IVSTREET#09

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Direcção

Joana Nicolau Sónia Bento Tó

Equipa

Alberto Darame Ivo Alves Vanessa Cardoso Daniela Ribeiro Olheiro A.Silva (Primouz) P.Silva (Primouz) João Coelho Teresa Vieira Ângelo Rodrigues Grilo

Design

Hugo Araújo (Snake) André Almeida (Phomer) Propaganda 13

Nesta nona edição da IV STREET coube-me a mim escrever algumas palavras. Mas que vos posso dizer eu, fiéis leitores desta revista (e se ainda não o são, esta é uma boa altura para passarem a ser)? Que a IV STREET graças e para vocês cresce a olhos vistos todas as edições, que esta família já se habituou a mostrar o que por cá se faz e que cabe a vocês fazerem mais eventos, mais festas, mais mixtapes, para que todos ajudemos este movimento a crescer. Eu não posso dizer muito mais, mas eles disseram… leiam e desfrutem.

Webmaster Fresh

Por: Snake

Escu ub

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Haterama Kooltuga Tamenpi Diogo Bessa Micman Red Fox Stray Min Espanhol Vince Rodrigues

S

Colaboradores

Actualidade Internacional

1

Actualidade Nacional

3

Battle de dj’s @ mercado

5

Aniversário Matarroa

6

Governo Sombra @ Café das Artes

7

H2T: Duelo Verbal

8

Sam The Kid @ Paradise Garage

11

Especial Flowfest -Crónica

14

Especial Flowfest - Raze

18

Especial Flowfest - Kooltuga

19

Especial Flowfest - NAD

21

Especial Flowfest - Urbisom

25

Especial Flowfest - Sp & Wilson

27

Especial Flowfest - Sir Scratch

29

Especial Flowfest - Sbt2

31

Rapper ou MC

33

Ub Squad

35

Graffiti: Vende-se

37

Poeta de Rua

39

Críticas de Cd’s

41

Cultuga nacional

44

Vá para fora cá dentro - Tomar

46

Grandes malhas

47

Head’s Up

49

Governo Sombra

50

Haterama - Sabes que o Hip Hop está a crescer quando...

52

Zoom-in V/A

53

Zoom-in EuroBattle

55

Graffiti

57

MixTape IVStreet vol.3

59

7

39

14 8

6

57

55


Styles Of Beyond – Rocket Surgery

Killah Priest – The Offering Beastie boys

Arma Blanca – Autodidactas

- The Mix Up

Depois de sucesso alcançado com REvolución em 2004, o colectivo de Alicante Arma Blanca lançou no passado dia 5 de Maio o novo álbum intitulado AUTODIDACTAS. Lom-C, Madnass, Dash e DJ Joaking regressaram às lides discográficas num álbum cuja produção ficou a cargo de nomes como Acción Sánchez, Big Hozone, Equis Man, El Bardo, Soma e Nikoh E.S, entre outros, contando ainda com participações no mic de Nach, Allday, Abrám e Legendario. Tudo isto num lançamento Boa Records.

Pete Rock - NY's Finest O lendário Pete Rock prepara o seu regresso aos discos já para este Verão de 2007, com o projecto NY’S FINEST. Com lançamento previsto na Nature Sounds, e seguindo a tradição dos projectos SOUL SURVIVOR, em NY’S FINEST vão estar naturalmente em destaque os instrumentais de Pete Rock, com participações no mic de mc's na sua maioria de NY, como é caso de Papoose, The Lox, Raekwon, Ghostface, Masta Killa, Cappadonna e MF DOOM, além de colaborações especiais dos Slum Village, Redman, entre outros.

Os Styles Of Beyond preparam o seu regresso às lides discográficas com o seu primeiro lançamento numa major, o álbum intitulado ROCKET SURGERY. Num lançamento em parceria com a Machine Shop Records de Mike Shinoda (Fort Minor e Linkin Park) e a Warner Bros, o colectivo de Los Angeles irá contar neste novo projecto com participações de nomes como Mike Shinoda, J. Dilla, Rick Rock, Apathy, Divine Styler, Celph Titled e RZA, entre outros. Depois de MEGADEF em 2003, ROCKET SURGERY tem lançamento marcado para Junho ou Julho de 2007. E atenção ainda para o regresso do super colectivo Demigodz com o aguardado DEMIGODZILLA, ainda para este ano.

O trio Nova Iorquino Beastie Boys encontra-se a preparar um novo lançamento com data prevista para 26 de Junho. Intitulado THE MIX UP, o projecto vai ser exclusivamente instrumental, mas não utilizando samples, ou seja, instrumental levado à letra. Este processo criativo não é inédito, pois já com THE IN SOUND FROM WAY, em 1996, o grupo tinha feito a mesma abordagem artistica. Assim, depois de TO THE 5 BOROUGHS de 2004, THE MIX UP é o disco que se segue, num lançamento Capitol Records. De salientar que os Beastie Boys vão estar no Festival Alive a 10 de Junho, e posteriormente para uma actuação instrumental na Aula Magna no dia 11 do mesmo mês. Sabese também que THE MIX UP terá no futuro uma reedição mas com colaborações de outros mc's e vocalistas.

Depois de um hiato de quatro anos, o mc Killah Priest prepara o seu regresso com o projecto THE OFFERING. O afiliado do Wu Tang Clan irá contar com as participações de luxo de nomes como Nas, Immortal Technique, Canibus, Ras Kass e Hell Razah, além de produções de Godz Wrath, 4th Disciple, Tek e Sam Sneed. Com lançamento previsto para 24 de Agosto pela Good Hand Records, aguarda-se com grande expectativa este regresso do mc de Brooklyn com THE OFFERING.

Marco Polo – Port Authority O produtor canadiano Marco Polo prepara-se para lançar o projecto discográfico PORT AUTHORITY. Com lançamento pela Rawkus Records, o beatmaker de Toronto sedeado em Brooklyn irá contar com um conjunto de participações de respeito, como por exemplo Masta Ace, Buckshot, Kool G Rap, Copywrite, Wordsworth, Kenn Starr, Large Professor, Kev Brown, Sadat X e Supastition, entre outros, tudo isto sobre os instrumentais de Polo. PORT AUTHORITY está previsto para ver a luz do dia para finais de Maio, contando como primeiro single o tema “Nostalgia” com Masta Ace.


Mixtape Escola de Viseu

UB Squad – Unidade Movimentos de Revolução Já se encontra disponível para download gratuito em www.kriacaoverbal.tk a compilação MOVIMENTOS DE REVOLUÇÃO, que conta com participações de artistas como DSK, D.Kid , NGA, Blekan Deka & Mad, Kap-Ás, Puto Okulto, Mc Olive, TANB, T-Boss, Artistas Desconhecidos & Dkillah.

Já se encontra à venda a mixtape ESCOLA DE VISEU. Este projecto vem mostrar o que esta zona tem feito a nível de Hip Hop. A mixtape conta com a participação de Rage, Dj Jo Kut, Smoke, Chon, Dupla Skwella, Hemp, Magnomanos, Don Castilhon, Xinho, Al Sapone, Knock Out, Reivin(dica), Mike, Samanthar Mohi, Fana, Dropé, Narco(beat), Melro, Cota, Paka Mc e Fluc P e pode ser encomendado em www.dslteam.org

O colectivo de Lisboa UB Squad lançou no passado dia 14 de Maio o projecto discográfico UNIDADE. Lyth, LQ, AKM, Perturbod e Nigga P são os elementos que formam este grupo, que teve o seu início em 2000 e que se estreou assim através da Black Vertical Records, num álbum de 18 temas que conta com participações de nomes como C-Walt, Yuri, Uad, R.Possi, BC, Effe, Zola D, Red, Yellow e KostaNostra.

Vokábulo – Manifesto Futurista

Aztek Clothing A marca Aztek Clothing nasce do projecto Aztek Dzigners, como uma forma de chegar ao público em geral. Como designers, trabalham ao nível gráfico, criam logotipos e tudo o resto que o envolva, o que nos possibilita a personalização de roupa. Podem conferir as criações e obter mais informações em www.aztek-clothing.com e www.myspace.com/aztekclothing.

MANIFESTO FUTURISTA é o nome do álbum de estreia do mc Vokábulo. Este álbum será lançado já no mês de Junho pela Uprising Records, e conta com participações de Royalistick, Sp & Wilson, Raptor, Neutro, Iniciado, Carla Sousa, Dengaz, Dj Sinistro, Dj X-acto, Tombo, Viza, Martinz e Kantig. Mais info em www.myspace.com/vokabulo


Artistas: Cheeks, Ride, Cruzfader e Stikup Local: Mini-Mercado, Santos, Lisboa Data: 19 de Abril de 2007

Performance para todos, resultado (in)esperado fluidez de movimentos. O mesmo se diga das B-girls Butterflies que batalhavam a sua sensualidade e técnica versus a de quem lhes fizesse frente. A certo ponto a pergunta já era "de que batalha se trata afinal?". Dj Ride era quem se seguia com "Just a little bit respect", "Jump around" e outros clássicos que enfatizavam o nome e freestyle do a.k.a. Bboy Speedy. Sem cerimónias, Cheeks pega no microfone para elogiar um momento de referência deste evento: os quatro melhores Dj's do país (a tocar) juntos na mesma noite. Se cansaço existe no vocabulário, não é no destes quatro mosqueteiros de certeza. O duelo crescia em ritmo e qualidade, prova disso era a roda de freestyle que não fechava, e claro, a satisfação do público presente. Depois de Cruz e Cheeks, volta de novo a entrar em acção Dj Ride, campeão nacional de Dj'ing no IDA 2006 (ex-ITF). Entrou com o scratch muito personalizado, passando a "Get down on it" dos Disco Kings e "Me Myself and I" dos De La Soul. Dj Cheeks continuou com o furor dos temas old school, mas desta vez começando pelos Jackson 5 e a acabar em Nas. O ambiente já estava a aquecer, mas mais caliente ficou com a entrada do esperado Tequilla para o embriagado dancefloor, num interlúdio de que chegar atrasado não tira o espírito da fiesta. E já que falamos em festa, o que não faltavam era motivos para celebrar. Nesta noite cantou-se os parabéns ao B-boy Mastyle, que dançou para todos, no ritmo certo. Só faltava mesmo o bolo! Sem perder tempo, e na sua vez, Dj Stikup mostra o que vale, e com ele, o freestyle de breakdance. Tequilla vai introduzindo o que a noite dá, e a decisão final parece não querer chegar. Cruz & Stikup foram sem dúvida motivo para o contínuo flow que mexeu com quem dançava dentro da roda ou fora dela, mas o voto de grande peso acaba por ir para o público que contava com Xeg, Sensei D, Dj X-Acto e muitos outros elementos do circuito.Assim termina uma batalha feat. os quatro ingredientes do verdadeiro espírito Hip Hop: paz, união, amor e divertimento. Por:Teresa Vieira

Era o último dia da semana e o cansaço faziase sentir quando os pratos foram inaugurados pelo Dj Ovelha Negra. Um Porto-Rio folgado, com um ambiente caseiro e acolhedor, pedia verdadeiramente por café enquanto esperava pelo Clã da Matarroa. O Clã da editora subiu ao palco ao soar da uma badalada espalhando energia aditiva com a apresentação do seu novo registo, CONVERSAS DE CAFÉ. Stray e Paulo Leitão partiram da “Intro” rumo a “Sobrancelhas”, “Gajas” (com a voz do presente Fidbek), “Maníaco”, “Despertador”, “Cafeína” e “Fósforos”. Sobrou ainda espaço para ouvir um “Nunca Acaba”, antes deste concerto terminar com “Brilho”.

Matarroa

Uma noite que seria dedicada à "vertente dos pratos", aliase ao dancefloor e a quem melhor o domina: os B-boys. Para quem já está a par dos horários hiphopianos, sabe bem que quem diz 23h só perto da meia noite e e…é que a festa começa. Quem chega mais cedo ou à hora, melhor, porque assim não perde nada da noite, e para os mais atrasados, esses apenas têm que se moldar à festa. Como em todas as noites, esta não abriu excepção e houve quem chegasse a horas, a meio, e já perto do fim! O espaço pensado para esta battle foi o Mini-Mercado, repito, mini. Mas quem chegava não saía do seu timming. Quem não deixou de ser pontual foram os Dj’s da noite (Cheeks, Cruz, Ride e Stikup), que, alternando, faziam o que só eles sabem fazer! Sabia-se que iria haver Tequilla como anfitrião, e mesmo que ainda não estivesse presente, não era motivo para que o público deixasse de brindar para e pela noite. O espaço dito mini começava a encher, e quem o preencheu foram os B-boys e B-girls que deram mais brilho à pista de dança, sem nenhuma cera especial, apenas com o fruto da dedicação e amor à "sua" vertente. Para a batalha estavam distribuídos Cheeks & Ride de um dos lados e Cruz & Stikup do outro. Qual a melhor? Naaaa, ainda é muito cedo para revelar, e a noite prometia.Quinze minutos a cada Dj era o tempo estipulado para mostrarem as suas skills. Enquanto que Cheeks & Ride passavam pelo funky e oldschool, já Cruz & Stikup levavam o ritmo para uma sonorização mais comercial e estilo club. Era neste último ambiente que abria uma roda, onde (excepto o respeito) não havia regras. B-boy Mastyle chegou-se à frente (e muito bem) num ritmo que parecia fugir dele, tal era a rapidez e eficaz

Aniversário

@ Mercado

Battle de dj’s

Artistas: Mundo Complexo, Clã da Matarroa, Tribuno, Dj Spot, Dj Kwan e Dj Bezegol Local: Porto-Rio Hora: 23:00

Após um período de selecção musical por parte do Dj Spot, seguiu-se o Tribuno. Este, acompanhado pelo Hrb (do Departamento 25), foi mostrar um pouco daquilo que vamos poder ouvir num dos próximos lançamentos da Matarroa, o álbum ORATÓRIA INCONTORNÁVEL. Respirando a essência da cidade do Porto, Tribuno deu um concerto que finalizou ao rubro com um “Invictamente” que contou com a participação do Bezegol. Por fim, o momento mais esperado da noite chegou, antecipado por um pequeno set de Dj Kwan. No dia em que se fez o lançamento de ESTAMOS JUNTOS, os Mundo Complexo encheram o Barco Gandufe com todo o seu ritmo, melodia e mensagem de amor e positivismo. Foi uma apresentação relativamente simples deste novo álbum mas praticamente completa, onde estiveram incluídos os temas “Conceito de Amor”, “Hey DJ”, “DemocraCIA” e até “Irmão” embora sem a voz de NBC. A noite teve o seu desfecho com muita animação, ao som do Dj Bezegol, depois de um momento descontraído em que Martinêz e Fidbek uniram as vozes para entoar “O Que Foi, Foi”. Resta-nos agora dar os parabéns à editora, e desejar que depois deste aniversário venham muitos mais. Por: Daniela Ribeiro Fotos: Stray


A casa esteve praticamente cheia numa festa que se dividiu por duas salas. Enquanto uma era preenchida pela sonoridade do Dj Jota e da OctoPussyCrew, a restante abria alas para as actuações do Governo Sombra e de Nigga Poison, e posteriormente para os sets do Nuno Forte e do colectivo Hi Fidel Cartel. Já passava das 2h da manhã quando o palco da sala principal foi pisado pelo Governo Sombra, depois de um aquecimento feito pelo Dj Yur. Kron, o Poeta Morto, Mohad, Sabre Reluzente, LTerrible e Dom Rubirosa juntaram as vozes para apresentar a mixtape POLITICAMENTE INCORRECTOS. Começando pela “Chamada” até “Whisky Cola” ou até mesmo

à “Corrida de Chavalos”, este foi um concerto muito vivo e bem aclamado pelo público presente, que finalizou com “Mais uma Bomba”. Destaque para as participações de AB e G Smooth em “Deep Niggaz” e de Maze, Presto e Berna em “Avançamos já”. A seguir à malta da casa e a mais um espaço de Dj Yur, foi a vez dos Nigga Poison encherem a sala principal do Café das Artes com muito ritmo e alegria ao som de temas como “Bu Kre Dance” ou até mesmo “Deixa Di Leru Leru”. Esta foi sem dúvida uma noite muito animada que se prolongou ainda ao som dos vários DJs. Siga a carrinha! Ficamos à espera de mais festas assim… Por: Daniela Ribeiro

H2T:Duelo Verbal

@ Café das artes

Governo Sombra

Artistas: Hi Fidel Cartel, Nuno Forte, Nigga Poison, Governo Sombra, Dj Yur, Badja Mc, OctoPussyCrew e Dj Jota. Local: Café das Artes, Teatro do Campo Alegre, Porto Hora: 00:00

Quando se deu início ao evento, num vasto espaço ao ar livre em S. Marcos, tornou-se bastante evidente que a esmagadora maioria dos presentes ansiava mais pelas battles do que propriamente pelas actuações agendadas para depois do jantar. Compreensível, dada a raridade com que se organizam iniciativas deste tipo. A primeira fase de selecção tinha como objectivo a escolha de 16 MCs, sendo pedido a cada um deles um freestyle, durante o qual deveriam mencionar o seu nome e as palavras “H2Tuga” e “TurnTable”, num minuto de instrumental, prontamente proporcionado por DJ MGL. O júri, composto por Adamastor, Gino e Enigma (que teve de fazer as vezes do ausente Bambino), escolheu então, dentre os 22 candidatos, os 16 melhores freestylers, dos quais se destacaram Sterotipo, Perigo Público e Nameless, que foi o único a conseguir, nesta fase, arrancar uma boa dose de gargalhadas do público.

8 Batalhas Mano a Mano Após uma longa pausa para reflexão do júri, começaram então as battles propriamente ditas, agora com DJ Extreme nos pratos e Sir Scratch a fazer as vezes de Gino, que entretanto teve de se ausentar. Tanb e Jintiflow inauguraram esta segunda fase, com uma vitória clara do primeiro sobre o segundo. A segunda battle opôs membros da mesma crew, Nameless e No One, o que criou algumas reticências em atacar verbalmente o oponente, mas regras são regras e Nameless conseguiu ainda assim mostrar skills sem ofender logo no primeiro minuto, conseguindo ser apurado para a fase seguinte. Já a batalha seguinte foi bem mais rica em ataques, com Stereotipo a fazer um óptimo primeiro minuto mas a baixar o nível no segundo, largando uma vitória questionável para R e provocando a ira de alguns dos presentes.Mako Med defrontou Tê na quarta battle, arrumando-


-o logo na primeira volta, com Tê a render-se com tal prontidão e bom humor que Mako Med se viu com dificuldades em o atacar directamente na segunda. Perigo Públiko ainda teve em Mixterio um desafio à altura, mas com uma segunda volta brilhante, Perigo Públiko não deixou sombra para dúvidas. A battle seguinte trouxe ao palco Castaloni RG, o único MC a rimar em crioulo e Bully, a representar Cazota Produções. Bully saiu vitorioso após um minuto extra para cada um dos participantes. Missionário entrou logo a matar com insultos gratuitos aos grandes nomes presentes no público, mostrando inépcia na verdadeira arte da guerra. Bad News foi apurado à fase seguinte sem sequer se precisar de esforçar. Senna e Sang protagonizaram a última battle desta fase, sendo a vitória para Sang, mais forte liricamente.

4 Batalhas e a Fasquia Eleva-se

a Nameless, que mais uma vez cativou todo o público pelas gargalhadas, saindo R derrotado sem hipótese. Por esta altura, já o público suspeitava que seria Nameless a ir à final desafiar Perigo Publiko, o lendário arrebatador de vitórias em freestyle battles. Tanb era outro nome que prometia ir às meiasfinais, mas que após um bom primeiro round se deixou ir abaixo e assim, quem passou às meiasfinais, dúvidas à parte, foi Sang, o único MC entre apurados cujo estilo de freestyle era contínuo e cadenciado, ao contrário dos restantes, que após cada dois versos precisavam de uma pausa. A battle seguinte resumiu-se a um minuto para cada mc – Perigo Publiko arrasou logo na primeira resposta a Bully e este utilizou 5 segundos da sua resposta para um insulto sem nível e saiu do palco, mostrando uma triste falta de capacidade para aceitar uma derrota. Perigo Públiko improvisou sozinho em palco a sua segunda volta, lamentando, com razão, a atitude do seu oponente. O grande ponto alto desta fase foi a battle entre Mako Med e Bad News, que por uma ironia do destino opôs dois MCs com o mesmo estilo. Mangolé versus mangolé, ambos os MCs deram freestyle de pura paródia, nenhum deles se destacando por dicas particularmente fortes e muito menos pela qualidade dos flows, mas pelo simples humor do que diziam ou, no caso de Mako Med, da forma como o diziam. O público exigiu mais um round e o júri concordou, na condição de que fosse o público a escolher o vencedor. O público escolheu Bad News por uma pequena margem.

As Meias-Finais e a Reviravolta Mais uma substituição no júri, desta vez Adamastor por Plasma – que se apresentou com um pouco da sua arte no beatbox – e voltaram ao palco os improvisos. O sorteio ditou que a primeira battle se disputasse entre Bad News e Sang, o que deixa o confronto entre Nameless e Perigo Públiko fora de questão para a final. Bad News surpreendeu toda a gente ao derrotar Sang, que ainda mandou algumas dicas potentes mas acabou por sucumbir a um Bad News que até então se limitara a quatro versos por cada round, mas que desta vez rimou o seu minuto quase todo. A segunda battle, entre Perigo Públiko e Nameless, revelou-se abaixo das expectativas, quer de um lado, quer do outro. Ambos os MCs já haviam mostrado bastante mais skills nas battles anteriores mas ainda assim houve necessidade de uma terceira volta, na qual Perigo Públiko arrebatou a vitória a um já desmoralizado Nameless.

Um Interlúdio Musical

Após uma pausa bem mais reduzida que a anterior, deu-se início aos quartos-de-final. O público, já dentro do espírito, dava mais apoio aos MCs com melhores dicas e mostrava o seu descontentamento aos que tinham uma pior prestação, exercendo uma pressão invisível para que cada MC desse o seu melhor. A primeira battle deu uma esmagadora vitória

Porque a fome já apertava, fez-se uma pausa na competição para jantar. Às 22:00 deu-se início à segunda parte do evento que deveria contar com as actuações do mais recente trabalho de DJ Núcleo e ainda Bob The Rage Sense, mas nenhum dos dois se apresentou em palco. As actuações estiveram então a cargo de Nações Diversas que, para uma actuação inesperada, estiveram muitíssimo bem e La Dupla, que por falta de soundcheck tiveram alguns problemas na qualidade do som, mas mantiveram-se firmes nas três faixas que apresentaram, entre elas “La Revolucion”. Convém referir que este formato de poucas músicas por grupo mostrou ser uma excelente opção para este tipo de evento (longo e, por isso, cansativo), pois prende a atenção do púbico de forma bem mais eficaz. A última actuação foi de Atómiko, acompanhado por DJ Maskarilha, que fez um cativante set de scratch sobre o instrumental de “Lean Back”, uma perfeita combinação de scratch com um potente bass.

Para disputar o terceiro e quarto lugar, Sang voltou a subir ao palco para enfrentar Nameless. Este ainda dá o máximo para conquistar o terceiro lugar perante um público que já só apoiava Sang mas foi este último quem acabou por ganhar o terceiro lugar. Chegou por fim o momento da esperada final, com a previsível presença de Perigo Públiko e a inesperada presença de Bad News. A moeda ao ar dá a abertura das hostilidades a Perigo Públiko, que faz uma primeira volta sem grandes floreados, claramente subestimando o seu adversário. Já Bad News, que parecia ter

esperado pela última battle para rimar o seu minuto inteiro – e rimá-lo bem! – agarra em tudo o que pode, desde a parecença física entre Perigo e Jay-Z, até aos ténis e à roupa que veste. Ambos os MCs puxam das melhores dicas: Bad News põe a mão em pala sobre os olhos para ver melhor e afirma que já entende porque o seu oponente é “um Perigo Público”, pois a sua cara “ainda está em construção” e responde o Mc algarvio que se a cara dele “está em obras, a tua deve ter sido feita com as minhas sobras”. A disputa vai até a uma terceira ronda, maioritariamente por exigência do público, que não se cansava deste último duelo verbal, mas Bad News consegue surpreender a cada rima e no fim, não restam dúvidas. Os resultados desta disputa são Bad News para Perigo Públiko.

Em entrevista ao H2T, Bad News, que integra o grupo Artilharia Pesada, confessou ter sido constantemente desencorajado de participar e que ainda mal acreditava que tinha derrotado “uma lenda”, sentindo-se ele próprio uma nova lenda. Durante todo o evento, os writers não pararam até encher os placards de graffiti. Entre os artistas do aerosol, podemos ver: Eky, Molin, Nomen, Neo, Vic, Odeith, Seyr e Scab. Cada qual com o seu projecto, encheram de cor o descampado do evento. Resta apenas afirmar que este evento serviu para provar que mais eventos deste tipo têm de existir e, como disse o próprio Bad News, com mais regularidade e num local fixo, onde pessoas de todo o país se possam dirigir para assistir a verdadeiros duelos, de preferência verbais. Um big up para o H2T pela iniciativa! Os videos do evento podem ser encontrados quer no You Tube, quer no site Tuga Underground. Por: Joana Nicolau Fotos: Gentilmente cedidas pelo H2T


@ Paradise Garage

Sam The Kid

A apresentação entusiástica do nosso Soul Man, NBC, fazia prever a apoteótica noite que realmente aconteceu. A roda de B-Boys cedo abriu com Chicano. O som estava a pedir! Sam The Kid, a voz do Hip Hop nacional, subiu ao palco da sala lisboeta. O Paradise Garage esgotou a lotação para assistir à apresentação de PRATICA(MENTE). No cartaz estavam também Bob da Rage Sense com Sir Scratch e os DJ’s Nel Assassin, Bomberjack e Maskarilha. Nel Assassin lança o “Intro – Frente de Acção” reproduzindo num só prato aquilo que a maioria faz com dois. Bob Da Rage Sense entra com a companhia de Sir Scratch e lado a lado proporcionaram um concerto forte, com garra e atitude traduzidas por uma filosofia particular e alguns momentos introspectivos. Passa directamente para “Pseudo-Americanos”, tal e qual como no álbum, um dos temas com mais adesão. A revolução segue, o apelo à genuinidade afirma-se. E como Bob correu atrás do sonho, o destino devolveu-o, com o merecido destaque nos inesperados beats de Laton. Há uma forte presença de matéria portuense em MENOS PÃO, LUZ E ÁGUA. Bob foi à Invicta buscar um instrumental de Mundo (o MC favorito dele, como faz questão de referenciar) para “Mundo Complexado” e volta a marcante frase “sou de esquerda como o meu coração”. Ainda a remeter o norte como ponte de partida, o público exigiu um acapella de “De Braços Abertos Pra Vida”. Depois de um interlúdio, a banda FM entra em

Estás predestinado pró êxito! Artistas: Sam The Kid, Bob Da Rage Sense, Sir Scratch, Dj Maskarilha, Dj Bomberjack, Dj Nel Assassin Local/Cidade: Paradise Garage, Lisboa Data: 4 de Maio de 2007

palco para ritmar ainda mais a prestação ao MC. A participação dos convidados Salvaterra, Pina e Aline em “P.AL.O.P” e “Certos MC’s” foi extremamente positiva, este último tema com um revestimento mais ritmado, mais Funk, com uma pandeireta lá ao fundo, preenchida por um liricismo infernal. Já “Chora Comigo” em versão acústica com a cantora angolana Dilman que acompanhou Bob num refrão lindíssimo. Na hora de mudança, Pina entra novamente para cimentar mais um momento de melodia. “Certos MC’s”, a repetição, a conclusão. O percurso artístico de Sam The Kid é traçado por uma construção sequencial onde foi usado mais por demais coração. Sempre nos mostrou uma arte diferente, empenhada, viciante. Temos a certeza que de repente o sonho ganhou asas de vulcão e criou um disco phat de gosto indiscutível, jurou e fez-nos crer num Hip Hop puro, elevou a fasquia, atingiu uma certa plenitude criativa, no som, nas palavras, fez a doença musical entrar em mim. STK reuniu um elenco de luxo para esta digressão: GQ e Snake (vozes), Elaisa e David nos coros, Francisco Rebelo (baixo), João Gomes nos teclados, Fred é o baterista e Cruzfader comanda os pratos. “A Partir de Agora” abre as hostes e, desde o início, todos os que forraram o palco fizeram vibrar os corpos da plateia. “Juventude (É Mentalidade)” com GQ a arrancar NBC da multidão para partilhar o tema. Funciona na perfeição ao vivo, com os


back vocals a darem o contributo certeiro para uma musicalidade extrema, uma ressurreição que nos balança mas nos faz também pensar no tempo que passa… Sem demoras, entra de rompante “Não Percebes”, num beat nervoso e picado pela MPC, numa volumosa cumplicidade, enquanto cá em baixo o público pedia freestyle. Concedido, claro. Um improviso, como não poderia deixar de ser, incrível e bem humorado, num baixo bem grave, com um encadeamento de palavras que rimam, de frases que fazem sentido. “O Recado” também é vivamente recordado. Mas Sam The Man, quer mais pausa, quer mais amor. O tema para a banda sonora de O Crime do Padre Amaro e “Pus-me a Pensar” deixam transparecer o talento evidente de Elaisa e David, a voz feminina e masculina que dão corpo melodioso ao Rap de Samuel. Chegou o momento do companheiro Snake protagonizar mais um episódio de “Negociantes”, ladeado pelos músicos dos Cool Hipnoise, Yellow W Van e da Cooltrain Crew. O profissionalismo de todos é uma conquista e uma afirmação; ao vivo, são de uma concentração impressionante. Um dos momentos mais aguardados da noite foi, sim, “16/12/95”, tema no qual uma tal de Mariana substituiu (bem e de forma envergonhada) a Sofia e partilhou o palco com Sam. A história de amor catapultada para uma crise da adolescência com uma gravidez precoce, pois é esta a altura em que a música pára. Ficará o trajecto para o Alcântara para um próximo concerto?! No entanto, mesmo que o tema fique a meio, o sorriso de quem a ouve é rasgado. Tudo funciona! A possibilidade de ter uma banda em palco transforma e eleva a performance, enriquece a matéria e faz com que o rapper brilhe mas, acima de tudo, por mérito próprio. “Poetas de Karaoke” com direito a acapella pelo meio, foi o golpe final. Fatalmente, atingiu-nos. E ainda bem! O primeiro single retirado, estrategicamente, de PRATICA(MENTE), que anda nas bocas do mundo, assume o controlo e leva o Paradise Garage ao rubro. Antes, durante e depois da actuação brilhante da Sam The Kid, os hinos da noite na pista e na mesa da comunidade do vinil, do scratch e do corte foram “Last Night A DJ Saved My Life”, In Deep, “Anti-Herói” de Valete, “Me Myself & I” dos De La Soul, o kuduro progressivo de “Yah” pelos Buraka Som Sistema, o clássico sempre presente dos House Of Pain, “Jump Around”. Na impossibilidade de não conseguir transmitir por palavras aquilo que é um concerto de Sam The Kid, pois é complicado como amor louco, tento fazê-lo através daquilo que é SENTIR a música dele. Por mais anos que viva, nunca irei esquecer. Por: Vanessa Cardoso Fotos: Bruno Grilo

Evento: FlowFest – Próximo Nível Local: Convento de S. Francisco, Coimbra Data: 14 de Abril de 2007

Fotos: Snake e Diogo Bessa


Coimbra, convento de S. Francisco, 22:00 horas. As portas estavam abertas mas o público ainda esperava ansiosamente por permissão para entrar, algo que só viria a acontecer com um atraso de mais de uma hora e meia. Para quem teve a sorte de entrar a horas, azar teve na música com que teve de levar até ao começo do evento. De lamentar o desapontante gosto musical de quem considerou adequado, num evento de Hip Hop, passar música pop (portuguesa e estrangeira) durante cerca de uma hora. Escolha mais acertada teria sido pedir a um dos vários DJs presentes que preenchesse os momentos mortos. Ainda assim, o início do evento revelou um público imenso, cheio de expectativas para a anunciada maior festa Hip Hop do ano. O primeiro artista a pisar o palco foi Kooltuga, produtor Aveirense que apesar do seu curto percurso discográfico já é um nome conhecido das produções nacionais pelo cunho fortemente patriótico que aplica aos seus instrumentais. Da mesma área geográfica, NAD foram os primeiros mcs da noite e também uma das maiores surpresas. Refrões cativantes, boas letras acompanhadas de bons instrumentais e uma contagiante energia em palco foi o suficiente para arrancar voluntários e genuínos aplausos do público. Multih e Zim saíram do palco com um saldo verdadeiramente positivo e uma promessa de dar que falar num futuro breve. Mais conhecidos do público eram os representantes do mais recente projecto de Raze, que apesar de pouco aparecer em palco para mais do que uma actuação (“Amor na Palavra”, com Ró) e nem vir sequer mencionado no cartaz, recebeu os merecidos props entre o público. Com DJ X-acto e DJ Sero nos pratos, Zap teve o maior tempo de antena entre os representantes da compilação SEM DADOS DISPONÍVEIS. Do reportório que apresentou, “Vive” foi a faixa mais cativante. Outros convidados de Raze estiveram em palco, como Karabinieri, que contou com a participação de Sky, uma forte presença feminina em palco como poucas conseguem ser – suave, afinada e firme, foi uma graciosa contribuição para a performance de “Injustiças”. Dust não lhe ficou atrás, ele interagindo com o público com à vontade e apresentando as suas faixas sem vacilo. O destaque vai para “Eu Não Sei Se Sabes”. Houve ainda tempo para uma aparição de D2nation para rimar alguns temas seus, antes do público se erguer numa enorme ovação para SBT2, o grupo da casa. SBT2 tiveram direito à actuação mais longa da noite: apresentaram não só o seu projecto em conjunto com também a solo. Apesar do entusiasmo do público e da sua boa prestação em palco, é inquestionável

Wilson, Rusty e Sp Kooltuga

Sam the Kid e banda

NAD

Sky, Karabinieri

Bob da Rage sense, Sir Scratch e Dj Bomberjack

que uma actuação tão longa se tornou contraproducente – no final o público já mostrava sinais de uma certa sobredosagem de SBT2. A SBT2 seguiu-se outro colectivo da zona, Urbisom. Com DJ Leat nos pratos, Sickscore subiram ao palco com um bom apoio do público. Para não fugir à regra, também eles trouxeram como convidada uma voz feminina: Jaqueline Boa impressão causou também o artista seguinte, ainda dentro do colectivo Urbisom: S.U.N., acompanhado por DJ Sweat, foi unanimemente considerado uma fantástica actuação, especialmente por quem ainda não conhecia a mixtape CONSUMO OBRIGATÓRIO. A eles seguiram-se os Outro Nível, antes da secção new school do evento se encerrar para dar lugar aos grande nomes do Hip Hop nacional. SP & Wilson estiveram particularmente bem, com os efeitos de luz e som a darem uma profundidade inigualável à sua actuação, pontilhada de valiosas colaborações: Del Tó, dos Factos Reais, Rusty, que já conquistara ouvidos no IDA (ex-ITF) de 2006 com a sua versatilidade no beatbox, Tamin, que esteve verdadeiramente fascinante no input vocal que ofereceu ao beatbox da dupla em palco, e ainda Fórmula Armada, uma estonteante performance cheia de ritmo, mais uma vez ao som do beatbox de SP & Wilson. Ainda dentro da família Footmovin, Sir Scratch ocupou o tempo que lhe coube com a dinâmica e forte presença a que já nos habituou – um concerto de Sir Scratch nunca, nunca é monótono ou aborrecido. Bem acompanhado por Bob The Rage Sense – que também rimou algumas faixas do seu mais recente trabalho, M.P.L.A, finda a actuação de Sir Scratch – contou também com a participação de Tamin e Royalistik em “Outra Margem”. Várias das faixas de CINEMA apresentaram uma nova roupagem sonora sob a forma de remixes. Só então o artista mais esperado da noite se apresentou a um público cansado mas delirante mal Sam The Kid levou o microfone à boca. Apertou a segurança e também o público, tornando o convento de S. Francisco de repente minúsculo para tanta gente. Sam The Kid, acompanhado de banda (e que banda!) desta feita, não tocou apenas músicas do seu último álbum – clássicos como “O Recado” e “Não Percebes” intercalaram outras faixas mais recentes como “Poetas de Karaoke”, “O Crime do Padre Amaro I e II” e “Motivação”. Entre músicas de um e outro álbum, Sam The Kid foi a actuação mais ardente da noite, pondo um público inteiro a cantar com ele e, apesar da exaustão, a saltar até às 6 da manhã. Cobertura oficial: http://www.zedfilmes.com/videos/flowfest200 7.htm


Incluídos no cartaz, excluídos da actuação Vencedores do concurso de bandas organizado pelo FlowFest ao longo de mais de 5 meses, La Dupla e Mc Ary teriam como prémio a abertura do concerto de Sam The Kid. Aceitaram por isso as condições impostas pela organização de suportarem os custos inerentes à participação para poderem usufruir do seu prémio, mas os acontecimentos da noite viriam a decidir em contrário. O atraso no soundcheck, agendado para as 15h e iniciado às 21h (hora do suposto início do evento), foi provavelmente a causa para o desmoronar do horário estabelecido, empurrando todas as actuações para mais tarde, ao ponto de o Sam The Kid, artista principal do evento, se recusar a actuar a partir de determinada hora, o que tornou impossível o respeito pelo alinhamento. La Dupla e Ary perderam assim o destaque previsto – dado que o FlowFest sempre fez questão de apoiar novos artistas – e pediram apenas para subir a palco para explicar a situação ao seu público, algo com que a organização concordou prontamente. Segundo o FlowFest, o manager de Sam The Kid foi informado desta situação e apesar de ter concordado com ela, quando La Dupla e Ary se encaminharam para o palco, já Sam The Kid estava a entrar por ordem sua, mesmo antes de Quizzmaster, host do evento, o poder sequer anunciar. Esta é talvez a maior falha da noite: não só não é papel de um manager substituir-se à organização no que diz respeito à gestão das

actuações, como representa uma monumental falta de respeito, quer pela organização, quer pelos próprios artistas. Apesar de todos estes contratempos, La Dupla e Ary aceitaram actuar depois de Sam The Kid, já os ponteiros batiam as 7 da manhã. Uma casa cheia reduzida a duas dúzias de pessoas, Ary ainda conseguiu uma curta actuação antes de La Dupla constatar que o som lhes havia sido definitivamente cortado. Foi em voz alta que Espanhol explicou a sua situação. Não menos prejudicados foram X-Tasy e Kwanhama, que nem chegaram a ter esperança de actuar. Mal se apresentaram no evento, concluíram que as condições materiais previamente acordadas não se verificavam. Resultado: O tema oficial do evento nunca chegou a ser ouvido. Em sua defesa, o Flowfest explicou em comunicado à imprensa que os as situações verificadas estiveram para além do seu controlo e advieram de elementos extra-organização. No entanto, reconheceram as falhas perante os artistas lesados, o que demonstra uma atitude positiva e vontade de melhorar. Fazendo o balanço da noite e sem retirar a devida importância às falhas que de facto ocorreram, não sobra dúvida de que esta noite foi dos melhores eventos do ano a esta escala. Do ponto de vista estritamente do público, este evento cria precedentes – mostra que grandes produções a nível nacional na área do Hip Hop são perfeitamente possíveis, populares e valem a pena. Por:Joana Nicolau

IV Street: De forma geral, como é que achas que correu esta edição do Flowfest? Raze: Em termos de público e afluência estava muito bom, gostei dos concertos que vi e foi bom terem apostado nos novos talentos. Por outro lado, houve alguns falhanços com a organização e muito pouco tempo para checksounds para alguns grupos, o que originou atrasos, entre outros problemas. Acredito que o público tenha gostado muito do evento, mas houve alguns artistas muito prejudicados.

Como consideras que correu a actuação? Colocas a hipótese de explorar o teu lado de mc, ou sentes-te mais à vontade na produção? R: A actuação correu bastante bem, o público estava mesmo a curtir os concertos, o que é muito positivo. O meu lado de mc ainda não está ao nível que quero, quero explorar mais, assim como a produção. Estou sempre em constante luta comigo próprio, sempre descontente, o que não deixa de ser bom.

IVS: Como és da zona centro, e mais especificamente falando nesse sentido, que importância achas que teve, tem, e possivelmente terá em próximas edições, um Festival como o Flowfest para essa zona? R: Acho muito positivo o facto de apostarem nos artistas locais, ainda para mais quando se trata de artistas já com algo sólido e capazes de dar um bom espectáculo, porque não se trata de apostar só porque são da zona, deve-se apostar porque tem qualidade. Espero que se volte a realizar este tipo de eventos e espero que com os próximos se corrijam os erros.

IVS: Qual foi para ti a actuação da noite, aquela que mais sentiste? Dá-nos um ponto alto e um ponto baixo de todo este Flowfest 2007. R: Ponto alto, a actuação do Sam The Kid, o ponto baixo, sem dúvida, o que fizeram com o Ary, que foi prejudicado ao ter tocado depois do Sam, e os La Dupla, que quando estavam a iniciar a actuação foi-lhes cortado o som, o que acho uma enorme falta de respeito, para mais quando eram os vencedores, juntamente com o Ary, da Operação Atitude. Isto para não falar dos problemas com o X-tasy e a banda, que nem puderam tocar a suposta música oficial do evento.

IVS: Vieste apresentar a compilação Sem Dados Disponíveis. Uma verdade é que no flyer do evento estava ZAP & Sem Dados Disponíveis e não RAZE, como seria o mais correcto. Quais são as tuas reacções sobre o sucedido? R: Já estou habituado a este tipo de coisas, o “Raze” é apenas o produtor da compilação, em Portugal, como se sabe, a produção nem tem muito valor, li ainda pela net que Sem Dados Disponíveis era um colectivo de artistas da região… Enfim, já é habito, mas acredito que seja porque o Zap era para actuar separado e decidiram juntar tudo, enfim, não percebi bem...

IVS: Para quando um segundo volume da Compilação Sem Dados Disponíveis? Que projectos tens em mente, seja cenas tuas ou mesmo projectos de outros artistas em que estejas envolvido e a preparar, e possas revelar? R: O segundo volume da compilação já tem os artistas definidos, agora estou só a acabar produções que me têm pedido para álbuns e compilações e depois disso começo a trabalhar nela. Entrei recentemente também num grupo de rock alternativo, Os Snakes, e estamos agora também a gravar um EP. Este ano tem sido muito positivo em convites para projectos, por isso até ao fim do ano espero trazer muitas novidades.

IVS: Passaram alguns sons da compilação e tu, mais notabilizado pelas produções, chegaste inclusivamente a subir a palco para enveredares pela vertente de mc.

Big Up para toda a equipa da IV Street Por: Ivo Alves


vários sentimentos e sensações, que foram

A inspiração nacional

Kooltuga é o nome do produtor de Hip Hop nacional, com raízes em Aveiro. No mesmo mês em que lança mais um trabalho - A LUTA CONTINUGA - foi convidado para apresentálo no Flowfest 2007, Coimbra. Kooltuga traduz-se na música portuguesa samplada de uma forma criativa, peculiar e corajosa. Corajosa por dissecar temas de autores como Trio Odemira, Duo Ouro Negro, Tony de Matos ou José Cid a polvilhá-las com beats sem rimas, porém, repletos de emoção e sentimento. Uma mistura de exaltação patriótica com a alma do Hip Hop. Mas ninguém melhor que o próprio produtor nacional para explicar. IV STREET: Define o teu estilo musical. Kooltuga: Produzo Hip Hop instrumental, beats sem rimas, apenas apoiado em samplagens portuguesas. São várias as razões para isso, principalmente o facto de trazer com isso uma sonoridade única, tendo, assim, a capacidade de nos transportar até um sentimento familiar, português. Tento, a cada dia, incorporar na minha instrumentalidade cada vez mais elementos para engrandecer e ampliar a dimensão do beat, sejam linhas instrumentais ou vozes, perfeitas para transmitir a mensagem do beat… Gosto muito de deturpar os samples, a melodia, meter as vozes a dizerem coisas que nunca disseram. Rótulo: Hip Hop Instruga. IVS: Até onde pode chegar a tua música? E até onde gostavas que chegasse? K: Acho que pode chegar a todos vocês, independentemente de gerações. Agrada-me o facto de poder mostrar o meu trabalho a pessoas mais velhas, trazer de volta algumas boas memórias com isso, relembrar os grandes sons de outrora… Há aqui uma das nossas raízes que é muito importante. Nós, os nossos pais e os nossos avós, crescemos a ouvir esta música. Fala de Portugal e dos Portugueses. Gostava que chegasse às rádios, aos centros comerciais, à tv, aos ipods, aos podcasts… e que chegasse a ti (risos). IVS: Qual o teu objectivo como produtor, tendo em conta que o teu projecto consiste em trabalhos sob samples portugueses? K: Trazer de volta as grandes melodias, os grandes ícones. Ouço e encaro as minhas músicas, mesmo durante o processo de composição, como apontamentos, um apanhado

de grandes momentos. Um loop não é mais do que isso, ou seja, um momento único numa perfeita e eterna repetição… Tento trazer uma sonoridade diferente, sabendo que o facto dos samples “falarem” português demarca desde logo alguma diferença. Mas quero ir desenvolvendo cada vez mais o meu trabalho, ir traçando o meu caminho, fazer o máximo pela divulgação do meu trabalho. E não só da minha música, mas de toda a nossa música, da nossa memória, do valor da nossa história. IVS: Porquê um lançamento anual sempre a 25 de Abril? K: Pela urgência. Pela mudança. Pondo de parte o aspecto político, há uma série aspectos “hiphopianos” que podem servir como pontos de comparação: as pinturas da propaganda, os murais, o risco marginal envolvido é comparável ao graffitti. O aspecto interventivo, a voz da revolta, a vontade de querer mudar o mundo são aspectos comuns com a ideologia Hip Hop. Tem sido uma data simbólica perfeita para tudo aquilo que pretendo transmitir. Embora também tenha de arranjar alguma coisa para o dia 10 de Junho, dia de Portugal, logo que possível… IVS: No passado 25 de Abril, para cumprir a tradição, lançaste mais um álbum: A LUTA CONTNUGA. Fala-nos sobre ele. Inspirações, artistas samplados, música favorita, método… Quero saber tudo. K : O á l b u m c h a m a - s e A L U TA CONTINUGA.Representa o meu caminho pela música portuguesa e pretende celebrar todas as raízes tão nossas que ouvimos durante gerações. Um conjunto de “canções” que me suscitam

sendo produzidas no último ano, embora também tenha ido buscar alguns beats antigos que nunca tinham sido acabados realmente… Uma dessas era a “Tu (A Tal)”, feita a partir duma musica brutal do Tony de Matos, provavelmente a minha favorita do álbum. Tenho andado praticamente só a ouvir musica Portuguesa nos últimos tempos. Não apenas por necessidade na busca incessante de samples, mas exactamente pela vontade de ouvir a brutalidade e perfeição de muitos temas quase esquecidos pelo tempo. O método mantém-se: samplo do vinil para o PC, depois sequencio tudo no FL, uma estrutura e alguns efeitos depois está pronto a servir. IVS: Quais os artistas que mais samplas? K: Tenho favoritos, mas tento sempre (re)descobrir novos. Depende um pouco da ocasião. Pessoalmente prefiro procurar por discos mais desconhecidos, deixo os grandes nomes para oportunidades mais cuidadas. Mas já samplei José Cid, Carlos Mendes, Carlos do Carmo, Paulo de Carvalho, Duo Ouro Negro, Trio Odemira, António Variações, Mário Viegas… Basicamente o processo é procurar discos em feiras, lojas de velharias ou em casa de amigos. Quando há oportunidade traz-se um pouco de tudo; conhecidos e desconhecidos.

IVS: Não achas que todos vão estranhar quando quiseres mudar de estilo? K: Mudar o estilo não muda o Camilo. O Kooltuga sou e serei sempre eu! Terei sempre vontade de experimentar coisas novas, novas fontes de inspiração e novos formatos. Eu não vivo sem música e ouço um bocado de tudo. E acho que é bom diversificar, apresentar novos estilos… Eu gostava muito de começar a explorar uma vertente mais digga. Misturar clássicos do Hip Hop com as samplagens originais, aproveitar outros elementos das musicas originais para fazer novos beats… Sei lá… É uma questão de disposição… Mas cada caminho é um caminho. IVS: Foste um dos nomes do cartaz do Flowfest 2007. O que é que isso representou para ti? Como correu? K: Fazer parte de um evento quase mítico na zona centro, assumido como com um grande cartaz, foi uma grande oportunidade. Foi uma primeira experiência para mim, e acho que correu pela positiva. Um começo de uma vontade de actuar mais ao vivo e de poder experimentar novas formas de incorporar essa música portuguesa com os beats. Mas sei que será um projecto a longo prazo… Ainda há muito que aprender e muito que organizar para poder mostrar tudo o que pretendo.

IVS: Sei que tens uma paixão por José Cid. Explica lá isso! K: Tive a sorte de crescer a ouvir um dos maiores e mais completos cantores do nosso país. A cassete mais rodada, sempre foi o “auto-reverse” da casa. As músicas dele tocam-me de uma maneira especial, sinto muito as palavras, a sonoridade… Alêm disso, tem uma discografia infindável, tendo passando por várias fases e sonoridades. Acho que é algo transcendente para mim. Até já como favas com chouriço! (risos) IVS: Como Kooltuga, tens um formato, em estilo. Produzes uma outra sonoridade ou cinges-te àquilo que já conhecemos? K: Estou a ver por onde a música me leva. Literalmente. Pela transformação eterna… Para mim o gozo está realmente na transformação da música e naquilo que está por trás; os artistas, a história e as razões. Quando vou a procura de discos para samplar gosto de ir a procura de sons familiares, melodias que ultrapassam fronteiras! No caso da música portuguesa tem um sentimento único nas suas melodias. A sonoridade será sempre essa, aquela sonoridade tuga kool (risos). Mas irei explorar outras fontes, não-tugas, mas será sempre uma coisa aparte de Kooltuga.

IVS: Palavras finais. K: Este é sempre o momento crucial da conversa, o rematar antes do apito final… Agradecer à IV Street pela oportunidade e por todo o apoio ao movimento e repetir que está tudo em ou … Oiçam “A Luta Continuga”! E é assim… Todos tentamos acabar com uma forte sacudidela dos ombros em jeito de apoteose final!! …mas a vida não é sempre assim… e às vezes, mesmo no final… meeesmo no final… Por: Vanessa Cardoso


De Aveiro para o Mundo. Pelo menos é esse o desejo de Zim e Multih, membros dos NAD, que não escondem a ambição de vir a ocupar um lugar de destaque no nosso panorama musical. Directos e decididos, estes dois músicos - assim se caracterizam - não têm papas na língua na hora de apontar o dedo à monotonia que se instalou no Hip Hop português (sempre com um sentido de humor apurado). Mas, afinal, o que têm os New Age Delinquents de tão diferente? O público do Flowfest já descobriu - resta-vos fazer o mesmo. IV Street: Para quem não vos conhece, comecem por se apresentar. Zim: NAD... Multih: Olá, nós somos os NAD, eu sou o Multih, somos de Aveiro. Z: Bandidos desde Outubro de 2003... Éramos uns putos... Havia outra formação que entretanto foi alterada e, há quase dois anos, Zim, Multih, NAD, New Age Delinquents... M: E tomou a formação que tem actualmente.

perante um público que, na sua maioria, não vos conhece. Como é que esperam que seja a reacção, e como é que vão procurar cativar a assistência, e fidelizá-la, até? Z: Nós escolhemos dois temas. Nós temos desde coisas mais "pesadas", ao mais "levezinho", ao mais "cutxi"... (risos) M: E a nossa sonoridade, a sonoridade dos NAD, caracteriza-se por ter bastante melodia, ao contrário da maioria do Hip Hop que se gera em Portugal, tanto a nível de voz como a nível de instrumentais. A partir desse momento tornase, vá lá, mais fácil para nós cativar o público do que para os outros grupos, porque temos uma sonoridade cativante, tentamos atraír necessariamente o público... Z: E lá está, há sempre a mensagem, só que há também música, e há festa. M: Festa acima de tudo. Foi para isso que o Hip Hop foi criado, e é para isso que nós aqui estamos hoje. IVS: Então, para vocês, o Rap é mais ritmo ou mais poesia? M: É saber misturar ritmo com poesia, é saber misturar boa música com boa poesia!

IVS: Vocês assumem-se, sobretudo, como músicos, acima de rappers. Porquê a necessidade dessa afirmação? M: Porque nós vivemos numa sociedade muito fechada, e no próprio movimento há facções muito contraditórias, e nós queremos frisar que nós estamos nisto porque gostamos, não queremos o rótulo de rappers nem de mc's, nós só queremos fazer aquilo que gostamos, e se as pessoas gostarem melhor ainda. IVS: Hoje vão actuar aqui, no Flowfest,

IVS: São uma banda já conhecida a nível do distrito de Aveiro. Como é que explicam este sucesso? Z: Tivémos sorte em relação à rádio local... Certos conhecimentos... Também nunca parámos. Quantos mais amigos, mais publicidade. M: Voltamos ao fundo da questão, que é tentar fazer uma sonoridade nova, diferente da maioria do que se faz por aí, e tentar, acima de tudo, fazer bem aquilo que fazemos. IVS: E como é que pensam transportar esse vosso sucesso a um nível mais abrangente, nacional? Deixar de ser uma

banda da região... M: Isso não parte muito de nós, parte muito mais das entidades e das organizações e dos focos locais de pessoas que tenham vontade. Querem Hip Hop, tragam Hip Hop, nós vamos lá e mostramos aquilo que nós sabemos. Se as pessoas gostarem... Z: Neste momento estamos a trabalhar para um certo reconhecimento público. M: Exactamente. Z: Nós estamos a trabalhar, estamos em estúdio já há uns tempos, por alguma coisa é. M: O nosso som vinha há uns tempos classificado na IV Street como sendo bastante acessível. Como o nosso próprio entrevistador, o sr. Haka (risos), disse há uns tempos, é um som bastante acessível, para um público mais alargado, e é acima de tudo isso que nós tentamos fazer. Através do nosso som, tentar abrir mentalidades e mostrar a mais gente mais sonoridades diferentes, mostrar que Hip Hop não é aquele rótulo que há muito em Portugal, que são só gajos a falar em cima de batidas com vozes monocórdicas, repetitivas, uns cada vez mais iguais aos outros. Tentar mostrar que há outras facetas, e isso só se faz com trabalho e havendo organizações locais... Z: E, acima de tudo, com originalidade, sendo diferente, a mostrar um pouco de nós. Não ser um igual aos outros. Cada vez vejo mais do mesmo... "Epa, vamos ser Valete, vamos ser Sam the Kid, Mundo"... Depois aparecem todos iguais, a mensagem, as ideologias. Nós temos

a nossa mensagem, falamos muito de nós... M: Primando também pela diferença, como nós fazemos questão. Não somos como rappers que andam por aí só para criar sons sempre com os mesmos temas, sempre "nós somos isto, nós somos aquilo". Nós sabemos perfeitamente que o nosso tipo de sonoridade abre mentes e consegue chegar a públicos mais diversos, e assim nós temos perfeita consciência que estamos a abrir campo para outros rappers que venham depois, mesmo com som muito diferente de nós, ou mesmo rappers que já trabalham há muito mais tempo, mas também a que eles consigam chegar à consciência das pessoas, porque nós conseguimos mostrar ao público que o Hip Hop não é pré-rotulado, não tem uma só cara, tem várias versões, e cada um de certeza que encontra dentro do Hip Hop aquilo que quer e aquilo que gosta. Z: Como eu já ouvi, já me disseram, indirectamente, que eu não seguia as regras, que não seguiamos as regras do movimento, porque parece que para muitos, supostamente, há um regulamento que tem que ser seguido dentro do Hip Hop. Lá está, nova geração, nova escola, nova cena, há que inovar. IVS: Vocês tentam ter um estilo próprio mas, mesmo assim, não escapam de ter as vossas influências. Quais são? Z: Eu vou desde a velha escola americana até à nova escola. Muito rhytm and blues, muito new metal, música clássica, mesmo muita


música clássica, é a minha cena, depois também produzimos de maneiras diferentes, juntamos isso... M: Eu ouço basicamente tudo, tudo o que for feito com qualidade e com empenho. Ouço quase tudo, desde sons mais extremos, black metal, death metal, até reggae, country. Desde que uma pessoa faça bem, com gosto e com qualidade, uma pessoa ouve sempre bem. Z: Desde que não tenhas palas nos olhos e tenhas um mínimo de horizontes alargados, toleras sempre tudo. M: Não é por não ser Hip Hop que não vamos ouvir nem vamos apreciar, e se calhar é por isso que o nosso som é diferente do que se faz por aí. Passa tudo por ter uma mentalidade aberta e vontade de aprender descobrir sempre mais.

IVS: Há pouco falaram em reconhecimento. Até que ponto é que o reconhecimento público é importante? M: Acaba sempre por ser. Saber que há pessoas que nunca ouvimos falar, que não conhecemos, que gostam da nossa música, é reconfortante. É extremamente bom, porque são pessoas que não são influenciadas como são os nossos amigos, a nossa família, que há partida nos dirão sempre que é bom, mas há sempre aquela dualidade de critérios, porque somos nós. Ao saber que há muitas mais pessoas que não nos conhecem e que gostam do nosso som por ser música com que eles se identificam, que eles gostam, é bastante reconfortante para nós. Z: Com o reconhecimento vem a oportunidade de poder dar mais actuações, e isso também conta. Eu não quero um dia - esta é a verdade, e eu posso ser condenado por muita gente que anda aí - chegar a casa com 30 anos, fodido por estar a trabalhar ali ou acolá, em vez de estar a trabalhar 24 horas no estúdio, a trabalhar para a música. Eu quero um dia fazer isso. M: A mensagem que nós tentamos transmitir é que não é pelo nosso trabalho ser aceite pelo público, não é por um dia vendermos cd's por

aí às resmas, não é por isso que uma pessoa é vendida, estás a perceber? Tu podes continuar fiel ao que fazes, ao que gostas, se puderes viver disso melhor ainda, desde que mantenhas as tuas convicções e sejas fiel ao que fazes, tanto faz que seja underground, mainstream, és aquilo que quiseres. Desde que faças com amor à camisola, tudo o que vier é bom. IVS: Além dos NAD, o que é que se pode encontrar mais a nível de Hip Hop em Aveiro? Z: Tens o Kooltuga, grande produtor, tens a Casquilho Produções, tens os Hot Block Niggas, que têm um som mais underground, os Homeboyz, de Esgueira... M: Depois, tens a malta de Espinho, Sta. Maria da Feira, que se tentam colar ao norte (risos)... Z: A Gaf. Squad, os 2 Forty, no beatbox, o Dizzy, OSK... Dentro do movimento, Secret Force, Aveiro Breakers... M: E tens aí um gajo, não sei se já ouviste falar, que é o Dust (risos), e um amigo, que é o Wize (risos)... O Wize é fofinho (risos). Z: Há muita gente... Tens o Sina. M: Felizmente, o movimento já não é o que era há uns anos, já não é só o amigo do amigo do amigo do amigo que está dentro do movimento. Cada vez isto chega a mais gente, há muito tempo era o amigo do amigo, era só tu que ouvias, estavas no teu prédio, tinhas um gajo que morava não sei onde que ouvia... Hoje em dia, felizmente, a coisa está a chegar, e tudo bem que sejam contra os meios de comunicação, lá os undergrounds máximos, contra as televisões, Morangos com Açucar, DZR'T... Sejam contra o que quiserem, mas a verdade é que essa gente abre mentalidades, e apesar de fazerem mau Hip Hop e não caracterizarem aquilo que o movimento é, levam esse nome às pessoas e as pessoas têm que ser capazes de interpretar essa informação e buscar mais e descobrir que não é só aquilo e que, de certa forma, também estão a trabalhar para nós. IVS: Estão agora a preparar o vosso álbum de estreia. O que é que podem adiantar em relação a isso? Z: Não há uma faixa parecida à outra, tens de tudo. Acho que não vai haver haver aqueles rótulos "Olha os DZR'T" ou "Olha os Sam the Kid wannabe's", vais ter NAD mesmo. É música clássica, reggae... M: A cena é que cada estilo musical é um mundo completamente novo, e se nós o podemos cruzar com a nossa sonoridade, estamos a criar novos mundos, a criar novas possibilidades, novas capacidades. É isso que nós fazemos nas nossas músicas, é isso que nós vamos tentar de certeza fazer no nosso álbum, tentar seguir um pouco a linha da nossa maquete, da nossa demo, a DEDICADO. Vamos tentar trazer novos géneros

para dentro do Hip Hop, tentar abrir mentalidades, mostrar coisas novas a mais gente, trazer gente nova... É isso que nós queremos do nosso álbum, que seja um álbum homogéneo para os NAD, mas que musicalmente seja heterogéneo. A ideia é essa, tentar manter a nossa identidade própria, sendo fiéis ao que nós somos mas fazer o máximo de experiências que pudermos, porque só experimentando coisas novas é que conseguimos evoluir cada vez mais, chegar mais longe e ser melhores... Sempre melhores, e viva a wella, Mundo melhor, bota fumar real, yeah, paz! (risos)

Hop funcionava muito a partir dos instrumentos, das bandas. Houve uma regressão, com o tempo, até porque o Hip Hop é considerado o estilo musical das camadas baixas, daí que fosse completamente impossível e impensável um mc crescer há uns anos com banda própria. Só se retomou esse hábito de há pouco tempo para cá. Não deixa de ser um complemento enorme, passa a ser mais gente a palco, passa a ser uma completa liberdade, os instrumentais deixam de estar presos ao que está feito em casa, no estúdio, aos dj's... É uma ideia como tantas outras, que é boa. Relativamente a quem faz isso, desde que se faça isso bem... IVS: Não vale a pena ter uma banda se ela só toca loops... M: Exacto, não vale a pena. Z: Nós temos várias músicas em que levamos instrumentos para o estúdio. Nós fazemos a produção em Reason, mas há coisas que nós fazemos em Reason que eram muito mais fáceis se tivéssemos músicos. Nós temos muitas ideias e sabiamos que há sons que nós queriamos mesmo genuínos. M: Ya, dá outra expressividade à cena, porque são pessoas que estão a tocar, não é um computador, não é uma máquina, é uma pessoa, e cada pessoa tem a sua expressividade musical. Z: Tipo o Razhel. Tudo o que ele faz com a boca, ou tudo o que ele faz no computador, eles (Ndr: The Roots) tocam em instrumentos...

IVS: Já que caracterizam aquilo que fazem como música, até que ponto é que pensam juntar ao trabalho dos NAD uma banda, como vem sendo moda? E o que é que pensam de quem o faz? M: Isso já se falou há uns tempos em estúdio, em passarmos a usar uma banda ao vivo. É preciso compreender que nos primórdios o Hip

IVS: Para acabar, o do costume, uma mensagem final. Aproveitem para fazer agradecimentos, anunciar concertos, mandar props para os niggas... (risos) Z: Props nigaaas! M: Props para toda a gente da IV Street... Z: Eu dizia Five Street! (risos) M: Continuem a trabalhar, a evoluir, nunca fiquem parados, nunca digam "Eu sou bom, eu sou grande, eu não preciso de mais nada"... Z: Digam um bocadinho. M: Mas tenham sempre mentalidade aberta! A ideia do Hip Hop sempre foi abrir mentalidades... Z: Façam publicidade ao bacalhau Pascoal ou merda assim... M: Estás a estragar a credibilidade das minhas palavras... Acima de tudo, trabalhem, tenham orgulho naquilo que fazem, mas acima de tudo não se deixem rebaixar, tenham mente aberta para poderem evoluir mais e nunca digam "Aquele gajo... Nunca vou aprender nada com o gajo", porque aprendem sempre qualquer merda. E podes dizer a parte da merda como última palavra: merda. Z: A tua mãe vai ler isto... M: Não vai nada. A minha mãe lê o título e vê "Fodasse, lareira"! NAD: (risos) Por: Moisés Regalado


ser vistas como um meio para o "experimentalismo" e não como um sinónimo de desleixo. É por isso que apoiamos tanto as mixtapes! Eu não disse que nunca lançaria um álbum, mas tenho a certeza que se tivesse aparecido com um álbum em vez duma mix passaria mais despercebido, como apenas "mais um mc" e não como S.U.N.

Um consumo obrigatório de S.U.N e Dj Sweat Depois de lançado o CONSUMO OBRIGATÓRIO, chega a altura de o apresentar, neste caso perante a plateia cheia do Flowfest de 2007. A IV Street esteve presente, a IV Street gostou imenso da actuação deles e a IV Street foi falar com eles. IV Street: Antes de mais, como surgiram os nomes que servem de "camuflagem"? S.U.N: Sun era o meu "tag" antigamente. S.U.N. é a adaptação desse nome ao rap simplesmente porque me soa melhor. Sweat: Basicamente pela mesma razão. Senti o nome e adoptei-o. IVS: Com que finalidade criaram a Urbisom Records? Sweat: Inicialmente, a Urbisom foi criada com a intenção de juntar e promover o trabalho de alguns Mc's e Dj's de Coimbra. O que não quer dizer que apenas possam integrá-la artistas desta cidade! O que interessa acima de tudo é fazer boa música e que quem entre traga isso em mente.

IVS: A apresentação da vossa editora surge com CONSUMO OBRIGATÓRIO. Como foi o processo de criação da mixtape? Sweat: A ideia de fazermos uma mixtape em conjunto surgiu depois da nossa actuação no

Flowfest 2006. Como houve uma plena sintonia entre os nossos métodos de trabalho e como os nossos gostos musicais se identificam, sabíamos que à partida formaríamos uma boa equipa. S.U.N: O processo de feitura do trabalho foi simples mas ao mesmo tempo exigente. Todas as batidas foram escolhidas a dedo para teres a certeza de que foram criadas para aquele tema e ao nível de escrita, houve uma preocupação de conjugar a rima e o flow, ou seja, de conseguir transmitir tudo o que quero dizer mas unir a palavra à batida de forma a torná-las num só elemento: música!

IVS: Tendo vocês essa visão e sendo vocês os "patrões" da Urbisom Records, não é contraditório lançarem o álbum de SickScore? Sweat: Primeiro deixa-me dizer-te que não somos nós os patrões da Urbisom Records. Somos apenas artistas duma editora discográfica. Quanto aos SickScore...eles não têm que ter a mesma opinião que nós. IVS: Para quando o álbum deles? Que participações terá? Sweat: Espera-se que saia ainda este ano. Eles estão a apostar bastante na qualidade musical por isso certamente que irão destacar-se no plano nacional. Em termos de participações sei que terá a de S.U.N.

IVS: Porquê só duas participações na mixtape? S.U.N: Porque só estas faziam sentido. Não gosto de participações forçadas. IVS: Nesta Mixtape e na do Dj Leat vocês frisam bem a vossa opinião quanto a álbuns e também aos beats originais. As mixtapes são um fetiche para vocês? S.U.N: Não se trata de nenhum fetiche mas sim de uma opinião com dois sentidos paralelos: por um lado, é um "estalo de luva branca" a todos esses rappers que se queixam da falta de produções e usam essa preguiça como desculpa para justificarem o seu estatuto dito "underground"; por outro lado, é uma "cuspidela na cara" desses Mc's que se lançam no mercado sem terem qualquer experiência ou maturidade musical para desenvolverem uma obra do início ao fim. Há muitos rappers que lançam 2, 3 álbuns e nunca ninguém ouviu falar deles! Porquê? Porque da primeira vez que alguém os ouviu concluiu logo que não sabiam fazer música! Não nos podemos esquecer que a primeira impressão é a que mais conta, logo, se tu apareces wack na primeira vez dificilmente conseguirás recuperar a confiança dos ouvintes. As mixtapes devem

IVS: À imagem do Ruze, que já tem mais de 10 anos de Hip Hop mas que a nível nacional é pouco ou nada conhecido, vocês com este potencial enorme, tanto em cd como em palco, também pouco são. que factores são responsáveis para esta situação? São os artistas que não se querem mostrar?

Sweat: Tens que ter em conta que este foi o nosso primeiro trabalho! Como é que tu queres conhecer algo pré CONSUMO OBRIGATÓRIO se CONSUMO OBRIGATÓRIO é o inicio? S.U.N: Para mim há alguns factores que tornam a nossa divulgação difícil. O primeiro é o factor origem: nós vimos de uma cidade praticamente sem tradição no seio do Hip Hop. Por exemplo, no Flowfest deste ano lembro-me que houve uns gajos que no fim da nossa actuação me vieram dar os parabéns e quando lhes disse que era de Coimbra ficaram surpreendidos porque pensavam que eu era de Lisboa. As pessoas estão habituadas a que os bons trabalhos só venham de Lisboa e ficam surpreendidas quando vêm que há qualidade para além dela. O que nós temos que fazer é começar a habituar os ouvintes a consumir rap de todos os pontos do País. Disseste que o Ruze tem mais de 10 anos de Hip Hop, mas dentro desses anos perguntalhe quantos foram proveitosos em termos de divulgação! Mesmo que agora seja mais fácil de chegares às pessoas ainda assim parece que temos mais a provar que quem vem dos grandes pólos nacionais. O que por um lado é bom porque me permite afastar do estilo formatado que paira neles. O outro factor atinge a maioria dos artistas de rap português: é muito difícil conseguir viver do Hip Hop em Portugal. Daí que a grande maioria de nós não tenha o tempo necessário para se dedicar 100% a isto. E é uma situação que dificilmente irá mudar não só porque Portugal é um País pequeno mas também porque o chamado "movimento Hip Hop tuga" está contaminado! Os ditos "movimentalistas" não se apoiam mutuamente! Por isso é que a evolução ao nível nacional é lenta e por isso é que tens que esperar 4 anos até que saia o álbum do Valete ou do Sam para poderes ter uma bomba! Temos que ser competitivos com nós mesmos mas ao mesmo tempo ter 2 dedos de testa e consciência das nossas limitações. Por isso é que eu já escrevo há uns anos e só agora me lancei. Por isso é que, como tu dizes, nós não somos mais conhecidos. IVS: Que balanço fazem ao Flowfest deste ano? Sweat: Até agora temos recebido um bom feedback por parte do público que esteve presente, mesmo daquele que ainda não conhecia o nosso trabalho. S.U.N: Sentimos que foi um marco histórico para o Hip Hop nacional em geral e para a cidade de Coimbra em particular e esperemos que haja mais gente com coragem para tomar iniciativas semelhantes. Para aqueles que quiserem saber mais sobre a Urbisom records visitem o nosso site: www.urbisom.com e aproveitem ainda para ver o meu myspace: sunrapper.com. Por:Olheiro


SP: Existem grandes surpresas e quanto a pessoal temos aí o Rusty que actuou e ainda Beat, o Plasma, tem tantos que nem imaginas, por exemplo tem um na Madeira que também faz grandes cenas. Existe muita malta do underground que o pessoal não conhece e o mais surpreendente é que este pessoal começa muito cedo, tipo 11 ou 12 anos e chegam aos 16 anos já com skills incríveis. W: E nós começamos tarde (risos). SP: E é bom saber que existe pessoal assim.

Depois de mais um concerto em que o público aderiu bastante – para não falar da novidade dos B-Boys em palco – e depois de ultrapassar uma certa teimosia dos seguranças, lá conseguimos apanhar SP & Wilson, sempre bem-humorados e disponíveis, proporcionandose então esta entrevista. Ora leiam. IV STREET: O que acharam deste evento? SP: O evento está a ser bacano, estamos a ver muito talento aqui, apesar de poderem ter feito com que o evento começasse mais cedo, mas eu tenho estado atento a um pouco de cada espectáculo e na globalidade os artistas estiveram bem. Claro que sempre com uma falha aqui e ali, ate nós tivemos, mas no fundo correu fixe. Wilson: No fundo, teve lá!

apesar do palco ser um pouco reduzido estiveram muito bem. IVS: Acham que se devia fazer mais eventos a esta escala? SP: Eu por mim acho que devia haver mais cenas assim, apesar de existirem alguns aspectos a melhorar no evento é sempre bom e dá para valorizar a malta mais jovem e aquilo que há de novo por aí. IVS: Novidades em relação à reedição do vosso álbum? SP: Quanto à reedição, vais ter beats produzidos por mim, com pós-produção do Alma Branca, temos um reggae, o som da reedição que saiu agora e 2 R&B’s e depois o CD vai ter um código que pela net vai permitir ter acesso a mais 4 temas, logo são 8 temas no total. Contudo ainda vão haver mais dois temas com o Tó dos Factos Reais e isso aí já perfaz 10 temas, praticamente é quase um álbum novo. IVS: E projectos a solo, já há muito se fala do álbum do SP, está para breve? SP: Toda a gente anda a perguntar mas por enquanto ainda não. Mas estou a preparar um álbum de instrumentais com o Alma Branca, o Wilson vai estar lá a fazer barulho, o Sam The Kid e mais pessoal de fora. A nível de canto vai ter apenas uma faixa de uma sobrinha minha de 12 anos que descobri que tem um vozeirão do caraças!

IVS: Já agora como se chamam os B-Boys que actuaram convosco? SP: Fórmula Armada, pessoal de Lisboa que

IVS: Vocês são os responsáveis por esta maior visibilidade do beatbox em Portugal, como é que vêm o panorama actual? Nomes do beatbox que estão aí a rokar? W: Está em grande!

IVS: Reparei que o SP tem seguido uma sonoridade diferente e os mais puristas não estão abertos a isso. Achas que na produção as mentalidades deveriam estar mais abertas? SP: É pá, muitas vezes chegam perto de mim e dizem que faço música comercial. Eu faço música e a partir do momento que tens um álbum nas ruas estás a comercializar o teu CD e estás a fazer música comercial. Eu até dava ao pessoal mas é isto que eu faço e a única coisa que eu sei fazer para além de cozinhar (risos). Acho que o pessoal devia expandir mais as mentalidades na cena musical, e tens aqui o Alma Branca que já produz há muitos anos e vem ter comigo a dizer como é que eu posso trabalhar com ele sabendo que ele até produz

para pessoas da música popular portuguesa, no entanto, só o facto da musicalidade dele me agradar… E também o facto de ser metade angolano, metade português, não posso fugir ás minhas raízes nem desrespeitar o passado. Claro que o pimba está sempre encostado a um canto mas não é estar a desrespeitar porque já está há muitos anos. Da mesma forma que não gosto que os “pimbas” venham ter comigo “Hei, os gajos do beatbox, yo, yo ,yo !!!...Poetas de Karaoke” (risos). Muitos dizem que sou assim porque estive em Inglaterra, mas desconhecem que o Hip Hop lá está muito pior que cá, pois apesar de ter muitos canais de rádio e TV, o Hip Hop tem muitos pontos fechados e por isso devíamos dar graças por aquilo que temos em Portugal. Eu também sou de uma geração de Hip Hop diferente, eu comecei por ouvir Eminem e coisas do tipo apesar de já estar envolvido na música e produzir outros estilos de música, cresci com isso e também tinha um bocado de preguiça de estar a ouvir o que faziam senhores como Pete Rock e JayDilla, apesar de gostar muito deles agora. No entanto, tive outras influências mais fortes e acima de tudo o que o pessoal tem que fazer é aquilo que sente. È pá e é isso basicamente. (risos) Acho que falei bué. Por: A. Silva e P. Silva


quem estou habituado a trabalhar.

na Irlanda e a música em Portugal. IVS: Como se vive o Hip Hop na Irlanda? Já tocaste lá? SS: Já lá fiz algumas coisas, já entrei em battles, mas é um projecto totalmente diferente do que tenho e daquilo que faço cá. São algumas cenas em inglês. O Hip Hop na Irlanda é razoável, não é mau mas também não dá para evoluir como em Portugal e não é tão grande. Aquilo que há de melhor lá são os DJ’s.

Corpo na frente

Aos 14 anos já rimava e hoje é o MC que nunca perde o fôlego nem sai do compasso. O ano de 2005 é pautado pela edição do primeiro trabalho CINEMA: ENTRE O CORAÇÃO E O REALISMO, com as participações de Regula, Kapone, Bob Da Rage Sense, Brigadeiro MataFrakuz, a cantora Tamin, entre outros. Já as produções ficaram maioritariamente divididas entre Sam The Kid, Lince e Bomberjack. Este disco, aguardado há algum tempo, confirmou a curiosidade da comunidade Hip Hop e Sir Scratch, com corpo na frente, marcou posição como um MC e freestyler de referência. Sir Scratch em discurso directo para a IV STREET, directamente de Coimbra, no Flowfest 2007. IV STREET: És uma dos nomes desta edição do Flowfest, uma dos mais aguardados festivais de Hip Hop nacional. Como vai ser o concerto desta noite? O que tens preparado? Sir Scratch: Metade do concerto vai ser o meu álbum. Como já passaram dois anos desde o lançamento de CINEMA não faz sentido estar ainda a explorá-lo, por isso, vou tocar quatro temas, dois deles já remisturados, depois disso, vão ser temas mais recentes. Vou tocar a música do álbum do Núcleo, o “Lobo Mau” e “Margem” da compilação FREE SPEACH do Bomberjack. Vai também haver improviso! E no fim, uma surpresa. O Bob Da Rage Sense vai também apresentar uns sons do disco dele, o que ninguém está à espera que aconteça. IVS: Os convidados são os habituais? SS: Sim. O Bob, que me acompanha como back vocals, a Tamin e o Royalistick. IVS: Ultimamente tens entrado em compilações, nomeadamente, a FREE SPEACH da Footmovin com o tema “Margem”, tema esse, em grande rotação na Antena3. SS: Eu nem estava cá na altura em que começaram a trabalhar na compilação, estava na Irlanda e ia fazer a música sozinho mas acho que é um tema que requer muito mais, está mesmo a pedir outras participações porque é uma mensagem forte que tentamos transmitir. O Bob Da Rage Sense entra, o Royalistick também, foi uma boa altura para cantarmos juntos pela primeira vez e a Tamin no refrão que é uma vocalista de quem eu gosto e com

IVS: A tua vida é dividida entre Portugal e Irlanda. Nesta divisão há perdas e ganhos, qual a tua prioridade nesta divisão, entre um país e o outro? SS: Os estudos são, sem dúvida, o mais importante, mas isso não quer que seja prioritário. Prioridade é a música… Mas vivo em permanência dividido entre esses dois mundos. Os estudos

IVS: Para quando o segundo álbum? SS: Já estou a trabalhar nele mas desta vez vou fazê-lo num processo diferente. Estou em estúdio mas ainda não estou a escrever. Quero trabalhar primeiro na música, nos instrumentais, estou concentrado com os músicos e produtores para captar a essência da musicalidade e partir depois para a escrita. O facto de eu não estar a escrever algo e depois ir buscar um instrumental para determinado tema é diferente por si só, quero que seja um processo muito mais natural. Para já tenho instrumentais do Sam The Kid e Conductor. Estou neste momento em estúdio com o Kilú, e está a sair algo mais Slum Village, com ambiência Soul. A esta altura, sei que vai ser um álbum muito diferente do primeiro, e ainda não há datas. Por: Vanessa Cardoso


LS: Kooltuga tem um estilo bué clássico que só sampla cenas portuguesas e aprecio mesmo isso.

Quando falamos em Coimbra no panorama nacional, um nome que salta logo á vista é SBT2, e sendo esta a cidade anfitriã do Flowfest, aproveitamos o facto de estarem a jogar em casa e fomos ter uma conversinha com eles. IVStreet: Como é constituído o grupo de SBT2? Ruze: SBT2 é um conjunto de pessoas que representam no movimento Hip Hop, seja como mc, dj, writer ou b-boy apesar do nosso projecto ser mais virado para a vertente musical. DJ LS: Quanto a nomes temos o Dj LS e Sasi nos pratos, Bomberline e o Ruze como mc’s e ainda o Poppy que foi o b-boy que actuou connosco.

bem. IVS: Acham que a partir de agora Coimbra está definitivamente no mapa do Hip Hop português? LS: Temos programas de rádio, mais as maquetes que se vão lançando e assim vamos fazendo o nosso movimento por cá.

IVS: Como tem sido feedback geral do público? LS: Maioria dos sons que mostramos hoje foram novos e mesmo assim as pessoas sentiram, apesar de se identificarem mais com os sons do ‘Retrospectiva’, no entanto, foi importante este evento para mostrar cenas novas do próximo álbum. IVS: Projectos para o futuro do grupo ou mesmo de alguns elementos a solo? Ruze: Posso dizer que o meu álbum está gravado, só falta a mistura e masterização.

IVS: Há quantos anos estão juntos neste projecto? LS: Não temos um número específico porque todos os elementos já estão nisto há imenso tempo e cada um vai fazendo as suas cenas desenvolvendo os seus skills. R: Depois juntámo-nos num grupo, como nas tais vertentes do Hip Hop pois o Sasi é Dj e Writer, LS é Dj e participa em alguns campeonatos, o Bomberline é o elemento mais novo que nos vai acompanhando e temos ainda o Poppy que já é oldschool e juntou – se a nós também. Sasi: E também fizemos uma analogia entre as 4 vertentes e os 4 elementos (água, terra, ar e fogo) representando isso nos placares que levamos para o palco. Em que o ar é o Dj que alimenta a chama, isto é, o MC. IVS: Que acharam do evento em si? LS: Foi muito bom, apesar dos atrasos que houve, pois nestas Hip Hop jams cada grupo tem o seu material e atrasa sempre um bocado, mas no geral foi muito bom e o próprio local do evento dava outro ambiente à cena. Sam rebentou, Footmovin também esteve lá, os nossos bacanos da Urbisom também rebentaram e no geral esteve muito porreiro. E nós também preparámos bastante o nosso espectáculo, isto é, trabalhámos bastante para que corresse tudo

IVS: Qual é a sensação de participar neste evento sendo de Coimbra? Ruze: Cheguei mandar um freestyle no 1º Flowfest, depois participamos no 2º e fomos convidados para este, vi grande evolução e a malta aderiu bem. LS: Também o facto de actuarmos em casa deunos mais tempo para actuação, vimos o pessoal a sentir a cena e até pediram freestyle no fim, só que não dava porque o evento já estava atrasado e tínhamos de ter consciência relativamente aos outros. Ruze: Fizémos o espectáculo programado, a malta aderiu bem e venham mais destes eventos para a zona centro.

IVS: E quem é que destacam? Ruze: De Coimbra temos os Urbisom, o Raze que apesar de não ser de Coimbra é da zona centro e também o Kooltuga que mesmo não sendo de cá faz excelentes instrumentais e colabora connosco.

Grande parte da responsabilidade é do LS que proporcionou as condições para que o álbum fosse possível, como o estúdio, e também tive a ajuda de vários mc’s que entram no meu álbum como por exemplo o Sickscore. LS: O álbum foi mesmo pensado e tentámos arranjar uma maneira de fazer uma cena com qualidade e o mais profissional possível dentro das nossas capacidades, faltando só tratar dos últimos pormenores, lá para Setembro vamos metê-lo nas ruas e fazer promoção a nível nacional. Ruze: Eu tenho lançado sempre as minhas cenas mas pode-se dizer que este será o meu primeiro álbum a solo. LS: Quanto a mim, vejo-me mais como um DJ de battle, a minha cena é mesmo o scratch e enquanto DJ ando aí envolvido com M.A.C da Footmovin, com Horyginal da Margem Sul e ando a participar em algo mais funky – jazz. E um gajo vai sempre fazendo qualquer coisa para ir aprendendo. Ruze: Ahhhh!!! E o Bomberline também vai começar a fazer algo a solo. E SBT2 é assim, não pára. IVS: Agradecimentos? LS: Gostaríamos de agradecer ao nosso povo e movimento de Coimbra e todos aqueles que nos apoiam em geral e agradecer ao pessoal que aderiu ao concerto e puxou mesmo por nós. Obrigado a todos! Por: André Silva / Pedro Silva



Um apelo à Unidade!!! / “Unidade, alegria e positivismo é o mais importante”

A Unidade Black 31, mais conhecida por UB Squad, falou-nos um pouco da sua ideologia, dos seus projectos e do seu álbum de estreia, de nome UNIDADE. IV STREET: Antes de mais, quem são os UB Squad? UB SQUAD: UB Squad é um grupo de amigos de longa data, que passou aos poucos, através de experiências vividas, a ser como uma família, de certa forma, especial. Aqui encontras um angolano, um cabo-verdiano, um guineense, um moçambicano e um português a viverem em perfeita harmonia, retirando algumas pequenas discussões e desentendimentos, que são normais em qualquer família. Esta família torna-se ainda mais especial por fazer aquilo que todos nós mais gostamos… Música!

e que vão estar num projecto com alguns da elite do Hip Hop português? UB: Sentimo-nos super bem! Tanto que o Branco (membro da Kubiko) nos convidou depois para dar um concerto na festa de apresentação da label. Foi fantástico! Mas claro… Muito melhor que dar o concerto foi saber que tínhamos ganho a participação na colectânea, foi a primeira vez que ganhámos algo como banda… (risos)

IVS: A “Unidade Black” caracteriza-se sobretudo por uma ideologia. Como é que a definem? UB: Definimos esta ideologia como sendo o caminho a seguir para fazer passar a nossa mensagem, que é a unidade verdadeira entre povos. Acreditamos que tudo se pode compor e assumir como verdadeiro no seio de várias nacionalidades, culturas e estilos de vida, daí que o facto de sermos todos de naturalidades diferentes nos faça sentir que qualquer raça se pode dar bem com qualquer outra raça. E o mais importante a retirar disto é a paz. IVS: Como surgiu a oportunidade de terem na colectânea CONVENTOCLUB um tema vosso incluído? UB: A primeira vez que fomos tocar ao Convento eles curtiram o nosso som e convidaram-nos para pôr o som mais clubin que tínhamos tocado naquele dia, o “Sexy Katrefa Pam Lady”… Foi óptimo, até porque depois disso não voltámos a pagar para entrar no Convento… (risos) IVS: O ano passado vocês ganharam um concurso para a compilação RAPERTÓRIO, organizada pela Kubiko Records. Como se sentiram quando souberem que ganharam

IVS: Depois de participarem em vários projectos e terem dado diversos concertos por Portugal, regressam agora com o primeiro álbum de originais. Falem-nos um pouco sobre o álbum. UB: Simplesmente isto: Unidade! Mas se quiserem mais palavras sobre o álbum: É um disco feito na paz e pela paz, no respeito pelo respeito, na brincadeira e diversão para brincar e divertir, no pensar e no consciencializar para fazer pensar e consciencializar e na unidade

pela união! Encontram de tudo um pouco neste álbum mas sempre na base do positivismo, é assim que olhamos para a vida. Temos momentos em que só nos apetece desabafar, outros em que nos apetece somente beber uns copos com os amigos e dançar músicas fúteis para esquecer o dia-a-dia, e de resto temos em nós sentimentos que nos fazem unir e necessitar de união com outros povos, não interessando a cor da pele, o tipo de cheiro, o tamanho do bolso, o tipo de mente e tradições ou somente a forma de sentir ou viver. Para nós o mais importante é a forma como almas tão diversas se podem dar, respeitar e viver. IVS: Vocês no álbum definem este momento como o início de uma nova era Hip Hop em Portugal. Em poucas palavras, qual é que acham que é o caminho que o Hip Hop terá agora que percorrer? UB: O caminho a percorrer é pelo positivismo! Há muitas coisas más e negativas enquanto o Hip Hop em Portugal não tem uma indústria segura e firme. Devemos todos fazer o melhor pelas pessoas e principalmente por nós mesmos! Isso para a UB é o mais importante… POSITIVISMO! IVS: UNIDADE conta com uma particularidade que começa a ser pouco visível, a ausência de participações. Qual o porquê de não haver convidados no vosso primeiro álbum? UB: Boa pergunta! Resposta clara e directa: Quem conhece a UB Squad desde 2000 ou 2001 sabe que sempre fomos muitos, chegámos a ter 15 membros! Daí que não fazia sentido algum chamar mais pessoas para fazerem músicas connosco. Quando começámos a juntar músicas para o disco e a preparar o mesmo de forma mais séria, pela demora do processo e por vontade própria, alguns membros que faziam parte da primeira constituição da UB Squad saíram. A partir desse momento sentimos que até poderíamos convidar outras pessoas para o disco, mas à medida em que fomos tocando mais ao vivo e nos fomos dando mais como família decidimos que este álbum deveria ficar assim, só connosco. Isto não foi por nos sentimos melhores do que os outros que poderiam entrar no disco mas sim porque sentimos que deveríamos criar primeiro a nossa própria unidade para depois nos unirmos a outros músicos. Primeiro une a tua casa e só depois o teu bairro, a tua cidade, e por aí fora… IVS: Já há datas para concertos de apresentação da UNIDADE? UB: O disco sai dia 14 de Maio de 2007. Finalmente… (risos) Nesse mesmo dia 14 teremos uma pequena apresentação na Fnac do Colombo às 21:30. Vai

ser óptimo, apareçam! Haverá ainda mais datas a partir de Junho mas depois ouvirão falar de certeza… IVS: Para finalizar, querem deixar algum recado final? UB: Sejamos unidos! Não interessa a cor, o feitio e as crenças. Pretos, brancos, chineses, indianos, marcianos ou até jupterianos (risos), temos que nos unir sempre e deixar os beefs e as cenas parvas de lado. Unidade, alegria e positivismo é o mais importante! E claro, não poderíamos deixar de aproveitar para agradecer a algumas pessoas e entidades. Em primeiro lugar a Deus por tudo de bom que nos tem dado. De seguida aos ex-membros da UB Squad que em muito ajudaram a fazer crescer isto: Ralph, Uad, Pimpão, Yellow, Effe, Yuri, Frank Neto aka B.C, Zola-D, Geny e Kosta Nostra. Nunca nos iremos esquecer de onde viemos. Agradecemos a quem tem acreditado no nosso trabalho desde o princípio. Ao Bomberjack que fez a primeira crítica a uma música de UB Squad, na Hip Hop Nation, ao Keidje Lima pela amizade e visão (chegou a dizer ao Lyht que a nossa música é diferente do que a que ele segue mas que sente a alma disto), aos dj´s que têm passado o nosso som, ao Rui Miguel Abreu, à Fátima Mineiro, aos nossos familiares e amigos (verdadeiros) e a todos os que gostam da nossa música e dos nossos concertos. One Luv & Paz! Por: Daniela Ribeiro e João Coelho



Poeta de Rua Nunca devemos parar de sonhar

IV STREET: Quem se esconde por trás do Poeta de Rua? Poeta De Rua: O que está por detrás do Poeta de Rua é tudo aquilo que podem ouvir nas suas músicas… Não há nada escondido! Nas minhas músicas ouve-se o que poderás encontrar se me conheceres pessoalmente! IVS: No teu curriculum contas com participação na compilação HIPOCENTRO 1.0. Visto que foi a tua estreia em edições, como correu esta participação? PDR: Foi uma participação normal. Perguntaramme se eu queria participar e eu segui em frente com uma resposta positiva. Depois havia uma condição: as três músicas que fossem seleccionadas pelas entidades responsáveis da compilação teriam direito a um espaço no CD para apresentar um videoclip. Daí também estar disponível o meu videoclip da música em questão ("Crítica de Bloqueio") no CD da edição da HIPOCENTRO. IVS: Depois de participares em HIPOCENTRO 0.1, entraste na INVICTA RAP e agora surges com o teu álbum de estreia. Que andaste a fazer desde a INVICTA RAP? PDR: Olha, não só preparei, gravei, misturei, masterizei e editei o meu álbum, como tenho andado a preparar uma compilação, só com produções minhas. Tenho também entrado em compilações e em álbuns de outros músicos, tanto como produtor, como mc e como dj… Sempre a lutar para atingir aquilo que sonho..! IVS: No ano passado lançaste pela SoHipHop o teu álbum de originais. Contanos como foi o processo do ARQUIVO DA ALMA. PDR: Antes de mais, não o lancei pela SoHipHop, não sendo esta uma editora mas sim uma distribuidora… A SoHipHop apenas distribui o meu álbum. O processo do ARQUIVO DA ALMA foi muito intenso. Muito mesmo. Nunca tinha tido acesso

a ninguém para saber como actuar perante um microfone, uma MPC, um computador cheio de softwares de gravação e produção. Foi duro mas saudável. Não só por aí… Aos poucos, reflectia e via o que precisava… Nunca vi as coisas como impossíveis… Sempre possíveis, desde que o meu apetite esteja cerrado para a luta. Tive de trabalhar em várias coisas, como nas obras, para comprar material que via e sabia que me iria ajudar. Mesmo pensando que a sua aquisição fosse impossível, não parei! Nunca devemos parar de sonhar. Nunca! Sempre com toda a força do mundo! O ARQUIVO DA ALMA passou por várias fases. A própria qualidade de som varia de música para música. Algumas em que é mais perceptível do que outras, e no final, quando reparei, não mudei, mesmo com essa reflexão de que um dia vou sentir mais a minha evolução. Ouvimos músicas antigas, da altura dos 90, e sabemos logo que são daí pela

qualidade de som. Hoje ouvimos as mesmas bandas e sentimos a diferença. Eu quero sentila também. Não só nas rimas, nos instrumentais, mas também na própria qualidade de som. Quero revolução, sempre, revolução interior… Sempre, sempre com a motivação de sentir a minha evolução. IVS: A polémica começou quando participaste no HIPOCENTRO 1.0 e foi até ao teu álbum. Que tens a dizer para aqueles que dizem que és uma cópia do Fuse? PDR: Olá Sam the Kid's (risos)! Estou a brincar..! Não pá, não tenho nada a dizer a essas pessoas. Quem ouve as minhas rimas e as percebe, conhece-me. Esses sabem quem eu sou. E soute sincero, só ao responder a esta perguntaestou a dar muita importância ao caso (risos).

uma mensagem só. Lindo..! Este é o meu modelo de produção. Os samples não me podem dar já o trabalho feito, eu é que vou modelar os samples para aquilo que eu quero, sem faltar ao respeito ao autor da música que estou a samplar (risos). E a sensação é mesmo essa… Sinto que estou a dar um pouco mais de mim à música que eu estou a criar. Não quero com isto dizer que os produtores que não tocam instrumentos não o fazem… Cada um, mediante os conhecimentos que tem, devota-os naquilo que sente.

IVS: O que andas a fazer no teu Laboratório? PDR: Estou a trabalhar para conseguir espelhar mais aquilo que sou naquilo que faço… Em tudo! IVS: Recentemente, numa entrevista a uma rádio, ouvi a tua participação na compilação LADO OBSCURO VOL. 2. Como surgiu esta tua presença? PDR: Foi um convite que o Mundo me fez… A música chama-se "Veias do Caminho", produzida e finalizada por mim (masterização, mistura e gravação). IVS: Para além de Mc, és produtor. No ARQUIVO DA ALMA existe a particularidade dos instrumentos serem tocados por ti. Qual é a sensação de estares a tocar um instrumento que irás ouvir numa produção tua? PDR: Portanto, eu antes de ir ouvir samples, tenho de imaginar o que quero. Tipo, há muitos produtores que ouvem samples e os tomam como base… Começam a imaginar a música desde o momento em que escutam o sample. Podem ter um modelo de bateria até imaginado e tal, mas que acaba por se dissuadir consoante o sample. Eu não tenho esse “modelo” de produção… Eu imagino o que quero, mediante o que estou a sentir no momento, e toco-o no instrumento mais semelhante ao que estou a imaginar. Depois é que vou à procura do instrumento que sinto que está a faltar ali. Ou a voz! Ás vezes chego a estar dias à procura do sample, outras vezes nem um minuto. Lembrome que precisava de uma voz serena a debitar um poema, dentro daquilo que procurava, e fiz uma directa à procura dela com a TV ligada à espera de reunir as palavras que queria para completar o poema. E foi engraçado, porque não tive uma voz mas sim várias, unidas por

IVS: Para terminar, queres deixar algum recado ou agradecimento? PDR: Agradeço-te a ti pelas oportunidades que me tens feito despontar, agradeço a toda a gente que me mantém aceso. À minha cidade, Amarante, a todos os meus manos e família. Amarante, Espinho, Porto, Matosinhos, Gaia, Guimarães, Pombal, Lixa, Braga, Coimbra, Chaves, Lisboa, Leiria, Felgueiras, Marco, Amarante, Amarante e Amarante... A toda a minha gera que está dividida pelos quartéis deste país. A luta é de todos, todos estão para a luta com a espera deste resultado: concretização. O soldado és TU. Esta é a minha gente. Gente com atitude POSITIVA. Aguardem, pois muita coisa vai sair do Laboratório… Aguardem! Por: João Coelho Fotografias: Gentilmente cedidas por Poeta de Rua


IAM SAISON 5 Polydor

Brique’ ou ‘Nos Heures de Gloire’. Desta vez, de certeza que IAM está de volta e com qualidade! Para quem dizia que a idade dos veteranos marselheses já não faria milagres, essa expectativa foi-se por água abaixo, pois já na faixa dos quarenta, enquanto IAM são uns senhores, os teenagers ainda são paisagem.

U.B. Squad Unidade Black Vertical Records

maduro e, pelo menos até agora, é um dos álbuns do ano. Resta referir que alguns daqueles que contribuiram para a sua realização já não fazem parte do Squad, sendo que essas ausências se notarão certamente num trabalho futuro, principalmente as de Yuri, UAD, Effe e Yellow.

Por: Vince Rodrigues/ André Silva

IAM são provenientes de uma cidade conhecida por Mars, clara alusão á sua cidade natal, Marselha, um dos grandes centros urbanos franceses que desde de cedo se manifestou como uma das principais referências do Hip Hop francês. Os primeiros elementos começaram-se a juntar em 1985, sendo os primeiros e sob o nome de Live Crew seguido de B.BOy Stance, posteriormente em 1989 juntam-se os restantes elementos que compõem actualmente o grupo,Shurik’n, Freeman, Imhotep e Kephren. Muitos anos passaram desde então, e 2007 presenteou-nos com mais um registo destes veteranos Depois do álbum REVOIR UN PRINTEMPS (2003), que ficaria muito aquém do esperado, os ‘’padrinhos’’ do rap francês estão de regresso com o seu quinto álbum intitulado SAISON 5 nuns fantásticos 18 anos de existência! Editado no passado mês de Abril, composto por 17 faixas e com a maioria das músicas centradas de forma equivalente em Akhenaton e Shurik’n, produções ao cargo do classicismo de Kheops e das obsessões orientais de Imothep, podemos encontrar diversas referências no álbum, como por exemplo uma homenagem à cultura Hip Hop – elogiando figuras como Rakim ou J.Dilla em ‘Hip Hop Ville’ – uma magnífica citação da herança de James Brown em ‘Tu Le sais’ sobre um sample de Lyn Collins, um rap esquelético que paga o seu devido preço à cultura urbana, ‘Ça Vien de La Rue’, ou uma sátira à paisagem do rap francês, ‘Rap de Droite’, para além de outras faixas que também se destacam como ‘WW’, ‘Une Autre

Compilação Espíritos Livres Edição de Autor

Dia 25 de Abril de 2007, deve ter sido o dia em que saíram mais projectos num só dia. Acho que foram uns 5. Um deles era a compilação ESPÍRITOS LIVRES. É bom ver que uma compilação, entre 25 faixas, tem uma "Introdução", um "Desenvolvimento" e uma "Conclusão", a funcionarem como um microfone para se "libertar" o conceito de liberdade que cada um tinha. Uns mais engraçados que outros, mas todos tiveram a liberdade de o fazer como queriam. Esta é uma compilação muito homogénea, sem muitos picos altos mas também com poucos picos baixos, andando no razoável. Nerve é mesmo o homem do momento, a trazer um clássico com "Clássico". Não era possível ter outro ponto alto sem que tivesse "Diamantes", então Serial Skillers fizeram o favor. Kristo e Lágrima a ganharem "Inspiração" e a oferecerem-nos uma boa música, com uma boa musicalidade. O último ponto alto surge quando Splinter, Raze, Ró e Dj Dizzy entram com "Estilo Livre" em ESPÍRITOS LIVRES, com Splinter e Raze em destaque. Muito boa fluência de Splinter. Presk a estar de parabéns pelo design. Um boa iniciativa e viva a liberdade. Por:Olheiro

Por: Moisés Regalado

"O importante sempre foi e sempre será a unidade e o amor verdadeiro entre povos" - assim diz a "Intro" de UNIDADE. Esta é uma frase que exprime na perfeição toda a ideologia que os UB Squad transmitem neste seu álbum de estreia, onde o conteúdo vai sempre de encontro aos verdadeiros valores do Hip Hop (que todos defendem mas que poucos praticam), como a paz, o amor, a união e, não menos importante, a diversão. Nas dezoito faixas constituintes de UNIDADE também há espaço para crítica (não só social, como prova "Ser realmente mulher") e para vários temas bastante interventivos, mas, ao contrário do que vem sendo hábito no movimento, todas as visões expostas pela Unidade Black demonstram-se positivas e esperançosas face aos problemas - "Guardo as minhas lágrimas para chorar de felicidade". O ponto fraco deste disco encontra-se nas músicas "Quando não há solução" e "Estado do Mundo", que, apesar da mensagem importante que transmitem, se tornam monótonas, notando-se a ausência de toda a vida que caracteriza o restante trabalho, muito em parte devido aos beats usados. Aliás, é num estilo de produção mais club que os UB melhor se movimentam, sendo neste campo que se encontra a maioria dos momentos altos do álbum, indo os maiores destaques para "Extravagância" e, principalmente, "Komon", que, com a devida promoção, teria tudo para ser um hit dentro da comunidade Hip Hop. A grande excepção é "São desabafos", um tema calmo e que, graças a uma boa produção, ao grande nível apresentado pelos mc's e ao refrão de Yellow (um pilar importantíssimo na musicalidade de todo o álbum, bem como Lyth), se destaca imediatamente das restantes faixas. UNIDADE é o espelho de um grupo bastante

Muneshine

Walk in The Park Lamplight Arts

Muneshine, produtor oriundo de Toronto chega-nos agora com o seu mais recente trabalho WALK IN THE PARK, um álbum de instrumentais. Apoiando-se nas suas influências, que vão desde Native Tongues, Pete Rock, DJ Spinna, Jay Dee (R.I.P.), DJ Premier, D.I.T.C., Soul Assassins, Beatnuts, Pharcyde…, Muneshine fez uso do seu talento e apresentounos este delicioso álbum. Muito bem construído e com beats muito bem conseguidos e completos, WALK IN THE PARK é isso mesmo: um belo passeio, que nos leva a pensar e divagar um pouco. Nada monótono e aborrecido, este trabalho consegue ter passagens bastante boas sem estar propriamente a fixar cada faixa como um só beat, todo o álbum tem linha de transformação e não altos e baixos entre faixas, os beats mudando e transformando-se faixa após faixa e dentro de próprias faixas também. Possuindo toque de vários estilos musicais como soul, jazz e rock, o álbum não se prende só a um estilo, conseguindo convergi-los a todos para um só ponto. Um óptimo trabalho para escutar em qualquer lugar: música ambiente ou de viagem. Beats de alto nível fazendo lembrar esse grande génio


Pete Rock. Um dos melhores trabalhos de instrumentais de 2007 até ao momento. Por: P.Silva

Spell & GI Joe Duelo Mental Kimahera

Não é todos os dias que somos desafiados para um DUELO MENTAL. E certamente que não é todos os dias que ouvimos falar de separação entre religião e Igreja, colonização alienígena, organizações secretas com o controlo do mundo na mão, civilizações de segredos que ainda hoje influenciam a espiritualidade humana, e tantos outros temas subordinados a uma atmosfera algo abstracta, todos eles envolvidos numa espécie de poesia sombria que nos deixa indecisos entre o belo e o obscuro. É disto que se trata DUELO MENTAL – um desafio aos ouvintes a descodificar a realidade que está para além das nossas vidas quotidianas. Fazendo a ponte entre o Spell das mixtapes e o de DUELO MENTAL, podemos notar mudanças significativas. Spell apresenta agora um flow mais regular e consistente mas menos característico; rimas mais completas e trabalhadas mas menos abstractas em termos de forma; uma temática mais variada e abrangente mas menos agressiva e com menos formato de punchline. A nível de instrumentais, também isto se verifica: o álbum é muito (talvez demasiado) homogéneo, o que lhe dá um certo feeling de continuidade e coerência mas parece desafiar pouco Spell a sair da sua zona de conforto habitual. Sem deixar de sublinhar que se trata de uma opinião pessoal, persiste a interrogação: não seria perfeito para Spell um estilo de instrumental mais pesado, entre o apocalíptico, o majestoso e o hardcore, algo na linha de “O Bem Vence Sempre” mas

mais intenso e imponente? Embora não esteja dentro do seu estilo mais recente, em termos de sonoridade seria muito interessante. A sensação que fica é que por trás de DUELO MENTAL está um excelente, mas pouco diversificado GI Joe e um poderoso, mas acanhado Spell. Se há alguma crítica a fazer, é que ambos deveriam arriscar mais, levar cada um dos seus estilos (de rima e de produção) mais além. Mas o que o álbum pode estar a perder na forma, ganha aos pontos em conteúdo. O DUELO MENTAL é um álbum cheio de pontos altos para quem gosta de Hip Hop não formatado. “Cirurgia Musical”, com a participação de Reflect – das mais interessantes do álbum – e “Pseudónimo” são um exemplo de Spell no seu melhor, tanto a nível de flow como de rimas. Já “Magia Branca” conta com um novo refrão de Dino, que parece fazer magia em todas as músicas por onde passa e de referir “A Lei do Karma” pelo instrumental e pela letra absolutamente fantástica para quem percebe de que está Spell a falar. E para quem não sabe... Planta-se como um pequeno vírus da vontade de saber. Encontra-se nesta faixa o encontro perfeito do estilo de produção de GI Joe e do estilo de rima de Spell. “Fim do Mundo”, com a participação de Filipa Branco, é um fim fantástico para o álbum pois, a par com “Seja Feita a Sua Vontade”, tanto Spell como GI Joe têm a mais fascinante prestação de toda viagem musical que é DUELO MENTAL, no que diz respeito ao estilo místico e misterioso por onde ambos se estendem num total de 16 faixas mais uma faixa bónus. Por:Joana Nicolau

José Cid – A Anita Não é Bonita / O Meu Nome é Ninguém (Single) Não há melhor maneira de começar esta rubrica do que com o mestre dos mestres: José Cid. Trago-vos esta pérola não tanto pela música título mas pelo excelentíssimo LadoB. “O Meu Nome é Ninguém”, título que desafia a realidade. Uma ode à humildade, um som que nos transporta numa viagem pelo anonimato e nos traz de volta com vontade de repetir. Uma base instrumental triste que traz no seu piano lânguido uma realidade dura, tão tenra quanto violenta. Com letras da esposa (uma das…) Maria Manuel Cid e música do próprio, este é mais uma das aquisições cruciais da discografia do Sr. Cid. Como diria o grande Funkulino, de “Rapinanço Obrigatório”!

Victor Espadinha – Recordar é Viver / Vida de Artista (Single) E para não fugir à regra, trago-vos provavelmente o clássico dos clássicos. Já samplado pelos Mind da Gap, no também clássico “Sou Como Um Dom”, embora dessa vez sem direito a recurso em tribunal. “Recordar é Viver” é daquelas faixas maiores do imaginário tuga. Provavelmente, uma das músicas mais bonitas de sempre, não é por acaso que continua ainda hoje a fazer parte de tudo o que é compilações de música Portuguesa, novelas, genéricos e separadores por este país fora. Não há programa nenhum de discos pedidos sem este som, a música que provavelmente ajudou um grande número de nós a ser concebido. Só tu e eu… No LadoB temos “Vida de Artista” que tanto diz dos sonhos de vir a ser um verdadeiro artista… Grande som para ser apreciado por todos nós, ávidos sonhadores pacientemente a espera de vingar neste biz-nes… Ouve-se “Esta dor de ser artista, num país onde a arte é fome…”. Impagável! Há também de salientar o facto de ambas as músicas terem sido escritas por Tozé Brito, hoje patrono da editora Universal, o ghostwriter de serviço que escrevia maior parte do reportório do Sr. Espadinha. Contem com o Sr. Brito em futuras edições desta rubrica.


Vá para

fora

Convidado: IV Street: Em que lugar é que podemos encontrar Hip Hop em Tomar? Onde é que o pessoal se costuma juntar? Raze: Tomar em termos de espaços físicos está muito reservado às "musiquinhas" da moda, mas tens alguns bares alternativos dos quais eu destaco o Paraíso, não que passe Hip Hop mas sempre passa música mais alternativa e mais perto disso. Mas felizmente aqui perto tens espaços onde podes ouvir boa música. Dou-te o exemplo do Lareira Bar no Entroncamento e do Trampolim em Torres Novas, sítios que passei a frequentar porque são abertos a nível musical e costumam ter concertos interessantes. Mas podes encontrar Hip Hop em algumas paredes, alguns comboios e sempre que haja algum concerto, é claro.

Florência – Florência (LP) Esta é uma das grandes descobertas que tenho feito na minha caminhada pelas raridades tugas; à procura da perfeita repetição… Um excelente disco, com grandiosas orquestrações, grandes sonoros e uma voz singular a acompanhar. Começa com uma versão dum clássico de Francisco José, “Guitarra Toca Baixinho”, que segue a linha do original, embora com uma boa batida a acompanhar. Segue para “Passeio”, extremamente samplável com uma entrada bem melodramática. “Gota de Lua”, uma viagem acelerada e bem compassada... Segue-se “Senhora Mãe”, onde nada há de muito samplável, o que é uma raridade neste disco. Ainda no LadoA temos “Embarquei Mar Em Meus Olhos” e “Vila Sem Nome”, dois óptimos exemplos de faixas que gritam por reciclagem. Do LadoB, começamos com “O Rapaz da Camisola Verde” bem mexida e alegre. Seguem-se “Poema do Meu Anseio”, com forte potencial de aproveitamento, nomeadamente ao nível da secção de sopro, muito forte e genuíno. Há ainda “João do Mar”, outra pérola perdida, com forte ritmo e presença no instrumental, com um baixo pulsante e uma batida saltitante. Para finalizar há ainda “Canção Por Ti” e mais uma versão desta vez é “Pedra Filosofal” de Manuel Freire. Versão extensa, numa toada mais lenta e com mais espaço para respirar. E assim se fazem discos clássicos em Portugal…

Paulo de Carvalho – E Depois Do Adeus / E Depois Do Adeus (Orquestral) (Single) Deixo-vos para o final desta trilogia de singles um dos outros nomes incontornáveis da cena vintage tuga. Paulo de Carvalho, artista, fadista, trovador e compositor tão presente em tudo o que temos como standard… Vencedor do Festival da Canção de 74, é um dos melhores temas da sua discografia. Com música de José Calvário e letra de José Niza, este mega-êxito facilmente reconhecível traz consigo no LadoB uma “versão por orquestra e coros” com várias passagens altamente sampláveis, com destaque para os coros e uns trechos de piano que pedem a eterna repetição. Em suma, a ponta do icebergue duma grande viagem pela música desta enorme voz.

…Pelos caminhos de Portugal, eu vi tanta coisa linda, vi um mundo sem igual…

Por: Kooltuga

IVS: Quem são os intervenientes activos no Hip Hop, nas suas quatro vertentes, neste momento, em Tomar? R: No Graffiti tenho que falar obrigatoriamente no Sen3, que é dos writers mais antigos e com mais qualidade. Breakdance, houve uma altura que estava a começar a aparecer qualquer coisa mas acho que ficou por ali. Dj’s, está aí pessoal novo a começar, tenho inclusive dois amigos que estão a iniciar-se e tenho-lhes dado na cabeça para não pararem de treinar. No Beatbox tens pessoal com talento, destaco o S’Black e o Rui. No Mc'ing não tenho tido grande conhecimento do que se tem estado a passar mas tenho escutado boas coisas do Kosta e do Ró.

cá dentro

Raze

IVS: Que paredes ainda estão por pintar? R: O Graffiti por cá tem qualidade mas tem pouca quantidade. Ainda assim vão aparecendo uns muros legalizados e ainda consegues ver cá uns bons fames. O Himage (Leg Crew), quando esteve a estudar cá na cidade, elevou a fasquia, o que levou os writers a trabalhar mais, e penso que foi muito positivo. Hoje em dia o graffiti já não passa despercebido na cidade e qualquer pessoa que passe por cá vê claramente que a cultura está presente. IVS: Como vês o panorama a nível de Hip Hop em Tomar? Está melhor, pior que há uns tempos atrás? Tem futuro? R: Eu diria que está na mesma mas começam a aparecer Dj’s, o que é muito importante. Não sei se tem futuro porque o movimento aqui aparece um bocado por modas, aparecem e desaparecem mc’s, dj’s etc. Mas isso é natural, é uma cidade pequena, mas espero que esta nova geração seja mais persistente. IVS: As tuas Bootleg´s e compilações já proporcionaram algum reconhecimento por parte de Tomar? R: Sim, bastante, e também muito ao nível de outras bandas e músicos, mesmo de outros estilos, o que para mim é muito importante. Quando dei entrada n' Os Snakes tive contacto com projectos que não conhecia, dos quais destaco os U-Clic, Xoices e Zukunft. Por: Olheiro


BlackStar BlackStar 1998

Gift of gab

4th Dimensional Rocketships going up 2004

Falsalarma Alquimia 2005

Group Home Livin Proof 1995

Gift of Gab, mc californiano que integra os Blackalicious junto de Chief Xcel, e ainda membro da Quannum Projects do qual saltam a vista nomes como Dj Shadow, Lateef, Lyrics Born e o já referido Chief Xcel. Este foi o seu primeiro registo a solo, e que marcou indubitavelmente o ano 2004, tanto pela qualidade demonstrada como pela sua versatilidade e enormes skill no mic, algo que já vínhamos habituados dos tempos de Blackalicious. A produção foi da responsabilidade de Vitamin D e Jake One, e GAb serviu-se do bom gosto destes para criar uns dos melhores álbuns do ano e marcar presença no top dos melhores MC’s da west Coast ou mesmo americanos. Faixas como ‘The way of the light’, ‘In a minute doe’ e ‘Evolution’ são de altíssima rotação.

Grupo de um bairro de Barcelona, constituído por Dj Neas, o produtor Dycache Santiago e ainda os mc’s e irmãos Tito e El Santo. Álbum que faz justiça ao seu nome porque parece que os protagonistas conseguiram transformar este álbum em ouro, pois a sonoridade, as rimas e o flow assassino destes dois ‘manos’ parecem s e m p r e o s a d e q u a d o s a o m o m e n t o. Uma referência para quem quiser começar a seguir mais de perto o que se faz pelas terras de ‘nuestros hermanos’.

Por detrás de grandes senhores do HipHop existem, inevitavelmente, os afiliados. Dre temnos, os Wu-Tang também e Premier e GURU tinham a Gangstarr Foundation, onde apareciam nomes como Afu-Ra, Jeru the Damaja e os Group Home, formado por Lil’Dap e Melachi the Nutcracker. Tendo uma postura bem semelhante à que os Mobb Deep nos habituaram em tempos, com aquele street rap duro e puro, e tendo ainda vantagem de contar com um enorme vulto por detrás da produção do álbum, DJ Premier, é pena o grupo não ter perdurado na ribalta como outros. Sons como ‘Supastar’ e ‘Livin proof’ são autênticos clássicos.

IAM

L’ecole du micro d’argent 1998

Blackstar são constituídos por dois dos mc’s mais carismáticos do HipHop norte – americano, Mos Def e Talib Kweli, que editaram o álbum do mesmo nome pela conhecida Rawkus Records, editora que ficou notabilizada pelas frequentes edições de qualidade. A carreira de ambos os mc’s ficou eternamente marcada por esta parceria que desde então nunca mais se viria a repetir, embora rumores digam que algo se avizinha. Produções por Hi-Tek, J –Rawls, 88Key entre outros e ainda as rimas precisas e conscientes de dois excelentes mc’s. Apesar de em 98, após mortes de Tupac e B.I.G, o HipHop ter entrado em transformação para aquilo que temos hoje, os BlackStar apresentaram um outro caminho possível de se seguir, pena as tendências não o terem escolhido.

Veteraníssimos do HipHop francês, pois não andam nisto nem à 10 ou 15 anos mas sim muito próximos da casa dos 20, Aknethon, Khéops, Shurik’n, Freeman e Imhotep são os responsáveis por um nome que ficará para historia não só do HipHop francês como do mundial, pois com este álbum conseguiram atingir a fama internacional e dentro de portas conseguiram alcançar a fantástica marca de disco de diamante graças a um álbum consistente e muito bem conseguido, e como referi algo que já lhes garantiu um lugar na história apesar de continuarem, e bem, em actividade. Por: André Silva

Não vais a lado nenhum sem levar a câmara de filmar? Não passas mais de um pores mais um vídeo no mês sem Já nem precisas de fa You Tube? cada vez que lá vais? zer Login Chega-te à frente! A IV STREET está à tua procura! Para mais informaçõe www.IVStreet.coms, vai a: no fórum por YOUTU e procura BE PROJECT.


Por: Ivo Alves

BLUE SCHOLARS

STRANGE FRUIT PROJECT “Groove, Ethic and Style”

“Boom Bap´s Extraordinaire”

Governo Sombra “Apesar do aparente silêncio, a gera manteve-se sempre a fazer qualquer coisa ligada à música”

Directamente do berço do Grunge (Seatle), chega esta dupla que vive, respira e alimentase de Hip Hop, os Blue Scholars. Constituído pelos elementos Geologic e Sabzi, este colectivo formou-se em 2002, tributando a fórmula de sucesso verificada em tantas outras duplas da história do Hip Hop (Guru & Premier Gangstarr; Eric B & Rakim) ou seja, um Dj e um mc, neste particular DJ Sabzi e o mc Geologic. Partilhando palcos com artistas de gabarito internacional no panorama Hip Hop, como é o caso dos De La Soul, Kanye West, Immortal Technique, Mos Def e Little Brother, os Blue Scholars apresentam como prato forte da sua sonoridade uma mistura de um Boom Bap Rap fresco e inovador, com uns toques nostálgicos de old school, e finalizando com um liricismo positivo e de sensibilização social. Na sua discografia, contam com o álbum homónimo de estreia, BLUE SCHOLARS, em 2004, posteriormente o EP THE LONG MARCH em 2005, e mais recentemente preparam-se para lançar a 12 de Junho deste ano o novo álbum BAYANI pela Rawkus Records.

O Trio texano Strange Fruit Project é a próxima sugestão desta edição do Heads UP. Formado pelos elementos Symbolyc One (mc/produtor) Mythological (mc) e Myone (mc), o grupo conta ainda com a participação do seu DJ oficial, o DJ Whiz T. Os SFP começaram a sua carreira de forma bastante lowprofile, editando os projectos SOUL TRAVELIN e FROM DIVINE no ano de 2004, ambos pela Split Milk Records. Embora esses dois primeiros lançamentos não tenham criado o buzz esperado em redor das qualidades reconhecidas no colectivo, foi só no ano de 2006 que os Strange Fruit Project deram o grande salto para fora do anonimato, com o lançamento pela OM Records de um dos melhores álbuns de 2006 do underground norte-americano, o disco THE HEALING. O Grande hype em torno de THE HEALING foi inteiramente justificado, num trabalho bastante mais maduro e musicalmente apurado que os anteriores registos, e contando para tal com significativas colaborações, tanto ao nível da produção, com Illmind, Jake One e 9th Wonder, mas principalmente ao nível das participações no mic, com Erykah Badu, Little Brother, e Darien Brockington. Sabe-se que os Strange Fruit Project encontram-se a preparar um novo projecto intitulado THE LOST DOCUMENTS VOL.1, um trabalho que irá reunir várias faixas de lançamentos anteriores que ficaram por ser editados e ainda 10 novos temas acabados de sair do estúdio. O disco irá contar com participações de Black Milk, Illmind, The Are, Chip Fu, Bavu, Verbal Seed, entre outros. Razões mais que suficientes para ficarem atentos a este colectivo. Comam fruta, comam muita fruta!

http://www.myspace.com/ bluescholars

http://www.myspace.com/ strangefruitproject

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Elementos do Triângulo Dourado, Chupa Loops e Sound Killaz unem-se para formar um Governo Sombra e lançar um projecto POLITICAMENTE INCORRECTO. IVS: Quais são os objectivos e a política que o regem? Gov: Os objectivos são diminuir o desemprego, alargar o sistema de saúde e de ensino, diminuir a inflação e aumentar o poder de compra dos mais desfavorecidos… COM MÚSICA DE QUALIDADE. IVS: Como se deu a constituição deste Governo? E quem são os seus ministros? Gov: O Governo Sombra começou a exercer funções em Maio de 2006 com Kron, o Poeta Morto como Ministro da Administração Interna e dos Negócios Estrangeiros; Dom Rubirosa como Ministro da Economia e Educação; Mohad Sabre Reluzente como Ministro dos Transportes e Habitação e LTerrible como Ministro da J u v e n t u d e e C u l t u r a . Mais tarde foi eleito o DJ Yur como Ministro das Finanças porque havia cortes para fazer. IVS: O Governo faz a ligação entre o Hip Hop da zona de Aveiro e da zona do Porto. Quais são os proveitos que se podem tirar desta ligação? Gov: Portugal é pequeno demais para criar fronteiras dentro da fronteira territorial. O Governo Sombra representa o povo que o elege, donde quer que ele seja!

IV Street: O que é o Governo Sombra? Governo Sombra: “Governo Sombra: não se trata de um governo, mas de um conjunto de políticos da oposição que seguem a actividade governamental, cada um acompanhando uma pasta ministerial”; Governo Sombra é o lado português do Shadow Kabinet (uma crew criada em Londres pelo Kron, Sound Killaz e a gera que estava em Portugal a representar TD);“Governo Sombra é o único governo viável”.

IVS: Este projecto marca o regresso do Triângulo Dourado. Qual o motivo para o silêncio dos últimos anos? Gov: O TD é a escola; é uma boa parte da vida musical de quase todos nós e é uma maneira de perpetuar a memória do Imune aka Zé Mini aka Ninja, que faleceu em 14/4/2004. Apesar do aparente silêncio, a gera manteve-se sempre a fazer qualquer coisa ligada à música:o Kron a trabalhar com os Sound Killaz em Londres, o Mohad e o Dom Rubi criaram o colectivo Chupa Loops, o LT deu vários50


concertos e participou em algumas mixtapes e o DJ foi sempre metendo música em bares e discotecas. Acontece que os astros alinharam-se de novo e a gera reagrupou-se com uma nova mentalidade mas sempre com a mesma atitude de TD. IVS: POLITICAMENTE INCORRECTOS é o nome da primeira de várias mixtapes a serem editadas pelo Governo Sombra. Falem-nos um pouco do conceito desta mixtape. Gov: Esta mixtape serve como cartaz de campanha das bandas que compõe a editora nesta fase, contando com uma ou outra participação fora do círculo mais chegado. Neste primeiro volume a escolha dos projectos foi natural, porque todas as faixas são de projectos aos quais estamos directamente ligados, embora haja contactos estabelecidos recentemente como foi o caso de MindHeart e Kooltuga. IVS: Onde é que podemos encontrar a mixtape à venda? Gov: Em www.governosombra.com, nos eventos Gov Som, nas nossas street teams e em breve

nos circuitos habituais e lojas da especialidade. IVS: Depois da apresentação oficial de POLITICAMENTE INCORRECTOS, no Café das Artes, no Porto, já há datas para mais concertos? Gov: Sim, o DJ Yur vai estar no "Aveiro Underground Move Sound", no complexo das piscinas do Carocho, Qta. do Picado, dia 9 Junho, e Governo Sombra vai estar em formato reduzido no Centro Histórico de Guimarães dia 26 de Junho com Mohad, Dom Rubirosa e DJ Yur. Em relação a mais festas Gov Som ainda estão no segredo dos Deuses… IVS: Para quando o lançamento de mais uma mixtape do Governo? Gov: A próxima mixtape sairá quando houver novo trabalho para mostrar dentro do conceito de mixtape. Em principio as próximas edições da Gov Som terão mais a ver com o álbum de Governo Sombra e outros projectos já presentes no vol. 1. IVS: Mensagem final… Gov: “Dá-lhe Brita Infinita”

Por: Daniela Ribeiro

Antes de mais, queremos pedir desculpa aos nossos fiéis leitores. Uma espera de 2 meses é bastante cruel, mas lembrem-se que é por isso que gostam de nós. A verdade é que chegámos a um ponto em que entrámos em conflito com a nossa consciência e tivémos de encarar uma inegável realidade: tornámo-nos bons demais para blogs. Isto é, a não ser que nos gostassem de ver ao nível do Musi(Q)ualidade. Ou pior, do Consciência Clandestina. Mas agora estamos de volta numa conceituada revista, a quem agradecemos a oportunidade e esperamos que continue a manter nível suficiente para receber os nossos textos. Obrigado novamente.

Sabes que o Hip Hop está a crescer quando... 1 - Dia 25 de Abril jovens de extrema esquerda vandalizam e andam à porrada com a bófia no Chiado, o telejornal dedica uma notícia de 30 segundos à data, MAS! Nem tudo está perdido! Sairam 3 compilações Hip Hop de espírito revolucionário! 2 - Não importa que 70% da música que passa na MTV seja rap, que as paredes das nossas cidades estejam cheias de graffiti, que os betos se vistam de calças largas e boné para o lado; a comunicação social AINDA diz que "A música de intervenção, agora, é o hip-hop" (1). 3 - Apesar de a música de intervenção, agora, ser o Hip Hop, parece que mesmo assim ninguém percebe muito bem o que isso é. Os B-boys que andaram séculos a treinar para a Eurobattle, esqueçam, afinal é uma "competição de danças Hip Hop" (2). 4 - Embora o Chullage tenha sido o primeiro mc a lançar um álbum a apelar à consciência social, só temos um mc interventivo - o Valete. Não, espera, afinal é Mão Morta. Não, espera-5 - Existe pelo menos uma pessoa que compra TODOS os álbuns de Hip Hop que saem para ir a correr ripá-los e espalhá-los pela net. Mas primeiro tira-lhes uma foto.

8 - Uma revista de natureza selvagem publica um artigo sobre Hip Hop(!) (3). 9 - ... o que explica que o flyer do Duelo Verbal tenha um macaco como ilustração. 10 - A referida battle desenrola-se normalmente: começa bem, surgem uns desentendimentos pelo meio, trocam-se quantidades industriais de insultos e no fim juntam-se todos para se queixarem da censura e das grandes injustiças cometidas. Qualquer semelhança com o fórum da Horizontal é pura coincidência. 11 - Uma organizadora de eventos dá-se ao trabalho de promover um concurso que dura meses para poder atribuir o fantástico prémio no valor de uma viagem Lisboa - Coimbra. O Próximo Nível em 2009 é comprar uma tela de 50 metros, alugar um enorme armazém, promover um concurso de graffiti e oferecer aos vencedores uma caixa de aguarelas. 12 - ... a presença de Sam The Kid está confirmada para a noite da final. Os artistas que vão actuar deverão apresentar-se para fazer o soundcheck já para a semana. Haterama (1) JN 25/4/2007 (2) TSF 26/4/2007 (3) National Geographic

6 - Pessoas de pijama fazem capa de uma revista online. Ao menos são pijamas mais bonitos que os do Fire K. 7 - Não há religião que supere o Hip Hop.Ou isso ou "Força Suprema" é o novo nome da Igreja Maná.

51

Ressalva A secção a cargo do(s) Haterama é apenas um espaço de humor e todas as afirmações nele contidas deverão assim ser entendidas. A IV STREET não se responsabiliza por nenhuma opinião aqui expressa, certificando-se apenas que não é de cariz insultuoso. Esta colaboração pressupõe o anonimato dos autores e, como tal, a IV STREET não conhece as suas identidades. 52


d b o B

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o x e l p m o C

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Colaboração especial de Karina Alves - dedonogatilho.blogspot.com

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Dj Leat - Intro

Retirado da mixtape "Má Impressão"

Apathy - Hip Hop is Dead

Retirado do álbum "Baptism by Fire"

Splinter e Kamy - 30 de Fevereiro (produzido por Raze) Onyx c/ 50 Cent, Bonifucco e X-1 - React Retirado do álbum "Shut 'Em Down"

S.U.N. - Shout Out S.U.N. e Dj Sweat - Amor à pátria?

Retirado da mixtape "Consumo Obrigatório"

Aesop Rock - None Shall Pass

Retirado da compilação "Definitive Swim"

UB Squad - Komon

Retirado do álbum "Unidade"

Loptimist c/ Side-B - Keep on Rockin Retirado do álbum "22 Chanels"

Skill e Auge - Sou Blue Scholars - Talk Story

Retirado do EP "The Long March"

Fizz - Caderno Diário

Retirado do álbum "Caderno Diário"

Group Home - Livin Proof

Retirado do álbum "Livin Proof"

Bad News - Shout Out BeeFree - Improviso Exclusivo IV Street

Strange Fruit Project - You (The only ones) Retirado do álbum "The Healing"

Mundo Complexo c/ NBC - Irmão Retirado do álbum "Estamos Juntos"

Zion I - Birds Eye View

Retirado do álbum "True and Livin" http://ivstreet.com/download/Mixtape_IVSTREET_Maio.mp3 59


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