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Migrantes e imigrantes na povoação de Campinas
Fernando Antonio Abrahão, Diretor da Área de Arquivos Históricos do Centro de Memória da Unicamp
Tulha, à esquerda, e casa-grande, à direita, de antiga fazenda de café. Campinas (SP), 2007
De acordo com os dados oficiais, a cidade de Campinas foi fundada em 1774 por Francisco Barreto Leme. Mas, segundo o memorialista Celso Maria de Mello Pupo, o núcleo primitivo já existia em 1767, com 185 habitantes, “gente que tinha, entre si, muitos laços de parentesco e se originava de poucas vilas da capitania, brancos na sua quase totalidade” (PUPO, 1969, p. 28).
Em 1775, um ano após a elevação do bairro à categoria de freguesia, com o nome de Nossa Senhora da Conceição das Campinas de Mato Grosso de Jundiaí, a localidade surgida como apoio aos tropeiros que passavam rumo às minas de Goiás e Mato Grosso contava, então, com 247 habitantes – dos quais 47 escravos. Esses novos habitantes, vindos provavelmente do sul de Minas Gerais, conformam a primeira migração para a freguesia.
Antiga fachada da fábrica de chapéus Cury. Campinas (SP), 2007
A produção açucareira na região começou na década de 1790 e a forte demanda pelo produto fez aumentar consideravelmente sua população. Em 1797, data de elevação da freguesia a vila, com o nome de São Carlos, a localidade contava com cerca de 2.100 habitantes. Desse total, a terça parte era composta de escravos.
Na Vila de São Carlos viviam, em 1822, cerca de 7 mil habitantes, aumento este fruto de “migração de famílias inteiras do Vale do Paraíba”, que por aqui se instalaram a fi m de explorar a produção de cana-de-açúcar (MELLO, 1991, p. 18).
Os experimentos com o café, ocorridos entre as décadas de 1830 e 1840, serviram para atestar a lucratividade desta nova cultura. Contudo, a sua viabilidade dependia da solução de um problema crucial: o suprimento da mão-de-obra. Data dos anos de 1842–47 as primeiras experiências com trabalhadores europeus no sistema de colônias, com grupos étnicos formados por portugueses, alemães e suíços.
Em 1842, como vimos, a vila foi elevada à categoria de cidade e passou a ter o nome atual: Campinas. Dessa época em diante, a cidade viveu o seu primeiro processo de modernização, e esses primeiros imigrantes contribuíram sobremaneira para esse fi m, principalmente após o fracasso do sistema de colonato, na década de 1860. Datam dessa época os estabelecimentos comerciais, industriais e de prestação de serviços, tais como farmácias, livrarias, vendas, serralherias, marcenarias, escolas, fundições, olarias, fábricas de chapéus, velas e bebidas, além de um lucrativo comércio de máquinas para o benefi ciamento de café.
Antiga estação da Mogiana, depois Companhia Paulista de Estradas de Ferro. Campinas (SP), s/d
O apogeu de Campinas no século 19 verificou-se após a inauguração do trecho ferroviário ligando a cidade a Jundiaí, em 1872. A construção desta linha e de outras que foram surgindo rapidamente contou com grande contingente de trabalhadores livres, recrutados principalmente em Minas Gerais (SEGNINI, p. 36).
Da mesma maneira que os trilhos chegaram para buscar da terra a produção agrícola, os postos de trabalho advindos da ferrovia levaram ao aumento da população e da renda local, criando um mercado estimulado por crescente demanda.
O processo de imigração em massa patrocinado pelo governo de São Paulo teve início em 1882. Até 1920, aproximadamente, Campinas recebeu grande contingente de imigrantes italianos, portugueses, espanhóis, árabes e japoneses que, junto aos nacionais aqui já estabelecidos, aceleraram o processo de modernização da cidade.
Iniciada no final da década de 1920 e impulsionada na década de 1950, a fase industrial marcou a cidade pelo paulatino aumento populacional. A maior parte desses novos habitantes veio de outras cidades do Estado de São Paulo, do sul de Minas Gerais e do norte do Paraná, principalmente.
Embora a cidade de São Paulo tenha recebido os maiores impulsos econômicos da fase industrial, consolidando-se como a grande metrópole do século 20, coube a Campinas o signifi cativo papel de articulação do desenvolvimento do interior paulista após a década de 1950. Desde então, a cidade passou a ser reconhecida como um dos maiores, senão o maior pólo econômico do interior do Estado de São Paulo.
Detalhe dos bem-cuidados jardins da Praça Bento Quirino, na segunda metade da década de 1920. Campinas (SP), 1927