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Comércio e serviços e a constituição das cidades

“Se nos lembramos, é para poder contar.” Gabriel García Márquez

Em nossa história social e econômica, o nascimento de inúmeras cidades paulistas vem acompanhado de traços e marcos precisos da instauração – e do posterior crescimento – da atividade de comércio e serviços. Emblemáticos, comércio e serviços apresentam um dinamismo simbólico e inovador ao estabelecer a inter-relação de troca entre as pessoas e remontar ao próprio surgimento das primeiras comunidades humanas.

A existência de um expressivo número de cidades em nosso país deve-se à ação das chamadas “bandeiras”, responsáveis, também, por abrir caminhos na vastidão interiorana do Estado, provocando, ao longo de suas trajetórias, a criação de lugares para pouso e descanso, os quais, de acordo com o ritmo dos tempos, sedimentaram novos povoados e vilarejos.

Desde aquele momento, e principalmente no decorrer dos séculos 19 e 20, com o incremento da (i)migração, podem ser identifi cadas as atitudes empreendedora e imaginativa de homens e mulheres que se dedicaram, assim como os que hoje se dedicam, ao comércio e serviços, em candente infusão de perseverança e persecução de sonhos, com lampejos visionários e anseios de transformação na fi nalidade de viverem, desenvolverem-se e contribuírem para melhorar a realidade que aparece sempre carregada de imprevisibilidade.

No cenário do que constituiu e constitui as cidades paulistas, o conjunto de memórias aqui reunido, cujas narrativas recortam a área de comércio e serviços de Campinas, representa tanto os momentos pessoais de transição

e as conquistas dos entrevistados, porque reveladores de um itinerário de vida, quanto alude às mudanças sociais ocorridas na cidade e lança interrogações acerca do futuro, que surge no lastro do aqui e agora como o indício de um descortinar-se. É o que nos lembra Ecléa Bosi: “Uma história de vida não é feita para ser arquivada ou guardada numa gaveta como coisa, mas existe para transformar a cidade onde ela fl oresceu.”

Ao partilhar esse intuito, o SESC e o Museu da Pessoa, no ano em que a presença do SESC em Campinas comemora 61 anos, unem-se, com o objetivo de levar adiante o projeto que funde ação cultural e difusão educativa de conhecimentos. A importância desta publicação merece ser divisada, não apenas pelo que coloca ao público como voz, cultura e memória viva de interlocutores que elaboram o passado e refl etem sobre o desenvolvimento da vida social campineira, mas, também aqui, por mostrar como são mantidos os sonhos presentes nas narrativas de cada entrevistado – sonhos que fundamentam a magia da vida.

Tão essencial quanto a afirmação de que precisamos das palavras para saber o que pensamos, é a certeza de que o trabalho da memória é necessário para o bem viver. A memória permite interrogar o presente por meio das cintilações do que se cristalizou enquanto tempo passado, de modo a qualificar a cultura. A cultura é campo fértil para o sonho, e o sonho é a germinação daquilo que será, um dia.

Danilo Santos de Miranda

Diretor Regional do SESC SP

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