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Caminhos da Memória

OProjeto Memórias do Comércio – iniciativa do SESC São Paulo e realização do Museu da Pessoa – teve início em 1994 e, desde então, foram produzidos pesquisas e livros sobre o comércio da cidade de São Paulo, da região de Araraquara e São Carlos, da Baixada Santista, do Vale do Paraíba e, no presente volume, de Campinas. Mais que os registros histórico e documental, obtidos por meio da pesquisa em acervos públicos e privados, a intenção maior do projeto é contar a história do desenvolvimento do comércio desde o ponto de vista de seus protagonistas: as pessoas – os homens e as mulheres que se dedicam, por talento e vocação, à atividade comercial, um dos motores do progresso econômico.

Valorizar as histórias de vida e tratá-las como elementos constitutivos da memória social é o escopo principal do trabalho do Museu da Pessoa. Cada história de vida tem seu valor singular e condensa uma visão específi ca sobre a realidade em que se insere. O conjunto dessas histórias tem o dom de oferecer um painel rico e variado, que transcende a frieza do registro burocrático. A sistematização das experiências e memórias de trabalho que surgem nos depoimentos permite a construção de nexos originais no relato histórico, pois que abonados pela vivência dos próprios agentes dessa história. Daí o valor atribuído neste Campinas de muitos caminhos aos personagens que vivem o dia-a-dia do comércio campineiro.

Entre março e dezembro de 2007, com apoio do SESC Campinas e da Unicamp, o Museu da Pessoa produziu uma pesquisa documental e iconográfi ca nos arquivos de Campinas e região, que deu base ao texto do livro. A etapa seguinte foi a elaboração de uma lista de 90 nomes de comerciantes dos mais variados ramos que, depurada, resultou no grupo de 41 pessoas cujos depoimentos foram colhidos para este volume.

As histórias e os testemunhos aqui reunidos ajudam a compreender a dinâmica do desenvolvimento comercial de Campinas e a pujança de sua região metropolitana. E o passado que a memória revela é absolutamente coerente com o tempo presente do comércio local, cujo progresso aponta para a construção do melhor futuro para a região e para as pessoas que nela vivem.

Sumário Sum

Apresentação

Os caminhos do comércio em Campinas ................................................................................... 4 4.. . Comércio e serviços e a constituição das cidades ....................................................................... 6 Caminhos da Memória .............................................................................................................. 8..

As campinas do Caminho de Goiases ....................................................11 ..

Nasce um país ...........................................................................................................................13.. No princípio, o comércio .........................................................................................................15..

O mundo pela janela do trem ...............................................................21 ....

Para alegrar a boca e a alma ......................................................................................................26.. 2O trem e os imigrantes .............................................................................................................29 ..29 Os caminhos de ferro ...............................................................................................................32 32

Os fl uxos migratórios ............................................................................39

Economia robustecida ...............................................................................................................43 Hércules Florence, aventureiro e inventor .................................................................................44 Migrantes e imigrantes na povoação de Campinas ....................................................................48 Encontro de nacionalidades ......................................................................................................52

Caminho de terra, auto-estrada ............................................................61

Histórias da Via Anhangüera ......................................................................................63 Viracopos e os engenhos da logística ........................................................................66 Nas asas do progresso ................................................................................................68

A cidade do conhecimento ....................................................................71

Da escola à universidade ............................................................................................76 Academia com pé no chão ........................................................................................80

A cidade, a memória e o futuro .............................................................85

Bom lugar para viver .................................................................................................89 Uma história de comércio e desenvolvimento urbano ..............................................98 Região Metropolitana, um salto à frente ..................................................................102 A cidade integrada à região .....................................................................................104

A arte do comércio ..............................................................................109

Vendas, armazéns e empórios ..................................................................................112 Na boca do caixa .....................................................................................................123 Educação para o comércio .......................................................................................126 Sua majestade, o cliente ...........................................................................................131 Os segredos do balcão .............................................................................................141 Lições do trabalho ...................................................................................................145

Contadores de história e tempos urbanos ..........................................149 Cidades e suas histórias .......................................................................167 Bibliografi a ..........................................................................................177

INTRODUÇÃO

As campinas do Caminho de Goiases

OBrasil ainda não era o Brasil. A rica e exuberante colônia da Coroa portuguesa não passava de uma vastidão praticamente desconhecida, com algum movimento nos parcos núcleos urbanos da faixa litorânea e uma aura de mistério e perigo envolvendo os matos e os cafundós do seu interior. Passados mais de cem anos do Descobrimento, não havia um país, muito menos uma nação, mas uma colônia submetida à exploração voraz e de cunho extrativista: aqui nada se produzia, daqui tudo se levava. Primeiro o pau-brasil, depois o ouro branco produzido a partir da cana-de-açúcar que enriqueceu gerações de colonizadores e seus prepostos. No anos 1600, a riqueza do açúcar atraiu a cobiça da Holanda, uma potência marítima como Portugal, que por 30 anos (1624–1654) ocupou parte do Nordeste brasileiro.

Expulsos, os invasores holandeses levaram consigo a tecnologia de plantio e processamento da cana-de-açúcar para suas colônias nas Antilhas. A operação foi bem-sucedida e contribuiu para derrubar os preços do açúcar brasileiro no mercado global de então. Com lucros cessantes e ante a crise que se desenhava, a Coroa portuguesa passou a estimular expedições com o intuito de descobrir metais preciosos e garantir o fl uxo de riquezas para a metrópole. Sonhavam os burocratas da Corte com algo das dimensões das minas de prata de Potosi, na atual Bolívia, que desde 1545 abarrotavam os cofres do colonizador espanhol.

Mas não era tão simples assim. Como explorar a imensidão desconhecida do Brasil? A quem responsabilizar pela empreitada? Com a chancela ofi cial, as primeiras “entradas” começaram a se organizar na Bahia, em Pernambuco, no Espírito Santo e em São Paulo, rumo ao interior, à procura de minas e de índios para o trabalho escravo.

Os paulistas desde então se destacaram como os principais exploradores do sertão. Já em 1628, Antônio Raposo Tavares liderou a expedição que, a partir da Vila de São Paulo do Piratininga, iniciou o processo de expulsão dos jesuítas espanhóis e a submissão à Coroa portuguesa dos territórios dos atuais Estados do Paraná, Santa Catarina e Mato Grosso do Sul. Em 1636, iniciativa semelhante garantiu o domínio português sobre a região onde hoje está o Rio Grande do Sul. Dessa expedição participou Fernão Dias Paes Leme, que 38 anos mais tarde estaria à frente de uma “bandeira” que partiu de São Paulo com a missão de encontrar esmeraldas na região que hoje conforma o Estado de Minas Gerais. Fernão Dias consumiu os últimos sete anos de sua vida nessa exploração e não achou nada além de turmalinas. Mas em meio aos delírios provocados pela malária que o acometeu, aquilo que encontrara eram as tão sonhadas esmeraldas. Morreu acreditando nisso.

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