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Impacto das culturas

Impacto das culturas

Tal como já se mencionou na primeira parte deste relatório, o uso intensivo de fertilizantes na agricultura intensiva levou a que tenhamos ultrapassado o limite planetário relativo aos ciclos biogeoquímicos, com consequências na poluição de rios e oceanos, na perda de biodiversidade, na desertificação e, naturalmente, na nossa saúde, através da cadeia alimentar.

Na Ibero-América, as emissões resultantes da agricultura e do uso do solo são muito superiores às da média mundial. Enquanto que a agricultura representa 11% de todas as emissões de gases com efeito de estufa do mundo, na IberoAmérica esse valor alcança os 27%. Em termos absolutos, o principal emissor é o Brasil, que quadruplica o valor da Argentina, seguindo-se o México e a Colômbia. Em termos relativos, são especialmente importantes os valores do Uruguai e Paraguai, onde embora as emissões agrícolas não sejam comparativamente tão altas, representam cerca de 70% das emissões nacionais, o que revela a importância do setor agrícola para estes países (La Rábida, 2018).

Fundamentalmente, isto deve-se à presença de monoculturas na região, tais como a soja. A produção de soja na IberoAmérica concentra-se basicamente na Argentina e no Brasil, que produzem quase 92% do total da Ibero-América e cerca de 51% do total mundial. Destaca-se a vasta adoção de variedades geneticamente modificadas na região, ultrapassando 80% do total da superfície de soja cultivada e chegando a representar 100% no caso da Argentina. A maior parte da soja destina-se à exportação, principalmente para a China (Riesgo, 2021).

A pegada hídrica média na Ibero-América, resultante da produção de soja para exportar, manteve-se relativamente estável ao longo do tempo, em torno dos 1.900 m3 por tonelada de soja exportada. Se observarmos a evolução da superfície desta cultura, podemos ver o aumento de hectares a partir do final dos anos 90, coincidindo com a adoção de variedades geneticamente modificadas e o aumento dos preços no mercado.

Evolução da superfície de soja na Ibero-América nos principais países produtores (1990-2019)

Milhões de hectares

35

30

25

20

15

10

5

0

1990 1992 1994

Argentina

Fonte: Riesgo, 2021.

1996 1998 2000

Bolivia

2002 2004

Brasil

2006 2008 2010

Paraguai

2012 2014 2016

Uruguai

2018

A Ibero-América é um dos grandes fornecedor de três das principais commodities agrárias (soja, trigo e café), especialmente de produtos em grão sem processar. Os fluxos comerciais mostram que os importadores adquirem as matériasprimas nos países ibero-americanos para posteriormente as transformarem nos seus territórios (Riesgo, 2021).

Muitas análises comparam as vantagens económicas da produção destas culturas com as vantagens económicas e ambientais que se podem obter sempre que se usem apropriadamente os serviços ecossistémicos que oferecem, diminuindo também as externalidades. A transição da produção alimentar para um crescimento de modelos que aproveitem todo o potencial que existe na Ibero-América, pode trazer vantagens em termos de emprego, desenvolvimento rural, sustentabilidade e saúde, para além de vantagens económicas.

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