Seafood Brasil #16

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O legado dos eventos aquícolas

seafood

SUPLEMENTO ESPECIAL

Tecnologia para frigoríficos

brasil

#16 - Jul/Set 2016 ISSN 2319-0450 R$ 20,00

www.seafoodbrasil.com.br

Em cardume é mais fácil Gestão compartilhada, maior poder de barganha e distribuição da riqueza atraem setor ao cooperativismo

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ACADEMIA E MERCADO JUNTOS


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Editorial

Construção da marca Brasil

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Outubro. Feira Conxemar, em Vigo. Estandes da Argentina, Chile, Equador, Peru – para citar apenas nossos irmãos do continente – celebraram o êxito do evento e da retomada dos negócios em um país que está no Top 5 de maior consumo de pescado do mundo. A Espanha é uma engrenagem fundamental no maior negócio de alimentos do planeta, mas não havia qualquer presença institucional que fizesse o Brasil se sentir parte deste clube. O setor privado esteve presente por conta própria, tal qual uma sardinha desgarrada do cardume diante de um grupo de tubarões.

ossos 8 mil km de costa e riqueza hídrica continental surgem em 10 em cada 10 discursos que ouvimos sobre o setor. Não que não seja verdade, mas não me parece que, por repetir as potencialidades à exaustão, magicamente converteremos o Brasil em uma força mundial do pescado. É certo que já estamos no caminho, como comprovam o cooperativismo que estampa nossa capa e os outros temas que reunimos nesta edição que o leitor tem em mãos, mas precisamos de muito mais. Agosto. Durante uma palestra do ex-ministro da Agricultura Roberto Rodrigues na feira Anutec, em Curitiba, fui procurado por Alberto Bicca, supervisor de agronegócio da Agência de Promoção de Exportações (Apex). Ele queria saber por que o setor não se interessava em criar um Projeto Setorial específico para promover as exportações de pescado. Rodrigues tinha acabado de falar da referência em carne bovina, suína e de aves que o Brasil é lá fora. Fiquei sem resposta.

A marca Brasil é forte em vários outros setores e espectros sociais, econômicos e esportivos, mas não podemos mais ser devorados no comércio internacional de pescado. Que todos unam forças em prol deste objetivo. Boa leitura!

Índice

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34 Ponto de Venda

39 Suplemento

18 Na Gôndola

Marketing

46 Na cozinha

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50 Estatísticas

Capa

58 Personagem

Expediente Redação redacao@seafoodbrasil.com.br

Comercial comercial@seafoodbrasil.com.br Tiago Oliveira Bueno

Publishers: Julio Torre e Ricardo Torres Editor: Ricardo Torres Diagramação: Emerson Freire Adm/Fin/Distribuição: Helio Torres Colaboraram nesta edição: Gabriel Kuhn e Pablo Perez

Impressão Maxi Gráfica e Editora A Seafood Brasil é uma publicação da Seafood Brasil Editora Ltda. ME CNPJ 18.554.556/0001-95

Sede – Brasil R. Domingos de Santa Maria, 329 São Paulo - SP - CEP 04311-040 Tel.: (+55 11) 4561-0789 Escritório comercial na Argentina Hipólito Yrigoyen, 4021 - C1208ABC C.A.B.A. – República Argentina julio@seafoodbrasil.com.br

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06 Cinco Perguntas

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5 Perguntas a Dayvson de Souza, secretário da Aquicultura e Pesca do Ministério da Agricultura

Entrevista

Ele quer a sua ajuda Secretário escolhido pelo PRB para a pasta da aquicultura e pesca, Dayvson Franklin de Sousa é aquicultor e quer setor próximo para ampliar estrutura e mostrar a potência do pescado Texto: Ricardo Torres

dade, com 45 funcionários, que o novo secretário precisa tirar leite de pedra. Aquicultor (“tenho um cultivo pequeno de tilápia, tambatinga e outras espécies no Maranhão”) e advogado (“especializado em Direito Público”) diz ter se se encantado pelo setor quando recebeu da então governadora maranhense Roseana Sarney o desafio de criar a secretaria local. “Em menos de dois anos, deixamos uma secretaria estruturada e com um plano de desenvolvimento e industrialização da aquicultura e pesca para o Estado”. É o mesmo tempo que ele tem – se a política permitir - para tentar fazer o mesmo na esfera federal.

ral da União, com providências tomadas em consequência por Helder Barbalho (PMDB) há um ano, que apontou desvios de recursos, estatísticas fajutas, pagamentos indevidos, entre outras irregularidades. A experiência mostra que, agora convertida em secretaria dentro do Mapa, a pasta é muito menos relevante tecnicamente do que politicamente. Afinal, que político dispensaria 923,4 mil pescadores profissionais cadastrados no Registro Geral de Atividade Pesqueira (RGP), segundo consulta feita em 15/09?

O sr. disse recentemente em evento na Fiesp que não houve transição para a criação da secretaria, que perdeu muito alcance com a redução do número de cargos de 900 para 45. O que é possível fazer com esta equipe e orçamento reduzido? Posso dizer com muita tranquilidade que não foi feito um trabalho de transição de um ministério com uma demanda incrível de infraestrutura, parlamentares, projetos em andamento, questões legislativas etc. Quando se fala na atividade dentro do Mapa, não há um entendimento dos níveis sobre os quais estamos falando em relação ao setor. Estou fazendo um trabalho de demonstrar isso ao ministro [Blairo Maggi] e ele tem se interessado em conhecer cada vez mais a capacidade do setor.

É com o peso deste cenário, em um governo pouco habituado com a ativi-

Não houve planejamento estratégico, foram ceifados os espaços da

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deputado Cléber Verde lidera a Frente Parlamentar Mista em Defesa da Pesca e Aquicultura e emplacou recentemente o terceiro filiado ao PRB em uma pasta associada ao setor. Ex-chefe de gabinete de Verde e ex-secretário de pesca e aquicultura do Maranhão, Dayvson Franklin de Sousa sucede os senadores Eduardo Lopes (2014-2015) e Marcelo Crivella (2012-2014), que trafegaram pelo Ministério da Pesca e Aquicultura (MPA). A gestão do candidato à prefeitura do Rio de Janeiro na autarquia inclusive foi escrutinada pela Controladoria Ge-


“A interlocução do ministério e com o governo é um desafio. O peixe é só uma parte do agronegócio, mas a diferença é que nós temos um segmento muito diversificado. A cadeia não é tão complicada, mas precisa fazer com que seus elos trabalhem em conjunto.” o Registro Geral da Atividade Pesqueira e emissão de carteiras de pescador, por exemplo, qual é o retorno que temos?

Queremos discutir a expansão da secretaria, porque com essa equipe e estrutura por enquanto só estamos apagando incêndio. Tenho em uma sala parados mais de 6 mil processos (convênios, outorgas, prestação de contas etc). Entendo que o setor queira destravar isso o mais rápido possível.

Em 1940 houve uma campanha nacional pela valorização do petróleo. Hoje não temos dúvida da importância daquele trabalho, mas foram 10 anos de briga.

Há boatos na mídia de que o Ministério poderia voltar. O que há de concreto nisso? Isso parte do Legislativo e Executivo, mas aqui no governo, particularmente comigo, nunca houve nada desse tipo. Mas eu entendo que políticos do setor se empenhem nisso.

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A interlocução do ministério e com o governo é um desafio. O peixe é só uma parte do agronegócio, mas a diferença é que nós temos um segmento muito diversificado. A cadeia não é tão complicada, mas precisa fazer com que seus elos trabalhem em conjunto. É estratégico e legítimo que um país como o nosso, com essa costa e o volume de águas continentais, tenha uma pasta. Que seja uma secretaria, mas mais forte. O setor precisa ser representado. Muito se fala em potencial, mas já há muito de concreto que foi realizado pelo setor produtivo. Como se pode demonstrar isso, inclusive ao governo?

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Sinto muito que não tenham dado muita atenção às estatísticas do setor. É isso que mostra como já estamos produzindo. Não temos consolidação das estatísticas, mas já podemos mostrar alguns números e gráficos. Precisamos ainda avaliar o retorno que algumas medidas realmente têm. Em relação à subvenção do óleo diesel,

Acho que o petróleo está se acabando e o pescado, principalmente através da aquicultura, é que vai trazer sustentabilidade para o País. E uma pesca bem ordenada também. Somos os maiores conservadores do meio ambiente. Tenho certeza de que podemos mostrar ao governo como podemos ser competitivos no mercado mundial, se fizermos este trabalho para demonstrar o potencial. Se colocássemos uma meta ousada de passar para 1% do comércio mundial de pescado ainda seria muito pouco. O sr. mencionou também que a 4 máquina pública é inchada e difícil de mover. Disse ainda que se o governo parar de atrapalhar um pouco já é uma grande coisa. De que maneira isso vai se materializar na sua gestão? O importante é sempre evoluir. Não devemos só pensar em não atrapalhar, embora isso já seja muito importante. O governo deve permitir que se tenha segurança para investir, acesso a crédito, uma valorização dentro das políticas governamentais, mas tem de fazer muito mais do que isso. Precisa olhar para a cadeia como um todo para ajudar a se fortalecer e sair daquela ideia do potencial. Precisamos realizar isso. O governo tem um papel de, pelo menos, diminuir a burocracia. Criar uma política de desenvolvimento do setor, não dá para viver de planos [ele se refere aos planos de desenvolvimento das gestões anteriores do

Ministério da Pesca e Aquicultura]. Dialogando com o setor é que vamos construir uma pauta positiva. Como fazer isso com uma equipe tão pequena? É difícil. Faremos uma reunião para discutir os pontos fundamentais para destravar o setor. Um deles é a reestruturação da secretaria. Não posso ter duas pessoas para analisar infraestrutura, três no setor de convênios, uma pessoa para emitir os registros e certificados de captura, não posso ter superintendentes não nomeados, enfim.

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[Com a extinção do MPA e criação da secretaria] Nós não estagnamos, retroagimos, mas não acredito que ficaremos neste formato, ou então não conseguiremos avançar. Sem desmerecer a equipe, são todos muito competentes, mas são poucos. Estou falando em uma estrutura com 200 cargos, tudo pensado de forma bem estratégica. Ninguém quer propor loucura. Não vou falar que vou fazer A ou B com a aquicultura ou a pesca. Estou bem positivo em relação a este governo, porque diálogo nós temos e eles querem saber o que está travando a atividade. Estou há um mês aqui [entrevista feita em 13 de setembro] e, com a minha equipe, se não criarmos uma pauta positiva não conseguiremos muito e nos tornaremos um peso para o governo. Estou mapeando com minha equipe quais são as necessidades do setor, mas de maneira muito pontual. Não quero ser presunçoso e dizer quais são as soluções, mas vamos construir isso junto ao setor. Com essa interlocução maior, tomaremos decisões juntas, não podemos nos isolar. É aí que conseguiremos levar uma pauta única para o governo.

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secretaria. A pesca esportiva é um exemplo, sumiram com esta diretoria. Quem cuida do que existia do ministério é a secretaria.


Marketing & Investimentos

Pontas amarradas Sequência de eventos voltados à aquicultura marca aproximação entre pesquisa e produção Fotos: Tiago Bueno

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s caminhos da ciência e da produção parecem finalmente convergir para eixo único, em que o esforço acadêmico se dará de maneira alinhada aos problemas de eficiência e produtividade dos atores privados. Esta é a linha mestra que pareceu percorrer a intensa agenda de eventos, que de julho a outubro teve Feira Nacional da Piscicultura (Jaboticabal – SP), Feira das Orquídeas e do Peixe de Maripá (PR), Aquishow (Santa Fé do Sul – SP), Aquaciência (Belo Horizonte – MG) e Feira Nacional de Peixes Nativos de Água Doce (Cuiabá – MT).

E o recado foi dado logo de cara por Luiz Ayroza, diretor do Instituto de Pesca de São Paulo, na abertura da Fenapis, em 28 de julho. “Os recursos humanos e

materiais para as pesquisas são difíceis. As coisas não acontecem na velocidade que gostaríamos, mas temos nos empenhado bastante para sensibilizar o setor produtivo em parceria para solucionar os problemas e temos buscado recursos para desenvolvimento de pesquisas junto à iniciativa privada, para cumprir a missão do IPesca”, disse. Ele reiterou que os maiores desafios residem na geração e transferência de tecnologia que possam atender às necessidades do setor. A percepção é de que uma nova era se estabelece no cenário da produção científica e a realidade no campo. “Existe claramente uma maior disposição para diálogo e aproximação entre a comunidade científica e o setor produtivo, principalmente da piscicultura continental”, sublinha Eric

Routledge, chefe-adjunto de pesquisa e desenvolvimento da Embrapa Pesca e Aquicultura. Presente ao Aquaciência 2016 (entre 01 e 05 de agosto), o pesquisador reiterou que a presença de diferentes atores da indústria no evento, com a PeixeBR como protagonista desta articulação, foi muito positivo. “Isso não resolve automaticamente todos os problemas, mas cria um ambiente de colaboração antes adormecido ou que de uma forma ou outra sempre foi superficial”, opina. Segundo ele, os pesquisadores de nutrição são aqueles que possuem mais histórico de interação com a cadeia produtiva. A avaliação da PeixeBR é de que esta aproximação é recente. “Hoje estamos mais separados do que há 15


Ele cita como exemplos de uma integração mais forte a Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (Apta), à qual está vinculado o IPesca, a Embrapa e o Aqua Pecege, grupo especializado no agronegócio aquícola dentro da Esalq-USP. “Queremos contaminar a todos e fazer com que os dois lados trabalhem bastante”, projeta Amorim. A Embrapa endossa a opinião. “Ainda há e deverá haver espaços para pesquisa básica, mas a pesquisa aplicada com foco em uma situação de vacas magras é a via de regra a ser seguida.” O futuro passa por projetos em rede e multidisciplinares. “Ou seja, com menos verba para projetos individuais, as instituições para se tornar competitivas deverão se integrar e formar redes de pesquisa e propor projetos de pesquisas em rede”, esclarece Routledge. Este é justamente o caminho por qual passa a Embrapa, que atualmente conta com 9 centros com pesquisadores experientes em aquicultura. “Formar redes internas é o primeiro passo para

Auditório lotado para a Feira Nacional de Peixes Nativos de Água Doce, em Cuiabá (MT) posteriormente buscar colaboração externa. São cerca de 60 colaboradores com formação e pesquisas em aquicultura que buscam mudar o perfil tradicional de atuação da universidade para a pesquisa aplicada com foco e transferência de tecnologia.” Já na Aquishow as discussões não passaram tanto pela aproximação da pesquisa da produção, mas dos velhos entraves ainda não superados. Entre os pontos levantados pela “Carta de Santa Fé”, documento criado no evento, estão: a necessidade de diminuir a morosidade dos processos de licenciamento ambiental, tanto em nível federal quanto estadual; desvincular o setor de aquicultura da pesca, principalmente no governo federal, uma vez que são atividades distintas e possuem diferentes realidades; e necessidade de melhor organização dos piscicultores em grupos, como associações e cooperativas. De acordo com Fernando Carmo, da Coordenadoria de Assistência

Técnica Integral (CATI), um dos organizadores da Aquishow, do ponto de vista técnico o foco foi outro. Pesquisadores defendem que aditivos e probióticos melhoram a performance e saúde dos peixes, com consequente melhora na produtividade e rentabilidade. “Por outro lado elevam o custo de aquisição do alimento. A avaliação que o piscicultor faz, e deve fazer, é se diminui ou aumenta o custo de produção final”, sustenta. Na Feira Nacional de Peixes Nativos de Água Doce, organizada pelo Sebrae-MT em Cuiabá (MT), o foco principal das discussões foi a comercialização, segundo indica Jules Bortoli, presidente da Associação dos Aquicultores do Mato Grosso (Aquamat). “Há necessidade de buscar novos mercados, novos produtos”. Outro tema foi a importância do aprimoramento produtivo em várias frentes: gestão, genética, produtividade, “para reduzir o impacto do alto preço da ração e baixo preço do peixe”, conclui.

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anos. Poucas pesquisas são feitas em conjunto com o setor produtivo. Nos últimos dois anos tem se aproximado mais”, pontua Eduardo Amorim, presidente da entidade. Mas os dois lados assumiram sua parcela de responsabilidade nesta trajetória de afastamento. “Não dá para o setor produtivo trabalhar de forma muito separada da pesquisa e vice-versa. Os pesquisadores receberam bem isso, mas também fizeram críticas. O setor produtivo se acostumou a trabalhar sozinho, não fazer perguntas à academia.”


Marketing & Investimentos

A força do noroeste paulista

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ealizada nos dias 24 e 25 de agosto de 2016, a VII Aquishow fechou com uma coleção de números relevantes: 36 empresas expositoras, além de instituições públicas e entidades de classe; 600 participantes; 100 participantes nas visitas técnicas de campo; 12 palestras e 3 mesas de debates. A cada ano, o evento se consolida como uma plataforma de negócios e atualização de conhecimento para todo o setor aquícola.

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Leo de Oliveira (Alfakit) e Ana Maria da Silva

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César Mondini (Belgo Bekaert), Otávio Luiz de Marchi Neto (Telamarck) e Guilherme Rocha Vianna (Belgo Bekaert)

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Jhonatan César Fachini (RioMar Barcos de Alumínio) José Carlos, Diogo Nassif e Kleber Ragazzo (Presence) e Dalton Sales (AgroInova)

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Cristiano Clemer (Brusinox), Sérgio Barbosa (Barbosa Montagem Industrial) e Eric Arthur Bastos Routledge (EMBRAPA)

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Alan E. dos Anjos e Paulo Rocha (Alimentos Yeda)

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Darci Dreissig e Irineu Frederico Feiden (Multipesca)

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Fernando Carmo (CATI), Pshava e Kumbirai (Lake

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Harvest/Zambia) e Sergio Zimmermann (Aqua Solutions/Noruega)

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Eduardo C. Urbinati e Alberto C. Calil (Trouw Nutrition), Éder Benício (PeixeBR) e Daniela Nomura (Trouw Nutrition) Fernando Carmo, Marcos Hokazono, Florisvaldo Capato, Marcio Castilho (CATI)

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Guilherme Beraldi, Rodrigo Braz e João Galdino Neto (Guabi)

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Davson Zanella (ACZ Inox), André Camargo (Escama Forte), Sandro Nucci (ClassiFish) e Herique Hanazaki (Escama Forte)

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Emerson Esteves e Marilsa Fernandes (PeixeSP)

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Eduardo Abimorad, Daniela Castellani, Luiz Ayroza e Helenice Barros (IPesca)

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Bruno H.S. Pereira (Socil), Marcelo Berrião (Piscicultura Toca da Tilápia) e Juliano Kubitza (Royal Fish)

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Felipe Amaral e Antônio Ramon Amaral (Grupo Ambar Amaral)


Estreia comercial, sucesso acadêmico

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já tradicional IX Curso e Workshop de Sanidade em Piscicultura, realizado entre 13 e 15 de julho em Jaboticabal (SP), teve este ano um público mais distinto que o das outras edições. Além dos pesquisadores e estudantes da aquicultura, participaram também empresários da cadeia produtiva, que mais cedo haviam montado seus estandes na I Feira Nacional de Piscicultura, evento paralelo ao curso e workshop. No total, 360 pessoas passaram por lá.

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David Pulino (Fisher), João Donato Scorvo Filho e Célia Frascá-Scorvo (APTA)

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Daniela Nomura (Trouw Nutrition/ Fenapis) apresenta a equipe de colaboradores do evento

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Joaquim Ferreira (Branco Máquinas), Fábio Sussel (APTA/Fish TV) e Alex Weege (Weemac)

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Felipe Silva, Miguel Alarcon, José Dias (Prevet) e Otavio Castro (Biomin)

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PeixeBR, PeixeSP e lideranças setoriais da aquicultura paulista

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Dalton Sales e Roberto Arana (Agroinova/Inovapeixe)

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Rodrigo Zanolo (MSD, de camisa azul) com clientes e parceiros

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Pescada Amarela Yellow Weakfish

Pargo

Caribbean Red Snapper

Atum

Camarão Rosa

Sardinha do Marrocos

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Direto do produtor para distribuidores e indústria de beneficiamento

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Marketing & Investimentos

Nativos em discussão

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om a exposição comercial em outro local dentro do Centro de Eventos do Pantanal, no conforto do ar condicionado, a Feira Nacional de Peixes Nativos de Água Doce e o Seminário de Tendências e Tecnologias na Piscicultura chegaram à segunda edição pelas mãos do Sebrae-MT. Entre 8 e 10 de setembro, o evento concedeu uma oportunidade única para a atualização e geração de negócios no centro-oeste.

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Manoel Padilha e Francisco Medeiros (Manso Aquicultura) e Pedro Uchoa Furlan (Nativ Pescados) Mirian Giannoni, Ana Carina Ramalho, Marcos Giannoni e Isabelle Manssanari (Ema Pescados e Bolsa do Peixe)

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João Moutinho (BioFishe´s) e Nedyr Chiesa (Trevisan)

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Wilker Borges (PrimeInox)

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Eduardo Carlos Freitag e Christian Roberto Viviani (Bernauer Aquacultura)

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Fábio Garcia, Soraia Dall`Agnol, Wellington Rossitto, Ricardo Colomietz e Bruno Turini (Imeve)

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Ademir Brocardo (Agricotec), Sinomar dos Anjos Souza (Produtor Rural - MT) e Cristiane Puttkamer (Agricotec)

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Daoud M. Wehbi (Braspeixe S/A)

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André de Freitas Siqueira (Piscis)

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Maurício Frades (Benefish Pescados)

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Ricardo Santiago, Wanderson Portugal e Newman Costa (SEBRAE), Paulo Roberto Filho (AGP) e Valéria Pires (SEBRAE)

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Luiz Eduardo Conte, Junior de Oliveira, Mariana Valdo, Gustavo Igaki e Lucas Granuzzo (AMMCO Pharma / Suiaves)

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Heldeberto Junior, Andressa Meinerz, Fernando Macedo e Wellington Silva (VB Alimentos)

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Marcelo Conolly e Philip Conolly (EngePesca)

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Cristiano Clemer e Daniel Bacca (Brusinox)

Jules Ignácio (Grupo Bom Futuro / Aquamat), Francisco Medeiros (Manso Aquicultura / PeixeBR), Herbert Junio (Grupo Bom Futuro)


Potências do Sul

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m mês de diferença entre a Anutec (2 a 4 de agosto, em Curitiba - PR) e a MercoAgro (13 a 16 de setembro, em Chapecó - SC) somado a distintos perfis de expositores e visitantes do universo da tecnologia do processamento de alimentos. Nenhuma delas teve uma área específica ao pescado, mas muitos expositores (Anutec: mais de 100 e Mercoagro: 200) mostraram aplicações com completa adequação ao segmento e atraíram muitos visitantes (Anutec: 3 mil e Mercoagro: 20 mil), segundo as respectivas organizações.

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• ANUTEC

01 Marcelo Serpa e Patricia Furlan (Marel)

02 Equipe da Bettcher 03 Ricardo Almeida (Bemis), Anderson Allan (Kefs) e Reginaldo Moraes (Bemis)

04 Paulo Adriano de

Oliveira, Michael Teschner e Antonio Guimarães (Multivac)

05 Fábio Nascimento (Sunnyvale)

06 Mauricio Kumura (Max Mac)

• MERCOAGRO

01 Lázaro Henrique e Alexandre Anhalt (Usinox)

02 Giovanni Ciuro e Thiago Gotardo (Cobra)

03 Marcelo Firmino, Tatiane Seibel, Leandro Silva e Fabiana Bernardi (Akso)

04 Gilson Balbinot, Dean

Marco Cendron, Marcos Fávero (Soplasta)

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05 Edson Perobelli e

Adriano Campos (Bush do Brasil)

06 Luis Antônio Campos

e Ricardo Aparecido (Camrey) e Humberto Tavares, Antônio Fortes e Wandeir Campos (EngeFril)

07 Danilo Benetta, Felipe

Igor Silva e Elon Pisante (Haarslev)

08 Ronaldo Bernardes, Roziane Braga e Wellington Araújo (Grupo ArtFlexíveis)

09 Carlos Oslaj e Márcio Ajbeszyc (Volta Belting)

10 Marcio Del Cói,

Mônica Martins, Renato Gonçalves e Caio de Santi (Dux Grupo)

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Marketing & Investimentos

Delegação do Sindfrio-CE se encontra com representantes do Pará e demais empresários em Vigo: estande da Seafood Brasil e REDES & Seafood na Conxemar 2016 virou ponto de encontro do Brasil na feira

Órfãos institucionais Brasileiros vão à Conxemar 2016 por conta própria e reclamam da falta de apoio do governo federal; do lado da importação, novo padrão de inspeção penaliza fluxo a partir da Ásia, mas mercado consumidor segue atrativo a empresas espanholas

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udo começou na Seafood Expo Global, em Bruxelas, este ano. Depois de uma aparição marcante nos últimos anos, que incluiu prêmio às costelas de tambaqui da Mar & Terra no prêmio mundial de Prix D’Elite e um enorme estande e divulgação massiva do slogan “Nation of Fish”, a presença institucional brasileira minguou nas principais feiras mundiais do pescado. “Precisamos de apoio institucional. Nenhum setor cresce sem o apoio do governo do País que quer desenvolver aquela atividade”, disse, direto de Vigo (Espanha), Max Mapurunga, sócio-diretor da R&B Aquicultura e parceiro da conserveira espanhola Jealsa Rianxeira, dona no Brasil da marca Robinson Crusoe. “Uma feira como essa, onde poderiam ter sido feitos vários negócios, é a segunda mais importante da

Europa, não teve o apoio do governo brasileiro.” Ele ainda fez questão de agradecer à Seafood Brasil, cujo espaço dividido com a revista parceira REDES & Seafood se tornou, por falta de opção, o ponto de encontro do Brasil na feira. “Agradecemos à Seafood Brasil em divulgar e mostrar que o seafood brasileiro poderia ser muito maior.” A julgar pelo histórico das exportações brasileiras e pelo apetite espanhol por pescado, ele tem razão. Depois de 8 anos de crise, a economia espanhola reage: o desemprego está em queda (28,9% em 2013 para 21% em 2016), a inflação é negativa e a tendência de consumo de pescado é de alta. O próprio êxito da Conxemar 2016 ilustra isso: mais de 30 mil visitantes (quando eram esperados 25 mil), 40 empresas de fora da lista final de 583 expositores por falta de espaço – uma expansão de 5 mil m2²

está em negociação para 2017 – e novos países, como Croácia e Noruega, com estande próprio. Os vikings são o exemplo mais concreto do aquecimento no mundo do pescado. O salmão de cultivo caiu no gosto do consumidor espanhol, tradicionalmente mais afeito às espécies marinhas de pesca extrativa, como bacalhau, merluza, dorada, robalo e peixe-sapo, além dos moluscos de concha e cefalópodes. O espanhol já come mais salmão (em torno de 65 mil toneladas) que bacalhau. Rastros de um negócio enorme. Segundo dados da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO/ONU), a Espanha só perde para os EUA, Japão e China na importação mundial de pescado, com US$ 7 bilhões. O Brasil não é


um fornecedor relevante, mas pode se tornar um, na opinião dos próprios espanhóis. “A forma que vejo é fazer testes, definir um produto concreto, a forma de apresentá-lo e ter a paciência que o produto cresça”, diz Jorge Alonso, diretor comercial e de marketing da ScanFisk. “Se o pessoal pensa que vai fazer grandes volumes, participar de um segmento do mercado acima de 0,5% do mercado europeu à base de promoção institucional, está equivocado. Os pescados provenientes de rio tem má fama, por conta do off flavor, fungos, mas tem possibilidades culinárias tremendas.” É a mesma linha de pensamento de Rafael Pinto, brasileiro radicado em Barcelona que atua na área de importações do Grupo Videla. “As pessoas aqui conhecem muito de peixe. A maior dificuldade é abrir essas portas para os peixes nativos brasileiros.” Uma forma, diz ele, é explorar melhor a marca Brasil, que vende bem – inclusive, já há açaí e feijoada com boa aceitação na capital catalã. “Se atrás desta estratégia de marketing existe

um grupo bem estruturado financeiramente, que puder bancar a entrada na Espanha com o tambaqui e pirarucu, por exemplo, e estiver disposto a esperar até cinco anos para amadurecer, para mim, como brasileiro morando em Barcelona, é futuro garantido para esta empresa.” O Videla já tem a Mar & Terra como fornecedor de pirarucu fresco que segue por via aérea. “Eles têm uma capilaridade grande de distribuição, não só na Espanha como na Europa, o que é muito importante. Nosso projeto com eles segue neste sentido”, declara Ricardo Vasconcelos, gerente de comércio exterior na Mar & Terra. O último embarque foi superior a 500 kg e o negócio está crescendo. “Atuamos também na Alemanha e Suíça com pintado e algo de pirarucu, além da Polônia (pirarucu) como clientes ativos. A exportação já corresponde a 10% do nosso faturamento.” Ele diz concordar plenamente com esta visão de nicho. “As empresas que visitamos querem produtos que sejam

9 entre cada 10 espanhóis come

pescado uma vez por semana

70%

come duas ou mais vezes por semana.

Fonte: TNS Gallup/NSC, 2012-2015

complementares, não necessariamente exóticos. E, em contrapartida, tenham uma excelente qualidade e uma história para contar. E o pirarucu se encaixa perfeitamente nisso.” Outro movimento também chama a atenção: o capital espanhol não pretende sair do País. A Nova Pescanova não excluiu o Brasil do seu plano de viabilidade apresentado em outubro

Sediada no Baixo Sul da Bahia (Ituberá) desde 2010, a Cooperativa dos Aquicultores de Águas Continentais fortalece e organiza os seus associados através da produção da Tilápia. O projeto se destaca por sua relevância sócio-ambiental e incentiva o consumo consciente, levando até a mesa do cliente um pescado certificado, rastreável e de alta qualidade.

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(73) 3256- 1098 / (73) 3256-3442


Marketing & Investimentos Noribérica patrocinou atletas espanhóis da canoagem, medalhistas de ouro na Rio-2016; empresa também é medalha de ouro em “Dipoas”: 435 registros a partir da Espanha e 60 da planta uruguaia O objetivo da empresa agora é aumentar a capilaridade nacional dos produtos. “Estamos focados no mercado brasileiro em estabelecer parcerias com importadores e distribuidores para a pulverização do mercado em todas as regiões”, sublinha o executivo, que foi o anfitrião de importadores brasileiros, como o Segala’s (Blumenau-SC) e Iglu (Marília-SP), junto a alguns dos representantes da empresa no País: Gustavo Pedrosa, do Grupo Camarões do Brasil, e Patrícia Nascimento.

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aos credores, que inclui a venda de ativos para passar de um faturamento de 35 milhões de euros em 2015 para 139 milhões de euros em 2020. O CEO atual da empresa, Ignacio Gonzalez Hernandez, confirmou à Seafood Brasil que pretende expandir a produção brasileira de tilápias em Paulo Afonso (BA), que gera aproximadamente 2500 toneladas. “Temos inclusive um novo gerente geral para o Brasil, Nicolás Tarigo, que terá de me convencer de que a operação vale a pena”, brincou. Já a Jealsa segue em expansão, com faturamento anual de R$ 50 milhões, e 350 empregos gerados no Ceará. “Visitei o Jesus Manuel Alonso, o presidente, e ele confirmou a expectativa de crescimento no Brasil”, assegurou Mapurunga, da R&B Aquicultura. Ainda nas conservas, o Grupo Calvo apresentou antes da feira Alberto Encinas, ex-CEO da Gomes da Costa, como o novo diretor geral para a Europa, trocando de lugar com Enrique Orge, agora o novo responsável pela divisão Américas, que inclui o Brasil.

Brasil importador segue atrativo; exportador sofre Enquanto a realidade como exportador ainda parece distante, apesar do apetite europeu, o Brasil segue como

um dos maiores mercados importadores de pescado do mundo. Nem as turbulências econômicas e políticas afastam os exportadores. A própria ScanFisk acaba de concluir o registro no Dipoa de seis pratos prontos a base de pescado, que devem desembarcar aqui a partir do ano que vem (veja mais detalhes na seção Na Gôndola desta edição). Mas neste aspecto a marca que mais se sobressaiu na Conxemar 2016 foi a Noribérica. De origem galega, a empresa tem nada menos do que 435 homologações de produtos aprovadas da Espanha e 60 da planta que possui no Uruguai. Bacalhau do Pacífico e Atlântico, cação, polaca, anéis e tubos de lula, sardinha e polvo estão entre os produtos. A novidade, no entanto, é o envio de produtos processados do Uruguai diretamente ao Brasil, sem intermediários. “Desde o início do ano estamos a realizar operações comerciais de cação desde o Uruguai, com algumas vantagens para os clientes brasileiros, como a facilidade logística, a rapidez na entrega, a maior facilidade de desembaraço e alguns casos a economia dos 10% do imposto de importação quando os produtos têm origem uruguaia”, explica Miguel Bregieira, responsável pelos mercados de Portugal e Brasil.

A maior receptividade à Noribérica se insere na estratégia de diversificação de origens que o importador brasileiro busca, desde o forte impacto no fluxo de exportação de locais como a China e o Vietnã após o fortalecimento da fiscalização de indicadores de adulteração, como o pH – cujo limite máximo aceito no Brasil é de 6,8, segundo o próprio Ministério da Agricultura. Fontes consultadas pela Seafood Brasil indicaram, na época do fechamento desta edição (meados de outubro), que havia em torno de 40 contêineres parados só no Porto de Santos aguardando a análise de amostras coletadas. De acordo com exportadores consultados pela reportagem, como a Interatlantic e a Pesciro, a situação cria muita insegurança nos compradores brasileiros. A maioria prefere não arriscar a ter a carga rejeitada e ter que arcar com os custos, temor que vem até alterando contratos previamente estabelecidos. Outro fator de impacto é o aumento do custo da matéria-prima, como a polaca processada na China e o panga vietnamita, que motivou renegociação de contratos e até cancelamentos de despachos em andamento. Por outros motivos, mas com consequências similares, os exportadores brasileiros de lagosta também têm motivos para reclamar. Desde a transição do MPA para a secretaria de pesca e Aquicultura, os certificados de captura não foram mais emitidos, paralisando um fluxo de exportação de mais de uma dezena de contêineres para a Europa. “Só nós temos 4 contêineres parados por este motivo”, indica Leonidas Gondim, da Icapel. Mais prejuízo para a “marca Brasil”.


A vitrine galega

A

Conxemar 2016 bateu recordes de visitação e expositores refletindo a leve recuperação econômica que a Espanha demonstra, especialmente no pescado. Os brasileiros compareceram em bom número, vendendo o Brasil como destino mas também como origem, enquanto os importadores continuam a seguir de perto os desdobramentos da nossa crise múltipla.

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Marco Schech e Guilherme Clemente (Segala’s), Luis Cabaleiro e Vanessa Salomão (Interatlantic)

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Alexandre Pavan e André Pavan (Iglu Pescados) Lois Fernández Meijide (Pesciro)

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Ignacio Gonzalez Hernandez (Nova Pescanova) e Ricardo Torres (Seafood Brasil)

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Ricardo Vasconcelos (Mar & Terra), Vanessa Salomão e Cristiane Vinhal (Interatlantic) e Fernando Torres (Mar & Terra)

Humberto Pereira e Dario Alvitez (Perupez), Héctor Soldi (Vice-ministro de Pesca e Aquicultura do Peru) e Alvaro Delgado (Sociedade Nacional de Indústrias do Peru)

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José Luis Méndez (Pereira), Célio Vilela (SindfrioCE), Neto Pascoal (Maris), Leonardo Costa (Netumar) e Max Mapurunga (R&B Aquicultura)

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Rafael Pinto e Marco Pires (Grupo Videla)

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Jorge Alonso (ScanFisk)

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Guilherme e Marco (Segala’s), Gustavo Pedrosa (Camarões do Brasil/Noribérica), Patrícia Nascimento (Yoshi/Noribérica) e Miguel Bregieira (Noribérica)

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Medalhas de ouro do pescado

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Gôndola A oferta de peixes e frutos do mar O que você vai fazer hoje?

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Cozinho ou não cozinho? A espanhola Scanfisk quer acabar com estas dúvidas a partir do resgate de sua marca Mr. Fisk e a campanha ¿Qué haras hoy? Dividida em duas linhas (pratos prontos com pescado em 3 minutos no micro-ondas ou porções filetadas de pescado para os foodies) a empresa quer se conectar definitivamente com os consumidores Millenials (2535 anos). E o desembarque no Brasil está próximo. Com Dipoas para meia dúzia de produtos, a marca deve estrear por aqui no começo do ano que vem.

A Noribérica teve um saldo positivo nos Jogos Olímpicos Rio 2016: 4 medalhas de ouro e 1 de prata. Patrocinadora da canoagem espanhola, a empresa de Vigo agora converte seu êxito nos esportes em negócios aqui no Brasil. Diversos lançamentos chegam com marca própria às gôndolas brasileiras, entre os quais a bolsa de cação de 1kg, polvo em caixinha de 1kg e bacalhau dessalgado Gadus morhua em caixa de 1kg - todos direto da Galícia. A companhia está processando na planta do Uruguai várias apresentações de cação, principalmente a granel para o food service.

Impulso de vendas A Nativ (MT) e a Quatro Mares (SC) querem incrementar a presença em São Paulo e fecharam acordo com a Ecil. No caso da catarinense, a distribuição será de produtos embalados no médio e pequeno varejo. Já no caso da empresa de Pedro Furlan, o acordo envolve toda a linha para pequeno e médio varejo e distribuidores do Estado. Mas a importação segue e a ideia da Ecil é ter uma oferta ainda mais ampla.

Hambúrguer de bacalhau A galega Froitomar levou à feira seus hambúrgueres e pratos com bacalhau Gadus morhua proveniente da Islândia. Detalhe: os produtos são envasados em atmosfera controlada, o que lhes permite a comercialização apenas refrigerada, não congelada, e um tempo de prateleira de 10 a 15 dias.

Onde o destaque é a embalagem Mesma tecnologia adotou a Angulas Aguinaga com o lombo de bacalhau dessalgado, cujo shelf-life extendido permite vender o produto refrigerado. Já no caso do dessalgado, a empresa optou por uma caixa de madeira, que valoriza o conteúdo e dá um ar rústico ao bacalhau.

Leia este código para ver o portfólio e contatos destas empresas. Ou acesse bit.ly/SEAfornecedores


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Corrente

do bem

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Inclusão social, distribuição da riqueza e decisões colegiadas atraem a adesão cada vez maior de produtores de pescado ao cooperativismo


Texto: Ricardo Torres | Fotos: Divulgação/Cooperativas

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chave de tudo está nas cooperativas”, disse certa vez em entrevista Norberto Odebrecht. Fundador de um dos maiores conglomerados nacionais, o engenheiro foi também uma das principais referências da esfera privada no estímulo à organização associativista com vistas à distribuição de riqueza. Foi dele a ideia de criar um programa focado no desenvolvimento produtivo da família no meio rural, para evitar o êxodo e dar condições para o agricultor cultivar sua própria prosperidade. Essa engrenagem de inserção social pela produção e compartilhamento de riqueza é a gênese do cooperativismo, que no Brasil reúne números relevantes para a economia nacional. As mais de 6,6 mil organizações do gênero de diversos ramos somam mais de 360 mil empregos diretos e respondem por 11% do Produto Interno Bruto (PIB) do País, segundo a Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB). De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 48% da produção agropecuária brasileira passa de alguma forma por uma cooperativa.

Depositphotos

A engrenagem de inserção social pela produção e compartilhamento de riqueza é a gênese do cooperativismo, que no Brasil reúne números relevantes para a economia nacional.

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No âmbito rural, o número de cooperados cresce ano após ano, justamente pela inclusão competitiva do produtor que o sistema possibilita. Para João José Prieto Flávio, analista da gerência técnica e econômica da OCB e responsável pelas cooperativas ligadas ao pescado, o chamariz é a participação ativa dos membros. “Pessoas se unem com o propósito de se fortalecer economicamente, ganhando maior eficiência e, consequentemente, mais espaço no mercado, resultando em maior renda e melhor qualidade de vida aos cooperados, colaboradores e familiares, beneficiando também assim a comunidade onde estão inseridos.”


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Ele enxerga no modelo uma diferença básica em relação a outras formas de investimento privado. “[Estes] buscam predominantemente retorno de curto prazo em mercados extremamente voláteis e instáveis, a exemplo do mercado de commodities agropecuárias, [já] as cooperativas buscam se perpetuar em suas regiões de atuação, com visões estratégias de longo prazo, buscando retorno e benefícios contínuos para seus produtores associados.” Isso se expressa pela prestação de serviços e fomento à tecnologia por meio da assistência técnica aos cooperados e a participação ativa nas operações de fornecimento de insumos e atividades de recepção, classificação, armazenagem, processamento e comercialização dos produtos de seus associados. “Isso gera economia de escala nos processos de compra e venda e promove a agregação de valor e atuação eficiente na cadeia produtiva”, complementa Prieto. A OCB diz ter em seus planos a elaboração de um estudo de todos os subsetores agropecuários, mas por enquanto não existe um levantamento que permita calcular o número de cooperativas dedicadas exclusivamente ao pescado. Sabe-se, no entanto, que

existem duas vertentes em curso que a Seafood Brasil destaca com os exemplos citados nesta matéria: 1) a inclusão do pescado como novo segmento em cooperativas já bem sucedidas em outros setores; e 2) o associativismo regional entre pequenos e médios produtores que se converte em cooperativismo. A segunda vertente tem boa expressão na experiência do biólogo Fernando Franco, extensionista da regional Avaré (SP) da Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (CATI), que atua desde 2007 no apoio às organizações rurais, principalmente, cooperativas e associações de piscicultores na região de Avaré. Por conhecer bem as deficiências locais, envolveu-se na fundação da Cooperativa dos Piscicultores do Médio e Alto Paranapanema (Coomapeixe), na qual foi presidente por duas gestões e atualmente é secretário-executivo. “Entendo que o cooperativismo é fundamental na cadeia produtiva do pescado não apenas para dar o devido suporte à produção com qualidade e tecnologia, mas para embasar o que eu chamo de ‘novo cooperativismo’”, diz. Trata-se de uma visão ampliada do conceito, que

O que é o cooperativismo? Para a OCB, o cooperativismo “é um movimento, filosofia de vida e modelo socioeconômico capaz de unir desenvolvimento econômico e bem-estar social.” Seus referenciais fundamentais são: participação democrática, solidariedade, independência e autonomia.

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Como posso montar uma cooperativa?

O Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo (Sescoop) é a porta de entrada para a busca destas informações. As divisões estaduais prestam assessoria em todas as etapas de constituição do empreendimento cooperativo. Em programas específicos para esta finalidade, primeiro fazem uma triagem para saber se o modelo de negócio se encaixa nos preceitos do modelo e inclui o número mínimo de pessoas exigido para a constituição. Depois os assessores procuram sensibilizar os possíveis cooperados e são feitas oficinas sobreo o plano de negócio. Na sequência, a parte burocrática e documental é atendida. O Sescoop/SP é um dos que prestam este serviço. Para mais informações: (11) 3146-6299; atendimento@sescoopsp.coop.br. Para informações nacionais, acesse http://www.sescoopsp.org.br/

inclui elementos da Economia Solidária e da Sociologia, como a construção das Redes Sociotécnicas, para estimular uma formação integrada e continuada dos cooperados tanto no plano técnico, quanto político e administrativo. “Neste sentido, pequenos empreendimentos cooperativos podem colaborar na estruturação do setor, gerando renda e qualidade de vida aos piscicultores com sustentabilidade.” Já a oportunidade de diferenciação é o que norteou tanto a Cooperativa Agroindustrial Consolata, ou Copacol, quanto a C.Vale na introdução da tilápia no portfólio já bem estabelecido de suínos, frangos, lácteos e outros alimentos. “[Queremos gerar] oportunidades para que os pequenos produtores possam se desenvolver com renda e qualidade de vida em suas propriedades com a diversificação das atividades e opções na agricultura, avicultura, piscicultura, suinocultura e bovinocultura de leite”, conta o Superintendente Comercial da Copacol, Valdemir Paulino dos Santos. O cooperativismo tem o potencial de transformar um país. Um estudo da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO/ONU) relatado por um artigo recente publicado por Marcos de Aguiar Villas-Bôas no site da revista Carta Capital ilustra a afirmação. Nova Zelândia, França, Suíça, Finlândia, Itália, Holanda, Alemanha, Áustria, Dinamarca e Noruega compõem o top 10 das economias cooperativadas do mundo. Só na Itália, por exemplo, a participação do cooperativismo no PIB é de 60%. Ao mesmo tempo, tais economias ocupam algumas das mais altas posições no ranking do Índice de Desenvolvimento Humano. Como mostram os exemplos das próximas páginas, já há uma experiência concreta de cooperativas de pescado, mas ainda estamos muito aquém do potencial. Absorver e disseminar ainda mais o modelo pode nos ajudar a igualar o Brasil às grandes nações industriais em todo o mundo. Eis o tamanho da missão.


Coomapeixe

Mas a Coomapeixe não saiu do traço, porque ainda não teve liberados o licenciamento ambiental e a outorga do uso de água pela Agência Nacional de Águas (ANA). “Investimos pesado com recursos próprios na área aquícola e até agora não fizemos uma despesca sequer porque a empresa não quer ser clandestina ou atuar no setor de forma

irregular”, lamenta Franco. Ele avalia que os pequenos empreendimentos cooperativos no setor aquícola têm de enfrentar um “cipoal de legislação”. Na sua opinião, as inúmeras dificuldades empurram o produtor para a informalidade “O que é péssimo para a economia e para o crescimento e fortalecimento da cadeia produtiva.” Do lado da produção, ele amarga o alto custo da ração, mas também elenca o problema do escoamento da produção, da tecnologia, da qualidade do pescado, do acesso ao crédito e, finalmente, do preço do pescado em relação às outras carnes. Na esperança de superar ao menos a burocracia com a discussão do novo decreto da aquicultura paulista em curso, Franco já esboça alguns planos. “Temos a intenção de trabalhar, no futu-

Mutirão de cooperados da Coomapeixe para instalar balsas de manejo ro, com outras espécies nativas como o jundiá, surubim e pacu, bem como com subprodutos da atividade.” Outras duas vertentes serão a produção de formas jovens (alevinos e juvenis) e o processamento do pescado produzido ali com marca própria. Converter o plano em realidade, neste momento, não depende da Coomapeixe.

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uita expectativa girava em torno da fundação da Cooperativa dos Piscicultores do Médio e Alto Paranapanema (Coomapeixe), em 2008. Hoje na secretaria-executiva da cooperativa, Fernando Franco traçou junto aos outros 26 cooperados um projeto de instalar 300 tanques-rede para a engorda de tilápia na represa Jurumirim, na bacia do rio Paranapanema, em Avaré (SP). A previsão é de produzir 600 toneladas com um ciclo e meio por ano.

Divulgação/Coomapeixe

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A trava da burocracia


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Copacol

Do hobbie ao sustento

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equenos e médios produtores associados à Cooperativa Agroindustrial Consolata (Copacol), normalmente acostumados a suínos, aves ou à bovinocultura de leite, tinham algumas lâminas d’água e, quase por brincadeira, instalaram alguns tanques-rede com tilápia. De hobbie a uma produção consistente e em crescimento foi um pulo, o que gerou problemas. “Quando este peixe atingia porte de abate o associado não tinha onde comercializar, ou quando encontrava pra quem vender as empresas pagavam muito pouco e não chegava a cobrir as despesas de produção”, conta o superintendente comercial da Copacol, Valdemir Paulino dos Santos.

Divulgação/Copacol

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Foi aí que a Copacol se deu conta do potencial represado naqueles açudes. “Para viabilizar a atividade destes produtores, e assim contribuir para a geração de renda e manter o produtor no campo, resolveu investir em um frigorífico de tilápia, só não se imaginava que chegaria no porte que é hoje.” O maior desafio foi ingressar em

um mercado dominado por produtos de baixa qualidade, como define Paulino. “Em 2009, havia muitas marcas de tilápia com baixa qualidade e com preços impossíveis de acompanhar com competitividade, considerando a qualidade do produto que a Copacol oferta aos seus clientes”, defende. Dos mais de 5.500 associados atuais, a cooperativa contabiliza em 300 os piscicultores, que produzem exclusivamente tilápia. O abate atual é de 75.000 peixes/dia, o que dá em torno de 60 toneladas diárias (considerando um animal de 800g). E vem mais pela frente. Uma expansão cuja conclusão está prevista para janeiro de 2017 deve elevar o volume abatido para 140 mil peixes por dia, fornecidos por aproximadamente 500 produtores. Em outra vertente, existe uma busca por outras espécies que se adaptem ao clima mais ameno do Paraná. Motivado pela piscicultura, mas também pela venda de espécies importadas e de outras origens que não o cultivo aquícola, o faturamento desta divisão deve crescer 25% na

Associados piscicultores têm cliente garantido

comparação com 2015, para R$ 120 milhões. A introdução do salmão, merluza, cação, camarão, pescada, sardinha e polaca não intimidou os associados. “Sempre ficou muito claro para o associado que a estratégia da empresa era se posicionar como uma marca de alimentos e uma empresa de pescado dentro do ponto de venda. Dentro disso, o segmento de pescados precisava de um peso a mais, não ficando somente na tilápia”, explica Paulino. Outro ponto é que o associado enxerga vantagens claras na integração promovida pela Copacol. “Como em toda atividade integrada, [a vantagem] para o associado é a segurança da comercialização do seu produto e a certeza de que não terá prejuízo com sua atividade”, sublinha Paulino. E no fim, o bolso também não reclama. “Os resultados são distribuídos para todos os sócios ao final do exercício, isso é o que diferencia a cooperativa de outras empresas privadas.”


C.Vale

esse projeto que vai sair do projeto e se tornar realidade”. A assessoria de imprensa da cooperativade denota a simplicidade da razão do investimento: “Diversificação de atividades. A região oeste do Paraná é grande produtora de peixes, [na] maioria pequenos produtores. A cooperativa segue o que fez em outros segmentos: frango industrializa, mandioca industrializa, milho vira ração. Gera novas oportunidades de renda aos associados, agrega valor à matéria-prima e gera mais receita à cooperativa.”

Um abatedouro com capacidade inicial para 50 toneladas por dia, aprovação de financiamento pelo BNDES, 250 novos postos de trabalho e declarações do presidente da C.Vale, Alfredo Lang, de que “era um sonho

Fato é que, mais de um ano depois do anúncio, as obras ainda não começaram. O terreno já está preparado e a estrutura está prevista para começar a operar no final de 2017. A própria empresa preferiu

não conceder mais detalhes sobre o motivo da indefinição à Seafood Brasil, apenas manifestou que há questões em discussão sobre o modelo de integração. “Não podemos falar de planos que aguardam definições”, disse a assessoria.

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ada a experiência de rápida ascensão do pescado dentro da Copacol, foi com enorme expectativa que o setor recebeu a notícia, em julho de 2015, de que uma das maiores cooperativas brasileiras investiria R$ 80 milhões para a construção de um frigorífico de pescado. A C.Vale, com atuação no Paraná, Santa Catarina, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Rio Grande do Sul e Paraguai, 141 unidades de negócios e mais de 18 mil associados entraria de cabeça no processamento de tilápia.

Divulgação/C.Vale

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Projeto em definição


Capa Coopecon

Empresariamento cooperativista

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uando a Fundação Odebrecht (FO) decidiu concentrar seus esforços no desenvolvimento de 15 municípios do leste baiano (o Baixo Sul), em 2003, foram definidos quatro capitais que compõem a visão de sustentabilidade idealizada por Norberto Odebrecht: humano, produtivo, social e ambiental. A consonância entre esses valores se materializou por meio do Programa de Desenvolvimento e Crescimento Integrado com Sustentabilidade (PDCIS), que cria uma conexão entre a educação, cidadania e as necessidades da agricultura familiar com respeito ao meio ambiente.

O PDCIS apoia três cooperativas no Baixo Sul da Bahia com o intuito de colaborar na estruturação de uma cadeia produtiva completa, do apoio técnico aos produtores, passando pela industrialização e consequente geração de valor ao produto. Este é o conceito de cooperativismo estratégico que norteia todas elas, incluindo a Cooperativa dos Aquicultores de Águas Continentais (Coopecon), fundada em 2010 por 22 sócios. Marcelo Costa, diretor-executivo da cooperativa, conta atualmente 74 cooperados (produtores em tanquesrede e em viveiros) de diferentes comunidades e assentamentos das cidades de Ituberá (sede), Igrapiúna,

Thais Ito/Fundação Odebrecht

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A teoria pretendia reverter o cenário de êxodo rural frequente da região para a capital, onde jovens oriundos do campo se somavam à massa de migrantes sem oportunidades. Na metrópole eles aspiravam à riqueza material das famílias abastadas e adotavam o atalho da criminalidade. Mas, como pregava Norberto, “não há

ilha de riqueza em oceano de pobreza”. A ideia era a de que, estimulados pela criação de oportunidades no meio rural, estes jovens não precisassem deixar suas famílias no campo em busca de uma vida melhor: o desenvolvimento estava logo ali, no quintal, na roça.

Cooperativa trabalha com conceito de unidade-família, que é responsável pelo próprio desenvolvimento sustentável

Ibirapitanga, Dário Meira, Taperoá, Valença e Piraí do Norte, além de 55 colaboradores que operam principalmente na Unidade de Beneficiamento de Pescado (UBP) pertencente à cooperativa. A espécie selecionada é a tilápia, dos quais a UBP extrai filés, postas e o peixe inteiro eviscerado, além de produzir óleo, farinha de peixe e polpa. O faturamento previsto para este ano é de R$ 12 milhões, com incremento da produção em até 45% para o ano que vem. “Em 2017, pretendemos exportar e participar de nichos de mercados internacionais como o comércio justo”, complementa. Mensagem que já seduz compradores do varejo nacional, dispostos a pagar mais por um pescado proveniente de uma cooperativa alicerçada na inclusão social. “Agrega-se também valor ao produto na forma como se produz, ou seja, produto com histórias de transformação de vida e jeito de organizar a produção (cooperativismo). Além de comercializarem nossos produtos, [os clientes] praticam na sua essência a sua política de sustentabilidade por que tanto são cobrados hoje por seus clientes, parceiros e seus acionistas. É lucro e satisfação com ganhos consequentes de imagem.” A Coopecon hoje vende seus produtos em grandes redes de varejo do Brasil, sobretudo na região Nordeste, como Walmart, Cencosud, Carrefour e regionais, como EBAL e Hiperideal. No food service, fornecem para a gigante do catering GRSA, provedora de refeições para inúmeras empresas, como o Google e sua sede em São Paulo. “Numa pesquisa recente, a marca de filé de tilápia da Coopecon foi classificada como a segunda mais presente no segmento do varejo do Nordeste e queremos mais”, anuncia Costa.


Capacitação de jovens filhos de produtores rurais é ferramenta para conter o êxodo e fortalecer a agricultura familiar Cooperativa Estratégica da Aquicultura (CEA) possibilita a produção de um produto de valor agregado (veículo de inclusão social), certificado e rastreável”, resume o hoje diretor-executivo, cargo que assumiu no final de 2013. Costa sublinha que a ambição mais imediata é conquistar aos cooperados mais financiamento para expandir a produção e acelerar o licenciamento ambiental. Já a de longo prazo é perenizar e disseminar o modelo

da cooperativa para outras regiões marcadas pela pobreza extrema. “Trabalhamos em 10 anos para que a Coopecon seja uma cooperativa líder do Brasil no desenvolvimento social e regional por meio da produção de pescado oriundo da aquicultura, caracterizado por um produto de alto valor agregado, certificado e rastreável, com relevância socioambiental e com a possibilidade de se tornar uma iniciativa replicável em outros locais do Brasil e no mundo.”

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Hoje, os filhos dos cooperados de 16 e 17 anos têm a possibilidade de se especializarem em aquicultura na Casa Familiar das Águas (CFA), para serem os futuros empresários do peixe. “A inclusão das unidades-família antes excluídas e organizadas numa

Divulgação/Fundação Odebrecht

O executivo chegou ao projeto no final de 2010 para assumir a liderança do setor terciário da instituição, já com uma visão em sinergia com o projeto. “Na minha formação acadêmica até o mestrado, sempre me atentei à visão da aquicultura como um todo. Buscar o equilíbrio sócio-econômico-ambiental é fundamental”, salienta. Quando chegou, deparou-se com o desafio de ajustar a tecnologia aquícola e torná-la acessível aos pequenos agricultores, assim como educá-los no cooperativismo. “Foi um desafio superado dia a dia por meio de uma educação continuada por assistentes técnicos e pelo próprio conselho administrativo da cooperativa.”


Capa Cooperativa Dourada

O Norte também coopera

Isso foi em 2014, quando 21 empresários se uniram para ter mais representatividade junto ao poder público e, então, alcançar resultados benéficos a todos. “Todos os 21 têm embarcações, mas também compram pescado de terceiros. Temos pescada amarela, corvina, robalo, uritinga, acará açu, bagre (rosado). De água doce temos a dourada, filhote,

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Raimundo Reis Nobre, presidente da Dourada; Abaixo, a feira de comercialização em Santana, um dos pontos de venda da cooperativa

Divulgação/Cooperativa Dourada

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mbora o cooperativismo seja mais identificado com a região Sul do Brasil, o modelo está em todo o País. Os pontos em comum continuam a ser os diversos benefícios que o associativismo traz. Denei de Oliveira, ex-metalúrgico, é atualmente secretário-geral da OCB Amapá, representante do cooperativismo na Câmara Setorial da Pesca do Ministério da Agricultura e diretor da Cooperativa Dourada, sediada na ilha de Santana (AP), na região metropolitana da capital, Macapá. “A cooperativa nasceu de uma necessidade de organização da cadeia produtiva, mas sem corpo técnico, capacidade de investimento ou estruturas adequadas”.

Para Denei de Oliveira, a terceirização na compra e no processamento penaliza a cooperativa surubim, pintado, pescada, matrinxã, tambatinga, pirapitinga, tucunaré e tilápia”, elenca Oliveira. Em geral, as espécies de água doce provenientes de aquicultura vêm do Centro-Oeste, o restante ou é capturado pelos próprios associados ou comprado de terceiros que pescam em Calçoene e Oiapoque. A atividade de processamento e comercialização de aproximadamente 50 toneladas mensais rende à Dourada em torno de R$ 1 milhão por ano de faturamento bruto, mas a falta de um frigorífico próprio penaliza demais as margens. A cooperativa paga os custos da terceirização e depois revende. É justamente desta deficiência que surgiu o plano de construir dois complexos para o processamento de pescado. O primeiro será construído em Santana, com capacidade para 25 toneladas por dia, fábrica de gelo de 50 ton/dia e geração de 200 empregos diretos e 2700 indiretos. Já em Oiapoque, o projeto é para uma planta de 6 toneladas/dia, com fábrica de gelo de 50 ton/dia e 60 empregos diretos e 2000 indiretos. “O custo seria de R$ 16 milhões. Queremos conseguir recursos junto ao BNDES para construir essas unidades e entrar de vez no processamento”, ambiciona o empresário.

As negociações para viabilizar esse e outros planos são muito mais viáveis no contexto da cooperativa. “Como cooperativa temos algumas facilidades tributárias. Por outro lado, queremos adquirir estruturas que o Estado construiu e as cooperativas têm preferência nisso”, indica Oliveira. Ele se refere a uma unidade de processamento em Igarapé da Fortaleza, construída pelo Estado, que agora será revitalizada mediante o repasse de R$ 583 mil para a compra de uma câmara de congelamento de 100 toneladas e alguns reparos. O acordo com o governo do Amapá inclui ainda a injeção de R$ 717 mil para capital de giro para comercialização do pescado em São Paulo, para financiar o processamento destinado à Ceagesp e outros destinos. Ainda em negociação, outra proposta prevê a transferência da cessão do Terminal Pesqueiro de Santana, sem funcionar desde a sua conclusão, para a cooperativa operar com fábrica de gelo e comercialização de pescado.


Juriti

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cultura do arroz é a principal atividade da Cooperativa Juriti, cuja sede fica em Massaranduba (SC). São mais de 750 associados dedicados ao grão mais consumido no Brasil, mas a piscicultura começou a despontar como possibilidade de diversificação há três anos. “Em 2013, uma nova administração sugeriu a diversificação de atividade, “para ter um melhor aproveitamento da propriedade e uma maior renda”, conta o engenheiro agrônomo Dagwin Wachholz, 26 anos de atuação na cooperativa, que se especializou em produção de peixes de água doce pela UEM.

Ele indica que, do grupo de associados, 25 também se dedicam à piscicultura com apoio da Juriti, que se expressa pelo fomento à compra da ração, assistência técnica e treinamentos. “Um grande entrave para o desenvolvimento da piscicultura é a obtenção de recursos

para a produção. A Juriti financia seus associados, comprando a ração por um preço mais baixo do que se o produtor tivesse que comprar de revendas, pois conseguimos o preço melhor pelo volume de compra”, diz o especialista. A venda da produção não é responsabilidade da cooperativa. “Ainda fica a critério do produtor escolher seu comprador. Parte da produção vai para pesque-pague e outra parte para indústria de filés da região.”

Segundo Wachholz, o projeto de piscicultura “ainda está engatinhando” por conta de outras prioridades, como a construção de uma sede nova com mais de 13 mil m2 , mas os planos envolvem investimentos específicos. “Fabricação própria da ração é um dos objetivos da cooperativa para os próximos meses, podendo aproveitar um pouco da matéria-prima existente na empresa (farelos e arroz).” Ele acrescenta que já está se pensando em uma

Divulgação/Juriti

Fidelidade acima de tudo Piscicultura ainda “engatinha” na Juriti, mas deve crescer pequena produção de filés, principalmente para atender mercados locais e merenda escolar em agricultura familiar. “Para grande escala, o grupo de cooperados e sua produção ainda não viabilizaria uma indústria de grande porte”, avalia. Seja como for, os associados terão de adotar fidelidade total: “Para ser cooperado e usufruir dos benefícios, toda sua produção deve ser encaminhada à cooperativa.”

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Capa Cooperpesca

Montanha-russa goiana Da pequena sede, instalada em um posto policial desativado, a cooperativa galgou algumas conquistas depois da fundação, em 2006. A prefeitura de Uruaçu doou 40 tanques-rede de 6 m2 para incentivar a produção. “O desafio era eles entenderem que a cooperativa não tem dono, ela é aquele grupo de cooperados. Todos têm a mesma participação lá dentro. Algumas peças-chave para os cargos necessários, mas dono não tem”, sublinha Silveira, que também é o atual presidente da Associação Goiana de Piscicultura (AGP) e acaba de ser nomeado coordenador da pesca e aquicultura do Mapa em Goiás.

Em 2011, a Cooperpesca recebeu um aporte de R$ 700 mil do BNDES e do Grupo Votorantim, parte de um programa chamado Redes. Do montante, R$ 350 mil foram investidos para criar uma O objetivo da Seap era envolver central de processamento de pescado pescadores artesanais, produtores capaz de abater 2 toneladas por dia, rurais e integrantes de movimentos com câmara fria, despolpadeira e atingidos por barragens na produção descouradeira. Compraram ainda mais de peixe em tanque-rede. O curso tanques-rede, ração, alevinos e outros contemplava, entre outros aspectos, insumos. Quatro anos depois a estrutuassociativismo e corporativismo. Nascia ra foi inaugurada com 15 cooperados ali o embrião da Cooperpesca. “Eram prestando serviço no processamento e pequenos aquicultores familiares que tudo parecia caminhar bem. No total precisavam desenvolver a atividade são quase 60 cooperados. Menor nível histórico do reservatório gerou alta mortalidade Até que uma combinação de peixes; piscicultores se recuperam aos poucos nociva de nível baixíssimo do reservatório, comportas abertas, água cheia de sedimentos e falta de manejo adequado matou em um dia de dezembro do ano passado 20 toneladas pertencentes aos cooperados e outras 200 toneladas em um raio de 30 km. “Isso foi um baque para eles, ninguém esperava.” Quando muitos já pensavam em desistir da atividade, Silveira Divulgação/Cooperpesca/Acervo Paulo Roberto Silveira Filho

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Era o fim de 2004 e Paulo Roberto Silveira Filho, então na especialização em produção animal na Universidade Federal de Goiás, foi convidado pela então Secretaria Especial de Aquicultura e Pesca (Seap) a ser o responsável técnico por um projeto de capacitação para cultivo de tilápia em tanques-rede em cinco municípios às margens do reservatório: Uruaçu, Minaçu, Niquelândia, Colinas do Sul e Capina Sul.

legalmente com fins lucrativos, e a cooperativa permitia que eles comprassem insumos mais baratos”, lembra Silveira Filho.

Divulgação/Cooperpesca/Acervo Paulo Roberto Silveira Filho

M

aior reservatório em volume da América Latina, Serra da Mesa (GO) tem potencial alegado para produzir 34 mil toneladas de pescado, que colaboraria com a meta prevista para todo o Estado de Goiás de chegar a 297 mil toneladas por ano. Isso se ele estivesse a plena capacidade com seus 54,4 bilhões de m2, o que não ocorre há anos. Em níveis críticos atualmente (9,59% da capacidade), ele quase sepultou um projeto que começou promissor.

Ex-ministro Altemir Gregolin faz peixamento em Serra da Mesa em 2010 ao lado do vicegovernador de Goiás, Ademir Menezes, técnico da FUNDATER, Guthembergue Ribeiro e Paulo Silveira Filho (em sentido horário) Filho deu alguns telefonemas. Fornecedores de ração facilitaram o pagamento e produtores de alevinos repuseram os estoques perdidos de alguns clientes, mas foi uma doação inesperada que suavizou de vez o pessimismo. Em abril deste ano, a Aquabel entregou 60 mil alevinos em Uruaçu, dos quais um terço foi para os cooperados. Os peixes estão sendo abatidos agora, com 700 gramas. E injetam um pouco de esperança de que, em 2017, caso as chuvas deem conta de levar o reservatório a um patamar superior a 50% de capacidade, o cooperativismo na região retome seu fôlego. “Eu conheci no Paraná as cooperativas e o sistema de trabalho. São pessoas que batem no peito com orgulho e dizem: ‘Sou peixeiro, vivo disso, com a cooperativa consigo muita coisa’. Estamos a anos-luz do Paraná no cooperativismo, mas Goiás precisa sair do potencial para entrar na realidade”, conclui.


Coopermota

Nutrição animal cooperada

Ainda assim, os planos são de fornecer mais de 6.000 toneladas de ração este ano para os 40 cooperados do setor de piscicultura. A empresa possui uma fábrica de ração no mesmo município

da matriz, construída em 1992. Hoje fornece para pets, aves, suínos, vacas leiteiras, mas no segmento de nutrição aquícola oferece ração para alevinos, juvenis, engorda, peixes em crescimento e terminação. O número total de cooperados da Coopermota beira os 2100 cadastros ativos. Para Suguita, os desafios da expansão do modelo residem na verdadeira união dos produtores e fidelização ao propósito de que “com a força da união, poderemos ter melhores condições de oferecer e obter melhores rendimentos ao segmento”. Na sua visão, o cooperativismo pode ajudar na cadeia produtiva com produtos de qualidade, segurança de entrega do produto, competitividade e lucratividade ao cooperado.

Divulgação/Coopermota

F

atores econômicos e climáticos contaminaram as expectativas da Cooperativa Agroindustrial Coopermota, sediada em Cândido Mota (SP), no Vale do Paranapanema. “A situação atual deste mercado de nutrição, que é uma das várias atividades da cooperativa, não está animadora”, reconhece Diogo Suguita, gestor de suprimento e varejo da divisão de nutrição animal, que se insere em um leque de atividades que contempla ainda transportes, postos de combustíveis, unidades de negócios e silos de armazenamento de grãos.

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Ponto de Venda

De olho em 2017 Semana do Peixe fecha balanço positivo em 2016 apesar de adversidades institucionais e orçamentárias, mas principal legado é preparação para o próximo ano Fotos: Divulgação/Acervo Seafood Brasil

C

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hurrasco de tambaqui no estacionamento de supermercado, preços promocionais no varejo nacional, festival gastronômico, workshop de inovação, cursos acadêmicos, cursos gerais, conscientização do público infantil, manual de compra e consumo de pescado, entre muitas outras iniciativas. A quem acompanhou a Semana do Peixe 2016 pode parecer que a campanha foi produto de uma intensa preparação. De fato, os resultados surpreenderam os mais pessimistas, dadas as condições adversas de orçamento, de organização setorial e as consequências da transição política em curso no País. O consenso entre as entidades e empresas que participaram da organização, no entanto, aponta não tanto para o que foi realizado, mas o que se espera realizar na Semana do Peixe 2017. “A campanha de 2016 foi toda realizada com foco em desenvolver uma metodologia e um cronograma para que, em 2017, possamos torná-la ainda melhor”, atesta Abraão Oliveira, um dos funda-

dores da campanha no extinto MPA e coordenador da versão 2016. Diferentemente dos outros anos, a articulação deste ano se iniciou no setor privado, a partir do Comitê da Cadeia Produtiva da Pesca e da Aquicultura da Fiesp (Compesca). A partir das primeiras reuniões, realizadas em maio com participação da Associação Brasileira de Supermercados (Abras) e representantes da produção, importação, varejo e food service de pescado, o comitê organizador definiu a data e passou a disseminar informações sobre a campanha. Em pouco tempo, o governo federal, por meio da Secretaria de Aquicultura e Pesca do Ministério da Agricultura, juntou-se à campanha e liberou a identidade visual, que passou a ser aplicada em materiais de todo o País. Na sequência, cadeias varejistas iniciaram a elaboração de suas campanhas e programações de compras. No lado acadêmico, universidades e centros e pesquisa se mobilizaram para transmitir a mensagem da neces-

sidade de se incrementar o consumo de pescado à população. Camil Alimentos, Gomes da Costa, Dell Mare e Alaska Seafood Marketing Institute então patrocinaram iniciativas específicas no âmbito da Semana, com eventos, treinamentos e apoio à mídia. A imprensa especializada, por meio de veículos como a Seafood Brasil e a revista SuperHiper, registrou cada passo da articulação e multiplicou conteúdos. Até vídeos pelo WhatsApp foram divulgados sugerindo o aumento do consumo do pescado. Esse objetivo comum fortaleceu vínculos entre os atores responsáveis pela organização da campanha, como explica Roberto Imai, coordenador do Compesca, que elenca os ensinamentos desta edição: O segmento desta importante proteína ainda carece de uma organização sistêmica. O engajamento de outros elos e atores devem ser estimulados e o associativismo sério pode ser um caminho para isto;

1


As ações planejadas com o tempo necessário produzem efeitos muito melhores. Planejar é preciso;

2

O mercado responde muito bem aos estímulos, principalmente se forem bem orquestrados;

3 4

Temos muitas sinergias ainda não conhecidas ou exploradas; e

5

Juntos podemos muito mais.

Imai aproveita para estender os agradecimentos a todos os que se envolveram com a campanha. “Que saibamos internalizar estes ensinamentos não apenas para a Semana do Peixe 2017, mas no nosso dia a dia. Agradeço a todos os atores que, de algum modo, fizeram a diferença nesta Semana do Peixe, e informar que ano que vem tem mais”, conclui.

Lições para 2017

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Ano que vem tem mais, mas precisa ser melhor. Este é o diagnóstico corrente entre quem participou da articulação neste ano. “O ano de 2016 foi crucial para deixar claro que a campanha não vai desaparecer, mesmo diante de tur-


Ponto de Venda BALANÇO DE AÇÕES Vendas

GRUPO PÃO DE AÇÚCAR: “O resultado da Semana do Peixe foi positiva, atingimos o crescimento esperado na categoria de 15%. O destaque ficou por conta dos peixes frescos, alavancada por negociações especiais de peixes de extrativismo, como corvina, porquinho, sardinha e anchova. Além disso, foram comercializados grandes volumes de tilápia, salmão e camarão”, comenta Rafael Monezi, gerente comercial do GPA.

BOM PORTO: sem balanço até o fim desta edição, havia projetado vendas 25% a 30% maiores na Semana do Peixe 2016.

WAL-MART: a rede não divulga balanços de vendas, mas havia projetado vender pescado com preços até 17% mais baratos e ter adesão de 80% de sua rede de lojas.

ST. MARCHÉ/EATALY: “Nas lojas em que temos peixaria, tivemos um acréscimo de vendas na ordem de 5%, comparado com agosto, o que foi razoável, porque neste mês já havíamos efetuado ações por conta do mês da proteína, que havia gerado um acréscimo de vendas de 8% comparado com julho”, diz Emilio Barletta Neto, gerente da peixaria do grupo. “Em conversa com alguns clientes, notamos que a campanha foi mais percebida por eles neste ano.”

CENCOSUD: também não soltou balanço, mas programou sortimento de 100 itens para as mais de 220 lojas, com expectativa de vender 12% em comparação com a Semana do Peixe 2015.

CARREFOUR: A rede não divulgou balanço, mas afirma que foram 103 hipermercados participantes em todo o Brasil, com uma oferta de 45 tipos de peixe fresco e mais 30 tipos de

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“Estes laços aumentam receitas, mas também permitem incorporar a percepção do consumidor sobre a inovação no mercado. Além disso, é o momento de fazer girar o capital incorporado pelo setor durante a Quaresma, um giro a mais antes das festas de fim de ano.” Outra percepção elencada por Oliveira é de que a esfera Seminário com cases de sucesso do pescado: da produção precisa Semana teve muito mais do que preços promocionais aumentar o engajabulências políticas, mas o setor, sobretu- mento. “O produtor rural, aquicultor e do de industrialização e distribuição de até o pescador artesanal têm o maior pescado, precisa incorporar a Semana interesse na campanha, pois esta é uma do Peixe em seu calendário”, cobra excelente oportunidade de aproximaOliveira. “O setor supermercadista deição entre eles e o consumidor final. xou claro este ano que o fez, o que abre É uma oportunidade de discutir o elo as portas para um diálogo muito mais de comercialização, distante de quem extenso com esse elo tão importante.” está preocupado em produzir mais e melhor”, conclui. Segundo ele, as indústrias fornecedoras precisam aproveitar sobretudo O relatório final da campanha ainda o período que antecede a campanha não foi concluído, mas parte importanpara fortalecer seus laços com o varejo. te dele é um questionário qualitativo

peixe congelado. Ação de degustação especial em parceria com a Zaltana Pescados envolveu mais de 200 kg de tambaqui preparados em churrasqueiras em duas lojas de São Paulo.

Eventos SEMINÁRIO O SUCESSO DO PESCADO: Com 126 inscritos e 82 presentes de toda a cadeia produtiva, foi organizado pelo Compesca/ Fiesp em 08 de setembro. O secretário da Aquicultura e Pesca do Ministério da Agricultura, Dayvson Franklin de Souza, abriu o evento. O SESI-SP aproveitou a Semana do Peixe para promover, em sua rede de escolas, campanhas educativas e de sensibilização para estimular o consumo de pescado dentro do Programa Prazer de Estar Bem.

elaborado pelo Aqua Pecege, grupo vinculado à Esalq/USP e elencado como elo isento pelo comitê organizador para compilar os resultados (colabore respondendo a pesquisa em http://bit. ly/pesquisa-parceiros-semana-peixe-2016). Dados preliminares revelados à Seafood Brasil permitem tirar algumas lições para 2017: 1

O setor está de acordo com a data: 1ª Quinzena de Setembro;

2

Sugerem articulação com mais antecedência;

3

Divulgação de material impresso e maior divulgação nas mídias on-line, impressa e televisiva, além das redes sociais;

5

Retomada de parcerias e convênios com o governo federal, como na época do MPA;

6

Divulgar dados consolidados sobre volume de produção, vendas, parceiros envolvidos, ações realizadas, público impactado e preços médios de venda.


O Alaska Seafood Marketing Institute (ASMI), que patrocinou diversas ações da Semana do Peixe, também programou um pequeno festival em São Paulo focado no food service com peixes selvagens do Alasca.

O LABORATÓRIO DE PROBIÓTICO NA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ (Campus de Bragança) realizou, entre 12 e 15 de setembro, com o apoio da empresa G-Pesca, quatro oficinas para incentivar o consumo de pescado em escolas estaduais.

Durante o AquaCiência, realizado entre 1º a 5 de agosto em Belo Horizonte (MG), o workshop de gastronomia tratou sobre a Semana do Peixe e o incentivo ao consumo do pescado.

O Festival #ComaMaisPeixe, organizado pelo Grupo 5 Business Solutions, ofereceu entre 1º e 18 de setembro receitas autorais e exclusivas em 20 restaurantes da capital paulista com preços promocionais: no almoço R$ 29,90 e no Jantar R$ 39,90.

MINAS GERAIS: o Governo do Estado (Seapa, Emater e IMA, Secretaria de Desenvolvimento Agrário-SEDA e Secretaria de Educação-SEE) e setor privado (Natupeixe, TrutasNR, Brazilian Fish, Frigorã, Piscicultura Igarapé, Associação dos Aquicultores de Patrocínio do Muriaé e Barão do Monte Alto –AAQUIPAM- BMA e Territórios Gastronômicos) organizaram entrega de materiais, divulgação na mídia, mobilização em escolas da

rede pública, eventos gastronômicos, comerciais e educacionais na Cidade Administrativa, em Belo Horizonte (MG). INSTITUTO DE PESCA DE SÃO PAULO: uma série de atividades no Museu de Pesca, em Santos (SP), e no auditório do instituto, na capital paulista, incluiu oficinas de arte, palestras, visitas monitoradas e tendas montadas especialmente para apresentar ao público geral informações sobre a origem do pescado, aquicultura, meio ambiente, biologia marinha, consumo responsável, entre outros temas. UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO GRANDE DO NORTE realizou palestras sobre como comprar e preparar produtos de pescado, hábitos e preferências do consumidor potiguar, além de minicursos, entrevistas e divulgações sobre os benefícios do consumo de frutos do mar.

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A FACULDADE DE MEDICINA VETERINÁRIA E ZOOTECNIA (FMVZ/USP) realizou evento em 14 de setembro com informações para a comunidade acadêmica e o público geral sobre o consumo de pescado.


TECNOLOGIA DE PONTA Suplemento especial de tecnologia para processamento de pescado

A

Seafood Brasil preparou, com a ajuda do Instituto de Tecnologia de Alimentos (Ital), Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP) e as empresas Brusinox, Marel e Haarslev, este material para colaborar no aprimoramento da indústria de pescado brasileira.

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Como diz o pesquisador científico do Ital José Ricardo Gonçalves o baixo consumo de pescado no Brasil na comparação com outras proteínas

Processamento

animais é atribuído “à falta de tradição em consumir peixe, à pequena oferta do produto, à um sistema de distribuição e comercialização ineficiente e, muitas vezes, com grandes gastos, além de falhas na indústria processadora em oferecer produtos diversificados e práticos.” Ele continua: “O consumidor, hoje, procura consumir alimentos saudáveis, com alto valor nutritivo e de fácil preparo e para atender a estas exigências é preciso que a indústria de pescado inove.”

Aditivos e Ingredientes

Refrigeração

A inovação passa por inúmeros processos, como sintetiza a também pesquisadora do Ital Ana Lúcia da Silva Corrêa Lemos. “Existe uma grande variedade de produtos processados de pescado, desde os derivados tradicionais de peixe, que incluem os defumados, salgados, salgados secos, enlatados e fermentados, até os produtos à base de polpa, que requerem maior elaboração.” Veja neste suplemento algumas das tecnologias disponíveis para ajudar a indústria a chegar lá.

Embalagem

Outros Acessórios e Serviços



Processamento: muito além da filetagem

Outro processo, ainda pouco difundido no Brasil, é a defumação. A execução reduz o nível de água do produto e, dependendo do método, pode conferir um efeito adicional de preservação, mas não previne a deterioração nem “salva” o produto já estragado. “Qualquer peixe pode ser defumado, as variações existentes decorrem da preferência do

consumidor e pelas diferenças entre as espécies”, explica Ana Lúcia. No entanto, a qualidade da matéria-prima é importante e indispensável. Como indica a pesquisadora, há três tipos mais comuns de defumação: “a frio, a quente e com secagem. A frio, o peixe não é cozido e o produto final é mantido com as qualidades originais do peixe fresco. Na defumação a quente, o peixe é cozido, prevenindo a deterioração por apenas um ou dois dias se o produto não foi seco. Alguns agentes antimicrobianos são encontrados na fumaça, tendo efeito adicional de preservação.” O cozimento do peixe em água ou salmoura é outro método de curto prazo de preservação, usado em muitos países, principalmente no sudeste da Ásia. “A vida de prateleira destes produtos varia de um ou dois dias até alguns meses, dependendo do modo de processamento”, sublinha a especialista do Ital. “O cozimento em água a pressão ambiente desnatura as proteínas e elimina muitas bactérias presentes no peixe. A deterioração que ocorre normalmente pode ser impedida ou drasticamente reduzida.

Classificadora de camarão, filetadora automática e glaciador contínuo: equipamentos da Brusinox

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Mas é bom ressaltar que não ocorre esterilização do produto.” As conservas e semi-conservas também oferecem segurança microbiológica para produtos armazenados em temperatura ambiente. “Nas conservas o agente de preservação é o processo de esterilização, tendo como alvo a destruição de esporos de Clostridium botulinum. Nas semiconservas essa bactéria pode ter seu crescimento inibido em meio acidificado e pH não superior a 4,5, complementandose com o processo de pasteurização para a destruição de formas vegetativas de patógenos e deterioradores de menor resistencia térmica, reduzindo-se a carga microbiana inicial”, explica Ana Lúcia. A constante busca pelo aumento do rendimento por carcaça de pescado também direciona os investimentos à Carne Mecanicamente Separada (CMS), que faz parte de um conceito mais abrangente chamado de minced fish (MF). O MF pode ser obtido de uma única espécie ou de uma mistura de espécies,

Divulgação/Brusinox

E

xistem muitos processos de beneficiamento de pescado além da tradicional filetagem. O próprio “bacalhau”, ainda interpretado pelo consumidor tradicional como se fosse uma espécie, nada mais é do que um processo de salga e secagem. Como indica Ana Lúcia, neste procedimento é necessário que o peixe seja preparado de modo a absorver rapidamente o sal e remover a água. “Para tanto é feito um corte na carne aumentando a área de contato e reduzindo sua espessura. É importante salientar que o peixe processado deve agradar o consumidor no que diz respeito a retirada ou não da cabeça, espinha dorsal, escamas. Nestes processos, com a retirada da espinha e escamas, a absorção do sal é mais rápida, além de facilitar a secagem.”


Divulgação/Marel

Divulgação/Marel

Divulgação/Marel

Showroom da Marel na Dinamarca em 2015: demonstrações práticas do futuro do processamento de pescado

pelo processo de separação da parte comestível das vísceras, ossos e pele. “O MF é produzido por tecnologia própria e não deve ser confundido simplesmente com pescado triturado. O MF é um produto intermediário que serve como matéria-prima na obtenção do surimi, hambúrguer, produtos embutidos, empanados etc. A aplicação do processo de minced fish é uma alternativa atraente, pois pode utilizar uma grande variedade de espécies de peixes permitindo uma maior recuperação da carne em relação à obtida pelos métodos convencionais”, completa Ana Lúcia. “O produto MF possui maior viabilidade econômica, quando comparado com a filetagem, por apresentar recuperação adicional de carne entre 10% a 20%. É preciso levar em consideração, que a quantidade de recuperação da carne depende da espécie, tamanho, tipo de equipamento utilizado, entre outros fatores.” A pesquisadora avalia que o MF foi responsável pela maior evolução em equipamentos para a tecnologia de processamento de pescado. O Brasil tem grandes chances de expandir este desenvolvimento pelas características únicas de suas espécies nativas, como a espinha em Y do tambaqui – ainda um empecilho para a massificação do seu consumo. Uma das empresas concentradas nesta estratégia é a Brusinox, que possui uma linha abrangente de produtos e soluções para o segmento. Segundo Cristiano Clemer, gestor do negócio de pescado da companhia, são estes os equipamentos mais demandados no processamento do pescado:

• Para a recepção e abate: sistema automático de retirada de peixes em tanques de depuração, atordoadores elétricos e com gelo, mesas de sangria (talho), tanques de sangria, descamadora de pescado (jato d’água, cilíndrica e centrífuga), lavadores de pescado (cilindro e túnel), evisceradoras automáticas a vácuo e mesas de evisceração; • Para o salão: mesas de filetagem e refile (toalete), filetadoras automáticas, máquinas automáticas para tirar pele, mesas de inspeção, despolpadeira de pescado, transportadores de esteira e helicoidais diversos; • Para o congelamento: túnel helicoidal (girofreezer), glaciador contínuo, transportadores de secagem, carros para congelamento com bandejas e transportadores para congelamento tipo cascata; Com tudo isso, e sem contar a mão de obra, o custo fixo de um frigorífico de pescado é muito alto. “Então o empresário deveria pensar em aumentar a produção para incrementar o faturamento e o lucro. Investir em equipamentos automatizados que podem ser operados com mão de obra mais acessível. Procurar aproveitar o

máximo da matéria-prima criando mais produtos. Primar pela qualidade. Fazer pesquisas de mercado, procurar saber o que o consumidor final prefere, o que este consumidor compraria ou não compraria”, aconselha Clemer. Para discutir temas similares, a islandesa Marel organizou no ano passado o Whitefish ShowHow, uma espécie de showroom de máquinas de processamento de peixe branco, seja de cultivo ou captura. O evento, cuja segunda edição está programada para 10/11 de 2016, em Copenhague (Dinamarca), concentra-se em demonstrações práticas desde o recebimento da matéria-prima, manipulação e processamento de filés de valor agregado, bem como soluções avançadas de software projetadas para melhorar os processos em toda a cadeia de valor. A ideia é apresentar de que forma a empresa pode colaborar com fatores críticos que afetam a utilização de matérias-primas, tempo de processamento e custos de trabalho, bem como a segurança dos alimentos. O programa inclui palestras e seminários, onde palestrantes convidados e especialistas da Marel abordarão algumas das questões-chave que a indústria enfrenta nos dias de hoje.

Empresas citadas

Cristiano Clemer (47) 3351-0567; 3044-5850 e 9934-1570 cristiano@brusinox.com.br

Marcelo Serpa (41) 3888-3400; (47) 9912-0195 marcelo.serpa@marel.com 41


O uso de aditivos alimentares

C

omo em tudo o que se aplica ao setor de pescado, não existe o preto e o branco. É o caso dos aditivos alimentares em pescado. Segundo a própria Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), a principal discussão sobre o emprego de aditivos resulta da controvérsia entre a necessidade e a segurança de seu uso. É inegável que existam benefícios da aplicação de aditivos alimentares, mas na mesma medida é justificada a preocupação das autoridades quanto aos riscos “toxicológicos potenciais decorrentes da ingestão diária dessas substâncias químicas”, como define a Anvisa. Afinal, estamos tratando de produtos destinados ao consumo humano.

O Brasil é signatário do Codex Alimentarius, conjunto de normativas sobre alimentos criado pela FAO, mas a legislação nacional é soberana. Decretado em 1952, o Regulamento da Inspeção Industrial e Sanitária de Produtos de Origem Animal (Riispoa)

é que rege a forma de atuação dos fiscais federais agropecuários e define, por exemplo, o agora “polêmico” limite de pH aceitável em 6,8 para a carne de pescado. Os fiscais dizem que um nível mais alto que isso denota deterioração do produto ou adição de substâncias químicas com vistas a fraudes. Já a indústria, embora reconheça excessos, defende as propriedades que algumas substâncias conferem à carne de pescado. Os fosfatos, por exemplo, há muito são adicionados em produtos de carne e de pescado para melhorar a capacidade de retenção de água durante o processamento. “Isto impede a perda de peso destes produtos, ou mesmo permite a adição de água, viabilizando o processo. Atualmente as salmouras básicas para marinação contêm necessariamente água, sal e alguma forma de fosfato. Há controvérsias quanto ao tipo de fosfato a ser utilizado para a marinação, porém a indústria vem utilizando geralmente o tripolifosfato que é o de mais baixo custo”, informa Ana Lúcia da Silva Corrêa Lemos, pesquisadora científica do Centro de Tecnologia de Carnes do Instituto de Tecnologia de Alimentos (CTC/Ital). De qualquer forma, existe uma regulamentação a respeito. A Resolução CNS/MS N.º 04, de 24 de novembro de 1988, define que os principais aditivos usados no pescado são: • Ácido láctico: para uso no próprio sal usado em pescado salgado, salgado e prensado ou salgado seco na concentração máxima de 2,00 g por 100 g; • Aroma natural de fumaça: para produtos de pescado defumado (somente

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nos tipos consagrados), na concentração máxima de 0,009 g por 100 g; • Polifosfatos: hexametafosfatos de sódio, metafosfatos de sódio ou potássio, pirosfosfato de sódio ou potássio, tripolifosfato de sódio ou potássio, para uso apenas na água de revestimento externo (glazing) de pescado congelado na concentração máxima de 0,50 g por 100 g; • Dióxido de enxofre: metabissulfito de sódio, metabissulfito de potássio, metabissulfito de cálcio, sulfito de sódio, sulfito de cálcio, sulfito de potássio, bissulfito de cálcio, bissulfito de sódio e bissulfito de potássio para camarões e lagostas nos limites de 0,003 (no produto cozido) e 0,01 (no produto cru), para cada 100 g; • Ácido cítrico: usado como regulador de acidez, não possui limites definidos na legislação, prevalecendo as Boas Práticas de Fabricação. Além dos aditivos, os ingredientes também são muito utilizados na indústria. Um dos processos mais populares é o empanamento, que além de conferir crocância e sabor, pode aumentar a vida de prateleira e evitar a oxidação da carne crua. “A obtenção de produtos empanados pressupõe basicamente a aplicação de ‘batter’ (líquido de empanamento) e do ‘breading’ (enfarinhamento). O ‘batter’ é uma mistura líquida composta de água, farinha, amido, agentes de escurecimento, corantes, agentes levedantes (fermento), gomas, condimentos e flavorizantes. Os produtos são submergidos nesta mistura, antes de serem enfarinhados e/ou fritos”, conclui Ana Lúcia.


Refrigeração é elementar

A

s feiras livres pelo Brasil afora podem não seguir isso à risca, mas é fato que a refrigeração e o pescado são indissociáveis. De acordo com Ana Lúcia Lemos, o transporte em gelo ainda é a prática mais comum no caso dos peixes frescos e a qualidade da água deve ser observada. “Já em relação ao pescado congelado, o congelamento em placas é muito comum para blocos que serão submetidos a processamento, mas quando se trata de congelar para o varejo o IQF é o processo mais recomendado e proporciona produtos de melhor qualidade.” Ela lembra que, antes do congelamento IQF (rápido), o peixe

é adicionado de substâncias crioprotetoras que incluem principalmente o fosfato. A especialista destaca ainda que as flutuações de temperatura durante o transporte e armazenamento poderão ocasionar alterações, ainda que o processo de congelamento seja realizado adequadamente. Em termos de legislação, o RIISPOA novamente é a fonte principal de referência da indústria nacional. Em seu artigo 37 diz que os estabelecimentos destinados ao recebimento e industrialização de pescado devem dispor, nos entrepostos de pescado, de câmaras frigoríficas, para estocagem de pescado em temperatura de -15ºC

(menos quinze graus centígrados) a -25ºC (menos vinte e cinco graus centígrados). Além disso, a lei preconiza a disposição de veículos apropriados e isotérmicos. No caso dos congeladores, existe uma série de equipamentos disponíveis, como túneis e congelamentos estáticos ou contínuos; congelador de placas, normalmente restritos a blocos ou porções fracionadas; congelamento criogênico, por nitrogênio (-196ºC); congelador tipo shark freezer; congelador imersão em salmoura; monobloco frigorífico; sistema Split; câmara frigorífica convencional ou pré-moldada; fábrica de gelo em blocos, tubos ou escamas.


Embalagens: visual e proteção aprimorados

O

melhor vendedor do seu produto é, sem dúvida, a embalagem. A combinação entre um design atraente e uma função protetora e, em alguns casos, até extensora do tempo de prateleira, é a chave para o sucesso frente ao consumidor. Em artigo publicado na Visão Agrícola (revista da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz), versando sobre a aquicultura, Dra. Marília Oetterer, e a Dra. Juliana Antunes Galvão destacam que podem ser encontradas embalagens impermeáveis, muito utilizadas para produtos sob vácuo, e as permeáveis. Segundo as pesquisadoras, o material componente da embalagem pode ser simples (polietileno e o polivinil clorídrico - PVC), múltiplos (compostos de lâminas de 2 a 3 filmes) ou polímeros coextrudados. ““As bandejas recobertas de filme

plástico somado ao uso de material absorvente tem sido utilizadas com sucesso no pescado refrigerado, no intuito de evitar a formação de água no interior das embalagens devido à exsudação dos filés. O uso do vácuo também é uma alternativa viável ao pescado, pois prolonga a vida útil do produto, melhora sua aparência e evita o processo de oxidação”, afirmam as especialistas. Na Europa é muito comum encontrar pescado embalado em atmosfera modificada (ATM), um processo de inserção de uma mistura de gases (principalmente nitrogênio e dióxido de carbono) que substitui o oxigênio. Isso chega a dobrar o tempo de prateleira e é muito útil no caso de pescado nativo, com processamento próximo do ponto de venda. No Brasil são poucas as empresas que apostam na tecnologia. Além de estenderem a vida útil do produto, também são chamativas – característica essencial elencada por Ana Lúcia, do Ital. “Destacase a necessidade de embalagens que impeçam o ressecamento e a oxidação do pescado durante a estocagem congelada permitindo a visualização do produto pelo consumidor quando se tratar de embalagem para varejo”, acrescenta. Outra técnica muito em voga, mas ainda pouco utilizada, é o sous vide. Conforme explica Ana Lúcia, nesse sistema os alimentos crus ou parcialmente cozidos são acondicionados sob vácuo em embalagens de filmes laminados, tratados termicamente por meio de

44

um processo de cocção controlado e rapidamente resfriados. “Estes alimentos são reaquecidos para consumo após um período de armazenamento refrigerado, que varia em função do tipo de produto.” Essa cocção, segundo o Ital, minimiza os odores provocados pela oxidação, tornando os alimentos mais saborosos e nutritivos, além de retardar o crescimento bacteriano. É possível ainda congelar estes produtos a -18ºC, desde que observados os impactos dos cristais de gelo na textura da carne. “As principais preocupações com a segurança destes produtos residem nos riscos de abuso nas temperaturas de refrigeração durante a distribuição e exposição no varejo”. Em um universo com consumidores carentes de tempo, mas com fome de produtos práticos e saudáveis, esta é uma grande alternativa.


Graxaria, higiene e aproveitamento de pescado

U

m frigorífico é tão eficiente quanto for o aproveitamento dos subprodutos da matéria-prima principal e adoção de práticas que inibam os vetores de contaminação na manipulação de pescado - que podem jogar no lixo no investimento feito nos itens anteriores deste suplemento e inviabilizar a produção. Comecemos pela higienização na planta. Conforme a pesquisadora científica do Ital Renata Bromberg, a limpeza e a sanitização são os dois procedimentos dedicados a reduzir o número de microrganismos patogênicos a níveis aceitáveis. “A operação de limpeza em uma indústria de alimentos promove a remoção de resíduos de alimentos e de sujidades aderidos às superfícies. Esta consiste em uma etapa de lavagem com detergentes, seguida do enxague, constituindo-se em um pré-requisito para o processo. A sanitização tem por objetivo reduzir os microrganismos de importância para a saúde pública a níveis considerados seguros, sem afetar adversamente a qualidade do produto ou sua segurança”, esclarece.

Entretanto, existem riscos no uso inadequado de sanitizantes, como o cloro. “Os microrganismos podem apresentar resistência inata ou adquirida aos sanitizantes. Uma das condições que podem conduzir ao desenvolvimento da resistência adquirida inclui a aplicação de doses subletais deste sanitizante”, indica a especialista. Ela acrescenta ainda que, com resistência inata ou adquirida, os microrganismos patogênicos podem criar uma espécie de filme que os agrega e protege contra outros sanitizantes. Para saber exatamente como conduzir os processos de higiene dentro do frigorífico, é recomendável adotar procedimentos eficazes de monitoramento de risco e de programas de controle, como o Haccp ou Appcc (Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle). Outra faceta desta busca pela performance é justamente a construção de uma área de graxaria ou de aproveitamento de subprodutos para fabricação de itens não indicados à alimentação humana, como farinha, óleo e goma de peixe. A Haarslev, no Brasil desde 1997, especializouse no tema em todas as cadeias de proteína animal. No segmento de pescado, a empresa destaca o processo de fabricação de farinha de peixe pelo tratamento do pescado em baixa temperatura, “que preserva importantes aminoácidos presentes na matéria-prima”. O processo é composto de um pré-aquecedor com baixo consumo de energia térmica, responsável por aquecer a matéria-prima para que esta seja posteriormente prensada. No caso da Haarslev, que possui uma prensa de

duplo eixo, a separação do coproduto é feita em duas fases, sólida e líquida. A fase sólida segue então para um secador no qual a matéria irá atingir aproximadamente 8% de umidade. Já o material líquido que sai da prensa segue para um tridecanter onde é separado em 3 fases: óleo, água e sólido. O óleo segue para expedição, a água segue para um evaporador responsável pela concentração de proteínas presentes na água, que retornarão posteriormente para a etapa de secagem. “Como fonte de energia o evaporador utiliza os próprios gases provenientes da secagem, garantindo um baixíssimo consumo de vapor”, diz a empresa. Após o processo de secagem, os sólidos, já chamados de farinha, seguem para a moagem (também fornecida pela Haarslev), para posteriormente realizar o ensaque ou expedição deste material.

Empresas citadas

Carlos Eduardo L. de Brito (41) 8706-7975 carlos.brito@haarslev.com 45


Na Cozinha

A porta de entrada do

food service Presença do pescado na hotelaria ainda é tímida, mas espaço para expansão é real

SEAFOOD BRASIL • JUL/SET 2016 • 46

Texto: Ricardo Torres | Fotos: Felippe Zambrano

N

ão faz muito tempo os restaurantes de hotéis europeus eram as maiores referências em gastronomia em todo mundo. Criavam tendências, projetavam chefs ao estrelato, acumulavam estrelas Michelin e suas criações determinavam o que se servia em restaurantes à la carte e buffets em todo mundo. Hoje os chefs também viraram grandes empresários, donos ou sócios de estabelecimentos que levam sua própria marca.

No Brasil o cenário dos hotéis influenciadores é mais restrito. Ainda assim, conserva a capacidade de impactar criativamente a cadeia do food service como um todo. Receitas surgidas das cozinhas de um Hilton, Sheraton ou Unique têm grandes chances de chegarem em pouco tempo a pousadas de charme de Trancoso (BA), a resorts de luxo em Porto de Galinhas (PE), a hotéis-fazenda da Serra Gaúcha ou até a escolas de gastronomia.

Daí a serem adaptados em versões mais baratas e populares em churrascarias, restaurantes à l acare e buffets é um pulo. Ou seja, trata-se da porta de entrada do food service, a que o pescado tem pouco acesso. Esta é a conclusão de Enzo Donna, dono de uma consultoria especializada no ramo (ECD), que falou à Seafood Brasil após participar da feira Equipotel, realizada entre 19 e 22 de setembro, em São Paulo (veja box). Leia nos quadros o depoimento completo dele conforme os temas abordados.


Equipotel 2016

O nosso grupo de Distribuidores do Food Service (Diefs) realizou a rodada de negócios utilizando como plataforma a Equipotel. Havia 14 distribuidores que conversaram com 15 indústrias. As indústrias presentes eram bastante expressivas, como Pepsico,

Unilever, Bunge, Vigor, Itambé, entre outras. Estas conversaram com os distribuidores em 210 reuniões de negócio. E isso gerou vendas de R$ 55 milhões aproximadamente que se originaram no momento do encontro, sobretudo na área de lácteos, o que se traduz em negócios futuros que não temos como quantificar. O grupo Diefs atende 80 mil estabelecimentos semanalmente em 2500 municípios, em metade dos municípios do Brasil. Então realmente é um impacto muito grande, deu bons resultados, foi positivo e continuaremos fazer isso para potencializar o segmento food service nas feiras.

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A Equipotel foi uma boa feira, mas sentimos a falta, obviamente, da indústria de alimentos. Isso está atingindo todas as feiras. Tem muita presença de equipamentos, utensílios, mas há um esforço muito grande dos organizadores para trazer mais alimentos ao evento. A Equipotel está fazendo este esforço e tem tido um razoável sucesso.

Por Enzo Donna, da ECD Consultoria


Na Cozinha

Pescado na hotelaria O pescado tem uma presença muito grande em churrascaria, como também no mercado de hotelaria. Os hotéis têm uma característica muito especial: nos estabelecimentos de 3 a 5 estrelas, semieconômicos e de padrão mais elevado, o consumo de pescado é bastante expressivo, justamente pelo tipo de público. É um público executivo, preocupado em comer coisas gostosas e saudáveis. O pescado está associado à saudabilidade. O padrão deste público é tomar café da manhã no hotel e à noite fazer uma refeição, um lanche ou um jantar. Quando é um jantar, favorece a linha de massas e pescado. Massa porque é facilmente digerida, e o cardápio de peixes e frutos do mar tem bastante saída nos hotéis. Há estabelecimentos muito estruturados neste aspecto com uma ou duas espécies de peixe, mas há mui-

tos hotéis que não sabem trabalhar. Os locais de 5 estrelas trabalham muito bem, mas o pescado encontrado normalmente é salmão. Falta um trabalho neste sentido de desenvolvimento de hotelaria, diversificação de espécies, e isso reflete o baixo consumo de pescado no Brasil, bem abaixo da média latino-americana. Deveria haver um esforço conjunto. O hotel formador de opinião é fundamental. Na Europa, os restaurantes de hotel eram os principais, hoje se perdeu um pouco isso. Mas todas as grandes tendências, chefs e restaurantes nasceram com a hotelaria. Temos hotéis referências no Brasil que fazem isso. São hotéis com gastronomia muito forte. Em São Paulo, por exemplo, tínhamos o hotel Ca’d’oro, onde a cozinha era mais importante que o hotel (Nota do editor: O C’ad’Oro reabriu em meados de outubro). Quando se fala de gastronomia expressiva é aquela que marca

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Status do food service? O mercado de food service está na base de um “U”. A crise começou em 2014, aprofundou-se em 2015 e em 2016 a situação está menos difícil. Há perda de faturamento e de público este ano, menor que no ano passado. Isso sinaliza que pode continuar caindo, mas caindo menos. O setor está vendo muito consumo de produtos feitos fora de casa, mas consumidos dentro de casa. Uma onda de trazer o restaurante para dentro de casa. Delivery de pescado e produtos prontos associados a pescado são áreas de oportunidades em que vamos ter novidades.

referência, que cria hábitos. Se consigo desenvolver uma linha de receitas na hotelaria, isso migra para churrascaria, restaurantes à la carte etc. As empresas não têm feito seu trabalho. Os produtores, importadores e distribuidores não estão realizando um trabalho focado na ampliação do consumo na hotelaria. O pessoal da carne tem feito isso, criando academia da carne, fazendo marca de carne. O peixe vai ter esse espaço também, mas precisa de investimento e desenvolvimento.


“A revolução do pescado” De sistemas de gestão a festivais gastronômicos, tudo o que se pode explorar e aprimorar em um estabelecimento de hotelaria. Essa foi a oferta de serviços do BaresSP Experience, um espaço multissetorial de 200 m² realizado dentro da última Equipotel 2016, que contou com a presença do Experiências Seafood Brasil – um módulo de geração de negócios e relacionamento criado pela revista Seafood Brasil para eventos. (Acesse baressp.com.br para saber quais foram as demais ilhas temáticas) Um dos destaques da feira neste ano, que migrou do Anhembi para um moderno e repaginado SP Expo (antigo Centro de Exposições

Imigrantes), o estande do BaresSP reuniu diversas ilhas temáticas concentradas em resolver problemas de hotéis, pousadas e afins. O pescado entrou neste contexto, como uma matéria-prima saudável e, acima de tudo, saborosa. Esta foi a tônica da apresentação do editor da revista Seafood Brasil, Ricardo Torres (foto acima), ao longo dos quatro dias de feira.

Os seis pilares de uma “revolução do pescado”

1 a expansão da oferta de pescado nos últimos anos, com diversificação de espécies e origens; 2 a saudabilidade, acompanhada de uma grande diversidade de sabores e preparações, que convertem o pescado em uma matéria-prima inigualável; 3 a sustentabilidade, a que cada vez mais o segmento e seus consumidores valorizam, da pesca à aquicultura; 4 a previsibilidade de fornecimento dada pela aquicultura; 5 o falso dilema do resfriado versus o congelado e a espiral de responsabilidades sobre as fraudes; e 6 o food service, em especial hotéis e churrascarias, como portas de entrada do consumo de pescado. Além disso, os visitantes puderam se familiarizar com os peixes selvagens do Alasca, por meio da participação do Alaska Seafood Marketing Institute (Asmi). Coordenados por Carolina Nascimento, representante da Asmi no Brasil, os trabalhos envolveram a

degustação de espécies como salmão sockeye, cod do Atlântico (o bacalhau fresco Gadus macrocephalus) e black cod (guindara do Alasca), em diversas apresentações. “Fizemos muitos contatos, mas o principal é termos a chance de introduzir estas espécies como alternativas para esta diferenciação nas matérias-primas de hotéis e restaurantes”, sublinhou Carolina. Distribuidores nacionais desses produtos, como a Noronha, Pescados, Frescatto Company, Trident Seafoods e Vivenda do Camarão também enviaram seus representantes. O Experiências Seafood Brasil levou ainda à feira as lagostas Homarus americanus provenientes da empresa canadense Clearwater, mantidas vivas durante todos os dias da feira em um aquário especialmente preparado para elas. O representante da Lobster Brasil, responsável por aclimatar e manter os animais vivos em uma estrutura adequada no Butantã (bairro paulistano) para depois vendê-los aos restaurantes, disse que a participação teve uma finalidade educativa. “Queríamos apresentar a lagosta proveniente do Canadá, cuja pesca é certificada pelo MSC, ao público de hotéis e restaurantes. Quando o público conhece o produto, ele recomenda aos estabelecimentos”, relatou Rodrigo Conci, sócio da Lobster Brasil.

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Sempre às 17h, o editor da revista apresentou ao público hoteleiro as mudanças pelas quais o segmento passa que podem acelerar a introdução dos peixes e frutos do mar nestes cardápios:


Estatísticas Como vão a aquicultura e pesca mundiais?

Conteúdo fornecido pela parceira

20.1 kg

Informe da FAO traz números que revelam crescimento mundial da produção de pescado; projeções para 2025 incluem um Brasil bem posicionado Texto: Gabriel Kuhn | Arte: Pablo Perez

D

uas décadas após a sua primeira aparição, e com atualizações bienais ininterruptas, o informe The State of World Fisheries (SOFIA), da FAO, apresentou sua versão mais recente.

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Com dados estatísticos mundiais de 2014, as 226 páginas que o compõem representam um material mais do que interessante se a pretensão é se aprofundar na situação global do setor. Os 19,1 milhões de toneladas a mais em 2014, em comparação com 2010, refletem, à primeira vista, um crescimento da pesca e da aquicultura. Especialmente da segunda, que pela primeira vez ultrapassou o pescado selvagem em volume. Um reflexo de que o mundo da pesca está em transição. Por isso, o estudo expõe as abordagens mais diversificadas, desde a análise dos recursos pesqueiros, frota, trabalhadores, consumo e comércio, até problemáticas como o impacto ambiental da aquicultura, a valorização da pesca continental e a redução quase urgente de capturas incidentais. Tudo emoldurado dentro dos objetivos de desenvolvimento sustentável da Agenda 2030, aprovada por 193 países membros das Nações Unidas, cujo objetivo final está resumido na capa do SOFIA 2016: “contribuir para a segurança alimentar e nutricional para todos”. Nestas páginas, uma síntese dos destaques do relatório, disponível na íntegra em www.fao.org/3/a-i5555s.pdf.

per capita

2014 teve record e de oferta mundial

Produção mundial

Em 2014, a oferta per capita de pescado atingiu um recorde, com 20,1 kg, em grande parte graças ao crescimento determinado da aquicultura, que agora fornece metade de toda a oferta destinada ao consumo humano. O consumo de peixe em todo o mundo passou de uma média de 9,9 kg em 1960, a 14,4 kg em 1990 para 19,7 kg em 2013. E em 2025, tal como calculado, chegaremos a um consumo de 21,8 kg per capita, graças a uma produção global para consumo humano estimada em 178 milhões de toneladas, com 57% proveniente da aquicultura. Em 2013, o pescado foi responsável por cerca de 17% de todas as proteínas animais e 6,7% de todas as proteínas consumidas por mais de 3,1 bilhões de pessoas em todo o mundo.

PRODUÇÃO MUNDIAL - EM MILHÕES DE TONELADAS

2009

CAPTURA Continental Marinha TOTAL

10,5 11,3 11,1 11,6 11,7 11,9 79,7 77,9 82,6 79,7 81 81,5 90,2 89,1 93,7 91,3 92,7 93,4

AQUICULTURA Continental Marinha TOTAL TOTAL GERAL

34,3 36,9 38,6 42 44,8 47,1 21,4 22,1 23,2 24,4 25,5 26,7 55,7 59 61,8 66,5 70,3 73,8 145,9 148,1 155,5 157,8 162,9 167,2

UTILIZAÇÃO Consumo humano Outros usos População (bilhões)

123,8 128,1 130,8 136,9 141,5 146,3 22 20 24,7 20,9 21,4 20,9 6,8 6,9 7 7,1 7,2 7,3

OFERTA PER CAPITA

2010

2011

2012

2013

2014

18,1 18,5 18,6 19,3 19,7 20,1

Fonte: FAO-SOFIA 2016 Nota da FAO: não se contabilizam plantas aquáticas. Os dados de 2014 não são definitivos, mas uma estimativa.


Produção por país (toneladas) | 2014 PESCA MARINHA

China..............45.469.000

China..............14.811.390

Índia.................4.881.000

Indonésia........6.016.525

Indonésia........4.253.900

EUA...................4.954.467

Vietnã...............3.397.100

Rússia..............4.000.702

Bangladesh.....1.956.900

Japão...............3.630.364

Noruega...........1.332.500

Peru..................3.548.689

Chile.................1.214.500

Índia.................3.418.821

Outros............11.278.800

Outros............41.168.395

PESCA CONTINENTAL

TOTAL

China................2.295.157

China..............62.575.547

Myanmar.........1.381.030

Indonésia......10.690.615

Índia.................1.300.000

Índia.................9.599.821

Bangladesh........995.805

Vietnã...............6.316.300

Camboja.............505.005

EUA...................5.380.367

Uganda...............461.196

Myanmar.........5.045.470

Indonésia...........420.190

Japão...............4.287.364

Outros..............4.537.498

Outros............63.333.450

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AQUICULTURA


Estatísticas Pesca extrativa | 2014 A pesca marinha aumentou a produção gradualmente até atingir 86,4 milhões de toneladas em 1996, seu pico. Nos anos seguintes, o volume foi mantido, com uma ligeira tendência descendente. Em 2013, foram desembarcados em todo o mundo 80,9 milhões de toneladas, queda de 0,7% em relação a 2014, com uma distribuição por oceano semelhante em ambos os anos. A tendência de queda também foi refletida em populações de peixes explorados a níveis biologicamente sustentáveis, que em 1974 eram 90% e, em 2013, foram reduzidos para 68,6%. Em consequência, a porcentagem de espécies explotadas de maneira insustentável passou de 10% para 31,4% quatro décadas mais tarde, de acordo com a análise da FAO.

Situação mundial das populações marinhas (1974-2013)

ESPÉCIES MAIS CAPTURADAS DO MUNDO - TOP 20

100 %

Polaca do Alasca 3.214.422

Bacalhau do Atlântico 1.373.460

Anchoveta 3.140.029

Peixe-espada 1.260.824

Bonito-listrado 3.058.608

Sardinha europeia 1.207.764

2013

Sardinha 2.326.422

Lula gigante 1.161.690

A um nível biologicamente insustentável

Cavala 1.829.833

Verdinho 1.160.872

Arenque do Atlântico 1.631.181

Carito 919.644

Sobreexplotados

75 50

Plenamente explotados

25 Subexplotados

0

1974

1985

1995

A um nível biologicamente sustentável

Captura marinha mundial (1950-2014) 80 Milhões de toneladas

Albacora-laje 1.466.606

60

2033

40

es

espéci

Cavalinha 1.456.869

20

O o da FA Registr o dobro , 4 em 201 1996 que em

Cavala do Atlântico 1.420.744

0 1950

1970

1990

2014

Anchoíta japonesa 1.396.312

Lula argentina 862.867 Peixe-leite 649.700 Agulhinha do Pacífico 628.569 Caranguejo asiático 605.632

Porcentagem da captura x oceanos

Pacífico Norte-Ocidental

Atlântico Norte-Ocidental

3,1

Atlântico Atlântico Norte-Oriental Centro-Ocidental

1,2

Pacífico Centro-Oriental

1,9

SEAFOOD BRASIL • JUL/SET 2016 • 52

21,9

1,8

Pacífico Norte-Oriental

Mediterrâneo e Mar Negro

8,6

Pacífico Centro-Ocidental

1,1

Atlântico Centro-Oriental Pacífico Sul-Oriental

6,8

4,4

Atlântico Sul-Ocidental

2,4

4,7

Atlântico Sul-Oriental

1,5

12,8

ÍndicoOcidental

Índico-Oriental Zonas árticas e antárticas

0,3

8,0

Pacífico Sul-Ocidental

0,5


AQUICULTURA | 2014 África

1.710.910 tons

Europa

Peixes.................1.694.853 Moluscos...................3.708 Crustáceos..............12.348 Outros...............................1

América

3.351.614 tons

Peixes.................2.297.160 Moluscos...............631.789 Crustáceos...................325 Outros...........................863

Oceania

Peixes.................2.094.533 Moluscos...............539.989 Crustaceos............716.525 Outros...........................567

Ásia

65.601.892 tons Peixes...............43.707.790 Moluscos..........14.823.142 Crustáceos.........6.180.178 Outros....................890.782

Com uma venda primária que chegou aos US$ 160,2 bilhões, a produção aquícola global alcançou em 2014 44% da produção total, valor que supera os 42% de 2012 os 31% conseguido há dez anos. A carpa chinesa foi a mais cultivada de 362 espécies de cultivo

2.930.127 tons

189.183 tons Peixes......................67.556 Moluscos...............114.715 Crustáceos................5.558 Outros........................1.354

Mundial

73.783.725 tons Peixes...............49.861.891 Moluscos..........16.113.194 Crustáceos.........6.915.073 Outros....................893.568

registradas na FAO, enquanto o salmão do Atlântico ficou em sétimo lugar graças à duplicação do volume em relação a dez anos atrás, alcançando 2,3 milhões de toneladas. Bangladesh, China, Egito, Índia e Vietnã se destacam entre os principais

PRODUÇÃO POR CONTINENTE (TONELADAS) Peixes

Crustáceos

Moluscos

Carpa chinesa 5.537.794

Camarão cinza 3.668.682

Vôngole japonês 4.010.703

Carpa prateada 4.967.739

Caranguejo de Shanghai 796.622

Navajas 786.828

Carpa europeia 4.159.117

Caranguejo americano 723.288

Ostra japonesa 625.925

Salmão do Atlântico 2.326.288

Camarãotigre 634.522

Vôngole 461.446

produtores, somando ao todo 56 milhões de toneladas. O cultivo de plantas aquáticas Atualmente praticada em 50 países - foi de 27,3 milhões de toneladas em 2014, com

crescimento de 8% ao ano durante a última década. Com isso, a produção aquícola superou em 2% a produção de peixes selvagens para o consumo humano pela primeira vez na história.

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PRODUÇÃO POR CONTINENTE (TONELADAS)


Estatísticas

Comércio mundial de pescado | 2014 Da produção de pescado destinado ao consumo humano em 2014, 46% -67 milhões de toneladas - foram comercializadas na forma viva, fresca ou refrigerada, 30% - 44 milhões de toneladas - congelada, 13% -19 milhões de toneladas - processada ou em conserva, e os restantes 12% - 17 milhões de toneladas - na forma seca, salgada, defumada, curada ou de outra forma. Dos 21 milhões de toneladas destinados ao desenvolvimento de produtos não alimentares, 76% - 15,8 milhões de toneladas se tornaram farinha de peixe e óleo de peixe, e os restantes 24% para fins ornamentais, cultivo ou alimento aquícola, entre outros usos. Em 2014, o comércio de peixe representou mais de 9% do total das exportações agrícolas e 1% do valor do comércio mundial de mercadorias. No mesmo ano, mais de 200 países relataram exportações e importações de pescado, o que representou crescimento de 245% em relação a 1976, e 515% considerando-se apenas peixe para consumo humano.

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A China é o maior produtor e também o maior exportador de pescado desde 2002 e o terceiro maior importador desde 2011. O aumento das importações da China é em parte devido à terceirização para outros países em desenvolvimento, embora também seja um reflexo do crescente consumo interno de espécies que não ocorrem localmente. A China manipula peixes vivos para o comércio ou utilização há mais de 3.000 anos. A Noruega, o segundo maior exportador, fornece diversos produtos, tais como salmão de cativeiro, pequenos pelágicos e peixe branco tradicional, como o bacalhau. Em 2014, o Vietnã tornouse o terceiro maior exportador, ultrapassando a Tailândia. Desde 2013, a Tailândia registou um decréscimo substancial nas exportações, principalmente por conta do declínio na produção de camarão devido a doenças.

EXPORTADORES Países

2004 2014 (milhões de US$) China 6.637 20.980 Noruega 4.132 10.803 Vietnã 2.444 8.029 Tailândia 4.060 6.565 EUA 3.851 6.144 Chile 2.501 5.854 Índia 1.409 5.604 Dinamarca 3.566 4.765 Países Baixos 2.452 4.555 Canadá 3.487 4.503 Outros 37.330 70.346 TOTAL 71.869 148.147

IMPORTADORES Países

2004 2014 (milhões de US$) EUA 11.964 20.317 Japão 14.560 14.844 China 3.126 8.501 Espanha 5.222 7.051 França 4.176 6.670 Alemanha 2.805 6.205 Itália 3.904 6.166 Suécia 1.301 4.783 Reino Unido 2.812 4.638 Coreia do Sul 2.250 4.271 Outros 23.583 57.169 TOTAL 75.702 140.616

Participação por espécie (%) Pescado....................................................... 67,7 Salmões e trutas........................................... 16,6 Atuns, bonitos, marlins................................. 10,2 Bacalhaus e merluzas..................................... 9,6 Outros peixes pelágicos.................................. 7,5 Peixes de Água Doce......................................... 4 Linguados e peixes planos.............................. 1,6 Outros peixes................................................ 18,1 Crustáceos.................................................. 21,7 Camarões...................................................... 15,3 Outros crustáceos........................................... 6,4 Moluscos....................................................... 9,8 Lulas, polvos e calamares............................... 5,6 Bivalves.............................................................. 3 Outros moluscos............................................. 1,1 Outros invert. ou animais aquáticos............... 0,8 TOTAL............................................................ 100 Moluscos

9,8

Pescados

67,7%

%

Crustáceos

21,7%

Uso da produção mundial de pescado (em milhões de toneladas)

180

Não alimentar

150 120

Curado

90

Processado ou em conserva

60

Congelado

30

Vivo, fresco ou refrigerado

0 1962

1974

1984

1994

2004

2014


Mão de obra | 2014

Em parte, essa redução se deve aos avanços tecnológicos, refletidos em países como Japão, Noruega e Islândia, com 128.000, 13.000 e 2.400 trabalhadores a menos, respectivamente. 25% da mão de obra mundial está na China. Se combinados os setores primário e secundário, as mulheres representavam em 2014 metade da força de trabalho. Entre 2012 e 2014, o registro de barcos a motor cresceu 7%, respondendo por três milhões globalmente. Desse total, 80% tem registro em países asiáticos, enquanto o resto das regiões se repartem nos 20% restantes, sem atingir 10% em qualquer caso. Os barcos de pesca industrializadores com mais de 24 metros de comprimento que operaram em 2014 foram perto de 64.000, mas apenas 23.000 tinham o número de identificação outorgado pela Organização Marítima Internacional (OMI), para poderem se inscrever no Registro Mundial de Embarcações de Pesca.

Evolução global de pescadores e aquicultores

40

30

20

10

Aquicultores

0

Pescadores

2000

2005

2010

2014

Distribuição por continente Região

Pescadores Quantidade (%)

Ásia África América Latina e Caribe Europa América do Norte Oceania TOTAL

29.698.000 78 5.390.000 14 2.088.000 6 347.000 1 316.000 1 40.000 0 37.879.000 100

Barcos Quantidade

Barcos (%) por comprimento (m) (%) 0 a11,9 12a23,9 24omás

3.459.500 75 679.200 15 276.200 6 95.500 2 87.000 2 8.600 0 4.606.000 100

87 77 89 84 86 78 84

9 22 9 13 13 18 14

4 1 2 3 1 4 2

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Estima-se que, em 2014, as pessoas empregadas na pesca e na aquicultura de trabalho chegaram a 56,6 milhões. Pela primeira vez desde o período 20052010 o emprego não aumentou, com uma queda de 1,5 milhões de pescadores, compensada levemente por um ligeiro aumento de 250.000 aquicultores.


Estatísticas PERSPECTIVAS Em setembro de 2015, 193 Estados Membros das Nações Unidas aprovaram a Agenda 2030 para o Desenvolvimento sustentável. Ela compreende 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) aplicados a diferentes governanças. O conceito de governança é definido como o conjunto de instituições, instrumentos e processos que vão desde a gestão operacional a curto prazo até desenvolvimento de políticas e planejamento a longo prazo. O objetivo da Agenda 2030 é aplicar os ODS de forma a contribuir para alimentar mais de 9,5 bilhões de pessoas em 2050 em um contexto de mudança climática, incerteza econômica e financeira, e aumento da competição por recursos naturais.

PRINCIPAIS RESULTADOS PRODUTIVOS ESTIMADOS PARA 2025 País

Produção total (000 tons.) 2013-2015 2025 Var.%

Argentina Austrália Brasil Canadá Chile China Corea do Sul Egito EUA Filipinas Gana Índia Indonésia Outros Total

840 906 7,9 4 6 53,9 228 229 0,4 76 91 20,6 1.327 1.972 48,6 560 1.145 104,4 1.020 1.011 –0,9 159 211 32,8 3.084 3.514 13,9 1.138 1.314 15,5 62.094 78.717 26,8 45.263 62.962 39,1 2.039 1.980 –2,9 470 536 14,1 1.498 1.646 9,9 1.138 1.268 11,4 5.562 5.606 0,8 425 506 19,1 9.434 11.570 22,6 4.830 6.880 42,4 332 365 9,9 38 75 97 10.543 12.411 17,7 4.211 5.761 36,8 3.142 3.429 9,1 795 982 23,5

País

196s de

milhõe das tonela

2025 de o para Projeçã ícola e ão aqu produç ra tu p a de c

Participação da aquicultura (000 tons.) 2013-2015 2025 Var.%

166.889 195.911 17,4 Exportações (000 tons.) 2013-2015 2025 Var.%

Argentina Austrália Brasil Canadá Chile China Corea do Sul Egito EUA. Filipinas Gana Índia Indonésia Outros Total

680 762 12,1 61 40 –34,4 40 48 20 792 781 –1,4 1.512 1.767 16,9 7.759 11.257 45,1 662 410 –38,1 26 20 -23,1 2.186 2.905 32,9 1.063 947 –10,9 31 30 -3,2 1.320 1.408 6,7 413 322 –22,0 39.149 46.359 18,4

73.305 101.768 38,8 Importações (000 tons.) 2013-2015 2025 Var.% 58 60 3,4 516 748 45 757 991 30,9 650 701 7,8 120 118 –1,7 3.413 2.884 –15,5 1.637 1.870 14,2 404 820 103 5.097 6.647 30,4 25 25 0 335 321 -4,2 182 509 179,7 359 596 66 38.340 46.359 20,9

Participação da aquicultura e da pesca na produção e consumo

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Produção pesqueira mundial

2013-2015

Pesca

2025

Aquicultura

Consumo mundial de pescado

2013-2015

2025

Pesca para consumo humano

Aquicultura para consumo humano


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Personagem

Quando “peixeiro” é um elogio A vitoriosa trajetória de Maria Rosilene Costa, cujo orgulho da profissão a levou de consultora de peixaria no Carrefour à compradora nacional de peixe fresco da rede

P

iracicaba (SP) se animou quando a população soube do interesse de uma multinacional francesa de instalar uma loja Champion na cidade. O ano era 2001 e Maria Rosilene Costa havia deixado Fortaleza para morar na cidade, onde trabalhava em um restaurante. Ansiosa por integrar a equipe do novo empreendimento, ela descobriu que havia uma seleção de funcionários em curso e logo enviou seu currículo. Não foi aprovada na primeira seleção. Inconformada, foi à loja e argumentou com o responsável que precisava muito daquele emprego. “Disse que tinha acabado de ‘pedir as contas’ no restaurante e não poderia ficar sem trabalhar. Logo ele notou que tinha havido uma desistência para o caixa central.” Foi ali que o Carrefour viu pela primeira vez a determinação que permeia a trajetória de Rosi, como todos a conhecem, na rede. Foram seis anos em Piracicaba. Por cinco anos ela passou por diversos setores, do têxtil à salsicharia, mas viu na peixaria a possibilidade de fazer a diferença. “Era considerado o pior setor da loja, mas eu queria me encaixar onde eu poderia me destacar mais”, conta. Fez a formação técnica em São Paulo e encerrou então seu último ano em Piracicaba, 2007, na peixaria da loja. O desempenho puxou um convite para assumir a gerência da peixaria em São José dos Campos.

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O desempenho da unidade chamou a atenção da matriz. O então diretor comercial de perecíveis do grupo encontrou-a em uma inauguração de loja em Campinas, perguntou onde trabalhava e disse que iria visitá-la. Pouco tempo depois ele cumpriu a promessa, mas não a encontrou. Ressabiado, perguntou à funcionária que limpava um peixe onde estava a gerente da peixaria. “Sou eu, aqui estou”, disse Rosi, para a surpresa do executivo. “Gosto de colocar a mão na massa”, ela ressalta. Dali saiu contratada em outubro de 2009 como compradora de peixe fresco na matriz da rede. “Quando cheguei havia outro comprador, fiquei dois anos observando e entendendo o setor. Foi quando este rapaz saiu que eu entrei e assumi as compras de frescos na peixaria.” Por ter filetado muito peixe na vida, Rosi frisa a importância de saber como os colegas trabalham. “Sei exatamente o que o peixeiro vai pensar sobre aquela mercadoria antes da compra. Os peixeiros me respeitam pela minha trajetória. Quando têm dúvida dividem comigo.” E na matriz? “O pessoal me chama de peixeira nos corredores e isso para mim é um elogio”, conclui, orgulhosa.


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