MKT & INVESTIMENTOS
O que a Apas e Bruxelas ensinam sobre o mercado doméstico e as exportações?
PONTO DE VENDA
Da produção ao varejo, veja como se distribuem os custos na cadeia
seafood Os ventos da legalização Licenciamento aquícola avança nos Estados, mas ainda é terreno fértil para discussões
brasil www.seafoodbrasil.com.br
#19 - Abr/Jun 2017 ISSN 2319-0450
A especialidade nutricional com formulação exclusiva para tilápias e camarões. PAQ-Gro é um premix comprovadamente eficaz para uso em dietas de camarões e tilápias, que auxilia no desempenho e na melhora da saúde.
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Editorial
A mão sai do bolso
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nquanto fechamos uma edição em que o otimismo foi regra no registro de eventos como a Aquishow, Apas e Seafood Expo Global, nota-se um gradual descolamento do caos político com o cenário econômico. Ao que parece, o agronegócio não tem tempo de esperar a situação se estabilizar: 13,4% de aumento no primeiro trimestre de 2017, com safras recordes de grãos. A seguir nesta toada, a aquicultura pode se beneficiar e ter um de seus melhores anos. A indústria, mais tímida, voltou a subir em março depois de 2 trimestres de queda, mas basicamente recuperou a queda de fevereiro. A ociosidade continua alta e prejudica os investimentos, no menor patamar da série histórica medida pelo IBGE desde 1996 - 15,6% do PIB. O consumo das famílias em geral não vai bem, embora o resultado da Páscoa este ano para o pescado tenha surpreendido até o mais otimista dos peixeiros.
Otimismo é mesmo uma palavra-chave no negócio. E a produção, processamento e comercialização de pescado no Brasil são para este tipo de gente. Gente que, apesar de todas as adversidades, tira a mão do bolso, aproveita para estendê-la ao próximo e correr para realizar o potencial alojado nos viveiros escavados, tanques-rede, frigoríficos e pontos de venda Brasil afora. Como tive a chance de revelar a alguns amigos e parceiros nas últimas viagens, cobri várias outras cadeias produtivas, mas nenhuma me dá tanto prazer de acompanhar como a nossa. É por essas e outras que, uma vez que entra, a escama não sai mais da pele. Não deixe de acompanhar a estreia da seção Fora do Expediente (pág. 52), em que executivos do setor contam o que fazem no escasso tempo livre. Boa leitura!
Ricardo Torres - Editor
Índice
06 Cinco Perguntas
08 Marketing
46 Ponto de Venda
52 Fora do Expediente
26 Na Gôndola
54 Suplemento Varejista 60 Na Cozinha
28 Capa
66 Personagem
Expediente Redação redacao@seafoodbrasil.com.br
Comercial comercial@seafoodbrasil.com.br Tiago Oliveira Bueno
Publishers: Julio Torre e Ricardo Torres Editor: Ricardo Torres Diagramação: Emerson Freire Adm/Fin/Distribuição: Helio Torres
Impressão Maxi Gráfica e Editora A Seafood Brasil é uma publicação da Seafood Brasil Editora Ltda. ME CNPJ 18.554.556/0001-95
Sede – Brasil R. Domingos de Santa Maria, 329 São Paulo - SP - CEP 04311-040 Tel.: (+55 11) 4561-0789 Escritório comercial na Argentina Hipólito Yrigoyen, 4021 - C1208ABC C.A.B.A. – República Argentina julio@seafoodbrasil.com.br
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5 Perguntas A José Antonio Camposano, presidente da Câmara Nacional de Aquicultura do Equador (CNA)
Entrevista
“O Brasil vale o esforço” Equatorianos se preparam para enfrentar uma batalha judicial que os permita ingressar no Brasil ao menos 39 mil toneladas de camarões de alto calibre
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á cinco anos, o Equador criou uma campanha de US$ 250 mil que procurou posicionar seu camarão como “o melhor do mundo”. Em 2015, diante da instabilidade produtiva na Ásia com a Síndrome da Mortalidade Precoce (EMS), eles galgaram muito espaço como fornecedores de vannamei nos maiores centros produtivos do mundo. Não saíram mais de lá. “A Ásia, que produz o maior volume do mundo, compra mais da metade da nossa produção porque sua oferta não é suficiente para cobrir a demanda”, conta José Antonio Camposano, presidente da CNA. É a mesma lógica que os leva a insistir na abertura do mercado brasileiro ao camarão equatoriano, apesar da forte oposição dos carcinicultores abrigados na Associação Brasileira dos Criadores de Camarão (ABCC). Convicto de que o Brasil vale o esforço, Camposano diz estar disposto a judicializar a questão, por não concordar com o argumento sanitário. “Não podemos deixar que os colegas brasileiros prejudiquem
a nossa reputação”, diz. Em paralelo, a estratégia comercial já está montada: 15 empresas já têm plantas habilitadas no Mapa para exportar caudas cozidas, evisceradas e descascadas a reprocessadores brasileiros. Agora na fase de registro de produtos no DIPOA, têm o objetivo de inserir crustáceos maiores e criar uma categoria premium, sem competir com os nativos menores. Carcinicultores brasileiros capitaneados pela ABCC dizem que o Equador tem ao menos 13 doenças na produção, das quais 10 não existem no Brasil, incluindo a EMS, que ainda não teria sido notificada à OIE. Por outro lado, sabe-se que a SDA/MAPA liberou a importação da cauda por não considerála um vetor de transmissão. Como o sr. vê todo este cenário? Eu realmente gostaria que esta fosse uma discussão técnica. O Equador produz mais da metade do camarão
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de todo continente. Temos taxas de crescimento de 10% anuais, que só não são superiores porque queremos controlar o impacto ao meio ambiente. Temos o sistema de produção de mais baixa densidade do mundo e que possui os padrões mais altos de sustentabilidade. A ASC [sigla para a certificação Aquaculture Stewardship Council], que a ABCC conhece bem, concedeu a primeira certificação para uma carcinicultura equatoriana. A argumentação da ABCC é antitécnica e ilegal. Não posso conceber que ABCC faça isso. Uma indústria como a equatoriana
“O nosso camarão é maior que o do Brasil, não vamos poder competir com os tamanhos menores. Certos clientes exigirão um produto menor e mais barato, para determinados segmentos, já outros poderiam contar com calibres maiores.”
A OIE tem uma tabela de doenças de comunicação obrigatória e o Equador tem oito doenças. Em 2009, o Brasil reportou que tínhamos 25 doenças. Da mesma forma, o sr. Rocha dizia que o Brasil não tinha mancha branca e a importação traria isso. Passaram-se alguns anos e mesmo com a importação fechada ela chegou ao Brasil. A EMS não é uma doença de declaração obrigatória, porque o método de detecção ainda não foi aprovado pela OIE. No entanto, o Equador não tem EMS, ou não estaríamos produzindo camarão nos volumes atuais; basta ver o que a doença fez na Ásia. Mesmo assim, o produto permitido foram as caudas, evisceradas e descascadas – que não são vetores de transmissão. As doenças estão na cabeça. Como se deram as negociações 2 para a abertura ao vannamei equatoriano e qual foi a participação da CNA nisso? A possibilidade de estabelecer cotas foi discutida? Começamos há oito anos, quando o Brasil anunciou que havia sido criada uma barreira sanitária ao nosso camarão. O governo brasileiro fez então uma análise de risco de importação. Depois, as autoridades brasileiras foram verificar os controles sanitários feitos no Equador e, em paralelo, houve uma conversa em nível de chanceleres (Antonio Patriota, pelo Brasil, e Ricardo Patiño, pelo Equador). Rafael Correa também falou com Dilma Rousseff. Tudo parte de uma estratégia para equilibrar a balança comercial, que é muito positiva ao Brasil.
Vieram o mundial de futebol, Olimpíadas, e os importadores locais nos perguntando como faziam para importar nosso camarão. Em fevereiro deste ano, depois de todo este trabalho, o Mapa emitiu um comunicado que torna oficial a aprovação. Não pensamos em cota, porque se a argumentação é sanitária não se pode falar em cotas. A Ásia, que produz o maior volume do mundo, compra mais da metade da nossa produção porque sua oferta não é suficiente para cobrir a demanda. Os EUA, que também produzem, compram 25% e o restante vai à Europa. O Equador já tem presença consolidada na Ásia, EUA e Europa. Com este cenário tão complexo no Brasil, vale a pena este esforço? Sim, vale a pena, porque trabalhamos em uma estratégia de diversificação de destinos. 99% da nossa produção tem outros destinos. No caso do Brasil, existe uma cultura de consumo presente, sem mencionar a questão dos 200 milhões de habitantes. Podemos ser uma ajuda para que se amplie ainda mais o consumo.
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Estive no Brasil recentemente e conversei com os importadores. O que se está buscando é perpetuar uma situação insustentável. O Brasil tem um déficit de 65 mil toneladas de camarão, que a oferta local não consegue atender. A China já importa mais de 250 milhões de toneladas, é o maior produtor do mundo e ainda assim não barrou o camarão. Lá foi criado um segmento premium, que não existia. O nosso camarão é maior que o do Brasil, não vamos poder competir com os tamanhos menores. Certos clientes exigirão um produto menor e mais barato, para determinados segmentos, já outros poderiam contar com calibres maiores. Quantas e quais são as empresas já registradas no Mapa para exportar ao Brasil?
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Mais de 15 empresas equatorianas já estão registradas no Mapa e iniciaram o processo de registro de produtos no Dipoa. Entre as empresas registradas se encontram as mais importantes exportadoras de camarão do país, como Industrial Pesquera Santa Priscilla, Expalsa, Omarsa, Songa, Promarisco, Edpacif, Cofimar, entre outras. O Equador tem uma oferta de produtos elaborados, mas vamos nos concentrar nas caudas. Não somos um país barato para produzir, nossa estrutura de processamento nos torna caros, então queremos mandar matéria-prima para que possam processar no Brasil. Essa é uma das primeiras propostas. É um mercado muito grande e tem espaço para todos. O Equador poderia satisfazer 60% deste déficit de mercado que o Brasil tem. Nossa intenção não é tirar o produtor local, que sempre terá a vantagem de estar muito próximo dos mercados de destino. Estamos convencidos de que podemos ser uma ajuda para ampliar o tamanho do mercado para o camarão, já que oferecemos um produto diferente ao que se vende hoje em dia no Brasil. Como está estruturada a produção no Equador e quais são os desafios para o futuro? Temos 220.000 hectares dedicados ao cultivo de camarão. O país produziu e exportou 370 mil toneladas em 2016. Esperamos exportar entre 400 mil e 410 mil toneladas em 2017. Nosso principal desafio é nos mantermos competitivos em um entorno no qual o mercado se deixa levar mais por preços do que qualidade. Temos um produto de qualidade premium cujo posicionamento não tem sido fácil. Apesar disso, encontramos dificuldades para competir com produtos de mais baixo custo, que não necessariamente têm padrões de qualidade similares aos nossos.
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não pode deixar que os colegas brasileiros prejudiquem a nossa reputação. Vamos entrar no âmbito legal para nos defendermos. Com este quadro não vamos permitir que a ABCC, no afã de defender seu mercado, levante falsos testemunhos sobre a qualidade equatoriana. Eles deverão responder por declarações sem fundamento.
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Comportamento de concorrentes internacionais é didático na tentativa de retomada das exportações brasileiras
Tomografia doméstica e internacional Enquanto a Apas reflete entusiasmo contido com o pós-Páscoa, Seafood Expo Global antecipa cenários para importação e dá pistas sobre o caminho para expandir a presença internacional do pescado brasileiro
O
diretor de um centro de diagnósticos médicos mal deve conter a alegria quando recebe um equipamento de tomografia totalmente novo. Talvez seja o mesmo grau de euforia experimentado pelos brasileiros que têm a chance de participar da feira Seafood Expo Global, uma mistura de Meca com Disney do peixe, que concede aos presentes a chance de olhar com lupa tudo o que acontece no mercado mundial do pescado.
Visitação em volume e qualidade ilustra pós-Páscoa aquecido
A peregrinação comercial dos aficionados pelo tema ficou muito mais fácil este ano com o suporte que a Secretaria da Pesca e Aquicultura (SAP) – em transição de casas – deu em parceria com o Ministério da Agricultura e Ministério das Relações Exteriores. Entre os dias 25 e 27 e abril deste ano, 29 empresas e três entidades setoriais encamparam a ideia com o objetivo de mitigar o déficit quase bilionário da nossa balança comercial do pescado.
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As cifras sobre a estimativa de negócios realizados pelos brasileiros em Bruxelas são relevantes: US$ 78 milhões para os 12 meses que se seguem ao evento. É mais do que, por exemplo, o Equador, que com a disputada oferta de camarões e conservas fornecidas por 10 empresas estimou a geração de US$ 53 milhões. É que o Brasil tem uma oferta de espécies extrativas valorizadas mundialmente, como lagosta e meka, mas também oferta produtos de combate, tais qual a tilápia e o camarão vannamei. Sobre os nativos, como o pintado, pirarucu e tambaqui, apesar de iniciativas pontuais, não existe um mercado cativo no exterior; falta consenso sobre preço, posicionamento e tipo de produtos a ofertar. Se por um lado os exportadores se mexem, quem recorre ao mercado doméstico viu na Apas uma competição ainda mais acirrada nos filés brancos, salmão e bacalhau, além de iniciativas ousadas de diferenciação nas conservas e uma busca de um equilíbrio da oferta e do preço dos camarões.
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André Pereira (esq.), da Embaixada em Bruxelas, e Emerson Raiol, da SAP: continuidade da presença em feiras internacionais fortalece marca país
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conclusão é da própria SAP: “(...)frente à fragilidade do setor, concluímos pela continuidade das ações de promoção nas principais feiras internacionais do setor como a Seafood Expo North America e a China Fisheries and Seafood Expo, como também em eventos multissetoriais de alimentos como a World Food Moscow, Summer Fancy Food Show, SAITEX e SIAL Middle East”, diz Emerson Raiol, que chefiou a organização do pavilhão brasileiro em Bruxelas. Os números mostram que ele tem razão. Um incremento na presença in-
ternacional nos dá mais chances de disputar o bilionário mercado seafood em todo o mundo. Mas o aspecto institucional é apenas uma das etapas desta longa jornada. “O setor privado e governo devem atuar juntos internamente e no exterior também para aumentar escala de produção e ganhar competitividade para que o Brasil seja um dia um ‘major player’”, pontua Jogi Humberto Oshiai, consultor brasileiro do agronegócio que reside em Bruxelas. O receituário inclui isonomia fiscal e tributária, maior investimento em pesquisa de novas tecnologias e ampliação de estímulos às exportações, facilitação
das condições e acesso ao crédito. Participante do pavilhão brasileiro, Francisco Benvenuti, da Seabev, ilustra o último item. “A linha mais competitiva dos bancos brasileiros para exportação funciona assim: você pega 100, eles ficam com 10 e você tem que pagar os 100 em no máximo 180 dias com 1,6% de juros. Nos EUA, o mesmo adiantamento cambial sai com 0,5%.” Os brasileiros vão se virando como podem, já que o mundo está comprador de matéria-prima. Em muitos casos, a demanda do exterior supera a capacidade da oferta. “A Ásia é a que mais demanda, é um mercado capitaliza-
Dagoberto Coracini Filho, Rosa Maria e Marcos Lima apresentaram espetos e outros produtos de valor agregado da Geneseas: fugir da commodity é estratégia para encontrar nichos de mercado
A insuficência de matéria-prima não é exclusiva da pesca extrativa, que ao menos conta com o trunfo de ofertar espécies disputadas a tapa no exterior, como a lagosta. “Já estamos no mercado norte-americano e europeu e agora estamos tentando ampliar no mercado asiático e solidificar aqui na Europa. Vários países ainda não estão atendidos aqui”, conta Marco Arce, diretor internacional da Qualimar, que pretende
despachar este ano 180 toneladas do crustáceo. Segundo o diretor-executivo, Paulo Gustavo Sampaio, a lagosta brasileira tem muita receptividade, mas era necessário sair da commodity. “A ideia é crescer não com quantidade de produto, mas com faturamento por valor agregado.” Novas embalagens skin pack em vários idiomas que ressaltavam as caudas fazem parte da estratégia. Na aquicultura, onde também brigamos em commodities como a tilápia, fica evidente que o valor agregado é um dos caminhos. Mas
precisa ser acompanhado de um intenso trabalho pelo aumento da competitividade nos filés – a monumental escala de produção chinesa é um garantidor de preços inferiores a US$ 3,50 o kg do filé. Só a Bayang, gigante chinesa, fatura US$ 300 milhões ao ano com sete plantas que processam 150 mil a 200 mil toneladas anuais – mais do que toda a produção brasileira de tilápia.
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do para o qual o Brasil tem diversos produtos”, explica Benvenuti. “A maior procura desde sempre é peixe-espada, que produzimos e entregamos. Hoje faço quatro contêineres por mês, no máximo, mas poderia fazer 30 se a captura alcançasse.”
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A 100 km de Bruxelas e Antuérpia, encravado entre a Holanda, França, Alemanha e já na região de Flandres, o Porto de Zeebrugge movimenta 37,8 milhões de toneladas de produtos. 65% dos vegetais europeus e 19% do frango brasileiro destinado à Europa passam por lá. Por intermédio da Embaixada de Bruxelas e da agência Flanders Investment & Trade, a administração privada convidou os brasileiros para apresentar a possibilidade de recepcionar e armazenar o pescado brasileiro em seus oito terminais de contêineres. O encontro foi seguido de uma visita ao leilão de pescado local, o Flemish Fish Auction, que movimenta o pescado de 130 empresas europeias atuantes em dois clusters pesqueiro da região: Zeebrugge e Oostende.
O fresco é onde temos mais chances, como explica Francisco Medeiros, diretor-presidente da PeixeBR. “Temos condições de competir com México, Equador, Colômbia pelo mercado norte-americano.” Basta segundo ele, melhorar a competitividade em 10%. O caminho é árduo e passa pela resolução de problemas sanitários e tributários. “Dados apresentados pelo Instituto de Pesca de São Paulo mostram que o aumento do custo de produção varia a 8% a 15% por causa das incrustações de mexilhão dourado. Por outro lado, podemos baixar o PIS/Cofins da ração, que geraria um ganho de 5% a 7%. Só com isso já nos tornaríamos competitivos.” Já para as espécies amazônicas o desafio é ainda mais complexo. Se compartilham as mesmas dificuldades de qualquer outro produto aquícola,
lá fora nem mercado cativo possuem. Mar & Terra e Nativ foram as pioneiras na venda do pirarucu, tambaqui e pintado da Amazônia em mercados de nicho nos Estados Unidos e Europa, situação inalterada até hoje. Para Marcelo Eiger, ex-Nativ e agora na Trident Seafoods, o pirarucu é agora o que o panga era há 20 anos. “As indústrias do Vietnã se juntaram e, com apoio do governo, criaram mercado no exterior.” Movimento similar ao que fazem agora os chineses com o pacu, vendido amplamente na feira deste ano como red pomphret a preços inferiores a US$ 1,50 o kg. Enquanto isso não acontece, novos players vão trilhando o caminho dos pioneiros. A Peixes da Amazônia estreou em Bruxelas representada por Alessandro Souza, que saiu da Vivenda do Camarão e assumiu a área
internacional do Grupo5. A experiência em Bruxelas consolidou percepções, mas abriu os olhos para outras oportunidades. “Ainda acho que o pirarucu é o melhor peixe para exportar. Principalmente o lombo para a Europa e EUA e a barriga para a Ásia, que pode ser vendida defumada”. Eiger crê no potencial do lombo a vácuo em skin pack. Durante e no pós-feira, Souza abriu negócios na Holanda, Itália, Espanha e até na Argentina – onde um distribuidor pretende inserir o pintado da Amazônia nas províncias do Norte para cobrir a insuficiente oferta local. Também mapeou outros negócios para o G5: asas de pintado como snacks no mercado norte-americano e pratos prontos da linha Substância para o mercado mexicano. Na Era Trump, o comércio internacional precisa olhar para novos lados.
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A retomada dos filés brancos
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China é a maior novidade no acirrado ramo de filés brancos. Não em produtos ou apresentações, já que a oferta continua a ser filé de polaca do Alasca com duplo congelamento, mas pela retração acentuada que registrou no primeiro quadrimestre. A fiscalização sanitária mais acirrada e um rechaço massivo de contêineres assustaram os importadores, que buscaram soluções mais seguras, como a single-frozen dos Estados Unidos.
A Rússia também confirmou na Seafood Expo Global que pretende incrementar mercados como o Brasil evitando processar em intermediários, uma alusão à China. “O Brasil é um país potencial para incrementar nossas importações”, disse o ministro da Agricultura russo, Aleksandr Tkachev. Em 24 de maio, a equivalência sanitária entre os dois países foi sacramentada, aproximando a data do desembarque do pescado russo no Brasil: apenas três empresas têm plantas registradas no Mapa, mas o número deve crescer, conforme indicou o Serviço Federal de Vigilância Sanitária e Fitossanitária da Rússia recentemente à Gazeta Russa. Enquanto isso, o panga vietnamita, vendido agora em outro padrão ao Brasil, cresceu 17% nos quatro primeiros
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Equipe do Alaska Seafood Marketing Institute com urso Nanook na Apas 2017: brasileiros buscaram mais polaca single-frozen do Alasca, que registrou 16,3 toneladas até abril
meses do ano, com um faturamento de US$ 41 milhões. Lá fora, enfrenta uma nova onda de massacres na Europa, onde foi defendido em um evento paralelo durante a feira de Bruxelas. “O cultivo do panga é sustentável, o animal é alimentado com ração pelletizada, não tem nada relacionado à sujeira que a mídia quer mostrar”, contou o secretário general da Associação Vietnamita dos Produtores e Exportadores de Pescado (Vasep), Truong Dinh Hoe. Sobre a qualidade do produto exportada ao Brasil, ele reconheceu que há ajustes. “O importante é que agora existe uma nova cooperação entre as autoridades dos dois países. Os players serão controlados, bons players terão bons produtos.” Para o diretor comercial da Golden Foods, Thiago Monteiro, todo mundo se mexeu. “O mercado já entendeu esta nova realidade das restrições e os fornecedores já compreenderam a necessidade do Brasil de receber o chemical-free.” O momento da empresa é de recuperar volumes com o novo padrão de produto e ajustar a oferta. No primeiro ano de trabalho com pescado, em 2013, a empresa fazia 40 contêineres/mês. “Queremos bater 110 contêineres/mês até o fim de 2017.” Tudo dentro da estratégia de equilibrar melhor a proporção 70% food service e 30% varejo das vendas da empresa. Até as embalagens vão mudar: de 1 kg, algumas vão para 800 g e outras para 500g, com arte na própria embalagem. Se os volumes chineses caíram 45% no período, o panga não foi suficiente para atender o volume demandado por uma Semana Santa aquecida, abrindo espaço para a tradicional merluza hubbsi da Argentina. Com ela, provedores mundialmente conhecidos como a espanhola Iberconsa, dona de marcas populares entre os importadores
como a Antártida Pesquera Industrial (API), voltaram à carga. Pablo Basso, diretor comercial da filial argentina, celebra a retomada, que ocorre simultaneamente à ampliação de frota de arrasto que a Iberconsa determinou. “Somos velhos conhecidos do mercado brasileiro, que valoriza nossa merluza congelada a bordo. Com mais barcos podemos garantir mais entregas nos tempos desejados pelos clientes locais.” No momento em que os argentinos estão faturando como nunca com o camarão Pleoticus muelleri, ter condições para garantir uma captura estável de merluza é fundamental. O movimento é similar ao que fez a também espanhola Noribérica, que acaba de adquirir mais um barco para a pesca do cação, espadarte e atum. Miguel Bregieira, responsável pela operação do grupo para o Brasil, a embarcação deve compensar os efeitos das capturas mais baixas dos últimos meses. Tudo para encaixar a oferta com a demanda de locais como o Brasil, em aquecimento. “Desde 2007, quando comecei com o Brasil, nunca a sequência da Semana Santa teve vendas iguais. Neste ano aumentaram.” Para o executivo, muitos ficaram com medo do cenário do SIF e tentaram se abastecer no mercado interno, mas não havia produto suficiente. “Acho
que isso ocorreu por conta da falta de panga e polaca, que já não são aquela concorrência de antes.” Bregieira tinha a visão de que o cação poderia rivalizar com o panga na preferência da categoria. “De certa forma isso aconteceu, porque o cação tem mais visibilidade do que antes.” Com isso, até o Canadá entra no jogo com a compra da uruguaia Fripur pela Cooke em dezembro. Muito bem sucedida no salmão, a empresa quer iniciar a pesca da merluza ainda em meados deste ano. “Acabamos de abrir uma nova planta no Uruguai para processar este volume”, revela o gerente regional para a América Latina da Cooke, Andrés Parodi. No auge, a Fripur processava em torno de 16 mil toneladas de merluza por ano. A Mardi, argentina especializada em filés e empanados com a espécie, sentiu o aquecimento na Apas. “Nota-se um maior interesse este ano, mas a quantidade de pescado que demanda o Brasil é superior do que a Argentina pode oferecer hoje em dia”, diz o diretor, Diego Oksengendler, que confirma o foco nos filés. “Houve cliente pedindo cinco caminhões por semana, mas só tenho condições de garantir um.” A empresa já não aposta nos empanados, categoria que vai muito
Thiago de Luca e Rafael Barata com Hu Wei, contratada pela Frescatto Company para assegurar a qualidade dos produtos adquiridos na China
bem nos países vizinhos, segundo a concorrência. “A Argentina é 70% do nosso mercado, depois Uruguai e o Chile com 30%. Desde que a Leardini entrou em recuperação judicial, não tivemos mais nenhum outro cliente de empanados”, conta a chefe de compras da Congelados Artico, Carolina Huertas, que ressalta o investimento na reformulação da marca. Um dos entraves é a carga de impostos dos produtos empanados. “Os nossos produtos ficam com preço final de US$ 6, quando o normal seria US$ 4 ou US$ 3,5.” E outro é a concorrência brasileira em um nicho ainda tão incipiente. A Fênix, com a marca Magic Fish, fez barulho na Apas com empanados de carne de polaca e CMS de salmão na linha da Turma da Mônica. Os argentinos também precisam olhar aos peruanos e equatorianos, sedentos pelo potencial da categoria no Brasil. “Começamos há pouco tempo, mas já vendemos ao Brasil nossa merluza, menos apreciada e mais barata que a argentina”, conta Francisco Vía, gerente geral da peruana SeaFrost. Ele se refere à Merluccius gayi, cuja importação pelo Brasil do Peru subiu 79% até abril ante o mesmo período em 2016; do Equador, o País importou 242 toneladas, um ótimo resultado diante do traço registrado no ano passado.
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Pablo Basso, da Iberconsa: merluza volta a recuperar terreno, mas argentinos devem atentar para peruanos e equatorianos
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Seco, salgado e aquecido
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instabilidade cambial derivada da turbulência por que o Brasil atravessa é o pesadelo de quem vende bacalhau por aqui. Totalmente sensível ao dólar, o segmento viu um cenário desastroso na Páscoa de 2016 com as cotações acima de R$ 4,10. Já esta Semana Santa foi feita a US$ 3,15, um patamar bem mais atraente. “Confesso que estou animado”, sublinha Marcelo Nasser, gerente da operação brasileira da Riberalves.
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Segundo ele, o ano passado teve um sell-in (venda para o varejo) bom na Páscoa e um sell-out (venda ao consumidor) fraco. “Este ano está todo mundo sem estoque e já estávamos embarcando contêiner em março para pós-Páscoa. Alguns varejistas grandes, no meio da Semana Santa compraram mais e venderam tudo.” O resultado das vendas direto de Portugal realmente surpreenderam, como mostram os dados do MDIC consultados no sistema AliceWeb. Nos primeiros quatro meses deste ano, a alta no volume foi de 40,4%. Já a Noruega, que viu a participação de Mathias Bjorge e Brødrene Sperre na Apas 2016, neste ano não teve nenhum representante com estande. Para Vasco Tørrissen, responsável pelo escritório do Conselho Norueguês da Pesca (Norge) no Brasil, disse que o câmbio ajudou, mas o principal foi a lembrança de um período muito ruim para toda a categoria em 2016, tanto seco e salgado quanto para congelado. Resultado: volume 3% menor no primeiro quadrimestre de 2017.
Mas a China apurou queda mais acentuada, de 7,3%. Tørrissen atribui o fato à fiscalização mais apertada sobre o uso de tripolifosfato na carne. “Estamos otimistas porque as tendências de consumo vão para a saúde, qualidade, tradição etc. Então existe uma maior preocupação do consumidor em saber de onde o produto vem. No caso da Noruega, onde o produto não inclui aditivos, levamos vantagem.” O outro lado da moeda é a deterioração da economia, que já provoca uma mudança nítida no perfil dos produtos apresentados no varejo este
ano. Nota-se um certo retorno ao seco e salgado, com uma maior serenidade no caso do dessalgado congelado – que despontou como uma febre da popularização de consumo do bacalhau nos lares brasileiros. “Isso gerou uma confusão nas grandes redes, então vimos nesta Semana Santa um retorno ao seco e salgado, mas também com mantas, meio peixe etc”, pontua o executivo da Norge. A Golden Foods foi uma das que se beneficiou da tendência: “No ano passado fizemos um Natal com 14 contêineres de seco e salgado, agora queremos fazer pelo menos 18 contêineres”, projeta o diretor, Thiago Monteiro.
Carlos Oliveira (J.A. Oliveira), Marcelo Conrado (Norcomex), Arne Sperre (Brødrene Sperre) e José Hypólito Correa Costa (Asa Branca) no estande da Brødrene em Bruxelas: volume da Noruega caiu 3% no quadrimestre
Karina Mendes e Vasco Tørrissen, do escritório do Conselho Norueguês da Pesca (Norge) no Brasil: lembrança de sobras em 2016 deixou varejo cauteloso este ano
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Marketing & Investimentos
Abre ou não abre?
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seção Cinco Perguntas desta edição da Seafood Brasil já dá o tom do que deve pautar a indústria do camarão nos próximos meses. A Associação Brasileira dos Criadores de Camarões (ABCC) prometeu – e cumpriu. Em 26/05, a entidade ingressou na Justiça Federal de Brasília com um pedido de liminar para suspender a autorização do Ministério da Agricultura à importação do vannamei oriundo do Equador.
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Ao menos 15 empresas equatorianas do setor já tiveram suas plantas habilitadas pelo Mapa e agora já estão em processo de registro de produtos e embalagens no Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Animal (Dipoa). Ciente da intenção da ABCC, a associação que defende os interesses dos carcinicultores equatorianos, a Câmara Nacional de Aquicultura (CNA), já anunciou que pretende entrar na briga também na esfera legal. “Não podemos deixar que os colegas brasileiros
Para Christianny Maia, da Potiporã, pauta da importação vem mais do food service do que do varejo
prejudiquem a nossa reputação”, disse José Antonio Camposano, presidente da CNA. Em Bruxelas e na Apas, antes do cenário judicializado, a abertura era dada como iminente e a reportagem esperava uma fila no estande do Equador. Nas semanas seguintes, alguns importadores e até redes de varejo marcaram suas visitas ao país para conhecer as empresas e produtos. Fato é que o antecedente do camarão argentino – liberado no aspecto sanitário, mas proibido judicialmente – tira qualquer certeza do movimento pró-abertura, mas não o ímpeto de quem quer o produto. “Se a liberação de importação seguir, vamos nos aventurar nisso sim”, diz um importador em condição de anonimato. Nada que assuste muito uma das gigantes do segmento, a Potiporã, que ressurge em clima de retomada após ser absorvida pela Aquicultura Samaria (Aquisa), de Cristiano Maia. A diretora e filha do empresário, Christianny, garante que o varejo já confia na capacidade de recuperação e até expansão dos índices produtivos. “A nossa produção não atende todo o consumo, mas temos uma capacidade de expandir a produção. Somando as duas fazendas principais no Ceará e no Rio Grande do Norte e outras fazendas
arrendadas, ultrapassamos 2000 hectares de lâminas d’água.” O projeto inicial é despescar 300 toneladas por mês, com o intuito de chegar a 700 toneladas na Potiporã e 300 na Aquisa já a partir do próximo ano. Fruto de investimentos em novos modelos produtivos híbridos entre o extensivo e intensivo, com menores densidades, remanejo de viveiros e outras técnicas para afastar o fantasma da mancha branca. Já o frigorífico, reaberto este ano, é chave para a estratégia de fortalecimento nacional da marca, que conta com o apoio da inteligência comercial do Grupo 5. O preço ainda deve permanecer em patamares mais elevados até que a produção se estabilize novamente e os novos modelos produtivos comecem a surtir efeito no Nordeste, como indica Christianny. “O fresco de 10g no ano passado era R$ 15 e chegou a R$ 30, mas o preço está baixando. O preço também estava defasado e sofreu aumentos que foram além da lei da oferta e da demanda, mas o camarão de 10 gramas deve ficar em R$ 22.” Como ela mesmo diz, quando a Samaria e a Potiporã estabelecem preços, acabam por definir uma tabela. Assim, quem quer acompanhar o segmento não deve desgrudar os olhos deles.
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Marketing & Investimentos
Paradigmas em xeque
É
unânime entre todas as fontes consultadas. O salmão inteiro fresco já não é consenso nem nos restaurantes, nem no varejo nacional. “Queremos fugir um pouco da volatilidade que as commodities oferecem. Temos uma gama de ativos que podemos usar para elaborar produtos elaborados, porções, pescado defumado, filés etc”, conta Francisco Miranda, COO da Cermaq Chile, que estuda a utilização de marca própria, além da parceria com terceiros.
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O Brasil é responsável por 25% do faturamento da divisão chilena, que reúne 3200 funcionários, 12 centros de reprodução em de água doce, 52 centros de engorda no mar e 3 plantas de processamento. É a única empresa
que atua simultaneamente com uma estrutura deste porte em três regiões chilenas: X, XI e XII. E é justamente a presença na Patagônia chilena o seu principal ativo, como explica Miranda. “Hoje temos uma situação sanitária invejável, melhor que em qualquer outro lugar no Chile. O que queremos é que isso se mantenha assim.” Ponto sensível para a salmonicultura no Chile, que aos poucos tenta se deslocar cada vez mais ao sul em busca de melhores qualidades de água e menor concorrência. A Cermaq foi uma das pioneiras: montou o projeto em 2004, mas só em 2009 recebeu a concessão da área para iniciar a produção em 2011. O esforço foi premiado com a certificação ASC. “Temos o maior número de centros certificados com esse padrão, o que exige tempo e investimento, mas dá parâmetros verificáveis e tranquiliza comunidades”, diz Miranda. Distribuidor nacional do salmão Cermaq, a Itanav usa os atributos para
Andrés Parodi, Felipe Colvin e Felipe Marambio, da Cooke: participação do Brasil foi de 1% a 35% das vendas de salmão e os levou ao top5 de exportadores
desenvolver o mercado no varejo e no food service para os porcionados com a marca Blue Marine. “O filé ainda é o carro-chefe, mas os porcionados atraem famílias menores”, conta a sócia Karina Nozar. Temos em porções de 600 g a vácuo, com 4 pedaços de 150 gramas cada. Hoje os supermercados representam cerca da metade de toda a venda, mas concentra os porcionados congelados. Os restaurantes, principalmente os de culinária oriental, ainda têm restrições ao congelado, o que é um paradoxo. Em geral, o resfriado tem no máximo um dia de despesca quando chega à planta. Na melhor das hipóteses, sai dali no dia seguinte. Sete dias depois, chega ao sul do Brasil. Outro dia até a capital paulista ou Rio de Janeiro ou quase cinco dias até o Nordeste. O shelf-life aceito pelo Mapa em condições adequadas de refrigeração é de 21 dias. Enquanto o resfriado segue como preferência nacional, a venda do congelado teve certo impulso por conta dos preços em níveis históricos. Importadores contabilizaram um pico de US$ 8,30 em abril, patamar que deve se manter elevado. “Vai continuar alto justamente porque a produção mundial não vai subir na Noruega e pouco no Chile, recuperando o ano de queda em 2016”, pondera Karina. A Cooke Aquaculture Chile é uma das que deve incrementar a produção neste ano, apostando em animais maiores. “O principal mercado no Brasil é o head-on acima de 5 kg. O nosso peso médio é 6 kg, enquanto as outras têm peso médio de despesca de 4,7 kg. Por isso tivemos um bom encaixe do nosso produto”, avalia Andrés Parodi, diretor da Cooke para América Latina. Em 2016 foram seis mil toneladas para o Brasil, que já representa 35% das vendas chilenas de salmão da empresa. Com um novo frigorífico em Puerto
Christian Askvik, da Lerøy, novo responsável pelo Brasil na norueguesa: todos querem estar em um mercado de US$ 500 milhões, mas burocracia é mais desafiadora que concorrência
Tamanho apetite chama novamente a atenção da Lerøy Seafood, que agora dispõe de um novo gerente para Américas, incluindo o Brasil, Christian Askvik. A empresa chegou a fechar contêineres para despachar produtos a uma grande rede varejista brasileira nos tempos de seu antecessor, mas um desentendimento cancelou o negócio. Águas passadas, garante o executivo. “Tenho uma grande crença de que vai dar certo, mas agora temos que nos reconectar com o Brasil. Pensamos inicialmente em 40 ou 50
toneladas para começar, entre salmão e bacalhau fresco.” Em Bruxelas, a Lerøy canalizou as atenções, mas não foi pelos porcionados e temperados. Em uma época de custos crescentes de produção e preocupação com a sustentabilidade, a norueguesa anunciou a adoção de uma ração composta de microalgas – que substituem até 20% do óleo de peixe usado na composição nutricional do salmão. A AlgaPrime DHA, que também já chegou à Ventisqueros, no Chile, é o produto de uma joint-venture entre a californiana Terra Via e a gigante Bunge, em parceria com a dinamarquesa BioMar. As duas primeiras produzem as microalgas e extraem o óleo cheio de ômega-3, a segunda o aplica à ração. Sabe onde a mágica acontece? Orindiúva, interior
Cermaq, representada na Apas por Pilar Serrano, Soraia Corrêa, Francisco Miranda e Felipe Katata, aposta nos porcionados e marca própria para incrementar presença de São Paulo, onde a Bunge opera a Usina Moema de cana de açúcar – fonte de alimento dos microrganismos.
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Montt comprado da Marine Harvest, vai ficar mais fácil absorver a demanda aquecida neste ano. “Chegamos a 17 caminhões por semana só em fevereiro. Não esperamos isso para nenhuma outra época do ano”, indica Parodi.
Marketing & Investimentos
Na autoclave
O
ano passado viveu uma crise mundial do atum. Os preços saíram de US$ 800 a US$ 1.600, como reflexo da escassez, aquecimento das águas pelo El Niño, um rescaldo da superprodução de anos anteriores e baixa recompra dos maiores importadores. Na esfera doméstica, o pesadelo da instabilidade. Os dois cenários, combinados a uma certa dose de coincidência, podem explicar a baixa participação das conservas na Apas deste ano – um setor tradicionalmente forte. As duas gigantes do segmento, Gomes da Costa e Camil/Coqueiro, não deram as caras. Diante do cenário, a Robinson Crusoe, marca do grupo espanhol Jealsa-Rianxeira para a América Latina, viu-se sem concorrentes – condição rara no ramo. David Pontes
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Na Marbelize, a equipe comandada por Andrés Cuka (à dir.) se fortaleceu em uma Apas sem Gomes da Costa e Camil
Cavalcante, diretor comercial da filial brasileira baseada em Fortaleza, está seguro quanto ao posicionamento para bater a concorrência. “Tenho a ideia de que com preço não se mantém mercado e temos alguns exemplos disso em nosso setor.” A busca pela diferenciação, segundo ele, começa na matéria-prima. A Robinson montou uma rede de aproximadamente 700 pescadores cearenses para garantir o atum fresco, nacional e suportar a estratégia de crescer nesta categoria: “Um dos poucos mercados do mundo em que se vende mais sardinha do que atum é o Brasil. O mercado em geral é 70% de consumo de sardinha e 30% de atum. Ainda estamos um pouco abaixo, mas queremos chegar nos 30% de atum.” Reflexo do grande foco inicial no mercado nordestino, que aos poucos deve crescer para abranger outras regiões. “Começamos a operar com a fábrica em 2015 em todos os nove Estados do Nordeste e tivemos uma forte expansão na região com distribuidores, canal direto, indireto, varejo, key account. Agora queremos crescer no resto do País”, diz Cavalcante. Uma das cartas na manga é um atum sólido em óleo de girassol em 80g com tampa abre-fácil, para servir como porção única de preço individual 55% mais baixo. Quem também quer sair da mesmice são os equatorianos da Marbelize. Depois de anos atuando em parceria com distribuidores locais e iniciativas pontuais com marca própria, a empresa pretende desembarcar de vez com uma oferta abrangente de congelados. “Já temos ‘Dipoas’ para azeitona recheada de atum, hambúrguer de atum, nuggets de atum. Estamos em negociação com uma empresa que maneja em torno de 40 contêineres mensais de várias proteínas. Isso nos dá uma visão
Christiane Ferreira e David Pontes Cavalcante, da Robinson Crusoe: marketing e comercial juntos para ampliar presença em todo o Brasil; no destaque, lata de 80g tem preço 55% menor que lata de 170g de onde podemos chegar no mercado brasileiro”, vislumbra o gerente geral, Andrés Cuka. Depois do terremoto que afetou suas estruturas e funcionários em 2016, já aqueceu motores e está processando 160 toneladas diárias, ante as 110 do ano passado. São seis barcos, responsáveis por 55% da captura das 40 mil toneladas processadas anualmente. Uma máquina robusta, que até então havia abastecido fortemente as cozinhas profissionais. “Atacamos o food service com pouches de 1 kg, 3 kg e 7 kg. Essa é nossa vantagem competitiva porque a concorrência não tem essa diversidade e velocidade de produção destes formatos”, garante. O volume realmente impressiona: 1,1 milhão de bolsas mensais. O Brasil já é o terceiro mercado mundial mais importante para a Marbelize, depois da Espanha e a Alemanha. Mas a missão de Cuka é crescer no varejo – que hoje corresponde a 30% do faturamento. “A ausência da GDC nos dá uma sensação de que podemos penetrar muito mais no mercado e; como nos devemos nos posicionar é o desafio pós-feira.” A briga promete ser boa, já que para a Apas 2018 os equatorianos deverão ter até estande próprio.
Demografia a favor
Os norte-americanos sabem muito bem o potencial do produto por aqui. “Existe uma grande população japonesa no Brasil, muito urbana, com ótima renda e altos níveis educacionais. Essa demografia tende a ser muito favorável para sushi e pescado selvagem e importado”, ressalta o CEO da empresa, Ian Smith.
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Abrir mercados como o da colônia oriental no Brasil para o produto exigiu investimentos não só comerciais. De acordo com Stephen Boudreau, gerente de desenvolvimento da divisão do hokkigai, a Clearwater aportou US$ 150 milhões em três barcos para a captura de 8 mil toneladas do produto em dois bancos de pesca no Atlântico Norte, volume equivalente a 100% da cota das províncias de Nova Scotia e Newfoundland. “Somos os únicos pescando esta espécie, certificada pela MSC, 24 horas o ano todo.”
Stephen Boudreau, Ian Smith e Ezequiel Navatta, da Clearwater; no detalhe, hokkigai que a reportagem teve a chance de experimentar
Toda a captura é congelada a bordo individualmente (IQF) e depois porcionada de acordo com a aplicação. O representante da empresa para a América do Sul, Ezequiel Navatta, conta que no Brasil a venda do produto ocorre na caixa de 1 kg, mas também tem o corte especial acondicionado em bandejas de isopor. “É o prime cut: cortamos a língua na metade, 20-22 peças por bandeja e embalamos a vácuo.”
Pescados com qualidade
Matéria-prima da melhor procedência, ótimas práticas de fabricação, instalações que respeitam a legislação e equipamentos de congelamento ultrarrápido são alguns dos fatores que garantem o padrão de qualidade Natubrás. São camarões, lulas, mexilhões, polvos e cortes nobres de peixes, em embalagens práticas e seguras ao consumidor.
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E
m uma sociedade tão estratificada como a brasileira, os exportadores enxergam um espaço relevante para produtos de altíssimo padrão. É o caso da canadense Clearwater, cujas vieiras e caudas da lagosta Homarus americanus já conhecidas por restaurantes de alto padrão agora ganham a companhia do hokkigai – um molusco triangular muito apreciado na Ásia pelo seu sabor delicado e pelo degradê de cores que culmina em um vermelho vivo quando cozido.
O sabor que faz a diferença
Marketing & Investimentos
Supermercado do pescado
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em Temer, nem gravação oculta. O tema central da feira Apas Show 2017 foi a rápida recuperação do setor varejista, que registrou 7,1% mais em 2016 que no ano anterior. As 89 mil lojas supermercadistas foram bem representadas pelos 74,2 mil visitantes, 719 expositores, dos quais em torno de 40 ofereceram pescado.
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Raymundo Rebouças e Rubens Salles (Aquacrusta) e Jesus Caramés (Opergel)
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Sereia, Marcos Lima, Fabricio Ribeiro e João Miranda (Geneseas), Paulo Christofani (JBS) e Sereia.
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Rodolfo Assis e Antonio Guimarães (Soguima) e Igor Cunha (Orleans & Castro)
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Alexandre Pavan (Iglu Pescados), Oscar Polleti (Pampa Fish), Orlando Murgi
(Pampa Fish), Mauricio Monteiro (Piscare) e Kelly Caracho
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Ignacio Gonzalez e Carolina Huertas (Congelados Artico)
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Mariano Mateos, David Pouces e Agustin Caicega (Grupo Polo Sur) e Dagoberto Castoldi (Cais do Atlântico)
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Claudio Seffino (Seffino Trading), Ederson Carlos (Trovão Pescados), Carlos
Serra (Coomarpes), José Pereira (Trovão Pescados) e Guilherme de Souza (Trovão Pescados)
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Diretores da Golden Foods e Família
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Milena Figueiredo e Guilherme Blanke (Noronha), Carolina Alcalá, Maria Isabel de Oliveira (Imagine), Sabrina Rossetto e Camila Lima Cunha (Dia)
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Tainã Alfano e Marcilio Gustavo Alfano (Di Salerno)
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Gustavo Vittoretti (CS Foods), Marcos Minchiotti (Itanav), Gisele Ciriaco (GPA) e Marcio Ortega (Fenix)
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Ricardo Pereira (Walmart), James Loureiro (Noronha), José Noeli (Walmart) e Milena Figueiredo (Noronha)
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Marcelo Eiger (Trident Seafoods), Lincon Dubiela e Thiago Nogueira (Sirius Brazil)
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Eduardo Raskin (Frumar), Lourival Jr. (Walmart) e Luiz Augusto Tondo (Frumar)
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Equipe Blue Marine e Segala’s
Volta com estilo
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om direito a jantar na casa do embaixador em Bruxelas, o Brasil voltou a figurar com um pavilhão verde e amarelo na Seafood Expo Global, entre 25 a 27 de abril. A estrutura foi destaque na feira, com 175m², 11 estandes individuais para as 29 empresas presentes e 3 institucionais para as entidades setoriais.
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Delegação brasileira com empresários e autoridades na abertura do pavilhão Mauro Tadashi Nakata (Piscicultura Cristalina) e Francisco Medeiros (Manso Aquicultura/PeixeBR) Antonio Bulhões (Deputado), Cléber Verde (Deputado), Eduardo Lobo (Abipesca), Dayvson Franklin de Souza (SAP) e Christiano Lobo (Abipesca)
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Basilio Oliveira (SUDER/ RO), Alberto Bicca (ApexBrasil), Jogi Oshiai (E-Lo Consultoria) e Pedro Furlan Cavalcanti (Nativ) Silvia dos Santos (chef brasileira, ao centro) e cozinheiros belgas
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José Madeira, Nanook e Alexa Tonkovich (ASMI)
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João Gabriel Castro (Nordeste Frios) e Rafael Camacho (Marine Soul)
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Diego Roberto (Mundi Trading), Vinicius Orsi (Ayamo), Bernardo e Cassiano Fuck (Cais do Atlântico/Bottarga Gold) e Jean Carlos (Cais do Atlântico) Casper Miller Simonsen e Michael Hjortshøj (Marel)
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Empresários e delegação do Sindfrio-CE
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Manuel Castro Barreiro (Noriberica), Alexandre
Pavan (Iglu), Ricardo Pedroza (Camarões do Brasil), André Pavan (Noriberica) e Miguel Bregieira (Noriberica)
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Ezequiel Navatta e Sarah Freeman (Clearwater) e Rodrigo Nojiri (Kampo Marino)
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Jantar na casa do embaixador do Brasil em Bruxelas reuniu toda a delegação brasileira
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Marcelo Lempé (JP Klausen) e Andreia Leal (Sanford)
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Lion Zhu (Bayang)
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Mariana e Francisco Benvenuti (Seabev)
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Paulo Sampaio e Marco Arce (Qualimar)
Paulo Rech Filho, Sergio Nadir e Ederson Krummenauer (Frumar) e Leandro Francisco (Friocenter)
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de 250g e o kit paella (lula, mexilhão, camarão e cação) com sachê de tempero natural em 400g.
duas guarnições, arroz e batata palha, nos seguintes sabores: camarão ao creme de palmito, ao molho quatro queijos, ao molho Alfredo, ao molho Provençal e a tradicional paella.
Na
Gôndola A oferta de peixes e frutos do mar Todo dia é de peixe
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Aumenta a coleção A já extensa linha da Frescatto Company ganhou mais nove itens apresentados com pompa e circunstância na última Apas. De uma tacada só, na marca Frescatto: lombo de namorado em 500g, camarão pitu em 400g, tentáculos de polvo cozido em 400g (linha tradicional) e lombo de namorado em 450g, medalhão de salmão em 500g, carpaccio de atum e de salmão em 100g (linha premium); na Buona Pesca, porção de salmão em embalagem
Expansão no varejo Líder no fastfood de frutos do mar, a Vivenda do Camarão quer chegar a 2018 com ao menos 20% do faturamento ligado ao varejo. Por isso o ritmo de inovações para as gôndolas continua intenso. O portfólio agora inclui coxinha de camarão ou de bacalhau pouch de 500g e pratos prontos congelados com
Alicerçada na campanha Hoje é Dia de Peixe, a Copacol levou ao estande temático três novidades. A cooperativa ingressa no ramo de petiscos com bolinhos de filé de tilápia e de bacalhau, além da posta de pintado e filé de pintado com pele. Para incentivar o consumo destes e dos demais itens, a empresa criou uma plataforma especial na internet e um aplicativo para dispositivos móveis com receitas, vídeos e informações.
Produtos vencedores do
A volta da gigante Agora sob a batuta de Cristiano Maia e seus mais de 2 mil hectares de produção no CE e RN, a Potiporã volta com força ao varejo para expandir a oferta de camarões com embalagens reformuladas. A nova roupagem chega inicialmente ao camarão descascado cozido congelado 111/130 e 36/40, além do camarão sem cabeça cozido e congelado. Todos em embalagem de 400g.
CELLENCE SEAFOOD EX DS GLOBAL AWAR
Kit de carne de lagosta Entre 43 finalistas, a norte-americana Cozy Harbor, especialista na lagosta do Maine, levou o melhor prêmio da categoria “Varejo” no prêmio Seafood Excellence Global Awards, entregue na feira de Bruxelas, em abril. O kit com carne cozida de cauda, garras e juntas, congelada com nitrogênio líquido, levou o prêmio pela suculência, sabor e fartura: a porção é proveniente de duas lagostas.
Boi + pescado
Alga marinada da Bretanha A Globe Export/Algues de Bretagne levou o prêmio de melhor produto para o canal Horeca (Hotéis, restaurantes e catering) com a sua alga marinada. O produto é cozido e então marinado com temperos, azeite, vinagre e vinho, o que confere um sabor umami que vai muito bem para a culinária japonesa, conforme atestaram os juízes.
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Quem foi à Master Boi na Apas deve ter se surpreendido com a oferta de pescado que a empresa ofereceu. Para aproveitar a capilaridade e os canais de vendas abertos principalmente no Nordeste, a empresa investiu na busca de matéria-prima na área e apresentou camarão, filés de pescada amarela, surubim, tilápia e postas diversas: corvina, dourada, piramutaba, serra, tilápia e uritinga; além de sardinha e xerelete.
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Financiamento, dificuldades técnicas para o cultivo, ração inadequada, enfermidades; nada disso causa mais dor de cabeça aos piscicultores do que o licenciamento da atividade
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Tempo de legalizar
A
Texto: Ricardo Torres
Regal Springs decidiu que finalmente desembarcaria aqui para construir um complexo de cultivo e processamento de tilápia. Com a cadeia produtiva em ascensão, o Brasil foi escolhido a dedo para a estratégia de internacionalização
da companhia. O negócio começou a tomar corpo após surgir um parceiro local, que assumiu a incumbência de conseguir o licenciamento para o empreendimento. Dois anos se passaram sem nenhum retorno e a multinacional resolveu transferir seu projeto para o México.
Se o leitor acha que estamos falando da Tilabras, maior projeto já desenvolvido para o cultivo da espécie em território nacional, está enganado. O ano do parágrafo acima era 2003 e o cenário era Paulo Afonso (BA), 2400 km distante de Selvíria (MS). A então Secretaria Especial de Aquicultura
A dispersão e falta de diálogo entre os múltiplos atores do processo – sem cujos laudos a outorga nunca sairia – era evidente: Agência Nacional de Águas (ANA), Companhia Hidrelétrica do São Francisco (Chesf), Ministério da Ciência e Tecnologia e o Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs) deveriam emitir pareceres sobre o projeto. A Braspeixes – o parceiro local – só conseguiu algum resultado depois de visitar a residência de Renan Calheiros em Brasília e conseguir do próprio um telefonema ao presidente da ANA. Duas semanas depois, uma caravana com quatro carros levaria técnicos de todos os órgãos para uma peregrinação pelo Nordeste. Antes mesmo de terminar a viagem as licenças já haviam sido aprovadas pelos especialistas, incrédulos com a capacidade de reservatórios como Jucazinho, Serrinha, Ibimirim, Canudos e Paulo Afonso para a criação de peixes em pleno sertão nordestino. Só que o tempo do dinheiro não é o mesmo tempo de Brasília. A Braspeixes tinha mais de 100 licenças entre Pernambuco e Bahia, cada uma de 250 ou 300 toneladas por ano, para transferir a outorga a associações de produtores que venderiam para o frigorífico da Regal Springs. “Com essa demora, eles abriram no México e eu fiquei com todas as licenças sozinho. O ambiente não era favorável e desisti de tudo, só fiquei com a minha fazenda em Glória (BA), para 250 toneladas por mês”, conta o diretor, Mahmoud Wehbi. Doze anos depois, a história se repetiria. Anunciado com toda a pompa que merecia, o complexo que a Regal Springs decidiu construir em Selvíria
(MS) movimentou todo o País. Governadores e prefeitos se refestelaram, capitalizando em cima dos 3 mil empregos esperados e a arrecadação que um projeto de R$ 150 milhões é capaz de injetar nos cofres públicos. Fato é que nenhuma pedra foi erguida desde 2015, quando a jointventure da empresa norte-americana com o fundo Axial Par (o mesmo que detém o controle da Mar & Terra), batizada Tilabras, estampou pela primeira vez as manchetes de todo o País. Dois anos se passaram até que, em 8 de junho deste ano, o ministro da Agricultura, Blairo Maggi, finalmente assinou a concessão de uso de água da União no lago da UHE Ilha Solteira para produção de peixes em Selvíria (MS). Entre o anúncio e a outorga, o CEO designado para o negócio, Sylvio Santoro, bateu em muitas portas. Tarde demais. Às voltas com uma mudança profunda no comando, a partir da saída do fundador, Rudi Lamprecht e sua filha, Magdalena
Wallhoff, a Regal teria desistido do negócio, segundo contaram à Seafood Brasil fontes a par do projeto. Agora que as licenças saíram, o Axial deve executar um projeto 10 vezes menos ambicioso. Santoro não quis comentar a decisão, que culminou no seu afastamento do projeto. Nicolas Landolt, administrador da holding, tampouco falou à reportagem. Em Bruxelas, depois de dois dias de tentativas, nossa reportagem foi finalmente recebida para ouvir, extraoficialmente, que a participação da multinacional estava suspensa até segunda ordem. A segunda fuga da Regal Springs do Brasil diz muito sobre o ambiente brasileiro para investimentos deste ou de qualquer outro porte. Se quisermos realizar o potencial que o mundo nos atribui, precisamos criar uma concertação nacional para resolver de uma vez o arcabouço legal da atividade. Veja, nas próximas páginas, como alguns Estados estão lidando com a questão.
Desânimo e silêncio no estande da Regal em Bruxelas, onde haveria um encontro de todos os envolvidos na operação: ninguém confirma oficialmente, mas a gigante mundial da tilápia desistiu da Tilabras
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e Pesca (Seap) havia acabado de sair da caneta do ex-presidente Lula e mal tinha definido como funcionariam os processos de gestão de águas públicas, que depois se converteriam no modelo de parques aquícolas e suas cessões onerosa e não onerosa.
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Terreno fértil para múltiplas espécies
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erimônias de abertura de eventos com a participação de políticos sempre seguem um protocolo tão extenso muitas vezes difícil de suportar por uma plateia mais técnica. Só que ninguém deixou a sala na Aquishow (leia mais sobre o evento na pág. 44) quando os presentes saudaram o secretário do meio ambiente, Ricardo Salles, como um parceiro do setor. Ele é visto como um facilitador e mediador eficiente de polêmicas entre ambientalistas e os produtores, algo incomum para o comandante da Cetesb, órgão ambiental de São Paulo. Salles, fundador do Movimento Endireita Brasil (MEB), não esconde sua orientação pró-produção. Da sua chegada à pasta até a publicação do decreto executivo que regulamentou a piscicultura no Estado de São Paulo, transcorreram-se 103 dias. “Se o decreto tivesse nome, ele deveria se chamar Ricardo Salles. A piscicultura paulista
vai ter eterno reconhecimento da sua atuação neste processo”. As palavras de Marilsa Patrício Fernandes, secretária municipal de desenvolvimento e aquicultura de Santa Fé do Sul e uma das principais articuladoras do processo, sintetizaram o clima. Tanta benevolência se justifica pelo marco histórico que o decreto (e a lista de espécies cultiváveis no Estado, elaborada pelo Instituto de Pesca) representa. A benção do secretário encerrou uma luta de ao menos cinco anos do setor produtivo por uma legislação capaz de contemplar as demandas. Um decreto estava em discussão desde 2012. Duas versões e três prorrogações depois, apenas 15 empresas haviam conseguido obter o licenciamento a taxas superiores a R$ 7 mil por procedimento. No fim, o custo total ultrapassava R$ 21 mil. Fontes consultadas pela Seafood Brasil atribuem a célere aprovação
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Martinho e Thiago Colpani: tilápia em tanque-rede, panga em viveiro escavado e outras espécies “exóticas” agora podem coexistir legalmente em SP
Sudeste a outro fator: a fuga de empresas para o vizinho Mato Grosso do Sul. Com Geneseas se instalando em Aparecida do Taboado (MS) e o anúncio da Tilabras em Selvíria (MS), o secretário da Agricultura, Arnaldo Jardim, sensibilizou-se. Os lagos de hidrelétricas que fazem divisa com outros Estados possuem capacidade de suporte de 730 mil toneladas, das 800 mil de que o Estado dispõe. Seja qual for o pano de fundo, a existência de um dispositivo legal deu imediata segurança para investimentos. “Só no reservatório de Ilha Solteira são 80 processos tramitando já na fase de licença de operação. De 3 foi para 80”, conta Emerson Esteves, presidente da PeixeSP. Segundo ele, em torno de 80% da produção é composta por pequenos aquicultores, que farão o licenciamento apenas com a declaração de conformidade nas Casas de Agricultura da Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (Cati) espalhadas por diversos municípios paulistas. A adesão dos pequenos, no entanto, está baixa. A Cati procura formas de engajar mais os produtores, já que o licenciamento tem prazo final: 31 de outubro de 2017. “É o objeto de maior preocupação nossa, porque se o produtor é dispensado do licenciamento acha que não precisa fazer nada. Corre o risco de, se houver uma fiscalização, e o piscicultor não tiver o documento de declaração de conformidade, pode ser autuado”, reconhece Fernando Carmo, técnico da regional Jales. É aí que a amizade com Salles pode sofrer abalos. “A Cetesb vai autuar, o secretário deixou isso bem claro. O setor sempre cobrou um licenciamento acessível. Então de fato se não conseguir se licenciar tem de ser autuado”, reconhece Esteves.
A nova legislação também já provoca a recuperação do interesse
na atividade em áreas como o Vale do Ribeira. “A região já foi a maior produtora de peixe do Estado e a segunda do Brasil na década de 1990”, relembra a bióloga Mariuza Lindenberg, da Associação Paulista do Setor Produtivo do Clarias. “O licenciamento passou a ser caríssimo e as pessoas foram abandonando porque ficaram com medo de serem autuadas, mas agora muitas infraestruturas que haviam sido abandonadas começaram a ser reativadas por conta do decreto, da atuação da Cati e IPesca.” O próprio clarias, conhecido como bagre africano, pode receber novo impulso com a autorização para engorda em viveiro escavado.
A experiência de São Paulo pode servir de referência para Minas Gerais. A câmara técnica setorial de aquicultura da Secretaria de Estado de Agricultura já prepara uma minuta de um decreto inspirado no documento paulista, mas há outro problema: a capacitação dos técnicos. “Os técnicos da Semad [Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável] não são preparados para assumir a responsabilidade do licenciamento. Estamos conversando desde a última administração estadual para capacitá-los a terem uma interpretação adequada da legislação”, conta Marco Tulio Peixoto, consultor da 3D Aqua e integrante da câmara.
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Quem se empolgou com o decreto foram os criadores de pangasius, que agora legalizados crescem no ritmo das vendas da espécie no varejo – a bandeira Extra, do GPA, já pediu 200 toneladas por semana do peixe fresco, volume ainda impossível de atender. A recém-criada Associação Brasileira de Criadores de Pangasius (ABC Panga), comandada por Gaetano Furno, já contou ao menos 65 interessados no Estado. “Estamos visitando sítio por sítio e fazenda por fazenda”, garante. A entidade também está realizando, em parceria com a Universidade Federal de São Carlos (Ufscar), um estudo de desempenho zootécnico da espécie.
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Pioneirismo vem do Norte
Recomposição de áreas degradadas em APPs cresce em RO com a piscicultura
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ão há Região mais sensível à introdução de uma espécie exótica como a tilápia do que o Norte do País: a maior bacia hidrográfica do mundo está ali, abrigando uma diversidade ímpar de fauna aquática. Falar em produção de pescado em cativeiro ali, gera reações de todos os tipos. É justamente para responder às discussões sobre o impacto da atividade no local que algumas das experiências mais inovadoras em termos de licenciamento surgiram dali nos últimos anos.
“A visão é abraçar o produtor e empresário, dar a mão e levantá-lo”, explica Ilce Santos Oliveira, assessora especial da Superintendência de Desenvolvimento (Suder). Até 2011, todas as pisciculturas no Estado eram clandestinas e muitas construídas em áreas inapropriadas, como igarapés. Foi quando a Secretaria do Desenvolvimento Ambiental (Sedam) resolveu legalizar os empreendimentos em Áreas de Proteção Permanente (APPs), mediante um acordo de recuperação de áreas degradadas e proibição de novas pisciculturas.
Os números colocam Rondônia na vanguarda do tema. O alto índice produtivo é produto de um esforço combinado de regularização com fomento à produção e ao investimento. “Hoje já são mais de 4000 propriedades com licenciamento ambiental, ao custo de R$ 70 por hectare licenciado”, conta Jenner Bezerra de Menezes, da Biofish. Segundo ele, em apenas 40 dias a licença sai pronta. Com o documento em mãos, o produtor tem crédito facilitado com 6% ao ano de juros pelo Banco da Amazônia, energia subsidiada, desconto no ICMS da ração e do próprio pescado na venda.
Marli Lustosa Nogueira, gerente de pesca, aquicultura e manejo da fauna da Sedam, indica que o processo de regularização gerou uma recuperação efetiva das áreas degradadas. “Muitas áreas já haviam sido desmatadas e a piscicultura ajudou a retomar o curso dos rios e preservar a mata. Hoje a maioria destes cursos já está reconstituindo a mata. O produtor tem interesse nas áreas com boa qualidade de água, então procura preservar os cursos.” Ainda assim, a Sedam tomou algumas precauções, como proibir empreendimentos a 50 metros da nascente.
Fruto de uma decisão governamental de apoio ao produtor.
Com as regras do jogo claras para o meio ambiente e para o produtor, a
Norte atividade floresceu. “A ordem do governo foi que se apoiasse a atividade e que desburocratizasse”, relembra Ilce. Para incentivar os pequenos produtores, o governo criou um arranjo entre as instituições que foi batizado de Água Produtiva, programa que durou até 2015: a Emater fazia o projeto de licenciamento, a Sedam dava prioridade para agilizar e a Secretaria de Agricultura entrava com o maquinário para fazer até 1 hectare de lâmina d’água para o pequeno produtor. “A partir deste momento, o grande empresário percebeu que era uma atividade apoiada.” Em 2011, Rondônia produzia 10 mil toneladas de pescado. O último dado coletado pela Suder indica que o volume atual já ultrapassou as 90 mil toneladas. O desafio é processar tanto peixe. Apesar de dois frigoríficos operarem no Estado (Zaltana e Santa Clara), a maior parte do peixe ainda é vendida como matéria-prima para processamento em outros Estados, como o vizinho Acre, que abriga o complexo da Peixes da Amazônia. Lá também já existe uma legislação específica que oferece processo simplificado para unidades produtivas de até 5 hectares. Como explica Fabio Vaz, ex-secretário adjunto de Desenvolvimento Florestal, da Indústria, do Comércio e dos Serviços Sustentáveis e hoje à frente do complexo da Peixes, para as demais unidades de produção acima as licenças são disciplinadas e orientadas por dois instrumentos de gestão territorial. “Um é o Zoneamento Ecológico Econômico, que orienta onde atividades com ação antrópicas podem ocorrer. O outro é o zoneamento da piscicultura, que identifica a capacidade de suporte da atividade em cada subbacia hidrográfica.”
É justamente por estar cercado pelo Pará, Maranhão, Piauí, Bahia e Goiás que o Tocantins abriga uma das maiores contradições no ordenamento aquícola brasileiro, segundo o chefe geral da Embrapa Pesca e Aquicultura, Carlos Magno Campos da Rocha. “Todos os rios que contribuem com a bacia Araguaia-
Tocantins tem registro de tilápia. No entanto, apesar de o Ibama ter reconhecido esta presença o Naturatins [órgão ambiental local] não licencia nenhum cultivo por se tratar de espécie exótica.” Parte do órgão ambiental e até o ex-secretário de Agricultura do Tocantins, Roberto Sahium, fincaram pé na posição contrária. Defendem o cultivo apenas de espécies amazônicas, pois temem uma corrida para a tilápia que deixaria desamparada a cadeia dos nativos, além de uma suposta dominação frente a outras espécies. Os defensores da commodity dizem que haverá espaço para todos e muita atração de investimentos, já que as condições naturais permitiriam até 2,5 ciclos produtivos por ano; sobre a dominação, predadores vorazes como o tucunaré, cachorra e até o pirarucu dariam conta das que eventualmente escapassem dos tanques-rede.
A briga já dura meses, com direito a agressão verbal via imprensa local, mas pode estar próxima do fim com uma solução equilibrada, inspirada no modelo de Goiás. As pisciculturas instaladas em Serra da Mesa que operam com a tilápia são obrigadas a cultivar também duas espécies nativas. Uma comissão técnica formada pelo Naturatins visitou a região e prepara um relatório com um parecer sobre o tema para ser votado no Conselho do Meio Ambiente (Coema). “A expectativa é de aprovação. Se o Coema aprova uma resolução, passa a ser uma normativa do órgão ambiental e funcionará como uma lei”, avalia Magno. Ele acredita que a aprovação deve atrair investimentos capazes de beneficiar inclusive os produtores de nativos. Talvez por isso, a resistência tem cada vez menos vozes.
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Ele frisa que considera a legislação avançada, mas é cauteloso ao indicar o modelo a outros Estados. “Legislação avançada não pode ser entendida apenas como medidas para facilitar atividades sem precauções; e nem restrições que impedem o desenvolvimento das atividades.” Encontrar este equilíbrio tem sido uma tarefa árdua em Tocantins. O Estado não deslanchou na piscicultura por não ter uma cadeia produtiva bem estabelecida para os peixes nativos, apesar de ter água em abundância e uma boa conexão com outras Regiões.
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Cooperativismo ambiental
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e as incontáveis multas e autuações houvessem abalado o ânimo dos paranaenses entre os anos 2001 a 2004, talvez hoje o Estado não seria o maior produtor de tilápia do Brasil. Em 2001, um procurador acolheu um pedido de investigação sobre a introdução da espécie na bacia do Paranapanema, rio que faz a divisa com São Paulo. Três anos depois, o MP de Maringá foi acionado e determinou a mesma apuração.
O Instituto Ambiental do Paraná (IAP) acatou e publicou uma portaria, em agosto de 2009, reconhecendo a tilápia em todas as bacias do Estado. Na sequência, saíram as condicionantes do licenciamento conforme o tamanho da atividade. Hoje o Estado tem a Dispensa do Licenciamento Ambiental (DLAE) para áreas de até 10 mil m2, de uso não comercial, e um sistema que aumenta as exigências conforme o tamanho e produtividade dos cultivos comerciais.
O detalhe é que o primeiro registro da espécie no Paraná data da década de 80, quando a então responsável por alguns dos principais reservatórios da região, a Centrais Elétricas de São Paulo (Cesp) determinou peixamento com várias espécies, inclusive a tilápia. O Ibama, inclusive, já havia reconhecido em 1998 a introdução da tilápia na bacia do Alto Paraná. Apesar disso, além das multas, o licenciamento não saía. Até que a incumbência do licenciamento ambiental fora das águas da União passou aos órgãos ambientais estaduais.
“Nossa legislação serviu de base para o decreto de São Paulo”, conta Luiz Eduardo Sá Barreto, o Lula, técnico da Emater que acompanha o processo desde o início. “No Norte do Paraná, as pisciculturas não são tão grandes e se enquadram ou no simplificado ou na dispensa. Hoje temos produtores entrando na atividade e se regularizando, pois o Iap tem facilitado essa regularização das propriedades.” Segundo ele, isso estimulou muito a atividade. “O piscicultor estava meio perdido, não tinha muita segurança de produzir e não ser autuado.”
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Para Lula, da Emater-PR, licenciamento estimulou muito a atividade
Sul Ele garante que todos estão buscando a regularização, mas os que estão começando precisam receber instruções de órgãos como a Emater para atentar ao impacto ambiental. “Orientamos que se deve seguir a legislação quanto à localização, captação e despejo de água, tanques de decantação etc. Mas para quem estava envolvido e tinha a atividade ilegal, facilitou muito”, sublinha Lula. Facilitar é palavra de ordem para Taciano César Freire Maranhão, engenheiro de pesca e coordenador do licenciamento ambiental de aquicultura e pesca do Iap. O diálogo com os produtores é frequente. Toda segunda-feira, o órgão abre as portas (ou as linhas telefônicas), para atender a população. “A piscicultura ainda é pequena perto de aves e piscicultura, em comparação com o setor agropecuário, hoje é o terceiro setor do licenciamento.” É por isso que precisa crescer direito. O esforço de regularização deu resultado. “São 2600 licenças ambientais para aquicultura, inclusive criação de ostras, aquaponia e camarão marinho em Maringá (PR). Em torno de 80% das propriedades com licenciamento ambiental são com viveiros escavados para tilápia em nível industrial. O restante ou é cultivo marinho ou produção em tanques-rede instalados em reservatório público”, conta Maranhão. Apesar de reconhecer os benefícios do licenciamento aos produtores, o especialista pontua que a legislação ainda precisa melhorar. “Com o novo Código Florestal, 90% dos produtores com viveiros construídos antes de 2008 tem parte da estrutura em Áreas de Proteção Permanente (APPs). Temos de
Foi justamente para orientar o produtor e evitar estes problemas que a Copacol, hoje a maior processadora de tilápia do Brasil, criou uma área específica para a legalização dos empreendimentos de seus produtores integrados – 100% viveiros escavados de até 6 hectares de lâminas d’água. “A cooperativa já fazia licenciamento para avicultura e suinocultura e, semelhante a isso, resolvemos fazer para piscicultura. Em geral ninguém tinha licenciamento”, lembra Ilson
Mahl, supervisor de assistência técnica da cooperativa.
Taciano Maranhão, do IAP: diálogo com produtores é frequente
Desde 2010, no entanto, nenhuma piscicultura integrada começa a operar sem licenciamento. Em torno de 90% das áreas estão licenciadas. “Algumas precisam fazer adaptações, como uma lagoa de decantação, para a qual às vezes não tem espaço. Imagino que em até 1 ano e meio tudo estará licenciado.” Para dar conta do aumento de produção projetado para este ano – 140 mil peixes/dia – a empresa contratou mais três técnicos, totalizando 12 pessoas. Além da preparação prévia, os funcionários fazem visitas técnicas a cada 15 dias. “Atualmente, já passamos 200 integrados e mais 35 estão em fase final de adesão”, contabiliza Mahl.
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buscar um caminho para legalizar, criar mecanismos de compensação; será um processo mais demorado.” Outro ponto é a intensificação, que já gera problemas de qualidade de água e controle de efluentes.
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Quatro biomas, três caminhos legais
Centro Oeste
o empreendimento seria legalizado mediante a autorização da Secretaria de Meio Ambiente (Sema) e/ou do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (IBAMA). O cultivo em até 2 hectares de lâminas d’água para tanques escavados recebeu dispensa de licença ambiental.
Produção em Serra da Mesa (GO): discussão sobre regulamentação da piscicultura vem da década de 1990
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uando, em 11 de maio deste ano, União entregou a autorização de instalação de tanques-rede nos lagos e usinas hidrelétricas de Jupiá e Ilha Solteira, no Rio Paraná, não se sabia ainda da mudança de planos da Regal Springs no Brasil. A área licitada para cultivo de tilápia em tanque-rede nos dois reservatórios, para a Tilabras e Geneseas, foi de 554 hectares de lâmina d’água, capazes de produzir 120 mil toneladas por ano. A concessão para a produção entre Aparecida do Taboado e Três Lagoas pode não ter acontecido no tempo esperado, já que a concessão de águas públicas depende do governo federal. O governo do Estado, porém, tem uma trajetória de apoio à regularização da piscicultura, como explica Francisco Medeiros, da PeixeBR. “Foi o primeiro governo estadual a identificar a necessidade de criar uma
legislação moderna para atrair novos investimentos e, assim, aproveitar a oportunidade.”
Em abril deste ano, em uma evolução do decreto de 2010, o limite foi estendido a 5 hectares, basta o produtor fazer o cadastro no site do Instituto de Meio Ambiente do Mato Grosso do Sul (Imasul). Se não passa de 2 hectares, nem precisa comunicar a autoridade. Nesses tanques só é permitido criar espécies nativas, como pacu, pintado, piraputanga, dourado e curimba, embora haja autorização para algumas espécies de outras bacias hidrográficas.
O esforço remonta a 1999, quando o Estado então comandado por Zeca do PT estimulou as discussões no âmbito de uma câmara setorial que pretendiam orientar e regulamentar as atividades da piscicultura. As conversas culminaram na publicação do Decreto nº 9.845, de 10 de março de 2000, que concedia incentivos e promove ações de pesquisa, assistência técnica, fomento, defesa sanitária, qualificação de recursos humanos, organização rural e outras, necessárias ao desenvolvimento da atividade.
Além de legalizar a atividade, o programa deu isenção tributária a produtores de alevinos para as operações internas e redução de 60% na alíquota do ICMS para operações interestaduais, como explica Fernanda Oliveira, analista técnica da Famasul – que representa os interesses dos produtores e dos sindicatos rurais do Estado. “Para os demais produtores em operações internas, foi concedido um incentivo financeiro correspondente a 50% do ICMS (3,5%) a ser pago pela indústria credenciada, e operações interestaduais uma concessão de crédito outorgado no valor correspondente a 50% do ICMS (6%)”, explica.
Chamado de projeto “Peixe Vida”, foi acompanhado da resolução conjunta nº22, criada pela Secretaria de Produção e Desenvolvimento Sustentável e Secretaria de Fazenda. Entre outras atribuições, o dispositivo definia que
A Famasul aproveitou o ambiente favorável à produção para criar um programa de Assistência Técnica e Gerencial específico (ATeG Piscicultura), em parceria com o Serviço de Aprendizagem Rural (Senar MS). Em torno de 70 produtores
A ambição do MS é bem vista no Centro-Oeste, mas outros Estados da região também correm por fora. Nas primeiras semanas de maio deste ano, Goiás recebeu 391 contratos nas duas modalidades de cessão de águas públicas criadas pelo programa de parques aquícolas do governo federal.
Agora só falta a assinatura do secretário de Aquicultura e Pesca do MDIC, Dayvson Franklin de Souza. Algo que parecia impensável doze anos atrás. Paulo Roberto Silveira Filho, presidente da Associação Goiana de Piscicultores (AGP), lembra do drama e das incoerências do processo que regulamentou a tilápia no Estado. Tudo começou em 2005, quando o Ministério Público Estadual questionou porque unidades demonstrativas de piscicultura no Estado estavam usando tilápia. “Eles disseram que era exótica e invasora, mas o Ibama já dizia que ela estava introduzida na bacia do Araguaia-Tocantins.” A questão parecia superada, inclusive com a autorização concedida ao cultivo de tilápia em tanques-rede
Fernanda Oliveira, da Famasul: MS tem legislação específica desde 2000
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rurais recebem cursos de formação e atualização em Campo Grande, Jaraguari, Dourados, Ponta Porã e Laguna Carapã. “A vertente tem encontrado ‘terreno fértil’ em Mato Grosso do Sul, local onde a economia é sustentada no mercado da pecuária e agricultura, mas que vem abrindo espaço para outras atividades tão rentáveis como a piscicultura”, diz Fernanda. Tudo para sair, segundo ela, do 10º lugar no ranking de produção da PeixeBR para o primeiro.
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Paulo Roberto Silveira Filho, presidente da Associação Goiana de Piscicultores
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para diversos produtores. Depois de um longo e atribulado processo de demarcação dos parques aquícolas, os empresários já se programavam para investir quando às 17h de uma sextafeira de 2015 Paulo Roberto recebeu uma ligação do então Ministério da Pesca e Aquicultura (MPA). “Disseram que tinham um problema: a secretaria de Meio Ambiente de Goiás [Sema] não liberaria a tilápia, entendido como exótico.” O presidente da AGP então conseguiu uma reunião com a Sema. Os técnicos disseram que a tilápia não tinha predador voraz na bacia e representaria uma ameaça. Depois de ouvir de Paulo Roberto que até tucunaré – espécie altamente predadora – havia ali, o secretário, Vilmar Rocha, prometeu reavaliar o caso. Nada aconteceu. Outra reunião foi agendada com a presença do procurador da secretaria, que apresentou um parecer técnico proibindo a tilápia. “Só que ele não sabia que já havia até licença assinada”, conta. Ainda assim, o processo só foi solucionado em Brasília, na presença do então ministro do MPA, Helder Barbalho, o outrora presidente do Ibama, Volney Zanardi Júnior, o
governador de GO, Marconi Perillo, e o próprio secretário Vilmar Rocha, além dos respectivos corpos técnicos. “Apresentamos o argumento de que o Ibama já liberava a tilápia por se encontrar na bacia. Com todo mundo na mesa redonda, o Marconi se vira ao Vilmar e o pressiona a liberar. Vilmar disse que só aceitaria com uma autorização do Ibama.”
Melo, presidente da Aquamat. Ele diz entender o receio do órgão ambiental, mas não na tilápia como responsável por alterar a fauna. “Na região temos dourado, piranha, jacaré, pintado, tucunaré, peixes carnívoros que não permitiriam a proliferação da tilápia. O técnico hoje tem responsabilidade pelo que assina, mas ele pode se sentir mais protegido quando a lei for aprovada.”
Até a liberação, o processo durou mais um ano. “Eles simplesmente reproduziram o que o Ibama já tinha de entendimento e o secretário aceitou.” Em todo o período de negociação, qualquer novo licenciamento com tilápia, até em viveiro escavado, estava totalmente suspenso no Estado. Agora Paulo Roberto quer tirar o atraso e apoiar a aprovação de uma lei que tramita na Assembleia Legislativa e está sendo construída em parceria com a Sema para regulamentar toda a atividade. “Se passar será um benefício gigantesco, não digo em questão de afrouxamento, mas para desburocratizar a atividade.”
Ele se refere a um projeto de lei em tramitação cuja versão pretendida pelos produtores indica expressamente que os projetos de piscicultura destinados à produção de alevinos e peixes híbridos, espécies exóticas, nativas ou alóctones, deverão obedecer a critérios como solidez necessária à contenção de água, proteção de taludes e ladrões contra erosão, além da construção de dispositivos de proteção contra a fuga de peixes para o meio ambiente (telas, filtros, tanques de peixes nativos predadores, tanque de jacaré, etc). Caso seja aprovada, Melo acredita que logo de cara só o lago do Manso vai possibilitar um aumento de 30 mil toneladas por ano na produção do Estado – hoje o 4º produtor nacional, com 59,9 mil toneladas.
A vizinhança segue a mesma trilha. Segundo a PeixeBR, Mato Grosso foi referência ao criar uma legislação para regulamentar a atividade de piscicultura, em 2006. A lei federal 11.959 e a resolução do Conama 413 só surgiram em 2009. “Se pegar a base da lei federal é a lei do Mato Grosso”, diz Medeiros. A batalha foi grande com os órgãos ambientais, porque o Estado se insere dentro de três biomas: Amazônia, Cerrado e Pantanal. Hoje a lei permite criar peixes exóticos, mas o órgão ambiental entende que em tanque-rede o cultivo é proibido, já que os técnicos não liberam. É justamente a batalha que empreendem agora os piscicultores capitaneados pela Associação dos Aquicultores de Mato Grosso (Aquamat), que negociam a introdução da modalidade desde o fim de 2016. “Queremos que a tilápia possa ser uma alternativa aos produtores da região, pois traz uma produtividade alta ao piscicultor”, opina Daniel
Daniel Melo, presidente da Aquamat, quer tilápia no Mato Grosso
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Discussão exótica
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publicação da lista de espécies cultiváveis na forma de uma portaria do Instituto de Pesca de São Paulo trouxe uma inovação para todo o Brasil no que diz respeito ao tratamento legal, com base em ciência, das diferentes espécies de interesse da aquicultura no País. Rapidamente, tornou-se referência no País por harmonizar o que já havia de legislação que afetasse os paulistas. “Para a edição dessa lista, nosso corpo técnico considerou todas as Resoluções, Instruções Normativas e Ordenamentos de órgãos como Instituto Brasileiro do Meio Ambiento e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e Ministérios da Agricultura e Meio Ambiente”, explicou na ocasião do lançamento o diretor de departamento do IP, Luiz Marques da Silva Ayroza. Para que o modelo seja seguido nacionalmente, porém, ainda é preciso pacificar o entendimento sobre a intro-
dução de espécies exóticas e híbridos entre quem produz e quem regulamenta. Conheça a seguir o que está em jogo nas legislações atualmente em discussão, segundo as fontes acionadas para esta reportagem.
Espécies exóticas e alóctones O Ministério do Meio Ambiente publicou em 2016 uma cartilha denominada “Espécies exóticas invasoras de águas continentais no Brasil”, em que define estas espécies introduzidas a partir de outro ambiente como as que se adaptam e se proliferam exageradamente, competindo por recursos naturais e muitas vezes predando a fauna local. O setor produtivo questiona essa percepção, que embasa a proibição do cultivo em muitos Estados, quando aplicada a peixes de valor comercial, como tilápia e carpa, pela inexistência de estudos que comprovem a deterioração no caso das espécies estabelecidas aqui.
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Jomar Carvalho Filho, da Panorama da Aquicultura, mediou acalorado debate sobre exóticos na Aquishow
Alguns inclusive pretendem classificar as espécies exóticas já introduzidas em outras bacias há mais de 60 anos, sem registro de impactos às espécies nativas, como “naturalizadas”. Os animais brasileiros de outras bacias são considerados alóctones, em oposição aos nativos ou autóctones.
Híbridos Espécies nativas de alto valor comercial apresentaram melhores resultados no cativeiro depois de passarem por manipulação genética. A tambatinga (cruzamento de tambaqui com pirapitinga) e o pintado da Amazônia (mistura de cachara com jundiá) são alguns exemplos criados pelos próprios produtores sem a mediação da ciência por falta de pesquisa especializada. O temor de estes híbridos “contaminarem geneticamente” a linhagem original fez com que as legislações considerassem em geral o cultivo destas
espécies apenas em viveiros escavados. Outra linha sugere, no entanto, que os autóctones usados para a piscicultura podem ser ainda mais nocivos que os híbridos no caso de escape, por já estarem totalmente adaptados àquela bacia e também sofrerem uma seleção genética ao longo do tempo.
Impacto ambiental Pesquisadores de ictiofauna garantem não serem contra a piscicultura, mas demonstram preocupação do que espécies exóticas, alóctones ou híbridos podem causar de danos aos nativos caso escapem de ambientes confinados. Por isso, defendem a produção de espécies nativas. A Lei Federal nº 11.959/2009 afirma que é responsabilidade do aquicultor garantir a contenção dos
espécimes exóticos no âmbito do cativeiro, impedindo seu acesso às águas de drenagens de bacias hidrográficas brasileiras. A definição de tais instrumentos, no entanto, não está clara. O setor privado diz que as legislações deveriam se debruçar mais justamente sobre a segurança do cultivo e não sobre a proibição ou liberação sem base científica. Há questões produtivas também: o pacote tecnológico de espécies como o pirarucu está longe de uma definição, o que ainda deixa seu cultivo financeiramente inviável, muito ao contrário de espécies como a tilápia. O MMA cita a perca-do-nilo (Lates niloticus) no Lago Victoria, na África,
que teria sido responsável pela extinção de 200 espécies endêmicas em conjunto com atividades antrópicas (ação humana). No Brasil, segundo o Ibama, são 1073 registros de peixe exóticos no Brasil, mas a própria cartilha não traz estudos que apontem um impacto tão definitivo quanto o exemplo africano de espécies já introduzidas há décadas no Brasil e commodities no exterior, como as carpas e a tilápia. Há estudos que mostram como a ictiofauna se alterou em ambientes com lagos artificiais formados por barragens e hidrelétricas e outras ações antrópicas, mas não que mostrem uma relação direta entre o impacto e o uso de espécies exóticas pela aquicultura.
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Aquishow 2017 assume vocação para negócios
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Aquishow 2017 abrigou muito mais do que um debate acalorado sobre a aquicultura com espécies exóticas. Natural fórum para todo tipo de discussão sobre o setor, o evento deste ano mostrou uma vocação comercial fortalecida com a organização realizada por um colegiado de instituições comandado pela PeixeSP. O ganho na estrutura e no ambiente para negócios foi notável, segundo os 44 expositores com tecnologias distintas como extrusoras, telas e tanques-rede, ração, outras estruturas de cultivo, genética e até equipamentos de abate e processamento. E a visitação correspondeu. Com um filtro financeiro – quem não era do setor pagava R$ 70 de entrada – a feira trouxe um perfil mais afeito à aquicultura com 2000 representantes de todo o Brasil e até do exterior. “Trabalhamos muito para fazer da Aquishow a maior feira de negócio da aquicultura brasileira e o objetivo foi alcançado, estamos orgulhosos da parceria entre Peixe SP e parceiros,
que viabilizou esse grandioso evento”, indica Emerson Esteves, que se movimentava freneticamente de um lado a outro com Marilsa Patrício, ambos da PeixeSP. Com essa segurança, as empresas se concentraram nos negócios. “A Aquishow atingiu a maioridade e se candidatou a ser a feira mais importante da piscicultura no Brasil”, decretou João Manoel Cordeiro, gerente de aquafeed da Guabi. O executivo aproveitou a feira para antecipar o lançamento, previsto para setembro, de uma extensão da linha Guabi Tech que contemplará produtos específicos para tilápia, peixes redondos e carnívoros. O movimento e qualidade da visitação também chamaram a atenção de Graziela da Silva, gerente de aves, suínos e aquicultura da Phibro Saúde Animal. “Foram pessoas que trabalham na área, tem conhecimento e ansiedade para conhecer tecnologias e melhorar a produção.” O interesse gerou bons resultados para a linha
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Complexo Turístico, Cultural e Histórico Roberto Rollemberg, em Santa Fé do Sul: espaço de exposição da Aquishow deve dobrar em 2018
do antibiótico TM 700 e o promotor de crescimento PAQ-Gro, lançado na Fenacam de 2016. André Camargo, sócio da Escama Forte, participa desde 2009, o primeiro ano, e viu um novo ânimo entre os visitantes. “A feira reflete que o momento é bom. Muita gente com conversa séria e geração de negócios, em outros anos as pessoas parece que vinham para se encontrar.” Ele aproveitou a vitrine para demonstrar um o contador eletrônico testado na própria piscicultura do grupo e o AquaGrow, um imunoestimulante misto de ácidos orgânicos e óleos essenciais. Os produtos naturais também foram evidenciados por Paulo Rocha, sócio de um grupo que introduziu no Brasil produtos da marca Aliplus. “Estamos passando por um dos melhores momentos da aquicultura com a entrada de produtos naturais, como óleos essenciais, bioremediadores e extratos.” Hideyoshi Segovia Uno, gerente comercial e de operações da Spring Genetics, viu na feira uma sinalização de que a decisão de desembarcar no Brasil há quatro anos foi acertada. “Este tipo de evento confirma que a demanda é grande e que temos futuro aqui.” O grupo Benchmark Holdings, à qual pertence, tem um quarentenário em Fortaleza e uma alevinagem em Jaboticabal (SP) da divisão Fai do Brasil, mas deve ampliar em breve a estrutura para formas jovens no Nordeste. Esteves, da PeixeSP, segue a mesma toada. Já anunciou que a feira em 2018 vai dobrar de tamanho: 2 mil m2² climatizados e 800 m2² para showroom, com um dia a mais de evento. Entre 15 a 18 de maio do ano que vem, a agora Aquishow Brasil 2018 promete.
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Auditório lotado para abertura da Aquishow
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Rodrigo Rodrigues (Aqua Capital) e Eduardo Amorim (Aquafeed)
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Dalton Sales (AgroInova) e Rafael Barone (Pecege)
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João Brunelli Junior e Fernando Carmo (Cati)
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Cristiano Clemer (Brusinox) e Francisco Medeiros (PeixeBR)
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Altemir Gregolin e Carlos Magno (Embrapa)
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Breno Davis (Geneseas), Juliana Lopes e Saulo Pastor (Consultores FAO/ MAPA)
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André Camargo (Escama Forte), Ricardo Neukirchner (Aquabel), Jenner Menezes (Biofish), Breno Menezes (Geneseas), Altemir Gregolin e Martinho Colpani (Colpani Piscicultura)
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Francis Chiossi, André Pereira, João Moutinho e Graziela da Silva (Phibro)
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PRINCÍPIOS DO COMÉRCIO JUSTO
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Oportunidades para produtores em desvantagem
Construção de capacidades
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Práticas de Comércio Justo
Transparência e prestação de contas
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Sem trabalho infantil ou forçado
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Boas condições de trabalho
Sem discriminação, com equidade de gêneros e livre associação
Pagamento justo
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Promover o Comércio Justo
Respeitar o Meio Ambiente
Ponto de Venda
As margens da cadeia Como os conceitos do comércio justo podem nortear a transferência de ganhos ao longo de algumas cadeias produtivas do pescado
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A
conta do empresário capitalista é diferente da aritmética normal. O 2 + 2 tem de ser igual a 5, ou seja, exige uma margem de lucro que torne o negócio atrativo. Mas é comum registrar casos em qualquer cadeia produtiva nos quais a mesma conta dá 7, 10, ou 15. Foi para ajustar estas discrepâncias e remunerar de forma mais igualitária todos os elos envolvidos na fabricação de determinado produto que holandeses criaram, em 1967, uma organização de comércio justo – conhecido no exterior como fair trade ou commerce èquitable. Em 13 de maio de 2017, Dia Mundial do Comércio Justo, muitos países celebraram os 50 anos oficiais da iniciativa. Apesar de ter surgido na década de 1960 e depois sacramentado pela Holanda, o conceito foi se
desenvolvendo ao longo das últimas décadas, mas originalmente ele “busca o estabelecimento de preços justos, bem como de padrões sociais e ambientais equilibrados nas cadeias produtivas, promovendo o encontro de produtores responsáveis com consumidores éticos”, como explica o autor peruano Alfonso Cotera, no livro Dicionário internacional da outra economia. O Sebrae também apoia o desenvolvimento de programas na área, por apostar que o comércio justo contribui para o desenvolvimento sustentável ao proporcionar melhores condições de troca e a garantia dos direitos para produtores e trabalhadores marginalizados. “É uma alternativa concreta e viável frente ao sistema tradicional de comércio”, diz o órgão. Uma das vertentes, de acordo
com o Sebrae, é estabelecer contato direto entre o produtor e o comprador, desburocratizando o comércio e poupando-os da dependência de atravessadores e das instabilidades do mercado global de commodities. A Fairtrade Labelling Organizations International (FLO) reúne movimentos organizados que mantêm entidades de certificação e promovem as empresas e produtos licenciados com o direito de usar o selo de Fair Trade mediante o pagamento de licenças. Como informa o Sebrae, as empresas podem ser especializadas em comércio justo ou atuar no comércio tradicional com marcas convencionais, incorporando itens com o selo a suas linhas. O primeiro produto certificado na história do conceito foi um café produzida
Uma dessas certificadoras, a Fair Trade USA, resolveu desenvolver um programa específico para o pescado marinho – o primeiro de quem se tem notícia no mundo. Uma das primeiras iniciativas foi a elaboração de um padrão de comércio justo para capturas, que começou a ser testado na pesca do atum yellowfin na Indonésia em parceria com a empresa holandesa Anova Food. Segundo o site FishChoice.com, que faz um mapeamento dos produtos certificados em todo o mundo, atualmente existem 11 empresas com produtos de
pescado dotados do selo fair trade. Entre eles estão as vieiras selvagens processadas pela Bristol Seafood, norte-americana sediada no Estado do Maine. A companhia foi a primeira a adotar o sistema, hoje celebrado pelo presidente, Peter Handy. Em entrevista à agência de notícias Associated Press, em 2016, foi questionado sobre como capitalizar com o conceito. “Quando mais se sabe a história por trás melhor fica o sabor.” A premissa dele é que, quando todos ganham margens parecidas, o consumidor valoriza ainda mais as iniciativas do gênero e aceita pagar o preço.
Comércio justo no Brasil No Brasil, são escassas as iniciativas de comércio justo associadas a diversas cadeias. No pescado, um dos exemplos que temos é da Korin, que vende os produtos da Trutas NR. Oficialmente, a empresa defende aplicar o conceito na linha, que não conta com certificação específica como as vieiras norte-americanas. Dentro deste espírito, a Seafood Brasil consultou a Embrapa Pesca e Aquicultura, o projeto Campo Futuro da
Confederação Nacional da Agricultura, produtores e frigoríficos para fazer um experimento: contabilizar, em algumas das cadeias de produtos de pescado mais populares do Brasil, o preço praticado na saída (ex) da produção, ex-frigorífico e/ou ex-distribuidor. No período entre 17 de maio e 12 de junho, visitamos seis lojas de redes de varejo nacionais para constatar o preço final de venda destes produtos. O intuito foi avaliar, de forma aproximada, como se dá a distribuição das margens em cada elo da cadeia. Os preços indicados a seguir são uma média dos valores obtidos nesta pesquisa e no tempo indicado, praticados na cidade de São Paulo (SP), sem a pretensão de apresentar o cenário como a realidade nacional, mas como um recorte de um dos principais centros consumidores do País. No entanto, todos os preços apurados dizem respeito às regiões produtivas e frigoríficos envolvidos com o fornecimento das redes consultadas. Veja no infográfico da página seguinte o resultado.
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nas ex-colônias holandesas, mas hoje a oferta compreende ainda chá, arroz, cacau, mel, açúcar, frutas frescas e até produtos manufaturados. De acordo com o relatório da FLO divulgado em 2016, as vendas globais de produtos com estas caraterísticas alcançaram 7,3 bilhões de euros em 2015. E os prêmios ou bonificações – quantias pagas aos produtores em retorno pela certificação para ser usado em investimento na produção – chegaram a 138 milhões de euros em 2015.
PRODUÇÃO
Ponto de Venda
+
TILÁPIA
79,5%
R$ 5,41/KG (inteira)
SEA O T U D O 3 PR UIÇÃO DOS DISTRIB A CADEIA N CUSTOS A IV PRODUT
O pólo produtor de Santa Fé do Sul é o principal fornecedor de tilápias para as indústrias que vendem às lojas paulistanas. Na região, o preço varia entre R$ 4,80 a R$ 6,43 na saída da fazenda para um peixe de 800g a 1 kg, dependendo do perfil do produtor, do cliente e da negociação.
UI
TAMBAQ
+
74,6%
(costelinha)
R$ 4,60/KG O tambaqui de 2kg a 3kg de Rondônia, Mato Grosso e Acre tem São Paulo como um dos destinos principais. O valor acima é uma média do preço do peixe fresco praticado pelos produtores nestas regiões. Em Rondônia, este preço tem uma lógica curiosa: sobe R$ 0,10 a cada 100g.
+
O
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CAMARÃ
67,6%
R$ 22,17/KG (10g fresco) O projeto Campo Futuro, até recentemente conduzido em parceria entre a Embrapa e a CNA, também monitora a carcinicultura em Aracati (CE), Acaraú (CE) e Natal (RN). A pesquisa concluiu que, em 2016, houve um aumento na receita e margem brutas dos empreendimentos que ainda não foram afetados pela mancha branca, mas a incidência da doença diminuiu muito a produção no Ceará e as propriedades pouco ou não afetadas praticaram preços 70% a 100% superiores ao ano anterior. Agora o preço está em queda e pode ficar entre R$ 21 e R$ 22, segundo fontes do mercado, mas deve subir com o aumento da demanda a partir de outubro.
FRIGORÍFICO
VAREJO
+
42%
R$ 26,40/KG
R$ 45,81
(filé congelado embalado)
A composição do custo do frigorífico é intrincada. Segundo uma fonte consultada, do preço pago ao produtor, o acréscimo por kg de filé apurado é: logística até indústria + R$ 0,20; rendimento de 32% de filé = R$ 15,62/kg; mão de obra, energia, limpeza e demais custos operacionais +R$ 2,50; embalagens +R$0,75; armazenagem +R$0,20; logística até cliente + R$ 0,70kg; + ICMS. Tudo isso compõe o custo contábil, depois a empresa acresce despesas internas com marketing, comercial, administrativo e a margem, chegando ao preço indicado.
A composição do preço de venda no varejo embute ferramentas como o mark-up, marcação de preços que cobre as despesas da operação, e o “contrato”, uma sobretaxa de 15% a 20% que algumas redes cobram sobre o valor do produto. Por outro lado, o varejo em SP se credita com 7% de ICMS que o frigorífico pagou. Por conta disso, frigoríficos paulistas se dizem incapazes de competir com outros Estados e alguns já cruzaram a fronteira com o MS para obter vantagens tributárias.
+
61%
(tambaqui inteiro)
+
35%
(costelinha)
R$ 11,69/KG (inteiro) R$ 28,00/KG (costelinha)
R$ 18,10/KG (carré ou costela)
O porcionamento em costelas é um dos principais processos para adicionar valor ao tambaqui. O produto é normalmente vendido em embalagens de 450g. Alguns frigoríficos especializados inclusive já deixaram de trabalhar com o fresco inteiro por não encontrar margens interessantes, abrindo espaço para mais atravessadores.
O varejo tem incrementado a venda de porcionados e cortes especiais de tambaqui, mas o fresco ainda é o carro-chefe na maior parte das grandes redes, categoria na qual a disparidade de preço é baixa. Já no processado, há diferenças de quase 20% entre uma rede pesquisada e outra.
+
R$ 68,45/KG
R$ 87,82
Os frigoríficos especializados em camarão tem o desafio do rendimento: para conseguir 1 kg do processado nas características acima são necessários 2,3 kg de camarão inteiro. Isso já elevaria o preço a R$ 51,75, mas os demais custos da operação, embalagem, logística, marketing e comercial totalizam uma valorização média de 24% no preço ao varejo.
As embalagens de 400g do camarão 71/90 (peças por kg, em torno de 9g) são as mais presentes e de maior saída no varejo atualmente, já que as de 36/40 hoje passam da barreira de R$ 79. A instabilidade recente no camarão também prejudicou o varejo, que se abasteceu com produto caro e agora não consegue acompanhar a queda gradual do preço sem terminar de desovar o estoque antigo e, assim, perder a margem.
(71/90 pré-cozido, descascado, embalado e congelado)
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22%
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FORA DO EXPEDIENTE
Terno, gravata e heavy metal O lado B de Marcelo Eiger, executivo da Trident Seafoods que já abriu shows de bandas internacionais do metal e hoje concilia as duas paixões: pescado e o contrabaixo
Q
uando a caneta cai e Marcelo Eiger faz uma pausa na venda de toda a oferta de pescado selvagem do Alasca pela Trident Seafoods para o Brasil, ele empunha o contrabaixo. Com fones de ouvido, para não incomodar os três filhos e a esposa no apartamento, dedilha melodias muito familiares para os fãs de heavy metal e hard rock dos anos 70, 80 e 90. “As pessoas me veem de terno e gravata e estranham que eu possa tocar essas músicas”, diz, “o que acho engraçado.” Talvez porque o executivo não se encaixa no clássico estereótipo do metaleiro. Mal balança seus cabelos curtos enquanto fala sobre a música com a mesma desenvoltura e tranquilidade com que comenta os altos e baixos da venda de polaca e salmão. “A música sempre foi minha paixão, mas nunca tive intenção de viver disso.” Marcelo é médico-veterinário pós-graduado em produção de animais, com MBA em agronegócio. Entrou na Nativ em 2007 e nunca mais saiu do pescado. Mas a música entrou nele antes.
Sergio Eiger, professor da Escola Politécnica da USP, era um grande fã de Beatles, Rolling Stones, Led Zeppelin, Grand Funk Railroad, entre outros clássicos do rock. Espalhava LPs e CDs pela casa, que acabavam nas mãos curiosas dos seus filhos Marcelo e Fernando. “Meu pai nunca tocou, mas entendia muito de rock e nos levou a vários shows.”, diz o primeiro. O primeiro deles foi do Pink Floyd, em 1994, último ano da década em que a família viveu nos Estados Unidos. Quando retornaram, os gêmeos entraram de cabeça nos instrumentos. Fernando foi o primeiro e se decidiu pela guitarra, enquanto Marcelo caiu no contrabaixo. Com aulas formais em um conservatório musical no bairro da Pompeia, na capital paulista, montaram uma banda de versões do repertório que gostavam. Os ensaios eram na casa dos avós. “Passávamos o sábado inteiro lá fazendo barulho, minha avó preparava lanche para todos e meu avô assistia sentado com cara de quem não estava entendendo nada.” Fato é que o hobby cresceu e adquiriu contornos mais sérios. Em 2000, o embrião formado ali resultou em uma banda de heavy metal autoral, a After:Life, que durou 11 anos. Em paralelo, Marcelo foi convidado a integrar a Kavla, que já conta com 22 anos e quatro CDs gravados. Hoje também se diverte com covers de Kiss, Van Halen, Journey e Def Leppard na banda Essential.
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Ao longo de sua trajetória nas quatro cordas, teve experiências marcantes, como abrir para a banda alemã de metal melódico Gamma-Ray, naquele que seria o último show da lendária casa de shows Olympia, em São Paulo (SP). “Convivi com os músicos nos bastidores. Tive um pouco do gosto do que é viver da música. Mas aí você pensa no sacrifício que é ter de viver longe da família e reconsidera.” Além de tocar com os amigos e se apresentar esporadicamente, Marcelo também desenvolveu apreço pela luthieria – arte de construir, manter e afinar instrumentos musicais. Defensor dos luthieres brasileiros – “não devem nada a nenhum outro lugar do mundo”, escolheu a própria madeira, peças e fez questão de participar do processo produtivo de quatro dos seus cinco baixos atuais. E ainda guarda seu primeiro, um presente do pai e mentor no mundo do rock. Leia o QR Code ou acesse http://bit.ly/ Essential_Seafood para conhecer um pouco do trabalho de Eiger com a banda Essential
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SUPLEMENTO VAREJISTA Eficiência e experiência de compra
A
lém da grande oferta de produto final para as gôndolas, a Apas 2017 trouxe uma grande oferta de tecnologia para a modernização do varejo em diversas frentes. Na esteira da Operação Carne Fraca, empresas apresentaram soluções para inspeção de carnes, como um espectrômetro por infravermelho que detecta teor de umidade, quantidade de proteína e quantidades de ácido sórbico e asórbico – distribuído pela ASTRO34.
Outro foco, explorado pela Symphony Retail Solutions, introduz o uso da realidade virtual para o gerenciamento de lojas. A tecnologia permite criar lojas virtuais 3D para incrementar a experiência de compra do cliente. Já a Enovora Digital criou um e-commerce on-line em que o cliente pode visitar a loja virtualmente e adicionar os produtos ao carrinho. Na onda de automatização do processo de compra, a Perto lançou um terminal de autoatendimento
Logística
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Refrigeração
que permite ao cliente realizar a checagem de preço, registro da compra e o pagamento do produto dentro do supermercado. O self check-out, como é chamado, é tendência em todo o mundo. A Seafood Brasil destaca, no entanto, três experiências inovadoras de empresas que apoiaram este suplemento: a Danfoss, com um sistema de redução de consumo de energia; a Multivac, que criou máquinas de embalagem a vácuo de câmara única; e a Localfrio, que oferta um combo de soluções logísticas específicas para o pescado.
Embalagem
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Know-how em supply-chain do peixe
S
ão Paulo (SP), Guarujá/Porto de Santos (SP), Itajaí (SC) e Suape (PE). Referências na entrada de matéria-prima importada e distribuição de produtos de pescado, tais localidades abrigam estruturas da Localfrio. A empresa aposta fortemente na expansão do segmento por meio da personalização de serviços logísticos, determinantes para um bom atendimento ao varejo de peixes e frutos do mar. “Temos know-how na cadeia produtiva do pescado, ofertando serviços de recepção e armazenagem nos segmentos refrigerados e congelados, customização de pedidos para a entrega final ao cliente, picking, rotulagem, selagem, visualização on-line dos estoques e monitoramento de temperatura/umidade, além de soluções no supply chain, desde a captação à distribuição final”, detalha o diretor comercial, Roberto Prudente.
Divulgação/Localfrio
Divulgação/Localfrio
Porto de Santos tem operação full service
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O pacote de soluções específicas deve crescer, já que a empresa iniciou recentemente um projeto para implantação de um entreposto de pescado. “Assim, diversificamos nosso leque de serviços e rapidez no atendimento das necessidades dos clientes”, pontua Prudente, que assumiu a posição em outubro de 2016 depois de passar por Maersk Line, DB Schenker, Bax Global e United World Line. O executivo ressalta o processo de aprimoramento pelo qual passam as estruturas da Localfrio. No armazém frigorífico da capital paulista, a empresa investiu na modernização do parque de máquinas e instalações de sistema drive-in. Já nos portos de Santos, Itajaí e Suape, a operação é full service, desde a recepção de contêineres no navio, armazenagem no porto, posicionamento
para os órgãos anuentes, transportes do porto até o armazém, desova, armazenagem e sistema de monitoramento de contêiner reefer (temperatura e inventário). Prudente também considera que a presença pulverizada em polos estratégicos e serviços adicionais compõem os grandes diferenciais da empresa. Como exemplo, ele coloca a integração com transporte rodoviário, o que pretende gerar economia para o cliente, com menor movimentação e agilidade. “Dispomos de sistemas WMS e TMS e estrutura operacional (estocagem) para os mais variados nichos de mercado”, acrescenta. No caso específico do Porto de Santos, a empresa garante ser o único armazém frigorífico alfandegado.
Divulgação/Localfrio
Prudente, da Localfrio, considera a personalização da logística fundamental para o pescado
“Contamos com presença diária da Receita Federal e do Serviço de Inspeção Federal do Ministério da Agricultura e Vigiagro em nosso terminal.”. Em tempos de fiscalização acirrada, são serviços fundamentais.
Jean Flávio Neri de Lyra Tel: (11) 3049-6570 | R: 6108 jean.lyra@localfrio.com.br
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50% de economia de energia
O
conceito de supermercado inteligente não está associado necessariamente ao modelo de loja que fatura mais, mas sim àquela que tem eficiência. Como o consumo de energia responde por uma das maiores parcelas de custo no autosserviço, aproveitá-la bem é um caminho sem volta. E nem sempre aproveitar significa usar menos energia, como comprova o projeto que a dinamarquesa Danfoss desenvolveu ao varejo. A Smart Store consegue reduções de até 50% no gasto energético com soluções para compressores, expositores refrigerados, câmaras frigoríficas, HVAC, iluminação e redes externas, segundo comenta Daniel Marcucci, gerente de vendas da Danfoss para o segmento de food retail. O executivo recomenda que o projeto da loja inteligente deve se iniciar
no rack de compressores, normalmente responsável por 30% a 50% do consumo de energia. “Vários estudos e experimentos mostraram que para atender à demanda de resfriamento os compressores só precisam executar toda velocidade em cerca de 10% do tempo”, indica. No resto do tempo, os compressores podem funcionar a uma velocidade inferior e, ainda assim, entregar a carga térmica necessária. “Os conversores de frequência e a otimização da pressão de sucção são algumas das medidas postas em jogo para economizar até 30% na conta de energia. Ao adicionar recuperação de calor para o rack, a economia pode ser ainda maior.” O rack de compressores, ainda conforme Marcucci, é um foco de desperdício de energia quando em torno de 30% de sua capacidade instalada é realmente usada para refrigeração. “Isso deixa um reservatório de energia
inexplorado que pode ser usado para o aquecimento da loja, por água quente ou alimentada na rede de energia do distrito local.” Na Smart Store da Danfoss, o calor excedente é recuperado, gerando economia de energia que normalmente paga o investimento em menos de um ano, garante o especialista. Outra forma de controlar a eficiência do frio no estabelecimento – e até fora dele, é usar controles eletrônicos de evaporador e válvulas, que regulam, por exemplo, a injeção de fluidos refrigerantes de acordo com a demanda real. “O recurso é chamado de superaquecimento adaptável e pode potencialmente poupar até 12% na conta de energia”, explica o gerente de vendas. “A variação de carga nos compressores em supermercados pode liberar até 60% a 80% da capacidade de refrigeração em alguns casos.” Os fluidos refrigerantes também estão na mira da Danfoss, pois incitam uma discussão mundial pelo risco climático oferecido em caso de vazamento. Com taxas de vazamento de até 30% nos supermercados, a Europa já legislou sobre o tema e estimulou a discussão sobre refrigerantes menos impactantes, como o CO2. A empresa adotou a tecnologia em mais de sete mil sistemas operando em supermercados europeus e agora busca os EUA. Leia o QR Code abaixo ou acesse http://bit.ly/danfoss_ seafood para assistir a um vídeo sobre a Smart Store da Danfoss.
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Soluções acessíveis para o vácuo
A
tabelecimentos ou grandes superfícies não industriais, como é o caso do varejo. As máquinas de câmara única para restaurantes, hotéis, padarias, peixarias e açougues são um exemplo disso.
Algumas linhas de produtos, no entanto, encaixam-se perfeitamente no orçamento e no espaço de pequenos es-
A série P100/P200/ P300 /P360 inclui máquinas de mesa, gabinetes, com esteira e até dupla câmara. “Esses equipamentos podem ser integrados em ambientes de produção novos ou já existentes, com máquinas individuais ou pertencentes a linhas automatizadas. A segurança, durabilidade e o serviço de
alemã Multivac se notabilizou como uma das maiores referências mundiais em inovações para o envase a vácuo, e outras soluções que envolvam troca de gases para estender o shelf-life de alimentos como o pescado. Só que, normalmente, a empresa é associada a equipamentos caros e viáveis apenas para grandes indústrias.
assistência técnica abrangente fazem das máquinas de câmara a vácuo da Multivac essenciais para sua linha de produção”, garante a empresa. O preço no Brasil? Entre R$ 7 mil e R$ 15 mil.
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Na Cozinha
Fase de
adaptação
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Food Service reage à queda no movimento com reação “conservadora”: defender os momentos de consumo pelos quais os canais são reconhecidos
A
alimentação fora do lar foi um dos segmentos que mais sentiu a queda da atividade econômica no País, expressa não só pelo PIB, mas pelo desemprego, inflação e confiança dos empresários. Se levarmos em conta este último parâmetro desde o ponto de vista das 38 empresas associadas ao Instituto Food Service Brasil (IFB), no entanto, o cenário é alentador. Cada brasileiro teve um ticket médio de R$ 13 em 2016, totalizando
um gasto anual de R$ 184 bilhões fora de casa, contra R$ 12 no ano anterior e dispêndio de R$ 178 bilhões em 2015.
quais cada um deles é conhecido, já que o consumidor tem saído menos de casa e já com destino – e orçamento – certo.
A entidade, que compreende um faturamento superior a R$ 62 bilhões ao ano, divulgou recentemente um estudo completo sobre o cenário do setor em 2016 e projeções para 2017. Uma das principais conclusões é que os estabelecimentos terão de fazer um esforço para valorizar os momentos de consumo pelos
Os restaurantes por kg, por exemplo, que são o canal por excelência nos almoços, chegaram no ano passado a 80% do tráfego de clientes na comparação com padarias, bares, casual dinings, varejo e outros na refeição do meio do dia. Veja neste infográfico algumas das conclusões do estudo.
INFOGRÁFICO - FOOD SERVICE
OPERADORES - RESULTADOS Variação do faturamento nominal (%) Mesmas lojas
Total
2017 Abr
6,7
3,2
2017 Mar
8,0
2017 Fev
-0,3
2017 Jan 2016 Dez
4,4
-0,2
3,5
2016 Nov
-0,3
5,2
2016 Out
-0,6
3,4
2016 Set
4,2
2016 Ago
Depositphotos
2016 Mai
-0,5
38 empresas + R$
62 bi de faturamento ao ano.
223 mil colaboradores 9.750 estabelecimentos 75 mil consumidores atendidos por mês
72 mil pessoas consultadas para a pesquisa
5,6
-4,6
2,1 -2,5
2016 Abr
3,8 0,8
2016 Mar
O IFB
5,6
1,7
2016 Fev
2015 Set 2015 Ago
9,7
2,6
2015 Dez
2015 Out
7,5 6,2
2016 Jan
2015 Nov
5,2
8,4
-0,2 -2,9
6,0 3,7
-1 -2,2 -1,1
3,8 4,1 5,4
Resultados ponderados pelo faturamento Fonte: Associados IFB
SEAFOOD BRASIL • ABR/JUN 2017 • 61
2016 Jun
8,2
-0,8
2016 Jul
A contração é facilmente perceptível no caso de mesmas lojas desde maio de 2016, mas a recuperação também emerge de forma marcante em março e abril, apontando para um cenário mais positivo no restante do ano. Em mesmas lojas, impressiona a alta de 8% no faturamento de março.
4,1
-0,8
3,4
Na Cozinha
INFOGRÁFICO - FOOD SERVICE
$
$
EXPECTATIVA 2017 CRESCIMENTO ANUAL
10,9%
Variação do faturamento nominal (%)
6,2% 2015
$
Depois de uma desaceleração no ritmo de faturamento nominal que 2016 apresentou ante o ano anterior, o IFB estima que até dezembro o resultado deva dobrar. A confirmar o desempenho, 2017 pode se configurar como o ano da retomada do food service no País.
5,2% 2016
2017
(previsão) Resultados ponderados pelo faturamento Fonte: Associados IFB
O FOODSERVICE CRESCE FORTE NO BRASIL EM GASTOS... TAMANHO DO MERCADO DE FOODSERVICE Potencial de consumo (R$ bilhões)
SEAFOOD BRASIL • ABR/JUN 2017 • 62
A despeito dos indicadores adversos e da pressão inflacionária ao longo de seis anos, as empresas do segmento consultadas fecharam 2016 com R$ 184 bilhões de faturamento.
Fonte: Pesquisa CREST Brasil / GS&NPD
121
130
145
2011
2012
2013
157
2014
178
184
2015
2016
$
FUNDAMENTOS SÓLIDOS PERMITEM O CRESCIMENTO DESTE SEGMENTO
AUMENTO DA RENDA
O descolamento da situação política da econômica fica evidente na análise do IFB: expectativa de aumento de renda per capita, maior participação das mulheres no mercado e trabalho, do crescimento populacional e do desenvolvimento do mercado são considerados fundamentos sólidos que sustentariam as estimativas.
Crescimento real de 2x a renda per capita até 2036
MULHERES NO MERCADO Participação cada vez maior das mulheres no mercado de trabalho
CRESCIMENTO POPULACIONAL
DESENVOLVIMENTO DO MERCADO
Fonte: Pesquisa CREST Brasil / GS&NPD
Mercado em desenvolvimento na oferta e na demanda
SEAFOOD BRASIL • ABR/JUN 2017 • 63
227 milhões de brasileiros até 2036
Na Cozinha
INFOGRÁFICO - FOOD SERVICE
FOODSERVICE BRASIL - 2016 x 2015
2015
2016
15 bilhões** VISITAS
14 bilhões VISITAS
-4%
R$ 178 bilhões** Em gasto
R$ 184 bilhões Em gasto
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+3%
R$ 12** Ticket médio por pessoa
R$ 13** Ticket médio por pessoa
+8%
**Estimativa baseada de abril a dezembro/2015 Fonte: Pesquisa CREST Brasil / GS&NPD
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Personagem
O bandeirante do panga Como Gaetano Furno subiu a serra, passou pelo cultivo de camarão de água doce e hoje é um dos maiores entusiastas do panga cultivado no Brasil
G
aetano Furno não tem só o nome peculiar. Descendente de italianos, ele é um empreendedor com uma trajetória singular no setor. Há quase 30 anos, começou a intermediar a venda de peixes e frutos do mar de água salgada que comprava de barcos em Santos (SP) – sua cidade natal. O negócio evoluiu e se transformou em uma distribuidora, a Gaetano Pescados, que existe até hoje no bairro do Gonzaga e fornece uma oferta bem mais variada de produtos a restaurantes e pequenos varejos em todo o litoral paulista. O contato direto com as intermitências da safra de várias espécies muito demandadas, como o camarão rosa, fez com que ele partisse para um movimento ousado: a aquicultura. Deixou a operação da distribuidora com o irmão e subiu a serra para desbravar o interior de São Paulo. Terminou em Araras (SP). Ali montou uma estrutura com viveiros escavados para o cultivo do Macrobrachium rosenbergii. “Minha ideia era ter quantidade de camarão suficiente para baratear o preço e complementar a oferta para ter uma boa condição própria de venda.” O primeiro verão foi um sucesso, mas o inverno mais rigoroso do interior paulista cobrou seu preço. “Este camarão não resiste a uma temperatura inferior a 20o C, então comecei a perder muito quando esfriava.” O jeito foi despescar tudo e mudar de ideia. A tilápia se adaptou bem aos 14 tanques de 500 m2 cada e na atualidade a produção equivale a 70 toneladas do peixe.
Só que outra espécie caiu no gosto de Gaetano. O primeiro contato foi com a venda do produto importado pela distribuidora. “Mas como vendia – e vendo – muito esse peixe, pensei em produzir ele nacionalmente.” Estimulado pelo decreto que também regulamentou o cultivo do panga em viveiros escavados paulistas, não teve dúvidas: despescou parte da tilápia e substituiu pelo bagre asiático.
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A produção deu tão certo que grandes redes já o procuraram para vender o panga fresco. “Tudo o que eles colocaram para vender sai, a comercialização deste peixe é um sucesso”, comemora. Ele revela já estar em negociação com outra grande plataforma de varejo, mas admite não ter produção suficiente. “Só eu não tenho quantidade para atender todo mundo.” Este foi um dos motivos pelos quais resolveu, junto de seu mentor e o primeiro fornecedor de alevinos da espécie, Martinho Colpani, fundar a Associação Brasileira de Criadores de Pangasius (ABCPanga). Gaetano não parou por aí: foi um dos articuladores do I Workshop sobre Pangasius, realizado pelo Grupo de Estágios e Pesquisas em Monogástricos (Gepem) da Universidade Federal de São Carlos, sob a coordenação da professora Luciana Seki Dias. O grande interesse de produtores e da comunidade acadêmica no evento o entusiasma: “Acho que o panga será a bola da vez”, diz Gaetano, cujos olhos brilham quando fala sobre a espécie. Talvez com a mesma intensidade com que ele comenta sobre o karatê, motociclismo e voo livre - outros focos de paixões – e altas emoções.
SEAFOOD BRASIL • ABR/JUN 2017 • 67
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