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LUCAS GALAVERNA
Elaborada pelo sistema de geração automática de ficha catalográfica do Centro Universitário Senac São Paulo com dados fornecidos pelo autor(a). Lima, Lucas Galaverna Minganti de Barros VILA VIVA: O uso da madeira e seu comprometimento ecológico / Lucas Galaverna Minganti de Barros Lima - São Paulo (SP), 2019. 122 f.: il. color. Orientador(a): Marcelo Suzuki Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharelado em Arquitetura e Urbanismo) - Centro Universitário Senac, São Paulo, 2019. Arquitetura, Madeira, Meio Ambiente, Projeto Residencial, Multifamiliar, Vila, Ecológica I. Suzuki, Marcelo (Orient.) II. Título
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USO
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COMPROMETIMENTO ECOLÓGICO
Trabalho de conclusão de curso apresentado ao Centro Universitário Senac – Santo Amaro, como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Arquitetura e Urbanismo. Lucas Galaverna Minganti de Barros Lima Orientador: Prof. Dr. Marcelo Suzuki São Paulo, 2019
AGRADECIMENTOS Agradeço, primeiramente, a minha família, em especial meus pais, meu irmão e meu cachorro, que sempre estiveram presentes, me apoiando e incentivando ao longo de toda a minha vida; Aos meus amigos Camila Caçador, Christian Prall, Felipe Francisco, Leonardo Ferrari, Luiza Gottsfritz e Nathália Fernandes, que me acolheram e cresceram junto comigo, superando as dificuldades e elaborando projetos singulares, dentro e fora da faculdade, ao longo destes cinco inesquecíveis anos; Ao meu professor e orientador Marcelo Suzuki, por toda paciência, atenção e disposição de me atender sempre que necessário, me forçando e incentivando a evoluir. Seu suporte ao longo deste ano foi de extrema importância para a realização deste trabalho; Ao professor Paulo Magri e técnicos do Laboratório de Design Industrial, que me auxiliaram na confecção das minhas maquetes; À Juliana e Fabia Tuchsznajder, por estarem comigo diariamente durante toda a jornada da faculdade e me proporcionarem momentos de descontração nas idas e vindas ao Senac; o convívio com vocês duas me proporcionou um enorme aprendizado e crescimento profissional e pessoal; E a todos que, direta ou indiretamente, fizeram parte da minha formação.
Viva a vila, a vila viva. NĂŁo veda a vida, e a vida vela.
RESUMO Este trabalho consiste em investigar e identificar os principais componentes de um projeto ecológico, destacando o uso da madeira como o principal elemento estrutural, com objetivo de obter os conhecimentos necessários para sua construção. Como base para o desenvolvimento deste projeto foram pesquisados conteúdos para a fundamentação teórica, por meio de pesquisas bibliográficas e entrevistas de campo, abordando temas como o manejo florestal, ecologia, propriedades da madeira e elementos das técnicas construtivas. O presente projeto vem aplicar esses conceitos estudados a fim de propor uma vila com seis casas, em três configurações diferentes, tirando o melhor proveito da madeira, de modo a criar um espaço equilibrado e em harmonia com a natureza, além de estimular a convivência e a troca de experiências entre os moradores da vila e do seu entorno, problematizando o atual modelo de conjuntos residenciais e condomínios fechados.
Palavras chaves: Arquitetura, Madeira, Meio Ambiente, Projeto Residencial, Multifamiliar, Vila, Ecológica
ABSTRACT This essay consists in investigating and identifying the main elements that compose an ecological project, highlighting the use of wood as the main structural element, aiming to obtain the knowledge necessary for its construction. As a basis for the development of this project, contents were researched for the theoretical basis, through bibliographical research and field interviews, addressing topics such as forest management, ecology, wood properties and elements of construction techniques. The present project applies these concepts in order to propose a village with six houses, in three different configurations, making the best use of the wood, in order to create a balanced and harmonical space with nature, besides stimulating the coexistence and the exchange of experiences between the residents of the village and their surroundings, problematizing the current model of residential complexes and gated communities.
Keywords: Architecture, Wood, Environment, Residential Project, Multi-Family, Village, Ecological 
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO
Objetivo 14 Justificativa 14 Procedimentos Metodológicos
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2 CONCEITUAÇÃO
O Que é um Projeto Ecológico 20 Meio Ambiente e o Manejo Sustentável 21 A Importância do Manejo 22
3 A MADEIRA COMO ESTRUTURA Propriedades da Madeira 28 A Madeira na Construção 29 Resistência ao Fogo 32 Vantagens e Desvantagens
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4 A MADEIRA NA ARQUITETURA
O Uso da Madeira na Arquitetura Mundial Técnicas Construtivas 39 Tipos de Conexões 42
5 ESTUDOS DE CASO
Residência Hélio Olga | Marcos Acayaba Casa Grelha | FGMF Arquitetos 52 Vila Taguaí | Cristina Xavier Arquitetura 56
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6 proposta A Caracterização da Vila 62 O Terreno 68 A Implantação 74 A Praça 82 As Casas 86
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CONSIDERAÇÕES FINAIS 118 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANEXO 123
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INTRODUÇÃO AVIV
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OBJETIVO Explorar o uso da madeira como elemento principal de estrutura em um projeto residencial de uma Vila Ecológica. Objetivos específicos:
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Estudar as possibilidades de aplicação da madeira na arquitetura Compreender as propriedades e limitações do material Identificar técnicas construtivas para aplicar ao meu projeto Desmistificar o preconceito com o uso da madeira no Brasil
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Incorporar questões de ordem ecológica e sustentável Promover um espaço que propicie a vida em comunidade Discutir a segregação presente nos atuais conjuntos residenciais Minimizar o impacto ambiental
JUSTIFICATIVA Este trabalho, desde o seu início, foi motivado pelo interesse no uso de madeira em projetos de arquitetura, por este nunca ter sido o ponto central abordado nas aulas, e pela necessidade de aprofundamento neste tema de extrema importância, que será muito benéfico para a formação e futura vida profissional. Ao se projetar um espaço pensando desde o início nas questões ambientais, nos materiais e nos métodos construtivos, obtém-se um resultado em harmonia com a natureza, onde os moradores aprendem sobre sustentabilidade por imersão, vivenciando-a diariamente. Logo, este pensamento deve ser incorporado nos grandes centros urbanos, onde estão presentes os maiores impactos ao meio ambiente e onde maior parte da população carece de tal ensinamento. Refúgios de fim-de-semana não são as estruturas mais ecológicas sobre as quais um desenhador com preocupações ambientais se possa debruçar; representam por definição um gasto excessivo de dinheiro e materiais. (RICHARDSON, 2007, p.141)
Tendo isso em vista, aliado à necessidade de se pensar em alternativas ao condomínio fechado, amplamente difundido e em constante crescimento, prejudicando a paisagem urbana e fragmentando a cidade, as vilas apresentam um grande potencial de transformação do espaço 14
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urbano, eliminando os grandes muros e modificando a relação entre o edifício e o espaço público, além de ampliar a interação entre os moradores. Talvez a forma mais destacada de estudo da segregação moderna seja sua manifestação sob a forma dos condomínios fechados. (VILLAÇA, 2011, p. 39)
Ao associar o uso da madeira ao modelo de moradia das vilas, é possível conceber projetos com caráter sustentável, para que a estrutura se funda com a natureza, sem criar uma barreira, de forma a minimizar o impacto ambiental. Portanto, os benefícios estão presentes em diferentes proporções, desde a escala local, afetando diretamente a vida dos moradores, enriquecendo o espaço urbano, e até mesmo em escala global, sequestrando gás carbônico da atmosfera e contribuindo para o combate ao efeito estufa. A madeira e seus derivados são o principal recurso vegetal utilizado na construção civil, em virtude de sua resistência mecânica, aliada à sua leveza. Devido a sua origem, a madeira é o único material empregue na construção que apresenta uma produção renovável, podendo ser replantada, reciclada e reaproveitada; enquanto o concreto e o aço, por exemplo, são obtidos a partir de recursos naturais finitos e, portanto, devem ser usados somente quando forem extremamente necessários. Extraída da maneira correta, provinda de uma floresta sustentável e não tendo que percorrer uma grande distância até o local da construção, a madeira tem um baixo consumo de recursos, além de gerar poucos resíduos. Durante o seu crescimento, a madeira consome gás carbônico, o principal agente responsável pelo aquecimento global, e quando utilizada em estruturas, continua estocando o carbono em um ciclo de longa duração, contribuindo para a diminuição da presença deste gás na atmosfera. A estrutura celular da madeira, apesar de leve, apresenta uma grande resistência, podendo absorver muita tensão, pressão e flexão. Outras propriedades interessantes deste material incluem sua pouca condutividade térmica, sendo considerado um bom material isolante, e sua resistência ao fogo, em consequência de sua combustão periférica. Sendo assim, as aplicações da madeira merecem ser exploradas e mais utilizadas, visando diminuir o impacto ambiental e preservar o equilíbrio ecológico.
INTRODUÇÃO
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PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS O trabalho está fundamentado em pesquisas bibliográficas e iconográficas, estabelecendo uma base teórica relacionada ao tema de estruturas em madeira e arquitetura ecológica, estudos sobre as diferentes técnicas construtivas possíveis com este material além de estudos de caso, que auxiliaram na realização do projeto. Divide-se em capítulos para explicar separadamente os temas mencionados acima, iniciando com a caracterização de um projeto ecológico, segundo os autores Gauzin-Muller, Kwok e Grondzik, além de conceituar a importância do manejo sustentável para o meio ambiente e o preconceito com o uso da madeira. Em seguida, são apresentados dados com relação ao uso da madeira como estrutura, suas propriedades, pontos positivos e negativos, a partir da visão de diversos autores, como Pfeil, Rebello e Fernandes. No capítulo seguinte são analisadas as técnicas construtivas sobre dados apresentados em livros e a partir de visitas de campo à fábrica da ITA Construtora e ao IAU - Instituto de Arquitetura e Urbanismo da USP em São Carlos, guiado pela professora Akemi Ino. Posteriormente estão três estudos de caso que têm como premissa a utilização da madeira como principal elemento estrutural, analisados através dos materiais cedidos pelos escritórios e publicações físicas e digitais. Por fim, é apresentado o projeto da Vila Viva, contextualizando sobre a relevância das vilas e problematizando a questão da segregação e individualismo presentes nos atuais conjuntos residenciais e condomínios fechados, além da definição do programa e dos desenhos para total compreensão da proposta, passando por croquis e maquetes de estudo de implantação e volumetria, de extrema importância para o dinamismo do projeto.
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O QUE É UM PROJETO ECOLÓGICO
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Fig. 1: Diagrama de Sustentabilidade Elaborado pelo autor
Alguns autores, como GAUZIN-MULLER, KWOK e GRONDZIK, diferenciam os termos “sustentável” e “ecológico”, sendo o primeiro responsável por um ciclo completo, que envolve o meio ambiente, a economia e o bem-estar social, abordando questões de longo prazo e pressupondo a inexistência de impactos negativos sobre o meio ambiente, além de possuir diversos sistemas de certificação que comprovam seu alto desempenho; enquanto o segundo trata de um projeto que utiliza os materiais respeitando sua natureza e extraindo deles seu melhor comportamento, obtendo resultados eficientes em consumo de energia, água e demais recursos. Ou seja, uma arquitetura ecológica é um meio que contribui para um fim, a sustentabilidade; portanto, o presente trabalho se classifica como um projeto ecológico. O conceito de um projeto ecológico, ou ‘ecoprojeto’, tem relação direta com a crescente reflexão sobre a disponibilidade finita de energia e matéria na superfície da Terra. Com o passar do tempo, a população passou a compreender os impactos do consumo descontrolado dos recursos naturais e as sérias consequências que desencadeiam no futuro. Desta forma, os projetos com essas características buscam soluções alternativas, conceituais e metodológicas, com o uso de tecnologias adequadas, a fim de garantir a conservação dos recursos ambientais para as futuras gerações. Para tal, utilizam subsídios capazes de reduzir o consumo de reservas naturais, a emissão de gases que contribuem para o efeito estufa e o desperdício, tanto de material quanto de trabalho, minimizando o impacto negativo. Empenham-se para utilizar materiais com pouca energia incorporada ou reciclados, além de gerir o ciclo da água – com sistemas de reuso e captação de águas pluviais – e incorporar elementos de geração de energia, de modo a alcançar a máxima eficiência no processo de construção e no futuro uso da edificação. Os ecossistemas urbanos, atualmente, consomem mais energia do que produzem, e somado à constante diminuição de vegetação nas cidades acarretam em um espaço totalmente artificial, onde o petróleo, carvão, gás e energia nuclear são as principais fontes de energias, que, além de esgotáveis, são altamente contaminantes, liberando resíduos e consumindo o ar, a água e o solo; todo sistema ecológico estável deve ter um ciclo fechado, regenerando os recursos que consome. (MASCARÓ, 2010, p. 17) A construção civil tem um papel muito importante nesse processo, pois é um dos setores mais importantes da economia mundial: os edifícios são responsáveis por 40% do consumo de energia mundial, 16% da água potável e 25% da madeira das florestas. O setor é responsável, ainda, por 50% das emissões de CO2. É sem dúvida a maior fonte geradora de resíduos de toda a sociedade, e absorve 50% dos recursos extraídos da
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crosta terrestre. No Brasil, os edifícios consomem 44% da energia do país, e o setor residencial consome 50% desse todo. (AFLALO, Marcelo. Prefácio à Edição Brasileira. In: GAUZIN-MULLER, 2010, p. 14)
Segundo GAUZIN-MULLER (2010), a degradação do meio ambiente e as modificações climáticas estão diretamente ligadas às atividades humanas; deste modo, os projetos ecológicos devem refletir sobre isso e se apropriar de artifícios que possibilitem a criação de uma arquitetura acolhedora para as pessoas e inofensiva para o meio ambiente. Se pensarmos nisto, chegaremos à conclusão de que os maiores e os mais caros edifícios não são, em geral, os mais humanos. Sendo assim, os edifícios que protegem as pessoas podem também ser o que protegem a Terra.(RICHARDSON, 2007, p. 12)
O meio ambiente, segundo a Constituição Federal, é um bem coletivo, de todos e para todos, portanto, não admite nenhuma apropriação particular ou do Estado. Apenas os elementos que compõem o meio ambiente podem ser utilizados, como a flora, contanto que tenha
MEIO AMBIENTE E O MANEJO SUSTENTÁVEL cuidado, de forma a preservar para futuras gerações, e que não haja apropriação exclusiva. A exploração econômica do meio ambiente deve se dar, dentro dos limites da capacidade de suporte dos ecossistemas, entendida esta como aquela que resguarde a renovação dos recursos naturais renováveis, de forma que possam servir às gerações futuras. (GOMES, 1999 apud VALERI e col., 2003, p. 6)
Tendo isso em vista, quando não há essa preocupação e o meio ambiente, ou parte dele, se encontra em degradação, é muito difícil, ou até mesmo impossível, que se consiga reverter esse processo e retornálo para o que era antes da intervenção humana. Segundo FIORILLO e RODRIGUES (1999): Em sede principiológica de Direito Ambiental, não há como escapar do preceito fundamental da ‘prevenção’. Esta é e deve ser a palavra de ordem, já que os danos ambientais, tecnicamente falando, são irreversíveis e irreparáveis.(Apud VALERI e col., 2003, p. 9)
O Brasil possui a maior biodiversidade do planeta, fato que conduziu ao Poder Público a obrigação e o compromisso de preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais, definir espaços territoriais para proteção da fauna e da flora, assim como investir no manejo ecológico das espécies e dos ecossistemas. A flora, indiscutivelmente, possui um imenso valor para a sobre-
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vivência humana, classificada como essencial à vida, tendo em vista que ela influencia, por exemplo, na regulação dos recursos hídricos, na formação dos solos, no equilíbrio climático, além de atuar como uma reserva de biodiversidade. Durante todo o século XX, a exploração da araucária foi um elemento muito importante na economia dos estados do sul do país, tendo a madeira serrada e laminada exportada para diversos países. Essa extração sem limites se intensificou a partir de 1934, com o ápice entre as décadas de 1950 e 1970, praticamente consumindo todas as reservas de araucária no estado de São Paulo. “Estima-se que entre 1958 e 1987 foram exportados mais de 15 milhões de m3 de madeira, fazendo com que a araucária fosse o produto madeireiro mais importante do Brasil até a década de 1970.” (SIMÕES e LINO, 2003, p. 87)
Em consequência de todo esse consumo desenfreado, a produção madeireira conduziu ao esgotamento das reservas naturais, prejudicando o abastecimento de matéria-prima para a indústria e transformando extensas regiões no sul do Brasil. Com o intuito de reverter essa situação, a partir de 1997, surgiram Programas de Reflorestamento e Planos de Manejo Florestal Sustentável.
A IMPORTÂNCIA DO MANEJO O uso sustentável das florestas equivale ao uso de áreas florestais de tal forma e ritmo que conserve a biodiversidade para o presente e futuro, em nível local, nacional e global, sem danificar os ecossistemas. Simboliza um equilíbrio entre a saúde ambiental e o anseio da sociedade por produtos florestais. Através do manejo é possível se beneficiar do que a natureza tem a oferecer, passivamente, garantindo uma qualidade ambiental e a permanência da diversidade biológica para as próximas gerações. A busca da qualidade ambiental é uma atitude ancestral que visa estabelecer um equilíbrio harmonioso entre o homem e a natureza que o cerca. Praticada por necessidade durante séculos, em particular na arquitetura doméstica e vernacular, caiu em desuso após a Revolução Industrial, em uma época em que o homem acreditou na sua onipotência e explorou, sem controle, os recursos do planeta. (GAUZIN-MULLER, 2010, p. 26)
Um manejo florestal sustentável permite a extração da madeira, e de outros subprodutos derivados da natureza, de forma racional e cuidadosa, através de técnicas de mínimo impacto ambiental. Ou seja, através de um planejamento de colheita e do monitoramento do crescimento da floresta, é possível manter uma produção constante e duradoura.
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Para isso, é necessária a utilização de múltiplas espécies de árvores, respeitando o ecossistema e evitando a monocultura, de modo a fornecer produtos madeireiros (como toras ou pranchas) e não-madeireiros (como óleos, sementes e castanhas) que sigam uma evolução semelhante às florestas originais, assegurando a obtenção de benefícios econômicos, sociais e ambientais. Somando-se a realização de pesquisas que especifiquem critérios e direcionem a exploração pelo manejo sustentado, poderá ser possível o uso eficiente e otimizado dos produtos florestais, assegurando a viabilidade econômica e benefícios ambientais e sociais. (SIMÕES e LINO, 2003, p. 101)
Para iniciar a prática, é necessária a elaboração de um Plano de Manejo Florestal Sustentável (PMFS), em que são apresentadas as técnicas florestais para a extração, além de diretrizes para a administração e gerenciamento da atividade. Não existe um único modelo de manejo, cada sistema tem uma abordagem particular e define os seus padrões para o manejo florestal sustentável, sempre dando preferência para as técnicas com o mínimo de impacto ambiental, de maneira benéfica tanto para a floresta quanto para os trabalhadores. É importante destacar, também, que o manejo por si só não consegue resolver todos os problemas, sendo necessário manter áreas de proteção integral, como explicam VALERI e col. (2003, p. 20): Da análise do Código Florestal observamos que, entre outras, são áreas de preservação permanente aquelas situadas ao longo dos rios ou outros cursos d’água; ao redor das lagoas, dos lagos ou dos reservatórios naturais ou artificiais; nas nascentes e nos olhos d’água; nos topos de morros, montes, montanhas e serras; nas encostas com declividade superior a 45º.; nas restingas; nas bordas de tabuleiros ou chapadas; em altitude superior a 1.800 metros.
As madeiras provenientes de um manejo florestal sustentável apresentam um certificado de controle de qualidade, que avalia a sua origem e garante que essa madeira não fez parte de nenhum processo de desmatamento ou extração ilegal e, portanto, o seu uso não implica em nenhum prejuízo ao meio ambiente.
Fig. 2: Mapeamento e monitoramento de um Manejo Florestal Sustentável. (acima) Fonte: Amanda Lelis/Instituto Mamirauá Fig. 3: Reserva Biológica Pantanal Arenoso. Exemplo de área de proteção integral. Fonte: SOS Pantanal CONCEITUAÇÃO
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O PRECONCEITO COM O USO DA MADEIRA Apesar de tudo, o uso da madeira na arquitetura ainda é visto sob olhar muito preconceituoso no Brasil; historicamente relacionado às construções dos imigrantes, com características simples, acabou sendo marcado para muitos como uma tipologia para habitações de baixa renda. Outro fato que dificulta na disseminação do uso da madeira está relacionado à insegurança da população com sua resistência mecânica, considerada frágil, além de sua característica facilmente inflamável, que serão abordados ao longo do trabalho. Por fim, algumas pessoas ainda insistem em dizer que o uso da madeira implica no desmatamento de florestas, fato provado contrário através do manejo florestal sustentável. Podemos afirmar que cometem um terrível engano os que, preocupados com a questão ambiental, pregam que não se deve utilizar madeira. Na realidade, a solução para os problemas relativos à exportação da madeira passa necessariamente pelo estabelecimento de métodos de exploração madeireira adequados e pela definição de uma política ou atitude de governos, sociedades e pessoas no sentido de reduzir o consumo e o desperdício, não só de produtos originários da floresta ou da madeira, mas de todos os produtos de uma forma geral. (SOUZA e col., 2002, p. 16)
Segundo o Centro Nacional para o Desenvolvimento da Madeira (CNDB), da França, 1 tonelada de madeira usada na construção representa cerca de 1,6 toneladas de CO2 a menos na atmosfera. Se, ao final do ciclo, a madeira for queimada, o gás carbônico estocado volta à atmosfera; sendo assim, o peso da madeira em relação ao aquecimento global é nulo, ao contrário de outros materiais, como concreto, metal, vidro e plástico, que durante o processo de produção liberam CO2. (GAUZIN-MULLER, 2010, p. 38) Por esses motivos, muitos países da Europa incentivam o uso da madeira nas construções, considerando uma medida para minimizar a emissão do gás carbônico na atmosfera e, consequentemente, combater o crescimento do efeito estufa. Tal fato também ocorre na América do Norte e no Japão, onde, segundo GAUZIN-MULLER (2010, p. 39), aproximadamente 90% das habitações unifamiliares possuem estrutura em madeira.
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Enquanto isso, no Brasil, a alvenaria, o concreto armado e o aço representam o modelo dominante de estrutura utilizado nas construções. Além do mais, para se obter a plasticidade formal do concreto, são utilizadas formas de madeira como molde, descartadas logo após o uso, o que representa um descaso com o material, além de um tremendo desperdício. O Brasil consome hoje 1.783,3 mil m³ de madeira por ano na construção civil. Desse total, 33% são utilizados de forma não qualificada, ou seja, como andaimes, escoras, formas de concreto, tapumes, barracos [...] que terminam como descarte, aumentando o índice de desperdício provocado pelas técnicas construtivas tradicionais. (AFLALO, Marcelo. Prefácio à Edição Brasileira. In: GAUZIN-MULLER, 2010, p. 16)
Recentemente, a madeira tem começado a aparecer de maneira promissora no país, entretanto, nem toda madeira pode ser considerada ao se realizar um projeto; deve-se levar em consideração a distância entre o terreno do projeto e a floresta de onde será extraída a madeira, pois dependendo do trajeto, o consumo de energia e liberação de gases poluentes na atmosfera será maior do que o estocado pela própria madeira, tornando a utilização não eficiente. Assim sendo, reforça-se a importância do reflorestamento, pois através do mesmo é possível obter um ciclo de renovação mais curto, além de poder ser encontrado próximo às grandes cidades, reduzindo a distância a ser percorrida. Para que o uso da madeira na construção possa se expandir e alcançar o maior número de pessoas possível, é preciso o domínio da técnica, além da incorporação de novas tecnologias e mão de obra especializada. Um exemplo de processo industrial acessível, de baixo custo operacional e altamente rentável é o MLC – madeira laminada colada – que permite a produção de grandes peças, podendo ser utilizadas em estruturas, painéis de fachada, lajes e coberturas, sem a geração de resíduos industriais. As demais preocupações no uso da madeira podem ser amenizadas com o auxílio de diferentes tecnologias que proporcionam uma maior resistência e durabilidade ao material e garantem padrões de desempenho muitas vezes superiores a outros métodos construtivos.
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A MADEIRA COMO ESTRUTURA AVIV
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A MADEIRA COMO ESTRUTURA [...] a concepção estrutural não é algo aleatório ou apenas produto da vontade de cada um, mas que depende, sim, de fatores externos como estética, custo, possibilidades construtivas, materiais e tantas outras variáveis; que saber coordenar essas variáveis, achando uma maneira adequada de harmonizá-las, é o que conduz a soluções estruturais criativas e bem embasadas. (REBELLO, 2000, p. 17)
Segundo o engenheiro Yopanan Rebello, a harmonia de uma série de fatores é o que cria uma boa estrutura, todavia, esse conjunto de fatores, aliado à estrutura, é a arquitetura. A estrutura faz parte da arquitetura e a arquitetura faz parte da estrutura, não se pode desvincular uma da outra. Um grande exemplo dessa relação intrínseca é a Residência Hélio Olga, projeto do arquiteto Marcos Acayaba, que será abordado ao longo do trabalho. A estrutura está presente em toda a nossa volta, desde a biologia – nas plantas, nos animais, nas pessoas – até os objetos fabricados pelo homem. Ao observar a natureza é possível estabelecer relações e entender melhor o comportamento das estruturas, como em um galho de árvore, onde os princípios físicos são semelhantes aos de uma viga em balanço, por exemplo. Retomando os elementos básicos da natureza, com ênfase na madeira, busca-se compreender suas características, formas de apropriação e aplicabilidade, visando resgatar tais elementos e incorporar na arquitetura contemporânea, promovendo uma forma de habitar com desenvolvimento sustentável.
PROPRIEDADES DA MADEIRA Cada material possui suas características próprias, devido a sua composição molecular; ao utilizar um determinado material, deve-se compreender suas propriedades físicas e mecânicas para obter maior eficiência em seu uso e evitar utilizá-lo de forma inadequada, comprometendo a estrutura da edificação. A madeira se divide em duas categorias principais, de acordo com a estrutura celular dos troncos: as árvores frondosas fornecem uma madeira dura, enquanto as coníferas produzem madeiras macias; em geral a primeira é mais resistente aos esforços e aos ataques de agentes deterioradores, entretanto o segundo tipo apresenta um crescimento bem mais rápido, e em alguns casos consegue ser até mais resistente que algumas madeiras duras. Devido à sua composição por fibras, sua resistência não é a mesma em todas as direções. Os esforços de tração, por exemplo, são bem absorvidos quando aplicados na direção das fibras, sendo desprezíveis na outra direção. Para se conseguir grandes peças estruturais de madeira muitas vezes é necessário emendar outras peças menores, sendo assim, as emendas e ligações entre as barras devem ser feitas com o uso de
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elementos secundários, como chapas, pinos e parafusos, podendo ser metálicos ou mesmo de madeira. Os esforços de compressão simples também precisam seguir a direção das fibras para serem bem absorvidos, já as emendas podem ser realizadas por simples encaixes, sem a necessidade de nenhum elemento secundário. Com relação à flexão, a madeira apresenta um bom desempenho, porém, as ligações se tornam muito complexas e trabalhosas, devendo ser evitadas onde houver esse tipo de esforço. Ao analisar todos esses esforços e compará-los com outros materiais amplamente utilizados em estruturas, como o concreto e o aço, percebe-se que a madeira apresenta uma ótima relação entre resistência e peso.
TABELA 1. PROPRIEDADES DE ALGUNS MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO
MATERIAL - ESFORÇO
p(t/m³)
f(MPa)
f/p
MADEIRA - TRAÇÃO MADEIRA - COMPRESSÃO AÇO - COMPRESSÃO CONCRETO - COMRESSÃO
0,5 - 1,2 0,5 - 1,2 7,85 2,5
30 - 110 30 - 60 250 40
60 - 90 50 - 60 32 16
Parte disto devido à sua composição molecular, que, segundo Young et al. (1998), citado por PFEIL (2003) é constituída basicamente por substâncias orgânicas, compreendendo 50% de carbono, 44% de oxigênio, 6% de hidrogênio, além de uma pequena porcentagem de sais minerais.
NOTA: P = MASSA ESPECÍFICA; F = RESISTÊNCIA CARACTERÍSTICA Fonte: Adaptado de PFEIL, 2003
A MADEIRA NA CONSTRUÇÃO As madeiras utilizadas na construção podem ser divididas em duas categorias: maciças – compreendendo as madeiras brutas, falquejadas e serradas – e industrializadas – como as madeiras compensadas, laminadas e recompostas.
MACIÇAS
INDUSTRIALIZADAS
- Madeira bruta ou roliça - Madeira falquejada - Madeira serrada
- Madeira compensada - Madeira laminada (ou microlaminada) e colada - Madeira recomposta
Tabela 2. Tipos de madeira Elaborado pelo autor
A MADEIRA COMO ESTRUTURA
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A madeira roliça, ou bruta, é empregada em forma de tronco e comumente utilizada em estruturas provisórias, como escoramentos, estacas, colunas e postes. No Brasil, usa-se para este fim o pinho-do-paraná e os eucaliptos, preferivelmente abatidos na época da seca, garantindo um tronco com menor teor de umidade. A madeira falquejada é obtida a partir de um tronco com cortes por meio de machado, formando seções maciças quadradas ou retangulares com dimensões que podem chegar a 60 cm. Pode ser utilizada em estacas e pontes, por exemplo. Já a madeira serrada é a mais comum entre as maciças, tendo o tronco abatido de preferência ao atingir a maturidade e no período de seca, e posteriormente cortado nas serrarias em dimensões padronizadas para o comércio. A madeira serrada, antes de ser utilizada na construção, deve passar por um processo de secagem, o que pode resultar em diferentes deformações dependendo da posição original da peça em relação ao tronco; deste modo, deve-se utilizar a madeira quando o grau de umidade estiver em equilíbrio com a umidade relativa do ar, prevenindo qualquer dano à estrutura. Além das possíveis deformações durante o processo de fabricação, a madeira serrada possui limitações geométricas, tanto de comprimento quanto de dimensões da seção transversal, o que levou ao desenvolvimento de novos produtos, na Europa e América do Norte, com o intuito de produzir peças e painéis industrializados que extraíssem as melhores propriedades mecânicas da madeira, além de alcançar dimensões maiores – como os citados na tabela 1. A primeira madeira industrializada a surgir foi a compensada, que consiste na colagem de três ou mais lâminas finas, intercalando as direções das fibras entre uma e outra; as camadas externas e a camada central têm as fibras na direção longitudinal, enquanto as camadas intermediárias possuem na transversal, como mostra a figura ao lado.
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Fig. 4. Seção de uma peça de madeira compensada, destacando-se as camadas de madeira Fonte: Adaptado de PFEIL, 2003
Essa alternância entre as direções das fibras garante um produto isotrópico, capaz de resistir a cargas em ambas as direções, apresentando vantagens sobre a madeira maciça em estados de tensões biaxiais, como ocorre em vigas, por exemplo, além de poder ser fabricada em folhas grandes, com defeitos limitados, apresentar menos trincas na cravação de pregos e reduzir a retração e inchamento das peças. As chapas de compensado são fabricadas com dimensões padronizadas – 1,60 x 2,20 m – e espessuras que variam entre 4 e 30 mm, e maior desvantagem em relação à madeira maciça está no preço mais elevado. (PFEIL, 2003, p. 12) Em 1905 surgiu um novo tipo de madeira industrializada, idealizada na Alemanha e posteriormente popularizada nos Estados Unidos, a madeira laminada colada (MLC). Um produto estrutural formado pela associação de lâminas de madeira coladas sob pressão e, diferente da compensada, com as fibras na mesma direção.
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As espessuras das lâminas variam, em geral, entre 1,5 cm a 3 cm, podendo chegar à 5cm. Ademais, uma lâmina pode ser emendada em outra, colada pelas extremidades, possibilitando a criação de peças longas para vencer grandes vãos, além de permitir peças de eixo curvo. As emendas podem ser feitas por corte em chanfro ou denteada – tanto na horizontal quanto na vertical – sendo a segunda opção mais eficaz, além de compacta. (PFEIL, 2003, p.13) Uma variante da MLC é a madeira microlaminada e colada, que tem como base finas lâminas de madeira (microlaminados) obtidos por corte rotatório do tronco, o que possibilita o uso de arvores de pequeno diâmetro. Também são coladas com todas as fibras na mesma direção – longitudinal – e sob pressão a uma temperatura de 150º; como consequência da redistribuição e minimização dos defeitos, apresentam uma estrutura mais homogênea e, portanto, tendem a ser mais resistentes que a madeira serrada e até a madeira laminada colada tradicional. (PFEIL, 2003, p. 15) Outro processo que surgiu a partir dos fundamentos da madeira laminada é o Cross Laminated Timber (CLT), ou Madeira Laminada Colada Cruzada, em português, que consiste em um processo semelhante ao da MLC, com a diferença no fato de cada camada ser colada com posições ortogonais diferentes, garantindo maior resistência e rigidez nos planos horizontal e vertical. Pode ser utilizada em paredes de sustentação ou mesmo em lajes, proporcionando maior capacidade de carga para a estrutura. Na Europa, este processo vem sendo empregado aliado ao sistema Platform Frame (que será apresentado adiante) e demonstra o potencial da madeira em estruturas verticais. Por fim, a madeira recomposta consiste em placas desenvolvidas a partir de resíduos de outros tipos de madeira – serrada e compensada – triturados em flocos e partículas e colados sob pressão; devido à sua baixa resistência e durabilidade, este tipo de madeira não é utilizado em estruturas, sendo melhor aproveitado na indústria de móveis. Já os painéis de OSB (Oriented Strand Board) são um tipo de madeira recomposta com alta resistência, popularmente utilizado em almas de vigas na Europa e América do Norte; são compostos de finas lascas de madeira coladas sob pressão e alta temperatura, tendo as camadas superficiais alinhadas longitudinalmente e as camadas internas aleatoriamente, criando um efeito similar ao compensado.
Fig. 5. Detalhe de emendas de lâminas; (a) distribuição das emendas na direção longitudinal; (b) junta por corte em chanfro; (c) emenda denteada vertical; (d) emenda denteada horizontal. Fonte: PFEIL, 2003
Serrada
Laminada e colada
Microlaminados Fig. 6. Peças de seção retangular de madeira serra e laminada e colada Fonte: PFEIL, 2003
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RESISTÊNCIA AO FOGO Uma das maiores preocupações com o uso da madeira está relacionada a sua possível deterioração por agentes biológicos ou pela ação do fogo. O primeiro caso ocorre quando fungos, cupins, moluscos ou crustáceos marinhos se instalam na madeira para se alimentar, o que depende da camada do tronco de onde foi extraída a madeira, da espécie da madeira e das condições ambientais – ciclo de reumidificação, contato com o solo, com água doce ou salgada. (PFEIL, 2003, p. 6) Já o segundo caso ocorre pelo fato de a madeira ser considerada um material combustível, entretanto, quando utilizada de forma correta em estruturas, se manifesta com um bom desempenho de resistência ao fogo. “Uma peça de madeira, quando atingida pelo fogo, carboniza por fora, dificultando que as chamas cheguem ao seu interior”, explica Pedro Figueira, da Sonae Indústria, em conferência sobre construção sustentável em Lisboa. (Apud FERNANDES, 2016) Por meio de sua combustão periférica, o centro da madeira permanece íntegro, sem nenhuma alteração em suas propriedades mecânicas, o que garante a estabilidade da construção por um longo período; para muitos, isso acaba caracterizando a madeira como mais resistente que o aço, que em uma mesma situação derreteria, comprometendo toda a estrutura. Estudo científicos indicam que estruturas de madeira com espessuras superiores a 25 milímetros são lentamente consumidas pelo fogo quando comparadas a outros materiais. Isto porque o fogo, ao destruir a superfície da madeira, forma uma camada de carvão que retarda a propagação de oxigénio e das chamas para o interior da estrutura, o que faz com que o incêndio perca velocidade. Espessuras com 50 milímetros podem ser consideradas mais seguras do que peças metálicas, que vergam com as altas temperaturas. (FERNANDES, 2016)
Uma antiga técnica japonesa já vem utilizando o princípio da combustão da madeira há mais de trezentos anos; chamada de Shou Sugi Ban, consiste na queima da superfície externa da madeira, de modo a consumir sua matéria orgânica e criar uma certa barreira, conservando a madeira contra danos causados pelas intempéries, além e proteger contra o ataque de cupins e outros agentes biológicos por muitos anos. Foi utilizada na construção das tradicionais vilas dos pescadores da ilha de Naoshima, no Japão, e até hoje serve de inspiração para a arquitetura e design de produto.
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Fig. 7. Residência RT / Jacobsen Arquitetura Fonte: Pedro Kok, 2017
Fig. 8. Residência Meijendel / VVKH Architecten Fonte: Christian van der Kooy, 2017
Fig. 9. Experimentos de combustão da madeira realizados pelo IAU da USP São Carlos. Fonte: Foto tirada durante a visita
A MADEIRA COMO ESTRUTURA
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VANTAGENS E DESVANTAGENS Como dito anteriormente, a madeira é o único material empregue na construção que apresenta uma produção renovável, podendo ser replantada, reciclada e reutilizada, o que resulta em um desperdício quase nulo, pois toda sobra de material pode ser processada e transformada em uma madeira recomposta; e quando extraída corretamente apresenta um baixo consumo energético, além de gerar poucos resíduos e contribuir para o rejuvenescimento das florestas. Como é possível observar no gráfico ao lado, ao se comparar diferentes materiais na realização de um pilar de 3 metros de altura, à mesma solicitação de carregamento, a madeira apresenta uma enorme vantagem tanto em quantidade de material, quanto em seu consumo energético – que consegue ser aproximadamente 9 vezes menor que o do aço e 4 vezes menor que o do concreto armado, mantendo-se sempre mais leve.
Tanto durante seu crescimento, quanto já aplicada em uma estrutura, a madeira está constantemente absorvendo gás carbônico e contribuindo para a diminuição do aquecimento global, enquanto outros materiais, como os aços laminado e galvanizado, por exemplo, apresentam números muito elevados de emissão deste gás, como apresenta o gráfico 2. Com relação à sua estrutura celular, apesar de heterogênea e anisotrópica (suas propriedades físicas variam conforme a direção), demonstra uma alta resistência mecânica, respondendo muito bem à esforços de tração, flexão e compressão; segundo REBELLO (2000, p. 71) “[...] a madeira é um material que tem melhor desempenho quando solicitado por esforço de compressão simples, seja pela sua resistência a este esforço, seja pela facilidade de execução de vínculos.” Também relacionada à sua contribuição para a sustentabilidade ambiental, destaca-se a economia de recursos hídricos, já que o uso da água não faz parte de nenhuma etapa do seu processo industrial, diferente do método de obtenção de outros materiais. Por outro lado, a madeira apresenta como desvanta-
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Gráfico 1. Comparação de consumo energético. Fonte: ITA Construtora, 2014
gem sua sensibilidade à umidade (causando variações em sua dimensão) e vulnerabilidade à agentes biológicos. Ao mesmo tempo em que a madeira é um material combustível, ela também apresenta uma certa resistência ao fogo, devido à sua combustão periférica; conhecendo seus comportamentos e aplicando um tratamento adequado – sem interferir negativamente nas condições ambientais –, é possível ter uma estrutura resistente e duradoura. Outras propriedades interessantes deste material incluem sua pouca condutividade térmica, sendo considerado um bom material isolante, e sua grande capacidade elástica, que o classifica como antissísmico, fato que evidencia ainda mais sua popularidade em países como o Japão, onde a atividade sísmica é intensa. Apesar de oferecer uma construção seca e rápida, com facilidade no transporte dos materiais,
Gráfico 2. Comparação de emissão de dióxido de carbono na produção de diferentes materiais. Fonte: ITA Construtora, 2014
as técnicas construtivas em madeira ainda não são muito conhecidas, o que dificulta na obtenção de mão de obra especializada; além disso, o uso deste material implica em uma constante manutenção, a fim de evitar apodrecimentos e danos à estrutura.
Assim sendo, as aplicações da madeira merecem ser exploradas e mais utilizadas, tendo em vista seu maior número de vantagens em relação às desvantagens, de modo a diminuir o impacto ambiental e preservar o equilíbrio ecológico.
TABELA 3. VANTAGENS E DESVANTAGENS DO USO DA MADEIRA
VANTAGENS
DESVANTAGENS
RENOVÁVEL, RECICLÁVEL E REUTILIZÁVEL BAIXO DESPERDÍCIO BAIXO CONSUMO ENERGÉTICO ABSORÇÃO DE CARBONO ECONOMIA DE RECURSOS HÍDRICOS ALTA RESISTÊNCIA MECÂNICA FÁCEIS LIGAÇÕES E EMENDAS RESISTÊNCIA AO FOGO ISOLAMENTO TÉRMICO E ACÚSTICO GRANDE CAPACIDADE ELÁSTICA RAPIDEZ NA CONSTRUÇÃO CONSTRUÇÃO SECA FÁCIL TRANSPORTE
MATERIAL HETEROGÊNEO E ANISOTRÓPICO VULNERÁVEL A AGENTES BIOLÓGICOS COMBUSTÍVEL SENSÍVEL À UMIDADE MÃO DE OBRA ESPECIALIZADA MANUTENÇÃO
Fonte: Elaborado pelo autor
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O USO DA MADEIRA NA ARQUITETURA MUNDIAL Segundo Hélio Olga (2014), o primeiro uso da madeira na arquitetura brasileira se deu pelos índios nas Ocas, e com a chegada dos portugueses colonizadores no Brasil, no século XV, a madeira também foi incorporada em suas construções, com as mesmas técnicas dos indígenas; com o tempo, este material se tornou uma importante fonte de energia e deixou de ser usado na construção, retornando apenas no século XIX, na segunda fase da colonização, com os alemães, italianos, suíços, austríacos e poloneses na região sul do país. Ainda assim, tendo um olhar voltado à história mundial, é possível notar que o uso da madeira está presente na vida do homem desde seus primeiros abrigos, ao redor de todo o mundo; alguns historiadores afirmam que no período neolítico – cerca de 5000 a.C – já existiam construções em madeira, até mesmo com troncos cortados em seção retangular. (TORRES, 2010, p. 3)
Fig. 10. Interior de uma Oca Surui. Fonte: Renato Rizzaro, 2013
Ao longo do tempo, desenvolveram-se diversas técnicas construtivas utilizando a madeira como o principal elemento estrutural; a primeira técnica datada foi a ‘pit-house’ – ou casa subterrânea –, nas Américas, seguida pela madeira unida por fibras vegetais, presente na Indonésia e em locais da Ásia; na Europa, foram feitas algumas construções com os troncos maciços dos abundantes bosques de coníferas – conhecidas como ‘loghomes’ – que foram gradualmente substituídas por casas de tábuas ou troncos de seção retangular, graças às técnicas de serragem introduzidas no século XV, garantindo uma maior rigidez à estrutura.
Fig. 11. Pit-house em Anasazi State Park. Fonte: DyeClan, 2011
Fig. 12. Habitação no arquipélago Indonésio. Fonte: Inhabitat, 2015
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Fig. 13. Loghome Vindlausloftet, na Noruega. Fonte: Visitnorway, 2019
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TÉCNICAS CONSTRUTIVAS Esses elementos serviram para impulsionar o uso da madeira nos séculos seguintes, com o surgimento de novos tipos de construção com alto nível de detalhes, que perduram até os dias de hoje. Segundo TORRES (2010, p. 7), pode-se classificar as construções em madeira em três grandes tipos: casas de troncos – ou ‘Loghomes’ –, casas com estrutura em madeira pesada – também chamada de ‘Heavy Timber’ – e casas com estrutura em madeira leve – ‘Light Framing’ – com algumas subdivisões de sistemas; além deles, atualmente se inclui também as estruturas préfabricadas.
TABELA 4. TÉCNICAS CONSTRUTIVAS EM MADEIRA
TIPO DE ESTRUTURA
SISTEMAS TIPO
CASAS DE TRONCOS ESTRUTURA EM MADEIRA PESADA
PORTICADO – “POST & BEAM” ENTRAMADO – “TIMBER FRAME”
ESTRUTURA EM MADEIRA LEVE
ESTRUTURA EM BALÃO – “BALLOON FRAME” ESTRUTURA EM PLATAFORMA – “PLATFORM FRAME”
ESTRUTURA PRÉ FABRICADA
MÓDULOS DE PEQUENAS DIMENSÕES MÓDULOS DE GRANDES DIMENSÕES MÓDULOS TRIDIMENSIONAIS
Fonte: Adaptado de TORRES, 2010
Apesar da madeira trabalhar melhor na direção das fibras, as casas de tronco costumam dispor os troncos horizontalmente, o que garante uma maior estabilidade estrutural, mesmo aproveitando apenas 5% da capacidade resistente celular. (Sánchez, 1995 apud TORRES, 2010) Este tipo de estrutura é o que apresenta o menor tratamento da madeira entre todos os citados, além de não carecer de nenhum tipo de revestimento, sendo o resultado dependente somente da matéria prima utilizada.
Fig. 14. Exemplo de uma casa de tronco atual. Fonte: Loghome Living, 2019
Em consequência da seção arredondada dos troncos não ser muito estável, atualmente são utilizados, preferencialmente, troncos com duas ou mais superfícies planas, de forma a obter maiores superfícies de apoio e, portanto, maior estabilidade. A estrutura em madeira pesada surge com a possibilidade de se obter maiores aberturas e edifícios de até 6 pavimentos, tendo as peças de madeira posicionadas de forma a trabalhar paralelamente ao sentido
Fig. 15. Exemplo de troncos com superfícies planas. Fonte: TORRES, 2010
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Como curiosidade, esta estrutura de madeira permitia tanta estabilidade que muitas vezes não existia a necessidade de utilizar estacas fincadas no solo para dar estabilidade, o grande peso da estrutura somado ao pé-direito baixo já permitiam esta estabilidade. (SOUTO, 2016, p. 68)
Após a montagem da estrutura instala-se o telhado, e então os revestimentos e vedações; dessa forma, a estrutura é completamente independente dos outros elementos da construção. Duas soluções podem ser adotadas com essa mesma técnica: o sistema porticado (‘Post&Beam’) e o sistema entramado (‘Timber Frame’). O primeiro é constituído por uma série de pórticos, formando um conjunto autoportante – onde a rigidez se dá pelos elementos diagonais que atuam como escoras –, propiciando espaços amplos e versáteis. Já o segundo sistema introduz elementos diagonais de grande expressão física, o que, de certa forma, limita os espaços; os revestimentos e preenchimentos podem ocultar a estrutura ou deixá-la visível. Tais elementos estruturais tão pesados acabam restringindo o pé direito das edificações, por esse motivo surgem as casas com estrutura em madeira leve, impulsionada pela revolução industrial, que possibilitou a produção de madeira serrada e pregos em massa, desenvolvendo um sistema construtivo rápido, barato e eficiente. A combinação de novos elementos estruturais – como tesouras treliçadas, perfis e painéis de madeira – permite reduzir a largura do conjunto, visto que a carga é distribuída por um maior número de componentes, resistindo a cargas horizontais e verticais.
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(b) Fig. 16. Sistema porticado (a) e Sistema entramado (b). Fonte: TORRES, 2010
Devido à menor densidade da madeira e da aparência frágil, estas soluções são erradamente consideradas como apresentando uma durabilidade inferior. Este facto pode ser acautelado através de uma correcta manutenção da habitação e é expressamente refutado por casas existentes nos Estados Unidos da América, Rússia e Escandinávia com mais de 100 anos. (TORRES, 2010, p. 11)
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das fibras. Consiste em toras robustas e pesadas, de seção quadrada ou retangular, encaixadas de modo a formar um esqueleto estrutural muito resistente.
Esta técnica pode ser dividida em dois sistemas: estrutura em balão (‘Ballon Frame’) e estrutura em plataforma (‘Platform Frame’), sendo o primeiro caracterizado pela execução das fachadas, simultaneamente, com montantes contínuos ligados diretamente às vigas de laje, travadas transversalmente por tábuas corridas, formando assim o piso. Sua montagem é muito complexa e de difícil execução, principalmente pelo fato de todas as fachadas serem erguidas ao mesmo tempo, além de apresentar uma desvantagem à ação do fogo ou qualquer outro tipo de deterioração, pois toda a estrutura age em conjunto, e qualquer dano em uma parte compromete o restante da construção. Já a estrutura em plataforma foi elaborada na tentativa de neutralizar as desvantagens do sistema anterior, sendo cada parede levantada de forma independente e depois colocadas as vigas de piso, garantindo uma maior separação entre os pisos e, consequentemente, uma maior resistência à estrutura. Este sistema permite a industrialização parcial ou total da construção, podendo-se produzir determinadas peças isoladas, ou até mesmo toda a estrutura e transportá-la para o local onde a obra será executada, possibilitando uma redução nos custos e prazos. Sendo assim, surge a estrutura pré-fabricada, que define de forma precisa as operações a serem realizadas nas fábricas e no local da obra.
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Inicialmente os sistemas são bem semelhantes, montantes verticais espaçados a uma distância em média de 60 cm, são travados por vigas horizontais. A principal diferença é o tamanho destes montantes verticais, como foi apresentado anteriormente no Ballon Frame o montante têm a altura total da fachada (1,2,3 pisos) já no Platform Frame os montantes têm a altura de um piso apenas e após erguidos eles são revestidos por estruturas de madeira processada ou madeira engenheirada, e esse revestimento garante o funcionamento de toda a estrutura como um corpo único. (SOUTO, 2016, p. 70)
Fig. 17. Platform Frame (esquerda) e Ballon Frame (direita). Fonte: McGill, 2012
O autor TORRES (2010) propõe essa classificação em módulos de pequenas dimensões, grandes dimensões e tridimensionais, que afirma serem os mais usuais – apesar do crescente número de variantes de pré-fabricação que continuam surgindo. Para ele, o sistema com módulos pequenos engloba painéis de 2,80 m de altura por larguras inferiores a 1,20 m, semelhante ao sistema de estruturas leves, que apresenta como vantagem uma maior versatilidade no uso de estruturas mistas.
Fig. 18. Casa na Serra do Cipó / TETRO Arquitetura. Exemplo de estrutura mista de madeira e concreto. Fonte: Jomar Bragança, 2019
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Os módulos grandes, por sua vez, apresentam dimensões frequentemente de 3 m de altura por 7 m de largura, sendo possível criar aberturas, como portar e janelas, diretamente na fábrica, facilitando ainda mais o trabalho na obra. Enquanto os módulos tridimensionais representam, na maioria das vezes, um cômodo inteiro de uma residência, e são sustentados por pequenos apoios, de forma a elevar a construção do solo, evitando contato com a umidade e eventuais desgastes provenientes do mesmo. A fim de compreender o método construtivo em madeira, é fundamental o entendimento dos diferentes tipos de encaixes e fixações, tendo em vista que as peças possuem dimensões limitadas e necessitam de junções para compor uma estrutura em sua totalidade. Através da pré-fabricação é possível otimizar a obra, utilizando as peças previamente dimensionadas, apenas fixando-as corretamente, de modo a agilizar e facilitar a construção.
Fig. 19. Exemplo de módulo grande (a) e módulo tridimensional (b) Fonte: TORRES, 2010
TIPOS DE CONEXÕES As conexões possibilitam a união de todas as peças e a transmissão correta dos esforços por toda a estrutura, podendo ser realizadas por diversos dispositivos, como pregos, grampos, braçadeiras, colas, pinos, parafusos, conectores metálicos e entalhes. Toda conexão deve ser feita com muita atenção, do projeto à execução, empregando o melhor tipo para cada situação, de modo a garantir a integridade total da estrutura.
Fig. 20. Tipos de conexões estruturais entre peças de madeira Fonte: PFEIL, 2003
As braçadeiras e os grampos funcionam somente como um auxílio durante a montagem, não sendo classificados como elementos estruturais. Os pregos, por outro lado, podem ser utilizados tanto em ligações de montagem quanto em conexões definitivas.
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Os pinos, ou cavilhas, são elementos cilíndricos de madeira ou aço que, quando colocados em contato com furos de praticamente mesma dimensão, sem folga, conduzem as cargas sem causar nenhuma deformação nas peças. Os parafusos utilizados em conexões podem ser de dois tipos: rosqueados auto-atarraxantes ou com porcas e arruelas, como explica PFEIL (2003); o primeiro tipo costuma ser empregado em maior quantidade em marcenarias e para fixar acessórios metálicos em madeiras, possuem rosca em um corpo cônico com ponta, eliminando a necessidade de preparar um furo previamente. Já o segundo é amplamente utilizado em estruturas, sendo cilíndrico e liso, com uma cabeça em uma extremidade e uma rosca na outra. São instalados em furos com folga máxima de 2 milímetros e apertados com a porca sobre uma arruela, para reduzir a pressão sobre a madeira. Também são usados em conjunto com chapas metálicas para juntar peças em diferentes eixos. Os encaixes e entalhes são conexões que trabalham muito bem quando sujeitas à compressão; pode-se utilizar cavilhas, grampos e parafusos para manter as peças no lugar, entretanto, a própria madeira realiza toda a transmissão das cargas. É muito eficiente e praticada até hoje desde estruturas mais simples até grandes edifícios verticais, principalmente pelos japoneses.
Fig. 21. Exemplo de conexão por cavilhas de madeira Fonte: DICAF, 2010
Fig. 22. Exemplo de conexão por parafuso e porca, aliado a chapas metálicas Fonte: Arauco, 2017
Fig. 23. Edifício Comercial Tamedia, Shigeru Ban Architects. Fotos e desenho técnico das conexões por encaixes em um edifício de 38 metros de altura Fonte: Shigeru Ban Architects, 2014
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ZANI (2013) exemplifica dois tipos de entalhes muito comuns na carpintaria, os esteios e as sambladuras; os esteios são peças de seção quadrada ou retangular com recortes nas extremidades para serem encaixados nos barrotes dos quadros inferior e superior, apoiados nos pilaretes da fundação, como mostra a figura:
Fig. 24. Detalhes de encaixe entre esteio e barrote. Fonte: ZANI, 2013
A sambladura consiste na técnica de união de duas ou mais peças de madeira sem a utilização de nenhum outro elemento, como cavilhas ou pregos. Foi muito aplicada nos conjuntos estruturais portantes e em estruturas de telhados das antigas construções dos imigrantes ao sul do país.
Fig. 25. Exemplos de sambladuras. Fonte: ZANI, 2013
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Por fim, a conexão por cola costuma ser utilizada em fábricas para produzir grandes peças de madeira laminada e madeira compensada. Durante a visita realizada à ITA Construtora foi possível compreender os processos de colagem e fabricação de suas peças estruturais em madeira. Primeiramente são realizadas as emendas longitudinais chamadas de finger joints – por meio de uma série de recortes que garantem uma maior superfície de contato entre as peças –, formando longas tábuas. Em seguida, essas tábuas são agrupadas, coladas e prensadas lateralmente, produzindo peças de MLC com grandes dimensões, para serem usadas em estruturas. O tipo de cola utilizado para a união das peças é um dos principais obstáculos para essa fabricação no Brasil, pois ainda não é fabricado no país e precisa ser importado, o que aumenta significativamente o custo do produto.
Fig. 26. Exemplo do finger joint utilizado pela ITA. Fonte: Foto tirada durante a visita à fábrica Fig. 27. Madeira Laminada Colada. Fonte: ITA Construtora
Outra questão que foi possível observar é a conexão entre os pilares e a fundação; como a madeira não pode entrar em contato com o solo, todos os pilares são elevados do solo e presos por uma chapa metálica e parafusos. Foi explicado que nas demais conexões, como entre vigas e pilares por exemplo, também existem elementos metálicos, contudo, a maioria acontece por dentro da própria madeira, resguardando o metal e evitando o contato com as intempéries.
O principal requisito dos elementos de ligação é a resistência, ou seja, as ligações devem ser capazes de transmitir forças de uma peça de madeira a outra. Outro importante requisito é a rigidez: o deslizamento entre as peças legadas deve ser restringido de modo a não prejudicar o funcionamento da estrutura. (PFEIL, 2003, p. 54)
Fig. 28. Diferentes exemplos de pilares elevados. Fonte: ITA Construtora A MADEIRA NA ARQUITETURA
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RESIDÊNCIA HÉLIO OLGA | MARCOS ACAYABA Local: Jardim Vitória Régia, São Paulo, SP Data do início do projeto: 1987 Data da conclusão da obra: 1990 Área do Terreno: 900 m² Área Construída: 220.0 m²
Fig. 29. Residência Hélio Olga. Fonte: Marcos Acayaba
O projeto está localizado em um terreno de grande declividade e, juntamente com a orientação solar e a direção dos ventos, guiam a edificação para este resultado. Com a premissa de intervir o mínimo possível no terreno, e tendo o Eng. Hélio Olga como cliente, optou-se por utilizar a madeira industrializada como protagonista, de modo a conseguir uma construção leve, permitindo um menor número de apoios no solo. Essa casa foi pensada de maneira a constituir um protótipo de sistema construtivo adequado para terrenos com alta declividade.
Fig. 30. Implantação. Fonte: Marcos Acayaba
Com a adoção da madeira industrializada, a partir dessa obra, Acayaba encontra novas possibilidades expressivas, permitindo alcançar o ideal de leveza perseguido por sua arquitetura. Desenvolve uma linguagem distinta da imagem rústica e pitoresca normalmente associada à madeira, reduzindo ao mínimo a espessura dos perfis e concebendo um sistema com peças metálicas de ligação e tirantes de aço para contraventamento. (ACAYABA, 2007, p. 19) O declive extremamente íngreme do terreno tornou praticamente impossível o uso de qualquer sistema tradicional de estrutura sem afetar drasticamente a vegetação. A solução se deu em uma edificação vertical apoiada no nível da rua e, três pavimentos abaixo, em sua base, prevenindo a erosão do solo e proporcionando uma vista panorâmica da cidade.
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Fig. 31. Corte Longitudinal. Fonte: Marcos Acayaba
A estrutura da casa consiste em pilares e vigas de madeira conectados por peças de aço e atirantados por cabos do mesmo material. Segue um módulo quadrado de 3,30 m, de forma simétrica com balanços escalonados a cada andar, totalizando 5 módulos no pavimento térreo (100m²), 3 módulos abaixo para dormitórios (60m²), e 2 módulos nos dois últimos pavimentos (20m² cada). Por ser leve, a estrutura fica travada pelos tirantes de aço em forma de “x”, prevenindo deformações causadas pela força do vento. Toda a carga é transmitida para seis pilares de concreto e descarregada no solo. Tal módulo permitiu um pé-direito de 2,50 m, restando 65 cm para a passagem de instalações e de ventilação cruzada, encaminhando o ar fresco para os ambientes através de aberturas no piso e a saída do ar quente pelo teto.
Fig. 32. Diagramas da estrutura. Fonte: Marcos Acayaba
O programa é dividido em duas partes construtivas: o patamar de entrada, de concreto armado, abrange a piscina e a garagem, próximo à rua e se apoia diretamente no terreno; enquanto o restante se concentra na torre de madeira, perpendicular às curvas de nível. Os cômodos foram setorizados conforme o pavimento, sendo o pavimento de entrada voltado às áreas sociais e de serviço, como sala de estar e jantar, cozinha e lavanderia. O pavimento abaixo foi destinado aos dormitórios – no total três –, acompanhados de dois banheiros. ESTUDOS DE CASO
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Fig. 33. Detalhes de fixação da estrutura. Fonte: Marcos Acayaba
Um pavimento inteiro funciona como quarto de hospedes, e o pavimento mais baixo é reservado à sala de brinquedo das crianças. Todos interligados por uma única escada enclausurada. Painéis industrializados de madeira compensada com espessura de 4 cm fazem parte das vedações da casa, contribuindo com a redução do peso total da construção.
Fig. 34. Vista de baixo. Fonte: Marcos Acayaba
Este projeto serviu como estopim para a Construtora ITA, revelando para os engenheiros e arquitetos que a madeira é um material contemporâneo com inúmeras qualidades técnicas e estéticas e apresenta um enorme potencial a ser explorado. A adoção da madeira industrializada, a setorização dos ambientes por pavimentos sociais e íntimos e a elevação da casa do nível do solo em um terreno inclinado são algumas estratégias que podem ser incorporadas no projeto da Vila Viva.
Fig. 35. Vedações. Fonte: Marcos Acayaba [...] porque tanto o respeito à natureza do lugar, quanto o emprego correto dos materiais e da energia necessária para a produção, uso e manutenção são determinantes, os projetos resultam ecológicos. Com o mínimo de meios, procuro sempre atingir a maior eficiência, conforto e, como consequência, a beleza. Onde nada sobra, onde nada falta. (ACAYABA, 2007, p. 9)
Fig. 36. Vista da piscina. Fonte: Marcos Acayaba
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(d) Fig. 37. Plantas dos pavimentos 4 - Entrada (a), 3 - Quartos (b), 2 - Hรณspedes (c) e 1 Crianรงas (d). Fonte: Marcos Acayaba
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CASA GRELHA | FGMF ARQUITETOS Local: São José dos Campos, SP Data do início do projeto: 2005 Data da conclusão da obra: 2008 Área do Terreno: 68 mil m² Área Construída: 3.123 m²
Fig. 38. Casa Grelha. Fonte: Alexandre Schneider
O projeto desta casa de veraneio se encontra em um antigo pasto, em um terreno de 22 alqueires, incluso na única clareira de 68 mil metros quadrados que não é coberta pela mata atlântica virgem protegida, próxima à Serra da Mantiqueira. Surgiu de uma encomenda de um casal com três filhos adultos, a partir de quatro questões principais: a demanda por uma casa térrea, a conexão com a natureza, a privacidade de cada membro da família e a umidade da região, que motivou a casa elevada. A estrutura foi desenvolvida pelo Eng. Yopanan Rebello em madeira piquiá e aço corten, e consiste em uma grelha espacial com dimensões de 5,5m de lado e 3m de altura apoiada em pilares de concreto – como mostra a figura ao lado –, tirando proveito da topografia. A transição das cargas é feita por meio de encaixes metálicos, da madeira para o aço e do aço ao pilar de concreto, até chegar ao solo. Foram criadas vigas-vagão a cada dois módulos da grelha (11 metros), viabilizando a omissão de um terço dos pilares, o que contribui para a sensação de leveza da casa e libera a vista para a paisagem natural. A casa foi pensada de modo a possibilitar a circulação em três níveis diferentes: no terreno (sob a grelha), em meio à vegetação natural, pedras e espelhos d’água; nos ambientes domésticos (térreo) e pela
Fig. 39. Detalhe estrutural em fotos e desenho. Fonte: Alexandre Schneider
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Fig. 40. Planta térreo. Fonte: FGMF
cobertura (sobre a grelha), onde existe um teto jardim completamente geométrico, contrastando com a organicidade natural presente no local. A distribuição do programa concentra, próximo ao acesso principal, as áreas de uso comum (salas de estar, jantar e cozinha), serviços e as suítes do casal e de hospedes; enquanto os três filhos possuem seus aposentos mais afastados, resguardando sua privacidade. Na cota mais alta do terreno, afastado da grelha principal, localizam-se dois pavilhões de lazer, abrigando a churrasqueira, salão de jogos e sauna. Todos os ambientes se integram ao longo da estrutura modular por passadiços ora cobertos por pérgolas, ora descobertos, protegidos por bancos nas laterais, que funcionam como guarda-corpo e local de descanso e contemplação.
Fig. 41. Diagrama de circulação. Fonte: FGMF
Os vazios da grelha alternam entre espaços fechados – volumes ocupados pelos ambientes da casa – e espaços abertos – circulação –, de tal maneira que independentemente da posição do observador, todos os lados possibilitam vistas naturais da mata, do vale e do morro, emolduradas pela própria estrutura da casa.
Fig. 42. Diagrama de usos. Fonte: FGMF
ESTUDOS DE CASO
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Fig. 43. Croqui dos arquitetos. Fonte: FGMF
Fig. 44. Diagrama de vistas. Fonte: FGMF
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O impacto da paisagem local é sem dúvida o dado mais relevante deste projeto, de cuja tensão entre obra e natureza emerge a beleza. Ora se integrando, ora se contrastando, as edificações que acolhem o extenso programa encaixam-se entre as variações da topografia tal como nuvens enclausuradas entre montanhas, preenchendo os vazios, no sentido de completude de uma nova natureza que esse lugar adquire. (CAMARGO, 2014, p. 66)
Embora exista um certo excesso de estrutura, onde parte da grelha não exerce função estrutural ou de passagem, apenas exaltando a formalidade da obra – o que, do ponto de vista da sustentabilidade, parece ser um pouco contraditório –, a combinação entre os projetos de arquitetura e paisagismo proporciona um equilíbrio ao desenho, onde a natureza e a construção não competem uma com a outra, funcionam de modo complementário. Deste modo, o projeto Vila Viva pretende utilizar o mesmo princípio para criar um espaço equilibrado e em harmonia com a natureza.
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Fig. 45. Planta térreo. Fonte: FGMF
0
10
20 m
Fig. 46. Vistas da casa. Fonte: FGMF ESTUDOS DE CASO
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VILA TAGUAÍ | CRISTINA XAVIER ARQUITETURA Local: Carapicuíba, SP Data do início do projeto: 2007 Data da conclusão da obra: 2010 Área do Terreno: 12.000 m² Área Construída: 1250.0 m²
O projeto residencial de oito casas de madeira da Vila Taguaí, situado a 22 km do centro de São Paulo, foi concebido como uma alternativa de construção de novos espaços de moradia e ocupação de áreas verdes na periferia. Em um vale de vegetação densa, com declive de 35% a leste, a implantação prioriza o perfil natural do terreno, assim como as árvores presentes no local, além das novas plantações que ajudam a valorizar a vegetação nativa.
Fig. 47. Casas camufladas na massa arbórea da Vila Taguaí. Fonte: Daniel Ducci, 2010
Fig. 48. Implantação. Fonte: Cristina Xavier Arquitetura, 2010
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A via principal, de circulação de automóveis, percorre o lote de maneira sinuosa, garantindo um melhor aproveitamento da topografia, além de ser pavimentada com pedras, o que mantém a permeabilidade do solo; os demais acessos às casas são feitos por meio de caminhos em meio as árvores, para os pedestres.
Fig. 49. Acesso às casas. Fonte: Daniel Ducci, 2010
O sistema construtivo é baseado em painéis de madeira tanto para as paredes quanto para as lajes de piso e cobertura. Desenvolvido em parceria com a ITA Construtora, o sistema combina industrialização com flexibilidade, sendo possível replicá-lo em diferentes locais e escalas. A madeira utilizada – Cumaru – derivou de um manejo sustentável da região Amazônica, e a partir dela foram montados painéis com larguras de 0,20m a 3m e altura de 1m a 5,50m, seguindo uma modulação formada por vigotas a cada 10 cm; com isso, é possível otimizar a produção, aproveitando peças de madeira maciça de dimensões menores, além de facilitar a armazenagem, transporte, montagem e aplicação em outros projetos. Os painéis pré-fabricados possuem 8cm de espessura e funcionam de maneira autoportante, o que permite a utilização do vazio interno da estrutura para abrigar as instalações elétricas; já as instalações hidráulicas, por necessitarem de um espaço um pouco maior, se encontram em dois shafts, concentrando as áreas molhadas de ambos os pavimentos (fig. 52). Os painéis das lajes são semelhantes aos das paredes, com o acréscimo de uma camada de 5cm de concreto leve nos painéis de piso, para solucionar o isolamento acústico entre um pavimento e outro, proporcionando um maior conforto. Em relação ao conforto térmico, a dupla camada dos próprios painéis de madeira garante um bom isolamento, e aliada à elevação das casas em relação ao terreno e à ventilação cruzada, asseguram uma boa circulação de ar e evitam a umidade advinda do solo. As casas foram divididas em três tipos diferentes, com um ou dois pavimentos, que variam de 129 a 173m² de área. Três casas de três dormitórios com pilotis mais dois pisos (Tipo 1 - fig. 53); três com quatro quartos, pilotis mais dois andares (Tipo 2 - fig. 54); e duas com três quartos em um único piso, acima dos pilotis (Tipo 3 - fig. 55).
Fig. 50. Painel das paredes. Fonte: Cristina Xavier Arq., 2010
Fig. 51. Painel das lajes de piso. Fonte: Cristina Xavier Arq., 2010
ESTUDOS DE CASO
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As maiores aberturas estão voltadas às faces norte e leste, enquanto as menores se orientam à oeste, de modo a controlar a insolação e permitir o máximo de iluminação e ventilação natural dos ambientes. Em todas as residências, as áreas coletivas e os quartos são privilegiados, nas faces mais iluminadas, com grandes panos de vidro que integram o exterior com o interior, articulados com janelas de abrir; enquanto as áreas servidoras – como banheiros, cozinha e área de serviço – se concentram na face mais desfavorável, juntamente com os shafts das tubulações hidráulicas. Na figura abaixo (fig. 56) é possível observar as alternâncias entre os panos fixos de vidro, os painéis de madeira e os caixilhos de abrir, característico em todas as oito casas. Outro fator de suma importância, destacado pelo próprio Hélio Olga, é a necessidade de um beiral de 1,20m para proteger a madeira das fachadas. O projeto da Vila Taguaí tem uma enorme preocupação com o meio ambiente e a sustentabilidade – embora tanto a Cristina Xavier quanto o Eng. Hélio Olga não demonstrem muito interesse nas certificações do tipo Leed, dizendo que apenas trabalham com consciência (PROJETO DESIGN 369, novembro de 2010) – fato que está presente, além do que já foi citado, nos sistemas de captação de águas pluviais, aquecimento por energia solar e no sistema próprio de tratamento de esgoto, que ajudam na economia de 30% de água.
Fig. 52. Instalações elétricas (nos painéis) e hidráulicas (nos shafts). Fonte: Cristina Xavier Arq., 2010
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Total privativa 211,02m² Privativa coberta 173,88m² Terraço70,34m² Terreno condominial de utilização exclusiva Terraço86,94m² Total privativa Casa211,02m² 1 363,00m² Total privativa 260,82m² Terreno Casa condominial de utilização exclusiva 4 300,00m² Terreno condominial de utilização exclusiva Casa 1 Casa 363,00m² 6 325,00m² Casa 2 350,00m² Casa 4 Total 300,00m² (incluindo comum) e fração ideal Casa 5 354,00m² Casa 6 Casa 325,00m² 1 1.584,19m² - 11,89% Casa 7 350,00m² PISO SUPERIOR Total (incluindo comum) e fração ideal Casa 4 1.447,65m² - 11,08% 1 - Casa 3 ideal Quartos 9 x 7.5 cm Total (incluindo comum)Tipo e fração escala 1:75 Casa 1 Casa 1.584,19m² 11,89% 6 1.501,83m² - 11,41% Casa 2 1.744,23m² - 13,43% PISO SUPERIOR Casa 4 1.447,65m² - 11,08% Tipo 1 - Casa 3 Quartos 9 x 7.5 cm Casa 5 1.752,89m² 13,48% escala- 1:75 Casa 6 1.501,83m² - 11,41% Casa 7 1.744,22m² - 13,43% CASAS TIPO 2 (4 dormitórios) CASAS TIPO 2 (4 dormitórios) Privativa coberta 173,88m²
PISO SUPERIOR Tipo 2 - Casa 4 Quartos 12 x 7 cm escala 1:75 PISO TÉRREO Tipo 1 - Casa 3 Quartos 9 x 7.5 cm PISO SUPERIOR escala 1:75 Tipo 2 - Casa 4 Quartos 12 x 7 cm escala 1:75
PISO TÉRREO Tipo 2 - Casa 4 Quartos 12 x 7 cm escala 1:75
CASA TIPO 3 (3 dormitórios)
Terraço86,94m² PrivativaTotal coberta 173,88m² privativa 260,82m²
Privativa coberta 129,42m² Terraço86,94m² Terreno condominial de utilização exclusiva Terraço129,42m² Total privativa Casa260,82m² 2 350,00m² Total privativa 258,84m² Terreno Casa condominial de utilização exclusiva 5 354,00m² Terreno condominial de utilização exclusiva Casa 2 Casa 350,00m² 7 350,00m² PISO SUPERIOR Casa 3 464,00m² Tipo 2 - Casa 4 Quartos 12 x 7 cm Casa 5 Total 354,00m² 1:75 (incluindo escala comum) e fração ideal Casa 8 464,00m² TÉRREO Casa 7 Casa 350,00m² (a) (b) PISO Tipo 1 - Casa 3 ideal Quartos 9 x 7.5 cm 2 1.744,23m² - 13,43% Total (incluindo comum) e fração PISO SUPERIOR PISO SUPERIOR escala 1:75 Tipo 1comum) - Casa 3 Quartos 9 x 7.5 cmideal Tipo 2 - Casa 4 Quartos 12 x 7 cm Total (incluindo e fração Casaescala 5 1.752,89m² - 13,48% Casa 3 1.739,24m² 12,61% 1:75 escala 1:75 PISO TÉRREO Fig. 53. Plantas dos pavimentos superior (a), térreoPISO (b)SUPERIOR e terraço (c) PISO SUPERIOR Tipo 1 - Casa 3 Quartos 9 x 7.5 cm Casa 2 Casa 1.744,23m² - 13,43% Tipo 1 - Casa 3 Quartos 9 x 7.5 cm Tipo 2 - Casa 4 Quartos 12 x 7 cm 7 1.744,22m² - 13,43% Casa 8 1.739,24m² 12,61% escala- 1:75 Fonte: escala 1:75 Cristina Xavier Arquitetura, 2010 escala 1:75 Casa 5 1.752,89m² - 13,48%
(c)
PISO TÉRREO Tipo 2 - Casa 4 Quartos 12 x 7 cm escala 1:75
PISO TÉRREO do TipoTERRAÇO 1. Tipo 1 - Casa 3 Quartos 9 xTipo 7.5 cm 2 - Casa 4 Quartos 12 x 7 cm escala 1:75
TERRAÇO Tipo 2 - Casa 4 Quartos 12 x 7 cm escala 1:75
escala 1:75
PISO TÉRR Tipo 3 - Ca escala 1:75
Casa 7 1.744,22m² - 13,43% CASA TIPO 3 (3 dormitórios) CASA TIPO 3 (3 dormitórios) Privativa coberta 129,42m² Terraço129,42m² PrivativaTotal coberta 129,42m² privativa 258,84m² Terraço129,42m² Terreno condominial de utilização exclusiva Total privativa Casa258,84m² 3 464,00m² Terreno Casa condominial dePISO utilização exclusiva TÉRREO 8 464,00m²
(a)
(b)
Tipo 2 - Casa 4 Quartos 12 x 7 cm
Casa 3 Total 464,00m² 1:75 (incluindo escala comum) e fração ideal Casa 8 Casa 464,00m² Fig. 54. Plantas 3 1.739,24m² - 12,61% dos pavimentos PISO TÉRREO
superior (a), térreo (b) e terraço (c) do Tipo 2. TERRAÇO PISO TÉRREO Tipo 1 - Tipo Casa23- Quartos 9 x 7.5 cm Casa 4 Quartos 12 x 7 cm 2010 escala 1:75 escala 1:75
Tipo 1comum) - PISO CasaSUPERIOR 3 Quartos 9 x 7.5 cmideal Total (incluindo eCristina fração Fonte: Xavier Arquitetura, Tipo 2 - Casa 4 Quartos 12 x 7 cm Casaescala 8 1.739,24m² - 12,61% 1:75 PISO TÉRREO escala 1:75 Tipo 1 - Casa 3 Quartos 9 x 7.5 cm escala 1:75
Casa 3 1.739,24m² - 12,61% Casa 8 1.739,24m² - 12,61%
(c)
PISO TÉRREO Tipo 3 - Casa Térrea 18 x 7 cm escala 1:75
PISO TÉRREO TERRAÇO Tipo 2 - Casa 4 Quartos 12 x 7 cm Tipo 1 - Casa 3 Quartos 9 x 7.5 cm 1:75 escala escala 1:75
Projeto VilaTaguaí
TERRAÇO PISO TÉRREO Tipo 2 - Casa 4 Quartos 12 Tipo x 7 cm 3 - Casa Térrea 18 x 7 cm escala 1:75 escala 1:75 PISO TÉRREO TERRAÇO Tipo 3 - Casa Térrea 18 x 7 cm Tipo 2 - Casa 4 Quartos 12 x 7 cm escala 1:75 escala 1:75
Arquitetura e Eng TERRAÇO TipoXavie 3 - Ca arq. Cristina escala 1:75 eng. Helio Olga
Colaboradores arq. Lucia Hashizu arq. Henrique Fin arq. João Xavier arq. Tatiana Onoz eng. José Eduardo eng. Luiz Fernand
(a)
Equipe de fabrica Equipe de monta Equipe de obra d
(b)
Fig. 55. Plantas dos pavimentos térreo (a) e terraço (b) do Tipo 3.TERRAÇO TERRAÇO PISO TÉRREO Tipo 2 - Casa 12 x 7 cm Tipo 3 - Casa Térrea 18 x 7 cm Tipo 3 - Casa Térrea 18 x47Quartos cm Xavier Fonte: Cristina Arquitetura, 2010 escala 1:75 escala 1:75escala 1:75 PISO TÉRREO TERRAÇO Tipo 2 - Casa 4 Quartos 12 x 7 cm Tipo 1 - escala Casa 31:75 Quartos 9 x 7.5 cm escala 1:75 TERRAÇO Tipo 1 - Casa 3 Quartos 9 x 7.5 cm escala 1:75
PISO TÉRREO TERRAÇO Tipo 3 - Casa Térrea 18 x 7 cm Tipo 2 - Casa 4 Quartos 12escala x 7 cm1:75 escala 1:75 TERRAÇO Tipo 2 - Casa 4 Quartos 12 x 7 cm escala 1:75
Projeto VilaTaguaí Arquitetura e Engenharia arq. Cristina Xavier eng. Helio Olga
Comunicação Visu Roberta Asse TERRAÇO Tipo 3 - Casa Térrea 18 x 7 cm escala 1:75 TERRAÇO Tipo 3 - Casa Térrea 18 x 7 cm escala 1:75
Projeto VilaTaguaí
Arquitetura e Engenharia Após a análise destes três projetos residenciais em madeira, arq. Cristina Xavier Colaboradores cada um com suas particularidades estruturais, e compreendidas suas eng. Helio Olga arq. Lucia Hashizume arq. Henrique Fina devidas relevâncias, o projeto da Vila Viva busca incorporar algumas Colaboradores arq. João Xavier arq. Lucia Hashizume arq. Tatiana Onozato estratégias apresentadas por todos; a adoção da madeira industriali- arq. Henrique Fina eng. José Eduardo Leite arq. João Xavier eng. Luiz Fernando Meirelles de quadrados, espaços amplos, zada, módulos estruturais que partem arq. Tatiana Onozato eng. José Eduardo Leite Equipeimplantação de fabricação de Cláudiocuidadosa Alvarenga (Ita) conectados e fluidos, uma e em harmonia com aeng. Luiz Fernando Meire Equipe de montagem de José Francisco da Silva (Ita) natureza, entre outras. Equipe de obra de Juvêncio Pereira da Costa (Ita) Equipe de fabricação de C TERRAÇO Tipo 3 - Casa Térrea 18 x 7 cm escala 1:75 TERRAÇO Tipo 2 - Casa 4 Quartos 12 x 7 cm escala 1:75
Equipe de montagem de
Comunicação Visual Com relação ao sistema estrutural, devido à flexibilidade e replicabi-Equipe de obra de Juvênc Roberta Asse lidade presentes nos painéis autoportantes da Vila Taguaí, aliado ao fatoComunicação Visual Roberta Asse de todo o fechamento ser de madeira e à facilidade de se embutir as instalações elétricas, optou-se por se utilizar este sistema no presente projeto, que será apresentado a seguir. TERRAÇO Tipo 3 - Casa Térrea 18 x 7 cm escala 1:75
Fig. 56. Instalações elétricas (nos painéis) e hidráulicas (nos shafts). Fonte: Cristina Xavier Arq., 2010
ESTUDOS DE CASO
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C
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proposta AVIV
VILA
VILA
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AVIV
VILA
A CARACTERIZAÇÃO DA VILA No decorrer da década de 1980, no município de São Paulo, houve um aumento considerável de violência urbana, o que acarretou na insegurança da população e no desenvolvimento de uma rejeição às casas com frente para a rua pública (TREVISAN, 2006, p. 11). Desde então, a preferência por habitações multifamiliares continua presente na vida dos cidadãos, ampliando cada vez mais o número de condomínios fechados, horizontais ou verticais, completamente isolados do meio urbano, constituindo uma aparente sensação de segurança. A grande ambiguidade está justamente na relação entre isolamento e segurança; o ato de se cercar por grandes muros e se separar da rua pode parecer criar um ambiente mais seguro, entretanto, não contribui de maneira alguma para a segurança nas ruas, muito pelo contrário. Como explica Jane Jacobs, a paz nas calçadas e nas ruas não é mantida pela polícia, mas sim pela rede de controles e padrões de comportamento espontâneos, quase inconsciente, em meio à rotatividade populacional e aos olhos para a rua. “Uma rua movimentada consegue garantir a segurança; uma rua deserta, não.” (JACOBS, 2003, p. 35) Inicialmente as habitações foram cercadas por grades e portões, guaritas foram instaladas nas ruas, e então começaram a surgir grandes muros contornando quadras completas e limitando grandes áreas da cidade apenas para os moradores locais; rapidamente isso se tornou um padrão ao longo da cidade. Contudo, estudos apontam que esse modelo de morar acaba sendo um alvo ainda maior para os assaltantes. Recentemente, a “Folha de S. Paulo” divulgou dados de uma pesquisa realizada pela Polícia Militar do Paraná que revela que 60% das casas assaltadas em Curitiba são cercadas por muros. Apenas 15% são “abertas” para a rua. Além disso, a pesquisa colheu depoimentos de detentos com participação em assaltos. Dos entrevistados, 71% afirmaram que casas com muros são preferíveis para a realização de assaltos e 54% disseram que os muros ocultam a ação. (ROLNIK, 2012)
Em entrevista ao FIORIATTI (2007), a urbanista Regina Meyer disse que os muros “são perniciosos, pois você não enxerga a rua de casa e os passantes não te enxergam. A rua perde sua função de lugar de encontro e, vazias, se tornam perigosas”. Já ROLNIK (2012) propõe uma reflexão, dizendo que “os muros fragmentaram cidades, destruíram a relação dos edifícios com o espaço público, empobreceram a paisagem e, como estamos vendo, não resolveram o problema da segurança. Pra que servem então?”. Em meio a este contexto, as vilas surgem como um meio termo entre o público e o privado, se descolando dos limites da rua sem construir uma barreira muito definida, mantendo um contato visual e acolhendo os moradores em forma de comunidade. Diferente dos condomínios fechados, onde o individualismo prevalece e a maioria dos condôminos não sabe nem mesmo o nome dos seus vizinhos, as vilas têm o anseio de desenvolver uma vida em comunidade, onde há interação entre os moradores, que se conhecem e se ajudam, de modo a gerar um impacto positivo em suas qualidades de vida.
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VILA VIVA - O USO DA MADEIRA E SEU COMPROMETIMENTO ECOLÓGICO
Com o surgimento da Lei de Vilas (LEI Nº 11.605), em 1994, inicialmente começaram a ser produzidas vilas populares, de baixo custo, na periferia da cidade; com o tempo, este conceito de habitação foi se expandindo para as Zonas Exclusivamente Residenciais (ZER) e até para as Zonas Mistas (ZM), conquistando a população de classe média-alta. Segundo a Lei Nº 10.015, de 1985, “entende-se como “vila” o conjunto de habitações independentes, dispostos de modo a formar rua ou praça, interior a quadra, com ou sem caráter de logradouro público”; enquanto a Lei de Vilas classifica como “unidades habitacionais isoladas, agrupadas, geminadas ou superpostas, em condomínio”. É importante ressaltar que ambas as leis foram escritas há bastante tempo e referem-se à uma determinada época, entretanto, ajudam a caracterizar este tipo de moradia que o presente projeto pretende criar, que consiste em um conjunto de habitações – neste caso, com a estrutura principal em madeira – em diferentes configurações, dispostas de maneira não muito próximas, nem muito distantes, conectadas por um caminho que conduz à um grande espaço de convívio, encontro e lazer, que pode ser utilizado pelos moradores da vila e do entorno, estimulando a convivência e a troca de experiências.
[...] as casinhas de vila, no interior das quadras, [...] pareciam “abrigadas” dos perigos do espaço público da rua por estarem ‘escondidas’ em pequenas ruas sem saída, largos, travessas, etc., protegendo-se mutuamente, com acessos naturalmente vigiados pelas inúmeras janelas observando um espaço nem totalmente privado, nem totalmente público, talvez semi-privados, se couber o termo. Além disso, abrigam-se também dos ruídos da rua, do movimento constante da cidade grande, criando áreas tranquilas no coração da metrópole. (TREVISAN, 2006, p. 11)
Fig. 57. Diagrama comparando os espaços criados por um condomínio fechado (esquerda) e por um conjunto de casas abertas para a via pública (direita), e suas relações com a rua. Fonte: Elaborado pelo autor
proposta
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Fig. 58. Imagem de satĂŠlite da regiĂŁo. Fonte: Google Earth
Fig. 59. Imagem de satĂŠlite ampliada da regiĂŁo. Fonte: Google Earth
O TERRENO A escolha do terreno se deu pela sua localização em um bairro residencial pouco adensado de São Paulo, com a paisagem marcada por uma abundante vegetação remanescente da Mata Atlântica (Bosque heterogêneo). Localizado no distrito de Santo Amaro, dentro do bairro Jardim dos Estados, o terreno possui em sua volta uma grande área residencial horizontal de médio/alto padrão com duas grandes escolas próximas – a Escola Suíço-Brasileira e a bilíngue Chapel School; em uma distância de aproximadamente 800m se encontra a estação de metrô Alto da Boa Vista, e em pouco mais de 1km é posSível ter acesso às estações Adolfo Pinheiro e Borba Gato, ambas da linha 5 Lilás do Metrô.
Fig. 60. Distrito de Santo Amaro Fonte: Adaptado da Prefeitura de São Paulo
Mesmo estando localizado em um território completamente urbanizado, a grande área verde que o circunda transmite um conforto e uma qualidade de vida, por vezes, semelhante ao campo, promovendo um alívio à agitação da cidade, além de amenizar os ruídos e a poluição do entorno.
Fig. 61. Mapa de uso e ocupação do solo com polos em destaque. Fonte: Geosampa e Google Earth Elaborado pelo autor
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VILA VIVA - O USO DA MADEIRA E SEU COMPROMETIMENTO ECOLÓGICO
O terreno se encontra em uma ZER (Zona Exclusivamente Residencial), que segundo o Plano Diretor Estratégico de São Paulo (2014) é uma “porção do território destinada exclusivamente ao uso residencial, com tipologias diferenciadas e níveis de ruído compatíveis com o uso e com vias de tráfego leve e local”. Sendo assim, o coeficiente de aproveitamento (C.A.) deve estar entre 0,05 e 1, a taxa de ocupação é de 0,50 e o gabarito máximo das edificações é de 10 metros.
TABELA 5. PARÂMETROS DE OCUPAÇÃO
TIPO DE ZONA
ZONA
ZER
ZER-1
C.A. mínimo 0,05
C.A. básico 1
C.A. máximo 1
GABARITO T.O. máximo (m) 0,50 10
Fonte: Adaptado do Quadro 3 da LEI Nº 16.402 de São Paulo
A área de intervenção sofreu um recorte estratégico, se adequando ao limite máximo de 15.000 m² proposto pela Lei de Vilas (LEI Nº 11.605) para essa categoria de conjunto habitacional, e apesar de sua grande área, o terreno apresenta uma vegetação abundante que será mantida, o que resulta em uma área consideravelmente menor para efetivamente implantar as construções, que, devido ao limite de gabarito imposto pelo zoneamento somado ao fato de serem construções elevadas, terão no máximo dois pavimentos. Sua frente principal está na Rua Visconde de Porto Seguro, entretanto, é possível fazer uma conexão com a Rua Irineu Marinho, atualmente sem saída e com fim ao encontro com o terreno.
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Fig. 62. Perímetro e área do terreno. Fonte: Adaptado do Geosampa
proposta
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Para maior entendimento da topografia e das possíveis relações com o entorno, foram realizados alguns cortes do perfil natural terreno, revelando um aclive transversal de aproximadamente 5 metros à leste e a presença de um pequeno morro na longitudinal.
LIMItE MÁXIMo DE aLtUra LIMItE MÁ LX II MM Io tEDE MÁa XL It MU ora DE aLtUra
0 0
10 m
10 m
10 m
Fig. 63. Corte longitudinal. Fonte: Elaborado pelo autor LIMItE MÁXIMo DE aLtUra LIMItE MÁ LX II MM Io tEDE MÁa XL It MU ora DE aLtUra
0 0
10 m
10 m
10 m
Fig. 64. Corte longitudinal. Fonte: Elaborado pelo autor LIMItE MÁXIMo DE aLtUra LIMItE MÁ LX II MM Io tEDE MÁa XL It MU ora DE aLtUra
0 0
10 m
10 m
10 m
Fig. 65. Corte transversal. Fonte: Elaborado pelo autor
A partir desta análise (figuras 63, 64 e 65) foi possível perceber que o desnível existente se dilui em toda a extensão do terreno, podendo ser facilmente superado por meio de rampas; sendo assim, optou-se por manter a topografia original, de forma que as residências e suas conexões se adaptem a ela, por meio de alguns apoios em diferentes níveis, preservando o máximo de vegetação possível e promovendo uma conexão com a natureza. Com base na foto aérea disponível pelo Google Earth (2019), realizou-se um mapeamento das árvores existentes, identificando as clareiras – locais com pouca cobertura vegetal, propícios à implantação das edificações – e as possíveis localizações dos troncos (figura 66). 70
VILA VIVA - O USO DA MADEIRA E SEU COMPROMETIMENTO ECOLÓGICO
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Fig. 66. Perímetro do terreno (a); Mapeamento das clareiras (b); Possíveis localizações dos troncos (c). Fonte: Elaborado pelo autor sobre imagem de satélite do Google Earth
proposta
71
(a)
(c)
(b) 72
VILA VIVA - O USO DA MADEIRA E SEU COMPROMETIMENTO ECOLÓGICO
(d)
(e)
O entorno do terreno é marcado por inúmeros condomínios residenciais predominantemente horizontais, cercados e com entrada controlada, que ignoram a existência da via pública e se isolam completamente, como os condomínios Place Saint Germain (a), Parc des Enfants (b), Palm Hill (c), e Chácara Flora (d) – mostrados na figura 68 – que contornam muitas vezes uma quadra inteira, tendo como consequência a formação de espaços públicos vazios, com pouca circulação de pedestres e, portanto, inseguros. Outro modelo de distanciamento da via pública está presente na Rua Irineu Marinho (e), onde é possível deduzir que os moradores destas casas com frente para a rua se aproveitaram do fato da via ser sem saída e organizaram seu fechamento repentinamente. Esta tipologia também está muito presente na cidade de São Paulo e, apesar de não ser concebida nos mesmos moldes dos condomínios, apresentam os mesmos prejuízos à cidade. Como dito anteriormente, estes tipos de conjuntos habitacionais criam uma barreira que abandona o contato visual entre os moradores e os pedestres que circulam pela rua, ou seja, abdicam da vida pública, gerando uma série de problemas ao entorno, aos moradores e aos transeuntes da região. Fig. 67. Conjunto de fotos dos diversos condomínios fechados presentes nos arredores do terreno. Fonte: Produção do próprio autor proposta
73
A IMPLANTAÇÃO (a)
(b)
(c)
(d)
O projeto da Vila Viva busca justamente romper este paradigma habitacional presente nos atuais condomínios e conjuntos residenciais, produzindo um espaço livre, configurado a partir de habitações em madeira, envolvidas em um ambiente acolhedor, onde a vegetação do entorno cria um conforto tanto acústico quanto físico, potencializando a área verde e introduzindo ao pedestre uma nova praça pública. A partir do mapeamento das árvores, da localização da clareira e da identificação dos principais troncos, propõe-se um caminho principal (fig. 68-c), como o eixo estruturador do projeto, com 3 metros de largura, somente para pedestres, que percorre toda a vila de maneira retilínea com variações angulares, tirando o melhor proveito da topografia e se esquivando dos troncos existentes. Este único caminho de madeira conduz o pedestre por todo o projeto, em um percurso em meio as árvores, promovendo um maior vínculo com a natureza, além de conectar a Rua Visconde de Porto Seguro – mais movimentada – com a Rua Irineu Marinho, como uma ligação direta com o miolo do bairro, possibilitando a permeabilidade e fruição pública. Atualmente o final da Rua Irineu Marinho se encontra fechado – como mostrado na figura 68 (e) – entretanto, entende-se que este bloqueio foi adicionado posteriormente à concepção das casas e não apresenta coerência com a tipologia da rua, e sim potencialidade para ser convertida em um calçadão ou uma rua compartilhada, tendo em vista que todas as casas possuem suas garagens particulares. Deste modo, propõe-se a retirada do portão e da grade, de modo a devolver o trecho da rua à cidade e promover a livre circulação de pedestres. Como resultado do limite da clareira e do desenho formado pelo caminho, foram dispostas 6 unidades habitacionais, com três tamanhos distintos (fig. 68-d), ocupando o restante da clareira e preservando o centro da vila para uma grande praça pública.
(e)
Tanto as casas quanto o caminho estão elevadas do solo, acompanhando o perfil natural do terreno e mantendo a permeabilidade do solo, de maneira a evitar o contato da madeira com a umidade, assim como mostram os estudos de caso e explicam os especialistas da ITA Construtora durante a visita à fábrica e entrevista (Anexo 1). Devido ao percurso interno ser destinado exclusivamente ao pedestre, somado à distância considerável dos comércios e serviços mais próximos, um pequeno estacionamento foi implantado entre as árvores, paralelo à Rua Visconde de Porto Seguro, abrangendo uma vaga de automóvel por residência e um bicicletário – que também pode ser utilizado pelos moradores da região – priorizando a mobilidade ativa.
Fig. 68. Diagrama conceitual. Elaborado pelo autor
74
VILA VIVA - O USO DA MADEIRA E SEU COMPROMETIMENTO ECOLÓGICO
Fig. 69. Implantação. Elaborado pelo autor
Casa Tipo 3 Térreo + 1 pav | Área total: 262m²
Praça Área total: 1100m² Salão Multiuso Área total: 65m²
Casa Tipo 2 Térreo + 1 pav | Área total: 193m²
Placas Fotovoltaicas
Caminho Área total: 1122m²
Casa Tipo 1 Térreo + 1 pav | Área total: 124m²
Estacionamento 6 vagas
Bicicletário
IMPLANTAÇÃO 0
4
8
16m
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3 3
4 5 1
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IMPLANTAÇÃO 0
76
4
8
16m
1. Casa Tipo 1 2. Casa Tipo 2 3. Casa Tipo 3
4. Salão Multiuso 5. Praça Rebaixada 6. Wetland
VILA VIVA - O USO DA MADEIRA E SEU COMPROMETIMENTO ECOLÓGICO
UR
O
Árvores plantadas Árvores retiradas
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A IR IN AR UM INE
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Fig. 70. Implantação. Elaborado pelo autor
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P
O desenho do caminho principal da vila surgiu da organicidade presente na natureza, das distâncias entre as árvores e da possibilidade de implantação das edificações nas clareiras. Diante disso, algumas alterações formais foram feitas, estendendo e contraindo o percurso, de modo a compor linhas retas, simplificando a inserção das casas em diferentes arestas e produzindo um trajeto repleto de surpresas ao pedestre, uma vez que a cada mudança de direção se desvenda uma nova vista e torna o caminhar ainda mais agradável.
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A partir da união e do alargamento de alguns trechos, foi possível formar zonas de descanso ao nível do caminho (fig. 72), como pequenos espaços de estar elevados, e em frente a um deles foi posicionado o salão multiuso, que pode servir tanto como um salão de festas para os moradores como um espaço aberto à comunidade, abrigando cursos, oficinas e eventos temporários.
A
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Além da sua principal função de passagem, este caminho elevado ainda desempenha um papel de extrema importância no conjunto, abrigando todos os tipos de tubulações na sua própria estrutura, promovendo a conexão das instalações das residências com a rede pública de esgoto, gás, água e elétrica.
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Tubulação de gás Tubulação de esgoto
Tubulação de água potável
Tubulação de energia, telefone e internet A
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Fig. 71. Corte transversal do Caminho. Fonte: Elaborado pelo autor
05
25
50cm
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PO
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SEG
UR
O
Fig. 72. Processo do desenho do caminho. Fonte: Elaborado pelo autor
proposta
77
Fig. 73. Fotos da maquete de estudo de implantação (esc.: 1:500) Elaborado pelo autor. Foto: Camila Caçador
78
VILA VIVA - O USO DA MADEIRA E SEU COMPROMETIMENTO ECOLÓGICO
Devido ao fato de toda a vila ser elevada do solo, somado à topografia natural mantida, todo o percurso é realizado por meio de rampas, que mudam de altura conforme a posição no terreno e se mantêm planas nas entradas das casas. Deste modo, é garantida a acessibilidade universal ao projeto através de desníveis leves e confortáveis para todos. TABELA 6. INCLINAÇÕES DAS RAMPAS
792 791
791 790
789
789.5
Rua Visconde de Porto Seguro
788.75
788 Rua Irineu Marinho
TRECHO
DESNÍVEL
INCLINAÇÃO
1 2 3 4 5 6 7
2m em 42,5m 1m em 20m 1m em 20m 1m em 16m 0,5m em 6m 0,75m em 11m 0,75m em 11m
4,7% 5% 5% 6,25% 8,33% 6,8% 6,8%
Fig. 74. Diagrama de desníveis do Caminho. Sem escala. Fonte: Elaborado pelo autor
Estabelecido isto, foi realizado um diagrama de fluxos (fig. 75) destacando os principais deslocamentos de pedestres já existentes e novos criados pelo projeto, de modo a setorizar o caminho em ambientes de estar – nos trechos com menor fluxo – e ambientes de passagem – próximos às entradas das casas. Dessa forma, os ambientes de estar contarão com mobiliários urbanos como bancos, lixeiras e luminárias, para criar um espaço agradável de contemplação e descanso, enquanto os demais trechos possuem a função de estimular a passagem, compartilhando parte de sua largura com rampas de acesso à praça central, que se encontra ao nível do solo. C
C
P
P
Para a implantação de todo o conjunto, estima-se a necessidade de retirada de 15 árvores, que serão replantadas em dobro, a maioria ao redor do estacionamento – como mostra a implantação –, contribuindo para o distanciamento da nova via em relação à calçada, de modo a proteger os pedestres e realçar o restante do projeto.
Fig. 75. Diagrama de Fluxos. Fonte: Elaborado pelo autor
P
P
P
P P
P
TRECHO COM MENOR FLUXO = ESTAR - bancos - relaxar - visual
P
P
P
P
P
P
P
P
P
PONTO FOCAL (PRAÇA)
P
TRECHO COM MAIOR FLUXO = PASSAR
- convívio - encontro - lazer - contato com a natureza
- estimular passagem - rampas descendo para a praça P
P
P
P
TRECHO COM MENOR FLUXO = ESTAR
FLUXO ORIGINAL DA RUA FLUXO DE PASSAGEM (CRUZAMENTO) FLUXO DE PASSEIO/LAZER FLUXO DOS MORADORES PONTO FOCAL (PRAÇA)
- bancos - relaxar - visual 0 5 10
20
50
790
790
785
785
780
780
proposta
79
Todo o mobiliário das áreas coletivas foi idealizado em chapas de aço dobradas e pintadas com óxido de ferro, fornecendo um visual semelhante ao aço corten porém mais confortável ao tato. Este material está presente nos bancos, lixeiras e luminárias, além dos abrigos das caixas d'água, guarda-corpos dos mezaninos e portas de entrada das residências, estabelecendo um contraste com toda a madeira das estruturas do caminho e das casas. Dois tipos de bancos foram propostos: com escosto, nos limites das entradas da vila; e sem encosto, ao longo do caminho e da praça, onde os moradores e visitantes podem escolher para que lado sentar, de modo a apreciar ambas as vistas. As luminárias fornecem uma mescla de iluminação em dois niveis: alta (porém abaixo das copas das árvores), com postes para iluminação geral, e baixa (por meio de balizadores, que apontam o percurso e delimitam as entradas das casas. A lixeira Mince L do escritório De Lazzari foi escolhida devido à sua construção em chapa metálica dobrada com faces de ripas verticais de madeira, análoga ao restante do projeto da Vila Viva. Fig. 76. Perspectivas do caminho e mobiliários urbanos. Elaborado pelo autor.
80
VILA VIVA - O USO DA MADEIRA E SEU COMPROMETIMENTO ECOLÓGICO
45 cm 45 cm 45 cm
50 cm
Fig. 77. Bancos de chapa dobrada. Elaborado pelo autor.
proposta
81
A PRAÇA A praça está localizada no centro do projeto, como o coração da vila, e representa o único momento em que as pessoas não se encontram elevadas, e sim ao nível do solo. Dessa forma, cria-se um espaço ainda mais acolhedor, promovendo uma integração da arquitetura com o meio natural e um equilíbrio entre todo o conjunto. O ambiente é acessado por duas rampas vindas do caminho elevado e apresenta uma leve inclinação oriunda da topografia original do terreno, onde canteiros gramados em alturas variadas contrastam com o piso intertravado de concreto drenante - garantindo o correto escoamento da água -, além do grande espelho d'água rebaixado, que delimita o local e também exerce função de Wetland - ou Alagado Construído -, sistema capaz de tratar águas cinzas das residências através de tanques anaeróbios, raízes, peixes e macrófitas - sem a liberação de odores - para finalidade de irrigações e limpeza das áreas comuns da vila. Foram realizados diversos estudos de desenho para a praça, mantendo os canteiros com formas angulares, análogas ao caminho que percorre todo o projeto, e por fim optou-se por um espaço livre mais aberto, com poucas segmentações, de modo a proporcionar aglomerações e diversas atividades, tanto no sol quanto na sombra, margeado por grandes bancos lineares. Fig. 78. Alguns estudos de desenho da praça. Elaborado pelo autor
Entrada de água cinza das casas
Fig. 79. Diagrama de Wetland. Adaptado de Sezerino et al. (2014) Elaborado pelo autor.
Efluente para reuso Zona de raizes e pedras
Tanque anaeróbio
Lago com plantas aquáticas macrófitas e peixes
Sedimentação
82
Barreira de Filtragem
VILA VIVA - O USO DA MADEIRA E SEU COMPROMETIMENTO ECOLÓGICO
PLANTA E CORTE DA PRAÇA 0
2
4
8m
proposta
83
Fig. 80. Perspectivas da praรงa. Elaborado pelo autor
84
VILA VIVA - O USO DA MADEIRA E SEU COMPROMETIMENTO ECOLร GICO
proposta
85
AS CASAS As casas foram divididas em três tipos, podendo acomodar diversos perfis familiares, desde solteiros, jovens casais, até grandes famílias na maior residência. Todas seguem a mesma premissa, estrutura e vedação em madeira – seguindo o princípio do “chapéu e bota” (SALVATORE, 2019), sendo elevadas do solo e com beirais de 1,20 m para proteção do material –, mantendo as faces voltadas ao caminho de maneira mais reservada e as faces oposta bem abertas, priorizando a vista para o grande bosque. As residências concentram as áreas comuns no térreo, sem grandes compartimentações, mantendo um ambiente conectado e fluido, enquanto os quartos – locais mais íntimos – estão resguardados no primeiro pavimento, podendo ser facilmente revertidos em escritórios e outros ambientes, de acordo com os moradores. A maior diferença está no tamanho das residências, o primeiro tipo possui aproximadamente 124m² de área, o tipo 2 cerca de 193m², e o terceiro tipo é o maior de todos, com 262m².
Fig. 81. Painéis estruturais das paredes (cima) e lajes (baixo) Elaborado pelo autor
A estrutura foi pensada em eucalipto, devido à facilidade e curto tempo de plantio - com tratamentos hidrofugante, contra fungos e cupins -, em uma modulação de 4x4 metros em todas as casas, seguindo um sistema similar aos painéis autoportantes apresentados no estudo de caso da Vila Taguaí, onde tanto as paredes quanto as lajes são produzidas a partir de painéis de madeira de 8cm de espessura, com vigotas transversais a cada 10cm, criando um vazio interno por onde percorre as instalações elétricas. A principal diferença do módulo da laje está no acréscimo de uma camada de 5cm de concreto e de um piso de madeira sobreposto; para isso, as tábuas encaixadas abaixo do concreto foram substituídas por uma chapa, de forma a nivelar a laje. Também foi realizado um pré-dimensionamento da aplicação de placas fotovoltaicas para captação de energia solar nas coberturas e um sistema de captação e armazenamento de águas pluviais para reuso aproveitando o pé direito rebaixado dos banheiros do 1º pavimento para alocar os reservatórios de vinil acima do forro.
Elaborado pelo autor
Fig. 82. Placas Fotovoltaicas Fonte: CicloVivo, 2018
86
Fonte: Simulador Payback Solar - WEG
VILA VIVA - O USO DA MADEIRA E SEU COMPROMETIMENTO ECOLÓGICO
Fig. 83. Fotos da maquete volumÊtrica (esc.: 1:250) Elaborado pelo autor. Foto: Camila Caçador proposta
87
IRO
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B B
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TIPO 1
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3 DORMITÓRIOS
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1 SUÍTE
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124 M2 RU
AV
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PO
RTO
4 MÓDULOS
SEG
UR
O
1
2
3
1 3 Com quatro módulos estruturais,2a residência 1 2 apresenta uma planta3 1 2 quadrada de 8 metros x 8 metros, onde no pavimento térreo se3localizam a cozinha e as salas de estar, jantar e TV, apenas separadas pela escada central, que também abriga o lavabo; no pavimento superior, uma suíte e dois quartos que compartilham o segundo banheiro.
A casa recebe iluminação pelas quatro fachadas – além da claraboia, que fornece uma iluminação zenital para a escada –, sendo que a fachada 3 (voltada ao bosque) possui janelas maiores e em maior quantidade, priorizando a vista, enquanto a fachada 1 (voltada ao caminho) retêm janelas menores e mais altas, garantindo a privacidade dos moradores; as fachadas laterais 2 e 4 são equivalentes em todos os 3 tipos e por apresentarem maior função estrutural, dispõem apenas de duas janelas estreitas cada.
FACHADA 1 FACHADAFACHADA 1 FACHADA 11 FACHADA0 1 2 4m
DETALHE 10 PINGADEIRA 0
88
4
8
12cm
FACHADA 3 FACHADA 3 FACHADA 03 2 4m FACHADA 3 FACHADA 3
VILA VIVA - O USO DA MADEIRA E SEU COMPROMETIMENTO ECOLÓGICO
FACHADA 2 FACHADA 2 2 FACHADAFACHADA FACHADA2 2 0
2
4m
FACHADA 4 FACHADA FACHADA4 4
0FACHADA 2 4FACHADA m 4
4
C
E
B
D
A
C
B
PLANTA TIPO 1 PAV. TÉRREO
1
2
3
3
2
1
A
C
CORTE B B 0
1
2
3m
proposta
89
CAIXA D’ÁGUA
MANTA ALWITRA
ESTRUTURA AUXILIAR DA COBERTURA
FORRO PAINÉIS ESTRUTURAIS DE MADEIRA
FAC H
A2 AD
AD A1
CH FA VIGAS DE MADEIRA
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LAJE
A
D
VIGAS DE MADEIRA PILARES DE CONCRETO
90
VILA VIVA - O USO DA MADEIRA E SEU COMPROMETIMENTO ECOLÓGICO
A
C
B
A E
PLANTA TIPO 1 PAV. SUPERIOR
1
2
3
C
B
A
D
C
B
CORTE A
FACHADA 1 0
1
2
3m
FACHADA 2 proposta
91
A
Para arrematar os painéis das paredes, dois detalhes se mostram necessários: o canto externo do encontro entre dois eixos perpendiculares (Detalhe 01) e o encaixe central onde uma parede interna encontra uma aresta externa (Detalhe 02); ambos os casos carecem de peças específicas para promover o encaixe.
DETALHE 07
PORTAS INTERNAS 0
16
32
48cm
As portas de entrada são pivotantes e de aço pintado de óxido de ferro – como mencionado anteriormente –, com puxadores em cavas lineares; já as portas internas se mantém em madeira. Os três tipos de casa compartilham destes mesmos detalhes. As vigas que sustentam a cobertura avançam além das paredes externas e afinam nas extremidades, amparando os amplos beirais de forma visualmente leve. O encaixe é feito de modo que toda estrutura transversal (nos três tipos de casa) se mantenha inteira e a longitudinal seja seccionada a cada módulo de 4 metros, como mostra o detalhe 09.
DETALHE 07
PORTAS INTERNAS 0
4
8
12cm
DETALHE 01
ENCAIXE DE CANTO (PAREDES) 0
92
4
8
12cm
VILA VIVA - O USO DA MADEIRA E SEU COMPROMETIMENTO ECOLÓGICO
DETALHE 02
ENCAIXE CENTRAL (PAREDES) 0
4
8
12cm
DETALHE 09
ENCAIXE VIGAS DA COBERTURA 0
8
16
24cm
DETALHE 06
PORTAS EXTERNAS - PIVOTANTES 0
16
32
48cm
DETALHE 06
PORTAS EXTERNAS - PIVOTANTES 0
4
8
12cm proposta
93
94
VILA VIVA - O USO DA MADEIRA E SEU COMPROMETIMENTO ECOLÓGICO
Fig. 84. Perspectivas do Tipo 1. Elaborado pelo autor.
proposta
95
P
RU A IR AR UM
INE
P
TIPO 2
INH
P
O
P
P
P
MU MU MUL MU
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3 DORMITÓRIOS
A
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UIM
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1 SUÍTE
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193 M2 RU
AV
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DE
DE
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8 MÓDULOS
SEG
UR
O
FACHADA 2 FACHADA 2 FACHADA 2 FACHADA 2
FACHADA 1 FACHADA 1 FACHADA 1 FACHADA 1
Devido ao seu maior tamanho, 8 metros x 16 metros, esta residência permite um térreo ainda mais amplo, com pé direito duplo nas salas de estar e jantar, e um mezanino onde se encontram três dormitórios, sendo um deles suíte. A escada que conecta os dois pavimentos possui suas laterais livres, ao mesmo tempo que o limite do seu patamar compõe a caixilharia da fachada 3.
FACHADA 3 FACHADA 3 FACHADA 3 FACHADA 3
O acesso à unidade se dá através de uma reentrância na casa, a partir do caminho, criando um acolhimento FACHADA 4 coberto e diferenciando o FACHADA 4 espaço privado do coletivo. FACHADA 4
FACHADA 1 FACHADA 1 1 2 FACHADA 4m
FACHADA 1 FACHADA 1 0
FACHADA 3 0
96
FACHADA 3 FACHADA 3 2 4m 3 FACHADA FACHADA 3
VILA VIVA - O USO DA MADEIRA E SEU COMPROMETIMENTO ECOLÓGICO
FACHADA 4
FACHADA 2 FACHADA 2 FACHADA 2 FACHADA 2 FACHADA 2 0
2
4m
FACHADA 4 FACHADA 44 FACHADA FACHADA 4 0 2 4m 4 FACHADA
E
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C
B
A
1
2
3
PLANTA TIPO 2 PAV. TÉRREO 0
1
2
3m proposta
97
E D C B A
3
Logo a frente, resguardado da fachada por aletas móveis de madeira – permitindo sua total abertura ou fechamento e dando um movimento à fachada – se encontra o jardim interno, que funciona como o coração da casa e permeia até o primeiro pavimento; cercado de vidro, traz iluminação natural para o centro da residência, assim como integra o meio externo com o interno, com um deck ao nível da casa e uma breve escada que conduz o morador ao nível do solo, onde é possível se conectar com a natureza e cultivar plantas e hortaliças que apreciem meia sombra.
CORTE A 0
98
VILA VIVA - O USO DA MADEIRA E SEU COMPROMETIMENTO ECOLÓGICO
1
2
3m
E
D
C
B
A
1
2
3
PLANTA TIPO 2 PAV. SUPERIOR 0
1
2
3m proposta
99
Três tipos de janela aparecem no decorrer do projeto: as de caixilho fixo, servindo como fonte de iluminação natural; as de caixilho móvel, promovendo iluminação e ventilação naturais; e as do banheiro, compostas de chapas de madeira que se camuflam na fachada quando fechadas, mas possuem um mecanismo que possibilita uma abertura próxima de 90º. DETALHE 11
CAIXILHOS FIXOS 0
8
16
24cm
DETALHE 12
CAIXILHOS MÓVEIS 0
8
16
24cm
DETALHE 13
CAIXILHOS DOS BANHEIROS 0
8
16
24cm
Vidro lapidado
DETALHE 03
CAIXILHOS FIXOS 0
4
8
12cm
Vidro lapidado
DETALHE 04
CAIXILHOS MÓVEIS 0
4
8
12cm
Chapa de madeira
DETALHE 05
CAIXILHOS DOS BANHEIROS 0
100
4
8
12cm
VILA VIVA - O USO DA MADEIRA E SEU COMPROMETIMENTO ECOLÓGICO
Ripas de madeira
3
DETALHE 14
BRISE VERTICAL 0
8
16
24cm
2
1
A fachada 3, por estar rodeada por densa vegetação, possui panos de vidro em toda a sua extensão, possibilitando a contemplação da vista a partir de qualquer ambiente no térreo e no mezanino; para garantir a vista e proteger dos raios solares diretos, foram posicionados brises verticais móveis (mais eficientes em orientações leste e oeste) na metade superior da fachada, mantendo a vista do térreo sem obstruções.
1
2
3
CORTE B 0
1
2
3m
proposta
101
DETALHE 08 ESCADA sem escala
102
VILA VIVA - O USO DA MADEIRA E SEU COMPROMETIMENTO ECOLÓGICO
ESQUEMA DE INSOLAÇÃO E VENTILAÇÃO TRANSVERSAL sem escala
Fig. 85. Perspectivas do Tipo 2. Elaborado pelo autor.
proposta
103
Fig. 86. Perspectivas do Tipo 2. Elaborado pelo autor.
ESQUEMA DE INSOLAÇÃO E VENTILAÇÃO
LONGITUDINAL sem escala
104
VILA VIVA - O USO DA MADEIRA E SEU COMPROMETIMENTO ECOLÓGICO
proposta
105
P
RU A IR AR UM
INE
P
TIPO 3
INH
P
O
P
P
P
MULTIUS MULTIUS MULTIUSO
IRO
UE
RG
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4 DORMITÓRIOS
A
RU
UIM
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2 SUÍTE
S
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262 M2
RU
AV
ISC
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DE
DE
PO
RTO
10 MÓDULOS
SEG
UR
O
O terceiro tipo é o maior de todos, 8 metros x 20 metros, e possui por volta de 262m², englobando uma grande cozinha, sala de estar com pé direito duplo e uma varanda no térreo, além de quatro dormitórios no primeiro pavimento, sendo duas suítes.
O deck externo funciona como uma extensão da cozinha, onde portas de correr permitem a integração plena entre área externa e interna, possibilitando refeições ao ar livre e convidando os habitantes a tomarem sol e apreciarem a vista do bosque. O acesso, assim como no segundo tipo, se dá através de uma reentrância na casa, resguardando-a do caminho público e acolhendo os moradores e visitantes.
FACHADA 1 1 FACHADA FACHADA 1 FACHADA 1 1 FACHADA
FACHADA 2 2 FACHADA FACHADA FACHADA 2 22 FACHADA
FACHADA 3 FACHADA 3 3 FACHADA 0 2 4m 3 FACHADA FACHADA 3
FACHADA 4 44 FACHADA FACHADA FACHADA 44m 4 FACHADA 0 2
0
106
2
4m
VILA VIVA - O USO DA MADEIRA E SEU COMPROMETIMENTO ECOLÓGICO
0
2
4m
F
E
D
C
B
A
PLANTA TIPO 3 PAV. TÉRREO 0
1
2
3m
1
2
3 proposta
107
F E D C B
O arranjo da moradia proporciona certa versatilidade no uso dos ambientes, permitindo a reconfiguração dos espaços conforme as necessidades dos moradores – subdividindo quartos, transformando-os em escritórios ou remanejando as salas no térreo, por exemplo. Em todas as casas as áreas molhadas (cozinha, área de serviço e banheiros) estão concentradas em prumadas hidráulicas posicionadas em shafts externos – com exceção do tipo 1, onde a prumada acontece no centro da casa –; já as instalações elétricas passam pelo interior dos painéis de madeira CORTE A autoportantes. ESC.: 1:100
A
CORTE A 0
108
VILA VIVA - O USO DA MADEIRA E SEU COMPROMETIMENTO ECOLÓGICO
1
2
3m
F
E
D
C
B
A
PLANTA TIPO 3 PAV. SUPERIOR 0
1
2
3m
1
2
3 proposta
109
ESQUEMA DE INSOLAÇÃO
TRANSVERSAL sem escala
1
2
DETALHE 15
Fig. 87. Perspectivas internas da casa Tipo 2. Elaborado pelo autor.
MUXARABI COM VIDRO FIXO 0
8
16
3
24cm
1
2
3
F
CORTE B 0
1
2
3m
proposta
111
Fig. 88. Perspectivas internas e externas da casa Tipo 3. Elaborado pelo autor.
DETALHE 16
MUXARABI RETRÁTIL 0
112
VILA VIVA - O USO DA MADEIRA E SEU COMPROMETIMENTO ECOLÓGICO
16
32
48cm
0
4
8
16cm proposta
113
IRO
UE
RG
VE
P
RU A IR AR UM
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P
SALÃO MULTIUSO
INH
P
O
P
O Salão Multiuso funciona como um complemento às unidades habitacionais, podendo exercer diversas funções: desde um salão de festas ou espaço de confraternização entre os moradores da vila, até abrigar eventos efêmeros, como cursos, oficinas e pequenos shows abertos à comunidade do entorno, aproveitando seu contato próximo à praça central.
P
P
A
RU
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DE
DE
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SEG
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O
65 M2 128 M2
Sua estrutura se assemelha à Casa Tipo 1, possuindo o mesmo vão de 8m x 8m, no entanto apresenta um diferencial: além de ser uma edificação térrea, do seu pé direito maior e de apresentar ventilação permanente através de muxarabis, as paredes laterais e posterior contam com um mecanismo de polias que permite uma abertura vertical de 90º, de modo a utilizar as paredes como piso, aumentando a área útil do espaço de 65m2 para 128m2. Para possibilitar o uso das paredes como piso, um ajuste teve que ser feito nas peças de travamento interno, que ao invés de serem simples tábuas retangulares, agora ganharam um recorte para nivelar toda a parede e viabilizar um piso sem obstruções.
Fig. 89. Diagrama de abertura das paredes. Fonte: Elaborado pelo autor
114
VILA VIVA - O USO DA MADEIRA E SEU COMPROMETIMENTO ECOLÓGICO
DETALHE 17
ENCAIXE PAREDE MULTIUSO 0
4
8
12cm
C
B B
B
B
C
A A
33
A
MULTIUSO
22
A
11
PLANTA MULTIUSO 0
1
2
2
3m
3
Fig. 90. Possíveis layouts para a utilização do espaço. Sem escala. Fonte: Elaborado pelo autor
2
3
1
IUSO
1
proposta
115
Fig. 91. Perspectivas internas e externas do Multiuso. Elaborado pelo autor.
116
VILA VIVA - O USO DA MADEIRA E SEU COMPROMETIMENTO ECOLÓGICO
C
B
A
CORTE TRANSVERSAL 0
1
2m proposta
117
CONSIDERAÇÕES FINAIS Este trabalho teve como proposta a investigação da madeira como o principal elemento estrutural aplicada à criação de uma vila, como uma solução alternativa ao atual modelo de conjuntos residenciais e condomínios fechados, de modo a estimular a convivência e a troca de experiências entre os moradores da vila e do seu entorno por meio de um espaço equilibrado e em harmonia com a natureza. Sendo assim, para a fundamentação do tema foi levantado o histórico do uso da madeira na arquitetura, assim como um estudo sobre as diferentes técnicas construtivas possíveis com este material, suas propriedades físicas, vantagens e desvantagens, além da caracterização de um projeto ecológico e a importância do manejo sustentável. Para uma melhor compreensão, também foram realizados estudos de caso e visitas de campo à fábrica da ITA Construtora e ao IAU Instituto de Arquitetura e Urbanismo da USP em São Carlos, buscando analisar projetos já construídos e conversar com profissionais que são referências no assunto. Para a realização do projeto, foi escolhido um terreno urbano, onde estão presentes os maiores impactos ao meio ambiente e onde maior parte da população carece de um ensinamento sobre sustentabilidade. Portanto, foi efetuado o levantamento de dados do entorno e do terreno, assim como a posição das árvores existentes, gerando um programa de necessidades e, por fim, a proposta arquitetônica da Vila Viva, com seis unidades habitacionais, um salão multiuso e uma praça pública localizada no centro do projeto. Estudar as possibilidades de aplicação da madeira na arquitetura nos faz compreender que existem soluções diferentes do concreto e do aço, e que é possível conceber projetos com caráter sustentável, de modo que a arquitetura se funda com a natureza, sem barreiras, minimizando o impacto ambiental. Portanto, os benefícios estão presentes em diferentes proporções, desde a escala local, afetando diretamente a vida dos moradores, enriquecendo o espaço urbano, e até mesmo em escala global, sequestrando gás carbônico da atmosfera e contribuindo para o combate ao efeito estufa. Sendo assim, as aplicações da madeira merecem ser exploradas e mais utilizadas, visando diminuir o impacto ambiental e preservar o equilíbrio ecológico, além de desmistificar o preconceito com o material.
118
VILA VIVA - O USO DA MADEIRA E SEU COMPROMETIMENTO ECOLÓGICO
proposta
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Em preto – livros Em cinza – sites Em verde – artigos e revistas Em marrom - legislação
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VILA VIVA - O USO DA MADEIRA E SEU COMPROMETIMENTO ECOLÓGICO
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VILA VIVA - O USO DA MADEIRA E SEU COMPROMETIMENTO ECOLÓGICO
ANEXO Entrevista com Daniel Salvatore, sócio da ITA Construtora: O que é importante se pensar ao utilizar a madeira como principal elemento de estrutura em uma construção? [Daniel Salvatore] Madeira longe do solo e beirais amplos (“chapéu e bota”) Quais as principais vantagens e desvantagens em se utilizar a madeira ao invés do concreto ou do aço, por exemplo? [Daniel Salvatore] Essa não é uma pergunta simples de responder, sugiro que pesquise mais. Explico: vantagens e desvantagens estão associadas ao tipo de uso. Por exemplo, se for uma estrutura completamente exposta à intempéries, não recomendaria o uso da madeira por ser um material orgânico e sujeito ao apodrecimento. Por outro lado, se for uma estrutura de um galpão de fertilizantes, somente a madeira pode ser utilizada dada a agressividade química para estruturas de aço e concreto. A única vantagem que não depende do uso, é a vantagem ambiental. A madeira é o único material renovável, e que ao contrário dos outros materiais de construção tem um balanço positivo em se tratando de emissões de CO2 (sequestra carbono da atmosfera e os outros emitem). Outras vantagens: melhor relação peso x resistência (menor carga na fundação), proporciona bem-estar inigualável, velocidade na construção, qualquer tipo de forma, desempenho previsível em caso de incêndios (aço por exemplo não é previsível e muito perigoso) etc. Quais os melhores tipos de madeira para uma estrutura? [Daniel Salvatore] Não é correto perguntar dessa forma, qualquer madeira pode ser utilizada, desde que se conheçam suas propriedades e a espécie esteja adequada ao uso. Como é feito o tratamento de resistência ao fogo? [Daniel Salvatore] Para estruturas como as nossas, portantes, basta aumentar a seção de acordo com o tempo de fuga exigido pelo corpo de bombeiros. Assunto extenso, pesquisar. De onde provém a madeira utilizada por vocês em projetos como na Residência Helio Olga Jr.? [Daniel Salvatore] No caso da residência Hélio Olga a madeira veio da Amazônia, porém naquela época não existiam manejos florestais. Hoje, existem diversos manejos florestais em SP, de florestas plantadas. Você acha que ainda existe um preconceito com as construções em madeira? O que poderia ser feito para reverter essa desconfiança no material? [Daniel Salvatore] O preconceito existe, mas o brasileiro tende a considerar apenas o preço para se decidir pelo uso ou não do material. Se a demanda e produção aumentarem, o preço cai e o preconceito “desaparece”. Pretendo projetar algumas casas em madeira para o meu trabalho, teria alguma dica final? [Daniel Salvatore] Pesquise muito e respeite o clima local, diferentes projetos são adequados para cada local para onde foi projetado. Referências Bibliográficas
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