Educação Livre – Espaço Vivo Polo de conscientização e Práticas Ecológicas em Embu-Guaçu
Jessica Pelegrinelle Alves
Centro Universitário Senac Jessica Pelegrinelle Alves
Educação Livre – Espaço Vivo Polo de conscientização e Práticas Ecológicas em Embu-Guaçu Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Centro Universitário Senac, para formação em Bacharelado em Arquitetura e Urbanismo Orientadora: Prof. Mr. Marcella de Moraes Ocke Mssnich
São Paulo 2019
Agradeço à todos que estiveram presente durante este percurso. Aos meus pais Mårcia e Gilberto, familiares e amigos pelo interesse, apoio e incentivo. Aos docentes que me despertaram novos olhares sobre a vida.
Resumo Este trabalho propõe o desenvolvimento do projeto de um polo de aprendizagem e disseminação de
conhecimentos
no
município
de
Embu-Guaçu,
com
atividades
que
estimulem
o
autoconhecimento e as relações interpessoais, juntamente à conscientização ecológica, através de
práticas e vivências multidisciplinares e imersivas com contato efetivo com o meio ambiente – Educação Livre. O local será conformado a partir dos conceitos da Permacultura e técnicas de Bioconstrução, procurando o máximo de autossuficiência – Espaço Vivo.
A intenção de criar um espaço como este inicia das inquietações e questionamento dos processos mecanizados, que nos distancia do modo de vida natural e acaba por refletir em nosso modo de ser e de se relacionar. Além disso, é de fundamental importância a conscientização ecológica e disseminação de soluções ambientais de impacto positivo e de baixo custo, frente à situação ambiental cada vez mais colapsada de nosso planeta; onde o consumo inconsciente e mau tratamento dos resíduos que geramos estão esgotando os recursos naturais. Acredito que a Educação, neste caso, seja um “modo de viver” comunitário, através de estímulos e orientações da expressão para o autoconhecimento e desenvolvimento do ser, e assim futuras transformações no modo de nos relacionarmos, conosco, com os outros e com o mundo.
Palavras Chave: Educação; Permacultura; Bioconstrução; Projeto.
Abstract This work proposes the development of a project for learning and dissemination of knowledge in the city of Embu-Guaรงu, with activities that stimulate self-knowledge and interpersonal relations, along with ecological awareness through multidisciplinary and immersive practices and experiences with effective contact with the environment - Free Education. The site will be shaped from the concepts of Permaculture and Bioconstruction techniques, seeking maximum self-sufficiency - Living Space. The intention to create a space like this starts from the worries and questioning of mechanized processes, which distances us from the natural way of life and ends up reflecting on our way of being and relating. In addition, it is of fundamental importance the ecological awareness and dissemination of environmental solutions of positive impact and of low cost, in front of the increasingly collapsed environmental situation of our planet; where unconscious consumption and poor treatment of the
waste we generate are depleting natural resources. I believe that education, in this case, is a community "way of life", through stimuli and orientations of expression for self-knowledge and development of being, and thus future transformations in how we
relate to ourselves, to others and to the world.
Keywords: Education; Permaculture; Bioconstruction; Project.
Sumรกrio
INTRODUÇÃO........................................................................................................................................................09 CONTEXTO Educação, formação da sociedade...................................................................................................13
Sociedade, organização dos espaços................................................................................................19 Espaços, a construção...........................................................................................................................23 CONSCIENTIZAÇÃO Pedagogia...............................................................................................................................................27 Permacultura...........................................................................................................................................29 ESTUDOS DE CASO Cursos e Vivências realizadas................................................................................................................39 Cidade Escola Ayni – Rio Grande do Sul.............................................................................................55
Centro Infantil El Guadual – Colombia................................................................................................63 Escola Sustentável – Uruguai.................................................................................................................69
EMBU-GUAÇU.......................................................................................................................................................75 PROPOSIÇÃO........................................................................................................................................................87 CONSIDERAÇÕES FINAIS...................................................................................................................................113
REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS........................................................................................................................115
Introdução
Nosso modo de ser e a maneira como nos relacionamos com os outros, e com o mundo, é reflexo de todas as nossas experiências vividas, e em constante transformação. Ao longo da história, a humanidade já se organizou de variadas formas, acompanhando as criações e avanços que a mesma trouxe, assim como as transições e diferentes culturas que foram se conformando. Hoje, já com o capitalismo consolidado, cujo sistema utiliza a rapidez como processo, juntamente com o avanço da tecnologia que nos leva ao ambiente virtual, a sociedade contemporânea possui um comportamento automatizado, onde pouco é pensado e ensinado sobre questões básicas da própria vida. Este atual modo de viver está encaminhando o planeta para uma grande crise e colapso ambiental,
onde “A humanidade está exaurindo a natureza 1,7 vezes mais rápido do que os ecossistemas conseguem se regenerar.” (Global Footprint Network, 2017). Desta forma, a Sustentabilidade é tema de discussão em todas as áreas que dizem respeito ao desenvolvimento da sociedade – ambiental,
econômica, social e política. Porém, apesar de ser pauta em discussões, este quadro ambiental só pode ser modificado e recuperado através de mudanças em todas as nossas ações, a partir de uma nova maneira de viver, de educar, habitar, e de se relacionar com o meio.
Diante deste cenário, surgem questionamentos sobre a pedagogia implantada e sua metodologia, já que é na escola onde começamos a interagir com o exterior, descobrindo aos poucos nossas capacidades e habilidades, que se desenvolvem a partir das relações e experiências coletivas. Ao
mesmo tempo em que também são manifestados pensamentos sobre novos modelos de ocupação, vezes criados a partir de organizações comunitárias, chamadas de ecovilas ou condomínios ecológicos. Assim, o objetivo deste trabalho é desenvolver o projeto de um espaço de vivências coletivas, com atividades que estimulem a criatividade, o autoconhecimento e as relações interpessoais, assim como a conscientização ecológica através de conceitos da Permacultura e Bioconstrução.
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Este polo será no município de Embu-Guaçu, por conta da importância ambiental de seu território, que possui sua totalidade inserido na Área de Proteção e Recuperação de Mananciais (APRM Guarapiranga, Lei Est. 12.233/06).
O trabalho fundamentou-se em pesquisas teóricas sobre contexto ambiental mundial e do município citado, e assim a importância da conscientização ecológica – com estudos da permacultura e técnicas da bioconstrução, nos quais foram utilizados cursos práticos e palestras durante o semestre;
a relação da arquitetura com o indivíduo; e o histórico e a atual realidade da diversidade de educação e pedagogias, buscando compreender e exaltar a importância de “um ambiente amigável e solidário de aprendizagem. Mais do que uma escola, ela é verdadeiramente, sem
eufemismos, uma comunidade educativa” (ALVES, Rubem. 2004).
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Contexto Educação, Formação da Sociedade
Não cobiço nem disputo os teus olhos Não estou sequer à espera que me deixes ver através dos teus olhos Nem sei tão pouco se quero ver o que veem e do modo como veem os teus olhos
Nada do que possas ver me levará a ver e a pensar contigo Se eu não for capaz de aprender a ver pelos meus olhos e a pensar comigo Não me digas como se caminha e por onde é o caminho
Deixa-me simplesmente acompanhar-te quando eu quiser Se o caminho dos teus passos estiver iluminado Pela mais cintilante das estrelas que espreitam as noites e os dias Mesmo que tu me percas e eu te perca Algures na caminhada certamente nos reencontraremos Não me expliques como deverei ser Quando um dia as circunstâncias quiserem que eu me encontre No espaço e no tempo de condições que tu entendes e dominas Semeia-te como és e oferece-te simplesmente à colheita de todas as horas Não me prendas as mãos
Não faças delas instrumento dócil de inspirações que ainda não vivi Deixa-me arriscar o barro talvez impróprio Na oficina onde ganham forma e paixão todos os sonhos que antecipam o futuro
E não me obrigues a ler os livros que eu ainda não adivinhei Nem queiras que eu saiba o que ainda não sou capaz de interrogar Protege-me das incursões obrigatórias que sufocam o prazer da descoberta
E com o silêncio (intimamente sábio) das tuas palavras e dos teus gestos Ajuda-me serenamente a ler e a escrever a minha própria vida. Ademar Ferreira dos Santos (ALVES, Rubem. 2004)
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Há teorias que dizem que o ser humano precisa conhecer a si mesmo, para também conhecer o universo, pois somos todos parte e participantes deste mundo. O processo de autoconhecimento é constante e influenciável por agentes externos, ou seja, nosso modo de ser e a maneira como nos relacionamos com os outros, e com o mundo, é reflexo de todas as nossas experiências vividas, e em constante transformação. Dentro da Antroposofia, método de conhecimento da natureza, do ser humano e do universo, introduzido por Rudolf Steiner no início do século XX – a mesma teoria citada no primeiro parágrafo desta página -, há o estudo dos setênios, onde a vida possui uma condição cíclica com fases de 7 anos. Do 0 aos 7 é a primeira interação com o individual, quando tomamos consciência de nossa
existência, com a construção do corpo, mente e personalidade, agora separado da mãe. Nesta fase é importante que a criança tenha liberdade para experimentar e adquirir tais conhecimentos, assim como seus limites e percepções do mundo. Na segunda fase, dos 7 aos 14,
despertamos o sentimento próprio identificando normas, hábitos, valores e limites, ou seja,
as
vivências que temos são nossas referencias, que interiorizamos em pensamentos e exteriorizamos em ações. Como seres humanos, nos organizamos coletivamente, desta forma, as experiências possuem
pessoas, que acompanham culturas, necessidades, e sistemas. (SOCIEDADE ANTROPOSÓFICA, 1998) Em nossa cultura, nestas primeiras fases a escola é o ambiente onde passamos várias horas do dia, ampliando nossas relações com o outro e explorando ainda mais o autoconhecimento. Por isso, a
educação é o princípio de como nos autoconhecemos, nos relacionamos, interagimos com o outro e com o meio em que vivemos. O conceito tradicional de educação que conhecemos - pública, gratuita e obrigatória - iniciou-se no fim do século XVIII, na Prússia, a fim de constituir um povo dócil e obediente, para evitar as revoluções que ocorriam na França e, por isso, fundamentada na disciplina, obediência, e regime autoritário. Dentro desse contexto – Positivista e de economia industrial -, cujo conceito é aplicado até os dias atuais:
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Nossas escolas são construídas segundo o modelo das linhas de montagem. Escolas são fábricas organizadas para a produção de unidades biopsicológicas móveis, portadoras de conhecimentos e habilidades.
Esses
conhecimentos
e
habilidades
são
definidos
exteriormente por agencias governamentais a que se conferiu autoridade para isso. (...) É sua igualdade que atesta a qualidade do processo. Não havendo passado no teste qualidade-igualdade, elas não recebem os certificados diplomas.
de As
excelência unidades
ISO-12.000,
biopsicológicas
vulgarmente móveis
denominados
são
aquilo
que
vulgarmente recebe o nome de “aluno”. (ALVES, Rubem. 36; l. 8) Este sistema educacional refletiu em estruturas políticas ditatoriais e autoritárias que priorizam o controle social, somos ensinados a nos comparar com os outros e competir, o que futuramente reflete
no modo de viver. Dentro desta metodologia de ensino, onde cidadãos são números, qualificações e estatísticas, treinados para a produção e consumo, fomos perdendo nossa essência, nos distanciando do modo
de vida e habitat natural, sem a menor preocupação com o ambiente no qual vivemos. Diante deste cenário, surgem questionamentos sobre a maneira de se educar, já que é na escola onde começamos a interagir com o exterior, descobrindo aos poucos nossas capacidades e
habilidades, que se desenvolvem a partir das relações e experiências coletivas.
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Até que ponto essa escola ideal nos ajuda a desenvolver individual e coletivamente? Será que esse paradigma educacional almeja uma boa qualidade de vida? E que as pessoas trabalhem para a melhoria de sua
comunidade? Há alguma escola que consiga isso, voltada para esses ideais? (A EDUCAÇÃO PROIBIDA, 2012)
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Imagem 1 – Ilustração representativa do atual processo educacional
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Contexto Sociedade, formação dos espaços
Hoje, já com o capitalismo consolidado, cujo sistema utiliza a rapidez como processo, juntamente com o avanço da tecnologia que nos leva ao ambiente virtual, a sociedade contemporânea possui um comportamento automatizado. A quantidade de informações propostas, junto à pressa cotidiana, onde “parecemos estar atrasados não em relação ao nosso futuro, mas em relação ao nosso próprio presente” (TUCHERMAN, 1999, p. 15), pouco é pensado e ensinado sobre questões básicas da própria vida. Este atual modo de viver reflete diretamente nos espaços que criamos, já que “a identidade humana pressupõe a identidade do lugar” (NORBERG-SHULZ, 2006, p. 457). E que lugar é este no qual vivemos?
O acelerado e desordenado processo de urbanização das cidades está encaminhando o planeta para uma grande crise e colapso ambiental. De acordo com o ultimo censo demográfico realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), a população brasileira em 2010 chegou em
207 milhões, sendo 84% residentes de áreas urbanas, quando que em 1980 esta porcentagem era de 67,6%, com população de 119 milhões. Este processo de ocupação foi e ainda é fomentado por uma relação entre homem-meio ambiente
caracterizada pelo impacto na natureza, onde a necessidade de abastecer o mercado consumidor gera cada vez maior demanda por recursos naturais que: Segundo o Relatório Planeta Vivo, publicado a cada dois anos pela rede WWF (World Wide Fund for Nature), a demanda mundial por recursos naturais cresce a cada ano. Hoje consumimos o equivalente a 1,5 planeta para suprir nosso estilo de vida. E se continuarmos nesse ritmo, até 2050, vamos precisar do equivalente a 2,9 planetas para atender nossas demandas anuais. (PEGADA ECOLÓGICA, 2017)
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Isto porque as estruturas de exploração e geração de recursos são concentradas, ou seja, as cidades não possuem capacidade para o auto abastecimento de água potável, energia elétrica e até mesmo o cultivo dos alimentos consumidos pelos habitantes. Desta forma, as cidades dependem sempre de outros municípios – no caso de reservatórios de água e hidrelétricas -, ou até mesmo de outros estados, que fornecemos alimentos provenientes das monoculturas. Este modo de “organizar” o território resulta em maiores investimentos em infraestruturas e o alto consumo de combustíveis para a distribuição dos recursos. Além disso, os resíduos sólidos resultantes de todo o consumo, são na maioria das vezes descartados de forma inconsciente, levados para aterros sanitários – também muitas vezes localizados em
municípios vizinhos -, ou até mesmo diretamente para os rios, córregos e represas da cidade, quando poderiam ser transformados em matéria prima. Segundo estudo feito com base nos dados mais recentes do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS), que se referem ao ano de
2016, apenas 45% do esgoto gerado no Brasil passa por tratamento. Isso quer dizer que os outros 55% são despejados diretamente na natureza. Com isso, estamos gerando um grande descompasso ecológico, o qual acontece quando a
velocidade de extração de um recurso é maior do que a capacidade de sua regeneração ou quando a geração de resíduos é maior do que a capacidade de tratamento e absorção, sendo possível o esgotamento dos recursos renováveis – como a água – e dos não renováveis – o petróleo. A humanidade está exaurindo a natureza 1,7 vezes mais rápido do que os ecossistemas conseguem se regenerar. (GLOBAL FOOTPRINT NETWORK, 2017)
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Contexto Espaços, a maneira como construĂmos
Não só o urbanismo, a escala maior de organização dos sistemas das cidades é insustentável, mas também a maneira como construímos nossas edificações. Talvez um como consequência do outro, ou
simultâneos,
já
que
são
participantes
do
mesmo
processo,
ambos
acompanhando
transformações culturais ao longo do tempo. O modernismo marcou muito a história da arquitetura por conta da brusca mudança dos padrões, buscando o racionalismo e funcionalismo, através de formas e novas técnicas. Apesar de já termos evoluído para outro “movimento” – se é que o contemporâneo pode ser intitulado como um, já que está em constante transformação -, muitos costumes Modernos são aplicados até os dias atuais. O adensamento e expansão das cidades resultam – por necessidade ou padrões já incorporados –
em construções cujo processo de execução também visa sempre o menor tempo possível, sem na maioria das vezes o acompanhamento de profissionais, que segundo pesquisa realizada pelo Conselho de Arquitetura e Urbanismo junto ao Instituto Datafolha, cerca de 85% das obras
executadas no Brasil não têm acompanhamento técnico de arquitetos ou engenheiros, resultando em projetos com desenhos e materiais inadequados em relação ao contexto, tanto geográfico quanto econômico. Quando há acompanhamento de profissionais, também levando em
consideração o atual sistema em que vivemos, diz respeito à indústria da construção civil, onde muitas vezes são replicados projetos arquitetônicos já testados no mercado a fim de assegurar seu lucro.
Dentro deste contexto, nota-se que a alvenaria e o concreto armado são os materiais mais comumente utilizados no Brasil, nos colocando entre os quatro países maiores consumidores de cimento – sendo ele o segundo recurso mais utilizado, depois da água. Além disso, durante as obras são feitos moldes e escoras de madeira, que são rapidamente descartas
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Esta aplicação consome 33% da madeira utilizada na construção civil no Brasil (GAUZIN-MÜLLER, 2011) e de acordo com Giuliana Capello, uma pesquisa realizada mostrou que 30% da madeira extraída da Amazônia tem o mesmo uso na região Sudeste e acrescenta: O grande problema não está no uso do material, mas sim em sua origem, muitas vezes ligada à extração ilegal, feita sem manejo ou qualquer tipo de controle para garantir a manutenção das reservas naturais e equilíbrio dos ecossistemas.” (CAPELLO, 2013, p. 100). (MARCATTO, Murilo. 2018) Apesar de a construção civil ser um dos setores de maior movimento na economia mundial, é
responsável pelo maior consumo de recursos naturais, consumindo 50% dos mesmos explorados no mundo, 40% de toda a energia, com a mesma porcentagem no uso da água considerando todo o ciclo produtivo) e 25% da madeira das florestas. Além disso, é grande gerador de resíduos – sólidos,
líquidos e gasosos – (que segundo o Conselho Internacional da Construção (CIB), mais de 50% dos resíduos sólidos gerados por atividades humanas são oriundos do setor, e também responsável por 50% das emissões de CO2. Estima-se que, na cidade de São Paulo, sejam produzidas 12 mil toneladas de entulho por dia, somente em pequenas obras (Folha de São Paulo). É evidente a necessária mudança e melhoria na Arquitetura, já que a mesma está diretamente relacionada ao meio em que as pessoas vivem e assim, aos aspectos sociais, econômicos, políticos e ambientais, que segundo Roberta Mülfarth (2002), uma edificação arquitetônica não pode ser vista como algo isolado, mas sim como um organismo que gera impactos ao longo de todo seu ciclo de vida. Sobre essa relação que a Arquitetura estabelece com o indivíduo - tornando assim o processo entre a
conformação da sociedade e os espaços produzidos, cíclico e interdependente –, o artista Hundertwasser (1928 – 2000) já havia refletido, assim desenvolvendo uma série de ensaios contra a
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arquitetura racional, a ortogonalidade e os espaços “não humanos” que tiravam o homem de seu meio ambiente natural. Para Hundertwasser, a miséria humana era resultado de uma arquitetura monótona, estéril e repetitiva, gerada por uma produção industrial mecanizada. Em seus discursos chamava a boicotar este tipo de arquitetura e exigia, em troca, a liberdade criativa da construção e o direito à individualidade. (SITE HUNDERTWASSER, 2013)
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Conscientização Pedagogia
Apesar de contraditória à velocidade em que o ocorrem as inovações em variados campos do conhecimento - pela atual facilidade de acesso e descoberta de novas informações - os sistemas educacionais não têm mudado tão rapidamente quanto o resto da sociedade. Há poucas décadas surgiu uma corrente crítica à escolaridade, onde educadores, pedagogos e sociólogos questionam principalmente a metodologia aplicada, que produz “cidadãos doutrinados pelo sistema e que proíbe qualquer ato que não esteja conforme a norma estabelecida por ele.” Dentro deste contexto, onde se torna evidente as falhas do modelo de educação ainda vigente, e o quanto nossas ações futuras e durante toda a vida são influenciadas por tal processo, há escolas aplicando pedagogias “alternativas” à convencional, como a Montessori, Freire, Waldorf, Libre,
Popular, dentre outras. Independente do nome que carrega, o que possuem em comum é a educação pautada na autonomia do aluno, entendendo que a “aprendizagem é uma transformação continua, e dificilmente podemos acompanhar e colaborar na aprendizagem alheia,
se não aprendermos por conta própria, se não enfrentarmos a mudança interna, a nossa história pessoal” (EDUCAÇÃO PROIBIDA, 2012). Ao contrário do que muitos pensam, este processo de autoconhecimento não acontece a sós, mas
sim a partir da interação efetiva e afetiva com o meio e com os outros, e para isso, uma nova conformação também do espaço, com um ambiente que proporcione estímulos, interesses, motivações e possibilidades distintas, pois “a aprendizagem e o ensino são empreendimento
comunitário, uma expressão de solidariedade. Mais que aprender saberes, as crianças estão aprendendo valores.” (ALVES, Ruben. A Escola com que sempre sonhei, Sem imaginar que pudesse existir) (...) todas essas experiências apostam em pensar a aprendizagem como um conhecimento continuo, como um intercambio vivo entre o individuo
e seus iguais, seu ambiente e sua comunidade, uma educação viva.” (EDUCAÇÃO PROIBIDA, 2012)
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Conscientização Permacultura
Foi também pensando nos impactos da ocupação humana - agora diretamente no espaço físico -, que o conceito da Permacultura foi criado na década de 70, pelos australianos Bill Mollison e David Holmgren. Se origina do inglês “Permanent Culture”, reconhecido como Cultura Permanente, já que abrange diversos conhecimentos desde a compreensão da ecologia, leitura da paisagem, padrões naturais, usos de energias e manejo dos recursos naturais, envolvendo fatores sociais e econômicos, com o intuito de organizar as experiências, planejar as ocupações humanas em harmonia e interação com a natureza, não mais a explorando apenas como recurso. Como dizia Bill Mollison “é trabalhar com a natureza, e não contra ela”.
É uma ciência da criação de sistemas eficientes, é uma filosofia junto à prática, é uma cultura e um método. (MARCATTO, Murilo. 2018) A Revolução Industrial trouxe uma lógica de cadeia de vida linear, tanto em seu processo de
produção, quanto “na vida” útil de cada recurso transformado em produto. Esta consiste na utilização de recursos finitos, na extração e consumo de matéria prima sem sua reposição, levando ao possível esgotamento de recursos naturais; produção e utilização dos produtos, sem pensar na
procedência dos futuros resíduos, sendo descartados como lixo quando poderiam ser reutilizados ou reaproveitados como matéria prima, além de enviados aos aterros que acabam por degradar mais uma vez o meio ambiente, contaminando o solo, água e ar; indo contra a cadeia de vida natural,
circular. Sendo evidente a ineficiência e inviabilidade deste sistema, a Permacultura resgata então a cadeia
circular, incorporando a reciclagem, reutilização e reaproveitamento de suas matérias primas, e
o que é visto como resíduo, torna-se novos recursos. A economia circular traz uma oportuna e eficaz contribuição para a economia e para a sociedade, reinserindo materiais reutilizáveis na
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cadeia produtiva, trabalhando com reaproveitamento de água, com soluções de purificação, uso e reuso, mantendo o ciclo natural dos alimentos, utilizando energia proveniente de fontes limas e renováveis e
também, garantindo condições justas de trabalho. Pode-se dizer que é um sistema não estático, parecido com a natureza. Sistema esse que gera valor e transforma o problema em solução. (MARCATTO, Murilo. 2018) A Permacultura baseia-se em três princípios éticos: Cuidar da Terra – solos, florestas e água -, Cuidar das Pessoas (e dos animais) – de si mesmo, da comunidade e seres no geral -, e Cuidar do Futuro – estabelecer limites para o consumo e reprodução, e partilhar os excedentes. “Os princípios éticos da permacultura são frutos de pesquisas feitas sobre
comunidade que viveram um longo tempo em equilíbrio com o seu ambiente. Isso não nega a importância do conhecimento adquirido pela humanidade na modernidade. Porém para a transição para um futuro
mais sustentável necessitamos considerar também os valores e conceitos fora da norma social atual. (HOLMGREN, 2013) A partir disto, aplica-se em sete campos de atuação e doze princípios de planejamento, configurando um sistema interdisciplinar de planejamento, um design de ambientes sustentáveis – representado na Flor da Permacultura:
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Imagem 2 – Flor da Permacultura
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As sete pétalas que constituem a mesma são: -
Educação e Cultura: leitura da paisagem e essência do lugar, valorização da cultura, pedagogias alternativas, ecologia social, pesquisa-ação;
-
Ferramentas e Tecnologia: energias renováveis, ferramentas manuais (criação), transporte consciente, tecnologias apropriadas (atentar-se à mecanização excessiva);
-
Espaço Construído: bioarquitetura, captação e reuso da água, assim como de resíduos,
materiais de construção naturais, construção autônoma e baixo consumo energético; -
Manejo da Terra: extrativismo, banco de sementes, cultivo de plantas alimentícias, agrofloresta, agricultura orgânica e biodinâmica e manejo da água;
-
Posse da Terra e Governo Comunitário: ecovilas e habitações coletivas, resolução de conflitos, cooperativas e associações e organização;
-
Economia e Finanças: economia solidária, escambo, autossustentabilidade, compras coletivas e produtos de comércio justo;
-
Saúde e Bem-Estar Espiritual: medicina complementar e holística, botânica, fitoterápicos d espaço para práticas e estímulos espirituais.
Localizados nas extremidades da Flor, os doze princípios de planejamento consideram os sistemas de produção das pessoas e organismos, e as relações e padrões que tendem a emergir desta autoorganização e consequentes coevoluções dos ecossistemas, desdobrando-se: - Observe e Interaja:
propõe a observação e leitura dos padrões e sistemas naturais, e seu
desenvolvimento interconectado, para assim encontrar soluções; - Capte e Armazene Energia: entender a captação de energia pela natureza, e seu armazenamento, para reprodução dos padrões, além do seu uso apropriado, de forma renovável
e autossuficiente. - Obtenha Rendimento: práticas cotidianas com organização e dinamismo, suprindo necessidades e sustentação do ser humano, como abrigo, alimentação e água;
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- Pratique a Autorregulação e aceite as devolutivas: o convívio e interação com a natureza traz feedbacks tanto positivos quanto negativos, podendo dar continuidade à produção ou a paralisação da mesma, comprometendo o sistema. É importante estar atento para identificar as atividade inapropriadas para ajusta-las, garantindo assim o bom funcionamento do ciclo; - Use e Valorize os serviços e recursos renováveis: utilizar os recursos naturais para rendimento e sua manutenção, desfrutando dos benefícios sem que implique no seu consumo e esgotamento; - Não produza Desperdícios: ter como princípios sucessíveis da sustentabilidade o Recusar, Reduzir, Reaproveitar, Reparar e Reciclar;
- Design partindo de padrões até chegar nos detalhes: planejamento do espaço por zonas e setores, do macro para o micro, para o desenvolvimento do design permacultural; - Integrar ao invés de segregar: elementos que exercem mais de uma função, sendo todos
essenciais para o sistema, com modelos de relação integrada onde haja a cooperação e não competição; - Use soluções pequenas e lentas: é preferível utilizar sistemas menores e mais lentos – em maior
quantidade -, que tendem trazer resultados eficientes, duradouros e sustentáveis, além de que se houver algum problema, será mais fácil sua correção. Ao contrário do costume atual, onde se almeja resultados cada vez mais rápidos e muitas vezes negativos a longo prazo.
- Use a valorize a diversidade: a natureza é diversa, e por isso equilibrada. A monocultura é causa importante na vulnerabilidade a pragas e doenças. Enquanto que a policultura, por exemplo, é uma poderosa alternativa para redução de vulnerabilidade e de dependência nos sistemas de mercado e reforça a autossuficiência e autoconfiança da comunidade. (HOLMGREN, 2007) - Use os limites e valorize o marginal: nos limites e conexões dos sistemas é onde acontece maior diversidade, estabilidade, produtividade e energia, pois há maior quantidade de recursos disponíveis. Desta forma, é enfatizado o valor das bordas, as vendo como oportunidade de sucesso e adaptação.
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- Responda às mudanças criativamente: planejamento e execução do design estando atento à possíveis necessidades de mudanças e adaptações, já que alguns fatores podem estar fora de previsão e influenciar em resultados não esperados agindo com criatividade.
Citado anteriormente, o método de planejamento do espaço por setores parte da análise de elementos e leitura da paisagem para identificar informações que permitem antever as forças que atuam na propriedade, afim de interferir e induzir para trabalharem a favor do sistema.
As estratégias e suas técnicas podem variar de acordo com o contexto, mas há premissas que visam o melhor aproveitamento espacial. Nas Zonas são distribuídos os elementos de forma a buscar o caminho de menor gasto de energia – eficiência energética -, priorizando a ajuda mútua e conexões
de forma a aumentar os recursos naturais. - Zona 0: centro de maior concentração de atividade e energia, onde normalmente há também o maior gasto e produção de resíduo (residência/comércio/serviço) - Zona 1: elementos de maior utilidade e necessidade de cuidado e controle diário, sendo uma zona altamente produtiva (jardim de tempero, hortas, frutíferas pequenas, ferramentas, animais pequenos) é importante que seja de fácil acesso; - Zona 2: mais distante do que a zona 1, porém ainda mantida com certa intensidade e frequência (pomar, plantas medicinais, hortas, produção de matéria orgânica, composteira, armazenamento de água, oficinas, fogueiras, animais pequenos e médios); - Zona 3: Menos frequentes, que não necessitam de manejo diário (roça, lagos, pastagem, frutíferas
maiores, agrofloresta, árvores nativas); - Zona 4: Visitação e manejo a longo prazo (policultivo, colheita sustentável, produção de madeira e bambu);
- Zona 5: Área de nenhuma interferência, onde haja o desenvolvimento natural do ecossistema (regeneração, conservação, reserva, corredor verde, refúgio para a vida selvagem, área para observação e aprendizado, coleta de sementes);
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É importante lembrar que sempre parte de um contexto, para a partir das necessidades e função necessária, inserir os elementos corretos dentro do sistema, para que seja de manejo acessível e faça parte do ciclo. Além disso, alocá-los de forma a estimular a ajuda mútua, pois um complementa o outro e por isso executam diversas funções e interações Todas essas informações servem como base para o design permacultural, mas mais do que isso, é necessário uma mudança de paradigma e inversão de pré-conceitos a nível cultural, social, educacional e econômico, afim de atingir a real sustentabilidade.
Imagem 3 – Ilustração exemplificando a organização do espaço por zonas
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Educação, formação da sociedade fundamentada na disciplina, obediência, e regime autoritário, ensinados a nos comparar e competir Sociedade, organização dos espaços 84% residentes de áreas urbanas (IBGE)
Espaços, a construção civil Consome
Produz
50% dos recursos naturais
50% dos resíduos sólidos
40% da energia e da água
50% das emissões de CO2
25% da madeira
Em São Paulo 12 ton/dia de entulho
Ciclo de consumo linear
Descompasso ecológico
A humanidade está exaurindo a natureza 1,7 vezes mais rápido do que os ecossistemas conseguem se regenerar
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Sustentabilidade
cadeia circular
Bioconstrução
Princípios e Éticas da Permacultura Pedagogias Alternativas
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Estudo de Caso Estudos e VivĂŞncias realizadas
Imagem 4 – Foto autoral em Piracaia, São Paulo
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Durante este ano pude realizar o Curso de Design em Permacultura, em Piracaia – SP, participando então de diversas vivências que abordam tal conceito, já citado e detalhado anteriormente.
Paralelamente aos conteúdos teóricos, aprendemos e aplicamos algumas técnicas de Bioconstrução – Calficite e Pau-a-Pique –, e em relação ao plantio, manejamos o Sistema Agroflorestal (SAF) já implantados no sítio. Além destas, o Cob também já foi experimentado num multirão realizando em
2018. Quero ressaltar a importância de realizar experiências como estas, pois o conceito transcende o papel e o conhecimento acontece durante o processo, no experimentar, no coletivo, nas interações,
trocas e compartilhos.
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Imagem 5 – Vivências
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De origem colombiana, o nome Calfitice é a junção das sílabas iniciais dos nomes dos materiais que compõem a técnica, resultando numa argamassa preparada com 7 partes de terra, 1 de cimento, 1
de cal, fibras desfiadas e água a chegar no ponto. A terra confere o volume principal da argamassa, além de trazer a textura e as cores da natureza para a técnica, garante que a maior parte da massa seja executada de forma a causar o menor impacto ambiental possível na construção e no meio ambiente. Já o cimento, reage com a água e forma os microcristais, agregando a resistência à compressão e as fibras trazem resistência à tração, que é solicitada durante a cura do cimento, evitando a formação de trincas. O papel da cal, é hidratar e retardar a cura rápida do cimento, permitindo que sua aplicação ocorra de maneira homogênea e sem pressa. (BLOG PERMACULTURA NO PARANÁ) Após a argamassa aplicada com cerca de 3cm sobre esteridias e estruturas de bambu - os quais foram colhidos, cortados e esculpidos até que chegassem aos tamanhos ideais para serem
encaixados por pressão nas estruturas existentes -, foi aplicada as fibras de juta, que não permitirão o surgimento de fissuras e trincas na superfície rebocada, além de dar um melhor acabamento, resultando numa parede lisa.
43
Imagem 6 – Vivências
44
Por ser mais sustentável do que a madeira de reflorestamento – Eucalipto – e às espécies nativas, o bambu é considerado como a melhor alternativa de matéria-prima, sendo auto renovável, não precisa ser replantado, utiliza menos espaço no plantio e tem maior altura. Seu crescimento é rápido e pode ser colhido o ano todo, apresenta características de leveza, resistência e flexibilidade – tração, compressão e flexão, podendo substituir outros materiais utilizados na construção civil. Em relação ao processo, o bambu capta mais gás carbônico do que uma árvore, e a emissão do mesmo na atmosfera é zero. Há 3 espécies mais adequadas e comuns ao uso estrutural: Guadua, Dendrocalamus e Phyllostachys Pubescens. Assim que plantados, podem atingir 18m em cerca de três meses, e serem colhidos a
partir do terceiro ano, que a cada corte a planta rebrota.
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Imagem 7 – Touceira de Bambu Guadua
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Técnica ainda muito utilizada, principalmente em áreas rurais, Taipa de Mão ou Pau a Pique consiste na construção de uma estrutura de madeira e tramas de varas de bambu ou galhos, e assim, cobertos por uma massa composta de terra, palha seca e água. Quando seco, é feito o revestimento de reboco de barro com cal, e tintura de cola com argila, para proteger a parede de umidade e rachaduras.
47
48
Imagem 8 - VivĂŞncias
O Cob utiliza a mesma massa composta de terra, água e fibras naturais, porém sem o uso de uma estrutura pré colocada. Nesta técnica, a mesma vai sendo modelada e empilhada, iniciando a base da parede com espessura de aproximadamente 40cm e finalizada em 20cm – dependendo da estrutura e peso do telhado, é feito uma cinta de concreto como ultima camada. A vantagem é a liberdade das formas, sendo possível executar até mesmo os móveis e nichos da casa, além de ser uma parede estrutural.
Com a mesma composição, no Adobe são feitos tijolos com a massa, onde são modelados e colocados numa estrutura plana para secagem natural. Quando secos, são empilhados e unidos com argamassa feita de barro e água.
49
Imagem 9 - Vivências
Imagem 10 – Tijolos de Adobe
50
Já o Hiperadobe, a terra – podendo ser mais arenosa - é ensacada em sacos raschel, e as camadas são empilhadas, alinhadas e compactadas manualmente, resultando numa parede estabilizada e autoportantente, ou seja, possível de estruturar o telhado. Posteriormente, aplica-se a argamassa feita de barro e água, e tinturas naturais feitas com argila.
51
Imagem 11 – Parede Hiperadobe
52
Os Sistemas Agroflorestais (SAF’s), cujo estudo foi desenvolvido por Ernest Gotsch, é um sistema de agricultura com os princípios naturais de uma floresta. O planejamento do plantio é pensado a partir da sucessão (tempo da produção de cada espécie), com árvores intencionais (produção a maior prazo), árvores produtoras de matéria orgânica (onde suas folhas e galhos servirão para fortalecer o solo), plantas de sub-bosque (que necessitam média luz), e clareiras (para as que precisam de muito sol, como hortaliças). Desta forma, o design se torna biodiverso e com o tempo, autossuficiente.
53
54
Imagem 12 – Vivências
Estudo de Caso Cidade Escola Ayni - cultura de paz, Rio Grande do Sul, Brasil
Projeto Comunitรกrio
Imagem 13 – Caminho ´para entrar na Ayni
56
A Cidade Escola Ayni, localizada em Guaporé, no Rio Grande do Sul, é resultado da viagem de Thiago Berto por cerca de 40 projetos educacionais pelo mundo, trabalhando voluntariamente em troca de experiências diversas. Após reunir conceitos contemporâneos sobre uma “nova” abordagem de pedagogia e ensino, AYNI significa cooperação e solidariedade, desta forma o projeto tem a intenção de ser um lugar de inspiração, de referência em transformação do ser, de educação e sustentabilidade. Um espaço de aprendizado e expressão
para crianças, pais, educadores e comunidade. Um lugar inspirador onde podemos vivenciar conceitos de uma sociedade mais consciente do seu próprio propósito, onde as crianças se sintam bem vindas a expressar seus
verdadeiros potenciais e onde adultos tenham a oportunidade de conectar-se com seu próprio interior em um diálogo constante de autoconhecimento. (FUNDAÇÃO AYNI, 2019) Ao contrário das escolas tradicionais, não há testes ou disciplinas, e sim atividades que integrem variados assuntos. É compreendido então que não há um objetivo final a ser alcançado, mas sim a
importância de desfrutar o caminho, da experiência de viver o desenvolvimento e suas consequentes e naturais descobertas. A interação com a natureza é um fundamento muito importante para que tal consciência seja
estimulada, pois se aprende a respeitar e valorizar a variedade e importância de todos os seres e recursos. Para isso, o espaço foi pensado e proposto de forma a impactar o mínimo possível na vegetação e topografia existente, distribuindo o programa pelo bosque, conectados por percursos que trazem sensações e o prazer das descobertas.
57
Imagem 14 - Planta de disposição dos ambientes
58
Desta forma, as atividades desenvolvidas se dão em ateliês, onde as crianças são incentivadas a participarem além dos processos de criação, também das tarefas de organização, manutenção e limpeza do espaço – auxiliadas por “guardiões” –, de maneira autônoma, para entenderem o valor de sua
parte
no
todo,
a
cooperação
e
não
competição. Além
da
estrutura
feita
para
receber visitas,
voluntários e outras vivências -
administração,
restaurante e cabanas -, há também a biblioteca, observatório astronômico, circo, casa de artes (com
música, teatro, pintura e artesanato), espaço cultural, dentre outros ambientes destinado ao “ensino”
Os ateliês transmitem segurança, com espaços considerados sagrados que promovem a saúde emocional e bem estar, respeitando os tamanhos
das crianças com móveis e materiais em escala reduzida, para que possam se reconhecer.
59
60
Imagem 15 – Ateliês em Estrutura Geodésica
61 Imagem 16– Ambientes contruidos com a tÊcnica hiperadobe
A
escola
é
bioconstrução,
construída com
com
materiais
técnicas e
de
práticas
sustentáveis, afim de não agredir o meio ambiente. Elementos como banheiros ecológicos, sistema de captação de água e energia solar, hortas e outros, compõem o espaço e também são integrados às atividades executadas, propondo a compreensão dos ciclos naturais e importância das práticas ecológicas.
Com isso, a Ayni é por si uma demonstração didática dos meios de preservar o nosso planeta.
62
Estudo de Caso Centro Infantil El Guadual, Villa Rica, ColĂ´mbia
Arquitetos Daniel Joseph F. Mowerman e Ivan Dario Q. Sanchez 2013
Imagem 17 – Ambiente externo El Guadual
64
O centro de desenvolvimento infantil El Guadual foi pensando para ser um espaço que oferece de maneira integral a educação, recreação e serviços de alimentação para 300 crianças até 5 anos, 100 gestantes e cerca de 200 recém nascidos, com estratégia
do
governo
nacional
“De
cero
a
siempre”. O projeto foi construído a partir de elementos e materiais locais e recicláveis, de baixa tecnologia,
além de pensar estratégias como coleta de água de chuva, luz e ventilação natural a partir da correta orientação e aberturas, afim de reduzir
custos e ser responsável com o meio ambiente. As salas dispostas no perímetro do terreno, gera um grande vazio central, que estimula o convívio social
e integração dos conteúdos com a prática.
65
66
Imagem 18 – Ambiente e atividade do local
67 Imagem 19 – Processo de construção comunitária
O local é resultado de um processo participativo, durante nove meses de oficinas de projeto com a comunidade, que ofereceu diversas oportunidades de
treinamento
e
certificações,
e
até
posteriormente o emprego no próprio centro, para atender integralmente a primeira infância. Sendo um polo de grande impacto positivo, com aulas abertas, cinema ao ar livre e outras atividades de interesse, tanto o processo quanto o resultado
geram
um
sentido
de
pertencimento
na
comunidade.
68
Estudo de Caso Escola Sustentรกvel, Jaureguiberry, Uruguai
Michael Reynolds, de Earthship Biotecture e Ferico Palermo, de Tagma 2016
Imagem 20 – Escola Sustentável
70
A primeira escola pública sustentável da América Latina,
projetada
por
Michael
Reynolds
e
executada com participação social voluntária, busca o uso responsável dos recursos e baixo custo. Para isso, cerca de 60% de sua construção é composta por materiais reciclados – como pneus, garrafas de vidro, latas de alumínio e papelão -, e os outros 40% de materiais tradicionais e naturais, como madeira e terra.
71
72
Imagem 21 - Uso de materiais reciclados
73 Imagem 22 - Corredor de vidro ao norte
Para obter o máximo de aproveitamento de energia solar, o edifício abre-se ao norte, com um grande corredor de vidro que serve tanto como circulação e acesso para as salas e serviços, quanto como uma horta produtora de alimentos – além de conter placas solares dispostas com o mesmo direcionamento. Já para armazenar tal temperatura alcançada, a face sul é protegida por um muro de contenção, onde estão localizados os sistemas de
captação de água de chuva proveniente da cobertura, posteriormente direcionadas para o uso nas pias, irrigação das hortas e cisterna – com o
processo de tratamento de águas cinzas e negras.
74
Embu-Guaรงu
Imagem 23 – Perímetro do município de Embu-Guaçu
76
Região Metropolitana do Estado de São Paulo
Embu-Guaçu, município da Sub-Região Sudoeste da Região Metropolitana do estado de São Paulo, localiza-se a cerca de 50km do centro da cidade, fazendo divisa com Itapecerica da Serra, São Lourenço da Serra, Juquitiba e o próprio município de São Paulo. Tem a totalidade de seu território inserido na Área
de
Proteção
Mananciais (APRM 12.233/06), Municípios Inseridos na Bacia Guarapiranga
e
Recuperação
de
- Guarapiranga, Lei Est.
contribuindo
com
44%
do
abastecimento do Reservatório Guarapiranga. Há dois cursos d’águas principais que cortam o município de Embu-Guaçu, o Ribeirão Santa Rita,
cuja nascente encontra-se na divisa do mesmo com São Lourenço da Serra, sendo o principal afluente com sua foz no Rio Embu-Guaçu – cujo sua nascente inserida no próprio município - que juntos contribuem com cerca de 44% da água da Represa Guarapiranga. Por ser bastante sinuoso, o próprio desenho do leito do Rio da o nome ao município, de origem tupi, significa “cobra grande”. A quantidade e qualidade de suas águas são diretamente influenciadas pelo uso e ocupação do
solo, devido a porcentagem de permeabilidade do mesmo; a proteção da vegetação, levando em conta que Embu Guaçu possui 44,5% do seu território ocupado por mata, sendo parte remanescente da Mata Atlântica; e ao saneamento básico implantado na região, abrangendo todos os serviços
que nele se incluem (abastecimento de água, esgotamento sanitário, limpeza urbana e manejo dos resíduos sólidos, e drenagem e manejo das águas pluviais).
77
Porém, como parte da nossa cultura e pensamento sobre cidade, onde há a valorização de áreas específicas de acordo com interesses econômicos, e de maneira mútua a criação de áreas desvalorizadas, sendo Embu-Guaçu uma delas, a região apresenta um aumento gradativo de ocupação irregular, com parte da população residindo em áreas muito próximas às margens de córregos e do rio, causando sério impactos sobre os processos naturais. Além disso, algumas empresas que se instalaram – como mineradoras de caulim - anteriormente à legislação, continuam em funcionamento até hoje, sendo prejudiciais ao meio ambiente. O município vem se desenvolvendo gradativamente nos últimos anos, com a maior parte de sua economia proveniente de comércios, indústrias, e plantações hidropônicas. Apesar das restrições
impostas pela legislação ambiental, hoje, com aproximadamente 68.856 habitantes no município (IBGE), apenas 56% da população possui esgotamento sanitário adequado, ou seja, cerca de 30.297 pessoas não recebem o serviço e infraestrutura necessária do Sistema de Esgotamento Sanitário (SES),
deste modo, os imóveis acabam por descartar a água utilizada nas atividades de higiene indevidamente, através de fossas sépticas – que acabam por entrar em contato com o solo - ou até mesmo diretamente nos cursos d’água, ambos contaminando a água.
Mesmo sendo um município com características marcantes no âmbito ambiental, com grande vocação para o turismo, não há incentivo nenhum. Há poucos equipamentos públicos de saúde e lazer, e encontrando-se degradados e sem manutenção.
Pode ser considerada uma cidade-dormitório, onde 1 entre 6 pessoas (estimado em 2002) acabam de deslocando para São Paulo ou outras cidades, a fim de exercer suas atividades diárias, já que não possuem muitas empresas geradoras de emprego, e nenhuma universidade ou escola de especialização, obrigando a todos os jovens se deslocarem quilômetros para estudarem. Por isso há a preocupação com o crescimento não planejado da cidade, e principalmente à realidade de ocupações, que já afetam seu importante ecossistema.
78
Suas principais vias de acessos são através da Rodovia Bento Rotger Domingues (SP-234) e Rodovia José Simões Louro Júnior (SP-214), vindo de Itapecerica da Serra, e Estrada Marcilac, vindo por São Paulo; também possui proximidade com a SP-116, com acesso pela SP-216, conhecida com Estrada da Barrinha. O transporte público da própria prefeitura que opera dentro do município, possuem seus destinos aos bairros, característicos de baixa densidade com bastante vegetação. Já para suprir a conexão em grande escala, o transporte é feito pelos ônibus da EMTU, com estas linhas: - Linha 009, com destino à Santo Amaro; - Linha 031 e 811, com destino à Itapecerica da Serra, podendo ser percurso para Pinheiros, Juquitiba
e Embu; - Linhas 568 e 558. Rumo ao Terminal EMTU Capão Redondo, com integração gratuita à Linha Lilás do Metrô;
- Linhas 012 e 226, com destino ao Terminal Grajaú, com integração tarifada com a Linha Esperando da CPTM.
79
Imagem 24 – Mapa de transporte público para outros municípios
80
Imagem 25 – Localização do terreno no município
O terreno escolhido para implantação localiza-se em uma das passagens da linha férrea pela cidade, no cruzamento com a Rodovia José Simões Louro Júnior – que leva à centralidade de ocupação mais densa do
município -, e seu terceiro lado delimitado pelo Ribeirão Santa Rita. No local funcionava a fábrica de postes Cavan,
abandonada desde sua desativação, sendo hoje posse da prefeitura. A leste há o Parque Ecológico da Várzea, cuja área visa
proteger as margens e várzea do Rio Santa Rita e sua foz no rio Embu-Guaçu, que a norte desagua na represa Guarapiranga.
Esta localização apresenta grande potencial para o uso educacional, cultural e recreativo, além de potencializar o próprio parque, que encontra-se degradado e sem
Represa Guarapiranga Localização Terreno
incentivo para visitação. Além do parque, em seu entorno imediato há indústrias – como a União Química -, e no acesso à Rua Coronel Luiz Tenório de Brito, uma das principais vias de conexão de bairros, o uso torna-se
predominantemente misto, variando entre serviços e comércios – característica também da Rua Boa Vista, a principal via do centro. Nas quadras vizinhas ainda há usos mistos, acrescentando o uso residencial, o qual predomina o restante do território, cujo padrão é unifamiliar com dois pavimentos.
Desta forma, a concentração urbana é ao sul do terreno e pontualmente à leste, seguindo a Rodovia José Simões de Louro Junior.
81
Perímetro do Terreno Parque da Várzea Imagem 26 – Vista aérea do entrono
82
Rod. José Simões Louro Júnior Rua Coronel Luiz Tenório de Brito
v
uma
das
principais
conexões
da
cidade
aos
municípios vizinhos, sendo essa a chegada quando se vem de Itapecerica da Serra, Embu, Taboão da Serra
e toda a Zona Sudoeste de São Paulo à leste para o bairro Cipó, conectando o extremo Sul
de São Paulo, passando por Marsilac, Parelheiros e Grajaú; à oeste, leva ao bairro do Filipinho
770 – 775m
Por estar localizado às margens do Rio
765 – 770m
Santa Rita, a área do terreno é bastante
760 – 765m
plana, havendo um perqueno aclive
755 – 760m
apenas a sudeste do mesmo.
Administração Pública Pequenas Indústrias Residencial Comercial Misto Parque / Praça
Rio Sta. Rita Terreno
83
De acordo com a Lei Estadual Específica da APRM – Guarapiranga (Área de Proteção e Recuperação dos Mananciais), n° 12.233/2006, o terreno está inserido numa SBD (Subárea de Baixa Densidade): • SBD (Subárea de Baixa Densidade) – “áreas destinadas a atividades do setor primário, desde que compatíveis com as condições de
proteção do manancial, turismo ecológico, chácaras, sítios; apoio e fomento ao manejo ecológico do solo e ações de turismo e lazer; recomposição de flora, preservação de fauna nativa, recuperação
de áreas degradadas, expansão dos núcleos urbanos existentes controlados, melhoria de vias de acesso controlada de modo a não atrair ocupação inadequada à proteção dos mananciais. Coeficiente máximo de aproveitamento construtivo = 15% Índice de impermeabilização máxima da área = 20% Lote mínimo = 5.000 m²
Já de acordo com a Lei Complementar Municipal Nº 033/2007 Plano Diretor Municipal, insere-se numa ZDL (Zona Diversificada Local), incentivando Instituições, Comércios, Serviços, etc.
84
Imagem 27 – Vista para o terreno de cima do viaduto
85
Imagem 28 – Visita ao terreno
86
Proposição
Com o percurso exposto, a intenção deste projeto é criar um polo de vivências coletivas, com atividades
que
estimulem
o
autoconhecimento
e
relações
interpessoais,
assim
como
a
conscientização e disseminação de práticas e soluções ecológicas, afim de resgatar o modo de vida
natural e integrar o ser ao meio ambiente, como um laboratório vivo. Para isso, o próprio espaço será educador, como referência que exemplifique e inspire a mudança na comunidade, tanto no modo de se relacionar quanto de ocupar o território, ambos de forma mais
harmônica, coletiva e consciente. A partir dos princípios da Permacultura, assim como o uso de elementos e técnicas ecologicamente responsáveis, o local receberá qualquer pessoa que tenha interesse – de faixa etária livre –, e contará
com cursos e vivências que ensinem tais práticas, como a própria Permacultura, Bioconstrução, Carpintaria, Jardinagem, Agrofloresta, Produção de Alimentos, Fitoterapia, Biocosméticos, Captação de
Água,
Saneamento
Ecológico
e
Gestão
de
Resíduos.
Além
disso,
no
âmbito
do
autoconhecimento, tem o intuito de ser um local com atividades que estimulem e orientem a criatividade, expressão e o desenvolvimento do ser, como Música, Dança, Teatro, Circo e Pintura. As edificações serão todas de único pavimento, para que haja permeabilidade visual e possuam maior acessibilidade e integração com o espaço externo, que priorizará os fluxos e percursos, como uma forma de imersão na natureza, já que terá grande parte da área reflorestada.
88
0
89
25m
50m
Respeitando 50 metros da margem do Rio, a mata remanescente será mantida e fortalecida através de mais plantios; Nestas áreas a vegetação servirá de barreira sonora, acompanhando toda a parte Sul do terreno, por conta da linha férrea, e a Nordeste por conta da circulação de carros na Rodovia; Plantio para produção de alimentos, como Agrofloresta, Pomar, Hortas e outros;
Será criado um lago para o armazenamento da água do Rio Santa Rita, posicionado estrategicamente próximo às áreas de maiores atividades de plantio, já que tal água será utilizada somente para irrigação; Para que haja maior conforto e segurança no acesso, haverá um recuo por toda a face Leste do terreno, alargando a calçada de maneira a integrar o espaço externo ao lote; O acesso principal se dá pelo canto ao Sul do terreno, para coincidir com a entrada do Parque da Várzea, estabelecendo certa relação com o mesmo e facilitando no caso de atividades conjuntas, e assim o valorizando. Esta área será composta por um local que servirá de Acolhimento, uma Oficina Marcenaria e Salas Multifuncionais; Localizada na parte central do terreno, de um lado será a Cozinha Comunitária e do outro o local
destinado à Reciclagem e separação de matéria orgânica para Compostagem; Ao norte, encontra-se o Alojamento e uma área reservada para Camping.
90
Acolhimento
A
A
Este local será o primeiro a ser acessado, com intuito de apresentar as
- 0,54
intenções e ações
- 0,18 0,0
realizadas no Polo, além de ser um espaço amplo para realizar
Planta Baixa
apresentações, práticas e atividades coletivas.
0
5m Corte AA
91
No nível do espaço externo, seu perímetro é composto por um deck de madeira, e posteriormente o piso é rebaixado
0,0
no total de 54cm, para que forme uma arquibancada que
- 0,18
auxilie na ocupação do espaço. Uma base de cimento recebe os pilares de bambu, que não devem estar em contato com a terra, pois
- 0,54
sua
umidade causa apodrecimento
Base de concreto em planta
Detalhe desnível
Os pilares são compostos por 2 bambus, que estruturam as vigas do telhado recíproco. A união dos mesmos é realizada com encaixes (boca de peixe) e barras roscadas.
Detalhe união de pilares com viga do telhado
92
Maquete: vista da entrada do Polo
93
Maquete estrutural do Espaรงo de Acolhimento
94
Marcenaria
Pensando que a intenção do projeto é ser construído por mutirões
organizados em cursos, a Oficina seria o primeiro local a ser implantado, auxiliando assim na construção do restante das edificações e posteriores trabalhos com madeira, bambu e outros. A
A
Planta Baixa
Elevação Frontal
0
95
5m
Corte AA
Os pilares são compostos por 2 bambus, que estruturam o telhado verde. A união dos mesmos é realizada com encaixes (boca de peixe), parafuso com olhal e barras roscadas.
Parafuso olhal
Barra roscada
Vegetação Bambu para segurar a camada de substrato Camada de esteridia de bambu, drenagem, manta antirraízes e a prova d’água Vigas transversais
Detalhe Estrutura e Telhado Verde
96
Maquete: vista para marcenaria
97
Maquete estrutural da marcenaria
98
Salas Multifuncionais
Planta Cobertura
As
três
destinadas diversas,
geodésicas
são
para
práticas
como
música,
dança, teatro, circo, pintura, conversas, exposições, etc.
Sua
estrutura
é
feita
de
bambu e se apoia em uma parede de Hiperadobe de
Planta Baixa
90cm de altura.
0
5m
Elevação Frontal
99
Detalhe: fixação dos bambus com chapas metálicas
Detalhe: possibilidade de cobertura superior para circulação de ar
Detalhe: possibilidade de janela
Detalhe: possibilidade de clarabóia
100
Cozinha / Compostagem
Tanto o processo de cozinhar quanto o de separação de resíduos fazem parte dos campos
A
A
de aprendizagem, pensando no ciclo fechado e autossuficiência baseados nos princípios da permacultura. A cobertura é composta
por vigas recíprocas, e a
Planta Baixa
separação entre os dois ambientes feita com uma
parede de COB. 0
5m Corte AA
101
Os pilares são compostos por 2 bambus, que estruturam o telhado verde. A união dos mesmos é realizada com encaixes (boca de peixe), parafuso com olhal e barras roscadas.
Fundação de pneu, cascalho e cimento
102
Maquete: vista para Cozinha Comunitรกria
103
Maquete estrutural da Cozinha Comunitรกria
104
Alojamento
Possui capacidade para até 30 pessoas dormirem durante os cursos e
vivências.
A
A
Planta Baixa
Elevação Frontal
0
5m
Corte AA
105
Detalhe: Possibilidade do uso de garrafas de vidro como iluminação natural
Detalhe: União de parede, pilares e vigas
Detalhe: União de pilares com mão francesa
Detalhe: Bacia de Evapotranspuração (BET)
Detalhe: União de pilares, vigas e mão francesa
106
Maquete: vista para Alojamento e Fogueira
107
Maquete estrutural do Alojamento
108
Banheiro Seco 0,0 0,9
A
A
O Banheiro seco é uma outra
alternativa
de
saneamento
ecológico para o tratamento de fezes humanas. Além de não utilizar água
em
seu
sistema,
produz
insumos que podem ser utilizados
Planta Baixa
para fertilização de plantações e agroflorestas. Já para o tratamento da água cinza,
proveniente
das
pias
e
duchas, será utilizado o sistema de
0,9
Zona de Raízes.
0
109
1m
0,0
Corte AA
Chaminé para saída do ar quente e odor
Assento com compartimento para serragem Câmara onde as fezes e microrganismos tornamse matéria orgânica através da compostagem
Detalhe: Banheiro Seco
0,0
Vegetação de brejo Entrada da água cinza
Detalhe: Zona de Raízes
Camada de areia e pedrisco para filtragem da água e saída da mesma, agora limpa
110
Desenho de Piso O piso utilizado em todo o espaรงo externo sรฃo os irtertravados, para que
haja permeabilidade da รกgua no solo. As cores marcam o territรณrio de acordo com as atividades a serem realizadas.
0
111
25m
50m
Vegetação As árvores a serem plantadas são nativas da Mata Atlântica, como Ipês (amarelo e rosa), Jacarandás (azul), Palmeiras (marcando o caminho e entrada para o polo), Bambus (a serem utilizados nas edificações), e outras (que compõem a margem do Rio e o restante do projeto).
0
25m
50m
112
Considerações Finais
Relembrando – e agora evidente -, as inquietações e questionamentos de alguns processos, que nos
distancia do modo de vida natural que acaba por refletir em nosso modo de ser e de se relacionar, desencadeou em pesquisas e vivências a procura de possíveis mudanças e melhorias, pois tudo o que consideramos ruim, em nosso meio e sociedade, pode ser visto como uma oportunidade para o processo evolutivo, tanto como espécie quanto civilização. Este trabalho é um estudo, um percurso, um convite a reflexões, sobre outros modos de pedagogia e ensino, sobre nossas relações sociais e com o meio em que vivemos, e principalmente – por ser o princípio de todos os outros processos -, com nós mesmos. O projeto resultante não é um fim, e sim uma, de inúmeras possibilidades a serem experimentadas, discutidas e executadas, coletivamente, neste e em outros diversos locais, assim espero.
Seres humanos conscientes de sua necessidade de uma viagem interna, de melhorarem a si mesmos, de reconhecerem a suas sombras, de serem maestros de suas próprias vidas, vão muito naturalmente expressar uma nova realidade em todos os pilares de nossa sociedade. (CIDADE ESCOLA AYNI)
114
Referencias Bibliogrรกficas
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