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MARIA BONITA CENTRO DE CULTURA, ARTE E EDUCAÇÃO
YANAH W. CORDEIRO DE MELO ALENCAR O R I E N TA DO R : A R T U R K ATC H B O R I A N TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO BACHARELADO EM ARQUITETURA E URBANISMO C E N T R O U N I V E R S I TÁ R I O S E N AC SÃO PAULO, DEZEMBRO, 2019
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AGRADECIMENTOS
Depois de 5 longos anos nessa jornada, finalmente tenho a realização de concluir o curso, propondo um projeto para minha cidade tão querida, Panelas. À Deus, que não me deixou cair e me deu discernimento para não pirar. À minha família e meu tesposo, que sempre estiveram comigo em momentos de estresse, ansiedade e preocupação, me apoiaram durante essa jornada e sorriram em minhas conquistas. Sem eles não sou nada. Aos meus amigos do curso ou não, que me aturaram, aguentaram patadas e me ajudaram de alguma forma. Ao meu professor e orientador, Artur Katchborian, que tanto me ensinou, que sempre me disse que eu era capaz e apoiou todas as minhas loucuras, fazendo-as deixarem de ser loucuras para se tornarem ideias funcionais, me instruindo a sair sempre da zona de conforto. À todos os professores, pelos ensinamentos e puxões de orelha, e à outras pessoas que direta ou indiretamente contribuíram para minha formação. É com muita alegria que agradeço à todos por me formar Arquiteta e Urbanista. E em memória do meu avô, Natanael Cordeiro, que perdi em 2016, dedico este trabalho.
But it’s been no bed of roses, no pleasure cruise. I consider it a challenge before the whole human race and I ain’t gonna lose. And we mean to go on and on and on and on. We are the champions, my friends And we’ll keep on fighting till the end. We are the champions, we are the champions! We are the champions, we are the champions! No time for losers, ‘cause we are the champions of the world! WE ARE THE CHAMPIONS - QUEEN
RESUMO
O trabalho exposto desenvolve a proposta de um centro de cultura, educação e artes, intitulado Maria Bonita. Localizado em Panelas, interior de Pernambuco, o projeto foi pensado para suprir a necessidade de um equipamento cultural e de lazer, já que o mesmo é inexistente na cidade; complementar a educação das crianças e diminuir os índices de criminalidade local. O centro cultural Maria Bonita instala-se na zona central de Panelas e se divide em ambientes de serviços, aprendizado, permanência, contemplação, lazer e fruição pública. Sua proposta é a interação social coletiva, o incentivo à cultura e a promoção de uma maior visibilidade em Panelas, visto que a cidade é um lugar de turismo forte. Palavras-chave: Centro cultural. Cultura. Criança. Equipamento. Criminalidade. Homicídios.
ABSTRACT The exposed work develops a proposal of a center of culture, education and arts, entitled Maria Bonita. Located in Panelas, interior of Pernambuco, the project was designed to meet the need for cultural and leisure equipment, as it is nonexistent in the city; complement children’s education and decrease local crime rates. The Maria Bonita cultural center is located in the central area of Panelas and is divided into service, learning, permanence, contemplation, leisure and public enjoyment environments. Its proposal is a collective social interaction, encouraging culture and promoting greater visibility in Panelas, as the city is a place of strong tourism.
Keywords: Cultural Center. Culture. Child. Equipment. Crime. Homicides.
1 2 3 4
INTRODUÇÃO p. 11
F U N DA M E N TAÇ ÃO p. 19
METODOLOGIA p. 33
5 6 7
ESTUDOS DE CASO p. 49
ANÁLISE DA ÁREA p. 69
PROJETO p. 95
CONSIDERAÇÕES FINAIS REFERÊNCIAS PROJETUAIS p. 41
p. 122 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS p. 123
INTRODUÇÃO
01
OBJETIVO GERAL
EDIFÍCIO
CRIANÇAS
CULTURA
Projeto de um equipamento de
Acolher, orientar, incluir e complementar
Incentivar os moradores a
cultura, esporte, lazer e educação.
a vida das crianças na cidade.
conhecer mais sobre a cultura local, assim como o turismo no lugar.
14
“Valorização da cultura local” e “aumento das taxas de criminalidade, incluindo crianças e jovens no
ato”, são temas distintos, mas que tem algo incomum: muitas vezes são ignorados pelo poder público, gestão local e até pelos próprios cidadãos. Dessa forma, a proposta projetual do Maria Bonita tem a intenção de sugerir soluções para esses temas.
Com a importância da inclusão cultural, o trabalho em questão propõe a implantação de um centro
de cultura, educação, arte e lazer, localizado na zona central da cidade de Panelas - Pernambuco. A premissa consiste em um equipamento de cunho público e institucional, a fim de trazer conhecimento e autonomia para os moradores. Seu foco serão atividades para crianças e jovens, que ensinem artesanato, música, esportes, teatro e dança; na qual deverá aguçar novas visões para essas pessoas, e contribua para consolidação intelectual do público.
A cidade conta com o apoio de alguns projetos, como o Renasce Uma Esperança e o Grupo da Me-
lhor Idade, que incentivam atividades culturais e realizam trabalhos de diferentes segmentos para a população. Agregando ainda mais, o Maria Bonita traz a proposta de espaços agradáveis, acolhedores e flexíveis, que se relacione com o meio em que está inserido e impulsione atividades diversas e conjuntas para a população.
Para desenvolvê-lo foram usadas duas vertentes principais de pesquisa: a p primeira entende sobre
o aumento da criminalidade na cidade e nas regiões próximas, o que isso acarretou e porque aconteceu. E a segunda entende a ausência de equipamento cultural na cidade, o tempo gasto de Panelas ao equipamento mais próximo e o motivo da inexistência. De acordo com os estudos, a resposta para o produto final é o projeto de um edifício que supra essas necessidades e potencialize o turismo cultural, em vista que a cidade em época de eventos, atende a população vizinha.
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OBJETIVOS ESPECÍFICOS ■ Divisão do edifício em blocos, para facilitar a locomoção dos usuários; ■ Criação de espaços de contemplação, aprendizado, serviço, permanência e lazer; ■ Previsão de soluções que tragam na materialidade significado do conteúdo nordestino; ■ Criação de espaços que promovam a interação às atividades em grupos; ■ Criação de espaços que tragam o conhecimento à cultura local; ■ Soluções para o aprendizado em diferentes segmentos que ensinem a cultura nordestina, tais como: oficinas de artesanato (barro, papel, couro e madeira), costura e culinária; ■ Promoção de espaços de serviço e convivência, que evidenciem a culinária local, como o serviço de restaurante; ■ Incentivo ao aprendizado: promoção de uma loja que venda os produtos produzidos pelos usuários.
16
J U S T I F I C AT I VA
Segundo o Ibermuseus - programa de cooperação para os museus da Ibero-América -, o Brasil possui
3099 equipamentos culturais registrados. Nessa distribuição, 1241 são no Sudeste e 842 no Sul, dispondo os maiores números entre as regiões. No Nordeste existem 625 instituições, seguido de 238 no Centro-Oeste e 153 no Norte. Regionalmente falando, o Nordeste indica o maior número de habitantes por museu. Com essa colocação, a porcentagem da região em ranking quantitativo equivale a pouco mais de 1/5 dos equipamentos no país.
De acordo com o Cadastro Nacional de Museus (CNM) Pernambuco possui 99 instituições culturais;
mas na cidade de Panelas foi confirmada a inexistência desses equipamentos. As instituições mais próximas estão localizadas na Cidade de Caruaru, com 42 km e 50 minutos de distância, sendo inace+ssíveis para boa [1] Corrida de Jericos Fonte: Site Panelas
parte dos moradores.
Embora no município de Panelas, existam grupos de promoção de atividades, como o Projeto Re-
nasce Uma Esperança, EJA e o Grupo da Melhor Idade, de acordo com a população, não suprem a carência da cidade de ter uma instituição cultural, o que limita eventos maiores e com mais pessoas. Boa parte dos moradores sentem necessidade nesse quesito, principalmente porque as cidades vizinhas sofrerem com o mesmo problema.
No turismo, além de mirantes naturais, casa de farinha, festividades populares, engenhos e comu-
nidades, a cidade conta com um evento bastante conhecido na redondeza e até para algumas pessoas no Brasil, o Festival Nacional de Jericos, que acontece entre os dias de 29 de abril à 1 de maio todo ano. O evento potencializa o turismo e recebe cerca de 150.000 pessoas, mas como cidade é desprovida de atrativos fixos, a cada ano, essa quantidade diminui.
Outro motivo para a inserção do equipamento cultural é pretensão na diminuição da criminalidade
local: em 2017, Pernambuco registrou a terceira pior taxa de homicídios do Brasil. De acordo com o G1, a taxa [2] Apresentação da banda Fonte: Site Panelas
de assassinatos foi de 57,3 a cada 100 mil habitantes. Isso significou 5.427 mortes, perdendo apenas para o Rio Grande do Norte e Acre. 17
A violência também chegou no interior do estado. Panelas, uma cidade que as pessoas “dormiam de
porta aberta”, perdeu sua tranquilidade. De acordo com pesquisa e depoimentos dos moradores, a onda de drogas, assaltos e assassinatos cresceu drasticamente nos últimos anos. Ainda em 2017, a taxa de criminalidade violenta letal e intencional no município era de 74,5%, considerada extremamente alta, se comparada à Caruaru, 71,6%, já que é uma cidade com 278.000 habitantes e Panelas, 27.000.
Os Indicadores Multidimensionais de Educação e Homicídios concluem que a cada 1% a mais de
jovens entre 15 e 17 anos nas escolas, a taxa de homicídios no Brasil tem uma diminuição de 2%. Para Daniel Cerqueira, economista e técnico de Planejamento e Pesquisa do IPEA, “a educação é a ferramenta prioritária de luta ao crime”. Diante de exercícios estatísticos, ele explica quatro etapas de políticas públicas mais eficazes que a redução da maioridade penal. 1. Focar o local onde o problema está concentrado; 2. cuidar do desenvolvimento da criança, onde ela começa a formar suas visões; 3. mostrar a escola como aliada para enfrentar futuras dificuldades e 4. inserir o jovem no mercado de trabalho.
Levando como base os problemas citados, conclui-se que a maior arma de combate ao crime é a
educação. Dessa forma, a criação do equipamento cultural na cidade tem em vista a inclusão dos moradores - baixa renda principalmente - em projetos sociais, oficinas, palestras, debates, aulas extracurriculares e outras atividades coletivas. Vale salientar que a proposta foi pensada em prol do resgate da (re)ocupação do jovem em exercícios educacionais e culturais, assim como ensinar outras formas de ver o mundo às crianças no começo da vida, durante a infância.
“O museu é o lugar em que sensações, ideias e imagens [...] ali reunidos iluminam valores essenciais para o ser humano. [...] Nele se amplia o conhecimento e se aprofunda a consciência da identidade, da solidariedade e da partilha. Por meio dos museus, a vida social recupera a dimensão humana que se esvai na pressa da hora. As cidades encontram o espelho que lhes revele a face apagada no turbilhão do cotidiano. E cada pessoa acolhida por um museu acaba por saber mais de si mesma.” Instituto Brasileiros de Museus (IBRAM)
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FUNDAMENTAÇÃO
02
CENTRO CULTURAL
Instituições com a proposição de elaborar, disseminar e produzir práticas culturais, os centros culturais
são espaços derivados da evolução das bibliotecas, que não atendiam mais às necessidades com o surgimento da tecnologia. São caracterizados por trazerem experiências significativas para o usuário, priorizam as necessidades do meio inserido, reúnem um público heterogêneo e possibilitam a relação espaço-pessoa.
Para Teixeira Coelho, especialista em Política Cultural, a cultura foi marcada por três momentos no
século XX. O primeiro tem a preocupação apenas com a obra, de preservá-la. O segundo demonstra um interesse com a comunidade, tendo a preocupação de promover educação e cultura. E o terceiro, iniciado na década de 60, passa a preocupar-se com o indivíduo sozinho, não só em grupo.
Existem indícios que o surgimento dos centros culturais se deu na Antiguidade Clássica, a partir da
Biblioteca Alexandrina, no Egito, uma instituição que abrigava documentos para preservar a história e funcionava como local de estudos. No século XIX, surgiram os primeiros centros culturais na Inglaterra. Eram denominados “centros de arte”, mas somente na década de 50, na França, esses espaços começaram a ter base cultural.
Com a proposta de melhorias na relação pessoas-trabalho, a França construiu o Centro Cultural Ge-
orges Pompidou. Inaugurado em 1977, foi através dessa instituição que o país saltou no quesito qualidade de lazer para os operários e foi responsável pela criação de novos centros ao redor do mundo.
Na década de 60, o Brasil demonstrou interesse no assunto, mas só nos anos 80, o país trouxe à vida
o Centro Cultural Jabaquara e o Centro Cultural São Paulo. Diante disso, os centros culturais foram nascendo e crescendo no fator quantitativo; e com o passar dos anos, o investimento e incentivo à cultura, progrediram também no sentido qualitativo; resultando assim, em 3099 instituições culturais registradas no Brasil.
[3] [4] Centro Cultural George Pompidou Fonte: La Parola
22
[5] [6] Centro Cultural Jabaquara Fonte: Archdaily
[7] [8] Centro Cultural Vergueiro Fonte: Vitrvuvius
23
ORDEM E PROGRESSO?
O Brasil é um dos países mais violentos da América Latina e tem níveis de criminalidade acima da
média mundial. Conforme o Ministério da Saúde, em 2016 alcançou 62.517 homicídios, equivalente a 30,3 mortes para cada 100.000 habitantes, onde o limite pela OMS - Organização Mundial de Saúde é 10 assassinatos para cada 100.000 habitantes.
O país é um dos mais desiguais do planeta. É comum ver lugares ricos ao lado de lugares extrema-
mente pobres. O sistema escolar é deficiente, crianças muitas vezes só vão à escola em busca de refeição. Os professores são desmotivados e o ensino privado é acessível para poucos. As divergências entre o público e o privado agravam ainda mais a segregação social. [9] Bairro Morumbi: riqueza x pobreza Fonte: BBC
O aumento dos aluguéis fez com que uma grande parcela da população ficasse sem moradia. Essas
pessoas ficaram vulneráveis e, pela falta de oportunidades, acabaram sendo manipuladas por chefes de crime e tráfico, por exemplo. Equipamentos, remédios e infraestrutura adequada também estão em falta nos hospitais.
Morar na periferia, trabalhar no centro e receber pouco é mais um problema que o brasileiro enfrenta
diariamente. A justiça é falha, ineficaz e inacessível à boa parte da população. As penitenciárias, superlotadas e precárias não dispõem a reeducação. Fatores estes que podem culminar para a entrada dessas pessoas no crime, já que é uma forma “mais fácil” de conseguir dinheiro.
No ano de 1995, o estado de São Paulo superlotou: de 200.000 habitantes, subiu para 16 milhões. Os
bairros de crescimento maior, eram os mais violentos. O tráfico se fortaleceu no Brasil: um país com dimensão territorial vasta, que faz fronteiras com vários países, dificulta ainda mais a fiscalização. Isto acarretou no tráfico de drogas, armas e roubos, e além de ser transportador de droga, também virou consumidor.
Segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública - FBSP, os crimes violentos cresceram na maior
parte dos estados desde 2005, principalmente no Nordeste, o que sobe significamente a média de crimes de [10] Superlotação de prisão Fonte: Tribuna
todo o país. Em pesquisas feitas pelo Escritório das Nações Unidas em 2012, aponta que das 30 cidades mais violentas do mundo, 11 são no Brasil: Cuiabá, Goiânia, Belém, São Luís, Vitória, Fortaleza, Maceió, João Pessoa, 24
Campina Grande, Natal e Salvador.
O crime organizado também é presente e se sustenta pelo tráfico de arma, drogas, roubos, assaltos
e extorsão e foi fortalecido com o crescimento acelerado da periferia. Atualmente destacam-se duas facções, PCC - Primeiro Comando da Capital e o Comando Vermelho. [11] Mortes de LGBTs ao ano Fonte: Grupo Gay da Bahia
A ineficácia do Poder Público também gera revolta e insegurança da população: o Grupo Gay da
Bahia - GGB registrou 55% de aumento nas taxas de 2007 em crimes homofóbicos, mantendo o país como o que mais registra. O estudo indica que 80% dos homossexuais foram assassinados em suas próprias casas e o Nordeste é a região que mais comete esses tipos de crimes, com a Bahia, Pernambuco, Rio Grande do Norte e Alagoas.
A maioria das vítimas dos crimes são negros e jovens. De acordo com o IPEA - Instituto de Pesquisa
Econômica Aplicada, 53% dos homicídios registrados em 2015 são de jovens e os negros tem 23,5% a mais de chances de serem mortos,do que outras raças. 65,8% dos homicídios entre 2002 e 2010 foram de negros, segundo o Mapa da Violência.
O Brasil é um dos lugares mais perigosos do mundo para turistas mulheres, perdendo apenas para
a Índia, segundo o Dailymail. E junto com a Tailândia está no topo do ranking de mulheres mais assediadas do planeta, 86% delas já sofreram um assédio. Mas mesmo com a promulgação da Lei Maria da Penha em 2006, as denúncias de violência contra a mulher, aumentaram em 600%; e o país ainda possui altos índices [12] Infográfico - Violência no Brasil Fonte: Atlas da Violência
de agressões à mulheres e crianças.
A terceira maior população carcerária do mundo é do Brasil. De acordo com o Conselho Nacional de
Justiça em 2012 haviam 550.000 presos e em 2014, 711.463, isso significa que houve um crescimento em 30% de detentos, enquanto os habitantes do país só aumentaram 1,8%. E ainda, considerando os mandados de prisão em aberto, essa quantidade ultrapassaria 1 milhão de pessoas presas. [13] Violência contra a mulher Fonte: MDH
25
O CRIME ENTRE CRIANÇAS E JOVENS
O crescimento no número de crianças e adolescentes em crimes tem aumentado, principalmente
no tráfico de drogas. Esses dados foram levantados pelo Globo e feitos nos estados do Rio Grande do Sul (menor índice, 2,4%), São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná, Santa Catarina, Pernambuco e Ceará (maior taxa, 50,5%). Entre 2011 e 2012, o aumento foi de 14% a mais, com crimes como vandalismo, tráfico, roubo e até homicídio.
Os especialistas de segurança pública explicam que o tráfico de droga é o maior motivo pela entrada
desses jovens no crime, pois dá a ilusão de poder e grandiosidade. Isso é causado devido a pobreza, má qualidade dos ensinos e ausência de programas governamentais para menores, principalmente. Mas vale salientar que a maior parte da criminalidade na pobreza, é por essas pessoas não terem à quem recorrer.
Camila Nunes, pesquisadora do Núcleo de Estudos da Violência da Universidade de São Paulo - USP
explica que “é o maior equívoco a associação da redução da maioridade penal com a entrada de menores no mundo do crime. Não existe espaço mais criminógeno que uma prisão. A entrada precoce da criança e do adolescente na prisão iria favorecer e aprofundar o menor no universo criminal”. (O Globo, 2013)
Para Ariel de Castro, membro do Movimento Nacional de Direitos Humanos, apesar do avanço na
proteção da infância 0 a 12 anos, o país falha dos 12 aos 18, onde é nesse período que os jovens são estimulados [14] Perfil dos menores infratores Fonte: Extra Globo
ao mercado de trabalho. Adicionado a isso, outros motivos que também podem contribuir para essa situação são: a miséria, desigualdade e segregação social, abandono social e influências psicológicas da família e da comunidade. Podendo facilitar diretamente na entrada dos jovens na criminalidade, onde geralmente começa com a droga, podendo chegar à crimes mais ilícitos.
O Estatuto da Criança e do Adolescente divide opiniões: por um lado há quem pense que essas me-
didas de proteção são ineficazes para resolução dos problemas de menores infratores e que estes não são punidos como deveriam. Mas há também que veja pelo lado que essas medidas têm como principal intuito
“É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer,
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à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária”. Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) - Artigo 4º
ressocializar e ensinar ao jovem. Mas a verdade é que o ECA deve atuar em conjunto com os pais, responsáveis, a sociedade e o Estado, para juntos instruírem as crianças e adolescentes.
Os autores Adorno, Bodini e Lima, em seu artigo “O adolescente e a criminalidade urbana em São
Paulo”, apresentam algumas premissas que minimizam esses problemas, tais como: planos e ações que insiram os jovens em programas sociais; acesso à educação de boa qualidade e a apresentação à sociedade de políticas públicas, que possa envolver o adolescente e sua família. Mas acima de tudo, é necessário que todos sejam responsáveis pela formação dos jovens e crianças de hoje.
[15] Homicídios faixa etária de 15 - 29 anos Fonte: IPEA
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VIOLÊNCIA NO NORDESTE “É durante a adolescência que se tem uma segunda e grande oportunidade, para se oferecer condições construtivas ou destrutivas ao desenvolvimento da estrutura da personalidade dos jovens, a partir da interação com a sociedade da qual fazem parte, e na qual vão buscar seus novos modelos identificatórios. Os jovens são vulneráveis e susceptíveis às influências oriundas do meio social. Buscam fora do núcleo familiar aspectos que desejam incorporar à sua realidade pessoal [...]” Levisky, 2000, p.22
Com essa afirmativa, é entendido que durante a juventude acontecem diferentes processos sociais e emocionais e é também nessa fase, que existe uma maior influência do meio no indivíduo. A exposição da população de crianças e adolescentes resulta muitas vezes por transformá-los em praticantes e/ou vítimas. Com essa fragilidade, esses jovens acabam se tornando um dos grupos com maior vulnerabilidade na sociedade contemporânea, como já foi explicado. De acordo a SEAE - Secretaria Especial de Assuntos Estratégicos, o Brasil com apenas 3% da população mundial, concentrou 4% dos homicídios no mundo. O Mapa da Violência - Anatomia dos Homicídios no Brasil, diz que na taxa de assassinatos entre jovens de 0 a 19 anos por região, foi notado que no Nordeste esse índice aumentou 82,1% entre os anos de 1997 a 2007, perdendo apenas para a região Norte, com 88%. Esse problema preocupa ainda mais quando a criança deixa de ser vítima para atuar ativamente no delito. O SINASE - Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo fez um levantamento em 2014, em que os adolescentes do nordeste com restrição a privação de liberdade têm características peculiares. 95% são meninos e não possuem frequência na escola; e 55,7% são negros e pardos. A delinquência pode ser resultante de uma construção cuja raiz está na própria violência familiar e social, ou/e é decorrente da falha ou [16] Atlas da violência 2018 - Homicídios Fonte: G1
inexistência de controles sociais que impedissem tal cometimento. Outro estudo feito pelo SINASE entre 2012 e 2014, também destaca o Nordeste como a segunda região que concentra o maior número de adolescentes em Restrição e Privação de Liberdade (4.510). Os dados colocam Pernambuco no topo do ranking, equivalente a mais de 35% desses jovens em todo o país. Os 28
estados da Paraíba, Bahia, Pernambuco e Ceará registram mais de 500 adolescentes nas unidades socioeducativas. Os números de atos infracionais são superiores ao de adolescentes em medidas socioeducativas. Entre esses delitos, o roubo tem uma taxa 17,8% e o porte de arma ilegal já chegou a 39%. Nesses atos se destacam menores com 17 anos, atingindo 31% do total dos delitos cometidos do Nordeste. Também pode-se deduzir que a maioria dos menores infratores que estão em regime de internação, alcançam a maioridade civil durante o cumprimento da medida. De acordo com a diligência, é observado que 80% das crianças e jovens que praticam a infracionalidade, não é alfabetizada. Com tudo isso, é importante entender a realidade na qual essas crianças estão inseridas. Pesquisas feitas pelo IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas informam que em 2014, a taxa de analfabetismo no Nordeste é de 16,6%, sendo a mais alta do país. 16,2% dos adolescentes entre 15 e 17 anos, nunca foram à escola e 91% das crianças de 0 a 17 anos, não fazem outras atividades além da escola, o que as deixam com muito tempo ocioso. Pernambuco em 2017 teve uma taxa de ocorrências de crimes violentos no país de 53%, enquanto [17] Taxa de analfabetismo das pessoas com 15 anos ou mais de idade Fonte: G1
a do Brasil era de 53%. Ainda em 2017, nos primeiros três meses, 976 pessoas foram assassinadas no estado. Mas a violência em Pernambuco já vinha apresentando taxas preocupantes: o mês de dezembro, em 2016 havia sido considerado o mais violento nos últimos 10 anos, apresentando 472 assassinatos, já fevereiro do ano seguinte, estava com uma média de 17,75 mortes por dia. A estatística mostra que das 26 Áreas Integradas de Segurança - AIS, os índices mais altos foram na AIS 14 (Caruaru, Panelas, Cupira, Agrestina e mais 11 municípios), com 91 assassinatos em janeiro e fevereiro de 2017. No interior do estado, Caruaru forma o top três das cidades com mais homicídios de 2017, 262 assassinatos, perdendo apenas para Recife e Jaboatão dos Guararapes. Ainda no agreste pernambucano, na cidade de Panelas não é diferente: apesar de pequena em dimensão territorial e com apenas 27.000 habitantes é
[18 Top três - Cidades com mais homicídios de Pernambuco em 2017 Fonte: Secretaria de Defesa Social de Pernambuco
assombrada diariamente pela onda de crimes. A partir da tabela comparativa entre os dois municípios é possível ver a taxa de CVLI - Crimes Violen29
tos Letais e Incionais. Além dessas informações, foram feitas pesquisas como a vivência e análise pessoal em entrevistas e questionários com os moradores e em sites locais.
Na cidade também se nota que os jovens que praticam atos infracionais são entre 16 e 18 anos, estes
geralmente são os mesmos que possuem um baixo índice de frequência escolar ou não frequentam. Isso implica na falta de ocupação de crianças e adolescentes, que também é um fator promissor para a inserção destes no mundo da criminalidade. Com uma rede geradora de oportunidades escassas, não só na cidade, mas no Brasil e pela desordem no desenvolvimento social, torna-se evidente a explicação do público infanto-juvenil não encontrar espaço nos programas sociais, seja ele a escola ou outra atividade. [19] Tabela AIS - Crimes Por Área Fonte: Folha
É possível dizer que os jovens sofrem os efeitos da deficiência entre o sistema educacional e as impo-
sições da sociedade, como a falta de perspectivas e a baixa autoestima. Os problemas de uma vida precária, muitas vezes pressionam esses jovens a procurarem formas mais fáceis para ajudarem as famílias ou para suprir carências, potencializando o acesso à armas, ao tráfico de drogas e outras ilegalidades; na qual muitas
[20] Tabela CVLI - Crimes Violentos Letais e Intencionais Fonte: Secretaria de Defesa Social de Pernambuco
vezes, as próprias famílias são incapazes de lidarem com essas questões.
Outro fator que contribui para isso é o abandono e a violência na infância. Crianças que já sofreram
maus tratos, segundo Ângela Correa Trentin, especialista em Direito da Criança e do Adolescente, “podem perder a capacidade de construir laços afetivos e crescer violentas e sem remorsos, não tendo vínculos com outras pessoas”. Assim, o abandono, desmembramento familiar e os comportamentos errôneos dos familiares proporcionam esse tipo de reação. Ou seja, uma base familiar estruturada de valores fundamentais, proporcionam que a criança cresça de maneira saudável, diminuindo as possibilidades do ingresso ao crime.
Diante de tudo isso, não necessariamente a delinquência juvenil está ligada à pobreza, mas acima de
tudo, à falta de estrutura e desigualdade social. Sendo assim, o caminho de combate ao crime entre crianças e jovens deve ser o incentivo dos direitos fundamentais da criança e do adolescente, como educação, saúde, [21] Notícia - Homicídio em Panelas
cultura, lazer e esportes, como diz o Estatuto da Criança e do Adolescente.
Fonte: G1 Caruaru
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C U L T U R A CO M O CO M B AT E À V I O L Ê N C I A
Durante os anos 1990, tempos de Pablo Escobar e cartéis, Medellín - cidade da Colômbia - viveu on-
das devastadoras de violência. Cerca de 400 assassinatos para cada 100.000 habitantes, sendo que atualmente Los Cabos, no México é considerada a cidade mais violenta do mundo, com 111,33 homicídios para 100.000 pessoas, segundo o ranking da BBC.
Estando nesse topo durante muitos anos, o principal fator que proporcionou a melhoria desse índice
além da presença do Estado na periferia e o aperfeiçoamento no espaço urbano, foi o investimento significativo em cultura, educação e integração da população, principalmente nos bairros mais afetados pela criminalidade
Jorge Melguizo, palestrante e consultor em políticas públicas explica como se deu a estratégia de
usar a cultura como forma de combate à violência. Ele conta que aconteceu de três maneiras: a primeira com ações e projetos culturais nos bairros de extrema violência, tendo a cultura como parte de um projeto maior de cidade. Nesta, foram desenhados projetos urbanos e intervenções com espaços comunitários, potencializando o que já existe no bairro.
A segunda proposta é colocar a cultura como a essência dos projetos para aprendendizado da vida
em comunidade e o aprendizado pessoal. Ou seja, uma proposta de sociedade e cidade que considere a cultura como direito, acesso, possibilidade de pensamentos, aprendizado, construção de uma sociedade melhor e de um cidadão melhor.
Na terceira proposta, Jorge se baseia em quatro passos: conhecer, reconhecer, valorizar e potencia-
lizar. Isso significa melhorar o que já existe no bairro, como grupos de teatro / música / dança e projetos de inclusão social, que potencializados, podem ser mais fortes.
Melguizo explica que o ano de 1991 foi o pior ano. Os moradores de Medellín tinham toque de reco-
lher às 22 horas da noite. Cidades com índices altos, como Caracas, na Venezuela tem taxa de 111,19 mortes [22] Infográfico Medellín Fonte: Medellín Como Vamos e Fórum Brasileiro de Segurança Pública
diárias. Ou seja, 28 anos atrás, a média de Medellín era três vezes maior o que Caracas é hoje.
Pensando nisso, os projetos de transformação eram a mudança dos espaços de pavor para espaços 31
de encontro dos moradores; com programas culturais, esportivos e recreativos. O Jardim Botânico, o Museu Parque Explora e outros grandes equipamentos culturais da cidade foram reabertos e convertidos em equipamentos públicos e acessíveis.
Em Moravia, por exemplo, bairro de 40.000 habitantes, que antigamente era o lixão da cidade, foi
construído um grande centro cultural, além dos investimentos públicos para vias, aqueduto e saneamento básico. Esse centro se tornou símbolo do bairro e ocupou apenas 2,5% do valor total do investimento.
Ele finaliza explicando que os projetos de bibliotecas-parques em Medellín são instituições públicas
de qualidade, totalizam 9 na cidade e 110.000 pessoas frequentantes por semana. Constroem a cidadania e [23] Jardim Botânico de Medellín Fonte: Go To Medellín
impulsionam a participação dos moradores, ONGs, igrejas, universidades, etc., bem como promovem a apropriação cultural dos habitantes e a educação do cidadão em prol do patrimônio.
“Não se trata mais do que podemos fazer pela Cultura, mas do que a Cultura faz por nós” Artigo “A cultura é o fururo das cidades” - Rita Davies
Desse modo, tomando Medellín como exemplo, conclui-se que é de suma importância não só de-
senvolver projetos culturais, mas sim aplicar as políticas públicas, seguidas da introdução cultural permanente no local. Ora através da construção de instituições e espaços, ora na inclusão da população em ações culturais cotidianas.
[24] Museu Parque Explora Fonte: Medellín Living
32
[25] Bairro Moravia antes [26] Bairro Moravia depois Fonte: El Colombiano
[27] Bairro Moravia depois Fonte: MedellĂn Living
33
METODOLOGIA
03
A metodologia de pesquisa é o estudo responsável pelo direcionamento deste trabalho. Por meio
dela serão definidos os instrumentos principais para o projeto, os tipos de pesquisas aplicadas e como serão solidificadas. Neste estudo será feita a abordagem de dois tipos de edificações culturais, que terão o propósito de auxiliar na criação de um programa arquitetônico para o Centro Cultural aqui apresentado.
O primeiro equipamento, o Centro de Artes e Esportes Unificados - CEU, tem a premissa principal de
promover programas para integração de crianças e jovens. E o segundo, Serviço Social do Comércio - SESC, atua no bem-estar social como um todo. Ambos são instituições que promovem a melhoria da qualidade de vida, a imersão da cultura e ações sociais em prol da população onde se insere.
A partir desta análise e coleta de dados, será possível entender a problemática e potencialidades do
lugar; para assim concretizar a construção de um programa de usos e partido arquitetônico adequados para o projeto proposto.
36
CENTRO DE ARTES E ESPORTES - CEU
A prefeitura de são Paulo iniciou a estrutura do projeto dos CEUs em 2001, na gestão de Marta Supli-
cy. Foi inspirado na arquitetura da Escola do Parque - São Paulo, desenvolvida entre 1948 e 1952. Os princípios dessas instituições segundo a Prefeitura são: integração de crianças, adolescentes, jovens e adultos; inovação de experiências educacionais e desenvolvimento da comunidade.
Os Centros de Artes e Esportes Unificados - CEU são edifícios implantados em praças que acomodam
ações e programas culturais, educacionais, esportivos, de lazer, qualificação para o mercado de trabalho, inclusão digital, serviços assistenciais e políticas de prevenção à violência. Tem o intuito de proporcionar a cidadania [28] Modelo de CEU 3000 m² Fonte: Estação Cultura
e a integração da população em lugares de alta vulnerabilidade social. Sua gestão é um compartilhamento entre a comunidade e a prefeitura, que são responsaveis para fazer a programação e o uso das instituições.
Os projetos de Praças CEU são feitos a partir de três tipos, de acordo com o tamanho e estrutura do
local implantado, são eles: 700 m², 3000 m² e 7000 m². Como base para este trabalho, foi usado o modelo de CEU de 3000 m², já que seria o tipo mais adequado, de acordo com a cidade e tamanho do terreno. O programa desse equipamento acontece em edifício(s) multiuso, disposto(s) em uma praça de cultura, esportes e lazer, contendo: biblioteca, salas multiuso, auditório/cine teatro com 60 lugares, CRAS, quadra poliesportiva, equipamentos de ginástica, pista de skate e caminhada e playground.
Em parceria com a UFPE - Universidade Federal de Pernambuco, a SEINFRA - Secretaria de Difusão e
Infraestrutura Cultural está estudando o impacto dessas instituições nos municípios. Segundo os pesquisadores da UFPE, em lugares com presença de CEUs, a taxa de desvio escolar no ensino fundamental foi reduzida 16%, e no ensino médio 15%. Assim como a redução de 8% na chance de o município registrar algum homicídio e 1,3% de internações por infarto e hipertensão.
Foram feitas pesquisas em 131 Praças CEU de 21 estados. Em 2018, segundo a SEINFRA, 1.277 é a mé-
dia de frequentadores semanalmente, 420 estão inscritos em atividades e 83% são crianças e jovens (33,8% [29-] Planta de CEU 3000 m² Fonte: Estação Cultura
crianças de 0 a 14; e 49,2% jovens de 15 a 29 anos). As atividades e serviços mais praticados são serviços assistenciais, artes cênicas, leitura, literatura, música e esportes. Além destas, celebrações, bazares, campeonatos, 37
festivais e outros tipos de eventos são realizados em 79,3% dos equipamentos. Além da gestão, mais de 50% dos CEUs contam com voluntários da comunidade, professores, monitores de outras instituições e servidores municipais.
A comunidade também participa ativamente dos eventos nas atividades e programações e tam-
bém ajuda a conservar os equipamentos. A integração dos grupos vulneráveis e marginalizados, melhorias na infraestrutura do local, diminuição da violência e aumento da confiança da comunidade são os principais impactos causados pelos CEUs. [30] Projeto Hiperdia no CEU Ituiutaba - Minas Gerais Fonte: Estação Cultura
Entre esses programas propostos pelas Praças, está a Economia Solidária, que fortalece os empre-
endimentos e traz oportunidade de negócios, buscando a sustentabilidade do equipamento, geração de trabalho e renda para a comunidade. Todos trabalham de forma conjunta, podendo produzir, vender e trocar seus próprios produtos, sendo organizados em associações, feiras, clube de trocas, etc. Os moradores são incentivados a expor e comercializar seus produtos artesanais, além de poderem fazer cursos e oficinas, como costura, pintura e utilização de materiais recicláveis.
A saúde é um dos direitos básicos de todo ser humano, para a melhoria de vida e bem-estar. Com
isso as Praças CEUs também oferecem ações e debates conjuntos na área da saúde, divulgando informações e dispondo de atendimentos básicos, como testes de glicemias, vacinação, aferição de pressão, guias para mamografia e exercícios físicos nas áreas livres.
“A leitura é um direito social básico, indispensável para que o ser humano possa desenvolver plenamente suas capacidades e alcançar níveis educativos mais altos.” Ramon Sales - Dezembro de 2017
[31] Festa aberta no CEU Heliópolis - São Paulo Fonte: Estação Cultura
Dados do IBGE afirmaram que em 2017, em torno de 7% da população brasileira é analfabeta. O
acesso à leitura ainda é uma grande dificuldade enfrentada por boa parte dessas pessoas e promover esse 38
inclusão é um dos modos mais coesos de apoiar a melhoria da qualidade de educação no país. É pensando nessas mudanças, que todos os CEUs estão providos de de bibliotecas públicas, que dispõem o acesso ao livro, oficinas, saraus e debates; incentivando o interesse pela pela produção de textos, leitura, assim como a difusão de cultura, informação e educação à comunidade. Como exemplo no CEU Ponta Grossa - Paraná, a biblioteca organiza o projeto “Suco com Poesia”, para crianças de 6 à 14 anos, visando o interesse na leitura e socialização. Elas recebem lanche, caderno, livro e lápis e a equipe interage contando história. O projeto atende 35 crianças por semana e como resultado disso, Sandra Acordi, diretora do CEU afirma que “as crianças melhoraram seu desempenho de leitura, aproveitamento nas escolas, e aumentaram também sua socialização e integração na comunidade”.
[32] Taxa de analfabetismo da população com 15 anos ou mais Fonte: IBGE
[33] Projeto Suco com Poesia no CEU Ponta Grossa - Paraná Fonte: Prefeitura de Ponta Grossa
39
SERVIÇO SOCIAL DO COMÉRCIO - SESC
Criado em setembro de 1946, autorizado pelo Presidente Eurico Gaspar Dutra, o Serviço Social do
Comércio - SESC, é uma instituição de origem brasileira e privada, mantida pelos empresários do comércio de serviços, turismo e bens. É voltado para o para o bem-estar social, qualidade de vida e sua área de atuação abrange saúde, cultura, educação, assistência social e lazer.
Seu conceito principal é a transformação social e sua premissa é abranger a melhoria de dentro para
fora, resultando em ações e atividades em função da população. Com isso, durante os mais de 70 anos de existência, o Sesc introduziu novos exemplos de ação cultural e marcou a educação como principal fator para transformar a sociedade.
Só em São Paulo existem 36 unidades de Sesc, dentre eles estão projetos de nomes de icônicos ar-
quitetos, como o Sesc 24 de Maio - do arquiteto Paulo Mendes da Rocha - e o Sesc Pompeia - da arquiteta Lina Bo Bardi. Para aumentar suas programações, as unidades também contam com o SescTV, Portal SescSP, Selo Sesc, Edições Sesc e revistas como Mais 60 e Revista E.
Segundo o site do Sesc, os resultados dessas edificações têm sido tão positivos, que elas vêm sendo
convidadas para fazerem parte de conselhos, associações, comitês, fóruns e grupos de trabalhos. Devido à isso, 50 organizações internacionais e nacionais, contam com representantes do Sesc.
Com seus espaços propostos para a troca de experiências e o convívio, prontos para comportar ati-
vidades de diferentes segmentos, o Sesc atua diretamente no estímulo da autonomia pessoal, valorizando todo tipo de público, incentivando os modos de sentir, pensar e agir, assim possibilitando o bem-estar e uma melhor qualidade de vida.
[34] Realizações do Sesc no ano de 2017 Fonte: Sesc SP
40
[35] Piscina Sesc 24 de Maio Fonte: Archdaily [36] Sesc Avenida Paulista Fonte: Folha Uol
[37] [38 ] Sesc Pompeia Fonte: Autoral
41
PROJETUAIS
REFERÊNCIAS
04
M U S E U DA F O TO G R A F I A D E F O R TA L E Z A O projeto de Marcus Novais Arquitetura é um retrofit da antiga sede do Instituto Brasil - Estados Unidos (IBEU). Possui uma área de 1940 m² e localiza-se no bairro de Varjota, Fortaleza - CE. A intenção principal é transformar o construído em um edifício contemporâneo, através de um volume que não agrida o entorno, principalmente porque a zona é predominantemente residencial. A construção de concreto e fachada marcante conta com cinco pavimentos. No térreo estão: lobby, café, biblioteca e exposição temporária. 1º e 2º pavimentos: exposição permanente e jardim vertical. 3º pavimento: terraço e sala multiuso. E no subsolo, estão a administração, área de apoio e reserva técnica.
[39] Diagrama - Fachada Museu da Fotografia de Fortaleza Fonte: Autoral
[40] Croqui - Museu da Fotografia de Fortaleza Fonte: Marcus Novais Arquitetura
44
[41] Fachada [42] Biblioteca Fonte: Archdaily
[43] Acesso [44] Exposição [45] Terraço Fonte: Archdaily
45
CENTRO CULTURAL EL TRANQUE Situado em zona residencial em crescimento, o Centro Cultural El Tranque se localiza na cidade de Santiago - Chile e foi projetado pelo escritório Bis ArquitectoS. Com 1400 m², foi pensado para ter um vazio central como premissa principal, em que este proporcione a integração interno - externo e espaço - pessoa, trazendo a liberdade de atividades e eventos culturais para os usuários. O edifício se compõe de dois volumes que abraçam o pátio central: o bloco térreo, feito de concreto armado, abriga os usos de caráter público, como auditório, café e exposição e a entrada princial. Já o bloco do pavimento superior, construído de estrutura metálica, engloba as oficinas de artes, culinária e música e a praça que dá acesso à rua do nível superior.
[46] Diagrama - Vista superior Centro Cultural El Tranque Fonte: Autoral
[47] Detalhe estrutura Fonte: Archdaily
46
[48] Entorno [49] Estrutura e marquise Fonte: Archdaily
[50] Detalhe - Painéis metálicos deslizantes [51] Pátio central [52] Vista da praça no superior Fonte: Archdaily
47
PÔLE CULTUREL CALONNE Localizado no centro da cidade de Sedan - França, seu partido comporta aberturas que evidenciam o interior, proporcionando conexão com o exterior. O Centro Cultural de 1897 m², projetado pelo escritório Richard + Schoeller Architectes situa-se em área predominante residencial e ocupa toda a quadra, permitindo vistas nas quatro fachadas. O edifício horizontal é composto por módulos de concreto com janelas de vidros coloridos, dispostos em dois pavimentos. No térreo estão a administração, o teatro, o café e a Praça Calonne, que dialoga com o [53] Diagrama - Fachada Pôle Culture Calonne Fonte: Autoral
interior do edifício, permite usos flexíveis e a vista para o Rio Mosa. E no 1º pavimento estão o estúdio de dança e o espaço multiuso de 350 m², que é equipado com palco e plateia retráteis, pode ser usado de forma livre.
[54] Acesso principal Fonte: Archdaily
48
[55] Fachada sul [56] Fachada oeste Fonte: Archdaily
[57] Fachada norte [58] Sala de danรงa Fonte: Archdaily
[59] Sala de danรงa [60] Auditรณrio Fonte: Archdaily
49
CASO
ESTUDOS DE
05
Parafraseando Luís Milanesi, o centro cultural é um equipamento arquitetônico, que tem o intuito
de trazer interação e lazer para a população. São espaços com suas particularidades, apesar de características que se assemelham. Definidos pela reunião de produtos culturais e a possibilidade de discuti-los, realizá-los e criá-los, devem ser locais que tenham em comum a ideia de proporcionar diferentes formas de cultura à população.
Os estudos de caso que serão apresentados neste capítulo tiveram suma importância para elabora-
ção deste projeto. Foram buscados edifícios culturais que tivessem a preocupação de determinar aspectos arquitetônicos condizentes para serem empregados neste trabalho: ■ Inserção urbana e relação com o entorno; ■ Distribuição do programa ■ Incentivo às crianças e jovens (principalmente) e aos demais moradores a prática de atividades culturais e coletivas.
As obras aqui estudadas são certificadas e premiadas. São eles: Museu Cais do Sertão - Recife/PE, obra
vencedora do Prêmio Obra do Ano - Archdaily 2019; Prêmio Nacional do Turismo - 2018; primeiro lugar na categoria Valorização do Patrimônio Pelo Turismo; Prêmio IAB SP 2018 - Especial 75 Anos; primeiro lugar na categoria Restauro e Requalificação Executado; indicada para o Prêmio Oscar Niemeyer - 2018 e selecionado para o 5° Prêmio Akzonobel - Instituto Tomie Ohtake 2018.
E o CEU Pimentas, localizado no bairro Pimentas - Guarulhos/SP, que após sua conclusão recebeu
o Prêmio APCA 2010 de Arquitetura como Melhor Obra construída em São Paulo e o Prêmio Rino Levi 2010 como Melhor Obra Construída do Ano.
52
M U S E U C A I S D O S E R TÃO ARQUITETURA Brasil Arquitetura LOCALIZAÇÃO Recife - PE, Brasil
SERTÃO VIVO O governo de Pernambuco concedeu um dos galpões do antigo porto e a área livre derivada desse galpão à construção do Cais do Sertão. O conjunto considerado Patrimônio Histórico Nacional, situa-se à beira do mar e está instalado anexado ao antigo armazém do Porto do Recife, a poucos metros do Marco Zero.
ÁREA DO TERRENO 12.000 m²
O Museu Cais do Sertão, situado no litoral pernambucano, reverencia Luiz Gonzaga - figura importante para o Nordeste - e homenageia as memórias, cultura, histórias e luta do povo sertanejo brasileiro. Sua inser-
ÁREA CONSTRUÍDA
ção vem trazendo a transição dos antigos armazéns à um polo gerador de turismo, lazer e entretenimento em
7500 m²
Recife. A obra cria um diálogo entre invenção e tradição, possibilitando aos usuários a experiência interativa de
ANO DO PROJETO
mergulhar no universo sertanejo e seus adjacentes. Devido ao seu programa e localização, o museu requalifica o histórico da cidade e o meio que se
2014 - 2018 TIPOLOGIA Cultural M AT E R I A L P R E D O M I N A N T E Concreto
insere, cria um novo marco urbano na paisagem de recife e retrata a trajetória do “Rei do Baião”, como era conhecido o icônico Luiz Gonzaga. O cantor nasceu no sertão pernambucano, em Exu, mas levou sua música nordestina por todo o Brasil, e é com o intuito principal de mostrar esse legado, que o Cais do Sertão foi pensado.
“Hoje longe, muitas légua Numa triste solidão Espero a chuva cair de novo Pra mim vortar ai pro meu sertão” Luiz Gonzaga - Música Asa Branca, 1947
A pernambucana Isa Grinspum Ferraz, responsável pela concepção do Museu da Língua Portuguesa [61] Diagrama - Fachada Museu Cais do Sertão Fonte: Autoral
- São Paulo, foi a encarregada pela direção e curadoria de criação. Ela trouxe para o Cais o conceito de ambientes convidativos, com diversão, sensações, acolhimento e convivência, e por esses tipos de experiências, o 53
[62] Fachada leste [63] Vão livre - Bloco “novo” Fonte: Archdaily
[64] Bloco “velho” [65] Vão livre e acesso principal - Bloco “velho” Fonte: Recife Mais
[66] Fachada oeste Fonte: Brasil Arquitetura
54
espaço vem se mostrando cada vez mais transformador na rotina do pernambucano.
Para compor o acervo, foram produzidos conteúdos por cineastas pernambucanos como Paulo Cal-
das, Kleber Mendonça Filho, Lírio Ferreira, e Camilo Cavalcanti, além de xilogravuras e cordéis de José Francisco Borges. Sua arquitetura é resultado do projeto de Marcelo Ferraz e Francisco Fanucci do escritório Brasil Arquitetura, conhecido pelo Museu Rodin - Bahia, Museu Oscar Niemeyer - Paraná e Praças das Artes - São Paulo .
MÓDULOS [67] Entorno Fonte: Nelson Kon
Em proposta urbanística com o estado de Pernambuco e com a cidade de Recife, para o projeto ser
construído era preciso manter os antigos armazéns. Dessa forma, foi anexado um bloco de 5000 m², que se conecta ao antigo de 2500 m², totalizando uma área de 7500 m² para abrigar o programa.
O módulo 1, “o velho”, inaugurado em abril de 2014, integra as exposições permanente e de longa
duração. Seu acesso principal está localizado embaixo da marquise de concreto, que forma um vão livre de 25m com abertura oval no centro, onde foi plantado o juazeiro, árvore típica sertaneja. Em sua estrutura, parte dos materiais originais foi reaproveitada, como a cobertura metálica e a alvenaria de concreto, mantendo a estética antiga do galpão.
O bloco 2, “o novo”, conta com outro vão livre de 56 metros lineares e 6 metros de altura, coberto por
uma pele de cobogó, com desenho que lembra os galhos da caatinga. Agrupa as exposições temporárias, auditório, reserva técnica, salas de aula, cafeteria e na cobertura, o restaurante com vista para o mar e a cidade e o jardim, que seu paisagismo faz uso de camadas de proteção térmica, reduzindo a carga térmica na laje, devido incidência forte de sol da cidade e deixando a parte de dentro mais arejada.
MATERIAIS [68] “O velho” - Marquise e acesso principal Fonte: Nelson Kon
O projeto presta homenagem ao sertão não só em seu conteúdo, mas também na materialidade. O 55
[69] Planta tĂŠrreo [70] Planta mezanino Fonte: Brasil Arquitetura
56
[71] Planta 2ยบ pavimento [72] Planta 3ยบ pavimento Fonte: Brasil Arquitetura
57
[73] Corte A humanizado [74] Corte A [75] Cortes B, C, D Fonte: Brasil Arquitetura
58
[76] Restaurante [77] Restaurante e jardim Fonte: Nelson Kon
[78] Fachada sul [79] Detalhe cobogó [80] Vão livre - Bloco “novo” Fonte: Nelson Kon
59
solo quente e seco da caatinga e a pedra do Sertão do Piauí são retratados no concreto pigmentado e sem revestimento de cor amarelo ocke no bloco 2. Esse material permite resistência e durabilidade, já que o edifício será agredido pela corrosão e maresia. O vão de concreto protendido cria uma generosa praça coberta com vista para os arrecifes, que além de diversos tipos de usos, pode atuar como abrigo de sol e chuva.
O cobogó, elemento peculiar na arquitetura de Recife, que proporciona a relação externo/interno, luz
e ventilação natural, é o elemento mais singelo e de destaque da obra. São 2.200 cobogós executados em cimento geopolimérico, que amenizam o impacto do concreto do edifício na cidade. Eles também atuam como um grande véu branco de renda, que cobre as duas fachadas laterais do bloco 2, além de lembrar as rachaduras do solo do sertão e a galhada da caatinga.
R E S U LTA D O
A trajetória de Luiz Gonzaga, com seus aspectos históricos intrínsecos, ligada ao contexto do Sertão
são coisas que não podem ser desassociadas. É devido à esta proposta tão rica e forte para Pernambuco que o museu vem sendo um sucesso. Implantado em um equipamento contemporâneo à beira mar e localizado exatamente onde nasce Recife, o Cais procura mostrar as raízes, trazendo à tona a vida de um povo sofredor, mas forte e que nunca se deixou abalar.
Por fim, o Cais do Sertão é o resultado de um edifício que mescla tradição e tecnologia e fala de for-
ma poética suas raízes. Ora na materialidade, ora em seu acervo e história. Mas sempre com o mesmo ideal, [81] Detalhe materiais Fonte: Brasil Arquitetura
o ideal de representar os contrastes que marcaram a vida do povo nordestino, proporcionando a experiência de imersão aos visitantes, tanto de caráter afetivo, quanto intelectual.
60
[82] Detalhe cobogรณs Fonte: Nelson Kon
[83] Auditório [84] Exposição bloco “velho” Fonte: Brasil Arquitetura
[85] Exposição e mezanino bloco “velho” [86] Exposição bloco “velho” Fonte: Archdaily
[87] Mezanino [88] Exposição bloco “novo” Fonte: Nelson Kon
62
C E U P I M E N TAS ARQUITETURA Biselli & Katchborian Arquitetos Associados
ARQUITETURA
Como já foi ressaltado anteriormente a arte, cultura e educação devem vir acompanhadas de uma es-
LOCALIZAÇÃO
trutura forte. “Forte” também no sentido literal da palavra. É com essa premissa que o projeto do equipamento
Guarulhos - SP, Brasil
em questão, no bairro Pimentas, local carente de alternativas comunitárias de cultura, lazer, esporte e educa-
ÁREA DO TERRENO
ção, foi construído. Com projeto arquitetônico do escritório Biselli e Katchborian, foi pensado inicialmente para
30.780 m²
ser centro de artes e educação, mas só depois seu programa foi adaptado ao de CEU.
ÁREA CONSTRUÍDA
PARTIDO E PROGRAMA
16.000 m² ANO DO PROJETO 2008 - 2010 TIPOLOGIA E d u ca c i o n a l
Seu partido é horizontal e de forma retangular, devido ao terreno, estreito e comprido. A grande co-
bertura longitudinal metálica se configura em 250 metros de comprimento e 30 de largura. Seu propósito é abrigar o programa e proteger o pátio central e a circulação que faz o ligamento de todo o edifício dando a impressão de rua coberta. As margens oeste do edifício está a ala de cultura: biblioteca, salas de música e dança, auditórios, etc. À leste, uso esportivo: quadras, ginásio e piscinas que localizam-se na área externa.
M AT E R I A L P R E D O M I N A N T E
Concreto e metal
Os usos distribuem-se nos módulos de concreto. Esses módulos abraçam o vazio central, a praça in-
terna que acolhe e dá continuidade aos usos do programa, induzindo o usuário a fazer os percursos propostos no térreo. As rampas juntas com a praça, também são protagonistas do CEU e propõem que as escadas sejam apenas auxiliares na circulação.
MATERIAIS [89] Diagrama - Fachada CEU Pimentas Fonte: Autoral
Os acabamentos são de fácil manutenção: piso em concreto aparente, salas de aulas com forro em
placas, paredes pintadas feitas de alvenaria e na parte interna, estrutura aparente. As janelas das salas de aula do oeste contam com brises de alumínio em U-Glass. Já a cobertura, é composta de sistemas de sheds, for63
necendo iluminação natural e telhas metálicas de aço com isolamento acústico e térmico, apoiadas a cada 6 metros em vigas metálicas.
Essas telhas tem também a função fazer o fechamento nas laterais entre a cobertura e os blocos. Ao
sul, na entrada da escola, a cobertura continua em um balanço de 18 metros, que funciona como marquise, proporcionando abrigo de chuva e sol. No outro extremo, onde está a quadra poliesportiva, o fechamento é feito com uma parede que se inclina em 45º.
[90] Entorno Fonte: Nelson Kon
[91] Pátio central Fonte: Nelson Kon
64
[92] Planta tĂŠrreo [93] Planta mezanino Fonte: Archdaily
65
[94] Corte A [95] Corte B [96] Croqui Fonte: Archdaily
66
[97] Entorno Fonte: Geribello Engenharia [98] Fachada oeste Fonte: Nelson Kon
[99] Cobertura em balanรงo [100] Detalhe fachada oeste Fonte: Nelson Kon
[101] Piscinas Fonte: Nelson Kon [102] Piscinas Fonte: Geribello Engenharia
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[103] Detalhe fechamento lateral quadra Fonte: Nelson Kon
[104] Detalhe estrutura Fonte: Geribello Engenharia [105] Estrutura quadra Fonte: Nelson Kon
[106] Quadra [107] Rampas Fonte: Nelson Kon
[108] PĂĄtio central [109] Fachada interna colorida e lĂşdica Fonte: Nelson Kon
69
ÁREA
ANÁLISE DA
06
PE
08º39’49” S 36º00’21” W
HISTÓRICO U N I D A D E F E D E R AT I V A
Pernambuco
Panelas é uma cidade localizada no agreste pernambucano da região Nordeste. O último censo do
IBGE contabilizou uma população de 26.474 habitantes em 2019. O município não tem bairros, mas é forma-
REGIÃO INTERMEDIÁRIA
do pelos distritos de Cruzes, São José do Bola e São Lázaro.
Caruaru
Fundada em 18 de maio de 1870, equivalente a 149 anos, obteve sua autonomia pela Lei Província n°
919, onde foi separada de duas cidades próximas, Caruaru e São Bento do Una. Sua denominação “Panelas”
R E G I Ã O I M E D I ATA
foi datada oficialmente em 31 de maio de 1846, pela Lei Municipal nº 157.
Caruaru DISTRITOS
Panelas (sede)
De acordo com o site da prefeitura e fontes locais, no fim do século XIX, Manoel Santiago de Miran-
da, cobrador de dízimos da região e português, mas residente em Garanhuns - cidade de Pernambuco -,
Cruzes São José do Bola
comprou um pedaço de terras ao norte da área por 600 mil réis. Partes dessa mesma gleba, é patrimônio e
São Lázaro
pertence à Paróquia de Panelas atualmente.
ÁREA TERRITORIAL (2019*)
Onde hoje é a Igreja Matriz, na qual o mesmo ergueu, também foi construída um casebre, ao lado da
capela. Localizada entre três serras, a Serra da Bica, Serra do Boqueirão e Serra dos Timóteos, a cidadezinha
380.428 km²
iniciada ficou conhecida por “Panelas de Miranda”. O padroeiro da cidade é o Senhor Bom Jesus dos ReméPOPULAÇÃO (2019*)
dios, após Miranda ter mandado confeccionar um santo de madeira, feito uma procissão de apresentação e
26.474 habitantes
o colocado na capela.
DENSIDADE DEMOGRÁFICA (2019*)
69,14 hab/km²
A conhecida Serra dos Timóteos tem esse nome por ter abrigado João Timóteo de Andrade, na Guer-
ra dos Cabanos, que foi uma revolta que aconteceu na região entre os penelenses João Timóteo e Francisco
P I B P E R C A P I TA ( 2 0 1 9 * )
José de Barros, durante 1832 e 1836. João estava na Serra dos Timóteos, enquanto Francisco no Sítio Cafundó,
6.196,51 R$
que faz parte de outra cidade, Lagoa dos Gatos.
IDHM (2010*)
A força de Francisco aquartelou-se na cidade de Panelas, e a de João em Acampamento - vila de
Lagoa dos Gatos. Seguiram-se quatro anos de luta, mas para apaziguar, chegou em Panelas o Bispo D. João
0,569
Marques Perdigão, que conseguiu a rendição com a condição de anistia, acabando a “Guerra dos Cabanos”. *Fonte: IBGE
Atualmente ainda se encontra materiais de guerras abandonados nas serras e em locais proximos a região. 73
[110] Panelas Fonte: Blog do Silvinho
[111] Igreja Matriz do Senhor Bom Jesus dos Remédios [112] Banda Marcial Mariano de Assis, 1974 Fonte: Memorial Virtual Panelas PE
[113] Independente Sport Clube - Década de 70 [114] 2º ano da Escola Joaquim Nabuco, 1973 Fonte: Memorial Virtual Panelas PE
[115] Festival Nacional de Jericos - Corrida [116] Procissão Fonte: Memorial Virtual Panelas PE
75
DISTRITOS Localizada a 13km de distância de Panelas, Cruzes é o maior distrito da cidade. Tem aproximadamente 8.000 habitantes e é a principal colaboradora no sentido social e populacional. A vila também conta com eventos religiosos e populares na localidade, como a Festa de Nossa Senhora da Conceição. O nome “Cruzes” é devido as ruas apontarem para caminhos que se cruzam e pela presença de cruzes nos enterros de crianças pagãs, segundo professores e moradores mais velhos. Mesmo com um nome tão atípico, Cruzes era um lugar tranquilo de se morar, até relatos da onda de drogas, assaltos e mortes que deixaram a vila violenta. A Maratona de Cruzes é um evento de velocidade e resistência, que acontece na vila bastante conhecido nas cidades do interior pernambucano. Foi originada com o objetivo de homenagear o aniversário do time Cruzeiro Esporte Clube da Vila de Cruzes por João Pedro, mais conhecido com Zazá, no ano de 1983. O evento conta com cerca de 60.000 pessoas durante os dias em que acontece. Traz apresentações culturais locais, como bumba-meu-boi, capoeira, Antônio da Boneca, mamulengo, bacamarteiros, banda de [117] Mapa Panelas - Distritos Fonte: Autoral
pífanos e forró com as bandas da região. Outra vila da cidade, São José do Bola está localizada a 10 km de Panelas. Foi criada no ano de 1940 pelo agropecuarista da região, José Filipe Barbosa, conhecido por Zezinho da Areia em suas próprias terras. O nome “Bola” se deu à grande quantidade de tatus-bola que havia na vegetação da região; após isso, passou a ser chamada “São José do Bola” pois teve como padroeiro São José. As principais festividades são: o Casamento do Matuto e o Padroeiro São José. Por fim a Vila de São Lázaro localiza-se também a cerca de 10 km de Panelas e é o quarto dos distritos, incluindo a cidade.
[118] 33ª Maratona de Cruzes Fonte: Blog Histórias e Cenários Nordestinos
76
LOCALIZAÇÃO E ACESSOS
Panelas era parte da microrregião do Brejo pernambucano, que por sua vez estava na mesorregião do
agreste de Pernambuco. Mas em 2017, após a divisão vigente do IBGE, a cidade passou a pertencer às regiões geográficas intermediárias e imediatas de Caruaru. [119] Mapa Pernambuco - Cidades Fonte: Autoral
A área do município ocupa 0.37% equivalente a 368,1 km² do estado de Pernambuco. Limita-se à
norte com a cidade de Altinho, a sul com Jurema e Quipapá, a leste com Cupira, Lagoa dos Gatos e São Benedito Sul e a oeste com Ibirajuba. Os acessos são feitos pelas BRs-101 / 232 / 104 e as distâncias de Caruaru e da capital Recife são de 50 km e 182 km, respectivamente.
[120] Mapa Pernambuco - Ampliação Cidades Fonte: Autoral
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GEOGRAFIA
Com altitude de 532 metros, latitude de 08º39’49” à sul e 36º00’21” à oeste, a cidade está situada no
Planalto da Borborema, formada por maciços e outeiros altos. Sua vegetação nativa é a floresta caducifólia e seu relevo é ondulado, característico do Planalto. Além disso, o relevo é acidentado e engloba morros, serras e depressões.
A bacia hidrográfica à que pertence é a do Rio Una, com os afluentes Rio Panelas, Rio Chata e Rio
Feijão, incluindo também seus riachos Areia, Duas Barras e Gaiola. O clima é tropical chuvoso, mas o verão é seco, iniciando-se entre janeiro e fevereiro a estação de chuvas que termina entre setembro e outubro.
[121] Serra da Bica Fonte: Eliema Santos
[122] Serra do Boqueirão Fonte: Eliema Santos
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ASPECTOS SOCIAIS E ECONÔMICOS
A população residente na cidade é de 26.474 habitantes, conforme o censo do IBGE 2019. Desse nú-
mero, 41,9% reside na zona urbana e 58,1% na zona rural. 49,7% da população é do sexo masculino e 50,3% feminino. A densidade demográfica é de 69,14 hab/km². ■ TAXA DE MORTALIDADE INFANTIL
13,89 óbitos a cada 1000 nascidos (2017*)
■ EDUCAÇÃO INFANTIL
39 estabelecimentos de ensino fundamental - 3.709 matrículas (2018*)
2 estabelecimentos de ensino médio - 1.336 alunos matriculados (2018*)
■ ALFABETIZAÇÃO
15.202 pessoas alfabetizadas (2018*)
■ REDE DE SAÚDE
1 hospital, 23 leitos, 6 ambulatórios, e 52 agentes de saúde pública (2009*)
■ DOMICÍLIOS
6.133 particulares permanentes (2018*)
■ COLETA DE LIXO
Atende 2.252 domicílios, equivalente a 36,7% dos moradores (2018*)
■ ÍNDICE DE DESENVOLVIMENTO HUMANO MUNICIPAL (IDHM)
0,569, sendo 155º no ranking estadual e 5.028º no nacional (2010*)
■ ÍNDICE DE EXCLUSÃO SOCIAL (pobreza, emprego formal, desigualdade, alfabetização, anos de estudo, concentração de jovens e violência)
0,298, sendo 168º no ranking estadual e 5.280º no ranking nacional (2017*)
*Fonte: IBGE
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TURISMO
O Festival Nacional de Jericos é um evento tradicional da cidade, que ocorre entre os dias 28 e 1º de
maio todos os anos durante a comemoração do dia do trabalhador. Conta com espetáculos como: apresentações culturais, música, dança, bloco de rua, feira de artesanato e comidas típicas, concurso de jumentos fantasiados, shows e a famosa corrida dos jericos.
A festividade completou sua 46ª edição em 2019. Foi criada em 1973 pelo professor Luélcito Cintra
como forma de protesto para a matança de jericos. Também produz uma boa renda para a população da região, pois é prestigiada por turistas de todo o estado e até mesmo do Brasil. [123] 45ª corrida do Festival Nacional de Jericos Fonte: Blog Revista Total
Além desse evento, a cidade conta com uma bica natural, intitulada Bica de Panelas, que convida
pelo fácil acesso e por ser point de encontro dos visitantes e moradores do local. Panelas também é conhecida na região por suas paisagens naturais, que são atrativos para os turistas: a Serra da Bica, morro com mirante, bicas e furnas, com grandes rochas e grafismos rupestres. E o Sítio Arqueológico Caverna da Lagoa, um patrimônio natural e histórico, com gravuras e pinturas feitas há cerca de dois mil anos atrás.
[124] Bica de Panelas Fonte: Elielma Santos
80
[125] Cidade de Panelas Fonte: Elielma Santos
[126] Igreja Matriz do Senhor Bom Jesus dos Remédios Fonte: Autoral [127] Mirante Serra da Bica Fonte: Elielma Santos
[128] Praça Governador Eduardo Campos [129] Praça Governador Eduardo Campos Fonte: Elielma Santos
81
LEGISLAÇÃO E PLANO DIRETOR
Foram feitas pesquisas pessoalmente na secretaria de infraestrutura, onde foi informado que a cidade
não possui legislação e Plano Diretor. Dessa forma, em consenso com o professor, foi adotado o PD da cidade de Caruaru, que é a região intermediária imediata; admitindo que o terreno em questão por estar no centro de Panelas, adota-se a zona central de Caruaru, ZAM 1 - Zona de Atividades Múltiplas.
[130] Plano Diretor de Caruaru Fonte: Prefeitura de Caruaru
82
INSERÇÃO URBANA LOCALIZAÇÃO
Rua dos Cabanos
de terrenos com área adequada para a inserção de um equipamento cultural. Com isso, de acordo com os
Rua Antônio (quadra inteira) R u a A n tô n i o G o n ça l ve s
Devido a cidade ser de predominância residencial, o lugar em questão dispõe de poucas opções
parâmetros de fluxos; movimento e proximidade com escolas, serviço e comércio, foram feitas análises, que tendenciaram a escolher o terreno da Sociedade Esportiva Panelense, conhecido por “Clube”.
Á R E A T O TA L 4886m²
Para a avaliação e escolha, a característica principal foi a zona em que se insere, já que o terreno está
situado próximo ao centro da cidade, um dos lugares com melhor acesso para a maioria dos moradores. E
ÁREA CONSTRUÍDA
por último, a área. Foi preciso uma área com dimensões que comportassem o centro cultural, sem precisar
1200m²
demolir as residências, mantendo a média do gabarito de altura da cidade e relacionando o novo edifício
ZONA
com o entorno.
ZAM 1 - Zona de Atividades Múltiplas 1
(Plano Diretor de Caruaru)
serviço. Trata-se de um terreno plano e quase retangular, que ocupa a quadra inteira, onde de seus quatro
PA R Â M E T R O S U R B A N Í S T I CO S
Esse perímetro se compõe por um único lote com uma construção de pavimento térreo e uso de
lados, três fazem frente para as ruas: dos Cabanos, Antônio e Antônio Gonçalves, com 49, 113 e 51 metros res-
C.A - 3,0
pectivamente cada uma. O último lado faz fundo com casas vizinhas. Das três ruas em que está situado, a Rua
T. O - 0
dos Cabanos é uma das duas vias principais de acesso à cidade.
Recuo frontal - 0 Recuo fundos - 1,5 Recuos lateral - 0 PROXIMIDADES Centro da cidade Co m é r c i o - s u p e r m e r ca d o s , p a d a r i a s , l o j a s Ser viço - bancos, restaurantes, lanchonetes Institucional - escolas, igrejas, hospital L aze r - p ra ça s
83
[131] Mapa aĂŠreo Fonte: Google Earth
[132] Mapa do entorno Fonte: Autoral
[133] Terreno visto da Rua Antônio Gonçalves e Rua Antônio [134] Terreno visto da Rua Antônio e Rua dos Cabanos Fonte: Autoral
[135] Terreno visto da Rua dos Cabanos [136] Acesso ao terreno pela Rua dos Cabanos Fonte: Autoral
[137] Construção dentro do terreno [138] Campo dentro do terreno Fonte: Autoral
86
USO E OCUPAÇÃO DO SOLO E GABARITO
Para entendimento dos tipos de usos do solo presentes, foi feito um estudo do entorno. Com isso, é
possível compreender que Panelas é caracterizada pela predominância de residências, mas há um equilíbrio desse tipo uso com os de comércio e serviço para poder suprir a demanda da população. Nas fotos aéreas já vistas anteriormente, nota-se também que as edificações em geral não ultrapassam o gabarito de quatro pavimentos em toda a cidade, entretanto a maioria é térrea.
87
[139] Mapa de uso e ocupação do solo Fonte: Autoral
EQUIPAMENTOS URBANOS
Equipamentos urbanos relevantes para articulação da cidade:
1. Núcleo de Cidadania dos Adolescente (NUCA) 2. Companhia Energética de Pernambuco (CELPE) 3. Banco do Brasil 4. Praças 5. Centro de Especialidades e Dianósticos (CEED) 6. Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Panelas 7. Laboratório (LABOC) 8. Conselho Tutelar 9. Secretaria de Defesa Social 10. Igreja Matriz do Senhor Bom Jesus dos Remédios 11. Companhia Pernambucana de Saneamento (COMPESA) 12. Escola Bom Jesus dos Remédios 13. Caixa Econômica Federal 14. Prefeitura de Panelas 15. Secretaria de Educação 16. Núcleo de Proteção Social 17. Laboratório de Análises Clínicas (LAEV) 18. Fórum 19. Secretaria de Infraestrutura 20. Anexo da Escola Municipal João Timóteo de Andrade 21. Hospital Nossa Senhora de Fátima 22. Escola Estadual Gregório Bezerra 89
[140] Mapa de equipamentos urbanos Fonte: Autoral
CHEIOS E VAZIOS
Através do mapa de cheios e vazios é possível observar carência de áreas livres e de lazer que não
estejam inutilizados. Existe também um adensamento nos lotes e suas construções: as residências são em sua maioria estreitas e geminadas, bem como os lotes de comércio e serviço. Os terrenos vazios geralmente são baldios e/ou subutilizados.
91
[141] Mapa de cheios e vazios Fonte: Autoral
MOBILIDADE
Como a maioria das cidades do interior de Pernambuco, Panelas é um município de área territorial
modesta. Com isso, não existe a necessidade de modais de transporte público circulando dentro da cidade, as pessoas conseguem caminhar para qualquer lugar. O fluxo de automóveis não é intenso e apesar de também não ter ciclovias, outro meio de transporte comum é a bicicleta e a motocicleta. Crianças e adolescentes andam de bicicleta diariamente pelas vias do local.
93
[142] Mapa de mobilidade - Vias principais Fonte: Autoral
PROJETO
07
Sou contra ver a arquitetura somente como um projeto de status. Estou em desacordo com o meu querido amigo Kneese de Mello quando diz que os pedreiros nĂŁo devem fazer arquitetura. Acho que o povo deve fazer arquitetura. LINA BO BARDI
PARTIDO Quando se observa o terreno em questão, a primeira característica marcante são duas árvores que o habitam há décadas. Foi com o intuito de criar uma construção que as contornasse que o volume nasceu. O projeto é resultado da preocupação em trazer à uma cidadezinha no interior de Pernambuco a imersão à cultura, e com isso, mostrar a história do Nordeste e seu povo. O telhado colonial de telha de barro é a cobertura mais simples e popular na construção das casas na cidade de Panelas, mas está presente na arquitetura brasileira em todas as suas fases. Sua principal característica é a telha aparente, que deixa todo telhado exposto com suas formas definidas com meia água, duas águas, três águas e assim por diante. Outra particularidade nas residências que habitam a cidade são as aberturas (portas e janelas). Elas são em sua maioria de alturas e larguras irregulares, trazendo essa identidade às habitações panelenses. Diante dessas características, o edifício foi constituído para requalificar a cidade e promover espaços dinâmicos que estimulem as atividades culturais e coletivas entre as crianças, adolescentes e demais moradores da cidade. Além do convívio em grupo; a requalificação da cidade e seu lote subutilizado e a diminuição na taxa de criminalidade na região, proporcionando a releitura da relação do homem com a cidade. A implantação do equipamento propõe o aproveitamento do terreno dispondo de áreas livres e setores educacional, cultural e de lazer, que contam com três fachadas ativas, sendo a principal permeável. A árvore maior é abraçada pelo programa, este se dispõe em volumes perimetrais, formando o pátio central em seu miolo e dá acesso direto à todo o térreo da construção. Por fim, a volumetria faz a junção de todos esses telhados coloniais de águas variadas, com janelas irregulares que remetam a identidade da cidade: suas casinhas peculiares.
[143] Exemplos das casas Panelenses Fonte: Autoral
99
PROGRAMA
CULTURA
EDUCAÇÃO
SAÚDE
LAZER
ADMINISTRAÇÃO
SERVIÇO
Biblioteca
Salas de aula
Ambulatórios
Quadra multiuso
Marketing
Recepção
Auditório
Salas de oficina
Atendimentos
Brinquedoteca
Comercial
Restaurante
Exposição
Salas multimídia
psicológico,
Jogos e atividades
Diretoria
Cafeteria
Espaço de leitura
Salas multiuso
odontológico e
Pátio descoberto
RH
Loja
Atelier de artes
coletivo
Bicicletário
Reunião
Vestiários
Equipamentos de
Áreas de convivência
Descompressão
ginástica
100
RUA ANTÔNIO GONÇALVES
RUA DOS CABANOS RUA ANTÔNIO
[144] Implantação Fonte: Autoral
0
5
10
TÉRREO C
B 18 2
A
1
18
A
1 4 3 5 8
5 1 6 16 9 15
7
11
14
10 11
12
13
17
B
C
13. Marquise
1. Biblioteca
7. Café
2. Exposição temporária
8. Quadra poliesportiva
14. Restaurante
3. Exposição permanente
9. Arquibancadas
15. Cozinha – Restaurante
4. Auditório
10. Depóstio – Quadra
16. Pátio descoberto
5. Banheiros
11. Vestiários – Quadra
17. Bicicletário
6. Loja
12. Recepção
18. Equipamentos de ginástica
0
5
10
[145] Planta térreo Autoral
MEZANINO C
B
2
A
A
1 4 3 5 6 1
5
7
8 5
B
C
1. Mezanino biblioteca
7. Arquibancadas
2. Exposição temporária
8. Mezanino – Restaurante
3. Exposição permanente 4. Auditório 5. Mezanino – Café e quadra 6. Quadra poliesportiva
[146] Planta mezanino Autoral
103 0
5
10
1º PAVIMENTO C
B 7
7
7 7
A
1
A
8
2 3 4
2
9
6
9
5
8
13 13
10 10
8 11
8
5
11
12 12
B
1. Biblioteca
7. Salas de aula
2. Salas de estudo
8. Salas de oficina
3. Reunião
9. Banheiros
4. Diretoria
10. Brinquedoteca / Jogos e atividades
5. RH
11. Salas multimídia
6. Comercial e marketing
12. Salas multiuso
104 0
5
10
C
13. Atelier de artes
[147] Planta 1º pavimento Fonte: Autoral
2º PAVIMENTO C
B
A
1
3
8
4
7
5
6
11
11
12
10 15
9
A
13
14
16 16
2
17
17
18
25 24
19 19 19 26 27
30
27
20
29
21
23 22
28 27
27
B
28 28
28
C
1. Biblioteca
7. Manutenção
13. Copa – Funcionários
19. Reunião
25. Copa – Funcionários
2. Café – Biblioteca
8. Elétrica
14. Almoxarifado
20. Diretoria
26. Espera – Bloco saúde
3. Copa – Área técnica
9. Recepção – Bloco saúde
15. Depósito
21. RH
27. Atendimento psicológico
4. DML
10. Atendimento coletivo
16. Banheiros
22. Marketing e comercial
28. Atendimento odontológico
5. Depósito de apoio
11. Ambulatórios
17. Vestiários
23. Depósito – Adm
29. Sala de esterilização
6. Depósito geral
12. Administração
18. Espaço de descompressão
24. Almoxarifado – Adm
30. Terraço
[148] Planta 2º pavimento Autoral
105 0
5
10
CORTE A
12m 9m 6m 3m
[149] Corte A Autoral
0
5
10
CORTE B
Caixa d’água
12m 9m 6m 3m
[150] Corte B Autoral
0
5
10
CORTE C
12m 9m 6m 3m
[151] Corte C Autoral
0
5
10
DIAGRAMA VOLUMETRIA
Telhado platibanda com telha de barro Janelas de vidro tipo basculante com caixilhos de alumĂnio
Paredes de concreto com textura Lajes de concreto
Pilares de concreto
Piso revestido de pedra ardĂłsia em corte irregular
[152] Diagrama volumetria Autoral
109
[153] Entorno Autoral
[154] Fachada leste Autoral
[155] Fachada nordeste Autoral
[156] Ampliação fachada leste Autoral
[157] Fachada sudeste Autoral
[158] Fachada sul Autoral
[159] Fachada sudoeste Autoral
[160] Fachada noroeste Autoral
[161] Fachada norte Autoral
[162] 2ยบ pavimento Autoral
[163] Ampliação quadra Autoral
[164] Ampliação pátio Autoral
[165] Ampliação fachada noroeste Autoral
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Relacionar arquitetura-cultura e espaço-indivído, é sem dúvida dizer que o edifício só ganha significa-
do a partir do instante em que é experienciado. Ou seja, a dimensão de uma obra depende individualmente da experiência de cada pessoa. Assim, a arquitetura é uma manifestação cultural que tem o poder de ser representativa e ajuda a compreender a lógica urbana de cada local em sua particularidade. E é com o intuito de promover essas experiências que esse trabalho foi feito.
123
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