Seafood Brasil #14

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MARKETING E INVESTIMENTOS

Pescado na vanguarda das tendências da Apas 2016

seafood EUA de costa a costa Em Boston ou no Alasca, mãos dadas do setor privado com estatal criaram pesca perene e lucrativa

DIRETO DA PRODUÇÃO

Como a aquicultura pode conter ameaças sanitárias?

brasil www.seafoodbrasil.com.br

#14 - Abr/Jun 2016 ISSN 2319-0450 R$ 20,00


Vem aí o Anuário Seafood Brasil

2016!

Convidamos toda a cadeia produtiva a anunciar no 2º Anuário de Produtos, Serviços e Conteúdo Seafood Brasil. Artigos assinados pelos maiores nomes do setor Abrangente levantamento estatístico de todo o setor Guia de Fornecedores da Aquicultura e Pesca, Frigoríficos, Pescado e Serviços ainda mais completo

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Editorial

Barrigada

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o mundo do pescado, barrigada pode ser um sinônimo para vísceras. No jornalismo, barriga é o oposto de “furo”. É quando o veículo apresenta uma matéria como novidade, só que nada de novo tem ali. Infelizmente, a Seafood Brasil cometeu este erro. Ironicamente, não por deficiência jornalística, mas pelo próprio processo de rápida “desinstitucionalização” da atividade no governo federal desde o fim do MPA. Marlon Cambraia assumiu em janeiro como secretário, foi entrevistado em março e caiu em maio, mês de circulação da última edição. Com a posse do governo interino, teve de ceder seu espaço a uma nova indicação política não confirmada até o fim desta edição. Provavelmente será do PP, partido do ministro da Agricultura, Blairo Maggi. Excetuando iniciativas louváveis, como a criação das câmaras setoriais da pesca, aquicultura e carcinicultura, dá a sensação de que o setor flerta com o limbo na esfera federal.

Uma exceção de peso é a Embrapa Pesca e Aquicultura (pág. 06), que atravessa tentativas de ingerência política e dá sequência à missão maior de dar as mãos ao setor privado para, juntos, darem resposta aos principais anseios tecnológicos dos produtores – como o projeto que estuda verme do tambaqui, tema muito apropriado para um momento de grande temor com a sanidade aquícola (pág. 42). Foi justamente esse trabalho integrado que permitiu ao Alasca se tornar uma referência mundial na gestão dos seus estoques pesqueiros (pág.26). Leia também a incrível história do surfista brasileiro que se tornou capitão de barco na pesca mortal do king crab (pág. 58). Aqui no Brasil, a Apas 2016 (pág. 08) pegou fogo – no bom sentido. Boa leitura!

Ricardo Torres

Índice

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42 Direto da Produção

Marketing & Investimentos

52 Fornecedores

22 Na Gôndola

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Capa

58 Personagem

Expediente Redação redacao@seafoodbrasil.com.br Publishers: Julio Torre e Ricardo Torres Editor: Ricardo Torres Diagramação: Emerson Freire

Comercial comercial@seafoodbrasil.com.br Tiago Oliveira Bueno Impressão Maxi Gráfica e Editora A Seafood Brasil é uma publicação da Seafood Brasil Editora Ltda. ME CNPJ 18.554.556/0001-95

Sede – Brasil Av. Bosque da Saúde, 599 Praça da Árvore - São Paulo (SP) CEP 04142-091 Tel.: (+55 11) 4561-0789 Escritório comercial na Argentina Hipólito Yrigoyen, 4021 - C1208ABC C.A.B.A. – República Argentina julio@seafoodbrasil.com.br

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06 Cinco Perguntas

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5 Perguntas a Carlos Magno Campos da Rocha, chefe geral da Embrapa Pesca e Aquicultura

Entrevista

“Embrapa tem nome porque provê soluções” Chefe-geral da recém-inaugurada Embrapa Pesca e Aquicultura, garante alinhamento de pesquisas com necessidades do setor privado – marca de outros segmentos

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pen innovation, ou inovação aberta, é um conceito recente de estímulo à quebra de paradigmas pela associação de diversos parceiros, públicos ou privados. É dentro desse universo que Carlos Magno pretende inserir a Embrapa Pesca e Aquicultura, cuja sede foi inaugurada oficialmente em maio, mas começará a operar na plenitude em agosto. O chefe-geral, formado em engenharia agronômica pela Universidade Federal de Viçosa (MG), tem 42 anos de Embrapa – que conta 43 anos de existência. Com passagens por outras esferas públicas, Magno enxerga uma avenida de oportunidades na pesquisa aplicada da aquicultura. “Estamos hoje na piscicultura naquilo que foi o frango na década de 60”. A parceria íntima com o setor privado, na identificação e resolução de problemas crônicos – como a reprodução do pirarucu – já dá a tônica da atuação da autarquia. Mas ele conclama o setor privado a participar. “Não será a Embrapa que vai fazer tudo. São raras as cabeças que pensam nisso, acham que o setor público precisa dar todas as respostas, mas não temos dinheiro suficiente.” No entanto, a P&A ganhou um belo reforço com a injeção de R$ 45 milhões do BNDES dentro do Projeto Embrapa - BNDES Aquicultura. Com mais R$ 11,4 milhões da própria Embrapa e do Ministério da Agricultura, o plano deve durar quatro anos, ao fim dos quais o banco deverá ver concretizados mais de 100 produtos para espécies já pesquisadas, como tambaqui, pirarucu, camarão vannamei e tilápia.

Apesar de a sede própria ter sido inaugurada oficialmente agora, a Embrapa P&A já existe desde 2008 no segmento. Quais seriam os principais avanços deste período? Ela foi criada no papel no dia 12 de agosto de 2009, mas desde 2011 a Embrapa exerce as linhas de pesquisa. Como não tínhamos um campo experimental, sede, começamos a trabalhar com os produtores em vários Estados, não só no Tocantins.

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O centro foi projetado para 250 pessoas, agora temos 83 pessoas. É uma área de edificações de 6500 m², com outros

3500 m² de cobertura. Temos uma estrutura com cinco blocos e 14 laboratórios diferentes. As linhas de pesquisa são várias, o carro-chefe é melhoramento e reprodução, mas também teremos nutrição, processamento, qualidade de água, tratamento de efluentes. Mas não vai ser a Embrapa que vai fazer tudo. O setor produtivo brasileiro não tem tradição de investimento em P&D [Pesquisa e Desenvolvimento]. São raras as cabeças que pensam nisso, acham que o setor público precisa dar todas as respostas, mas não temos dinheiro suficiente. Nos


“É por isso que a Embrapa tem nome, porque provê soluções. Pode ser para uma tribo indígena, quilombo, para um grande empresário, não importa. Essa é a grande razão: não fazer ciência por fazer ciência, mas fazer ciência para resolver problemas.”

A Embrapa é reconhecida no agronegócio como uma instituição que faz pesquisa aplicada às necessidades do segmento. É o caso também na aquicultura? Acho que esse foi o motivo porque o governo resolveu investir na Embrapa. Eles disseram que teríamos que usar o mesmo modelo usado na agricultura para a aquicultura. Estamos avaliando de que forma vamos nos associar ao setor privado, mas o objetivo é adotar o conceito open innovation. No caso da soja, por exemplo, estamos introduzindo alguns genes de empresas privadas, pegamos nossa variedade e usamos os genes deles. Precisamos de parcerias público-privadas, porque a Embrapa não tem como bancar tudo isso sozinha.

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Nós trabalhamos por demanda. Se você quiser desenvolver uma linha de pesquisa exclusiva na Embrapa sozinho, não vai conseguir. Porque tem sistema de avaliação, acompanhamento de desempenho, uma chefia que vai te chamar e questionar porque algo que não é prioridade está na linha de pesquisa. Então somos um pouco mais focados que a Academia.

para ser conselheiro nosso, porque é um elo direto entre a academia e o setor produtivo. Nosso segmento está tão atrasado que precisamos correr. O setor produtivo quer respostas para ontem para o problema que está vivendo agora. Mas a pesquisa é uma atividade de médio e longo prazo e é por isso que é preciso ter um balanço do que é prioridade. Por exemplo, se o orthomixo virus entrar no Brasil quebra meio mundo, temos que resolver isso já, não dá para esperar. Outra discussão é as espécies priorizadas. Será que elas serão as vencedoras no futuro, com essa biodiversidade que o Brasil tem? Hoje é tambaqui, pirarucu, matrinxã, surubim, camarão e tilápia. E outras espécies, como o mapará? Há espécies que ainda têm sérias restrições de mercado, como o tambaqui, por exemplo, por conta da espinha. Tem um produtor em Rondônia que conseguiu fazer sem ela, mas será que ele tem um marcador molecular disso? É uma grande avenida de oportunidades, estamos hoje na piscicultura naquilo que foi o frango na década de 60.

É por isso que a Embrapa tem nome, porque provê soluções. Pode ser para uma tribo indígena, quilombo, para um grande empresário, não importa. Essa é a grande razão: não fazer ciência por fazer ciência, mas fazer ciência para resolver problemas.

O frango evoluiu muito rápido. No peixe será assim? Sim, principalmente pelo arsenal tecnológico que existe hoje. A parafernália que estará disponível na nossa estrutura em Palmas é de primeiro mundo. A nanotecnologia é a próxima fronteira. A nanodieta, por exemplo. O surubim tem a boca muito pequena na fase larval, então podemos encapsular a nutrição e fornecer a ele.

Todo centro da Embrapa tem o Comitê Assessor Externo (CAE), em que você chama os stakeholders daquela cadeia produtiva e eles vão avaliar a sua programação e sua gestão. Eu convidei o Eduardo Amorim, da PeixeBR,

É só a pesquisa biológica que está envolvida ou há outras linhas? Há outras atribuições. A Embrapa tem um centro de instrumentação que estuda os tipos de estruturas que

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teremos de construir para determinados setores. No caso do peixe, imagine um pirarucu de 10 anos, que vai ter de 100 kg a 150 kg. Hoje estamos usando capacetes que se usam em rodeios para montar touros, mas isso não é reconhecido como EPI. Como é que vou conter esse bicho? Vou ter que bolar um curral. Outra questão: será que os tanques que temos hoje são os melhores? Os tanques de grande volume darão melhores resultados? Vamos ter de fazer pesquisas sobre o comportamento dos animais dentro dos tanques, o que pode influenciar a performance etc. Na ocasião da inauguração foi assinado um convênio da Embrapa com o BNDES de R$ 57 milhões, mas pouco se falou sobre ele. O que ele prevê exatamente? O BNDES está nos financiando, a fundo perdido, no Funtec [Fundo Tecnológico do banco], para fazermos uma reestruturação da pesquisa na Embrapa nesta área, haja vista que o setor da aquicultura não era prioridade. A palavra aquicultura aparece pela primeira vez em documentos oficiais da Embrapa em 1998. Este setor sempre ficou migrando e nunca teve uma identidade. O banco não quer saber se o pesquisador vai fazer paper, mas se virá uma tecnologia, um método, um processo etc. Estamos com uma promessa de mais de 100 produtos neste projeto para melhorar as espécies que lá estão sendo pesquisadas. São 8 projetos componentes de áreas como melhoramento, nutrição, manejo, economia, transferências de tecnologia, sistemas informatizados para gestão etc. São coisas desse tipo que prometemos entregar ao banco em um prazo de 4 anos. É um desafio enorme. Com 42 anos que trabalho na Embrapa, não teve nenhum setor produtivo da Embrapa que teve esse dinheiro para começar.

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países desenvolvidos, as empresas dedicam parte de seu faturamento à P&D. Aqui no Brasil é mínimo. Estamos investindo hoje em torno de 1,5% do PIB. Isso é o que limita nossa atuação.


Blá-blá-blá da Apas 2016 Volta ao lar

Marketing & Investimentos

As refeições fora do lar caíram 8% em 2015, na comparação com o ano anterior. Comer bem cada vez mais acontece dentro de casa, hábito associado a uma busca por maior lazer doméstico. A alimentação dentro de casa representa o maior gasto das famílias (19%).

Feira fecha com a conclusão de que o varejo precisa captar o espírito de austeridade que tomou conta do País para retomar rota de crescimento; nas próximas páginas o leitor confere como o mercado de pescado mostra estar sintonizado com as principais tendências discutidas na feira Texto e fotos: Ricardo Torres

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forte adesão do pescado à 32ª Apas, entre 02 e 05 de maio, não foi a grande novidade desta edição da autointitulada maior feira de supermercados do mundo. Afinal, o número de expositores do segmento só cresce e representa perto de 10% de todo o universo da feira. Muito mais que o 1,5% que corresponde à peixaria no faturamento total das lojas. A aderência das mais de 50 empresas e distribuidores de peixes e frutos do mar às principais tendências do mercado varejista, discutidas antes, durante e depois do evento, possivelmente foi. Na percepção da Seafood Brasil, nunca os fornecedores de pescado estiveram tão antenados com as rápidas e drásticas mudanças que a crise impôs aos supermercadistas.

Talvez por isso a categoria tenha, seja no fresco, congelado, processado ou seco/salgado, experimentado um desempenho melhor do que as expectativas, segundo fontes consultadas pela nossa reportagem. A antecipação da Semana Santa certamente contribuiu para o clima positivo, mas é certo que o varejo dá sinais de que nem bem sentiu o golpe e já começa a reagir. Na lógica de João Sanzovo Neto, vice-presidente da Associação Brasileira de Supermercados (ABRAS), o varejo é um dos últimos a sentir a crise, “até por trabalhar com produtos de primeira necessidade”. Na abertura da feira, o executivo vaticinou: “também seremos os primeiros a crescer quando a crise acabar.” O

faturamento real (descontada a inflação) das mais de 84,5 mil lojas caiu no ano passado pela primeira vez em 13 anos (R$ 315,7 bilhões), mas já começa a se estabilizar depois de oito meses de queda. No primeiro quadrimestre, subiu 0,24%, com um abril nominalmente 6,54% melhor que o de 2015. Então, sob a mesma ótica de Sanzovo, a crise já está no fim? Não, mas o brasileiro já reorganizou seus hábitos de consumo diante dos indicadores e não vai voltar atrás tão cedo. Como já dito, o pescado está ligado, mas é bom se preparar. Veja como estão os hábitos do consumidor, conforme as principais tendências coletadas pela Kantar Worldpanel e Nielsen junto a uma amostra de 11.300 lares em todo o Brasil, das classes A, B, C, D e E.


Menor lealdade

Intensificação das ofertas

A necessidade de economizar faz o cliente ser menos leal à marca líder ou de sua preferência. Só em alimentos, 42% das categorias pesquisadas tiveram trocas para marcas mais baratas, comportamento conhecido como trade down.

A percepção de preço baixo em tempos de crise é fundamental. Descontos estão no topo da lista dos consumidores: 75% deles sempre compram produtos em promoção. O varejo precisa “promocionar” de maneira mais adequada à categoria. Evitar ruptura e melhorar as experiências no PDV para cativar o consumidor, porque não há segunda chance.

Compra perto de casa

Millenials: ilha de exceção

...e-commerce do varejo

O levantamento calcula que as vendas do varejo pela internet devem crescer 43% em quatro anos – salto de R$ 41,3 bilhões em 2015 para R$ 59,8 bilhões em 2019. Antes da virada da década podem chegar, portanto, ao tamanho que o canal tradicional tem hoje.

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Também conhecidos como Geração Y, entre 20 e 30 anos, compram por impulso e vivem o momento. 37% não pretendem economizar (média normal é 31%). São 10% mais fieis às marcas preferidas e não enxergam como supérfluos produtos como água de coco, cappuccino e maquiagem. É preciso prestar atenção a este universo de pessoas, que serão o principal público do varejo em alguns anos. São estes que impulsionam o...

O supermercado de vizinhança cresceu 48% em 2015 por causa de “compras de reposição”. Este perfil de loja, de ticket médio inferior aos supermercados (R$ 38 contra R$ 66), é descrito pelos autores da pesquisa como uma extensão da despensa do brasileiro.


Marketing & Investimentos

A depuração do salmão Chile aproveita crise das algas para corrigir preços defasados do salmão, mas novo patamar associado à escassez do produto tira pequenos importadores do jogo

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ntre uma cerveja e um petisco, dava para ver alguns dos responsáveis pelos maiores volumes de importações de salmão do Atlântico fresco do Brasil suarem frio. A tensão era nítida: em plena feira, carretas e mais carretas começavam a se acumular na estrada esperando a chance de entrar na Patagônia chilena, onde se concentram as principais salmoneiras do país. Uma greve de pescadores começara ali naquela semana, travando as estradas, e só pararia 17 dias depois. Um elemento a mais para a já crítica situação do fornecimento do produto mais desejado pelos restaurantes orientais do Brasil – estima-se que de 80% a 90% do faturamento destes estabelecimentos dependa do salmão. Da mesma forma, importadores spot ou com volumes irrisórios foram preteridos pelas salmoneiras, cujo vínculo com os grandes players é forte o suficiente para alguns privilégios comerciais. O preço, no entanto, não foi um deles. Todo mundo está pagando caro.

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Para De Luca, da Frescatto, preço ficará em patamar mais caro; “mas se formos mais organizados conseguimos comprar mais barato. O mundo inteiro paga menos”

Na 21ª semana do ano, segundo a consultoria Salmonex, o peixe inteiro fresco com cabeça, classificação 10-12, foi vendido a uma média de US$ 7,61 o kg. O preço chega a ser quase 1,5 dólar mais caro que no ano passado, mas os próprios importadores relatam que isso representa uma recuperação do patamar defasado que o Chile praticou no ano passado. “O brasileiro ficou mal acostumado com os preços de salmão dos últimos anos”, descreveu Thiago De Luca, diretor da Frescatto Company. Joycenir Souza, gerente nacional de vendas da Komdelli, esclareceu porque aos importadores a situação não é tão desesperadora. “No final, o faturamento não tem tanto impacto, porque há um aumento de 60% no faturamento com uma redução de 50% de volume de venda.” Ambos, assim como seus pares da concorrência, não veem risco de desabastecimento de produto, mas volumes certamente menores e uma aceleração de preços persistente. Paulo Rossi, diretor da Itanav – que lançou na feira sua marca própria Blue Marine – cravou que o produto permanecerá caro Itanav lançou marca Blue Marine para operar diretamente com salmão no varejo e food service

Salmão até fevereiro, mas começa a baratear em outubro. Já o recuo na oferta pode durar mais 3 ou 4 meses, diz Souza. Rossi anunciou na feira uma parceria exclusiva com a Cermaq, adquirida em 2014 pela Mitsubishi, que envolve representação exclusiva para congelados e preferencial para o fresco. Com exceção da Blumar, cujo clima de tensão nas reuniões mal deixou com que nossa equipe se aproximasse do estande, Nova Austral e Los Fiordos não pareciam lamentar. A primeira produz abaixo do Estreito de Magalhães e não sofreu com o bloom de algas. “Queremos aumentar nossa presença no Brasil, que é muito pouca. Estados Unidos e Rússia são os principais mercados”, disse o diretor de vendas, Juan Esteban Navarrete. Já a segunda, uma das pioneiras nas vendas ao Brasil, quer expandir a marca Agrosuper para fora de São Paulo. “Queremos começar a explorar o Nordeste, Rio Grande do Sul, ter maior participação no Rio e no interior”, pontuou o gerente de vendas para a América Latina, Jenaro Correa. Outra meta é incrementar o volume de congelado e, principalmente, migrar o consumo a filés. No total, 8 mil toneladas anuais, cerca de 30% da capacidade produtiva deles.

Outras origens Os chilenos sabem que precisam traçar e executar tais planos de expansão com rapidez, porque o Alasca (veja mais detalhes na reportagem de Capa) e a China estão à espreita. “Quisermos deixar claro aos nossos clientes o problema com o salmão do Chile e adiantar o mais rápido possível as importações de salmão da China”, sublinhou o gerente nacional de vendas da Golden Foods, Chicre Neto.


Houve quem trocasse praticamente toda sua matéria-prima pelo produto selvagem processado na China. “Nós hoje trabalhamos com salmão chileno e do Alasca, ambos congelados. E hoje praticamente só com salmão do Alasca processado na China, por conta da subida expressiva de preços”, disse o gerente de importação da Minerva Foods, Roberto Junqueira. Na Komdelli, que se estruturou a partir do salmão, a busca de outras origens é fundamental. “O Alasca se apresenta como um grande parceiro, vamos investir bastante forte neles este ano para compensar esse problema com o Chile. Devemos trazer 1000 toneladas do Alasca, enquanto do Chile se conseguirmos importar 4 mil estará bom”, calculou Joycenir. A indústria lançou diversos subprodutos de salmão, o que impede qualquer ruptura mais acentu-

ada no fornecimento do produto. “O Chile está uma caixinha de surpresas, então não queremos correr esse risco e o Alasca é o que se apresenta como a melhor oportunidade para nós neste momento.” Até o Peru entrou na jogada com a truta salmonada cultivada em pleno lago Titicaca. “A conjuntura do salmão está complicada e o mercado brasileiro está valorizando a truta peruana salmonada pan size (tamanho de uma frigideira)”, salientou Andrés Miyashiro, da Piscifactoría de los Andes (Piscis). A Blue Marine lançou o produto com exclusividade e vai trazer em torno de 20 toneladas mensais no início, que pode chegar a até 100 toneladas por mês para um mercado mais restrito – até porque seu uso mais adequado é o ceviche, não o sashimi.

Miyashiro, da Piscis: truta salmonada (no detalhe) cultivada no Titicaca é alternativa para alguns segmentos, mas volume é baixo

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Marketing & Investimentos

Bacalhau: seco, salgado e disputado

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Restrições à exposição do seco e salgado nos pontos de venda faz noruegueses lançarem embalagens menores; enquanto isso, portugueses intensificam aposta no dessalgado congelado

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expectativa era muito ruim dada a experiência negativa da Páscoa de 2015, contaminada pela flutuação do dólar e diminuição do consumo. Mas o fato é que o varejo do bacalhau reagiu, além do esperado pelos fornecedores, de certa forma apoiado pela Páscoa antecipada. Um símbolo deste momento talvez seja o fato de que os estandes de bacalhau – Bom Porto, Brødene Sperre, Mathias Bjørge, Riberalves e Mar Nobre – estiveram entre os mais movimentados da Apas 2016.

Produto de primeiro escalão, bacalhau é um item em que não se pode errar. “Se eu errar, perdi a Páscoa”, avaliou Karagulian. Para ele, isso favoreceu marcas já consolidadas, mas uma visita às gôndolas no período prévio à ocasião de maior consumo do produto no Brasil já mostrava que “novos” velhos competidores estão à espreita.

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Os noruegueses da Mathias Bjørge e Brødene Sperre aproveitaram a feira para consolidar um movimento feito meses antes. Marcas desconhecidas ao público geral, embora já muito tradicionais entre os importadores, ambas Direto da embarcação que a resolveram lançar direto no varejo Bom Porto construiu para o evento, o porcionados secos e salgados com seus gerente de marketing e trade, Sergio próprios nomes. A construção desta Karagulian, comemorou. “Uma granidentidade, depois de décadas atrelada de rede nossa cliente fez um pedido exclusivamente ao Conselho Norueguês pós-Páscoa tão bom quanto para a da Pesca (Norge), não é fácil. “Sempre Páscoa.” A mesma rede, que Karagufoi muito difícil promover nossas próprias lian prefere manter em sigilo, havia marcas, mas agora precisamos conregistrado uma queda de vendas de tar nossa história de 80 anos para nos 28% no bacalhau no primeiro trimestre. diferenciarmos de produtos muito mais baratos que estão aqui”, relatou Johnny Viking da Mathias Bjørge (página ao lado) e Sergio Karagulian, da Haberg, ex-repreBom Porto, no estande em forma de barco: ações inusitadas na sentante da Norge Apas refletem necessidade de criatividade no ponto de venda e agora diretor de vendas para o Brasil da Brødene Sperre. Com orçamento reduzido pelos prejuízos dos últimos dois anos, os noruegueses apelaram para a criatividade. A Mathias desfilou com grande repercussão seu viking pintado pela Apas, até que o personagem foi advertido

pela polícia do pavilhão e teve de se recolher ao estande. No caso da Brødene, o grande foco foi no material de divulgação e nas embalagens, redesenhadas para abrigar porções menores de lombos e postas de Gadus morhua e pedaços de saithe. É um esforço para atender à determinação da Anvisa de que o bacalhau seco e salgado a granel (manta) preferencialmente deva ser exposto com a proteção de uma embalagem. Além disso, está a deficiência de mão de obra para manipular corretamente o produto e a exigência de um SIF individual, não apenas central, para este processamento nas lojas. “Eles estão vendo que está diminuindo a demanda e reagindo. Nós também estamos apresentando uma seleção de cortes do seco e salgado, com uma identidade que dialoga com o nosso congelado”, sublinhou Karagulian. O dessalgado congelado, que hoje já representa entre 20% e 30% da categoria, continua a ser o vetor de expansão do consumo aos olhos dos portugueses, pela conveniência que representa ao consumidor moderno. “O seco e salgado ainda representa 70%, mas todos os anos [a tendência] é cada vez mais em direção do congelado, para ser equivalente as duas participações”, ressaltou João Machado, gestor de produto da Soguima e novo encarregado do mercado brasileiro. O executivo destacou que o encolhimento das embalagens não é exclusividade dos noruegueses. “Há dois anos vendiam-se embalagens de 2 kg de bacalhau no varejo, que custariam até R$ 200. Quem hoje em dia vai pagar isso no Brasil, ainda que seja para 4 ou


5 refeições?”, questionou. Por este motivo, a Soguima reduziu as caixas para abrigar 2 lombos com 600g e valores faciais de R$ 50. A Riberalves também apresentou os lombos de morhua nas caixetas de 600g, mas não deixou de investir em diversos cortes de seco e salgado embalados a vácuo. Os portugueses só esperam que os nórdicos não entrem no congelado. Mas não parece ser para curto prazo, segundo garantiu Haberg: “Sempre estamos pensando em fazer congelado, mas não fazemos por várias razões. Uma delas é que tudo na Noruega não é barato. E para fazer o dessalgado congelado teríamos de fazer do jeito correto, não pegar alguns atalhos como alguns fazem.” O especialista diz ter contado 15 empresas

no dessalgado. “Deve existir uma grande briga entre eles, então não sei quão lucrativo dá para ser no curto prazo”. Com a concorrência tão acirrada, muitos procuram incrementar o mix para diminuir a dependência do bacalhau. A Soguima aproveitou a Apas para lançar uma linha de pratos prontos vegetarianos, a Vegan, já estabelecida em Portugal. A Bom Porto segue forte na promoção de vinhos, mas também investe em azeites finos com terroir português, como o Ourogal, apresentado à Seafood Brasil pelo engenheiro e membro da família produtora, André Luíz-Lopes, em um frasco de perfume. A Mar Nobre, comandada no Brasil por José Wellington, foi além. Seguin-

do a Brasmar, matriz que hoje tem o bacalhau como apenas 20% do seu negócio, introduziu uma série de produtos processados de pescado a base de kani, merluza da África do Sul e outras novidades (veja mais na seção Na Gôndola). “Até o final deste ano, a meta é que tenhamos 30% das vendas com outros produtos e bacalhau com 70%”, revelou.

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Marketing & Investimentos

Panga ressurge, com Peixes ncos a r b polaca e merluza menores Impacto de dois anos de restrições ao uso de tripolifosfato e excesso de glazing não são suficientes para argentinos recuperarem posição; enquanto a polaca perde penetração, panga retoma protagonismo

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á três anos, a febre da polaca processada na China e do panga causou uma reviravolta no mercado de filés brancos com forte prejuízo para a merluza argentina, também prejudicada pela delicada conjuntura sócio-econômica. A movimentação segue na mesma tendência, mas a disputa ganhou novos contornos com um ligeiro favoritismo dos vietnamitas, novas introduções, como o alabote dente curvo, e uma fiscalização cada vez mais efetiva. A Argentina vem enfrentando uma queda considerável. Nos primeiros quatro meses do ano, a oferta de pescado argentino caiu 22,6% em volume, com uma perda correspondente de receita de 32,3%. “Vendíamos 20 caminhões por mês e agora estamos com 10”, descreveu Diego Oksengendler, diretor da Mardi, uma das três empresas argentinas do segmento na Apas 2016 – as outras foram Coomarpes e Marbella. A participação foi a mais tímida dos últimos anos, refletindo por um lado

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Oksengendler (à esq), junto a David Lavanchy, da Mardi: “Nota-se que tudo vai mais lento [na merluza]”

a nossa própria crise e, por outro, a reorganização do país vizinho após a eleição de Mauricio Macri. Na visão de Carlos Serra, gerente de comércio exterior da Coomarpes, este é o momento de reforçar o vínculo com o importador brasileiro. “Quando está tudo bem somos todos amigos. Quando não se está bem é que se veem os amigos e clientes de verdade”. Serra comentou que o impacto da massificação da polaca e do panga praticamente parou parte da frota merluzeira argentina. “A merluza sempre foi 70% para o Brasil e nos últimos anos não chegou a 15%.” Mas o executivo disse ver uma mudança gradual de paradigma que pode beneficiar os argentinos em médio prazo. “Aqui nesta feira tive muito mais consultas de gente que trabalha com pescados asiáticos e diz que sua cadeia de venda se cansou um pouco disso, tanto no varejo quanto no food service”, atestou Serra. Os números mostram que, no caso da polaca, ele pode ter razão: entre janeiro e abril de 2016, o

Brasil comprou 48,4% menos produto da China (12 mil toneladas contra 23,4 mil toneladas). Só que o panga disparou, com 227,2% mais compras neste primeiro quadrimestre. Isso motivou até a vinda à Apas de representantes da Vinh Hoan, uma das maiores fornecedoras do Vietnã e a primeira a conquistar a certificação do Aquaculture Stewardship Council (ASC). Max Basch, vice-presidente de vendas, contou à reportagem que a empresa está estruturando uma divisão de vendas ao Brasil. No entanto, ele disse ainda ser difícil competir com os preços praticados aqui, levantando suspeitas de adulteração de produto. A Golden Foods, por exemplo, garantiu ter investido em uma estrutura que lhe assegura a verificação prévia de diversos parâmetros para evitar fraudes, incluindo testes de desglaciamento, índice de pH, luz de avaliação para verificar furos indicativos de injeção de tripolifosfato e uma cozinha experimental. “Contêiner é uma caixa preta. Fazemos Lucas Scridelli junto a Max Basch, da Vinh Hoan: competição no panga ao Brasil é muito acirrada


Em torno de 80% dos 70 contêineres de pescado que a Golden Foods importa todos os meses é de panga, em filés com ou sem gordura. Mas Neto garantiu querer fazer a polaca crescer. “Estamos vivendo uma crise danada. Se temos condições de oferecer ao operador uma operação de baixo custo e qualidade para a média gastronomia dele, como a polaca, criamos uma tendência.” A estratégia tem a favor o poder de barganha da companhia, que pretende se

consolidar como provedora de uma ampla gama de pescado, além de batata frita congelada, cordeiro e outros produtos. A Minerva chama isso de ‘one-stop-shop’, como descreveu Roberto Junqueira. Desde que assumiu a gerência geral de categorias, em 2010, o grupo saiu de 300 toneladas anuais para 6000 toneladas de pescado. O panga é o carro-chefe de um mix que não contempla nada fresco ou seco. Polaca em filés ou dessalgada (migas), salmão congelado, cação em postas, bacalhau dessalgado, alabote e a merluza interfolhada e IQF em pacotes.

Minerva tem plano de crescimento muito grande no pescado, fortemente apoiado no panga

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os testes por amostragem, mas só o fato de enviarmos aos fornecedores o que vimos tem um certo efeito de coerção. Eles percebem que nós verificamos o que compramos”, declarou Chicre Neto.


Marketing & Investimentos

Peixe nacional come pelas beiradas

Ofertas nacionais

A oferta importada de pescado segue pautando os estandes da Apas, mas a cesta de produtos congelados da aquicultura e da pesca extrativa nacionais cresce e conquista cada vez mais adeptos entre os visitantes do varejo e food service

B

acalhau, panga, polaca e merluza agora já têm rivais à altura no acirrado universo do pescado nas grandes superfícies de varejo. Camarão, pirarucu, tilápia, truta e até a desprezada sardinha mostraram força nesta Apas 2016 como opções consistentes de produtos congelados. “Eu tinha a impressão de que os visitantes iriam querer mais opções resfriadas, mas como estamos apresentando nossos produtos de forma mais prática e versátil, o pessoal começa a perceber que é seguro e mais usual”, avaliou Fabio Vaz, diretor-presidente da Peixes da Amazônia.

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A empresa debutou no “supermercado dos supermercados” no estande do Grupo5, parceiro responsável pelas vendas em todo o País, com grandes expectativas. Fez coincidir com a feira o lançamento de seus diferentes cortes de pirarucu, tambaqui e pintado apresentados em caixetas e pouches. Trouxe uma delegação de autoridades e empresários do Acre. Não se decepcionou. “Superou nossas expectativas. Aqui você tem contato com uma diversidade enorme de clientes, que se interessam em levar a marca ou o peixe amazônico”, disse Vaz, para quem é fundamental superar o caráter regional destas espécies. O alarde que a Peixes representou na Apas 2016 é um indicativo de que o varejo não necessariamente prefere o importado ao nacional, mas quer dos fornecedores locais atributos como regularidade, novidades em cortes e apresentações, preço e qualidade. Atenta a isso, mas também à mudança recente dos hábitos dos consumidores, a Maris levou inovações à feira, como um camarão pré-cozido temperado no

alho e cebola, além do camarão cozido sem cabeça com corte easy-peel nas costas, que facilita a retirada da cauda. A feira também mostrou produtos de nicho, como é o caso dos orgânicos e sustentáveis da Korin. Depois de antecipar o plano à Seafood Brasil no ano passado, a empresa finalmente lançou nesta Apas os filés de truta fornecidos pela Trutas NR. Era um sonho antigo. “Sempre Gabriel Tonetto Plein, diretor da Substância, lançou edição quisermos ter peixe especial com Peixes da Amazônia: meta é popularizar pratos prontos de pescado nas 30 lojas do grupo e varejo de alto padrão entre nossos produtos, mas pela nossa filosofia não conseguíamos. A truta da da lagosta em comunidades tradicioNR é sustentável e livre de antibióticos. nais cearenses, como Redonda, Icapuí A filosofia dele se encaixa nos nossos e Fortim. “Queremos que os pontos de preceitos”, conta Celso Morinaga, gevenda também sejam aliados da recurente comercial. A intenção é colocar o peração dos estoques. Por isso fazemos produto no Brasil inteiro, seguindo uma parte da Aliança para a Pesca Sustentrajetória similar à da carne bovina no tável, que envolve diversas entidades e grupo. “Para se ter uma ideia, começaempresas do varejo e do food-service”, mos a carne bovina com 44 novilhas por relatou Ernesto Godelman, diretor do mês. Hoje, passado um ano, estamos projeto. Para Tobias Silva, presidente com mais de 500 novilhas por mês. A exdo Sindicato de Pescadores de Icapuí, pectativa é que a truta também siga este são produzidas anualmente 20 tonelacaminho, porque a marca ajuda muito.” das, mas o volume deve aumentar com a gestão dos estoques. A sustentabilidade permeou a divulgação da produção de lagostas do A lagosta também passou pelo estanCeará, no estande da Cedepesca. A Or- de da Frescatto Company, que anunganização Não-Governamental realiza ciou parceria com a Prime para uma um trabalho de melhoramento da pesca caixeta de caudas de lagosta. A novida-


Ailton Silveira, gerente de mkt e trade da Maris: “A crise chegou e o que mudou foi que agora o consumidor que comer em casa o que ele encontrava nos restaurantes”

Foco na praticidade: “Filé de tilápia todo mundo tem, mas não temperado, na embalagem assa fácil, pronta para tirar do freezer e cozinhar em 20 minutos”, disse Joycenir Souza, da Komdelli

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de se soma a um abrangente portifólio que segue a estratégia descrita por Thiago De Luca: “temos produtos para todos os bolsos”. Neste contexto, vale a menção à decisão da empresa de fincar o pé na sardinha, vendida espalmada na linha Buona Pesca e em filés na Frescatto. “Brasil inteiro está vendendo bem. Sardinha é um peixe delicioso, milhões de formas diferentes. Pouco a pouco vai entrando no gosto. Estamos olhando muito para a produção nacional.” Não só olhando: agora em junho a companhia vai despescar sua primeira safra de camarão, arrendada em dezembro da Netuno. “A ideia é produzir 100 toneladas por mês, mas vamos vender também para outros parceiros.”


Marketing & Investimentos

Conservas

A força das conservas Equatorianos registram boa presença na feira e já diversificam portifólio no Brasil; gigante GDC canaliza energia em opções saudáveis e vê tailandeses desembarcarem com chicharro

A

bril começou trágico para os equatorianos, com o terremoto que ceifou mais de 700 vidas no norte do país, região onde se concentram diversas indústrias conserveiras. Pouco menos de um mês depois, ainda sob o impacto da devastação, Andrés Cuka e Marcelo Fabara, da Marbelize, foram à Apas para mostras aos clientes que estava tudo bem e consolidar a marca no varejo brasileiro. “A Marbelize teve de parar para fazer reparações preventivas, mas aos poucos vamos nos recuperando”, disse Fabara. O executivo garantiu ter valido a pena sair do país em meio à reconstrução para estar no evento. “Nosso faturamento com o Brasil só cresceu desde que começamos a participar da feira, mas em 2015 veio a crise e os Encinas, da GDC: crescimento do atacarejo promove busca por formatos maiores

volumes baixaram, embora os clientes tivessem se mantido os mesmos”, atestou o equatoriano. Embora a Marbelize venda atum enlatado para diversos clientes, o carro-chefe são os pouches para pizzarias. “É o que mais se vende em São Paulo e em grande parte do Brasil. E também há potes de vidro para o setor mais gourmet.” Só que os produtos clássicos já não bastam para as pretensões equatorianas. Depois de apresentar uma linha de congelados no ano passado, a Marbelize finalmente conseguiu aprovação no Dipoa para lançar oficialmente nesta edição da Apas os nuggets, hambúrgueres, almôndegas e azeitonas recheadas de atum. A recepção foi interessante, segundo o executivo. “A aceitação foi muito boa, houve muitas consultas porque não existem estes tipos de produtos. Os brasileiros gostam muito de novidades.” Talvez por isso a Gomes da Costa aproveite a Apas para lançar sempre alguma opção ligada ao pescado. Neste ano foi a vez de a sardinha ganhar uma versão com baixo teor de sódio. Para o presidente, Alberto Encinas, a sardinha vale o esforço de diversificação, pois permite uma margem de negociação

muito boa junto ao varejo. “A sardinha é um produto destino, o consumidor vai ao mercado para comprá-la. E isso facilita a negociação, porque o varejo quer ter a sardinha.” Outro foco da GDC é criar opções para o público dos atacarejos. “O atacarejo agora é o rei do varejo, então estamos focando em formatos maiores, pouches de meio kg, lata de 1,1 kg, ou 250 g, já que o consumidor acaba procurando neste canal produtos com maior custo-benefício.” Tudo para manter a hegemonia no universo brasileiro das conservas – o Brasil representa 60% do volume de vendas do grupo Calvo, dono da GDC. De olho nesse potencial, os tailandeses da SPA International Food Group estrearam na Apas esperançosos, apesar de terem de pagar imposto de importação superior a 16%. “Já temos registrada a marca Blue Oceano, para atum, e Nova, para o chicharro. Também fizemos o registro da marca de 10 importadores brasileiros conosco como fornecedores”, comentou o responsável pelo escritório da empresa na América Latina, Mariano Suárez, que já vende seus produtos a empresas como a Ampex Beira-Mar.

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Marbelize, de Andrés Cuka e Marcelo Fabara (dir.), lança linha de congelados de atum para diversificar as tradicionais latas e pouches para pizzarias


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Marketing & Investimentos

Pescado cada vez mais presente

A

Apas 2016 se mostrou novamente como uma ponte eficiente entre os compradores do varejo e do food service e os fornecedores de pescado, alguns dos quais registramos aqui. Do Acre à Noruega, estes fizeram questão de prestigiar o evento.

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Henrique Pazetti (JA Oliveira), Arne Sperre e Johnny Håberg (Brødene Sperre)

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Mariano Suárez, Oranuch Luangaramkul e Antonio Sanchez (SPA)

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Jenaro Correa e Daysy Miranda (Agrosuper)

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Luana Oliveira, Gilberto Bucholtz, Eilon Schreiber, Gleise Cipriano e Alan Nusbaum (Kalena)

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Ernesto Godelman e Tobias Silva (Cedepesca)

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(Em sentido horário, de baixo) Tathyana Araújo, (Grupo5), Afonso Vivolo (Trutas NR),

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Marcos Galvão (GPA), Tiago De Luca (Frescatto Company), Rafael Guinutzman (GPA), Karla Nunes, Rarael Barata e Mauricio Moreira (Frescatto Company)

José Madeira (ASMI), Marcelo Eiger (Trident Seafoods), Guilherme Blanke e Guilherme Blanke (pai) (Noronha)

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Jessica Lopez e Giuliana Vicini (Produmar)

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Mayra Valiente (Altamar Foods)

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Chicre Neto, Gustavo Catramby, Gilberto Monteiro e Thiago Monteiro (Golden Foods)

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Ivan Lasaro (Opergel) e João Machado (Soguima)

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Fabio Vaz, Lucio Coelho e Ricardo Montenegro (Peixes da Amazônia)

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Lourival Miguel e Ricardo Pereira (Wal-Mart)

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(No centro, de pasta na mão) Expedito Ferreira, dono da Maris, e equipe da empresa

Renata Ribeiro e Rodrigo Joaquim (Grupo5), Celso Morinaga (Korin), Gabriel Tonetto (Substância) e Samaria Lemes (Korin)

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Bacalhau Seco Salgado

Anéis de lula

Atum

Polaca do Alasca

Merluza argentina

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Comércio e representação internacional de pescados

Uma oferta completa de atum fresco e congelado para seu negócio!

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Tilápia em ATM

Na

Gôndola A oferta de peixes e frutos do mar

O uso da Atmosfera Modificada (ATM) em pescado é amplamente disseminado na Europa, mas agora pode se popularizar no Brasil com a novidade da Fider, marca de trabalho da MCassab/MFoods. As bandejas de 500g aumentam a vida útil dos filés de tilápia e preservam a qualidade microbiológica, fisiológica e organoléptica dos produtos. Há também a opção em sacos de 800g para maior rendimento.

Uma penca de camarões

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A Nutra Foods chega para embalar a disputa no mercado de camarão com novo layout da embalagem de 400g e o lançamento do pacote de 200g, com três versões de camarão (descascado/inteiro/sem cabeça). O objetivo é oferecer os crustáceos a preços mais atrativos e acessíveis em tempos de crise.

Menos sódio, mais saúde A Gomes da Costa incrementa a linha saudável com a sardinha com baixo teor de sódio em três versões: com óleo, ao natural com ervas e com molho de tomate. ​A nova linha garante uma redução de até 80% na concentração de sal.

Cortes de seco e salgado A Brødene Sperre concretizou sua estratégia de apresentar envases com

cortes menores do seco e salgado, como lombos, pedaços, postas. A iniciativa cria opção para o varejo, que já não pode expor as mantas inteiras de bacalhau sem proteção.

Na mesma onda A Riberalves segue a linha dos noruegueses e lança cortes de Gadus morhua, como lombos e postas, em caixetas plásticas com pesos fixos. Outra inovação é a caixeta de papelão de 600g dos lombos dessalgados congelados.

Direto da Tailândia Depois de cinco anos estudando o mercado, a SPA International Foods introduziu suas duas marcas para o varejo brasileiro: Blue Oceano, para atum em pedaços, e Nova, para o chicharro ralado para pizzas.


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Na

Gôndola Bacalhau fresco A Kalena debutou com estande próprio na Apas com sua oferta específica de produtos saudáveis, como o edamame, snacks de algas e maçãs cortadas e prontas para consumo. Das águas geladas do Alasca, apresentou os lombos de bacalhau fresco (Gadus macrocephalus) em bolsas de 440g.

Comida para millenials A geração entre 20 e 30 anos não quer gastar muito, mas também não abre mão de comer em casa o que vê na rua. Este é o raciocínio que norteou os três lançamentos congelados da Maris na Apas com 400g: camarão sem cabeça cozido 36/40, descascado temperado com alho e cebola e o descascado 51/60.

Truta sustentável A Korin abraçou a truta cultivada pela Trutas NR e apresentou, depois de um ano de testes e aprovações, os filés congelados embalados em sacos de 500g. Para facilitar o uso, cada um dos 4 filés tem seu envase próprio.

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Menu amazônico A Substância Gastronomia Light fechou parceria com a Peixes da Amazônia para introduzir em suas 30 lojas no País – em breve serão 40 – uma edição especial de pratos prontos com espécies nativas. As opções dão água na boca: Tambaqui à Gomes de Sá, Pintado com Crosta de Castanhas e Moqueca de Pirarucu.

Muito além do bacalhau É onde a Mar Nobre quer ir, seguindo os passos da matriz, Brasmar. A linha de congelados estreou em grande estilo na Apas 2016. Lombos de merluza do Cabo

(África do Sul) se juntaram aos preparados de surimi em diversos formatos: lagosta, camarão e kani. Para garantir o bacalhau, novas caixetas de 1kg com a marca brasileira.

Tudo com atum A Marbelize quer ir além das conservas Yeli. Depois de conseguir o registro no Dipoa, apresentou finalmente a linha de congelados empanados pré-cozidos: hambúrguer de atum, nuggets e almôndegas. Para o petisco, azeitonas recheadas empanadas.

Leia este código para ver o portfólio e contatos destas empresas. Ou acesse bit.ly/SEAfornecedores


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Capa

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O olho da Texto e fotos: Ricardo Torres*

Oferta de pescado dos Estados Unidos é variada e atrativa ao mercado mundial, mas é a gestão pública dos seus estoques em parceria com o setor privado que a torna uma referência

S

e de um dia para o outro o mercado mundial de seafood perdesse a oferta de salmão selvagem, ovas, polaca, bacalhau do Atlântico (o cod Gadus macrocephalus), caranguejos gigantes, vieira, lagosta e peixes pelágicos dos Estados Unidos, o mundo sentiria profundamente. Não tanto pelos produtos em si, já que tais espécies compartilham mares internacionais, mas pela forma como os norte-americanos fazem a gestão de suas pescarias.


Brasil: a próxima presa O Brasil nunca foi um dos principais destinos de pescado proveniente dos Estados Unidos, mas os norte-americanos enxergam grandes oportunidades com as 200 milhões de bocas cada vez mais famintas por pescado. Nesta análise da última década, nota-se que 2014 foi o melhor ano: nossas compras renderam aos yankees mais de US$ 8,1 milhões. E o ritmo só não continuou em ascensão porque a crise nos pegou em 2015. Período

US$ FOB

2016* 2015 2014 2013 2012 2011 2010 2009 2008 2007 2006 2005

1.764.154 -38% 747.605 -46% 4.087.118 -50% 1.665.824 -41% 8.105.669 148% 2.833.404 56% 3.265.838 59% 1.811.962 15% 2.050.666 -19% 1.573.608 -21% 2.518.797 15% 1.997.822 44% 2.188.117 26% 1.382.672 -40% 1.741.199 -52% 2.312.584 -58% 3.641.380 -35% 5.545.695 -60% 5.640.808 583% 13.841.260 2465% 826.165 50% 539.672 -20% 550.394 - 671.469 -

* Até maio

%

Peso (KG)

%

Fonte: AliceWEB/MDIC; Compilação: Seafood Brasil

Pesqueiro (FMPs), que estabelecem uma cota anual para diversos recursos pesqueiros a partir de análises científicas dos estoques.

40 anos de Magnuson-Stevens Act A pesca estadunidense tem sua própria “Primeira Emenda”, conjunto de direitos fundamentais da Constituição. Além de determinar exclusividade de uso aos EUA das 200 milhas náuticas, a Magnuson-Stevens Act estabeleceu oito conselhos regionais de gerenciamento pesqueiro, que reúnem os Estados costeiros e membros da cadeia produtiva. Esses órgãos têm como responsabilidade primária o desenvolvimento de Planos de Gerenciamento

Aprovada em 1976, é a lei primária da pesca que rege o gerenciamento da atividade em águas federais. São os quatro os compromissos principais que ela prevê: • Prevenção da sobrepesca; • Reconstrução dos estoques sobreexplotados ou em sobreexplotação; • Incrementar os benefícios econômicos e sociais de longo prazo; e • Assegurar um fornecimento seguro e sustentável de pescado.

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águia

As indústrias pesqueiras, por sua vez, recebem observadores de bordo em suas frotas e trocam informações constantes com os cientistas. Fontes consultadas pela Seafood Brasil, tanto na Costa Oeste quanto na Leste, não negam que haja conflitos, já que nem sempre há uma sincronização perfeita entre a pesquisa prévia e a situação real de cada safra. Mas cada pescador sabe a responsabilidade de avisar às autoridades caso perceba este descompasso – para cima ou para baixo.


Capa

2015: a gestão pesqueira em números A coordenação dos trabalhos fica a cargo do departamento de pesca do National Oceanic and Atmospheric Administration’s (NOAA), que todos os anos solta um relatório geral sobre os resultados dos esforços combinados entre a esfera pública e privada. O último deles, divulgado em abril, mostra que 89% de toda a captura de 2015 ficou dentro ou abaixo dos limites anuais (ACLs, sigla para Annual Catch Limits). O benefício disso é real. Na contramão dos cada vez mais ameaçados recursos pesqueiros mundiais, nos EUA o volume de produção de pescado está estabilizado e promove negócios de US$ 214 bilhões. O país é o 4º maior player mundial do negócio, atrás apenas do Vietnã (3º), Noruega (2º) e China (1º). E a indústria elogia o trabalho. “O NOAA continua a se provar como um líder global na sustentabilidade do pescado por meio da dependência disciplinada da verdadeira pesquisa”, disse na ocasião do lançamento dos dados John Connelly, presidente do National Fisheries Institute, a associação dos empresários do ramo. Nas próximas páginas, o leitor acompanha nossa visita aos dois maiores portos pesqueiros dos Estados Unidos, Dutch Harbor (Alasca) e New Bedford (Boston), onde esta cultura colaborativa para a preservação dos estoques é uma questão de perpetuidade do negócio.

473

46

estoques gerenciados

Planos de Gerenciamento Pesqueiro

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214 $ $

bilhões de dólares gerou a indústria $ pesqueira e a pesca recreativa

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98%

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39

de crescimento no índice de sustentabilidade dos estoques

estoques recuperados da sobreexplotação de 2000

*O jornalista viajou em março aos Estados Unidos a convite do Alaska Seafood Marketing Institute e Food Export USA Northeast

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*Fonte: Status of Stocks, Abril 2016, NOAA

10 anos de capturas nos EUA Ano

1000 ton.

2005 2006 2007 2008 2009 *Ano mais recente disponível

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US$ bilhões

%

4.403 - 3,94 4.301 -2,3% 4,02 2,1% 4.223 -1,8% 4,19 4,2% 3.776 -10,6% 4,38 4,6% 3.643 -3,5% 3,89 -11,2%

Ano 2010 2011 2012 2013 2014*

1000 ton.

%

US$ bilhões

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3.734 2,5% 4,52 16,2% 4.472 19,8% 5,29 17,0% 4.370 -2,3% 5,10 -3,5% 4.477 2,4% 5,47 7,1% 4.303 -3,9% 5,45 -0,3% Fonte: NOAA


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Capa

A última fronteira repleta de peixe Alasca quer acelerar introdução de polaca, bacalhau do Pacífico e salmão selvagens no Brasil, mas cultura de preço ainda é empecilho

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A

velocidade é de cinco nós, aproximadamente 10 km/h. É o máximo permitido para a navegação nas águas do Mar de Bering, estranhamente calmas neste 10 de março. O céu com poucas nuvens começa a ser tingido de laranja bem no ponto onde a montanha nevada encontra a Priest Rock, um rochedo que lembra a silhueta de um padre rezando. De fato, algo de sagrado parece pairar no ar. Nada no trajeto nos lembra que aquele é o cenário de Pesca Mortal, o programa do Discovery Channel que popularizou – e supervalorizou – o perigo das pescarias realizadas ao sul

do Estreito de Bering, na fronteira dos Estados Unidos com a Rússia. Dá para contar nos dedos as ondas que irrompem no convés do trawler (barco de pesca de arrasto) Gladiator. A estabilidade deste veterano das pescarias de polaca e bacalhau do Pacífico deixa um balanço quase imperceptível. Até o capitão Ed French, quase 40 anos de pescaria, mostra surpresa. “Vocês estão com sorte”, diz. Contemplativos, todos assentem com as cabeças sem verbalizar o sentimento de gratidão. Apesar de estarmos no começo da Primavera no hemisfério

Norte, um dia antes uma tempestade de neve fechara o espaço aéreo e nosso avião não pôde decolar. Parte da nossa delegação de brasileiros desistira ao saber que a única possibilidade de chegar a Akutan e retornar era navegar por oito horas. Saber conviver com o imponderável é condição-chave para viver e trabalhar em Dutch Harbor, o maior porto pesqueiro dos Estados Unidos em volume (345 milhões de kg em 2014). Em um espaço de horas, um céu de brigadeiro pode ceder lugar a uma tormenta com ventos de dezenas


Parte do esforço do Alaska Seafood Marketing Institute (ASMI) para incrementar a ainda tímida presença do Brasil entre os clientes do pescado selvagem do Estado norte-americano. Segundo o relatório mais recente da ASMI, o Estado exportou o equivalente a US$ 3,2 bilhões em todo o mundo, principalmente para a China (90% para reprocessamento), Japão e Europa, além do mercado doméstico, que representa US$ 1,1 bilhão. Patamar muito superior aos US$ 7,7 milhões de faturamento registrado

12 anos de gestão de pesca de demersais no Alasca 40.0 35.0 30.0 25.0 20.0 15.0 10.0 0.5 0.0 2004

2006

BIOMASSA TOTAL Milhões de toneladas de peixes demersais do Alasca geridos em âmbito federal

2008

2010

2012

TOTAL DE ABC Sigla para Acceptable Biological Catch (Captura Biológica Aceitável): nível sustentável definido por cientistas

com os brasileiros em 2014, de acordo com a ASMI. Apesar da disparidade, a expansão recente é considerada dentro da entidade um feito e tanto: em 2012, quando o escritório no Brasil foi aberto, o País adquiriu apenas 31 toneladas de pescado do Alasca (receita de US$ 393 mil). Dois anos depois, já foram 2493 toneladas.

Peixes brancos A rápida e avassaladora introdução dos filés asiáticos no Brasil nos últimos cinco anos criou, por um lado, um cenário complexo para a introdução dos produtos do Alasca pela falta de competitividade no preço. No entanto,

2014

2016

TOTAL DE TAC Total Admissível de Capturas (TAC): volume de peixes autorizados para pesca

também foi determinante para que os norte-americanos, cientes do potencial disponível aqui, se animassem a lutar por este mercado. Rasmus Soerensen, vice-presidente de vendas da American Seafoods, é um deles. “Todos nós prestamos atenção quando a polaca chinesa entrou no Brasil: saíram de 0 para 50 mil toneladas em cinco anos.” A companhia, uma das gigantes do segmento, começou a explorar o Brasil há quatro anos e logo se deparou com as exigências do Dipoa. Decidiu, então, registrar todos os barcos-fábrica da frota e os produtos, que além da polaca incluem a merluza do Pacífico, a solha e o bacalhau do Pacífico. O objetivo é

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Dutch Harbor é o ponto mais conhecido das Aleutian Islands, um arquipélago de 69 ilhas em uma área de 2 mil km que separa o Mar de Bering do Oceano Pacífico e se prolonga como uma península ao sudoeste do Estado do Alasca. Três a cinco voos diários de 2h15 – se o tempo permitir – saem de Anchorage, a maior cidade do Alasca, com diversos executivos do setor: a cidade abriga diversas plantas, como a Unisea e a Westward, que receberam em março uma visita de uma delegação de importadores brasileiros, da qual fez parte a Seafood Brasil. É ponto de partida ainda para Akutan, onde está uma das fábricas da Trident Seafoods.

Dutch Harbor: colonizada por mercadores russos de pele, hoje é o maior porto de pescado dos EUA

MILHÕES DE TONELADAS MÉTRICAS

Não é o conforto, mas o dinheiro e a aventura de estar num dos locais mais remotos do planeta que mobiliza uma indústria altamente empregadora. A jornada de até 16 horas por dia durante três meses no chão de fábrica não assusta quase 3500 pessoas que trabalham no processamento do pescado para ganhar US$ 18.400 ao ano (R$ 63.600), fora a hospedagem e alimentação – gastos bancados pelas empresas. E tudo vira economia: além de alguns poucos bares e supermercados, ou talvez um pouco de turismo, não há onde gastar.

Michael Kohan/ASMI

de km/h e tudo o que um brasileiro pode desejar é estar no conforto da calefação, longe das dezenas de graus abaixo de zero da vida lá fora. Mas Unalaska, cidade que abriga o porto, não é para quem deseja ver a vida passar pela janela.


Principais espécies do Alasca Mar de Beaufort

claro: estar com tudo pronto quando o mercado engrenar. “A questão é que estamos prontos a oferecer produtos com qualidade e quando o mercado estiver pronto será completamente diferente do que está à disposição hoje”, diz.

Mar de Chukchi RÚSSIA

ALASCA

Mar de Bering

Ilhas Aleutas

BRASIL • ABR/JUN SEAFOODSEAFOOD BRASIL • ABR/JUN 2016 • 2016 32 • 32

Golfo do Alasca

Pacific Cod – Bacalhau do Pacífico Gadus macrocephalus

Pacific Halibut – Alabote do Pacífico Hippoglossus stenolepis

Alaska Pollock – Polaca do Alasca ex-Theragra chalcogramma, agora Gadus chalcogramma

Black Cod – Peixe-carvão-do-Pacífico Anoplopoma fimbria

Arrowtooth Flounder - Alabote Dente-Curvo Atheresthes stomias

Salmon King - Salmão Real Oncorhynchus tshawytscha

Salmon Coho - Salmão Prateado Oncorhynchus kisutch

Salmão Keta - Salmão Chum Oncorhynchus keta

Salmon Pink - Salmão Rosado Oncorhynchus gorbuscha

Salmon Sockeye - Salmão Vermelho Oncorhynchus nerka

Snow Crab - Caranguejo das Neves Chionoecetes opilio

King Crab - Caranguejo Real Paralithodes camtschaticus

Soerensen faz menção específica à polaca (Theragra chalcogramma), que em sua maioria no Brasil é pescada na Rússia, onde é congelada a bordo, e processada em plantas chinesas, nas quais recebe novo congelamento e a adição de aditivos, como o tripolifosfato, na água de congelamento. O expediente é permitido pelas autoridades brasileiras, desde que o químico não seja injetado na própria carne. No Alasca, em geral o peixe é abatido e processado com uma diferença que não supera 48 horas entre o barco e a planta, o que dispensa a necessidade do congelamento a bordo. “A diferença típica de preço é normalmente 10%, mas isso depende da quantidade de química e glazing. Mas nosso foco não é competir no preço, são diferentes segmentos, embora nossa qualidade seja melhor”, defende. A opinião faz eco a uma das principais estratégias recentes da ASMI: fazer com que a Rússia não chame seu produto de “polaca do Alasca” (Alaska pollock). Impulsionados por uma certificação do Marine Stewardship Council (MSC), os russos inundaram o mercado europeu com polaca mais barata e provocaram uma redução dos preços. Por outro lado, a captura em águas estadunidenses cresceu de 1,36 milhão de toneladas em 2013 para 1,42 milhão há dois anos, e a expectativa é que siga em expansão. Outro mercado que sofre com uma desvalorização importante é o bacalhau do Pacífico (Gadus macrocephalus), que o Alasca pretende vender fresco ao Brasil. A primeira experiência de impacto no varejo ocorreu há três anos, quando a Nativ Pescados trouxe o produto em co-branding com a Trident Seafoods. Marcelo Eiger, responsável na época pela novidade, não por acaso hoje é o gerente geral no Brasil para as atividades da norte-americana no País.


Unisea: onipresença em Dutch Harbor Com tentáculos por toda a cidade, a Unisea opera uma planta em Dutch Harbor com 600 a 1200 pessoas, dependendo da época na temporada. Mas também é dona do melhor hotel da cidade, o Grand Aleutian, próximo ao frigorífico, e de um dos maiores bares locais, o Unisea Sports Pub. Compartilha ainda com outros empresários sem relação com a empresa a propriedade de uma frota de 12 a 14 barcos para polaca, 4 a 6 barcos para o bacalhau do Pacífico e 10 a 15 embarcações para caranguejos. O frigorífico da companhia tem a vantagem de possuir um atracadouro para esses barcos, o que torna a operação muito mais ágil. Uma bomba de sucção despacha a produção direto para a triagem, que encaminha as principais espécies ao processamento. “Processamos em torno de 2.300 toneladas de bacalhau, 4.500 toneladas de caranguejos e 150 mil toneladas de polaca para blocos e produção de surimi”, conta o gerente de vendas, Daniel Sullivan. Isso gera um faturamento entre US$ 180 e 200 milhões por ano, que engrossa os rendimentos do Grupo Nissui, proprietário da empresa. Os japoneses, aliás, são o principal destino do surimi de alta precisão fabricado ali. O Brasil ainda não tem grande participação nos negócios da Unisea, como revela Marcelo Lempê, executivo responsável pela JP Klausen. “É possível considerar um mercado de aproximadamente 1.000 toneladas de polaca HG para o mercado brasileiro por ano”. No mundo, as vendas da espécie, seja em bloco ou surimi, ficam em torno de 180 a 210 mil toneladas.

tamos que podemos servir aos nossos clientes melhor com um escritório local e um representante que fale a língua nativa”, descreve Iryna Bokan, gerente de vendas da Trident. Um nativo pode fazer a diferença diante de algumas barreiras, como o

preço e o desconhecimento do produto. O desafio que a Nativ teve, naquela época, permanece o mesmo: como promover no Brasil um peixe conhecido pela sua apresentação como bacalhau, sem gosto de bacalhau? É a luta que pretende empreender a Kalena, que na última Apas lançou os lombos de

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A abertura de um escritório local é um indicativo da confiança no potencial. “O Brasil é um mercado importante, já que o consumo de pescado continua crescendo e há muitos oportunidades de longo prazo para o pescado do Alasca. Pela nossa experiência em outros mercados, acredi-


Capa Akutan: a cidade-frigorífico Foi rumo a Akutan que o capitão Ed French nos levou a bordo do Gladiator, um arrastreiro de 124 pés especializado em polaca. Guiados por ele em um calmo trajeto de quatro horas a leste de Dutch Harbor, ainda absorvíamos o retrato do imponderável clima da região quando tivemos uma vista pouco crível. Encravado no sopé de uma cadeia de montanhas nevadas, um pequeno vilarejo com mais contêineres que casas desponta no horizonte. Akutan é Trident Seafoods. Trident Seafood é Akutan. Construída na década de 70 com o objetivo de reduzir o tempo entre as áreas de captura no Alasca e o processamento, a planta até hoje parece um projeto improvável – até que se nota como ela se materializou a partir da visão do fundador, Chuck Bundrant. O frigorífico é um dos 13 que a companhia construiu no Estado ao longo de 40 anos, mas certamente é o mais pitoresco de todos. O volume de processamento realizado ali todos os dias é monstruoso: mais de 1.300 toneladas de kg de peixe in natura por dia. Nos picos das temporadas, cerca de 1400 pessoas de todos os lugares do mundo – todas abrigadas em alojamentos fornecidos pela própria Trident – trabalham em uma jornada de 14 horas. No refeitório, um chef prepara as mais diversas opções do mundo todo com pescado, cuidado necessário para um perfil laboral tão internacional – de filipinos a quenianos, o chão da planta parece a ONU.

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No dia de nossa visita, o cardápio incluía bolinhos de polaca – para lembrarmos do análogo com bacalhau – e uma espécie de moqueca de peixe tão saborosa quanto a original. Antes do almoço, porém, fomos convidados a fazer um teste off-flavor do produto. O objetivo era sentir a textura e o sabor do peixe sem condimentos, certo? Sim, mas a Trident quis também evidenciar o que considera uma diferença fundamental entre a polaca disponível no Brasil e a oferecida por eles. “Infelizmente, o mercado brasileiro foi introduzido pela primeira vez a polaca de muito baixa qualidade com duplo congelamento, originada da China com alta porcentagem de fosfatos e glazing”, apontou Iryna Bokan, gerente de vendas e nossa mestre de cerimônias. “Essa qualidade inferior prejudicou a percepção dos consumidores brasileiros sobre a polaca do Alasca.”

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bacalhau do Pacífico em sacos de 440g, chamando-os de Pacific Cod. Para o sócio Eilon Schreiber, que integrou a missão ao Alasca, há um entrave ainda maior. “Temos encontrado uma barreira cultural que é a venda do pescado congelado. Nosso produto congelado que vem do Alasca é mais fresco que os pescados frescos locais”, garante.

A resistência ao congelado também atrapalha uma maior evolução das exportações das cinco espécies de salmão selvagem do Alasca ao Brasil: king, sockeye, coho, keta e pink. Isso porque o Chile, que reina absoluto por aqui com o Salmo salar do Atlântico, construiu o mercado com base no eviscerado e com cabeça fresco, adorado pelos restaurantes orientais que o filetam para sashimi. Só em 2015, o Brasil comprou 75 mil toneladas do produto. Só que o bloom das algas e uma greve decorrente pegaram o Chile desprevenido, motivando escassez de produto e altos preços. Resultado: os brasileiros nunca compraram tanto salmão congelado chileno. Entre janeiro e maio de 2016, somando filés e inteiros, foram 6,6 mil toneladas, contra 3,9 mil no ano anterior. E aí que está o pulo do gato do Alasca, ou melhor, o pulo do salmão contra a corrente. Importadores consultados pela Seafood Brasil estão ansiosos pelos resultados da safra de salmão

Missão brasileira no Alasca: a partir da esq., Eilon Schreiber (Kalena), André Scartozzoni (Eataly/St. Marché), Alvercinio Vieira (Sirius Brazil), Carolina Nascimento (ASMI Brasil) e Marcelo Lempê (JP Klausen Brasil) selvagem deste ano (veja mais na cobertura da Apas 2016 nesta edição). Os resultados já começam a aparecer. “Nossas vendas de salmão selvagem no Brasil estão com crescimento muito positivo. Estamos experimentando vendas não apenas de espécies menos valorizadas, como pinks e chums, mas também estamos vendendo o sockeye”, antecipa Iryna, da Trident. O sockeye, ou vermelho, compete pelo mesmo mercado do salmão Atlântico, os restaurantes japoneses. Outro executivo, que prefere não se identificar, esteve na Apas para medir a temperatura do interesse, e ficou animado. “Começaram a me perguntar sobre despachos de salmão fresco do Alasca, o que nunca foi considerado como possível. É algo que consideramos fazer por conta do preço atual do

salmão chileno”, diz. As consultas comprovam, segundo ele, que a origem do Alasca hoje é muito mais familiar aos brasileiros. “Oito anos atrás, 99% da população brasileira não sabia que havia mais de um tipo de salmão. Hoje em dia muitos mostram interesse.” Alguns problemas podem afetar levemente esse plano de expansão. Com uma queda revista de 6% na oferta chilena mundial este ano, tudo indica que esta safra será uma das mais disputadas dos últimos anos. Além disso, espera-se uma queda na captura do sockeye de 11% em 2016, para 47,7 milhões de peixes. Isso era até esperado, já que a pesca em 2015 teve o melhor resultado em 10 anos. A tendência também é de queda para o coho e o pink, mas o chum deve crescer para perto de 19 milhões de peixes.

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Salmão selvagem contra a corrente


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A oferta mais rentável dos EUA SEAFOOD BRASIL • ABR/JUN 2016 • 36

Ponto central na história da independência dos Estados Unidos, Nordeste americano também ocupa lugar de honra na indústria pesqueira com vieiras, lagostas e outras espécies menos valorizadas

S

e o porto de Dutch Harbor, no Alasca, é o maior dos Estados Unidos em volume, New Bedford, em Massachussets, vence naquilo que os norte-americanos sabem fazer bem: faturar. Só em 2014, o porto movimentou US$ 329 milhões com uma oferta de pescado de alto valor: lagostas e vieiras, principalmente. Assim como o entorno de incontáveis belezas naturais e a remota localização dão ao Alasca um certo glamour aventureiro, o perfil das empresas dessa

região da Nova Inglaterra – muitas delas nas mãos de imigrantes, como portugueses – é mais sóbrio. Não significa que o pescado seja uma atividade de segundo escalão, pelo contrário, mas as dimensões e as características são outras. O Estado cuja capital é Boston tem em torno de 100 mil empregos relacionados à indústria pesqueira, muitos deles associados à captura e processamento da vieira (Placopecten magellanicus).

Já o Maine, mais ao norte, é conhecido como a terra da lagosta americana (Homarus americanus), responsável por um faturamento superior a US$ 450 milhões anuais. Todo esse potencial do entorno converge para o porto de New Bedford e a cidade de Boston, que não por acaso hospeda a segunda maior feira de pescado do mundo, a Seafood Expo North America, e tem uma longa lista de restaurantes especializados no ramo.


A tradição remonta a 1600, quando os nativos indígenas já usavam a área que hoje abriga o Fish Pier como um ponto de comércio de peixes e frutos do mar.

Para Emily, da Calendar Islands, pescadores do Maine precisam desenvolver novos caminhos para comercializar as lagostas: Brasil está nos planos A anedota fez parte da apresentação da missão de compradores realizada pela Food Export USA Northeast, dias antes da feira de Boston. No histórico prédio onde ocorriam as negociações, compradores da China, Coréia, Hong Kong, França, Alemanha e Brasil participaram de uma rodada de negócios que pretendeu aprimorar

o conhecimento sofre a oferta de pescado do Nordeste dos EUA. Que não é pequena: a plataforma continental mais extensa que em outros países, somada aos nutrientes extras carreados pelas águas quentes da Corrente do Golfo, fazem deste litoral um ambiente propício para o desen-

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Quando foi inaugurado, em 1914, o píer tinha a maior máquina de gelo do mundo. 50 anos depois, o espaço já comercializava 150 mil toneladas de pescado. A maior parte das capturas realizadas na região era negociada ali mesmo, o que rendeu boas histórias. Diz a lenda que, certa vez, um comprador não gostou do peixe que estava negociando e o atirou pelo salão para atingir seu fornecedor. Acabou por acertar outro comprador na boca; este perdeu os dentes, mas depois mandou a conta da extração dentária. Hoje ele perdeu relevância comercial para New Bedford e abriga poucas empresas.


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volvimento de várias espécies. “As principais são, sem dúvida, lagostas e vieiras, mas aqui também temos alabote, peixe-sapo, raias, spiny dogfish (um tipo de cação), lula, acadian redfish (um peixe vermelho) e outras”, sinaliza Bonita Oehlke, coordenadora de marketing do departamento de agricultura de Massachusetts.

Principais espécies do Nordeste

Maine Vermont

New Hampshire Massachusetts Rhode Island Pennsylvania Connecticut Delaware New Jersey Nova Iorque

EUA

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Oceano Atlântico

Acadian redfish Sebastes fasciatus

Spiny Dogfish Squalus acanthias

Lobster – Lavagante Homarus americanus

Scallop - Vieira gigante Placopecten magellanicus

Surf clam – Amêijoa Spisula solidissima

Já o símbolo de Massachussets, que tem até uma estátua na Câmara dos Deputados, não foi nem mencionado. O bacalhau do Atlântico (Gadus morhua), mesma espécie pescada na Noruega, está em falta. Uma série de restrições à pesca comercial e recreativa aplicadas desde 2014 (este ano a cota foi reduzida em 62%) pretende promover uma recuperação dos estoques, que tiveram uma abrupta queda. Segundo cientistas do Instituto de Pesquisas do Golfo do Maine, um rápido aquecimento das águas do Golfo do Maine, somado a anos de cotas superestimadas, prejudicaram a reprodução e aumentaram a mortalidade da espécie. O caso provocou uma intensa discussão a respeito do modelo de estabelecimento das cotas, que pela falta de uma conclusão definitiva ainda fecha as pescarias da espécie. Sabe-se, porém, que as demais cotas estão funcionando bem, dado o estágio dos estoques. A lagosta é um bom exemplo. “Não existe sobrepesca, os estoques estão em relativa abundância desde os anos 2000 no golfo do Maine”, garante Deirdre Gilbert, diretora de políticas do Departamento de Recursos Marinhos do Maine. Pelo quarto ano consecutivo, a safra deverá superar os 50 mil toneladas. Se é sustentável, é também lucrativo. A indústria de pescado no Maine fatura perto de US$ 1 bilhão. “Cada barco é uma empresa produtora, são donos individuais licenciados. Atualmente são cerca de 5000 licenças, que pescam principalmente entre julho e novembro. A economia costeira do


“Trash fish não!”

Maine é muito ligada à lagosta.” Emily Lane, da Calendar Islands, é uma das pioneiras. Com 27 anos de experiência no ramo, ela garante que a pesca da espécie só cresce. “Desde os anos 80, vi a pescaria crescer de 8 milhões de kg para 60 milhões de kg.” Só que, tal como no Brasil, a lagosta nos EUA é uma iguaria de nicho. “Quanto mais você se afasta da Nova Inglaterra, onde ocorre a pesca, menos as pessoas têm contato. Nos últimos 7 anos, o Estado do Maine investiu US$ 2,5 milhões para promover domesticamente a lagosta. Recebemos chefs, que se juntam aos pescadores para educar as pessoas no varejo sobre os benefícios da lagosta”, conta. Além de crescer no próprio território, a lagosta do Maine quer alçar voos

mais longos. O Brasil, que já fez importações da mesma espécie proveniente do Canadá, está nos planos. “Precisamos desenvolver novas avenidas para mover nosso produto e contar nossa história de qualidade.” Os integrantes da missão brasileira convidada pela Food Export Northeast confirmaram o interesse. “Esperamos de até final desse ano iniciar a operação de importação de lagosta”, diz Alessandro Souza, diretor de comércio exterior da Vivenda do Camarão. Algumas amostras deveriam chegar no início de junho e, a partir de então, Souza disse pretender formatar os preços. O mercado brasileiro animou os participantes da rodada de negócios organizada pelo órgão em março. Muitos deles comentaram que já pretendiam vender produtos para a época

A mesma preocupação que existe com alguns chefs ligados à pesca artesanal brasileira permeia o trabalho de Story Reed, que administra o programa de licenças da Divisão de Pesca Marinha de Massachussets. “Não gostamos que chamem os peixes de trash fish (peixes lixo).” Ele se refere às espécies de menor valor, que no Brasil são conhecidas como mistura. O Estado também pretende incrementar as vendas externas desses produtos, que têm a favor um preço muito abaixo. O spiny dogfish (Squalus acanthias), por exemplo, rende filés ou postas como o cação e o kg foi vendido em 2014 a uma média de 46 centavos de dólar o kg. Na última safra apenas 32% da cota de 25 mil toneladas foi pescada. Caso similar ao do acadian redfish (Sebastes fasciatus), cuja captura em 2014 representou 35% da cota e teve preço de US$ 1,21. Outra opção pouco valorizada é o scup (Stenotomus chrysops), que só teve 15% da cota capturada pelo pouco interesse, apesar do preço de US$ 1,32 o kg.

Apesar de ser a mesma Homarus americanus com as famosas pinças de até 50 cm, a temperatura esquenta entre canadenses e norte-americanos quando se compara a qualidade das lagostas. Para Ezequiel Navatta, responsável pelo mercado brasileiro na Clearwater, a temporada de pesca no Canadá se concentra antes da muda, entre novembro e julho, quando os crustáceos estão com a carapaça mais dura, o que representaria maior porcentagem de carne. No Maine, a pesca é liberada o ano todo, mas ocorre principalmente nos meses de julho a novembro, quando os animais estão na troca na muda e com a carapaça mole. Na visão dos estadunidenses, o soft shell é valorizado porque a carne seria mais macia e doce que em qualquer outro momento da vida do crustáceo. Talvez ambos tenham razão e o veredito seja uma questão de preferência.

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Lagosta: briga de pinça grande


Capa Quem dá mais? O coração da indústria pesqueira da Nova Inglaterra é o porto de New Bedford, o primeiro em faturamento com pescado nos EUA. São mais de 30 processadores e distribuidores de todos os portes, que recebem cargas de mais de 500 barcos. Para organizar um pouco a comercialização de tanto produto a tantos clientes, Richard Canastra e o irmão, Raymond, criaram em 1994 o leilão da Base (Buyers and Sellers Exchange), uma verdadeira instituição local. Funciona da seguinte maneira: um centro de armazenagem abriga os produtos trazidos na madrugada, que entrarão no leilão no dia seguinte. No dia de nossa visita, a abundância era de vieiras, armazenadas em sacos de 30 kg. “Ontem tivemos barcos desembarcando um total de 4 toneladas a um preço de US$ 8,27 o kg”, conta Canastra. Quem quer participar do leilão pode conferir a mercadoria in loco, mas o leilão é eletrônico. “Os compradores vão até o porto, dão uma olhada na carga e voltam aos seus escritórios para fazer o leilão via internet”, detalha. Os lances então são dados pela internet e os vendedores têm segundos para decidir se aceitam. “Quando o vendedor não estiver contente com o preço final do leilão, pode rejeitar. Aí o produto passa por outro leilão específico e acaba-se chegando a um preço aceitável. Foram muito poucas vezes que não se chegou a um acordo e o produto não foi vendido.” O preço inicial é definido por Canastra, com base no preço que o produto alcançou no dia anterior. “Sempre jogo menos imaginando que ele vai chegar a um preço similar ao do dia anterior”, revela.

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das Olimpíadas, mas não sabiam dos trâmites de registro de produtos no Dipoa – o que pode demorar mais de um ano. “O Brasil é um mercado intocado para a maior parte das empresas do Nordeste dos Estados Unidos”, reconhece Colleen Coyne, coordenadora do programa de pescado da Food Export USA Northeast. O objetivo agora, segundo ela, é incrementar o conhecimento sobre a boa variedade e qualidade do pescado da região.

Machado, da Eastern Fisheries, vê expansão no consumo de pescado no Brasil e espaço para vieiras gigantes

Superar a questão dos registros ainda é uma grande barreira. Conforme consulta da Seafood Brasil, das 21 empresas participantes da missão de compradores, apenas 6 estão autorizadas a exportar: Red’s Best, East Coast Seafood, Cozy Harbor Seafood, Ready Seafood, Cape Ann Seafood e Cape Cod Trading Co. A Eastern Fisheries, dona de 26 barcos que atua tanto na Costa Leste quanto na Oeste, quer disputar este mercado. “Já aprovaram nossa embalagem para as vieiras, mas agora estamos pensando em fazer o Dipoa também para nossa planta na China, pois temos uma planta com

muitos produtos lá que podem ser exportados ao Brasil”, confidencia Paulo Machado, responsável pelas vendas internacionais. “Para o Brasil temos interesse em exportar vieiras. Sei que o Brasil cresce em termos de consumo e os Jogos Olímpicos podem impulsionar um pouco o produto.” A empolgação não é casual, já que o consumo do molusco dá mostras de crescimento no Brasil. Só do Peru, importamos até maio 22 toneladas da Argopecten Purpuratus – no ano passado todo foram 17 toneladas. Do Canadá foram 12,4 toneladas em 2015. Em Santa Catarina, a produção da Nodipecten nodosus saltou de 5,6 toneladas em 2012 para 28,7 toneladas em 2013 e 30,2 toneladas há dois anos. Só que nem a peruana, nem a brasileira têm o tamanho das gigantes encontradas na Costa Leste dos Estados Unidos e Canadá. Os produtos já estão disponíveis no Brasil para alta gastronomia, importados pela canadense Clearwater – que também exporta a mesma espécie de lagosta encontrada no Maine.


A planta autocertificada Prestes a completar 30 anos de atividade, a Northern Wind é uma estrela local na produção e processamento de vieiras. São 6800 toneladas do molusco processadas por mais de 60 barcos contratados por eles. “Eles desembarcam as vieiras três vezes por semana. Em um dia está na Califórnia, ou em alguns casos pode ser desembarcado de manhã e à tarde está na Califórnia”, conta o gerente da planta, Paul Rego, a uma plateia de mais de 30 compradores de todo mundo, convidados pela missão da Food Export Northeast . Em torno de 30% da produção segue ao exterior, majoritariamente congelada. Segundo o executivo, neste caso a vieira recebe uma camada de glazing entre 3% e 4%, exigência de mercados de alto padrão na Europa e no próprio país. O frigorífico é certificado pela British Retail Consortium (BRC) e possui uma classificação (Grade A) no Ministério da Agricultura que dispensa a presença do fiscal do serviço de inspeção. “Podemos certificar e carimbar nosso próprio produto”, indica.

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Ao lado da linha de processamento, um enorme tanque conserva as lagostas que serão comercializadas dentro e fora do país. O sistema interessa particularmente aos asiáticos, cujo hábito é de importar as lagostas vivas. A estrutura contempla em torno de 30 toneladas de crustáceos por vez, que têm as pinças presas por laços e são acondicionados em caixas de isopor específicas para o transporte.


Direto da Produção

Padim/ Associação dos Criadores de Tilápia do Castanhão (Acritica)

Não deixe estas cenas se repetirem

Brasil precisa se preparar para ameaças sanitárias reais à produção de pescado em cativeiro, como o vírus TiLV; fornecedores, governo e acadêmicos concordam sobre a necessidade de construir uma articulação eficiente para prevenir e mitigar efeitos adversos

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O

s mais profundos temores de uma crise sanitária devastadora para a emergente piscicultura nacional ganharam corpo recentemente com a identificação do vírus que acometeu boa parte da tilapicultura em Israel, a partir de 2009. Cientistas das universidades de Columbia (EUA) e Tel Aviv (Israel) descobriram que o TiLV (Tilapia Lake Virus) é um orthomyxovirus que provoca a morte massiva de tilápias quando a temperatura da água está elevada. Na prática, o peixe fica letárgico, tem cata-

rata e erosões na pele, além de congestão no rim, baço e encefalite, segundo explica Fabiana Pilarski, doutora em aquicultura e responsável pelo Laboratório de Microbiologia e Parasitologia de Organismos Aquáticos do Centro de Aquicultura da Unesp (Caunesp). Um desastre de proporções similares às do Oriente Médio foi observado no Equador e a virose já foi registrada na Colômbia, nossa vizinha – o que torna o risco da introdução do patógeno no Brasil ainda mais real, porque ainda patinamos

no controle dos vetores. Um exemplo: aves piscívoras, com quem a piscicultura convive cotidianamente, como indica Santiago Benites, diretor da consultoria Aquivet. “Estes animais [são] potenciais reservatórios e agentes de disseminação de viroses, como o vírus da influenza.” Para o médico-veterinário, o risco de aves migratórias trazerem este vírus para o Brasil também deve ser considerado. “Afinal, no Equador e Colômbia o patógeno atualmente se encontra disseminado, acometendo peixes mantidos em gaiolas e em tanques escavados.”


Outra temeridade é a importação clandestina de matrizes ou formas jovens (larvas, alevinos e juvenis) contaminadas, cuja reprodução ou engorda potencializam a disseminação de doenças. Oficialmente, o Brasil está protegido, já que há legislação específica que rege a importação de tilápia. “A autorização para a introdução de animais ocorre somente após a realização de uma Análise de Risco de Importação (ARI) e a subsequente definição dos requisitos zoossanitários, caso haja evidência científica

suficiente que justifique a autorização de importação (IN MPA nº 14/2010)”, esclarece Eduardo de Azevedo Pedrosa Cunha, fiscal federal agropecuário do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). Atualmente, segundo o Mapa, foram finalizadas apenas as ARIs para tilápia originárias de Singapura e dos Estados Unidos, locais de onde não recaem suspeitas de presença do TiLV, assegura Cunha. Ainda assim, o temor persiste. “Caso um novo patógeno viral aden-

Máquinas mortíferas Atualmente, as doenças que causam maiores perdas na tilapicultura são causadas por bactérias, principalmente Flavobacterium columnare, Streptococcus agalactiae e iniae, Aeromonas hydrophila e Francisella, mas Pleisiomonas shigeloides, A. cavieae e A. veronii também ameaçam; estudos realizados em laboratório têm demonstrado que A. veronii é altamente patogênica para alevinos de tilápia e causa uma hemorragia severa no fígado e enterite. Para a truticultura nacional, a infecção por bactérias do gênero Weissella é uma preocupação, tal como o vírus da viremia primaveril da carpa para a produção de carpas. Para os peixes nativos, como tambaqui e seus híbridos, pintado e pirarucu, infestações por parasitas (internos e externos) e bacterioses de diversos gêneros. Fonte: Entrevistados

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Mortalidade massiva de tilápias no Açude do Castanhão, no Ceará, em junho de 2015: grandes reservatórios deixam piscicultores impotentes diante de mudanças nas variáveis físico-químicas e hidrobiológicas


Direto da Produção

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Divulgação/Caunesp

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Placa montada por Fabiana Pilarski mostra: 1) tilápia com Aeromonas hydrophila; 2) tilápia com Streptococcus agalactiae; 3) pacu com Flavobacterium columnare; 4) tilápia com Francisella sp

tre o território nacional, acredito que não temos ferramentas efetivas contra sua dispersão nos diferentes pólos de criação. Além disso, temos inúmeros reservatórios que se comunicam, o que favorece ainda mais a disseminação de doenças”, alerta Benites.

Os produtores estão muito preocupados. “O TiLV é devastador. O Brasil não pode correr o risco de importar tilápia de um país que tenha o vírus. O risco é grande demais para a piscicultura brasileira”, avaliou Eduardo Amorim, presi-

dente da Associação Brasileira da Piscicultura (PeixeBR). A entidade solicitou recentemente um estudo à Embrapa Pesca e Aquicultura sobre o TiLV e estimulou o diálogo sobre as descobertas com o Ministério da Agricultura.

Divulgação/Aquivet

Divulgação/Aquivet

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Infestações de parasitas como Perulernaea e vermes como Neoechinorhynchus são os principais problemas dos peixes nativos


Apesar de ser a bola da vez e justificar o temor suscitado, o TiLV é, ainda, apenas uma ameaça. Mais real é a profusão de bactérias, fungos e parasitas que já causa diversas doenças e prejuízos concretos. E o maior inimigo do peixe é, também, seu maior aliado: a água. “A produção aquícola é inteiramente dependente do ecossistema no qual está inserida, pois os peixes vivem em contato estreito com o seu meio”, ilustra Fabiana. A chave é entender que o peixe precisa ser preparado para o contato com os vetores, já que é impossível controlar todos. “Os peixes estão constantemente em contato íntimo com uma grande variedade de vírus, bactérias, fungos

e parasitas, alguns potencialmente infecciosos. O grau de infestação ou infecção dependerá do estado fisiológico em que o peixe se encontra e do número de patógenos presentes no ambiente”, adverte a doutora em aquicultura. De acordo com o Mapa, as doenças que mais afetam as tilápias são bactérias do gênero Streptococcus e a Francisella noatunensis (VEJA BOX). Em 4 de fevereiro de 2015, o MPA publicou a portaria n° 19, que lista as doenças de animais aquáticos de notificação compulsória ao serviço veterinário oficial. No entanto, são poucos os produtores que, de fato, comunicam uma ocorrência às autoridades. No Chile, para efeito de

comparação, recentemente a AquaChile, uma das maiores empresas locais, comunicou os órgãos oficiais sobre o registro de anemia infecciosa (ISA) em um de seus centros de cultivo, posteriormente controlada. A franciselose é uma delas aqui no Brasil. Com grande impacto nas fases iniciais de criação, a enfermidade pode ser controlada a partir da alevinagem. “Este segmento pode fornecer peixes saudáveis, livres da bactéria”, diz. Prevenir também é melhor do que remediar neste caso, já que as drogas disponíveis não atuam em tecidos conjuntivos e geram custos muito altos pela necessidade de se administrar doses muito elevadas – a bactéria atua dentro das células da pele do animal.

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Ameaças reais


Direto da Produção

O exemplo chileno A brasileira Cristina Kuroda é médicaveterinária e trabalha na Blumar, gigante salmoneira do Chile. Lá, segundo ela, uma legislação rigorosa controla as importações de ovas e realiza frequentes análises por amostragem, das ovas aos peixes de abate. Além disso, os laboratorios de ictiopatogia são cadastrados; todos eles e as empresas têm a obrigação de informar a autoridade quando há o diagnóstico de doenças da lista 1 e 2 de OIE. Como recomendação ao Brasil, Cristina indica: “legislação, ter laboratório de referência para diagnósticos, médicos-veterinários com experiência em aquicultura, ração de boa qualidade específica para cada espécie, planos de contingência quando ocorre mortalidade massiva, planta de ensilagem para mortalidade, realizar estudo de impacto ambiental, além de não forcar a fisiologia dos animais cultivando-os em altas densidades.”

No caso dos peixes redondos (tambaqui, pirapitinga, pacu e seus híbridos) as doenças parasitárias são os maiores desafios, como elenca Benites. “São dois patógenos principais: Perulernaea gamitanae (Crustacea) e vermes acantocéfalos, especialmente do gênero Neoechinorhynchus e Echinorhynchus.” Já no caso dos bagres nativos, como o pintado da Amazônia, um fungo que acomete a brânquia, chamado de Branchiomyces, perturba o principal pólo produtor da espécie – a região de Sorriso (MT), com perdas significativas. Outro grave problema, muitas vezes ignorado pelos produtores, é o controle de parasitas. Como esclarece Fabiana, estes se fixam nas brânquias e pele, além de se movimentarem e se alimentarem, causando “injúrias mecânicas” – portas de entrada para a invasão bacteriana ou viral. “Como exemplo, temos um estudo demonstrando que a presença de Trichodina spp propicia a infecção por Streptococcus sp e Edwardsiella sp em tilápia e por Streptococcus iniae ou Streptococcus agalactiae em catfish [bagre] e esta infecção dificilmente é controlada por antimicrobianos.” A doutora faz parte de uma pesquisa coletiva, chamada de IMPCON (Improved quality of cultured fish for human consumption ou Qualidade melhorada de peixe cultivado para con-

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Cuidado com os alevinos! Fabiana Pilarski reforça o alerta para a necessidade de um certificado de procedência e atestado que comprovem a condição de saúde de alevinos e juvenis, evitando assim a transmissão de patógenos de um local para outro. Como já citado pelo Mapa no caso de animais importados, todo peixe adquirido deve passar por um período de quarentena. “Esse período não deve ser inferior a duas semanas, pois a maioria das enfermidades, após um estresse de transporte começa a se manifestar 48-96 horas após o procedimento, além de permitir a adaptação dos peixes à nova condição.” Os quarentenários precisam estar distantes dos tanques da produção, com entrada e saída de água individual e próxima à entrada da propriedade, para facilitar a entrada do caminhão de transporte e o descarregamento dos peixes. “Também é muito importante o descarte correto da água de transporte dos peixes, esta nunca deve ser descartada na propriedade, pois pode conter uma carga elevada de patógenos.”

sumo humano, em uma tradução livre), em várias pisciculturas no Estado de São Paulo. Pesquisadores do Instituto de Pesca, APTA, Unesp e Instituto de Botânica, em parceria com a Universidade de Copenhagen, na Dinamarca, estão avaliando a qualidade da água e a saúde dos peixes. Segundo ela, os resultados prévios demonstraram elevada prevalência de bactérias do grupo das Aeromonas móveis e Streptococcus agalactiae. O estudo não revelou a presença de nenhum vírus nas pisciculturas paulistas. Benites assegura que nenhuma espécie de peixes de criação no Brasil sofre com viroses de grande impacto, comuns em outros países produtores. Isso, porque, segundo ele, “os tilapicultores já estão mais aptos na execução de programas para monitoramento e intervenção para esta doença durante o período de risco, que é o inverno”. Ainda assim, há riscos como o próprio TiLV, que é da mesma família do ISA, ou o ranavírus – acomete rãs e peixes de criação, mas não tem o potencial patogênico para peixes ainda muito conhecido.

Um protocolo para os protocolos Quando o setor produtivo começou a discutir a sério a ameaça do TiLV, diversas alternativas para tornar o Brasil imune ao problema começaram a ser elencadas. Parte do segmento sugere a criação de um protocolo de ações, uma espécie de manual do que fazer diante de uma crise sanitária. Países como o Chile dispõem de protocolos, ou planos de contingência, criados pela articulação entre setor público, privado e academia. Mas a definição destes papéis e a abrangência disso ainda não estão definidas. O próprio Mapa reconhece que não existe um protocolo ideal, “dada a complexidade técnica que o controle e erradicação de doenças de animais


aquáticos representa”. A partir [de um esforço integrado], diz Cunha, “poderão ser elaborados protocolos gerais e mais específicos, denominados de Planos de Contingência, para atuação em emergências sanitárias no qual ficam documentados e previamente validados quais são as ações e responsabilidades de aquicultores e autoridades sanitárias, notadamente o Serviço Veterinário Oficial (SVO)”.

A deficiência no diálogo entre os atores da cadeia é ilustrada por Marcelo Borba, consultor da Associação Brasileira de Criadores de Camarão (ABCC) que este ano deixou a entidade e assumiu a gerência de vendas técnicas para aquicultura da Phileo. “O que existe hoje é uma verdadeira ‘Torre de Babel’, onde cada um fala (e muitas vezes faz) o que pensa e ninguém se entende, literalmente”. Ele enxerga uma distância “enorme” entre a academia e a iniciativa privada na maioria dos casos. Outro que conclama pela união dos atores é Frederico Tomiita, da Ammco Pharma, braço do mesmo grupo da Suiaves para a aquicultura. Para ele, a abordagem da sanidade se inicia com a questão de legalização de empreendimentos, prevendo regiões críticas com estudos técnicos de locais apro-

Para Benites, impedir a livre circulação é a forma mais eficaz de controlar doenças priados do ponto de vista de qualidade de água, até a distância mínima entre as pisciculturas, além de um manejo regional de produções, como na salmonicultura chilena. “As boas práticas de produção integram esse pacote, assim como o uso de princípios de biosseguridade, de vacinas, e ainda de outras ferramentas que melhorem a saúde dos animais, como probióticos e aditivos nutricionais diversos”, acrescenta. Para o especialista, o problema é que, culturalmente, espera-se o problema chegar para então se tomar uma atitude, não só aqui no País. Benites simplifica a questão. “A ferramenta mais eficaz contra a disseminação de doenças é impedir sua livre circulação”, sintetiza. A qualidade da água, muitas vezes negligenciada pelos produtores, também é essencial. “A maioria dos produtores se preocupa com doenças, mas nem 10% sabe qual a qualidade da sua água”, assevera Fabiana. O manejo alimentar sem excessos também contribui ao evitar um “grande acúmulo de fósforo” no fundo, causado por restos

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André Camargo, diretor da Escama Forte, ressalta que o setor privado precisa se engajar mais na troca de informações sobre eventuais crises sanitárias para definir um protocolo. “Demoraremos um pouco para chegar a uma definição sobre este processo, pois os produtores brasileiros adoram desenvolver suas próprias regras e sequer compartilharem o que estão fazendo.”


Direto da Produção

O que ensina a experiência da carcinicultura Marcelo Borba, que por anos trabalhou com foco na carcinicultura, enxerga algumas lições que os problemas sanitários do cultivo do Litopenaeus vannamei no Brasil deixam à piscicultura: “Com a drástica queda da produção do Equador, por ocasião do vírus da mancha branca (WSSV, na sua sigla em inglês), a ABCC conseguiu, junto ao Mapa, que fosse publicada uma Instrução Normativa impedindo a entrada de qualquer tipo de crustáceo no País, independentemente da forma de apresentação e tipo de crustáceo. Tal medida retardou a chegada do referido vírus, que dizimou quase que totalmente a carcinicultura de Santa Catarina no ano de 2004. Em 2008, a Bahia também foi severamente afetada. Foi notado que a rota de infestação pela mancha branca tem sido do Sul para o Norte, na região litorânea de nosso País, exatamente o oposto do que aconteceu com a NIM (Vírus da Mionecrose Infecciosa - IMNV), que causou muitos prejuízos à carcinicultura brasileira e que começou no Piauí, “desceu” para o Ceará e depois para o Rio Grande do Norte e assim sucessivamente, até estar presente em todas as regiões produtoras de camarão. Em 2010, houve a tentativa de se fazer entrar no Brasil camarões da Argentina, tendo sido motivo da constante vigilância da ABCC, uma vez que há várias ARIs em tramitação, tanto para camarões como para peixes, inclusive tilápias, de vários países.

Neste sentido, várias foram e continuam a ser as ações tomadas pela carcinicultura, dentre as quais ele cita:

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Vigilância constante nos pedidos de Análise de Risco de Importações (e intervenções judiciais quando necessário)

Melhoramento genético, criando no Brasil linhas SPF e SPR

Elaboração de manuais de biossegurança e disseminação destes por meio de cursos

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Elaboração de Códigos de Conduta para fazendas de engorda, laboratórios de maturação e larviculturas de camarões, além dos centros de processamento

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Implementação do uso sistemático de berçários, aeradores, probióticos etc

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Adesão cada vez maior do conceito de produção em 3 fases: i) Berçários primários; ii) raceways e iii) viveiros de engorda, promovendo melhor controle de temperatura, possibilitando, desta forma, uma melhor produção e com maior número de ciclos de cultivo por ano


A convivência de animais mortos com vivos também representa intenso risco, já que estes são uma fonte de propagação de doenças infecciosas e parasitárias, além de degradar a qualidade da água. “A maioria das pisciculturas não realiza esse procedimento ou o faz de forma inadequada, deixando os peixes mortos muito tempo nos tanques antes de serem retirados”, sublinha Fabiana. Ela sugere que os peixes mortos sejam retirados rapidamente dos tanques e armazenados em locais apropriados, enterrados ou enviados à compostagem, jamais descartados rio abaixo ou no tanque afundado.

Como se vê, são muitas medidas cabíveis em uma eventual série de protocolos sanitários, mas é preciso organizá-las – e segmentá-las, como aponta Borba. “Um protocolo desenvolvido para peixes redondos será, certamente, bem diferente de um elaborado para peixes carnívoros, que por sua vez, não é o mesmo para tilápia.” E o sistema produtivo também joga papel importante na distinção entre os protocolos. “Criar tilápia em viveiros escavados é bem diferente de fazê-lo em tanques-rede. No primeiro, o produtor consegue ‘controlar’ e ‘manipular’ algumas variáveis ambientais, além de aplicar processos mais eficazes de biossegurança. Em reservatórios, os piscicultores muitas vezes se veem impotentes, não podendo

fazer nada no caso de intempéries ou de simples (e naturais) mudanças nas variáveis físico-químicas e hidrobiológicas da água.” Ele dá como exemplo mais flagrante do tema a recente morte massiva de peixes no Açude do Castanhão, no Ceará, agravada pela prolongada estiagem.

A responsabilidade do governo Todas as atribuições federais relacionadas à sanidade aquícola hoje estão concentradas no Mapa, depois da extinção do MPA. Em termos de legislação, já há bastante referência disponível. No caso das formas jovens, por exemplo, existe um programa de monitoramento sanitário de alevinos de tilápia, criado

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de alimento não consumido somados aos dejetos dos peixes.


Direto da Produção

Divulgação/Ammco Pharma

da Pesca e Aquicultura (Renaqua), que inclusive já desenvolveram um método para diagnóstico do TiLV – no laboratório central Aquacen.

“Ainda observamos ‘empreendedores’ entrando na atividade com a visão de que ‘criar peixe é fácil, é só dar ração e pronto’”, relata Frederico Tomiita, da Ammco Pharma

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pelo Mapa, (Portaria MPA n.411/2014), que até o momento não foi publicado a pedido do setor produtivo. O “Alevino de Tilápia Monitorado”, como foi chamado, faz parte do Plano Nacional de Certificação de Formas Jovens de Animais Aquáticos (IN MPA 22/2014) e que tem por finalidade garantir alevinos de melhor qualidade sanitária. Outra providência do SVO foi a publicação, em 24 de setembro de 2015, a Instrução Normativa MPA nº 10, que instituiu o programa “Aquicultura com Sanidade” (Programa Nacional de Sanidade dos Animais Aquáticos de Cultivo). Isso também faz parte da IN MPA 22/2014, que prevê o monitoramento de micro-organismos patogênicos que causam prejuízos ao aquicultor e permitirá, futuramente, a definição de estratégias de certificação sanitária de larviculturas de tilápia. Cunha, do Mapa, diz que a data para a entrada em vigor da norma que instituiu o programa foi prorrogada para 22 de setembro de 2017, também a pedido do setor produtivo. As ARIs das tilápias de Singapura e dos Estados Unidos também procuraram assegurar requisitos sanitários mínimos, como a quarentena. O Brasil dispõe de quarentenários credenciados pela Rede Nacional de Laboratórios

É neles que ocorre a execução de coleta oficial de animais com a finalidade de realização de testes diagnósticos microbiológicos, parasitológicos, de biologia molecular, de sequenciamento genético e de cultivo celular para a detecção de vírus. Se o Renaqua identifica um patógeno, comunica o Mapa, que pode tomar a decisão de, inclusive, destruir os animais. A respeito do controle em fronteiras, o Sistema de Vigilância Agropecuária Internacional (Vigiagro) controla e fiscaliza a importação e exportação de qualquer mercadoria relacionada à agricultura ou pecuária nos portos, aeroportos, fronteiras, entre outros. “Hoje o Vigiagro conta com 106 unidades de vigilância internacional distribuídas entre portos, aeroportos, fronteiras e portos secos”, descreve Cunha.

O papel dos fornecedores O atual combate à franciselose é um exemplo de como a articulação entre fornecedores da insumos para aquicultura e os produtores podem se articular em prol da biosseguridade e biossegurança. “Temos um alinhamento do setor produtivo, com indústria farmacêutica, nutracêutica e de ração para promover a melhor abordagem possível a um programa de monitoramento, preparação do animal para o desafio e ter estratégias para rápida intervenção quando necessário, com objetivo final de reduzir perdas e proporcionar estabilidade na produção”, conta Benites, da Aquivet. Fabiana indica que faltam mais vacinas disponíveis no mercado brasileiro. Atualmente, só há uma vacina licenciada para uso em peixes no Brasil, contra a bactéria Streptococcus agalactiae, injetada intraperitonealmente nos peixes. “Precisamos de mais vacinas múltiplas, contra

vários patógenos, administradas principalmente por imersão, a forma ideal de vacinação para a nossa piscicultura, pois permitiria a imunização de alevinos, garantindo a saúde dos peixes para o momento da engorda.” Ela menciona ainda a vacinação oral, que permitiria a administração do fármaco a um grande número de peixes ao mesmo tempo e por um período mais prolongado. A nutrição também é uma ferramenta de prevenção, não só pela administração nas quantidades corretas, mas na composição. “Alguns fabricantes de ração já incorporam, em determinadas linhas de produtos, conceitos relacionados ao uso de alimentos funcionais como probióticos, prébióticos (como a parede celular de leveduras, rica em mannanos, glucanos e proteínas), extratos de óleos vegetais, fontes alternativas ao selenito de sódio, como o selênio orgânico (que fica biodisponível), nucleotídeos etc”, descreve Marcelo Borba, da Phileo. Cunha, do Mapa, frisa a importância de os fornecedores buscarem registrar mais produtos de uso veterinário para a aquicultura, mas ressalva: “faz-se necessária a capacitação e a conscientização dos produtores sobre a importância da correta utilização dos produtos regularizados e registrados.” Tomiita, da Ammco Pharma/ Suiaves, reforça a ideia. “Ainda observamos ‘empreendedores’ entrando na atividade com a visão de que ‘criar peixe é fácil, é só dar ração e pronto’. Nada mais enganoso.

Anote na agenda! 13 a 15 de julho de 2016 Curso e Workshop de Sanidade em Piscicultura e Feira Nacional da Piscicultura Local: Unesp, Jaboticabal (SP) Inscrições: http://bit.ly/fenapis2016


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Fornecedores

Manual Qual é o melhor método para produzir filés, descamar ou descourar com alto rendimento? Perguntamos a consultores e fornecedores do Brasil e do exterior para ajudar você em uma das principais decisões no planejamento de um frigorífico

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Pense no seguinte cenário: o maior salão de um frigorífico abriga 30 trabalhadores que empunham suas facas 8 horas por dia em uma luta árdua com as carcaças para extrair o melhor filé. A folha de pagamento desta área do frigorífico pode chegar facilmente a R$ 100 mil mensais. O índice de turn-over é muito alto e a dificuldade de preencher estas posições faz com que as empresas enviem ônibus para buscar colaboradores em cidades distantes 60 km da planta.

A

mbas as situações são totalmente hipotéticas, frutos da imaginação e observação da equipe da Seafood Brasil. É até provável que o leitor já tenha vivenciado algo similar na gestão de sua planta industrial, mas o objetivo aqui é mostrar que não existem verdades absolutas na decisão sobre seu frigorífico. As máquinas automáticas, cada vez mais precisas e com payback mais rápido, podem ser a melhor solução em determinados casos,

enquanto a filetagem manual permite uma flexibilidade de cortes que gera altas margens aos frigoríficos e pode compensar o elevado custo laboral. A unanimidade reside no fato de que é preciso ter um conhecimento profundo das espécies trabalhadas, os mercados onde elas podem se inserir, os produtos que serão desenvolvidos naquele frigorífico, o retorno esperado sobre o investimento e outros fatores que irão subsidiar a decisão. “As

vantagens do processo manual estão relacionadas mais com o que se deseja como produto final. O processo manual permite um detalhamento em cada tarefa e o processo automático determina uma escala de produção em tonelagem maior”, sintetiza Tarcísio Barbosa, gerente de vendas da Bettcher para a América Latina. A empresa já se tornou no mundo inteiro sinônimo de trimmers, uma versão industrial das facas elétricas:


Automático

lâminas alimentadas por fonte elétrica ou pneumática, manipuladas por um colaborador, dedicam-se a tarefas como limpeza da linha de sangue, limpeza da gordura da barriga e imperfeições no filé. A experiência com todas as demais proteínas animais fez com que a empresa desenvolvesse soluções específicas para pescado. “[Nosso diferencial são as] lâminas com angulação de corte, especialmente desenhadas para trabalhos na carne de pescado, motores com

velocidade adequada para as tarefas relacionadas à filetagem de pescado e um serviço de pós-venda que garante um acompanhamento do consumo de partes desgastáveis, além de treinamento contínuo de operadores e manutentores”, defende Barbosa.

elaboração de produtos a base de Carne Mecanicamente Separada (CMS). Já no atum, como indica o consultor Uilians Ruivo, usa-se o equipamento para remover a carne vermelha em lombo pré-cozido, destinado ao enlatamento, substituindo a raspagem com faca.

Um dos usos frequentes dos trimmers, além do acabamento do filé, é a remoção de carne na carcaça. No caso do salmão, as aparas de regiões como a cabeça, por exemplo, podem ser usadas para a

Voltando à filetagem, Ruivo é um entusiasta das máquinas automáticas. “Somente a tilápia conta com este recurso automático no momento, embora uma indústria brasileira que trabalha

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Agora considere esta situação: em outro frigorífico, por pouco mais da metade da folha de pagamento de um salão de filetagem manual, o gerente industrial decidiu importar uma máquina de primeiro mundo que fileta automaticamente 40 peixes por minuto. Só que esta máquina foi projetada para bacalhau fresco e não se consegue fazer o ajuste fino para o pirarucu produzido nesta indústria. Os indicadores de rendimento de filé são desastrosos e os prejuízos, ao longo de meses de testes, superam o valor da máquina.


Uilians Ruivo crê na automatização como um caminho sem volta: “Enquanto alguns estão pensando, outros já estão utilizando há tempos” com grande volume de salmão também possua um equipamento para o filetamento mecanizado, específico para esta espécie.” Ex-gerente de produção e gerente industrial de frigoríficos do segmento, chegou a desenvolver croquis de algumas, como um descamador de tambaqui e uma mesa giratória para processar o pirarucu, para facilitar a sangria e a remoção da pele. O Brasil já dispõe, segundo o consultor, de um fornecedor que oferece filetagem automática com funcionalidades complementares, como um descamador por jato de água (que evita a formação de hematomas na carne do peixe); equipamento para cortar a cabeça e eviscerar a vácuo – “reduzindo grande-

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As boas e velhas facas Em qualquer mesa de filetagem manual, elas são onipresentes. As facas profissionais como estas da Tramontina são ferramentas que possibilitam a elaboração de cortes especiais, afinados com o perfil tão variado de espécies com viabilidade comercial no Brasil. A empresa não tem nenhum modelo específico para pescado, mas ainda assim indica três versões bastante usadas no segmento: 24603, nos tamanhos de 6” e 7” (lâmina flexível) com espessura de 2.5mm, 24622, no tamanho de 8” com espessura de 3.0 mm, e 24661, no tamanho de 6” (com cabos para mãos maiores) com espessura de 3.0mm.

mente a possibilidade de contaminação e deixando a carcaça livre para ser submetida ao processo de recuperar a ‘polpa’ ou CMS”, completa Ruivo. Ele se refere à linha da Brusinox, de Brusque (SC), cuja filetadora automática tem capacidade para até 1.900 kg de matéria-prima por hora. Além da descamadora, a máquina inclui um insensibilizador elétrico, que pode ser complementada da descabeçadora e evisceradora a vácuo. A Brusinox também fabrica outros sistemas para filetagem manual de peixes, como transportadores com mesas para filetagem, mesas com calha, mesas lisas, entre outros. Apesar de não deixar as opções manuais de lado, Daniel Bacca, responsável pelo marketing da Brusinox, avalia que a automação é uma tendência nas indústrias de pescado. “Cada vez mais a escassez de mão de obra afeta o desempenho das empresas, [mas] um fator muito importante que devemos levar em consideração é o cálculo de quanto tempo o equipamento se pagará, pois dessa forma é possível calcular em quanto tempo a máquina trará o retorno esperado”, alerta. A islandesa Marel é uma das pioneiras no desenvolvimento de tecnologia de filetagem automática para pescado em todo o mundo, por enquanto focadas em espécies globalmente processadas. No salmão e na truta, por exemplo, a empresa integra soluções para o processamento primário, secundário a embalagem final. No caso de pescado branco, por conta das variações de espécies, tamanho e peso, os sistemas automatizados (flow line) contemplam estações de trabalho individuais, onde a filetagem é manual. A vantagem nesse caso é o sistema de gerenciamento de produção, chamado Innova. “Ele fornece

Divulgação/Brusinox/Global Sea

Acervo pessoal

Fornecedores

Descabeçadora da Brusinox tem sistema de sucção automática de vísceras uma base sólida para a coleta de dados confiáveis e garante a total rastreabilidade em todo o sistema”, garante Marcelo Serpa, Gerente de Vendas Marel Fish. Segundo ele, o sistema também permite o monitoramento dos principais indicadores de desempenho, como produtividade, rendimento, qualidade, capacidade e eficiência do trabalho, em tempo real. O executivo promete lançar “nos próximos anos” um equipamento para a filetagem de tilápia. Talvez aí a Marel poderá adaptar, de forma integrada a esse equipamento, sistemas de detecção e identificação de espinha, “tanto para a segregação de produtos durante o processamento, no que se refere a aspectos de segurança alimentar, quanto para o corte de filés”, explicita Serpa. Em 2014, a empresa lançou o Flexicut (foto na abertura da matéria), que localiza a espinha e faz o corte dos filés de pescado branco por meio de um jato d’água pressurizado. “O equipamento consiste na detecção


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Para Martins, da Globalsea, frigoríficos de menor porte também podem investir em automatização

através de um sistema de raio-X de alta resolução, controle de imagem (análise e reconhecimento) e um mecanismo de corte por jato d’água para a remoção da espinha”, descreve Serpa. Na avaliação de Ruivo, para que a espinha possa ser detectada por este sistema, é preciso que ela possua certo tamanho e espessura. “Aquelas que são removidas durante o corte em ‘V’ da tilápia são muito pequenas e não são detectadas por este recurso tecnológico.” A alemã Baader, outra gigante do ramo, apresentou na Seafood Expo Global, em Bruxelas, uma máquina de filetagem automática para

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Entraves à automatização As espécies de peixes processadas no Brasil, independentemente da origem (captura ou cultivo), apresentam algumas características que ainda dificultam a filetagem automática: • Tamanho (muito pequenos ou extremamente grandes); • Grande diversidade de espécies processadas em uma mesma planta industrial; • Pequenas escalas de produção do pescado; e • Características do esqueleto axial e apendicular do pescado. Fonte: Estevam Martins, diretor da Globalsea

Arquivo/Seafood Brasil

Acervo pessoal

Fornecedores

Máquina da Baader apresentada em Bruxelas fileta automaticamente 40 peixes por minuto peixes brancos pequenos e médios. A capacidade de processamento impressiona: 40 peixes por minuto. Ela é controlada por um painel touch e foi elaborada de forma que todas as partes mais afetadas por sujidades possam ser abertas para limpeza ou manutenção. O perfil de produto, e não o porte do cliente, irão determinar a aquisição de tecnologias como essa, na visão da Marel. “Independente do tamanho da planta produtiva, oferecemos equipamentos para desde pequenos processadores a grandes plantas de processamento de pescado. Quanto mais padronizado o produto de entrada (espécie, tamanho e peso), maiores serão as possibilidade de mecanização e automatização do sistema”, sublinha Serpa. Estevam Martins, diretor da Globalsea, tem visão similar. “Particularmente considero que frigoríficos de menor porte também podem investir em equipamentos que automatizem parte de seu processo produtivo, principalmente no descabeçamento e filetagem, o que pode reduzir significativamente os custos de produção”, analisa. Para ele, este tipo de investimento pode ser pago em um curto espaço de tempo. Normalmente associada a grandes empresas pelo custo elevado, a automatização na verdade responde mais às necessidades de rendimento. “Os grandes querem ter essas

máquinas, mas também são os que não querem ter perdas. E por mais que o maquinário futuro seja eficiente, sempre terá perdas, então dificilmente todos entrarão no automático”, diz o engenheiro da Branco Máquinas Joaquim Ferreira. Ele acredita que a perda das máquinas futuras de filetagem ainda está por ser descoberta. A Branco ainda não dispõe de nenhuma máquina na linha para automatizar a filetagem, mas Ferreira garante que está em andamento um projeto para tilápia, peixe que mais gera demanda por maquinário na empresa. Afora a filetagem, a linha tradicional contempla descamadeiras, descouradeiras, descascadoras, despolpadeiras e outros equipamentos. Alguns dos equipamentos são específicos para o processamento de peixes redondos, outra tendência importante para a Branco. Os nativos, aliás, são uma unanimidade quanto à complexidade do processamento. Martins, da Globalsea frisa o exemplo do tambaqui. “Para peixes com esta característica será fundamental a utilização de tecnologias como sistemas de raio-X para a verificação da localização das espinhas de seu esqueleto”. (Veja mais detalhes no BOX). Seja qual for a origem do pescado, tanto fornecedores quanto os frigoríficos ainda têm uma longa estrada a percorrer, juntos, para desenvolver soluções aplicadas aos diferentes perfis de necessidades dos processadores brasileiros.


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Personagem

De Niterói à pesca mortal A incrível trajetória de Daher Jorge, que deixou o Brasil para surfar nos Estados Unidos e está prestes a se tornar sócio de grandes armadores de pesca do Alasca

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Texto: Ricardo Torres

989. Em uma freeway da Costa Oeste dos Estados Unidos, Daher Jorge encosta a moto e conversa com seu carona no ponto de parada. Um policial se aproxima sorridente e os saúda: também é brasileiro. Logo oferece ajuda aos compatriotas caso precisem. Dois dias depois, sem emprego, dinheiro ou lugar para ficar em Seattle, precisaram. O policial decide bancar a estadia em um hotel, mas o colega abandona a aventura. Jorge então recebe o convite para morar com o novo amigo, que lhe ajudaria a conseguir um emprego. 2016. Casado com Tina e pai de Lucca, Laith e Sabine, Daher Jorge é um dos mais respeitados capitães de barco do Alasca – e nem é por sua participação na temporada inaugural da famosa série Pesca Mortal, do Discovery Channel. Com uma trajetória de recordes de captura e bons serviços prestados, ele está prestes a fazer uma oferta por 10% da Ocean Fisheries, empresa que o emprega para comandar a pesca do king crab, snow crab, vieiras e o bacalhau do Pacífico. A cada temporada de três meses, ele fatura algumas centenas de milhares de dólares. Quando aos 20 anos de idade surfava em Niterói, sustentado pela mãe, Jorge nem podia imaginar que chegaria a esse ponto. Seu sonho americano era desbravar as praias da Costa Leste e Oeste, mas ele cansou da sombra e água fresca e resolveu trocar tudo pela áspera, porém próspera vida no Alasca. Com a ajuda do mesmo policial, conseguiu preencher alguns formulários para trabalhar na indústria pesqueira. Logo estava empregado na então grande Ocean Trawl, hoje gigante American Seafoods. O trabalho era para o chão de fábrica. Jorge queria o convés dos barcos. Conheceu então portugueses que ganhavam US$ 80 mil por temporada, mas não lhe ofereceram trabalho. Finalmente conseguiu um posto no The Nordic, um barco de 68 pés, comandado por um capitão norueguês de 72 anos. Já mais misturado aos locais, foi convidado a integrar a tripulação de um barco de bacalhau onde fez US$ 8000 em três meses. Só que a pesca do king crab, em pleno Mar de Bering, era muito mais lucrativa – e perigosa.

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Como encarregado da isca, Jorge conseguiu embarcar em um barco-fábrica. A primeira viagem foi um sucesso. Na segunda, uma enorme tempestade o fez entender de perto a fama da pesca mortal. “Foi muito chocante. Ele estava ao meu lado. A água me jogou para dentro do barco e ele para fora”, conta. O colega nunca foi achado. “Hoje eu não coloco minha tripulação em ondas como essas. Não precisa fazer mais isso hoje em dia.” Mesmo assustado, tentou mais uma vez e foi demitido. Tina pediu que ele mudasse de ramo, mas a construção civil não rendia 1/3 do que ele ganhava e o mar o chamou outra vez. Depois de passar pela sala de máquinas e ajudar a elevar o Ocean Hunter a um dos mais lucrativos barcos do Alasca, realizou seu sonho. Foi à Costa Leste e tirou a carteira de capitão depois de um mês de intensos estudos. Transformou vários barcos em máquinas de fazer dinheiro. Agora, as ondas que Jorge surfa são outras: ele quer ser sócio da Ocean Fisheries.


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