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2. A IGREJA APOSTÓLICA

HISTÓRIA DA IGREJA

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A IGREJA APOSTÓLICA (30 d.C. – 90 d.C.)

A Igreja do primeiro século era formada por um pequeno grupo de cristãos, primeiramente reunidos em Jerusalém, posteriormente espalhados por diferentes regiões do vasto império romano, seguidores diretos de Jesus, sendo eles: “Simão, chamado Pedro, e André, seu irmão; Tiago, filho de Zebedeu, e João, seu irmão; Filipe e Bartolomeu; Tomé e Mateus, o publicano; Tiago, filho de Alfeu, e Lebeu, apelidado Tadeu; Simão, o Zelote, e Judas Iscariotes” (Mateus 10.2-4). Com a pregação dos apóstolos a Igreja foi se multiplicando, entretanto sua grande maioria eram pessoas humildes, sendo alguns escravos, embora houvesse cristãos da classe mais alta, especialmente na Igreja de Roma. 5

O período apostólico abrange o espaço de tempo desde o dia de Pentecostes até a morte do último apóstolo, João, por volta de 90 d.C. Isto significa cerca de 60 anos em que a Igreja se desenvolveu, tendo a supervisão direta ou indireta de algum apóstolo. De acordo com alguns historiadores podemos seguir os passos dos primeiros apóstolos, vejamos:

2.1 PEDRO

Visto que o apóstolo Paulo faz referência a Pedro em (1 Coríntios 1.12; 3.22), havendo inclusive um partido que se identificava com ele, não se pode negar seu trabalho nesta cidade e provavelmente um trabalho demorado. Pode-se presumir ainda de 1 Coríntios 9.5 que ele esteve ali com a sua família. O historiador Eusébio de Cesaréia, em sua obra História Eclesiástica confirma essa informação. 6

5. NICHOLS, Robert Hastings. História da Igreja Cristã. São Paulo. Editora Cultura Cristã, 2000, p. 32. 6. CESARÉIA, Eusébio. História Eclesiástica. São Paulo: Editora Novo Século, 2002, Livro II, capítulo XXVII.

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Este mesmo historiador fala do ministério de Pedro em Antioquia da Síria, cidade de extrema importância da História do Cristianismo. Nela houve grandes nomes da Igreja, dentre eles Inácio, apontado como sucessor de Pedro naquela cidade.

Há controvérsias sobre um trabalho de Pedro na região da Mesopotâmia, baseado na citação de 1 Pedro 5.13. Alguns crêem que seja uma referência literal, outros que se trata de uma referência simbólica à cidade de Roma. De qualquer forma permanece a possibilidade.

Todavia há outro campo missionário onde as evidências do trabalho de Pedro parecem ser plenamente reconhecidas – a região da Gran Bretanha (ou Inglaterra). Sabemos que o Império Romano havia conquistado pelo menos metade da Ilha. Muitos são os pesquisadores que reconhecem um ministério efetivo do apóstolo nesta região.

Por fim, há grande evidência histórica de que ele teria morrido em Roma, por ordem do Imperador Nero. Nero teria colocado fogo na cidade para ter a glória de reconstruí-la a seguir. Jogou a culpa do incêndio sobre os cristãos, iniciando um cruel período de perseguição que levou muitos ao martírio. Por esta ocasião teria mandado matar Pedro no ano 67 d.C. e Paulo no ano de 68 d.C. Devido à cidadania romana, Paulo foi decapitado enquanto Pedro foi crucificado. Conta-se que pediu para ser crucificado de cabeça para baixo, pois não se julgava digno de morrer como seu Senhor.

2.2 JOÃO

João foi o último dos apóstolos a morrer e o único que morreu de morte natural. Há ampla literatura sobre ele posterior ao período apostólico. A mais forte informação sobre o seu trabalho foi que ele teria habitado em Éfeso. Embora existam contestações à informação de que ele teria habitado ali com Maria mãe de Jesus, a presença de João ali não é questionada.

Parece bastante evidente até mesmo pelo material bíblico que ele ali tenha ha-

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bitado. Como vemos em Atos 19. 1-4, Paulo encontrou ali discípulos de João Batista, o que mostra uma forte influência deste na região. Quando João escreveu seu Evangelho ele enfatiza bastante a distinção entre João e o Messias, de uma forma mais incisiva do que a feita pelos demais Evangelhos. Isto demonstra a necessidade de esclarecer o assunto perante os seguidores de João Batista que talvez o tivessem como o Messias.

Parece bastante plausível seu trabalho em toda aquela região. No ano de 81 d.C. o apóstolo teria sido exilado na Ilha de Patmos pelo imperador Domiciano. A intenção era que ele morresse, uma vez que a ilha era infestada de serpentes venenosas. Mas ele não pereceu e ainda retornou a Éfeso para escrever seu Evangelho e o Apocalipse.

Ainda segundo a tradição ele teria morrido de morte natural e sido sepultado na própria cidade de Éfeso com mais de 90 anos.

2.3 BARTOLOMEU

Há duas tradições referentes ao trabalho missionário de Bartolomeu. Uma diz que ele teria feito seu trabalho na Ásia Menor, enquanto que outra afirma que ele também foi para a região do Oriente, mais precisamente para a Índia. Panteno, um missionário enviado para aquela região em certa ocasião, descobriu que Bartolomeu já havia estado lá e deixado um Evangelho, conforme Mateus, escrito em hebraico. Também os armênios possuem uma tradição da presença de Bartolomeu em suas terras. Segundo algumas tradições ele teria sido crucificado por um rei armênio que depois mandou decapitá-lo.

2.4 MATEUS

Este discípulo que nos deixou uma brilhante narrativa da vida de Cristo foi missionário nas regiões do Egito e da Etiópia. Embora uma minoria afirme que ele morreu de velhice, a maior parte da tradição o coloca perecendo ferido por lança ou por espada nestas regiões.

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2.5 SIMÃO, O ZELOTE

Este humilde discípulo de Cristo derivou seu sobrenome provavelmente de seu envolvimento com a seita dos zelotes, grupo extremista que desejava se insurgir militarmente contra Roma. Era um nome muito comum nos tempos do Novo Testamento.

Segundo a tradição ele também teria feito sua obra missionária nas Ilhas Britânicas. Além disso, teria também ido a outras regiões distantes, principalmente do Norte da África como Egito, Cirenaica, Mauritânia e Líbia. Teria morrido na Inglaterra por ordem do procurador romano, embora algumas tradições narrem um trabalho posterior na Mesopotâmia, sendo duvidosa esta afirmativa.

2.6 TOMÉ

A riqueza de tradições sobre a vida e obra de Tomé é muito grande. Ele é o apóstolo do qual existem mais informações históricas. Entre as regiões por ele visitadas constam na tradição Babilônia, Pérsia, Média e China. Mas seu trabalho mais expressivo foi realizado na Índia. Assim se encontra escrito em O ensino dos Apóstolos: “A Índia e todas as regiões a ela pertencentes, assim como suas adjacências até o mais distante mar, receberam a ordenação apostólica de Tomé, que se tornou o guia e o líder da Igreja ali estabelecida, na qual ele mesmo ministrou”.

Embora sejam muitas as tradições sobre sua morte, há muitos pontos em comum entre elas. É possível que ele tenha perecido no sul da Índia, sendo assassinado pelos sacerdotes brâmanes que invejavam seu sucesso com a nova doutrina que ele estava proclamando.

2.7 ANDRÉ

O Leste Europeu foi o lugar onde este discípulo do Senhor teria exercido a ordem missionária. Uma das mais fortes tradições endossadas pelo historiador Eusébio diz respeito ao sul da Rússia, especialmente as regiões outrora conhecidas como

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Cítia e Partia próximas ao Mar Negro. Outros lugares em que ele teria trabalhado seriam Bizâncio, na Trácia, em Épiros, e no Peloponeso, como também na Bitínia.

A tradição diz que seu martírio teria ocorrido na Grécia. Como curiosidade ele teria perecido em uma cruz em forma de “X” que ganhou por isso o nome de cruz de Santo André.

2.8 FILIPE

Este apóstolo algumas vezes tem sido confundido com Filipe o Evangelista, que foi colocado como diácono e se tornou um personagem de destaque no livro de Atos (Atos 6.5; 8.5-40; 21.8,9). Segundo a tradição ele teria trabalho na região da Frigia, tendo antes pregado na Cítia, região do Mar Negro. Teria também feito trabalhos missionários na Gália (uma região da atual França) e em Atenas na Grécia, onde entrou em conflito com os filósofos que ali abundavam. Morreu como mártir na Ásia Menor.

2.9 JUDAS TADEU

Há muito pouca informação a respeito deste apóstolo, mesmo nos evangelhos sua figura permanece muito obscura. Há conexões que ligam seu trabalho missionário com a Igreja Armênia, mas trata-se apenas de especulação. Alguns historiadores afirmam que ele teria morrido em tenra idade.

2.10 TIAGO, FILHO DE ZEBEDEU

Este Tiago era o irmão de João. É geralmente chamado de Tiago o Maior, para distingui-lo de Tiago, Filho de Alceu que recebeu o título de Tiago, o Menor.

Sua carreira foi bastante curta. Ele foi morto por Herodes (Atos 12.2) e que nos foi dito nesta ocasião é que isto agradou aos judeus, pelo que entendemos que seu ministério era bastante impactante entre os judeus de Jerusalém.

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2.11 TIAGO, FILHO DE ALFEU

Também não há muito material sobre este apóstolo, chamado de Tiago o Menor. O que se pode dizer é que se fala muito nas tradições de uma semelhança entre ele e o Senhor Jesus Cristo. É comum também nas tradições confundi-lo com Tiago irmão do Senhor.

As tradições apontam uma semelhança muito grande entre o seu martírio e o do irmão do Senhor. Teria sido jogado de cima do Templo e apedrejado em seguida, mas pode tratar-se de mera confusão com Tiago, o Justo, irmão do Senhor.

2.12 MATIAS

Foi o substituto de Judas Iscariotes, o traidor. Da pouca tradição que restou, ele teria feito sua obra missionária na região da Armênia. Teria sido martirizado por mãos judaicas em Jerusalém, após retornar de uma campanha na Macedônia entre 61 e 64 d.C.

2.13 PAULO

Paulo foi um homem de grande estatura moral, intelectual e espiritual. Era cidadão de Tarso, na Cilícia, região da Ásia Menor (atual Turquia), educado por Gamaliel, um dos grandes mestres do judaísmo (Atos 22.3). Dessa forma ele adquiriu uma dupla formação: gentia e judaica. Tarso era um centro cultural grego e Jerusalém um centro cultural judaico. Isto o capacitou ao ministério de apóstolo aos gentios que lhe foi confiado.

Por meio dele o evangelho tornou-se compreensível ao mundo de cultura grega naquela época. É bom lembrar que os judeus tinham uma cultura completamente distinta do mundo ao seu redor. Por sua própria natureza o judaísmo era fechado em si mesmo e quando alguém queria servir ao Deus de Israel ele tinha que tornar-se um prosélito, isto é, judeu convertido ao judaísmo.

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No conjunto das epístolas paulinas, treze ao total (a autoria paulina de Hebreus é questionada), encontramos uma ampla exposição do Evangelho nos aspectos teológico, ético, moral e espiritual. A Igreja tem uma enorme dívida para com este gigante da fé. Após dois mil anos a força de seus escritos continua orientando as vidas e moldando o pensamento da Igreja.

Além de seu trabalho como pensador, sua obra missionária também merece destaque. Aliás, ele é o único que teve seu trabalho registrado no livro de Atos. Nele temos descritas três viagens missionárias e mais uma viagem a Roma como prisioneiro do Império. Todas estas viagens expandiram o cristianismo muito além das terras da Judéia.

A primeira viagem iniciou a partir de Antioquia da Síria e dirigiu-se para a Ilha de Chipre. Depois seguiu para a região da Ásia Menor (Turquia). Nesta primeira viagem Paulo foi auxiliado por Barnabé. Seu método permaneceu sempre o mesmo, obedecendo à ordem “primeiro do judeu” (Romanos 1.16). Ele ia para a sinagoga, que na ocasião estava espalhada por toda a região do Império Romano, buscando convencer aos judeus que Jesus era o Messias. Após a recusa destes, ele se voltava para os gentios. Dessa forma as Igrejas iam se formando com um misto de judeus e não judeus. Paulo percorreu diversas cidades plantando Igrejas até que retornou.

Após o Concílio de Jerusalém, Paulo iniciou sua segunda viagem, desta vez acompanhado por Silas. Visitou as cidades nas quais havia deixado Igreja, comunicando o parecer do Concílio com respeito aos gentios. Foi nesta ocasião em que eles foram conduzidos pelo Espírito Santo para a região da Europa. Na cidade de Filipos surgiram os primeiro convertidos. A partir daí o trabalho continuaria por outras cidades européias como Tessalônica, Beréia, Atenas, Corinto. Este acontecimento seria de extrema importância, uma vez que o Cristianismo criaria profundas raízes neste Continente, para depois se espalhar pelo mundo inteiro. Paulo então retornou para Jerusalém e depois foi para Antioquia.

Na terceira viagem missionária Paulo deteve-se na grande cidade de Éfeso por um ano e meio. Vinham muitos de toda a Ásia para aquela cidade e eram instruídos no Evangelho. Foi um trabalho muito proveitoso que permitiu a mui-

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tos ouvirem a Palavra de Deus. Dali ele visita novamente a Europa, mais precisamente na Grécia. Depois ele retorna passando por Mileto (Ásia Menor) até chegar a Jerusalém onde é preso.

Sua viagem a Roma não foi como as anteriores, desta vez ele foi como prisioneiro. Mas ele teve oportunidade de pregar aos nativos de Malta devido ao naufrágio do navio. Uma vez em Roma teve a oportunidade de ficar em uma casa alugada às suas custas. Nesta ocasião ele realizou um bom trabalho evangelístico na capital do Império. Geralmente se crê que o apóstolo foi solto por esta ocasião, pois sua segunda epístola a Timóteo, a última a ser escrita, fala de viagens não narradas à Ilíria e Espanha. O que indica novas viagens missionárias posteriores.

Este é um resumo do trabalho missionário da Igreja que nos da uma idéia da amplitude adquirida pelo evangelho. Mesmo que não tenhamos detalhes do trabalho dos demais apóstolos já é possível ter uma idéia da expansão do cristianismo. Este primeiro século de semeadura foi bastante eficaz.

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