NA COZINHA
A TV gastronômica ajuda ou atrapalha o consumo de pescado?
SUPLEMENTO ESPECIAL
As tendências tecnológicas para a aquicultura
seafood
brasil
#17 - Out/Dez 2016 ISSN 2319-0450 R$ 20,00
www.seafoodbrasil.com.br
Amanhã em construção
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Mancha branca muda para sempre os modelos de cultivo e a comercialização de camarões
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Editorial
O desafio da síntese
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tudo você lê neste número, onde infelizmente muitos temas ficaram de fora.
olegas jornalistas me perguntam como é que conseguimos fazer a cada dois meses uma edição de uma revista com conteúdo jornalístico sobre a cadeia produtiva do pescado. “Tem assunto?”, perguntam. “Você nem imagina o quanto”, respondo. Talvez seja o mesmo que os empresários do setor, dos produtores aos gerentes de peixaria dos supermercados, sintam quando se reúnem com seus pares de outros segmentos.
O desafio, caros leitores, não reside na falta de assunto. Nossa aventura diária é condensar tantos temas nas poucas páginas de cada uma das cinco edições anuais impressas e em nosso portal. De antemão nos desculpamos por eventuais omissões neste ano que se encerra, sabemos que ainda temos muito a melhorar na missão de informar sobre e para toda a cadeia produtiva. E é para isso que acordaremos todos os dias em 2017 e nos próximos anos. Enquanto o “agronegócio do futuro” seguir sua intensa luta para ser do presente, estaremos com o mesmo espírito. Depois, quando estivermos na crista da onda, abrimos uma para relaxar.
Nosso setor é pequeno, mas vibrante. O novo aquário que mescla educação e negócio, a busca pela tecnologia em prol da eficiência na aquicultura, a legalização do cultivo que o novo licenciamento ambiental paulista traz, os eventos que marcaram os últimos meses, a transformação do sistema produtivo na carcinicultura e dos preços finais do camarão a partir da mancha branca, os lançamentos do varejo e food service, a visão dos importadores sobre o Natal e Semana Santa 2017 e o aumento da frequência de pescado nos programas de gastronomia na televisão. Isso
Um excelente Ano Novo e Boas Festas!
Índice
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40 Ponto de Venda
46 Suplemento
16 Na Gôndola
Marketing
60 Na cozinha
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64 Estatísticas
Capa
70 Personagem
Expediente Redação redacao@seafoodbrasil.com.br
Comercial comercial@seafoodbrasil.com.br Tiago Oliveira Bueno
Publishers: Julio Torre e Ricardo Torres Editor: Ricardo Torres Diagramação: Emerson Freire Adm/Fin/Distribuição: Helio Torres
Impressão Maxi Gráfica e Editora A Seafood Brasil é uma publicação da Seafood Brasil Editora Ltda. ME CNPJ 18.554.556/0001-95
Sede – Brasil R. Domingos de Santa Maria, 329 São Paulo - SP - CEP 04311-040 Tel.: (+55 11) 4561-0789 Escritório comercial na Argentina Hipólito Yrigoyen, 4021 - C1208ABC C.A.B.A. – República Argentina julio@seafoodbrasil.com.br
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06 Cinco Perguntas
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5 Perguntas Marcelo Szpilman, diretor do AquaRio
Entrevista
Um “bom” aquário – e bom negócio Inaugurado em novembro no Rio de Janeiro com foco no ecossistema marinho, AquaRio busca equilíbrio entre filosofia conservacionista e faturamento Texto: Ricardo Torres
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ão é só a água que é salgada no maior aquário marinho da América do Sul. Para entrar no AquaRio, o visitante que não é residente do Rio de Janeiro, estudante, idoso, criança ou portador de necessidades especiais paga R$ 80 para ver os 8 mil animais de 350 espécies diferentes. Estes vão nadar em 4,5 milhões de litros de água, provenientes da Baía da Guanabara, dos quais 3,5 milhões de litros abastecerão o Recinto Oceânico – principal tanque do complexo, onde no futuro será possível nadar com peixes, raias e tubarões. O faturamento virá principalmente da bilheteria (58%), enquanto patrocínios, estacionamento e aluguel do espaço pagam o resto da conta. O empreendimento privado, dirigido por Marcelo Szpilman, uma referência nacional na biologia marinha, precisa dar retorno aos acionistas ao mesmo tempo em que transmite uma mensagem conservacionista. Fundador de uma das principais entidades preservacionistas do País, o Instituto Aqualung, ele garante que é possível compatibilizar os interesses, já que o AquaRio se insere entre os “bons aquários do mundo”. Alguns ambientalistas condenam estabelecimentos privados em que animais sejam mantidos confinados. O que faz um aquário ser “bom”, como consta na filosofia de vocês? Quando bem fundamentados em educação ambiental de qualidade, pesquisa
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científica séria e estratégias de conservação da biodiversidade, sempre oferecendo ótimas condições de acomodação e exposição e tratamento pautados pelo respeito à vida e ao bem-estar dos animais, aquários podem e devem ser vistos como importantes equipamentos de sustentabilidade para a sociedade. Torná-los também modernos equipamentos de turismo, lazer e entretenimento só reforça sua vocação. Bons aquários, como o Monterey Bay Aquarium, nos Estados Unidos, o Two Oceans Aquarium, na África do Sul, e o Oceanário de Lisboa, em Portugal, trabalham pela valorização dos ambientes naturais que ainda restam, permitem (e incentivam) que milhões de visitantes conheçam os oceanos e seus habitantes, impactam positivamente em seus conceitos e atitudes, inspirando-os a fazer a diferença no mundo em que vivemos, e ainda despertam o interesse dos jovens para se tornarem futuros conservacionistas. O AquaRio decidiu abrigar apenas espécies marinhas e nacionais? Por quê? Por que o Rio de Janeiro tem uma ligação muito especial e histórica com o mar.
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Como foi realizada a captura dos animais? Alguma das espécies presentes é proveniente da aquicultura? Cerca de 90% dos indivíduos foram capturados na natureza, por pescadores
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profissionais (que vendem os peixes vivos) e por pescadores amadores (que doam). Uma das espécies mais difíceis de transportar e manter vivos são os bonitos pintados. O processo de captura durou cerca de um ano. A aclimatação é bem mais fácil e curta, não dura 30 dias. Temos bijupirás provenientes da criação em cativeiro em Ilha Grande (RJ). Assim como o aquário de Monterey (EUA), que desenvolveu o Seafood Watch, o AquaRio pretende criar alguma ferramenta de incentivo ao consumo responsável de pescado? Caso positivo, como funcionará esta ferramenta? Sim, teremos uma parceria com o Seafood Watch para que o programa seja disseminado e apresentado ao público visitante.
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Como você imagina que a cadeia aquícola e pesqueira possa se envolver com o AquaRio, além de fornecer as espécies necessárias para a manutenção do aquário? O AquaRio foi criado para ser focado em educação, pesquisa e conservação. Assim, acho que o aquário terá um papel fundamental na educação dos pescadores profissionais e amadores. Em sua maioria só conhecem os peixes mortos e fora da água. Passarão a conhecê-los vivos e dentro da água, numa visão real de sua importância para o ecossistema marinho. Saiba mais em www.aquariomarinhodorio.com.br.
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A especialidade nutricional com formulação exclusiva para tilápias e camarões. PAQ-Gro é um premix comprovadamente eficaz para uso em dietas de camarões e tilápias, que auxilia no desempenho e na melhora da saúde.
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Marketing & Investimentos
Plantada a semente Decreto que simplifica e barateia licenciamento ambiental da aquicultura no Estado de São Paulo já destrava investimentos, estimula outros pleitos e sublinha importância da mobilização setorial
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ma entre as várias simbologias relacionadas à aprovação do decreto que regulamentou a piscicultura paulista em águas interiores chama a atenção: a capacidade de mobilização da cadeia produtiva é diretamente proporcional aos resultados que se pretende obter. O caso mostra que é justamente quando há uma confluência de pessoas e entidades, pautas e pressões políticoinstitucionais é que o setor produtivo consegue o que pretende. Os piscicultores paulistas agora têm à disposição um documento (Decreto Nº 62.243) que estabelece as bases para o cultivo de espécies
alóctones, exóticas e híbridos nas águas continentais. Além do decreto (cujos principais pontos você confere no Box), o setor comemorou ainda em novembro a publicação da lista de espécies autorizadas para o cultivo no Estado, entre as quais figuram híbridos, como tambatinga, e exóticas, como o panga - em tanques escavados. O órgão responsável por editar e revisar a lista agora, como designado pela Secretaria da Agricultura e Abastecimento (SAA), é o Instituto de Pesca/APTA. Para Luiz Ayroza, presidente do Instituto de Pesca, a construção do novo decreto demonstra a maturidade
do setor produtivo juntamente com as Secretarias do governo na tratativa da atividade de maior interface entre Meio Ambiente e Agricultura. “O lançamento deste Decreto num período de crescimento acelerado deste setor agropecuário é uma ação para que o cultivo de pescados se constitua uma forte atividade econômica e que se desenvolva de forma sustentável.” As conquistas, intensamente celebradas no mês de novembro, vão além do caráter prático. Podem dar o impulso que faltava a um setor ainda irrisório no PIB agrícola do Estado de São Paulo (PIB aquícola foi de R$ 182,4 milhões em 2015, segundo
O famigerado decreto Veja alguns dos principais pontos do decreto, cuja íntegra pode ser acessada em http://bit.ly/decreto_aquicola__SP, e da lista de espécies cultiváveis segundo o IPesca (acesse em http://bit.ly/lista_especies_sp)
Antes a cargo de entidades conservacionistas, a lista agora está nas mãos de um órgão mais alinhado aos produtores
A portaria do IPesca definiu a lista de espécies cultiváveis por bacias hidrográficas. Tilápia e os nativos já eram esperados, mas o documento também traz pangasius (em tanque escavado) e clarias (pesque-pague e tanque escavado). Todas as espécies listadas poderão ser cultivadas em sistemas de recirculação/fechado.
Pequenos produtores ficam dispensados do licenciamento, bastando apresentar uma declaração de conformidade obtida no site da CATI para instalar e operar o cultivo
Custo das análises, que antes ultrapassava R$ 20 mil, agora deve ficar perto de R$ 1200 para grandes (ordinário) e em torno de R$ 600 para menores (simplificado)
Na cerimônia de lançamento o governador fez questão de lembrar do pai homônimo, que foi diretor da autarquia equivalente ao hoje Instituto de Pesca e entusiasta do setor, um dos responsáveis pela introdução da piscicultura no Vale do Paraíba. Fato é que embora se mostre simpático ao setor, o governo paulista ainda não havia avançado com um decreto considerado compatível com a realidade do segmento.
Hoje o setor produtivo celebra a parceria com o Estado, mas em um passado recente a relação era difícil, principalmente com a Cetesb. “O Estado hoje é um parceiro nosso
e enxerga que nós somos aliados na preservação ambiental, e não o contrário”, sublinha Martinho Colpani, presidente da Câmara Setorial da Aquicultura da SAA. “A atividade de
Licenciamento destrava financiamentos A legalização que o setor agora projeta para acontecer de forma geral em até três anos deve eliminar um dos principais entraves à expansão da atividade: o financiamento. Com o licenciamento ambiental, o produto poderá obter financiamento em programas como os descritos abaixo: • Fundo de Expansão do Agronegócio Paulista (FEAP): possui uma linha específica para aquicultura com até R$ 200 mil por produtor • Investe SP: recebe, dá assessoria e apoia financeiramente projetos de investimento de diversos segmentos, inclusive o agronegócio e alimentos. • BNDES: Atualmente, o banco oferece uma linha para capital de giro puro: (http://www.bndes. gov.br/wps/portal/site/home/financiamento/produto/bndes-proaquicultura-giro) e outra para investimentos, incluindo capital de giro associado ao projeto (http://www.bndes.gov.br/wps/portal/ site/home/financiamento/produto/bndes-proaquicultura-producao/). Mas de acordo com Diego Duque Guimarães, economista do Departamento de Agroindústria do BNDES, todas as linhas ligadas à aquicultura (ProAquicultura) estão passando por revisão e podem ser alteradas a qualquer momento. Um dos fatores é a baixa utilização dos recursos.
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o IBGE, contra R$ 230 bilhões do agronegócio paulista, de acordo com a Fiesp e Esalq/USP), segundo o próprio governador, Geraldo Alckmin. “Hoje você tem uma informalidade e uma insegurança jurídica muito grandes. Queremos todos os piscicultores regularizados com este decreto, que simplifica, desburocratiza, traz segurança jurídica, aumenta investimento”, disse à Seafood Brasil.
Marketing & Investimentos Os especialistas que vaticinavam uma consolidação do setor entraram em polvorosa quando a holding Geneseas confirmou em 18/11 a fusão com a Dell Mare. O negócio tem o objetivo de transformar a Geneseas em uma das líderes nacionais na comercialização de pescado. Com boa capilaridade no food service nacional, a companhia assume deficiências no varejo, que agora devem ser compensadas com os canais de distribuição desenvolvidos pela Dell Mare. “A Geneseas tem muita força no food service com tilápia e salmão e a Dell Mare tem uma força muito grande no varejo. A empresa cresceu muito rápido em três anos de existência e o relacionamento com os principais clientes é muito bem visto no mercado”, avalia Breno Davis, CEO da Geneseas, em entrevista exclusiva ao site Seafood Brasil. Leia mais em http://bit.ly/Geneseas_DellMare
aquicultura foi a primeira a enfrentar o processo de licenciamento ambiental no Estado. Todas as outras atividades agropecuárias exigem apenas o cadastramento”, conta Colpani. O decreto estava em discussão desde 2012. “Foram duas versões, mais alterações e prorrogações e eles não conseguiram atingir o licenciamento.” Segundo cálculo de Colpani, apenas cerca de 15 empresas conseguiram o licenciamento a taxas superiores a R$ 7 mil por procedimento. No fim, o custo total ultrapassava R$ 21 mil. Hoje, mais de 90% da atividade no Estado não tem licenciamento
ambiental. Emerson Esteves, presidente da PeixeSP, calcula que pelo menos 12 mil piscicultores, incluindo pesque-pagues, atuem no Estado. Além dos pequenos, grandes produtores já preparam novidades, como é o caso da Geneseas. “Isso viabiliza alguns planos de expansão dentro do Estado de São Paulo que estavam congelados, pela nossa necessidade de financiamento. São pisciculturas que têm em torno de 3 hectares de lâmina d’água”, antecipa Breno Campolina, presidente da empresa. Há outros investimentos em curso. Em pleno
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Ipesca assume protagonismo técnico-científico Junto a entidades regionais, como a Câmara Setorial da Aquicultura e a PeixeSP, o IPesca sai como um dos principais articuladores da mobilização que culminou no decreto. Atento ao setor produtivo e à preservação dos recursos naturais, o órgão foi designado pela SAA como único responsável por designar a lista de espécies espécies alóctones, exóticas e híbridos nas águas continentais. O IPesca irá atualizar a lista a cada dois anos, com base em pesquisas que demonstrem o potencial de invasão de cada espécie, levando em consideração a sustentabilidade baseada de maneira integrada em aspectos ambientais, econômicos e sociais.
fechamento desta edição, a Geneseas surpreendeu o mercado com o anúncio da fusão com a Dell Mare (veja quadro acima). De volta ao decreto, outra vantagem é a atração de investidores de outras áreas, que não entram em segmentos considerados juridicamente inseguros. “Um investidor que não conhece a atividade direito não se arriscaria como nós que estamos há mais de 10 anos no ramo. Agora com o decreto existe segurança para investir”, diz Ramon Amaral, diretor do grupo Ambar Amaral e Brazilian Fish. Amaral é uma das principais vozes do que deve ser o próximo pleito do setor, que agora parece ter tomado gosto pela mobilização e vai em busca do alívio à carga tributária. Na ocasião de lançamento do decreto, a PeixeSP e o Sindicato das Indústrias da Pesca da Fiesp entregaram ao governador um estudo que procura demonstrar perda de competitividade de indústrias paulistas em relação a outros Estados. “Estamos pedindo isonomia das
“Precisamos de uma ‘tilapeira’ em cada esquina” No momento em que as dificuldades burocráticas para o cultivo começam a ser superadas, o segmento se volta às iniciativas de marketing destinadas à evolução do mercado, notadamente da tilápia. Uma das iniciativas mais recentes foi o High Quality Tilapia Congress, organizado pela MSD Saúde Animal em Campinas (SP). O evento reuniu os principais produtores de tilápia do Brasil, Costa Rica, Colômbia, Equador, Honduras, México e também produtores do continente africano. Rodrigo Zanolo, Gerente de Mercado de Aquicultura da MSD Saúde Animal frisou a necessidade de entender toda a cadeia para abastecer os consumidores internos e, em particular, o mercado norteamericano. Para isso, a programação trouxe palestrantes de outras áreas do agro, como a representante da Associação Brasileira dos Criadores de Suínos (ABCS), Lívia Machado, cuja estratégia de marketing impulsionou um crescimento de 10% no consumo interno da proteína nos últimos cinco anos. Ela mostrou como a ação se dividiu em quatro eixos: produção, indústria, político-institucional e marketing da carne suína. Já o consultor José Luiz Tejon valorizou as ações de marketing e desafiou: “assim como o frango colocou as ‘televisões de cachorro’ em cada esquina, precisamos de uma ‘tilapeira’ em cada esquina do País para popularizar o consumo”.
proteínas animais. Quero que seja como a carne bovina e suína, que têm isenção de ICMS dentro do Estado, enquanto pescado tem diferimento”, Amaral, cuja empresa coordenou a elaboração do estudo. O diferimento faz com que o ICMS seja pago na ponta, pelo varejo, em uma alíquota de 7%. “Então vamos baratear a carne de peixe no Estado em 7%”, calcula. De acordo com pesquisa da Embrapa Pesca e Aquicultura, a tilápia paulista é a mais cara do Brasil. O preço do filé congelado foi vendido no segundo trimestre de 2016 pelo
implantação dos planos de manejo das Áreas de Proteção Ambiental Marinhas, tanto do litoral Norte quanto Sul do Estado. Segundo Marilsa Patrício, da PeixeSP, que articulou a reunião, Salles ouviu dos presentes que existem conflitos na definição das atribuições do órgão licenciador, a Cetesb, e as Apas Marinhas e determinou a suspensão das reuniões dos comitês destas áreas até que tanto o lado do meio ambiente quanto dos produtores fosse atendido. Agora, os produtores constituíram um grupo de trabalho para levantar todas as reivindicações e devem apresentar as demandas até 15 de janeiro.
varejo a R$ 44,50, enquanto no Ceará – onde o produto foi comercializado mais barato – o valor apurado é de R$ 27,38. Já no caso da tilápia inteira, a média paulista foi de R$ 12,90, enquanto no Ceará foi R$ 12,32.
Maricultura em discussão O vínculo criado entre a PeixeSP e o secretário do Meio Ambiente, Ricardo Salles, nas discussões do decreto trouxe um benefício aos maricultores do litoral paulista. Em novembro, os produtores apresentaram a necessidade de compatibilizar o interesse dos maricultores e da
Direto do produtor
Atum
Filé de Atum
Pargo
Caribbean Red Snapper
Camarão Vannamei
Sardinha do Marrocos
Comercio e representação internacional de pescados www.jclacerdapescados.com.br
jclacerdainternacional@gmail.com
+55 81 997304262
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Para distribuidores e indústria de beneficiamento
jclacerdainternacional
Marketing & Investimentos
O calor do Alasca
A
superlotada festa de confraternização do Alaska Seafood Marketing Institute reuniu na capital paulista grandes nomes do varejo, food service e distribuidores dos peixes da “Última Fronteira”. Com a presença do cônsul norte-americano e uma delegação do USDA, José Madeira, responsável pelo projeto, celebrou os cinco anos de atuação no Brasil e confirmou que pretende cada vez mais aumentar a fatia de produtos no mercado brasileiro.
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14 Roberto Imai (Compesca), Wilson Barquilla (J. A. Oliveira), Ivan Lasaro (Opergel e Pedro Pereira (Brascod/Bom Porto) Ricardo Zuniga (Cônsul dos EUA) e Alessandro Souza (Vivenda do Camarão) Chanda Berk (USDA), José Madeira (Alaska Seafood Marketing Institute-ASMI), Clay Hamilton (USDA) e Carolina Nascimento (ASMI)
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Suzana Kawamura e Paulo Christofani (JBS), Guilherme Blanke (Noronha) e Gisele Vittoretti (GPA)
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Mauricio Monteiro, Rui Costa e Sousa e Rita Mafalda Costa e Sousa (Brascod) e Paula Monteiro (Brascod)
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Rafael Guinutzman (GPA) e Thiago De Luca (Frescatto Company)
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Mariana Vilela, Maria Renda, Christiane Melissa, Amanda Brasil, Lorena Andrade e Cátia Monteiro (Frescatto Company)
do Camarão) e Alexandre Saber (Sassá Sushi)
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Lourival Miguel (Wal-Mart) e Graça Maria Silva
Pablo Rillo (Ecil), Chef Sassaki (Sassaki) e José Madeira (ASMI)
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José Madeira (ASMI), Julien Mercier (Le Bilboquet) e Thiago De Luca (Frescatto Company)
Ricardo Zuniga (Cônsul EUA), José Madeira (ASMI) e Marcel Sasaki (Dô Restaurante)
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Marcelo Eiger e Iryna Bokan (Trident Seafoods), Eilon Schreiber (Kalena) e Cybele Singal
José Madeira (ASMI), Alessandro Souza (Vivenda
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Rafael Guinutzman, Marcos Galvão e José de Miranda (GPA) e Eduardo Frasson (Bom Peixe)
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Lycia Melo e Rafael Guinutzman (GPA), Meg Felippe, Ricardo Torres (Seafood Brasil), Wagner Hilário (Apas) e Roberto Imai (Compesca)
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Rodrigo Conci (Lobster Brasil), Roberto Imai (Compesca) e Abraão Oliveira (Abia)
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Marketing & Investimentos
Adeus à Fortaleza (CE)
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Fenacam voltará a ser realizada em Natal (RN) em 2017. Este ano, produtores se armaram para crescer com a mancha branca. Nas palavras de Itamar Rocha, da ABCC, a doença “é como aquele primo seu que chegou para ficar”.
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Giovanni Lemos de Mello, Ricardo Torres (Seafood Brasil) e Fábio Sussel (FishTV)
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Miguel Alarcon e José Dias Neto (Prevet) e Tiago Bueno (Seafood Brasil)
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Guilherme Vianna (Belgo Bekaert), Mahmoud Wehbi e Daoud Wehbi (Braspeixe) e Danilo Moreira (Belgo Bekaert) Igor Fernandes (Coco Bambu), Tércio Farias (Villa Pescados), Vinicius Reis (Coco Bambu), Isaac
Menezes (Cajucoco), Bacca (Brusinox), Pedro Luiz Moraes (Coco Bambu) e Cristiano Clemer (Brusinox)
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Marcelo Borba (Phileo), Marcos Aronovich (Pesagro-Rio), Nadège Richard e Fernando Rigoni (Phileo)
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Diego Duque e Guilherme Maia (BNDES), Eduardo Amorim (PeixeBR) e Marcos Rossi (BNDES)
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Tiago Bueno e Ricardo Torres (Seafood Brasil) e Rui Donizete Teixeira (Mapa)
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Flávio Silva, Felipe Weege e Alex Weege (Weemac)
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Ricardo Pedroza (Camarões do Brasil), Hudson Makson Rocha e Ailton SIlveira (Maris)
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Luiz Eduardo Conte (Ammco Pharma/Suiaves), Rodrigo Zanolo (MSD) e Mauricio Castellanos (Lanxess)
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Emerson Assakawa (Aquaminas) e Felipe Amaral (Ambar Amaral)
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Hernan Pizarro, Birgitte Sorheim e Hideyoshi Segovia Uno (Spring Genetics)
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Daniel Quintas (Superbac), Bruno Luz (Escama FOrte), João Moutinho (SuperBac) e Alfredo Freire (Escama Forte)
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Eudivan ROberto (Escama Forte) e Leonel Ferreira (consultor)
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Charles Mendonça e Ricardo Pedroza (Camarões do Brasil), Neto Pascoal e Caetano Guedes Júnior (Maris) e Eleni Guedes
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Fadlo Castro (Grupo Castro), José Derly Nunes
(Alternativa Alimentos), Mauricio Brandão e Aedrian Ortiz Johnson (Skretting)
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Equipe Skretting no lançamento da marca na Fenacam
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Jeroen van Tilburg (Camarati) e Itamar Rocha (ABCC)
Com a presença de Alex Atala e Shin Koike
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setor cada vez mais entra na seara da alta gastronomia, como mostraram a última plenária e coquetel de encerramento do ano do Compesca/Fiesp, e a feira Japan & Asia Food Show - que em 2017 se chamará Japan & Seafood Show. Atala foi à Fiesp para mostrar sua visão da sustentabilidade no pescado, enquanto Shin recepcionou Hirotoshi Ogawa, um dos repsonsáveis pela Copa Mundial de Sushi - cuja etapa Brasil aconteceu na feira organizada pela Francal, que teve como um dos pontos altos a realização do VII Simcope.
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COQUETEL COMPESCA Fotos: Hélcio Nagamine/Fiesp
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Alex Atala (Dom/Dalva e Dito)
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José Cezar Panetta (Higiene Alimentar), Pedro Pereira (Brascod/Bom Porto), Alex Atala, Roberto Imai (Compesca) e Itamar Borges (Deputado estadual)
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Karina Moura (Fiesp), Alex Atala e Tamires Galatti (Fiesp)
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Convidados, como Werner Martins (USP), chegam ao coquetel e recebem material para confeccionar os tsurus
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Sergio Tutui (IPesca) e Elza Tsumori (Casa Barcelona)
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Rúbia Tomita (IPesca) abre VII Simcope
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Conceição Zeppelini (Francal), à esquerda, e equipe do coquetel
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Sérgio Barbour, Marco Militelli, Paulo Schoueri e Roberto Imai (Compesca)
(Sarumon), Shin Koike (Aizomê/Sakagura A1), Lúcia de Buone (Francal), Hirotoshi Ogawa e Edson Yamashita (Ryo)
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Evento reuniu membros de toda a cadeia produtiva
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Eduardo Ono (CNA) e Celia Scorvo (APTA)
ASIA & JAPAN FOOD SHOW
Roberto Imai (Compesca) junto a convidados do coquetel
Fotos: Divulgação/Francal
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Gôndola A oferta de peixes e frutos do mar Cinco opções em pratos prontos
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A Vivenda do Camarão investiu R$ 1,5 milhão para lançar uma linha de pratos prontos para microondas com o qual espera incrementar o faturamento com congelados em 20%. Todas em porções de 400g, as cinco opções de camarões com molhos vão custar R$ 17,90 e vêm com arroz e batata palha: Camarão ao Creme de Palmito, Camarão ao molho 4 queijos, Camarão ao molho Alfredo, Camarão ao molho Provençal e Paella (que também inclui marisco, polvo e lula).
Mix ampliado para 2017
Redesenho a todo vapor
Focada em transmitir a mensagem do melhor custo x benefício do mercado, a NutraFoods já antecipa sua linha de produtos para o varejo em 2017. Além dos tradicionais pacotes de camarão em 200g e 400g, a empresa acrescentou um mix competitivo de filé de Polaca, filé de merluza, posta de cação, filé de tilápia, filé de panga e a ampliação de sua linha de frutos do mar, com o kit paella, mexilhão e anéis de lula, tudo em embalagens de 400 e 800g.
Posta de tilápia sustentável
Depois de lançar quatro itens em embalagens totalmente reformuladas, a Noronha vira o ano com mais três opções com nova cara. O filé de salmão do Alasca de 500g com selo da Alaska Seafood é o carro-chefe da nova leva de produtos, que ainda conta com o pouch de mexilhão sem casca de 400 g e os anéis de lula também em 400g.
A Cooperativa dos Aquicultores de Águas Continentais (Coopecon) segue diversificando a linha de produtos, que já conta com filés de tilápia e de pirarucu, e lança ao varejo a posta de tilápia em sacos de 800g. O projeto mobiliza a comunidade rural de Ituberá, no sul da Bahia, para dar protagonismo ao aquicultor familiar, gerar renda e emprego no campo.
A canadense Clearwater faz despachos regulares ao Brasil de finas iguarias para a alta gastronomia. O nobre hokkigai, molusco conhecido pela sua textura delicada e o degradê entre branco e vermelho, dá uma nova cara não só aos sushis, mas também a saladas e até pratos quentes. Já as caudas de lagosta têm a carne extraída por alta pressão, o que facilita o preparo e conserva umidade, sabor e textura.
Tilápia em ATM E se o seu ponto de venda pudesse estender a vida de prateleira do filé de tilápia em 10 dias? É o que
a Frescatto adiciona à linha Premium, que conta ainda com mexilhão cozido e tentáculos de polvo. A marca garante que o congelamento em até uma hora no próprio barco supera vieiras de outras origens e processos em termos de textura e aparência.
Vieira canadense Selo MSC e congelamento a bordo são algumas das características da nova vieira capturada no Canadá que
Leia este código para ver o portfólio e contatos destas empresas. Ou acesse bit.ly/SEAfornecedores
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Hokkigai com lagosta
prevê a tecnologia da atmosfera modificada, adotada pela Geneseas nestas bandejas de 450g lançadas em conjunto com a Dell Mare. Após a recente fusão, as duas empresas querem ampliar a presença no varejo com estes filés da marca Saint Peters, já em produção.
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Aos filhos da mancha branca SEAFOOD BRASIL • OUT/DEZ 2016 • 18
Fenacam se despede de Fortaleza em clima de reconstrução do setor após a disseminação da doença que deve ceifar em mais de 30% a produção de camarões do Ceará em 2016 Texto: Ricardo Torres | Fotos: Equipe Seafood Brasil
O
tom já ficou claro logo na extensa abertura da 13ª Feira Nacional do Camarão, no último 21 de novembro. As tradicionais figuras representativas dos carcinicultores pareciam ter
ensaiado o discurso, mas era apenas o retrato da constatação geral. A mancha branca não trouxe só uma quebra no ciclo de crescimento da carcinicultura nordestina, cujos indicadores de produção mostravam estabilidade ou
ligeiro crescimento nos dois principais Estados produtores do País, Ceará e Rio Grande do Norte. A disseminação massiva da doença pelo litoral e interior, em grandes e
PRODUÇÃO
Nos dias subsequentes à abertura, o que se seguiu foi a repetição dessa constatação como se fosse um mantra. Ao contrário do que os mais incautos poderiam esperar, os mais de 4 mil inscritos para a feira e a intensa programação de palestras estavam muito longe de demonstrar uma postura derrotista. Ávidos por informação, deram muita audiência às apresentações nacionais e internacionais na parte da manhã, e à tarde desfilavam grande interesse por tecnologia nos corredores e estandes. Diferentemente do primitivo crustáceo, a maioria dos presentes parecia imune aos efeitos da doença. “Eu vim para a feira receoso, achando que só ouviria lamentações, mas foi o inverso”, relatou Jeroen van Tilburg, do grupo Vannalife. A necessidade de se repovoar rapidamente os viveiros para tirar camarão e fazer dinheiro é uma das primeiras motivações dos carcinicultores, principalmente por conta do novo patamar de preços estratosféricos inaugurado a partir da acentuada quebra na oferta. O executivo relata ainda que vários fornecedores e entidades realizaram seminários e palestras a partir dos primeiros episódios para mostrar que, em outros países que registraram a doença, como o Equador, México e gigantes asi-
áticos, foi preciso adaptar muita coisa, mas ninguém deixou de produzir. Isso pode ter ajudado a criar uma consciência sobre a necessidade de se aprimorar processos. As altas temperaturas do fim de ano também são um alento, pois ajudam a manter inativo o vírus. Foi justamente no meio do ano, quando as temperaturas no Nordeste oscilam poucos graus para baixo, é que a doença tomou conta e dizimou viveiros inteiros ou gerou sobrevivências muito baixas, de até 10%. Muito mais pela variação térmica do que pela temperatura mais baixa, como explica o superintendente técnico da Camanor, Luiz Henrique Peregrino. “Todo mundo fala tanto da mancha branca em relação à temperatura. Isso não é uma verdade absoluta. Nós passamos por temperaturas durante três meses de 24 graus e a sobrevivência média neste período foi de 95%. Mas a oscilação de temperatura de água não passava de 1 grau.” Se muitos pequenos produtores no sistema extensivo ficaram pelo cami-
nho, os que manejaram bem os viveiros conseguiram despescar com sobrevivências aceitáveis e posteriormente reduziram as densidades já voltam a fazer as primeiras despescas. Ainda há aqueles, como lembrou van Tilburg, que não foram afetados e mantiveram as densidades anteriores, realizando lucros com o preço muito maior. Com o bolso equilibrado pelo maior valor pago por volumes menores, alguns realmente não pareciam ter motivos para lamentar. “Os produtores que conseguem produzir respiram um pouco mais por conta dos preços maiores, mas nossa produção com ou sem a doença continua pífia perto do potencial. Não se concebe um país com 1 milhão de hectares próprios para carcinicultura produzir em apenas 20 mil hectares”, provoca Marcelo Borba, novo gerente técnico comercial de aquicultura na Phileo-Lesaffre. Enquanto as áreas não crescem, os produtores tentam se ajustar o mais rápido possível a dois caminhos produtivos que parecem se impor. Quem já dispõe de muitos hectares, em
Em cima do capô: no segundo dia da feira, ministro Blairo Maggi foi à Aracati e assinou despacho que apenas obriga adoção de requisitos seguros para importações; setor queria formalização de barreira sanitária
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pequenas propriedades, quebrou o paradigma de produção de vannamei no Brasil. “[Passaremos] de tentar vencer a mancha branca para evitar e aprender a conviver com ela”, disse na apresentação o presidente da Associação Brasileira de Criadores de Camarão (ABCC), Itamar Rocha. “Agora não adianta chorar pelo leite derramado, nem apontar os culpados, mas arregaçar a camisa”, provocou. Seu par da associação cearense, Cristiano Maia, autor da aquisição mais importante do ano no setor (leia na página 28) também cunhou a frase que deu o título desta matéria.
Capa PRODUÇÃO
velmente se deve ao cruzamento deste limite por todos os portes de produtores. O exame de consciência de todos culmina agora com novos métodos de produção – para quem conseguiu manter as portas abertas e pôde investir na modernização. O caminho agora é fortalecer o camarão a todo custo e a tecnologia é uma aliada, não mais uma ferramenta para compensar maus manejos.
Genética foi apontada como uma das culpadas pela suscetibilidade a doenças, mas manejo tem papel fundamental no controle das pressões ambientais
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geral baixou de densidades próximas a 40 camarões por m2 para 10 animais por m2 e já começa a ter resultados satisfatórios. O modelo trifásico, com um berçário, raceway ou berçário secundário e o viveiro de engorda, também ganha muitos adeptos, pois encurta o tempo do camarão na porção final do cultivo – onde ele fica mais exposto a vírus e bactérias. Já no caso dos sistemas superintensivos, ainda não há um padrão de densidades, mas em geral elas superam a centena de camarões por m2. A intensificação é a nova moda entre os que buscam fórmulas prontas para o sucesso na carcinicultura nacional, mas a sensação na Fenacam era de que o modelo não é para amadores. “Vamos produzir, não vai acabar a atividade, mas vai haver um filtro de seleção. Vários conhecidos pedem técnicos para as fazendas agora no modelo superintensivo, mas não há profissionais disponíveis. E aí eu pergunto: como é que este mundo de fazendas funcionava?”, provoca Hudson Makson Rocha Lucena, gerente de produção da Maris. A verdade, diz ele, é
que era muito fácil produzir. “Era água, ração e pós-larva. Colocou, misturou e dava resultado. Hoje não dá mais.” O processo de reconstrução da atividade precisa ser acompanhado de um mea culpa vital, segundo o próprio Lucena. “Quando a carcinicultura começou tínhamos um protocolo mais rígido: despescou, [o viveiro] passa 20 dias em preparação.” A cautela foi sendo deixada de lado quando a tecnologia passou a ser vista como a salvação do manejo. “Com animais entrando mais preparados, uso de probióticos, melhores sistemas de aeração, fomos um pouco irresponsáveis. A gente mesmo se acomodou, jogamos nas costas da tecnologia.” Ele lembra que havia produtores que tiravam camarão da água e, com 3 ou 4 dias, o viveiro já estava povoado novamente depois de uma enorme carga de cal e probióticos. Mas, como o engenheiro de pesca lembra bem, todo ambiente tem sua capacidade de suporte e cobra o preço quando isso é violado. A transformação atual da carcinicultura prova-
Na explosão da mancha branca, muitos procuraram os culpados. A larvicultura e genética foram massacradas. “O peso maior está nas costas dos laboratórios”, reconhece Lucena. “Dizem que a genética do camarão brasileiro é muito ruim. Só que eu posso ser portador de uma doença e não manifestar, mas poderei manifestar se as pressões ambientais forem estimulantes para isso.” Em todos os laboratórios de produção de pós-larvas, houve a necessidade de criar produtos condizentes com a nova realidade de mercado. Na estrutura que a Camarati mantém em Jaguaruana (CE) não foi diferente. “Trabalhávamos com uma única pós-larva ao preço de R$ 9 que saía com uma semana do berçário e ia direto para o cliente com 250 PLs por grama. Criamos um camarão que vai até 200 pl/grama, o segundo vai até 100 pl/ grama (R$ 10,70), 100 pl/g a 70 (R$ 12), 70 a 40 (R$ 14) e 40 a 20 (R$ 17)”, conta van Tilburg. Antes da enfermidade, a venda era de 300 milhões de pós-larvas por mês e agora a meta é chegar no início de 2017 com 150, mas com valor agregado maior. A nutrição é outro tema que rende discussões. “O pessoal quer alimentar camarão com farelo de trigo”, provoca o engenheiro da Maris. Fabio Higa, gerente da fazenda ExpoPesca, comenta qual o resultado desse raciocínio. “Todo produtor acha que tem algo escondido na manga. Ele tenta uma vez, a
Nada que provoque desequilíbrio no animal é recomendado nesta fase de exposição à doença, como indica Aedrian Ortiz Johnson, gerente de suporte técnico global da Skretting. “Um animal bem nutrido é mais resistente ou tem maior capacidade de lutar contra uma enfermidade.” Ainda mais porque, como lembraram vários especialistas consultados nesta reportagem, o crustáceo é um animal primitivo e não tem memória imunológica. Isso significa que quantas vezes ele for exposto debilitado à mancha branca ele poderá morrer.
mundial da Nutreco para para o segmento aqui no Brasil. Marcelo Toledo, diretor de produtos para aquacultura da Skretting no País, disse que este é o momento ideal para o desembarque da marca. “É quando há oportunidades e quando mais o produtor precisa de uma empresa com essa força tecnológica.” Com presença nos principais países com produção aquícola no mundo, a empresa traz dietas para pós-larvas e matrizes, além de uma formulação específica de saúde que será lançada em março para reduzir o efeito de vibrioses nos camarões – que o enfraquecem e abrem a porta para a mancha branca e outras doenças.
Johnson veio do México para acompanhar o lançamento da marca
Fechar a porta da imunidade também é meta da Phileo, que também
acaba de chegar no País na área de aquicultura e recrutou Borba, ex-ABCC, para abrir caminho às leveduras bacterianas e aditivos enriquecidos que a multinacional francesa já comercializa em todo o mundo. “Nossos produtos podem favorecer a eliminação de patógenos, estimulam o sistema imunológico e a pressão por estresse da produção intensiva que faz o camarão adoecer”, conta. Estresse que também adoeceu o produtor ao longo do ano, mas que aos poucos arrefece para os que possuem maior capacidade de adaptação. Resta conferir como será o clima da feira na volta à Natal, confirmada para novembro de 2017. Leia mais sobre a Fenacam aqui: http://bit.ly/fenacam_seafoodbrasil
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segunda a quarta e na quinta está dando a fazenda de graça”, ressalta.
Capa MERCADO
Vivendo sem camarão SEAFOOD BRASIL • OUT/DEZ 2016 • 22
Desabastecimento de camarão provocado pela mancha branca joga preço para o alto e acirra pressões favoráveis à importação, que já acontece de forma ilegal, mas não é consenso nem entre distribuidores
J
aguaruana, a terra do camarão sertanejo, tem novos produtores de peso. Em plena adaptação para os sistemas semi-intensivo e intensivo, duas novas fazendas terão alimentação por bioflocos nos estágios iniciais, geomembranas nos viveiros e coberturas para controlar a temperatura. De 100 toneladas por mês inicialmente, devem chegar a 400 toneladas quando o sistema estiver totalmente implantado.
Ambas são arrendadas e estavam desativadas, mas o novo “inquilino” tem o ambicioso plano de comprar outra área para acomodar uma produção superintensiva, um frigorífico e até uma fábrica de ração. E de lá sair com o camarão pronto para exportação aos principais mercados europeus. O autor do projeto é ninguém menos do que Fernando Perri, fundador e
presidente da Vivenda do Camarão (foto acima), a maior rede de alimentação fora do lar do País especializada no ramo. Depois de vender a Valença da Bahia Maricultura em 2004, o empresário não tinha a intenção de voltar ao cultivo. “Estamos montando as fazendas por total falta de opção, meu negócio é o comércio. Gero 2500 empregos, mas fechei mais de 20 lojas e mandei mais de 100 pessoas embora. Imagina a
Ele se refere às promoções das lojas, que hoje incentivam todos os demais produtos de pescado, com exceção do crustáceo que batiza a rede. “Hoje consumo apenas 120 toneladas por mês atualmente, já cheguei a consumir mais de 200 toneladas”. Com a produção própria, Perri espera subir a 180 toneladas mensais para abastecer as 150 lojas nos shoppings nacionais. O excedente vai alimentar as duas principais estratégias recentes do grupo: a internacionalização e o aumento da presença no varejo e e-commerce. O grupo acaba de abrir a quinta loja em Portugal e deve fechar em breve contrato para mais de 100 franquias da Shrimp House na China. Por outro lado, o negócio de importação, distribuição e
venda por microfranquias (Vivenda em Casa) cresce com potencial para rivalizar com o fast-food em faturamento. Perri diz não ter mais motivos para seguir como uma das principais vozes a favor da abertura das importações de camarão, já que volta a ser um produtor. Desde 1999 ele tentava, sem sucesso, vencer a espiral de forças institucionais e privadas que conservam o mercado fechado para o crustáceo importado. “Hoje é melhor que ninguém importe nada para o resto da vida”, diz, resignado. “Mas independentemente de produzir camarão ou não, ainda estou indignado. Algumas pessoas me aconselharam a não lutar mais sobre a importação, mas eu não consigo.” Em agosto, ele enviou uma carta ao coordenador-geral de articulação institucional do Ministério da
Divulgação
Vivenda do Camarão desincentivando o camarão? É o fim do mundo”, lamenta.
Lara e de La Noce, da Nutra Foods: varejo correu para evitar desabastecimento, enquanto oferta em queda tornou reposição mais difícil e fez preços explodirem
Agricultura, Rui Samarcos Lóra, em que procura relativizar o argumento sanitário que sustenta a barreira e mostrar como a falta de produto prejudica quem está ao lado da comercialização do produto. Sua posição é endossada por entidades representativas do food-
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Capa MERCADO O camarão argentino já está no Brasil O Pleoticus muelleri, camarão de captura tem tamanho médio superior e preço competitivo (veja no quadro ao lado), é um alvo de importadores brasileiros há muitos anos, embora não compita no mesmo segmento que o cinza de cativeiro. Com safras anuais 20% maiores na última década, os argentinos estão ansiosos para que as pressões pró-importação vençam as barreiras sanitárias e eles possam vender ao mercado nacional. Alguns já o fazem, mesmo que por baixo dos panos. Uma rápida pesquisa mostra um aumento crescente no número de notícias sobre apreensões de cargas da espécie nas fronteiras secas do sul do País. Mas quem pretende trabalhar legalmente aguarda com paciência, como é o caso de Federico Angeleri, da mar-platense Pesquera Veraz. “O interesse da nossa empresa no Brasil é alto. Poder vender o nosso camarão aí seria alentador não apenas para dar uma solução à demanda insatisfeita de camarão atual, mas para ajudar a desenvolver novos mercados.” Ele enxerga que o produto traria uma competição sadia, melhoraria o desabastecimento e, consequentemente, melhoraria o preço do próprio vannamei.
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service, como Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel) e Associação Nacional de Restaurantes (ANR) e compartilhada pela Associação Brasileira da Indústria de Pesca (Abipesca), mas não é unanimidade entre seus pares distribuidores de pescado. “Não acho que seja solução”, atesta Ricardo Pedroza, do Grupo Camarões do Brasil, que representa fazendas como a Aquadelta, Maris e 3 Mares. “Neste período em que estamos sofrendo, ninguém vai morrer se não comer camarão. Se dermos este tempo ao setor ele vai se recuperar, ao passo que se entrar uma importação vai tudo por água abaixo”, afirma. Ele diz não temer uma “competição sadia” com o Equador,
Angeleri confirma à reportagem que, desde a mudança de governo na Argentina e no Brasil, os empresários locais estão buscando realizar gestões pró-abertura. “Hoje em dia existe lugar para todos e o camarão argentino está muito demandado por outros países, como China e Estados Unidos, então o Brasil não representa nenhuma salvação como se supunha anos atrás.” Apesar disso, ele é contra a visão de que poderia se estabelecer uma cota ou preços mais altos. “Supor que vamos vender o produto a três vezes mais do que custa tem pouco sentido. Entendo que se fale de certo volume para levar tranquilidade à indústria local, mas vivemos em um mundo totalmente globalizado onde é muito simples saber o que custa algo em qualquer lugar do mundo”, finaliza. “Por las dudas”, como dizem por argentinos, a linha com camarões descascados e eviscerados, em IQF já envasados para o varejo com embalagens de 2, 1 kg e 800 gramas, entre outras opções, já está em stand-by.
que dispõe do mesmo produto que o nosso, sem glazing excessivo ou aditivos que resultem em fraude econômica. “Se vier da China com tudo isso é que temos medo porque aí acaba o setor.” Ele reconhece que o patamar de preços está muito alto, mas crê em uma redução gradual já partir deste fim de ano e início do ano que vem. “Vai acabar a farra de quem produz, serão preços que não serão absurdos como os de hoje. Não precisamos ter os níveis de produção de 6 meses atrás para baixar preço.” A própria Camarões do Brasil, somando as três marcas representadas, vendeu 5.200 toneladas de camarão no ano passado, mas espera fechar 2016 com 3600 toneladas.
A queda geral no volume é determinante – oficialmente a ABCC fala em queda de 30% neste ano, uma produção nacional de 60 mil toneladas. Fontes consultadas na Fenacam estimam que o ano feche com a metade disso – , mas Pedroza diz que o produtor não é o culpado pelo preço final. “O que está inflacionando mais ainda o mercado é que os compradores estão fazendo um leilão ao contrário.” Ele explica: “a associação criou uma tabela de referência e havia um acordo para não se subir preço. O comprador sempre oferece mais do que este preço, que vai subindo semana a semana. Para ele, que é um atravessador, é ótimo. Esse é o cara que abastece as feiras, Ceasas por aí afora, a compra é 100% spot.” Já entre os distribuidores do varejo e nas grandes redes, Pedroza diz que ninguém parou de comprar, mas houve mudanças. “Tivemos de fazer uma migração de um camarão menor para maior. O produto em que éramos campeões de venda, o 111/200 (camarão de 5g), está em falta, então hoje vai camarão de 9 g (71/90), que é mais caro”, justifica. Por Ao mesmo tempo, houve uma corrida do varejo para evitar o desabastecimento, conforme explicam Luciano Lara e Cristiano de La Noce, diretores da Nutra Foods. “Com a rápida chegada do vírus da mancha branca, a procura pelo camarão aumentou sensivelmente entre nossos clientes, muitos deles buscando se estocar e garantir produtos para o abastecimento do período de verão.” Com a oferta em queda, os estoques foram afetados sensivelmente e o preço subiu. A empresa diz ter minimizado o impacto por se preparar para a chegada da doença. “Estreitamos novas parcerias ao longo do ano e garantimos a manutenção dos estoques e continuidade na oferta de nossos produtos”, garantem os sócios, que reconhecem a necessidade de renegociar alguns contratos e aumento no custo final. As redes consultadas pela Seafood Brasil preferiram não comentar e, assim, entrar na polêmica discussão.
PREÇOS DO CAMARÃO 1 KG EX-FRIGORÍFICO (Descascado cru e congelado, exceto quando indicado de outra forma) Nova York (28 nov a 2 dez) x Brasil (Nov) | Espécie padrão: Litopenaeus vannamei de cultivo | US$ 1 = R$ 3,373 (09/12/16) | 1 lb = 0,453592 kg Un/12 Un/15 16/20 21/25 26/30 31/35 36/40 41/50 51/60 61/70 71/90 91/110 111/130 Argentina (Pleoticus muelleri) R$ 59,12 R$ 35,32 R$ 30,86 R$ 29,00 China (EZPeel IQF) R$ 46,10 R$ 41,64 R$ 37,18 R$ 32,72 R$ 31,60 R$ 29,00 Equador R$ 45,36 R$ 39,04 R$ 34,95 R$ 32,72 R$ 30,86 R$ 28,63 R$ 28,26 R$ 23,80 R$ 21,94 Índia R$ 50,57 R$ 43,50 R$ 36,44 R$ 34,21 R$ 33,46 R$ 32,35 R$ 30,12 Indonésia R$ 75,11 R$ 50,57 R$ 43,50 R$ 36,07 R$ 33,46 R$ 32,35 R$ 30,49 México R$ 48,34 R$ 44,99 R$ 40,90 R$ 36,07 R$ 32,35 R$ 30,49 Tailândia R$ 75,11 R$ 50,57 R$ 43,50 R$ 36,44 R$ 34,21 R$ 33,46 R$ 30,12 Américas Central e do Sul R$ 45,36 R$ 39,04 R$ 34,95 R$ 32,72 R$ 30,86 R$ 28,63 R$ 28,26 R$ 23,80 R$ 21,94 BRASIL R$ 67,71 R$ 64,73 R$ 60,80 R$ 55,91 R$ 49,10 R$ 42,30 R$ 35,52 BRASIL EX-FAZENDA R$ 32,40 R$ 30,75 R$ 28,60 R$ 25,85 R$ 22,05 R$ 18,20 R$ 14,00 MÉDIA MUNDIAL R$ 69,78 R$ 49,45 R$ 42,63 R$ 39,09 R$ 35,32 R$ 34,08 R$ 32,50 R$ 30,28 R$ 28,63 R$ 28,26 R$ 23,80 R$ 21,94 DIF. PREÇO % BRASIL X MUNDO 48% 47% 47% 51% 48% 52% Fonte: USA Department of Commerce/NOAA/NMFS e Camarões do Brasil | Elaboração REDES & Seafood/Seafood Brasil
com a metade deste patamar. Segundo Blanke, o camarão rosa complementou uma pequena parte do suprimento, mas a baixa produção da pesca extrativa neste ano prejudicou esta alternativa. “Não existe volume suficiente disponível no mercado”, atesta Thiago
De Luca, diretor da Frescatto Company. “Como trabalhamos com todos os tamanhos de camarão, sentimos a mudança imediata nos preços e nos volumes ofertados. Tivemos que retirar alguns produtos de nossa tabela, por não conseguir encontrar os tamanhos necessários.” O empresário calcula que
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No entanto, os distribuidores confirmam que os volumes de compra diminuíram. “O cliente sabe que o consumidor irá comprar volumes menores nas lojas por causa do custo”, afirma Guilherme Blanke, diretor da Noronha Pescados. A companhia operava com 100 toneladas mensais de vannamei e agora conta
Capa
A ROTA DOS PREÇOS
MERCADO
o custo de compra tenha subido mais de 60% e o valor não pôde ser repassado integralmente aos parceiros.
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EXTRA HIPER R$ 62,99 Pitu (granel)
Frescatto descascado congelado
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CARREFOUR R$ 66,99
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GG
Icap/Santa Luzia vannamei descascado congelado
500g
PÃO DE AÇÚCAR R$ 64,99 ST.MARCHÉ R$ 90,99
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Qualitá descascado cozido congelado
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Costa Sul vannamei c/ casca s/ cabeça cozido congelado
Maris descascado cozido congelado
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CARREFOUR R$ 35,89 WAL-MART R$ 36,98
Carrefour descascado cozido congelado
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e do ar cozi M ll o o De scad elad g a sc on de c
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EXTRA HIPER R$ 55,99
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EXTRA HIPER R$ 57,99 PÃO DE AÇÚCAR R$ 77,99
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ST. MARCHÉ R$ 47,39
Dell Mare descascado cozido congelado
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OUR CARREF R$ 32,90
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EXTRA HIPER R$ 58,99
Potiporã descascado cozido congelado
E é justamente a melhoria da produtividade que sugere um alento para o setor melhorar preços, já considerados altos antes de episódios sanitários. O exemplo do Equador e da Ásia, que saíram da mancha branca com alta produtividade, é dos mais citados. “O setor é muito ágil, reage rápido e está inquieto. Muita gente se mobilizando para fazer investimentos e vai se produzir muito. Em 2018 acho que produziremos mais do que produzimos em 2016”, projeta Pedroza. É o que o consumidor final – a que a cadeia produtiva precisa estar mais atenta – mais espera.
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PÃO DE AÇÚCAR R$ 61,99 CARREFOUR R$ 36,90
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Os diretores da Nutra Foods têm visão similar. “O mercado e as autoridades têm toda a condição de criar mecanismos para que isso se desenvolva de forma gradativa e sem prejuízos a indústria e produção nacional. Toda a competitividade é bem-vinda e nos incentiva a inovar, mudar, seguir adiante num processo de melhoria contínua”, opinam Lara e de La Noce.
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O empresário também sugere políticas específicas destinadas a não quebrar a carcinicultura nacional. “O custo-Brasil influencia bastante no custo final do camarão nacional e certamente a importação de todos os tipos e tamanhos por qualquer empresa inviabilizaria a produção nacional, mas acredito que se for feito um trabalho pontual nas importações o mercado seria abastecido sem colocar em risco a produção nacional.”
Cinza inteiro fresco gde. (granel)
Cinza inteiro pré-cozido med. (granel)
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É por este motivo que ambas as empresas, que compõem a Abipesca, são favoráveis à importação. “Acredito que a liberação da importação temporária já sem a casca por indústrias de pescado exclusivamente seria uma boa opção para suprir o mercado sem colocar em risco a produção nacional”, sublinha Blanke. “Uma vez que o nível de produção retomasse ao patamar anterior, a importação seria suspensa novamente”, completa.
Em um raio de 5km no bairro da Saúde, zona sul da capital paulista, fomos a cinco lojas de diferentes redes varejistas para checar os produtos e preços à disposição. Veja o resultado.
CLASSIFICAÇÃO
PESO
INFLAÇÃO DO CAMARÃO X PESCADO (IPCA %) - JAN > NOV 2016
EXTRA HIPE R$ 88,99 R
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3,07
ue t Val ido Grea ado coz do cer evis congela
2,74 1,74
0,4 1,91
0,95
400g
-0,63
-0,03 -0,61
-1,26
-2,27
-4,03 -3,15 Janeiro
Fevereiro
Março
Abril
Maio
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Julho
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Setembro
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Novembro
Dezembro
EXTRA HIPER R$ 22,69 PÃO DE AÇÚCA R R W $ 19,90 A R$ L-MA 19 RT ,98
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CARREFOUR R$ 39,89
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Cinza inteiro fresco
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CARREFOUR R$ 63,99 PÃO DE AÇÚCAR R$ 83,99 WAL-MART R$ 52,98
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Cinza inteiro pré-cozido peq. (granel)
Great Value inteiro cozido congelado
Fonte: IBGE - Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo
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Qualimar Rosa Descascado Congelado
CARREFOUR R$ 43,89 Sete barbas sem cabeça pré-cozido peq. (granel)
111/200
ST.MARCHÉ R$ 122,09
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Bomar cozido congelado
CARREFOUR R$ 62,99
Potiporã descascado cozido congelado
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CARREFOUR R$ 99,99
CARREFOUR R$ 54,49
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ST.MARCHÉ R$ 105,55
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Pequeno
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Qualimar Rosa Descascado Congelado
Potiporã descascado cozido congelado
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2,1
1,86
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-1,33
Dell Mare descascado cozido congelado
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WAL-MART R$ 49,98
Rosa s/ cabeça
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EXTRA HIPER R$ 178,99
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do ca o as lad sc ge de on is c ar o g M ozid c 400
CARREFOUR R$ 14,69
0 /13 111
CARREFOUR R$ 39,89 EXTRA HIPER R$ 46,99 PÃO DE AÇÚCAR R$ 54,99
200g
ST.MARCHÉ R$ 69,69
400g
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Bomar cozido congelado
WAL-MART R$ 27,98
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EXTRA HIPER R$ 27,99
EXTRA HIPER R$ 59,99 PÃO DE AÇÚCAR R$ 62,99 ST. MARCHÉ R$ 60,15 WAL-MART R$ 49,98
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350g
100/200
Frescato Petisco de Camarão
Icap/Santa Luzia (próx. data vencimento)
Nativ descascado empanado pré-frito congelado
PÃO DE AÇÚCAR R$ 27,69
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111/130
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2,38
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Qualitá descascado cozido congelado
Camarão
Dell Mare descascado cozido congelado
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Cinza inteiro fresco gde. s/ cabeça (granel)
Pescado
Capa Potiporã
“Aqui todo mundo pode mentir, quem não mente são as aves”
Sob nova direção, Potiporã está em plena revisão do modelo produtivo nos mais de 1200 hectares de fazendas
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s tratativas para a venda de todo o complexo verticalizado da Potiporã, com laboratório e produção de pós-larva, engorda e indústria, começaram muito antes de a Queiroz Galvão ser uma das construtoras acertadas no coração pela Operação Lava-Jato. De um modelo em que ela passaria à mão de uma empresa âncora com uma cooperativa de produtores à possibilidade de ser absorvida pela Cargill, no fim ela terminou nas mãos de um fiel comprador de pós-larvas da empresa: a Aquicultura Samaria.
Seu sócio majoritário é o presidente da Associação Cearense de Criadores de Camarão, Cristiano Maia, que de um dia a outro (na verdade um mês e R$ 100 milhões depois) passou a ser o maior carcinicultor do Brasil. Não contente com a fazenda atual, em Pendências (RN), Maia alugou outras duas fazendas no Vale do Açu e chegou à soma de quase 1200 hectares de lâmina d’água. O frigorífico já voltou a funcionar após um período de manutenção e o número de funcionários da fazenda já cresceu de 280 para 400, como o próprio informou à imprensa local.
Tudo para voltar a produzir rapidamente e acelerar a recuperação do investimento, que ele calcula em 10 anos. Noé David Salazar, supervisor de aquicultura, um mexicano que vivenciou a transição e é um dos responsáveis pela produção, diz que a empresa mudou para melhor. “O dono agora visita a empresa”, disse em meio aos últimos raios de sol daquela sexta-feira, 25 de novembro, enquanto fechava as portas da fazenda para a nossa saída. Minutos antes, nossa equipe tinha conhecido os efeitos que o recrudesci-
Tinha visto muito isso no México. Quando havia aves no viveiro, sabia que alguma coisa estava errada. mento da mancha branca no Rio Grande do Norte produziu na maior fazenda do País. Até o vírus voltar com força este ano, a produção era considerada muito boa por Noé. “Densidades de 50 a 70 camarões por m2, sobrevivência de até 70%.” Foi quando os padrões de alimentação foram caindo um viveiro após o outro e um indicador saltou aos olhos dele: a presença de aves. “Tinha visto muito isso no México. Quando havia aves no viveiro, sabia que alguma coisa estava errada.”
O próximo passo foi incrementar a biossegurança nos viveiros. A fazenda, que já tem uma barreira sanitária na entrada, começou a instalar um filtro de 500 micras nas comportas dos viveiros, de forma a reduzir os vetores de infecção. Todos os camarões mortos foram retirados dos viveiros. Na sequência, todas as lagoas de armazenamento foram cloradas e os viveiros receberam cal e tiveram a terra revirada. As estacas com as bandejas de alimentação foram raspadas para remover a incrustações. A etapa seguinte consistiu em baixar as densidades anteriores de 50
Noé Salazar e Angela Urquiza: México e Cuba unidos na modernização das fazendas da Potiporã
e 70 camarões por m2 para 8 a 15 por m2. “Testamos ainda com 20 a 30 por m2, mas os melhores foram de 8 e 10 por m2”, rememora Noé. O desafio atual é a salinidade, considerada muito alta pela empresa. É uma média de 75 ppm (a água do mar tem salinidade normal de 35 partes por milhão). “A mais alta é de 82 partes e a mais baixa de 68 partes. Esperamos que venha uma temporada de chuva para baixar a salinidade, porque o camarão é muito sensível. Após chegar a 3 ou 4 gramas nesta salinidade o camarão para de comer.”
mos tirar camarões de raceway com 1 g, para que demore o menos possível no viveiro. Um mês, ou 2 meses para fazer 3 ou 4 ciclos no ano. Assim poderíamos compensar um pouco a perda das densidades menores”, conta Noé. A única certeza é esta concepção, que se expressa na adoção do modelo trifásico. Não há nada definido sobre coberturas. “Agora estamos vendo outras fazendas para comparar os resultados. Sabemos que cada fazenda tem uma necessidade diferente e uma solução diferente.”
Com o novo manejo, a sobrevivência aumentou e os gastos por viveiro diminuíram, mas o ciclo se alongou. “Estamos tirando em 80 a 90 dias um camarão de 8g. Antes fazíamos em 50 a 60 dias”, revela. A conclusão é uma queda geral nos índices de produção. E outubro, a produção foi perto de 70 toneladas, quando normalmente eram 20 toneladas por dia, pelo menos 300 toneladas por mês.
Ao menos os berçários já estão preparados para esta nova fase de convívio com a mancha branca. Segundo Angela Urquiza, supervisora de aquicultura, os berçários com estufas já foram implantados há dois anos, quando a ameaça na fazenda era a Necrose Idiopática Muscular (NIM). “A variação de temperatura entre o dia e a noite era apenas 1 grau e já estávamos protegidos quando chegou a mancha branca. É claro que ajudou muito o sistema de aquecimento de água e a pouca variação de temperatura.” A estrutura contempla 48 tanques, com volume de produção mensal de 80 a 90 milhões de larvas. Tudo para engorda própria.
O planejamento para recolocar a produção nos trilhos é otimizar os tempos de viveiro, para que o período que o camarão dure em exposição a qualquer vírus seja muito menor. “Quere-
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Além de vetores de transmissão, elas são um indicativo de doença pois comem camarões mortos já cozidos pelo sol. “Aqui todo mundo pode mentir, quem não mente são as aves”, revela com franqueza o técnico. Os índices de sobrevivência já foram muito baixos nas primeiras despescas e de 2 a 5 dias depois da constatação da doença a sobrevivência começou a cair muito. “O fundo de todos os viveiros mostrava camarão vermelho morto.” As despescas então foram aceleradas e divididas entre a noite e as primeiras horas da manhã. A compreensão era de que quanto maior a agilidade, maior a sobrevivência. Ainda assim, um viveiro ficou de prova para ver se a recuperação era possível, mas o resultado foi uma sobrevivência de 10% a 15%. “A sobrevivência média foi de 15 a 20%”, lembra.
Capa ExpoPesca
“Tem coisas que você só vê por aqui” ExpoPesca desenvolve modelo hiperintensivo concebido para conviver com doenças e gerar produção de 560 toneladas por ciclo em 40 viveiros
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ais de 30 anos de experiência na aquicultura levaram Luiz Paulo Sampaio Henriques e seus sócios a adotar um meticuloso planejamento para a construção da fazenda ExpoPesca, em Cascavel (CE). Há três anos, quando foi projetada, já eram bem conhecidos os efeitos perversos da mancha branca no Rio Grande do Norte. “Ela foi concebida com a intenção de minimizar os impactos das doenças. Algumas coisas que vocês veem aqui só existe nesta escala na ExpoPesca”, conta Fabio Masayoshi Higa, gerente da fazenda.
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Às 7h da sexta-feira, 25 de novembro, o engenheiro de pesca nos conduziu pelos 40 hectares da propriedade, uma fusão do modelo tailandês e vietnamita de produção de camarão. “Todos os viveiros (com 4 mil m2 cada) são revestidos com geomembranas, 60hp de
aeração e dreno central, explica Higa. Com R$ 6,5 milhões investidos até agora, o projeto da fazenda prevê a construção de 40 viveiros, mas no momento da visita havia 8 prontos e 8 em construção. Uma fazenda vizinha trabalha com 50 camarões por m2, padrão considerado normal no Ceará. “Essa aqui foi projetada para funcionar com 300 por m2. Mas os diferenciais que “só se veem na ExpoPesca” começam muito antes dos viveiros de engorda. A captação é feita no Rio Choró, cuja água passa por um processo de esterilização com hipoclorito de sódio e peróxido de hidrogênio em bacias onde fica de 24 a 36 horas. São quatro bacias, mas apenas duas, de 21 mil m2 e 7 mil m2, estão em
Bacias de captação e tratamento de água: 90% da água é recirculada, diz Fabio Higa
uso. O bombeamento ocorre em torno de 10 vezes ao mês, apenas nos picos de maré cheia e, ainda assim, 90% da água utilizada na fazenda é recirculada. A água só sobe para a fazenda por bombeamento se for esterilizada. Um sistema de aeração aumenta a eficiência da decantação, pois transforma em flocos o material em suspensão, que se direciona para o fundo. Para completar, uma geomembrana impede o contato entre o solo e a água. Tudo morre no processo, de vírus e bactérias a peixes e outros organismos vivos. É por este motivo que a fazenda desenvolveu pequenos tanques para
Este sistema não garante que você vai eliminar a mancha branca, mas conviver com ela o vírus inativo. Os raceways com estufa são povoados com densidade de 3.000 a 3.500 camarões por m2. Os animais passam de 25 a 30 dias ali com a intenção de crescer o máximo possível. Tudo é feito sem troca d’água e, ainda assim, a sobrevivência é de 95% a 98%.
Às 8h da manhã, debaixo de um sol inclemente e um vento constante, o gerente nos leva à área central da fazenda, onde estão em construção pré-bercários e raceways cuja expectativa de conclusão é para janeiro – a previsão para junho de 2017 é chegar a 10 raceways de 500 toneladas, 1 a cada dois viveiros. Mas o que mais chama a atenção são duas estufas. A vantagem alegada é que a temperatura elevada – a água chega a 35 °C – funciona como uma espécie de vacina anti-mancha branca, por manter
Higa alerta, no entanto, que o sistema tem seus problemas. “Não necessariamente se você cobrir controla os vetores. A estufa é boa quando se compra, mas mantê-la é difícil. A temperatura sobe muito e isso desnatura a proteína da ração, o camarão não cresce, a amônia dispara etc. Quando te vendem o pacote da estufa, não informam como controlar isso.” É por isso que Higa sugeriu aos sócios que concentrassem o investi-
mento na produção e não na cobertura de todos os viveiros, cujo valor pode ultrapassar R$ 120 mil cada um. E os resultados já estão aparecendo. Um primeiro viveiro que já havia sido povoado na visita estava com 4,5 mil kg por hectare com o objetivo de chegar a 9 mil kg/hectare. “A maior produção que essa fazenda já teve foi 2800 kg por hectare.” Com despesca entre 40 e 50 dias após o povoamento, cada viveiro deve produzir acima de 14 toneladas por ciclo. Toda essa experiência será aplicada em um futuro breve na produção de tilápias em outra área pertencente aos sócios. Com densidades a partir de 25 kg por m³, culminando a 150 kg por m³, a tilápia hiperintensiva criada com alimento vivo é a próxima fronteira a ser cruzada.
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produção de alimento vivo – artêmias – e diversos outros “ingredientes”, como bactérias, probióticos, farelos etc. “Preciso repor toda a vida para mandar essa água ao viveiro. Com isso você deixa o camarão mais nutrido e garante uma resposta melhor à doença.”
Capa Celm/Maris
“É uma moda entre os produtores” avisar”, relembra Lucena, mostrando bem como é controversa a questão da comunicação sobre o contágio. Fato é que agir rápido para constatar e conter o problema foi fundamental na Maris. “Começamos uma força-tarefa para despescar e tivemos sobrevivência inicial entre 70% e 80%, nos primeiros viveros e nos últimos de 30% a 40%”, conta o engenheiro de pesca. Mas a ocorrência não havia sido a primeira da região de Aracati (CE), onde fica a fazenda: uma semana antes um foco do vírus foi encontrado em Icapuí, onde o dono não comunicou seus pares. Ninguém quer ser culpado de ter disseminado a mancha branca, mas a verdade é que a praga já estava na bacia do rio Jaguaribe e foi afetando aos poucos os mais de 800 produtores locais. “Houve vários gatilhos, como salinidades e temperaturas”, elenca Lucena. Depois de cinco anos sem inverno (período de chuvas no Nordeste), a salinidade aumentou, o leito dos rios baixou, a carga orgânica subiu, levando consigo um aumento de vibrioses – portas de entrada para a doença. ‘Estufar’ os viveiros, com adoção de dreno central para os sedimentos e geomembrana, é uma das estratégias buscadas pela Maris
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ma reação das mais comuns entre os produtores que padeceram da mancha branca foi despescar o mais rápido possível e interromper a produção para desinfectar os viveiros. Não foi o caso da Celm/Maris, que detém uma das maiores fazendas de camarões do País com 200 viveiros em 600 hectares de área. Quando a tragédia se abateu, a ordem foi despescar os viveiros mais críticos, deixando-os mais tempo em descanso, e adaptar os menos críticos para novas posturas de manejo.
Em janeiro de 2016, a empresa produziu perto de 400 toneladas. Em fevereiro e maio bateu o volume projetado em 31 toneladas e 58 toneladas, respectivamente. Tudo ia bem até junho, quando Hudson Makson Rocha Lucena, gerente de produção da empresa, recebeu uma ligação com más notícias de uma análise feita no equipamento de PCR. Quando o diretor, Caetano Guedes Júnior, recebeu a notícia, a fez circular em um grupo de carcinicultores. “Ele foi crucificado por alguns, disseram que ele era louco de
A reconstrução começou com a conversão da fazenda em um verdadeiro laboratório. “Começamos a experimentar. Deixamos mais tempo de descanso para os viveiros, subimos o nível, esterilizamos a água, povoamos com animais maiores vindos de estufas. Isso hoje é uma moda entre os produtores.” Lucena se refere a um modelo muito comum no Equador e México, países cuja produção foi dizimada há uma década pelo mesmo vírus, e na Ásia, onde a lista de doenças é bem maior que a nossa. As pós-larvas se transformam em juvenis de 1 grama em estufas, que depois seguem aos viveiros para o
Em 50 dias, o animal atinge 10 gramas. Quando a doença vem a abater, ele já está com o tamanho ideal para a despesca.
É justamente este processo que Alyson Alencar, gerente da fazenda, colocou em curso na reação da empresa. A primeira estratégia de produção foi a de diminuir o tempo de cultivo em viveiros abertos, fazendo com que o animal passe mais tempo em ambientes mais fáceis de controlar, como o laboratório e os raceways. A segunda estratégia é um complemento da primeira: manter o controle térmico em todo o ciclo. É por este motivo que a empresa testa agora a cobertura dos viveiros. Três
estão em construção e adaptação para receber uma cobertura, um dreno central para remoção de sedimentos e geomembrana para funcionar como barreira entre a água e o solo. “Queremos continuar com o controle térmico para evitar que a mancha branca se manifeste. Mas é possível intensificar, colocando aeração entre 60hp e 80hps por hectare, colocando 80 a 150 animais por m2, produzindo 25 toneladas por hectare”, conta. Atualmente, a produção no sistema extensivo da fazenda é de 500 kg por hectare. “Terminou, lavou o viveiro, tirar a matéria orgânica, desinfeta, para povoar outra vez”, resume. Para
ajudar, ao lado dos “tratada” repõe a água que será recirculada. Serão 12 viveiros. No berçário a determinação é a mesma. Agora convertidos em raceways cobertos de 500 m3, têm o objetivo de produzir juvenis de 1 g entre 30 e 40 dias. “Em cada um deles posso estocar 1,5 milhão de pós-larvas, mas com baixa densidade, de três pós-larvas por litro. Com sobrevivência de 70% já está bom”, diz Alencar. Nos primeiros berçários já convertidos ele admite que arriscou. “Estou colocando 20 pós-larvas por litro com a intenção de povoar logo a fazenda. Mas depois recuaremos e vamos colocar uma densidade menor para crescer um pouco mais.” É um risco calculado.
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crescimento compensatório. “Em 50 dias, o animal atinge 10 gramas. Quando a doença vem a abater, ele já está com o tamanho ideal para a despesca.”
Capa Camanor
“Sem a mancha branca não chegaríamos aqui” Doença empurrou Camanor para a criação do AquaScience, cuja produtividade chegou a 36,8 toneladas por ha entre janeiro e outubro; na fazenda extensiva da empresa, relação foi de 1,39 toneladas por hectare
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ode parecer inimaginável que a Camanor como se conhece atualmente tenha se projetado como uma das maiores produções nacionais em sistemas extensivos. No auge, foram 6 mil toneladas anuais produzidas em três fazendas projetadas pela equipe dirigida pelo economista suíço Werner Jost: Cana Brava (Canguaretama/RN), com 120 hectares de produção, Aratuá (Guamaré/RN), com 150 hectares e a Peixe-Boi (Porto do Mangue/ RN), com 550 hectares. Os números eram compatíveis com o apetite dos estrangeiros, foco da empresa até 2008.
Fazenda Cana Brava, em Canguaretama (RN), é um complexo que abriga sistema cultivo superintensivo com recirculação de água, berçário de tilápias e unidade de beneficiamento
Era um colosso. Alto custo de produção compensado por enormes volumes. Quando o câmbio deixou de ser favorável e o custo competitivo, o modelo perdeu completamente o sentido na esteira de um processo que culminou na virada definitiva da carcinicultura para a então crescente, mas ainda baixa, demanda interna. A Peixe-Boi foi vendida e se tornou uma salina. A Aratuá e a Cana Brava seguiram produzindo com indicadores estáveis e um volume de 1700 kg por hectare.
A sobrevivência média era de 90% ainda no primeiro semestre de 2011, mas, sem aviso, despencou para 10% naquele que foi o primeiro registro da mancha branca no Rio Grande do Norte. Todas as fazendas do estuário do Rio Curimataú foram afetadas em poucos dias, inclusive a Cana Brava, matriz e coração da Camanor. Ali a produção baixou a 150 kg por hectare, quando Jost e os técnicos resolveram despescar o que podiam e paralisar a fazenda para um vazio sanitário de três meses.
Divulgação/Camanor
O maior viveiro da Peixe-Boi tinha 80 hectares, com berçários de 20 hectares cada. Eram necessários 22 arraçoadores, que criaram velas feitas de saco de ração nos caiaques para conseguirem voltar contra o vento. Em 2009, apenas um viveiro da Peixe-Boi chegou a 225 toneladas em uma só despesca. A retirada dos camarões às vezes levava cinco dias seguidos, com três comportas abertas a noite inteira e três máquinas despescando de 30 a 40 toneladas.
Os viveiros e a água foram então preparados para o repovoamento e, quando os camarões foram introduzidos, voltaram a morrer em massa. A Camanor tentou um ciclo completo para ver se os crustáceos elaboravam alguma reação, mas nada novo aconteceu. Em paralelo, um protocolo já havia sido importado da Ásia em 2009 para a instalação de viveiros lonados e um sistema de desinfecção constante da água para matar os patógenos. Os primeiros ciclos do novo sistema haviam registra-
Tudo vem com a escala. Com o que temos hoje finalizamos os ciclos com um custo de produção igual ao sistema semi-intensivo. Os números do AQUASCIENCE
O trabalho para recuperar os viveiros extensivos continuou intenso, mas já estava nos planos de Peregrino convencer o sócio a adotar um sistema de recirculação total de água para a estabilização do sistema. O trauma com a experiência intensiva era inversamente proporcional ao capital disponível para este tipo de investimento, então Jost o incentivou a fazer uma unidade piloto em pequena escala. Sem avisar sobre o povoamento no sistema construído artesanalmente, Peregrino foi monitorando os resultados e se surpreendendo com o comportamento do camarão. “Passou a fase inicial crítica dos 20 dias e o camarão não morreu. Passaram-se 30 dias e ele não morreu. Quando chegou a 12 gramas, chamei Werner para ver.”
do resultados considerados excelentes e isso animou a lonar mais viveiros. Foram três ciclos em 2010 com 90% de sobrevivência, 110 dias para camarão de 10 a 11 gramas. Chegou-se a 12 toneladas por hectare. Mas se a mancha branca é implacável nos viveiros extensivos, no sistema intensivo ela é devastadora: todos os camarões do viveiro morriam com 15 a 20 dias. Foram 10 ciclos de produção no sistema intensivo com muitas tentativas de conter a doença – todas infrutíferas. Foi neste contexto
O que ele viu mudaria para sempre a história da Camanor. Dois tanques, com 98% de sobrevivência e o outro com 102%, 3,2 kg por m3 e 3,5 kg por m3. Animado, o suíço mandou converter um viveiro antigo de 5 hectares no que viria a ser a primeira geração do novo modelo produtivo: 9 viveiros de produção, um canal de drenagem central todo lonado e um reservatório de retorno de água no final. Os resultados eram o gatilho que Jost precisava para colocar em plano a sua migração total do sistema produtivo. Já no segundo semestre
Geração 1: 170 a 180 animais por m² Geração 2: 250 a 280 animais por m² Geração 3: 350 animais por m² Geração 4*: 450 animais por m². Média de produção: 36 toneladas por hectare, com 90% de sobrevivência Aratuá x Cana Brava (jan-out de 2016): 443 hectares = 317 toneladas x 29,4 hectares = 1084 toneladas R$ 8,00: será o custo de produção de 1 kg de camarão de 20g em até cinco anos *Previsão
de 2013, o sistema semi-intensivo foi gradualmente susbstituído pelo superintensivo à medida que o faturamento com as despesas ali e na Aratuá – não atingida pela doença até então – permitia. Atualmente o AquaScience - como foi batizado - tem 41 viveiros em produção, mais 8 em construção que ficarão prontos até março de 2017 dentro do Masterplan 1, que contempla 22,5 hectares. O Masterplan 2 vai refletir em 94 hectares todo o aprendizado de três gerações de produção, chegando a 12 mil toneladas anuais. “O nosso maior aprendizado é deixar de lado a loucura de acabar com a doença e dar estabilidade ao animal. Por que ele morre dentro do viveiro e o camarão no estuário não morre?”, questiona retoricamente Peregrino. Ele mesmo responde, revelando a base do conceito aplicado na Camanor. “O mar é estável. As oscilações de pH, Siga a leitura na página 38.
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que Luiz Henrique Peregrino, um exexecutivo da Purina, finalmente aceitou uma proposta de trabalho de Jost, após três tentativas, para assumir a superintendência técnica da empresa, da qual se tornou um dos sócios.
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Capa Camanor
A cada 1kg de camarão produzido em um ciclo o AquaScience usa 240 litros de água, quando uma fazenda tradicional usaria 19 mil litros. Para os viveiros novos, o bombeamento vem de fora e deixa a água em um reservatório específico por cinco dias, onde ela atravessa três processos de filtragem por telas de 1000, 500 e 250 micras e um tratamento químico com peróxido de hidrogênio e cloro. Mas depois de tudo isso precisa ser enriquecida e misturada à água já maturada. “Como temos reservatórios com água maturada, nunca fazemos a transição de água nova para os viveiros.” Dentro dos viveiros, algo se perde por evaporação. Mas uma cobertura feita de sombrite, uma tela de sombreamento, reduz o efeito.
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temperatura, alcalinidade e balanço iônico são mínimas.” O superintendente valoriza o controle térmico, mas mostra pessoalmente a nós como a chave do sistema está na água. Diversas experiências de cultivo foram observadas, mas a equipe se especializou em sistemas de tratamentos de água. Em geral, para cada dois viveiros existe uma estação. Já há viveiros com 9 ciclos de produção sem que tenha havido uma troca sequer. Essa água é decantada e depois aerada para acelerar processos químicos benéficos à conservação de uma matéria orgânica muito útil para uma das principais funcionárias da fazenda: a tilápia, que consome 80% de suas necessidades de nutrição a partir das fezes e sedimentos do cultivo do camarão. Tanques preparados exclusivamente para os peixes, com densidade de 3 kg de tilápia por m3, geram uma água com muito mais flocos do que no viveiro. “Tudo o que tem de sedimento cai para cá, a tilápia se alimenta com esse floco e a água retorna com carga orgânica menor para dentro do viveiro”, explica Peregrino. São dois ciclos
por ano de 6 meses, finalizando com uma tilápia entre 800 g e 1100 kg, produzida em água com salinidade de 18 ppm e nada de off-flavor. “É a mesma coisa que comer peixe marinho.” Mas a estrela do processo é o camarão e ninguém toca nele. Toda a despesca é automática. “A máquina retira o camarão na boca da comporta, joga para cima das caixas térmicas com um trator e a água vai à estação pelo canal de drenagem instalado no centro do viveiro”. Quando não sobra nenhum camarão, o viveiro e os equipamentos são limpos e desinfectados em até 48 horas por um sistema de ozônio. O arraçoamento automático foi implantado na geração 3 e os primeiros resultados já mostram uma margem de erro de 1kg entre 150 kg lançados nos viveiros. A aeração é mista, com mangueira microporosa e aerador de paleta. “A mangueira faz o trabalho de ressuspensão dos sólidos e um incremento de oxigenação mais eficiente. Os aeradores fazem o vórtice para transferir a sujeira para o centro e realizar a troca de gases com a superfície”, diz Peregrino.
Os resultados do sistema melhoram a cada dia. Viveiros batem recordes frequentes de produtividade, que viram alvo de disputa entre os funcionários. Em 26 de novembro, data da nossa visita, a façanha havia sido 56,2 toneladas por hectare. Na porta de entrada do viveiro, uma placa dá o nome do responsável, tratado como alguém a ser batido. Com a produção estimada para todo 2016 na Cana Brava de 1300 toneladas de camarões de 18 gramas, processados ali mesmo, o AquaScience sugere ser muito mais caro do que realmente é. “Tudo vem com a escala. Com o que temos hoje finalizamos os ciclos com um custo de produção igual ao sistema semiintensivo.” E a tendência é ampliar essa dinâmica, justamente para fazer a empresa retomar sua vocação original: a exportação. Chineses e, principalmente, franceses já comem o camarão superintensivo da Camanor, que celebrou em 2015 o prêmio The Innovation & Leadership Award concedido pela Global Aquaculture Alliance (GAA). Foi a joia da coroa de uma empresa que, como a ave fênix, renasceu em uma nova dimensão.
Maricultura Cutia
“Nosso maior inimigo é o vento” lídio Silva é presidente de uma das maiores cadeias de lojas tipo magazine de Portugal – a Radio Popular. Orígenes Monte Neto, dono da construtora potiguar que leva seu sobrenome, é também presidente da Associação Norte-Riograndense de Criadores de Camarão (ANCC). O primeiro detinha a fazenda, o segundo o conhecimento. Em sociedade, resolveram converter uma área encravada no meio do novo complexo eólico de Cutia, em Parazinho (RN), em uma fazenda intensiva de engorda de camarões. Em um cenário quixotesco moderno, 60 torres com pás geradoras de energia eólica circundam a propriedade. Em poucos minutos no local, é fácil entender porque o vento tão benéfico ao parque eólico é o maior inimigo da Maricultura Cutia, que aos poucos dá forma a sua estrutura de cultivo. Moacir Gomes, gerente da fazenda, conta para a incrédula equipe da Seafood Brasil que poucos dias antes da nossa visita um pequeno tornado se formou rapidamente e provocou sérios danos a viveiro recém-construído. “Rompeu 60 cabos de aço e rasgou a cobertura, mas em dois dias a gente recuperou”, conta, sereno. Essa calma é fácil de entender quando a mancha branca e outras doenças não são elencadas como a primeira ameaça. Orígenes trouxe o conceito da Ásia e criou um híbrido de iniciativas para construir 12 viveiros de 0,4 hectares. Em 26 de novembro, dois já estavam prontos. A meta é completar um por mês, com dreno central, rede antipássaro e coberturas diferenciadas.
Agora, cada viveiro é um laboratório de testes. “Neste aqui [aponta para o primeiro tanque construído] temos um plástico na cobertura com rede antipássaro, já o próximo em vez da rede teremos sombrite”, descreve Gomes, um dos 12 funcionários da fazenda. Nos dois viveiros já em operação, a densidade fica em 170 camarões por m2. A alimentação é exclusiva a base de ração, com 4 arraçoamentos por voleio manual durante o dia e dois à noite. “O sistema está projetado para aguentar uma biomassa entre 12 e 15 toneladas para tirar um camarão de 18g. Se por questão de mercado precisarmos de um camarão menor adequamos”, explica o gerente. A projeção é chegar a esta gramatura e volume em 90 dias, com três ciclos anuais.
rão aos viveiros quando estes estiverem em pleno funcionamento. O projeto contempla um volume de 25 toneladas/hectare, totalizando 125 toneladas por ciclo. Por ano, a fazenda deve chegar a 400 toneladas já em seu primeiro ano de funcionamento. “Mas pode mudar, podemos até implantar cinco ciclos por exemplo”, ambiciona Gomes.
Moacir Gomes: “Sistema foi projetado para biomassa de até 15 toneladas para tirar camarão de 18g”
O abastecimento de água, como nos principais laboratórios de pós-larvas do País, se dá por bombeamento direto do mar. “Temos 2600 metros de adutora que puxa direto do mar e abastece nossos pulmões. Estamos trabalhando com salinidade de 36 ppm, a mesma do mar. Aqui também não sobe a salinidade porque tem condensação nos viveiros pela cobertura”, sublinha o engenheiro de pesca. Extremamente fertilizada pela passagem nos viveiros, a água vai passar por uma estrutura muito usada em tratamento de água: a chicane. Como na Fórmula 1, a água percorre curvas acentuadas, o que provoca a sedimentação do excesso de matéria orgânica. A água mais limpa segue por gravidade aos reservatórios, que a redistribui-
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Encravada no meio de um dos maiores parques eólicos do Brasil, Maricultura Cutia é o mais novo empreendimento do grupo Três Mares
Ponto de Venda
Em banho-maria? SEAFOOD BRASIL • OUT/DEZ 2016 • 40
Caldo complexo de fatores políticos, conjunturais, econômicos e internacionais interfere no desempenho do Natal e Semana Santa 2017
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uita controvérsia se seguiu à eleição de Donald Trump nos Estados Unidos. Uma pesquisa do Instituto Gallup revelou que 42% dos norte-americanos reagiram com medo à definição do magnata imobiliário como seu 45º presidente. A pesquisa não traz dados sobre o mercado financeiro, que em um primeiro momento também “surtou” com a novidade. Todas as principais moedas
globais, puxadas pelo dólar, subiram com a confirmação da vitória. E é justamente na indefinição sobre este processo de valorização da moeda que reside o principal receio dos importadores e distribuidores de pescado que operam com matéria-prima importada. Um dia após a confirmação do resultado, o dólar teve a maior alta em oito anos, no patamar de R$ 3,36, mas bateu
picos de R$ 3,46 em 14 de novembro e no fechamento desta edição estava próximo de R$ 3,39. Depois de dois anos com muitas turbulências políticas que ainda persistem com óbvios reflexos econômicos, a preocupação é grande. “Esta oscilação prejudica muito, o momento de incerteza nos mercados afeta o nosso negócio”, ilustra Pedro Pereira, diretor comercial
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da Brascod/Bom Porto. Para ele, o ideal seria que o câmbio se situasse na casa dos R$ 3,20. “Estamos em plena fase de negociação com o varejo e o dólar oscilante atrapalha.” A montanha-russa da moeda associada a outros fatores contaminam a visão de importadores. “A incerteza quanto à regularização nas regras impostas pelo Mapa e a nova desestabilização cambial provocada pelo efeito Trump vão influenciar as novas encomendas dos importadores, como é nosso caso”, avalia André Pavan, sócio da Iglu Pescados. Sobre o Mapa, ele se refere ao aumento acentuado do rechaço de cargas importadas submetidas a análises de pH que não se enquadram no padrão definido pelo Regulamento da Inspeção Industrial e Sanitária de Produtos de Origem Animal (RIISPOA) adotado pelo Mapa.
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Com ambos os fatores, ele acredita que o efeito pode se estender para a Quaresma 2017. “Assim como o ano passado, quando o fracasso nas vendas de fim de ano desencorajou o varejo a ser mais agressivo na Quaresma, acredito que as vendas das Festas de 2016 serão determinantes para o varejo planejar a Quaresma 2017”, completa Pavan. “O Natal este ano será morno. Vai mostrar algum crescimento em relação ao Natal passado, mas não é um calendário que nos ajuda”, discute Pereira. De fato, tanto o Natal quanto o Ano Novo caíram no fim de semana este ano, o que tem impacto direto sobre as vendas, conforme explica o executivo da Brascod/Bom Porto. “Percebo que, quando os Natais fazem pontes, as pessoas ficam mais em casa e fazem mais pratos diferenciados. Acontece uma festa estendida ou uma pré-festa. Este ano não houve isso. Isso é bom para
A VISÃO DA ABRAS Uma das principais articuladoras da Semana do Peixe 2017, a Associação Brasileira de Supermercados (Abras) soltou recentemente dados alentadores sobre o varejo. O último balanço da entidade mostrou alta de 1,21% nas vendas entre janeiro e setembro de 2016, ante o mesmo período do ano anterior. A estimativa é que 2016 feche com ascensão próxima a 1% no acumulado do ano. Marcio Milan (foto ao lado) é vice-presidente da Abras e uma das figuras recorrentes na mobilização deste ano para a realização da Semana do Peixe. Em entrevista à Seafood Brasil, ele detalha se a leve retomada do varejo em geral também se estenderá ao pescado. A Semana do Peixe foi uma boa experiência de comercialização de pescado fora das épocas tradicionais. Há relatos de redes que teriam vendido mais do que na própria Semana Santa. Existe chance de haver um benefício residual desta campanha para as vendas de Natal e para a Semana Santa 2017? As vendas de pescado estão estáveis nos supermercados brasileiros, tendo representado tanto em 2014 quanto em 2015 participação de 1,5% no faturamento do setor, equivalentes a R$ 4,7 bilhões em 2015 (pescado fresco, congelado, salgado, enlatado). Em 2016, com a maior promoção da Semana do Peixe, é possível que essa participação possa até mesmo ter crescido um pouco, mas o ano está bastante difícil para o setor (e para a economia como um todo). O setor supermercadista deverá apresentar um crescimento real (descontado o IPCA), da ordem 1,0%, após a queda de -2,0% verificada no ano passado.
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Pela experiência recente de participação na Semana e em eventos associados ao pescado, o que você, Marcio, pode opinar sobre o atual estágio de desenvolvimento da cadeia produtiva do pescado no que diz respeito ao fornecimento para o varejo? O mercado brasileiro de pescados apresenta grande potencial, dado o ainda baixo consumo per capita (quando comparado à média de outros países). Para as principais espécies consumidas, existe um bom equilíbrio entre oferta e demanda. Em relação à cadeia produtiva, para o pescado congelado o fornecimento está satisfatório, mas para o produto fresco ainda existem muitas oportunidades de melhoria, principalmente em relação à logística, aos centros de distribuição e a continuidade do fornecimento.
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Divulgação/Luiz Machado
Ponto de Venda
O que o varejo demanda dos fornecedores de pescado, seja fresco, congelado, salgado, importado ou nacional? Que oportunidades você enxerga aos fornecedores? O setor supermercadista almeja a ampliação das vendas de pescado, é preciso explorar mais o potencial de consumo do País e, para isso, existe uma necessidade de mais ações por parte da cadeia produtiva. Para que seja possível tal expansão, o produtor precisa estar mais próximo do consumidor, e isso se faz por meio dos supermercados. O produtor também precisa conhecer as dificuldades do consumidor no momento da compra. Nós dos supermercados acreditamos que os produtores têm uma grande oportunidade de trabalhar os diferenciais de seu produto e comunicar aos consumidores, como por exemplo, a garantia de origem.
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O que podemos esperar em relação ao balanço de vendas de pescado no Natal 2016? As vendas do ano são bastante modestas e, para as festas de final de ano, especificamente, nossa pesquisa apurou que os supermercadistas esperam crescimento real de 0,67%, refletindo o momento recessivo da economia, o alto desemprego e, principalmente, a queda da massa salarial real (que em 2016, já acumula -3,8%). Ou seja, não se esperam grandes vendas no final de ano. Para o pescado congelado, especificamente, as perspectivas são bem mais otimistas do que a média, pois espera-se um crescimento real de 3,2%; a pesquisa indicou que os preços deste produto variaram 7,9% (em média) em relação ao ano passado. Em termos nominais, a perspectiva é de um crescimento de 11,3%. Já o peixe fresco deverá ter variação nominal de 4,20% para uma variação de preços de 6,2%; ou seja, espera-se uma queda real de -1,84%. Em resumo, esperamos um resultado bom (acima da média) para o peixe congelado e um cenário de pequena queda para o fresco nas festas de final de ano.
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Por outro lado, caso a moeda se estabilize na medida em que os contornos do governo Trump ficam mais claros, o Natal e a Páscoa 2016 têm claras vantagens no quesito cambial em relação ao ano passado. A cotação do dólar em novembro do ano passado mostrou uma desvalorização próxima a 25%. “É 25% de variação cambial entre o Natal do ano passado e o deste ano. Significa preços de lombo e de bacalhau 25% mais baixos”, ressalta Pereira. Na visão dele, pode haver crescimento de até 30% em tonelagem, justamente por conta do crescimento de uma categoria
CONSULTA PÚBLICA PARA REGULAR O PEIXE CONGELADO Enquanto os importadores reclamam da indefinição sobre a questão do pH, o Mapa confirmou à Seafood Brasil que está finalizando o documento que será submetido à consulta pública para definir o Regulamento Técnico de Identidade e Qualidade do Pescado Congelado (RTIQ | Pescado Congelado). O objetivo é dar definições claras das devidas denominações de venda na rotulagem e dos padrões físico-químicos e microbiológicos de conformidade específicos para estes produtos.
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as capitais, porque as pessoas viajam menos. Já uma rede no litoral, por exemplo, sofre muito.
Ponto de Venda ling. “São peixes grandes, que rendem lombos uma excelente apresentação no prato final.” Outra categoria que deve se destacar no mix é o bacalhau dessalgado. “O grupo vem apostando cada vez mais nessa categoria, oferecendo uma variedade de cortes para melhor atender o publico. Esse ano, a estimativa é de crescer 15% nessa categoria.” Ainda dos noruegueses, o GPA preparou ao Natal o arenque e patas de king crab e snow crab. De Portugal, a oferta do bacalhau em várias apresentações tem a companhia de bolinhos e sardinha, enquanto da Espanha a empresa importou polvo espanhol. Do Chile vem o salmão fresco, cuja estratégia de importação própria deve persistir dentro do grupo. “[Conseguimos] preços competitivos e oferecendo uma excelente qualidade para o sushi próprio do Pão de Açúcar, que já se tornou mais uma opção para a ceia de final de ano.”
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específica do negócio: a importação direta pelas redes varejistas. O raciocínio é o seguinte: ao contrário do ano passado, quando o dólar estava em ascensão ao longo de todo ano por questões domésticas, este ano o dólar em geral caiu e fez com que algumas das grandes redes importassem mais mercadoria diretamente. “Minhas vendas de exportação direto de Portugal ao Brasil cresceram muito”, diz Pereira, sem revelar as cifras. A Brascod, braço da gigante do bacalhau Rui Costa e Sousa & Irmão (RCSI) é uma das empresas que voltou a comercializar diretamente a bandeiras como o Extra, do GPA.
O próprio GPA se autoproclama o “maior importador de bacalhau do varejo brasileiro”. Em comunicado recente enviado à Seafood Brasil, a rede indica forte aposta nos produtos de Portugal e Noruega às lojas do Extra e do Pão de Açúcar. “O grupo está importando 20% a mais do que o ano passado e aposta em um crescimento de vendas de 10%, considerando um produto mais em conta do que ano passado em função da redução do custo da matéria-prima e da desvalorização cambial.” O campeão nacional do varejo afirma ainda ter negociado com fornecedores da Noruega para trazer lotes com calibres especiais de Gadus morhua e
Apesar da diversidade, a perspectiva é de redução na oferta de pescado, “pois a importação foi comprometida pela barreira sanitária, imprevisibilidade da economia e restrição de credito”, como avalia Ivan Lasaro, diretor da Opergel. “A redução das compras pelo Brasil também induziu os produtores no exterior a buscar mercados alternativos mais previsíveis e com menos riscos, o que vai comprometer a oferta por algum tempo.” Para 2017, ele vislumbra aumento de preços no pescado fresco e manutenção em patamar elevado dos preços do camarão cultivado e a importação continuará como “uma atividade de risco” pela dificuldade dos importadores em se adaptarem às regras sanitárias recentemente impostas. “As empresas continuarão com o cinto afivelado pois a turbulência deve continuar. Entretanto, a experiência acumulada em 2016 pode fazer a diferença em 2017 e a cadeia de pescado ter um ano melhor caso use a criatividade, modernize-se, e, principalmente, não tente reinventar a roda”, finaliza.
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ATALHOS DA EVOLUÇÃO Suplemento especial de tecnologia para o cultivo de pescado
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m salto tecnológico ou uma evolução gradual? Seja como for o ritmo das inovações da tecnologia de cultivo de organismos aquáticos no Brasil, é certo que ainda temos um longo e tortuoso caminho a percorrer. Principalmente no que diz respeito às espécies sem pacote tecnológico definido internacionalmente, como é o caso da tilápia (Oreochromis niloticus) e o camarão cinza (Litopenaeus vannamei) – cujos acertos e erros encontram correspondência no mundo todo e facilitam a curva de aprendizado. “Por outro lado, algumas espécies nativas do Brasil, como o pirarucu e o tambaqui, Formas jovens
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ainda apresentam uma carência de tecnologias relacionadas a aspectos básicos, como reprodução, nutrição, sanidade, genética e processamento”, alertam pesquisadores da Embrapa Pesca e Aquicultura. Outra certeza sobre a evolução tecnológica é que instituições como a própria Embrapa e o Instituto de Pesca de São Paulo certamente participarão desta construção. Por este motivo, ambas foram convocadas pela reportagem da Seafood Brasil e aceitaram o difícil desafio de sintetizar os principais desafios evolutivos dos segmentos abaixo. “A aquicultura nacional Nutrição e aditivos
Equipamentos e acessórios
apresenta uma alta diversidade chegando a, no mínimo, 36 organismos aquáticos produzidos comercialmente no Brasil, segundo dados do IBGE. Essa diversidade resulta numa grande demanda por tecnologia, haja vista que cada espécie possui exigências diferentes”, dizem as fontes da Embrapa. Esta heterogeneidade nas soluções tecnológicas para a aquicultura brasileira você confere neste suplemento. As empresas apoiadoras deste suplemento foram também aquelas consultadas para emitirem opiniões e divulgarem produtos e serviços relacionados aos segmentos. Veja em cada seção o contato delas. Sanidade
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Formas jovens: a semente do cultivo
U
ma boa pós-larva, semente ou alevino são a base do sucesso ou da ruína de um cultivo de pescado. Dominar a genética e a reprodução das espécies em cativeiro é um dos principais desafios da produção de formas jovens no Brasil. Novamente, a situação adquire contornos ainda mais complexos quando se trata de espécies nativas. “É preciso avançar no conhecimento sobre a biologia reprodutiva de cada espécie visando tecnologias para reprodução controlada, o que não existe ainda para a maioria das espécies nativas produzidas”, indicam Lucas Simon Torati e Luciana Nakaghi Ganeco Kirschnik, pesquisadores da Embrapa Pesca e Aquicultura.
Segundo ambos, a disfunção reprodutiva mais reportada consiste na incapacidade de maturação das gônadas no ambiente artificial. No Brasil, o mais comum é o uso de terapias hormonais, das quais o extrato de hipófise (EH) extraído de espécies como carpas é a terapia mais utilizada. “Apesar de ser um método barato e eficiente para a grande maioria das espécies, o EH pode conter impurezas que são passíveis de acarretar contaminações, reações imunológicas ou doenças”, advertem. Outros hormônios utilizados com a mesma finalidade incluem as gonadotrofinas coriônicas sintéticas e os esteróides sexuais (estradiol, testosterona), que também possuem
Avançar na genética e reprodução de espécies nativas são condições fundamentais para evolução do cultivo
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preços razoáveis no mercado, conforme a avaliação da Embrapa. É o caso da tilápia, cuja técnica de reversão sexual das tilápias utiliza o hormônio masculinizante metil-testosterona (FAV). “O macho cresce em média 30% mais que a fêmea e a criação monosexo em viveiros evita a reprodução e superpopulação do viveiro”, ilustram Leonardo Tachibana e Carlos Massatoshi Ishikawa. Há ainda uma alternativa no campo dos hormônios sintéticos, como os liberadores de gonadotrofinas (GnRH). “Já existem no mercado brasileiro alguns sistemas de liberação controlada, como implantes de liberação lenta, que auxiliam a estimulação das gônadas por
maiores períodos, evitando a necessidade de múltiplas injeções”, lembram os pesquisadores da Embrapa. Na alevinagem da piscicultura, feita em sua maioria no País de forma extensiva, o caminho devem ser os cultivos indoor. Pelos custos inerentes à manutenção dos animais confinados, os produtores tendem a deixar as larvas em laboratório apenas o período necessário para que ocorra a absorção do saco vitelínico, conforme explicam Torati e Luciana. “Após esse período, essas larvas são soltas em viveiros de terra onde irão se alimentar de fitoplâncton, de zooplâncton e de ração em pó balanceada. Essa é a fase mais crítica, pois pode ocorrer grande mortalidade devido a predação das larvas, a fatores abióticos inadequados (como qualidade da água) e a alimentação inadequada.” Na visão deles, laboratórios oferecem condições controladas em que tais problemas podem ser minimizados e a sobrevivência aumentar. “Apesar do maior investimento necessário para manter as larvas em laboratório, esta prática é economicamente viável, pois aumenta a eficiência na produção de alevinos.” Um ponto sensível é o controle de plantéis de reprodutores para evitar animais com algum grau de parentesco. “Esse problema pode ser facilmente resolvido por meio da marcação dos
animais com chips (TAGs) disponíveis no mercado e com uma análise simples de parentesco, evitando assim problemas de consanguinidade nos alevinos.” Outras tecnologias disponíveis envolvem biotécnicas como a criopreservação de ovócitos, esperma e embriões. No entanto, apesar de disponíveis, a utilização de criopreservação em pisciculturas comerciais ainda não é uma realidade no Brasil. A genômica, poliploidia, androgênese e ginogênese, transgenia e quimerismo são outras tecnologias em discussão. Segundo a Embrapa, algumas propriedades têm utilizado a genômica para direcionamento dos cruzamentos entre os reprodutores. “Porém, as demais biotécnicas citadas ainda não são aplicadas comercialmente no Brasil, são mais restritas à pesquisa.” Na larvicultura de camarão, a preocupação agora é produzir formas jovens sem rastro de doença, com o melhor equilíbrio possível entre rapidez de crescimento e robustez para suportar bactérias e vírus como a mancha branca. Um dos laboratórios que se insere neste processo é a Celm/Maris. Conduzido por Hudson Makson Rocha Lucena, a estrutura tem o objetivo de buscar a qualidade. “Desde a seleção e certificação genética de suas matrizes, passando pela escolha de seus
insumos de excelente nutrição, ótimas práticas de biossegurança, qualificação de seus técnicos e acompanhamento dos resultados dentro do seu laboratório e nos viveiros de produção.” Segundo ele, a excelência dos resultados zootécnicos das pós-larvas nas fazendas se faz pela soma da qualidade das pós-larvas, que deve ser necessariamente acompanhado de uma excelente nutrição e um rigoroso manejo. Empresa citada
Hudson Makson Rocha Lucena (88) 9 9741-1479 hudson@celm.ind.br
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Nutrição e aditivos: em busca da eficiência
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odo aquicultor sabe que a ração chega a ultrapassar 80% do custo de produção aquícola. O que muitas vezes ele não sabe é como diminuir este impacto, e é justamente neste campo que a pesquisa e o desenvolvimento mais podem contribuir. De acordo com uma avaliação do IPesca, o uso de boas práticas de manejo aliado a uma boa genética e rações de alta performance pode ocasionar: redução no fornecimento de ração (entre 10 a 20% menos), tempo de crescimento até ao abate até 20% menor, maior sobrevivência,
maior rendimento de filé, menor incidência e problemas relacionados à sanidade e consequentemente maior sustentabilidade do negócio. Parece a fórmula perfeita, mas a verdade é que ainda estamos longe de chegar à nutrição ideal para todas as espécies. Espécies commoditizadas, a tilápia e o camarão vannamei têm formulações com alto estágio de desenvolvimento tecnológico, mas o conhecimento sobre a biologia e as exigências nutricionais do tambaqui e de outras espécies de peixes e de camarões nativos ainda é insuficiente
Indústria de ração precisa responder rápido à expansão do cultivo de espécies nativas
para possibilitar o desenvolvimento de rações específicas, adequadas às diferentes fases de criação, como avalia a Embrapa. “Embora sejam encontradas no mercado nacional rações direcionadas para espécies nativas, estas ainda estão longe dos padrões almejados pelo setor produtivo”, escrevem os pesquisadores Lícia Maria Lundstedt e Luiz Eduardo Lima de Freitas em texto para a Seafood Brasil. As formulações genéricas ainda são o padrão e levam em conta principalmente o hábito alimentar onívoro ou carnívoro das principais espécies aquícolas. No caso de tilápias e “peixes redondos” (tambaqui, pacu, pirapitinga e seus híbridos) já há variações na composição nutricional adequada à espécie ou grupo, baseada principalmente no conteúdo de proteína, assim como na variedade de granulometria dos pellets. Nos últimos 3 anos, tanto o IPesca quanto a Embrapa têm notado o aumento do uso de rações de ‘alta performance’. Apesar do maior preço, em geral proporcionam melhores resultados zootécnicos e consequentemente melhor viabilidade econômica, sublinha Giovani Sampaio Gonçalves, do IPesca. “Destaca-se nas rações de ‘alta performance’ uma maior atenção na qualidade das matériasprimas (melhor digestibilidade e perfil de aminoácidos), assim como o uso de aditivos nutricionais.” Quanto mais intensivos se tornam os cultivos e maior a necessidade de torná-los eficientes com correspondentes ganhos de escala, mais comum se torna o usa de aditivos. Grandes empresas da nutrição animal, antes
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focadas em animais terrestres, voltam seus olhos à aquicultura e usam sua expertise para desenvolver produtos para o segmento, como indicam Lícia e Freitas, da Embrapa. “Nutracêuticos e aditivos, com comprovada eficácia para outros segmentos da nutrição animal, agora estão sendo desenvolvidos para peixes e para camarões. Esses produtos podem contribuir para o melhor aproveitamento das frações nutritivas da dieta e, consequentemente, para a saúde e a higidez dos animais em criação, bem como para a qualidade do produto pós-abate.” A lista compilada por ambas as instituições é grande e só deve crescer: vitaminas e minerais; agentes antimicrobianos (antibióticos utilizados como promotores ou terapêuticos); antioxidantes; aglutinantes; pigmentos; enzimas; ácidos orgânicos; atrativos, palatabilizantes e estimulantes de apetite; imunoestimulantes; frações de plantas, animais e microbianas; nucleosídeos e nucleotídeos; imunomoduladores sintéticos; pré e probióticos e hormônios; adsorventes de micotoxinas; e protetores hepáticos. Os aditivos administrados junto à ração certamente representam um avanço importante no desenvolvimento das dietas específicas, mas o caminho em busca da eficiência ainda é longo, como descrevem os cientistas da Embrapa. “A definição de exigências nutricionais e a elaboração de rações específicas para cada espécie nativa de interesse aquícola são enormes desafios.” Como exemplo, eles mencionam a escassez de pesquisas para determinação das exigências nutricionais e da digestibilidade de ingredientes para as espécies nativas de maior potencial aquícola, em diversas condições e fases de cultivo.
de partículas também é considerado fundamental para minimizar perdas por lixiviação dos nutrientes e aditivos. “[Isto], aliado ao manejo nutricional adequado para cada espécie, podem contribuir substancialmente para minimizar perdas nutricionais e o impacto ambiental da atividade.”
Além disso, o desenvolvimento técnico das tecnologias de processamento para controle de densidade das rações extrusadas e de revestimento
Outro aspecto levantado por ambas as instituições precisa ser considerado na busca de rações mais eficientes: a pegada ambiental da nutrição aquíco-
Sistema intensivo em voga no camarão exige rações e aditivos de alta performance
la. “Aliado aos fatores citados acima, a questão ambiental também é favorecida, uma vez que um menor impacto de matéria orgânica (nitrogênio e fósforo) é gerado com o uso de rações de boa qualidade”, avalia Gonçalves, do IPesca. Os pesquisadores da Embrapa mencionam ainda que os critérios que embasam o conceito de “crescimento azul da aquicultura”, preconizado pela Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), ainda estão longe de serem alcançados. 51
Automação e durabilidade nos equipamentos
Alimentadores automáticos, com possibilidade de captação de energia solar e paineis de controle, já são realidade palpável
A
umento da eficiência produtiva e tecnologias de automação são tendências irrefreáveis no âmbito dos equipamentos e acessórios para o cultivo de pescado. A Embrapa considera que a estocagem de animais, as contagens, as biometrias, 52
a alimentação e as despescas são exemplos de procedimentos realizados nos últimos anos de forma manual que, aos poucos, devem ser automatizados em propriedades mais tecnificadas no Brasil, seguindo trajetória internacional. “A automação dos cultivos contribui tanto para a
redução da dependência de mão-deobra, como num maior controle no uso de insumos, por meio de equipamentos como aeradores, contadores, alimentadores, classificadores, bombas de transferência e despesca”, pontuam Adriana Ferreira Lima e Flávia Tavares de Matos.
Elas mencionam ainda a possibilidade de salvar os registros de informações da propriedade em bancos de dados específicos, apoiando o planejamento para análises de viabilidade técnica e econômica. Neste contexto começa a se destacar, conforme a Embrapa, o desenvolvimento de softwares para acompanhamento sistemático da produção e que sejam capazes de interligar informações técnicas, econômicas e gerenciais. “Isso resulta em uma produção mais segura e eficaz”, dizem as pesquisadoras. A produção cada vez mais intensiva também promove uma corrida para equipamentos de monitoramento de parâmetros, de maneira a atingir uma condição ótima de produção. “O aumento de eficiência necessita de equipamentos para maior controle da biomassa e dos parâmetros de qualidade de água, demandando sistemas automáticos com leituras e com disponibilização de informações em tempo real”, sublinham as especialistas. Segundo elas, o mercado brasileiro já dispõe de alguns modelos de sondas multiparamétricas que podem ser programadas para o monitoramento da qualidade de água em tempo real (ex.: oxigênio dissolvido, pH) que auxiliam nas tomadas de decisão e conferem mais segurança à produção. Como bem lembram Leonardo Tachibana e Carlos Massatoshi Ishikawa, do Instituto de Pesca, muitas vezes é o próprio produtor que procura desenvolver sozinho equipamentos e acessórios alinhados a estas tendências. Mas há um número crescente de empresas capazes de ofertar soluções já testadas e aprovadas mundo afora. Na despesca, por exemplo, a mecanização já é realidade na carcinicultura e piscicultura. “As máquinas desenvolvidas sugam o animal com auxílio de bombas ou tubos com rosca sem fim. Este manejo reduz o tempo gasto com a despesca, minimiza o estresse do peixe
(mantém na água o tempo todo), permite o manejo de lotes grandes”, indicam os pesquisadores. Para espécies nativas, há muitos casos de adaptação de estruturas para suportar o peso e características morfológicas destes animais, já que os equipamentos em geral são criados para peixes estandardizados, como a tilápia. “Cestos/puçá acoplados em guindastes deslocam grande quantidade de pescado e proporcionam até a pesagem do mesmo. Muito utilizados em despesca dos surubins no Centro-Oeste e Norte do País.” O IPesca assinala também a importância das mesas selecionadoras, que separam os animais por tamanho de estocagem em viveiros ou tanques-rede com o mínimo de diferença de peso e comprimento. Isto reduz, conforme os especialistas, confrontos por dominância e homogeneizam o crescimento do lote criado. As mesas servem também para classificar os animais em relação ao peso de abate.
empresa sediada em Massaranduba (SC), desenvolveu uma linha de alimentadores automáticos que possibilitam ao produtor programar em um painel eletrônico os horários e a quantidade de ração, fazendo com que ela seja distribuída de forma uniforme durante os ciclos de alimentação. “Diminui assim a mão de obra, evita desperdícios e otimiza a taxa de crescimento. São produtos 100% nacionais, de excelente acabamento e ótima funcionalidade, com fácil manuseio”, garante Alex Weege, um dos diretores da empresa. Presente nas principais feiras do segmento, a empresa se ocupa agora e ampliar a gama e variedade dos itens em linha. O próprio alimentador tem uma
No caso dos alimentadores, há muitas opções automáticas em desenvolvimento, aproximando nossa realidade da tecnologia aquícola ao que existe na salmonicultura da Noruega e Chile. A Weemac, 53
Apesar das limitações legais de alguns Estados para o cultivo de híbridos e nativos em tanques-rede em águas públicas, estas espécies também devem trilhar o mesmo caminho da tilápia no que diz respeito à tecnologia de confinamento. Na visão da Embrapa, seja qual for a espécie, os atuais tanques precisam de ajustes estruturais a fim de garantir a integridade dos peixes e evitar fugas ao longo de vários ciclos de produção. “O desenvolvimento de tanques-rede com alta durabilidade é uma necessidade que também resulta no aumento da rentabilidade. No caso de espécies nativas, como o tambaqui, ainda faz-se necessário determinar os formatos, os volumes e as densidades de estocagem nas diferentes fases da produção”, realçam Adriana e Flávia.
Antes cenário comum apenas no cultivo de salmão em grandes volumes, tanques de PEAD para pequenos, médios e grandes aumentam conservação e diminuem custos
versão com células fotovoltaicas para funcionamento com energia solar, mas o portfólio inclui ainda aeradores nos modelos pá e chafariz, esteiras motorizadas para despesca (6, 8 e 10 metros) e alimentadores para emissão a partir de tratores. Outra grande demanda é pela modernização das estruturas de manejo. Atualmente, as balsas são o modelo 54
mais comum na piscicultura,, por conta do trabalho com os tanques-rede. “Esta estrutura está presente em quase todas as pisciculturas de tanques-rede, pois todo o manejo de limpeza, despesca, manutenção é realizado neste local. Os produtores desenvolveram estruturas flutuantes com cobertura e guindastes (manuais ou automotores) para içar os tanques-rede”, constatam os pesquisadores do IPesca.
Essencial na composição de custos do produtor, a conservação por longos períodos está diretamente relacionada ao material utilizado na confecção das estruturas. A Braspeixe, cuja sede fica em Paulo Afonso (BA), fabrica tanquesrede desde 2001 em diversos materiais: ferro, aço inox, e PEAD (polietileno de alta densidade). “Em 2005, começamos a trabalhar com PEAD, porém, o setor de produção de peixes no Brasil não se encontrava preparado para esse nível de investimento e volume de criação”, avalia Daoud Wehbi, diretor comercial. “Hoje com o avanço e amadurecimento do setor, o PEAD já é uma realidade em alguns estados brasileiros, como Bahia, Pernambuco, Mato Grosso e Pará.” Segundo o executivo, trata-se de uma tecnologia relativamente nova na piscicultura nacional, mas já utilizada desde os anos 1970 na Noruega, país que lidera o desenvolvimento de tecnologias para a aquicultura em geral. O diferencial da Braspeixe está na origem do material, totalmente nacional. “Isso nos permite oferecer hoje o melhor custo-benefício presente no País”, garante Wehbi. A empresa fabrica tanques
ques são comercializados com estrutura flutuante (tubos) em PEAD, brackets (peças de suporte aos tubos) em PEAD com 05 cores de escolha, tela em aço inox 304-L (malhas 12mm – 40mm), comedouro em material sombrite (qualquer tamanho), e tampa em tela anti-pássaro com malha 40mm. O PEAD tem uma estimativa de durabilidade superior a 20 anos. Para Wehbi, isso ocorre por conta das características anticorrosivas, antiincrustantes, atóxicas e resistência a raios UV, produtos químicos e ao impacto. Se houver necessidade, os tanques podem ser desmontados e transportados para outros locais sem comprometer a qualidade. A estrutura criada pela Braspeixe ainda comporta tela de aço inox
304-L, que possui propriedades antioxidantes. “Então não há problemas com ferrugem, o que evita surgimento de buracos e possibilita métodos de limpeza mais agressivos (combate ao mexilhão dourado, por exemplo). Além disso, também possui alta resistência mecânica e durabilidade”, completa o diretor comercial da empresa.
Outra vantagem apontada por Wehbi é o espaço interno proporcionado pelos tanques circulares. “Isso possibilita uma maior locomoção aos animais, mais gasto de energia, uma alimentação elevada e, consequentemente, um melhor desenvolvimento no peso, tamanho e qualidade do pescado produzido.” Os tanques servem a todo tipo de fazenda aquícola: rios, lagos, reservatórios, estuários e o mar.
Empresas citadas
Daoud Wehbi (75) 3282-4716 ; (75) 9 8822-0009 daoud@braspeixe.com.br
Alex e Felipe Weege (47) 3379-8025 ; (47) 9641-1666 vendas@weemac.com.br
entre 50m³ a 1500m³, entre outros tamanhos. “O fator determinante, porém, é a necessidade do produtor: profundidade de sua área, capacidade do volume de criação e do escoamento da produção, espécie cultivada, etc.” Ele aponta que alguns tamanhos acabam se impondo sobre os demais, como o tanque de 50m³ (desenvolvido para o mercado brasileiro) e 100m³ (com grande aceitação entre os produtores de tilápia). Já os volumes de 400m³, 500m³ e 600m³ são demandados pelos produtores de peixe redondo. Os tan55
Sanidade: prevenção e terapia
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ecossistema aquático tem um equilíbrio complexo, muito difícil de reproduzir em cultivos controlados. Imitar a natureza é um conceito simples de entender, mas difícil de aplicar na prática, principalmente quando se intensifica a produção – processo em curso atualmente no Brasil. Conforme apregoam as pesquisadoras Patrícia Oliveira Maciel e Magda Benavides, da Embrapa, a criação intensiva demanda um maior controle e disciplina na aplicação de boas práticas para prevenir a ocorrência de problemas sanitários. Há diversos meios de controle preventivo e terapêutico de enfermidades, 56
entre os quais está a indicação de medicamentos veterinários. “Nesse aspecto, as carências de medicamentos veterinários registrados para uso na aquicultura e de profissionais capacitados para assistência nessa área específica do setor aquícola são desafios para a cadeia produtiva do pescado”, indicam. O Compêndio de Produtos Veterinários do Sindicato Nacional da Indústria de Produtos Para Saúde Animal (Sindam), consulta pelas especialistas em 17/11/16, diz que a aquicultura nacional é coberta com o registro de 29 insumos e medicamentos veterinários. É a mesma opinião de Leonardo Tachibana e Carlos Massatoshi Ishikawa, do Instituto de Pesca. O
aumento da produção acarreta na expansão de problemas sanitários, principalmente em peixes criados em altas densidades. “Muitos problemas são causados por bactérias como o Streptococcus, Francisella, Flavobacterium, Lactococcus e Aeromonas. Podem ocorrer ainda parasitoses que podem ser causados por protozoários, helmintos e crustáceos”, descrevem. A lista contempla dois antiparasitários, cinco antibióticos para peixes comerciais e ornamentais, dez aditivos para ração, oito produtos homeopáticos, dois produtos sanitizantes e um hormônio. “Se pensarmos na magnitude da cadeia da aquicultura, na quantidade
Na lista do Sindam ainda está uma vacina contra Streptococcus agalactie. A MSD Saúde Animal foi a primeira empresa, e por enquanto a única, a lançar no mercado aquícola nacional um medicamento preventivo desta natureza. “A AquaVac Strep Sa é primeira vacina injetável disponível no mercado nacional para manejo das estreptococoses na tilapicultura”, pontua Rodrigo Zanolo, gerente do mercado aquicultura da
Como se preparar para problemas sanitários na produção? Por José Dias Neto, da Prevet Primeiro é evitar a CONTAMINAÇÃO (barreiras sanitárias para não trazer enfermidades de outros locais); Segundo é evitar a DISSEMINAÇÃO (se a enfermidade entrou temos que conter evitando que ela se espalhe); e Terceiro é garantir o bem-estar animal (se a enfermidade entrar e se disseminar o animal tem de estar bem para que suas barreiras naturais combatam a enfermidade).
empresa. A multinacional também dispõe do Aquaflor Premix 50%, um antimicrobiano de amplo espectro com registro específico para produções de camarões, trutas e tilápias. Em palestra durante a Fenacam, Zanolo descreveu a vacinação como a base de um programa de prevenção, que também pode incluir imunoestimulantes que fortalecem o organismo dos animais para combater doenças. No caso de camarões, cuja vacinação indivíduo a indivíduo é inviável e a estrutura imunológica é primitiva, a saída para a prevenção é não permitir a perda da imunidade – consequência trazida pela mancha branca, por exemplo. Além da MSD, outra empresa que dispõe de uma linha específica com produtos registrados é a Phibro Saúde Animal, que já oferece dois produtos para a aquicultura. O TM® 700 é um antimicrobiano indicado no tratamento de infecções bacterianas em crustáceos e peixes com formulação que reduz a taxa de lixiviação e garante a eficácia no tratamento proposto. Já o lançamento é o PAQ-Gro™, produto que busca melhorar as taxas de crescimento e de conversão alimentar pelo uso na alimentação diária de tilápias e camarões. Outra
Divulgação
de produtos e medicamentos que vêm sendo adotados e na diversidade de doenças que acometem os peixes, esse número ainda é muito pequeno”, avaliam Patrícia e Magda.
Para Graziani, da Phibro, a aquicultura só será sustentável e lucrativa com o uso de tecnologias, inclusive no âmbito da sanidade
vantagem alegada pela empresa é que o produto contribui na melhoria da saúde dos peixes em desafio com altos níveis de nitrato e amônia. Em um mercado ainda pouco explorado, mas com cada vez mais players, Mauricio Graziani, diretor da Phibro Saúde Animal acredita que o desafio é desenvolver práticas de aquicultura sustentáveis e lucrativas. “Só conseguiremos avançar com uso de tecnologias. Cada vez mais disponíveis e estudadas, elas permitirão fazer uma contribuição significativa para entregas futuras de produtos nesse setor.” As pesquisadoras da Embrapa alertam para as consequências do uso de produtos sem registro para o tratamento de doenças. “Isso resulta na utilização de dosagens incorretas, sem
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Laboratórios privados com corpo técnico completamente especializado em peixes, como o da Prevet, são raridade no País
gente com mestrado, doutorado, zootecnistas, biólogos etc.”, completa o gerente geral, José Dias Neto.
o conhecimento dos efeitos provocados nos peixes e no ambiente de cultivo e do período de carência adequado da droga para posterior consumo do pescado.” A abordagem do problema fica ainda mais complicada, conforme as especialistas, por conta de a aquicultura brasileira ser tão diversa e se encontrar em diferentes níveis tecnológicos e de conhecimentos a respeito das patologias. A aprovação de medicamentos para uso na aquicultura envolve tempo e alto investimento em pesquisa, em testes de eficácia e de efeitos toxicológicos, além de dificuldades para lidar com as questões legais de aprovação de produtos, dizem Patrícia e Magda. “Este é um desafio que as empresas privadas e os setores de pesquisa e produtivo terão de enfrentar.” Outro ponto levantado por elas é a carência de serviços veterinários e de profissionais especializados na área de aquicultura. “O médico veterinário tem sua formação voltada para o estudo de doenças, suas patogenias, epidemiologia, prevenção e tratamentos; por isso, tem uma visão voltada à saúde animal e ao ambiente de produção. No entanto, é preciso estimular as universidades, para que os veterinários não vejam a aquicultura com baixo interesse. Desta forma, a cadeia aquícola poderá con58
tar com a visão especializada desses profissionais no futuro.”
Com rápido crescimento nos últimos anos, a Prevet decidiu recentemente consolidar sua posição no maior polo produtor de tilápias do Estado de São Paulo. Está construindo com capital próprio uma filial, prevista para inaugurar em janeiro em Santa Fé do Sul, que será um ponto de coleta e processamento de amostras colhidas localmente. “A intenção é chegar mais próximo do cliente e tornar mais prático o processamento de amostras, mas manteremos a sede administrativa e o centro de pesquisa e laboratório em Jaboticabal. Em Santa Fé faremos a triagem, mas a confirmação será feita em Jaboticabal”, diz Neto, que comandará a estrutura.
Uma exceção no campo da medicina veterinária é a Unesp de Jaboticabal (SP), que tem formado diversos especialistas no segmento. O laboratório de análises Prevet, cuja matriz fica na cidade, é um exemplo disso. Incubada na própria universidade, a empresa recrutou ao longo de quase seis anos diversos profissionais totalmente focados na sanidade aquícola. Hoje, já fora da Unesp, exporta talentos. “Já estamos posicionando profissionais no mercado”, conta o diretor Miguel Alarcon. Isso porque a Prevet se tornou o único laboratório privado registrado no Conselho Federal de Medicina Veterinária na área de diagnósticos em sanidade aquícola. “Temos um corpo técnico muito capacitado com especialistas,
O novo laboratório pode contornar uma deficiência que os patologistas veterinários têm na lida com o setor: a frequência de visitas. “O que acontece muito é que, se vamos uma vez ao mês só na piscicultura, conseguimos fazer um acompanhamento momentâneo, é uma foto no tempo. Se estamos na região e acontece um problema, conseguimos fazer um atendimento emergencial ou quebrar o atendimento mensal em dois a cada 15 dias. Consigo ver a piscicultura em momentos distintos, já que em um só dia você não consegue acompanhar todos os processos”, explica Alarcon. Desta forma, é possível sugerir alterações de manejo e correções de rota. Tudo para deixar o aquicultor mais confiante de que existe alguém perto para resolver os problemas sanitários da produção.
Empresas citadas
Rodrigo Zanolo (11) 4613-4000 rodrigo.zanolo@merck.com
Vendas (11) 2185-4400 phibro.sac@pahc.com
José Dias e Miguel Alarcon (16) 3202-6298 contato@prevet.com.br
A especialidade nutricional com formulação exclusiva para tilápias e camarões. PAQ-Gro é um premix comprovadamente eficaz para uso em dietas de camarões e tilápias, que auxilia no desempenho e na melhora da saúde. ™
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O pescado vai para
o mezanino SEAFOOD BRASIL • OUT/DEZ 2016 • 60
Reality shows e programas de gastronomia evidenciam a versatilidade das preparações com peixes e frutos do mar, mas especialistas questionam se eles ajudam a popularizar o consumo
V
ieiras grelhadas com maionese de laranja e açafrão. Polvo na brasa com arroz de chorizo e grão-de-bico. Costela de tambaqui com purê de baroa e tucupi. Pirarucu com vinagrete de castanha-do-Pará e ratatouille do sertão. Estas são algumas das receitas apresenta-
das na temporada mais recente do MasterChef Brasil, o mais popular dos reality shows culinários da televisão, transmitido pela Band e Discovery Home & Health. Embora não haja nenhuma pesquisa que ateste o fato, basta
acompanhar uma das temporadas para notar que o pescado em todas as suas vertentes é uma escolha frequente dos candidatos que submetem seus pratos à aprovação dos jurados. “O peixe é um dos ingredientes principais da alta gastronomia em todo mundo e sempre foi muito associado à cozinha
Divulgação/Band
Na Cozinha
Elton Jr., do Dalva e Dito, ensina receita de polvo ao vinagrete aos participantes da terceira temporada do MasterChef Brasil
Para Marcelo Malta, da FMU, mídia tem mudado a questão da dificuldade do preparo: “não é difícil cozinhar peixe”
Outra interpretação é a de que tais programas procuram apresentar pratos que representem uma opção mais saudável de alimentação, em sintonia com os interesses de seu público, conforme indica o professor de jornalismo da Unesp Bauru, Francisco Rolfsen Belda, membro do Conselho do Programa de Pós-Graduação em Televisão Digital. “Muita gente que assiste a esses programas procura novas ideias e opções
alternativas para o cardápio do seu dia a dia, preferindo evitar comidas industrializadas, congeladas ou semiprontas. O pescado é, portanto, uma opção atraente e saudável.” Entra em jogo ainda a rápida cocção, que facilita a dinâmica de gravação de alguns programas. “Outra vantagem de levar o pescado à pauta desses programas é a flexibilidade, versatilidade e facilidade que esse ingrediente oferece ao preparo das receitas”, lembra Belda. “Afinal, peixes frescos cozinham em pouco tempo (o que ‘casa’ bem como o roteiro de alguns programas, em que o prato é preparado em tempo real), podem ser aproveitados em diferentes modos de preparo
Acervo pessoal
profissional. Muito provavelmente é por isso que tais programas usam muito peixe, bem mais do que normalmente se consome no Brasil”, avalia Helena Jacob, doutora em comunicação e alimentação, jornalista e uma especialista neste tipo de programa.
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SEAFOOD BRASIL • OUT/DEZ 2016 • 61
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Na Cozinha
O que faz do pescado a proteína preferida na TV? O professor Francisco Belda tece uma breve análise sobre a relação indireta entre a mensagem propagada pelos programas e o consumo da proteína, que ele não acredita ser intencional. São três elementos que favorecem o pescado nos programas de gastronomia na televisão: O já citado apelo a uma alimentação mais saudável, considerado que a carne de pescado tem baixo teor de gordura, é rica em proteínas de alto valor nutritivo, é rica em ômega 3, além de ser boa fonte de vitaminas e minerais;
1
A valorização de ingredientes que possam ser levados ainda frescos e em estado natural para a cozinha, o que está relacionado ao item 1 mas que também confere um atrativo especial ao enredo narrativo do programa especial, permitindo que o apresentador conte a “história natural” daquele ingrediente -- e, convenhamos, matadouros de vaca, porcos e mesmo granjas não rendem histórias assim tão simpáticas...); e A identificação do pescado com aspectos da cultura e da geografia nacional, considerando ser o Brasil um país rico em recursos naturais de água doce e salgada, oferecendo, portanto, uma boa opção de vínculos narrativos que ajudam a ilustrar o enredo de alguns programas de TV.
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Incentivo ao consumo?
SEAFOOD BRASIL • OUT/DEZ 2016 • 62
Se o leitor teve certa dificuldade de entender e visualizar as receitas citadas na abertura deste texto, provavelmente não é chef ou cozinheiro amador. Essa falta de conexão entre a alta gastronomia apresentada e a trivial comida do dia a dia causa dúvidas se os programas ajudam ou atrapalham a disseminar o consumo de pescado no Brasil. “Tenho percebido que os chefs têm trabalhado com vieira, o que poucas pessoas conhecem, assim como mexilhão, vôngole, crustáceos, moluscos, um bom polvo. Sem
Programas como o Cozinha Prática da Rita Lobo procuram descomplicar receitas para o dia a dia e podem ajudar a disseminar o consumo
dúvida esses programas ajudam a introduzir novas espécies e popularizam o consumo. A mídia tem mudado essa questão da dificuldade do preparo, porque não é difícil”, opina Marcelo Malta, coordenador de Gastronomia e Hospitalidade da FMU. Alguns programas fazem mais isso do que outros. Reality
Ricardo Toscani/Editora Panelinha
(assado, frito, empanado, ensopado, cozido, grelhado, defumado e até cru, conforme a tradição da cozinha oriental).”
shows, pela própria concepção de competição entre os participantes, estimulam a criatividade e diferenciação nas receitas. O que é positivo pelo lado da inovação, mas negativo pela massificação, conforme explica Helena: “As receitas desses realities são complexas e de difícil execução, não colocam o peixe no cotidiano e, sim, tratam-no como algo muito especial, gourmet, para poucas ocasiões. Pode ser que o pescado seja sempre associado a esses parâmetros, como a ocasiões festivas tal qual a Páscoa”. Já outras transmissões claramente têm o objetivo de descomplicar a cozinha. “Minha impressão é que o Masterchef reforça, em alguns casos, as habilidades do cozinheiro especialista, ao estimular uma certa competição pela excelência no preparo dos pratos. Já o Cozinha Prática, da Rita Lobo [transmitido pelo GNT], procura aproximar a prática da culinária do dia a dia dos telespectadores, com um tom de linha mais intimista e uma linguagem simplificada que incentiva a popularização do consumo”, destaca Belda. Uma das primeiras blogueiras culinárias do País, a chef e empresária é unanimidade entre os especialistas
Divulgação/Lucas Tannuri
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Merchandising é boa alternativa
O especialista em marketing e palestrante motivacional Tejon Megido é um entusiasta do pescado. Na visão dele, “merchandising tem o poder de persuadir com muita intensidade, pois o produto está associado a alguma ação de valor, ou personalidade com opinião poderosa na construção de papéis da sociedade”. Megido crê na ferramenta como um caminho veloz para promover a adoção do consumo e um estilo de vida, não só em programas de gastronomia. “Um personagem admirado numa novela, consumindo e apaixonado por peixes, com certeza elevaria velozmente o consumo dessa deliciosa proteína.”
SEAFOOD BRASIL • OUT/DEZ 2016 • 63
Tejon Megido, especialista em marketing, recomenda ações de merchandising com o pescado em programas de televisão
Divulgação/TCA International
consultados pelo potencial de expandir o consumo. Ainda que seu programa figure no cardápio da TV a cabo, os vídeos e textos disponíveis gratuitamente podem colaborar na missão. “No Masterchef o telespectador acha que aquilo é ‘coisa de chef’. A Rita Lobo tem a característica de facilitar o preparo. Em programas como o dela, é o inverso, eles incentivam o consumo e a preparação”, pontua Malta. O professor, no entanto, encerra a análise com um falha comum a todos os programas: “Quando você ensina a fazer, você precisa ensinar a comprar. Os programas não têm esse lado.” Afinal, quando se tem um bom pescado nas mãos, é mais fácil chegar na obra-prima da gastronomia ou mesmo em um bom prato para a janta da sexta-feira.
Alguns dos programas aceitam ações de merchandising, como product placement, em que um produto a ser divulgado é alocado em meio ao cenário e até faz parte do próprio preparo do prato, como indica Belda. “Pela própria natureza do formato, os programas do tipo reality shows proporcionam a seus produtores e veiculadores alternativas de ‘monetização’ que vão além dos tradicionais modelos de publicidade (com anúncios em intervalos do programa) e patrocínios (não necessariamente conectados com o enredo de cada episódio). O merchandising ou product placement, também tem um apelo e um valor simbólico especial na medida em que o discurso do apresentador ou participante do programa pareça endossar ou recomendar o uso de um determinado produto ou marca no preparo do prato.”
Estatísticas
Aumento pontual Terceiro ano com dados sobre aquicultura na Pesquisa Pecuária Municipal aponta leve expansão da piscicultura e carcinicultura, mas registra queda na produção de ostras e mexilhões
A
agricultura é mesmo uma ilha de expansão na economia brasileira. O ano de 2015 colecionou turbulências, políticas e econômicas, mas a criação de bovinos, suínos, aves, leite e pescado mostrou resultados positivos. De acordo com a Pesquisa Pecuária Municipal (PPM) 2015, realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o PIB agropecuário cresceu 1,8% – em contraste com a queda de 3,8% no PIB nacional. O desempenho não isentou a bovinocultura de corte e leiteira de problemas pontuais, que também ocorreram na produção aquícola. Mas enquanto na pecuária a queda de abates e aumento de custos de produção penalizaram o segmento, na aquicultura a redução da demanda e maior fiscaliza-
ção de produtores irregulares no caso de ostras e mexilhões baixou um pouco a régua do setor. Nada tão impactante a ponto de reverter a tendência de expansão aparentemente irrefreável dos principais produtos da aquicultura. Tilápia e camarões em cativeiro – cuja disseminação da manha branca ainda estava circunscrita ao Rio Grande do Norte em 2015 – puxaram o valor de produção para R$ 4,39 bilhões, dos quais a maior parte (69,9%) se deveu à criação de peixes, seguida pelo cultivo de camarões (20,6%). O IBGE apurou dados em todas as 27 Unidades da Federação e os 2905 municípios brasileiros, mas o setor produtivo continua cético em relação à abrangência da PPM para aquicultura – a visão de que a informalidade e o
receio de fiscalizações impedem uma comunicação fiel sobre a produção nacional gera a sensação de sub-representação dos dados, um desafio aos pesquisadores do instituto. Outro ponto a ser considerado é uma certa desafagem em relação à dinâmica de produção da tilápia no Ceará, que entre 2015 e 2016 praticamente parou com os níveis historicamente mais baixos dos reservatórios do Castanhão e Orós. Jaguaribara e Alto Santo, municípios vizinhos situados às margens do Castanhão, constam entre os 10 principais produtores da espécie em 2015 já com a queda reportada no ano passado, mas a PPM 2017 deve mostrar dados trágicos para a região. Resta saber se a expansão de outras regiões compensará o desempenho geral da aquicultura no País na pesquisa do ano que vem.
VOLUME E RECEITA COM A PRODUÇÃO AQUÍCOLA EM 2015 X 2014 Volume (kg)
DESPESCA
2015
2014
Var. %
Receita (R$ 1000) 2015
2014
Var. %
SEAFOOD BRASIL • OUT/DEZ 2016 • 64
Peixes (kg) 483.241.273 474.329.095 1,9% 3.064.693 2.714.556 12,9% Camarões (kg) 69.859.745 65.018.452 7,4% 901.895 793.567 13,7% Ostras, vieiras e mexilhões (kg) 21.063.695 22.091.879 -4,7% 86.766 93.329 -7,0% *Outros produtos (rã, jacaré, siri, caranguejo, lagosta, etc) - - - 2.256 2.757 -18,2% TOTAL 574.164.713 561.439.426 2,3% 4.055.610 3.604.209 12,5% Volume (milheiros)
FORMAS JOVENS Alevinos (milheiros) Larvas e pós-larvas de camarões (milheiros) Sementes de ostras, vieiras e mexilhões (milheiros) TOTAL
2015
2014
Var. %
955.614 797.427 19,8% 17.044.028 13.753.293 23,9% 66.504 66.680 -0,3% 18.066.146 14.617.400 23,6%
Fonte: IBGE - Pesquisa Pecuária Municipal 2015 | *IBGE não apura volume produzido de outros produtos
Receita (R$ 1000) 2015
2014
Var. %
181.990 156.082 16,6% 145.690 103.208 41,2% 1.822 1.757 3,7% 329.502 261.047 26,2%
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Estatísticas Os 20 principais produtos aquícolas em 2015 Volume (kg)
Depositphotos
Produto 1 Tilápia 2 Tambaqui 3 Camarão 4 Tambacu, tambatinga 5 Ostras, vieiras e mexilhões 6 Carpa 7 Pintado, cachara, cachapira e pintachara, surubim 8 Pacu e patinga 9 Matrinxã 10 Pirarucu 11 Jatuarana, piabanha e piracanjuba 12 Pirapitinga 13 Piau, piapara, piauçu, piava 14 Outros peixes 15 Curimatã, curimbatá 16 Truta 17 Traíra e trairão 18 Lambari 19 Tucunaré 20 Dourado TOTAL
2014 199.948.214 139.632.527 65.027.554 40.266.557 22.082.777 20.886.062 20.437.237 14.553.069 10.717.744 11.762.850 255.463 4.598.702 4.434.107 2.879.427 2.403.129 1.703.606 1.124.311 270.912 63.901 38.424 563.086.573
2015 219.329.206 135.857.980 69.859.745 37.443.358 21.063.695 20.693.189 18.354.578 13.276.299 9.366.203 8.386.708 5.320.567 3.480.185 3.173.105 2.942.110 2.554.052 1.590.010 1.129.168 244.730 67.965 31.860 574.164.713
Var. %
Part. 2015
8,8% 38,2% -2,8% 23,7% 6,9% 12,2% -7,5% 6,5% -4,8% 3,7% -0,9% 3,6% -11,3% 3,2% -9,6% 2,3% -14,4% 1,6% -40,3% 1,5% 95% 0,9% -32% 0,6% -40% 0,6% 2% 0,5% 6% 0,4% -7% 0,3% 0% 0,2% -11% 0,0% 6% 0,0% -21% 0,0% 2%
Fonte: IBGE - Pesquisa Pecuária Municipal 2015
O IBGE apurou que a tilápia segue como a espécie mais criada no Brasil, com 219,33 mil toneladas despescadas em 2015, representando 45,4% do total da despesca nacional. Sobre 2014, a produção da espécie aumentou 9,7%. O tambaqui segue como a segunda opção e, apesar da queda, ainda representa 28,1% do total de peixes em 2015, com uma despesca de 135,86 mil toneladas. A diminuição provavelmente reflete as dificuldades de escoamento da matéria-prima, o que também atinge em cheio o pirarucu.
Se o volume registrou ascensão tímida, o mesmo não se pode dizer do preço por kg. Os produtores conseguiram vender os produtos no ano passado a um preço médio de R$ 7,06, um aumento de 9,2% ante 2014 que ainda assim não cobre a inflação anual (11,54%, segundo o IPCA). Destaque para o tambaqui (+15,3%), tambacu e tambatinga (11,4%) e pintado (15,1%).
Depositphotos
SEAFOOD BRASIL • OUT/DEZ 2016 • 66
A soma da produção total de peixes e camarões na piscicultura brasileira, excluídos outros animais (jacaré, rã e lagosta) chegou a 574,1 mil toneladas no ano passado, segundo a PPM 2015, um aumento de 2%. Tilápia, camarão vannamei e, principalmente, o grupo formado por jatuarana, piabanha e piracanjuba salvaram o desempenho, já que espécies-chave para a aquicultura nacional caíram: tambaqui (-2,8%); tambacu e tambatinga (-7,5%); ostras, vieiras e mexilhões (-4,8%); e pirarucu (-40%) são alguns exemplos.
2014 R$ 969.187 R$ 758.509 R$ 793.658 R$ 250.975 R$ 93.256 R$ 118.677 R$ 186.086 R$ 97.075 R$ 86.874 R$ 118.670 R$ 1.640 R$ 32.074 R$ 35.414 R$ 18.288 R$ 17.622 R$ 21.904 R$ 7.567 R$ 2.070 R$ 641 R$ 497 R$ 3.610.684,00
2015
R$ / kg Var. %
Part. 2015
2014
R$ 1.177.643 17,7% 29,1% R$ 871.393 13,0% 21,5% R$ 901.895 12,0% 22,3% R$ 263.391 4,7% 6,5% R$ 86.766 -7,5% 2,1% R$ 131.971 10,1% 3,3% R$ 196.905 5,5% 4,9% R$ 100.848 3,7% 2,5% R$ 73.336 -18,5% 1,8% R$ 85.768 -38,4% 2,1% R$ 38.949 95,8% 1,0% R$ 25.283 -26,9% 0,6% R$ 24.546 -44,3% 0,6% R$ 20.612 11,3% 0,5% R$ 19.860 11,3% 0,5% R$ 23.235 5,7% 0,6% R$ 8.365 9,5% 0,2% R$ 1.639 -26,3% 0,0% R$ 529 -21,2% 0,0% R$ 420 -18,3% 0,0% R$ 4.053.354,00
R$ 4,85 R$ 5,43 R$ 12,20 R$ 6,23 R$ 4,22 R$ 5,68 R$ 9,11 R$ 6,67 R$ 8,11 R$ 10,09 R$ 6,42 R$ 6,97 R$ 7,99 R$ 6,35 R$ 7,33 R$ 12,86 R$ 6,73 R$ 7,64 R$ 10,03 R$ 12,93 R$ 6,41
2015 R$ 5,37 R$ 6,41 R$ 12,91 R$ 7,03 R$ 4,12 R$ 6,38 R$ 10,73 R$ 7,60 R$ 7,83 R$ 10,23 R$ 7,32 R$ 7,26 R$ 7,74 R$ 7,01 R$ 7,78 R$ 14,61 R$ 7,41 R$ 6,70 R$ 7,78 R$ 13,18 R$ 7,06
Var. % 9,7% 15,3% 5,5% 11,4% -2,5% 10,9% 15,1% 12,2% -3,5% 1,4% 12,3% 4,0% -3,2% 9,3% 5,7% 12,0% 9,1% -14,1% -28,9% 1,9% 9,2%
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Receita (Mil Reais)
Estatísticas Os 20 maiores municípios produtores nacionais em 2015 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20
MUNICÍPIO Rio Preto da Eva - AM Jaguaribara - CE Palhoça - SC Aracati - CE Ariquemes - RO Sorriso - MT Nova Aurora - PR Assis Chateaubriand - PR Cujubim - RO Toledo - PR Nossa Senhora do Livramento - MT Urupá - RO Acaraú - CE Mirante da Serra - RO Santa Fé do Sul - SP Paragominas - PA Orós - CE Jaguaruana - CE Porto Velho - RO Almas - TO
TOTAL 20 MAIORES PARTICIPAÇÃO NO TOTAL
SEAFOOD BRASIL • OUT/DEZ 2016 • 68
O
VOLUME (KG) 14.100.000 13.800.000 13.754.000 12.655.900 11.113.706 10.679.535 9.089.762 7.043.700 6.567.948 5.952.600 5.681.395 5.518.138 5.468.511 5.396.000 5.360.000 5.345.600 5.286.000 5.014.649 5.009.540 4.863.738 157.700.722 27%
s 20 maiores municípios em volume produtivo respondem por 27% da produção aquícola nacional. E esta distribuição geográfica da despesca tem um novo campeão: o município de Rio Preto da Eva (AM), apontado pela PPM 2015 como o principal produtor nacional de pescado em cativeiro, com 14,10 mil toneladas. Tambaqui (7,58 mil toneladas) e matrinxã (6,52 mil toneladas) foram as duas únicas espécies, além de 8.200 alevinos, que elevaram a cidade ao topo da produção nacional. Jaguaribara (CE), líder do ranking anterior, já mostrou em 2015 o reflexo da primeira mortandade de peixes ocorrida em junho (queda de 18,4% da produção). Ainda assim, registrou no total compilado do ano passado 13,8 mil toneladas. Palhoça (SC) conserva a terceira posição obtida graças aos 13,7
RIO PRETO DA EVA (AM) A cidade que mais produz Com volume produzido de 14,10 mil toneladas, município amazonense desbancou Jaguaribara (CE) do primeiro posto.
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mil toneladas de ostras, vieiras e mexilhões, alta de 4% no volume produzido em 2015. Aracati vem na sequência e mantém o posto de maior pólo da carcinicultura brasileira, com 12,6 mil toneladas produzidas, um expressivo aumento de 30% sobre 2014. É bom frisar que o resultado ainda não contempla o efeito da mancha branca, que dizimou fazendas inteiras na região neste 2016. Se os redondos e nativos têm uma casa principal, ela é Ariquemes (RO), onde os produtores locais despescaram 11,1 mil toneladas, em sua maioria tambaqui (8,8 mil toneladas) – espécie cujo cultivo cresceu 6% na comparação entre os dois anos. Rondônia tem cinco cidades entre os 20 maiores produtores e, com isso, manteve a liderança no ranking da despesca nacional, com um volume de 84,49 mil toneladas de peixes –
RONDÔNIA A capital da piscicultura Estado conserva a primeira posição do ranking com despesca de 84,49 mil toneladas - aumento de 12,6% em relação a 2014.
PARANÁ O berçário da piscicultura O Estado liderou a produção de alevinos, atingindo, 77,2% do total da Região Sul e 22,6% do total do País.
aumento de 12,6% em relação a 2014. Ainda na análise dos Estados, o Paraná assumiu a segunda posição, com a despesca de 69,26 mil toneladas, um aumento de 20,8% quando comparada à produção do ano anterior, ultrapassando o Estado de Mato Grosso, que produziu 47,44 mil toneladas e assinalou uma queda de 22,2%. No camarão, sem surpresas: Ceará, com 58,3% da produção total de 69,86 mil toneladas, e Rio Grande do Norte, com 25,5%, somam 83,8% do total nacional. Conforme avaliou o IBGE, os cinco primeiros municípios do ranking foram cearenses: Aracati, Acaraú, Jaguaruana, Beberibe e Camocim. Mossoró e Canguaretama, ambos do Rio Grande do Norte, ficaram na sexta e na sétima posições no ranking da carcinicultura.
Os 20 maiores municípios berçários nacionais em 2015
CEARÁ A capital do camarão O Ceará continuou na liderança nacional, respondendo por 58,3% da produção, seguido pelo Rio Grande do Norte com 25,5%.
D SANTA CATARINA A capital da maricultura Mesmo com queda de 4,6%, é responsável por 98,1% da produção brasileira de ostras, vieiras e mexilhões. Palhoça se destaca, com 65,2% do total nacional.
MUNICÍPIO
VOLUME (MILHEIRO)
Aracati - CE Canguaretama - RN Touros - RN Acaraú - CE Beberibe - CE Nísia Floresta - RN Cajueiro da Praia - PI Itarema - CE Luís Correia - PI Pitimbu - PB Barra dos Coqueiros - SE Florianópolis - SC Toledo - PR Palotina - PR Paulo Afonso - BA Laranja da Terra - ES Rubinéia - SP Rolândia - PR Francisco Beltrão - PR Sirinhaém - PE
4.450.966 3.200.000 3.125.200 2.000.000 1.820.000 1.321.000 547.000 280.000 127.100 85.000 62.000 60.584 51.050 40.000 36.556 29.000 27.000 25.610 25.300 24.221
TOTAL 20 MAIORES PARTICIPAÇÃO NO TOTAL
17.337.587 96%
iferentemente da situação completamente pulverizada da despesca nacional, quando se trata de formas jovens os 20 maiores “berçários” nativos compõem 96% do volume brasileiro de alevinos, pós-larvas e sementes para o cultivo. A produção total foi de 18 milhões de milheiros em 2015, um aumento de 23,6% em relação ao ano anterior. O Paraná e Santa Catarina são grandes provedores de alevinos e sementes de moluscos, respectivamente. Toledo (PR) e Palotina (PR) se destacam com 91 mil milheiros, mas o camarão distorce o equilíbrio. Os 11 primeiros colocados no ranking de produtores de formas jovens são municípios fornecedores de pós-larvas de vannamei situados no Ceará, Rio Grande do Norte, Piauí, Paraíba e Sergipe. O ranking é liderado por Aracati (CE), Canguaretama (RN), Touros (RN), Acaraú (CE), Beberibe (CE) e Nísia Floresta (RN) – onde estão localizadas as maiores
estruturas nacionais de produção de formas jovens da carcinicultura do País. Só Aracati foi responsável por 26,1% da produção nacional e 52,1% da produção do Estado do Ceará. Canguaretama (RN) e Touros (RN) aportaram 82,7% do total produzido no Rio Grande do Norte. Em seguida vem Santa Catarina, artífice da malacocultura, mentor de 98,1% da produção brasileira de sementes: 66,5 mil milheiros em 2015. O volume registrado só em Florianópolis, cidade líder em SC, foi de 60,5 mil milheiros, o que representa uma queda de 22% na produção. Segundo apurou o IBGE, os motivos elencados para o desempenho variam entre a redução na demanda em virtude do alto valor desses produtos, associada à diminuição do poder aquisitivo da população; e redução da oferta em razão de maior fiscalização sanitária, que reduziu o número de produtores informais.
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ARACATI (CE) O berçário da carcinicultura Principal município produtor, respondeu por 26,1% da produção nacional de pós-larvas e 52,1% da produção do Estado do Ceará.
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Personagem
Caçador de mitos Inventor e adepto de métodos de produção alternativos, Paulo Fadul usa internet e experiências internacionais a seu favor para construir uma trajetória única na carcinicultura
M
uita gente pode achar que ele é o rei da gambiarra, na concepção mais pejorativa do termo. Só que Paulo Fadul, engenheiro de pesca formado em 1983 pela Universidade Federal do Ceará, testa cada uma das soluções que busca para melhorar a eficiência da sua produção em Macau (RN) com 20 hectares e projeção produtiva de 3 mil kg/hectare/ano de camarões entre 14g e 16 g. Ou seja, quando dá certo é ótimo. Quando dá errado, ele – e seu bolso – é quem sofre. Certo ou errado, Fadul é referência. Incentiva visitas técnicas, estágios e até espiadas dos concorrentes. Tudo em um estilo didático, alimentado por muitas informações que ele garimpa na internet e junto aos amigos do segmento que coleciona no Brasil e exterior. Foi com a ajuda deles que ele procurou desconstruir ou entender melhor a origem de alguns mitos no cultivo do vannamei no Brasil, que ele iniciou em 1999 em Alagoas, migrando depois para o Rio Grande do Norte.
Quando a mancha branca chegou ao território potiguar, em 2011, Fadul não foi diretamente afetado, mas buscou se antecipar. Correu ao Equador, que já havia enfrentado a doença, e descobriu que a saída encontrada ali foi copiar a natureza. “Os sobreviventes eram transformados em reprodutores. Depois traziam outros sobreviventes para a reprodução.” Ele logo tentou disseminar esse conceito de “seleção natural artificial”, em que a taxa de sobrevivência foi aumentando gradualmente com indivíduos mais resistentes, mas foi desestimulado por laboratórios do Brasil. Como resultado, foi um dos primeiros a adotar o sistema trifásico, com berçários, raceways que diminuem o tempo de exposição e crescimento dos animais nos viveiros de engorda. Construiu ainda de um laboratório dentro da fazenda para analisar a qualidade de água e monitorar vibrioses – que matam o camarão debilitado por doenças como a mancha branca.
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Outra ‘briga’ comprada por Fadul diz respeito à genética. Segundo ele, há um mito de que indivíduos com alto crescimento tem baixa resistência. Intrigado, fez testes na propriedade e descobriu que os animais que morriam primeiro eram os maiores. Conclusão: “o camarão maior troca de casca mais vezes e isso derruba a imunidade pois se expõe mais ao perigo que o menor.” Assim, não necessariamente o que cresce mais tem menor resistência. Ao contrário do que muitos fazem, Fadul não revolve o fundo do viveiro para remover a matéria orgânica e compensa o equilíbrio do sistema com prebióticos na ração e na água. O empresário também foi um dos pioneiros no uso de bioflocos na alimentação das fases iniciais do camarão, que estimulam o sistema imunológico e ainda servem de alimento, diminuindo o uso e impacto financeiro da ração no cultivo. Travou ainda uma guerra contra os pássaros, vetores de doenças e “ladrões”: inspirado por um sistema alemão, intercalou fios de nylon de 3m em 3m e diminuiu muito a visita das pragas. Outra solução ‘caseira’ foi para baratear o custo de cobertura dos raceways, com um plástico de estufa agrícola dentro de um ‘sanduíche’ com telas de galinheiro. “Tenho coragem para arriscar, testar. Ganhar dinheiro é outra história”, finaliza, aos risos.
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