N.Oz - Quando só a Arquitetura não basta

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N.Oz Quando s贸 a arquitetura n茫o basta: Ensaios arquitet么nicos de eventos pontuais como curativos urbanos. Juliana Andrade



Agradeço a todos aqueles que por acaso, destino ou coincidência cruzaram meu caminho, e me fizeram chegar até aqui.



Juliana Andrade

N.Oz Quando só a arquitetura não basta: Ensaios arquitetônicos de eventos pontuais como curativos urbanos.

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Centro Universitário Senac — Campus Santo Amaro, como exigência para obtenção do grau de Bacharel em Arquitetura e Urbanismo.

Orientador: Professor Me. Ricardo Luis Silva

São Paulo 2015



Considerações ao leitor: Esse projeto foi apresentado aqui de forma resumida, já que o original é apresentado na forma de três caixas irmãs, contendo não apenas a monografia, dividida em diferentes brochuras, mas também um guia turístico e um manual de instruções. Os capítulos da monografia foram construídos de forma não linear, assim como minha linha de pensamento ao elaborar o projeto. A ideia de separá-los em brochuras era para induzir o dono da caixa a não realizar a leitura em uma ordem; para que seus desejos e interesses próprios, aparecessem durante a leitura, assim como a escolha por seguir ou não o manual de instruções; a fim de mostrar que o homem tem papel na construção da imagem e sentido que a Arquitetura assumira.



Muito se engana quem interpreta esse volume como um projeto de intervenção. A obra a seguir apresenta mais que um ensaio arquitetônico, mas simboliza minhas crenças e aspirações como arquiteta materializados na forma de um discurso-manifesto. “Após longa jornada por uma Estrada de Tijolos Amarelos, percebi que as respostas estavam mais próximas do que imaginava”.



RESUMO

Série de eventos pontuais na região dos Jardins América e Europa é usada como exemplo para abordar a necessidade de se discutir a atuação das pessoas na construção de arquiteturas e cidades mais sensíveis.

ABSTRACT

Series of specific events adressed in Jardim America and Europa are issued to discuss the role of people while creating more sensible architecture and cities.

EVENT, INTERVENTION, URBAN, CITY GARDEN, BANDAGE, OZ,



Todo arquiteto tem complexo de Deus. (Autor desconhecido)

“O maior problema de vocês arquitetos, é achar que a Arquitetura pode mudar o mundo”.

Um tanto desanimador ouvir essa frase de um professor quando ainda se está apenas no primeiro semestre. Logicamente, na época eu ainda não tinha sido contaminada pelo espírito da realidade, e dei de ombros. Passou um tempo, e comecei a ver que isso não era tão inacreditável assim. Realmente a arquitetura não era capaz de mudar o mundo. Ela realmente ajuda em muita coisa, mas mudar o mundo inteiro? Muita pretensão.

No meu sétimo semestre, durante uma aula de projeto, outro professor veio com essa mesma história. Agora, eu já entendia os fatos como eram, e até aceitava a frase como verdade. Porém ele completou, de uma maneira menos desesperançosa: “Como arquitetos, temos o incessável desejo de mudar o mundo. Mas, infelizmente a arquitetura não pode fazer isso. Entretanto ela pode mudar ‘UM mundo’. Quando você revitaliza uma área, muda a vida de quem mora lá; quando faz um parque, muda a vida de quem for frequentá-lo; quando cria ambientes bem planejados, muda a vida de seus usuários. Pode parecer pouco, mas para elas, aquilo significa o seu mundo”.

Foi aí que passei a me questionar qual a minha real opinião sobre isso, e se a arquitetura, era realmente capaz de “mudar o mundo” ou “mudar um mundo”.


Quando só a arquitetura não basta O movimento moderno costumava defender o poder que a Arquitetura poderia assumir no papel de barrar a revolução. Desse movimentos, várias heranças foram deixadas. Como por exemplo o ideal que a Arquitetura possui imenso poder de mudança; quase como se ela assumisse o caráter de uma entidade. Assim é muito comum encontrarmos arquitetos tratando a arquitetura da seguinte forma:

- É dada uma determinada proposta ou local, juntamente a uma série de problemas a eles atrelados; - Uma investigação é feita; - Uma obra é proposta a fim de solucionar esses problemas; - Completa-se a obra; - Espera-se que a Arquitetura irá agir na solução desses problemas.

Será, porém, que só isso seria suficiente para “impedir a revolução”, ou barrar um problema? Acredito que sociedades são organismos complexos, com várias lacunas a serem preenchidas, será que seria muita heresia desacreditar desse poder da arquitetura? Não podemos, de maneira alguma negar a importância da Arquitetura, e a diferença que ela faz em diferentes contextos; mas será que apesar de toda a investigação realizada anteriormente ao projeto, essa obra corresponderá às expectativas do Arquiteto? Será que ela responderá todas as perguntas? Será que seu usuário irá aceitar, entender e ocupá-la da forma que foi idealizada? A partir do momento que as ideias saem do papel, a responsabilidade por elas não é mais exclusiva de quem a projetou. A forma com que o público irá recebê-la nunca poderá ser completamente prevista.

Não quero propor nenhuma forma mágica, nem uma regra universal dizendo como fazer isso funcionar. Minha intenção é apenas questionar, e trazer esses assuntos à tona. Em nenhum momento esse Ensaio pretende se apresentar como um manual de instruções, tampouco um modelo à ser seguido, ou replicado indiscriminadamente. A intenção aqui foi, desde o início afirmar que o sentido da Arquitetura só existirá na presença das pessoas. Todos os significados que queriam que ela assumisse só se tornarão realidade, se o público assim o desejar.


Eventos Pontuais como Curativos Urbanos

Partindo então da premissa de que as pessoas têm ativa função no significado que a arquitetura assumirá, esse ensaio propõe simular uma forma de experimentação que permitisse essa discussão, usando de intervenções pontuais um lugar exemplo, a partir das relações homem-ele próprio, homem-meio, homem-outro e homem-arquitetura. Conforme Jaime Lerner (Acupuntura Urbana, 2003), intervenções estratégicas pontuais criam novas energias e ajudam um cenário da cidade a se recuperar, despertando assim novas percepções sobre a realidade cotidiana. Deste modo, escolhi pelo projeto de EVENTOS como forma de experimentação espacial, a fim de gerar novas reflexões, vivências, experiências e visões; com o intuito de mobilizar as pessoas a repensar o lugar que vivem; ao invés de impor uma mudança de fato. Assim, ao deixar de lado o design de um objetosolução abdico da imposição de resoluções que correspondem os meus desejos pessoais, e provoco a ascensão de um novo olhar nas pessoas. O evento apresenta-se como uma série de dados que caracteriza interação, seja ela indivíduo-meio, indivíduo-objeto ou indivíduo-indivíduo, pode ser uma festa, uma comemoração, um encontro, um acontecimento cotidiano, uma coincidência. Ou seja, uma ocorrência gerada observável podendo ou não ter sido planejada. A relevância do Evento está no seu caráter temporal, já que ele tem início, meio e fim, situando-se como um ponto no espaço-tempo de quatro dimensões. Ao ter contato com o Evento, cria-se uma divisão de águas dentro do indivíduo. O homem que existia antes do contato, não será o mesmo homem que existirá depois. Essa mudança (que pode inclusive ser uma nãomudança), independentemente se for positiva ou negativa, influenciará as próximas atitudes do indivíduo. O evento aqui, também não tem intenção paliativa, que serve para atenuar temporariamente um problema, sua função seria como um a de um “curativo”. Ao sofrer uma incisão, aplica-se um curativo; ele resguarda a epiderme de agentes externos e mantém o ambiente propício à cura. Porém para a cicatrização ocorrer, o corpo afetado precisa agir em prol disso. Assim o Evento não tem a intenção de modificar o local, mas de permitir que a mudança ocorra por meio de quem o utiliza. Por fim, pretendo ampliar essa análise para a Arquitetura, e principalmente, para a forma como ela é pensada e interpretada. Muitos disseminam a ideia de que a arquitetura é a solução única e exclusiva para todas as carências e adversidades de determinada situação. Porém acredito que a arquitetura não basta. Já que ela não é o início de uma realidade nova e boa, tampouco o fim de uma antiga e ruim, mas sim um elemento central, sendo precedido por desejos da maioria e sucedida pelos esforços da população que usufrui dela e amplia as oscilações que a mesma causa. Assim a arquitetura só faz sentido com a presença humana agindo antes e depois dela.


Vista da linha férrea transformada em parque. (1)

A mudança começa nas pessoas Em 1999, dois residentes da cidade de Nova Iorque criaram uma organização para preservar e reutilizar uma linha férrea elevada, construída em 1930 e posteriormente desativada, no lado oeste de Manhattan. A linha estava para ser demolida, mas eles viram nela a possibilidade de algo novo. Depois de muito estudo e discussão sobre o que seria feito no local, foi concluído em 2008 o projeto de um parque urbano com área aproximada de 160 ha, sobre a antiga linha férrea.

O projeto é hoje bastante celebrado, e exemplo, não apenas, de um desenho urbano de qualidade, e eficiência na forma de reabilitação de estruturas antigas ao tecido da cidade; mas também na forma em que organizações de pessoas ‘comuns’ podem fazer a diferença para gerar uma mudança. Esse novo modelo de parque suspenso melhorou a vida de seus arredores, e obviamente não ajudou a mudar o mundo. Mas, está inspirando pessoas de diversos lugares do mundo a repensarem seus viadutos abandonados, e criarem novos espaços para a implantação de áreas verdes (exemplo não tão distante é o projeto do parque Minhocão).


Tinha acabado de voltar de uma temporada na Europa. O modo com que as pessoas se apropriavam dos espaços públicos em nada se comparava ao nosso. Tantos fatores poderiam levar a essa divergência. A forma com que o tecido urbano foi desenhado, a idade das cidades, a costumes locais, diferenças culturais. Algo me levava a crer que tinha algo a mais. A forma das cidades, a arquitetura de qualidade, é logico que isso tinha influencia. Mas aquelas pessoas olhavam para o espaço público de outra forma, usavam e apropriavam dele sem que ninguém os induzisse à isso, tampouco repreendesse. Um senso comum de consciência talvez; ou mais que isso, um espirito de coletividade.

A seguir apresento uma pequena série de registros fotográficos pessoais. Elas foram a primeira inspiração para pensar esse trabalho.


METROPOL PARASOL (SEVILHA) Megaestrutura em madeira instalada durante o projeto de revitalização de praça histórica.


BALLOON FIESTA (BRISTOL) Ocupações coletivas durante o Festival de Balões em Bristol


SERPENTINE GALLERY (LONDON) Pavilhão para o Serpentine Gallery 2015 montado no Hyde Park pelo estúdio SelgasCano


SERPENTINE GALLERY (LONDON) Pavilhão para o Serpentine Gallery 2015 montado no Hyde Park pelo estúdio SelgasCano


PRAÇA ÚMIDA (BRISTOL) Praça com diversos chafarizes para uso público


PRINCESS DIANA MEMORIAL (LONDRES) Intervenção lúdica com uso de água no Hyde Park



S贸 a ARQUITETURA n茫o basta.



Cidades e Coletivos



“Antecipar, interagir, colaborar, mobilizar, sentir, medir, curar, colaborar, produzir, adaptar, incubar e colaborar. Sim, colaborar aparece trĂŞs vezes. â€? (Mohsen Mostafavi, 2014 em



ÍNDICE

O poder do Coletivo

As ruas são para quê?

A cidade num instante

Esconder para revelar Cidade do Espetáculo vs. Cidade dos Eventos


Cidade do Espetáculo vs. Cidade dos Eventos “Nos espaços públicos, as pessoas renegam a cidade mercantilizada e os citadinos dialogam entre si e não com o grande capital”. (CARLOS VAINER)

A cidade é por base um lugar de conflito, e de discordância, e por isso a importância do espaço público bem resolvido; pois ele é o primeiro local que temos contato com o desconhecido, com o outro. “Uma cidade deve promover em seu território a integração entre funções urbanas, níveis de renda, faixas etárias, etnias. Quando maior a mistura, mais humana a cidade será. ” (Jaime Lerner, 2003) De acordo com Carlos Vainer, sociólogo e professor carioca da Universidade Federal do Rio de Janeiro; a cidade ‘pós-moderna’ apresenta-se como uma cidade-empresa, onde todas as intenções de modificação da mesma, são passadas do Estado para o privado, criando uma cidade para negócios, e não para interações. Assim o espaço para o Indivíduo vai substituindo o espaço do Coletivo. A cidade vai adquirindo esse caráter de lugar dos Espetáculos, imperada por interesses e vaidades de grupos menores; quando deveria se apresentar como um lugar propício as relações interpessoais, à experimentação das diferenças e até mesmo ao estranhamento com o outro. O espetáculo foi estudado a fundo por Guy Debord, também fundador da Internacional Situacionista. Enquanto os modernistas diziam que a arquitetura e o urbanismo podiam mudar a sociedade, os situacionistas acreditavam que a sociedade deveria mudar a arquitetura e o urbanismo. Defendiam que a cidade deveria ser experimentada, vivida, provada ao extremo, que somente assim a arquitetura e o urbanismo iriam poder se adequar a ela. Debord acreditava que as banalidades e eventos cotidianos eram sim importantes, e que a vida na cidade não deveria ser sempre tratada como espetacular; como um ‘happening’, já que isso somente traria instrumentos de controle às


Festival Baixo centro: “As ruas (coloridas) são para dançar”. (2)

O poder do coletivo

Vem crescendo nas grandes metrópoles movimentos citadinos organizados por pessoas comuns com o intuito de repensar seus espaços. Os chamados Coletivos Urbanos, fazem sua própria “revolução”, não por meio de protestos, mas sim, pela promoção de atividades criativas, eventos culturais, e muito debate e conscientização.

“Não saímos de megafone para protestar. Provocamos as pessoas a pensarem de maneira diferente fazendo coisa que não costumam fazer, como ir a um parque à noite. Aí, veem que não há iluminação e divulgam isso nos meios digitais”. Luhcas Alves, designer estratégico e co-fundador do coletivo Rastro Urbano de Amor (RUA).

A maior arma desses grupos são os meios digitai. Pela rede é muito

A maior parte deles não tem hierarquia e tem “espaço para todos”. Motivados a pensar o espaço urbano através de uma rede de esforços e afeto. Além dos coletivos, diversos artistas itinerantes também vêm trabalhando na questão de ressignificar os espaços. Seja com intervenções irregulares, performances, projeções luminosas, pinturas de muros, postes, calçadas. No início de 2014, a Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania de São Paulo lançou uma websérie chamada RUA!,

onde mostra o dia a dia desses artistas e as diferenças que fazem. Além desses grupos de ‘leigos’ podemos citar escritórios que vem trabalhando os desejos do coletivo ao intervirem em espaços urbanos. Por meio de votações, entrevistas, atividades didáticas, rastreiam as intenções da maioria antes de ini(2)


Era meados de 2012 e estava andando pelos arredores de Santa Cecília; entre a overdose de pichações, lambe-lambes e grafites, um me chamou atenção em especial: “As ruas são para dançar”. Foi o primeiro contato que tive com movimentos de ocupação coletiva. A frase nunca mais saiu da minha mente. Imagem: arquivo pessoal.


O coletivo visa estimular a apropriação do espaço público. (2)

As ruas são para quê? “As ruas são para dançar”. Com essa

(2)

máxima, o coletivo Baixo Centro atua na região da qual leva o nome; o baixo-centro paulistano. O objetivo principal do grupo é que as pessoas que moram, trabalham e vivem nessa região não precisem se deslocar por grandes distâncias para encontrarem locais de recreação, lazer e acolhimento. Assim são criadas atividades, festivais e outros acontecimentos que estimulam a população a sair à rua para procurar e criar espaços de descanso e divertimento. Entre seus ideais, eles defendem que eventos de ocupação urbana não devem ocorrer apenas sob incentivos de órgão públicos, mas que a comunidade tenha autoridade e responsabilidade por esses processos.

No fundo toda a forma de organização do grupo é horizontal, e sem nenhuma instituição (ONG, governos, empresas) gerindo-a. Além disso, apesar de promoverem ações coletivas, o grupo preza a autonomia de cada sujeito dentro do todo; de modo que a espontaneidade do indivíduo possa encaminhar os eventos realizados, e que eles sejam livres para se transformar durante sua realização. Todos os processos são custeados de forma aberta e associativa, por meio de parcerias, arrecadações e crowdfundings. O grupo preza pela independência das pessoas na maneira de apropriar e resignificar os espaços.


ARTÍSTAS

TANQ ROSA CHOQUE: Pessoas inteiramente vestidas de ROSA realizam performances e caminhadas. MICRORROTEIROS: Com poemas cotidianos colados em postes e muros, a ideia é interromper os roteiros rotineiros com um pouco de poesia. CARRO VERDE: Transformam carros abandonados em ‘praça’. 6EMEIA: Seis e meia é o horário que os dois ponteiros estão em baixo. A ideia é fazer as pessoas olharem para baixo a partir de intervenções no chão. ATELIE AZU: Instalam azulejos para trazer cor e vida aos locais.

COLETIVOS

ESCRITÓRIOS

A BATATA PRECISA DE VOCÊ: Formado por moradores e frequentadores do Largo da Batata, pretendem transformar o local em mais do que uma área de passagem.

ARQUITETURA DA CONVIVÊNCIA: Reconstruir espaços de convívio a partir de uma arquitetura de baixo custo que trabalha com o lúdico e a coletividade.

ARRUA COLETIVO: Grupo de discussão da cidade que promove intervenções reais e virtuais para uma ‘cidade livre’, de barreiras, militares, violência.

CONTAIN IT: Projetos feitos a partir da reutilização de containers. ZOOM: Conhecido por ter instaurado o conceito de ‘parklets’ em São Paulo.

PROJETO VIZINHANÇA: Transformam a partir do trabalho coletivo espaços ociosos em palcos de novas atividades.

SUPERLIMÃO: Produção de arquitetura, objetos e mobiliários efêmeros.

URBANISMO CAMINHÁVEL: Coletivo que instiga a pessoas a melhorarem os locais que moram ou trabalham.

JAIME LERNER: Autor da ideia de Acupuntura Urbana, acredita que intervenções pontuais mudam o caráter de um local.

BAIXO CENTRO: Intervenções na região do baixo centro que promovem a ideia de que “as ruas são para dançar”.



Esquemas de montagem das infra estruturas da Instant City. (4)

Para o evento instantâneo que se apropriaria das cidades existentes foram desenvolvidas uma série de estruturas de apoio, como telões, projetores, palcos; e até mesmo sistemas de transporte, e montagem e desmontagem dos equipamentos. Ou seja, um sistema completo capaz de articular e dinamizar um local.

A cidade nova seria transportada por elementos flutuantes, e traria com ela luminosos, projeções e atividades lúdicas. (4)


A cidade num instante

Instant City, (cidade instantânea) é o projeto de uma cidade itinerante, de 1969 do grupo Archigram. Uma cidade capaz de ser montada e desmontada, que era transportada por balões, helicópteros e dirigíveis e pousava sobre uma cidade já existente, modificando-a. A cidade nova trazia consigo diversos eventos culturais, e tinha como objetivo migrar de local em loca, mas com foco nas cidades do interior, que não tinham contato com a vida instantânea das grandes metrópoles. Assim funcionaria como um grande circo levando espetáculos, jogos de luz, e diversão para o local onde pousava.

Porém ela também tinha o caráter efêmero, assim como ela chagava de repente, também sumia de repente, durava apenas um instante, levando toda a festa para outro lugar. Aquela agitação momentânea tocaria os habitantes locais e causaria interferências em suas vidas. Ao pousar sobre uma cidade, uma nova rede de contatos e informações era gerada, e diferentes conexões, estabelecidas entre as pessoas. Além disso, ela suprimia alguns desejos e carências locais, complementando suas atividades; mas ao se mudar, os moradores sentiriam falta dessas atividades, não poderiam mais viver sem elas, pois agora eram novos homens.

Pole autodestrutivo: quando o evento acaba ele se destrói. (4)



“...eles (seres humanos) tem amor e carinho pela infância porque sabem que não vai durar. Eles tem amor e carinho pelas suas próprias vidas porque sabem que não vão durar. O fato do trabalho não durar cria uma urgência para vê-lo.” (JeanneClaude) Wrapped Reichstag, 1995. Prédio do parlamento alemão encapado, questionando os significados que o local assumiu pós Guerra Fria. Mais tarde, o edifício recebria a reforma projetada por Norman Foster. (5)

Esconder para Revelar Surronded Islands,1983. Ilhas situadas em Biscane Bay envolvidas com plástico rosa para destacar sua importância ambiental.

Com o principal intuito de chamar a atenção para elementos negligenciados, o casal Christo e Jeanne-Claude ficou conhecido por embrulhar obras. Após identificarem um sítio, edifício ou porção territorial que precisava de atenção, o casal criava o projeto de uma instalação pontual temporária, que poderia ser um gigantesco empacotamento do local, ou a marcação através de elementos lineares repetidos em exaustão. Assim é introduzida uma diferença na ordem já estabelecia, para algo ser PERCEBIDOO, ele passa a ser ENCOBERTO; o que encorajaria o público a olhar de uma outra maneira para esses edifícios ou espaços e o levaria a manifestar uma atitude.

Nas palavras da autora, o caráter temporal tema ver com a afeição que as pessoas pegam por tudo aquilo que é efêmero. E assim como a arte deles, que acaba após um período, eles tentam criar nas pessoas a consciên-



S贸 a ARQUITETURA n茫o basta.



Bairros Jardins



"Ao contrário de outros países, o Brasil não tem a tradição dos espaços comunitários. Por questão cultural, cada um precisa saber exatamente o que é seu. Os jardins só deram certo enquanto eram um atrativo para vender os lotes. No final foram utopia" (Silvia Wolff)



ÍNDICE

Importância Histórica

Tombamento

Fundação

Justificativas


Fundação Em São Paulo, o termo “Jardins” é usado de forma genérica para denominar o conjunto de bairros de alta classe tombados em 1986, existentes na zona sudoeste da cidade, entre as Avenidas Paulista e Faria. Formados pelos bairros Jardim América, Jardim Europa, Jardim Paulista e Jardim Paulistano, surgiram pela influência do Jardim América e seu sucesso a partir dos anos 20.

Em 1910, a prefeitura de São Paulo propunha uma expansão urbana, contratando Barry Parker, famoso urbanista inglês responsável por realizar loteamentos, em áreas de subúrbio britânicas, conhecidos como Cidade-Jardim, para realizar projetos em São Paulo, e que posteriormente seria o responsável por diversas obras da incorporadora Cia City. O desenho urbano das Cidades-Jardim era feito levando em conta as características e elementos naturais do terreno (topografia, drenagem, vegetação). Assim, o desenho local valoriza o pedestre: com calçadas largas, bem arborizadas e os recuos prestigiam o conforto térmico e lu-

A Cia City ganhou fama ao desenhar e projetar bairros seguindo esse padrão na capital paulista. Dentre eles podemos apontar como o mais relevante o Jardim América, segundo bairro jardim que se implantou em São Paulo (o primeiro foio Pacaembu), por volta de 1913.

O sucesso de vendas ocorrido no Jardim América foi tanto, que influenciou o loteamento de bairros periféricos como o Jardim Europa, e o Jardim Paulista. Por ter sido implantado em uma região de várzea, seu loteamento foi muito caro e o público alvo se elitizou. O processo de implantação dos jardins trouxe um crescimento não somente territorial, mas também econômico à área. A cada novo bairro implantado, mais capital era gerado, permitindo a ocupação do entorno e atraindo o interesse de novos investidores e loteadores.

Projeto original de Barry Parker propunha que cada quadra tivesse seu próprio jardim interno


- São Paulo passou por quatro grandes processos urbanísticos, e a implantação dos bairros jardins foi um deles, desencadeado pelo desenho e implantação do Jardim América. - A forte interação entre esses bairros, as avenidas que os delimitam, e os novos jardins surgidos do outro lado do Rio Pinheiros tornaram possível o surgimento de um novo polo e centralidade na zona Sul da cidade.

Importância Histórica A importância dos Jardins oi tanta que a linha 44 do bonde chegava ao bairro em 1924, nascendo na Rua Augusta, seguia pela Avenida Brasil, Rua Atlântica, morria na Rua Hipólita, hoje Rua Gabriel Monteiro da Silva. Além disso, os bairros eram próximos a tudo e receberam diversas residências de alto padrão, abrigavam o Clube Atlético Paulista, e sem contar a proximidade com a Avenida Paulista, ícone da capital como point de ricos e famosos. A linha de bonde 40, Jardim Paulista, ia pela Brigadeiro Luiz Antônio, Paulista e Pamplona, atravessava a Av. Brasil e terminava nas ruas do Jardim América. As linhas 44 Jardim Europa e 45 Jardim Paulistano, que iam pelas ruas Augusta e Colômbia foram nos anos 50 substituídas por ônibus elétricos, consideradas modernas, por não

- O processo que este gerou de investimento, venda e lucro, trouxe capital e de desenvolvimento para o local. O bairro, que já era implantado próximo a uma região elitizada, influenciou um crescimento de alto padrão, além de trazer interesse das incorporadoras e do público.

Vista dos Jardins, observar o gabarito baixo e arborizado. Ao fundo os prédios da Avenida Paulista. Arquivo Pessoal.

Uso estritamente residencial evidente. Arquivo Pessoal.

O modelo desses bairros foi tão abrangente que sua forma de ocupação superou inclusive as barreiras físicas do Rio Pinheiros, quando pouco antes dos anos 50, iniciou-se o loteamento da Fazenda Morumbi, dando origem ao bairro Cidade Jardim. O conjunto Jardins foi responsável no surgimento de um dos trechos mais homogêneos da cidade: exclusivamente residencial e de classe alta. Uma ilha verde entre os dois maiores e mais adensados polos econômicos da cidade: as Avenidas Paulista e Faria Lima.



Exemplares de propaganda dos loteamentos e das casas em lotes da Companhia City. Peças importantes do esquema comercial da empresa eram impressos em folhetos ou publicados em jornais e revistas, nacionais e atÊ mesmo estrangeiros. (1)


Folheto para comemorar o tombamento dos Jardins. (2)

Tombamrnto

Quanto ao tombamento, os moradores locais, com medo que a área perdesse seu caráter exclusivamente residencial se organizaram e pressionaram a prefeitura pela criação de uma lei que garantisse isso. Assim, em 1986 foram tombados na área do Jardim América os seguintes elementos: o atual traçado urbano, das ruas e praças públicas; a vegetação, especialmente a arbórea, que passa a ser considerada como bem aderente, e as atuais linhas demarcatórias dos lotes, junto ao o baixo adensamento delas decorrente. Além disso, quaisquer alterações nas construções deverão passar por prévia autorização do CONDEPHAAT; não são permitidas mudanças no sistema viário, guias e larguras de calçadas, sem prévia autorização; é permitido aos moradores o plantio de árvores e ajardinamento de calçadas; e os projetos realizados na região deverão respeitar limites e volumetria dos edifícios originais e ter parte do lote destinado ao ajardinamento com alta.

Com o tempo bairro perdeu muitas de suas características originais e parte da sua essência. O tráfego de pedestres é praticamente nulo, os espaços públicos são pouco utilizados, as ruas são apenas ocupadas por veículos. Diversos serviços e comércios tem tomado lugar das residências, de forma mascarada, elementos que não estavam presentes no projeto original de Parker, apareceram como altos muros, guaritas, e o local, desenvolvido para favorecer os percursos a pé, dotado de caminhos arborizados, referências bucólicas e pitorescas, foi perdendo esse caráter. Apesar disso, as formas de ocupação unicamente residenciais são um empecilho ao que diz respeito ao incentivo a vida urbana do local. A legislação determina um uso unicamente residencial; teoricamente impedindo o desenvolvimento de outros usos, que juntamente ao fato do bairro ter uma ocupação mais elitizada limitariam o melhor aproveitamento das formas urbanas pelos transeuntes.


Área ocupada em 1924. (3)

Justificativas Como arquitetos, muitas vezes temos a convenção de sempre olhar para as áreas mais precárias e com carência de infraestruturas, e as áreas mais elitizadas acabam sendo ignoradas. Não que os aqueles locais não mereçam nossa atenção, mas as zonas mais nobres também têm suas necessidades. Os bairros Jardim América e Europa foram escolhidos, pois possuem imensa falta de vida e urbana; não tem vínculos com a cidade ao seu redor. A região, assemelha -se à uma ilha, isolada do tecido urbano, de ruas desertas, que apesar de terem sido projetadas para estimular essas atividades, não são convidativas e parecem ser expurgar os desejos de integração. Os bairros Jardim Paulista e Paulistano, não foram aqui inclusos, pois apesar de se enquadrarem nas mesmas normas legislativas não apresentam as mesmas particularidades dos primeiros, além de seu uso não ser exclusivamente residencial. Além disso o desenho do local é bastante engessado e difícil de se modificar. E existe também a questão da legislação local, e o fato da região ser tombada, o que dificultaria muito a inserção de algo mais permanente, justificando uma intervenção mais pontual ou temporá-


Mapas analíticos e psicogeográficos, em ordem de baixo para cima: 1. Vias. 2. Massa construída. 3. Limites cartográficos e psicológicos. 4. Percursos. 5. Ligações. 6. Pontos de referência.


Maquete de estudo em corte feita com ‘escala’ sensorial. Metal representando Avenidas Paulista e Faria Lima. A ĂĄrea dos jardins foi deixada como um vazio, pois eles parecem descolados do restante da cidade.







S贸 a ARQUITETURA n茫o basta.



Sociedades Paralelas



Distopia (substantivo feminino) 1. Qualquer representação ou descrição de uma organização social futura caracterizada por condições de vida insuportáveis, com o objetivo de criticar tendências da sociedade atual, ou parodiar utopias, alertando para os seus perigos. 2. Lugar ou estado imaginário em que se vive em condições de extrema opressão, desespero ou privação. Normalmente tem como base a realidade da sociedade atual idealizada em condições extremas no futuro.



ÍNDICE

Os prisioneiros voluntários da Arquitetura

Arquitetura sem Arquitetura

Sociedade Sub-Emergida Ubiquor

Eletrônico de Tomate

Cidades Infláveis


Exodus, 1972. A chegada do MURO na cidade. (1)


Os prisioneiros voluntários da Arquitetura "Uma vez a cidade foi dividida em duas partes. Uma era a Parte Boa, e a outra a Parte Ruim. Os habitantes da parte ruim começaram a arrebanhar-se na Parte Boa da cidade dividida, aumentando rapidamente o Êxodo Urbano. Se permitíssemos que essa situação continuasse para sempre, a Parte Boa iria ter o dobro da sua população original, enquanto a Parte Ruim iria se tornar uma cidade fantasma, completamente desprovida de vida humana. Depois que todas as ações para interromper essa imigração indesejada falharam, as autoridades da Parte Ruim usaram da arquitetura de forma selvagem e desesperada; construindo um muro em volta da Parte Boa da cidade, fazendo com que ela fosse completamente inacessível para os indivíduos. O MURO ERA UMA OBRA PRIMA."

(Exodus - Ou os prisioneiros voluntários da Arquitetura, Rem Koolhaas e Elia Zenghelis, 1972 - Tradução Livre)

(1)


Numa referência clara ao Muro de Berlim, Rem Koolhaas em conjunto com Elia Zenghelis, criou por meio de uma sociedade alternativa uma alusão à Guerra Fria e ao Muro de Berlim.

Nova configuração de Londres com a chegada do MURO. (1)

Exodus propõe uma cidade murada em uma longa faixa composta por duas barreiras altas que cortam tecido urbano de Londres, onde a inovação arquitetônica cria uma nova cultura urbana revigorada dos males. Assim, aqui, o MURO também se torna uma condição de liberdade, a partir do instante que as pessoas voluntariamente escolhem se segregar em uma prisão de escala metropolitana.

(1)

Porém, por estarem enclausurados, instintos bárbaros acabam se desenvolvendo; além de outros comportamentos agressivos e depressão. Ou seja, ao escolherem viver presos, os homens acabavam reproduzindo tudo aquilo do que tentavam se proteger. Assim ele discute que arquiteturas de clausura, e falta de contato com o meio externo cria transtornos e alterações psicológicas nos indivíduos, além de transformá-los em elementos despreparados para o convívio em comunidade. Além disso há também o elemento da alienação com o exterior.


Salas de banho. Todo tipo de atividade sexual é permitida. (1)

“As estruturas rudimentares foram erguidas para corrigir e canalizar os desejos agressivos em confrontos criativos. O desdobramento dialética /ego gera o surgimento contínuo de ideologias conflitantes. Sua coexistência imposta invoca sonhos infantis e o desejo de lutar. O Parque é um reserva para a tensão guardada que está esperando ser liberada, um parque infantil de dimensões flexíveis gigantescas para acomodar o único esporte de dentro do MURO: a AGRESSIVIDADE.”

“Os Lotes privados são bem controlados de modo a que ambas as perturbações externas e internas podem ser evitadas, ou pelo menos reprimidas. Ingestão de mídia nesta área é nula. Papers são proibidos, rádios misteriosamente

fora-de-ordem,

todo

o

conceito de "notícias" ridicularizado pela devoção paciente com que os lotes são carpinados; as superfícies das casas são esfregadas, polidas, e embelezadas. Tempo tem sido suprimido. Nunca acontece nada aqui, mas o ar está pesado com alegria.”


(2)

Eletrônico de Tomate “Cansado de compras de supermercado? Tornou-se um pesadelo ir para cima e para baixo dentro de corredores estreitos e altos muros de marcas e rótulos organizados uniformemente, enquanto as luzes te olham junto daquela música chata, e a única coisa que você faz é procurar desesperadamente por uma lata de creme de cogumelos, mas em todos os rótulos só se lê Molho de tomate? Então você não ouviu falar de MANZAK ou o ELETRÔNICO DE TOMATE. MANZAK é a nossa mais recente proposta, um autômato elétrico de rádio-controle alimentado por bateria. Tem lógica on-board, sensores ópticos, câmera de TV, detectores de colisão, e olho mágico. Todo o equipamento sensorial que você precisa para a recuperação de informação ambiental, e para tarefas que executa. Os extras opcionais incluem equipamentos de resposta para aplicações e subtarefas

específicas

de

sua

própria

escolha.

Dirigir suas operações de negócios, fazer compras, caçar, pescar, ou simplesmente desfrutar de voyeurismo instantâneo e eletrônico, no conforto da sua própria casa. E, para atividades ao ar livre, tenha uma imediata terapia vegetal com nosso ELETRÔNICO DE TOMATE! Um aparelho que se conecta à cada ranhura do seu nervo para dar-lhe o zumbido mais selvagem." (Archigram, 1969 - Tradução Livre)

(2)


Manzak não era um projeto de arquitetura, mas falava muito sobre vida em sociedade. Idealizado, por Ron Herron, Warren Chalk, ambos pertencentes ao grupo Archigram, o “tomate-robô-multitarefas” podia ser usado para as mais diversas atividades possíveis, ou uma nova forma de abdicar de suas próprias obrigações e passa-las para um terceiro.

Os nervos humanos eram ligados à um tomate (vegetal) que servia como controle remoto para Manzak (eletrônico). (2)

Ao conectar seus nervos com um tomate, o robô podia ser controlado e realizar atividades diversas. Manzak é mais uma metáfora para as coisas que as pessoas se submetem para economizar tempo. Tempo para que se não se vive mais?

Assim ao achar que vão aproveitar melhor suas vidas, pois abdicando de atividades corriqueiras, elas deixam de viver.

Manzak em Nova Iorque. (2)

(2)


Mind Expander (1967-1969), capacetes que podiam alterar as percepções de quem os usava. (3)

Cidades Infláveis Conhecidos por suas exposições interativas e seu desenvolvimento utópico de ideias arquitetônicas, que mostraram como as pessoas poderiam afetar seu próprio ambiente; HausRucker-Co era um grupo vienense fundado em 1967 que explorava o potencial performático da arquitetura através de instalações e acontecimentos. Suas instalações serviam como uma crítica à vida burguesa e seus espaços confinados, criando eventos temporários e descartáveis. Estas instalações eram feitas geralmente a partir de estruturas infláveis e pneumáticas.

Motivados pela ameaça de uma possível catástrofe ambiental devido a poluição atmosférica e por ideias situacionistas de engajamento de cidadãos; eles criavam performances onde o cidadão era mais que um espectador, mas suas atitudes podiam influenciar os ambientes, explorando assim, por um lado, o potencial da arquitetura como uma forma de crítica, e por outro, a possibilidade de criar projetos para ambientes experimentais tecnicamente mediados e cidades utópicas.

(3)


(3)

Entre suas produções podemos citar capacetes capazes de alterar a percepção do ambiente, graças a óculos e sons associados a eles; instalações acopladas a edifícios onde ambientes inteiros eram montados dentro de bolhas, e além de diversos estudos e desenhos que faziam recorrência a formas de subir ao céu. Mais uma vez trabalhos resgatavam a ideia do isolamento humano do restante do meio social.

Connexion Skin (1967), a bolha como uma nova “pele” para o indivíduo. (3)

(3)



Arquitetura sem Arquitetura* Durante a história da Arquitetura, muitos autores abordaram o tema do ‘Futuro’, com obras baseadas no desenvolvimento tecnológico e veloz da arquitetura e até mesmo das cidades. Essas manifestações alternativas, que muitas vezes foram negligenciadas pelas teorias históricas de caráter geral, são responsáveis por criar muitos dos conhecimentos que a arquitetura contemporânea adota, como repensar espaços sociais e tecnologias de construção. Em sua maioria, e como um dos maiores representantes temos o Archigram, não tentavam de propor respostas para problemas específicos, mas tratar temas isolados e recorrentes da sociedade. Com a desculpa da ficção, e com propostas de caráter ‘divertido’ questionavam, resinificavam e até mesmo criticavam a realidade.

Existem também aqueles que não tratavam exatamente da arquitetura, mas retomam problemas sociais por um ponto de vista futuro. Criar realidades fictícias para explicar a atual é uma forma bastante eficiente de construir um discurso crítico sem assumir o papel de alguém que julga ou censura.

Nesse sentido entra a ideia da distopia. Sociedades distópicas, em geral, são usadas como alertas, ou ironias a problemas presentes na realidade. Umas tem conteúdo moralista, outras revelam as posições políticas de seus autores, e algumas apresentam regimes totalitários e corruptíveis. Mas em geral mostram a estupidez coletiva de forma exacerbada, tem uma linguagem bastante pessimista, mas que sempre flerta com uma esperança próxima e principalmente, tem caráter crítico. Aqui escolhi por tratar dois assuntos em específico: áreas da cidade que parecem desconexas do entorno; e o indivíduo que escolhe se isolar da comunidade por proteção, idealizando uma vida melhor e mais segura, mas que acaba se privando de contatos sociais e tornando-se alienado não só aos problemas, mas também às convivências. A partir desses temas desenvolvi uma própria sociedade paralela. No caso específico, a área escolhida a ser representada foi a dos Jardins Europa e América, mas a discussão pode se aplicar a setores sociais análogos.

* Referência ao livro Architecture without Architecture, de Simon Sadler.


A Cidade foi tomada. Nem mesmo as ĂĄreas mais nobres puderam resistir. Sair nas ruas tornou-se perigoso demais. Para se proteger dos males que a assolaram, alguns himens construĂ­ram uma Cidade Nova, a flutuante sociedade Sub-Emergida.


Seus moradores ocupam os céus, em balões e dirigíveis habitáveis. Dentro de seus novos lares que pairam sobre a Cidade Antiga, estão protegidos de todos os males. Não podemos esquecer das bolhas de isolamento. Elas são as principais responsáveis por mantê-los afastados de todo e qualquer estímulo externo. A alienação dos usuários é o que previne as bolhas de estourarem; quanto maior o desligamento do mundo inferior, maior será a força da bolha.




Existia também um sonho comum que outras pessoas pudessem assumir a vida de seus habitantes, e pôr fim a todo o desgaste físico e emocional que lhes era causado sempre que precisavam descer à Cidade Antiga para realizar alguma atividade. Que essas pessoas pudessem viver suas vidas, criar seus filhos, trabalhar em seus cargos, namorar suas mulheres, ir às festas, aos compromissos, aos encontros e reuniões em seus lugares; enquanto eles desfrutassem do conforto e segurança de suas casas.

Para se pouparem de precisar descer todo o tempo à Cidade Antiga, os moradores da sociedade sub-Emergida criaram os Óculos de Ubiquidade. Ubiquidade é a capacidade de estar ou existir em dois lugares ao mesmo tempo. Ninguém mais precisaria se preocupar em ter contato com o mundo exterior; e nem em viver sua própria vida.




1

2

3


Para subir à Cidade Nova, tubos de impulsionamento aéreo foram instalados. As pessoas da Cidade Antiga procuram por esses tubos, espalhados em diversos pontos, onde recebem suas próprias bolhas de isolamento, que os levarão até seu novo lar flutuante.


E se porventura, alguém tiver que descer à Cidade Antiga, esse irá se certificar que está bem recluso dentro de sua nave. Suas espessas cascas metálicas, previnem os homens do contato com qualquer perversidade que possam vir encontrar.



Não se sabe a localização exata da sociedade sub-Emergida, mas acredita-se que fique em algum ponto entre duas importantes avenidas que costumavam ser chamadas de Paulista e Faria Lima.

E assim, protegidos pela entorpecência de sua ilusão, vão vivendo. Sem qualquer interesse no que está a sua volta, em quem está do seu lado ou no que se tornou o mundo. Ainda acreditam que algo maior aparecerá com as respostas e soluções para esses males.



S贸 a ARQUITETURA n茫o basta.



N.Oz



“Não há perigo que a intrépida coragem não consiga conquistar, não há prova que a pureza imaculada não consiga passar, não há dificuldade que um forte intelecto não consiga superar”. (Madame Blavatski)



ÍNDICE

N.Oz

O Mágico de Oz

Idealização

Contemplação

Percurso

Interação

Contemplação


Após todas as análises feitas até aqui, foram tiradas algumas conclusões; elas inspiraram o tipo de intervenção que eu tinha em mente. Porém faltava uma peça, justamente a mais importante.

Grupos de pessoas tem poder de cobrar mudança na forma de se fazer cidades; o esforço coletivo importa.

Internet, redes sociais e mídias eletrônicas em geral mobilizam esses esforços e ajudam a concretizá-lo.

Criação de consciência vem antes da mudança.

Ficção pode ser um bom elemento ‘conscientizador’.

Arte e intervenções também.

Intervenções pontuais atraem foco para um elemento em específico.

Intervenções temporárias dão a intenção que precisam ser “continuadas” de alguma forma.

Intervenções efêmeras podem ser uma boa solução para tecidos urbanos difíceis de se modificar.


Eu já tinha ideia do que queria fazer, eventos sem função definida e sem utilidade prática; afim apenas de causar pequenas interferências na rotina, de quebrar a inércia, de deslocar rotas e olhares, de tocar pessoas. Mas não sabia por onde começar. Já havia visitado e revisitado o local diversas vezes, selecionado material histórico, analisado fluxos, ocupações. Havia feito mapas, maquetes, sketches, anotações, ligações imaginárias. Já tinha selecionado pontos que mereciam ser expostos e ressignificados. Mas nada disso parecia funcionar para pensar como eu faria essas instalações, não sabia por onde começar. Foi quando eu voltei ao início e reli uma das minhas primeiras anotações: “A resposta está nas pessoas”. Logo pensei: “Fiz tudo isso para voltar a algo que já tinha”. Essas duas afirmações só conseguiram me levar para um lugar:

OZ.



O Mágico de Oz Dorothy morava com seus tios e seu cãozinho Totó, numa pequena fazenda no Kansas. A garota vivia sonhando com um mundo melhor e idealizado, um lugar “Além do arco-íris”. Um dia um tufão ataca a cidade e a transporta, juntamente com sua casa, para uma outra realidade, um universo paralelo chamado Oz.

Logo que chega ela é recebida pelo povo Munchkins e por Glinda, a Bruxa Boa do Norte; que parabeniza Dorothy por ter derrotado a Bruxa Malvada do Leste, já que sua casa caiu em cima da mesma, matando-a. Ironicamente, logo depois de seu encantamento inicial com o lugar, a coisa que Dorothy mais passa a desejar é voltar para casa, pois descobre que a Bruxa Malvada do Oeste está atrás dela para vingar a morte da irmã.

Para voltar, ela teria que seguir a longa Estrada dos Tijolos Amarelos, até a Cidade das Esmeraldas, e encontrar o Mágico de Oz, um poderoso feiticeiro, que muitos viam como uma espécie de Deus. Ele poderia ajudá-la com seu problema. Para guiá-la na jornada, Dorothy recebe um par de sapatinhos de Rubi, eles a levariam para onde ela quisesse.

Durante sua trajetória ela encontra três aliados, com diferentes desejos, Ao chegar na Cidade das Esmeraldas, o Mágico diz que irá ajudar, mas para isso eles deveriam lhe entregar a vassoura da Bruxa Malvada do Oeste, como prova que a mesma havia sido derrotada. Após passarem por diversas desventuras, os amigos se unem, e juntamente ao povo Quading, conseguem matar a Bruxa. Para vencer a batalha, eles tiveram que usar de sua inteligência, sua pureza e sua coragem.

O Mágico, feliz com a morte das bruxas, conta aos heróis, que não poderia ajudá-los, e eles percebem que o Mágico não tinha poder nenhum. Na verdade, ele era apenas um velhinho chamado Oscar Diggs, um farsante ilusionista, que havia sido levado a Oz anos atrás, e assumiu o papel de Mágico-Deus para impedir que as Bruxas tomassem o poder da Cidade das Esmeraldas. Com a morte das duas, ele não tinha mais função ali e poderia voltar ao Kansas, sua cidade natal, e levaria Dorothy junto com ele.

Aos três amigos, o Mágico dá amuletos, representando um cérebro, um coração e uma porção coragem, e explica que na verdade eles são apenas símbolos, funcionam como placebo, pois tudo que eles mais desejavam, já tinham dentro deles, e usaram, inclusive, para derrotar a Bruxa.

O Mágico planeja uma viagem de balão para voltar ao Kansas, mas Dorothy acaba perdendo a decolagem e ficando em Oz. Sem saber como voltar para casa, Glinda reaparece e a lembra que ela também já tinha como fazer isso: os sapatinhos de Rubi poderiam levá-la onde ela quisesse. No final, após voltar para casa ela consegue afirmar com convicção “Não há lugar melhor do que em nosso lar”, ou seja, tudo que precisamos já existe dentro de nós.


N.Oz

Todos já devem ter lido, ou assistido, alguma versão de “O mágico de Oz”. E se não, provavelmente já ouviram falar das aventuras de Dorothy Gale. Na história de Frank Baum, de 1900, transformada em longa metragem em 1939, todos vão em busca do Mágico para conseguir alguma coisa: voltar para casa, coragem, coração e cérebro. E nessa jornada descobrirão que tudo isso já está dentro deles. No combate contra a Bruxa Malvada do Oeste demonstrarão todas essas qualidades. Sendo assim, será que eles precisavam do Mágico?

O Mágico apesar de um farsante, é essencial para o processo de autoconhecimento dos personagens. Sem ele, eles jamais conseguiriam perceber

Assim, criei uma analogia entre os conceitos da história com a relação HOMEM-ARQUITETURA. O Homem, como os personagens, é o principal agente no processo de mudança, mas precisa de algo que o incentive ou inspire para se engajar nesse processo. A Arquitetura assim, assume o lugar do Mágico, que apesar de não ter sozinha nenhum poder supremo transformador, é primordial para criar essa consciência no Homem.

Partindo dessa ideia, dividi a história em SETE ações principais. Cada uma delas representando um momento de transição, e criei associações com a realidade encontrada nos Jardins. Cada um desses momentos foi então materializado na for-

Isolamento: a vida no Kansas, excluída do resto do mundo. Idealização: o sonho com uma vida melhor, o passar por cima do arco-íris Contemplação: a chegada em Oz, um mundo até então desconhecido, pedindo para ser desbravado Percurso: a estrada de tijolos amarelos, a jornada para alcançar um objetivo. Interação: o encontro de vários personagens que vão sendo acrescentados na jornada, com um objetivo comum. Coletividade: A chegada à Cidade das Esmeraldas, onde encontrarão o mágico e

Em Isolamento e Idealização, são evocadas as relações do homem com ele mesmo; na Contemplação e no Percurso, as relações do homem com o meio, e finalmente em Interação e Coletividade, as do homem com o outro homem. Todas elas são feitas a partir da relação maior do homem com a Arquitetura.

Os eventos foram elaborados de forma sequencial; como uma história, a sucessão de fatos foi imprescindível na elaboração de cada um. Porém, reconheço que a partir do momento que eles são inseridos no meio urbano, essa ordem se desfaz, e eles se tornam elementos independentes, não importando a ordem que o visitante escolher realizar.


A esse conjunto de Eventos foi dado o nome de N.Oz (nós + Oz); intervenções urbanas com efeito-curativo a serem instaladas nos Jardins América e Europa (veja mais na brochura ‘os Jardins’). O intuito é de causar pequenas interferências na vida das pessoas, modificando suas rotinas, caminhares e olhares.

Associado à implantação dos Eventos, foi feito uma espécie de Guia para o público contendo a localização de cada.

No guia elas são tratadas de maneira fictícia como solução à uma ameaça maior que assolou a cidade em um futuro pós apocalíptico. A intenção é que ao usar a ficção o modelo de sociedade pode ser criticado de uma forma menos incisiva. Ao mesmo tempo que se conscientiza o



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Cena inicial do filme, mostrando o isolamento do Kansas.

Isolamento, A Vida no Kansas

O evento representa o Isolamento, a vida definida como ruim e sem graça. Assim para superar essa realidade considerada “preta e branca”, o indivíduo escolhe por viver excluso da sociedade, protegido, seguro, sem contato com o exterior. Submerso em si próprio. O primeiro evento se relaciona com a “Sociedade do indivíduo”, da clausura, do isolamento,


Praça das Guianas, local de implantação do Evento de Isolamento


Exemplo de inserção no local.

O evento acontece na forma de uma instalação na Praça das Guianas. A praça, foi escolhida como palco do evento, pois apesar de receber essa classificação (de praça), tem funcionado como um canteiro central separador de vias, e assim como a maioria das praças dos Jardins é mais um elemento de composição do desenho das ruas, do que um espaço para uso púbico. Apesar de estar em uma das áreas mais movimentadas do bairro, ela parece descolada do local de sua implantação, invisibilizada e isolada do entorno.

É construído um elemento subterrâneo que pode ser acessado através de um buraco no chão. O indivíduo desce nesse buraco por uma escada, acessando um túnel subterrâneo e posteriormente, uma porta que dá acesso a uma câmara fechada. Essa câmara possui paredes de vidro, e é envolta por uma caixa de água, uma espécie

O uso da água remete ao ideal de afundar-se em si mesmo, de submersão, e pode muito distantemente, ser uma associação a Atlantis (cidade que afundou por causa do egocentrismo de seus habitantes).

A altura da câmara se ergue para o exterior, abrindo-se em um segundo buraco. Diferentemente do primeiro, esse é fechado por uma cobertura espelhada por dentro e por fora. O indivíduo dentro da câmara se vê refletido no espelho do teto, e também nas paredes a sua volta, reforçando esse narcisismo.

Além disso a cobertura foi desenhada a partir da sobreposição dos limites volumétricos das construções que envolvem a praça, mais uma vez remetendo ao ideal da exclusão em si mesmo.

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Corte Longitudinal


Corte Longitudinal


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Limites volumétricos das construções que envolvem a praça, a sobreposição deles gerou a forma da cobertura. Vista da Cobertura refletindo a copa das árvores.


Planta Baixa



(**) Dorothy cantando “Over the Rainbow” enquanto idealiza um mundo mehlor. Idealização, Passando por cima do Arco-Íris

O evento da Idealização, representa o sonho, ou o modelo de uma vida perfeita e sem problemas. Tem relação com o escapismo, a fuga dos males, a negação da realidade, colocando-se em um patamar superior, longe dos defeitos do mundo “inferior”.

(**) “Em algum lugar além do arco-íris, bem lá em cima Existe uma terra sobre a qual ouvi falar [...] Onde os problemas derreteram como balas de limão Muito acima do topo das chaminés É lá que você vai me encontrar”

(Over the Rainbow, Judy Garland, 1939 Tradução Livre).


Praça General San Martín, local de implantação do Evento de Idealização.


Exemplo de inserção no local.

Ele está localizado na Praça General San Martín, que se localiza do lado oposto à Praça das Guianas. Essa intervenção funciona como o oposto da anterior. Enquanto a primeira se projeta para baixo, em direção ao subsolo, esta se ergue para o céu.

Ele está localizado na Praça General San Martín, que se localiza do lado oposto à Praça das Guianas. Essa intervenção funciona como o oposto da anterior. Enquanto a primeira se projeta para baixo, em direção ao subsolo, esta se ergue para o céu.

Tem a forma de um boco monolítico em altura, com uma entrada próxima ao topo, que pode ser acessada por uma escada. Ao entrar no bloco há uma plataforma presa ao teto, que fica pendurada, sem nenhum tipo de apoio no chão. A cobertura também é uma superfície espelhada, e foi desenhada seguindo a mesma lógica da anterior, a única diferença é que essa tem uma abertura central para entrada de luz.

O ato olhar para cima e enxergar o céu, é uma referência crença de se estar um lugar melhor, elevado, paradisíaco, pacífico, quando na realidade, o homem ainda está preso em uma “caixa”, excluído do exterior, e em isolamento, apenas imaginando


Vista Frontal


Vista Posterior


Planta Baixa

Corte

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Vista Interna da abertura zenital.

Limites volumétricos das construções que envolvem a praça, a sobreposição deles gerou a forma da cobertura.





(**) Encantamento inicial de Dorothy ao chegar em Oz

Contemplação, A Chegada em Oz

O evento da Contemplação tira o indivíduo de uma posição passiva, dando-lhe poder de ação e de diálogo com o próprio evento. Representa o encantamento que se tem ao se deparar com algo novo ou desconhecido. O ato de contemplação tem ligação direta com a visão, e as formas de olhar e deslumbrar o objeto admirado. O indivíduo só passa a se identificar com o meio, e criar relações com o mesmo quando passa a olhá-lo com outros olhos.


Locais de implantação do Evento de Contemplação


Foram selecionados pontos que mereciam ser notados e ganhar uma nova atenção; ou por terem sido planejados para um fim e estarem sendo utilizados para outro, ou porque tem um potencial negligenciado, ou por estarem abandonados e sem uso, ou, finalmente, por terem relevância histórica para o local. Esses pontos serviram de base para implantar essa intervenção.

Ela, assim, não se localiza em um lugar específico, mas se espalha pelo bairro todo, criando uma rede de ligações virtuais, formada por diversos mirantes de alturas diferentes, que variam de acordo com sua posição geográfica.

Essas torres de observação podem ser usadas para perceber o bairro como uma totalidade, criar novas referências, e insinuar deslocamentos, quando o usuário percebe a existência de uma outra torre em outro ponto.

Além disso, no topo de cada um desses mirantes existem lunetas com diferentes tipos de lentes (coloridas, angulares, de perspectiva distorcida, quebradas, caleidoscópicas, olho de mosca etc.), que vão modificando as formas de olhar.

Topo do mirante com luneta em corte.


Topo do mirante com luneta em vista.

Lunetas com tipos de lentes variadas: coloridas, angulares, de perspectiva distorcida, quebradas, caleidosc贸picas, olho de mosca


Vista do Mirante


Corte do local com intervenção.




(**) Dorothy inicia o percurso, na estrada de Tijolos Amarelos.

Percurso, A Estrada de Tijolos Amarelos

O Percurso representa a trajetória a ser seguida para se alcançar o objetivo desejado. Fazendo assim referência à peregrinação, ao caminho a ser seguido em busca do objetivo final. .

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Locais de implantação do Evento de Percurso


Exemplo de inserção no local.

Nele é criada a intenção de um trajeto. Superfícies são penduradas nos postes por cabos, cobrindo a zona carroçável da rua, gerando sombra e sugerindo uma trilha a ser seguida por entre os bairros. Essas superfícies, por estarem elevadas na altura da copa das árvores, podem ser vistas tanto do topo das torres contemplativas, como também do nível de quem anda na rua.

Assim, o Percurso e a Contemplação estão fortemente interligados. Ao subir nos mirantes, o caminho coberto, que até então era visto apenas parcialmente pelo pedestre, pode ser notado em sua totalidade, como um elemento único; e ao deslocar-se de uma torre à outra, passase por parte desse caminho.

As ruas que recebem a implantação do evento foram escolhidas a partir das rotas que eu mesma percorri durante a pesquisa de campo. Assim como no evento anterior, os trechos selecionados foram aqueles que considerei relevantes, e que acreditava que precisavam receber novas

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Corte de rua.



Corte de rua em perspectiva.




Dorothy encontra os outros personagens, e vão todos na busca do Mágico

Interação, O Espantalho, o Leão e o Homem-de-lata

Interação é ter contato com o outro, é a ação mútua entre dois corpos. Esse evento, portanto, só se efetuará em sua totalidade caso a ação humana favoreça essa ocorrência. .

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Praças Nossa Senhora do Brasil, locais de implantação do Evento de Interação.


Exemplo de inserção no local. Em frente à Igreja Nossa Senhora do Brasil nas duas praças existentes, uma de cada lado da avenida (Praças Nossa Senhora do Brasil), foram instaladas duas torres estruturais interligadas por uma passarela. As torres seriam revestidas por uma superfície translúcida que impossibilita a visão clara do ambiente externo. Somente na passarela o revestimento é transparente.

O elevador funciona da seguinte forma: uma primeira pessoa que está de um lado da avenida aperta um botão para subir, mas o elevador só funcionará caso exista uma segunda pessoa do outro lado querendo subir também. Dessa forma a segunda pessoa permite o acesso da primeira, uma terceira permitirá o acesso da segunda e assim por diante, o mesmo ocorre para descer.

Ao subir as escadas chega-se no topo da torre; a passarela, porém está um nível acima, cujo acesso só poderá ser feito através de um elevador elétrico.

Assim, apesar da interação estabelecida entre as duas pessoas ser indireta, uma troca de favores com um desconhecido do outro lado da avenida, existe uma comunicação re-

(**)


Corte Longitudinal.




Vista externa em perspectiva.



Dorothy e seus amigos chegam à Cidade das Esmeraldas.

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Coletividade, A Cidade das Esmeraldas

Nenhum homem sobreviverá sozinho, só poderá ascender com o outro. O contato social, os debates, as conversas, as discussões são primordiais para a evolução. Assim se faz necessário descer ao patamar humano, e abdicar dos interesses pessoais de cada indivíduo para a busca de um bem comum. O Mágico pede aos heróis que tragam a vassoura da Bruxa, como prova de sua morte.

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Praça Adolfo Bloch, local de implantação do Evento de Coletividade.


Placas em estado original.

Placas rebaixadas com o peso das pessoas.

O evento da Coletividade, mostra então como indivíduos isolados se tornam um todo, ao agir juntos na busca por algo maior, e que essa ação não seja por obrigação, ou coerção, mas por uma vontade mútua.

O local de escolha foi a praça Adolfo Bloch, que teria capacidade de funcionar como um parque local; no entanto, apesar de possuir equipamentos diversos e já ter sido palco de alguns eventos culturais, educacionais e de lazer, a frequência de pessoas ainda é baixa.

Trata-se de uma plataforma montada sobre o chão formada por diferentes placas que vão abaixando conforme as pessoas pisam. Essas placas possuem um sistema capaz de captar o peso de cada pessoa e são ligadas à um telão. Ao atingir um peso determinado, o sistema liga a tela e são exibidos

Assim graças às conexões de uma rede de pessoas cooperando como um grupo, atinge-se o objetivo final.

Porém o evento não acaba nesse ponto. Partindo da ideia de uma “rede de pessoas conectadas”, no final cada indivíduo recebe um QR CODE, que permite acesso à uma página digital. Essa página, além de conter conteúdos teóricos, e explicativos a respeito do projeto, pretende se tornar uma plataforma de discussão atingindo mais pessoas e abrangendo mais assuntos.

A intenção aqui é empoderar os cidadãos como agentes da mudança urbana, dando-lhes poder para agir através de um meio que permita-lhes



Vista superior.


Vista em perspectiva.




S贸 a ARQUITETURA n茫o basta.



Ascens達o


Ascensão

Como ascensão eu nomeei não apenas o que seria o evento final, mas também a forma que conclui o meu trabalho. O evento final, não foi desenhado, pois o que aconteceria a seguir dependeria exclusivamente de como as pessoas resolvessem agir.

O que é um Manifesto? Um manifesto é uma declaração. É uma declaração com a finalidade de revelar ao público alguma posição (política, religiosa ou artística) de quem o defende. É a forma maior de mostrar seus princípios, intenções, atos ou fundamentos. Um manifesto pode ser de caráter crítico, revolucionário ou de repúdio. Acredito que todos os esforços e questionamentos apresentados nesse ensaio seriam em vão se não tivessem um objetivo maior. Tudo o que foi escrito nesse volume teve como intenção de sustentar a máxima de que “Só a Arquitetura não basta”. Portanto, para que essa máxima pudesse se validar, optei pela produção de um elemento final; a redação de um manifesto, que organizasse e empoderasse cada questão aqui discutida.




Para Concluir Você pode concordar com o defendi nessa obra. Pode discordar também. Pode ter se sentido tocado, ou apático. Mas se chegou até aqui, deve ter percebido que durante todo o volume tentei defender que nenhuma obra deve tentar impor nada. Que sozinha, ela não tem poder de mudar ou obrigar uma situação, e que tudo depende das vivências, desejos e convicções daquele que tiver contato com ela. Que o início e o fim, as questões e as respostas estão sempre nas pessoas. E voltando àquela questão que fiquei de responder lá do início; se a arquitetura pode “mudar o mundo, ou “mudar um mundo”, eu realmente acredito que ela é essencial, mas não é peça única. Para mim o maior agente da mudança é o próprio homem; e Só a Arquitetura não basta.



S贸 a ARQUITETURA n茫o basta.


Referências Bibliográficas -

Cidades e Coletivos

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LERNER, Jaime. Acupuntura Urbana. Record. 2003.

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http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/03.027/758 13/10/2015.

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http://www.jaimelerner.com/ acesso em 16/11/2015

http://largodabatata.com.br/a-batata-precisa-de-voce/ acesso em 20/09/2015 http://noticias.r7.com/sao-paulo/fotos/grupos-participam-do-festival-baixo-centro-no-minhocao07042013#!/foto/3 acesso em 16/11/2015

https://www.thehighline.org/blog/2015/11/04/parkscope-fall-foliage-tour-with-nyc-park-speriscope acesso em 16/11/2015

http://archigram.westminster.ac.uk/ acesso em: 15/10/2015

Imagens (1) https://www.thehighline.org/blog/2015/11/04/parkscope-fall-foliage-tour-with-nyc-park-speriscope acesso em 16/11/2015 (2) https://www.thehighline.org/blog/2015/11/04/parkscope-fall-foliage-tour-with-nyc-park-speriscope acesso em 16/11/2015 (3)

http://cocidade.com.br/ acesso em 16/11/2015

(4)

http://archigram.westminster.ac.uk/ acesso em: 15/10/2015

(5)

http://christojeanneclaude.net/


Referências Bibliográficas - Bairros Jardins

ANDRADE, Carlos Roberto Monteiro de. Barry Parker: um arquiteto inglês na cidade de São Paulo. São Paulo, Tese (doutorado), 1998. BACELLI, Roney. Jardim América. São Paulo São Paulo, 1982. CULTURA, Secretário Jorge Cunha Lima, Gabinete do Secretário. Resolução 2 de 23/01/86, nos termos do Artigo 1º do Decreto-Lei 149 de 15 de agosto de 1969 e do Decreto 13.426, de 16 de março de 1979. (Resolução de Tombamento dos Jardins). Publicado no Diário Oficial do Estado em 25 de janeiro de 1986, Seção I, pp. 19-20. MUNHOZ, Mauro, 2011. Cia City: Como a Cia City participou do desenvolvimento de São Paulo, 2011. Vídeo – entrevista. Acessado em 07 de novembro de 2012. “O tombamento dos Jardins” In Folheto comemorativo do “Tombamento das áreas que compõem os Jardins América, Europa, Paulistano e Paulista”, em ato presidido pelo Governador Franco Montoro no dia 23 de janeiro de 1986 nos Jardins do Museu da Casa Brasileira. PAULA, Zuleide Casagrande de. A cidade e os Jardins: Jardim América, de projeto urbano a monumento patrimonial (1915-1986). São Paulo: Editora Unesp, 2008. PONCIANO, Levino. São Paulo: 450 bairros, 450 anos. São Paulo: Ed. SENAC São Paulo, 2004. PONCIANO, Levino. Bairros Paulistanos de A a Z. São Paulo: Ed. SENAC São Paulo, 2001. TOLEDO, Benedito de Lima. Prestes Maia e as Origens do Urbanismo Moderno de São Paulo. São Paulo. Martins Fontes, 2005. WOLFF, Silvia Ferreira Santos. Jardim América: o primeiro bairro-jardim de São Paulo e sua arquitetura. São Paulo, EDUSP: FAESP: Imprensa Oficial, 2001.

Imagens

(1)

WOLFF, Silvia Ferreira Santos. Jardim América: o primeiro bairro-jardim de São Paulo e sua arquitetura.

(2)

In Folheto comemorativo do “Tombamento das áreas que compõem os Jardins América, Europa, Paulistano e Paulista”, em ato presidido pelo Governador Franco Montoro no dia 23 de janeiro de 1986 nos Jardins do Museu da Casa Brasileira.

(3)

Mapas Históricos da Prefeitura de São Paulo, Biblioteca de Cartografia da USP.


Referências Bibliográficas — Sociedades Paralelas

BARROS, José D. A. A cidade-cinema pós-moderna: uma análise das distopias futuristas da segunda metade do século XX. Palhoça. SC. 2011 JACOBY, Russell. Imagem Imperfeita: Pensamento Utópico para uma Época Antiutópica. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2007, p. 31 KOOLHAAS, Rem. ZENGHELIS, Elia. Exodus, or the voluntary prisioners of Architecture, 1972. SADLER, S. Archigram: architecture without architecture. Cambridge, 2005. http://archigram.westminster.ac.uk/ acesso em: 15/10/2015 http://www.archdaily.com/582842/haus-rucker-co-architectural-utopiareloaded acesso em 07/12/2015

Imagens (1)

KOOLHAAS, Rem. ZENGHELIS, Elia. Exodus, or the voluntary prisioners of Architecture, 1972.

(2)

http://archigram.westminster.ac.uk/ acesso em: 15/10/2015

(3)

http://www.archdaily.com/582842/haus-rucker-co-architectural-utopiareloaded acesso em 07/12/2015


Referências Bibliográficas - N.Oz BAUM, Frank. O Maravilhoso Mágico de Oz. Edição e tradução Gazeta dos Caminhos de ferro. 1940 (Original 1900)

WIZARD of Oz, The. Direção: Victor Fleming. Produção: -Mayer .1939. Technicolor.

Metro-Goldwyn

Imagens (**)WIZARD of Oz, The. Direção: Victor Fleming. Produção: Goldwyn-Mayer .1939. Technicolor.

Metro-



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