ESTATÍSTICAS
IBGE abre os olhos ao pescado
seafood A carcinicultura já para em pé Ceará lidera retomada da produção com pequenos e grandes de mãos dadas
DIRETO DA PRODUÇÃO
MT quer sediar a revolução dos peixes nativos
brasil
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#7 - Out/Dez 2014 ISSN 2319-0450
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Vídeos exclusivos e multiplataforma colaborativa www
Trimestre do site tem 23,4 mil visualizações
Mais de 8,7 mil usuários acessaram nossa página atrás de informação no período entre 19 de setembro e 1º de dezembro. E um dado chamou a atenção: mais de 70% dos acessos foram de novos usuários. É a comunidade Seafood Brasil que não para de crescer.
Para abastecer ainda mais nosso canal de vídeos no YouTube, a Interatlantic mandou um vídeo gravado exclusivamente para a Seafood Brasil. Faça o mesmo. Mande sua ideia de pauta para a revista e o site, indicação de vídeo, sugestão, dúvida, crítica ou elogio em todos os nossos canais. Se preferir, escreva para falecom@seafoodbrasil. com.br. Não se esqueça que esta é uma plataforma construída coletivamente, concentrada nos seus interesses.
Parceria com a Esalq/USP
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Nossa página do Seafood Brasil no Facebook realizou uma ação inédita com a Pecege-Esalq/ USP para premiar nossos leitores com uma bolsa para o curso “Piscicultura Continental: Técnica, Mercado e Legislação”. Perguntamos aos fãs do nosso perfil “Como a piscicultura continental pode transformar o Brasil?”. A resposta ganhadora foi do leitor Ilzomar Soares Filho. Veja na imagem. ...
Comunidade Revista: 15 empresas apostaram nesta edição
Seafood Brasil
Confira abaixo todos os nossos parceiros: PÁGINA
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4ª Capa 2ª Capa 3 13 15 19 23 29 33 35 39 47 51 55 57
ANUNCIANTE Alaska Seafood Marketing Institute Noronha Frescatto Interatlantic Grupo 5 Biofish Ayamo Leroy Seafood Manso Aquicultura Bom Futuro Iberconsa Branco Máquinas FCalhao Targ Logística Time Seafood
NEWS
IBGE e nova legislação de embalagens são destaque na newsletter
Média de 145 cliques e de 17,6% de aberturas se devem a notícias que canalizaram a atenção do leitor. A nova pesquisa do IBGE voltada para o cultivo de pescado atraiu muitos interessados, mas o projeto de Lei que pretende tornar obrigatório a informação do peso líquido e desglaciado. A rotatividade de peças publicitárias também atrai a atenção. Só na última news, que contou com novas peças, nossos anunciantes tiveram mais de 6% dos cliques.
Editorial
O mundo espera o Brasil
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os últimos 3 meses, nossa equipe voou, dirigiu e caminhou por mais de 24 mil km. Botamos a equipe na rua para conhecer como se deve – in loco – as oportunidades que o Brasil não pode desperdiçar. Direto da Fenacam, constatamos o resgate do entusiasmo na carcinicultura em um contexto mundial favorável aos brasileiros. Preços em alta, produção asiática em queda com enfermidades, demanda interna aquecida e a China desabastecida.
o Brasil em um ator menor do que o mundo espera que ele seja – tanto no consumo quanto na produção. Somos acanhados até no olhar para dentro de nós mesmos. É por isso que consultamos o IBGE para saber que mergulhos eles fazem no mundo do pescado. O resultado é uma luz sobre os preços, consumo e uma novíssima pesquisa focada na produção. Esperamos com esta e as próximas edições, colaborar para uma jornada de autoconhecimento mais cristalina. Boa leitura!
No Mato Grosso, onde estivemos para a cobertura da Feira Nacional de Peixes Nativos de Água Doce, vimos como a pujança do agronegócio dos grãos aos poucos cria as bases para a revolução aquícola que o País espera. Já na feira Conxemar, na Espanha, notamos como a timidez transforma
Excelentes festas e um 2015 iluminado!
Índice
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Direto da Produção
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20 Capa
Marketing
44 Fornecedores
50 Na Gôndola
30 Estatísticas
52 Na Cozinha
58 Personagem
Redação redacao@seafoodbrasil.com.br Publishers: Julio Torre e Ricardo Torres Editor: Ricardo Torres Repórteres: Léo Martins, Marcelo Tárraga, Mariana Diello, Marcela Gava e Thais Ito Diagramação: Emerson Freire Distribuição: Marcus Vinicius Crisóstomo Alves
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Expediente Publicidade comercial@seafoodbrasil.com.br Impressão Vox Editora A Seafood Brasil é uma publicação da Seafood Brasil Editora Ltda. ME CNPJ 18.554.556/0001-95
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06 Cinco Perguntas
Sede – Brasil Av. Bosque da Saúde, 599 Praça da Árvore - São Paulo (SP) CEP 04142-091 Tel.: (+55 11) 4561-0789
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5 Perguntas a Elisabeth Aspaker, ministra da pesca da Noruega
Entrevista
Menos bacalhau norueguês em 2015 Ministra da Pesca da Noruega defende diminuição das cotas de pesca do cod Atlântico, matéria-prima do bacalhau do Porto
Texto: Ricardo Torres | Fotos: Arquivo/Seafood Brasil
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cota caiu. Das 993 mil toneladas autorizadas em 2014 para a captura de Gadus morhua no Mar de Barents, local onde se concentram os estoques, as indústrias pesqueiras da Rússia e Noruega vão ter de se contentar com 99 mil toneladas a menos. É que o TAC (da sigla em inglês Total Allowable Catch, ou Total de Capturas Permitidas) definido para 2015 teve um decréscimo, para 894 mil toneladas. Apesar do corte, ambos os países celebraram o resultado. Tal instrumento é o que tem garantido a manutenção e renovação do estoque do atlantic cod – nome comercial da espécie morhua – desde 1965, quando foi criada a
“Ambos os países [Rússia e Noruega] têm a ciência de que isso será um negócio eterno se houver uma pescaria sustentável.”
Comissão Russo-Norueguesa de Pesca. “A sustentabilidade é um princípio levado muito a sério por ambos os lados”, explica a ministra da pesca da Noruega, Elisabeth Aspaker.
Considerando que os russos e noruegueses são ao mesmo tempo concorrentes comerciais e parceiros na gestão dos recursos, como se dá essa relação? Ambos os países têm a ciência de que isso será um negócio eterno se houver uma pescaria sustentável. É uma situação ganha-ganha para ambos os países. Somos muito conscientes que não podemos exceder os limites anuais de captura definidos pelos cientistas russos e noruegueses. Como também há muitos dados científicos
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A cota definida para 2015 diminuiu. Por quê? É uma queda suave, mas ainda estamos em níveis historicamente altos para o estoque de cod. Teremos quase 900 mil toneladas no próximo ano. Se você olhar para trás, diria que 600 ou 700 mil toneladas seriam um bom número, então ainda estamos em uma situação muito boa para os estoques. De 2011 a 2012, o crescimento foi de 30% sobre os estoques anteriores. Em 2013 foi o mesmo nível, então o aumento agora é mais suave.
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O cultivo de cod é uma alternativa viável? Temos gente muito boa trabalhando com a aquicultura, mas como houve esse aumento do estoque selvagem em 30%, isso impactou o mercado. Além disso, é muito mais caro ter cod proveniente de aquicultura, porque a espécie demanda muito mais do que o salmão, então é difícil chegar a um preço interessante para uma escala comercial. Por isso não é muito viável economicamente e nem muito lucrativo neste momento. Mas o know-how está lá. Se os preços crescerem muito no futuro, pode ser que exista um mercado mais atrativo para o cultivo. O que existe agora é um sistema híbrido. Algumas empresas
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capturam o peixe e o alimentam em cativeiro para vendê-lo fresco, com alta qualidade, em todo o ano, não só na época em que as capturas acontecem – na primeira metade do ano. Eles chamam esse sistema de cod hotels. Lá eles ficam de 2 a 4 meses e então os vendem fresco ou os processam. Ao mesmo tempo em que vemos marcas norueguesas como a Leroy entrando diretamente no Brasil, concorrentes como os fornecedores de Gadus macrocephalus do Alasca estão crescendo. Qual é sua avaliação sobre o cenário? É um desafio. Está nos dizendo que temos que trabalhar com qualidade e sublinhar que todo o cod norueguês é gerido de maneira sustentável e com todas as condições de segurança alimentar. E que temos que trabalhar duro com estas questões para que os consumidores saibam que ele é sadio.
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A Leroy têm pesquisando muito o mercado aqui e eles perceberam que a maneira como os clientes se comportam na Noruega e Europa é para onde os consumidores do Brasil estão caminhando também. Ter filés quase prontos, que ficam prontos em 15 minutos para o jantar. É a evolução da sociedade. As pessoas têm cada vez menos tempo, mas também estão sedentas por pescado saudável. Essa é a onda do pescado, que chegou para ficar.
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Como estão os estoques na Noruega? A situação hoje é muito positiva, porque os estoques de cod estão muito saudáveis. Historicamente se mantêm em alto nível. Claro que são muito dependentes da cooperação muito próxima que temos entre a Noruega e a Rússia para o cod atlântico. São negociações anuais, nas quais escutamos os conselheiros científicos que temos para saber o quanto podemos pescar. A sustentabilidade é um princípio levado muito a sério por ambos os lados. Acho que tanto para a indústria quanto para os pescadores noruegueses é bom ter estoques a este nível, e parece que seguiremos assim nos próximos anos.
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compilados por outros cientistas sobre os estoques, temos muita ajuda para definir isso.
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Apenas 10 dias depois de definir estas questões com os representantes russos, Elisabeth esteve em São Paulo (SP) e conversou com exclusividade com a equipe da Seafood Brasil. Nesta entrevista, ela admite que a redução nas cotas pode influenciar o preço, mas reitera que esta é a maneira de assegurar que no futuro não irá faltar bacalhau na mesa de portugueses, brasileiros e os demais países que não vivem sem a iguaria.
Marketing & Investimentos
A vitrine galega Conxemar mostra vigor como palco para a variada oferta de pescado da Península Ibérica; expositores são unânimes: Brasil é onde todos querem estar Texto e fotos: Ricardo Torres
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aber a diferença entre a Seafood Expo Global, em Bruxelas (Bélgica), e a Conxemar, realizada pela entidade de mesmo nome em Vigo (Espanha) é fácil. Se o leitor pensou no número de negócios realizados, quantidade de visitantes ou expositores, enganou-se. Bruxelas é para quem não tem tempo a perder. As agendas são definidas com muita antecedência, os encontros estritamente profissionais e visitas apenas de cortesia nos estandes. Tudo sucede em um clima mais sisudo. Já a feira espanhola, neste ano organizada entre 7 e 9 de outubro, é onde
as gigantes do pescado na Península Ibérica, compradores e fornecedores de outros 40 países parecem se sentir realmente em casa. Velhos conhecidos se reencontram em uma atmosfera mais amena, as visitas se estendem nos estandes, ninguém é expulso do pavilhão quando a feira acaba. E tudo isso bem ao lado do mar e das rías gallegas – os famosos bracos de água salobra da região que abrigam mexilhões, pequenos cefalópodes e outras espécies de alto valor comercial. A Galícia concentra 27% das empresas de pescado da Espanha, mas responde por mais de 50% das
exportações. É a sede da mundialmente conhecida Pescanova, que passa por uma restruturação desde que os bancos credores a assumiram. Outras menos conhecidas por aqui, mas figuras comuns nas gôndolas europeias, como Fandicosta, Fesba, Marfrío e Noribérica, também tem sede ali em Vigo, Pontevedra, La Coruña ou cidades próximas. A Interatlantic, já conhecida pelos importadores e grandes cadeias brasileiras, também fica ali. É fácil entender como a cultura da indústria do pescado prevalece localmente. Liderada pela Galícia, a Espanha faturou no último ano 4,162
Congresso Mundial do Camarão
Com o surgimento da EMS, a dinâmica dos fornecedores aos americanos mudou, conforme detalhou o analista de mercado da Urner Barry, Angel Rubio. “A Tailândia vendia 50%
bilhões de euros com seafood, segundo explicitou a ministra da Agricultura, Alimentação e Meio Ambiente, Isabel García Tejerina, na abertura da Conxemar. “Corresponde a 4,7% da do total da indústria alimentícia espanhola”, disse. São mais de 650 empresas que operam na área, seja com embarcações, processamento ou distribuição de peixes e frutos do mar. Tanta vocação para o negócio pode, aos poucos, chegar com mais força ao Brasil. Das empresas consultadas pela Seafood Brasil na visita à Conxemar, espanhóis, portugueses, europeus e não-europeus manifestaram interesse no nosso mercado. Algumas mal sabem um “obrigado” em português, mas já estão familiarizados com o “Dipoa”, como o mundo inteiro chama os registros de produtos realizados pelo Dipes/ Dipoa, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). A Perupez é uma das que já tem o “Dipoa” e está com tudo preparado para inaugurar a operação em 2015. “Queremos fechar com um cliente que
Outro país em evidência é a Argentina, que teve uma safra recorde do camarão vermelho ou langostino (Pleoticus muelleri). Segundo o subsecretário da pesca argentino, Néstor Miguel Bustamante, políticas de manejo fizeram com que a captura que só dura entre novembro e fevereiro superasse 100 mil toneladas – um recorde histórico apurado na última campanha. Com empresas atuantes nos dois países, a
irá rotular com marca própria ou então com clientes com os quais já trabalhamos em Portugal e já vendem ao Brasil”, conta o diretor comercial Humberto Olivera. O objetivo é começar em 2015 com um contêiner de derivados da “lula gigante”, como anéis e tentáculos. Teodoro Garcia Woodman, responsável por exportações da também peruana Colán Fish, confirma o interesse. “Devemos conseguir os registros no início do ano para começar a operar.” A SeaFrost, que no Brasil opera com a Leardini, já tem aprovados a lula, merluza e cavalinha, como diz o chefe de vendas, David Calderón Fiestas. Marcos Arevalillo, gerente de exportações da espanhola Fesba, despacha por trimestre um contêiner ao Brasil de polvo, mas quer incrementar a operação. “Hoje trabalhamos com um grande importador local e estamos avaliando o mercado para expandir os embarques”, confidencia. No caso da também espanhola Marfrío a operação com o Brasil já é mais representativa, embora toda ela esteja concentrada na planta que a empresa adquiriu recen-
Espanha hoje é o principal cliente argentino, com 41,89 mil toneladas. A Índia, que há 10 anos tinha posição discreta nos rankings produtivos, desponta como nova potência. O curioso é que, a exemplo da carne de vaca, ninguém come camarão por lá. O país exporta 99% da produção e hoje está à frente inclusive da China e Tailândia na receita de exportações: fatura cerca de US$ 5 bilhões e espera dobrar esse número em 2020.
Polvo cozido, cortado com tesouras e depois temperado com azeite é uma instituição galega: diversos fornecedores querem levá-lo ao Brasil temente em Paita. “Já temos 5 produtos aprovados no Dipoa e até julho devemos retomar as tratativas para exportar subprodutos da lula gigante, que correspondem a 70% de nossa produção”, conta César Aller Fernández, chefe de operações da Marfrío-Vieira Perú. O bacalhau não poderia ficar de fora do mapeamento de interesses feito pela reportagem. Há 15 anos no Brasil,
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O forte aumento de preços mundiais, como reflexo da crise sanitária do carcinicultura na Ásia, foi tema central, assim como o comportamento dos mercados. Para Lem, os Estados Unidos, Europa e Ásia continuarão a ser os maiores mercados, mas o Japão está entrando em estagnação e os mercados domésticos nos países produtores está em crescimento – casos do Brasil e da China. Só os EUA gastam em torno de US$ 5,3 bilhões.
do que os EUA compravam em 2010. Em 2013 passou a 22% e já neste ano o Equador já se tornou o primeiro, com 25% do mercado”, diz. Os asiáticos se tornaram hoje os principais clientes dos equatorianos, em parte porque, segundo Rubio, precisam de matéria-prima para manter as indústrias em funcionamento.
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Como é de praxe, um dia antes da feira a organização realiza um evento mundial, com o apoio da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO), focado em um tema específico do segmento. O camarão foi a escolha de 2014 e não por acaso. De acordo com Audun Lem, chefe da FAO na área de comércio e marketing em produtos pesqueiros e aquícolas, o crustáceo é a principal commodity mundial do pescado e pode chegar a um volume de 17,6 milhões de toneladas em 2030.
Marketing & Investimentos Convênio Espanha-Brasil
Divulgação/Anfaco-Cecopesca
Já se passaram cinco anos desde que a entidade que congrega os conserveiros espanhóis (AnfacoCecopesca) celebrou um convênio com a prefeitura de Itajaí e a Universidade do Vale do Itajaí (Univali) para uma colaboração técnico-científica. Em outubro, após a Conxemar, a associação renovou o acordo e agora promete construir junto um projeto denominado “Fábrica do Futuro”. “É um conceito que reflete a produção baseada em conceitos como lean manufacturing, automatização, robotização, sustentabilidade, flexibilidade, conectividade e máximo rigor quanto à segurança alimentar”, disse à reportagem Juan Manuel Vieites, presidente da entidade. Vale lembrar que os grupos Calvo (dono da Gomes da Costa) e Jealsa-Rianxeira (dona da Robinson Crusoe) são espanhóis e fazem parte da entidade. Vieites considera que a expansão dessas empresas no Brasil se deve ao grande mercado consumidor que ele representa, mas também a chance de ter uma porta de entrada para a América Latina.
a La Bacaladera despacha 30 contêineres por ano com bacalhau Gadus morhua da marca Lofoten. “Temos como clientes nos supermercados o Angeloni, o Zona Sul e o Verdemar, por exemplo”, conta Imanol Gurruchaga Aguirre, responsável pela operação. “O mercado brasileiro vale a pena”, ressalta. É que acha também Alejandro Lapido Alonso, responsável por de-
senvolvimento de negócio da Outón. “Já temos um distribuidor no Brasil e em breve começaremos a operar com nosso bacalhau”, conta. No caso da Lumar, o foco será outro. “Nestes momentos o Dipoa nos habilitou a exportar várias referências, como atum, cação azul, escolar e peixe-espada”, conta o CEO, Javier Martínez Barral. “Temos uma capacidade de processamento de 5 mil toneladas ao ano e temos intenção de vender produtos com mais valor agregado.” A companhia dispõe de diversos pratos prontos nas linhas Lumar Kids, Menús Lumar e Grill.
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No âmbito dos portugueses, a Frijobel se interessa pelo Brasil por representar um mercado com possibilidade de compra em larga escala. “Já temos registro para pastel de bacalhau, polvo e sardinha, mas estamos por aprovar também a mariscada”, relata Paulo Brásio, do departamento de exportações, que programa o início das operações para o primeiro semestre de 2015.
Indicação no estande da portuguesa Nutriplus mostra como o exportador já conhece o caminho para o mercado brasileiro
Dedicação ao mercado brasileiro não falta à espanhola Interatlantic. No corpo de funcionários, ela mantém duas representantes para o mercado brasileiro. As duas brasileiras. Cristiane Vinhal notou uma boa visitação dos conterrâneos. “Estamos recebendo muitos clientes
brasileiros que vieram nos conhecer ou já trabalham conosco e têm necessidade de concretizar operações, principalmente com o salmão chum selvagem do Alasca”, diz. Também encarregada da operação, Vanessa Salomão, conta que a companhia existe há 25 anos, mas opera há cinco no Brasil. “Temos como objetivo ser os olhos dos clientes na origem, minimizando riscos com inspeções desde a matéria-prima até o fechamento do contêiner”, sintetiza. Tanto esforço só comprova que os estrangeiros fazem de tudo para alimentar a crescente sede de pescado do brasileiro.
30 anos de informação de qualidade A organização da Conxemar protagonizou um momento emocionante em pleno estande da revista argentina Redes & Seafood, título-irmão da Seafood Brasil. O fundador e diretor, Julio Torre, recebeu das mãos do presidente da entidade, José Luis Freire, uma placa comemorativa em homenagem aos 30 anos de serviços prestados pela publicação na defesa dos interesses do setor. Torre também foi homenageado em um tradicional coquetel realizado pela agência marítima Suflenorsa, que também celebrou seus 30 anos em Vigo, durante a feira. Para acessar edições anteriores da revista, acesse: http://bit.ly/redes_seafood
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Os rostos da XVI Conxemar
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Cristiane Vinhal (Interatlantic), Pablo López (Interatlantic), Ricardo Bermejo (Satel Despachos), Luis Cabaleiro (Interatlantic) e Lorena García Galván (Interatlantic)
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Cláudia Gama (MPA), Max Mapurunga (R&B Aquicultura) e Sebastião Saldanha (MPA)
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Claudia Salazar (Pesquera Villa Alegre)
Vanessa Salomão, Cristiane Vinhal (Interatlantic), Julio Antônio (Mar e Rio Pescados), Airton Pires e Taiko Ishikawa (Imcopesc)
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Dirk Belmans e Stephan Verhamme (Viciunai)
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César Aller Fernandez (Marfrío-Vieira Perú)
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Pedro Vasconcelos, Rui Marroni e Paulo Brásio (Frijobel)
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Imanol Gurruchaga Aguirre (La Bacaladera)
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Javier Martínez Barral (Lumar)
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Leandro Cesar e Alessandra Pimentel de Sousa Francisco (Friocenter)
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Roland Wiefels (Infopesca)
Gustavo Pedrosa (Camarões do Brasil), Miguel Bregieira (Noribérica) e Faik Abbara (Noribérica)
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André Ciríaco (Nutriplus) e Artur Nogueira Neto (Nsa. Senhora de Fátima Importadora)
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Humberto Olivera (Perupez), Anaïs Baer (Crustamar), Philippe Frayssé (Crustamar) e Juana Barreiro (Globalpez)
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Teodoro Garcia Woodman (Colanfish)
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Adriana Canosa (Canosa)
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Megan Rider (ASMI)
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Guillermo Casquero (Cabomar)
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Marcos Arevalillo (Fesba)
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Edson Castro (MFlow Food Solutions)
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Pão, peixe, molho especial e sustentabilidade Ampliação de linha da Noronha, sanduíches do McDonald’s e ação nas Olimpíadas podem tornar principal certificação do mundo mais conhecida no Brasil
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ão dá para cravar ainda que o mercado brasileiro está completamente pronto para absorver produtos certificados. A consciência ambiental dos consumidores ainda é restrita em segmentos até com maior penetração que o pescado. É de se esperar, portanto, uma adesão lenta dos consumidores a este tipo de ecoetiquetagem – uma tradução livre do conceito mundialmente conhecido como eco-labelling. A Marine Stewardship Council (MSC), principal órgão para certificação de pescarias sustentáveis, já imprimiu sua marca em três ações recentes que começam a demonstrar um caminho para o pescado certificado. A mais recente delas foi a ampliação da linha
da Noronha Pescados com o selo MSC, que garante uma pescaria sustentável conforme os parâmetros da ONG World Wildlife Fund for Nature (WWF). Guilherme Blanke, diretor da Noronha, diz ter buscado a MSC por sua aceitação em grandes redes mundiais de varejo para assegurar a sustentabilidade dos produtos do pescado que eles compram. “Fiz contato com eles na feira de Bruxelas e Boston, passamos por este processo de auditoria e a certificação aconteceu no início de 2014”, conta. A intenção, segundo o executivo, é assegurar a continuidade do negócio com espécies “que sejam perenes, para ter segurança que as teremos para o futuro”. Como a matéria-prima certificada é importada e certificada na origem,
coube à Noronha mostrar que tem como assegurar que os produtos certificados não sejam misturados com outros não certificados. “Você tem que mostrar que desde o recebimento do produto até a entrega do cliente, o produto vai identificado na caixa como MSC.” A polaca e o bacalhau Gadus macrocephalus provenientes do Alasca foram os primeiros itens a receber uma embalagem especial para a Semana Santa de 2014. Agora a linha ganha a companhia da merluza de cola argentina, conhecida como hoki (Macroronus magellanicus). A programação dos embarques ainda não foi definida para o produto argentino, mas a Noronha já planejou a chegada de 150 toneladas de polaca e 50 toneladas de bacalhau para a próxima Páscoa.
Peixe são, corpo são Desde dezembro do ano passado, o Comitê Olímpico Rio 2016 assinou três convênios para colocar na boca dos atletas pescado proveniente de fonte sustentável. Um com a MSC, outro com a ASC (a equivalente da MSC para aquicultura) e outro com as duas primeiras entidades e a Fundação Instituto de Pesca do Estado do Rio de Janeiro (Fiperj).
Todos os três estarão pela primeira vez na rede de supermercados Angeloni, a maior de Santa Catarina e entre as 10 maiores do Brasil. Segundo Blanke, a partir da segunda quinzena de janeiro os produtos já estarão na gôndola. “O produto não tem um acréscimo de valor em relação ao produto normal por ser sustentável, mas esperamos atingir o público com uma consciência de sustentabilidade maior”, relata. Motivação parecida teve o McDonald’s Brasil, que seguiu a matriz e adotou a certificação para todos os McFish servidos em território nacional. Desde novembro, as embalagens ostentam o selo azul do MSC, depois que a empresa certificou também a cadeia de custódia para o produto. “A certificação conquistada pelo McDonald’s
Brasil garante que o peixe utilizado no McFish é rastreado desde a sua pescaria e segue todas as normas globais do MSC”, disse a empresa em comunicado à imprensa. Como cerca de 1,5 milhão de pessoas passam pelas lojas da cadeia de fast-food todos os dias, a vitrine é a melhor possível. A fornecedora de proteína animal da operação brasileira é a Braslo, do grupo Marfrig, que compra o hoki argentino em fish blocks de um único provedor. De acordo com Laurent Viguié, gerente da MSC no Brasil, o hoki certificado é comprado pelo McDonald’s Brasil desde 2012 e o grupo deve permanecer com essa preferência. “A pescaria está em bom estado e nós não vislumbramos nenhum problema para a recertificação”, afirma.
O exportador despacha os blocos de hoki, que na chegada são selecionados e higienizados, cortados no formato do hambúrguer de peixe, empanados e congelados. Para Geoff Bolan, diretor comercial da região das Américas do MSC, ter o selo nas embalagens de McFish nos mais de 830 restaurantes da rede no Brasil “contribuirá significativamente” para a missão da MSC. O objetivo é influenciar a escolha por produtos sustentáveis que as pessoas devem fazer ao comprarem frutos do mar.
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A partir da esq., Marcelo Uchoa (Noronha), Daher Jorge (capitão de barco no Alasca), José Madeira (Alaska Seafood Marketing Institute) e Guilherme Blanke (Noronha): foto da Apas 2013 marca início da operação da Noronha com peixes do Alasca
Os dois primeiros preveem que só pescado certificado, de origem pesqueira ou aquícola, possa entrar nos pontos de alimentação das Olimpíadas. Mas a novidade está justamente no último convênio, Segundo o qual a preferência será dada para produtos da pesca artesanal e fazendas de pequena escala no Estado do Rio de Janeiro. “A Fiperj selecionou 30 fazendas de moluscos bivalves, tilapia e truta para receberem a certificação ASC”, relata Viguié. Além disso, escolheram outras três empresas de pesca extrativa para se certificarem dentro do programa.
Marketing & Investimentos
Noruega além do bacalhau Leroy Seafood aproveita evento da Norge em SP e RJ para apresentar linha de porcionados congelados que chegam em breve às gôndolas brasileiras
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intenção era chegar ao mercado com defumados, uma das especialidades da norueguesa Leroy Seafood. Sem uma cultura enraizada de consumo destes produtos, como a Noruega, o Brasil deu o primeiro indicativo a Anders Tennefoss, gerente de desenvolvimento de negócios da empresa, de que a missão não seria tão fácil. “Constatamos que é um mercado diferente, por isso tínhamos que aprender como ele funciona. Depois levantamos outros
produtos e selecionamos que itens continuaríamos a apostar”. De 2010, quando Tennefoss disse ter iniciado o projeto, o aprendizado foi grande. E culminou na apresentação em outubro a uma plateia de distribuidores e compradores do varejo convidados em São Paulo e no Rio de Janeiro pela marca setorial da Noruega: a Norge. A primeira linha de produtos Leroy no Brasil inclui filés de salmão de cultivo, truta salmonada e bacalhau. Todos produtos pescados ou cultivados – no caso dos dois primeiros – na Noruega. A identificação do país nórdico já na embalagem é algo que o executivo já aprendeu a valorizar. “Nós queríamos colocar o nome Noruega no produto, por conta da tradição aqui no Brasil”. Após pedidos de ajustes de conformidade com a legislação, a Leroy fez tudo com rapidez. Em julho já estava com as embalagens registradas no Dipoa e em agosto fechou a primeira negociação. Sabe-se que o cliente é uma das grandes redes de varejo do País, mas Tennefoss prefere manter a operação em sigilo. “É um contêiner de 40 pés para iniciar a operação e o cliente verificar como vão evoluir as vendas”, relata.
Tennefoss, da Leroy: “apostamos que nosso produto tem mais qualidade que o chileno, que dominou o mercado por aqui”
Sobre o nicho em que pretende atuar, ele foi enfático: “nosso objetivo é chegar ao mercado de alto padrão”, vislumbra. “O salmão chileno já está instalado aqui, mas a categoria de congelados ainda está subdesenvolvida dentro dos super-
mercados. Podemos fazer produtos com a mesma qualidade que temos na Europa para o Brasil.” Os porcionados da Leroy têm destino certo: o consumidor jovem, abonado e fã de praticidade. Por enquanto, o food-service não está nos planos, embora em parte das 14 plantas da empresa haja condições técnicas para fazer essa adaptação. “O maior desafio é educar o consumidor. Então é preciso fazer degustações para alcançar estes resultados”, conta Tennefoss. O executivo se dispõe ainda a customizar totalmente os produtos de acordo com a exigência do cliente. “Somos a segunda maior fazenda de salmão do mundo e os primeiros em truta salmonada. Conseguimos fazer tudo taylor-made.”
Leroy Seafood em números US$ 1,5 bi > foi o faturamento em 2013 15% > foi o crescimento médio nos últimos 10 anos 2º > maior produtor de salmão do mundo
3,5 milhões > de refeições exportadas todos os dias
2067 > funcionários
Feira Nacional de Peixes Nativos (Cuiabá-MT) 01
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Alice Massako Cunha, Manoel Padilha (Manso) e Fagner Trigueiro (Cooperfish)
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Jean Jackes do Carmo (Sesc-MT), Rogério Barbosa e Francisco Medeiros (Manso) e Rafael Furman (Piscicultor)
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Ericsson Venzon (GDC Alimentos), Jules Ignácio Bortoli e Aline Bortoli (Bom Futuro)
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Fagner Trigueiro, Wilmar Spengler (Vitalmar), Jules Bortoli, Jogi Oshiai (FratiniVergano), Gilberto Vaz, Valéria Pires (Sebrae-MT), Ericsson Venzon (GDC Alimentos), Ricardo Torres (Seafood Brasil) e Pedro Furlan (Nativ)
Cristiano Clemer (Brusinox), Ricardo Bagolin (Nutrixon), Daniel Bacca (Brusinox) e Altamir Crozetta (Cooperfish)
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Julio Sandro Ebert (JSE) e Fagner Trigueiro (Cooperfish)
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Aniceto Wanderley (Rações Criação), Valéria Pires e Jules Bortoli
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Rodrigo Pizate (Eletronorte), Gilberto Vaz e Luiz Henrique Vilaça (Eletronorte)
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Rafael Chen, Daniel Latorraca, Rafael Linhares e Rondiny Carneiro (Imea/Famato) e Victor Ayres (CNA) e Walter Valverde (Famato) João Pedro da Silva (Delicious Fish), Jules Bortoli, João (Delicious Fish), Darci Fornari (Genetic Fish Rise) e Alan Barros (Canal do Piscicultor)
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Dalton Sales (AgroInova), Adelson Santana e Adilson Santana (Norte Sul Pescados)
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Jaire Menezes (Biofish), Luis Raposo (Grupo Rovema), Janine Menezes (Biofish) e Jean Carlos Guidin (Grupo Rovema)
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Francisco Medeiros e Miguel Aguiar (Agropecuária Paraguassu)
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Ricardo Zeferino, Sandra Zeferino e Renan Zeferino (Rimaze Refrigeração)
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Fabricio Santos, Thiago Ivan, Claudio Queiroz e Antonio Tavares (Nutrizon)
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Eleuzani Ataide, Aureliano Pinheiro, Elton Ribeiro (abaixo), Marcelo Holanda (acima), Ricardo Santiago e Valéria Pires (Sebrae-MT)
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Marketing & Investimentos
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XI Fenacam em Fortaleza (CE) 01
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Giovanni Santillan (FAV), Itamar Rocha (ABCC) e Pablo Gómes Correa (FAV)
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Rui Donizete Teixeira (MPA), Albert Bartolomeu de Souza Rosa (Codevasf)
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Lídia Torquato (SEMACE), Antonio Albuquerque (ACCC), Walbens Benevides (UEC) e Wilson Mendes (Didatus)
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Eric Routledge (Embrapa), André Brügger (Iabs), Fernando Kubitza (Acqua Imagem), Christiano Souza e André Camargo (Escama Forte) Alexandre Reis (Bomar) e família
06
Adalmyr Borges e Saldanha Neto (MPA)
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Felipe Pereira e Vinícius Orsi (AYAMO)
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Israel Viara, Valdizio Pereira, Expedito Costa, Simplício Júnior, Francisco Matos (Maris) e visitante da feira
09
André Viana e Saldanha Junior (Poli-Nutri)
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Ricardo Neukirchner (Aquabel) e Gentil Linhares (Bomar)
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Edmundo Pinheiro (Bradesco), Alexandre Reis, Galego (Galego Pescados) e Junior Damasceno (Bradesco)
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Rafael, Pedro Henrique Gomes, Cláudio Generoso, Marcos Felipe, Marcos Aurélio (Nutreco)
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Ricardo Torres (Seafood Brasil), Ivan Pietrovski (Coldbras), Alessandro (Coldbras), José Osvaldo Beserra Carioca (UFC)
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À dir., Fabio Rossi (Marine Equipment) e clientes
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Alberto Valadão, Luis Tadeu Assad, Andre Brügger e Fernando Bergmann (Iabs)
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Matheus Lobo, Roseli Pimentel, Elvira Alphonso, Ilma Cristina, Jackson Bento, Adolfo Felipe (Queiroz Galvão)
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A engrenagem volta a funcionar Ceará toma a dianteira na carcinicultura, que vê retomada do clima para investimentos com a Fenacam como termômetro
Texto e fotos: Mariana Diello e Ricardo Torres
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N
ão foi só a Feira Nacional do Camarão (Fenacam) que mudou de casa. Pela primeira em Fortaleza, a feira que é o símbolo da carcinicultura nacional reflete no seu projeto de mudança o movimento da atividade. Antes baseado no Rio Grande do Norte, o evento mudou de casa para seguir o mercado. O Ceará é atualmente o maior produtor de camarão do País, com 47 mil toneladas por ano, deixando o Rio Grande do Norte em segundo lugar, com 25 mil toneladas anuais, como contou Itamar Rocha, presidente da Associação Brasileira de Criadores de Camarão (ABCC), em sua fala durante a abertura do evento – realizado entre 10 e 13 de novembro.
Ceará tem 180 fazendas que produzem 47 mil toneladas por ano Os dois Estados, juntos, compõem 85% da produção brasileira de camarão cultivado. Uma combinação de excelentes condições ambientais, forte atuação institucional e incentivos governamentais favoreceu essa concentração produtiva. Mas o polo produtivo começou a pender mais pro lado cearense a partir de 2003, quando a ação antidumping dos Estados Unidos inverteu o fluxo de comércio do Litopenaeus vannamei e o camarão antes direcionado à exportação invadiu o mercado interno.
O camarão local ganhou relevância por vários fatores, mas o ambiente se impõe como um dos principais. “No Ceará tivemos um avanço na produção de camarões em águas continentais oligohalinas [com salinidade entre 0,5 e 0,6 pontos percentuais] e ligeiro aumento em densidades de estocagens, aliadas a manejos mais eficientes”, comenta Antonio Albuquerque, secretárioexecutivo da Associação Cearense dos Criadores de Camarão (ACCC).
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Há 11 anos, o Rio Grande do Norte produzia 37,4 mil toneladas e exportava metade disso. O Ceará levava aos clientes internacionais 77% da produção de 25,9 mil toneladas. Agora, a exportação é irrisória em ambos os Estados (menos de 300 toneladas), mas as 180 fazendas cearenses já produzem 47% mais que as vizinhas.
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Fenacam concentra tecnologia para aumentar a produvidade A Escama Forte aproveitou a feira para lançar o DB Aqua, primeiro probiótico registrado para camarões e peixes no Brasil, além da primeira classificadora automatizada de peixes 100% nacional. Apresentou ainda aeradores de tecnologia israelense, alimentadores automáticos para viveiro também 100% brasileiros, oxigenador em pó e medidor de qualidade da água. A Poli-Nutri apresentou uma ração microextrusada para alevinos, a Flash Fish, que se divide em quatro produtos com função prébiótica, betaglucanos, óleos essenciais, função bactericida e antioxidante natural. O outro lançamento foram as linhas nutricionais especiais HE e HB. A Nutreco também usou a Fenacam para trazer lançamentos. “A empresa está presente em 60 países e é a segunda maior da área no mundo. Lançamos na Fenacam produtos para a nutrição de berçários”, disse o representante de vendas Cláudio Generoso.
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A IntegralMix, empresa de nutrição animal focada em Norte e Nordeste, levou uma nova ração para a Fenacam, a AquaMix, uma ração de alta salinidade para evitar perdas e com adição extra de vitamina C.
A TecTron investiu em palestras para reforçar o lançamento da DV Aqua, um composto por metabólicos nutricionais obtido por processo de dupla fermentação e extrusão a frio. “A TecTron está focada em tecnologia, por isso lançamos esse produto e para explicar como ele funciona resolvemos fazer dois workshops durante a feira”, disse a coordenadora técnica comercial Silene Polli. Um com Fernando Kubitza, doutor em aquicultura e consultor especialista em nutrição de peixes, que abordou a defesa contra patógenos e imunoestimulantes para peixes e camarões. E outro com Brian Hunter, norte-americano, PhD em bioquímica agrícola e consultor em aquicultura, nutrição e enfermidades, que apresentou as novidades sobre os efeitos dos metabólitos nutricionais na sobrevivência e produção de peixes e camarões. A GoVet, divisão da GoDigital Medical, uma empresa fornecedora de equipamentos de análises, também estava com um produto inovador na feira. O IQ+, um sistema de monitoramento de doenças para a aquicultura, faz o diagnóstico em apenas 90 minutos. O aparelho é móvel, fácil de usar e com reagentes prontos para o uso. O equipamento funciona com até oito amostras por reação.
XI Fenacam foi termômetro da retomada, disseram expositores Maia, presidente da ACCC. “A governança resultante da existência da Câmara possibilita uma maior celeridade no destravamento dos gargalos setoriais e também foi causa fundamental para o crescimento da produção no Estado”, comenta Albuquerque.
Embora seja a sede de grandes do segmento como a Camanor, o Rio Grande do Norte não tem assistido ao surgimento de novos empreendimentos na carcinicultura, diz Rocha, da ABCC. “No Ceará a atividade está se expandindo de forma
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A entidade se estruturou nos últimos anos para incentivar junto a agentes públicos o mercado de camarão marinho. Uma das conquistas foi a criação da Câmara Setorial do Camarão na Agência de Desenvolvimento do Ceará (Adece), cujo titular é Cristiano
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PREÇOS MÉDIOS DE VENDA DE CAMARÃO - CE E RN A Associação Cearense dos Criadores de Camarão (ACCC) e a Associação Norte-Riograndense dos Criadores de Camarão (ANCC) fazem levantamentos periódicos dos preços de venda do camarão que os carcinicultores praticam. Veja na tabela os últimos resultados.
Ceará 28 de setembro a 05 de outubro
R$
1,44
Rio Grande do Norte
01 de dezembro a 07 de dezembro
R$
1,49
28 de setembro a 04 de outubro
1,50
R$
30 de novembro a 07 de dezembro
R$
1,52
EMS na Ásia: Brasil pode crescer no vácuo O diagnóstico positivo em relação ao Brasil, mas delicado em relação aos asiáticos, foi a tônica do XI Simpósio Internacional de Carcinicultura e o VIII Simpósio Internacional de Aquicultura, eventos paralelos que contaram com 6.600 participantes. O presidente da Global Aquaculture Alliance (GAA), George Chamberlain, traçou um panorama global da carcinicultura em que mostrou uma tendência de desaceleração da produção global após o forte crescimento na última década por conta de doenças como a Síndrome da Mortalidade Precoce (tradução livre do termo Early Mortality Syndrome).
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A epidemia surgiu na Ásia em 2009, por contaminação chinesa e se espalhou para a Tailândia, Malásia e Indonésia. O ápice da doença foi entre 2012 e 2013, quando a produção da Tailândia caiu 40%. Segundo Fatima Ferdouse, palestrante da Infofish, diante do cenário adverso, três países ainda têm potencial para produzir mais: a Índia, a Indonésia e o Brasil. As informações sobre a enfermidade foram acompanhadas com muita atenção pelos presentes, já que o Brasil conhece bem os efeitos devastadores de uma epidemia como essa no negócio do camarão. Negócio, aliás, que o camarão é a maior commodity única do setor de pescado, segundo informou Felix Dent, representante da FAO que é um dos responsáveis pelo estudo Globefish. O especialista indicou que o crustáceo compõe 15% de tudo o que é vendido em seafood no mundo. Outra tendência apresentada foi o crescimento da China como mercado consumidor. Para Dent, o país tem uma demanda que pode se expandir ainda 35%. Leia também a cobertura completa do Congresso Mundial de Camarão, na seção Marketing & Investimentos.
George Chamberlain, da GAA: produção desacelerou em todo o mundo por doenças como a EMS
acelerada, notadamente nas áreas interiores, inclusive utilizando aguas subterrâneas.” A mancha branca [veja BOX] também pode ter afastado novos negócios, depois de ter dizimado parte da produção no RN em 2011. No caso da própria Camanor, segundo seu presidente, Werner Jost, relatou em outubro ao boletim ShrimpNews, o vírus reduziu a sobrevivência nos viveiros de 90% para 10% em 2011. A recuperação a taxas próximas a 90% já ocorreu no ano passado, diz Jost, mas o vírus continua por lá. Outro diferencial apontado pelas fontes consultadas é o apoio ao pequeno produtor. “Tanto no tocante ao licenciamento ambiental como a
assistência técnica, o apoio do governo a essa fatia da cadeia é essencial”, diz Rocha. Hoje são 556 criadores no Estado, segundo a ACCC. Pequenos e micro produtores representam 80% desse número. Já a produção é maior entre os grandes criadores (50% das cerca de 45 mil toneladas produzidas no ano de 2013), seguida por pequenos (30%) e médios (20%). O Ceará possui seis grandes áreas produtoras: três na região oeste (Coreaú, Acaraú e Curu) e as demais na região leste (Pirangi, Baixo e Médio Jaguaribe). Boa parte destes locais já adota a carcinicultura em água doce, uma novidade que anima muitos produtores mais distantes da
costa a ingressarem na atividade. A área ocupada por este tipo de cultivo no Ceará já equivale a quase 10% da área total do País ocupada pela carcinicultura. “Estes locais têm 50% de água de poços artesianos e 50% de água salgada, o que alivia o problema da seca e dá a possibilidade do crustáceo crescer para o interior do Estado. Hoje já são mais de 2 mil hectares de camarão cultivados assim no Ceará”, diz Lucas Cunha, gerente da fazenda da Bomar. O Sebrae também apoia os pequenos. “Nossa missão é levar para o pequeno produtor a mesma tecnologia que o grande empresário tem e assim torná-lo competitivo, para isso o Sebrae
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A partir da esq.: Cristiano Maia (ACCC), o governador do Ceará, Cid Gomes, e Itamar Rocha (ABCC): articulação entre entidades e governo estimula o desenvolvimento local
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A mancha branca ainda ameaça A síndrome da mancha branca é um dos vírus de maior incidência na produção de camarão. Apesar de não causar dano a humanos, afeta o coração da carcinicultura ao atingir taxas de mortalidade altíssimas, de até 90%. A doença chegou ao Brasil em 2004, um ano depois do golpe da medida antidumping e enfraqueceu muito a atividade. Só no Rio Grande do Norte, 40% da produção da região foi perdida entre novembro de 2013 e janeiro de 2014, segundo a Cooperativa dos Criadores do Estado. “A mancha branca continua afetando a carcinicultura da Bahia ao Litoral sul do RN, com exceção da carcinicultura em águas oligohalinas, onde a ocorrência de surtos tem sido esporádica”, diz Itamar Rocha, da ABCC. Mas aos poucos as coisas começam a melhorar no Nordeste. “No Ceará não tem ocorrido eventos de mortalidade massiva ligados a essa patologia, mas o setor está alerta e vigilante com programas de monitoramento em parceria com as Universidades Federal do Ceará e do Rio Grande do Norte”, conta Albuquerque, da ACCC.
Simplificar licenciamento ambiental é chave para atividade crescer em ritmo mais acelerado
primeira Fenacam e o problema era o mesmo de hoje: a licença ambiental. Muitas empresas só produzem graças a liminar, então não conseguem investir sem a segurança da liberação”, conta o ex-ministro da então Secretaria de Aquicultura e Pesca (Seap), José Fritsch. Um dos caminhos apontados pelo político é um sistema informatizado com alguns requisitos que pode ser preenchido por carcinicultores on-line. “Se ele preenche esses requisitos, recebe a licença provisória automaticamente por e-mail, que se torna definitiva em pouco tempo se não for contestada pelo Ministério”, conta Fritsch, inspirado por iniciativa similar já aplicada na Bahia.
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paga 80% do investimento”, disse Paulo Jorge, articulador da unidade setorial de agronegócio do Sebrae Ceará. A situação deve ainda ser aprimorada com a finalização do Zoneamento Ecológico-Econômico da Zona Costeira do Ceará, que deverá ser concluído pelo governo do Estado ainda em 2015. De acordo com a ACCC, ele poderá proporcionar subsídios legais para o crescimento
da atividade nessas zonas. “O setor tem enxergado novas possibilidades e procurado se estruturar tecnicamente na viabilização do uso de áreas continentais, o que já proporcionou parte do crescimento do Estado e deverá continuar incrementando a produção”, disse Albuquerque. A novela do licenciamento ambiental, no entanto, ainda persiste e prejudica a produção. “Eu vim à
Por estes e outros entraves, a verdade é que o Ceará, Rio Grande do Norte e qualquer outro polo produtor de camarão no País ainda estão muito distantes de alcançarem seu potencial total. A ABCC estima que há 1 milhão de hectares disponíveis para exploração da carcinicultura no Brasil, mas a área efetivamente explorada só chega a 2% disso. O Equador, que já foi nosso principal concorrente nas exportações a partir da América Latina, produz mais de 320 mil toneladas com uma área de apenas 180 mil hectares.
Da fazenda à mesa
Depois desses 30 dias, o camarão é transportado por caminhão aos tanques de engorda. Ali o crustáceo é alimentado 3 vezes por dia e fica ali até atingir o tamanho de venda, que varia entre 7 a 30 gramas, de acordo com o cliente. Cada tanque despesca entre 8.500 a 9.000 quilos de camarão, totalizando 900 toneladas por ano. O bombeamento de água é a alma da fazenda. “Nossa fazenda está acima do nível do rio, então bombeamos a água e assim ela também é oxigenada. A água vai para os viveiros e é trocada aos poucos. Todos os
dias, 10% de água sai do tanque e 10% de novas águas entram.” Depois de sair dos viveiros, a água vai para uma bacia de sedimentação, onde é tratada para voltar para a natureza ou reutilizada. “A água é reutilizada quando na nossa medição constatamos que a nossa água está melhor do que a de fora, o que acontece com alguma frequência”, relata Cunha. A fazenda também dispõe de aeradores para oxigenar melhor a água. A tilápia na Bomar é fruto de uma parceria com a AquaBel. O peixe é criado em 15 hectares da fazenda e deve chegar ao fim de 2014 com 70 milhões de peixes por ano. Prestes a completar um ano, o projeto envolve o cultivo em água doce, mas em breve incluirá também a água salobra. O primeiro lote gerou 4 milhões de peixes. Segundo Ricardo Neukirchner, sócio da Aquabel, o diferencial da produção é a temperatura e qualidade da água. “Aqui nós podemos produzir o ano inteiro.” Cunha completa: “Nós temos o maior laboratório de alevinos de tilápia do País em uma só unidade; produzimos 10 milhões de alevinos por mês”. Parte do Grupo GEF, a Bomar tem ao todo 385 hectares de viveiros, nos quais produz 3 mil toneladas de camarão. Mas a atuação também se estende à comercialização de pescado, no Brasil e exterior, com uma gama variada que inclui lagosta (cauda e inteira), tilápia e bacalhau, além do próprio camarão.
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A Bomar foi uma das empresas que abriu as portas de sua fazenda à Seafood Brasil no período da Fenacam. Situada a 30 km de Acaraú (CE), a fazenda tem 150 hectares concentrados no camarão e outros 15 hectares de produção de tilápia. No caso do camarão, a empresa não produz a pós-larva, só assume o cultivo a partir do berçário. “O berçário é um hotel cinco estrelas para o camarão. Aqui a atenção é diferenciada. O produto fica aqui durante 30 dias e já se aclimata”, conta Lucas Cunha, gerente da fazenda da Bomar. Com uma dieta equilibrada, os animais tem potencial de crescimento e saúde aprimorados para “aguentar” o viveiro. “Fazemos uma biometria a cada 3 dias para analisar o desenvolvimento e mantemos a temperatura em cerca de 30 graus”, conta.
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mil do ano passado e às prováveis 100 mil neste 2014.
Carcinicultura no Brasil deve fechar 2014 com 100 mil toneladas produzidas
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É neste contexto que esta XI Fenacam foi, de certa forma, um marco da retomada da atividade. Pelo menos esse foi o clima sentido nas empresas consultadas pela reportagem da Seafood Brasil entre os 78 expositores de toda a cadeia produtiva, da nutrição à exportação. A julgar pelos dados compilados e estimados pela ABCC, de fato a carcinicultura parece ter entrado na rota da recuperação. A produção cresce desde 2011, quando saiu de 69,5 mil toneladas, para chegar às 85
Com 25 anos no ramo de nutrição animal, a Poli-Nutri comemorou na feira. “O setor nunca esteve tão bem quanto agora”, disse Santana Júnior, coordenador de Norte e Nordeste de Aquicultura da Poli-Nutri. “Os preços estão muito bons para o produtor. O camarão só não cresceu mais por conta de problemas com licenças. Mas aqui no Ceará temos um pouco mais de apoio, o governador Cid Gomes e o próximo governador eleito, Camilo Santana, se comprometeram a apoiar mais o segmento”, completou. A Escama Forte também foi à Fortaleza para apresentar sua linha de produtos e ficou contente. “A feira está com um movimento muito bom, muita gente querendo informação sobre os nossos produtos; já fechamos alguns negócios”, contou André Camargo, diretor da Escama Forte. A cadeia do camarão passa por um momento muito bom de tecnificação, o que exige máquinas e uso de biotecnologia”, disse.
Camarão não faltou nem no coquetel de abertura da feira
A Coldbras foi outra empresa que foi à Fenacam e se surpreendeu com o evento. “A feira proporcionou vários negócios”, sinalizou Ivan Pietrovski, representante de vendas. “Há quatro anos o negócio do camarão estava bem caído, agora o setor essa aquecendo novamente e o número de negócios está crescendo.” A empresa fornece projetos e equipamentos para refrigeração industrial para frigoríficos. O fato de ser o termômetro do setor é justamente o que atraiu a Brusinox, fornecedora de equipamentos para processamento e classificação de camarão. “Vale a pena estar presente na feira para saber informação de onde o setor está indo, ver como será o ano que vem. As informações que conseguimos aqui são importantes, com elas podemos pensar e trabalhar em novos produtos para atender as demandas futuras”, explicou o engenheiro Ambrósio Bacca Filho, do departamento de vendas técnicas. A Trevisan, entre as principais no fornecimento de incubadoras, aeradores e equipamentos para aquicultura, avalia que o Ceará deve permanecer na dianteira do camarão por não ter problemas sanitários, mas que o cultivo vai crescer em diversas espécies por todo o País. “O Ceará vai continuar focado no camarão, já que não existe o problema da doença. O setor vai crescer muito. Creio que o peixe e a pesca marinha não vão dar conta, abrindo ainda mais espaço para a aquicultura”, disse Nedyr Chiesa, do departamento de vendas. A alta demanda por tecnologia para aumentar a produtividade anima também os estrangeiros. A chilena Aquaservice, fabricante de sistemas de bombeamento, já tem o Brasil como alvo. “O País precisa de tecnologia. Nós já temos 25 anos de empresa e podemos prover”, disse o gerente operacional,
O desembaraço de produtos importados anima a equipe da GPComex, de Marcia Gomes de Paula.. No mercado há dois anos, a empresa participou pela primeira vez da Fenacam. “Começamos como assessoria para importação e hoje já importamos em maior quantidade para melhorar o preço. Nosso
principal produto de importação é o aerador para os pequenos e médios produtores”, disse Marcia. “A feira está me surpreendendo muito, pois além de encontrar meus clientes, eu ainda fiz parcerias e estou oferecendo meu produto com valor agregado”, completou. Até a Queiroz Galvão Alimentos S/A, envolvida em problemas operacionais e ambientais com a fazenda da Potiporã, esteve na feira para promover a produção de pós-larvas. “Nosso foco é no pós-larva por conta da nossa experiência de dez anos de melhoramento genético”, conta a gerente Roseli Pimentel. “Estamos com uma alta demanda, algumas empresas já fizeram encomendas até o meio de 2015”, disse. A
expectativa da empresa, cuja produção fica em Pendências (RN), era chegar a 7 mil toneladas no fim do ano. Outra fornecedora de pós-larvas foi a Camarati, divisão do grupo Vannalife. Dona de uma produção de 5 bilhões de pós-larvas ao ano, quer chegar a 6 bilhões em 2015. “Nós temos clientes de todos os tamanhos, mas viemos à feira principalmente para estreitar esse relacionamento”, contou o gerente financeiro, Cristiano Matos. “Os empresários menores são importantes para nós, eles ajudaram a possibilitar esse crescimento gigante dos últimos três anos.” O futuro dirá, mas falar em “crescimento gigante” já no presente anima qualquer um.
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Marcelo Araya. Já a peruana fabricante de ração Nicovita também esteve presente para conhecer possíveis clientes e observar o mercado. “Ainda não temos liberação para vender ao Brasil, mas estamos sempre presentes na Fenacam. Assim conhecemos novidades, prospectamos clientes e nos envolvermos no setor, para nós é muito importante”, disse o gerente geral, Martín Lavalle.
Estatísticas
O tripé de análises do IBGE Com a estreia da aquicultura na Pesquisa Pecuária Municipal e de novas espécies no cálculo do IPCA, além de dados inéditos de consumo efetivo, 2014 marca de vez a entrada do IBGE na compreensão do setor brasileiro de pescado
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Texto: Thais Ito
A
s portas das fazendas foram abertas e o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) entrou. Junto às suas duas únicas pesquisas que abordam o setor – a Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF), que revela gastos domiciliares, e o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que retrata a variação dos preços –, o IBGE consolida um tripé de diferentes perspectivas capaz de aprofundar ainda mais a análise setorial.
A novidade é a inclusão da aquicultura na Pesquisa Pecuária Municipal (PPM). É a primeira vez que a instituição se debruça sobre a produção de pescado no Brasil. O ineditismo é fruto de um movimento concomitante à crescente demanda mundial por proteína animal: a maior busca por ferramentas de incentivo à produção de pescado, como relata Octávio Costa, gerente de estatísticas de pecuária do IBGE. Para ele, a eficiência do cultivo em cativeiro faz o pescado se sobressair no agronegócio.
“A aquicultura tem crescido mais que outras atividades agropecuárias porque há uma demanda por proteína animal”, aponta. “E essa proteína pode ser produzida em espaços menores e a um custo mais reduzido, além de ser importante em relação ao meio ambiente - a pesca extrativa tem freado devido à redução da população de várias espécies de peixe, então a própria Organização da ONU para a Alimentação e a Agricultura (FAO) tem recomendado a criação como alternativa à pesca.”
A construção de um novo retrato A PPM levanta anualmente informações sobre produção e valores de produtos de origem animal, como a carne, o leite e, a partir de dezembro de 2014, o pescado.
em média, 10 mil visualizações mensais. Lamentavelmente, os dados oficiais foram informados à imprensa após o fechamento da nossa edição impressa, mas podem ser acessados por você, leitor, agora mesmo. Veja as instruções no box “Dacos Completos On-line”.
Antes da publicação do resultado, o IBGE concordou em conceder uma entrevista exclusiva à Seafood Brasil sobre os bastidores do levantamento. A matéria, publicada em nosso portal, serviu como um termômetro do interesse do mercado pelo tema. Logo na primeira semana, o link se tornou o mais visualizado em um portal que recebe,
Com o novo objeto de estudo, a PPM abordou 17 categorias de peixes e seus híbridos. A tilápia foi o grande destaque pela escala de produção, segundo Costa. Já o jundiá, que sequer aparecia na lista inicial de espécies pesquisadas, esteve presente em tantas citações no Rio Grande do Sul que concorre a uma vaga na próxima versão do questionário.
DADOS COMPLETOS ON-LINE Leia o QR Code ou acesse o link bit.ly/ IBGEnoSeafoodBrasil e confira no nosso portal a cobertura completa da estreia da aquicultura na Pesquisa Pecuária Municipal e o infográfico especial que revela um retrato inédito do setor de pescado no Brasil.
PESQUISAS
POF
IPCA
PPM
Periodicidade
A cada 5 anos
Duas vezes por mês
Anual
Mote principal
Hábitos de consumo
Preço
Produção
Fontes consultadas
Mais de 55 mil domicílios
Supermercados, feiras livres, mercado público
Agentes da cadeia produtiva (de associações e cooperativas a bancos e instituições de estatísticas)
Fundação
1974*
1979**
2014
Brasil
Regiões metropolitanas do Rio de Janeiro, Porto Alegre, Belo Horizonte, Recife, São Paulo, Belém, Fortaleza, Salvador, Curitiba e Vitória, além do Distrito Federal e dos municípios de Goiânia e Campo Grande.
Municípios do Brasil inteiro
Universo
*À época, chamava-se Estudo Nacional da Despesa Familiar - Endef 1974-1975 e abrangia o âmbito territorial nacional, à exceção das áreas rurais das regiões Norte e Centro-Oeste.**Ano em que foram publicadas as primeiras pesquisas, cobrindo Rio de Janeiro, Porto Alegre, Belo Horizonte e Recife. Em seguida, foram abrangendo outros estados: São Paulo, Brasília, Belém, Fortaleza, Salvador e Curitiba (1980); Goiânia (1991), Vitória e Campo Grande (2014). A série Brasil é disponibilizada a partir de 1981.
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COMO FUNCIONAM AS PESQUISAS DO IBGE
Estatísticas
PESCADO NO IPCA: A RELEVÂNCIA DE CADA ITEM
QUANTO OS PREÇOS VARIAM A CADA ANO? IPCA - Percentual acumulado no ano – 2012-2014 Variável = IPCA - Percentual acumulado no ano (Percentual) BRASIL
MÊS % até dez-12
Índice geral Grupo Pescados Anchova Badejo Corvina Cavalinha Peixe* Sardinha Camarão Vermelho Cavala Pacu Dourado Cação Merluza Serra Pescada Caranguejo Castanha Salmão Tilápia Tucunaré Dourada Peroá Pintado
% até dez-13
% até dez-14
5.84 5.91 4.61 11.78 7.25 4.32 2.8 24.79 4.68 - - -4.09 8.76 10.19 12.06 1.06 9.69 -4.14 1.3 8.03 10 12.5 0.59 5.66 14.15 14.08 5.04 16.51 7.54 9.12 31.83 -2.57 20.45 - - 18.69 - - 31.81 5.27 26.21 7.53 4.43 11.55 11.51 34.33 -11.2 8.75 20.72 1.46 0.02 26.15 4.01 5.18 -4.69 23.82 -4.65 1.81 12.6 4.43 11.63 19.2 -4.8 13.25 -5.44 10.7 8.06 -0.25 -13.75 - - 12.22 - - 9.43
*Inclui espécies que, sozinhas, não têm relevância no orçamento familiar Fonte: IBGE - Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo
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Pesos percentuais por subgrupo, item e subitem no grupo “Pescados” do IPCA - Brasil/Outubro 2014 PESCADOS 100% Anchova 1.43% Badejo 0.29% Corvina 9.42% Cavalinha 0.75% Peixe* 15.64% Sardinha 4.11% Camarão 14.89% Vermelho 0.98% Cavala 2.35% Pacu 0.16% Dourado 0.23% Cação 2.77% Merluza 6.13% Serra 2.12% Pescada 20.53% Caranguejo 2.38% Castanha 0.42% Salmão 1.99% Tilápia 5.93% Tucunaré 1.50% Dourada 5.51% Peroá 0.39% Pintado 0.13% *Categoria inclui espécies que não têm relevância sozinhas Fonte: IBGE - Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo
AS MAIORES ALTAS E BAIXAS DE PREÇOS EM 2014 A metodologia e abordagem da PPM difere em todos os aspectos da IPCA - Percentual acumulado entre janeiro e setembro de 2014 no Brasil POF e do IPCA (veja BOX). “É um Índice geral 4.61 método mais subjetivo em que consulGeral, grupo, Geral, grupo, tamos não necessariamente o produtor, Posição subgrupo, item Altas subgrupo, item mas as pontes de agregação - desde e subitem e subitem associações de produtores, institutos estaduais de estatísticas ou de controle de Dourado 31,81 Dourada 1o sanidade animal, produtores reconhecidos, SEBRAE, cooperativas, bancos que Cavala 20,45 Tilápia 2o financiam a atividade, entre outros”, detalha Costa. Pacu 18,69 Castanha 3o
A (des)inflação do pescado Neste ano, o IBGE passou a incluir os preços de mais quatro peixes no cálculo do IPCA: o badejo, o pacu, o dourado e o peroá. Os novos rastreamentos são decorrentes da entrada de duas novas regiões metropolitanas no radar da medição da inflação - Vitória (ES) e Campo Grande (MS).
Recuos -13,75 -4,8 -4,65
4o
Peroá
12,22
Cavalinha
-4,14
5o
Corvina
12,06
Badejo
-4,09
Fonte: IBGE - Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo
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Esses itens, bem como os demais 19 que compõem o grupo “Pescados” no monitoramento para o IPCA, são definidos com base na Pesquisa de Orçamento Familiar, a partir da qual o IBGE identifica as espécies mais relevantes para o orçamento das famílias de cada região.
Estatísticas
IPCA: TENDÊNCIAS EM DESTAQUE Percentual acumulado no ano por grupo “Pescados” 25 2014* 20 15 2013
10 5
2012
0 -5 -10
Brasil
Belém
Belo Horizonte
Porto Alegre
*Janeiro a setembro de 2014 Fonte: IBGE - Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo
Segundo dados de outubro do IPCA, neste universo, os itens com maior peso são a pescada e o camarão. Regionalmente eles também são extremamente importantes, mas outros destaques ficam por conta da corvina em Salvador (BA), a tilápia em Fortaleza (CE) e a dourada em Belém (PA).
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“No final, ficam os peixes mais indicados pelas famílias consultadas pela POF, aqueles cujo valor é mais expressivo na despesa e são diferenciados conforme a região”, define Eulina Nunes, coordenadora de índices e preços do IBGE. “Ou seja, são escolhidos aqueles que têm efeito maior no orçamento das pessoas.” Duas vezes por mês, o IBGE monitora os preços deles em locais onde são comercializados. “Em geral são os mesmos tipos de estabelecimentos em todas as regiões - no mercado público (mais comum no Nordeste e no Norte), em alguns casos a feira livre (em SP, por exemplo), nos supermercados”, ex-
plica. “Hoje a venda está bem distribuída, todo supermercado vende peixe.” Entre janeiro e setembro de 2014, na avaliação nacional, o índice de variação de preços do grupo “Pescados” ficou alinhado ao índice geral. O dourado e a dourada foram líderes opostos. O primeiro foi o item que acumulou maior inflação percentual, superando o índice geral do IPCA em praticamente sete vezes. Já a dourada foi a que apresentou o maior recuo. Sob a lupa regional, o Rio de Janeiro se destaca por apresentar, entre janeiro e setembro de 2014, um aumento dos preços do grupo “Pescados” 138% superior à inflação geral da região. Entre os itens avaliados na região carioca, atenção para a alta da merluza, que também apresentou o maior aumento de todos os itens avaliados nas 13 regiões no mesmo período. Outro alerta é despertado por Belo Horizonte e Porto Alegre, onde o IBGE monitora apenas o subgrupo “Peixes”.
O comportamento do índice de pescado nessas regiões vêm atuando na contramão da tendência nacional. Enquanto o crescimento do preço de pescado no último triênio, considerando o levantamento até setembro deste ano, vem perdendo força, os preços naquelas regiões vem apresentando altas cada vez elevadas. Por outro lado, Belém reluz por registrar o maior movimento de recuo de preços nos últimos dois anos (entre janeiro de 2013 e setembro de 2014), embora tenha sido, em 2012, a região com maior acúmulo percentual no ano.
Quanto pescado o brasileiro consome fora do lar? Embora já esteja defasada, a mais recente Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF), de 2008-2009, ainda serve como referência. Foi a primeira vez em que o IBGE acrescentou um questionário inédito relativo ao consumo efetivo – ou seja, o que realmente foi consumido, não só adquirido – e ao percentual ingerido fora do domicílio.
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Estatísticas O RETRATO DO CONSUMO NO BRASIL
Os peixes frescos são os mais consumidos no Brasil
A média de consumo de pescado no Brasil é de 27,4 gramas diários por pessoa, totalizando cerca de 10 kg por ano* Peixes frescos e preparações
Outros pescados
Peixes salgados
Peixes em conserva
11%
Consumo de pescado é mais comum na mesa de casa que fora do lar
89%
11%
3%
1% *Considerando as quatro categorias avaliadas: “Peixes frescos e preparações”, que inclui peixe de mar (inteiro, em posta, em filé etc), de água doce (inteiro, em posta, em filé etc), vatapá, moqueca baiana, moqueca capixaba e sushi; “Peixes em conserva”, como sardinha, atum, salmão e atum light; “Peixes salgados”, que englobam bacalhau, peixe de mar salgado (inteiro, em posta, em filé etc) e de água doce salgado (inteiro, em posta, em filé etc) e “Outros pescados”, que envolvem camarão, siri, baú, goiá, caranguejo, guaiamu, marisco, ostra, lula, sururu, ovas de peixe (de qualquer espécie) e bobó de camarão.
O consumo de pescado é equilibrado entre eles e elas
56%
85%
44% O brasileiro come mais pescado na zona rural
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74%
26%
Fonte: POF 2008-2009/IBGE
GASTOS, AQUISIÇÕES E CONSUMO DE NORTE A SUL
BRASIL
Dados
R$ 5,04
Gasto por pessoa/mês *
4 kg/ano
27,4 g/dia
Aquisição alimentar domiciliar por pessoa/ano** Consumo por pessoa/dia***
N
R$23,14
17,5 kg/ano 104,5 g/dia
NE
R$7,23
4,9 kg/ano 40,1 g/dia
CO
R$2,26
1,6 kg/ano 9,3 g/dia
SE
R$2,53
2 kg/ano
14,9 g/dia
S
R$1,85
1,5 kg/ano
8,6g/dia
Anteriormente, a pesquisa abordava apenas as despesas voltadas para a disponibilidade dentro do lar. A questão da disponibilidade é uma aproximação da realidade e, durante muito tempo, os nutricionistas se baseavam nessas informações”, conta André Martins, gerente da POF. “Esse foi o primeiro estudo que fizemos para dar um passo além da disponibilidade e
inclui alimentação dentro e fora do lar. Isso é um retrato da realidade.” Nele, as famílias consultadas registraram durante dois dias tudo o que consumiram. Dessa maneira, a pesquisa revelou que o brasileiro consome, em média, 27,4g de pescado por dia, ou aproximadamente 10kg por ano, levando em consideração todas as categorias de pescado avaliadas.
A categoria dos peixes frescos é a favorita absoluta no País, representando 85% do consumo. A Região Norte é a maior consumidora: apenas no item de pescados frescos, o consumo médio diário por pessoa é de 95g - mais do que o triplo da média nacional de consumo total. Outra conclusão importante é a de que o brasileiro costuma comer pescado em casa - apenas 10,98% do total consu-
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*Despesas monetária e não monetária média mensal familiar (POF 2008-2009). **Aquisição alimentar domiciliar per capita (POF 2008-2009). *** Consumo alimentar médio per capita (POF 2008-2009) considerando a soma do consumo médio das categorias “peixes frescos e preparações”, “salgados”, “em conserva” e “outros pescados”.
Estatísticas CLASSES SOCIAIS SE IGUALAM NO CONSUMO DE PESCADO Aquisição kg/pessoa/ano
6 mido é ingerido fora do lar. Neste restrito universo, aqueles que mais tendem a comer longe de casa são os habitantes da Região Sul. Cerca de 70% do que os sulistas consomem na categoria “outros pescados”, que engloba camarão, siri, caranguejo, marisco, ostra, lula, entre outros, é ingerido fora do domicílio.
5
Os “outros pescados”, inclusive, são os itens mais procurados fora de casa em comparação às demais categorias. Do total consumido, 24% é ingerido fora do lar. Já os pescados “em conserva”, categoria que inclui sardinha, atum, salmão e atum light, são os itens mais ingeridos dentro de casa. No caso dos “peixes frescos e preparações” e dos “salgados”, cerca de 10% do total ingerido em cada categoria é consumido fora do domicílio.
1
A avaliação do consumo também endossa uma estatística de aquisição verificada pela POF: a maior relevância do pescado na zona rural. Com a média de consumo efetivo em mãos, é possível finalmente atestar que naquela zona come-se três vezes mais pescado fresco do que na urbana. Por outro lado, os valores se invertem na relação ao consumo fora do domicílio: o volume de pescado fresco ingerido fora do lar é quase o dobro na zona urbana em detrimento da rural.
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Região norte: a âncora do consumo A POF também permite aprofundar a análise sobre as variações do hábito de consumo de acordo com a região. A Região Norte, já destacada anteriormente, lidera todos os rankings. Na média de aquisição do grupo “Pescado” - que engloba mais de 40 itens - para consumo dentro do lar, a região supera em quatro vezes a média nacional. A mesma proporção marca a comparação entre Norte e Brasil no quesito despesa média mensal destinada aos pescados frescos para consumo domiciliar. “Nota-se que são bem alinhadas ao
Famílias com menor rendimento
4 3 2
Famílias com maior rendimento
0 2002-2003
2008-2009
Fonte: Fonte: POF 2002-2003 e 2008/2009/IBGE
volume adquirido em cada região”, observa Martins. Na avaliação do consumo efetivo - dentro e fora do domicílio - não é diferente. Levando em conta todas as categorias de pescados (“peixes frescos e preparações”, “salgados”, “em conserva” e “outros pescados”), o disponibilidade médio registrado no Norte está três vezes acima da média brasileira.
O que (não) mudou entre 2002 e 2009? “Sem dúvida, os pescados frescos, ou seja, os pescados in natura comprados nas feiras e supermercados, ainda têm maior peso na POF - os pescados industrializados aparecem em proporções menores”, destaca André Martins, gerente da POF. Para ele, não houve uma mudança relevante na aquisição desse item entre a última edição do POF (2002-2003) e a atual. No entanto, ele aponta a variação negativa em relação à qualidade da alimentação nos últimos anos. “Com o crescimento dos investimentos na boa alimentação, acreditávamos que haveria um aumento nos gastos com pescado, mas não houve elevação significativa”, alerta. “Em contrapartida, percebemos um aumento do consumo de refrigerantes e de produtos industrializados em geral. Felizmente a alimen-
tação do brasileiro incluiu mais frutas, mas o aumento de consumo de peixe também seria positivo.” Outra observação interessante foi verificada na mudança de hábito de acordo com o rendimento das famílias. O grupo com maior rendimento foi o único que apresentou aumento na aquisição de pescados entre 2002 e 2009 (13%); todos os demais reduziram a compra desse item. “Mesmo assim, a quantidade disponível nas famílias de menor rendimento ainda é superior à das famílias mais ricas”, ressalta Martins. Na sua opinião, isso é resultado da busca por alimentos antes inacessíveis às classes sociais mais baixas, mais do que uma escolha norteada pela saúde. “Observamos que, em vez de ir para uma alimentação boa, as famílias de menor rendimento procuraram itens que não conseguiam adquirir antes por conta de uma renda mais baixa - por exemplo, os produtos industrializados em geral, como os congelados”, aponta. “Nas famílias de maior rendimento a busca pela alimentação saudável ainda tem uma preocupação maior.” Seja qual for o segmento social, o peixe definitivamente caiu no gosto do consumidor.
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Direto da Produção
A nova casa do agronegócio aquícola (em 2016) Sebrae, entidades setoriais e produtores locais têm convicção de que o Mato Grosso em pouco tempo irá liderar a produção nacional em águas continentais
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Texto e fotos: Ricardo Torres
A
caminhonete avança pela estrada de terra. Uma, duas horas se passam, mas a fazenda é a mesma. Fora do carro, o calor cruza fácil a barreira dos 40°C sem sombra, temperatura que se conserva durante boa parte do ano. Não há sombra, a soja e o milho são onipresentes. Até onde alcança a vista, o cultivo
ocupa hectares e mais hectares. Até que surgem algumas lâminas d’água, que aos poucos se multiplicam. É então que a triticultura dá lugar a outra cultura: a dos peixes nativos de água doce. Para quem visitou o interior do Mato Grosso nos últimos anos, essa cena é cada vez mais real. Fortemente apoiada
pelo clima favorável e pela farta disponibilidade de grãos para a ração, a piscicultura saiu das 49 mil toneladas produzidas em 2011, segundo o boletim estatístico do Ministério da Pesca e Aquicultura (MPA), para fechar 2014 com mais de 60 mil toneladas, segundo estimativas do Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (Imea).
Esse cenário é o pano de fundo de dois marcos locais da atividade: um abrangente estudo do Imea (veja BOX) e a Feira Nacional de Peixes Nativos de Água Doce, realizada pelo SebraeMT entre 16 e 18 de outubro, em Cuiabá (MT). A julgar pelos resultados do estudo e pela forte adesão ao evento, o Estado se prepara com velocidade para liderar a piscicultura continental. Intenção evidenciada pelo diretorsuperintendente do Sebrae-MT, José Guilherme Barbosa Ribeiro, na abertura da Feira. “Há dois anos, anunciamos que seríamos o primeiro Estado da Região em produção. Isso aconteceu. Hoje anuncio que, em 2016, seremos os primeiros do País, vamos superar Santa Catarina”, disse. O presidente da Associação dos Aquicultores do Estado do Mato Grosso (Aquamat), Jules Ignácio Bortoli, sintetiza a razão de tanto otimismo. “Além do clima, disponibilidade de água e ração, temos outro fator: a vocação que o Mato Grosso tem para o agronegócio”, diz. Os números do Imea mostram que a análise faz sentido. O Valor Bruto da Produção Agrícola ultrapassa R$ 40,5 bilhões, com uma tendência de estabilidade e até queda da pecuária nesta participação. Valéria Pires, gestora do Projeto de Piscicultura do Sebrae MT, ilustra o panorama. “Os pecuaristas se dão conta cada vez mais que a produtividade por hectare de
peixe é muito maior do que a do gado”. De fato, 34,59% dos entrevistados pelo Imea atuavam na pecuária de corte antes de iniciar um empreendimento piscícola. Esse potencial já seduz parte da cadeia produtiva, que se prepara para suprir a demanda adicional por insumos para o cultivo. “O mercado aqui cresce muito. Viemos à feira para fazer uma análise, mas já estamos preparando a instalação de um Centro de Distribuição aqui no primeiro quadrimestre de 2015”, conta Fabricio Santos, gerente comercial da Bortoli, da Bom Futuro e Aquamat: vocação do MT para Nutrizon, empresa o agronegócio profissionaliza as pisciculturas sediada em Rolim cultivo”, disse Ericsson Venzon, gerente de Moura (RO) que produz rações especiais para peixes redondos. “Decidi de Pesquisa & Desenvolvimento participar com um estande para sentir o da Gomes da Costa. “Nossa ideia é introduzir em breve ao menos 10 itens mercado e estou impressionado com a de produtos nativos”, relatou Wilmar participação e o interesse dos visitantes Spengler, diretor comercial da da feira”, conta Dalton Skajko Sales, Vitalmar. diretor da Agroinova. A start-up criou um software específico para gestão de pisciculturas, o Inovapeixe, que teve Problemas e oportunidades grande procura no evento. Junto às vantagens já apresentadas, o Mato Grosso dispõe de outros estímuFora do âmbito da produção, los ao cultivo. A tributação é um deles, a Gomes da Costa e a Vitalmar já que o Estado não paga ICMS sobre a anunciaram interesse em absorver comercialização e industrialização de parte da produção crescente. “Nosso peixes criados em cativeiro. Outro é a consumo [para conservas] é maior dispensa de licenciamento ambiental do que a oferta de matéria-prima, para piscicultores com até 5 hectares de importamos muito, então temos lâmina d’água para tanque escavado interesse em comprar pescado do Mato e represa ou até 10 mil m³ de água em Grosso. Poderíamos comprar cerca de tanque-rede. 10 mil toneladas por ano de peixe de
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Grandes empresas do agronegócio já direcionam milhões para o cultivo do pintado, pacu, matrinxã, piraputanga, tambaqui e seus híbridos em tanques escavados dentro das propriedades rurais. Ao mesmo tempo, o cultivo em águas públicas desponta com força a partir do primeiro projeto de piscicultura em tanques-rede no lago do Manso – área a pouco mais de uma hora de Cuiabá cujas dimensões superam 850 km de perímetro.
Direto da Produção
Produção esmiuçada
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O primeiro Diagnóstico da Piscicultura do Mato Grosso foi realizado pelo Imea, a pedido da Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso (Famato), em parceria com o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar-MT) e apoio da Aquamat. Acesse o link http://bit.ly/ diagnosticodapisciculturaMT e baixe o arquivo completo.
Ainda assim, são poucos os produtores registrados. O Sebrae-MT calcula 950 piscicultores, cujo volume de produção ainda está aquém do potencial de consumo dentro do próprio Estado. “Precisamos aumentar a produção para manter a demanda com constância e organizar a logística da distribuição para oferecer em todos os pontos do Brasil. Hoje não temos peixe disponível o suficiente na região”, conta o consultor da Delicious Fish, Darci Fornari.
disponível para o cultivo. “Levamos gente que nunca tinha nem viajado de avião”, conta Valéria.
Outro gargalo é a mão de obra especializada. “Temos muitos problemas de manejo inadequado e desperdício no arraçoamento”, conta Bortoli, presidente da Aquamat e também diretor do projeto de piscicultura da Bom Futuro. O SebraeMT luta para contornar o problema com cursos e material didático especializado. Em setembro, lançou uma versão digital de um manual de como iniciar o cultivo de espécies regionais. Há dois anos, criou uma missão com produtores que foram ao Chile para conhecer a tecnologia
Quando os sócios do Grupo Bom Futuro apostaram na piscicultura, enxergaram uma possibilidade de diversificar os negócios. Donos do maior cultivo individual de soja do mundo, com fazendas bem abastecidas de água, eram candidatos naturais à atividade.
Auditório lotado: seminário organizado pelo Sebrae-MT em paralelo à feira teve visitação superior a 1000 pessoas
Na lista de desafios está também a inexistência de um pacote tecnológico dos nativos, como já existe para a tilápia, camarão e salmão. Para Fornari, que também é proprietário da Genetic Fish Rise, pode-se aprimorar muito ainda o melhoramento genético e a nutrição.
Sonhos e a realidade
Não à toa, a fábrica de ração construída pelo grupo há um ano e meio na fazenda especializada em sementes Fartura, em Campo Verde (MT), já se tornou fundamental. De acordo com o gerente administrativo do complexo, Nahzir Okde Jr., a unidade produz 450 toneladas por mês de um mix de farinha de víscera, osso, sorgo, milheto e milho, além de farelo de soja. Toda essa quantidade é absorvida internamente pelo grupo. “O custo é a grande vantagem do negócio: chega a ser 50% mais baixo do que as rações existentes”, diz. Além da Fartura, a Seafood Brasil também esteve em outubro na Fazenda Santa Juliana, pertencente ao Complexo Filadélfia, onde visitou parte dos 65 hectares de lâmina d’água do local. “Aqui produzimos tambatinga [híbrido do tambaqui com a pirapitinga], pintado e piauçu”, conta Jules Bortoli. Os tanques escavados no local têm em média 3 hectares de lâmina d’água cada, onde os peixes atingem peso médio entre 1,8 kg a 2kg para o abate.
Trajetória similar tem a da Delicious Fish, criada em 1998 pelo Grupo Gaspar. Hoje a fazenda em Primavera do Norte, distrito de Sorriso (MT), já dispõe de 335,4 hectares para a produção de peixes nativos nos sistemas extensivo, semi intensivo e intensivo (raceway). A produção ultrapassa 4 mil toneladas, com 60% de tambaqui e 40% de pintado. A operação chegou a ser completamente verticalizada, mas passa agora por um momento de redefinição. “A cadeia era toda verticalizada: produção de alevinos, fábrica de rações, graxaria, frigorifico, industrialização e venda em uma loja fast-food”, conta Fornari. O projeto da loja em shopping deve voltar em 2016, mas o restante segue em atividade na fazenda, incluindo a produção de 15 milhões de alevinos por ano. Em abril, a empresa inaugurou um frigorífico de 4.800 m² com um investimento de R$ 22 milhões, para processar 40 toneladas diárias. Agora busca um parceiro para aproveitar a estrutura na totalidade. Fábio Calhao, da consultoria FCalhao, é especializado no projeto de unidades de processamento e afirma que projetos do gênero só crescem. “Tal crescimento impulsionou a edificação de novos projetos, fazendo com que o Estado saltasse de 03 indústrias em 2005 para 08 plantas com SIF em 2014”, conta. “E para 2015 já são 6 projetos na prancha para a implantação ainda no primeiro semestre”, conclui.
O lago do Manso Bem poderia ser o Titicaca brasileiro. Exageros à parte, o que o maior lago navegável do mundo guarda de semelhança com o lago do Manso é a sensação de que se está no mar. Situada em plena Chapada dos Guimarães, a represa tem 40 mil hectares de água. E é ali que a Manso Aquicultura instalou o primeiro projeto na represa de cultivo de peixes nativos em tanques-rede de grande volume. A Seafood Brasil foi a primeira equipe jornalística do Brasil a ter acesso ao local. Caminhamos por cima das gaiolas naquele que é o primeiro dos 40 mil de lâmina d’água do lago capazes de receber uma piscicultura intensiva. “Este é o primeiro projeto brasileiro com tecnologia própria de tanques-rede de grande volume”, conta o diretor comercial da empresa, Manoel Padilha da Cunha Jr. O cultivo segue o modelo de cessão onerosa criado pelo MPA, cujas primeiras outorgas do Manso foram entregues em 2013. O projeto da Manso Aquicultura, no entanto, é o primeiro a entrar em funcionamento. De acordo com Padilha, a expectativa é produzir até 200 toneladas neste primeiro hectare com tanques circulares de polietileno de alta densidade e retangulares de aço galvanizado com tela de aço inox com 600 m³, 300 m³ e 100 m³. “Podemos combinar até 8 tanques desses, que, juntos, formam baterias para até 225 toneladas de peixe”. Na ocasião da visita, um tanque de 100 m³ fazia a função de berçário de alevinos de pacu. “Mas o objetivo é trabalhar em altas densidades de pacu, pintado, piraputanga, matrinxã e outros peixes nativos”, diz Padilha. Em um futuro breve, haverá ainda uma casa e um galpão para apoiar o cultivo. Se o modelo da Manso for replicado por outras empresas (1 hectare = 200 toneladas) e apenas 5% da área do lago for usada para piscicultura, a produção no local pode chegar a 400 mil toneladas. Quase a metade do que produz hoje toda a aquicultura nacional.
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Parte disso era abatida em um frigorífico para 10 toneladas ao dia, que o grupo desativou recentemente por preferir se concentrar na produção, segundo Bortoli. “A produção é mais rentável e representa uma operação menos complexa que o processamento.” O grupo tem ainda outros 4 locais de produção, que totalizam mais de 150 hectares de lâminas d’água e produzem 1650 toneladas ao ano.
Marine Equipment
Fornecedores
Muito além do horizonte
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Mesmo em estágio inicial, tecnologia de tanques-rede mostra evolução no cenário aquícola e almeja novos caminhos Texto: Léo Martins
A
definição é simples. “O tanque-rede é uma estrutura fechada e flutuante, tipo gaiola, cuja principal função é criar o peixe em seu interior”, explica Francisco das Chagas de Medeiros, diretor técnico da Manso Aquicultura. Essa “comunidade”
de peixes cultivados juntos vem se destacando cada vez mais como atividade econômica no Brasil, que já conta com um número muito maior de fornecedores dedicados a aprimorar a tecnologia disponível – ainda em estágio inferior à disponível nas grandes fábricas de peixe mundiais.
Philip C. Conolly, engenheiro de pesca e fundador da Engepesca, conta que o cultivo de peixes em jaulas flutuantes de bambu começou há muito tempo atrás, em 1922, mais precisamente no Lago Mundung, em Jambi, na Indonésia. “As primeiras notícias de cultivos em cercados fixos
Arquivo/Seafood Brasil
Medeiros, da Manso Aquicultura: tanque-rede de grande volume se torna tendência para equilibrar altas densidades
Aos poucos, materiais naturais como a madeira e o junco foram substituídos por redes de fibras sintéticas, especialmente de poliamida ou náilon. Já mais tarde, a partir da década de 70, o cultivo em tanques-rede se estendeu a mais de 35 países entre Europa, Ásia, África e América do Norte. “Em 1978, já se cultivavam experimentalmente mais
de 70 espécies de água doce”, complementa Conolly. O Brasil segue uma linha muito específica de tanques-rede, conforme conta Medeiros. O modelo de “pequeno volume e alta densidade” disseminado por aqui foi influenciado principalmente pelos trabalhos da Associação dos Produtores de Soja dos Estados Unidos (ASA). “Eles foram responsáveis por divulgar no Brasil este modelo, cujo objetivo era aumentar a criação de peixes em tanques-rede no Brasil aproveitando os
A disponibilidade de recursos hídricos, principalmente as hidrelétricas, associados ao aumento do consumo do pescado no Brasil, confluem para o incremento do negócio. Para um desenvolvimento mais acentuado, Medeiros aponta que a implementação de tanques-rede de grande volume, bombas de despesca e máquinas
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também vêm do sudoeste da Ásia, onde os pescadores estocavam bagres do gênero clarias e outros peixes comerciais em cestos de bambu e junco”, informa Conolly.
reservatórios de hidrelétricas existentes e, assim, elevar a demanda por soja no mercado”, detalha. Para o especialista, atualmente esse modelo representa mais de 98% do mercado brasileiro e atende muito bem aos pequenos e médios projetos. No entanto, nos projetos de maior produção, exige um aumento considerável na demanda por mão-de-obra e manutenção de equipamentos.
Fornecedores
amplamente praticada na aquicultura. “Nestes processos, os tanques ocupam pequenas áreas, geralmente privadas, onde o proprietário tem o controle total sobre o seu cultivo”, esclarece Conolly.
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Divulgação/ Engepesca
O especialista acredita que a atividade de engorda em tanques-rede no Brasil tem despertado o interesse de muita gente. No entanto, os profissionais iniciam seus cultivos sem acompanhamento técnico especializado e sem muito conhecimento sobre a biologia da espécie cultivada, o que pode prejudicar (e muito) o crescimento da atividade. “O cultivo intensivo em tanques-rede só deve ser adotado após um cuidadoso estudo de viabilidade econômica e com um acompanhamento especializado”, orienta Conolly. “Deve-se considerar que o peixe confinado não tem acesso à alimentação natural, tornando-o totalmente dependente do homem.”
selecionadoras são alguns dos incrementos obrigatórios para um salto de qualidade na produção.
da e adaptar os equipamentos existentes de criação de salmão e trutas para atender a tilápia e peixes nativos”, diz.
Qualidade, no entanto, não significa quantidade. Medeiros aponta que a qualidade da água em alguns locais não permite densidades altas de peixes por m³, aumentando consideravelmente o seu custo inicial. Para atender a esse perfil, o diretor da Manso revela que, atualmente, cresceu a oferta de tanques-rede de grande volume, com área útil de produção que varia de 100 m³ ate 1.600 m³. A principal vantagem deste novo sistema é a redução do número de unidades de produção. “Um tanque-rede de 600 m³ substitui 100 modelos de 6 m³, o que representa redução da mão-de-obra e aumento do gerenciamento do negócio.”
Foi justamente essa carência que interferiu de maneira direta na história da Manso Aquicultura. Medeiros conta que, no início, a ideia da empresa era trabalhar com a produção de peixes no Lago do Manso, no Mato Grosso. “No entanto, quando escolhemos a tecnologia que desejávamos empregar, ou seja, os tanques-rede de grande volume, verificamos que o mercado nacional não dispunha de nenhuma empresa apta a nos atender”, relembra. “Por conta disso, fomos obrigados a fazer viagens ao exterior para conhecer a tecnologia. Compramos projetos e montamos a empresa no Brasil com intuito de atender a nós e o mercado”, acrescenta Medeiros.
Medeiros acrescenta que a falta de um parque tecnológico mais avançado nos tanques-rede obriga as empresas a buscarem alternativas lá fora. “Somos obrigados a procurar empresas no exterior que possam atender à nova deman-
Apesar desse déficit tecnológico, o emprego temporário de redes de até 9 m² na formação de alevinos, estocagem e depuração de peixes já é uma realidade
Apesar de ser otimista quanto ao futuro da atividade em território brasileiro, Francisco Medeiros reforça o peso que a questão política tem para o crescimento do segmento. “A atividade realmente é muito promissora. Porém, dependemos muito de politicas ambientais que, infelizmente, ainda não se consolidaram no Brasil”, aponta. “Isso traz ao setor uma insegurança jurídica enorme, o que acaba impedindo uma expansão mais rápida dessa atividade”, finaliza. É com otimismo que o ramo de tanques-rede se prepara para que, no futuro, possa obter o merecido reconhecimento na evolução do cultivo nacional. Pegando carona na canção do rei Roberto Carlos, “além do horizonte existe um lugar” a que o setor espera chegar para cativar de vez o mercado, não só dentro d’água, mas principalmente fora dela. Veja nas páginas seguintes um infográfico especial sobre os modelos e usos dos tanques-rede
Nylon é o fio da questão Fundada em 1986 com o objetivo de projetar e construir redes para a aquicultura, pesca industrial e projetos especiais, a Engepesca possui mais de 7400 clientes em todo o Brasil e exterior. Para os tanques-rede, a empresa dispõe de produtos com fabricação de nylon multifilamento para a formação de alevinos, estocagem temporária ou depuração de peixes.
Pioneirismo à base de alumínio Presente no mercado de piscicultura desde 1975, a Iarema se destaca por ser pioneira na fabricação e venda de tanques-rede com estrutura de alumínio e possui em seu rol de clientes prefeituras e companhias energéticas. Atualmente, a empresa oferece três tipos de telas em aço-inox e duas opções em arame galvanizado revestido em PVC.
Marine Equipment/Divulgação
Divulgação/ Iarema
Divulgação/ Engepesca
FORNECEDORES
Experiência traduzida em soluções Com mais de 20 anos de experiência, a Marine Equipment atende aos setores de aquicultura e pesca no Brasil e oferece tanques-rede produzidos em PEAD de 6 a 50 metros, nos formatos circular ou quadrado e com brackets soldados ou injetados.
Guia de compras ENGEPESCA: (47) 3344-6929 / 3344-0101 www.engepesca.com.br
Mix de soluções Presente no mercado de piscicultura desde 1989, a Renovar tem disponível em sua gama de tanques-rede os modelos circular, plataforma despesca, clássico e convencional. A empresa também possui a Agropecuária Nacarroça para a venda e distribuição de rações e medicamentos e também é representante em São Paulo da Bernauer Aquacultura.
Divulgação/ Manso
Renovar/Divulgação
MANSO AQUICULTURA: (65) 2128-9700 www.mansoaquicultura.com.br IAREMA: (43) 3542-2209 www.iarema.com.br RENOVAR: (19) 3895-5359 / 3855-3347 www.tanquerederenovar.com.br
Grande volume em PEAD A Manso Aquicultura aposta em soluções de taques-rede de grande volume com estrutura de ferro ou PEAD (polietileno de alta densidade). A empresa também elabora projetos de piscicultura intensiva em viveiros escavados na terra e em tanques-rede de grande volume em reservatórios de hidrelétricas, rios e lagos.
MARINE EQUIPMENT: (48) 3371-4300 www.marineequipment.com.br Leia este código QR para ver o portfólio e outros contatos destas empresas http://bit.ly/SEAfornecedores
Rendimento, produtividade e eficiência: • • • • •
Despolpadeiras Descouradeiras Descamadeiras Lavadoras Evisceradoras
• Classificadores • Chillers para sangria • Mesas para filetagem, pesagem e embalagem
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as melhores soluções em processamento de pescado
Fornecedores
Infográfico
Aplicações dos tanques-rede na aquicultura: Confinamento ou armazenagem de matrizes: pode ser feito em tanques de 4 m² a 9 m² durante as operações de transporte ou seleção de reprodutores para desovas artificiais. Formação, estocagem ou aclimatação de alevino: em tanques de 4 m² a 9 m², esse processo assegura redução na mortalidade pela eliminação da predação por espécies nativas e um maior controle sobre os alevinos antes do transporte ou na introdução em um novo ambiente. Depuração dos peixes antes do abate: em tanques de 9 m² a 25 m², esse é um processo importante para garantir a qualidade organoléfica do pescado, que é uma das principais exigências das indústrias de pescado. Engorda de peixes: em tanques de grande volume, entre 12 m³ a 8.000 m³ (salmões), neste processo, a densidade por metro cúbico gira entre 50 a 300 peixes. A alimentação é intensiva e os peixes são totalmente dependentes do homem.
Os principais modelos Philip Conolly, da Engepesca, aponta três principais modelos de tanques-rede à disposição no Brasil. Hapas fabricadas de telas de polietileno: também chamadas de mosqueteiras, esses modelos possuem de 700 a 1000 micras (0,7 mm a 1 mm). São utilizadas principalmente para estocagem de larvas e reversão sexual de tilápias.
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Tanques-rede construídos com panagens de nylon multifilamento sem nós: o material desse modelo é macio, resistente, flexível e de fácil manejo. Eles são muito utilizados para formação de alevinos, estocagem e depuração. Também são muito utilizados em cultivos marinhos.
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Tanques-rede ou gaiolas de telas plásticas ou de aço revestido com PVC: são utilizados em grandes represas onde existem predadores como piranhas, jacarés e outros peixes nativos que atacam o nylon multifilamento. Outro detalhe é que o plástico é composto por polietileno de alta densidade.
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Em linhas gerais, possuem os seguintes padrões: • Dimensões: 2m x 2m; 3m x 2m; e 3m x 3m; • Profundidade: variam de 1,5m a 2,5m; • Área útil de produção: de 6m³ a 18 m³.
Área de ocupação de um tanque-rede Para determinar a quantidade de tanques-rede em relação à área da lagoa, deve-se considerar a densidade de peixes que se pode cultivar neste lago. Veja o exemplo nos passos abaixo:
1
Uma área de 50.000 m2 comporta 50.000 peixes, permitindo ainda espaço para outras espécies nativas que habitam este ambiente.
2
Transferindo-se toda esta biomassa para tanques-rede, na densidade de 250 peixes p/ m3, necessitamos de 200 m3 de gaiolas.
Este volume pode ser estocado em 50 tanques-rede de 4 m2 (200 m2) ou de 2 m x 2 m x 1,5 m, que são instalados em 5 baterias de 10 unidades,
3
4
A área ocupada é de, aproximadamente, 1,6% da área total da represa - 800 m2 considerando os espaços entre os tanques-rede.
Onde não implantar?
Onde implantar? O cultivo só é viável em grandes áreas represadas e abrigadas, onde não se tem controle sobre a despesca. A profundidade média deve ser acima de 3 m e ter boa circulação de água. É extremamente importante que a base inferior do tanque-rede fique em média a 4 m acima do fundo do lago.
Fonte: Philip C. Conolly, engenheiro de pesca da Engepesca
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Em lagoas onde se tenha completo domínio sobre a despesca, com profundidades inferiores a 3 m e que o produtor pode realizar o cultivo diretamente neste lago. Nessas profundidades, a base fica muito próxima ao fundo e, com uma densidade de 200 peixes por m³, muitos detritos são produzidos, se oxidando no fundo do lago, consumindo oxigênio, liberando amônia e causando alterações no PH.
para compor a linha que já faz sucesso lá fora. O título acima é o mote da empresa.
Empanados nacionais
Na
Gôndola
do, Camarão com Catupiry, Creme de Palmito, Strogonoff e Camarão Tailandês compõem a linha que em breve estará nos pontos de venda.
A oferta de peixes e frutos do mar Direto da Noruega A Hallvard Leroy desembarca no Brasil com uma linha de congelados imediatamente após o processamento: nas embalagens de 500g, filé de salmão, filé de truta salmonada e filé de bacalhau com pele. Já o filé de bacalhau congelado sem pele vem em caixas de papelão de 400 g. O foco é em consumidores de poder aquisitivo mais alto.
Noronha com MSC Filés e postas de bacalhau, polaca e agora o hoki, conhecido como merluza de cola. São estes os itens que integram a linha da MSC da Noronha, a primeira empresa brasileira a comercializar produtos certificados pela entidade. A partir de janeiro no supermercado Angeloni e em breve em outras redes, terão embalagens de 800g para os filés e 1 kg para as postas. Já o bacalhau varia entre 1 kg e 1,5 kg.
A Maris aproveitou a última Fenacam para lançar o primeiro produto de uma nova linha de empanados. O camarão descascado empanado é pré-frito e vem congelado em pouches de 200g. Nas gôndolas desde novembro, completam o portfólio de 18 produtos da empresa, que engloba lagosta e polvo, além do camarão em diversas apresentações.
Caixas premium Alto padrão até nas embalagens. Essa é a proposta da Prime, que lança uma embalagem de 680 g com caudas de lagosta congeladas para empórios e supermercados. As caixas têm janela e tampa para exposição qualificada do produto. O bacalhau Prime, outro produto da linha da empresa, já é vendido em embalagem similar, mas sem tampa.
Para comer bem
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Pratos prontos repaginados Para incrementar a posição no varejo, a Vivenda do Camarão preparou novas embalagens, mais modernas e atraentes. Bobó de Camarão, Camarão Empana-
O varejo é uma boa vitrine para a variada linha da Antonio y Ricardo, marca tradicional do grupo espanhol Confremar. As caudas de camarão empanadas Orly se juntam às postas e filés de merluza
Presunto sabor caranguejo O surimi, conhecido no Brasil apenas como matéria-prima do kani, lá fora é muito mais versátil.
A Pescanova é uma das empresas que aposta no produto, como mostram esse embutido fatiado de surimi apresentado na última feira Conxemar. E o preço é convidativo: cerca de R$ 3 por 110 g.
Parece lagosta, mas... Krissia, outra marca da espanhola Angulas Aguinaga, tem produtos criativos à base de surimi. Este produto simula uma cauda de lagosta e é vendido em embalagens de 150 g. Ótimo para saladas e coquetéis.
Consumidor vira chef
Sabor do Norte
A Você Chef, linha da Fiji para o varejo, usa a tecnologia sous-vide para oferecer receitas do chef francês François Mallard. O filé de tilápia no azeite com alcaparras é a opção com pescado da linha, que ainda “misturas” como frango recheado com espinafre e queijo minas, frango recheado de queijo e presunto e polpetone de carne recheado com mussarela.
A série La Gula del Norte, da Angulas Aguinaga, busca retratar o rico universo da culinária galega. Nesta opção – que também contou com a Conxemar como palco – são duas porções de enguias feitas com surimi pré -prontas, que podem ser consumidas como macarrão.
Pré-cozidos com sabor
Abre e fecha Menu do dia A espanhola Lumar deve em breve chegar ao Brasil e uma das linhas com possibilidade de desembarcar aqui é a Menu Completo, que envolve um tipo de pescado e mais uma guarnição. Atum, salmão e bacalhau estão entre os itens que compõem os pratos prontos.
Praticidade é palavra de ordem nesta linha da Costa Sul, que reúne linguado, tilápia, salmão, bacalhau e abadejo. Os pouches de 500 g tem tecnologia zip -lock, que permite tirar apenas a porção que se vai consumir. A indicação da origem do pescado vai logo na frente da embalagem.
A oferta de produtos semiprontos é enorme no exterior. Esta linha da Terranova é um exemplo de como boas receitas podem entrar na onda da conveniência. Polvo com purê de batatas e pimentões, salmão tailandês com camarão e merluza em infusão de ervilhas com especiarias são algumas das opções.
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Na Cozinha O peixe no food service
“Traz mais um?” Depositphotos
Embora não seja tão difundida quanto outras modalidades de rodízio, a opção com peixes e frutos do mar está presente em todas as Regiões do País, com uma variada gama de espécies
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Texto: Marcela Gava
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rasileiro gosta muito do conceito de rodízio. A criatividade tupiniquim levou à criação de diversos tipos de restaurantes, como pizzarias, churrascarias e de comida japonesa, que servem uma sequência de variedades de uma mesma culinária. Nosso segmento também se aventurou nesta fórmula tão popularizada e já há diversos restaurantes focados em servir especialidades aquáticas. Com um preço fixo, o cliente fica à vontade para
experimentar, conhecer e degustar várias espécies. Caso aprove uma iguaria específica, tem liberdade para repetir sempre e quantas vezes quiser. Segundo Enzo Donna, da consultoria de food service ECD, a ideia de um restaurante com rodízio de pescados não é nova. “Em Florianópolis, existem restaurantes com o conceito de rodízio, com o camarão como estrela do cardápio, e são chamados de ‘Sequência de Camarão’”, comenta. “O interessante é que este tipo
de restaurante funciona em regiões com forte oferta de produtos do mar.” Mesmo que a fama desse conceito venha da característica de servir variedades com fartura, a grande vantagem está na possibilidade de o consumidor conhecer, ao mesmo tempo, várias espécies e cortes. Muitas vezes, o contato com certos produtos só é possível nesse contexto. Outro diferencial é a possibilidade de conhecer diferentes formas de preparação de matérias-primas, pois na
Divulgação/Lélis Peixaria
O Brasil possui estabelecimentos do gênero espalhados por todo o País, mas o rodízio de peixes ainda não é tão difundido quanto outras modalidades, já que, conforme explica Hélio Takeda, chef e professor de Gastronomia da Universidade Anhembi Morumbi, o brasileiro não está acostumado a comer peixes. “Além disso, é um pouco caro, já que os peixes têm épocas específicas e é difícil encontrá-los durante todo o ano”, fala.
A estrutura do rodízio Os rodízios de pescado seguem uma dinâmica muito parecida com a modalidade mais difundida, a de carne bovina, suína e de aves. Em certos casos, quando o peixe é servido assado, o churrasqueiro é responsável por deixá-lo bonito e apresentável, tomando cuidado para a matéria-prima não ressecar ou, então, não passar do ponto. Em outros casos, é o chef de cozinha quem comanda o processo ao garantir a qualidade da receita que leva a mesma espécie de pescado a diferentes pratos. Depois, cabe ao passador atravessar o salão de mesa em mesa para oferecer cada opção. Ele também deve estar preparado para solucionar quaisquer dúvidas a respeito das espécies ou do processo de preparação. A Lélis Peixaria está localizada em Cuiabá, no Mato Grosso, e abriu suas portas há nove anos com a intenção de explorar o pescado de forma que nenhum outro estabelecimento fazia até então. “Quando inaugurei, as peixarias da região de Cuiabá e do Mato Grosso trabalhavam somente com dois tipos de peixe: pacu e pintado”, comenta Lélis Fonseca, proprietário do restaurante. Tanto é que a região tem uma receita famosa, conhecida como peixada cuiabana, que inclui a ventrecha – trata-se da costela do pacu à milanesa –, o filé de pintado e o ensopado de pintado, que é a mojica.
“Também não eram servidos peixes assados ou grelhados na chapa, e nenhuma dessas peixarias trabalhavam com jacaré”, comenta. Por causa disso, o empresário percebeu que os estabelecimentos deixavam de explorar o potencial do peixe. “Então, criei um rodízio que disponibilizasse peixes nobres de água doce”, justifica. Hoje a peixaria conta com uma lista de sete espécies: pintado, pacu, piraputanga, matrinxã, pirarucu, lambari e arraia, além do jacaré. O camarão é o representante dos crustáceos e compõe a feijoada de pintado, ou o recheio de pastel, fazendo parte da entrada do rodízio. Para comer isso tudo, o visitante deve desembolsar R$ 79,90. A maioria dos estabelecimentos, assim que o cliente se acomoda, logo oferece as guarnições, que variam entre arroz, batata, salada e algum prato especial da casa. No caso do Lélis, além do pastel de camarão é servido um caldo de pintado. Já no restaurante Arapuca, em Piracicaba, no interior de São Paulo, a fórmula é parecida, mas a entrada inclui um cuscuz tradicional da casa. Gabriel Santin, proprietário do restaurante, explica que, após a série
de acompanhamentos e guarnições, em cerca de 15 minutos os primeiros peixes já começam a chegar à mesa do cliente. Para atender à demanda de público, o estabelecimento já deixa o peixe pré-assado. “Cozinhamos o produto congelado no sal. Depois ele é colocado na grelha, recebe mais sal e água, e vai cozinhando. Todos os peixes fora da grelha ainda não receberam tempero, que só será colocado quando o alimento for para a mesa”, fala. Dessa forma, o restaurante desenvolveu um sistema em que deixa pronta quantidade suficiente para atender cerca de 15 rodízios no almoço. “Se chega uma mesa que demanda 15 rodízios, já buscamos e colocamos mais peixes [para assar]”, explica. Em seguida, quando chegarem mais 10 clientes, em 15 minutos já é possível liberar mais peixe. O estabelecimento está localizado na região turística da cidade, a Rua do Porto, conhecida por reunir restaurantes com culinária à base de peixes. A maioria das opções servem à la carte, mas, há um ano, o Arapuca inovou ao trazer o conceito de rodízio para seu cardápio, que inclui piapara, tambaqui,
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maioria dos estabelecimentos as receitas regionais são levadas em conta.
Na Cozinha
salmão, posta de filhote, posta de pintado, lombo de filhote e espeto de pintado, ao custo de R$ 39,90 durante a semana e R$ 45,90 nos finais de semana.
com queijo e quatro tipos de peixes servidos em filé. Aqui, também, se o cliente cismar com um prato, é só pedir para o garçom trazer mais.
Segundo Santin, as opções que mais saem são a piapara e o filhote. Por conhecer esse histórico, ele consegue se preparar antecipadamente para atender a demanda. “Os clientes perguntam do filhote. Se não tiver essa opção, o pessoal vai embora. Por isso, tem que ter um estoque legal dessa espécie”, explica.
Localizado próximo ao aeroporto da cidade, parte do público que frequenta o restaurante são turistas. Pagando o valor de R$32,90 (na terça e na quarta, quando o movimento é menor, é cobrado R$ 21,90), o cliente tem acesso às opções do menu da casa, que traz espécies como tilápia, linguado, surubim, abadejo, pescada, merluza e salmão.
Outros rodízios, outras formas de servir
De acordo com o chef de cozinha Sergio Vieira Silva, a tilápia é, sem dúvidas, a espécie que mais sai. “Por isso prepara-se antes, deixando mais opções para serem servidas”, explica. Na preparação, usa-se sal, alho e ervas, mas, depois, cada espécie tem um destino final conforme seu modo de preparo.
Não pode deixar faltar
Divulgação/Arquivo Seafood Brasil
Divulgação/Arquivo Seafood Brasil
Divulgação/Arquivo Seafood Brasil
Divulgação/Arquivo Seafood Brasil
Para contornar a sazonalidade das espécies, Hélio Takeda argumenta que é preciso ter vários fornecedores e contatos. “Alguns produtos podem ser congelados adequadamente, como ca-
Divulgação/Arquivo Seafood Brasil
Na peixaria Poraquê, de Manaus, a oferta de peixes é parecida com um “sirva-se à vontade”. O buffet fica montado, sendo substituído com frequência, e o
O forte do restaurante manauara são as espécies regionais, como surubim, tambaqui, pirarucu e tucunaré. “Trabalhamos com pratos grelhados, fritos, caldeados e assados na brasa. Quanto aos filés, há opções de pirarucu ou tambaqui com molho de camarão ou tucunaré no escabeche”, diz Fabíola. Em questão de pratos típicos da região, o restaurante oferece caldeira de tambaqui com tucupi e jambú.
Divulgação/Arquivo Seafood Brasil
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Outros estabelecimentos espalhados pelo País tem proposta similar, mas nem todos seguem o esquema de um passador servindo de mesa em mesa. O restaurante londrinense Surubim, especializado em peixes e frutos do mar, oferece três opções de serviço: à la carte, porções e uma espécie de rodízio à la carte. Neste último, são servidos alguns pratos especiais com pescado, como croquetes de peixe, iscas de peixes à milanesa, peixe à rolê recheado
cliente se serve pagando um valor fixo, que é de R$ 39,90 durante a semana e R$ 42,00 nos finais de semana e feriados. Segundo Fabíola Costa da Silva, chef de cozinha, se comparada a outras peixarias da região, o serviço de “rodízio” é uma peculiaridade do Poraquê, já que outros estabelecimentos trabalham apenas com à la carte.
No Arapuca, em Piracicaba (SP), o rodízio começou em 2013 e já atrai fãs de filhote
Divulgação/Lélis Peixaria
marão, lula, polvo. No entanto, é preciso garantir frescor. Outra opção é utilizar peixes disponíveis no mercado e usar os de água doce. Há aqueles que podemos ter o ano inteiro, como salmão, atum, tilápia e pescada”, explica. Em 2014, para Gustavo Santin, a piapara trazida da região sul foi uma das espécies que ficou em falta. Para não desperdiçar o produto disponível, economizou-se no rodízio, deixando o peixe que estava escasso reservado para a modalidade a la carte. “Caso chegue um cliente que só come a piapara, você pode perde-lo por não ter a opção. Por causa disso, tem semanas em que tiramos a piapara do rodízio.” Em outros momentos, o proprietário já teve de lidar com a escassez de filhote, trazido da região Norte.
Salão do Lélis, rodízio de pescado de Cuiabá que já virou tradição Tanto no restaurante Surubim como no Poraquê, adota-se a substituição. “É difícil faltar peixe, mas quando falta substitui por uma opção parecida, por exemplo, moqueca por merluza”, comenta Silva. Fabíola acrescenta que se falta um peixe, sempre tem outro que o cliente gosta: “Quando não há sardinha posso pegar o pacu, tucunaré ou jaraqui, que são pequenos e podem ser fritos”. Na peixaria de Cuiabá, conforme Lélis Fonseca explica, quando falta uma espécie é por causa da demora no transporte desde Santarém (PA). Mas a espera é de apenas alguns dias, nada que possa prejudicar o negócio. Apesar
disso, por outras circunstâncias, um dos peixes do cardápio do restaurante teve de ser retirado. É que na Bacia do rio Paraguai, em Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, a pesca de dourado está proibida desde 2013.
Quem fornece Por estar situado às margens do rio Piracicaba, no Arapuca muita gente acredita que os peixes são derivados de lá. Na verdade, se a época é favorável em relação à quantidade de água no rio, segundo Gabriel Santin, é até possível pescar um pintado ou dourado, mas o peixe não tem ali o tamanho necessário para ser usado no restau-
A logística do pescado ponta a ponta.
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TRANSPORTES, LOGÍSTICA E ARMAZENAGEM • Cargas congeladas e resfriadas • Veículos dedicados e fracionados • São Paulo (capital e interior) e Rio de Janeiro
Na Cozinha
As estrelas dos rodízios
Piapara, postas de filhote, tambaqui, postas de pintado, piraputanga, espeto de pirarucu e lambari frito estão entre as iguarias mais pedidas nos restaurantes do gênero
rante. Por isso, opta-se por fornecedores localizados em cidades como Limeira, Campinas e São Paulo, que entregam o produto congelado.
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O cuiabano Lélis tem uma estrutura diferente. A maioria de sua matéria-prima chega de colônias de pescadores da própria região, boa parte fresca. “Já os jacarés vêm da Cooperativa de Criadores de Jacaré do Pantanal”, explica Fonseca. No caso dos fornecedores de Manaus é diferente. “Lá é feito outro tipo de trabalho. Os pescadores levam direto para os frigoríficos e compramos deles na região de Manaus e também de Santarém e Belém.” Quando vem congelado, torna-se mais fácil a preparação. “Não tem desperdício ao limpar o peixe porque ele já vem pronto, congelado dos fornecedores, por isso não perde a matéria”, comenta Silva. Por outro lado, Santin lembra: “Se você põe um quilo de lombo para assar, até servir a carne pode desidratar. Nesse caso, perde-se 300 gramas do peixe”. Ou seja, de acordo com ele, na verdade você não pagou por 1kg, e sim por 700 gramas. “Tem muita perda no preparo do peixe. Você tem de tomar muito cuidado ao pre-
pará-lo. Ao colocar uma cebola ou um pimentão, se não guardar certo, então pode perder.” Segundo Fabíola, no Poraquê o peixe é comprado in natura e beneficiado lá mesmo no restaurante, onde são retiradas as espinhas e as vísceras para, em seguida, ser filetado. “No caso do tambaqui, compramos
inteiro, mas temos uma perda de 50%”, fala. O peixe vem com cabeça, escama e vísceras, por isso tem de ser totalmente limpo. “No caso do pirarucu, que já vem limpo, só há necessidade de cortar e proporcionar.” Todo esse carinho para levar peixe com qualidade a quem já se farta normalmente de todo o tipo de carne nos rodízios brasileiros.
A tarefa de evitar desperdício Tudo que é à vontade pode levar ao consumo desenfreado, gerando desperdício de comida. Cobrar valor a mais de quem não comeu tudo o que colocou no prato é uma prática abusiva, tanto é que órgãos de defesa do consumidor consideram a atitude ilegal. Embora seja importante que o cliente tenha consciência e evite o desperdício de alimentos, a saída não é penalizá-lo, já que, muitas vezes, ele exagera na proporção pela ânsia de experimentar tudo o que estiver a seu alcance. Para contornar o problema sem que ambas as partes sejam prejudicadas, os restaurantes investem em práticas que amenizam a sobra de comidas no prato. Uma ação simples é o treinamento do funcionário responsável por servir o prato do consumidor. Ou seja, a porção servida ao cliente que chega não vai ser a mesma depois de ele ter experimentando diversas espécies, uma vez que há grandes chances de já estar satisfeito. “No começo, colocávamos peixe frito e batata. Quando percebemos que havia muita sobra de batata, eliminamos esta opção do rodízio”, comenta Gabriel Santin, do Arapuca. Na peixaria Lélis, a abordagem busca a conscientização tanto do cliente quanto do garçom. “Tentamos sempre colocar pedaços menores no prato, porque são bastante tipos de peixe. Assim, esclarecemos que colocamos um pedaço pequeno para ele poder provar todos os pratos”, esclarece Lélis Fonseca. “Tentamos instruir nossos garçons a seguir um modelo que, no final, não gere desperdício.”
O verão está chegando e esta salada de algas tem um destino certo: os restaurantes orientais!
A Time Seafood, uma companhia de propriedade japonesa sediada na China, procura representantes na América do Sul para vender este e outros produtos.
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A salada de algas é congelada rapidamente em um ambiente livre de bactérias, não contém aditivos ou conservantes, é rica em cálcio, iodo, algina e outros minerais benéficos.
Personagem
“Troquei uma carreta por 850 alevinos” A incrível história de Megumi Yokoyama, piscicultor que se apaixonou pela atividade há 30 anos e hoje inspira uma legião de profissionais dedicados aos peixes nativos
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Texto: Equipe Seafood Brasil a década de 80, quem pensava em investir no cultivo de pirarucu só podia ser maluco. Ração não existia, melhoramento genético era filme de ficção científica e alevinos eram mais difíceis de encontrar que estradas asfaltadas no interior de Rondônia naquela época. Foi então que Megumi Yokoyama, contador formado em São Paulo, encontrou durante uma visita à uma feira de artesanato na Amazônia um tecido feito com couro de pirarucu. Os detalhes vermelhos do maior peixe de escama do mundo chamaram a atenção de Yokoyama. Encantado pela beleza do “gigante da Amazônia”, decidiu buscar meios para cultivá-lo. Mudouse para Pimenta Bueno (RO), cidade a 500 km da capital, Porto Velho. Foi lá que passou a ser conhecido como Seu Pedrinho. Começou a trocar bens pessoais pela estrutura necessária para o cultivo. Sua determinação era um caminho sem volta: depois de encontrar um homem que tinha 850 alevinos da espécie, decidiu vender uma carreta. Quando soube o que ele iria fazer com o dinheiro, o comprador do caminhão retrucou: “O sr. está louco?”. Seu Pedrinho não se abalou. Fechou o negócio confiante, mas enfrentou o primeiro e talvez maior revés da sua carreira de piscicultor. Dos alevinos adquiridos, metade morreu em alguns dias. Preocupado com a extinção da espécie, distribuiu o restante entre outros fazendeiros.
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Sem saber como alimentá-los adequadamente, Seu Pedrinho viu quase todos os seus próprios alevinos morrerem. Sobraram 15. E nas outras fazendas alguns poucos também sobreviveram. Foi com essas matrizes que Seu Pedrinho conseguiu fazer a primeira desova do pirarucu em cativeiro registrada pelo Ibama, em 1992. Estimulado pelo momento mais favorável, criou a Piscigranja Boa Esperança. Hoje uma referência na comercialização de alevinos, a empresa ganhou um impulso tecnológico com a ajuda do Sebrae na microchipagem dos peixes e também de empresas como a Delicious Fish, com melhoramento genético, e a Mar & Terra, que compra 80% dos alevinos de Rondônia para seu cultivo comercial de Pirarucu e arrendou a fazenda de Seu Pedrinho em 2010. Como os negócios vão bem, anda sempre de bom humor. Durante sua apresentação na Feira Nacional de Peixes Nativos de Água Doce, em Cuiabá (MT), divertiu a plateia com muitas tiradas. Quando comentava sobre o comportamento sexual do pirarucu, saiu-se com essa: “Muitos dizem que os pirarucus são monogâmicos, mas os peixes são espertos. Qualquer ‘mulher’ que chegar eles ficam. Aprenderam com o homem”. Seu Pedrinho aprendeu na raça, mas também com o apoio de muitos parceiros. Hoje o trabalho é intenso, mas o riso é farto.
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