DIRETO DA PRODUÇÃO
ESPECIAL
Apesar de crise na produção, Chile ainda é referência
Noruega e Portugal reagem no jogo do bacalhau
seafood Que direção tomar em 2016? Da produção ao varejo, mais de uma dezena de especialistas te ajuda a responder
pa i ma o u l c n d I esca 16! p o d 20 pas e A a n qu Desta g. 9 na pá
brasil
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#13 - Jan/Mar 2016 ISSN 2319-0450 R$ 20,00
Ocupe os espaços disponíveis nos impressos Seafood Brasil e acerte em cheio no seu público alvo. A sua presença é fundamental para o financiamento da publicação mais informativa de toda a cadeia produtiva. Agradecemos pela parceria e confiança das empresas que apoiaram esta edição da Seafood Brasil. Alaska Seafood Marketing Institute
Anutec
4ª Capa
página 49
Brusinox
Frescatto Company
Grupo 5
JC Lacerda
página 19
página 15
Bom Porto
Branco Máquinas
Brødene Sperre
Frumar
GeneSeas
Golden Foods
Kalena
Myleus Biotecnologia
Peixes da Amazônia
página 43
página 3
página 29
página 13
página 23
página 4
página 17
ProEcuador 3ª Capa
página 35
página 41
página 37
página 26 e 27
Santa Elena página 25
Junte-se a este time e não fique de fora das próximas edições em 2016.
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SEAFOOD BRASIL • JAN/MAR 2016 • 4
Editorial
O trem e a montanha-russa
C
aminha para uma posição melancólica a representação institucional de aquicultura e pesca dentro do governo federal. Durante o fechamento desta edição, o governo anunciou um facão em 72% dos 312 cargos de confiança. De 27 superintendências, o setor tem agora à disposição apenas 3 dentro do Ministério da Agricultura: uma para aquicultura, outra para pesca e outra para registro, monitoramento e controle. O secretário Marlon Cambraia, que entregou as respostas para esta edição (pág. 6) no dia do desembarque do PMDB, também pode deixar o posto. A derrocada da pasta ocorre justamente no maior momento de desenvolvimento do agronegócio do pescado no País. As importações oscilam ao sabor do câmbio e de crises produtivas de fornecedores como o Chile (pág. 30), mas a produção nacional segue em crescimento, escorada na aquicultura (pág. 23). Por outro lado, o
Brasil barato já motiva uma corrida às exportações (aumento de 34% nas vendas externas até fevereiro ante 2015) e a consequente busca por mais qualificação, como as certificações (pág. 38). No mercado interno, o bacalhau dá mostras de recuperação depois de um turbulento 2015 (pág. 44). A instabilidade, inflação e perda do poder de compra podem frear uma expansão das vendas do varejo (pág. 28) e food service (pág. 25), mas parecem ser apenas uma parada estratégica no trilho do trem que já deixou a estação – como prova a forte participação de expositores do segmento na Apas 2016 (pág. 8). Boa leitura!
Índice
08
30 Direto da Produção
38 Fornecedores
Marketing
16 Na Gôndola Especial
20
44 Especial - Bacalhau
50 Personagem
Capa
Expediente Redação redacao@seafoodbrasil.com.br Publishers: Julio Torre e Ricardo Torres Editor: Ricardo Torres Repórteres: Léo Martins, Marcela Gava e Thais Ito Diagramação: Emerson Freire Distribuição: Ricardo Torres Tráfego de anúncios: Rosi Pinheiro
Comercial comercial@seafoodbrasil.com.br Tiago Oliveira Bueno Impressão Maxi Gráfica e Editora A Seafood Brasil é uma publicação da Seafood Brasil Editora Ltda. ME CNPJ 18.554.556/0001-95
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SEAFOOD BRASIL • JAN/MAR 2016 • 5
06 Cinco Perguntas
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5 Perguntas a Marlon Carvalho Cambraia, Secretário de Monitoramento e Controle da Pesca e Aquicultura do Mapa
Entrevista
Roleta russa no Mapa Refém da cisão entre governo federal e o PMDB, casa da aquicultura e pesca depois do fim do MPA sofre cortes, mas novo secretário ainda fala em planos para o futuro e Pesca (Seap) não está de volta, veja o que mais o secretário pensa a respeito do setor. Como estão organizadas, dentro do Ministério da Agricultura, todas as demandas que antes o Ministério da Pesca e Aquicultura concentrava? Com o advento da Medida Provisória n° 696, datada de 02 de Outubro de 2015, as atribuições que eram devidas ao então Ministério da Pesca e Aquicultura (MPA), passaram a ser responsabilidade do Mapa. Atualmente, estamos vivendo um período de transição, no qual toda a estrutura do antigo MPA está condensada em uma secretaria. É pertinente informar que as demandas recebidas continuam em andamento, ainda que a pasta necessite da promulgação do Decreto que oficializará a nova estrutura.
1
Quais são os planos da secretaria para a aquicultura continental no Brasil? O Plano de Desenvolvimento da Aquicultura será colocado em prática pelo MAPA? Apesar deste período de transição em que está ocorrendo a nova estruturação, existe a manutenção de todos os projetos em vigência, bem como dos serviços de atendimento aos usuários e produtores. De certa forma, houve um período de reacomodação da política interna, já que agora o Mapa terá, após a efetivação da nova estrutura, também outro plano orçamentário, englobando a nova Secretaria Especial de Aquicultura e Pesca.
Arquivo/Prefeitura de Fortaleza
2
SEAFOOD BRASIL • JAN/MAR 2016 • 6
Texto: Equipe Seafood Brasil
N
o dia em que o PMDB “desembarcou” oficialmente do governo Dilma Rousseff, o novo responsável pela Pesca e Aquicultura dentro do Ministério da Agricultura falou à Seafood Brasil. Se o corte de 72% no quadro de cargos de confiança ou função permitir, o advogado Marlon Carvalho Cambraia, oficialmente Secretário de Monitoramento e Controle da Pesca e Aquicultura do Mapa, terá o enorme desafio de sublimar o momento e apresentar resultados a um setor faminto pela boa burocracia institucional, para legalizar e colocar o setor na rota do crescimento. Enquanto a Secretária Especial de Aquicultura
Através do Programa de Desenvolvimento da Aquicultura em Águas de Domínio da União [queremos] realizar novas cessões de áreas aquícolas com capacidade de produção em 156.000 t/ano de pescado, bem como garantir a Gestão dos Parques e Áreas Aquícolas através do relatório de produção e a rede de monitoramento; com o Programa de Desenvolvimento da Aquicultura na Amazônia Legal, teremos o objetivo de implantar projetos de aquicultura adequados à realidade dessa região e também promover o Fundo Amazônia/BNDES; o Programa de Desenvolvimento da Carcinicultura irá promover o incremento de novas áreas para a carcinicultura através da interiorização dos cultivos, além de incentivar o modelo das empresas-âncora, para apoiar estratégias de encadeamento produtivo que visem ao desenvolvimento integrado sustentável da atividade; para a
Além desses programas, existem outras ações pontuais, porém, de grande abrangência e resultados coesos em todo o território, como a implementação dos Distritos Industriais Aquícolas (DIAs) de Lajeado (TO) (peixe), Tucuruí (PA) (peixe), Itaipu (PR) (peixe), Ceará (camarão) e Santa Catarina (moluscos), bem como a articulação e acompanhamento do Projeto de Lei para desoneração das rações para aquicultura (PL 1.151/2015). Além destas ações, a articulação com órgãos estaduais de meio ambiente para facilitação do licenciamento ambiental, mediante Resolução CONAMA 413/2009; a cooperação técnica com o Sistema “S” (SESI, SENAR e SEBRAE) e a execução do Projeto com a FAO - UTF/BRA 084/Desenvolvimento Sustentável da Aquicultura são ações fundamentais e que embasam os planos desta secretaria para um futuro promissor da aquicultura brasileira. Que potencial o Mapa enxerga para a aquicultura marinha no País? Como a pasta pretende colaborar com este desenvolvimento? Continuaremos a trabalhar para desenvolver, adaptar e fomentar tecnologias para possibilitar o desenvolvimento da aquicultura marinha
3
através do mapeamento e levantamento das áreas propícias para cada atividade, seja para a mitilicultura, ostreicultura, piscicultura marinha, carcinicultura e outras. E nesse sentido o Mapa já busca o diálogo com o setor através das Câmaras Setoriais de Aquicultura e Carcinicultura. Com estas diretrizes básicas, deve-se considerar que as características geográficas da zona costeira brasileira são amplamente favoráveis à implementação da maricultura, levando em conta os 8 mil quilômetros de costa, além de áreas potenciais como enseadas, baías e estuários, e espécies com alto valor econômico para o desenvolvimento da aquicultura marinha. No entanto, existe a necessidade de se trabalhar de forma ordenada, trabalhando em prol da regularização da atividade, bem como atender à crescente demanda do setor em diferentes regiões do País.
Nesse contexto, destacam-se os Comitês Permanentes de Gestão (CPGs), integrantes do Sistema de Gestão Compartilhada estabelecido pelo Decreto nº 6.981/2009, importantes fóruns de discussão entre governo e a sociedade civil organizada. Apresentam em sua estrutura um Subcomitê Científico (SCC), Subcomitê de Acompanhamento e uma Secretaria Executiva.
Em relação à pesca extrativa industrial e artesanal, que políticas públicas o MAPA pretende implementar para fomentar este segmento? Como ficam os trabalhos dos Comitês Permanentes de Gestão criados no ano passado pelo MPA? No Brasil, a pesca comercial apresentou grande desenvolvimento a partir da década de 1960, com forte expansão da frota e do parque industrial, sem levar em consideração, entretanto, a capacidade de reposição dos recursos pesqueiros. Em consequência, vários recursos pesqueiros foram sobreexplotados, com alguns deles tendo sido levados ao colapso.
Além disso, pretende-se otimizar o atendimento ao pescador profissional, de forma a valorizar e resgatar a cidadania dessa importante classe trabalhadora.
4
O desenvolvimento da pesca extrativa demanda uma política de gestão integrada, visando à sustentabilidade ambiental, social e econômica, de forma compartilhada com as instituições e as representações do setor pesqueiro no estabelecimento de medidas legais de ordenamento.
No âmbito dos CPGs serão devidamente elaborados os Planos de Gestão, documento que estabelece as diretrizes para o uso sustentável dos recursos pesqueiros, compreendendo diagnóstico, objetivos, pontos de referência e medidas de gestão. Contudo, para a elaboração e implementação dos necessários Planos de Gestão, três temas serão devidamente trabalhados por este Ministério: Pesquisa Dirigida, Estatística Pesqueira e Monitoramento e Controle.
Por fim, também serão priorizadas ações de qualificação e capacitação dos pescadores, além de Assistência Técnica e Extensão Pesqueira e Aquícola, haja vista a pesca como atividade produtiva demandar constante aporte de novos conhecimentos para o seu desenvolvimento. Que tipo de suporte o MAPA pretende dar às indústrias processadoras de pescado no Brasil? Qual é a visão da pasta sobre a importação de pescado? O Ministério adotará postura de forma a garantir o cumprimento de acordos comerciais e legislação supranacional sobre o assunto, sem abrir mão das garantias de saúde pública e animal necessárias.
5
SEAFOOD BRASIL • JAN/MAR 2016 • 7
piscicultura, o Programa de Desenvolvimento da Piscicultura em Tanques e Viveiros Escavados promoverá a implantação de 550 hectares de novas áreas de tanques e viveiros escavados para a piscicultura (11,3 mil t/ano) e, não menos importante, o Programa de Pesquisa e Desenvolvimento para a Aquicultura tem como base fundamental implantar e apoiar projetos de novas tecnologias para piscicultura, carcinicultura (marinha e de água doce), algicultura (micro e macroalgas), piscicultura ornamental, aquaponia, ranicultura, bioflocos e sistemas com pouco uso de água, fontes de energia alternativas e em diversas regiões do País, além de instalar e ampliar os centros de treinamento para o público interessado.
Marketing & Investimentos
Apas 2016: #VAPRACIMA Campanha deste ano quer motivar varejistas e fornecedores a encarar instabilidade econômica de frente e pensar em soluções; expositores do pescado entram na onda e consolidam participação na feira
A
Texto e fotos: Ricardo Torres
SEAFOOD BRASIL • JAN/MAR 2016 • 8
s notícias que chegam de Brasília pela grande imprensa são desalentadoras, mas ainda assim não parecem ser capazes de arrefecer o ânimo dos organizadores da Apas 2016, cujo lema é “Perspectivas e Oportunidades”. A hashtag #VAPRACIMA, que identifica as postagens da feira nas redes sociais, é um demonstrativo do clima que a organização da feira quer dar para esta edição. “Em momentos de economia estabilizada ou oscilante, são as perspectivas e as oportunidades que farão a diferença no crescimento de cada negócio ou investimento”, disse em comunicado à imprensa o presidente da Associação Paulista de Supermercados (Apas), Pedro Celso. Se considerarmos a adesão dos “peixeiros”, dá para dizer que o setor já comprou a ideia da campanha. Apesar do cenário de contração de importações pelo dólar caro (leia mais na matéria de Capa desta edição), o mapa da feira registra retornos importantes, a consolidação de tradicionais expositores e a aposta de novos nomes. É o caso da Kalena Foods, distribuidora de alimentos naturais. Normalmente alojada dentro do estande do Alaska Seafood Marketing Institute (ASMI) por conta da sua linha de peixes selvagens do Alasca, agora resolveu apostar em espaço próprio. “O que nos motivou a participar da Apas é a oportunidade de mostrar ao varejo nossa linha de produtos,
que é bem diversificada. Além do edamame, Sea’s Gift (aperitivo de alga marinha) e o Pacific Cod [Gadus macrocephalus, bacalhau fresco do Pacífico] da marca Alaska Fish temos uma surpresa que será lançada na APAS”. A Bom Porto, segundo seu diretor comercial, Pedro Pereira, é mais uma que promete surpresa na feira, mas já antecipou à Seafood Brasil o lançamento de novos bolinhos de bacalhau gourmet e um lombo de Gadus morhua selecionado. Outra estreia será da Peixes da Amazônia, que traz direto do Acre sua linha de cortes especiais de pintado, pirarucu e tambaqui. “A Apas 2016 vai marcar o nascimento da Peixes da Amazônia para o mercado”, conta Diego Fávero, do Grupo 5, empresa responsável pelo departamento comercial da Peixes. “Será durante a feira que a Peixes pretende apresentar a linha de produtos para o autosserviço e food service, e provavelmente também uma linha de pratos prontos.” A Apas 2016 também terá veteranos da feira, como a Frescatto Company e a Gomes da Costa, mas registra o retorno de artífices do segmento, como a Bom Peixe. Apostando forte na retomada do consumo do bacalhau, os noruegueses da Brødrene Sperre e a Mathias Bjørge estarão lá. Os estrangeiros são um capítulo à parte: argentinos, chilenos, peruanos, equatorianos terão pavilhão próprio, mas não andam muito entusiasmados com o Brasil, como se vê nas próximas páginas.
Marketing & Investimentos
Procure pelo peixinho!
Vire para continuar o mapa
SEAFOOD BRASIL • JAN/MAR 2016 • 9
Destaque aqui seu mapa do pescado na APAS 2016. Boa feira!
Procure pelo peixinho! APAS 2016 | LISTA DE EXPOSITORES DE PESCADO* #
Estande #
Nome
LOCALIZAÇÃO
Pavilhão Azul 1 2 3 4 5 6
152 235 160 266 160 242
Bom Peixe Bom Porto Brødene Sperre GT Foods J.A. Oliveira Mar Nobre
A/B/3 C/7 A/4 D/9 A/4 B/8
Pavilhão Cinza
7 440 BRF H/18 8 365 Gomes da Costa H/I/11 9 322 Riberalves J/7 10 444 Di Salerno I/18 11 403 ALASKA SEAFOOD MARKETING INSTITUTE I/14 12 Damm 13 Pacific Seafoods 14 Noronha Pescados 15 Trident Seafoods 16 372/392 PROCHILE G/12/13 17 Agrosuper 18 AquaChile 19 Blumar 20 Cermaq 21 Nova Austral 22 371/393/422/423 ARGENTINA (FUNDACIÓN EXPORTAR)** G/H/11/12/13/14/15
Pavilhão Verde 23 683 24 542 25 603 26 672 27 657 28 581 29 550 30 510 31 32 33 34 35 544
Blue Marine K/L/22 Copacol L/9 Frescatto M/15/16 JBS Foods/Swift M/L/20/22 Komdelli O/20 Maris Pescados K/13 Soguima J/K/11 EQUADOR J/K/6 Asiservy Galapesca Marbelize Tecopesca PERU** M/N/9
SEAFOOD BRASIL • JAN/MAR 2016 • 10
Pavilhão Vermelho 36 730D 37 821 38 780 39 791A 40 881 41 899B/C/D 42 780 43 736 44 899E
CeDePesca Golden Foods Grupo 5 Kalena Korin Mathias Bjørge Peixes da Amazônia Queiroz Galvão Alimentos Scanfisk
*Data da última atualização: 21/03/2016 **Empresas participantes não haviam sido definidas até 05/04/2016
O/6 P/Q/13 P/9 O/11 P/19 Q/21 P/9 S/6 P/22
Desânimo latente
O resultado é 24% menor que no mesmo período do ano anterior. O faturamento 26% mais baixo com as vendas ao Brasil entre 2015 e 2016 justifica em parte a falta de interesse dos vizinhos em expor na Apas este ano. No ano passado, uma delegação de 6 empresas integrou o estande da Fundación Exportar; agora em 2016, até 05
de abril não havia definição oficial de quem participaria. Uma das presenças prováveis é do Frigorífico Del Sud-Este, que recentemente obteve a certificação do British Retail Consortium (BRC) para atender a uma exigência do Wal-Mart Brasil. Ciro D’Antonio, gerente de vendas internacionais, vê um cenário difícil neste ano. “A desvalorização do real faz com que o produto argentino chegue na mesa do brasileiro muito mais caro, ainda que a nossa moeda esteja também desvalorizada. Acho que não será um ano muito bom este que vem pela frente”, conta. A empresa oferta ao Brasil merluza, abadejo, tira-vira (pez palo) e posta de namorado, mas está vendendo a metade do que vendia em anos anteriores.
Depositphotos
O
encontro com os argentinos já não gera mais a alegria de outrora. Os dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC) corroboram a sensação geral: entre março de 2015 e fevereiro de 2016, a Argentina exportou 28 mil toneladas de pescado ao Brasil, entre merluza, traíra, lula, corvina e outras espécies.
TOP 10 IMPORTAÇÕES DA ARGENTINA | 03/2015 A 02/2016 X 03/2014 A 02/2015 Volume (KG)
mar/2015 a fev/2016
mar/2014 a fev/2015
TOTAL
$86.224.870,00
$117.163.638,00
-26,41%
28.294.933
37.445.441
-24,44%
Pescado (Categoria 03)
$84.977.847,00
$115.299.258,00
-26,30%
28.043.284
37.037.773
-24,28%
1
Filés de merluzas e abroteas, congelados
$63.947.409,00
$87.112.007,00
-26,59%
19.753.260
27.658.231
-28,58%
2
Outros filés congelados, de peixes
$10.242.407,00
$14.692.132,00
-30,29%
1.658.969
2.327.403
-28,72%
3
Curimatas (prochilodus spp.), congelados
$2.147.847,00
$1.503.314,00
42,87%
1.567.200
1.033.240
51,68%
4
Merluzas e abroteas (merluccius , urophycis ), congeladas
$1.950.314,00
$2.508.648,00
-22,26%
1.188.756
1.334.141
-10,90%
5
Outros filés de peixes, congelados
$1.515.893,00
$2.580.616,00
-41,26%
488.920
795.434
-38,53%
6
Traíra (Hoplias malabaricus e H. cf. lacerdae) (congeladas), exceto filés, outras carnes, etc
$1.385.959,00
$283.564,00
388,76%
656.760
167.480
292,14%
7
Lulas (Ommastrephes spp., Loligo spp., Nototodarus spp., Sepioteuthis spp.), congelados
$1.312.829,00
$965.128,00
36,03%
1.284.479
765.252
67,85%
8
Outros peixes congelados, exceto filés, outras carnes,etc.
$596.911,00
$2.040.250,00
-70,74%
347.173
947.262
-63,35%
9
Merluza rosada (Macruronus megellanicus), congelada
$495.160,00
$131.718,00
275,92%
311.144
75.188
313,82%
10
Corvina (Micropogonias furnieri), congelada
$393.118,00
$664.406,00
-40,83%
196.760
362.950
-45,79%
$1.247.023,00
$1.864.380,00
-33,11%
251.649
407.668
-38,27%
Conservas (Posição 1604)
Variação mar/2015 a fev/2016 mar/2014 a fev/2015
Variação
1
Outras preparações e conservas, de outros peixes
$560.157,00
$698.831,00
-19,84%
187.724
235.808
-20,39%
2
Preparações e conservas, de anchovas, inteiros ou em pedaços, exceto peixes picados
$504.214,00
$736.578,00
-31,55%
30.550
71.669
-57,37%
3
Preparações e conservas de outros peixes, inteiros, em pedaços
$182.652,00
$428.971,00
-57,42%
33.375
100.191
-66,69%
SEAFOOD BRASIL • JAN/MAR 2016 • 11
Receita (US$ FOB)
Produtos
Marketing & Investimentos
No meio do furacão
P
oderia ser vulcão, terremoto ou vírus. Para tudo isso as salmoniculturas já estavam preparadas no Chile, mas não para a floração de algas fora do comum que se tornou assunto corriqueiro em qualquer restaurante japonês do Brasil. Isto porque, como se vê na matéria especial desta edição da Seafood Brasil, serão ao menos 101 mil toneladas do salmão atlântico a menos nesta safra. Poucos dias após o descobrimento da tragédia, quando ainda estavam calculando os prejuízos, os chilenos reagiram. Na última Seafood Expo North America, em março, a SalmonChile organizou, junto ao governo chileno e ao Serviço Nacional de Pesca e Aquicultura (Sernapesca), um seminário para informar o mercado sobre as políticas
atuais para assegurar a qualidade dos produtos chilenos, segurança alimentar, sustentabilidade e respeito às certificações internacionais. “Abordarmos em torno de 80% da capacidade de compradores do mercado americano. E também nos reunimos com duas empresas brasileiras [Frescatto Company e Opergel], país que para nós é fundamental”, avalia Felipe Manterola, gerente geral da SalmonChile, associação que reúne mais de 90% da produção de salmões daquele país. A campanha ocorre em um momento chave do negócio do salmão no Chile. Embora os empresários queiram tranquilizar o mercado quanto ao abastecimento, é certo que não haverá salmão no mesmo volume que nos anos anteriores. “Evidentemente pode ter
mais escassez em alguns meses, mas há abastecimento assegurado aos mercados, obviamente em uma condição de maior contração de oferta”, diz Manterola. Durante a feira em Boston, os brasileiros já falavam em um aumento inicial de US$ 1 pelo kg do salmão, o que representaria um aumento em torno de 20%. Mas no fim de março já se falava em preço 45% maior. Zelosos do mercado que construíram por aqui, os chilenos fizeram questão de aumentar a delegação de empresas que participarão da Apas este ano. Dos três expositores de salmão do ano passado, Agrosuper e Blumar voltam nesta edição e recebem a companhia das gigantes AquaChile e Cermaq, além da Nova Austral S.A.
TOP 10 IMPORTAÇÕES DO CHILE | 03/2015 A 02/2016 X 03/2014 A 02/2015 Receita (US$ FOB)
SEAFOOD BRASIL • JAN/MAR 2016 • 12
Produtos
Volume (KG)
mar/2015 a fev/2016
mar/2014 a fev/2015
Variação mar/2015 a fev/2016 mar/2014 a fev/2015
Variação
TOTAL
$466.705.955,00
$534.930.039,00
-12,75%
95.233.442
89.980.384
5,84%
Pescado (Categoria 03)
$466.255.259,00
$534.732.072,00
-12,81%
95.228.138
89.960.914
5,86%
1
Salmão-do-atlantico e salmão-do-danubio, fresco ou refrigerado
$368.845.236,00
$419.438.508,00
-12,06%
75.975.768
73.749.030
3,02%
2
Filé de salmão-do-pacífico, do-danúbio, do-atlântico, congelado
$47.900.219,00
$59.044.888,00
-18,87%
8.634.768
7.371.777
17,13%
3
Filés de salmões-do-pacífico e salmão-do-danúbio
$21.246.445,00
$25.854.474,00
-17,82%
2.910.276
2.888.400
0,76%
4
Salmão-do-atlântico e salmão-do-danúbio, congelados
$17.301.200,00
$13.651.919,00
26,73%
5.178.974
2.865.847
80,71%
5
Outras carnes de peixes, frescos, refrigerados ou congelados
$3.044.735,00
$3.165.674,00
-3,82%
621.084
570.504
8,87%
6
Outros salmões-do-pacífico, congelados
$1.700.449,00
$977.811,00
73,90%
437.792
178.831
144,81%
7
Filés de trutas, congelados
$1.533.776,00
$3.837.961,00
-60,04%
226.050
404.576
-44,13%
8
Trutas (Salmo trutta, Oncorhynchus mykiss, etc.), congeladas
$1.229.050,00
$757.814,00
62,18%
272.275
128.521
111,85%
9
Salmões-do-pacífico, do atlântico e do danúbio, defumados
$829.438,00
$1.787.287,00
-53,59%
49.626
105.860
-53,12%
10
Filés de merluzas e abroteas, congelados
$427.388,00
$771.824,00
-44,63%
65.443
112.045
-41,59%
$450.696,00
$197.967,00
127,66%
5.304
19.470
-72,76%
$45.429,00
$-
5.304
0
$-
$52.569,00
0
19.470
Conservas (Posição 1604) 1
Preparações e conservas, de salmões, inteiros ou em pedaços, exceto peixes picados
2
Outras preparações e conservas, de outros peixes
Equador com atum
O
desembarque de quatro grandes do atum na Apas 2016 (Asiservy, Galapesca, Marbelize e Tecopesca) mostra que os equatorianos querem dar sequência a um momento exitoso no fluxo comercial de pescado com o
Brasil. Segundo os dados do MDIC, entre março de 2015 e fevereiro de 2016, os preparados para as latas caíram 7,8% em volume, mas diversas variedades de atum passaram a figurar no ranking dos produtos mais exportados. É notável o caso do
bonito-listrado, que saiu de zero no ano anterior para 1,6 mil toneladas. Mas também surpreende a espécie que foi tema de campanha na Apas de 2013: a merluza equatoriana, cuja versão inteira HG cresceu 600% de um ano a outro.
TOP 10 IMPORTAÇÕES DO EQUADOR | 03/2015 A 02/2016 X 03/2014 A 02/2015
TOTAL Pescado (Categoria 03)
Volume (KG)
mar/2015 a fev/2016
mar/2014 a fev/2015
Variação mar/2015 a fev/2016 mar/2014 a fev/2015
$36.679.096,00
$47.387.367,00
-22,60%
13.287.194
12.342.248
$3.377.542,00
$2.694.522,00
25,35%
2.696.100
853.665
$1.694.168,00
$-
1.677.129
0
Variação Variação
7,66%
215,83%
1
Bonito-listrado, congelados, exceto filés, fígados, ovas e sêmen
2
Cavalinhas (Scomber scombrus, Scomber australasicus, Scomber japonicus), congeladas
$606.224,00
$588.540,00
3,00%
617.960
442.907
39,52%
3
Outros filés congelados, de peixes
$418.534,00
$1.031.878,00
-59,44%
76.000
159.935
-52,48%
4
Albacora-bandolim (Thunnus obesus), congelados, exceto filés, fígados, ovas e sêmen
$218.010,00
$-
154.372
0
5
Outros peixes congelados, exceto filés, outras carnes,etc.
$203.874,00
$438.390,00
-53,49%
54.832
103.571
6
Filés de merluzas e abroteas, congelados
$131.428,00
$137.866,00
-4,67%
42.000
42.000
7
Merluzas e abroteas (merluccius , urophycis ), congeladas
$73.401,00
$12.264,00
498,51%
53.331
7.008
8
Albacora-laje (Thunnus albacares), congeladas, exceto filés, etc
$30.637,00
$-
20.370
0
9
Albacoras/atuns barbatana amarela, frescas/refrigerado, exceto filés
$1.266,00
$-
106
0
10
Dourada (Brachyplatystoma flavicans), congeladas, exceto filés, outras carnes, etc.
$-
$181.664,00
0
35.244
$33.301.554,00
$44.692.845,00
10.591.094
11.488.583
Conservas (Posição 1604)
-25,49%
-47,06% 661,00%
-7,81%
SEAFOOD BRASIL • JAN/MAR 2016 • 13
Receita (US$ FOB)
Produtos
Marketing & Investimentos
A era dos peixes brancos
N
em os Estados Unidos ou a Noruega possuem estandepaís na Apas deste ano, o que deve deixar os leitores curiosos sobre o motivo pelo qual foram inseridos neste guia da Apas. Os norte-americanos até se aproximam disso com o Alaska Seafood Marketing Institute (ASMI), que, embora não cubra toda a oferta do país, é a origem de praticamente todas as opções que estão na balança comercial de pescado norte-americano abaixo, como a polaca, o bacalhau fresco do Pacífico (Pacific cod) e as diferentes variedades de salmão selvagem. Esse último continua a ser o item mais disputado, embora suas importações tenham apurado uma queda vertiginosa entre março de 2015 e fevereiro de 2016 ante o mesmo período do ano anterior. O volume de salmão do Pacífico congelado passou de 1,78
mil toneladas para 297 toneladas, uma redução de 83%. Por outro lado, a campanha da ASMI este ano, focada em peixes brancos, já começa a surtir algum efeito.
do já clássico bacalhau do Atlântico. Mas outras categorias ganham espaço, como o rei dos restaurantes japoneses proveniente dos fiordes nórdicos.
A polaca Theragra chalcogramma single frozen (congelamento único, em oposição ao duplo congelamento da polaca proveniente da China) cresceu tanto em sua forma inteira (45% em volume) quanto em filés (283,5% em volume). O próprio filé de cod, cuja descrição no sistema do MDIC corresponde ao filé de bacalhau, incrementou em 78%. No total, os Estados Unidos ainda exportam pouco ao Brasil. De março de 2014 até fevereiro de 2015, foram 3,3 mil toneladas. Até fevereiro de 2016, o indicador despencou 60,72% e foi para 1,3 mil toneladas. Diferente do caso da Noruega, que despacha quase 20 vezes esta quantidade, principalmente
O salmão e os crabs (caranguejos) nem figuravam entre as vendas norueguesas no ano anterior, mas neste período mais recente já ocupam a 7ª e 8ª posições, com US$ 227 milhões (US$ 10 o kg) e US$ 158 milhões (US$ 21 o kg) de receita, respectivamente. Ainda que os dois novos itens chamem a atenção, o consolidado – ainda que turbulento – mercado bacalhoeiro continua o mais atraente aos noruegueses. Talvez por isso a Noruega mande diretamente duas empresas com estande próprio: a Brødene Sperre (que estreia na feira no estande da J.A. Oliveira) e a Mathias Bjørge, que agora já colhe resultados da estreia na Apas 2015, quando apresentaram o produto embalado na origem (leia mais na matéria especial desta edição sobre o bacalhau).
IMPORTAÇÕES DOS ESTADOS UNIDOS | 03/2015 A 02/2016 X 03/2014 A 02/2015 Receita (US$ FOB)
SEAFOOD BRASIL • JAN/MAR 2016 • 14
Produtos
Volume (KG)
mar/2015 a fev/2016
mar/2014 a fev/2015
Variação mar/2015 a fev/2016 mar/2014 a fev/2015
Variação
TOTAL
$3.707.000,00
$8.602.922,00
-56,91%
1.326.983
3.377.032
-60,71%
Pescado (Categoria 03)
$3.616.147,00
$8.496.623,00
-57,44%
1.322.423
3.366.636
-60,72%
1
Outros salmões-do-pacífico, congelados
$992.945,00
$5.389.720,00
-81,58%
297.601
1.785.131
-83,33%
2
Polaca-do-alasca (Theragra chalcogramma)
$915.368,00
$669.266,00
36,77%
681.694
470.041
45,03%
3
Fígados, ovas e sêmen de peixes, congelados
$700.593,00
$759.250,00
-7,73%
-6,18%
4
Cavalinhas, congeladas
$145.424,00
$-
5
Filé de bacalhau-do-atlântico, da-groenlândia, do-pacífico, congelado
$128.743,00
$79.372,00
6
Enguias congeladas (anguilla spp.), congeladas
$120.422,00
7
Outras carnes de tilápias, bagres, carpas, enguias (congeladas)
8
33.144
35.328
167.860
0
62,20%
17.544
9.855
78,02%
$97.237,00
23,84%
2.740
2.200
24,55%
$110.222,00
$42.500,00
159,35%
3.000
1.160
158,62%
Salmões vermelhos, congelados, exceto fígado, ovas, sêmen, ou filés e outras carnes da posição 0304
$82.538,00
$2.198,00
3655,14%
15.342
200
7571,00%
9
Filé de polaca-do-alasca (Theragra chalcogramma), congelados
$74.884,00
$33.738,00
121,96%
26.881
7.008
283,58%
10
Bacalhau-do-atlântico e bacalhau-do-pacífico, congelado
$65.548,00
$258.492,00
-74,64%
20.684
111.698
-81,48%
Conservas (Posição 1604)
$90.853,00
$106.299,00
-14,53%
4.560
10.396
-56,14%
1
Preparações e conservas, de enguias
$62.100,00
$4.464,00
1291,13%
1.860
100
1760,00%
2
Sucedâneos de caviar
$28.753,00
$100.915,00
-71,51%
2.700
10.200
-73,53%
3
Outras preparações e conservas de peixes
$-
$920,00
-100,00%
0
96
-100,00%
Sem lula
N
ão foram só os cultivos de salmão no Chile que o El Niño prejudicou. O mercado internacional se ressente da falta de lula gigante (Dosidicus gigas) e outras espécies, que representam um dos principais produtos de exportação do Peru dentro do segmento. Como os
estoques de lula da China estão baixos, o produto ficou escasso. Na análise do fluxo comercial peruano de pescado ao Brasil, notamos que o grupo das diferentes espécies de lulas e potas despencou 46,67% em receita entre mar/2015 e fev/2016 e o ano anterior,
ao passo que o volume caiu 27,43%. Enviadas a mercados de nicho, as vieiras também prejudicaram o desempenho total das exportações peruanas ao Brasil – 39% menores até fevereiro de 2016, para 5 mil toneladas. Os moluscos passaram de 29,5 toneladas a 17,06 toneladas, com receita 43,8% menor.
IMPORTAÇÕES DO PERU | 03/2015 A 02/2016 X 03/2014 A 02/2015 Produtos TOTAL Pescado (Categoria 03)
mar/2015 a fev/2016
Volume (KG)
mar/2014 a fev/2015
Variação mar/2015 a fev/2016 mar/2014 a fev/2015
Variação
$11.091.913,00
$21.730.289,00
-48,96%
5.026.883
8.339.261
-39,72%
$7.011.141,00
$13.146.620,00
-46,67%
3.696.072
5.656.767
-34,66%
1
Sibas, sepiolas, potas e lulas, congelados, secos, salgados ou em salmoura
$2.835.726,00
$5.052.136,00
-43,87%
1.537.425
2.118.427
-27,43%
2
Filés de merluzas e abroteas, congelados
$1.390.285,00
$353.962,00
292,78%
504.284
137.112
267,79%
3
Cação e outros tubarões
$1.084.509,00
$867.958,00
24,95%
742.000
418.000
77,51%
4
Cavalinhas, congeladas
$575.866,00
$1.972.811,00
-70,81%
538.580
1.830.120
-70,57%
5
Outros peixes, exceto fígados, ovas e sêmen
$522.316,00
$3.047.086,00
-82,86%
149.000
912.557
-83,67%
6
Filés de outros peixes, congelados
$237.535,00
$1.285.770,00
-81,53%
44.990
210.970
-78,67%
7
Vieiras e outros mariscos (gêneros pecten, chlamys ou placopecten) congelados, secos, salgados ou em salmoura
$209.507,00
$373.116,00
-43,85%
17.060
29.581
-42,33%
8
Merluzas e abroteas (Merluccius, Urophycis), congeladas
$115.393,00
$-
69.320
0
$4.080.772,00
$8.583.669,00
1.330.811
2.682.494
Conservas (Posição 1604)
-52,46%
-50,39%
SEAFOOD BRASIL • JAN/MAR 2016 • 15
Receita (US$ FOB)
Na
Gôndola A oferta de peixes e frutos do mar ESPECIAL
Boston 2016
Waterview Market Shrimp with Sauce A Premier Marine Canada apresentou a linha assinada pela chef Lynn Crawford, que concentra pratos com diferentes sabores de camarão, como as versões com limão e alho, camarão caribenho ou ao molho teriyaki.
A criatividade marcou a oferta de produtos dos finalistas do concurso New Products Showcase, realizado durante a Seafood Expo North America 2016, que o leitor acompanha aqui.
Char Marked Barramundi Muito conhecido na Austrália e em parte da Ásia, o barramundi ficou mais popular em Boston este ano por conta da indicação deste produto da vietnamita Vinh Hoan Corporation. Feito sob medida ao público norte-americano, o filé já vem com marcas de grelhado.
SEAFOOD BRASIL • JAN/MAR 2016 • 16
Seafusions™ Pacific Cod Bites O bacalhau fresco do Pacífico ganhou duas novas versões perfeitas para petiscos neste lançamento da Trident Seafoods: Crunchy Potato, com batata crocante, e Spicy Sriracha, com molho de pimenta tailandesa.
Shrimp Toast Essa torradinha triangular de camarão foi a novidade apresentada pela Phillips Foods inc.. Além do crustáceo, o produto inclui nozes, cogumelos, cebolas e outras delícias.
Kickin’ Seafood Chili A grande vencedora na categoria varejo do Seafood Excellence Awards 2016 foi a French Creek Seafoods com esta receita de sopa de chili picante que inclui feijão branco, milho, halibut selvagem e especiarias.
Mussels in a Creamy Stout Sauce O molho cremoso de cerveja escura é o segredo deste prato à base de mexilhão da Bantry Bay
America inc., que leva alho, creme e manteiga. O produto oriundo da aquicultura leva ainda o certificado da Global Aquaculture Alliance, o Best Aquaculture Practices.
Tobikko Umami As ovas de pescado fazem sucesso no mundo todo, mas no Japão a tobiko – como são conhecidas por lá as ovas feitas de peixe-voador – são uma iguaria muito popular. Esta versão da Azuma Foods International Inc. é temperada com caldo de bonito e algas marinhas.
Crab & Shrimp Seafood Feast A AquaStar quis oferecer o banquete definitivo de pescado com este mix de seafood que inclui siri, camarão, mexilhões, linguiça e vegetais em um molho de cerveja. Pronto para grelhar ou cozinhar.
Homemade Tomato Sauces Os molhos prontos caseiros da Absolutely Lobster® são uma conexão entre a lagosta do Maine, tomates da Califórnia e azeite extra virgem italiano. Os potes de 436g podem ser levados diretamente ao micro-ondas para uma sopa ou um molho para massas.
Apas 2016
Cesta cheia
de salmão temperados congelados sabor defumado (250g), sabor limão e ervas (250g) ou sabor manjericão (250g).
mento ú n ela
ico
Con g
A Komdelli chega para a Apas 2016 com uma lista grande de
novos formulados congelados. Na linha “In Natura”, sashimi congelado (200g) e cubos congelados (350g). Na “Prática”, com 300g, stick de tilápia e iscas de tilápia ou de salmão. Já na Assa Fácil, filés de salmão temperado congelado sabor defumado (700g), champignon azeite e ervas (700g) ou pedaços
S i n g l e F ro z e
www.kalenafoods.com.br
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n SEAFOOD BRASIL • JAN/MAR 2016 • 17
Em primeira mão, alguns expositores anteciparam à Seafood Brasil o que apresentarão na edição deste ano.
Visite-nos na APAS (Rua 0, esquina com a 11 - stand 791)
Na
Gôndola
e a versão do filé em quatro queijos são a aposta para encantar os visitantes da Apas este ano.
Yes, nós temos lula!
Fugindo do dólar alto
Dessalgado selecionado
A Golden Foods surpreende nesta Apas com a caixa de anéis de lula congelados. Apesar da crise de produção e os altos preços que assolam os moluscos em todo o mundo, a empresa lança o item em embalagem institucional de 10kg na linha Golden Fish.
Amazônia com nova cara A Peixes da Amazônia estreou na Páscoa as novas embalagens dos seus filés em pouches de 450 g e 1 kg. Pintado, pirarucu e tambaqui cultivados no Acre já estão nas principais gôndolas do Sudeste e Centro-Oeste e, em breve, chegarão a todo o País. Tudo pode ser conferido no estande do Grupo 5 na vitrine dos supermercados.
SEAFOOD BRASIL • JAN/MAR 2016 • 18
Tilápia de qualquer jeito A febre dos pratos prontos também motivou a Copacol a apresentar, ainda no ano passado, três versões práticas para preparo em micro-ondas com a tilápia cultivada pelos parceiros da empresa paranaense. Lasanha, escondidinho
A sardinha, opção nacional sem impacto do dólar, é a aposta da Frescatto Company para as linhas Frescatto, com o filé de sardinha de 500g, e Buona Pesca, com a sardinha inteira ou espalmada em 800g. A novidade para a feira fica por conta das lascas de bacalhau Gadus morhua com cura de três meses, dessalgadas e congeladas em embalagens de 500g.
A Bom Porto entrega aos amantes do bacalhau a linha Seleção em caixas de 1kg e 2 kg: Gadus morhua pescado na Noruega e processado fresco poucas horas depois. Para a entrada, bolinho Gourmet feito na colher com 40% de bacalhau.
Leia este código QR para ver o portfólio e contatos destas empresas. Ou acesse bit.ly/SEAfornecedores
SEAFOOD BRASIL • JAN/MAR 2016 • 19
Capa Comércio exterior
Processamento
Varejo
Food Service
Produção
SEAFOOD BRASIL • JAN/MAR 2016 • 20
2016: em busca de um sentido Ao fim do primeiro trimestre de um ano anunciado como um dos mais difíceis para o setor, otimistas encontram tantos motivos para celebrar quanto pessimistas para reclamar
Texto e fotos: Equipe Seafood Brasil
C
onverse com alguém da produção e o papo pode ser surpreendentemente animador. Tente depois com alguém ligado à importação e o clima vai mudar. Fale então com o varejo e veja a conversa azedar. Depois contate alguém do food service e redefina seu conceito de pessimismo. Por fim, volte à indústria para tranquilizar o espírito com um cenário mais favorável. Só então o prezado leitor terá uma ideia do que foi construir esta reportagem. Se há uma certeza no mundo dos negócios do
pescado, é a de que 2016 é um dos anos mais complexos dos últimos tempos. Comecemos pelo panorama internacional. A Seafood Brasil foi à feira Seafood Expo North America e constatou que a economia norte-americana está em franca retomada. Os brasileiros foram ao evento em busca de respostas sobre a crise do salmão (veja mais detalhes na matéria Direto da Produção e na seção Marketing & Investimentos desta edição), mas também encontraram algumas boas oportunidades e tendências.
Foco na exportação
Guilherme Blanke, diretor da Noronha, vê espaço para a ascensão maior de outras origens de salmão. “Acredito que deve haver um aumento nos custos do produto do Chile, abrindo oportunidades para o salmão da Noruega e fortalecendo o nosso trabalho com o salmão do Alasca”. Com o dólar alto assustando os importadores, a diversificação não só de origens, mas de produtos, é uma saída. “A alta do dólar em 2015 afetou o valor dos peixes que importamos exclusivamente para restaurantes, obrigando-nos a procurar produtos mais competitivos”, avalia Eilon Schreiber, da Kalena, que elegeu o bacalhau fresco do Altântico (pacific cod), congelado apenas uma vez, como espécie de trabalho para este ano. Mesmo com o câmbio adverso, a diversificada oferta norte-americana de pescado seduz. “Meu foco principal foram novos produtos in natura (lagosta e vieira) e tendências de mercado em pratos prontos”, ressalta Alessandro Souza, gerente de compras internacionais da Vivenda do Camarão. “A procura por produtos similares, de outras espécies, deve ser bastante utilizada no segmento este ano”, diz Marcelo Lempé, responsável pela JP Klausen Brasil. Um exemplo inusitado dos EUA é o dogfish, um pequeno tubarão típico da Costa Leste com estoque abundante e preço próximo a US$ 1 o kg. Há uma busca por outras origens de lula, outro produto em crise de produ-
No entanto, mesmo quem estava sem estande pôde constatar como vai a receptividade aos produtos brasileiros. E a conclusão não foi boa. “Em ambos sentimos uma crescente necessidade na aquisição de certificados internacionais. Nos EUA foi perceptível esta necessidade, quando um dos maiores clientes de lagosta suspendeu as importações brasileiras visto que estas não possuíam um selo de sustentabilidade”, conta Paulo Gustavo, diretor executivo da Qualimar. Os brasileiros já estão atentos à necessidade desde 2013, quando os exportadores vinculados ao Sindicato das Indústrias Frigoríficas do Ceará (Sindfrio) investiram em um projeto de melhoria da pesca de lagosta, coordenado pela ONG Centro de Desenvolvimento e Pesca Sustentável (CeDePesca). O convênio foi renovado em Boston pela terceira vez e, até o momento, avaliou a situação dos estoques. “Estão sobre-explotados, mas ao menos há uma redução da mortalidade na operação de pesca”, sublinhou o diretor da instituição, Ernesto Godelman. Como resultado, alguns clientes já mostraram apoio ao projeto nos EUA, como Tequesta Bay Seafood, Casile e Mark Foods. Mas há ainda outro problema. “Desde a safra passada, as empresas brasileiras têm sofrido com o aumento da fiscalização do FDA em portos americanos”, relata Gustavo. Trata-se de um teste sensorial que, se revela odor acentuado no produto, não é autorizado. “Foi reforçado, inclusive pelos maiores empresários americanos, que esta dificuldade tende ainda a existir em 2016, o que deixa os empresários de lagostas e seus clientes receosos.” Como prevenção, o executivo convocou um ex-agente do FDA para “orientar em como ter um produto de melhor qualidade”.
ção. Com os maus resultados da pesca no Peru e baixos estoques na China, importadores falam em alta de preços superior a US$ 1000 a tonelada. “Realmente tem falta do produto no mercado, mais o ideal é esperar a próxima safra que se iniciará em junho/julho. Para nós contorná-la não é difícil, é só incentivar outros produtos no nosso cardápio”, aponta Souza.
Os problemas de fornecimento de matéria-prima do exterior conduzem a uma reflexão importante, como exemplifica Tondo. “Temos que encontrar um equilíbrio com as indústrias pesqueiras nacionais, buscando parcerias e ajudando a desenvolvê-las, precisamos deixar de sermos tão dependentes do que é produzido fora do Brasil.”
SEAFOOD BRASIL • JAN/MAR 2016 • 21
“Em Boston estávamos na hora certa e no momento certo em virtude dos problemas das algas no Chile”, indica Luiz Tondo, executivo de vendas internacionais da Frumar. E o resultado foi muita conversa com os chilenos, para entender e negociar os estoques para o ano. “O mercado [do salmão] já está sofrendo uma grande reviravolta. Vamos sair de um mercado extremamente ofertado, no qual sobrava peixe em 2015, para um mercado um pouco mais escasso durante o ano de 2016. Resta ver como o mercado vai reagir a isso”, disse Thiago De Luca, diretor da Frescatto Company.
Apesar da falta de um pavilhão brasileiro, o Brasil exportador de pescado também foi a Boston. A trading Ayamo Global Foods se juntou à Bottarga Gold e Cais do Atlântico para ocupar o único estande brasileiro da feira em Boston. A missão foi captar novos clientes norte-americanos interessados em produtos de qualidade superior e – com o atual cenário cambial – baratos.
Capa
Negócios na Seafood Expo North America 01
02
05
06
03
07
09
SEAFOOD BRASIL • JAN/MAR 2016 • 22
04
10
08
11
01
Ederson Krumennauer e Luiz Tondo (Frumar)
06
02
Cassiano Ricardo Fuck (Bottarga Gold), Sarah de Oliveira (Cais do Atlântico), Francisco Benvenuti (Seabev) e Tiago Dreher (Komdelli)
Wagner Saadi (Prime) e Marcelo Lempê (JP Klausen Brasil)
07
Carlos Lacerda e Valéria Souza
03
Santiago Villegas (Coomarpes)
08
Alexandre Stephan, Tito Capobianco Jr. e Dagoberto Coracini Filho (Geneseas)
04
Ezequiel La Pietra (Royal Red), Fabio Marques e Bruno Marques (Premier Pescados)
09
05
Ciro D’Antonio, Kurt Truppel, Kurt Truppel Hijo, Juan Emilio D’Antonio (Frigorífico del Sud Este) e Dario De Francesco (Ancona Fish)
Carolina Nascimento (ASMI), Alessandro Souza (Vivenda do Camarão) e Eilon Schreiber (Kalena)
10
Rens Elderkamp (Anova Seafood), Torunn Halhjem (Trident Seafoods), Ricardo Torres
12
(Seafood Brasil), Stephani Scanlan e Julie Yeasting (Trident Seafoods)
11
Raíssa Albuquerque (RA Business Connection), Lincon Dubiela e Alvercinio Vieira (Sirius Brazil)
12
Flávio Vicente, Rafael Barata e Thiago De Luca (Frescatto Company)
Piscicultura sem crise PRODUÇÃO DA PISCICULTURA BRASILEIRA EM 2015 X 2014
Inaugurações e incremento de produção dão a tônica do segmento produtivo em 2016
E
nquanto a multinacional Regal Springs/ Tilabras esquenta os motores para iniciar seu ambicioso plano de produção inicial de 25 mil toneladas anuais em Selvíria (MS), o arranjo produtivo de um raio de 100 km a partir de Santa Fé do Sul (SP) assiste de camarote à expansão do setor. Capitalizada após a entrada dos novos sócios no negócio, a Geneseas já está com a mão na chave de seu frigorífico em Aparecida do Taboado (MS). O fundo que administra a empresa, AquaCapital, acaba de inaugurar uma fábrica de rações – a Aquafeed. “É uma indústria totalmente automatizada. Trabalha com um quadro de funcionários de 20% a 25% menor, mas está preparada para produzir de 36 mil a 40 mil toneladas de ração por ano”, afirma Eduardo Amorim, presidente da PeixeBR e sócio do negócio. Sintomas de como o agronegócio do futuro é, cada vez mais, do presente. “A piscicultura tem um PIB de R$ 4 bilhões atualmente, mas vai passar em 15 a 20 anos para R$ 40 bilhões”, calcula Amorim, que vai além. “Em 10 anos, 20% da produção deve ser exportada.” A própria entidade calcula em 10,21% o crescimento da piscicultura no Brasil em 2015, com projeção de expansão de 12% em 2016. A produção total de peixe em cativeiro foi de 638 mil toneladas, calculada com base na quantidade de ração vendida cruzada com a produção efetiva dos piscicultores.
ESTADO
2014
2015
Var. %
NORTE 123.500 151.600 22,75% Rondônia 40.000 65.000 62,50% Acre 5.000 6.000 20,00% Amazonas 23.000 25.000 8,70% Roraima 20.000 21.000 5,00% Pará 15.000 18.000 20,00% Amapá 500 600 20,00% Tocantins 20.000 16.000 -20,00% SUDESTE 90.000 101.500 12,78% Minas Gerais 25.000 25.000 0,00% Espírito Santo 11.000 12.000 9,09% Rio de Janeiro 4.000 4.500 12,50% São Paulo 50.000 60.000 20,00% SUL 123.000 134.800 9,59% Paraná 75.000 80.000 6,67% Santa Catarina 30.000 35.300 17,67% Rio Grande do Sul 18.000 19.500 8,33% NORDESTE 113.500 116.600 2,73% Maranhão 20.000 23.000 15,00% Piauí 13.000 16.000 23,08% Ceará 33.000 28.000 -15,15% Rio Grande do Norte 3.000 3.300 10,00% Paraíba 1.000 1.100 10,00% Pernambuco 10.000 11.000 10,00% Alagoas 2.500 2.700 8,00% Sergipe 6.000 6.500 8,33% Bahia 25.000 25.000 0,00% CENTRO-OESTE 128.900 133.500 3,57% Mato Grosso do Sul 20.000 23.000 15,00% Mato Grosso 75.000 74.000 -1,33% Goiás 33.000 34.000 3,03% Distrito Federal 800 2.500 212,50% TOTAL 578.900 638.000 10,21%
Bacalhau Seco Salgado
Pangasius
Salmão
Polaca do Alasca
Merluza argentina
SEAFOOD BRASIL • JAN/MAR 2016 • 23
EMPRESA DE REPRESENTAÇÃO INTERNACIONAL DE PESCADOS. Representa no Brasil produtores da China – Vietnâ – Portugal – Argentina e Estados Unidos
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Capa
Homem x máquina O título também poderia ser crise x máquinas: conjuntura econômica prejudica desempenho de indústria fornecedora, mas setor aquecido dentro e fora do País compensa em parte as perdas
A
os poucos a sofisticada indústria de máquinas e equipamentos para plantas alimentícias começa a olhar para o pescado. A crescente produção de matéria-prima do meio aquático só não rende mais frutos pelo compasso de espera em que estão alguns clientes. “Estamos adiando decisões de investimentos, como a modernização de nossas linhas de produção, o que nos possibilitaria crescimento de vendas e redução dos custos”, conta Guilherme Blanke, da Noronha. Um dos fatores é a necessidade de aplicar capital próprio para aquisições, já que o financiamento anda curto. “No setor de máquinas e equipamentos as vendas para o mercado nacional caíram absurdamente, uma vez que as linhas de crédito estão colocando juros inaceitáveis para a nossa realidade”, lamenta Daniel Bacca, da Brusinox. É por isso que a experiente equipe da companhia de Brusque está exportando máquinas, principalmente para a América Latina. “Nossas vendas na área de pescado no atual momento estão voltadas para o mercado externo, que se encontra muito aquecido.”
SEAFOOD BRASIL • JAN/MAR 2016 • 24
Embora também tenha entrado nas vendas externas, a Branco Máquinas já enxerga um cenário melhor no âmbito nacional. “No ano passado concretizamos negócios com 14 novos clientes que nunca haviam trabalhado com pescado”, conta o engenheiro da empresa Joaquim Ferreira. Focada em pequenos e médios frigoríficos e pisciculturas, a Branco vê um 2016 sob um prisma positivo. “Este ano será um ano fantástico para todas as pessoas da área de pescado. A coisa está acontecendo de forma muito rápida a quem cria e processa.” A tendência agora é a automação dos processos, diz Ferreira. “Todos reclamam que a mão de obra está muito complicada, então cada vez mais a procura será por máquinas capazes de dar resposta bem semelhante à humana”, completa. Outro foco será em novas espécies, ainda sem maquinário ajustado. Nessa linha, a Branco prepara o lançamento de quatro máquinas ainda no primeiro semestre, mas Ferreira reconhece que a procura maior é por descouradeiras, descamadeiras e despolpadeiras.
Um ano para encantar (ainda mais) Food Service deve usar criatividade para cativar consumidor menos disposto a comer fora de casa
A forte dependência que os restaurantes têm do salmão também cobrou
seu preço. Para Donna, a restauração é uma grande consumidora de diversas espécies de maior valor, o que prejudica a presença do pescado nos pratos por aí. “Algumas espécies poderão ter um ajuste de preços para não perder clientes, mas outras como o salmão enfrentam um dilema de ter uma pressão de preços pela situação cambial e de oferta e perder um espaço de mercado conquistado nos últimos anos.” É aí que surge uma chance para a tilápia abrir mais mercado e ocupar parte do mercado do salmão, conforme a avaliação do especialista. “Especialmente nos restaurantes a la carte, por quilo, em menor grau na culinária japonesa, mas
sem dúvida é a grande oportunidade para a aquicultura brasileira, especificamente para tilápia.” Outras espécies de aquicultura ainda estão longe de cumprir o papel da tilápia, na visão dele, que já conta com escalas produtivas relevantes. Às dificuldades da matéria-prima somam-se os problemas dentro dos estabelecimentos. “Os índices de perda nos processos de manipulação continuam altos”, adverte Donna, para quem esta é uma “bela oportunidade” de revisar o assunto. “O ano de 2016 nos obrigará a cuidar melhor da matéria-prima, procurar alternativas de espécies e desenvolver receitas criativas que encantem o cliente.”
SEAFOOD BRASIL • JAN/MAR 2016 • 25
O
ano passado já mostrou suas caras no ramo da alimentação fora do lar. Um primeiro semestre de ajustes de preços beirando os 10% e uma queda no número de transações, segundo contabiliza a consultoria ECD Food Service. “As lojas tiveram uma queda de 5% no número de transações (mesmas lojas)”, exemplifica o diretor, Enzo Donna. Já no segundo semestre, os fornecedores não conseguiam repassar os preços e os operadores do food service tiveram queda superior a 8% (mesmas lojas).
SEAFOOD BRASIL • JAN/MAR 2016 • 26
SEAFOOD BRASIL • JAN/MAR 2016 • 27
Capa
A tortuosa rota do varejo Inflação corrói boa expansão do varejo em 2015, mas 2016 tem Semana Santa surpreendente
N
o ano passado, quando a crise econômica já era latente, as 20 maiores redes varejistas incrementaram o faturamento em 7,4% (veja tabela). Mas com a inflação em 10,67% (IPCA), o crescimento foi negativo. Não há dados específicos sobre
o pescado, mas o maior termômetro do segmento – a Semana Santa – mostrou temperaturas bem quentes em 2016. Isso porque as expectativas, muito baixas, foram facilmente superadas, com casos de recompra de produto em pleno período de Páscoa. Com a palavra, os
fornecedores. “Incrementamos em 5% nossas vendas nesta Semana Santa em comparação ao mesmo período de 2015, além de conseguir manter as cifras do primeiro trimestre de 2016 ante o ano anterior”, revela Luis Cabaleiro, diretor da Interatlantic.
TOP 20 VAREJO # em 2015
# em 2014
RAZÃO SOCIAL
NOME POPULAR
SEDE
FATURAMENTO BRUTO EM 2015
% DO TOTAL
NÚMERO DE LOJAS 2015
FATURAMENTO BRUTO EM 2014
FATURAMENTO 2014 x 2015
1
1
COMPANHIA BRASILEIRA DE DISTRIBUIÇÃO
Grupo Pão de Açúcar
SP
R$ 76.933.000.000
38,1%
2181
R$ 72.318.920.859
6,4%
2
2
CARREFOUR COM IND LTDA
Carrefour
SP
R$ 42.701.594.004
21,2%
288
R$ 37.927.868.864
12,6%
3
3
WALMART BRASIL LTDA
Walmart
SP
R$ 29.323.141.083
14,5%
485
R$ 29.647.436.292
-1,1%
4
4
CENCOSUD BRASIL COMERCIAL LTDA
GBarbosa
SE
R$ 9.267.780.338
4,6%
222
R$ 9.795.213.632
-5,4%
5
5
COMPANHIA ZAFFARI COMÉRCIO E INDÚSTRIA
Zaffari
RS
R$ 4.508.000.000
2,2%
31
R$ 4.215.000.000
7,0%
R$ 162.733.515.425
80,7%
3207
R$ 153.904.439.647
5,7%
TOTAL 5 MAIORES 6
6
IRMÃOS MUFFATO & CIA LTDA
Super Muffato
PR
R$ 4.095.683.945
2,0%
44
R$ 3.704.980.201
10,5%
7
8
SUPERMERCADOS BH COMÉRCIO DE ALIMENTOS LTDA
Supermercados BH
MG
R$ 3.972.886.248
2,0%
149
R$ 3.408.444.822
16,6%
8
10
SDB COMÉRCIO DE ALIMENTOS LTDA
Supermercados Comper
SP
R$ 3.883.659.200
1,9%
52
R$ 2.903.613.000
33,8%
9
7
CONDOR SUPER CENTER LTDA
Rede Condor
PR
R$ 3.815.586.102
1,9%
41
R$ 3.636.516.432
4,9%
10
9
SONDA SUPERMERCADOS EXPORTAÇÃO E IMPORTAÇÃO AS
Rede Sonda
SP
R$ 3.110.899.189
1,5%
39
R$ 2.904.647.318
7,1%
R$ 181.612.230.109
90,0%
3532
R$ 170.462.641.420
6,5%
SEAFOOD BRASIL • JAN/MAR 2016 • 28
TOTAL 10 MAIORES 11
12
DMA DISTRIBUIDORA S/A
Supermercados EPA
MG
R$ 2.636.919.105
1,3%
109
R$ 2.317.213.551
13,8%
12
11
A ANGELONI CIA LTDA
Angeloni
SC
R$ 2.389.884.820
1,2%
27
R$ 2.370.120.774
0,8%
13
15
SAVEGNAGO SUPERMERCADOS LTDA
Savegnago
SP
R$ 2.115.468.064
1,0%
37
R$ 1.911.666.714
10,7%
14
16
LIDER COMÉRCIO E INDÚSTRIA LTDA
Grupo Líder
PA
R$ 1.987.633.833
1,0%
21
R$ 1.821.641.200
9,1%
15
13
COOP - COOPERATIVA DE CONSUMO
Coop
SP
R$ 1.986.037.754
1,0%
42
R$ 2.017.270.816
-1,5%
16
17
MULTIFORMATO DISTRIBUIDORA S/A
Super Nosso
MG
R$ 1.938.759.911
1,0%
37
R$ 1.751.377.144
10,7%
17
19
AM/PM COMESTÍVEIS LTDA
AM/PM
RJ
R$ 1.807.578.678
0,9%
1910
R$ 1.573.068.741
14,9%
18
21
CARVALHO E FERNANDES LTDA *
Carvalho Supermercado
PI
R$ 1.755.831.887
0,9%
46
R$ -
0,0%
19
14
YYAMADA S/A - COMÉRCIO E INDÚSTRIA
Y. Yamada
PA
R$ 1.745.719.376
0,9%
36
R$ 1.957.902.912
-10,8%
20
18
COMERCIAL ZARAGOZA IMP EXP LTDA
Spani Atacadista
SP
R$ 1.739.254.223
0,9%
14
R$ 1.692.188.709
2,8%
R$ 201.715.317.760
100,0%
5811
R$ 187.875.091.981
7,4%
TOTAL 20 MAIORES *Não figurou no TOP 20 em 2014 Fonte: Ranking Abras/SuperHiper 2016 | Elaboração: SEAFOOD BRASIL
Enquanto o dólar alto faz suas vítimas, ainda há perspectivas de recuperações significativas em determinados nichos de importados que já sofreram em 2015. “Estamos trabalhando exatamente com a recuperação em 2016 devido aos estoques baixos dos importadores e também dos desafios que outros exportadores de outras origens estão enfrentando neste momento”, relata José Madeira, diretor do Alaska Seafood Marketing Institute (ASMI). O executivo vê boas oportunidades na importação de polaca e o bacalhau in natura do Pacífico (cod) devido à “qualidade superior do produto do Alasca, que é single frozen [congelamento único]”.
Quem fornece espécies nativas ao varejo também não anda com muitos motivos para reclamar. A Peixes da Amazônia, que começou a operar efetivamente em novembro do ano passado se surpreendeu positivamente nesta Quaresma com os resultados. “Só de peixe bruto foram 200 toneladas em 30 dias, fora os cortes e as oportunidades spot”, ressalta Diego Fávero, sócio da empresa responsável pelas ações comerciais da Peixes, o Grupo5. “Essa crise exige que todo mundo trabalhe focado na redução de custo, por isso a necessidade de uma proteína alternativa”, completa, referindo-se ao pirarucu, pintado e tambaqui fornecidos pela companhia.
O camarão também deve ir bem em 2016. Na percepção da Queiroz Galvão, dona da marca Potiporã, a expectativa é bastante otimista. “Estamos preparados para um crescimento de pelo menos 20% comparado a 2015”, disse uma fonte da empresa via assessoria. A linha com maior giro é a de embalagens de 200g, nas variações inteiro, sem cabeça e descascados. As conservas também não ficam atrás. Um levantamento da Nielsen calculou um crescimento de 1,6% em enlatados em 2015. Só a Gomes da Costa, líder do segmento, faturou 6% mais e quer o mesmo percentual este ano. “O esforço na manutenção dos preços
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dos produtos mesmo frente à situação econômica nacional tem assegurado um crescimento das vendas por conta do preço nominal (unitário) da proteína”, sublinha Abraão Oliveira, da consultoria Projepesca e coordenador do Comitê de Conserva do Pescado da Associação Brasileira das Indústrias da Alimentação (ABIA). A sardinha lidera o incremento de vendas por ser acessível a todas as classes, enquanto o atum gera briga entre as poucas concorrentes nacionais. Mas o desafio segue na disponibilidade da matéria-prima, por conta da limitada oferta nacional e a participação de insumos importados, como explica Oliveira. “Ao mesmo tempo, embora com participação menor no mercado de conservas, produtos que devem apresentar bom desempenho caso haja pesca deverão ser: chicharro e anchoveta, que, apesar do alto valor do dólar e volatilidade, apresentam custos bastante competitivos.” Além de repensar a origem do pescado, os fornecedores podem aproveitar o momento para repensar seu modelo de negócio. “Este modelo em que a indústria produz e diz ao cliente o que ele tem que comprar está falido”, adverte Fávero. “O mercado é soberano, hoje o cliente é que diz o que quer comprar e a indústria vai atrás para oferecer.”
SEAFOOD BRASIL • JAN/MAR 2016 • 29
A Frescatto Company projetou aumento de vendas de 10% nesta Quaresma, por conta de lançamentos das linhas Buona Pesca e Frescatto. “Um exemplo é o bacalhau dessalgado Gadus morhua, além da nossa linha de sardinha, com custo benefício excelente, e que não está ligada a variação cambial”, avalia Thiago De Luca. O bacalhau é um caso à parte (veja análise na matéria especial desta edição), assim como o varejo de alto padrão – uma ilha de prosperidade. “Nosso público é seleto, não tem muita influência da crise. Para nós o mercado não está ruim”, diz Emilio Barletta, chef responsável pela peixaria do Eataly e St. Marché.
Direto da Produção
Copa América da
SEAFOOD BRASIL • JAN/MAR 2016 • 30
maricultura M
esmo em uma crise que já reduziu a produção de salmão em 20%, chilenos têm trajetória de erros e acertos que é a maior referência para a maricultura comercial no Brasil; ainda na segunda divisão dos cultivos marinhos, empresários brasileiros lutam para superar entraves técnicos, burocráticos e mercadológicos para ajustar produção com a crescente demanda interna.
Na primeira divisão O Chile é o segundo maior produtor de salmão atlântico em cativeiro do mundo; alcançou uma posição notável apoiado em uma conjunção de fatores institucionais, ambientais, comerciais e tecnológicos – que, ainda assim, não evitam problemas
O
Texto e fotos: Ricardo Torres
Resiliência pode ser uma palavra que define os chilenos no setor. Foram muitas as agruras de uma indústria que cresceu exponencialmente em 30 anos para rivalizar com a Noruega – e pagou o preço por ter crescido tão rápido. A pior delas foi o vírus ISA, em 2007, que gerou prejuízos superiores a US$ 600 milhões e motivou uma reorganização do sistema de gestão dos cultivos em todo o país – além de demissões em massa.
Uma das medidas adotadas pelo Serviço Nacional de Pesca e Aquicultura (Sernapesca) foi uma espécie de “descanso simultâneo” de vários centros de cultivo em uma zona específica, para desestimular uma rápida contaminação em caso de vírus e facilitar a contenção de outros problemas sanitários. A indústria acha que o tiro saiu
pela culatra: “Ainda que seja bem intencionada, [a medida] é ineficaz porque gera picos de biomassa significativos, simultaneamente. Isso gera condições para danos e deterioração do patrimônio sanitário da zona”, disse em março o gerente geral da Camanchaca, Ricardo García, ao jornal chileno Diario Financeiro.
Claudio Garcia-Huidobro e Pablo Durán Solís, da Camanchaca: centro de cultivo em Puelche foi o primeiro afetado pela floração de algas
SEAFOOD BRASIL • JAN/MAR 2016 • 31
verão de 2016 vai ficar marcado no Chile como um dos mais quentes e prejudiciais à salmonicultura em décadas. O rápido florescimento de algas nocivas que se incrustram nas brânquias dos peixes e os matam por afogamento dizimou 20% da produção total de salmonídeos. Até a publicação desta reportagem, foram perdidos quase 45 centros de cultivo, o que equivale em despesca a 101 mil toneladas de salmão atlântico, 4 mil toneladas de truta e 8 mil toneladas de salmão coho, calcula Felipe Manterola, gerente geral da SalmonChile, associação que reúne mais de 90% da produção de salmões no Chile.
Direto da Produção Camanchaca, antes das algas Exatamente um mês antes de a tragédia do bloom de algas ser detectado na região do Seno de Reloncaví, golfo onde se situa Puerto Montt, a Seafood Brasil visitou centros de cultivo, reprodução e alevinagem daquela que seria a primeira afetada pela nova crise: a Camanchaca. Naquela altura, a principal preocupação era a reconstrução das estruturas da empresa afetadas pela erupção do vulcão Calbuco, em abril de 2015, como mostrou in loco Claudio Garcia-Ruidobro. No laboratório de alevinagem e smoltificação (quando o alevino se torna prateado e está pronto para engorda no mar) toneladas de areia, pedras e escombros ainda estavam sendo removidas, enquanto a reconstrução de galpões e tanques estava a todo vapor. Eram 11 pisciculturas, todas com circuitos de água independentes para evitar contaminação. O modelo de recirculação permanece o mesmo, mas a nova fase terá 8 pisciculturas. Apesar da destruição causada pelo Calbuco, a maior parte dos peixes foi salva. “Todos os sistemas de backup que tínhamos funcionaram, os protocolos se ativaram. Com um desastre de essa magnitude, fomos capazes de salvar 80% da biomassa. É praticamente um milagre. Outras pisciculturas perderam 80% em um dia”, contou Ruidobro. Nosso tour prosseguiu com uma visita à unidade de reprodutores, que não foi afetado pela erupção e mantém as matrizes cujas ovas seguem para os centros de alevinagem e smoltificação. Saímos da terra firme e finalmente chegamos ao mar, no centro de cultivo Puelche, onde os peixes chegam com 100 gramas em média e ali permanecem até aproximadamente 5,5 kg, entre 14 e 18 meses. O centro tem 20 jaulas, com módulos metálicos de 30 m² e profundidade de malha de rede de 20 metros. Para cada jaula são 45 mil peixes. Dois galpões flutuantes Unidade da Camanchaca em reconstrução perto de Puerto Varas: abrigam 150 toneladas de ração. local foi devastado pelo vulcão Calbuco, vizinho do Osorno (na foto) Um deles também compreende o sistema de monitoramento que oferece informações em tempo real sobre os cultivos, incluindo câmeras subaquáticas, e de onde se pode controlar a alimentação automática dos animais. Quando chegam ao peso comercial, seguem para barcos transportadores que os levam aos centros de processamento. A despesca é feita por sucção: uma bomba suga os peixes e os despeja em tanques dentro das embarcações com troca de água constante, para que cheguem vivos e em perfeito estado ao processamento. A mortalidade em Puelche é de 1%, quando uma taxa mais comum seria de 10%: quatro mergulhadores fazem a extração de peixes mortos – cerca de 25% que não foram captados por outro sistema de sucção.
SEAFOOD BRASIL • JAN/MAR 2016 • 32
Todos os centros – alevinagem, reprodução ou cultivo – são interdependentes na Camanchaca e precisam funcionar como uma engrenagem perfeita. “É uma sintonia fina”, explica Ruidobro. “Podemos ingressar uma ova hoje e o chefe de centro de cultivo vai te dizer que dia vai sair, com que peso vai sair. E isso se cumpre praticamente ao pé da letra.” O executivo não contava ainda com a floração de algas, que matou 4.500 toneladas de salmão que seria despescado no fim do ano.
Trabalho minucioso: funcionárias retiram na pinça as ovas que não vingaram ou não apresentam características anatômicas desejadas no centro de reprodução e genética
A floração de algas – que ocorre todos os anos, mas se proliferou como nunca por conta do El Niño – é apenas mais um fator na longa lista que inclui erupções vulcânicas, uso de antibióticos e diversas enfermidades oriundas de um sistema de cultivo intensivo, como o próprio ISA. É por isso que, neste momento, está em curso uma campanha para tranquilizar o sedento mercado consumidor mundial do salmão chileno – que também envolve o Brasil (Leia mais na seção Marketing & Investimentos desta edição). Ainda que o foco agora esteja sobre os problemas, foram muitos os avanços que a maricultura chilena alcançou. A salmonicultura, seu exemplo mais pungente, se concentrou na região de Puerto Montt e ao norte da ilha de Chiloé, ambas na X Região, onde se formou um cluster estratégico com diversos fornecedores de insumos e serviços. No entanto, pela intensa concentração de empresas e aumento de problemas sanitários, houve uma migração de parte das empresas a zonas mais austrais, como a XI e XII regiões. David Ulhoa, gerente geral da Storvik Chile, tem de carreira quase o mesmo tempo que a salmonicultura comercial tem de existência no país e presenciou vários avanços. Na alimentação animal, o executivo destaca a passagem da ração pelletizada para a extrusada, que possibilitou o aumento da taxa de proteína. Ele avalia ainda que a porcentagem de utilização da proteína de pescado era de 40% nos anos 2000 e nos últimos anos está chegando a valores inferiores a 10%. “Uma mudança significativa é a pressão por utilizar dietas com substituição de farinhas animais por vegetais que cumprem os mesmos requisitos nutricionais”, diz Ulhoa. “É uma tendência que chegou para ficar.” A engenharia genética também elevou a salmonicultura a outro patamar,
relembra Ulhoa. “Desde a seleção em massa por características como o crescimento, depois os programas genéticos por seleção familiar para uma ou mais características fenotípicas de interesse comercial como crescimento, melhoras no fator de conversão alimentar, resistência a enfermidades, até chegar na atualidade aos programas de seleção genômica individual por meio de marcadores genéticos.” Muito do que se discute hoje sobre o sistema de cultivo de tilápias e camarões no Brasil também permeou a trajetória da salmonicultura. “Nas pisciculturas a tendência agora é passar de sistemas de fluxo aberto ou reuso de água para recirculação”, avalia o especialista.
O modelo das estruturas de engorda também está em discussão por lá. As jaulas, como são chamadas no Chile, evoluíram de um formato de 15 m² para 30 ou 40 metros de diâmetro circular. No entanto, a foto clássica dos enormes tanques circulares nos belos fiordes chilenos pode estar com os dias contados, segundo comenta Claudio Garcia-Huidobro, gerente de operações e projetos da Camanchaca. “A utilização da área de concessão é muito menor [com o tanque quadrado], não é preciso ter uma embarcação para te levar de uma jaula a outra. Os custos de operação e manutenção são mais econômicos que as circulares.” Segundo ele, a trajetória começou com as quadradas, evoluíram para as redondas e agora
retornam aos módulos retangulares. “Fruto da experiência”, justifica. Outro foco é na necessidade de estimar, com cada vez mais precisão, a quantidade de biomassa presente nos cultivos e de que maneira são afetados por patógenos. A própria Storvik desenvolveu, na matriz norueguesa, um novo estimador de biomassa que tira fotos debaixo d’água e gera informações por meio de um algoritmo, como dados do tamanho e peso. Já no Chile, a empresa está projetando um equipamento que permitirá a contagem automática de parasitas externos que se aderem aos salmões. “Isso permitirá um dado mais confiável e auditável, já que na atualidade essa contagem é feita de maneira visual”, detalha Ulhoa.
SEAFOOD BRASIL • JAN/MAR 2016 • 33
Tecnologia da Camanchaca: sistema automático de limpeza de incrustações, casario flutuante com depósito de ração e central de monitoramento de nutrição e comportamento
Direto da Produção
Cavalo Marinho/Divulgação
Para o cultivo de mexilhões, ostras e vieiras, o custeio da infraestrutura da criação fica por conta de cabos (cordas) e flutuadores (boias)
Enquanto isso, no Brasil... Projetos comerciais de piscicultura marinha ainda são raros, enquanto as ostras e mexilhões já estão em estágio mais avançado; carência de tecnologia, insumos e apoio governamental, no entanto, é consensual Texto: Léo Martins
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ão Paulo, Santa Catarina, Rio de Janeiro e o Pará são os Estados à frente no crescimento da maricultura no Brasil. Felipe Matarazzo Suplicy, sócio da Marine Equipment e pesquisador em maricultura da Epagri, destaca a primazia de Santa Catarina. “É onde a atividade envolve cerca de 5.000 pessoas na produção de mexilhões e ostras. Já Rio de Janeiro, São Paulo e Pará se sobressaem com produção de vieiras, além das ostras e mexilhões.” O último levantamento da Pesquisa Pecuária Municipal, do IBGE (PPM), apurou que, em 2014, foram produzidas 22 mil toneladas. No Rio de Janeiro, Carlos Kazuo Jasbick Tonaki é um dos pioneiros. Proprietário da Nautilus, maricultura, localizada em Ilha Grande (RJ) na faixa de mar contígua à pousada de mesmo nome, acredita que o mercado está em expansão. “Em primeiro lugar, pela necessidade de produzir alimentos para uma população cada vez maior”, pontua, “e depois, pela pesca em declínio”. Kazuo basicamente cultiva vieiras e
bijupirás, que vende em sua própria pousada e a restaurantes do Sudeste. No entanto, é consenso que esse potencial ainda está muito longe de ser realizado. “Não possuímos organização, investimento, foco governamental ou pesquisa e desenvolvimento.” É com essa análise que Vasco Simões, sócio-diretor da Maricultura Itapema, fazenda de bijupirá localizada na cidade de Ilhabela (SP), resume o patamar da atividade. A empresa detém quatro hectares para o cultivo de bijupirás, de onde pretende extrair uma produção de 50 toneladas até o fim do ano. O plano de negócios inclui dobrar o volume em 2017 e chegar a 500 em 2020. Para expandir ainda mais, a empresa procura um parceiro. “Estamos interessados em investidores especializados em aquicultura que possam capitalizar e participar da gestão.” Luiz Valle, diretor-presidente da Cavalo Marinho, é precursor em Santa Catarina e nas lutas com a esfera pública para fazer a atividade crescer. “Há 12 anos vamos à Brasília mostrar diversos dados provando a rentabi-
lidade da maricultura ao ministro de plantão, a fim de garantirmos mais áreas para cultivo”, acrescenta Valle. Enquanto isso, a empresa se movimenta como pode para modernizar a operação. Tomou emprestados R$ 7 milhões do BNDES para investir em cultivo e mecanização, que elevou a capacidade de desconche de 100 ton/mês para 1.800 ton/mês. Os equipamentos necessários foram instalados em julho do ano passado e a primeira colheita – fruto destes investimentos – será em outubro. “Estamos colhendo cerca de 50 toneladas de matéria-prima mensalmente e já pularemos para 170 toneladas mensais em outubro”, detalha Valle. Esse é o limite da área atual, de cerca de 10 hectares em Palhoça (SC), mas a empresa está em aquisição de outra área de 50 hectares também na cidade catarinense, que dará mais 150 toneladas/mês de produção. Há ainda uma terceira área em prospecção, de 150 hectares, que acrescentará mais 350 toneladas mensais à produção, em local situado em um raio de 100 km de Palhoça. “Mas pretendemos manter a
compra de mexilhões de terceiros, em torno de 50 a 100 toneladas por mês”. O cronograma tem previsão de conclusão para cinco anos. Ainda em Santa Catarina, mas na Baía Sul de Florianópolis, está a Fazenda Marinha Atlântico Sul, resultado da fusão de três empresas focadas na ostreicultura que operavam lado a lado até 1998. Neste ano, interessadas em vender fora do Estado, juntaram-se para operar com SIF. Foram 10 anos de expansão comercial e produtiva, até que outros competidores sem o mesmo padrão de qualidade e custos muito inferiores aos de uma indústria começaram a chegar. “Até 2008, trabalhávamos com cerca de 20 toneladas por mês entre marisco, mexilhão, ostra e vôngole. Hoje opera-
mos com 40% deste volume”, confidencia a diretora de marketing e qualidade, Flávia Ribeiro Couto. A produção ocupa uma área de 23 hectares, dos quais 60% não estão em produção. De 40 funcionários, hoje são apenas 12, além dos quatro sócios. Parte disso se deve à mecanização de processos, como o desconche, mas o principal se deve mesmo à perda de 60% do mercado. A empresa vende basicamente ao food service (90%), embora mantenha um fornecimento regular ao Pão de Açúcar de ostras vivas.
E o consumo? Já existe e é crescente para algumas espécies. “Trazemos mexilhão do Chile porque não produzimos
internamente o necessário para nosso consumo. E olha que não exportamos sequer um grão de mexilhão”, observa Valle. A mesma situação se aplica na piscicultura marinha, da qual, na conta de Simões, o País importou em 2015 cerca de 440 mil toneladas. “Isso comprova que falta peixe no País. Temos um mercado excelente. O que falta é produção”, sintetiza. A malacocultura brasileira tem uma fatia consistente de mercado para atender. O consumo de mexilhões e ostras ocorre do Amazonas ao Rio Grande do Sul, diz Valle. “O mercado consumidor está em todas as capitais do País e todas demandam moluscos bivalves de Santa Catarina.” Para os peixes oriundos da piscicultura, Kazuo informa que
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Seafood Brasil/Léo Martins e Maricultura Itapema
Seafood Brasil/Léo Martins e Maricultura Itapema
Vasco Simões e Domingos Llorca, da Maricultura Itapema: em busca de um investidor; produção de bijupirá fica em Ilhabela (SP)
Direto da Produção
a principal região compradora é o eixo Rio-São Paulo. Nelas, Domingos Llorca, gerente comercial da Maricultura Itapema, diz que os peixes são utilizados por restaurantes que trabalham com pratos quentes e frios. Com as redes varejistas, Simões aponta que a piscicultura marinha brasileira ainda “não possui estrutura para atender justamente pelo alto volume demandado”. Flávia, da Atlântico Sul, ainda vê o mercado em geral com pouca disposição para pagar mais caro por qualidade. “Hoje o brasileiro prefere o preço menor, não está nem aí para um produto certificado, orgânico, produzido com qualidade. Mas tem uma parcela de chefs e compradores de grandes lojas que exigem alta qualidade. Este é o nosso cliente.” Além dos clientes domésticos que valorizam a qualidade, o próximo passo é vender ao exterior. “É uma saída para as empresas que são mais organizadas no sentido de controle, rastreabilidade, qualidade. E o ciclo da ostra é curto, tem oito meses, é uma vantagem para exportação”, complementa.
Brasil x Chile
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Carlos Kazuo, da Nautilus, aponta uma discrepância natural: a costa chilena é privilegiada pela corrente de Humboldt, que propicia a seu litoral maior variedade de espécies marinhas pela riqueza em plânctons. “E a indústria chilena de salmão está mais ou menos 20 anos na nossa frente. Isso implica num amadurecimento muito maior por parte do mercado deles na tecnologia zootécnica de desempenho animal”, opina Simões, da Itapema. Ele lembra que os chilenos possuem níveis de conversão alimentar e de mortalidade do salmão, assim como o desenvolvimento nutricional e sanitário do peixe, melhores do que os nossos. “Outra coisa é que o salmão no Chile possui uma escala absurda de consumo e produção, bem como o boi no Brasil”, relata Domingos Llorca.
Luiz Valle, da Cavalo Marinho, ilustra o raciocínio. No Chile, uma única fazenda marinha de mexilhões é capaz de render o equivalente a toda produção brasileira. “Enquanto os chilenos ultrapassaram as 240 mil toneladas por ano, não chegamos a 10% disso.” Ainda assim, no caso de moluscos bivalves, ele não vê qualquer diferença técnica entre os países. “Os demais maricultores nacionais só não mecanizam totalmente seus métodos de cultivo por possuírem áreas muito pequenas e incapazes de abrigar investimentos maiores em equipamentos”, esclarece. No entanto, o que mais “pega” é a forma como o governo dos países encara essa atividade. “No Chile, a piscicultura marinha faz parte da política de governo”, expõe Llorca. “É um tipo de política fixa, com projetos estratégicos de longo e curto prazo, regulamentação para controle sanitário etc.”, acrescenta Simões. “E essa é a grande semelhança que nós, cultivadores, gostaríamos que houvesse com os chilenos: a política governamental de aquicultura e pesca”, reforça Valle. O setor privado chileno também se movimentou para oferecer serviços e insumos para os empresários. “Lá, por exemplo, eles dispõem de empresas especializadas que fazem todo o serviço que envolve a rede, tais como montar, lavar e dar toda a manutenção e reforma”, diz Simões. Já no Brasil, a carência de insumos é geral. “Não possuímos nenhum tipo de insumo oficial”, afirma Llorca. Ele relata o esforço das fazendas marinhas em correr atrás de “mercados paralelos” para que consigam se manter sozinhas. “No caso de redes, por exemplo, tivemos que comprar o pano e achar alguém para costurar do jeito certo”, conta. A ração é mais um ponto que demanda uma franca evolução. Simões conta que a Itapema precisou colocar um PhD em nutrição para pesquisar e estudar a fisiologia do bijupirá e então
criar a fórmula ideal. “Com a receita em mãos, compramos os ingredientes e algumas horas da capacidade industrial de uma fábrica para produzir o insumo”, detalha. E a proteína animal para a composição – farinha de sardinha – foi adquirida junto a uma indústria de conservas do Rio de Janeiro. Essa cooperação entre indústrias de conserva e pisciculturas é considerada uma “quebra de paradigma”, diz Llorca. “De fato, isso deve ajudar com que os fornecedores de ração repensem melhor sua função no mercado. A tendência é que as mariculturas comecem a produzir suas próprias rações e, futuramente, vendam para outras fazendas marinhas”, projeta Simões. “Afinal, a ração é 60% do custo de qualquer criação.” A Itapema deve fechar o ano com 250 toneladas de ração produzida internamente. Quando o assunto são mexilhões, ostras e vieiras, Valle informa que o custeio desse tipo de cultivo se compõe basicamente de cabos (cordas) e flutuadores (boias). Ao contrário dos peixes, que são alimentados com ração, os bivalves extraem seu alimento do próprio mar. No entanto, a disposição desses insumos também é restrita. “Não temos cabos apropriados para o cultivo em escala no Brasil: os importamos”, confidencia Valle. E em sua visão, uma indústria produtora de cabos só se interessará por produzir esses itens nacionalmente quando o governo disponibilizar áreas de cultivo que demandem volume mínimo para justificar o investimento. Ou seja, a iniciativa privada só avançará se a esfera pública fornecer as condições para que isso ocorra. Leia este código QR ou acesse http://bit.ly/SEAFOODBRASIL maricultura e saiba mais sobre os desafios da maricultura no Brasil
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Conheça algumas soluções presentes na indústria para trazer às claras o histórico da produção de pescado Texto: Marcela Gava
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squeça o enigma do peixe capturado ou despescado com o processamento e a distribuição desconhecidos. Desde 09 de dezembro de 2015, data de publicação da RDC nº 24/2015 no Diário Oficial da União pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), isso não pode mais acontecer. Na prática, toda vez em que um produto alimentício, sua embalagem ou algum ingrediente apresentar qualquer sinal de risco à saúde do consumidor (“probabilidade de ocorrência de um efeito adverso à saúde e da gravidade de tal efeito, como consequência de um perigo ou perigos nos alimentos”, como diz a lei) ele poderá ser recolhido.
itens à venda, uma eventual interdição e cassação do registro no órgão.
O próprio fabricante tem a chance de fazer isso de forma voluntária ou então o recolhimento será feito pela Anvisa. Nesta segunda opção, o fabricante terá apenas 48 horas para preparar um relatório e explicar o que aconteceu. Mas se quiser evitar o risco de omissões, erros e futuras sanções, precisa preparar o relatório por iniciativa própria e apresentar à Anvisa assim que identificar a necessidade de recolhimento. Se as regras não forem cumpridas, a multa é pesada. Varia entre R$ 2 mil a R$ 1,5 milhão, além da retirada obrigatória de
Três pontos centrais colocam o sistema em prática: qual é o produto (no caso, espécie do peixe, quantidade, embalagem), de onde ele veio (origem) e para onde ele foi (destino). Essa tríade é conhecida como Rastreabilidade Interna, com a qual se registra em cada elo da cadeia uma parte da história do produto.
Quem vende pescado no Brasil consegue, se quiser, se livrar desse perigo e apresentar o atestado de antecedentes do produto com a ficha completamente limpa. A rastreabilidade e as certificações são recursos com potencial para colocar o setor na rota da transparência. Baseada em aplicativos e softwares, a rastreabilidade atua como uma espécie de GPS. Por meio dela, acompanha-se a movimentação do pescado pelos diferentes estágios de produção, processamento e distribuição.
No entanto, segundo Heidy Milan, gestora de contas da PariPassu, os dados em questão muitas vezes são insuficientes para que se tenha um
recall eficiente. “Para isto é necessário um sistema de rastreabilidade compartilhado, ou o que chamamos de Rastreabilidade de Cadeia”, argumenta. Como o próprio nome indica, tratase de um processo em que todos os elos participam. Nesta modalidade, um código único é gerado para o alimento e, conforme ele é produzido, processado, armazenado e distribuído, as informações são adicionadas em cada etapa. “Para que este sistema seja implantado, todas as informações da rastreabilidade interna são vinculadas ao código, da produção ao varejo”, explica Milan. Ou seja, uma vez gerado o código inicial, o próximo elo deve indicar que o recebeu de seu fornecedor e enviou para a etapa seguinte. É assim que o produto chegará à gôndola com o currículo completo. Os dados ficam disponíveis ao consumidor final e podem ser acessados por meio de um código QR Code. De acordo com Milan, é possível visualizar a localização da piscicultura ou a área marítima em que a espécie foi pescada, onde fica a indústria em que o produto foi processado – ou se for um pescado fresco, o local de distribuição – e por fim, se passou pelo Centro de Distribuição do varejo em que está sendo adquirido.
Depositphotos / Emerson Freire
Fornecedores
Soma-se ao quadro de benefícios a criação de uma nova forma de comunicação com o consumidor. Afinal, mais do que acessar os dados reunidos pelo rastreio, este também tem a possibilidade de encaminhar uma avaliação ou reclamação sobre o produto. O resultado dessa transparência é um consumidor mais participativo no processo de aquisição do seu alimento. A rastreabilidade também costuma ser um requisito para as empresas que estão interessadas em receber certificações. Por exemplo, muitas certificadoras cobram um sistema eficiente de acompanhamento dos produtos para comprovar que a empresa tem controle de todo elemento que entra na linha de produção. Isso afasta a possibilidade de um produto certificado ser misturado com outro não certificado, acarretando na venda da mercadoria errada.
20 anos. As certificações internacionais continuam desembarcando no Brasil para promover algo que já é realidade em outros lugares, como Estados Unidos e países da Europa: atender à exigência de varejistas e dos consumidores por pescado de origem sustentável. Em geral, os programas de certificação são independentes e possuem caráter voluntário, ou seja, o produtor ou a empresa se propõem a ser auditados. Guilherme Blanke, diretor da Noronha Pescados, que já teve produto certificado à venda, explica que, inicialmente, é certificada uma espécie de pescado em uma região específica – por exemplo, a pesca da polaca no Alasca. “Uma vez que a espécie é verificada como sustentável, as empresas envolvidas no processamento e comercialização deste produto podem se certificar como parte da cadeia de custódia”, comenta. Isso significa que cada etapa pertencente à cadeia de suprimento será avaliada para comprovar que não há riscos de substituição de espécies durante o processamento ou a distribuição.
“A certificação atesta que um determinado produto ou processo está adequado às regras ou normas que aquela certificação preconiza. Um sistema de rastreabilidade com gestão de qualidade e de processo apoia na criação das evidências para a afirmação de que aquilo que foi certificado ocorre diariamente”, coloca Milan.
Jessica McCluney, coordenadora de sustentabilidade da Trident Seafoods, acrescenta que essa exigência é eficaz para assegurar a integridade do lote. Mas, segundo ela, muitas empresas já possuem sistemas de rastreabilidade interna para outra finalidade, como o cumprimento dos requisitos de segurança alimentar e recall de produtos. “O desafio é equilibrar esses sistemas para evitar custos redundantes”, alerta.
Origem sustentável
Ponto de partida
Tanto para a pesca selvagem quanto para a aquicultura, a procedência do produto é garantida por certificações. Muitas delas baseadas no Código de Conduta para a Pesca Responsável da FAO, agência da Organização das Nações Unidas (ONU) para agricultura e alimentação – que em 2015 completou
Como primeiro passo ao interessado em auditar seus processos, a certificação italiana Friend of the Sea exige o preenchimento de um formulário on-line. Segundo o fundador, Paolo Bray, esse documento inclui informações importantes em relação ao tipo de atividades a serem auditadas:
“A rastreabilidade é uma prática muito bem estabelecida em outros países e que tem tomado forma cada vez mais rápido no mercado brasileiro”, afirma Heidy Milan, da PariPassu espécies envolvidas, métodos de pesca ou tipo de produção, número de barcos envolvidos, áreas de aquicultura e zona geográfica onde a atividade ocorre. “Com esses dados é feita uma pré-avaliação para entender se há condições para a certificação”, descreve Bray. Em caso afirmativo, são realizadas auditorias no local feitas por profissionais de organizações independentes, como Bureau Veritas, GlobalTrust e SGS. “Na fase de auditoria, pode aparecer a necessidade de programar uma ação corretiva”, aponta ele. Neste caso, a empresa tem liberdade para propor e desenvolver soluções que, em seguida, serão analisadas pelos auditores em uma segunda etapa de avaliação. Se for considerado que a empresa atende aos requisitos, são produzidos dois certificados: um da auditoria para atestar a conclusão da inspeção de controle e outro da certificadora autorizando o uso do logo nos produtos auditados. Uma vez emitida, a certificação tem uma validade estipulada que varia conforme as exigências de cada certificadora. Em alguns casos, são necessárias auditorias de super-
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Minimizar impactos da RDC 24/2015 e outras legislações futuras estão entre as vantagens. “Se o varejo não consegue identificar de quem comprou o produto que está no seu estoque, terá que retirar toda mercadoria, independente da origem”, exemplifica Milan.
PariPassu/Divulgação
As vantagens de ser visível
Fornecedores Controle de perigos na ração
Como fazer? A primeira coisa é implementar um programa 1 adequado de pré-requisitos: manutenção de áreas construídas e maquinário, treinamento de funcionários, higiene e limpeza, controle de pragas etc. Isso cria um nível básico de controle de possíveis perigos. Depois, o HACCP (sigla em inglês para Hazard Analysis and Critical Control Points, ou Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle) é uma ferramenta para identificar perigos específicos na produção, que podem ter permanecido após o programa de pré-requisitos. 2
Isto resultará na identificação dos reais riscos no processo de produção e na adoção de medidas adequadas de controle, além de monitorar a efetividade desses procedimentos. 3
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visões com frequência anual antes de o selo se expirar. Com diretrizes rigorosas, pode parecer que as certificações estão restritas apenas a grandes empreendimentos e pesca de larga escala. No entanto, este não é o caso desde a criação de iniciativas voltadas às pescarias de escala menor. Por exemplo, o selo Best Aquaculture Practices (BAP), da Global Aquaculture Alliance (GAA), desde o ano passado atua com o programa iBAP, indicado a operações de aquicultura que ainda não estão totalmente preparadas para a certificação BAP. “As operações que estão incluídas no programa iBAP concordam em seguir um plano de
Friend of the Sea/Divulgação
Feed safety A prática mostra que ingredientes das rações para pescado podem ser contaminados por substâncias químicas (naturais – como as micotoxinas –, industriais – metais pesados e dioxinas ou resíduos de produtos veterinários – e físicas (pedaços de metal, vidro, plástico ou madeira), além de agentes biológicos (bactérias, vírus, fungos e parasitas).
De acordo com Paolo Bray, cerca de 500 empresas distribuídas por 59 países possuem produtos certificados pela Friend of the Sea adequação aos padrões BAP, passo a passo e com metas conclusivas”, comenta Silvio Romero Coelho, coordenador da BAP/GAA no Brasil. Segundo ele, pequenos produtores, independentemente de operações certificadas individualmente, podem obter a certificação como parte integrante de Módulos Operacionais Integrados, grupos de indivíduos ou de áreas específicas de cultivo. “Os investimentos envolvidos na obtenção da certificação são reduzidos para estes Módulos Operacionais, possibilitando o acesso de pequenos e médios criadores para a certificação”, pontua. Outro ponto importante das certificações é seu escopo de aplicação global. Mas, mesmo que as diretrizes não sejam regionais, existem alguns empecilhos inerentes ao Brasil para a implantação. Laurent Viguié é gerente dos programas MSC, destinado a capturas selvagens, e ASC, com foco em aquicultura, e destaca uma dificuldade: “Para a MSC, o principal problema são os planos de gerenciamento, pois é necessário que as pescarias sejam capazes de implantar mudanças”.
O extinto Ministério da Pesca e da Aquacultura (MPA) criou em 2015 os Comitês Permanentes de Gestão (CPG) – espaço para diversas esferas debaterem medidas de manejo para o setor de pesca –, ele afirma que não é possível saber se a iniciativa irá adiante. “Se não continuar, será difícil fazer mudanças”, aponta. Sobre a ASC, o principal desafio são as licenças ambientais, já que muitas fazendas brasileiras não possuem estudos de impacto ambiental e rastreabilidade.
Confusão de selos Certificações das mais variadas “espécies” estão em operação no setor, o que pode deixar o candidato confuso na escolha de uma que se adeque aos interesses. Guilherme Blanke acredita que a escolha da certificadora se dá a partir da análise de sua credibilidade. “Ela [a certificadora] deve ser avaliada de acordo com o rigor adotado no controle das certificações da pesca e das empresas que fazem parte da cadeia de custódia”, defende.
BAP-GAA/Divulgação
Johan Den Hartog, diretor da consultoria GMP+ International, escreveu um artigo especialmente à Seafood Brasil (veja aqui na íntegra em nosso site: http://bit.ly/gmpplus) em que ele descreve os possíveis riscos de segurança alimentar e a forma de controlá-los de uma maneira transparente e de acordo com as normas internacionais no segmento aquícola.
Para Silvio Romero Coelho, a cadeia produtiva da aquicultura brasileira está atingindo um novo patamar de desenvolvimento
Alasca – se ajustam às diretrizes do Código de Conduta da FAO. Na prática, eles podem habilitar para reconhecimento mundial uma certificação independente de certificadoras privadas.
A Gomes da Costa reúne os selos Friend of the Sea, Selo Social, ISO 9001 e Dolphin Safe. Segundo Luis Manglano, gerente de marketing corporativo da marca, pesquisas indicam que o consumidor de pescado em conserva vê de forma positiva as ações de sustentabilidade
Trident Seafoods/Divulgação
Medalha de ouro
Pescado do Alasca está sob supervisão dos dois sistemas de gestão rigorosos: o Estado do Alasca e o governo federal dos Estados Unidos
Desde 1937, a Brødene Sperre produz e exporta pescados noruegueses. Hoje é a maior exportadora do Bacalhau da Noruega para o Brasil. Para conveniência do consumidor e do varejo, apresentamos o bacalhau salgado cortado e embalado na origem. Visite nosso estande na APAS 2016 de 2 a 5 de maio e conheça as novidades (Pavilhão azul, nº 160, rua A/4).
www.sperrefish.com
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No caso da Trident Seafoods, que é especializada em comercializar pescados do Alasca, a escolha foi por dois programas distintos: Alaska Responsible Fisheries Management (RFM) e MSC. “Participamos de dois programas de certificação para dar aos nossos consumidores opções de escolha”, justifica Jessica McCluney. O sistema RFM inclusive aplicou recentemente para conseguir o reconhecimento da Global Sustainable Seafood Initiative (GSSI), um grupo internacional que surgiu para ser uma espécie de certificadora das certificadoras. Por meio de uma análise de sete pontos-chave, chamado de benchmark tool, a GSSI indica se os parâmetros de um sistema de certificação – que pode até ser governamental, como no caso do
Gomes da Costa/Divulgação
Fornecedores
Na opinião de Luis Manglano, a adesão de empresas às certificações ajuda a sustentabilidade da cadeia de produção no longo prazo
das empresas. “Mas ainda não é um fator de compra no Brasil. Em países como Itália e Alemanha, por exemplo, os selos de sustentabilidade exercem influência maior”, explica.
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Para ele, neste momento é importante desenvolver ações direcionadas à sustentabilidade, fundamentais para o futuro da cadeia de suprimentos. “As certificações estimulam as empresas a assumir a responsabilidade pelo cuidado com o meio ambiente e com a comunidade onde estão alocadas”, pontua Manglano. Entre os consumidores brasileiros, um forte incentivo às certificações de pesca está por vir com as Olimpíadas 2016. O Comitê Olímpico decidiu servir apenas pescado sustentável – certificado pela MSC e ASC – durante o evento, priorizando produtos brasileiros. Essa medida já foi adotada em 2012 quando os Jogos foram sediados em Londres, e se repetirá no Rio de Janeiro para reforçar o consumo sustentável. O lado ruim da iniciativa é que não será possível contar com produtos brasileiros de pescas selvagens, já que não foram certificados a tempo. “Já na aquicultura, pela ASC, espe-
ramos oferecer truta, tilápia e bivalves certificados no Rio de Janeiro, assim como camarão e tilápia do resto do Brasil”, fala Laurent Viguié. Para ele, trata-se de um passo muito importante, já que informará a mídia e
o público geral em relação à sustentabilidade na pesca e às boas práticas na aquicultura. “Espero que tenha um impacto no mercado brasileiro ao sensibilizar as pessoas para as questões que tanto a indústria de pesca quanto a aquicultura enfrentam.”
CERTIFICAÇÕES Friend of the Sea Baseado nas diretrizes da FAO, trata-se de um programa internacional de certificação disponível para produtos originados tanto de pescarias quanto de aquicultura sustentáveis. www.friendofthesea.org
Marine Stewardship Council (MSC) O MSC é uma organização não governamental que estabelece normas de sustentabilidade para a captura selvagem. O rótulo da MSC assegura que o produto pesqueiro foi originado a partir de uma fonte sustentável. www.msc.org
Aquaculture Stewardship Council (ASC) Organização independente que promove padrões globais para uma aquicultura responsável. Reconhece as operações sustentáveis por meio da certificação ASC, que é baseada nos Códigos de Boas Práticas ISEAL. www.asc-aqua.org
Best Aquaculture Practices (BAP) É o programa internacional de certificação da Global Aquaculture Alliance (GAA) baseado em padrões de desempenho para toda a cadeia produtiva da aquicultura, objetivando assegurar a produção de alimentos saudáveis com práticas responsáveis. www.bap.gaalliance.org
Responsible Fisheries Management (RFM) Coordenado pelo Alaska Seafood Marketing Institute, trata-se de um modelo de certificação aplicado no Alasca baseado nas diretrizes da FAO. Está em fase de homologação pela GSSI (www.ourgssi.org). www.certification.alaskaseafood.org
GMP+ Focada em nutrição animal, a certificação GMP+ FSA atesta a segurança alimentar em diversos tipos de empresas, da produção de ingredientes aos fabricantes de ração, incluindo transporte, fornecedores de aditivos, pré-misturas e ração composta. www.gmpplus.org
Está no DNA Disponível na indústria de alimentos, é um selo de garantia cujo intuito é assegurar a verdadeira composição da matéria-prima por meio de testes de DNA. www.estanodna.com
BACALHAU é BomPORTO! Conhecida pela tradição e sabor do autêntico bacalhau, a BomPorto mais uma vez inova a sua linha de produtos para atender as necessidades de um mercado que cada vez mais procura produtos diferenciados e especiais. Apresentamos os Lombos de Bacalhau Seleção: produzidos a partir de peixes frescos, este bacalhau passa por somente um processo de congelamento que garante mais maciez e suculência. Outra novidade são os bolinhos de bacalhau gourmet: produzidos artesanalmente com colheres, possuem mais quantidade de bacalhau em sua composição, garantindo o sabor e a textura de um bolinho feito em casa. Visite nosso estande na APAS 2016 de 2 a 5 de maio e experimente essas delícias (Pavilhão azul, nº 235, rua C/D/7)
DE
www.bacalhaubomporto.com.br
NOVIDA
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Especial
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Marius Fiskum/Innovation Norway/Norge
Bacalhau Câmbio e retração afetam menos as vendas que o esperado no maior mercado do mundo para o bacalhau – em quantidade de bocas; Portugal suaviza e Noruega inverte tendência de queda em 2016 e veem competidores frearem ascensão
Texto: Thais Ito* e Ricardo Torres
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dólar pode subir, o poder de compra cair, mas é um caminho sem volta: o brasileiro não vive mais sem bacalhau. Só no ano passado, o Brasil gastou cerca de US$ 290 milhões com todas as preparações usadas para bacalhau. Seco e salgado, dessalgado congelado, fresco, Gadus morhua (Bacalhau do Atlântico), Gadus macrocephalus (Bacalhau do Pacífico), saithe, ling, zarbo ou até polaca, que já vem salgada da China ou fresca do Alasca e passa pelo processo em plantas brasileiras. A análise da balança comercial do segmento de 2014, 2015 e dos dois primeiros meses de fevereiro permite à Seafood Brasil arriscar que o padrão de exigência demandada por aqui está em transição. Se há dois anos os
importadores brasileiros gastaram US$ 83,6 milhões em produtos abaixo de US$ 5/kg, no ano passado desembolsaram US$ 70,9 milhões. O volume originário da China, exemplo de país que oferece estes produtos, despencou 22,03% - mais do que a receita, que caiu 15,19%. Comportamento similar ocorreu com a Noruega, Portugal e Estados Unidos. Com uma desvalorização recorde do real perante o dólar (que também atingiu, com menor impacto, a coroa norueguesa), os vikings exportaram 28,7% menos em 2015. Mas a tendência já dá sinais de reversão em 2016: nos dois primeiros meses do ano, já na preparação para a Semana Santa, o volume subiu 16,82%. Essa recuperação na demanda abriu o caminho para players que decidiram
não perde a cabeça atuar no mercado brasileiro com marca própria. A Seafood Brasil constatou de perto a movimentação em Ålesund, por onde passa 90% do bacalhau norueguês. Nossa equipe visitou duas de suas principais empresas, a Mathias Bjørge e a Brødrene Sperre.
Com uma enxuta estrutura de 15 funcionários e capacidade para processar 20 toneladas por dia, manda 90% da produção ao Brasil. Em breve vai comercializar salmão, além de king crab e snow crab. No ano passado, a companhia lançou seus produtos fatiados para o mercado tupiniquim, nas versões Porto
(com o Bacalhau do Atlântico), Saithe, Ling e Zarbo, em supermercados como o Carrefour e o Pão de Açúcar. Diante do cenário adverso, a aposta era pessimista na Páscoa desde ano, mas o resultado surpreendeu. “A Páscoa de 2015 foi melhor, mas a sensação é de que o desempenho foi excelente dentro de uma economia com dificuldades como a nossa”, avalia o gerente comercial para o Brasil, Daniel Tavares Guerreiro. O plano agora é dar sequência a ações em
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A part. da esq.: Henning, Karl e Torgeir Bjørge, da Mathias Bjørge: aposta em postas embaladas na origem
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Marius Fiskum/Innovation Norway
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A Mathias é uma indústria familiar fundada em 1962 pelo pescador homônimo, que, saudoso da família, decidiu abandonar a vida em alto mar para se estabelecer em terra. A fábrica
hoje é tocada pelo neto, o CEO Torgeir Bjørge, seu irmão Henning e o pai Karl – que ajudou a fundar a empresa junto com Mathias.
Especial Cota para 2016 894 mil toneladas: é o volume máximo a ser capturado (Total Allowable Catch - TAC) de Gadus morhua em 2016, mesmo valor de 2015. A cota vem caindo: em 2014, a TAC foi de 993 mil toneladas, enquanto em 2013 foi de 1 milhão de toneladas.
Figura conhecida no Brasil, Johnny Håberg saiu da direção do Conselho Norueguês da Pesca no Brasil (Norge) para assumir as vendas da Sperre, outra empresa familiar na terceira geração em Ålesund. O executivo planejou coincidir o desembarque das postas diretamente no Brasil com a Páscoa de 2016. “A sensação é que o mercado agora chegou a um novo equilíbrio. Nossa expectativa é fechar em nível similar ao de 2015”, calcula. A empresa embarca cerca de 7 mil toneladas anuais, em média, para o Brasil – que representa 25% das exportações norueguesas. No ano passado, Håberg notou que muitos importadores ficaram mais cautelosos por conta da flutuação cambial e compraram menos produtos do que o normal.
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MARIUS FISKUM
As novidades da Mathias e do Brødrene Sperre não pretendem disputar nichos mais baratos. “São segmentos diferentes: os produtos chineses incluem polaca e são desfiados; ou seja, não competem diretamente com o Bacalhau do Atlântico e com as grandes postas”, argumenta Christian Bue Nordahl, diretor regional da Norge. “Os novos produtos devem suprir uma carência dos consumidores brasileiros que buscam o bacalhau genuíno e que entendem de qualidade – vão remodelar o mercado.” Para ele, conveniência, confiança e sabor são algumas das necessidades que os lançamentos devem atender.
Bacalhoeiros ponto de venda como as que a Mathias realizou recentemente para criar mais ocasiões de consumo de bacalhau, como Dia dos Pais e Dia das Mães. “O desafio é construir o conhecimento dos consumidores brasileiros sobre as diferenças entre os tipos de bacalhau”, diz Torgeir. Por isso,
ele ressalta que os novos produtos carregam, pela primeira vez, rótulos que especificam o peixe de origem. Ciente da força da marca da Noruega como boa fonte de bacalhau, a Mathias procurou valorizar postas fatiadas e embalados pelos vikings. Ao lado da Mathias, a Brødrene Sperre também aposta no segmento.
Entre janeiro e fevereiro, Portugal mostrou certa reação. Apesar de um resultado pior que o de 2015, a terrinha despachou quase a mesma quantia que no ano anterior: 797 toneladas. Já a receita caiu 8,73% por conta da desvalorização do real. Isso em um momento em que o produto no mercado internacional não sofreu alteração significativa. Um bacalhau inteiro espalmado tamanho 7/9, de alto padrão, era vendido a US$
Câmbio segura entrada de novos competidores A Islândia é a quarta principal origem do bacalhau disponível no Brasil, mas perdeu fôlego entre 2014 e 2015: -37,88% em receita e -38,84% em volume. “Por conta da difícil situação econômica no Brasil, nós testemunhamos menos interesse das empresas islandesas em buscar mais oportunidades no Brasil”, conta Gudný Káradóttir, diretora de marketing do programa Promote Iceland. Embora o diagnóstico seja baseado em apenas uma empresa, a especialista indica que os islandeses querem deixar as portas abertas para “quando o mercado se recuperar”. “Nós
ouvimos que existe uma expectativa para vender no âmbito das Olimpíadas, mas a pessoa com quem conversei não está convencido de que as empresas brasileiras poderiam se beneficiar disso”, completa. A verdade é que, apesar de uma missão islandesa dois anos atrás em busca de incremento de exportações ao Brasil, o interesse dos homens do gelo é descrescente. “Infelizmente o Brasil não é ainda um mercado foco no nosso projeto de bacalhau, apenas Espanha, Portugal e Itália”, revela Björgvin Þór Björgvinsson, gerente de projeto da Promote Iceland.
A situação econômica também não estimula muito a Lituânia, que tinha conseguido selar um acordo de equivalência sanitária entre seu ministério da Agricultura e o análogo brasileiro dois anos atrás e aprovou diversas plantas de pescado. Enquanto se preparavam para exportar diretamente, empresas como a Espersen se depararam com o cenário de câmbio alto e redução das expectativas de consumo e seguraram a onda. “Decidimos adiar esta ‘pesquisa’ para mais tarde”, diz Antonio Rodrigues, gerente de vendas da Espersen.
IMPORTAÇÃO DE BACALHAU - 2014, 2015 E 2016 RECEITA | US$ FOB País 1 China 2 Noruega 3 Portugal 4 Islândia 5 Espanha 6 Uruguai 7 Estados Unidos TOTAL
2014
2015
$83.335.666,00 $70.676.321,00 $160.888.749,00 $119.271.889,00 $42.381.291,00 $24.394.883,00 $1.450.284,00 $900.869,00 $1.982.090,00 $562.576,00 $299.857,00 $321.915,00 $79.372,00 $128.743,00 $290.417.309,00 $216.257.196,00
RECEITA | KG % -15,19% -25,87% -42,44% -37,88% -71,62% 7,36% 62,20% -25,54%
RECEITA US$ FOB | Jan/Fev País 1 Noruega 2 China 3 Portugal 4 Islândia 5 Uruguai 6 Espanha TOTAL
2015 $41.911.342,00 $21.635.936,00 $6.042.918,00 $259.413,00 $212.792,00 $41.883,00 $39.217.940,00
2016 $39.775.401,00 $17.719.593,00 $5.515.168,00 $230.542,00 $- $- $50.271.596,00
2014
2015
18.527.852 27.126.275 6.615.669 252.710 323.595 104.247 9.855 52.960.203,00
14.445.683 19.336.652 3.248.068 154.568 55.926 124.035 17.544 37.382.476,00
PREÇO MÉDIO | US$/KG %
-22,03% $4,50 -28,72% $5,93 -50,90% $6,41 -38,84% $5,74 -82,72% $6,13 18,98% $2,88 78,02% $8,05 -29,41% $5,48
VOLUME KG | Jan/Fev % -5,10% -18,10% -8,73% -11,13% -100,00% -100,00% 28,19%
2015
2016
6.465.300 4.415.148 815.381 49.848 82.000 4.497 7.010.210,00
7.553.013 3.975.443 797.542 44.360 0 0 9.598.083,00
2014
2015 $4,89 $6,17 $7,51 $5,83 $10,06 $2,60 $7,34 $5,78
PREÇO MÉDIO | US$/KG % 16,82% -9,96% -2,19% -11,01% -100,00% -100,00% 36,92%
2014
2015
$6,48 $4,90 $7,41 $5,20 $2,60 $9,31 $5,59
$5,27 $4,46 $6,92 $5,20 $$$5,24
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NCMS USADOS PRODUTO 0304.71.00 Filés de Bacalhau-do-atlântico (Gadus mohrua), bacalhau-da-groelândia (Gadus ogac) e bacalhau-do-pacífico (Gadus macrocephalus) 0305.32.10 Bacalhau-do-atlântico (Gadus mohrua), bacalhau-da-groelândia (Gadus ogac) e bacalhau-do-pacífico (Gadus macrocephalus) 0305.32.20 Saithe (Pollachius virens) 0305.39.10 Ling (Molva molva) e zarbo (Brosme brosme) 0305.51.00 Bacalhaus (Gadus morhua, Gadus ogac, Gadus macrocephalus) 0305.59.10 Peixes secos, mesmo salgados mas não defumados: - Outros 0305.62.00 Bacalhaus (Gadus morhua, Gadus ogac, Gadus macrocephalus) 0305.69.10 “Saithes” (Pollachius virens), lings (Molva molva) e zarbos (Brosme brosme) 0305.69.90 Peixes salgados, não secos nem defumados e peixes em salmoura
Especial Um tour pela “Estrela do Norte” O famigerado morhua pode ser visto – vivo e com cabeça – no Atlanterhavsparken, aquário de Ålesund, que recebe 130 mil pessoas anualmente. Ao lado dele, outra experiência interessante acontece na Klippfisk Akademiet (Academia do Bacalhau), que tem atraído cerca de três mil visitantes por ano desde 2012. Lideradas pelo chef Mindor Klauset, as atividades mais comuns do estabelecimento envolvem grupos de 15 ou mais pessoas em uma imersão sobre os peixes locais. Petiscos, como sashimis de bacalhau do Atlântico, podem ser servidos enquanto a expli-
cação rola solta. Uma dinâmica a la Master Chef apimenta a aula e os alunos aprendem a cozinhar pratos com ingredientes típicos. Nossa equipe, por exemplo, recebeu a incumbência de preparar o prato típico norueguês que leva o nome de – adivinhem! – “bacalhau”: um cozidão bem apurado de tomate e batata com pedaços contundentes de Bacalhau do Atlântico. O valor da experiência chega a R$420 por pessoa, sem incluir bebidas. O sabor é de novidade, diversão e de ode ao rei do mar norueguês.
Thais Ito/Arquivo Seafood Brasil
Thais Ito/Arquivo Seafood Brasil
Thais Ito
A maior parte do Gadus morhua capturado pelos noruegueses é oriunda do Nordeste do Ártico – são peixes que crescem no Mar de Barents e migram para o Arquipélago de Lofoten na fase adulta, onde são realizadas grandes pescarias. O estoque desse peixe é dividido entre a Noruega (43%), Rússia (43%) e outros países (14%), de acordo com o Instituto de Investigação Marinha da Noruega (IMR). Neste ano, a cota norueguesa foi de 400 mil toneladas. A pesca dessa espécie foi certificada como sustentável pelo Marine Stewardship Council (MSC).
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Academia do Bacalhau, liderada pelo cozinheiro Mindor Klauset, transforma alunos em ‘Master Chefs’
170 e continuou assim, segundo fontes consultadas para essa matéria. Grandes conhecedores dessa dinâmica e líderes também na porção oeste da Península Ibérica, duas empresas dão as cartas no mercado nacional: a Ribeiralves e a RCSI (dona das marcas Sr. Bacalhau e Bom Porto). Assim como
outras artífices da indústria bacalhoeira portuguesa, ambas passaram por uma revolução na última década: o dessalgado congelado. É justamente essa categoria que ampliou o acesso e a quantidade de produtos de bacalhau disponíveis no Brasil, em pleno cenário de câmbio desfavo-
rável. “A venda do seco e salgado está mais fraca em relação ao ano passado. De uma forma geral, a venda foi abaixo do ano passado, que já tinha caído”, contou, em plena Semana Santa, Pedro Henrique Pereira, diretor comercial da Brascod, braço brasileiro da RCSI que vende com a marca Bom Porto. “Mas o dessalgado congelado cresceu. As
Não à toa, a Bom Porto está com novidades. Todas as embalagens de dessalgado congelado foram reformuladas e serão lançadas na Apas 2016. “Outra novidade é a linha seleção, que envolve um bacalhau pescado na Noruega com diferença de poucas horas para o processamento”, diz Pereira. Segundo explica o executivo, 95% do bacalhau produzido no mundo se produz a partir de peixe congelado. “Eles pescam, descabeçam, evisceram e congelam a bordo. Depois são levados à fábrica, descongelados, espalmados e salgados”. É como se este bacalhau fosse single frozen. Toda a produção, de 30 mil toneladas anuais, é feita em Portugal. No Brasil, a Brascod possui o escritório central e um
Centro de Armazenagem e Distribuição em Barueri (SP), além de outras estruturas frigoríficas no Rio de Janeiro (RJ) e Recife (PE). Sua principal concorrente no País opera de forma distinta. “Só trazemos contêineres fechados”, conta Marcelo Nasser, diretor comercial da Ribeiralves. Na terrinha, as duas fábricas também processam 30 mil toneladas por ano – 11 mil de dessalgado congelado. “O dessalgado continua crescendo. Ele trouxe novos consumidores ao mercado e isso ajudou muito a não ter uma queda tão significativa.” O Brasil representa 25% do negócio da Ribeiralves, que fatura anualmente 145 milhões de euros. Nesta Páscoa, a expectativa era a de que a contribuição do Brasil fosse pior por conta do câmbio e do preço 30% superior em relação ao ano anterior. No entanto, segundo Nasser, poderia ter sido pior. “No ano de 2015, a queda foi de 30% a 35%. A gran-
de paulada no ano passado já aconteceu no câmbio. Todo mundo trouxe um pouco menos e vendeu tudo”, avalia. Pereira traz outro fator associado ao câmbio: o corte e a exposição em loja. Conforme ele explica, a fiscalização contrária à manipulação em loja ficou mais rigorosa. “Muito raros os supermercados que cortam ainda na área de venda, por causa da exigência de ter um espaço refrigerado, sem contaminação cruzada etc.” Nesse raciocínio, as lojas que ainda não investiram em porcionados acabam cortando no ponto de venda. “Em geral, o pessoal coloca o bacalhau para exposição cortado ao meio. Essa exposição valoriza cortes grandes, que geram preços mais altos”. Nestes tempos modernos, para manter a tradição é preciso mudar. * A repórter Thais Ito viajou a convite do Conselho Norueguês da Pesca e da Innovation Norway
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grandes redes estão fazendo compras regulares, parece que está bom o negócio”, completa.
Personagem
Alma asteca com paladar amazônico Chef mexicano Hugo Antares, do restaurante Obá (SP), tem muito a ensinar sobre como o Brasil todo deve valorizar seus ingredientes regionais
S
Texto: Ricardo Torres
ão Paulo e a Cidade do México têm muito e nada em comum. Ambas têm populações estratosféricas, que adoram comer bem. Mas uma das diferenças principais reside na forma como o povo encara a gastronomia. “Na Cidade do México você encontra restaurantes de diversas regiões do país. Aqui em São Paulo você encontra comida mineira, mas não há vários estabelecimentos pernambucanos, baianos, piauienses, capixabas, paraenses etc”, compara Hugo Antares, chef do restaurante Obá. Nascido em Sonora, a “Barretos do México” – como ele mesmo diz –, Antares completa em agosto 17 anos em São Paulo. Já morou na China, na Europa e nos EUA, mas fincou o pé na capital paulista e hoje é uma das vozes defensoras da autêntica cozinha brasileira, como o chef Rodrigo Oliveira, do Mocotó. O mexicano é autor de festivais que incentivam receitas locais, como o Anfitriãs do Brasil, que transformam o ambiente do Obá numa extensão da casa de grandes cozinheiras brasileiras. A ideia surgiu de uma visita à Belém (PA) depois de um convite de uma amiga e uma constante provocação. “Sempre ouvi que no Amazonas se faz comida diferente”, conta. Por várias coincidências, Antares conheceu Marilena Pena de Assis, que nunca teve restaurante. “Ela fez uma das refeições mais memoráveis da minha vida. Abriu as portas da sua casa, que fica num local bem típico da região amazônica, montou uma mesa com todos os detalhes da vida dela, da toalha aos talheres” E no cardápio? “Pirarucu de casaca, bolinho de piracuí, maniçoba, bodó, pato no tucupi, tartaruga etc.” Quando voltei, pensou que queria dividir essa experiência “tão bonita” com seus clientes, na maior cidade do País. “São Paulo é um lugar onde se pode comer como qualquer lugar do mundo, mas menos como em casa”. Para transportar o clima da casa de Marilena ao Obá, ele importou a própria cozinheira. “Ela topou e veio aqui fazer o Círio de Nazaré. Tínhamos todos os detalhes da decoração e conseguimos reproduzir os pratos.” O sucesso gerou o que se tornaria uma sequência de nove edições do festival, que já “viajou” por Goiás, Bahia, Piauí, Pará e Amazonas.
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A gastronomia paraense e manauara fizeram o chef mexicano se encantar com várias espécies de peixe, em especial o pirarucu. “Tem muita força, textura, um sabor especial”. Mas a dificuldade em encontrar fornecimento regular de espécies amazônicas era grande. O panorama melhorou quando o restaurante encontrou um parceiro do Acre. “Um dia, o pessoal do Grupo 5, que já fornece camarão e tilápia para nós, aparece aqui com uma caixinha mágica da Peixes da Amazônia com pirarucu, pintado, tambaqui e costelinha de tambaqui.” A “caixinha mágica” abasteceu o Festival de Iemanjá, organizado em fevereiro último. No menu, muitos temperos e ingredientes amazônicos com asinhas de pintado no fubá, caldeirada de costelas de tambaqui e lombo grelhado de pirarucu com vatapá. Este último já entrou para o cardápio fixo da casa.
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Rua J-K -6/ sta Pavilhã nd # 510. o Verd e