O relógio digital de rua marcava 22 horas. De tão vazia que estava a cidade, ouvia-se o barulho da mudança dos segundos no painel. Zequinha e os companheiros, mesmo sendo verão no Rio de Janeiro, cobriam-se com pedaços de cobertores surrados de um cinza quase preto. Mas à frente, o “Senhor Latinha”, antigo catador desse objeto metálico, resmungava coisas sem sentido e cobria a cabeça se escondendo da claridade. Do lado esquerdo, uma jovem mãe com o bebê no colo, insistia em enfiar-lhe uma velha chupeta na boca, para aplacar o “choro do estômago”. A dois passos deles, dormia “Pirata”, assim era chamado pelos garotos um vira latas magricela encardido que tinha um circulo em volta do olho esquerdo. Para aplacar o choro da criança, Zequinha oferece uma bala que o camelô deixara cair e ele guardara no bolso. Porém, o nosso personagem de Dickens tropical e os seus companheiros não conseguem dormir. Planejam, com conhecimento de causa, as ruas, becos e vielas que percorrerão no dia seguinte, ignorando tratar-se do dia 25 de dezembro e que os logradouros estariam vazios. O sono finalmente chega para todos. Entretanto, altas horas, uma chuva fina começa a cair. Em frente ao “condomínio público”, do outro lado da rua, as luzes das vitrines piscam e mudam de cores e de formatos. Mas Zequinha, com os olhos semicerrados, visão embaçada, parte pelo sono, parte pela chuva, vê tudo monocromático! De repente, um carro em alta velocidade cruza a rua e do seu interior ouve-se uma frase que assusta a todos que estavam reunidos no presépio do século XXI: FELIZ NATAAAAL!
Silvio Silva
Um Natal em Marechal Acreditei em Papai Noel até os 7 anos de idade e foi nesse tempo que também comecei a desconfiar de São Nicolau ( origem de Noel ) ; tudo aconteceu na madrugada de 24 para 25, o ano era 1971 lá na casa em que morávamos na Rua Maracaípe, 99, em Marechal Hermes, subúrbio carioca. Lembro bem que estávamos no quarto eu ( 7 ) o mais velho e os manos Ricardo (3) e Renato (1); na época sem internet e celular ( rsrs ) resolvi colocar três pares de “sapatos” na janela de nosso quarto que dava vista para o quintal; e olha enquanto pude e resisti fiquei deitado e de olhos bem abertos esperando, esperando, esperando até lá pelas tantas quando cai em sono profundo. Ao acordar para minha surpresa e enorme decepção os sapatos estavam ali sem presentes, um choro começou a se ouvir, era Renato então Bebê, logo Ricardo acordou e pulou da cama direto pra janela e percebeu algo errado também, Deus! mas o que que foi que aconteceu ou não aconteceu... Hoje com 54 anos fui pesquisar os motivos pelos quais Papai Noel não passou lá em casa em 1971 e pasmem, descobri que para Papai Noel colocar os presentes nos sapatos que ficam na janela é preciso colocar capim dentro deles; sim bastante capim pois era assim a tradição em que os Reis magos passavam conduzindo seus camelos pelas janelas das casas , onde os quadrúpedes famintos se fartavam com o capim deixado ali; assim depois de saciados para prosseguir a viagem, e como uma forma de agradecimento os Magos deixavam presentes nos sapatos repousados nas janelas fazendo encher de alegria o Coração das crianças. Podes crer, Papai Noel existe , lembre sempre de colocar capim nos sapatos que forem colocados na janela; as crianças agradecem e o Espírito de Natal também.
Eu , Rica e Rena( no colo )
Rodolfo Caruso
• U m l u g a r n o s u b ú rb i o
MERCADÃO DE MADUREIRA O mais popular e festejado Mercado do Rio de Janeiro, e quem sabe do Brasil, já foi palco de inúmeras histórias. Sempre muito requisitado, desde artistas populares a políticos, o Mercadão de Madureira definitivamente faz parte do dia a dia do nosso povo. Encravado no coração do subúrbio carioca, na Zona Norte da cidade, o Mercadão oferece de tudo um pouco para seus clientes, além de ser um ponto de encontro, um espaço de sociabilidade. É possível encontrar especiarias, salgados, descartáveis, destilados, material escolar e para decoração de festa, fantasias de carnaval, artigos religiosos com destaque para as religiões de matriz africana, e muito, muito mais, tudo em um ambiente descontraído, profundamente informal. Há mais de 50 anos em atividade, o Mercado já resistiu, inclusive, a um incêndio de grande proporção ocorrido no ano 2000. Tendo superado esta e outras adversidades, o Mercadão de Madureira foi considerado bem imaterial do Estado do Rio de Janeiro em novembro deste ano, através de lei estadual. Vida longa a este grande espaço suburbano, que vai muito além de um mero local criado para circulação de mercadorias, mas que representa um importante espaço de troca de saberes, um verdadeiro símbolo da cultura popular brasileira. Não deixe de fazer uma visitinha, o endereço é Av.Ministro Edgard Romero, nº 239, Madureira, Rio de Janeiro. Para acessar o site basta clicar em http://mercadaodemadureira.com/
Uma polêmica histórica do samba: Wilson e Noel “Você não pode ensinar nada a um homem. Você pode apenas ajudá-lo a encontrar a resposta dentro dele mesmo.” Galileu Galilei
Polêmicas sempre renderam frutos. Fama, interesse, espaço na mídia, sucesso, dinheiro, eis alguns frutos que uma boa polêmica pode proporcionar. Tanto assim que muitas dessas polêmicas são fajutas, forçadas, criadas somente com intenções mercadológicas. Polêmicas podem gerar importantes obras primas, que o digam Wilson Baptista e Noel Rosa. E como toda boa polêmica, essa tem várias versões. Uma versão diz que não houve polêmica ou briga entre os dois compositores. Nada não passaria de uma grande gozação entre os amigos, no melhor estilo jocoso de um sambista carioca na década de trinta do século passado. O começo de tudo teria sido a resposta que Noel Rosa teria dado ao samba "Lenço no Pescoço" de Wilson Baptista. O samba em questão celebra o malandro carioca antigo com seu lenço no pescoço, navalha no bolso, que anda gingando, desafiando quem cruza seu caminho. Naqueles primeiros anos da chamada República Nova, a figura do malandro, como pincelada por Baptista, já tinha praticamente desaparecido. Noel Rosa teria respondido então com "Rapaz Folgado" em que dizia ao final: "Proponho ao povo civilizado não te chamar de malandro e sim de rapaz folgado!" Para o opositor de Baptista a malandragem já não tinha vez e sua réplica respondeu praticamente verso a verso aos versos de consagração do malandro, mostrando claramente o propósito de Noel Rosa em implicar com o atrevido sambista novato. Alguns dizem que a gozação estaria provada já na primeira resposta de Noel Rosa, o sambista da Vila era um boêmio chegado à malandragem muito mais que Wilson Baptista. Os amigos de boemia começaram a colocar lenha nesta fogueira, que já tinha rendido duas obras-primas do samba, utilizando-se de fofocas, como se chamavam as notícias falsas naqueles tempos: "Wilson, Noel fez outro samba te atacando!", "Noel, Wilson vem com um samba de arrasar em resposta ao seu!". Os sambistas então teriam continuado com a briga através de outras composições. Até que os dois se encontraram num bar um dia, riram muito e compuseram um samba em parceria.
• 1ª versão: a)Wilson Baptista compôs “Lenço no Pescoço”: "Meu chapéu do lado, Tamanco arrastando...". No mesmo ano Noel Rosa responde com “Rapaz Folgado”: "Deixa de arrastar o teu tamanco, Pois tamanco nunca foi sandália..." b) Wilson Baptista, provocado, vem com “Mocinho da Vila”: "Você que é mocinho da Vila. Fala muito em violão, barracão e outros fricotes mais...". Noel o contrapõe com “Palpite Infeliz”: "Quem é você que não sabe o que diz? Meu Deus do Céu, que palpite infeliz!" c) Wilson apela fazendo gozação com o queixo para dentro de Noel com “Frankenstein da Vila”: "Boa impressão nunca se tem. Quando se encontra um certo alguém...". E então Noel responde com “Feitiço da Vila”: "Quem nasce lá na Vila, Nem sequer vacila Ao abraçar o samba..." d) Wilson responde com “Conversa Fiada”: "É conversa fiada dizerem que o samba na Vila tem feitiço. Eu fui ver para crer e não vi nada disso." Na época da polêmica Noel Rosa já era um sambista famoso. Já tinha feito muito sucesso com o samba "Com que roupa". Concedia entrevistas em programas de rádio, aparecia nos jornais, era uma espécie de celebridade da época, por assim dizer. Já Wilson Baptista era um sambista novato. E alguns afirmam que Baptista teria começado a polêmica para se promover em cima do nome de Noel Rosa. Outra versão do confronto entre os compositores surge então. • 2 ª v e rs ã o : “Lenço no pescoço” por Wilson Batista: orgulho em ser malandro. “Rapaz folgado” por Noel Rosa: ser malandro não está com nada. “Mocinho da” Vila” por Wilson Batista: o bairro de Vila Isabel é criticado. “Palpite infeliz” por Noel Rosa: defesa ao bairro de Vila Isabel. “Frankstein da Vila” por Wilson Batista: sarro com a aparência de Noel Rosa. “Feitiço da Vila” por Noel Rosa e Vadico: homenagem ao bairro de Vila Isabel. “Conversa fiada” por Wilson Batista: crítica ao que Noel disse sobre Vila Isabel. “João ninguém” por Noel Rosa: vadiagem é criticada novamente. “Terra de cego” por Wilson Batista: Noel Rosa é criticado como compositor.
• 3 ª v e rs ã o : “Lenço no pescoço” por Wilson Batista: orgulho em ser malandro. “Rapaz folgado” por Noel Rosa: ser malandro não está com nada. “Mocinho da” Vila” por Wilson Batista: o bairro de Vila Isabel é criticado. E a briga teria acabado com "Mocinho da Vila", os demais sambas não teriam nada a ver com briga entre os compositores.
• 4ª versão: A quarta versão seria uma "continuidade" da terceira da seguinte forma: a briga teria acabado com "Mocinho da Vila" e o samba de Noel Rosa, "Feitiço da Vila" não teria nada a ver com a polêmica. Só que Noel acrescenta versos ao samba e Wilson Baptista oportunamente teria enxergado uma boa chance pra continuar a polêmica, provocando Noel Rosa e se promovendo mais uma vez. Teria "respondido" então com o samba "Conversa Fiada". E, em resposta então, Noel Rosa se insurgiria com "Palpite Infeliz", dando por encerrada a briga. • 5ª versão: Seria uma "continuidade" da quarta versão. Assim, após "Palpite Infeliz" a briga teria se acirrado ainda mais e Wilson Batista teria composto “Frankestein da Vila". E mais duas versões sairiam deste ponto: •6ª versão: Noel teria rido muito com o samba o comparando com o monstro da literatura, achando até bem engraçado o samba. Baptista teria então composto mais um samba provocativo, "Terra de cego", mostrando-o a Noel Rosa num bar. Teriam se tornado a partir deste encontra em amigos e até compuseram juntos um samba: "Deixa de ser convencida". • 7ª vesão: Noel teria ficado muito abalado com o samba o comparando a Frankestein e teria inclusive chorado de tão triste. Só que, ainda assim, Baptista teria composto mais um samba provocativo, "Terra de cego", mostrando-o a Noel Rosa num bar. Só que nesta versão eles também teriam se tornado amigos e parceiros de samba ("Deixa de ser convencida"). Polêmicas à parte, para alguns a "briga" ou "gozação" entre os dois teria continuado não fosse Wilson Baptista ter viajado e ficado fora do Rio de Janeiro por dois anos em temporada. Anos depois, Almirante (radialista famoso nos idos dos anos cinquenta) recupera a polêmica, construindo sua própria versão dos acontecidos, tornando Noel Rosa o herói da briga e Wilson Baptista o vilão. É não é que a polêmica entre Wilson Batista e Noel Rosa voltou à tona! Como sambemos: "No futuro, todos terão seus quinze minutos de fama!", Andy Warhol. Há alguns anos, Caetano Veloso reacendeu a polêmica. Fez uma análise discutível de Feitiço da Vila (logo a música que em uma de suas versões não teria nada a ver com a briga entre Noel e Wilson). Não vamos comentar a polêmica suscitada por Caetano. Entretanto, ele foi criticado pelo escritor, músico e pesquisador da música brasileira Carlos Sandroni. Começaram outra polêmica, que logo terminou.
J o n a s H é b ri o
Bo t e q u i n s e e u s u b u r b a n i s t a IAPM Irajá No começo, as vendinhas foram criadas para uma emergência, comprar alguma coisa que faltava em casa, tipo: macarrão, molho de tomate, salsicha, café, açúcar, sal refrigerante e claro cerveja. E em cada quadra tinha uma. Depois viraram botequins, botequim da rua G, C,( tinham 4) e foi onde nasceu o Chuchu Beleza, e o da rua D e E. No Botequim. No Bar esquina da rua c do Irajá. Chegou meio Zé, cheio de ginga, cheio de cachaça, e charuto no canto da boca. Meu Povo, disse ele, venho comunicar que fui promovido, sou agora chefe de seção! Os amigos , e a mulher dele, nada entenderam. Zé, você é lixeiro! replicou sua mulher na frente dos amigos. Mas Zé, matreiro, jogou na lata! Sou agora o motorista do caminhão de Lixo. A mulher dele sorriu zombeteira e rosnou, só falta aprender a dirigir. No mesmo botequim - Cara to cansado dessa mulher, ela não me respeita, joga na minha cara que vivo no boteco, que não ajudo em casa. Pô sou maior fiel, peguei essa mulher , fiz dela uma princesa, dou de tudo, e é assim que ela me paga. O amigo confortando-o: - liga não, ela vai ver que o melhor é estar do lado de quem cuida. E Marcia,pô para de chorar que homem não chora. Num outro Botequim, também de Irajá, esse dentro do cemitério, único que ficava aberto toda a madrugada. Uma celebridade do samba, que gostava de conhecer esses botequins, aceitou o convite do afilhado, que saindo com ela do Cacique de Ramos pela madrugada, disse que naquele avançar da madruga só o botequim do cemitério estaria aberto, ela topou. Chegando lá, depois de algumas cervejas, viu sua identidade descoberta, e os chorosos dos defuntos nas capelas vizinhas ao botequim, ficaram alvoroçadas a tirar fotos com a celebridade, alguns foram em casa buscar sua maquina de fotografar, naquela época não tinha celular com câmera. Contam que até ao lado do caixão saiu fotos com os veloriantes e a celebridade. E claro teve batucada. Ao lado da Igreja, tinha umas casas, em que o Padre da Paróquia, no final dos anos 70, recebia visitas de alguns meninos que já tinham se enamorado do brilho da fera, passavam por lá pra receber a benção do padre em espécie, e ia comprar a viagem ao céu do inferno. Hoje me acho muito parecida com minha Mãe. Olho no espelho e consigo vêla. Ela teve seu primeiro filho aos 16 anos e o último aos 39 anos.
O que era uma mulher ter 11 filhos, com o mesmo homem, se formar, trabalhar, as vezes em até 3 empregos? Hoje me olho e vejo minha mãe e fico feliz. Festeira, Imperiana, torcia pelo Olaria, depois da morte de meu pai, a vi cansada, as vezes chorando, mas eu não tinha coragem de perguntar porque. Não tenho muita coisa a dizer. O amor transatlântico que me invadiu, o amor da dor, a paixão da meninice, que tudo pode. O amor aquele inventado, aquele instituído, não sei. Sei que ele me abraçava e me consumia. Minha adolescência foi essa descoberta a de paixão pela vida., eu precisava viver. E a locação foi as ruas e esquinas do subúrbio, onde aprendi a viver como gente feita de gente, que, ao mesmo tempo que te fere, te sorri, te abraça, com amor. Te mostra o quanto é bom viver livre, cheio de contradições mas, com respeito a ela, a diferença. Comecei cedo a trabalhar. Sabia vender Tinha lábia Primeiro foi como camelô. Cheguei a Gerente de contas de uma empresa de Informática. Morava em Inhaúma. Cadastrei todas as empresas ao redor do Bairro. Não tinha carro, ficava mais fácil se as empresas fossem perto. Atendia a L’Oreal, que era quase em frente a minha casa, morava no Conjunto dos Músicos. Cimento Irajá, Vista Alegre, Plus Vita, Aladim, General Eletric, fabrica de roupas de bebes na saída do Jacarezinho.(hoje invadido esta sendo usado como moradia). Atendia também De Millus, Sotreq, Coca Cola, vendi pra todos. E tenho a honra de ter vendido os primeiros computadores para o jogo do Bicho e foi da minha área, Acari. Final dos anos 80 vendi 7 PCs, pagaram direitinho.
Do r i n a G u i m a r ã e s
Como o samba desabrochou em mim O dia que o samba desabrochou em mim foi na primeira infância, não possuía conhecimentos, mas sabia que algo de diferente ocorria, e a partir daí o meu interesse foi só aumentando e segui em frente. A homenagem para Beth Carvalho no 1º Samba das Mulheres nas Rodas de Samba no Rio de Janeiro despertou uma viagem total pela minha vivência nas rodas de outrora, inclusive por que sempre fui sua fã incondicional. Eu frequentava as rodas do Cacique de Ramos as quartas-feiras, O Samba da Mulher Solteira, Pagode do Arlindo, Kizomba projeto desenvolvido por Martinho da Vila nos anos 80 que gerou uma ligação muito grande com os países Lusófonos. Além das rodas em casas de família aonde os grandes bambas se reuniam, foi um aprendizado, pude constatar que amava o samba realmente e fiz vários amigos nessa época. Tudo isto é para fundamentar minha composição que surgiu ali naquele momento aonde várias mulheres com sua histórias de vida mostravam a sua arte. Foi lindo, a realização de um sonho que sempre almejei. Posso cantar qualquer gênero, mas o Samba, é meu modo de vida é a minha história. Naquele momento lembrei do saudoso Alcir Portela o mesmo que apresentou Beth Carvalho ao Cacique e possuiu fundamental importância na minha vida, ligado a minha família frequentemente estávamos juntos e partilhava seus conhecimentos comigo uma menina astuta e que queria saber, foi um grande parceiro, que saudade. Vários pensamentos e emoções mas tudo remete a homenageada, me sinto feliz. Márcia Lopes
Matemática na roda de samba Todo mundo conhece uma circunferência. Talvez a chame por outros nomes: roda, círculo, mas ela está ali na sua essência, acertando ou não seu nome. Prometendo que tentarei não ser muito chato, podemos dizer que a circunferência é uma linha curva e fechada, com uma característica que a personaliza: todos os seus pontos, os que "estão sobre a linha", ficam à mesma distância do seu centro, o pontinho que fica no meio quando desenhamos uma circunferência utilizando um compasso (é possível que seu professor tenha dito "... seus pontos são equidistardes do centro", é a mesma coisa). Outra coisa importante, o centro, o ponto que fica no meio, é fixo. A Matemática distingue a circunferência (a linha do entorno) do círculo (o disco). Observe abaixo: Circunferência
Círculo
Ah! E o que isso tem a ver com a roda de samba!? Ora, podemos analisar a roda de samba a partir da intuição por trás dos conceitos matemáticos de circunferência e círculo. E, cá pra nós, tem algo mais suburbano que uma roda de samba!? Pronto, aqui estou de novo por uma Matemática Suburbana. A roda de samba é uma expressão cultural do samba em toda sua essência e são a evolução de como se organizavam os encontros dos negros escravizados no Brasil. Muitas são tais rodas: roda de Candomblé, roda de jongo, roda de capoeira, roda de umbanda e a roda de samba. O samba, os músicos, os versadores, a liberdade, a democracia, a convivência fraterna são as principais características de uma roda de samba tradicional nasceram nos mesmos lugares do próprio samba: nos terreiros e quintais de Candomblé. Alguns historiadores procuram datar o acontecimento social do samba. Sublinham que as rodas de samba surgiram de encontros na casa da Tia Ciata, encontros estes que tinham o objetivo de celebrar as raízes africanas. No quintal da Tia Ciata essas reuniões, que depois se tornaram rodas de samba, eram ambientadas com as tradições musicais, de dança e também da culinária africanas.
A concretização de uma roda de samba tradicional, dava-se assim, em seu início, de uma experiência coletiva de trocas de tradições e conhecimentos trazidos e lembrados da África. Observando com cuidado vemos que as rodas de samba são a evolução das diversas rodas que lhe antecederam e que se organizavam nesta forma circunferencial por diversos motivos, que poderíamos explorar através de uma análise matemática mais abrangente (talvez suburbana?). O simbolismo da roda, por exemplo. A roda simboliza o infinito. Uma circunferência não tem começo, não tem fim. Se olharmos uma circunferência vemos que ela não tem o ponto em que começa, nem tem o ponto em que termina. Simbolicamente também significa o uno, a união. Não sei se o leitor ainda se lembra de alguns conceitos básicos da Geometria. Mas, vamos lá, são eles: o ponto, a reta e o plano. Para nossa crônica, importante é lembrarmos que toda reta é composta por pontos. Pontos, lado a lado, bem pertinhos uns dos outros: temos a reta. O plano por sua vez é composto por uma coleção de retas. Retas, lado a lado, bem perto umas das outras: temos o plano. Por uma dedução simples, podemos entender que a circunferência, que é uma linha curva num plano, é composta de pontos pertinhos uns dos outros. Mas, alguém conseguiria dizer qual é o ponto mais importante de uma roda? Olhe pra uma e verás que a resposta é não. Outro simbolismo importante da circunferência é o da igualdade de seus componentes. Não existe nada mais democrático que uma roda, todos os seus pontos têm igual importância em sua constituição. E uma roda de samba é exatamente isso! Uma verdadeira roda de samba suburbana tem a mesma identidade. Numa autêntica e tradicional roda de samba cada músico e versador tem sua função no grande encontro. A união forma o clima que deve existir numa roda de samba. A união entre músicos e plateia se dá na "mistura", no "todos são iguais", na integração do encontro. Outra coisa: por que uma roda de samba e não um "paredão do samba", "fila do samba", ou coisa do tipo? Um outro aspecto importante é o motivo de ser uma roda de samba. Um outro aspecto matemático do encontro na forma de circunferência. Quem nunca se perguntou: por que uma roda? Os músicos poderiam ficar um ao lado do outro simplesmente. Acredito que neste ponto, mais uma vez, o que verificamos é a herança da condição em que viviam no Brasil os negros escravizados, pela seguinte questão: uma roda se volta para todos os lados dentro e fora de si mesma. Numa roda todos os lados são observados. Não há ponto cego. A roda permite que todos tenham uma função que no começo das rodas de samba seria de grande importância: vigiar e avisar aos outros que estão ali reunidos que um perigo se aproxima, que chegou um perigo, que na maioria dos casos seriam as forças coercitivas do Estado, que já proibiu o Candomblé, o jongo, a capoeira, a Umbanda e a própria roda de samba.
A circunferência é uma das construções matemáticas mais importantes do universo matemático e a roda de samba uma das construções mais importantes da cultura do samba. As diversas rodas que falamos estão representadas abaixo:
Roda de Jongo
Roda de Choro
Roda de Capoeira
Roda de Umbanda
Roda de Samba
Isso é estimulante demais e muitas outras interpretações poderiam ser feitas. Fica a cargo do leitor fazê-las. Despedimo-nos este mês com um texto que encontrei na internet e que gostei bastante, fala sobre a roda de capoeira: (em: http://capoeiragemnaufal.blogspot.com/p/roda-de-capoeira.html) "A RODA DE CAPOEIRA: A capoeira é uma arte multidimensional, o que significa dizer que é ao mesmo tempo dança, luta, jogo e música. Estes múltiplos aspectos se desenvolvem na roda, um ritual criado pelos capoeiristas que encena, por intermédio da performance corporal e rítmica, o movimento da grande roda do mundo. A roda é o momento em que os capoeiristas colocam o que aprendeu nas aulas em prática e também conhece outras pessoas. É na verdade um momento de confraternização, onde acontece vários encontros e sociabilidades." Herald Costa
Dez anos sem Luiz Carlos da Vila (3ª parte) A partir da comemoração dos seus 50 anos e do artigo de Aldyr Blanc na revista "Bundas", a carreira de Luiz Carlos da Vila definitivamente tomou um rumo ascendente: participou de show que virou o CD "Pirajá - Esquina Carioca - Uma Noite com a Raiz do Samba - Ao Vivo", em São Paulo, com Beth Carvalho, João Nogueira, Walter Alfaiate, Dona Ivone Lara e Moacyr Luz, interpretando três músicas suas, "Além da Razão", "Doce Refúgio" e "Sem Endereço", samba de partido alto, em parceria com Arlindo Cruz, gravado por Zeca Pagodinho, no disco "Patota de Cosme". E só não cantou "O Show Tem que Continuar", porque Beth Carvalho bateu pé e não abriu mão de cantá-la, já que a música estava no seu CD "Pérolas do Pagode", do ano anterior. São Paulo era a cidade que melhor apresentava as oportunidades profissionais para Luiz Carlos da Vila. Já tinha ganhado um samba enredo na Mocidade Alegre, em 1991, "A História se Repete", em parceria com Xavier, Baixinho do Banjo, Deolindo e Carlão Maneiro. Em 1994, venceria a tradicional Feira Avareense de Música Popular, o "Festival de Avaré", na pequena cidade do estado de São Paulo, com "Carvão e Giz", parceria com Paulo César Feital. O evento já tinha consagrado como vencedores, em anos anteriores, Celso Viáfora, Jean e Paulo Garfunkel, Sérgio Santos e Tadeu Franco, Lenine, Gereba e Capinam, Moacyr Luz e Aldyr Blanc e, depois, Fred Martins e Manoel Gomes, o Audaz. Hospedado num hotel com Jane Pereira e o grupo que ia acompanhá-lo no evento (incluindo aí Bira da Vila), Luiz Carlos da Vila, sem grana, só tinha um jeito de pagar a conta da estadia: ganhar o festival e o prêmio em dinheiro. Foi o que ocorreu. Segundo Das Vilas, apesar da bela composição, o resultado não agradou em nada o público, mais afeito a MPB e às novidades estéticas. Foi em São Paulo, em meados de 1999, que Luiz Carlos da Vila começou a fechar com o selo Centro Popular de Cultura-União Metropolitana de Estudantes Secundaristas de São Paulo (CPC-UMES), entidade então dirigida pelo MR-8, um novo disco. Concentrado nesse projeto, "Das Vilas" deixou de completar uma "cabeça de samba", que tinha feito para o disco de Beth Carvalho, "Pagode de Mesa". Luiz dizia no samba que o "Pagode de Mesa" tinha começado na última ceia. Ao ouvir a "cabeça do samba", com o disco já gravado, Beth interrogou o compositor: "por que você não me mostrou isso antes?" Na verdade, apesar de ter entendido a proposta, Luiz não estava muito satisfeito com o resultado do seu último trabalho na Velas, onde o produtor Milton Manhães (o "Pezão" ou "Dom Pé") apostou nele como intérprete de outros compositores contemporâneos a ele. Neste sentido, Luiz optou por um novo produtor, o violonista e compositor Cláudio Jorge, para produzir o novo CD, "A Luz do Vencedor". Sim, ele apareceria como intérprete, mas de Antônio Candeia Filho e seus inúmeros parceiros (Martinho da Vila, Paulinho da Viola, Catoni, Paulo da
Portela, Waldir 59, Wilson Moreira etc). Música sua mesmo somente a parceria post mortem com Candeia que dava o nome do CD e que já tinha sido gravada por Alcione e por ele mesmo. Por engano da produção entraram duas músicas de autoria da trinca portelense Waltenir, Catoni e Jabolô. Também entrou um texto de contra-capa extremamente pessoal do diretor artístico do selo CPC/UMES, Marcus Vinícius de Andrade, ex-diretor do Discos Marcos Pereira. Afora esses senões, o CD foi considerado, junto com "Sincompando o Breque" de Nei Lopes, o melhor disco de samba de 1999. Feliz com essa nova fase da carreira, "Das Vilas" passou a cantar a Vila da Penha nos versos finais de improviso de "O show tem que continuar". E transformou o "Papo de Esquina" no seu "escritório". Ora, se Moacyr Luz tinha o Bar da Maria, na Muda, Zeca Pagodinho também tinha o seu boteco preferido em Xerém, por que não transformar o pequeno bar na "sala de recepção" de Luiz Carlos da Vila? Diga-se de passagem, foi lá que comemoramos o aniversário de Teresa Cristina, também moradora da Vila da Penha e então uma jovem promessa no samba. Tempos depois, apareceu Sombrinha, ávido para comer siri no Papo de Esquina. Luiz me apresentou ao seu parceiro: "esse aqui é Alex. É historiador!". Sombrinha provocou: "Tinhorão?". Eu, ciente da importância do grande mestre e dos meus limites, respondi: "Tô longe desse nível". Depois, Sombrinha me cutucou, novamente, cheio de marra: "Olha, eu acho que o Cacique de Ramos está para a música brasileira, como a Tropicália, a Bossa Nova, o Clube da Esquina, não se chega mais a esse patamar. O que você acha dessa nova geração do samba, Dorina, Renatinho de Oswaldo Cruz (sic)?". Retruquei para cortar a provocação: "Ainda não estão nesse nível, mas são bons e eu gosto". Fora essas duas visitas, o bar, extensão da Rádio Comunitária, se enchia de sambistas, personalidades, e Luiz estava sempre lá para recebê-los: Ivan Milanez, Marquinhos de Oswaldo Cruz, Renatinho Partideiro, Claudio Camunguelo, Zé Luís do Império, João de Aquino, Bandeira Brasil, Dorina, Wanderley Monteiro, Bira da Vila, Nadinho da Ilha, Ernesto Pires, Cláudio Jorge, Barbeirinho do Jacarezinho, Luís Grande, Luíza Dionísio, Dunga, Duarte, Fred Camacho, André Rocha, Rodrigo Carvalho, o Biro, Alvinho e Aranha (compositores vencedores de samba na Imperatriz Leopoldinense), Carlinhos das Camisas (autor do samba campeão do carnaval pela Mangueira, em 1998), o grupo Samba na Veia (um dos grupos na origem do Galocantô, juntamente com o "Além da Razão"); personalidades como os ex-jogadores Afonsinho, Liminha, Vivinho e Jair Bragança, o então deputado do PSTU Lindbergh Farias, a atriz Beth Mendes e o produtor cultural Fernando Gama; artistas como Carlos Daffé, Gérson King Combo, Paulinho Pedra Azul, Theo Azevedo, e o poeta matuto Geraldo do Norte. Em Suruí, no sítio deste último, futuro apresentador de programa na Rádio Nacional, Luiz (e todo mundo ligado ao movimento cultural da Vila da Penha) passou um domingo ensolarado, regado a muita cerveja, para ´ciúme do dono do bar, Luizinho, que ficou neste dia com o estabelecimento vazio. "Das Vilas" gostava dessa alegria suburbana. De vez em quando, ia para o Papo de Esquina de cueca samba-canção. Um dia fomos todos para uma roda de samba na casa da Surica da Velha Guarda da Portela e ele arrumou uma calça
emprestado para não ir somente de cueca. Lá, se sentindo à vontade, ficou de cueca mesmo. Acabou sendo um dos fundadores do Bloco do Rabugento, com a sua música feita em homenagem ao vira-lata mau humorado que frequentava o Papo de Esquina, história contada na edição primeira desta revista. Também ia nas atividades da "Banda Raízes", comandada por Waldyr Asty e seu filho Jorge Asty, a poucas quadras do Papo de Esquina. Além disso, LCV se orgulhava de ter sido gravado por uma das vozes mais suburbanas que ele considerava, Mestre Marçal, com "Até de Avião", parceria com os irmãos Arlindo Cruz e Acyr Marques, feita para uma antiga namorada sua, que morava longe. E compôs "Divina e Mulher", em parceria com Arlindo Cruz, gravada por Alcione. A canção era de encomenda para a sua diva, Elizeth Cardoso, uma das precursoras da Bossa Nova, mas madrinha da Unidos de Lucas, escola do esquecido subúrbio de Parada de Lucas e de um dos seus ídolos, Carlão Elegante, também morador da Vila da Penha. Mas, Luiz tinha um pé atrás com o pessoal da intelectualidade da Zona Sul que queria dirigir o samba. Comentava que existiam várias formas de desonestidade, não somente em roubar e desviar dinheiro, mas também desonestidade intelectual, com o intuito de faturar mesmo. Se reportava ao fato de Élton Medeiros ter recebido uma homenagem na Câmara dos Vereadores e quem o homenageava ter se referenciado a ele como o fundador da "Pitú de Brás de Pina" e não a tradicional escola Tupy, para vergonha do homenageado. Ao mesmo tempo, reverenciava Nara Leão, fundadora da Bossa Nova em Copacabana e incentivadora da Tropicália, que tinha gravado um samba autobiográfico de Luiz, antes de morrer ("Relembrando"). Contava ele que os Oito Batutas de Pixinguinha tocaram no casamento da sua avó, em Ramos. Para Luiz, Nara era "cabeça". Já de Simone, que "estourou" com "Um Dia de Graça", ele contava uma história: "Aí, eu encontrei ela um ano depois do sucesso do meu samba. E ela me pediu um samba igual. Aí, eu respondi, brincando. 'Um samba igual, só se for o mesmo'". Quando o "escritório" não rolava no Papo de Esquina, acontecia mesmo no quintal da sua casa, com Jane Pereira cuidando do cardápio. Lá recebia sambistas como Catoni e nomes como o violonista Luís Felipe de Lima e Moacyr Luz, a quem Luiz, junto com Aldyr Blanc, foram ser solidários em uma reportagem no jornal "O Dia", depois de outro jornalista, em outro veículo de comunicação, ter feito uma matéria, reclamando que depois de João Bosco faltava um parceiro à altura para Aldyr. Os eventos também aconteciam a menos de uma quadra do bar, na casa do Chico Pereira, compositor do grupo Cambada Mineira. Jonas Ribbas, que iniciou o movimento dos Artistas Sem Mídia, inaugurou o espaço, pois já tinha levado para a casa de Chico o conceituado compositor paraibano, Vital Farias, antes de levar para o Papo de Esquina, Zé Ketti. Em outra oportunidade, Chico recebeu Márcio Borges, irmão de Lô e um dos principais letristas do Clube da Esquina. "Das Vilas" travou contato com Márcio, neste dia. Na despedida, Chico ouviu de Márcio a seguinte recomendação sobre Luiz Carlos: "Cuidem muito bem do poeta de vocês". Nessa importante interação com artistas não sambistas, Luiz não somente teve novas parcerias (Amarildo Silva), como se inspirou em Ybis Maceioh, um
compositor alagoano que adorava ouvir: "Os papéis", samba em parceria com Wilson das Neves, gravado por Zeca Pagodinho, no final de 2000, foi na "onda" de uma composição de Ybis. E, por sinal, entrou "aos 45 minutos do segundo tempo" do disco de Zeca, "Água de Minha Sede", o último realmente bom da carreira deste sambista. A história de como isso ocorreu Luiz fora cantar em Xerém um samba (até hoje inédito) que fizera para um "mala sem alça" que conhecera em São Paulo: "Se aquele malandro chegasse aqui agora/ Eu juro por Deus e por Nossa Senhora/ Que eu virava caipora, eu virava Zumbi/ Ô, Nair!". Zeca e Almir Guineto (que considerava Luiz Carlos, o verdadeiro poeta do samba), ouviram e brincaram: "Olha, aí! Ele veio de 'partido!'". Luiz sentiu que não empolgara e raciocinou, como de costume, rápido: precisava salvar o Natal de 2000, ganhando o adiantamento da editora, por entrar no disco de Zeca. Foi aí que tocou "Os Papéis", samba que garantiu a sua vaga no CD "Água de Minha Sede". Mas, cheio de contradições (a marca genial dos seus sambas), nesse processo ascendente, "Das Vilas" teve algumas derrapadas. A principal foi no show de Jorge Aragão, com canja sua como convidado, em um Olimpo, casa de shows da Vila da Penha, lotado. Poucas horas antes do show, eu e Luiz Carlos Máximo o encontramos inseguro, deitado na cama, relutante em fazer o show. Conversamos com ele, explicamos que o show estava anunciado na capa de "O Dia" e o convencemos. Mas, os excessos da boemia, em função da sua insegurança, fizeram com que se apresentasse de forma ruim, esquecendo letras das suas próprias músicas, para decepção de sua mãe, Dona Esmerilda, ali presente, e dos seus amigos. No dia seguinte, já "curado" da apresentação, ouviu do amigo Sérgio do Carmo "a real": "Uma merda, neguinho!". Dias depois, seu irmão Betinho nos agradeceu no bar: "Vocês sim são amigos!". Se redimiria por completo dessa apresentação, dois meses depois, como convidado na mesma casa, no show comandado por Dudu Nobre. Em outra ocasião, esperando o ônibus no ponto perto do metrô de Vicente de Carvalho para ir para o bar, só escuto ele gritando: "Alex, tá indo pra onde?". "Pro bar", respondi. "Eu vou com você. Vamos de taxi, que eu estou virado e estou trifásico!". Ao entrar no taxi, se ligou no rádio do carro e elogiou o motorista: "Parabéns, amigo pelo bom gosto. Ouvindo o programa da Dalila Vila Nova!". O motorista agradeceu o elogio e se queixou: "Poxa, pior que eu queria mesmo era o CD do Luiz Carlos da Vila, o melhor disco de samba do ano, mas eu não acho". Eu aproveitei e me meti: "Amigo, isso eu acho que nem ele tem mais". Ao descer do taxi, Luiz comentou: "Tinha que ser esse motorista!" E relembrou do dia em que pediu para cantar uma composição sua, numa roda de samba famosa, que ocorria na rua da Quitanda, no centro da cidade, nos anos oitenta. Ao terminar de cantar, um dos integrantes da roda lhe disse, em voz alta: "Parceiro, leva mal não: esse samba não é seu! É do Luiz Carlos da Vila!". Os excessos da boemia também lhe afetaram a dicção, como um dia me confessara. Mas, no geral, havia um movimento ascendente na sua carreira, era necessário somente organizar minimamente todo esse vulcão de criação que ele tinha guardado em uma caixa. Até que eu tentei, muito pilhado por Sérgio do
Carmo: "Porra, 'pai', pega os arquivos do 'neguinho' e dá uma organizada naquilo. Você é historiador!". Coincidiu este movimento pessoal com um show de LCV no Lagoinha de Santa Tereza, quando "Das Vilas" me apresentou David Corrêa, campeoníssimo compositor de sambas enredos: "Dom Alex, esse aqui é o David Corrêa! Conheces?". Respondi, rápido: "Ganhador de três estandartes de ouro na Portela, com 'Macunaíma', 'Incrível, Fantástico, Extraordinário" e "Das Maravilhas do Mar, fez-se o esplendor de uma Noite". David me olhou espantado: "Pô, você sabe mais da minha vida do que eu!". Dias depois, lá estava eu de frente para um monte de papeis, tentanto organizar o dito acervo e chegando a conclusão de que não somente era trabalho para muitos dias. Como também descobri a profunda honestidade do artista Luiz Carlos da Vila: uma letra de música antiga enviada por Zeca Pagodinho para ele jamais foi aproveitada. Não interessava para ele se Zeca já era o principal sambista do país. O que importava era se o sensibilizava para criar. E nada mais. Esse espírito anárquico, fundamental para o grande artista, não fazia Luiz estar amarrado a nada. Tinha sido da "Ala de Compositores Antonio Candeia Filho" da tradicional Grêmio Recreativo Artes Negras Quilombo, mas se somara ao Cacique de Ramos, que revolucionara o samba com a introdução do repique de mão, do banjo e tantan. Fora o autor de "Doce Refúgio", considerado o hino do Cacique, mas gostara mesmo, quando mais moço, do Bafo da Onça. Ganhou dois campeonatos para a Vila Isabel, mas venceu disputas internas na Cabuçu, na Mocidade Alegre e, contam, no Império Serrano (sem assinar), além de ter disputado na Unidos de Viradouro e ter tentado disputar na Mangueira. Em função desse espírito anárquico, tivemos um único desentendimento. No final de 2000, um show para o Movimento dos Sem Teto na concha acústica da UERJ, contou com o apoio na organização da futura deputada pelo PSOL, Janira Rocha, naquele momento casada com Luiz Carlos Máximo. Este contatou Luiz Carlos, eu contatei outros artistas sem mídia e o show se fez 0800, com uma plateia animada, mas com um som péssimo. No dia seguinte, fui comentar a má vontade do operador de som com a apresentação do conjunto feminino "Águias da Portela" (depois, "Negras Raízes") e Luiz passou a me dar um esporro, de que eu deveria ter tomado uma atitude etc. No fundo, ele achava que eu, por ser militante político, é que estava por detrás do convite a ele para um show também político, atividade em que ele não se sentiu a vontade. Passado um tempo, eu, Luiz Carlos Máximo, Sérgio, Chico Pereira, Luiz Carlos Patropi, fomos convidados pelo próprio LCV para o aniversário de Dona Esmerilda, que morava em frente ao bar. Todos foram, menos eu. Ele percebeu que eu não estava a fim de papo e voltou para o bar. O assunto era que Luizinho queria passar o ponto do Papo de Esquina, que já não lhe era rentável. Do seu jeito, ele me pediu desculpas e passamos todos a cogitar em transformar o bar em um estabelecimento sem dono, uma cooperativa de vinte cotistas, com Jane Pereira comandando, com o auxílio de Antônio Schittino e Ernâni Costa, dois programadores da Rádio Bicuda, que estavam desempregados. Entretanto, espremidos pela realização do primeiro desfile do Bloco do Rabugento e pelo fato de que um setor dos ativistas culturais era contra a ideia da cooperativa, aqueles
que propunham esta última não conseguiram o número de cotistas suficientes e o bar acabou sendo adquirido pelo compositor sem-mídia Johnny Maestro. No ano de 2001, Luiz Carlos da Vila seguiu na curva ascendente da carreira: gravou um novo CD "Um cantar à vontade", a partir de um show realizado em um Teatro Rival cheio, naquele ano. Produzido por Fernando Gama, com Milton Manhães na percussão da banda, Luiz cantou os seus principais sucessos. Entraram "Arco ìris", canção que fez para Beth Carvalho, com quem teve um breve namoro no início dos anos oitenta, linda poesia exaltando a beleza que a nova casa da cantora, no Joá proporcionava, e "Samba pra Lili", gravada antes pelo conjunto Só Preto, Sem Preconceito. Luiz ainda cantou a música que fez para o Bloco do Rabugento, música não registrada no disco. Esse CD só seria comercializado, quatro anos depois. Sua carreira foi tomando cada vez mais o sentido de São Paulo, onde se ampliaram as oportunidades profissionais. No ano seguinte, começou a se sentir doente. Um dia no seu quintal, comentou comigo: "tem alguma coisa estragada aqui dentro". Mesmo doente, se prontificou de imediato a participar do show na Praça XV contra o fechamento da Rádio Comunitária pela Polícia Federal: "Fernando Henrique, filho da puta!", exclamou. Sentiu o fechamento da rádio, em agosto de 2002, como um golpe aos seus amigos, ao seu bairro, portanto a si mesmo. Infelizmente, o show não rolou, por problemas no som. Dois meses depois, Luiz operou o câncer no intestino na Santa Casa da Misericórdia, no centro da cidade. Contou com apoio de vários amigos, entre os quais Beth Carvalho, Marquinhos de Oswaldo Cruz, os médicos Doutor Bigu e Doutor Lauro. Fui visitá-lo, me agradeceu a presença, mas estava visivelmente pálido e debilitado. Como por milagre, superou o câncer e toda essa experiência influenciaria profundamente o seu melhor trabalho na carreira, o CD "Benza, Deus!", de 2004. Alex Brasil - Historiador
Temposição das Almas Íncubas - Segundo Pentakapitel l I I I . O l fa t o
Recomento acender um incenso para ler melhor o texto!
“Bifurquei-me. Vivogora duas vidas paralelas. É estranho! Cada nervura antes completestava e agora cada nervura sinto-a meiopresente.” "Havinota-se que nas flutuações espaço-temporais planificadas em pseudoburacos-negros ocorrem bifurquexistências com certa frequência, o que não entendemosinda!" Kon'd Drakuléa (O Nono Alquimista). A cabeçorra doía enquanto Hombre Tonto pensava numa de suas aulas em Piedade, subúrbio carioca, onde mora Ademastor Avlis, seu querido professor de Alquimia Egípcia Indutiva e Dedutiva III. Mas naquele ambiente muitos cheiros. Olores. Olores em todoarenvolta! Cheiros úmidos, canelados, almiscarados, cheiro d'mar, d'terra, d'chuva. Cheiros d’amanhã, d’onte, d’oje. Muitos cheiros e muitos oloresgaiseiformes. Substâncias gasecheirosoloresodoresolênciasaromáticas-fragrâncias imputando-nos imagensideias reconstruydas sobratravés dos nossos próprios mnemônicos-temores-ardores-interiores cotidianos. Ao redor de Hombre Tonto os filhos de Muluku, os Macuas, agora livres e todos naquela nova ilha. Onde estariam seria um grande problema se já não o fosse sua bifurcação. Ele agorentão sabia que em algum lugar poraímundafora sua primeira-ou-segunda metade vivia uma outra/mesma existência. “Qual vivência estaria tendo em outro tempespaço meu outreu? Será que eleu estará mais perto de encontrar as Almas Íncubas? Se eleu aprender a Língua-quetraz-felicidade vai me ensinar?” Ele meiosentia. Sua pele puxada, picada, lixadepois d'lascada.
Olores pintavam apologias d,outrora. Mnemônicos cheiros d'flores, d'temperos, d'caldos. A ilha. A ilha onde estavam. Eles deveriam sair d'limediatamenrápido! Seu mestre Adeamastor lhe falara: "As ilhas antropomorfas se defendem de invasores por meios planejados sofisticadequados. Um verdadeiro ataque belicoso com as armas que possuem, dentrasquais olores inebriantes, mnemônicos e por vezes esquizofrenóides." Alguns Macuas se jogavam ao mar, nadavam em direção ao nada, afogavamse. Eram os olores. A ilhota viva. Seus ecossistemasaromáticos deflagrando guerreiras expulsões, inundando nossos narizes de cheiros-e-fedências! Via os homens pularem de pedras, afogando-se, enforcando-se, suicidando-se e ele, ao bifurcar-se ficou imune? Talvez? Ficou consciente? Sim, mas, quem sabe, sofreagora sua outrametade!? Nossoutro podestar em qualquer parte! “Lembro-me da Profetisa Ísis revelando-nos num Centro de Umbanda em Guadalupe, no bairro avenibrasil do subúrbio carioca, a entidade me disse: "Zimifio, prestenção. Pá chegá nas conquista D'ouro alquímico Escuta o que o anjo malandro disse: 'Pra consegui u ouro é difíci Necissita d'união dosopostos E a conjunção proto-planetáriniciática!' Assim dissuomi!" “E eu desunido de mimoutro.” A consciência do herói-das-gentes começou a dizer-lhe-a-si-mesmo, como numa saudade construída por ele mesmo em relação ao seuoutroelemesmo bifurcado, sentindo-se distante delemesmo. Ela lhe dizia: “Acredito que somente com uma nova dor você poderá sair desta ilha no subúrbio-paralelo em que se meteu. Procure o homem do navio tumbeiro, o que lhe disse como deveria escarpar do navio, ele deve saber algo.” “Sim! Meu amigo Makua deve saber algo! Deixe-me ver, onde ele está?” Hombre Tonto trezentosessentagraus volteia seu corpo: não encontra seu amigo! Faz novo volteio com a cabeça inclinada em graus maiores em relação ao pescoço: encontra seu amigo, ele está no alto de uma montanha prestes a se atirar nas pedras. O Heróis-das-gentes não pensa nem meia-vez, corre, corre muito e grita: “Amigo! Amigo! Espere, amigo!” Entretanto o Makua parece alheio ao que se passa ao redor.
Ninguém nota, mas, de certa forma, o amigo o ouviu, pois passou a andar bem mais devagar em direção ao salto d’morte. O africano é parado a poucos passos do salto. Ele com seus olhos fechados. Ele com seu rosto iluminado. Ele com a tez de quem está emtranze. Ele olha com os olhos fechados para nosso Eleherói e diz-lhe: “No ar os sons, os cheiros. Gases no ar. Fragâncias, temperos. Forças no ar, olores fagueiros. Como se no ar. Flutuando vivêssemos. Forças no ar. Olores e odores maneiros.” Ele deve está sob o efeito do quase-feitiço-que-é-o-que-existe, uma das treze competências que a Mãenatura nos impõe, a Naturalezamadre. Alguns pensariam ser uma fantosmia, mas Tonto sabia que uma anosmia, uma hiposmia, uma hiperosmia ou mesmo uma disosmia podem ser causadas por encantamentos de baixo-padrão, por elementais como as ilhas antropomorfas. Ele sabia que se tratava naquele momento tão somente de uma parosmia. Então, Elherói pega algumas gramíneas ali perto e coloca no nariz do africano Makua. Ele se retorce em movimentos estranhos e de repente abre os olhos. Arregala-os. E diz: “O binarismo olfativo é uma grande ilusão. Apesar de nossas estruturas cerebrorinencéfalas dizerem o contrário, não dependemos de forma tão contundente dos olores para guiar nossas emoções. Sua bifurcação foi a chave para sua libertação hoje. Para sair desta ilha você deve comigo pular no fosso que se abre à frente! Veja!” O Makua aponta para frente e mostra um fosso que acabou de se formar no mar ilhacircundante. Então juntos eles mergulham morro abaixo no fosso marítimo que se lhes apresenta. Somem. Pazuzu Silva
Vila Isabel e Noel Rosa – uma história sem fronteiras Penso que Noel Rosa vivia – guardadas as proporções temporais – da mesma maneira que vivo. Apenas a ação de caminhar pelas ruas do bairro de Vila Isabel é encantadora! Você já andou despretensiosamente pela Boulevard 28 de Setembro? Se sim, sabe do que falo quando se depara com calçadas musicais, desenhadas de colchetes que nos conduzem ao deslumbramento azul: Grêmio Recreativo Escola de Samba Unidos de Vila Isabel. Vila Isabel é puro subúrbio! Moro numa casa que fica na rua Felipe Camarão. Se me desloco sentido Norte, encontro Noel Rosa eternamente sentado num universal botequim, sendo atendido por um garçom. Ouça a canção Conversa de Botequim. Saberá do que estou falando. Cruzo a São Francisco Xavier e singro a Uerj, a corto no seu âmago rasteiro, a conheço profundamente, a ponto de descobrir segredos. Continuo o périplo do conhecimento e tenho à frente, à minha disposição, as estações do Maracanã. Quanta mobilidade! O estádio do Maracanã é uma experiência à parte. Acredito que passei por momentos bastante felizes. Vou contar-lhes um: Vasco e Botafogo se enfrentam, em 1992, pelo campeonato brasileiro. Botafogo faz gol no início da partida. Porém, o Gigante da Colina vira o jogo dos sonhos cujas torcidas festejavam a união. Que alegria! Voltemos à caminhada. Direciono-me sentido Sul. Passo pelo ponto inicial. Chego à praça Varnhagem, coração da Tijuca. Há de tudo: diversão, bar, conversa, alegria... Casas antigas ao longo da caminhada. Estas casas falam? Viram Noel? Compõem o aglomerado da Vila. A Vila é tudo, é universal, é vida. Noel retorna ao coração de todos nós com suas canções. Suas musicas têm como inspiração a Vila, creio. Noel é Vila: a Vila de Noel.
Leonardo Bruno
Revista Sarau Subúrbio visitou o Quilombo do Camorim No Q u i l o m b o d o C a m o r i m No último dia 25 de novembro, eu, minha filha e meu marido tivemos a oportunidade de participar da programação no Quilombo do Camorim. Além de uma deliciosa feijoada, pudemos ver apresentações de Jongo e samba de Coco. Eram ritmos pulsantes envoltos em um colorido de roupas e alegria contagiante. Simplesmente fantástico. Foi o primeiro contato do meu marido Davi com estas manifestações culturais e que o deixou maravilhado. Minha filha ficou andando pra lá e pra cá, explorando o lugar e fazendo novas amizades. O que nos deixou muito felizes também foi perceber o protagonismo feminino nestes momentos. Era mulher no tambor, era mulher no microfone, era mulher para tudo quanto era lado. Era a força feminina se fazendo presente. Quero voltar lá para fazer uma trilha. Será Natureza e História de mãos dadas. An a C r i s ti n a
A ida ao Quilombo do Camorim por ocasião do evento relativo ao Dia Nacional da Consciência Negra foi uma imersão numa experiência sensorial indrível! Emobra, não tenha sido a primeira vez que eu tenha fisitado uma párea quilombola, esta foi espeicao! O Quilombo do Camorim, assim como todos os outros, constitui um local de meméria sensível! As manifestações culturais que l[á se realizaram (jongo, roda de coco e samba) estavam carregadas de significados e sentidos de ancestralidade que, às margens do Rio camorim, reformçam a nossa mmória, ratificam e ressignificam a História de luta em busca da igualdade racial e justiça social para com os afro brasileiros! Vida longa ao Quilomgo co Camorim! Silvio Silva
Revista Sarau Subúrbio visitou o Quilombo do Camorim
C a mo ri m, o q u i l o mb o
(Marcelo Bizar/Silvio Silva/Marco Trindade)
Rio abaixo o Camorim regando o Baobá Contando uma história sem fim Do povo de lá e de cá. 2 x Contra a intolerância que se ergue ao redor uso a sabedoria que vem do tempo da vovó. A força da resistência trago em mim Sou pedra, senzala, maciço, Sou mata, negro, curumim. Do couro curtido, o tambor Da palavra amiga, tenho amor Cachimbo, rapadura e pinga, Viva as entidades em louvor! Zumbi e Dandara presentes! Quilombo do Camorim presente! Luiza Mahin presente! Luiz Gama presente! Teresa de Benguela presente! Prata Preta! Jovelina Pérola Negra presente! Carolina de Jesus Clementina de Jesus Dona Ivone presente! Besouro Mangangá presente! Luiz Carlos da Vila presente! Abdias do Nascimento presente! Lima Barreto presente! Milton Santos presente! José do Patrocínio presente! João Cândido presente! Cruz e Souza presente! Solano Trindade presente! Mãe Menininha do Gantois presente! André Rebouças presente! Tia Ciata presente Chico da Matilde presente! Marielle presente!
1 1 0 An o s d e U m b a n d a Conta a História que no dia 15 de novembro de 1908, em visita à Federação Espírita do Estado do Rio, em Niterói − após enfrentar alguns “problemas de saúde” e ser aconselhado a desenvolver sua mediunidade − o jovem Zélio Fernandino de Moraes envolveu-se em um episódio que hoje é celebrado como a data de fundação da Umbanda. Ao chegar à Casa Espírita, presidida na época por José de Souza, o jovem Zélio foi orientado a sentar-se à mesa. Apossado por uma força sobrenatural, incontrolável, o rapaz levantou-se e disse: ‘Aqui está faltando uma flor’. “Em seguida, saiu da sala, dirigiu-se ao jardim e retornou com uma flor nas mãos, que colocou no centro da mesa. Tal atitude causou um enorme tumulto entre os presentes” * Tendo prosseguido a sessão, espíritos de caboclos (índios) e pretos velhos (exescravos) começaram a se manifestar, sendo imediatamente advertidos pelo dirigente da casa, o qual os convidou a se retirarem sob a alegação de serem espíritos atrasados. Retomado os trabalhos, após o debate que se prolongou, novamente o espírito se incorporou em Zélio Fernandino, e ante as indagações dos médiuns presentes, apresentou-se como o Caboclo das Sete Encruzilhadas, revelando a missão que trazia do plano astral, e que de fato, viria a ser a tônica da religião umbandista: “Se julgam atrasados os espíritos de pretos e índios, devo dizer que amanhã (16 de novembro) estarei na casa de meu aparelho, às 20 horas, para dar início a um culto em que esses irmãos poderão transmitir suas mensagens e cumprir a missão que o plano espiritual lhes confiou. Será uma religião que falará aos humildes, simbolizando a igualdade que deve haver entre todos, encarnados e desencarnados” ** E assim, no dia estabelecido, 16 de novembro de 1908, exatamente às 20 horas, a entidade Caboclo das Sete Encruzilhadas, na presença de diversas pessoas, manifestou-se na casa da Família Moraes, na Rua Floriano Peixoto, número 30, Neves, São Gonçalo, apontando as diretrizes da religião que ora se iniciava, fundando então, a casa Nossa Senhora da Piedade. A partir daí a Umbanda se desenvolveu e conquistou muitos adeptos, e a despeito de todo o preconceito sofrido desde o seu nascedouro, arrebatou muitos corações no seio do povo brasileiro. Além dos pretos e pretas velhas, caboclos e caboclas, a religião incorporou diversas outras entidades em sua ritualística − muitas das vezes de acordo com a região do Brasil − quase todas dotadas de forte apelo popular, e que embora na sociedade de classe não gozem de prestígio, na Umbanda revestem-se de grande importância, assumindo inquestionável protagonismo na condição de conselheiros espirituais.
Religião brasileira por excelência, reunindo em geral elementos do Kardecismo, do Catolicismo e do Candomblé, a Umbanda segue fielmente sua proposta originária de ser uma religião direcionada aos mais humildes, daí a enorme relevância de seu caráter social, muito bem definido pelo sambista Zeca Pagodinho ao afirmar que “psicólogo de pobre é pai de santo”. Nem mesmo a grande perseguição sofrida, por uma verdadeira cruzada empreendida por algumas lideranças das igrejas evangélicas neopentecostais, é suficiente para abalar o moral de diversos frequentadores, devotos, consulentes, que todos os dias formam filas nos milhares de terreiros espalhados pelos nossos subúrbios, além é claro da participação em massa nas simbólicas festas populares de São Jorge (23 de abril) e Cosme e Damião (27 de setembro). Que venham mais 110 anos! H i n o d a U mb a n d a Refletiu a Luz Divina Em todo seu esplendor Vem do reino de Oxalá Aonde há paz e amor Luz que refletiu na terra Luz que refletiu no mar Luz que veio de Aruanda Para nos iluminar Umbanda é paz e amor Um mundo cheio de Luz É força que nos dá vida E a grandeza nos conduz Avante, filhos de fé Como a nossa lei não há Levando ao mundo inteiro A bandeira de Oxalá Levando ao mundo inteiro A bandeira de Oxalá J. do Rosário
*PEIXOTO, Norberto. Umbanda: Pé no Chão / um guia de estudos da Umbanda orientado pelo espírito Ramatís ao médium Norberto Peixoto – 1ª. Ed – Limeira, SP: Editora Conhecimento, 2008. 16p.
Pequena retrospectiva de 2018 da Revista Sarau Subúrbio por Tiziu O ano de 2018 foi regido por Touros, logo foi chifre pra todo lado. Teve muito chifrudo aparecendo na média. A pedra que regeu o ano de 2018 foi o quartzo branco, representando muita prosperida praqueles que lhe dão com os pós brancos de uma maneira geral. O ano que está terminando foi o ano da goiabeira. A goiaba foi a fruta regente revelando coisas do outro mundo. Em relação aos elementais foi o ano do elemental duende verde da floresta (não confundir com os de jardim), ou seja, foi um ano em que nanicos cheios de verdinhas se sentiram poderosos. O astro regente de 2018? Vou dizer agora: Saturno. Agora você compreendeu muita coisa do que aconteceu este ano, certo? Foi Saturno. Resumindo: foi um ano cíclico! Certo? Você concorda comigo? Pode concordar ou não porque tudo o que eu disse acima foi pura invencionice de passarinho! Não faço a mínima ideia do que disse... inventei descaradamente! Mas tem muito pássaro bom que acredita nessas coisas! Vamos então a uma retrospectiva do ano de 2018, só que através de um jogo de tabuleiro (ótimo para ser jogado com os parentes que você não vê há um ano, pois só se encontram no Natal). Em nossa retrospectiva algumas datas importantes para a Revista Sarau Subúrbio e algumas datas que consideramos importante não serem esquecidos. De quebra tem um dado para ser montado basta recortar, dobrar e colar. O dado é o meu primeiro "dado suburbano": só olhar que você vai entender. No mais: Boas Festas, Ótimo 2019 e Feliz Natal!
• A l eg en d a d o j o g o : — Acertou a casa 13 - número de sorte, pule para a casa 18 — Acertou a casa 17 - um número ruim demais da conta, volte para a casa 10 — Acertou a casa do dia 14 de março - assassinato da vereadora Marielle Franco e de seu motorista Anderson Gomes, para refletir sobre o crime: duas rodadas sem jogar. — Acertou a casa do dia 07 de abril - dia em que ocorre a prisão de Lula, para refletir sobre o golpe: duas rodadas sem jogar. — Acertou a casa do dia 23 de abril - Dia Nacional do Choro, pule para a casa .... — Acertou a casa do dia 25 de abril - lançamento da Revista Sarau Subúrbio na plataforma ISSUU, pule para a casa.... — Acertou a casa do dia 30 de junho - primeiro Comida di Pé Sujo, pode jogar mais uma vez. — Acertou a casa do dia 18 de agosto - Primeiro sarau da Revista Sarau Subúrbio, pode jogar mais uma vez. — Acertou a casa do dia 30 de setembro - Primeira aula do Curso de História do Subúrbio a partir de Madureira, pule para a casa.... — Acertou a casa do dia 28 de outubro - eleito o 38º presidente do Brasil. Um retrocesso, volte para o início do jogo! — Acertou a casa do dia 20 de novembro - Dia da Consciência Negra, pule para a casa... — Acertou a casa do dia 29 de novembro - caderno sambas em poesia 1, jogue outra vez. — Acertou a casa 51 - a garrafa de 51 não tem nenhuma aplicação no jogo, trata-se somente de uma boa ideia. — Acertou a casa do dia 02 de dezembro - Dia Nacional do Samba. Dia da participação da Revista Sarau Subúrbio na FliSamba 2018, jogue outra vez.