EXPEDIENTE Edição: V. 2, n. 10 - novembro de 2019 Periodicidade: mensal
Revisão: a revisão dos textos é feita pelo próprio autor, não sofrendo alteração pela revista (a não ser tão-somente quanto à correção de erros materiais). Diagramação: Marcelo Bizar Capa: concepção de Marcelo Bizar e Marco Trindade; Arte e Grafismo: Marcelo Bizar Foto da capa: Foto de Alcinoo Espanha, grande fotógrafo que gentilmente nos cedeu sua foto da Tia Maria do Jongo pra capa desta edição da revista. Agradecemos sobremaneira ao fotógrafo e à grande cantora e compositora Lazir Sinval, integrante do Jongo da Serrinha que muito nos ajudou, possibilitando a feitura da capa. Imagens: as imagens não creditadas são da Internet. Distribuição: A distribuição da Revista Sarau Subúrbio é online e totalmente gratuita. Plataformas de leitura: https://revistasarausuburbio.com.br, ISSUU e Calamèo. Notas importantes: A Revista Sarau Subúrbio é uma publicação totalmente gratuita, sem fins lucrativos. Não contamos com patrocínio de qualquer natureza. Nosso objetivo, em linhas gerais, é servir de instrumento para que os artistas que não possuem espaço de divulgação nas mídias tradicionais possam apresentar seus trabalhos, nas mais variadas formas, seja na literatura, na música, no cinema, no teatro ou quaisquer outras vertentes artísticas, sempre de forma livre e independente. Todos os direitos autorais estão reservados aos respectivos escritores que cederam seus textos apenas para divulgação através da Revista Sarau Subúrbio de forma gratuita, bem como a responsabilidade pelo conteúdo de cada texto é exclusiva de seus autores e tal conteúdo não reflete necessariamente a opinião da revista. Editores Responsáveis: Marcelo Bizar e Marco Trindade Conselho editorial: Marco Trindade, Marcelo Bizar, Silvio Marcelo, Kátia Botelho Contato: sarausuburbio@gmail.com
EDITORIAL Todos nós suburbanos sonhamos com a volta de ZUMBI DOS PALMARES, principalmente em tempos tão difíceis. Enquanto isso, embalados por um dos mais belos sambas-enredo de todos os tempos, perguntamos alto e bom som: “SERÁ QUE JÁ RAIOU A LIBERDADE?”
G.R.E.S. Estação Primeira de Mangueira Samba Enredo 1988 - 100 Anos de Liberdade, Realidade Ou Ilusão (Alvinho / Helio Turco / Jurandir) Será que já raiou a liberdade ou se foi tudo ilusão Será, oh, será que a lei áurea tão sonhada Há tanto tempo assinada não foi o fim da escravidão Hoje dentro da realidade onde está a liberdade Onde está que ninguém viu Moço não se esqueça que o negro Também construiu as riquezas do nosso Brasil Pergunte ao criador Quem pintou esta aquarela Livre do açoite da senzala Preso na miséria da favela Sonhei Sonhei que zumbi dos palmares voltou, ôô A tristeza do negro acabou Foi uma nova redenção Senhor, oh, Senhor! Eis a luta do bem contra o mal (contra o mal) Que tanto sangue derramou Contra o preconceito racial O negro samba O negro joga a capoeira Ele é o rei na verde e rosa da Mangueira
SUMÁRIO 02 03 04 05 08 09 10 11 12 14 16 18 19 20 23 24 25 29 30 31 32 33 35 38
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EXPEDIENTE EDITORIAL SUMÁRIO O MEU ENCONTRO COM MACHADO DE ASSIS E DOM OBÁ II O MÉTODO A PASSISTA VINTE DE NOVEMBRO SEM PENSAR O PRECONCEITO DE COR A NOITE EM QUE A VÊNUS NEGRA FOI À MACUMBA MARIA FIRMINA DOS REIS, A PRIMEIRA ROMANCISTA BRASILEIRA ESTANTE SUBURBANA VITROLINHA SUBURBANA MÊS DA CONSCIÊNCIA NEGRA NUM BOTECO EM ANCHIETA NÃO VALEU, ESTÁ VALENDO! ESCRITA DE LUZ VOLTA SECA UM LUGAR NO SUBÚRBIO MICROCONTOS DOS MACROCOSMOS - RODA DE CAPOEIRA CONSCIÊNCIA NEGRA MUANA A TEMPOSIÇÃO DAS ALMAS ÍNCUBAS - OS SUBURBINÓIDES I A MATEMÁTICA DA CAPOEIRA BLOG DO TIZIU
O MEU ENCONTRO COM MACHADO DE ASSIS E DOM OBÁ II
Era uma noite fria e escura, a sexta-feira chegava ao fim decepcionando a todos que esperavam alguma coisa dela. Estávamos sem energia elétrica há algumas horas e chovera toda a tarde. Ao longe, e com certo estardalhaço, ouvia-se o badalar de um relógio que anunciava o encontro dos seus ponteiros. Por incrível que pareça! O único sinal da agitação urbana tão comum no Centro da Cidade do Rio de Janeiro. Muito tempo depois da última badalada noturna, vencido pelo cansaço da espera e impaciente com o avanço lento das horas, fechei a porta do Casarão, sede do Centro Cultural Pequena África, e saí. Não havia uma viva alma no Largo São Francisco da Prainha e adjacências. Dobrei à esquerda na Sacadura Cabral, parei, cerrei bem os olhos, para me acostumar mais a escuridão, e pensei: se o Rubem Confete estivesse aqui comigo seria fácil cruzar esta rua. Abri os olhos e falei com meus botões: - Ah!... Como estou bandido!... Caminhando o mais distante possível da calçada, pelo meio da rua completamente esburacada pelas obras de revitalização da área, parti assobiando como de hábito nas madrugadas. Tenho medo dos vivos, embora reúna coragem suficiente para enfrentá-los. Media cada passada com a prudência de quem não tem pressa pra nada, o que me dava tempo para perscrutar cada quadrante do caminho. Não enxergava nada, mas me sentia confiante. Já havia avançado dois quarteirões, e nem uma viva alma cruzou o meu caminho. Comecei a encasquetar umas idéias soturnas, e iniciei uma conversa interior, abstraindo-me do movimento exterior. E assim enveredei no quarteirão onde se situava o antigo cais do Valongo - local no qual milhões de escravos oriundos do continente africano desembarcaram no Brasil -. De repente o piso cedeu e eu rolei buraco adentro, batendo com a cabeça seguidas vezes nos escombros da escavação, e quando dei por mim estava entre duas figuras. As criaturas apresentavam um brilho iridescente e se destacavam no breu da noite! Senti o cabelo eriçar, a pele arrepiar e um frio no estômago. Porém, logo percebi do que se tratava e me aproximei para ver o que acontecia. Como deixei bem claro anteriormente, eu tenho medo é dos vivos! Entrei na frequência e os ruídos da conversa se tornaram vozes em dissonância de opiniões. Conhecia aquelas figuras de algum lugar, pensava eu acessando os registros da memória com uma velocidade só mensurável em megabytes. O resultado apresentado quase provoca um curto circuito no meu sistema cerebral. Respirei fundo e pisquei, várias vezes, e tossi nervosamente até restabelecer a energia para continuar aceso.
No fundo da escavação: Machado de Assis e Dom Obá II d’África trocavam acusações. — Você poderia ter feito muito pela Pequena África, afinal você nasceu aqui e não no Cosme Velho, e mais ainda pelo movimento abolicionista! Dizia, com ar emproado, Dom Obá. Em pé, recostado numa pilastra, com o pé esquerdo apoiado numa pedra e mãos enfiadas no cós da calça. Machado de Assis, sentado, sem olhar para cima e gaguejando levemente, respondeu: — O que eu poderia ter feito por esta região? Bem, há coisas que melhor se dizem calando. Quanto ao movimento abolicionista e a própria abolição, basta consultar algumas das minhas obras. — Mas a nossa gente não lia e precisava de alento, pois só ela trabalhava, e muito!... A elite, influenciada pelo pensamento darwinista europeu, vivia preocupada com o branqueamento do Brasil. — Você era um herói de guerra, alguém que se tornou notável pelas batalhas, um ser sadio, embora amalucado, e folclórico. Um homem respeitado e reverenciado como um príncipe por todos que conviviam ou não na Pequena África e até por Dom Pedro II. Eu...! Um sujeito de saúde frágil, que requeria cuidados constantes, e não podia circular como você por todas as esferas. — Fui um herói, quando o elemento da guerra era a espada, mas o elemento maior do meu triunfo foi a pena. — Eu tomei ciência das suas atuações nas audiências públicas na Quinta da Boa Vista e no Paço da Cidade, li alguns artigos seus nos jornais e até algumas poesias abolicionistas. Dom Obá sorriu com ar de zombaria e pouco caso. Machado de Assis se levantou e pareceu crescer, diante da enorme figura de Dom Obá. Com uma voz gélida e uma frieza cadavérica, disse: — Sr. Cândido da Fonseca Galvão! Estais duvidando de mim? Dom Obá engoliu seco. E, antes que ele respondesse algo, Machado de Assis declamou uma de suas poesias. Assim que Machado de Assis encerrou, Dom Obá, para não perder a pose e marcar ponto, repetiu uma citação de Machado: — Creia em si, mas não duvide sempre dos outros. — A vida é cheia de obrigações que a gente cumpre por mais vontade que tenha de as infringir deslavadamente. Complementou um enigmático Machado. O dia começava a clarear. Machado de Assis estendeu a mão para Dom Obá, em sinal de despedida, e finalizou: — O que eu mais gostava era quando você dizia com veemência para Dom Pedro II que: sem educação, nada seria possível!... Dom Obá juntou os calcanhares, bateu continência e se despediu.
Machado, retirando o pince-nez, saldou-o dizendo: — Encontramo-nos no término da obra!... Senti o meu corpo dolorido ser sacudido e ouvi uma voz distante me chamando insistentemente. Abri os olhos e me deparei com a Celina, presidente do Centro Cultural Pequena África, que viera identificar algumas peças encontradas nas escavações, me chamando.
Kaju Filho
O MÉT ODO “E quando nós falamos/ temos medo que nossas palavras nunca serão ouvidas/ nem bem vindas/ mas quando estamos em silêncio/ nós ainda temos medo/ então é melhor falar/ tendo em mente que não éramos supostas sobreviver” (Audre Lorde) * A gente que vive por aí andando no relento é que sabe o que é sofrimento. Parece uma injeção de fome e frio, por isso que mesmo no sol o povo da rua anda coberto. O gelo da noite misturado com sono, tonteira, dor no corpo. Pior é enfrentar esses seguranças de rua. Cão de guarda que nem o Cara Ruim é difícil, é o capeta carioca. Eu não sei como a senhora aguenta, me dizem, por isso me chamam de Dona Fé. Até que outro dia vi ele saindo da porta do casarão que parece castelo, vindo em nossa direção, gritando feito doido. Tava tão fraca, tremia tanto, só fechei os olhos. Estranhei a voz dele, alterada, e ainda mais o que ele disse. Gritava, dizendo que demitiram ele, que ia se vingar dos donos do castelo, que minha fome ia acabar. Eu custei a acreditar quando ele disse que tem umas frestas no portão, que lá eles colocam sacos com muita comida dentro. Então ele foi embora com raiva. Aí vi que achei um método pra sobreviver, até quando não sei.
Orl a n d o Ol i v e i ra
*“Mémorias da plantação – episódios do racismo cotidiano”, Grada Kilomba, tradução Jess Oliveira, pg. 57)
A PASSISTA
Lá vem a passista, dançante, maneira, Trazendo no rosto a luz de um sorriso. Rebola a passista em trajes sumários., E os homens desejam deitá-la em seus leitos. Na pista ela samba, ela canta, fulgura, E os homens, sedentos, sonhando pecados. Negra, vibrante, lasciva, tão linda! É dona da quadra, rainha da noite E pega nas mãos fragmentos de estrelas E espalha na quadra alegria tão grande, Que o mundo inteiro parece dançar.
Ba r ã o d a M a t a
VINTE DE NOVEMBRO
Do Porto, no Morro, Subúrbios Esse partido nasceu Filho de Mãe África Carioca ele sobreviveu Hoje eu Canto bem alto Hoje eu só quero Alegria Deixo a Tristeza de Lado na Palma da Mão sinto a Energia canto partido alto sou para sempre aprendiz viajo na poesia dos batuques de raiz todo vinte de novembro negritude é consciência canto pra te lembrar negra é a voz da resistência Rodolfo Caruso Poeta todo dia
SEM PENSAR
Agora nem consigo pensar Tá doendo prá caramba Sinto falta do sorriso E do calor que me acalanta... Não pensei que fosse assim Um olhar, uma voz, um gesto Uma simples atenção voltada à mim Um momento que me tirou o resto... E me fez acalmar os pensamentos Por um instante tive a impressão de paz Meu coração mudou os batimentos E pude sentir algo que não existia mais... Fiquei sereno imaginando o impossível Uma vontade, um desejo, um calor Tentando acreditar no que seria incrível Eu ali diante do que poderia ser amor... E hoje depois de passado um tempo Tenho certeza do que havia imaginado Ao me olhar tão linda por um momento Não me contive, agora estou apaixonado...
Junior da Prata
O PRECONCEITO DE COR Nasci no Morro de Mangueira em 1946, em um barraco pobre com telhado de zinco e chão de barro e o banheiro era no quintal e não tinha descarga, pois água encanada naquele tempo nem pensar. Cresci naquele ambiente promíscuo, sem saneamento básico com valas a céu aberto. Mas se por um lado tínhamos essas carências, por outro tínhamos o samba onde descarregamos nosso sofrimento, através da alegria de sambar. Além do samba você tinha o forró trazido pelos nordestinos que lá moravam, a dança de quadrilha nas festas juninas, os arrasta pés, enfim a cultura era uma constante “Naquele mundo de Zinco que é Mangueira”, já dizia um compositor num samba em referencia ao morro. Ali não se tinha diferença entre as pessoas por serem de cores diferentes, embora a predominância de pessoas com pele negra fosse evidente. Em sua maioria vindas do Vale do Paraíba, após a Abolição da Escravatura e a Proclamação da República. O Rio de Janeiro era a capital e o sonho de uma vida melhor trouxe muita gente daquela região para os morros da Cidade. Do nordeste muita gente mestiça e muita gente de pele clara,misturavam-se aos negros oriundos de Minas Gerais. E assim a convivência era normal no ambiente pobre, mas solidário onde um sempre ajudou o outro na hora da precisão. Não se sabia o que era intolerância religiosa, pois havia uma convivência pacífica entre as várias religiões existentes no Morro de Mangueira. Templo de Umbanda ou de Candomblé ao lado de uma Igreja Batista, uma Paróquia Católica, vizinha de uma Igreja da Assembleia de Deus, todos se cumprimentavam. Dentro de uma mesma família você tinha pessoas com orientações religiosas diferentes. Pessoas negras e pessoas brancas naquele ambiente não tinham diferenças, formavam famílias sem nenhuma oposição com relação a cor. E nos ensaios da Estação Primeira de Mangueira já naquela época, negros e brancos do morro viviam em perfeita harmonia, era bonito de se ver. Mas fora daquele ambiente havia uma coisa velada chamada preconceito, principalmente contra o pobre e particularmente contra o negro. Nos vários clubes existentes na cidade do Rio de Janeiro, o negro não podia entrar a não ser que fosse empregado, até que intelectuais negros resolveram criar um clube para que pudessem frequentar e aí nasceu o Renascença Clube.
E num concurso de beleza aonde só participavam pessoas com pele clara, o Clube se fez representar e pela primeira vez uma mulher negra chamava a atenção pela sua beleza. Vera Lúcia Couto, miss Guanabara, a beleza negra se mostrando nos anos de 1960. Com a chegada das redes sociais, o preconceito que era velado passou a ser mostrado de forma bem agressiva. Se em parte foi ruim, em outra foi bom, porque caiu a máscara o Brasil é um país racista declaradamente. Mas a diferença é que hoje o negro se impõe, já não é mais submisso e enfrenta de frente o problema. Vários artistas negros foram ofendidos nas redes sociais, mas souberam encarar o problema com muita dignidade, dando resposta a altura para os ofensores. Preta Gil, Tais Araújo, Ludmila, Maju, Seu Jorge. Um goleiro de futebol e agora mais recentemente a família do jovem jogador do Flamengo Vinicius Junior no Estádio do Botafogo, por um torcedor doente, todos alvos do preconceito racial. Não podemos abaixar a cabeça e neste processo as escolas de samba têm sido muito importantes, pois unem todas as classes sociais e todas as raças e mais importante ainda é a temática de contestação e de negação do negro como pessoas de segunda classe simplesmente, porque seus antepassados foram escravizados aqui, só que todas as raças como dizia Candeia, “Já foram escravas também”. E salve o dia da consciência negra
Onésio Meirelles
A NOITE EM QUE A VÊNUS NEGRA FOI À MACUMBA Josephine Baker (1906-1975) foi sem dúvida uma das figuras mais exóticas e criativas do cenário artístico do século XX. Nascida nos Estados Unidos, com herança negra e indígena, Baker se destacou desde cedo como cantora e dançarina. Foi em Paris que consolidou a sua carreira artística, ficando conhecida como a Vênus Negra ou Pérola Negra. A artista sempre inovava em suas apresentações, explorando diversos ritmos e coreografias fora do convencional. Em 1939, numa visita ao Brasil, Baker fez apresentações no extinto Cassino da Urca. Mas foi um fato inusitado que marcou essa passagem da estrela pelo Rio de Janeiro: Baker foi convidada para conhecer um legitimo terreiro de “macumba” no subúrbio carioca. O convite partiu do jornal “Diário da Noite” e o cicerone da artista seria ninguém menos do que o famoso compositor Heitor dos Prazeres. Segundo o citado jornal, Baker ficou empolgadíssima com o convite, já que se interessava muito pelos ritmos brasileiros. Uma prova disso, é que a dançarina comprou tamborins, cuícas, pandeiros e ganzás aqui em terras brasileiras para usar em suas apresentações. O evento tomou uma proporção estrondosa. Não somente Baker, mas também uma comitiva de jornalistas, intelectuais e artistas foi convidada para a “macumba”. Dentre esses convidados estavam Roberto Marinho, Victor Ronai do “New York Times” e o diplomata equatoriano Sotomayor. Além disso, Ary Barroso faria a irradiação do cerimonial pela Rádio Tupi. A princípio, a “macumba de Josephine Baker” seria num terreiro em Honório Gurgel. Porém, posteriormente foi decido que o terreiro de Mãe Adédé em Ramos sediaria a cerimônia. O evento foi adiado por duas vezes. Na segunda vez, numa reunião em casa de Mãe Adédé, onde estavam reunidos vários Pais de Santo importantes das redondezas, mais o redator do “Diário da Noite”, Jayme de Barros, Pai Azabú tomou a palavra num determinado momento. Ele foi enfático em dizer que não poderia acontecer na noite de terça-feira, pois essa era a noite do “Moleque Chrispim”, um caboclo “inconveniente e alvoroçado para famílias”. Dessa forma, ficou resolvido que o evento ocorreria na sexta-feira, que era o dia do caboclo “Sete Flechas”. Na noite de 30 de junho de 1939, o terreiro de Mãe Adédé na rua Major Rego em Ramos, se viu tomado de uma grande multidão, todos curiosos em ver a Vênus Negra “cair no batuque”. Paulo da Portela acompanhado de outros participantes, dão início à cerimônia rufando os seus tambores e cantando:
Nêgo quando cava Nêgo quando canta Nêgo quando pula Nêgo quando toma Nêgo quando grita Nêgo quando dansa Nêgo quando brinca Nêgo quando zomba Sente gana de chorá Nêgo quando nasce Nêgo quando cresce Nêgo quando luta Nêgo quando corre Nêgo quando sobe Nêgo quando desce Nêgo quando veste Nêgo quando morre Nêgo pena sem pará Josephine Baker não resiste e dança ao som dos batuques. Heitor dos Prazeres também participa da cerimônia. Ary Barroso, além de fazer a transmissão pela Rádio Tupi, aproveitou a ocasião para entrevistar Mãe Adédé. Foi uma noite memorável. Baker ficou tão encantada com a cadência brasileira, sobretudo carioca, que contratou Russo do Pandeiro para uma temporada no Cassino de Paris, além de apresentar músicas brasileiras como “O que é que a Baiana tem?” em seus espetáculos na Europa. Esse foi o resumo da noite em que a Vênus Negra foi à macumba.
An a C r i s ti n a d a S i l v a
Fontes: Carioca, edição 200 de 1939. Diário da Noite, edições 3674, 3675, 3681, 3682, 3684 e 3689 de 1939. O Cruzeiro, edição 36 de 1939.
MARIA FIRMINA DOS REIS, A PRIMEIRA ROMANCISTA BRASILEIRA
Úrsula é o romance de Maria Firmina dos Reis, escritora negra, e pioneira como escritora negra no Brasil. Essa mulher negra rompeu muitas barreiras. Simplesmente o romance Úrsula é considerado o primeiro escrito por uma mulher no país. O primeiro escrito por uma mulher negra. E o primeiro romance abolicionista brasileiro. Quando publicado, no romance vinha como autora: "uma maranhense". Maria Firmina dos Reis era realmente uma mulher guerreira, seu romance Úrsula é considerado precursor. Publicado em 1859, anterior à poesia de Castro Alves é de temática abolicionista, sendo precursor da temática na literatura brasileira. Não é de se admirar: alguns historiadores brasileiros não admitem esse fato. Mas, o romance Úrsula vai muito além do pensamento de seu tempo. Bastaria a tais historiadores lerem o romance. É o primeiro romance abolicionista da literatura brasileira e, indo além disso, no romance a inserção da temática do negro, em sua condição na sociedade brasileira, é diferenciada pois contém elementos das tradições e memórias ancestrais africanas. No prólogo do romance, nos diz a escritora: "Mesquinho e humilde livro é este que vos apresento, leitor. Sei que passará entre o indifferentismo glacial de uns e o riso mofador de outros, e ainda assim o dou à lume.", e no parágrafo seguinte: "Sei que pouco vale este romance, porque escripto por uma mulher, e mulher brasileira, de educação acanhada e sem o tracto e a conversação dos homens illustrados, que aconselham, que discutem e que corrigem, com uma instrucção miserrima, apenas conhecendo a lingua de seus paes, e pouco lida, o seu cabedal intellectual é quasi nullo." Uma nota pra quem vai lendo essas linhas aqui e achando o português das citações meio estranho: todas as passagens foram retiradas do livro "Úrsula", edição de 1975, diretamente do texto do jeito que foi escrito à época, fazendo o livro parte
do acervo da Biblioteca Pública Benedito Leite, localizada no Centro Histórico de São Luís do Maranhão. A declaração inicial do romance é outro fato curioso e destemido, a autora faz questão de informar o leitor sobre sua origem, sua condição social. O que é muito corajoso para a época. Maria Firmina não tem medo de dizer que não era rica e que não tinha formação na Europa. A aparente história de amor impossível entre a moça pura Úrsula e o nobre bacharel Tancredo, faz alguns desatentos pensarem que o livro não passa de um simples romance folhetinesco. Entretanto, em relação aos personagens negros, à escravidão e às mulheres, ou melhor, em relação ao tratamento dados a tais personagens que as intenções do romance vai além da história de amor que se desenrola. Muitos aspectos do romance destoam dos outros escritos de sua época. As ideias nacionalistas, tão em voga naquele período, são deixadas de lado. Os escravos Susana, Antero e Túlio têm suas narrativas com valorização de suas características afro-brasileiras. Firmina desconstrói o estereótipo racial negativo em relação ao negro. Sublinhamos o trecho: "O homem que assim fallava era um pobre rapaz, que ao muito parecia contar vinte e cinco annos, e que na franca expressão de sua physionomia deixava adevinhar toda a nobresa de um coração bem formado. O sangue africano refervia-lhe nas veias; o misero ligava-se à odiosa cadeia da escravidão; e em balde o sangue ardente que herdae de seus paes, e que o nosso clima e a servidão não poderam resfriar, embalde - disemos - se revoltava; porque se lhe erguia como barriera - o poder do forte contra o fraco!..." Maria Firmina tem uma estratégia muito interessante na sua denúncia, ela combate as injustiças sociais da condição negra sutilmente. Abertamente, e muitas vezes nas entrelinhas, ocorrem suas denúncias, entretanto, as tais entrelinhas do romance não agridem seus leitores, brancos em quase sua totalidade à época, daí sua sutileza, ela consegue propagar suas denúncias, o que de outra forma não seria possível. Muitas foram as barreiras rompidas por Maria Firmina. Ela foi aprovada em concurso público no Maranhão, contando com 22 anos na oportunidade. Foi professora concursada do Estado do Maranhão, aposentando-se em 1880. Além do romance "Úrsula", do ano de 1859, publicou ainda "A Escrava" (1887), reforçando sua postura antiescravista; "Gupeva" (1861); poemas em "Parnaso Maranhense" (1861) e "Cantos à beira-mar" (1871). E Maria Firmina não parou por aí, não. Publicou seus poemas nos jornais da época bem como algumas composições musicais, que podem ser encontradas na Internet. E fundou uma escola mista e gratuita depois de sua aposentadoria.
Malkia Usiku Escritora
ESTANTE SUBURBANA
COM A PALAVRA, LUIZ GAMA Organização: Ligia Fonseca Ferreira
VITROLINHA SUBURBANA
Álbum: Música Popular do Centro Oeste-Sudeste - volume 2.
Discos Marcus Pereira. Ano de 1974 Artistas: Diversos Lado A (Faixas 1 a 6): Sambas, Congada, Jongo e Moçambique Lado B (Faixas 7 a 9): Cantos Religiosos
MÊS DA CONSCIÊNCIA NEGRA NUM BOTECO EM ANCHIETA - De novo na televisão esse papo de mês da consciência negra. Não sei por que tem isso, sinceramente. - Linaldo, você não sabe o motivo? Você está falando sério!? - Ora, importante seria termos o mês da consciência humana. Afinal, somos todos humanos... aquele ator americano, aquele do filme "Sonho de Liberdade", é negro e disse isso. - Você está falando do Morgan Freeman. - Sim, esse aí mesmo. Concordo com ele, devemos ter o dia da consciência humana, Jonas. - Ele está certo. A consciência humana é importante. Mas, não quer dizer que por isso não podemos ter um mês da consciência negra. Aliás, digo mais, é extremamente necessário que tenhamos o mês da consciência negra nos dias de hoje. - Joninha, lá vem você criar polêmica! - Não é polêmica, não. É uma reflexão! Com tudo o que está acontecendo hoje em dia... - Ah! Já sei... vai começar o "mi-mi-mi"... - Você acaba de provar a necessidade do mês da consciência negra! - Eu, amigo!? - Sim! Eu não reclamei de nada e você já usou essa expressão que tá tão na moda nos dias sombrios de hoje: "mi-mi-mi". Muito usada, aliás, por todo mundo que não quer escutar. Eu não reclamei de nada e você já foi tirando sua conclusão. - É que, sabe, né!?... Todo mundo quando começa com esse discurso de consciência negra sempre fica reclamando, então... - Mas, eu nem falei! É exatamente o que está acontecendo hoje em dia... agora deixa eu completar a frase e depois você diz se é “mi-mi-mi”! É que ninguém mais escuta o outro! Aliás, ninguém mais escuta qualquer um... nem a si mesmo! - Joninha, esse papo tá maneiro! Estou vendo que você e o Linaldo não estão se entendendo! Falaram de “mi-mi-mi”, então é futebol! - Ô "framenguista", não vem entrar na conversa minha com o Jonas, não! - Ô “Bacalhau”, já entrei... agora vai ter que me aturar! Aliás, como anda mesmo o seu "vasquinho"!? - Não era de futebol que falávamos... - Jonas, você como tricolor não está podendo falar muita coisa, não! Hein, "cumpadi"!? - Estávamos falando sobre o mês da consciência negra, Astrogênio! Eu estava falando aqui pro Linaldo que ninguém mais escuta!
- Astrogênio!? Quem!? Não tem ninguém aqui com esse nome, Jonas! Sabe que sou o "Gênio"! Mas, é verdade! Isso é verdade mesmo! Lá em casa tá a maior briga... tudo por causa desse campeonato carioca! Minha esposa, que é botafoguense, anda reclamando muito da arbitragem. - Lá vem outro "mi-mi-mi"! - Deixa essa bola do futebol rolar pra outra mesa... eu estava falando do mês da consciência negra. É um mês importante para refletirmos sobre tanta coisa! A ideia é de analisarmos, de forma objetiva, se a nossa sociedade continua com atitudes racistas, discriminatórias, enfim desiguais em relação aos negros e aos brancos. - Ah! No Brasil não tem essa história de racismo, não! Veja só, estamos bebendo juntos, na mesma mesa, eu que sou filho de portugueses, Astrogênio, esse "framenguista" chato demais e você Jonas, que é um "paraibinha" moreno. - Linaldo, acho que você arrumou confusão com o Joninha aqui! - Mas, por quê? - Chamou ele de "paraibinha moreno", cumpadi! - Desce mais uma gelada, Marina... esses meus amigos não me deixam falar! Tá difícil! - Que isso, Jonas! A palavra é sua, pronto! - Não sei qual de vocês é mais de "mi-mi-mi"... - Ora, seu vascaíno chorão... - Senhores, bebam suas cervejas e me deixem falar, por favor! O que estou querendo dizer é exatamente o que estamos vivendo aqui na birosca da Marina. Hoje em dia as pessoas falam, discutem, argumentam, mostram "posts" umas pras outras, remetem "links" de um monte de coisas que não leram, e quando leram, não refletiram, foi tão rápido que é como se não tivessem lido, aceitam argumentos de outros sem pensar e divulgam, divulgam, divulgam... mas, ninguém ouve o outro e também não se ouve! Por isso a importância do mês da consciência negra. É preciso ouvir o que o outro tem a dizer. Sua reflexão de mundo. Suas reflexões sobre a sociedade. Suas reivindicações. - Mas, no Brasil!? Um país onde não há racismo!? - Racismo tem sim, Linaldo! Eu mesmo já tive experiências disso. - Tá reclamando do quê, Astrogênio! Você sofreu discriminação porque é pobre. Preto, quando é rico, é tratado igual ao branco... o preconceito é econômico então. - Viu! Você acabou de provar que existe racismo! E também provou que as pessoas não estão ouvindo, nem a si mesmas! - Que isso, Jonas! Eu não sou racista! - Eu não disse que você é racista! Mas, ouve o que você falou: Preto rico é tratado igual a branco. Então, há uma diferença de tratamento entre pretos e brancos, que segundo essa visão, é contornada pela acumulação de riqueza do preto pobre. Então... isso prova que há diferença de tratamento! E é exatamente pra isso que serve o mês da consciência negra. Pra nos mostrar que ainda há muita luta pela igualdade a ser travada.
- Marina, desce três doses de cachaça pra gente, aquela de Paraty, que só você tem, mais uma gelada e aquele filezinho aperitivo com cebola, bacon crocante e pãozinho que só aqui em Anchieta tem! - Gênio, não vou aí na mesa te entregar na mãozinha, não! Vem aqui buscar no balcão, seu preguiçoso!
J o n a s H é b ri o Sociólogo de boteco
NÃO VALEU, ESTÁ VALENDO! Enquanto existir quarto de empregada e uniforme a vestir corpos pretos que empurram carrinhos nos calçadões cariocas, Zumbi vale. Enquanto elevador de serviço for utilizado para transportar “cargas” humanas, ele também vale. Enquanto o chicote de fio elétrico vergastar a carne negra e o braço branco engravatar igualmente um pescoço negro, terá vinte de novembro. Não é efeméride compensatória das datas que lembram a galeria de “heróis” caucasianos. Nem tão pouco deve ser marcada somente por rodas de capoeira, jongo, samba e afins. Os atabaques anunciam em batidas retumbantes nos terreiros que se trata de algo maior. Novembro não se tornou mês especial, porque as portas da academia agora abrigam discussões, palestras e discursos que aludem à herança, a memória e a história do seu vigésimo dia. Sabemos que o salário mais baixo tem cor e que a ausência do mesmo também. Sabemos mais! Sabemos que o abandono escolar, a repetência, a moradia mais precária na comunidade, o corpo embaixo da marquise, a ofensa recebida, a bala desferida, o olhar desconfiado e a bolsa revistada, têm cor. Assim como têm cor, o rosto pisado sobre o asfalto quente, a casca de banana e os sons imbecilizados na “arena” esportiva. Temos certeza que a dor maior na sala de parto, que o “flagrante” da garrafa de desinfetante, que a condenação sumária e a pena mais pesada, que o corpo franzino que carregava na mochila o sonho em forma de chuteiras, tudo tinha cor. O som do metal que “abate” com precisão milimétrica em cima de lajes, dentro da Kombi, com uniformes escolares, nos becos, vielas, com guarda chuva, sob Sol, a cada hora, a cada minuto, tem cor. Por tudo isso e por muito mais é que não negociamos a representação do vinte de novembro. Em nome da justiça, do direito e da reparação e por acharmos que o gerúndio é uma forma nominal verbal que assume relevância, Zumbi está VALENDO!
Silvio Silva
ESCRITA DE LUZ A de amor B de Benevolência L de liberdade Está sentada na cadeira da resistência O seu nome é igualdade Resistiu a indiferença, não desistiu Nos becos da Memória,reluziu Olhos d'água nos consolam No colo de uma mãe Conceição De extrema raça e poesia Traduz beleza e realeza Sua literatura irradia A sua escrevivência Conta nossa história Um voto não representa nada, na memória A missão é continuar E cumprir o papel Lutar, pois a Casa Grande Há de provar do seu fel São muitos anos de Maldades Queremos reparação,não podemos Nos curvar ao Racismo e a discriminação A saída é a Educação Oxum chora Comovente Ara eiê ô...
Márcia Lopes
Texto escrito na época que a Escritora Conceição Evaristo se disponibilizou a cadeira 7 da Academia Brasileira de Letras e não foi contemplada. Publicação merecida no Mês da Consciência Negra, um momento de reflexão.
VOLTA SECA, BANDOLEIRO DAS TERRAS NORDESTINAS Há pouco tempo, em uma conversa sobre história e literatura brasileira, Robério Santos – especialista sobre histórias do cangaço e autor dos livros Volta Seca e Zé Baiano – me segredou que o personagem Volta Seca do livro Capitães da Areia (1937), de Jorge Amado, não é o mesmo que integrou o grupo do Lampião, o Rei do Cangaço. Toda essa discussão – confesso – me deixou extremamente intrigado. Fiquei com inúmeros questionamentos durante um longo período. Tentei naturalmente defender a ideia de que haveria a possibilidade do escritor baiano ter entrado em contato com o bandoleiro ou, quem sabe, com o grupo já que Jorge Amado tinha o costume de pesquisar sempre os objetos de suas criações. Creio que foi em vão. Como assim? Por que não há ligação? A literatura então não imita a vida? Esse apelido era comum da década de 1930? Muitas dúvidas. Para dar corpo ao texto e levar ao leitor conhecimento sobre a obra amadiana, destaco aqui uma passagem do livro referido no parágrafo acima, mais precisamente o capítulo As Luzes do Carrossel, a fim de defender o meu argumento de que o personagem Volta Seca é o cangaceiro-menino do bando do temido Lampião: Andou muito Nhozinho França com o seu carrossel. Depois de percorrer todas as cidadezinhas dos dois estados, de se embriagar em todos os seus bares, penetrou no Estado da Bahia e até para o bando de Lampião ele deu uma função. Estava numa pobre vila do sertão e não lhe faltava o dinheiro apenas para o transporte do seu carrossel. Faltava para o miserável hotel onde se hospedara e que era o único da vila, e também o trago de pinga, para a cerveja, que não era gelada ali, assim mesmo ele gostava. O carrossel armado no capim da praça da Matriz estava parado fazia uma semana. Nhozinho França esperava a noite de sábado e a tarde de domingo para ver se fazia algum cobre para arribar para um lugar melhor. Mas na sexta-feira Lampião entrou na vila com vinte e dois homens e então o carrossel teve muito que trabalhar. Como as crianças, os grandes cangaceiros, homens que tinham vinte e trinta mortes, acharam belo o carrossel, acharam que mirar suas luzes rodando, ouvir a música velhíssima da sua pianola e montar naqueles estropiados cavalos de pau era a maior felicidade.
E o carrossel de Nhozinho França salvou a pequena vila de ser saqueada, as moças de serem defloradas, os homens de serem mortos. Só mesmo os dois soldados da polícia baiana que lustravam as botas na frente do posto policial foram fuzilados pelos cangaceiros, assim mesmo antes que eles vissem o carrossel armado na praça da Matriz. Porque talvez até aos soldados da polícia baiana Lampião perdoasse nessa noite de suprema felicidade para o bando de cangaceiros. Então eles foram como crianças, gozaram daquela felicidade que nunca haviam gozado na sua meninice de filhos de camponeses: montar e rodar num cavalo de madeira de um carrossel, onde havia música de uma pianola e onde as luzes eram de todas as cores: azuis, verdes, amarelas, roxas vermelhas como o sangue que sai do corpo dos assassinados. (AMADO, 1993, p. 57-58)
Como se pode perceber, a narração descritiva é pelo menos fiel, se podemos dizer, às características e às ações muito comuns na época por parte dos bandoleiros: invasão a pequenas cidades, saques, violência e fuga. Repare que Jorge Amado propõe a aproximação entre o bando de cangaceiros e os meninos de rua. Há uma semelhança no que diz respeito ao comportamento diante do carrossel iluminado. Lindamente iluminado. O grupo vingador de Lampião se mostra criança, infantil. Estão deslumbrados. Talvez tiveram a infância perdida assim como os Capitães da Areia. Jorge Amado para construir a história dos meninos desacolhidos passou alguns dias convivendo com eles nas ruas e ladeiras de Salvador e de Ilhéus. Experimento de perto a maneira cruel que o Estado baiano lidava com suas crianças largadas ao tempo. Naquela época, já se dava as costas aos problemas sociais, pensando ingenuamente que o tempo seria a solução para a questão econômica, o descaso seria a forma mais sincera de lidar com o abandono e a negligência seria uma razão justa já que o esquecimento, segundo as autoridades da época, era por conta das famílias mal organizadas. Retornando ao objetivo do texto, não vejo impossibilidade de Jorge Amado ter conhecido o bandoleiro, mesmo através da oralidade como era de costume, e com esse conhecimento histórico o escritor tê-lo projetado para um dos seus personagens do grupo Capitães da Areia. Percebo aliás muito acercamento entre os dois grupos em estudo. A afluência não fica no campo dos personagens. Entendo que ambos passaram pelo mesmo processo de descaso governamental, e justo é que eles devessem buscar formas de sobrevivência nas “selvas nordestinas”. Nem que para isso cabeças fossem cortadas.
(Ilustração de Poty, 1993)
Em relação ao comportamento dos grupos, perceba esta passagem da obra amadiana: Na outra noite foram todos com o Sem-Pernas e Volta Seca (e tinham passado o dia fora, ajudando Nhozinho a armar o carrossel) ver o carrossel armado. E estavam parados diante dele, extasiados pela beleza, as bocas abertas de admiração. O SemPernas mostrava e Volta Seca levava um por um para mostrar o cavalo que tinha sido cavalgado por seu padrinho Virgulino Ferreira Lampião. Eram quase cem crianças olhando o velho carrossel de Nhozinho França, estas horas estava encornado num pifão tremendo na Porta do Mar. O Sem-Pernas mostrou a máquina (um pequeno motor que falhava muito) com um orgulho de proprietário. Volta Seca não se desprendia do cavalo onde rodara Lampião.O SemPernas estava muito cuidadoso do carrossel e não deixava que eles o tocassem, que bulissem em nada. Foi quando o Professor perguntou: -- Tu já sabe mover com as máquinas? -- Amanhã é que vou saber... -- disse o Sem-Pernas com um certo desgosto. - Amanhã seu Nhozinho vai me ensinar. -Então amanhã, quando acabar a função, tu pode botar ele pra rodar só com a gente. Tu bota as coisas pra andar, a gente se aboleta. Pedro Bala apoiou a ideia com entusiasmo. Os outros esperavam a resposta do Sem-Pernas ansiosos. O Sem-Pernas disse que sim, e então muitos bateram palmas, outros gritaram. Foi quando Volta Seca deixou o cavalo onde montara Lampião e veio para eles: -Quer ver uma coisa bonita? Todos queriam. O sertanejo trepou no carrossel, deu corda na pianola e começou a música de uma valsa antiga. O rosto sombrio de Volta Seca se abria num sorriso.Espiava a pianola, espiava os meninos envoltos em alegria. Escutavam religiosamente aquela música que saía do bojo do carrossel na magia da noite da cidade da Bahia só para ouvidos aventureiros e pobres dos Capitães da Areia. (AMADO, 1993, p. 62)
O escritor Frederico Pernambucano de Mello afirma, em seu livro Apagando Lampião (2019), que o nordestino está acostumado desde cedo ao instinto de sobrevivência impresso pelo ambiente hostil em que vive. Para matar a fome, é necessário caçar, sangrar o animal e às vezes cortar-lhe a cabeça. Todo esse processo de dilaceração torna-se comum aos olhos do menino nordestino. E as cercas? Frederico esclarece ao leitor atento que não havia cerca nas fazendas da região nordestina. Com a chegada delas, o sertanejo sentiu-se ameaçado. A única coisa que tinha, a liberdade, fora retirada cruelmente com a chegada das divisas. Diante disso, os habitantes dessa região tão mal tratada passou a se organizar em grupos e afrontar os coronéis, os donos das terras fracionadas e pertencentes a pequenos grupos que detinham toda a riqueza mal distribuída. As volantes, grupos policiais, conhecidos hoje por milícias, perseguiam salteadores. Ora, os meninos de Jorge Amado fizeram o mesmo movimento que o grupo de bandidos. Precisavam se organizar e simplesmente sobreviver diante do Estado que queria repeli-los a todo momento. Roubavam? Sim, mas para resistir a circunstâncias inóspitas. É justo? Talvez. Não sou advogado. Não me baseio apenas nas leis do homem. Leis inclusive arbitrárias. Acredito, por fim, que Jorge Amado tenha conhecido Volta Seca. O bandoleiro perambulou muito pelos estados nordestinos. Amado tinha trânsito livre por onde passava. Era verdadeiramente o escritor do povo, conhecedor das causas mais justas. Não foi à toa perseguido por Getúlio Vargas. Amado era um homem do seu tempo cujas obras ainda discutem questões do nosso tempo. Escritor que relacionou como poucos a realidade com a ficção. Até porque a linha entre literatura e realidade é tênue.
Leonardo Bruno
UM LUGAR NO SUBÚRBIO - AGBARA DUDU
O nome Agbara Dudu significa em yorubá “Força negra”. Considerado o primeiro bloco afro do Rio de Janeiro, foi fundado em 04 de Abril de 1982. Tem em sua trajetória 36 anos de existência com inúmeros trabalhos Afro Culturais e musicais. O Bloco Afro Agbara Dudu surgiu com a característica de mantenedor das tradições, mesmo fora do período de carnaval, assim como alguns blocos de Salvador o fazem, entre eles, Olodum, Ilê Aiyê e Araketu. A idéia da fundação do bloco teve início durante a visita da missão cultural da Fundação Leopold Sédar Senghor, na inauguração do Museu do Negro da Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos. Tendo como padrinho o bloco baiano Ilê Aiyê, representado por Jetinha e Vovô, os fundadores reuniam-se no Bar do Nozinho, na Estrada do Portela, em Madureira, e entre dois nomes: Omodé (Os filhos do caçador) e Agbara Dudu (A força negra), escolheram o segundo. Sua bandeira traz as cores amarela, vermelha, preta e verde, as mesmas cores da bandeira da unidade africana (sonho de reunir a diáspora africana em uma só nação). A primeira sede foi inicialmente na Portelinha (antiga sede do Grêmio Recreativo e Escola de Samba Portela). Os ensaios às sextas-feiras eram transformados em verdadeiros encontros de cultura negra (comida, bebida, roupas, instrumentos, ritmos, ogãs, dançarinas etc) denominado “Terreirão senzala”. Nesta primeira sede o grupo deu início aos “Encontros das Entidades Negras”, no qual reuniam-se agremiações, artistas e entidades ligadas às artes e à política. Voltado para a comunidade, o grupo passou a desenvolver cursos, oficinas de dança e capoeira, além de debates, encontros e seminários sobre temas negros e afins. Outros eventos importantes desenvolvidos pelo grupo são: “Fest-Afro” (festival de músicas para a escolha da representante no desfile de cada ano) e “São João rastafari”, em junho. Em 1983, foi organizado a “2ª Noite da Beleza Negra”, no Clube Renascença, evento homônimo baseado na experiência do bloco padrinho Ilê Aiyê, culminando na escolha da “Rainha negra”. O Agbara Dudu foi parte integrante, de inúmeros eventos musicais, com diversos artistas, tais como: Fundo de Quintal, Dona Ivone Lara, Gilberto Gil, Beth Carvalho. Texto retirado do site: http://grupoafroagbaradudu.com.br Endereço: Rua Sérgio de Oliveira, 4 - Oswaldo Cruz - Rio de Janeiro/RJ.
MICROCONTOS DOS MACROCOSMOS R O D A D E C A P O E IR A A família saindo da praia, apressada pra pegar a estrada. Na parte da areia bem próxima da calçada, uma roda de capoeira. Ali parei, encantado. Acabei ficando pra trás, com meus cinco anos de idade, quando pela primeira vez me senti verdadeiramente brasileiro.
Antero Catan
CONSCIÊNCIA NEGRA A nossa atitude mostra nossa potência Da África, nossa Mãe, veio toda descendência Os nossos braços dados firmes é resistência Se somente um largar notamos sua ausência Os pensamentos correm soltos nessa confluência E vemos o quão importante é termos consciência ... Consciência negra! Não pensem que nos confundem com divergência Na nossa luta já criamos Jurisprudência Não ensinam nas escolas toda a nossa competência Mas desde o Antigo Egito criamos a Ciência Os pensamentos correm soltos nessa confluência E vemos o quão importante é termos consciência ... Consciência negra!
Marcelo Bizar
MUANA (EM HOMENAGEM À ESCRITORA ELIANA ALVES CRUZ)
No meio da pústula No meio do pus No meio da treva Sua alma é luz, Céu estrelado Das noites moçambicanas. Negra presença Doce presença Voz da memória Traço de união. Muana, Sal da terra. Muana, Sal da lágrima. Muana, Sal da vida. Tu és a prova viva, Herança primeira De que deus é uma Mulher Negra.
Marco Trindade
A TEMPOSIÇÃO DAS ALMAS ÍNCUBAS - OS SUBURBINÓIDES I
Algo deu errado. E era tudo o que ElHerói de Las Gentes sabia. A magia do círculo mágico não tinha funcionado como deveria. As contas utilizadas não estariam desmaterializadas o suficiente? Ele fez algo errado? Tinha se esquecido das palavras abracadabráicas corretas? Isso agora não importava tanto. Ele não sabia onde se encontrava o Oitavo Alquimista, mesmo depois do ritual profundo. Também não sabia ainda, mas tinha chegado num subúrbio paralelo. Estava tonto e não conseguia concatenar com clareza a ideia de onde estava. Uma bruma se colocava entre sua visão e a realidade. Aos poucos foi recobrando a consciência. Aos poucos. Bem devagar. Tonto. De repente viu alguém passando numa rua abaixo do prédio onde se encontrava. Um homem de chapéu de palha. Um homem de roupas brancas. Olhava o chão procurando e às vezes se abaixava catando arbustos, pedras e gravetos e colocando tudo numa bolsa que carregava em seu ombro. Enquanto olhava a atividade do homem, um estrondo enorme aconteceu e o homem levantou a cabeça olhando para cima. EleHerói levou um grande susto quando viu o o rosto do homem. O homem não o viu. Era um SAN, um Sábio Ancião Negro. Soube quando viu seu rosto negro de barbas e bigode brancos, fumando um longo cachimbo e o olhar de sabedoriancestralcheirofumaçadora que somente um SAN possui. A respiração de Hombre Tonto ficou ofegante na hora. Ele não acreditava no que tinha visto. Um SAN? Mas, como!? Os SANOS só se expunham daquela forma ali, à luz do dia, materializados, andando nas ruas de um lugar qualquer em um único lugar. Somente uma vez na Protopóshistória das Humanidades Terrenas isso havia
A respiração de Hombre Tonto ficou ofegante na hora. Ele não acreditava no que tinha visto. Um SAN? Mas, como!? Os SANOS só se expunham daquela forma ali, à luz do dia, materializados, andando nas ruas de um lugar qualquer em um único lugar. Somente uma vez na Protopóshistória das Humanidades Terrenas isso havia acontecido. Será que tinha dado tão errado assim o seu ritual com o círculo-mágicode-contas que o levara para... ele esfregava o rosto como não querendo acreditar... para... ele quase chorou e finalmente disse o nome do lugar: SUBURBILÊNIA! "Viagens pelos multiversos são perigosas. Convém não forçar as rupturas entre os Universos, principalmente entre Universos Materiais." Lembrou-se na hora de uma das mais famosas aulas de seu amigo e mentor Oitavo Alquimista. Suburbilênia era a terra dos Suburbinóides. Ele conhecia muito bem Suburbilênia. Já visitara o lugar. Isso ocorreu durante uma das aulas de Explanações Multiversais Periféricas. O que o fez lembrar que só foi ali da outra vez acompanhado de um de seus maiores mestres: Katinambanimba, o Céntésimo Quarto Guerreiro Multiversal. Ele sabia que agora tinha que encontrar o Rio Acari, única saída de Suburbilênia. Mas, onde estava!? Que prédio era aquele!? Katinambanimba fora taxativo quando dissera do perigo de se encontrar com um Suburbinóide, disso ele não se esquecera também. Eles são ícones suburbanos com poderes místimágicoabracadabráicoseconseguidosporacaso. A história deles era bastante conhecida nos Círculos Esotéricos e Exotéricos Multiversomateriais pois tinha sido divulgada, por acoso, através de um zine do subúrbio carioca: o Suburzine. Eles contaram a história de Suburbilênia e dos Suburbinóides séculos antes do acontecimento que mudou a História do Planeta Terra Antiga. EleHeróisdeLasGentes sabia que precisava encontrar o mais rápido possível onde estava o Rio Acari. Só assim continuaria sua busca pelas Almas Íncubas. Levantou-se do chão onde chorava, desceu as escadas dos prédios, tomando todo cuidado para não ser visto, e começou a caminhar pelas ruas de onde estava. Percebeu que era um abençoadosortudo pois estava num prédio em frente a antiga estação do Metrô de Acari. Era só caminhar até o Rio Acari, sem perda de tempo, o que seria o mais sensato a se fazer. O grande perigo de se encontrar com um Suburbinóide é que eles podem te prender e confundir sua mente com suas palavras abracadabráicasconseguidasporacaso e você se torna um eterno Zumbikiumbaindavivo, o ser errante que vaga por vagar no mundo, sempre atrás do nada. Conhecidos por alguns como Obsessoresemvida, por outros como Kiumbasemvida ou mesmo como Zumbis. E muitos deveriam estar à espreita naquelas rua de Suburbilênia.
Pazuzu Silva
A MATEMÁTICA DA RODA DE CAPOEIRA
Capoeira é luta brasileira. Inventada no século XVII pelos escravos negros no Brasil. A capoeira é uma luta? Sim, é uma luta. Mas tem uma diferença muito grande em relação às demais: musicalidade. Os capoeiristas dão seus golpes enquanto cantam e tocam instrumentos de percussão. A capoeira é uma expressão cultural brasileiríssima que mistura arte, luta, esporte, tradição e cultura popular. Os golpes de capoeira são caracterizados por rápidos movimentos. A agilidade dos capoeiristas se expressa em chutes, rasteiras, cabeçadas, joelhadas e cotoveladas sempre acompanhados de acrobacias de solo e aéreas. Os escravos negros brasileiros, ao misturarem golpes de luta com danças africanas, disfarçavam seus treinamentos de arte marcial, e como as rodas de capoeira eram frequentemente organizadas em campos com pequenos arbustos chamados de capoeirão, ou capoeira, o nome acabou denominando também a arte da capoeira. A capoeira já foi proibida de ser praticada no Brasil. Era vista como uma prática violenta e subversiva, passando a ser reprimida no país. Mas, tem uma matemática na capoeira? Sim, tem muita matemática na capoeira. É comum se ouvir que encontramos matemática em todos os lugares. O que é verdade! Um dos aspectos da Matemática é existir para resolver problemas. Onde tem problema, tem Matemática! Brincadeiras à parte, um olhar matemático sobre a capoeira revela aspectos da luta bastante interessantes. É através da Etnomatemática que o diálogo entre Matemática e capoeira ocorre. Uma dica importante dessa relação entre Matemática e capoeira é para o professor de Matemática.
Os professores podem usar a capoeira como motivação nas aulas, por exemplo, de Geometria. Desta forma, inclusive, observará a Lei 10,639, de 09 de janeiro de 2003 que tornou obrigatório o ensino da cultura africana e afro-brasileira nas salas do fundamental e médio. O ensino da Geometria utilizando-se da capoeira não é o único caminho possível da relação entre Matemática e capoeira, longe disso. É só um aspecto da ligação entre essas ricas artes. Um outro exemplo que poderia ser explorado é o estudo de frações por meio da musicalidade e do ritmo da capoeira, uma vez que a música é dividida em compassos, e divisão é assunto que tem ligação estreita com frações. Como exemplo, vamos elencar abaixo algumas correlações percebidas entre golpes e movimentos de capoeira e figuras geométricas. Observem:
GOLPE/MOVIMENTO
MATEMÁTICA
GINGA ARMADA RABO DE ARRAIA RASTEIRA LATERAL ESQUIVA LATERAL
Triângulo equilátero Giro no ar: circunferência, 360° Trajeto é uma semi-circunferência, 180° Triângulo qualquer Triângulo retângulo
A capoeira possui muitos outros golpes, e propomos a todos os leitores que procurem a geometria por trás dos golpes de capoeira, tais como Aú, Benção, Cabeçada, Martelo etc. Outro aspecto importante que pode ser explorado é o da função dos movimentos do corpo durante os golpes dados por pés e mãos. Acredito que muitos já se perguntaram isso: se os golpes são de pés, mãos, cotovelos, joelhos, por que tantos movimentos com todo o corpo? Seria só pra se exibir? Seria a parte da dança tão-somente? Pode ter certeza que a resposta é não. Os golpes foram desenvolvidos culturalmente, intuitivamente, empiricamente, por certo, entretanto, parece até que os capoeiristas sabiam de uma importante relação matemática existente entre força, potência, massa e aceleração. Na escola estudamos um pouco disso através do que se convencionou chamar de "Segunda Lei de Newton". Não sei se o leitor ainda se lembra: A força é diretamente proporcional à massa e à aceleração. O capoeirista conhece muito bem a relação matemática expressa na segunda lei e usa isso com frequência: consegue mais força em seus golpes "aumentando" a sua massa, utilizando-se do movimento de todo o seu corpo durante a aplicação dos golpes, "aumentando" também sua aceleração através de movimentos bases feitos anteriormente ao golpe em si.
No ano de 1930 a capoeira se transformou em esporte nacional brasileiro pelas mãos de Getúlio Vargas. Diz a História que isso aconteceu depois que o Presidente viu uma apresentação de Mestre Bimba (ícone da nossa capoeira). A roda de capoeira obteve seu reconhecimento como patrimônio imaterial da humanidade em 2014. A UNESCO (Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura), assim a declarou. Todos reconhecem hoje em dia a capoeira como forma de resistência, pela luta, dos escravos negros brasileiros contra a opressão escravista durante os períodos colonial e imperial do nosso país. O Dia da Capoeira é comemorado no dia 03 de agosto. E não devemos nos esquecer jamais de sua origem: vem da cultura angolana, conhecida aqui como Capoeira de Angola.
H e r a l d C o s ta Amante da Matemática
CULTIVANDO A CONSCIÊNCIA NEGRA A sua persistência não tem coerência diz da minha negligência Mas não tem ciência
Na sua inadimplência Crio minha ambiência E sem ambivalência Vou criando influência
Só tendo paciência pra sua imprudência Pois da minha vigência Eu tenho experiência
Preferes minha anuência? Ou talvez conveniência? Queria sua transparência Sem esse choro de sofrência
Falo com veemência Da minha existência Pois tenho referência Na minha descendência
Não quero preferência Mas, dito a tendência Sem ter nenhuma prevalência! Da minha cultura é decorrência...
Não quero aquiescência Por certo, deferência Pois nessa convivência Vi muita saliência
Essa é minha ciência De muita pertinência Descobri a quintessência Cultivando a CONSCIÊNCIA... NEGRA!
T I ZI U