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10. AS CRUZADAS

HISTÓRIA DA IGREJA

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AS CRUZADAS

Outro grande movimento da Idade Média, sob inspiração e mandado da Igreja, foram as Cruzadas, que se iniciaram no fim do século onze e prolongaram-se por quase trezentos anos. As cruzadas foram expedições militares organizadas pelos papas, reis e nobres europeus ocidentais para tomar a cidade de Jerusalém em posse dos muçulmanos.

A região da cidade de Jerusalém, na Palestina, onde atualmente fica o Estado de Israel é sagrada para os fiéis das três mais importantes religiões monoteístas do mundo: o judaísmo, o cristianismo e o islamismo. Desde épocas muito remotas, judeus, cristãos e muçulmanos faziam peregrinações a Jerusalém para venerar os Lugares Santos.

Em 638 d.C., os muçulmanos tomaram a Palestina, inclusive, Jerusalém. Durante séculos aquela ocupação não chegou a criar problemas para os cristãos, pois os árabes respeitam a religião cristã e, portanto, as peregrinações seguiam permitidas. Em 1071, porém, a Terra Santa foi capturada pelos turcos otomanos, também muçulmanos, mas, intolerantes para com os cristãos, passaram a criar todo o tipo de dificuldades para os peregrinos.

Além do motivo religioso, as cruzadas envolveram outros interesses. A Igreja católica queria expandir o cristianismo pelo Oriente Médio e eliminar a influência da Igreja Ortodoxa de Bizâncio (a primeira cruzada iniciou-se apenas meio século após o grande cisma entre católicos romanos e ortodoxos gregos em 1054). Cidades italianas como Gênova e Veneza comercializavam com o Oriente Médio desde o século VIII e apoiaram os cruzados porque sonhavam em tomar postos de comér-

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cio dos bizantinos e dos árabes do Egito.

Para atender aos fiéis desejosos de retomar as peregrinações e escoar o excesso de mão-de-obra ociosa na Europa, o papa Urbano II declarou guerra aos “infiéis” muçulmanos conclamando as multidões sob o brado de “Deus o quer! Deus o quer!”. O fervor religioso espalhou-se por toda a Europa. As pessoas acreditavam firmemente que o cristianismo estava em perigo e que defendê-lo, portanto, era cumprir a vontade de Deus. O papa Urbano II prometeu a todos os que partissem para a guerra contra os “infiéis”, que teriam seus pecados perdoados e iriam para o céu após a morte. Os cavaleiros que, a partir de 1095, atenderam ao chamado do papa para fazerem parte de uma expedição à Terra Santa, escolheram como símbolo uma cruz pintada na armadura ou bordada nas vestes. Por isso foram chamados “cruzados”. Eles seriam os guerreiros da cruz, os defensores do cristianismo.

E lá foram eles, de quase todos os lugares da Europa Ocidental, da França, da Alemanha, da Itália, e também da Inglaterra, da Holanda... Os nobres no comando, protegidos por armaduras, em cima dos vigorosos cavalos, os camponeses na infantaria, os homens da igreja em carroças, maltrapilhos e descalços, todos vestiam um pano com a cruz vermelha simbólica. Fé no coração, idéias de conquista na cabeça e armas nas mãos, séculos de guerra começaram então.

Os cruzados deixaram um rastro de roubos, incêndios, estupros, assassinatos. Pilharam a Constantinopla cristã e a Jerusalém muçulmana e judaica, mataram milhares de crianças, mulheres e velhos desarmados.

No final, as Cruzadas fracassaram. Depois dessa houve mais seis, provocadas pelas vitórias dos maometanos, devido Jerusalém continuar no poder dos maometanos. As primeiras cruzada foram convocadas pelos papas, por isso a Igreja as dirigia, unindo e conclamando para isso toda a Europa cristã. Mas depois a liderança desse movimento passou às mãos dos reis. Com o passar dos anos, o entusiasmo religioso, sem o qual as Cruzadas jamais se teriam organizados, foi arrefecendo. Os nobres europeus não conquistaram grandes extensões de terras como desejavam. Alguns se arruinaram, outros conseguiram retornar ricos à terra natal, dessa for-

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ma surgiram outros motivos que impulsionaram outras cruzadas: a de conquista e apreensão de riquezas.32

A própria Igreja Católica foi abalada, as Cruzadas provaram a incapacidade dos papas para dirigir a cristandade, os quais se preocupavam com o enriquecimento da Igreja, onde levou os sacerdotes à arrogância e o abuso do poder, gerando um descontentamento que mais tarde daria início a Reforma religiosa.

32. NICHOLS, Robert Hastings. História da Igreja Cristã. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2000, p. 105.

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