Praça Cultural Guarapiranga

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PRAÇA CULTURAL

GUARAPIRANGA

EMILLY EMNY SANTOS



“Comer, sentar, falar, andar, ficar sentado tomando um pouquinho de sol... A arquitetura não é somente uma utopia, mas é meio para alcançar certos resultados coletivos. A cultura como convívio, livre-escolha, como liberdade de encontros e reuniões. Gente de todas as idades, velhos, crianças, se dando bem. Todos juntos.” (Lina Bo Bardi)



CENTRO UNIVERSITÁRIO SENAC BACHARELADO EM ARQUITETURA E URBANISMO

PRAÇA CULTURAL GARAPIRANGA EMILLY EMNY SANTOS

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Bacharelado de Arquitetura e Urbanismo do Centro Universitário SENAC – Santo Amaro, como parte dos requisitos para obtenção do título de Bacharel em Arquitetura e Urbanismo. Orientador: Prof. Esp. Artur Katchborian

São Paulo 2019


SUMÁRIO

R E S U M O . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1. . . . . . . I N T R O D U Ç Ã O . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .2 . . . . . . E S T U D O S D E C A S O . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3. . . . . . .

SESC Jundiaí ........................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................ 5 SESC 24 de Maio .................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................. 7 Centro Cultural São Paulo .................................................................................................................................................................................................................................................................................................................... 9 L E I T U R A D A R E G I Ã O . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .11 .....

Avenida Atlântica .................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................. 13 Educação, Arte e Sociocultura ............................................................................................................................................................................................................................................................................................................. 15 Espaços Públicos ....................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................20

O P R O J E T O . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23 .......

Proposição ............................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................ 25 Terreno: Informações ............................................................................................................................................................................................................................................................................................................................ 26 Terreno: Leitura ..................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................... 28 29 Programa: Fluxos .................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................. Programa: Áreas Públicas .................................................................................................................................................................................................................................................................................................................... 30 Programa: Orientação Solar ................................................................................................................................................................................................................................................................................................................. 31 Programa: Materialidades .................................................................................................................................................................................................................................................................................................................... 32 Programa: Articulação .......................................................................................................................................................................................................................................................................................................................... 33 Planta: Situação .................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................... 34 Planta: Embasamento ........................................................................................................................................................................................................................................................................................................................... 35 Planta: Térreo Elevado .......................................................................................................................................................................................................................................................................................................................... 36 Planta: Primeiro Pavimento ................................................................................................................................................................................................................................................................................................................... 37 Corte: Longitudinal 1 ............................................................................................................................................................................................................................................................................................................................ 38 Corte: Transversal 2 .............................................................................................................................................................................................................................................................................................................................. 39 Corte Perspectivado: Transversal 3 ..................................................................................................................................................................................................................................................................................................... 40 Corte: Transversal 4 .............................................................................................................................................................................................................................................................................................................................. 42 R E F E R Ê N C I A S B I B L I O G R Á F I C A S . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45 .......


RESUMO O presente Trabalho de Conclusão de Curso tem como finalidade a elaboração de um projeto arquitetônico de um Complexo Cultural na orla da Represa Guarapiranga, zona sul de São Paulo. Partindo da necessidade de equipamentos de cultura, aprendizado e lazer de caráter público na região, o projeto visa oferecer um espaço que atraia uma variada gama de pessoas, idades, classes e interesses diversos, que integre diferentes formas de expressão cultural, seja pela arte, pelos esportes, pela leitura e/ou pela saúde. Buscando entender a relação destes indivíduos com o espaço e criando uma nova relação da região com a água.

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INTRODUÇÃO Não se pode negar o caráter transformador e agregador que um equipamento cultural é capaz de alcançar no local em que é inserido. Ele cumpre seu papel de introduzir a população de uma cidade dentro da esfera ativa de cultura, proporcionando espaço para que todos – sobretudo os que não tem acesso à arte – ingressem e sejam apresentados às diversas formas de exteriorização que a cultura pode alcançar. Um polo cultural tem o poder singular de desconstruir a imagem préestabelecida de que a arte e a cultura são reservadas às classes mais abastadas da sociedade. O centro cultural engloba também o âmbito do lazer, e podemos entender o lazer igualmente como uma manifestação cultural. Quando falamos dos hábitos dos indivíduos de uma determinada região, estamos nos referindo diretamente a cultura daquele lugar. Então entende-se que o lazer é “[...] uma dimensão da cultura constituída por meio da vivência lúdica de manifestações culturais em um tempo/espaço conquistado pelo sujeito ou grupo social, estabelecendo relações dialéticas com as necessidades, os deveres e as obrigações” (GOMES, 2004, P.124). É necessário compreender que um edifício de tal caráter tem como virtude a capacidade de influenciar todo um planejamento urbano e regional, capaz de reconfigurar e recuperar antigas relações dos indivíduos com o meio. Obras como o Centro Cultural São Paulo (Eurico Prado Lopes e Luiz Telles) e SESC 24 de Maio (MMBB Arquitetos e Paulo Mendes da Rocha) provam a eficácia desse poder reconfigurador, ambos dando um novo significado a áreas deterioradas de São Paulo, colocando-as em protagonismo novamente. Um projeto munido de um bom partido arquitetônico, que deixa claro seu objetivo ao mesmo tempo em que supre as necessidades a que foi proposto, provam a competência de uma arquitetura de qualidade, pensada para as necessidades e, sempre, para as pessoas. Este é o propósito que a Praça Cultural Guarapiranga almeja alcançar. 2


ESTUDOS

DE

CASO

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SESC J u n d i

aí Fonte: ArchDaily. Foto: Joana França


SESC J u n d i a í Teuba Arquitetura e Urbanismo

LOCALIZAÇÃO: Jundiaí – SP, Brasil AUTORAS: Christina de Castro Mello e Rita Vaz ÁREA: 19.752 m² ANO DO PROJETO: 2014

OBJETIVOS DO PROJETO

Traduzir espacialmente o programa de atividades do SESC para cidadãos em geral e em particular para os trabalhadores do comércio e serviços, com atividades de lazer, integrando as diversas áreas que envolvem a cultura. Inserir a nova edificação na cidade, no terreno com características especiais: longo e estreito, junto ao Rio Jundiaí e ao Jardim Botânico e entre pontos altos da cidade, o Paço Municipal, o Centro Tradicional urbano e a Serra do Japi – área de preservação de mata atlântica. Resgatar características da arquitetura moderna brasileira: a articulação de opostos, a leveza, a transparência dos espaços, sem segredos, a fruição e a integração dos espaços internos e externos.

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Fonte: ArchDaily. Foto: Joana França


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SESC 2 4 d e M a i o

Fonte: Flagrante


SESC

24 de Maio

Paulo Mendes da Rocha +MMBB Arquitetos

LOCALIZAÇÃO: Rua 24 de Maio, República – SP, Brasil AUTORES: Paulo Mendes da Rocha, Fernando Mello Franco, Marta Moreira, Milton Braga ÁREA: 27.865 m² ANO DO PROJETO: 2017

OBJETIVOS DO PROJETO

• •

Abrigar, com uma praça sob o edifício existente, a ideia de transformação do lugar. A “Praça do SESC”, com caráter de galeria de passagem livre, ligada à animação da vizinhança. Deixar visível nas fachadas um caráter resultante da nova disposição para a massa do edifício, onde se vê esta inesperada sucessão de atividades superpostas, um novo e peculiar edifício de caráter próprio Dispor alguns espaços em níveis estratégicos com o sentido de praças cobertas, sem vedação nas fachadas, jardins suspensos – Praça de Convivência, Jardim da Piscina;

“ Acreditamos que o processo de transformação e desenvolvimento de cidades como São Paulo se faz acomodando-se lentamente às alterações dos costumes e modo de vida das sociedades que as constroem.” 7

Foto: Nelson Kon


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CENTRO CULTURAL

São Paulo Foto: Marcio de Assis


CENTRO CULTURAL

São Paulo

Eurico Prado Lopes & Luiz Telles

LOCALIZAÇÃO: Rua Vergueiro, Paraíso – SP, Brasil AUTORES: Eurico Prado Lopes e Luiz Telles ÁREA: 46.500 m² ANO DO PROJETO: 1979

SOBRE O PROJETO

• •

Não impõem-se visualmente, integra-se à paisagem de São Paulo e constitui-se como passagem e ponto de encontro para tantas pessoas diariamente Percorre uma “rua interna” de 300 metros de comprimento, que distribui todos os fluxos e as circulações. Todas as divisórias transversais são transparentes, proporcionando uma visão total e integração entre todos os programas e o jardim interno. A estrutura, mista de concreto e aço, é protagonista no espaço. Os pilares metálicos centrais, pintados em azul, abrem-se ao encontrar as vigas, remetendo a troncos de árvores. Na cobertura principal, panos translúcidos permitem a entrada de luz zenital, proporcionando abundante luz natural. 9

Fonte: Flickr. Foto: Renata Santoniero


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LEITURA

DA

REGIÃO

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G U A R A P I R A N G A

B I L L I N G S

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MAPA DA REGIÃO


AVENIDA ATLÂNTICA Da magnificência à decadência

A Avenida Atlântica é um dos principais eixos estruturadores de Interlagos, ligando as regiões suburbanas ao Largo do Socorro, que da acesso a Marginal Pinheiros, Avenida Santo Amaro, e outros importantes acessos da cidade. É conhecida por ser um polo de lazer e de intenso comércio, além de ser o limite físico entre a área residencial e a Represa Guarapiranga. Há alguns anos a avenida sofre com o abandono de imóveis e terrenos, onde mais de sessenta comércios deixaram a via desde 2011 e 37 estão vagos. Já os residenciais, são sessenta locais inabitados, disponíveis para venda e aluguel, total de 15% da área. Como é compreensível, comerciantes encontram dificuldades de manterse no local, e novos empreendedores não se sentem seguros de investir na região (MORAES, 2018). A orla da Represa Guarapiranga viveu sua fase áurea nos anos 60 e 70, quando os clubes náuticos estabelecidos lá atraiam paulistanos de todas as zonas da cidade. O Santapaula Iate Clube - o mais importante até aquela época – foi uma instituição frequentada pela alta sociedade de São Paulo. Teve sua obra iniciada e abandonada pelo antigo proprietário ainda na década de 50, que intencionava a construção de um conjunto de hotéis. Recebeu uma reforma, em 1961, assinada por Vilanova Artigas e Carlos Cascaldi, e foi inaugurado em 1964, juntamente com a Garagem de Barcos Santapaula – uma das primeiras manifestações da arquitetura brutalista paulistana. Com a popularização do Iate Clube 61 (como também era conhecido), o pacato bairro de Interlagos, que ainda estava sendo loteado, ganhou a atenção de novos empreendedores por seu potencial – afinal a Represa Guarapiranga já era conhecida como a praia de São Paulo – porém não possuía nenhuma infraestrutura que possibilitasse que os visitantes desfrutassem do que ela oferecia (GARCIA, 2015). Após sua inauguração, o Clube tornou-se um marco ilustre para a região, um refúgio para quem não queria perder tempo em congestionamentos para o litoral. Era o maior complexo de iate clube da América Latina, com suas instalações servidas de

piscinas, saunas, restaurantes, postos de controle, embarcadouro e oficina para os iates. Possuía uma infraestrutura refinada e extensa, oferecendo aos associados todas as recursos para que pudessem desfrutar do melhor que a Represa Guarapiranga pudesse oferecer (GARCIA, 2015). O Santapaula tinha tudo para ser um sucesso mas, por motivos ainda não esclarecidos, o complexo começou a entrar em decadência. Por volta da década de 80 o Iate Clube já não era mais o mesmo, já não possuía o mesmo fôlego dos anos anteriores e os associados foram desaparecendo. Gradativamente o espaço foi encerrando suas atividades, e fechou oficialmente ainda naquela década. No presente momento este marco arquitetônico está ignorado, maltratado pelas ações do tempo, tomado por infiltrações e pichações por toda parte. Entretanto o antigo Iate Clube está tombado desde 2007 pelo Conpresp (Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico de São Paulo), esperando por um projeto de restauro – já aprovado – que transformaria o lugar em um complexo hoteleiro e centro de convenções, e a Garagem de Barcos em restaurante. Porém o mesmo nunca saiu do papel (GARCIA, 2015).

Garagem de Barcos Santapaula. Fonte: São Paulo Antiga 13


Garagem de Barcos Santapaula, 2015. Fonte: São Paulo Antiga

Entretanto o Clube não é o único que se encontra negligenciado na região. Ao longo do eixo da Avenida Atlântica é possível identificar diversas carcaças do que um dia foram comércios, casas de shows, restaurantes, lojas de barcos, entre tantos outros. Este abandono resulta em um impacto social, e desde 2015 há concentrações de moradores de rua no canteiro central da avenida e na porta de alguns comércios – em pleno funcionamento ou não. Segundo a prefeitura regional da Capela do Socorro, o número de barracas chegou a cinquenta no fim de 2017 (MORAES, 2018). Atualmente não existem projetos voltados para a recuperação da vocação turística da área, apenas algumas medidas pontuais que são tomadas periodicamente. “Aqui as coisas ocorrem apenas de forma circunstancial” lamenta o prefeito regional, João Batista de Santiago (MORAES, 2018). Um recente trabalho de recapeamento melhorou as condições de trafego na avenida, e falando sobre intervenções mais profundas: em 2005 realizaram a remoção de ocupantes irregulares às margens da represa (MORAES, 2018). Salvo isso, a avenida não recebe atenção do poder público há anos, e o mesmo não parecem compreender que todos os problemas encontrados na região são resultado da mudança de usos que este espaço sofreu com os anos, e que este quadro de deterioração pode ser facilmente revertido através do uso inteligente de políticas públicas. 14

Local em situação de abandono, 2018. Fonte: Veja São Paulo


EDUCAÇÃO, ARTE E SOCIOCULTURA

Abundância e escassez entre público e privado

A região de Interlagos abriga uma expressiva concentração de instituições de ensino. A partir da Avenida Atlântica, num raio de 2 quilômetros é possível somar mais de vinte unidades educacionais, entre elas unidades de educação infantil, ensino fundamental e médio e unidades de rede privada. Na escola de ensino regular o conhecimento é dividido por disciplinas, e a disciplina de arte, por exemplo, abrange uma variedade de conteúdos históricos, sociais e atividades que ilustram a arte de forma didática, porém não trabalha a materialidade da arte, voltando-se para o desenvolvimento da percepção por meio da linguagem artística. Por este motivo nos voltamos para instituições que tem a arte como cerne, focadas somente no ensino da prática, habilidade, pois, segundo Costa (2004, p.13), há uma importância da arte colocada em novas teorias sobre inteligência humana, da qual afirma que além da inteligência caracterizada pela capacidade lógica, nossa mente se revela através de habilidade como a sensibilidade às cores, sons e também imagens, portanto expressarmos através das linguagens artísticas torna-nos mais inteligentes. Desenvolver os sentidos contribui, segundo Read (2001, p.41), a tornar o individuo um ser integro e completo, diferente desta condição harmoniosa, teremos um individuo fragmentado, regido somente pela lógica. Sendo assim, com a arte e suas variações, somos capazes de desenvolver nosso sentidos, nossas percepções, seja para pintar, dançar, tocar um instrumento, esculpir, fotografar, independente da técnica ou da disciplina, de acordo com Costa (2004, p.13) “A prática artística na educação estimula a imaginação e a criatividade, além de despertar vocações que podem se desenvolver em direções às áreas de criação e expressão.” Ao estimular nossa percepção dos sentidos através das artes, segundo Costa, estimulamos a imaginação e a criatividade, veremos o que esses dois fenômenos podem nos desenvolver. Já para Read a imaginação está ligada a memória, a qual guarda e relembra várias imagens, então para ele a imaginação é a capacidade de

relacionar e fazer combinações entre essas imagens através do processo de pensar e sentir. “O equilíbrio e a simetria, a proporção e o ritmo são apenas fatores básicos da experiência [...] O que funciona certo é o sentido como certo; e o resultado, para o indivíduo, é aquela intensificação dos sentidos que constitui o prazer estético.” (READ, 2001, p.66). Desta maneira, podemos reconhecer que a arte aguça nossa imaginação e, consequentemente, estimula nossa memória, pois ambas estão interligadas. Para David Schneider, “Cultura é um sistema de símbolos e significados. (...)” representando o modo que o indivíduo se relaciona socialmente. É um fator de mudança que aponta caminhos para novas realidades. No correr das últimas décadas, “No Brasil, as leis de incentivo à cultura significam uma possibilidade concreta de realização.” (RAMOS, 2007, p.63). Uma possiblidade no que diz respeito à regulamentação e realização, possibilitando meios ao profissional da área cultural, como informações, dialogo entre público e privado, captação de recursos. Exigindo para essas profissões nova formação e atualização para manter-se no mercado, e concorrência – consequentemente – gera (de certo modo) desenvolvimento. A lei n° 8.313, de 23 de dezembro de 1991, “Restabelece princípios da lei n° 7.505, de 2 de julho de 1986, institui o Programa Nacional de Apoio à Cultura (Pronac) e dá outras providências”, decretada por Fernando Collor. A chamada lei Rouanet é um marco importante para as políticas culturais, pois: Art. 1° Fica instituído o Programa Nacional de Apoio à (Pronac), com a finalidade de captar e canalizar para o setor de modo a:

Cultura recursos

I – contribuir para facilitar, a todos, os meios para o livre acesso às fontes da cultura e o pleno exercício dos direitos culturais; II – promover e estimular a regionalização da produção cultural e artística brasileira, com valorização de recursos humanos e conteúdos locais.

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AVENIDA DO RIO BONITO

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MAPEAMENTO

Raio de 2km

ESCOLAS


Apoiar, difundir, proteger, desenvolver, estimular, priorizar, em favor da sociedade e desenvolvimento de sua expressão cultural, a lei assegura a captação de verba e recursos para o que projetos desse cunho sejam realizados. Com essas legislações de apoio à cultura surge a possibilidade de novos espaços sociais, como os centros culturais, o qual proporciona à sociedade oficinas, aulas e serviços com as diferentes linguagens da arte. Segundo Ramos (2007, p.75) “os primeiros centros culturais brasileiros surgiram na década de 80, na cidade de São Paulo, financiados pelo Estado: Centro Cultural Jabaquara e o Centro Cultural São Paulo. Começou a funcionar em 1982, como uma extensão da Biblioteca Mário de Andrade, atualmente o Centro Cultural São Paulo é o principal centro multidisciplinar da cidade, um espaço público de cultura e convívio da Secretaria Municipal de Cultura, na capital de São Paulo. Sua obra foi iniciada nos últimos anos da ditadura, o projeto coordenado por Eurico Prado Lopes e Luiz Telles, apresentando muitas inovações arquitetônicas, seu objetivo multidisciplinar foi alvo de muitas polêmicas. O espaço é composto por cinco bibliotecas, coleções de arte da cidade, pesquisas sobre movimentos artísticos como o folclore, arquivos multimídia, um jardim suspenso, atividades sociais, como oficinas, debates e palestras. Devido ao crescimento desenfreado da cidade, o acesso a equipamentos culturais foi prejudicado, já que esses concentram-se em regiões mais centrais. Famílias que residem em bairros distantes têm que percorrer longas distâncias para a ver a São Paulo que estampa capas de revista mundo a fora, como se não habitassem dentro dela A região de Interlagos também é protegida por estas leis de incentivo à cultura e dispõe de inúmeras áreas ociosas e deterioradas – que gritam por uma reanimação, assim como o lote onde foi implantado o Centro Cultural São Paulo – que acomodariam perfeitamente um equipamento sociocultural, entretanto a área não vem recebendo atenção do poder público, voltada ao desenvolvimento cultural da região. O total de equipamentos públicos existentes hoje naquela área voltados para atividades culturais é de três: A biblioteca Malba Tahan – que conta com um acervo limitado e em condições precárias, assim como suas instalações; CEU Cidade Dutra – que volta-se majoritariamente ao Ensino Fundamental na maior parte do seu período de funcionamento, mas promove esporadicamente eventos culturais abertos ao público, e sede seu espaço para outras atividades promovidas por pessoas de fora da instituição, como aulas de dança e lutas; e SESC Interlagos – complexo completo de uma unidade

SESC não urbano, entretanto encontra-se a um raio de 50 quilômetros da Avenida Atlântica, margeando a Represa Billings. Em contrapartida, existe uma discrepante abundância de equipamentos de cultura e lazer privados na região. Num raio reduzido de 5 quilômetros, é possível contabilizar pelo menos nove deles, variando entre clubes futebolísticos, clubes de lazer que dispõem de uma infraestrutura completa, Yatch clubes, clubes de campo, dentre outros.

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MAPEAMENTO

Raio de 50km

EQUIPAMENTOS PÚBLICOS


MAPEAMENTO

EQUIPAMENTOS PRIVADOS Raio de 5km

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ESPAÇOS PÚBLICOS O sucesso que depende do uso

Os espaços públicos são elementos de encontro de um poder inimaginável, onde se manifesta a vida cultural e política das cidades. Tudo ocorre sob a vista do poder público, sejam encontros, compra e venda, comemorações, entre outros. São também espaços onde se manifesta a política, onde grupos e comunidades manifestam suas ideias, desejos e insatisfações, sendo estes espaços, palco dos mais marcantes episódios políticos ao redor do mundo. Fundamentalmente, a vida urbana contemporânea associa-se às funções de trabalho, e estas estão relacionadas com a convivência indireta nos espaços públicos, pois no dia a dia o indivíduo “consome” o espaço, entretanto não o experimenta. No momento de tempo livre (descanso, recreação e consumo cultural) a população da preferência a intimidade doméstica, às reuniões familiares, atividades seletivas de sociabilidade. E notamos como perdeu-se o hábito da “vida pública”, na rua, consumindo lazer fora da zona de conforto doméstico, e isso está diretamente relacionado as dificuldades de viver nos grandes aglomerados urbanos. Para Jane Jacobs, a “culpa” é do urbanismo moderno, que permeia a cidade com grandes manchas verdes que são belíssimas apenas para serem olhadas de fora. Já para o pedestre, reduzem-se a grandes vazios arborizados sem vida.

“Vamos virar esse raciocínio do avesso e imaginar os parques urbanos como locais carentes que precisem da dádiva da vida e da aprovação conferida a eles. Isto está relacionado de acordo com a realidade, pois as pessoas dão utilidade aos parques e fazem deles um sucesso, ou então não os usam e os condenam ao fracasso.” (JACOBS, 2000, Pág. 97) 20

Os parque impopulares são sempre uma preocupação, tanto para a população quanto para o poder público,, pois são sinônimo de vandalismo e violência. Mais que isso: são oportunidades perdidas para o desenvolvimento econômico de uma localidade. O símbolo desse fracasso são as áreas verdes enclausuradas dentro de condomínios fechados, verdades espaços inúteis e sem utilidade. “Mais Áreas Livres para quê? Para facilitar assaltos? Para haver mais vazios entre os prédios? Ou para as pessoas comuns usarem e usufruírem? Porém, as pessoas não utilizam as áreas livres só porque elas estão lá, e os urbanistas e planejadores urbanos gostariam que utilizassem.” (JACOBS, 2000, Pág. 98)

Atualmente, grandes centros comerciais como Shoppings Centers são considerados o lazer de grande parte da população, onde as pessoas vão para se encontrar, comer, andar e, principalmente, fazer compras. Mas como todo espaço privado, existem regras restritas a serem seguidas. Não há conflitos ou discussões, pois é adequado a quem tem os mesmos interesses e certo capital. Também não é permitido atividades como, jogar cartas com amigos, sentar no chão, ouvir, cantar ou tocar músicas sem autorização, dentre outros. Pode-se apenas consumir ou estar, e esta é a regra para espaços voltados para esse tipo singular de lazer. Para Jacobs, é a diversidade de usos de edifícios e equipamentos que torna o lugar mais atraente, trazendo pessoas em diversos horários do dia, para verem e serem vistas pelos demais. Pela manhã e pela tarde o movimento de crianças e adolescentes indo para a escola, de tardezinha surgem as caminhadas e, mais para a noite as pessoas vem para os encontros casuais, comer algo ou aproveitar o tempo livre, desfrutando da programação cultural ofertada. O centro cultural surge então como polarizador, proporcionando uma gama variada de atividades ou simplesmente um apoio físico que oferece segurança. Assim, além das pessoas que já utilizam um espaço por hábito ou para suprir alguma necessidade específica, surgem aquelas que são apenas transeuntes e se interessam por uma exposição, por comida, uma peça teatral ou apenas pela bela paisagem.


FEIRA DE ANTIGUIDADES V Ã O D O M A S P

Foto: André Savastano

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22


O

PROJETO

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PROPOSIÇÃO Este projeto nasce do reconhecimento de um grupo de necessidades apresentadas na região da orla da represa Guarapiranga – mais especificamente na Avenida Atlântica – intencionando a recuperação de uma área de grande potencial turístico e estimulando o desenvolvimento cultural e social da população próxima. Apesar de bem desenvolvido e servido de uma boa infraestrutura, o bairro necessita de um novo fôlego e carece de equipamentos de cunho social, que atraia não apenas os moradores mais próximos, e sim que funcione como polarizador para pessoas de outras regiões nos arredores. O programa de necessidades surge a partir dos estudos de diversas obras como SESCs, centro culturais, casas de cultura, entre outras, tendo sido elaborado objetivamente pensando nas necessidades que a região apresentou após os estudos. O conjunto de pouco mais de 16 mil metros quadrados é formado por um embasamento de concreto, e sobre ele apoia-se um corpo de estrutura metálica, e esta configuração proporciona uma sensação de solidez para a base e leveza para o pavimento superior. Esta organização resulta em uma interação dinâmica entre os diversos programas do equipamento, além de oferecer uma nova experiência criando diferentes níveis de acesso que resultam em um térreo Belvedere e uma praça rebaixada, priorizando os fluxos entre bairro e avenida. O resultado desse partido veio da adoção das seguintes diretrizes: -

Articular a área de convivência com a criação de uma nova passagem entre o bairro e avenida, formando um átrio central, como um espaço complementar ao programa original, que acolhe os visitantes e distribui todos os usos e programas do complexo. Adaptar o edifício aos novos níveis criados no terreno, de forma a potencializar o uso e acesso aos programas do novo conjunto Construir um edifício capaz de inaugurar um marco visual na paisagem sem agredir a atual configuração espacial do bairro.

Sendo assim, a Praça Cultural Guarapiranga torna-se uma referência urbana. Um edifício preciso marcado por sua austeridade construtiva, de uma arquitetura econômica e resistente, contrastada com a expressividade da mistura entre linhas ortogonais e curvas.

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TERRENO

INFORMAÇÕES

ÁREA: 15.712 m² SITUAÇÃO: Ocioso COTA: 740/741 DESNÍVEL: 1m

CURIOSIDADE

175m

198m

Terreno anteriormente viabilizado para a construção de um Shopping Center

91m

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TERRENO

TERRENO

LEGISLAÇÃO URBANA

ZONEAMENTO

• • •

ZEUa – Zona Eixo de Estruturação e Transformação Urbana Ambiental ZMa – Zona Mista Ambiental ZERa – Zona Exclusivamente Residencial Ambiental ZEP – Zona Especial de Preservação

INFORMAÇÕES

EIXO DE TRANSFORMAÇÃO E ESTRUTURAÇÃO URBANA Tem como objetivo orientar a produção imobiliária para áreas localizadas ao longo dos eixos de transporte coletivo público com novas formas de implantação de empreendimentos que promovam melhores relações entre espaços públicos e privados, bem como a integração territorial das políticas públicas de transporte, habitação, emprego e equipamentos sociais. 27


TERRENO

LEITURA

TERRENO

O terreno ocioso possui um desnível quase imperceptível, de apenas um metro, dando a impressão de ser completamente plano.

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NÍVEIS

Com um terreno tão versátil, surge a ideia de trabalha-lo em diferentes níveis, criando novos espaços de encontro e estar, como um térreo elevado.

FRUIÇÃO

A partir do desenho das quadras já existentes, notase que o terreno demanda permeabilidade, e a solução pensada foi a criação de uma passagem permanente de uso público.


PROGRAMA

FLUXOS

Dois eixos principais orientam os fluxos e a distribuição do programa, articulando o conjunto do terreno, os espaços livres e os ambientes internos. O entroncamento destes eixos forma um grande átrio central, que também serve como acesso público que liga a avenida e o bairro.

CIRCULAÇÃO DE VEÍCULOS

CIRCULAÇÃO DE PEDESTRES

CIRCULAÇÃO INTERNA

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PROGRAMA

ÁREAS PÚBLICAS

Um dos maiores desejos para o projeto era a abertura de grandes áreas públicas para circulação e encontros, alcançando sua segunda função como praça coletiva.

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PROGRAMA

ORIENTAÇÃO SOLAR

A fachada principal volta-se para oeste, recebendo incidência solar na maior parte do dia. Já pelo fim da tarde, o complexo é inundado pela luz no sol poente sobre a Represa Guarapiranga.

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PROGRAMA

MATERIALIDADES

FECHAMENTO METÁLICO VAZADO

TELHA TERMOACÚSTICA

ESTRUTURA METÁLICA

LAJE PRÉ-MOLDADA EM CONCRETO

ESTRUTURA METÁLICA

EMBASAMENTO EM CONCRETO

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PROGRAMA A R T I C U L A Ç Ã O ÁREA TOTAL: 16.221 m²

5

3

4

1

2

15 14

13 12 11

10 9

8 7

6

24

22

21 20 11

24

18

23

1 – Quadras Poliesportivas 2 – Atividades Físicas 3 – Café 4 – Biblioteca 5 – Auditório 6 – Conjunto Aquático 7 – Vestiários 8 – Sala de Uso Flexível 9 – Odontologia 10 – Átrio Central 11 – Sanitários 12 – Espaço Brincar 13 – Restaurante 14 – Deque 15 – Espelho D’água 16 – Doca 17 – Área de Funcionários 18 – Setor de Atendimento e Gerenciamento 19 – Área de uso livre 20 – Exposições abertas 21 – Oficina Cultural 22 – Exposições Fechadas 23 – Bicicletário 24 – Estacionamento 25 - Praça

19

25

16 17

33


RUA RIMINI

AVENIDA PASCOAL DA ROCHA FALCÃO

34

PLANTA

SITUAÇÃO


PLANTA1

NÍVEL 738.5

RUA RIMINI

PLANTA

EMBASAMENTO – PRAÇA DE ACOLHIMENTO Estacionamento – Área de Funcionários – Setor de Atendimento e Gerenciamento – Área de Uso Livre – Oficina Cultural – Exposições - Bicicletário

35


PLANTA

NÍVEL 742.2

IMPLANTAÇÃO - TÉRREO ELEVADO 36

Conjunto Aquático – Vestiários – Uso Educativo Flexível – Clínica Odontológica – Espaço Brincar – Restaurante – Deque


PLANTA

NÍVEL 745.9

PRIMEIRO PAVIMENTO Quadras Poliesportivas – Vestiários – Academia – Atividades Físicas – Biblioteca – Café – Teatro

37


38

CORTE L O N G I T U D I N A L 1


39


40

CORTE T R A N S V E R S A L 2


CORTE PERSPECTIVADO T R A N S V E R S A L 3

41


42

CORTE T R A N S V E R S A L 4


43


44


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CARVALHO, Guilherme. "Sesc 24 de Maio / Paulo Mendes da Rocha + MMBB Arquitetos" [Sesc 24 de Maio / Paulo Mendes da Rocha + MMBB Arquitetos] 03 May 2018. ArchDaily. Accessed 2019. <https://www.archdaily.com/893553/sesc-24-de-maio-paulo-mendes-da-rocha-plus-mmbb-arquitetos/> COSTA, Cristina. Questões de arte: o belo, a percepção estética e o fazer artístico. 2° Ed. São Paulo: Moderna, 2004. GARCIA, G. Santapaula Iate Clube. São Paulo Antiga, 2015. Disponível em: http://www.saopauloantiga.com.br/santapaula-iate-clube/ GOMES, C. L. Dicionário crítico do lazer. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2004. JACOBS, Jane. Morte e vida das grandes cidades. Trad. Carlos S. Mendes Rosa. São Paulo, Martins Fontes, 2000. MORAES, C. Com vocação turística, Avenida Atlântica, na Zona Sul, sobre com abandono. Veja São Paulo, 2018. Disponível em: https://vejasp.abril.com.br/cidades/avenida-atlantica-guarapiranga-abandono-represa/ QUINTANA, Lorena. “SESC Jundiaí / Teuba Arquitetura e Urbanismo" [SESC Jundiaí / Teuba Arquitetura e Urbanismo] 09 Jul 2015. ArchDaily. Accessed 2019. https://www.archdaily.com/769712/sesc-jundiai-teuba-arquitetura-e-urbanismo/ RAMOS, Luciene Borges. O centro cultural como equipamento disseminador de informação: um estudo sobre a ação do Galpão Cine Horto. 2007. READ, Herbert. A educação pela arte. Tradução Valter Lellis Siqueira. São Paulo: Martins Fontes, 2001. SOUZA, Eduardo. "Clássicos da Arquitetura: Centro Cultural São Paulo / Eurico Prado Lopes e Luiz Telles" 26 Mai 2017. ArchDaily Brasil. Acessado 2019. https://www.archdaily.com.br/br/872196/classicos-da-arquitetura-centro-cultural-sao-paulo-eurico-prado-lopes-e-luiz-telles

SOUZA, Eduardo. "Primeiro lugar no concurso para o novo Sesc Limeira " 06 Set 2017. ArchDaily Brasil. Acessado 2019. <https://www.archdaily.com.br/br/879185/primeiro-lugar-no-concurso-para-o-novo-sesc-limeira> VAINER, André; FERRAZ, Marcelo. CIDADELA DA LIBERDADE: Lina Bo Bardi e o Sesc Pompeia. Edições SESC São Paulo, 2013.

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O PROJETO

Este projeto nasce do reconhecimento de um grupo de necessidades apresentadas na região da orla da represa Guarapiranga – mais especificamente na Avenida Atlântica – intencionando a recuperação de uma área de grande potencial turístico e estimulando o desenvolvimento cultural e social da população próxima. Apesar de bem desenvolvido e servido de uma boa infraestrutura, o bairro necessita de um novo fôlego e carece de equipamentos de cunho social, que atraia não apenas os moradores mais próximos, e sim que funcione como polarizador para pessoas de outras regiões nos arredores. Um projeto munido de um bom partido arquitetônico, que deixa claro seu objetivo ao mesmo tempo em que supre as necessidades a que foi proposto, provam a competência de uma arquitetura de qualidade, pensada para as necessidades e, sempre, para as pessoas. Este é o propósito que a Praça Cultural Guarapiranga almeja alcançar.


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