BARBARA MORAES FERREIRA
Trabalho de Conclusão de Curso Bacharelado em Arquitetura & Urbanismo ao Centro Universitário Senac Santo Amaro
FERREIRA, Barbara Moraes.
Cidade Fragmentária: Bom Retiro como Paisagem Colagem
Orientador: Ralf José Castanheira Flôres Centro Universitário Senac – Santo Amaro, São Paulo, 2017 Palavras chave: Bom Retiro; colagem; montagem; paisagem urbana pós-moderna; identidade.
DEDICATORIAS
Aos meus pais, maiores inspirações da minha vida. Aos amados Diego, Felipe e Maria Luisa, por estarem presentes nesse processo e por contribuírem de inúmeras maneiras. Ao meu querido orientador Ralf, pelas orientações esclarecedoras e inspiradoras, dedicação e confiança neste projeto.
RESUMO A cidade pós-moderna acompanha o progresso na reestruturação espacial que proporcionou o aumento da diversidade e fragmentação da estrutura social. Diante desses processos de reorganização urbana e busca pela identidade, originou-se uma reflexão pós-moderna sobre a paisagem a partir da relação entre elementos figurativos e fragmentados, a teoria arquitetônica do fragmentário, resultando no livro Collage City publicado em 1978. Os autores propõem o método fragmentário como solução para o problema da arquitetura moderna, isolando os indivíduos e as edificações ao seu entorno. A teoria oferece a estratégia de fazer acréscimos graduais na cidade tradicional como forma alternativa à demolição e reedificação em massa das décadas de 1950 e 1960. Hoje, convive no Bom Retiro a sobreposição dos diferentes tipos históricos que fazem da região uma importante herança urbanística da cidade de São Paulo, criando significados através de edifícios tombados, fachadas, jogo de escalas, cores, formas, texturas e marcos visuais que se configuram em fragmentações urbanas e que se conectam à metrópole cuja arquitetura revela o passado e presente juntos. Propõe-se aqui, uma nova paisagem para o bairro Bom Retiro através da criação de um vídeo utilizando como ferramenta a colagem e a montagem, sugeridas pela teoria “Cidade Colagem”, a fim de entender essa identidade composta por fragmentos diversos.
Summary The postmodern city follows progress in spatial restructuring that provide rise to diversity and fragmentation of social structure. Faced with processes of urban reorganization and search for identity, a postmodern reflection on the urban landscape originated from the relationship between figurative and fragmented elements, an architectural theory of the fragment, resulting in the Collage City book published in 1978. The authors propose the fragmented method as a solution to the problem of modern architecture, isolating individuals and buildings to their surroundings. The theory offers a strategy of making incremental increases in the traditional city as an alternative to the demolition and massive rebuilding of the 1950s and 1960s. Today, shares in Bom Retiro layers of the different hystoric types that turns the region an important urban heritage in the city of São Paulo, creating meanings through tiled buildings, façades, scales, colors, shapes, textures and visual landmarks that are configured In urban fragmentations and that connect to the metropolis where the architecture reveals the past and the present together. Here, I propose a new landscape for the Bom Retiro through the creation of a video, using the collage, suggested by the theory “Collage Citty”, as a way to to understand this identity composed by diverse fragments.
INDICE 1. CIDADE E FRAGMENTO
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Paisagem Urbana Paisagem Urbana pós-moderna Colagem, montagem e fragmento 2. A CIDADE DE SÃO PAULO
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História, imigração e desenvolvimento urbano 3. ESTUDOS DE CASO
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Rem Koolhas Blade Runner 4. BAIRRO DO BOM RETIRO
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5. BOM RETIRO COMO PAISAGEM COLAGEM
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6. CONCLUSÃO
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7. BIBLIOGRAFIA
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8. REFERÊNCIAS DE IMAGENS
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1. Cidade e Fragmento No século XX, a transformação urbana dos espaços, sua escala e velocidade implicam nos aspectos da paisagem resultante de hoje. Nesse período começou-se a pensar a estrutura dos espaços que buscasse os ajustes de acordo com os atributos da metrópole moderna, que era formada não só de elementos morfológicos como logradouro, avenidas, lotes, quarteirões, bairros, vegetação, edifícios e mobiliário urbano, mas também pelo reconhecimento de aspectos como suas relações sociais, econômicas e culturais que, em função dessas características, exprime as relações em sua esfera social e produtiva. Outro aspecto influente na formação do pensamento e características urbanas do século XX foi de acordo com o modo produção e desenvolvimento financeiro. O pensamento industrial do século XIX deixou o legado de nações mais independentes comercialmente, um fator que se transformou em conflito entre os Estados, acrescentando competição econômica e influenciando diretamenteno valor social moderno, como explica Regina Maria Prosperi Meyer: A observação do desenvolvimento urbano das metrópoles, sobretudo nos séculos XIX e XX, atesta seu indiscutível papel na consolidação do modo de produção industrial dos países onde se localizam. A partir de modelos e princípios urbanísticos muitas vezes distintos na aparência, mas bastante semelhantes na essência, o espaço de vida da sociedade industrial, localizado na metrópole moderna, apresentou variações de padrões urbanísticos ditados pela intensidade e pelo teor dos “impulsos renovadores”. A disseminação desses modelos, como sempre ocorre com a difusão de valores econômicos e culturais, produziu resultados muito distintos fora de seus contextos originais. Assim, a metrópole europeia, a americana, a latino-americana e as asiáticas criaram padrões e organização material, de formas de crescimento de vida cultural urbana, de imagem urbana, de relações com a natureza, que exprimiram simultaneamente a lógica do sistema produtivo e a singularidade de seus contextos históricos. (MEYER, 2000, p.3) 11
Diante dessa “explosão” urbana, a paisagem moderna mundial é caracterizada por guiar a imagem do progresso urbano, a cidade metrópole torna-se objeto de remodelações e mudanças espaciais. Uma das consequências desse avanço na cidade de São Paulo se deu pela segregação urbana, resultante da falta de consideração dessas especificidades sociais, econômicas e culturais que caracterizam a metrópole, melhor explicada por Flávio Villaça: A forma mais tradicional de estudo da segregação urbana é aquela que aborda o centro versusperiferia urbanos. Essa forma raramente é apresentada como segregação nem é analisada sob essa óptica. Tem o mérito de não ser por bairro, mas por região urbana ou conjunto de bairros. Entretanto, limita-se fundamentalmente a uma descrição, limita-se a denunciar a injustiça, não conseguindo explicar a segregação nem articulá-la ao restante da estrutura urbana e da totalidade social. Além disso – e isso já seria motivo suficiente para rejeitá-la – é falsa como descrição da segregação. Segundo ela, em nossas metrópoles (e também nas cidades médias e grandes), a segregação darse-ia segundo círculos concêntricos, com os mais ricos no centro e os mais pobres na periferia. (VILLAÇA, 2011, p. 37)
Além da segregação urbana, novos questionamentos acerca da qualidade espacial e de vida de seus habitantes foram sendo desenvolvidos. Jane Jacobs foi uma das percursoras que criticava a forma de crescimento dos Estados Unidos na década de 50, e desenvolveu práticas de renovação dos espaços públicos da cidade. Na introdução de seu livro “Morte e Vida de Grandes Cidades” ela explica: Este livro é um ataque aos fundamentos do planejamento urbano e da reurbanização ora vigentes. É também, e principalmente, uma tentativa de introduzir novos princípios no planejamento urbano e na reurbanização, diferentes daqueles que hoje são ensinados em todos os lugares, de escolas de arquitetura e urbanismo e suplementos dominicais e revistas femininas, e até mesmo 12
conflitantes em relação a eles. Meu ataque não se baseia em tergiversações sobre métodos de reurbanização ou minúcias sobre modismos em projetos. Mais que isso, é uma ofensiva contra os princípios e objetivos que moldaram o planejamento urbano e a reurbanização modernos e ortodoxos. (JACOBS, 2011, p. 1)
Não só na questão espacial, Georg Simmel já previa em 1902 como as consequências dos problemas mais graves da vida moderna influenciariam também na qualidade mental de seus habitantes: A metrópole extrai do homem, enquanto criatura que procede a discriminações, uma quantidade de consciência diferente da que a vida rural extrai. [...] Nisto, uma conscientização crescente vai assumindo a prerrogativa do psíquico. A vida metropolitana, assim, implica uma consciência elevada e uma predominância da inteligência no homem metropolitano. A reação dos fenômenos metropolitanos é transferida àquele órgão que é menos sensível e bastante afastado da zona mais profunda da personalidade. (SIMMEL, 1987)
Percebe-se que muitos são os problemas acerca do planejamento urbano que se deu ao longo do século XX, possibilitando inúmeras análises micro e macro-urbanas, e que buscou o melhor entendimento e soluções morfológicas de acordo com as necessidades mais urgentes de cada cidade e seus habitantes. É da evolução desse pensamento espacial que o pensamento pós-moderno se instaura. O pósmodernismo trata-se de um período marcado por grandes mudanças e descobertas tecnológicas, sociais, artísticas, cientificas e arquitetônicas e que tornaram a produção mais rápida e facilitadora na vida das pessoas. David Harvey traduz da seguinte forma:
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O pós-moderno (…) privilegia a ‘heterogeneidade e a diferença como forças libertadoras na redefinição do discurso cultural’. A fragmentação, a indeterminação e a intensa desconfiança de todos os discursos universais ‘totalizantes’ são o marco do pensamento pós-moderno. (HARVEY, 1992, p.19)
A cidade pós-moderna acompanha o progresso na tecnologia dos transportes, no aumento da mobilidade e na reestruturação espacial que proporcionaram o aumento da diversidade e da fragmentação da estrutura social. Exemplo dessa fragmentação urbana são edifícios com a mistura de usos e a existência de enclaves na cidade, como implantações que possuem uma diferença brusca do tecido urbano em seu entorno, ou um centro comercial em uma periferia rural, ou um condomínio de luxo próximo a bairros populares. Essas e outras rupturas nos tecidos vão contra a linha e pensamento modernista que previa um plano ideal para a cidade. Teresa Barata Salgueiro comenta sobre essa diversidade: Finalmente, devemos referir o padrão aleatório destes novos acontecimentos urbanos. Ora surgem no centro, ora na periferia, uns são fruto da reabilitação de imóveis degradados, outros nascem com a renovação de áreas obsoletas, outros ainda são construídos de raiz num local que rapidamente ganhou acessibilidade ou, pelo contrário, cujo isolamento permite adquirir o solo a baixos custos, como no caso da habitação social. Este padrão aleatório é simplesmente produto social do jogo do mercado imobiliário pouco regulado, e processos especulativos de valorização e, não tanto das condições locais em termos de distância ao centro ou a zonas de emprego, do nível local do comércio e dos equipamentos ou da qualidade do ambiente. (SALGUEIRO, 1998, p.41)
O pós-modernismo mistura tendências, estilos e tem caráter pluralista, seu ambiente tem relação com a cibernética, a robótica industrial, a biologia e medicina molecular, a medicina nuclear, a tecnologia dos alimentos, as terapias psicológicas, a climatização, as técnicas de embelezamento, 14
o trânsito computadorizado, e os eletroeletrônicos. Os indivíduos são submetidos a uma série de informações constantes e que confundem sua identidade, como explica Zygmunt Bauman abaixo: Quando falamos de identidade há, no fundo de nossas mentes, uma tênue imagem de harmonia, lógica, consistência: todas as coisas que parecem – para nosso desespero eterno – faltar tanto e tão abominavelmente ao fluxo de nossa experiência. A busca da identidade é a busca incessante de deter ou tornar mais lento o fluxo, de solidificar o fluido, de dar forma ao disforme. Lutamos para negar, ou pelo menos encobrir, a terrível fluidez logo abaixo do fino envoltório da forma; tentamos desviar os olhos de vistas que eles não podem penetrar ou absorver. Mas as identidades, que não tornam o fluxo mais lento e muito menos o detêm, são mais parecidas com crostas que vez por outra endurecem sobre a lava vulcânica e que se fundem e dissolvem novamente antes de ter tempo de esfriar e fixar-se. (BAUMMAN,1925.p. 97)
Diante desses processos de reorganização urbana e busca pela identidade, originou-se uma reflexão pós-moderna sobre a paisagem a partir da relação entre elementos figurativos e fragmentados, a teoria arquitetônica do fragmentário se consolidou por Colin Rowe (1920-1999) com colaboração de Fred Koetter, resultando no livro Collage City escrito em 1973 e publicado em 1978. A crítica do livro, sobretudo ao projeto moderno, se dá através da análise urbana utilizando de instrumento a adoção da comparação entre figura-fundo, um dualismo que tem relação entre a aceitação da realidade, bem como a articulação de partes isoladas, sendo possível definir descontinuidades e tempos sobrepostos nos mapas das cidades. Os autores propõem o método fragmentário como solução para o problema da arquitetura moderna, que privilegiava a construção de objetos e criava áreas sem vida no espaço urbano, isolando as pessoas e as edificações ao seu entorno sem ressaltar o papel do espaço público na identidade da cidade. A teoria oferece a 15
estratégia de fazer acréscimos graduais na cidade tradicional como forma alternativa à demolição e reedificação em massa das décadas de 1950 e 1960: A crítica de Rowe e Koetter prossegue com uma revisão dos modelos de utopia urbana vigentes por volta de 1965, que variavam do “nostálgico” ao “profético”. Esses diferentes modelos são importantes quando considerados em relação uns aos outros, mas vistos separadamente são rejeitados por serem demasiadamente radicais. Em lugar deles, Rowe e Koetter propõem a noção da colagem como uma técnica e um “estado de espírito” tingido por uma certa ironia. Os autores propõem esse método fragmentário como solução para o problema do “novo”, sem sacrificar a possibilidade de um pluralismo democrático: “a cidade-colagem [...] poderia ser um meio de admitir a emancipação e de permitir a todos os participantes de uma situação pluralista sua expressão legítima. (NESBITT, 1996, p. 293)
A visão fragmentária abre possibilidade para um método de combinação de elementos das cidades tradicional e moderna, combinando imagens não semelhantes ou uma descoberta de semelhanças ocultas em coisas aparentemente díspares, sendo um mecanismo que vê a importância das duas partes heterogêneas, na qual muda o objeto de contexto, estimulando uma análise feita de maneira sobreposta. Essa cidade fragmentária pode ser identificada em qualquer local do mundo, pois é composta de fragmentos contemporâneos e complexidade em suas culturas, incluindo questões de identidade de seus habitantes e a cidade utópica que se quer construir, como explica Josep Maria Montaner trecho abaixo: Existe uma relação entre a aceitação da realidade – uma realidade cada vez mais fragmentada, descontínua e descentralizada – e a aceitação paulatina das teorias da complexidade e da cultura do fragmento. Isso admite um tipo de formas artísticas híbridas, compostas pela confluência de fragmentos heterogêneos. (MONTANER, 2002, p. 186) 16
As sobreposições da cidade fragmentária e seu sistema figura-fundo, procedente das teorias psicológicas da Gestalt sobre a percepção da forma, observa a cidade como paisagem cultural resultante da sobreposição do tempo e de seus componentes dessa imagem: base, fundo, objetos, etc., interpretando a realidade visível de forma sistemática, que consistia em distinguir a figura sobre o fundo de forma que pudesse analisar a comparação desses tecidos. Segundo Josep Maria Montaner, essa nova cultura do fragmento pode utilizar basicamente dois mecanismos de projeto para a elaboração de formas a partir de tais condicionantes: a colagem e a montagem, explicadas da seguinte forma: Por uma parte, um método semelhante à colagem inventado por cubistas e dadaístas, explorando a sobreposição ou a articulação de distintos fragmentos históricos, tipológicos ou estilísticos em uma mesma obra arquitetônica e urbana. A colagem como mecanismo criativo percorreu grande parte do século XX. Utilizada por George Braque, Pablo Picasso, Juan Gris, Marx Ernst ou Andé Breton, também a encontramos nos escritos e nas músicas de Erik Satie quando este fala de compor com “os ruídos das ondas, revólveres, máquinas de escrever, sirenas ou aviões”. Portanto, a colagem não é um mecanismo meramente visual, mas sim uma técnica ou estratégia formal contemporânea baseada no agrupamento de peças heterogêneas que conformam um novo objeto ou ensambladura E, por outra parte, a recorrência aos mecanismo narrativos e perceptivos da montagem cinematográfica, paradigma de arte do século XX, que consegue articular as imagens da montagem sequencial de uma narração unitária. (MONTANER, 2002, p. 186)
Pode-se dizer que a fragmentação está presente na cidade ainda hoje e conduz no desenvolvimento de novas relações entre cidade e sociedade e que constituem exemplos visíveis no novo tipo de organização fragmentada. Na arquitetura, temos alguns exemplos de arquitetos que trabalham 17
com a ideia de colagem e articulação de elementos isolados variados em suas obras, diferente dos classicistas, organicistas, estruturalistas e minimalistas, segundo Josep Maria Montaner, “encontramos antecedentes da fragmentação e da sobreposição em obras que evidenciam a crise do sistema unitário renascentista, desde o Palácio do Chá em Mantua de Giulio Romano até a visão fragmentária do Barroco tardio nas gravuras de Gian BattistaPiranesi”.
Palácio do Chá em Mantua1
Cárceres, de Gian Battista Piranesi2
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2. A cidade de Sao Paulo A cidade de São Paulo desenvolveu-se rapidamente principalmente através da indústria do café, com início em 1817 e auge em 1882. A província já tinha traços em sua formação urbanística: linhas de bondes, iluminação da cidade a gás, inauguração da linha férrea São Paulo-Rio de Janeiro, e com a atividade econômica cafeeira surgiu uma oligarquia rural, que propiciou o enriquecimento de diversas cidades e permitiu a chegada de imigrantes, que vieram atraídos pela possível riqueza através do café. Eles desembarcavam em Santos e de lá eram encaminhados de trem até o Brás, e se hospedavam na Hospedaria dos Imigrantes – hoje virou o Museu da Imigração – e de onde partiam para as lavouras de café no interior do estado. O Relatório da Comissão de Estatística acusou para a população paulistana, em 1887, um total de 12.290 estrangeiros no conjunto dos 47.697 habitantes da capital. Destes eram: italianos 5.717, portugueses 3.502, alemães 1.187, espanhóis 379, franceses 351, austríacos 340, ingleses 255, africanos 205, de diversas outras nacionalidades 354. [...] Assim, a fênix paulistana começara a renascer das cinzas graças ao alento do cafezal de Oeste, de produção cada vez mais considerável, atraindo as pontas dos trilhos para mais e mais longe, saltando por sobre os cerrados para atingir as grandes manchas ferazes como sucedeu com Jaú e Ribeirão Preto. São Paulo cresce como reflexo do cafezal do Ocidente. E este espraiouse graças à existência de São Paulo Railway e suas tributárias Paulista, Ituana, Mojiana, Sorocabana. (TAUANAY, 2004. p.325)
Muitos desses imigrantes optaram por ficar na capital, e formaram-se bairros com a presença de estrangeiros fazendo parte da construção e formação da cidade de São Paulo economicamente e socialmente. O cultivo do café alterou as práticas culturais desses imigrantes em seu modo de 19
vestir, comportamento, objetos domésticos, e, naturalmente houve uma adaptação em relação ao novo espaço em que se inseriam. Nos séculos XIX e XX representantes de mais de 70 nacionalidades chegaram ao Brasil com o sonho de “fazer a América”. Desembarcaram em terras brasileiras com o anseio de refazer suas vidas trabalhando nas lavouras do café e na indústria paulista. Desde então, trouxeram contribuições expressivas para a história e formação cultural do país. Um conjunto de heranças como sobrenomes, sotaques, costumes, culinária e vestimentas, são, até os dias atuais, traços significativos desse processo. (http://museudaimigracao.org.br/o-museu/historico/)
A partir da década de 50, com o avanço da industrialização, tecnologia, indústria automobilística, grandes obras urbanísticas e poder econômico, a cidade de São Paulo avançou rapidamente e sua morfologia urbana, crescimento e escala são rapidamente modificados. Solange Ferraz de Lima e Vânia Carneiro de Carvalho tentam explicar essa organização: O centro, como área de ocupação original, antiga e pelas funções gerenciadores que assumiu, articulando os estratos político e econômico da cidade, manteve características de alta heterogeneidade, o que o tornou um espaço privilegiado, talvez o único possível, para a construção visual daquelas qualidades consideradas próprias de condição metropolitana – diversidade, dinamismo, crescimento, transformação, modernidade, comunicação, etc. A caracterização com o centro urbano neste período está relacionada com o processo de metropolização. (LIMA, CARVALHO, 2008. P. 150)
Uma das principais características da Cidade de São Paulo era o ritmo extremamente acelerado de urbanização e a ausência de mecanismos eficientes de controle que pudessem orientar a ocupação da cidade e garantir a qualidade de vida de seus habitantes. O primeiro Plano Diretor 20
de Desenvolvimento Integrado (PDDI) da cidade foi aprovado somente em 1972, atrasado em relação a planos vigentes de outras cidades do mundo, através da gestão do prefeito José Carlos de Figueiredo Ferraz que via os problemas da cidade em nível metropolitano, e estipulava prazos de até dez anos para a conclusão de uma série de obras. Essa nova lei é tão ou mais pois disciplinará efetivamente Levará à divisão do município habitacionais, que se subdivirão, população variável de 20 a 50
importante do que o metrô, o crescimento da cidade. em 20 anos, em 450 áreas por sua vez, em unidades com mil pessoas. (FERRAZ, 1972)
Diante desse constante e acelerado desenvolvimento, a cidade de São Paulo vem passando por uma série de transformações espaciais, sociais e econômicas que tornaram a cidade que conhecemos hoje. A construção de uma cidade por meio de diversas culturas é repleta de referências, memórias e construção de relações nas quais os homens desenvolvem uns com os outros. Mescladas à cultura paulista, uma atmosfera abstrata é criada onde a identidade de um local é confundida e está em constante formação, permitindo inúmeras possibilidades de análises, dentre elas a comparação dos tecidos urbanos que conferem função e sentido ao espaço, de que a cidade é uma paisagem formada por seus componentes de imagem fragmentários: valores, memórias, identidade, ideologias, expectativas, mentalidades e transformação morfológica do espaço.
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3. Estudos de Caso No campo da arquitetura, Rem Koolhaas escreveu diversos questionamentos acerca da cidade, como em um de seus mais famosos ensaios “Delirious New York”, pesquisa que dizia a respeito da influência das massas e da cultura metropolitana na arquitetura e no urbanismo de Manhattan. Ou em “Cidade Genérica”, no qual o arquiteto busca compreender quais espaços seriam abrangentes e representantes da vida estereotipada de cada aglomeração urbana. Em outra pesquisa, “A cidade contemporânea”, Koolhaas escreve sobre as novas formas de arquitetura que exploram as possibilidades das transformações que vem ocorrendo. Kate Nesbitt explica: Parte importante de sua crítica está na ideia de que, embora a “pureza” (por exemplo, a delimitação exata ou definição do objeto autônomo) pudesse ter sido desejável nos edifício modernos, ela provocou problemas de desorientação na escala da cidade. A arquitetura moderna, na forma de renovação urbana, devastou os centros históricos das cidades. “Espaços abertos” amplos e indiferenciados, que pretendiam sugerir liberdade, substituíram o domínio público tradicional e simbólico. O automóvel mudou o ritmo da vida na cidade e rasgou em pedaços o espaço dimensionado para o pedestre com a construção de vias expressas”. ( NESBITT, 1996, p. 357)
Nessa arquitetura de caráter teórico, crítico e irônico, o arquiteto usa como fonte de inspiração em seus estudos mecanismos de montagem e colisão como uma forma de questionamento acerca dos problemas urbanos. É possível identificar essa técnica na maioria de suas obras, e destaco em especial o projeto “Exodus, or the Voluntary Prisoners of Architecture” no qual Rem Koolhas com seus colegas criaram para um concurso uma série de 18 desenhos, aquarelas e colagens, a respeito de uma utopia sobre o centro urbano de Londres.
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O Archigram estava no auge de seu poder e grupos como Archizoom e Superstudio concebiam estórias arquitetônicas supondo uma vasta expansão do território da imaginação arquitetônica. [...] ‘Exodus, ou os Prisioneiros Voluntários da Arquitetura’ foi uma reação a essa inocência: um projeto para enfatizar que o poder da arquitetura é mais ambíguo e perigoso. Baseado no estudo ‘O Muro de Berlim como Arquitetura’, Exodus propunha apagar uma seção do centro de Londres para estabelecer ali uma zona de vida metropolitana - inspirada em Baudelaire - e proteger esta zona da cidade antiga com muros, criando o máximo de divisão e contraste. As pessoas em Londres poderiam escolher: aqueles que desejassem ser admitidos nesta zona de hiperdensidade se tornariam ‘Os Prisioneiros Voluntários da Arquitetura’. (NESBITT, 1996, p. 357)
Essa utopia urbanista demonstra a arquitetura sendo poderosa e frágil ao mesmo tempo, um projeto que sugere uma intenção positiva e que irá resolver as “condições indesejáveis” da cidade nas quais o arquiteto observou examinando o muro de Berlim, através de uma arquitetura que esconde o peso opressor da segregação e diversos outros problemas que o muro propicia. Essa nova arquitetura grandiosa proporcionaria as condições ideais num caráter de vivência coletiva, e os habitantes que se confinassem ali seriam os prisioneiros voluntários. A arquitetura é descrita de forma irônica, e se apropria de questões históricas, teóricas e culturais, que estavam sendo debatidas nos anos 1970 como a participação dos usuários na arquitetura, a arquitetura monumental e simbólica, o questionamento dos condicionamentos sociais trazido pela contracultura, o espaço abstrato criado pelos arquitetos, a arte de museu como produto da sociedade capitalista, a sociedade do espetáculo, o consumismo, o hedonismo, a violência entre os homens, evasão do establishment, a psicodelia, as drogas, o autoconhecimento, a psicanálise etc.
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Neste projeto Exodus, a Strip é composta de monumentos coletivos, que correspondem a ambientes dispostos em sequência, listados da seguinte maneira: Área de Recepção, Área Central, Praça Cerimonial, A “Tip” (Ponta) da Strip, o Parque dos Cinco Elementos, Praça das Artes, Banhos, Instituto das Transações Biológicas, Parque das Agressões e Os Loteamentos. Cada um desses ambientes possui uma descrição criada pelo grupo com uma utilidade justificada. Para Koolhaas, a crítica aos arquitetos modernos não resultou numa arquitetura mais democrática, mas sim em mais construções. Essa distorção dos ideais libertários de 1968 se deve à incapacidade dos arquitetos de pensarem através de outros meios que não seja a construção. Segundo Koolhaas, esse “fanatismo dos arquitetos pela arquitetura” seria um sintoma do medo que eles têm do vazio, do nada: Talvez o fanatismo dos arquitetos - uma miopia que os levou a acreditar que a arquitetura não é apenas o veículo para tudo o que é bom, mas também a explicação para tudo o que é ruim - não é meramente uma deformação profissional, mas uma resposta ao horror da arquitetura oposta, um recuo instintivo do vazio, um medo do nada. (KOOLHAAS, 1985, p.202)
The central area, Prologue e The Park of Aggression 3 4 5
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The Strip6
The Strip7
The reception8
The Central area9
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The Allotments10
The Allotments11
Em paralelo com a montagem cinematográfica, um exemplo de fragmento e sobreposição pode ser facilmente identificado através do filme Blade Runner (1982), dirigido por Ridley Scott. O cenário do filme se passa em Los Angeles de 2019, em uma cidade que se assemelha a Tóquio, Osaka, Hong Kong, Macau ou Shangai. Josep Maria Montaner descreve esse cenário e suas sobreposições mais detalhadamente abaixo:
Trata-se de um mundo povoado por animais artificiais, robôs, ciborgues e androides: uma realidade mestiça e ambígua onde convivem propostas arquitetônicas do passado e os artifícios do futuro, a cidade ocidental e a cidade oriental. As formas urbanas tradicionais europeias de ruas, pórticos e galerias estendem-se pela base da cidade. Arranha-céus e torres de extração de petróleo emergem na parte mais elevada. Também aparece, na paisagem urbana do filme, três edifícios reais de Los Angeles – os exultantes interiores do Bradbury Building de 1893, aa Ennis-Brown House de Frank Lloyd Wright de ‘924 27
e a Union A Station de 1939 -, e diversas obras arquitetônicas futuristas extraídas de Sant’Elia e do filme Metropolis. É um mundo de misturas e não de segregação, de sociedades onde alguns protagonistas falam uma língua ‘franca” resultante da hibridação de inglês, espanhol, italiano, árabe e línguas orientais. Como nos mostra o filme, o tempo da cultura do fragmento, semelhante ao que ocorre na cultura pop, é um tempo que flui, que é composto por sobreposições, onde o passado, o presente e o futuro se fundem e confundem. E o sujeito é aquele que busca a sua própria ética dentro da diversidade, aquele que pode se deleitar com a simultaneidade de todas as correntes da arte e, de maneira hedonista, eleger entre os diversos impactos estéticos recebidos. Refere-se ao tempo e ao sujeito da música elétrica que executam intérpretes como Uri Caine. Este que elabora, com seu conjunto de músicos procedentes de diversas partes do mundo, composições que acumulam: a música clássica de Bach, Wagner ou Mahler sobre um substrato de jazz que explicita os experimentos atonais do Schonberg: as improvisações de John Cage e Thelonius Monk; fragmentos de música folclórica, swing, gospel, pop e, inclusive, todo tipo de misturas e distorções de disc-jóquei.(MONTANER, 2002, p. 188)
Cena do filme Blade Runner 12
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Cena do filme Blade Runner 13
Habitantes do filme Blade Runner: seres humanos e androides compartilham do mesmo espaรงo 14
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O filme traz reflexões filosóficas sobre a vida em si, no estilo clássico Noir. O personagem principal, Rick Deckard, trabalha como policial na Terra e precisa acabar com os “replicantes”, eufemismo para quem ilegalmente retornou à Terra. No decorrer do filme, Rick Deckard questiona seu trabalho, na dúvida se o lado da lei no qual ele pertence é o lado certo, bem como se aquela é a sociedade que ele gostaria de viver e perpetuar, indagando se não há uma solução melhor. Os replicantes são personagens com tecnologia altamente avançada, nos levando a uma discussão também do papel da tecnologia em nossas vidas. No filme fica claro que esses replicantes facilitaram a vida de alguns seres humanos fazendo trabalhos, cuidando e enriquecendo a Tyrell Corporation, mas o filme apresenta um medo nítido que os humanos possuem devido aos replicantes estarem se avançando muito rapidamente e que eles possam criar mais problemas para a sociedade do que resolver. Como o objetivo de Rick Deckard é identificar os retirantes dos humanos, o filme traz questionamentos sobre qual a verdadeira diferença entre eles, afinal, replicantes também possuem um lado humano com emoções, memórias, um corpo físico, etc. que levanta questões identitárias. Em ambos os estudos de casos, existe uma questão indefinida acerca não somente do questionamento espacial, mas também da identidade, seja da cidade ou de seus habitantes. Neles, existe uma tentativa de construção de um espaço que é a mistura de referências, etnias e paradigmas urbanísticos que fazem parte da nossa realidade espacial atualmente.
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4. Bairro do Bom Retiro O Bom Retiro é um bairro peculiar. Sua atmosfera é composta de fragmentos revelados a partir particularidades espaciais e identitárias, que se formaram através do tempo e que hoje implicam na compreensão do bairro, transformadas em relações no sentido de paisagem cultural como “bem cultural”, bem como suas relações de “campo de forças” e “representações sociais”, como explica Ulpiano Toledo Bezerra de Meneses: Não se trata de estratos, segmentos, ou compartimentos, nem de propriedades diferentes, formas diferentes, efeitos diferentes – mas de focos diferentes para a observação da natureza, estrutura, funcionamento e transformação de uma realidade altamente complexa e dinâmica. [...] O bem cultural tem matrizes no universo dos sentidos, da percepção e da cognição, dos valores, da memória e das identidades, das ideologias, expectativas, mentalidades, etc. Todavia, as representações, para deixarem de ser mero fato mental ou psíquico e integrarem à vida social, precisam passar pelo fundo sensorial, do universo físico: o patrimônio ambiental urbano tem matrizes na dimensão física da cidade, pois é por meio de elementos empíricos do ambiente urbano que os significados são instituídos, criados, circulam, produzem efeitos, reciclam-se e se descartam. Afinal, a corporeidade é a base de nossa condição humana.(MENESES, 2006, p. 36)
Sua origem tem início no século XIX quando o local era totalmente ocupado por sítios e chácaras, locais de descanso e lazer da elite paulistana. Seu nome originou-se da “Chácara do Bom Retiro” que, ao ser loteada, deixou o nome ao atual bairro. Os primeiros imigrantes europeus, particularmente italianos, se fixaram no final do século XIX e instalaram a primeiras grandes fábricas como Anhaia, de tecidos de algodão, e a Cervejaria Germânia, hoje pertencente ao grupo Antártica. 31
O bairro se projetou às margens do rio Tamanduateí e se situou ao lado da São Paulo Railway, mais conhecida como Estrada de Ferro Inglesa, que se tornou a Estrada de Ferro Santos a Jundiaí e hoje fica sob o domínio da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) como Estação da Luz, e é símbolo do período cafeeiro. A via férrea permitiu a chegada de mercadorias e instalação de depósitos, e por esse motivo houve a proliferação de indústrias dessas mercadorias e que tornou o bairro essencialmente operário. A partir de 1900, o bairro começou a se expandir comercialmente com as obras da nova Estação da Luz, com a construção do viaduto unindo as ruas José Paulino e Couto de Magalhães e com a execução da passagem inferior da Alameda Nothmann sob as linhas da Inglesa. Os primeiros imigrantes do bairro foram os italianos que chegaram em 1880, e os israelitas em 1900 que transformaram o bairro num ambiente propício para a chegada de outras nacionalidades: portugueses, sírios, libaneses, turcos, russos e a partir da década de 70, coreanos. Hilário Dertônio explica no livro “O Bairro do Bom Retiro” a evolução da população de 1872 a 1970, no qual a densidade do bairro tinha de maneira estimada 500 habitantes, e evoluiu para 44.507 habitantes em 1969, e indica que no ano em que ele escreveu o livro, 1971, “a população do bairro já está próxima do seu ponto de saturação”. [...] Em conclusão, poder-se-á admitir que a população estrangeira no bairro do Bom Retiro se tenha distribuído como segue: de 1870 a 1890, em maioria portugueses, de 1900 a 1940, predominantemente de origem itálica; e de 1950 a 1970, de forte predominância israelita. (DERTÔNIO, 1971, p. 22)
Conforme muitos imigrantes continuavam a chegar, houve modernização das antigas confecções, que impulsionou a região a se tornar uma das principais produtoras de roupas do país. Em seguida chegaram latino-americanos como bolivianos, peruanos e paraguaios, entre outros, em busca de
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emprego dentro da dinâmica de produção de roupas. Além dos estrangeiros, migrantes nacionais, principalmente das regiões Norte e Nordeste também escolheram o Bom Retiro para morar e trabalhar. Segundo o livro “Bom Retiro: Memória Urbana e Patrimônio Cultural”, desde a década de 1950, a migração nacional foi intensa para as grandes capitais como São Paulo. Esses migrantes também ajudaram a formar e bairro e, até hoje, veem-se muitos deles trabalhando em vários dos estabelecimentos locais. A diversidade visual permite contar a história da ocupação da região, revelando suas temporalidades. Edificações representativas da cultura material operária da virada do século XIX para o XX postam-se ao lado de edificações modernistas, de galpões industriais e de sofisticadas lojas de roupas. (SCIFIONI, 2007, p. 19)
Os imigrantes operários moravam principalmente em vilas, que ainda persistem no bairro como vestígio material. Essa transformação gerada pela economia implicou não somente nas edificações públicas de grande porte e moradias de elite, mas também gerou uma grave crise de moradia decorrente do aumento populacional, no qual a cidade se setorizava com áreas destinadas aa comércio, a moradia operária, a moradia de elite e as áreas industriais. Surgiu então o tema da moradia popular o início do século XX que diante de inúmeras tentativas do governo de sanar o problema, surgiram os cortiços no Bom Retiro, na forma de um programa de moradia para os trabalhadores livres urbanos: Foram adotadas medidas para normatizar a habitação popular, sobretudo no âmbito da legislação municipal e na concessão de benefícios ao setor privado para o empreendimento de construções destinadas ao aluguel. A autuação do Estado, no que tange o habitar social foi a de incentivar empreendedores a construírem, em locais específicos da cidade, casas para abrigar os trabalhadores urbanos. (SCIFIONI, 2007, p. 20)
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No Bom Retiro encontramos diversas vilas operárias, as mais conhecidas são a Vila Economizadora e a Vila Inglesa, que são particulares, e ainda há diversas vilas menores, mas com características originais feitas de tijolo como técnica construtiva da chegada da mão de obra italiana. Na virada do século XIX para o século XX, a ocupação do bairro se deu por uma arquitetura marcada até hoje com comércio no térreo e fábrica no pavimento superior, característica que fincou raízes na maneira como se formaram os loteamentos, nas especificidades da indústria de confecção de roupas e nos aspectos da ocupação imigrante. Os protagonistas da transformação do Bairro como centro de indústria de comércio de roupas foram os imigrantes judeus, renovando as construções para se tornarem lojas, e as casas foram dando espaço a prédios de quatro a cinco andares. A ocupação judaica deixou importantes marcos edificados no bairro. As dez sinagogas, dentre elas a primeira da cidade de São Paulo, são seu registro mais visível e específico. Outras formas de construção, mais sutilmente ligadas, seja ao momento histórico de sua ocupação inicial, seja às suas práticas socioculturais, podem lhe ser referenciadas. Este é o caso das tipologias industriais acima referidas, parte da história do comércio na cidade de São Paulo e, também, dos imigrantes judeus no bairro. (SCIFIONI, 2007, p. 22)
O Bom Retiro não viveu muito o boom nos anos 60 com a verticalização no centro, mas seus edifícios sofreram transformações com prédios de dois a quatro andares representativos do movimento moderno, resultando na paisagem atual em construções com pilotis, uso térreo para comércio e revestimento em pastilhas que evidenciam a intenção plástica como marca do bairro. Após os anos 60 o Bom Retiro vivia a valorização imobiliária que levou a construções de mais galerias, aumentando o comércio cada vez mais e que permitiu, com a chegada dos coreanos, a
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sofisticação do comércio, bem como a reforma das lojas que ganharam caráter de alto padrão, revestidas com materiais nobres e seguindo padrões comerciais de bairros sofisticados. Scifioni explica a concentração dessas lojas junto com outra característica predominante do bairro: É importante destacar que a concentração destas lojas se dá justamente onde, entre 1940 e 1953, foi delimitado o território para confinamento da prostituição feminina na cidade de São Paulo. As ruas Cesare Lombroso, Aimorés, Ribeiro de Lima e Carmo Cintra tinham quase 150 casas de tolerância, com cerca de 1,4 mil mulheres, três postos antivenéreos, uma delegacia de polícia e alguns bares e restaurantes. Mesmo após o fim da zona de confinamento, a região permaneceu desvalorizada e é hoje, a mais transformada, com pouco ou quase nenhum vestígio material do passado. Esta é a localidade de aspecto mais contemporâneo no bairro, onde lojas são reformadas a cada dia. (SCIFIONI, 2007, p. 24)
É possível perceber diante da história do desenvolvimento do bairro que a imagem da cidade que se buscava civilizar por meio de arquiteturas que representassem a sociedade urbana, se encontra na diversidade de expressões arquitetônicas e espaciais do Bom Retiro, um bairro que revela em suas construções marcos culturais já contemplados como monumentos históricos, vilas operárias, edifícios e apartamentos dos anos 40 e 50, sobrados, pequenos galpões de confecção e comércio de roupas. Observar a arquitetura do Bom Retiro, sob a ótica de seus processos históricos, buscando identificar relações, continuidades e rupturas, representa entender também o espaço construído sob a faceta do multiculturalismo e valorar a memória dos tantos grupos sociais de imigrantes que ali convivem. (SCIFIONI, 2007, p. 26)
É verdade que temos percepções individuais sobre determinado ambiente urbano. As imagens da cidade compõem uma paisagem que se ressignifica somadas às experiências de cada um de nós. 35
Carregamos diferentes histórias e contextos ao longo da vida e que sobrevivem aos tempos e se transformam em experiências únicas. Porém, perceber o contexto em que estamos inseridos requer sensibilidade para que a cidade se transforme em experiências mais significativas, e não apenas práticas automatizadas. Quando permitimos observar determinado espaço, nos inserimos no contexto de pertencimento e começamos a agregar sentido a esses lugares. Dessa observação, a riqueza do bairro aparece gradualmente através de caminhadas de descobertas. Nota-se principalmente a presença de edifícios de usos culturais e comerciais, bem como diversos marcos na paisagem que já fazem parte da identidade da cidade. Selecionei alguns croquis e fotografias que realizei no “álbum de registro” a seguir que mostram alguns desses marcos na paisagem do Bom Retiro, bem como a variedade tipológica nos edifícios e seus usos. Por trás desses registros já existe a intenção de analisar os edifícios sem levar em consideração o seu entorno, enaltecendo as qualidades das obras destacadas de forma a criar um dualismo “figura-fundo, de acordo com proposição da teoria “Cidade-Colagem”.
SESC Bom Retiro15
Paróquia Nossa Senhora Auxiliadora16
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Sinagoga Kehilat Israel17
Escola de Samba Gaviões da Fiél18
Colégio Santa Inês19
Rua José Paulino20
Restaurante Acrópolis21
Monumento ao Corinthians na Rua José Paulino 22
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Arquivo histórico de São Paulo 23
Arco remanescente do antigo Presídio Tiradentes 24
Pinacoteca do Estado de São Paulo25
Estação da Luz26
Faculdade de Tecnologia do Estado de São Paulo 27
Igreja Metropolitana Ortodoxa Grega28
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Igreja Missionária Oriental de São Paulo29
Oficina Cultural Oswald de Andrade 30
Observando os registros percebe-se que, repleto de edifícios com arquiteturas emblemáticas e ricos por si só, os usos do bairro não são prioritariamente comerciais e como polo de compras têxteis, mas também um local que acolhe interesses culturais e sociais, como o Centro Cultural Oswaldo de Andrade, que oferece diversas aulas e palestras, assim como o SESC Bom Retiro repleto de atividades educativas e esportivas, destaca-se também a Pinacoteca, um dos principais museus da cidade de São Paulo, além da história contada através do remanescente Portal do Presídio Tiradentes, hoje tombado pelo CONDEPHAAT. Outros usos de marcos sociais, como o bem conhecido localmente restaurante Acrópolis, pertencente a uma família de gregos que moram na região e que hoje são parada obrigatória para quem permeia pelo bairro.
Advocacia com fachada coreana31
Fachada Coreana32
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Rua JosĂŠ Paulino33
Mercadinho com fachada Coreana 34
Feira livre na Rua Newton Prado35
Mercearia com fachada coreana 37
Barraca de flores36
Centro Cultural Oswaldo de Andrade 38
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Colégio Santa Inês39
Bolivianos dançando40
Cruzamento Rua Newton Prado x Rua da Graça 41
Vendedor ambulantes43
Passeio de bicicleta42
Grafitti ao lado do Parque Luz44
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Estação da Luz45
Estação da Luz46
Estação da Luz e Sala-São Paulo ao fundo47
Grafitti48
Sinagoga judaica49
Pinacoteca do Estado do São Paulo50
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Fachada com elemento chinês 51
Rua da Graça52
Restaurante grego53
Restaurante grego54
Aula de pintura no Parque da Luz 55
Crianças no Parque da Luz56
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Gato em frente à loja57
Edifícios que compõem a paisagem 58
Jardim japonês do batalhão da Polícia Militar 59
Shopping Bom Reitro60
Senhora lendo o jornal 61
Jornal coreano do bairro 62
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Os edifícios do Bom Retiro tornam-se fragmentos que compõem uma paisagem híbrida historicamente e culturalmente, rica em seus aspectos urbanísticos, sociais e culturais. As diversas etnias que agora juntas convivem, adaptaram suas culturas e apresentam no bairro festas característicos anuais. Suas tradições foram incorporadas e acolhidas pelo bairro, hoje chamado carinhosamente pelos moradores de “Tudo de Bom Retiro”. São muitas as caras do Bom Retiro, com variações étnicas e um multiculturalismo presente em seus retratos. Abaixo alguns dos indivíduos menos tímidos que conheci, e que compõem a identidade visual do bairro e a riqueza de culturas.
Andrea e sua amiga, peruanas63
Garçom do Acrópolis66
Aglaia, hoje dona do Acrópolis 64
Gladys, boliviana e costureira67
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Samuel Jun, descendente de coreano65
Letícia, produtora cultural68
Patrícia, nasceu no bairro69
Professora na igreja coreana67
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5. Bom Retiro Como Paisagem-Colagem Vimos que hoje convive no Bom Retiro a sobreposição dos diferentes tipos históricos que fazem da região uma importante herança urbanística da cidade de São Paulo, criando significados através de edifícios tombados, fachadas, jogo de escalas, cores, formas, texturas e marcos visuais que se configuram em fragmentações urbanas e que se conectam à metrópole cuja arquitetura revela o passado e presente juntos, onde apesar das sobreposições em suas transformações espaciais, sua base territorial não alterou a essência do bairro. Perceber o Bom Retiro como camadas de significações revela seu hibridismo através da convivência, valores, memória, identidade, ideologias, expectativas, mentalidades e transformação morfológica espacial. É nessa percepção que eu procuro aplicar o pensamento da teoria “CidadeColagem”, resultando na construção de uma arquitetura permeável que se encontra no presente e que, através da colagem e montagem, é possível articular as possibilidades de leitura desses fragmentos. Considerando que a teoria Cidade-Colagem busca uma leitura da cidade através do sistema figura-fundo, representar as qualidades do Bom Retiro implica em separar os componentes de sua paisagem para começar a criar os possíveis resultados. Diante das inúmeras possibilidades de trabalhar com a colagem e a montagem, a opção de criar um vídeo foi tomada pela oportunidade de unir uma ferramenta atual e moderna, representando o profético, acrescentando memórias e valores de edifícios que configuram marcos visuais na paisagem, representando o nostálgico, compondo assim uma narrativa repleta de signos acerca do bairro. A técnica utilizada para criação do vídeo foi a partir de uma maquete já utilizando a colagem, gravação em vídeo da maquete, edição com inserção de áudio, colagem de cenas, etc. que foi inspirada no vídeo abaixo, onde cenas em movimento acontecem numa cena de colagem estática: 47
Verknipte Tijden, vídeo colagem de Gideon van der Stelt 71
O processo trata-se do reconhecimento da identidade de um bairro que faz parte de uma cidade global, transformando o contexto onde está inserido cada um desses signos arquitetônicos presentes no Bom Retiro. Utilizar novos instrumentos de análise urbana em função da atual complexidade da cidade contemporânea permite que encontremos semelhanças mais que aparente em alguns centros e periferias de cidades distantes geograficamente. É nessa complexidade que a cidade-colagem poderia se inserir em outros contextos de diferentes cidades globais, mostrando a diversificação da cultura mundial. Na dissonante variedade tipológica fruto da intensa produtividade atual, essa leitura estabelecida da cidade contemporânea é, portanto, a vontade de se fazer presente ou ausente ao entorno. Esse 48
dualismo que estabelece um conceito de análise segundo contraposições, tal como as relações nostálgico/profético, cheio/vazio, opacidade/transparência, simetria/assimetria, figura/fundo, plano/massa, razão/emoção, abstração/empatia, agora não se preocupa tanto com a forma urbana, mas sim com a dinâmica do meio social que se desenvolve neste espaço urbano, e na qual a arquitetura tem papel substancial. O dualismo presença/ausência reflete uma arquitetura que não deixa de fazer parte da cidade, afinal, a cidade pode ser entendida como várias arquiteturas reunidas. Essa nova atitude de dicotomia perante a cidade que a teoria Collage City prevê, busca relacionar-se positivamente com o espaço a ser ocupado. No desenvolvimento do vídeo como produto final, a maquete não foi somente uma ferramenta para o vídeo, mas também uma representação dessa leitura diante do Bom Retiro. Elementos que configuram um bairro multicultural, porém vistos plasticamente em cores neutras como o preto, branco e cinza, destacando alguns edifícios escolhidos como marcos na sua identidade arquitetônica. O vídeo apresenta aproximação e afastamento, um dualismo que tem relação com os depoimentos dos indivíduos que frequentam o bairro e de cenas que acontecem nele, transformadas em duas linguagens representadas de maneiras diferentes, porém sutis. A estação da Luz ganha destaque ao representar o início do bairro, meio pelo qual chegaram os imigrantes que ajudaram no desenvolvimento do Bom Retiro. Os áudios e depoimentos complementam e comprovam um bairro híbrido, revelando sotaques, opiniões e memórias.
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Registros da maquete72
Esses elementos resultam em um vídeo de estudo arquitetônico e plástico, que representa uma forma de observação sobre o desenvolvimento do bairro. Essa ferramenta que explora as morfologias urbanas e os indivíduos que fazem parte dela, sintetizados num video que entende o bairro como um patrimônio cultural, e que sendo assim, que não poderia deixar de resultar em uma obra artística. Assim, o Bom Retiro se relaciona e se integra ao ambiente contemporâneo. O bairro proporciona um ambiente espacial onde os indivíduos aceitam sua pluralidade, entrecruzando-as simultaneamente. Hoje o bairro é um exemplo de coesão, pela ênfase no espaço público e por sua capacidade de acumular vestígios e traçados na história, reelaborando constantemente sua memória. 50
6. ConclusAo O multiculturalismo presente no bairro do Bom Retiro permite contar uma história urbana repleta de signos, possibilitando uma leitura diversificada da cidade e compreendendo suas qualidades. A Cidade-Colagem pode ser utilizada como um novo instrumento de análise urbana, que ajuda na compreensão de cidades globais e complexas como a cidade de São Paulo. O processo busca reconhecer a identidade de um bairro que se desenvolveu de acordo com a pluralidade de diferentes culturas que foram incorporadas como fragmentos no bairro. Essa leitura possibilitou valorizar os diversos marcos arquitetônicos presentes na paisagem do bairro, bem como a valorização das culturas adaptadas e que hoje convivem juntas, mostrando uma arquitetura sem preconceitos sociais. Apesar de fragmentos, a junção desses signos, tanto materiais quanto imateriais, tornam-se uma unidade só, ressignificando a paisagem de uma cidade global e trazendo reflexões sobre identidade, arquitetura, cidade, memórias, pessoas e valores que se mesclam e se transformam constantemente.
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8. referencias de Imagens Imagem 01: Palácio do Chá em Mantua – 2005 https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/f/f4/Palazzo_Te_Mantova_4. jpg/280px-Palazzo_Te_Mantova_4.jpg Imagem 02: Cárceres, de Gian BattistaPiranesi – 1761 http://1.bp.blogspot.com/-kqFKkZgUPaI/U62BUq1q6mI/AAAAAAAACJ4/LFuA3cAfHzE/s1600/ Piranesi,+1750.jpg Imagem 3: The Central Area http://socks-studio.com/img/blog/Rem-Koolhaas-and-Elia-Zenghelis-with-MadelonVriesendorp-and-Zoe-Zenghelis.-Exodus-or-the-Voluntary-Prisoners-of-Architecture-TheCentral-Area-project.jpeg Imagem 4: Prologue http://socks-studio.com/img/blog/Rem-Koolhaas-and-Elia-Zenghelis-Madelon-Vriesendorpand-Zoe-Zenghelis.-Exodus-or-the-Voluntary-Prisoners-of-Architecture-Prologue-project.jpeg Imagem 5: The Park of Aggression http://socks-studio.com/img/blog/Rem-Koolhaas-and-Elia-Zenghelis-with-MadelonVriesendorp-and-Zoe-Zenghelis.-Exodus-or-the-Voluntary-Prisoners-of-Architecture-The-Parkof-Aggression-project.jpeg Imagem 6: The Strip https://artstor.files.wordpress.com/2012/09/moma_11890001.gif?w=500 Imagem 7: The Strip http://socks-studio.com/img/blog/Exodus8-800x620.jpg
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Imagem 8: The Reception http://socks-studio.com/img/blog/Exodus2-800x588.jpg Imagem 9: The Central Area http://socks-studio.com/img/blog/Rem-Koolhaas-and-Elia-Zenghelis-with-MadelonVriesendorp-and-Zoe-Zenghelis.-Exodus-or-the-Voluntary-Prisoners-of-Architecture-TheCentral-Area-project-Plan.jpeg Imagem 10: The Allotments https://www.researchgate.net/profile/Lara_Schrijver/publication/233115606/figure/fig2/AS: 320030903422977@1453312721776/Figure-12-Rem-Koolhaas-’The-Allotments’-from-RLKoolhaas-and-E-Zenghelis-with-M.png Imagem 11: The Allotments http://payload203.cargocollective.com/1/4/137547/6373538/Exodus5-800x561.jpg Imagem 12: Cena do filme Blade Runner http://cdn.theconversation.com/files/92980/width1356x668/image-20150826-32509-1p6a3sv.jpg Imagem 13: Cena do filme Blade Runner https://upload.wikimedia.org/wikipedia/en/4/49/Blade_Runner_spinner_flyby.png Imagem 14: Habitantes do filme Blade Runner: seres humanos e androides compartilham do mesmo espaço http://3.bp.blogspot.com/-11OGX7dNoag/UIIEKxEcGUI/AAAAAAAAAjo/mvkYXvpJkzg/s1600/ blade-runner-1982-36-g.jpg Imagem 15: Cena tiradas do vídeo colagem Verknipt Tijden/Distorted Times https://vimeo.com/62719253
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Imagens 15 a 30: Croquis da autora Imagens 31 a 70: Fotografias da autora Imagem 71: Cena do vĂdeo Verknipte Tijden, vĂdeo colagem de Gideon van der Stelt https://vimeo.com/55097842 Imagem 72: Registros da maquete da autora
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