LiteraLivre nº 2
Você Já Reparou Nos Olhos Dela? São Assim, De Cigana Oblíqua E Dissimulada Bia Oliver São Paulo / SP Quem nunca ouviu falar de Capitu? Mais precisamente Maria Capitolina Santiago. “Criatura de quatorze anos, alta, forte e cheia, apertada em um vestido de chita, meio desbotado. Os cabelos grossos, feitos em duas tranças, com as pontas atadas uma à outra, à moda do tempo, desciam-lhe pelas costas. Morena, olhos claros e grandes, nariz reto e comprido, tinha a boca fina e o queixo largo. As mãos, a despeito de alguns ofícios rudes, eram curadas com amor; não cheirava a sabões finos nem águas de toucador, mas com água do poço e sabão comum trazia-as sem mácula. Calçava sapatos de duraque, rasos e velhos, a que ela mesma dera alguns pontos”. Bom, fui “obrigada” a ler Dom Casmurro quando estava no Ensino Médio, deveria ter uns 15 anos e a experiência foi trágica. Sim, eu não suportava aquele livro, foram semanas de amargura e irritação com aquela escrita tão diferente da que eu estava acostumada. Fiz a prova sobre o livro, passei. Como sou teimosa, naquele mesmo ano, meses depois me “obriguei” a ler o livro novamente com um novo olhar e a mente mais aberta. Simplesmente me apaixonei. Este post está dentro de mim desde aquela época, esperando para sair no momento certo e da forma mais conveniente. Acredito que seja agora. Em Dom Casmurro, Bentinho e Capitu são criados juntos e se apaixonam ainda na adolescência. Mas Dona Glória, mãe de Bentinho, por força de uma promessa, decide enviá-lo ao seminário para que se torne padre. Lá o garoto conhece Escobar, de quem fica amigo íntimo. Algum tempo depois, Bentinho encontra uma forma de se livrar da promessa da mãe e acaba finalmente se casando com a amada Capitu. Escobar se casa com Sancha. Os dois casais vivem tranquilamente até a morte de Escobar, quando Bentinho começa a desconfiar da fidelidade de sua esposa e percebe a assombrosa semelhança do filho Ezequiel com o ex-companheiro de seminário. A narrativa de Machado de Assis é considerada ambígua por nos fazer acreditar ora na culpa, ora na inocência de Capitu. Ainda há controvérsias se houve ou não a tal traição e muitos estudiosos e leitores já debateram o caso, porém ainda não se chegou a nenhuma conclusão. Durante todos esses anos eu não me importei com a culpa ou inocência de Capitu, na verdade ainda não me importo (certeza de que ela não traiu o 101