IVSTREET#06

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Maze: Keller -

Abram os olhos... E pensem nisto!

Há vida para além do óbvio?


33

Direcção

Joana Nicolau Sónia Bento Tó Moisés Regalado

Equipa

Alberto Darame Ivo Alves Vanessa Cardoso Daniela Ribeiro Olheiro A.Silva (Primouz) P.Silva (Primouz) João Coelho

Design

Hugo Araújo (Snake) André Almeida (Phomer) Propaganda 13

Webmaster Fresh

É agradável ver que a IV Street já é um bebé de 6 meses. Um bebé que embora seja carenciado em muitos aspectos e esteja limitado a uma edição on-line, tem pernas para andar e já soube dar uns bons passos. No fundo, qual deverá ser o destino desta criança? Porque não deixá-la crescer livremente neste formato? A internet é o melhor meio de divulgação actual e a lacuna que este projecto pretendia preencher, já esteve mais longe de deixar de existir. Havendo união e força de vontade, a IV Street tem um futuro. O caminho é em frente…

Actualidade Internacional

1

Actualidade Nacional

3

Mundo no MusicBox

5

Bob da Rage Sense no MusicBox

6

Bob da Rage Sense

7

Abram os olhos...E pensem nisto

11

Aesop Rock - Mil imagens por Millisegundo / Aesop Rock( s )

13

Críticas a CD´S

18

Maze

24

25 anos de Air Force 1

27

Graffiti / Fotologs

29

Vá para fora cá dentro - Sta. Maria da Feira

30

New School - Karabinieri

31

Zoom-in Dealema e Mind da Gap no Coliseu do Porto (Música e Solidariedade)

33

Há vida para além do óbvio

35

Graffiti - Vhils

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IV Street @ net

40

31 27

13

5

Por:Daniela Ribeiro

Colaboradores SpeH Timóteo Tiny Keller Stray

38 Sub Escuta

7


El Puto Largo Inspiración

The Snowgoons – German Lugers

Compilação Explicit Politik EXPLICIT POLITIK é uma compilação de rap francês, constituída por dois volumes, o primeiro dos quais já se encontra a circular desde 6 de Fevereiro, enquanto o segundo verá a luz do dia no mês de Abril. Como o próprio nome indica, é um projecto de teor politico-intervencionista, que conta com faixas de Mr R, Médine, Alibi Montana, Mac tyer, 2Bal, Larsen, Psikopat, entre outros. A produção do mesmo ficou a cargo de Banque de Sons, Bullet Prod., Jer, Swan, Smil, DJ Boosh, Recidive Prod, Avant-Garde Prod. e Weal Starr.

The Snowgoons é o colectivo de produtores alemães constituído por Det, DJ Illegal, Torben, e DJ Waxwork, que prepara para lançar já no próximo dia 27 de Fevereiro o seu álbum de estreia. Com lançamento pela Babygrande Records e intitulado GERMAN LUGERS, o projecto aborda uma sonoridade mais hardcore e street rap, com participações de luxo do underground norte-americano como Sean Price, Edo G., Living Legends, Rasco, Chief Kamachi, Jus Allah, El Da Sensei, Wise Intelligent, Reef The Lost Cauze, Doujah Raze, MED, Celph Titled, Pumpkinhead, Afu Ra, Wordsworth e Virtuoso, entre muitos outros. Para mais info podem consultar o http://www.myspace.com/snowgoons

Regresso dos IAM Depois de 4 anos de inactividade em estúdio, o maior colectivo de rap francês de todos os tempos prepara o seu regresso às lides discográficas. Os IAM já estão a planear o sucessor de REVOIR UN PRINTEMPS de 2003, e o seu 5º álbum de estúdio. Ainda sem título definido, mas com a certeza que irá ver a luz do dia a 2 de Abril, sabe-se também que o single será o tema “Une Brique Dans Le Mur”. 2007 marca o regresso deste lendário colectivo de Marselha.

Álbum de Joell Ortiz

The Wisemen – Wisemen Approaching Depois do sucesso do álbum de estreia THE GREAT MIGRATION, o produtor Bronze Nazareth junta-se desta feita ao seu colectivo The Wisemen para estrearem o álbum WISEMEN APPROACHING. Constituído pelos elementos Kevlaar 7, Bronze Nazareth, Phillie, Salute the Kid, Illa Dayz, e Break Bred, os The Wisemen vão contar com as participações de luxo de nomes como GZA, Mos Def, Killah Priest, Planet Asia, Timbo King, Prodigal Sunn, entre outros. O projecto é uma parceria Think Differently Music Group/Babygrande Records, com data de lançamento prevista para o dia 27 de Fevereiro.

Stones Throw – Chrome Children Vol.2 A Stones Throw em conjunto com a Adult Swim lançou no passado dia 29 de Janeiro o novo volume do projecto Chrome Children de forma totalmente gratuita. Novo material sonoro por parte de Guilty Simpson, Percee P, Four Tet, Dabrye, Aloe Blacc, Roc C e Oh No, entre outros. Já disponível em www.stonesthrow.com/chromechildren para o respectivo download.

Depois de quase ano e meio de preparação, o elemento do conhecido grupo espanhol Dogma Crew, MC El Puto Largo prepara já para o próximo dia 21 de Fevereiro o lançamento do seu projecto a solo, intitulado de INSPIRACIÓN. São 18 faixas com lançamento pela SFDK records, e distribuição pela BOA Records, onde El Puto Largo conta com participações dos seus camaradas de armas Dogma Crew, além dos SFDK, Shotta, Buda, Niño, Dekoh e Aniki. A nível de produções estas ficaram a cargo de nomes como Accion Sánchez, Dag Nabbit (Foreign Beggars), Voodoo Etnies, DJ Pera, entre outros.

Jazzy Jeff The Return Of The Magnificent Depois de THE MAGNIFICENT pela BBE Records, o lendário DJ e produtor Jazzy Jeff regressa com o seu novo registo, convenientemente intitulado THE RETURN OF THE MAGNIFICENT. O old school de Filadelfia irá contar nas participações no mic nomes como Little Brother, CL Smooth, Method Man, Big Daddy Kane, De La Soul, Kardinal Offishall, Rhymefest, KRS-One, Raheem DeVaughn, entre outros. Esperam-se instrumentais com aquela Jazzy vibe bem ao seu estilo, num lançamento R2 Records para meados deste ano.

A editora nova-iorquina Koch records anunciou o lançamento do álbum de estreia de Joell Ortiz, intitulado THE BRICK (BODEGA CHRONICLES). Com data prevista para 24 de Abril, o MC de Brooklyn tem vindo a criar buzz com posteriores participações em várias mixtapes de Tony Touch, DJ Whoo Kid e DJ Kay Slay, conseguindo assim, uma lista de admiráveis participações. Esperam-se aparições de nomes como Immortal Technique, MOP, Ras Kass, Noyd, Graph e Stimuli, ficando a produção para The Alchemist, Showbiz (DITC), Fame dos M.O.P., entre outros. “Hip Hop” será o primeiro single deste projecto.


Bob The Rage Sense – M.P.L.A.

MidGard – Nasty Dreams

Sob Pressão Este vai ser o título da nova revista portuguesa de graffiti, a ser lançada nas lojas da especialidade brevemente. Esta revista vai abranger writers de todo o país assim como variados formatos do movimento. Para mais informação podem consultar o site www.fotolog.com/sob_pressao

Mixtape Footmovin Freespeech A MIXTAPE FOOTMOVIN – FREESPEECH é o novo projecto da editora do DJ Bomberjack. Uma mixtape de 15 faixas entre as quais inéditos, freestyles e sons que irão sair nos proximos lançamentos da Footmovin. Com participações de nomes como NBC, Valete, Sp&Wilson, Sir Scratch, Bob Da Rage Sense, M.A.C, FM, Black Mastah, Royalistick, Núcleo, é o regresso de Bomberjack ás mixtapes, com data de lançamento prevista para dia 26 de Fevereiro. Noutras notícias, sabe-se que um dos veteranos do Hip Hop nacional, NBC, juntamente com a dupla de beatbox SP&Wilson, estiveram em Madrid ao longo de um fim-de-semana para gravar uma música para a banda sonora do filme espanhol “Fados”. A produção da faixa, que ainda não tem título, ficou a cargo de SP, e a letra de NBC, visto que a maioria da vocalização é da sua autoria. Os músicos viajaram para Madrid já com a faixa masterizada e gravaram na capital espanhola as cenas para o videoclip.

Depois do seu primeiro álbum instrumental THE LAST PAGE, o produtor algarvio MidGard surge agora com o seu novo disco intitulado NASTY DREAMS, lançado através da Ilegal Records. Uma mistura de vários estilos com instrumentais capazes de chamar a atenção de qualquer um. Um álbum inovador e acessível, feito com o intuito de chegar a todo o tipo de público e que promete agradar a todos! Um disco alternativo que conta ainda com a participação de DJ Dizzy, DJ G.I.Joe e StarShyne. O projecto já está disponível para download em http://rapidshare.com/files/15923515/MidGard__Nasty_Dreams.rar.html .

EuroBattle 2007 A cidade do Porto vai mais uma vez ser anfitriã para um dos mais importantes eventos mundiais de Breakdance, a Eurobattle 2007. O evento irá decorrer de 27 a 29 de Abril no Cace Cultural do Porto (antiga Central Eléctrica de Campanhã). Esperam-se participações de grande renome nacional e internacional, numa competição será dividida em várias vertentes, entre as quais, Bboying, Bgirling, Locking, Popping e New School. Para mais informações sobre o evento e fazerem a respectiva inscrição, podem consultar o site http://www.eurobattle-portugal.com/ brilhantemente desenvolvido pelo Fresh e o Snake, da IV STREET.

Novo programa de Rádio A oferta de programas de rádio dedicados à cultura Hip Hop anda em alta. Depois do Turntable, surge um novo programa de rádio, intitulado 100BPM. Apresentado por DNA, o programa pode ser escutado todas as quintasfeiras entre as 22 e 23h, na frequência 107.8 FM (região de Santarém) ou através da emissão online em www.radio100.pt .

Be-Myself – Alma Lusitana Já se encontra a venda o mais recente projecto do Ultimo Piso Produções um EP de apresentação de Be-Myself (oriundo de Quarteira) intitulado de ALMA LUSITANA. O projecto contêm 13 faixas, com produções de Fenni, Tanb, Karabinieri e Maestro, em termos de participações conta com Opel, Vital, Godzila e Maestro.

Musi(Q)alidade - Pronto-a-ouvir O projecto independente MUSI(Q)ALIDADE – PRONTO-A-OUVIR, vai ter o seu primeiro volume nas ruas no dia 1 de Março. Os convidados para estrear este projecto são MCs como Mad Skill, kilOmbo, Ary, Tanb, Zap, Horyginal, cAp, Reflect, Perigo Publico, Kubiko Records Family, entre outros. Este projecto conta com o apoio de várias editoras portuguesas e da loja virtual Dark Mixtapes. Esta compilação é um projecto que será lançado de 3 em 3 meses. Para mais informações: www.musiqualidade.blogspot.com .

Depois de BOBINAGEM, Bob Da Rage Sense prepara-se para lançar já o próximo mês de Março o seu novo álbum M.P.L.A. – MENOS PÃO, LUZ E ÁGUA. Com lançamento pela Footmovin, o projecto conta com produções de Sam The Kid e Laton (Kalibrados) e participações de Dino (Expensive Soul), Promoe e Supreme (Looptroop), Mundo, Maze, Fuse, Sir Scratch, Vui Vui, Salvaterra entre outros. Para mais info e conferirem os sons “Chora Comigo” e “Luz do Dia”, podem aceder ao site www.footmovin.com

Sensei D - Viagem ao interior de Sensei D Depois da mixtape HIPHOP - ESTRATÉGIAS DE AUTOEVOLUÇÃO, o produtor Sensei D prepara-se para lançar o seu primeiro álbum com produções totalmente de sua autoria, projecto esse intitulado A VIAGEM SONORA À MENTE DE SENDEI D. Sendo um disco na sua maioria instrumental, irá contar porém, com três participações sendo elas as de Criatura, Discipulo e Geb One dos Factos Reais. Como o próprio nome sugere, é um álbum continuo e intimista em forma de viagem, como se de uma jornada ao interior da psique do seu autor se tratasse, encontrando-se todo interligado através de skits e interlúdios. A VIAGEM SONORA À MENTE DE SENDEI D tem lançamento previsto para Março deste ano em edição de autor, e vai estar disponivel para compra pela quantia de 5€ em lojas da especialidade como a Supafly, Low Budget e a IV Street Store, tal como em alguns sites que serão indicados na altura certa.


Artistas: Mundo e DLM SoundSystem Local: MusicBox, Lisboa Data: 02 de Fevereiro de 2007

ARTISTAS: Bob da Rage Sense c/ Nel Assassin LOCAL: MusicBox, Lisboa DATA: 09 de Fevereiro de 2007

M. P. L. A. MILITÂNCIA PELA LIBERDADE E ANARQUIA

OPORTUNIDADE DE MUDANÇA EM LISBOA Inserida na mini tour que levou a cabo com o lançamento do primeiro disco a solo – SÓLIDA OPORTUNIDADE DE MUDANÇA -, Mundo fez uma paragem no MusicBox em Lisboa. O concerto começou cedo e o público não veio em massa assistir. Em todo o caso, Mundo trouxe Dj Guze e Mc Rato (ACTS) para partilhar o palco e deram um concerto breve e intenso. A brevidade assentou totalmente no seu disco que foi percorrido quase na totalidade num só fôlego. Sendo impossível desvendar exaustivamente aquilo que foi o concerto de

Mundo, música a música, “O Que É Feito”, com a voz presente e corpo ausente de Ana (LF Cool), procura um abrigo, “N1 Segundo” eleva a memória descritiva do músico, “Há Dúvidas”, sem Ace num instrumental massivo, provoca quem quer dançar, “S.O.M.” arranca os poucos resistentes dos lugares sentados e faz o refrão ecoar, “Pacífico” instala-se tranquilamente e apodera-se das mentes, sem pausa, com paz de espírito, “1Início 1Fim” mostra a revolta incontestável perante os extremos vividos entre a pobreza e a riqueza, apetrechado de violinos. Versos foram disparados, os scratches chegavam no momento certo e olhares cruzavam-se transmitindo confiança. Mundo, em palco, como todos já sabemos, tem uma presença discreta mas marcante. Por mais contraditório que esta ideia seja, é assim mesmo, com uma linguagem inteligente e movimentos gestuais expressivos. Uma viagem para outro mundo, para o mundo do Mundo, é concerteza a melhor frase para esta noite. O MC sabe levar-nos para dentro obra que tem vindo a construir. Mais tarde, DLM SoundSystem fecharam a noite. Um momento mais dançavel com as produções dos colectivos Dealema e Mind da Gap. Por: Vanessa Cardoso Fotos: Speh

Se alguma vez tiveram dúvidas sobre a palavra underground, as vossas perguntas terão resposta automática quando forem a este novo club em Lisboa. MusicBox, situado por baixo das arcadas numa das piores zonas da cidade, abre as portas partilhando a vizinhança com prostitutas e bares de alterne. 23h00 quando cheguei. Lá dentro, apenas o palco estava montado, algumas cadeiras ocupadas pelos fãs mais fervorosos. Entre os encarnados das luzes baixas, via-se uma lona Footmovin, que deixava adivinhar a presença do patrão da editora, Tiago Ribeiro. Das colunas ouvia-se a nova compilação que sairá dentro de algumas semanas, confidenciou-me o próprio, que se mostrava confiante quanto ao resultado final, e também em relação ao concerto da noite. Uma hora e meia depois vejo um DJ que começa a riscar o vinil, Nel Assassin, por entre a bruma, e sem se evidenciar demais, deixa tocar alguns vinis à medida que a casa se compunha e as pessoas entravam. Maioritariamente, apreciadores, mas também curiosos.

Roberto, Roberto!, gritavam. Inicialmente não entendi, mas os que estavam na primeira linha eram já conhecedores do trabalho de Bob Da Rage Sense. Subiu ao palco numa noite despreocupada, onde lá fora, os taxistas largavam homens à procura de sexo barato, e a chuva miudinha não afastava os B-Boys do objectivo. Bob estava em palco como se estivesse numa reitoria de faculdade apresentando afirmações anti-americanas e palavras de ordem anárquicas. Assim se apresentou. Com um instrumental de encher o ouvido produzido por Laton, do bem conhecido grupo Kalibrados, as cabeças abanavam como se as notas musicais os levassem a remar em sentido ao palco. “Um Sonho Devolvido” foi a segunda música que cantou. Objectivo, Bob, afirma nessa letra “tudo o que quero apenas é que me escutem”, tal como o próprio diz, “não tenho pretensões de ganhar a vida com isto mas apenas passar o meu conhecimento”. O público já estava rendido ao final da segunda música, mas quando subiu ao palco Salvaterra, o outro elemento da crew, e Dino para cantarem “P.A.L.O.P”, viveu-se um dos momentos altos da noite, sem dúvida. Dino a mostrar o talento vocal e a deixar todo o público atento à sua voz. Outro convidado de peso, Sir Scrach, talento do ano transacto da editora Footmovin subiu para cantar “Verdade ou Consequência”. O palco tornou-se pequeno para tanto “peso”. Ana Aline, uma excelente voz, ao que me foi dito, cantora de fado e Vuivui dos Kalibrados mostraram profissionalismo. Vuivui fechou a noite com um freestyle inesperado carregado de metáforas. Explosivo, directo, sem papas na língua a atingir alguns e a deixar outros feridos, com a força das rimas. O concerto acaba, as luzes acendem-se, e o público espera por mais. Uma hora a debitar o novo álbum M.P.L.A. – MENOS PÃO, LUZ e ÁGUA e alguns temas do trabalho anterior BOBINAGEM, mais pareceu um minuto. Não há nada de negativo a assinalar. A Footmovin goza de boa saúde e o Hip Hop nacional anda na direcção certa. Para mim, apenas um reparo muito especial, o facto de Bob ter tido o privilégio de ter, por uma noite, um dos melhores DJ’s nacionais. O público dispersou-se em direcções várias. Os táxis não paravam de passar, os bares de alterne continuavam com as suas luzes de néon a brilhar. A maioria foi-se embora com a alegria estampada no rosto, com os bons momentos que Bob Da Rage Sense nos deu. Abençoados os clubs nocturnos, cada um à sua maneira. Por: Timóteo Tiny


Natural de Angola, Bob da Rage Sense, desde cedo que se carateriza pela sua visão política. O seu terceiro trabalho terá o nome MENOS PÃO, LUZ E ÁGUA e sairá brevemente pela Footmovin’. IVStreet: Antes de mais, porquê MENOS PÃO, LUZ E ÁGUA? Bob da Rage Sense: “Menos Pão, Luz e Água” é uma sátira a um sistema ditatorial do país donde venho (Angola), onde a liberdade de acção é um desafio para qualquer activista. É uma metáfora do que o regime nos tem oferecido desde 1975... IVS: Neste álbum contas com a participação de Promoe e Supreme dos Looptroop. Como é que surgiu a oportunidade de gravar com estes dois senhores? B: Este tema era para ter a participação do Zion (dos Zion I) mas fui um pouco desleixado e deixei de manter contacto com ele. A oportunidade surgiu quando fiquei a saber que o Promoe vinha actuar a Lisboa e que supostamente eu também ía actuar no mesmo concerto, com o Sir Scratch. O Supreme também veio e como adoro Looptroop pensei em pôr os dois na mesma track. O curioso é que não foi nada de forçado, aconteceu tudo naturalmente. Eu e o Promoe começámos a conversar e apareceu o Supreme. Quando dei por mim estava o Promoe a ligar-me, a pedir para levar frutas e nozes para o estúdio (risos), porque ele é vegan e eu sou vegetariano. Eles sentiram muito o tema da música e o conceito que usei para a capa e título do álbum. Nem me cobraram praticamente nada. Foi simplesmente transcendental e o som está lindo, com o Dino no refrão... IVS: Para além dos dois suecos, M.P.L.A. vai contar com várias outras participações. Não nos queres falar um pouco delas? B: Bom, vou ser objectivo: Mundo, Maze, Fuse, Sir Scratch, Laton e Vuivui

(Kalibrados), Salvaterra, Dino, Dilman, Lawilka e o Dj Nel´Assassin, que é o meu dj oficial neste momento. A intenção foi fazer uma fusão de nomes que de certa forma aparentam não ter nada a ver mas cuja trajectória, no fundo, acaba por ser a mesma. Isto pode parecer contraditório, devido à conotação de que os Kalibrados fazem música comercial. Mas eu e o Laton sempre trabalhámos juntos, desde o meu primeiro EP, e sempre aceitei o Vuivui como mc. Acho que a criação de cada um varia consoante o estado de espírito. Por exemplo, Dealema é a minha banda favorita de hiphop em Portugal e o Mundo é o meu mc de preferência desde 1997. Se ele fizer uma música comercial agora, não o vou censurar por isso. "Mudar todos mudamos".... As participações estão exactamente como queria.

Não há distinções na minha perspectiva. Todos brilharam muito e isso para mim é uma realização... IVS: Uma nova versão de “Chora Comigo” é o single de avanço deste novo álbum. Porquê pegar num tema já presente em “Bobinagem”? B: Em “Chora Comigo, pt.2” digamos que só o título e as personagens é que não mudaram. O conceito em que eu e o Laton pensámos desta vez é bastante diferente do anterior. No “Chora Comigo” do BOBINAGEM relatamos o facto de existirem pessoas que não conseguem exteriorizar as suas dores e em quem, mesmo com a face enrugada, permanece no semblante uma revolta profunda. Não conseguem sequer chorar para atenuar a dor. No fundo, apelamos às pessoas


para chorarem connosco num discurso bastante altruísta (risos)… Na segunda parte, que é esta nova, o conceito é totalmente diferente. Eu saí de Angola e o Laton conheceu outras pessoas e começou a ter outras influências, consequentemente começou a ter outra perspectiva e a ter noção de como fazer um estilo que lhe permitisse ser auto-suficiente. No entanto, as pessoas ligavam-me a mandar bocas de que ele agora é um comercial e de que está arrogante e coisas do género. Como sempre fomos grandes amigos, senti-me obrigado a mostrar às pessoas de que a inveja não nos leva a lado nenhum. A letra dele é muito profunda e as mesmas pessoas que o apontaram são as primeiras a dizer que a música está muito bonita....."A ironia da vida"… IVS: Dado o facto de seres um emcee de origem angolana e com bastante consciência política, não nos queres falar um pouco da tua perspectiva sobre a “paz” em Angola? Será que vês com bons olhos as futuras eleições? Acreditas que vão ser democráticas? B: Falar de Angola requer muita delicadeza. Haverá paz um dia, sim, mas pergunto-me todos os dias de quando, se na realidade nunca houve paz em Angola. Haverá eleições um dia, sim, mas pergunto-me outra vez de quando se nunca houve eleições livres e justas em Angola. Num país onde 2% controla o resto da população e em que existem pessoas que sobrevivem com menos de 1 dólar por dia, não existe democracia, a verdade é esta. Posso até errar, o que é natural, mas não acredito em que se realizem eleições justas, pelo menos agora. Não existe partido, pelo que sei, que faça frente ao partido do poder, e mesmo que houvesse, esse mesmo seria financiado e controlado pelo partido soberano. Tal como aconteceu com a derrocada da UNITA, foram todos para o M.P.L.A. e criaram um governo de renovação que na realidade acaba por não mudar nada. Foram muito poucos os que não entraram neste ciclo... Esta é uma pergunta que requer uma explicação para além desta que te estou a dar. Para isso teria que recuar até 35 anos atrás, para quando os preparativos estavam a ser feitos para a luta de libertação... Paz, na minha perspectiva é as pessoas serem livres e em Angola as pessoas não o são... IVS: Quais serão os principais temas abordados neste teu novo registo? B: Acho que tenho uma grande variação de temas neste álbum, desde o “Menos Pão, Luz e Água”, que é político, ao “Dedicatória”, que é um romance (risos). O álbum musicalmente não tem uma mensagem

específica. Eu tenho o meu lado extremista e o meu lado sereno. Neste caso escolhi o lado sereno na maior parte dos temas. Preferi dar mais voz ao coração, mesmo afirmando ser um apoiante do comunismo e da revolução nos dias de hoje... "É preciso ser duro sem nunca perder a ternura" como dizia Ernesto Guevara..... IVS: Onde foi feita a gravação e quem foram o(s) produtor(es) oficiais? B: A maior parte das gravações foram feitas no Norte no estúdio do Almabranca (risos)… Grande personagem! O resto foi feito cá em Lisboa mesmo, no Ground Zero por Beat Laden, o Brunex, que fez a mistura e a masterização do álbum... O Laton foi quem produziu a maior parte dos beats. O album terá 17 faixas e ele produziu 12. Existem também dois beats do Sam da kid (um deles é o que abre o álbum e que repete numa versão com o Fuse no fim do álbum), um beat do Mundo (sempre quis rimar num beat do Mundo) e temos um produtor angolano ainda muito pouco conhecido cá, que é o D.H. Não o conheço pessoalmente e ele fez questão de me oferecer um beat, que é lindo. Obrigado mano... IVS: Quando é que vamos poder ver MENOS PÃO, LUZ E ÁGUA nas lojas? B: O álbum ainda não tem data prevista, mas em princípio estará cá fora em Março. Perguntem ao Bomberjack! (risos) IVS: Para finalizar e fugindo um bocado ao tema principal, a tua battle contra o Tekilla foi um dos acontecimentos que mais deram que falar ultimamente. Tiveste o feedback de que estavas a espera? B: Bem, eu não estava a espera de feedback nenhum, até porque o Tekilla não é mc de batalha, tal como a maior parte do mcs do "hiphop tuga". Ainda bem que tocaste neste assunto... A minha notoriedade cá em Portugal não cresceu por me pendurar nos ombros de alguém. Não provoquei, nem provoco nada. Até agora foi tudo fruto da minha luta, que a maior parte das pessoas não sabe, mas transcende o rap... Depois dessa cena que houve só tive mais certezas ainda de que a maior parte do movimento hiphop em Portugal não sabe nada sobre as raízes desta cultura. Não sabem o porquê das battles, como começaram e como se fazem. Eu fui durante muito tempo mc de batalha em Luanda e posso afirmar que aquilo é uma selva com muitos animais ferozes. O “hiphop tuga” não está ao nível neste aspecto. Alguma vez depois de alguém perder uma

batalha acusa o outro de ter escrito? Isto sim, é não ter noção do ridículo. Quando as respostas dadas foram bem na medida das barbaridades que o outro estava a dizer, só mostra o quão ignorante é o suposto mc e o seu público alvo, que deixa comentários na internet a dizer que aquilo foi escrito e que é uma palhaçada. Então expliquem-me o que é que o Eminem fez no “8Mile”? Que é o único filme de battles que alguma vez viram, penso eu. Tenho muita pena dessas pessoas, deixam-me perplexo. Eu não sou muito de estar na net a dar opiniões sobre o que os outros mcs fazem ou deixam de fazer. Não me meto na vida de ninguém e gostaria que os mais novos principalmente, não se deixassem influenciar. Peço que procurem saber mais em vez de se guiarem pela perspectiva cega desses pseudo-mcs. Só aceitei esta battle para me divertir, não foi nada sério (risos). Se fosse para escrever nem sequer havia batlle. Não estou aqui para impor nada, só espero que essas pessoas mudem de perspectiva e deixem de ser os ignorantes e hipócritas que são. De certeza que nunca mais voltarei a fazer battle, para não ter que suportar tanta mediocridade. Até porque já me tinha deixado disso... Já imaginaste se o Supernatural, o Craig G ou mesmo o Idea e o Eminem fossem sempre acusados de escrever as battles que fazem ou faziam? Ou

o Jin? Não haviam mcs de batalha nunca! Mas como são americanos conseguem e eu não......É triste que a ignorância tenha mais poder que a razão. É muito triste... IVS: Espaço para uma mensagem final... B: Sintam o hiphop, não o compreendam somente. Tenham como exemplo alguém que vocês admiram, mas andem pelos vossos próprios pés. Separem o trigo do joio, os artistas dos figurantes… Ouçam as pessoas que realmente têm algo para dizer. Tirem os dedos do teclado e abram a janela. Desliguem a televisão e assistam à realidade do quotidiano a olho nú, sem nenhum tipo de manipulação de informação. A minha grande missão neste mundo é ser fiel comigo mesmo, assim serei fiel para o mundo inteiro, é simplesmente isso… Trespassa as barreiras do conformismo e abre a mente!!! Paz e Alegria!

Por: Daniela Ribeiro





The Game

Kaydee And Chief

Doctor’s Advocate

Are the Groove

Geffen

Feelin’ Music

Chief, produtor oriundo da Suiça, e o emcee Kaydee aka K-Skills, de Maryland (Estados Unidos), reúnem-se agora para nos apresentar este trabalho intitulado ARE THE GROOVE. Vai começando a aumentar este tipo de iniciativas, um produtor mais um emcee, que parece estar a dar resultado, embora este álbum não esteja tão incluído nesta fórmula, uma vez que conta com outras participações, como J-Sands (Lone Catalysts), El Da Sensei e Shana. A sonoridade é homogénea. Chief apresentanos instrumentais calmos e com toques de Jazz que conseguem abarcar as mais diversas temáticas que englobam o álbum, desde relatos da vida em bairros a temas mais pessoais. De facto, todo o álbum é bastante calmo e melodioso, como se se tratasse de uma caminhada constante sempre ao mesmo ritmo em que se vai relatando cada passo que dado. O flow, tanto de Kaydee como dos convidados, encaixam perfeitamente nos beats que, pelo seu toque Jazz, nos parecem transportar para um daqueles bares com música ao vivo e, neste caso, de grande qualidade. Um álbum muito bom de se ouvir do início ao fim. Mostra uma atitude diferente, principalmente do panorama americano, uma postura calma e concisa que pode traduzir uma forma mais consciente de abordar os temas, ao invés de disparar sobre todas as direcções sem saber porquê, como por vezes se vê em alguns artistas só para se mostrarem e chamarem a atenção. Em suma, um álbum muito bom para relaxar, mas também com bom conteúdo. Por: Pedro Silva

The Game desde o início que é um rapper controverso e desde que deixou a editora de 50 Cent, essa característica tornou-se muito mais saliente. Doctor’s Advocate segue a mesma linha e é uma clara referência a Dr.Dre. Agora não sabemos é se Game é advogado de defesa ou acusação, pois por um lado este defende aquele que é um dos seus ídolos desde os N.W.A, mas por outro nota-se alguma mágoa com Dre depois de Game ter abandonado a Aftermath, acrescido do facto do produtor não ter participado no álbum como seria desejo do rapper. Game não só tentou como conseguiu um álbum com uma sonoridade West Coast graças a uma equipa de futebol de produtores com nomes conhecidos como Just Blaze, Scott Storch, Kanye West, Hi-tek, Swizz Beatz e Will.I.Am. Tudo isto aliado a uma voz que parece sempre zangada com o mundo mas que nos cativa com o seu flow, lembra os velhos tempos do West, todavia o nível lírico deixa um pouco a desejar e uma escrita bem mais refinada não ficaria nada mal para quem se autoproclama “West Coast Rakim”. Grande parte do álbum relata-nos a vida de gangsta que o rapper leva, referindo os habituais gangs, tráfico de droga, armas, carros, tudo sem grandes desenvolvimentos pois toda a realidade baseia-se nisto, tirando algumas escapadelas para vincar a sua proveniência de Compton e encher o seu ego com referências como “Messiah of Gangsta Rap”, “King of L.A” e “New Dre”. Apesar de seguir exageradamente o mesmo caminho, existem faixas mais cativantes e que se conseguem destacar tais como o single “One Blood”, produzido pelo desconhecido Reefa , “Remedy’”, com uma batida bem familiar para


quem escutou o velhinho The Chronic de Dre e ainda “Let’s Ride”. É de notar que todas sedestacam devido aos instrumentais. Liricamente falando, as faixas mais consistentes são “Woudn’t Get Far” com Kanye West, também produzida pelo próprio, em que há uma crítica explícita a todas as mulheres que repetidamente aparecem nos vídeoclips “She a vídeo vixen but behind closed doors/ she do whatever it take to get to the grammy Award”. Em “One Night” e “Ol’English”, produzidas por Nottz e Hi-tek respectivamente, é-nos relatado com mais pormenor as consequências da vida que leva, o porquê da opção por esta, daqueles que já viu partir devido a ela, tal como seu irmão e tio, e da sua estadia solitária no hospital quando foi alvejado. Em “Doctor’s Advocate” temos um discurso directo para Dre, explicando toda a sua admiração por este, apesar de tudo que se passou, e fecha-se o álbum com 16 barras bem refinadas de Nas, o que terá levado Game a aplicar-se um pouco mais para restante faixa. Como se pode ver, Game consegue sobreviver sem 50, isto é, não necessita dele para collabos. No entanto, sem ele não teria tanto sucesso de vendas. A homenagem a Dre está bem conseguida, já que durante o álbum houve cerca de 30 referências a este e até sem a sua colaboração, este registo consegue ter uma produção bem conseguida. Contudo, só isso não chega e a nível lírico é preciso um upgrade. A Source deu a este álbum 4,5 mics mas esta também já não é o que era, eu fico-me por 3.

Urbisom Records é o nome da orgulhosa editora residente em Coimbra. Dj Sweat e S.U.N. apresentam-nos 12 faixas com apenas duas participações, de Mabro e MXL. Esta é uma Mixtape pequena e concisa mas com recheio no meio. S.U.N. e Dj Sweat conseguemnos manter atentos em todas as faixas sem nunca saltar uma. S.U.N. tem um flow descontraído e com aspectos pontuais muito bons. Neste álbum, ele apresenta-se duas vezes em acapella, o que não acontecesse muitas vezes e o resultado foi positivo. A nível de escrita, este não é um mc muito complexo, é directo e preciso, sem muitos rodeios. Do auge deste álbum destacam-se as faixas "Ponto de vista" e "Amor á pátria". A nível de design, Ribaz está de parabéns. Quem está de parabéns igualmente é a DMT Studioz (mistura e masterização), muito bom trabalho. Em suma, está uma das melhores Mixtapes dos últimos anos, agora resta esperar por SickScore. Muito boa abertura da Urbisom Records. Por: Olheiro

Por: Moisés Regalado

PM R: Maldita Rassa Lirical Record

Por: André Silva

S.U.N. & Dj Sweat Consumo Obrigatório Urbisom Records

CONSUMO OBRIGATÓRIO devia ser obrigatório em todas as aparelhagens de muitos mc´s conhecidos e muitas das vezes reconhecidos.

spoken word, tamanha é a ausência de flow e até de métrica. A letra encaixa no conceito, que defende a igualdade entre todos os seres humanos mas, mesmo assim, não acrescenta nada de novo ao panorama Hip Hop. Mas nem tudo é mau. Os instrumentais, principalmente o da versão original, são bastante bons, bem como o refrão de Hélvio, mas apenas com a presença de NGA conseguem ter um rapper à altura. O líder dos Força Suprema revela-se bem melhor que PM, não só a nível lírico como também, e principalmente, a nível técnico. Contudo, o ponto alto de todo o disco é da responsabilidade de Geny, constituinte do grupo Lweji, que, com uma interpretação repleta de Soul e Gospel, quase obriga o ouvinte a meter a música em repetição até a decorar e conseguir cantar de ponta a ponta - sem nunca ter a excelência da sua intérprete original, é certo. Este é um trabalho que, apesar de todas as suas deficiências, se revela bastante positivo em certos pontos, não só a nível musical mas também devido ao facto de conter dois vídeos e uma galeria de fotos, para os mais curiosos. Saiam os próximos volumes de Lirical Radio Mix: só aí se verá qual a fasquia da recém formada Lirical Record.

Brother Ali Depois de IDEOLOGIA NEGRA e ESPÍRITO AFRIKANO, PM volta agora às edições oficiais, desta feita sob a alçada da Lirical Record. Naquele que é o primeiro volume da sequela Lirical Radio Mix, este rapper apresenta o tema "R:Maldita Rassa", bem como uma versão acústica do mesmo, dois remix's (da autoria de Geny e NGA, separadamente) e respectivos instrumentais. Sendo este o seu próprio trabalho, torna-se caricato verificar que é precisamente PM aquele que, de todos os envolvidos, menos dá nas vistas. A sua prestação pode perfeitamente ser confundida com a de um qualquer artista de

The Undisputed Truth Rhymesayers Entertainment

Brother Ali está de volta com mais um álbum. Depois de convencer as audiências com o seu álbum de estreia SHADOWS ON THE SUN e fazer um pequeno interlúdio com o CHAMPION EP (este último com uma sonoridade pouco coesa), Brother Ali edita THE UNDISPUTED TRUTH. Sem sombra de dúvida – Ant deu um salto qualitativo nas produções, tal como já havia

afirmado na sua última visita a Portugal, acompanhando Atmosphere. São instrumentais que dão a Brother Ali uma sonoridade característica e, sem se afastarem muito da marca do artista em SHADOWS ON THE SUN, providenciam um verdadeiro upgrade sonoro aos apreciadores deste artista. Para quem não gosta do mc, será uma agradável surpresa descobrir como é fácil ouvir este álbum sem que o timbre da sua voz seja um obstáculo. É a magia dos instrumentais de Ant – conseguem combinar com a voz do mc de uma forma quase perfeita, sem no entanto se sobrepôr a ela ou lhe retirar destaque na música. Brother Ali continua o mesmo, fazendo em algumas músicas lembrar um irmão mais velho, como já acontecia em SHADOWS ON THE SUN. Mas algumas coisas mudaram desde 2003. Brother Ali dá agora mais relevo às complicações da vida adulta, o que resulta em musicas semi-autobiográficas a fazer lembrar a temática da última edição de Atmopshere – a vida conjungal, os filhos, as relações falhadas têm agora uma posição firme nos temas abordados, num tom de lamentação e desmotivação que antes era bem-humorado e easy going. “Take Me Home”, “Walkin Away” e “Faheem” são bons exemplos disso mesmo. Por outro lado, este peso pesado da Rhymesayers segue a tendência da editora e aposta na musicalidade das canções. É incrível como consegue criar refrões que mal se ouvem a primeira já não nos saem mais da cabeça – o seu flow está agora mais natural, fluente e desenvolvido, o que resulta em rebuçados como “Lookin’ At Me Sideways”, “Truth Is” ou “Listen Up”. Em conclusão: Brother Ali perdeu algum do poder de escrita, que ainda assim se mantém interessante o suficiente para dar qualidade à música. Felizmente, o flow e os instrumentais compensam, resultando num trabalho que se ouve vezes e vezes sem conta e aos bocadinhos nos vai conquistando. Por: Joana Nicolau para a IV STREET


RJD2 The Third Hand XL Recordings

optou por trabalhar. O experimental que encontramos será talvez “Work It Out” e “Get It”. É um bom álbum para ouvir com os amigos que não gostam de Hip Hop. Para os apreciadores de longa data, este álbum vai-vos deixar tão desanimados como O THE OUTSIDER deixou os fãs de DJ Shadow. Por: Joana Nicolau para a IV STREET

“THE THIRD HAND é o mais recente trabalho de RJD2, o ex-Def Jukie que deu à luz trabalhos geniais como DEAD RINGER ou SINCE WE LAST SPOKE. THE THIRD HAND está condenado a ser tão polémico como THE OUTSIDER. Em ambos os álbuns os seus autores procuram distanciar-se o mais possível dos rótulos que as suas carreiras atraíram, desejando percorrer novos caminhos sem a obrigação moral de corresponder às expectativas dos seus ouvintes. Seria perfeitamente possível fazer uma crítica imparcial a este álbum, dizendo que RJD2 consegue, mesmo quando em colaboração com outros artistas Hip Hop, atingir o seu objectivo – a colaboração com Murs em “Murs Beat” soa estranhamente infectada de melodias. A aposta numa sonoridade mais calma e suave, próxima do Trip Hop e do Pop, declaradamente o campo em que decidira aventurar-se, é evidente. No entanto, sendo eu a apreciadora que sempre fui deste produtor, senti uma enorme desilusão na audição do álbum. Algumas músicas até estão bem conseguidas e embora não estejam de forma nenhuma sequer próximas do Hip Hop, estão interessantes e ouvem-se com bastante prazer. “You Never Had It”, “Have Mercy” e “Laws Of The Gods” são ilustrativas. Sinceramente, não quis acreditar que RJD2 fizesse realmente um álbum Pop, mas é isso mesmo que este THIRD HAND é, é um verdadeiro OUTSIDER na discografia de RJD2. Embora não se possa pôr em causa a qualidade da produção, a verdade é que a criatividade, a experimentalidade, o feeling de laboratório que caracterizou todos os seus trabalhos anteriores, quase não se encontra presente, e isso não me parece dever-se ao estilo de música em que

sequer se aproximar dos habituais clichés surgidos quando um qualquer rapper melódico é referido. Só ouvindo. A escrita não surpreende, da mesma maneira que não desilude. Continua, maioritariamente, a ser direccionada para as ruas e para o povo, contestatária, atingido o auge em "Dollar Day (surprise surprise)", faixa dedicada à tragédia que foi o furacão Katrina "Where the fuck is Sir Bono and his famous friends now?", pergunta Mos Def. Uma audição obrigatória. Por: Moisés Regalado

Mos Def True Magic Geffen

Talib Kweli & MadLib Liberation BlackSmith Music

Num ano em que vários dos grandes nomes do Rap mundial decidiram regressar às lides discográficas, Mos Def não foi excepção, sendo ele aquele que, entre todos, melhores resultados obteve. Ao contrário do seu antecessor, THE NEW DANGER (um completo fiasco), TRUE MAGIC é, tal como sugere o próprio título, algo mágico. Mas, numa primeira audição, não se entende porquê. Os beats parecem básicos. Mos Def soa estranho, cambaleando entre os papéis de mc e de cantor, misturando-os não só nos refrões como também no flow. Ouvir os sons isolados uns dos outros é pura asneira, dá a impressão de que falta algo. Contudo, e após uma única audição, TRUE MAGIC revela um outro lado. O que parecia estranho continua a parecê-lo mas, sem se entender bem porquê, é agora viciante. Quando se dá conta, os instrumentais já não são básicos, mas minimalistas. Contêm poucos samples, os suficientes para fazer deles um poço de groove - "Undeniable", "U r the one" ou "Napoleon Dynamite" são bons exemplos disso mesmo. Agora, Mos Def soa apenas diferente (no bom sentido). A sua musicalidade é cativante, quer seja no flow semi-cantado ou nos refrões semirappados. A interacção com as melodias é sempre feita da melhor maneira e, ainda melhor, sem

Pode-se dizer que 2007 começou bem com a disponibilização gratuita para download de Liberation, proveniente da fusão de esforços do MC de Brooklyn Talib Kweli e um dos mais ecléticos e curiosos produtores da actualidade, o californiano Otis Jackson Jr a.k.a Madlib Liberation é um álbum com um carácter político bem vincado e isso é notório desde rimas de Kweli até ao artwork da capa, com a cara deste na Estátua da Liberdade empunhando uma tocha que em vez de uma chama tem o símbolo do dólar e uma contracapa alusiva aos abusos praticados pelos soldados americanos no Iraque, na prisão de Abu Ghraib. Não só o exterior é uma sátira como as 9 faixas que contém também o são e desde o início até ao fim isso está bem explícito nas palavras de Kweli. Desde a 1º som “The Show”, em que nos é introduzido o trabalho, até ao final em “What can i do”, temos faixas pelo meio bem interessantes. A título de exemplo, temos “Funny Money”, que foca o capitalismo e tudo o que acarreta, seguido por “Time Is Right”, em que o rapper nos parece estar a falar de uma cabine telefónica qualquer a um ritmo frenético, surgindo

depois com “Over The Counter”, certamente a faixa mais contestatária ao sistema político americano, havendo ainda tempo para algo mais p e s s o a l e i n t ro s p e c t i vo d e v i d a m e n t e acompanhado pela boa voz de Candice Anderson na faixa “Happy Home”, que refere um pouco da história da família de Kweli. Para além desta participação, o álbum conta ainda com a presença de Consequence e dos Strong Arm Steady. Também terá de se destacar que existe uma faixa essencialmente instrumental, “Soul Music”, com uma sonoridade tranquila em sintonia com uma bela e harmoniosa voz soul pertencente à cantora de Filadélfia, Res. Ao longo de toda a audição tanto Kweli como Madlib não desiludem, pois tanto o segundo surpreende a cada faixa que passa com beats sempre frescos e inovadores como o rapper de Brooklyn acompanha devidamente o ritmo com as variações necessárias de flow de faixa para faixa e rimas semelhantes àquelas que nos cativaram nos tempos de Black Star e Eternal Reflection. Talib Kweli pediu para não especular quanto ao seu próximo álbum dado que este terá um registo completamente diferente deste último, mas resta-nos pensar que se seguir a mesma linha não estará nada mau.

Por: André Silva

NAS Hip Hop is Dead Def Jam

Hip hop just died this mornin' And she's dead, she's dead

Caros Leitores Batalho, esbracejo, faço fitas, chamo nomes... porque não quero aceitar a realidade que me


atormenta e que me chega aos sentidos... Hip Hop está morto... Após profunda análise do novo trabalho de Nas, pela trágica lógica que o álbum supõe e entrega de bandeja aos que escutam (não os que ouvem), vou admitindo o novo cenário em que actuamos, o novo palco que pisamos... Fundamentando o titulo, Nas explica a morte da cultura que nos une numa rádio temática no Reino Unido afirmando de maneira veemente e assertiva que, e cito: “nós como artistas já não temos o poder”... E sustenta a sua afirmação dizendo que “já não há voz politica, a música morreu, a nossa maneira de pensar morreu...” Passando à critica isolada de factores externos, o álbum tem a qualidade esperada no trunfo de Nas: Conteúdo lírico. Pegando no que Chullage uma vez disse “Nenhum tipo de música dá te mais informação que o Hip Hop”. Nas pega neste facto como sabe e espalha as mensagens pelo álbum de forma organizada e sem se apoiar em skits ou track connectors. As colaborações estão fantásticas, constituindo um trunfo “decisivo para os penalties”. Acentuo as participações femininas por criarem uma relação simbiótica com a musicalidade de Nas e darem à luz faixas como “Can’t Forget about You” e “Not Going Back”. A reunião com Jay-Z também trouxe vantagens, arrecadando mais pontos na crítica com “Black Republican” e convidar Kanye West para o álbum é golpe de mestre pela versatilidade que este fabuloso artista possui. Concluindo, o álbum satisfaz todos os critérios mas perde pontos na instrumentalização de algumas faixas. Mantenham a Paz Por: Alberto Darame aka The Frozone

“...One homeboy became a man then a mobster If the guys let me get my last swig of Vodka R.I.P., we'll donate your lungs to a rasta Went from turntables to mp3s From "Beat Street" to commercials on Mickey D's From gold cables to Jacobs From plain facials to Botox and face lifts I'm lookin' over my shoulder It's about eighty niggaz from my hood that

showed up And they came to show love Sold out concert and the doors are closed shut...” “Hip Hop Is Dead” - Nas

Simão na produção da maioria do projecto, ao assumir uma criatividade bastante energética. Uma grande mais valia. Desde samples de violinos a beats pesados e a sintetizadores com frequência, os Putos Qui a Ta Cria aguçam a vontade aos que ouvem e vão prestar mais atenção ao crioulo e tentar desvendar o significado. Por:Vanessa Cardoso

Putos Qui a Ta Cria Putos Qui a Ta Cria Edição de Autor

V/A

Uniram-se, determinantemente, forças para criar este álbum. Putos Qui a Ta Cria lançam o primeiro álbum (esperamos que venham mais!), com nome homónimo, e o mais marcante nele é o facto de ser uma lufada de ar fresco no underground Hip Hop da Grande Lisboa. Cada vez mais, sentimos a vontade de ouvir música de maior qualidade e, desta forma, os músicos têm, também, a responsabilidade acrescida de não forjar atitudes. E este lançamento não é só mais um no meio de tantos. Os Putos Qui a Ta Cria vêm vincar a representação da herança africana mesclada com as novas tendências urbanas adquiridas em Portugal. O crioulo está permanentemente a ser debitado, co-habitando, sem arrufos, com a língua portuguesa, apesar desta estar em minoria. Vozes misturam-se, linguagens e dialectos expandem-se. Liricamente, o disco apresenta diversos temas sem se tornar monótono. No entanto, a opção de ser duplo este homónimo PUTOS QUI A TA CRIA, não é a mais acertada. Acaba por ser um exagero tantas faixas… Apesar disso, existe naturalismo na verbalização, segurança nos conteúdos e dicção. Há espaço para melodias, há espaço para punchlines, há espaço para Rap mais agressivo, áspero ou revoltado, há espaço para Hip Hop feminino, por exemplo, com Dama Bete. Ou seja, o colectivo ficou a ganhar porque optou por criar várias escolhas e o produto final é diversidade. Destaca-se a decisiva presença de Macaco

Novos Caminhos Volume 1

Edição Independente

O MC/Produtor X-Ray (a.k.a Alcatraz) do Barreiro organizou a compilação NOVOS CAMINHOS VOLUME 1 com a ajuda de Espanhol (La Dupla), onde revela alguns dos novos talentos do Hip Hop Tuga. O single escolhido para nos apresentar NOVOS CAMINHOS VOLUME 1 foi o tema “Comercial” do grupo Serial Skillers, com produção de Tanb. Boa escolha para um single, com um título apelativo e um TANB a partir na produção, notando-se uma significativa evolução deste grupo. Sin demonstrou que já anda nisto há algum tempo e que começa a sentir-se mais confortável no papel de MC, já o seu companheiro Neor, que participa no refrão, necessita ainda de muito treino mas é um MC com futuro. “O Bairro Não Nos Deixa” foi a música retirada do álbum de Fizz. Este MC/Produtor tem sido uma agradável surpresa nas suas participações em vários projectos, além de bom MC este jovem promete ser uma revelação na produção nacional. Jester declara-se “Escravo da Solidão”, com produção de sua autoria apresenta-nos um tema onde o refrão e a melodia nos ficam no ouvido. Esta faixa merecia ter uma gravação melhor qualidade. Magic Niggaz provam ser um grupo que veio dar que falar no Hip Hop, a participação com o tema “Convite do Diabo” foi a melhor

apresentação que este grupo poderia fazer a quem não os conhece. A produção ficou a cargo de M.N e encaixa-se com perfeição na letra. “Putas” de Cuervo é uma faixa que aborda um tema cada vez mais batido e algo banal em mixtapes/compilações. Apesar de demonstrar alguma experiência mostra também que enquanto MC ainda tem um longo caminho a percorrer. E como não há uma sem duas… Ruky, chega-nos com a faixa “Não Prestas” que conta com um beat produzido pelo próprio e que apesar de abordar um tema banal (idêntico ao de Cuervo) nos revela um Ruky maduro tanto na produção quanto no mcing. Uma das melhores produções de X-Ray presentes nesta compilação é sem dúvida o beat da faixa “Nostalgia” da responsabilidade de Mad V, um MC que nos tem vindo a mostrar bastante trabalho e que está notável neste som. A participação do grupo Ghetto Shadows é outro dos pontos positivos deste projecto com o tema “Ambição” onde contam com a presença de Tânia. De notar que a produção de ECSE não deixou nada a desejar nesta faixa, este jovem produtor estreou-se bem. Outra das faixas com nota positiva presente em NOVOS CAMINHOS pertence a Horyginal com participação de Ryse. De facto, Horyginal foi outra surpresa que surgiu no movimento. De ressalvar o flow forte com uma dicção ainda a precisar de uns treinos. A produção, essa, ficou a cargo do Jk Labs. No geral, X-Ray apostou bem em alguns dos nomes que conseguiram demonstrar boas capacidades. Desta compilação destaco os temas: “Nostalgia” de Mad V, “Comercial”, de Serial Skillers e “Ambição” dos Ghetto Shadows. Por: João Coelho.


transportam. Sinto-me um veículo, tento canalizar através de mim energia positiva. Gosto de tocar no coração das pessoas, na sua mente e no seu espírito. Pretendo que a minha música traga algo de transformador ao nível da consciência.

Antecipando o lançamento do seu álbum de estreia a solo, Maze apresenta-nos o HOMEM EM MISSÃO. Um mini EP, em formato de esboço do futuro álbum e disponível gratuitamente para download. IVStreet: Fala-nos um pouco sobre este HOMEM EM MISSÃO. Como é que surgiu a ideia de lançar um EP para abrir o apetite em relação a um álbum futuro? Maze: O EP é composto por músicas que inicialmente fariam parte do álbum que está para vir, mas como este ainda está a ser gravado, processo que não quero acelerar, pois não concordo com que uma actividade criativa deva estar sujeita a qualquer tipo de pressões ou timings para cumprir que não as dos próprios criativos, surgiu a ideia de adiantar algumas músicas para criar expectativa em relação ao mesmo e também para servir como pedido de desculpas pela demora para os mais ansiosos. Este EP é definitivamente um aperitivo e o Myspace é um bom prato para o servir! IVS: Como foi feita a escolha dos temas que integram o EP? Vamos poder ouvir alguma destas faixas no álbum ou são exclusivas? M: Os temas foram seleccionados por terem um determinado ambiente que se distanciava do que pretendia para o meu álbum. Não quer dizer que não possam vir a ser integrados no álbum. Tudo depende do resultado final. Se algum destes temas o for favorecer ou complementar de alguma forma claro que passa a constar da lista. Mas para já são exclusivos e gratuitos. Descarrega, copia, partilha e contagia! www.myspace.com/mazedlm www.myspace.com/aceproduktionzhea dquarterz IVS: Que missão pretendes cumprir com a tua música? Qual é a mensagem que pretendes passar? M: A música é a minha paixão, é o que realmente me dá prazer, vejo-a como uma das minhas missões de vida. Estou cada vez mais consciente do poder que a música e que a palavra

IVS: O EP HOMEM EM MISSÃO foi gravado por e para a Ace Produktionz, resultando de uma produção conjunta. Não nos queres contar como nasceu esta parceria com o Ace? M: A parceria com o Ace já vem de há mais de uma década para cá. Como ele costuma dizer: “Somos irmãos de mães diferentes”! Estamos juntos no mesmo barco. O Ace é alguém que respeito muito, não só como pessoa e amigo, mas também como mc e produtor. Partilhamos a mesma visão da vida e da música. Ele acredita no meu trabalho e no meu talento e vice-versa. É inevitável esta parceria, vamos sempre fazer muita música juntos.

IVS: Podes falar-nos um pouco sobre o projecto Sub_Verso? Em que é que consiste? M: Sub_verso é um projecto que tenho vindo a desenvolver com o Soma. As produções são todas dele, e os versos estão a meu cargo. Sub_verso tem uma sonoridade característica, são temas que nos remetem para os noventa, para a “golden age” do rap. São maioritariamente samples de jazz, transformados em instrumentais clássicos, e temas que giram quase sempre em torno de um conceito. Os arranjos e a mistura do álbum estão neste momento a ser realizadas pelo Soma e pelo Serial. É um projecto que vai ver a luz do dia brevemente. IVS: “Brilhantes Diamantes” foi um verdadeiro trampolim para a tua carreira a solo. Quando gravaste esta música para o álbum do Dj Serial estavas à espera de que viesse a ser tão rodada? M: Quando o Serial me convidou para participar no seu álbum, de facto, não imaginei que o “Brilhantes Diamantes” fosse ter o impacto que teve. Escrevi a música como qualquer outra que escrevo diariamente, é tudo menos uma música “comercial”, é uma letra crua sobre a minha vida. Foi com grande surpresa e satisfação que vi a música crescer dessa forma e ter o airplay que teve, mas o que realmente me deu uma enorme realização foi ouvir milhares de crianças

a cantar a minha letra de cor e salteado, é uma sensação fantástica. Só tenho que agradecer ao Serial e ao Ace, a química foi muito boa! IVS: Quais é que achas que são as diferenças mais significativas entre a tua música a solo e a com os Dealema? M: Em Dealema, o pentágono é composto por cinco indivíduos, cada um com a sua visão, essas visões tocam-se em muitos pontos e é nesses pontos que tentamos focar quando criamos como colectivo. No fundo, cada um de nós é 1/5 dos Dealema, e quando nos juntamos os nossos poderes convergem num só sentido. Mas não nos podemos dissociar da nossa individualidade, cada um de nós tem muito para dizer, e muito para explorar por outros caminhos que talvez não se enquadrem com a direcção que pretendemos tomar como banda, daí a necessidade dos trabalhos a solo. O meu trabalho a solo é muito intimista, são vivências, experiências, sentimentos e sonhos que partilho na minha música, algo que vem de dentro e que um artista só consegue extrair quando cria sozinho. IVS: Por fim, para que data está apontado o lançamento do tão aguardado álbum a solo? M: Não vou adiantar datas, pois como já disse, não tenciono de forma alguma acelerar o processo de criação. Vou levar o tempo que tiver que levar para chegar ao fim e estar completamente satisfeito com o resultado. Obviamente que tenho vontade de o editar o mais rápido possível e de começar a tocá-lo ao vivo pelo país, mas a vontade de fazer um bom trabalho prevalece. O álbum sai em 2007 certamente! IVS: E o álbum dos Dealema? Será que podes deixar alguma informação de avanço sobre ele? M:O novo disco de Dlm já está gravado, estamos prestes a entrar na fase de mistura, portanto também ele está com data de lançamento ainda por determinar, mas apontada para este ano também. Nestes 3 anos de interregno amadurecemos, crescemos muito musicalmente, preparem-se, prevê-se mais uma bomba do colectivo Dealmático! IVS: Últimas palavras? M: União em vez de separação Paz em vez de guerra Amor em vez de ódio Abundância em vez de escassez O tempo é agora, o futuro é já! Por: Daniela Ribeiro


Era uma vez um senhor chamado Bruce Kilgore, um homem normal até ao ano de 1982 em que teve um rasgo de inspiração monumental e resolveu criar um par de sapatilhas intemporal, bonito e resistente. Falo das tão aclamadas Air Force1. Esta história ganha forma desde que a Nike trabalhava para aperfeiçoar o conforto e o rendimento desportivo dos basquetebolistas e quando surgiram as AF1, foi como que uma nova era no basquetebol, uma nova página era escrita agora com os pés. Um novo produto tão subtil quanto

profundo, tão eterno quanto moderno, Bruce criou o produto que iria dominar os próximos 25 anos, e a verdade é esta, ainda hoje as AF1 fazem furor entre os atletas, ainda hoje elas fazem furor nos amantes do Hip Hop e mais além. Para levar as AF1 do abstracto ao concreto, da fábrica para o campo, foi necessária uma boa divulgação, o que não foi problema porque desde cedo as AF1 começaram a ser usadas dentro das equipas profissionais. A sua postura ousada marcou a mudança que definiria os próximos 25 anos; o basquetebol jamais seria o mesmo após o “Original Six”, a equipa profissional de basquetebol escolhida pela Nike, em 1982, para representar as AF1. A foto do “Original Six” formada por Moses Malone, Michael Cooper, Calvin Natt, Bobby Jones, Jamaal Wilkes e Mychal Thompson usando a obra-prima de Bruce Kilgmore representava um relacionamento diferente entre um par de sapatilhas e atletas de basquetebol, um relacionamento cuja meta era o autêntico atendimento das suas necessidades. A partir daqui foi só uma questão de tempo até elas se espalhassem por todo o mundo, desde os jogadores que formaram o lendário poster (Original Six), às lojas que as exibiam nas suas montras, as AF1 estavam destinadas a misturarem-se na cultura do basquetebol como nunca nenhum outro calçado o tinha feito até então. A constante evolução dos produtos Air Force – a partir do AF1 com tiras, depois o AF1 II e III aos 180 (que, posteriormente, chegariam ao Air Max CB2, em 1994) – levou a uma adaptação cada vez melhor aos atletas e aos seus gostos. Nenhum outro produto de basquetebol foi alvo de tanto amor, foi elevado a essas alturas nem nunca ultrapassou tantas fronteirase isso resulta pela posição única das AF1 dentro da comunidade do basquetebol. Trata-se de um par de sapatilhas que, simbolicamente, não é apenas propriedade da Nike mas sim de uma cultura que fez destas uma lenda.

Nova Iorque e Filadélfia são cruciais na história do AF1 mas Baltimore merece um lugar especial nesse passado. Foram três comerciantes de Baltimore – conhecidos como os Três Amigos – que pediram para ressuscitar as AF1 em 1984, depois destas terem esgotado a sua produção inicial. Assim, o Downtown Locker Room, o Cinderella Shoes e o lendário Charley Rudo's Sports capitalizaram os anseios da moda dos miúdos urbanos de Baltimore e ajudaram a colocar as AF1 no topo de preferências do calçado desportivo. Em 2007 nascerá a nova linha Air Force 25, que abre um novo capítulo na história da linha Force, bem como um novo e brilhante capítulo na história do design de calçado de desporto. Como poderiam umas sapatilhas de basquetebol que estabeleceram um design inovador em 1982 transformar-se num produto desenvolvido em 2007? A resposta a essa pergunta conduziu à criação do AF25, um calçado para basquetebol que atinge um novo nível da engenharia da linha Force e ao mesmo tempo, um novo nível de tecnologia de desempenho. O nome por trás deste novo produto é Tracy Teague e compromete-se em fazer um produto ainda melhor, as AF25 não só prestam um tributo ao espírito do artesanato nascido em 82, como garante o prosseguimento do autêntico desempenho em 2007 e nos anos seguintes. As AF25 aliam a tecnologia do amortecimento Max Air (no calcanhar) com o Zoom Air (em camadas); um avanço tecnológico que realçará por completo o que significa o amortecimento com desempenho para o atleta. A apresentação do novo modelo da Force está a cargo de Amare Stoudemire, Jermaine O'Neal, Omeka Okafur, Al Harrington, Carlos Boozer e Nate Robinson. A influência desses jogadores no basquetebol ecoará a marca que os anteriores componentes da linha Force deixaram gravada no jogo: o efeito da potência, da força e da determinação. Os fundamentos de design inovador levaram à criação do que os campos chamam do melhor par de sapatilhas de jogo e o que as ruas chamam de o par mais bonito fabricado até hoje. Por: Olheiro.


Vá para

fora

No outro dia estava a falar com um amigo meu, já experiente nestas andanças do graffiti e ele disseme que lá por fora muita malta se dá mal por ter um vulgar fotolog!!! Porquê perguntam vocês??? O Fotolog é algo que se tornou banalíssimo (qualquer pessoa tem um) e que pode ter diversas temáticas seja para fotos da família, sapatilhas, cães, carros, banda desenhada, mulheres de ‘alta cilindrada’ ou até graffiti. É notório desde há uns anos para cá que a rede de writers nacionais aumentou, ou seja, o número de fotologs existente tem aumentado incrivelmente e de uma maneira muito fácil podemos seguir o trabalho e a evolução de qualquer writer nacional, pois a cada nova pintura, uma nova foto para o reportório, visto que esta ferramenta da web é simples e muito prática de se usar. Hoje em dia, um writer de Viana de Castelo pode acompanhar muito do que se faz por esse Algarve fora, algo inimaginável à 7/8 anos atrás. Isto porque para vermos cenas de outros locais, somente em revistas, fotos de amigos ou passagens espontâneas por esses locais e até mesmo aqueles graffs mais refundidos como em fábrica abandonadas, que muitas das vezes escondem pérolas desta arte, agora estão ao alcance do público. Tenho que admitir que é muito bom ter acesso a essas imagens, no entanto não há nada como apreciar um bom fame no seu local de execução por mais refundido que este seja. Mas como estava a dizer, estamos perante uma globalização do graffiti proporcionado pela tecnologia. Conseguimos estar ligados ao que se passa no Grande Porto, Lisboa, Algarve, Aveiro, Coimbra e país fora sem sequer nos deslocarmos. Até aqui, só pontos positivos. Devem-se estar a perguntar porque comecei este texto a mencionar

writers estrangeiros que se dão mal com isto.Pois, meus amigos, lá fora o Sr. Guarda é cybernauta e anda atento a estas movimentações de fotologse essas fotografias divulgadas podem servir como prova de um crime, dependendo das circunstâncias. Refiro-me essencialmente ao bombing porque é aquele que causa maiores ódios e também àquelas peças feitas em spots bem descarados em que nomeadamente o autor se mostra. Imaginem que vocês fazem alguma coisa (bombing, throw, etc) numa parede qualquer e no dia a seguir colocam a foto no vosso respectivo fotolog e por acaso o dono da parede vai dar com aquilo… Pois é, está ali uma prova do crime, e segundo li nos regulamentos do fotolog, perante estes casos de violação da lei, facilmente se chega ao autor para averiguações. E isto é apenas um exemplo!!! Esta ideia já me andava na cabeça desde que me deram dica mas esta saiu reforçada depois daquela cena de vandalismo em Évora, em que um dos miúdos foi devidamente identificado no vídeo que supostamente era para exibir aos amigos, mas a jogada saiu mal e agora vai ter de prestar contas aos pais (e ao dono do carro) e estar de castigo até aos 30 anos!!! Agora façam a analogia para o caso ‘Graffiti’ e retirem as vossas ilações. Aqui por estas terras a polícia ainda não pegou por aí, por isso enquanto eles estão ‘parados’ tomem as vossas precauções. Com isto não estou a dizer para deixarem de divulgar, tenham é atenção ao colocar as fotos em fotologs e sites em que facilmente podem ser identificados. PS: Para quem não conhece o vídeo que mencionei antes, é só ir ao Youtube e pesquisar ‘Vandalismo em Évora’. Fiquem bem Bombem Muito

Convidado: Em que lugar é que podemos encontrar Hip Hop em Santa Maria da Feira? Onde é que o pessoal se costuma juntar? Em Santa Maria da Feira não há propriamente um movimento vincado. Estávamos no bom caminho com as sessões que se faziam na Jcp mas, por razões que me são alheias, deixaram de se fazer. De oficial temos as já muito divulgadas aulas de dança pelo All About Dance, o que eu acho bom apesar de muita gente não aceitar bem isso como Hip Hop. Quem são os intervenientes activos no Hip Hop, nas suas quatro vertentes, neste momento em Santa Maria da Feira? Um nome incontornável neste momento é Dust que, juntamente com Wize, estão agora a batalhar no lançamento da Pneuma Records e fazem de tudo para que o movimento ganhe expressão na zona. Como já falei há pouco, temos a equipa do All About Dance (liderados pelo Vitor e pela Patricia) que além das ditas aulas tem um grupo de exibição por várias vezes campeão em provas nacionais e internacionais. Também na vertente da dança, a Landisch é um rapariga que faz de tudo para que se realizem mais eventos, e um b-boy que eu penso que devo frisar é o Haloo aka Madbreak tem todo o meu respeito. E, claro, eu e o Mister B, por termos sido pioneiros nesta onda do mcing apesar de estarmos neste momento com outras prioridades e portanto um pouco à parte. Que paredes ainda estão por pintar? As do meu quarto hehehe. Eu penso que é

cá dentro

Kappa Oh

necessário haver mais entrega para que as coisas ganhem um outro valor, e as paredes mais importantes a pintar são as da mentalidade de muita malta jovem que eu penso terem uma visão bem mais restrita que muitos "cotas". O Hip Hop está massificado mas não é por isso que se vai passar por cima desrespeitando quem realmente o vive. Como vês o panorama a nível de Hip Hop em Santa Maria da Feira? Está melhor, pior que há uns tempos atrás? Tem futuro? Está sem dúvida melhor e com perspectivas de melhorar. Tem chegado aos meus ouvidos cada vez mais nomes, putos e também graúdos com cada vez mais interesse. Eu ouço gente falar e cruzo-me com pessoas na rua que me reconhecem e dizem que têm a minha maquete às vezes até me olham com certa admiração e isso faz-me ter consciência que há interesse, as pessoas procuram e esperam mais, isso é sempre bom! Como vês em Santa Maria da Feira e como te vês no Hip Hop daqui a 10 anos? Daqui a 10 anos?.. Vejo-me com um filho no colo, headphones e o puto a dar-me dicas de como devo produzir o som hehehe. Não estarei em palcos quase com certeza mas estarei sempre ligado, quem sabe não vire writter também. Quanto a Santa Maria da Feira, acredito que se transforme num centro de muita actividade, ao nível do Porto e Lisboa, é preciso ver que está muito bem localizado, é fácil cá chegar. Por: Olheiro


NEW SCHOOL letra que tenho, tanto faço um beat de Jazz como algo mais agressivo ou mais calmo. Neste momento estou a produzir no Fruity Loops mas estou um pouco farto, vou tentar comprar um aparelho novo ou uma MPC para conseguir sonoridades novas e mais criativas. Vou ter mais liberdade assim.

Cuidadoso e pausado no discurso, palavras contadas quase silabicamente, olhar jovem mas fixo e ideias mais vincadas do que as normalmente trazidas pela natural juventude. Há cerca de seis anos descobriu que queria fazer parte do Hip Hop e que o Hip Hop fizesse parte da vida dele. A culpa é de “Todos Gordos”, dos Mind da Gap, pois foi assim que o MC teve o primeiro contacto com o Rap português. Karabinieri significa polícia de intervenção em italiano. Itália é o país de onde a família provem e é lá que tem as raízes. Partilha um forte gosto pela cultura deste país, incluindo a música, nomeadamente o Hip Hop que lá se faz. O Mc e produtor está presentemente a avançar na gravação do disco de estreia, a recolher convidados, a unir forças e temas para, ao longo do ano, o terminar. É uma promessa da Nova Escola do Hip Hop português. Até lá, visitem www.myspace.com/karabinieri. IV STREET: Quem é Karabinieri? KARABINIERI: Karabinieri significa polícia de intervenção em italiano, o meu pai é italiano, tenho lá as minhas irmãs e família e é um país com o qual estou sempre em contacto e me identifico. Escolhi este nome porque me revejo neste tipo de polícia, no sentido em que eles praticamente nunca falam, só actuam. Metaforicamente, eu sou assim, não falo mas actuo. Eu sei que é uma forma complexa de ser… A minha forma de actuar é fazer Rap. Tenho 19 anos, vivo entre Alcântara e Oeiras. Comecei no Rap em 2000 quando vi o vídeo dos Mind da Gap “Todos Gordos”, fiquei apaixonado pela imagem, pela ideia, pelo som em si. A partir daí comecei a pesquisar, primeiro sobre eles, depois sobre Hip Hop em geral, fiquei muito interessado e nunca mais parei, até hoje. E comecei a gostar ainda mais no momento em que percebi que o Hip Hop é muito mais do que música, abrange uma cultura que há seis anos comecei a admirar e não me consigo desligar. IVS: Lembras-te da tua primeira música? K: Lembro, mas não me quero lembrar! (Risos). Foi uma cena primitiva em que falei de coisas que não faziam muito sentido. IVS: Qual a tua ideia de fazer Hip Hop? K: O meu principal objectivo é dar a conhecer a minha forma de pensar porque, principalmente, sou directo, evito as metáforas, afasto-me do que é básico e banal. Quero que as pessoas me entendam e só sendo directo, eficaz, claro é que consigo isso. A nível instrumental, como ouço de tudo tento produzir de tudo. Faço um instrumental consoante a

do Hip Hop? K: Há muito Hip Hop de qualidade em Itália, por exemplo, Club Dogo e Italianos Intocables. Existe também muito Rap feminino.

IVS: Na tua música, o que mais queres transmitir? K: Escrevo, principalmente, sobre o que se passa comigo, sobre a minha vida e a minha forma de pensar. Fundamentalmente quero transmitir o valor das coisas pequenas, das coisas simples, que a maioria das pessoas não presta atenção e que realmente não dão valor, mas que eu penso que têm. Não me limito nos temas… Quero também passar mensagens novas, sem me repetir, tento ser diferente. IVS: Quais são os teus projectos neste momento? K: Entrei na compilação do Raze com o tema “Insultos”, vou agora entrar na compilação do Dj Dizzy com um som que se chama “Povo (Casa do Terror)", ainda estou num projecto com o Kilombo e outros Mc’s que deve sair mais para o fim do ano. Vou entrar numa mixtape de um produtor inglês que conheci através do MySpace, chama-se Geebeats e está a fazer um trabalho muito interessante. Convidou Mc’s de vários países para fazer cenas em conjunto, convidou-me a mim e aceitei porque achei uma boa ideia, mais arrojada. E estou a trabalhar no meu álbum que também só estará pronto no final do ano. Já tenho cinco faixas mas quero fazer tudo com calma para ter tempo de trabalhar bem cada música. O que pode atrasar o processo é querer a presença de algumas pessoas que vivem longe. IVS: Quem é que vai participar no teu álbum? K: O Dj X-Acto, Blaya, Dez, B. Killah, Espanhol, Splinter, Zap, Kilombo e a Sky. Vou ter uma produção do Mundo, do Raze e do Speh, o resto das faixas está a meu cargo. IVS: E concertos? Já li que deste um concerto na Fnac de Coimbra, por exemplo. Tens dado mais? K: O Raze está a espalhar a compilação. Apesar de estar disponível para download, a Fnac está a apoiar e fomos lá tocar. Estivemos na de Coimbra, fomos a Almada e ao Algarve. Neste momento não procuro concertos, só quero fazêlo depois de ter o álbum pronto.

IVS: O que estás a ouvir agora? K: Muito Hip Hop italiano, Sinik, Mundo, ExPeão, os instrumentais do Inspector Mórbido.

IVS: Em Itália, quais os nomes mais fortes

Por: Vanessa Cardoso


j Se r ial

e c A

Dealema

e Presto


Fake - www.myspace.com/fakeproduccoes - O nome deste produtor é engraçado: lembra-me aquele jogo em que sim quer dizer não, e viceversa. Intakto - www.myspace.com/intakto1p - Deus perdoa tudo, menos desconhecer estes beats. Esperemos que o talento de Intakto se mantenha seu homónimo.

Na hora de falar sobre a nova escola do nosso Rap, as opiniões dividem-se em dois. Por um lado, há todos aqueles fanáticos que consideram o Hip Hop português uma espécie de religião, sobre a qual não levantam a mínima dúvida. Não a metem em causa, e todos os seus frutos são considerados uma espécie de néctar dos deuses - para estes tipos não há a mínima diferença a separar o Poeta de Rua, o Psikótico e o Fuse. Pensando bem, talvez o Fuse até seja o pior dos três. No oposto da barricada, encontram-se os cépticos, para os quais o nosso movimento se encontra morto logo há partida. "O que será de nós quando o Sam ficar maneta e quando o Valete ficar sem voz?", perguntam eles. Ignoram completamente o termo "nova escola", que só lhes é familiar na hora de pigarrear que o Governo devia era ter investido o dinheiro dos estádios na educação. É muito simples: ambas as opiniões são, no mínimo, estúpidas. Eu por acaso sempre fui um gajo de extremos, e nunca achei que o lugar certo para a virtude era no meio, mas relativamente a este assunto até sou muito mediano (talvez eu seja a excepção que confirma a minha própria regra, se é que me entendem). Na verdade, acho que basta uma simples busca pelo myspace (que ninguém me fale no soundclick, isso está mesmo fora de moda, muito menos no hi5 - isso é uma das maiores paroladas dos tempos modernos!) para se confirmar que o que não falta por aí é talento. E não falo só na área da produção. Sim, porque além das duas facções de que falei anteriormente, há ainda uma data de gente que teima em dizer que a sobrevivência da espécie só está assegurada relativamente ao beat-making (pura palermice!). Eu sei que o que não falta no Rap tuga são rappers de merda (usar a palavra wack é muito... wack), mas daí até generalizar ainda vai um passo considerável. Alguns dirão que todo um movimento não se constrói de casos pontuais, mas de que é feito o nosso Hip Hop senão de excepções? Para quê reclamar que a nova escola está na fossa e que o Rap de agora é que é

bom, se também nos dias de hoje só temos meia-dúzia de gatos pingados a garantir a nossa subsistência? Tudo bem, mandar perdigotos para o ar é fácil, ser do contra também. Mas agora imaginem um ambiente escuro... Juntem-lhe um tipo de gabardina e chapéu (eu), que está frente a frente com uma mulher tremelicante e de aspecto frágil (vocês). Esta é a parte em que sussurro a frase-chave: "tenho provas daquilo que estou a dizer". Juro que tenho. Eu próprio me dei ao trabalho de averiguar bons artistas pelo myspace fora, new-schooler's, digamos (falo de desconhecidos, ou quase, não há cá nova escola tipo DeckArte ou Sir Scratch), e aqui vos deixo o resultado da minha pesquisa. Uma lista (talvez incompleta, é certo) de A a Z (ou B a X...), devidamente comentada. Se considerarem que alguma das Minhas escolhas não é suficientemente new school ou desconhecida para estar na Minha lista, azar... o Vosso. Os critérios usados foram os Meus. Então vejamos: Bully - www.myspace.com/bullyplace - As semelhanças de Bully com Valete, principalmente a nível de entoações, são notórias. Contudo, acreditem que ele não figuraria nesta lista se não o merecesse. Cota - www.myspace.com/granadabeats - Um adjectivo chega: grande! DarkSunn - www.myspace.com/darksunn777 - Quando toda a gente pensa que todos os novos produtores usam o mesmo tipo de samples para construir o mesmo tipo de som, DarkSunn surpreende mais do que ninguém. Dizzy - www.myspace.com/djdizzytecknique Ao fim de pouquíssimos anos de turntablism, este dj já percorre o país de lés-a-lés em festas, participa em inúmeros sons e já integra uma editora. Quem foi ao ITF (agora IDA) tanto em 2005 como em 2006, nota em Dizzy uma diferença abismal. Está tudo dito.

Jowdjo - www.myspace.com/jowdjo - E quando se descobre que o Preemo é português? Imperdível! Kooltuga - www.myspace.com/kooltuga - O Rap tuga pode, e deve, ter uma identidade única. Melhor do que ninguém, Kooltuga sabe como fazê-lo. Kubo - www.myspace.com/kuboart - Afinal o fim do Hip Hop maiato não coincidiu com o fim dos 7PM. Produções de qualidade elevada ao Kubo. MeK0 - www.myspace.com/mek0 - Colaborar com dois dos melhores mc’s portugueses nos seus álbuns é, por si só, indício de qualidade. Resta referir que essas foram colaborações que, mesmo rodeadas de beats de Conductor e Sam the Kid, em nada foram relegadas para segundo plano – não é para todos. MidGard - www.myspace.com/midgardbeatz - Há vida para além do óbvio, o que neste caso pode ser similar a “Há vida no Hip Hop algarvio para além da Chocolat Bars”. Confiram. N.A.D. - www.myspace.com/nadonline - Uma sonoridade fresca, bem complementada por dois mc's multifacetados, cumprindo um deles, também, as funções de cantor, sem máculas. N.A.D. têm todo o potencial para atingir um público mais generalista. Resta a sorte, que, quando é merecida, não tarda em chegar. Nameless www.myspace.com/namelessfreestyler - Este não é um dos mc’s integrantes do DVD de battles da autoria de Super Shor. Tinha potencial para tal? Tinha. Com o bónus de que as punchlines são mesmo improvisadas. Nerve - www.myspace.com/nervespace - De todos estes nomes, este é aquele que mais capacidade tem para reivindicar, num curto espaço de tempo, um lugar no pódio. Com Nerve, “menos de clássico é zero”.

Notwan - www.myspace.com/notwan Produtores indie, cá? Sim, e dos bons. Pneuma - www.myspace.com/pneumarecords - Este é Rap nortenho que, além de apresentar qualidade, não soa a Dealema dos anos 90. Só por isso já vale a pena ouvir. Raze - www.myspace.com/razebeats - Quem lê a IV Street, muito provavelmente acompanha todo o percurso que o rapaz prodígio de Tomar vai construindo pela net. Se não o fazem, isso é algo obrigatório. Só se deseja que Raze ultrapasse rapidamente a barreira on-line que (ainda) o limita. Rusty - www.myspace.com/rusty1ne - É impossível ouvir o beatbox de Rusty (principalmente ao vivo, visto os sons do space serem já antigos) e não adorar. Ele sim, mete qualquer um a mexer os pés. Serial Skillers www.myspace.com/serialskillers - Rap inovador. Uma escrita original, com qualidade, e que consegue transformar até o pior tema numa música digna de nota. Notam-se ainda algumas falhas a nível técnico mas, o talento, esse está lá todo. Splinter - www.myspace.com/splinter06 Suave, muito suave. Quase Chill-out. Depois de Bully, esta é mais uma prova da qualidade emergente da Cazota Produções. Ouçam "30 de Fevereiro", com a boa participação de Kamy. Syzygy - www.myspace.com/syzygy1982 - Ok, são gajas, e depois? Eu também pensava como vocês, não se preocupem! Até ouvir as Syzygy. E acreditem que não as curti só graças aos grandes beats do D.One. Tombo - www.myspace.com/djtombo - O futuro melhor produtor tuga. Tudo dito. UB Squad - www.myspace.com/ubsquad - Um som maduro, bem construído e muito musical. Em concertos, poucas das bandas de Rap tuga serão melhores (até porque poucas são as bandas de Rap tuga boas em concertos). Unite - www.myspace.com/unitejam - Ouçase “Herbal Cockies” e “Scratch Rated”. A música fala por si. X-Acto - www.myspace.com/xactoze - Um dos melhores naquilo que faz - o tempo dar-me-á razão.


Isto são skills. Palavra de honra. Ok, podem não encontrar por aqui nenhum colectivo tipo Dealema, ou nenhum mc que se possa equiparar a Sam ou Valete, mas vá lá, no seu próprio início nem o Valete era nenhum Valete. Engraçado não é? Os tempos são outros, é certo, e isto são "miúdos" que já têm a obrigação de fazer sons melhores do que aqueles que o Bomberjack editava nos anos 90, mas se há coisa facilmente identificável é o talento. Mesmo que nesta fase prematura de uma carreira ainda esteja disfarçado por alguma ingenuidade e até por uma tendência para copiar, de forma não intencional, o trabalho de outrém. Agora contem o número de links que aqui meti. Multipliquem por dois, já que haverá por aí vários outros artistas de semelhante qualidade,

mas sem nada publicado na net. Agora subtraiam 2/3 do resultado, que é a quantidade de gajos que não vão conseguir singrar, ou porque vão ter que meter comida na mesa todos os dias ou simplesmente porque vão estagnar. Ainda consideram o futuro assim tão negro? Se formos a ver bem, até vamos ter mais mc's de elite do que aqueles que temos agora, mas mesmo que esse "grupo" venha a ser constituído por cinco ou seis nomes, tal como acontece agora, já não será mau - já estamos habituados à velha máxima do "poucos (ou pouquíssimos) mas bons". Também não quero ver Portugal ao nível dos Estados Unidos! Posto isto, olhem para o título do artigo e debrucem-se sobre a questão que vos coloco. A minha resposta é Sim, e a vossa? Por: Moisés Regalado

Passatempo

E os vencedores são: Hugo Nicolau, vila nova de gaia; Nuno Arrojado, avanca; Paulo Oliveira, Faro.


@

net

A dar continuidade aos anos anteriores, a Eurobattle, uma das mais importantes competições de Breakdance a nível europeu e a mais importante a nível nacional irá realizarse dia 27, 28 e 29 de Abril no CACE Porto. No site podem encontrar pormenores deste encontro e as inscrições já se encontram abertas. Irá atrair mais uma vez dos melhores BBoys dos quatro cantos do mundo. A não perder!

Pois muito bem, após alguns meses em stand by o Triplo 7 está de volta com nova imagem. Agora com muitas e novas funcionalidades mas com o mesmo principio: a música partilhada. E sem duvida que será um dos pontos mais altos deste portal, pois disponibiliza algumas faixas de DarkSunn - FRACTAL, Farai – FREE MÚMIA, Formas de Raciocínio – DEMÓNIOS DE GUERRA, Farai – 2º ESTAÇÃO: VISÃO SINGULAR. Na Bio podem ainda ler como tudo começou.

No mercado estão a aparecer bastantes produtores, uns melhores, outros piores, uns que usam essencialmente hardware, outros software e ainda outros que tiram o melhor dos dois… No RocBattle encontraram Battles de produtores já com bastante nível e podem ainda comprar aquele beat que se encaixa na perfeição na vossa letra ou fazer o download gratuito de outros. O site possui um fórum onde podem aprender, ensinar, mostrar o vosso trabalho, mostrar as vossas técnicas… partilhar para evoluir!

Ps: Na edição anterior o endereço correcto do DJ Dizzy é www.DjDizzy.net. A IVStreet pede desculpas pela lacuna e deseja o melhor para os projectos deste DJ. Por: Fresh


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